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Estética – Dr.

Robespierre

Mestrando – Tiago Rodrigues Coutinho

Artigo visando a obtenção de nota para a matéria de Estética. Buscamos


correlacionar o tema da dissertação, que é a “Crítica do progresso em
Nietzsche”, nele faremos um processo genealógico buscando em três
pensamentos distintos as ideias de progresso e tempo linear, para após, fazer
uma crítica aparado na filosofia nietzschiana. A partir deste tema, realizamos a
analise da disciplina a partir da crítica a modernidade, fazendo o paralelo entre
essa crítica e a ideia de progresso. Ora, o progresso é na arte, música,
mercadoria um fator nevrálgico, na medida que tais “produtos” são destinados,
moldados para os sujeitos, na medida que paradoxalmente, o sujeito vira o
produto em certa medida, e a partir disto esse progresso iluminista, ao dar a
noção de liberdade ao sujeito, impõe-lhe uma restrição, progresso é controle
em todos os campos. Tal percepção é contra a filosofia nietzschiana, isto é, ser
um espírito livre, sair do “camelo, passar pelo leão e chegar a criança” como
Zaratustra descreve que deve ser o desenvolvimento das pessoas, é se libertar
de tais noções, e dizer “eu quero” por livre vontade.

A crítica a noção de progresso, que foi gerada pela noção iluminista, de


desenvolvimento constante, graças a razão, como redentora da humanidade.
Ela retiraria todos das trevas da ignorância que a idade média havia colocado
toda a humanidade, e por ela, haveria progresso constante. De certa maneira,
os iluministas, trocaram o paraíso celeste, pela ideia da fabricação do paraíso
terrestre, a razão poderia possibilitar uma vida boa para todos. Entretanto, os
pensadores da escola de Frankfurt, criticaram essa visão, da possibilidade do
progresso irrestrito da humanidade, devido as barbáries como guerras, fome e
miséria. Nietzsche já apontava e criticava toda essa visão progressista, pois,
não há um progresso, mas sim vontade que dominam, e neste caso, uma
dominação depreciativa.

Tomando a crítica de Walter Benjamim a reprodutibilidade técnica da


obra de arte, que teve seu advento no século XX. Ele irá expor, o que há de
mais artificial na obra de arte, ou melhor, o que não há. Toda obra de arte,
segundo Benjamin, possui uma “aura”, segundo (citação). Porém com a
artificialidade da reprodução técnica, sempre faltará algo, para Benjamin à
“mais perfeita reprodução falta sempre algo: ó hic et nunc da obra de arte, a
unidade de sua presença no próprio local onde se encontra. É a esta presença,
única no entanto, e só a ela que se acha vinculada toda a sua história”
(BENJAMIN et al., 1975). O que se perde é a autenticidade, ela não tem
sentido quando há reprodução. Quando algo é reproduzido, ele desvaloriza a
originalidade. Tudo isso que atinge a obra de arte, reprodução técnica, essas
falhas, são resumidas em dizer que na época das técnicas de reprodução, o
que é atingido na obra de arte é a
sua aura.

O que pode ser entendido como sintomas de progresso, é para


Benjamin, aspectos de declínio. Os sujeitos fabricam mecanismos, retiram a
autenticidade da arte, pois, a intenção é a reprodução e o capital. O progresso
nesse sentido é a mais-valia, o lucro, o irrestrito, não há mais aura. A produção
visando a acumulação. Se no começo a obra de arte era vista como a respeito
a um fim, o “culto” que inseria a arte em um ambiente, em conjunto de
relações. Elas eram usadas com diversos fins, como, “as obras de arte mais
antigas” que “nasceram a serviço de um ritual, primeiro mágico, depois
religioso”, podemos compreender essa variação pela troca entre o valor de
“unicidade, típica da obra de arte autêntica” que transmuta para a visão e
suporte do “valor utilitário” (BENJAMIN et al., 1975). O pensamento de estético
de Nietzsche, pode ser aproximado ao do frankfurtiano, na medida que, a arte
é pura expressão da vontade, se por um lado a reprodução meramente
utilitária, não é arte na medida que não é uma expressão da “alma”, mas
apenas um produto, um acessório. Para Nietzsche, para haver arte é
indispensável uma pré-condição “fisiológica” que ele entende como
“embriagues”, porém, não entendida como o senso comum, mas como ele
explicita na obra Crepúsculo dos Ídolos, livro IX “Incursões de um
extemporâneo”, (8) Sobre a psicologia do artista. Está contido que, segundo
Nietzsche, a embriagues é algo que sucede todos os grandes desejos, dos
afetos poderosos, como por exemplo: embriagues da vontade (criação), da
bravura, festa (Nietzsche, p54, 2017), e isso é a criação do artista, esse
movimento de força, torna-a a arte própria do seu criador, a emerge na sua
essência que lhe é única.

Tal qual as críticas disparadas por Nietzsche a Wagner, pois, ele trairia
uns dos princípios básicos da estética nietzschiana: “a música deve ser um
meio de afirmar a existência, de torna-la leve, e não de negá-la” (DIAS, 2005,
p. 122). Hora, se a música deveria ser algo para afirmar a vida, e não seu
contrário, logo, a arte (todas elas) é algo de pura expressão, de afirmação,
retirado do âmago do artista, algo único, com unicidade, autenticidade, e
certamente sua aura.

Adorno tal como Nietzsche expõe a decadência que verifica na cultura.


