Você está na página 1de 6

1) Explique o sentido do título da principal obra de Schopenhauer: O Mundo

como Vontade e como Representação.

Schopenhauer, tendo sido influenciado pela teoria do conhecimento kantiana,


procurou desenvolver sua filosofia com base na tese de que o mudo é todo
representação, isto é, de acordo com os conceitos propostos por Kant: realidade
fenomênica. Portanto, os objetos são considerados representações e dependem dos a
priori como o espaço, tempo etc.
Este objetos, por sua vez, segundo Schopenhauer, não aparecem de maneira
isolada, mas sim segundo uma regularidade que os conecta, entendido pelo filósofo
como o princípio de razão suficiente. Este princípio aplicado à quatro dimensões
diferentes (o devir, o conhecer, o ser e ao agir) permitiria a fundamentação sobre os
objetos físicos como tema das ciências naturais, conceitos abstratos como tema da
lógica, instituição dos a priori do espaço e tempo como tema matemática e do querer
como objeto do conhecimento, respectivamente.
No entanto, partindo do pressuposto que o corpo também é uma representação
pessoal e analisando-o sob o aspecto do querer, conclui Schopenhauer que a ação
corporal é a Vontade objetificada, isto é, a ação como um fenômeno da Vontade.
Portanto, falar do mundo como Vontade é falar da coisa em si, aspecto esse que já se
afasta da teoria do conhecimento proposta por Kant.
Isto posto, pode-se afirmar que o título da obra de Schopenhauer está a falar
sobre o mundo enquanto realidade fenomênica e enquanto coisa em si.

2) Quais seriam, segundo Schopenhauer, os caminhos para a libertação da


vontade? Por quê?

Para Schopenhauer, a vontade está em constante discórdia, por ser devorada de


si mesma, portanto, olhar para realidade em si é perceber que a Vontade se auto
escraviza. Esta condição de dor, de pessimismo é inerente ao homem. No entanto, de
duas maneiras diferentes o homem torna-se capaz de se libertar desta Vontade
devoradora
O primeiro caminho para esta libertação seria a contemplação estética, ao
assumir uma postura desinteressada o homem não aborda o objeto como algo a ser
desejado e sim sob o aspecto da beleza, isto permite, ainda que temporariamente,
libertar-se da Vontade.
O segundo caminho reside nas obras de arte que são divididas, segundo o
filósofo, em seis tipos diferentes e sob um organização hierárquica: a arquitetura, a
hidráulica artística, a horticultura artística e jardinagem, as pinturas e esculturas
históricas, a poesia e por fim a música, a mais elevada das artes, pois não exibe ideias,
mas a própria Vontade.
No entanto, apenas o gênio artístico é capaz de “perder-se” na contemplação do
objeto diante de si, no caso a obra de arte, deixando de lado a sua relação com qualquer
outro objeto, isto por ser capaz de reconhecer as ideias ali presentes não a título de
indivíduo, mas sim de sujeito cognoscente.

3) “A rebelião escrava da moral começa quando o próprio ressentimento se torna


criador e gera valores: o ressentimento dos seres aos quais é negada a
verdadeira reação, a dos atos, e que apenas por uma vingança imaginária
obtêm reparação. Enquanto toda moral nobre nasce de um triunfante ‘Sim’ a
si mesma, já de início a moral escrava diz ‘Não’ a um ‘fora’, um ‘outro’, um
‘não-eu’ – e este ‘Não’ é seu ato criador” (Nietzsche. Genealogia da Moral, I,
10). Com base no texto acima, explique qual seria, segundo Nietzsche, o papel
do ressentimento para o surgimento da moral do nosso tempo.

