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Prof.

Ibraim Vitor de Oliveira – Filosofia – PUC Minas


ARTHUR SCHOPENHAUER (1788-1860)
Nasceu em Danzig (Polônia), em 1788, e morreu em Frankfurt, 1860

Metafísica moderna – século XVIII/XIX Mestres da suspeita – século XIX


I. KANT (1724, Königsberg – 1804) K. MARX (Treviri, 1818 – Londres, 1883)
G. W. F. HEGEL (1770, Stuttgart – 1831, Berlim) F. NIETZSCHE (Röcken, 1844 – Weimar, 1900)
A. SCHOPENHAUER (1788 – 1860) S. FREUD (Freiberg, 1856 – Londres, 1939)
OBRAS
[1809/11 – Göttingen (medicina e filosofia)]
1813 – Da quádrupla raiz do princípio de razão suficiente (tese de doutorado – Jena)
1816 – Da visão e das cores
1818/19 – O mundo como vontade e representação (Die Welt als Wille und Vorstellung)
[1820/22 – docente em Berlim – (se desentende com Hegel – O grande charlatão)]
1836 – Da vontade na natureza
1839 – A liberdade da vontade (dissertação - prêmio)
1840 – Sobre o fundamento da moral (dissertação)
1841 – Os dois problemas fundamentais da ética (dissertação)
1841 – A essência do cristianismo
1844 – O mundo como vontade e representação com Suplementos
1851 – Parerga e paralipomena (anexos e suplementos, de parergon e paralipomenon)

Schopenhauer, com O mundo como vontade e representação, pode ser considerado um filósofo de uma obra só. Os demais escritos são
intencionalmente comentários e desenvolvimentos de temas já abordados nessa produção. Dentre os vários comentários, publicados numa
Coletânea de 1844, merecem destaque a Metafisica do amor (número 44 da Coletânea) e a Metafísica da morte - sobre a morte e sua relação
com a indestrutibilidade de nosso ser-em-si (número 41 da Coletânea).

METAFÍSICA DA VONTADE
Trama conceitual do grande drama cósmico da existência, da vida: a Vontade (coisa-em-si),
um jogo de opostos e de discórdias. Por isso, Alles Leben Leiden ist (toda vida é sofrimento).
“O nosso mundo nada é senão o fenômeno das Ideias na pluralidade, na
imperfeição, por meio de sua entrada no principium individuationis” (§52)
O mundo como vontade e representação (em quatro livros que encerram 71 parágrafos)
Primeiro livro Segundo livro Terceiro livro Quarto livro
O mundo como representação O mundo como vontade O mundo como representação O mundo como vontade
Primeira consideração: §1 - §16 Primeira consideração: §17-§29 Segunda consideração: §30 - §52 Segunda consideração: §53-§71
(causa e efeito: objeto da experiência (objetivação da vontade nos (representação sem causa e efeito. (Ética. Afirmação e negação
e da ciência. Fenômenos da vontade) fenômenos: noumenon) Ideia platônica. A arte. A MÚSICA) da vontade de viver)
O mundo é a minha representação Real é objetidade da vontade Coisa-em-si de Kant e as ideias de Ética sem prescrições, nem
No conhecimento, “o sujeito é o ser Como coisa-em-si é in toto Platão não são idênticas; próximas, doutrinas sobre deveres; sem
que tudo conhece e não é conhecido diferente do fenômeno. É se diferenciam apenas em uma princípio geral da moral.
por ninguém” (a priori espaço e plenamente livre, cega, sem única determinação. Vontade é livre e onipotente,
tempo: principium individuationis). relação de causa e efeito. Vontade é a coisa-em-si; a ideia é a se autodetermina: nada há
Saber da razão: sempre in abstracto. Ação da vontade in concreto objetivação imediata da vontade. fora da vontade.
• “Toda representação, não importa seu tipo, todo OBJETO é • Platão e Kant: o mundo visível como fenômeno. “só a Idéia é a mais
FENÔMENO. COISA-EM-SI é apenas a VONTADE. Como tal ADEQUADA OBJETIDADE possível da Vontade ou coisa-em-si;
não é absolutamente representação, mas toto genere diferente dela. é a própria coisa-em-si, apenas sob a forma da representação” (§ 32).
É a partir da Vontade que se tem todo objeto, fenômeno, visibilidade, • (§ 38) SOFRIMENTO: o “QUERER nasce de uma necessidade,
OBJETIDADE”. Diferença: fenômenos espaciais ou temporais. portanto de uma carência, logo, de um sofrimento.
(§ 23) Fenômeno da Vontade não são apenas aquelas mudanças que (§ 38) “A satisfação põe um fim ao sofrimento, todavia [...] objeto
não têm outro fundamento senão uma representação. algum alcançado pelo querer pode fornecer uma satisfação duradoura
• Não só o homem é fenômeno da vontade; as EXCITAÇÕES da [...]: pelo tempo em que o querer preenche a nossa consciência, [...]
vontade guia também os animais e plantas; o mundo orgânico e o entregues ao ímpeto dos desejos com suas contínuas esperanças e
inorgânico. Porém, “a beleza humana é objetivação mais perfeita temores, pelo tempo em que somos sujeito do querer, jamais
da vontade no mais alto grau da sua cognoscibilidade” (§ 45). obtemos felicidade duradoura ou paz”.
a) SUBJETIVIDADE: gozo estético, prazer artístico – Pura IDEIA: CONTEMPLAÇÃO, conhecimento puro – Sensação de BELEZA
– LITERATURA – PINTURA – ESCULTURA – ARQUITETURA – MÚSICA: (§ 39: “A todas essas considerações que intentam salientar
a parte subjetiva da satisfação estética, vale dizer, que essa satisfação é a alegria do simples conhecimento intuitivo enquanto tal, em oposição
à Vontade, liga-se imediatamente à seguinte explanação daquela disposição que se denominou sentimento do SUBLIME [estado de ânimo]”.
b) Afirmação da Vontade de viver, a luta pela existência faz sofrer: “o fundamento de todo querer é a necessidade, a falta, a dor, da qual
o homem é vítima desde a origem por meio da sua essência” (§ 57).
c) Negação da Vontade de viver (saída do sofrimento): ASCESE (deixar de querer qualquer coisa – indiferença) – 1º passo: castidade
voluntária (nenhuma satisfação sexual); Resignação (Mestre Eckhart); Pobreza voluntária e intencional.
Prof. Ibraim Vitor de Oliveira – Filosofia – PUC Minas

A MÚSICA (§ 52)
• “A música é língua absolutamente universal, cuja clareza ultrapassa até mesmo a do mundo intuitivo”
• “Música é a língua do sentimento e da paixão, assim como as palavras são a língua da razão”.
• A música é “a íntima essência do mundo e de nós mesmos”. Produz efeito semelhante aos das outras artes, só que
“mais vigoroso, mais rápido, mais necessário, mais infalível”.
• A música não é cópia das ideias, mas da própria Vontade.
• ANALOGIA DA MÚSICA COM A EVOLUÇÃO DA VONTADE
I) Música na sua base - o baixo fundamental, tonalidade = massa bruta da Vontade, a natureza inorgânica.
II) A música evolui com ritmos graduais perfazendo uma harmonia, a partir do baixo contínuo (da base) indo para
as modulações harmônicas mais elevadas = evolução rítmica e gradual da Vontade a partir da massa bruta contínua,
da natureza inorgânica, passando para os graus mais elevados com as plantas e animais.
III) Dissonância impura na harmonia (enarmonia) = passagem dos animais para o homem (passo
monstruoso).
IV) A MELODIA, obedecendo ao ritmo e à harmonia, se move livremente, com conexões variadas de alto a
baixo, no todo da música tonal = O homem (como a melodia na música) se move amplamente: uma narração
da história mais secreta da Vontade iluminada pelo raciocínio.
• PLATÃO (De leg. VII): h9 tw=n melw=n ki/nhsij memimh/menh, e0n toi=j paqhma/sin, o9tan yuxh\ gi/netai
(melodiarum motus, animi affectus imitans – O movimento das melodias que imita os sentimentos da alma)
• ARISTÓTELES (Probl. c 19): dia\ ti\ oi9 r9uqmoi= ai9 ta\ me/lh, fwnh\ ou0sa, h1qesin e0oi/ke;
(cur numeri musici et modi, qui voces sunt, moribus símiles sese exhibent? – Por que os ritmos e as melodias, sendo sons1, se exibem
semelhantes aos estados da alma?)
• A música, contudo, não tem qualquer relação direta com a analogia feita; “a relação é apenas indireta, pois a música jamais
exprime o fenômeno, mas apenas a íntima essência, o em-si de cada fenômeno, a própria Vontade”.

LEIBNIZ: Musica – exercitium arithmeticae occultum nescientis se numerare animi (§ 52)


(§ 39): “Assim como o homem é ímpeto tempestuoso e obscuro do querer (indicado pelo pólo
dos órgãos genitais, como seu foco) , e simultaneamente sujeito eterno, livre, sereno, do puro
conhecer (indicado pelo pólo do cérebro), assim também, em conformidade com essa oposição,
o sol é fonte de LUZ, é condição do modo mais perfeito de conhecimento e, justamente por
isso, do que há mais aprazível nas coisas, e simultaneamente é fonte de CALOR, da primeira
condição de qualquer vida, isto é, de todo fenômeno da Vontade em graus mais elevados.
Assim, o que o calor é para a vontade, a luz é para o conhecimento. À luz é justamente por
isso o maior diamante na coroa da beleza, e tem a mais decisiva influência no conhecimento de
todo objeto belo: sua presença em geral é condição indispensável; seu posicionamento favorável
incrementa até mesmo a beleza do que há de mais belo. Sobretudo o belo na arquitetura é
incrementado por seu favor, com o qual inclusive a coisa mais insignificante se torna objeto belo.