Segundo Nietzsche, a origem dos termos “bom” e “mau” devem ser analisados
segundo uma perspectiva etimológica e realizando esta atividade chega-se à conclusão
de que o termo “bom” foi utilizado para designar aqueles que se destacavam como
sendo os melhores. Por outro lado, o termo “mau” era empregado para as demais
pessoas, isto é, as pessoas simples, sem levar em nada uma condição pejorativa.
Porém, segundo o filósofo, a moral judaico-cristã pela qual somos influenciados,
surge a partir de uma “rebelião dos escravos”, que sendo incapazes de se autoafirmar, e
imbuídos de um ressentimento contra os “bons” passaram a denominar como “maus”
todos aqueles que se destacavam e a denominar como “bons” todos os restantes,
medíocres e passivos.
Portanto, a moral escrava nasce de um ressentimento, de um reconhecimento da
incapacidade de se auto afirmar.

4) A partir dos textos estudados da Gaia Ciência, explique o significado da morte


de Deus e do eterno retorno no pensamento de Nietzsche.

Em Gaia Ciência, Nietzsche cria uma história na qual um louco, em um espaço


público, indaga as pessoas sobre onde se encontraria Deus e termina esta breve história
afirmando que Deus está morto e que isso aconteceu por culpa de todos.
Este breve conto serve para ilustrar um pensamento Nietzschiano conhecido
como a morte de Deus. Através dele o filósofo procura anunciar que aqueles que se
diziam crentes, na verdade viviam como se Deus não existisse, porém continuavam a
acreditar nas estruturas fundadas na ideia de Deus. O filósofo alemão chega a dizer que
quase ninguém, em seu tempo, acreditava na existência de Deus. Por isso, o anúncio de
sua morte deveria ser realizado, principalmente, entre os ateus, pois apesar da ascensão
do ateísmo na Europa, os pressupostos atrelados a ideia de Deus ainda continuavam
vigentes. Isto deveria conduzir a uma espécie de transvaloração, na qual a moral e os
valores cristãos seriam suplantados por valores que afirmassem a vida. Este fato seria
precedido por um niilismo ativo, conduzido por guerras e revoluções como nunca antes
vistas.
Portanto, Nietzsche se vale de outro mito para ilustrar este processo de
superação e autoimposição: o Superhomem que serve para guiá-los neste processo.
Alcançado esta meta, o indivíduo se estabeleceria acima da moral e da religião, com
grande poder intelectual e força de caráter.
Ainda em Gaia Ciência, o filósofo ilustra outra realidade: a do eterno retorno.
Segundo ele, as mesmas condições, pessoas e demais realidades que vivemos estavam
fadadas a se repetirem eternamente e a reação de cada homem diante desta realidade,
deprimente e fascinante, segundo Nietzsche, revelaria se suas atitudes seriam capazes de
afirmar a vida, próprias do Superhomem, ou de fugir desta realidade, própria dos
homens medíocres.

5) Com base na passagem abaixo, explique qual seria, segundo Kierkegaard, a


diferença entre o movimento do “cavaleiro da resignação infinita” (ou “da
infinitude”) e o movimento do “cavaleiro da fé”. Em seguida, compare o
cavaleiro da fé à figura do Superhomem (Übermensch) nietzscheano. “Os
cavaleiros da infinitude são bailarinos e têm elevação. Executam o
movimento ascendente e descem de novo, e nada disto resulta também numa perda
de tempo funesta ou desagradável à vista. Mas de cada vez que descem não
conseguem atingir imediatamente a posição, vacilam um instante, e essa vacilação
mostra, todavia, que são estranhos neste mundo. Essa vacilação é mais ou menos
evidente de acordo com a sua arte, mas nem mesmo o mais dotado desses
cavaleiros consegue escondê-la. Nem chega a ser necessário vê-los no ar, basta
apenas vê-los no instante em que tocam e voltam a tocar a terra —e reconhecemo-
los. Mas conseguir descer de modo a que pareça que no mesmo instante se estava
parado e em andamento, de modo a transformar o salto da vida numa passada, de
modo a exprimir absolutamente o sublime no pedestre —só aquele cavaleiro [o
cavaleiro da fé] o sabe fazer — e este é o único e ímpar prodígio”. (Kierkegaard.
Temor e Tremor. Expectoração Preliminar).

Para Kierkegaard, a vida humana pode ser dividida em modos de existência, ou


estádios, que são classificados em: estético, ético e religioso. Encontram-se neste último
estádio o cavaleiro da fé e o cavaleiro da resignação, e o que estabelece uma
diferenciação entre eles é justamente o “salto da fé”.
Segundo o filósofo dinamarquês, o cavaleiro da fé é aquela pessoa capaz de se
auto determinar, isto é, estabelecer seu modo de vida, através de um abandono completo
e individual a Deus, por meio da fé. Isto conduz este cavaleiro a abandonar esta vida
para recuperá-la, a ponto de viver plenamente neste mundo, movimento este ilustrado,
pelo bailarino, no trecho destacado de Temor e Tremor. No entanto, o cavaleiro da
resignação infinita não consegue realizar este movimento da fé, por isso não vive
orientado para este mundo, mas para um mundo ideal, universalizado.
Portanto, pode-se destacar como pontos convergentes entre o cavaleiro da fé, de
acordo com Kierkegaard e o Superhomem, na concepção Nietzschiana, as seguintes
características: (1) ambos buscam autoafirmar-se de maneira individual, apesar de
optarem por caminhos distintos, (2) os dois alcançariam uma espécie de suspensão da
moralidade e (3) conduziriam suas ações para viver plenamente nesta vida.

6) Escolha um (somente um) dos temas da filosofia de Kierkegaard estudados em


sala de aula (por exemplo, o cavaleiro da fé a repetição, a liquidação do
cristianismo etc.) e compare-o a um dos temas estudados da filosofia de
Nietzsche (por exemplo, o Superhomem, o eterno retorno, a morte de Deus
etc.).
Em sua obra "Temor e Tremor", Kierkegaard apresenta o conceito do "Cavaleiro da
Fé" através da figura bíblica de Abraão. O Cavaleiro da Fé representa a mais alta
expressão da fé religiosa, caracterizada pela completa entrega a Deus, mesmo diante de
paradoxos éticos e racionais. Abraão é considerado o arquétipo do Cavaleiro da Fé, pois
estava disposto a sacrificar seu filho Isaac, a pedido de Deus, sem questionar ou
racionalizar a ordem divina. Kierkegaard enfatiza a importância do salto da fé, que
transcende a racionalidade e exige uma entrega total e incondicional.
Por outro lado, Nietzsche desenvolve o conceito do "Super-homem" (Übermensch)
em obras como "Assim Falou Zaratustra". O Super-homem é um humano ideal que vai
além das limitações impostas pelas tradições e pela moralidade convencional. É um ser
que rejeita a ideia de um Deus transcendental e, em vez disso, busca criar seus próprios
valores e forjar seu próprio destino. O Super-homem representa a afirmação radical da
vida e a superação das limitações e fraquezas humanas.
Apesar de Kierkegaard e Nietzsche abordarem temas relacionados à transcendência
e à superação, existem diferenças fundamentais entre o "Cavaleiro da Fé" e o "Super-
homem".
Enquanto o Cavaleiro da Fé está enraizado no contexto religioso e destaca a
importância da submissão à vontade divina, o Super-homem de Nietzsche surge como
uma figura pós-religiosa, que busca encontrar um significado e uma ética além dos
limites estabelecidos pelas tradições religiosas. Nietzsche rejeita a ideia de um Deus
transcendental e, em vez disso, busca a criação de valores humanos através da vontade
de poder.
Outra diferença importante é que o Cavaleiro da Fé exige uma crença inabalável,
mesmo quando confrontado com paradoxos e contradições éticas, enquanto o Super-
homem de Nietzsche valoriza a autonomia individual e a capacidade de criar e
questionar constantemente os valores alcançados.