(§ 41) Quando nomeamos um objeto BELO, dizemos que ele é objeto de nossa consideração
estética, e isso envolve dois fatores. Primeiro, a sua visão nos torna OBJETIVOS, isto é, na sua
contemplação estamos conscientes de nós mesmos não como indivíduos mas como puro sujeito
do conhecer destituído de Vontade. Segundo, conhecemos no objeto não a coisa particular mas
uma Idéia, o que só ocorre caso a nossa consideração do objeto não esteja submetida ao
princípio de razão, não siga uma relação do objeto com algo exterior a ele (o que em última
instância sempre se conecta a uma relação com. nossa vontade), mas repouse no objeto mesmo.
Pois a Idéia e o puro sujeito do conhecer sempre entram em cena na consciência
simultaneamente como correlatos necessários”.

(§ 41) “Eis por que o ser humano, mais do que qualquer outra coisa, é belo, e a manifestação
de sua essência é o fim supremo da arte. A figura e expressão humanas são o objeto mais
significativo das artes plásticas, assim como as ações humanas o são da poesia. Contudo, cada
coisa possui a sua beleza específica: não apenas cada ser orgânico que se expõe na unidade de
uma individualidade, mas também cada ser inorgânico e informe, sim, cada artefato; pois todos
manifestam as Idéias, pelas quais a Vontade se objetiva nos graus mais baixos, dando, por assim
dizer, o tom mais profundo e grave da harmonia da natureza”.
Prof. Ibraim Vitor de Oliveira – Filosofia – PUC Minas

PASSOS:

i) Principium individuationis: espaço e tempo (mundo fenomênico)


ii) Vontade (ser-em-si - noumenon) constitui o pano de fundo de todas as coisas.
ii) Vontade é absolutamente livre, completamente avessa à relação causa e efeito (própria do
mundo fenomênico).
iii) Ação e mundo (modo como a vontade se objetiva – aqui ela se representa a si mesma, um
espelho de si que se quebra em muitos pedaços – o intelecto é uma dessas partes: princípio de
individuação – principium individuationis – princípio de razão) é como a vontade se
fenomeniza na busca de se conhecer a si mesma.

Metafísica do Amor e a Metafísica da Morte


Morte e sua relação com a indestrutibilidade de nosso ser-em-si

i) Por um lado, a concepção do amor sexual enquanto a mais direta manifestação da


essência do mundo (a Vontade cega de vida, sedenta por existência); por outro, a morte
enquanto mero desaparecimento do organismo gerado no ato sexual.
ii) Vida e morte são emanações da única e mesma vontade como coisa-em-si, espelhada
pelo mundo multifacetado (fenômeno).
iii) Pensamento pessimista e terapêutico – pensamento trágico (evidenciar a tragicidade
da vida provoca uma espécie de catarse diante da própria vida, espécie de consolo que
oscila entre o pessimismo teórico e otimismo prático).

• Impulso sexual (Geschlechtstrib) ocupa a maior parte do pensamento dos jovens, coloca
em confusão as mais sérias cabeças, imiscui-se na ciência, na política, religião, na arte...
• Amor à vida e o impulso sexual (“a mais explícita AFIRMAÇÃO DA VONTADE DE
VIVER”) são as mais fortes e ativas molas propulsoras do homem, onipresente em
qualquer vida, do aldeão ao chefe de estado (§ 60).
• Morte – “Não é o oposto da vida, mas um acontecimento complementar que a define”
(XIV). O homem é um ser para morte enquanto vida. Por isso se diz que “a morte é a
musa da filosofia”.
• Assim, no ser em si de cada um reside um núcleo de eternidade (Kern aus der
Ewigkeit), que não se aniquila com o desaparecimento do corpo.

- INTELECTO COMO INSTRUMENTO ACRESCIDO para que o homem possa se manter


nas instabilidades da vida.
- SONO É O IRMÃO DA MORTE. O núcleo de eternidade permanece e reaparece em outra
individualidade.
- ETERNO RETORNO DO MESMO: “Sempre e por toda a parte o círculo é o autêntico
símbolo da natureza, porque ele é o esquema do retorno. [...] é a forma mais geral da natureza”
Essa é “A GRANDE DOUTRINA DA IMORTALIDADE DA NATUREZA”.

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