7) Explique em que consiste o problema dos juízos de igualdade (ou identidade),


formulado por Frege. Dê dois exemplos de frase a que se aplique este problema
e que não tenha sido citada em aula ou no texto.
Frege em sua obra Sobre o sentido e a referência destaca certas peculiaridades
acerca do juízo de igualdade. Sua principal objeção está situado no fato da tradição
filosófica reduzir o significado linguístico ao referente. Por exemplo, ao tentar explicar
um juízo do tipo: “O Bernardo é o filho da dona Paula”, ele encontraria certas
dificuldades, pois “Bernardo” se refere a uma pessoa e “filho da dona Paula” se refere a
esta mesma pessoa. Da mesma maneira que: “Neymar é o camisa 10 da seleção”.
Portanto, seriam duas expressões associadas ao mesmo referente.
Esta peculiaridade levou o Frege a perceber que neste contexto, do significado se
limitar ao referente, este juízo assumiria uma condição de mera tautologia, isto é, dizer
aquilo que é óbvio, ou em juízos de tradução da mesma maneira que: “Casa” é “house”.
Sua proposta para conseguir dar uma resposta a este problema foi o
desenvolvimento da sua filosofia da linguagem, na qual Frege enriquece o conceito de
significado atrelando a ele não somente um referente, mas também um sentido.
Permitindo assim explicar melhor tais tipos de juízos e aplicar esta noção também em
outros contextos

8) Considerando-se a distinção de Frege entre sentido e referência, identifique o(s)


sentido(s) e a referência de cada uma das expressões abaixo:

a) O termo “Russell”.

Um dos princípios fundamentais para Frege é que não se pode perguntar sobre a
referência de termo isolado de seu contexto. Portanto, este termo, segundo
Frege, não poderia ser especificado quanto ao seu referente nem quanto ao seu
sentido.

b) O termo “Russell” na frase “Russell é filósofo”.

O seu referente é o “objeto”, isto é, a própria pessoa Bertrand Russel. Em


relação ao sentido, vários podem ser assumidos: “um dos precursores da
filosofia analítica”, “um filósofo agnóstico”, “um filósofo da linguagem” etc.

c) A expressão “é filósofo” na frase “Russell é filósofo”.

Para Frege a referência deste termo seria o conceito “é filósofo”, de maneira


analógica pode ser dito como a função “x é filósofo”. Seu sentido é a totalidade
de notas características acerca de “é filósofo” (aquele que é amigo da sabedoria,
aquele que estuda a precursora de todas as ciências etc.)

d) A frase completa “Russell é filósofo” (admitindo-se que ela seja verdadeira).


Assumindo que a frase seja verdadeira sua referência é o verdadeiro e o seu
sentido é a proposição (pensamento): “Russell é filósofo”.
e) A expressão “Russell é filósofo” na frase “Frege afirmou que Russell é
filósofo”.

A sua referência é a proposição (pensamento) “Russell é filósofo” e o seu


sentido seria ...

f) O termo “sereias” na frase “Sereias não existem”.

Para Frege, este termo não teria referente, mas seu sentido seriam os diversos
possíveis: “ser metade mulher metade peixe”, “ser mitológico”, “mulher que
vive debaixo da agua” etc.

9) Explique, em linhas gerais, a diferença entre o método de análise sintático-


semântio e o método de análise voltado à pragmática, em filosofia da
linguagem.
O método de análise sintático-semântico e o método de análise voltado à pragmática
são duas abordagens distintas na filosofia da linguagem que visam compreender o
significado das expressões linguísticas, mas enfocam aspectos diferentes.
O método de análise sintático-semântico concentra-se principalmente na estrutura
gramatical e nas relações formais entre as palavras e as sentenças. Ele busca identificar
a estrutura sintática de uma frase e atribuir significados a cada componente sintático
com base em regras e princípios linguísticos. Esse método está interessado em
estabelecer a relação entre a estrutura gramatical de uma frase e seu conteúdo
semântico, ou seja, como as palavras e as estruturas gramaticais comandadas para a
expressão de significado.
Por outro lado, o método de análise voltado para a pragmática se concentra na
compreensão do uso da linguagem em contextos comunicativos reais. Ele examina
como o significado é construído e interpretado com base nos contextos, nas intenções do
falante, nas inferências dos ouvintes e nas normas sociais. A análise pragmática
considera fatores como a intenção comunicativa, os efeitos pretendidos, as
pressuposições e as implicaturas contextuais. Esse método busca entender o significado
de uma expressão além de sua estrutura gramatical, levando em consideração o contexto
e as dinâmicas da interação comunicativa.

Você também pode gostar