Em especial Adorno, queixa-se da decadência do gosto musical, na sua obra “o
fetichismo na música e a regressão da audição” ele expõe: “a música constitui,
ao mesmo tempo, a manifestação imediata do instinto humano e a instância
própria para o seu apaziguamento” (BENJAMIN et al., p173, 1975). Para
Adorno, o “gostar” de uma coisa, no caso a música, é o mesmo que o
reconhecer como válido. É a valoração, a pelo entretenimento, atrativo, prazer.
A questão central é: para quem a música de entretenimento serve ainda como
entretenimento? Para Adorno, a música oferece o emudecimento dos homens,
morte da linguagem e falha na comunicação. Essa massificação da música é a
sua própria degeneração.

Da mesma maneira, Nietzsche considera a música uma forma de


catarse grega, ela emula a expurgação dos sentimentos. Porém, apenas
verdadeira música, que é feita pelo sujeito, que possui a força da “embriaguez”
artística. E não como mero produto, fabricada para determinado público, com
finalidade comercial, música pueril, essa música, segundo Adorno, serve
apenas para entretenimento, ela é um fundo apenas. Como por exemplo o
cinema mudo, que a música é a penas para preencher o silêncio, a música
ligeira obedece a padrões, isso é, o fetichismo, uma massificação e
planificação dos gostos, um nivelamento, que é uma regressão para Adorno, e
decadência para Nietzsche. A música deveria ser algo de único, como cada
sujeito. Segundo Nietzsche, a música que ouvimos, é uma excitação e
descarga dos sentimentos, mas é ainda, apenas um indício da “expressão
afetiva do mundo dionisíaco”, é um “mero residuum do histrionismo dionisíaco”.
A música para ser uma arte distinta, deve ser feita com a vontade dionisíaca,
para a tornar possível, foi mobilizado a sensibilidade muscular, isto é, “todo
ritmo ainda diz algo a nossos músculos” pois, para ele, a música é expressão
do corpo, de uma vontade dionisíaca, que se expande. (Nietzsche, p55, 2017)

As artes, são para Nietzsche a expressão pura do sujeito que a faz, não
há simulacro, não há produção com vistas a um fim, podemos dizer que é a
ideia expressa pela frase “l’art pour l’ar” (arte pela arte) de Victor Cousin1,
usada frequentemente no século XIX. Para Nietzsche a luta estética, que ele
empreende, é contra a ideia moralizante da arte, isto é, a arte sobre a
subordinação de uma moral. Guy Debord, na sua obra Sociedade do
espetáculo, faz uma crítica a ideia do que reina atualmente na condição
modernas de produção, que é a acumulação de espetáculos (mercadoria), tudo
é representado por espetáculos. O “espectáculo apresenta-se ao mesmo
tempo como a própria sociedade, como uma parte da sociedade, e como
instrumento de unificação” é a mediação das pessoas pelas imagens, é uma
visão de mundo que se objetificou, e nesse sentido, é a visão moralizante da
arte, na qual Nietzsche crítica. Ora, se o espetáculo é o reflexo da produção
existente, ele é o modelo que é socialmente dominante, é “a afirmação
omnipresente da escolha já feita na produção, e o seu corolário o consumo”,
ele é a justificação desta produção (Debord, p8-9, 2005), dessa maneira,
constatamos que é a expressão de uma moral que domina, produz e estetiza a
modernidade a partir de seus pressupostos.

Dessa maneira o espetáculo é o contrário de uma fruição espontânea,


ele é, antes de mais nada produto de uma mentalidade, de uma moral, e que
quer sempre dominar, ditar, oprimir. Para Debord (2005) o espetáculo é a
“afirmação da aparência”, de toda a vida como simples aparência. “A crítica
que atinge a verdade do espectáculo descobre-o como a negação visível da
vida: como uma negação da vida que se torno visível”. Então a o espetáculo
emerge como antítese, negando a vida, negando a vontade de potência que
quer expandir, pois, para crescer é seu pressuposto necessário. O espetáculo
1
Victor Cousin (francês) filósofo, político, reformador educacional e historiador. Ele foi
o fundador do "ecletismo", uma escola brevemente influente de filosofia francesa que
combinava elementos do idealismo alemão e do realismodo senso comum escocês. Como
administrador da instrução pública por mais de uma década, Cousin também teve uma
importante influência na política educacional francesa. Victor Cousin Wiki & Bio (everipedia.org)
é o sentido da prática total de uma formação económico-social, o seu emprego
do tempo, ele é o momento histórico que nos contém. E desta maneira ele está
permeado pela moral, pois, se ele é controlado pelo pensamento dominante,
ele é o principal produto da sociedade atual. (Debord, p15, 2005)

A luta é contra além da tendência moralizante da arte, é contra a ideia


de uma finalidade última, entretanto, não segue que ela não tenha finalidade.
Para Nietzsche, é melhor não ter uma finalidade do que a finalidade ser uma
determinada moral (Nietzsche, p62, 2017). A arte é um estimulante para a vida,
ela traz à luz questionamentos da vida, mas com isso não retira a beleza da
vida, ela não tem uma utilidade, um espetáculo, ela é a própria vida na máxima
expressão do sujeito que a fez, dessa forma música, pintura, esculturas tem
algo que lhe é único, sua aura talvez, mas com toda certeza, é algo que é feito
no estado dionisíaco de embriagues. Pensamento estético nietzschiano diverge
do mundo atual, com a industrialização há um sentimento de progresso
incessante, para Debord, o mundo é convertido em simples imagens, e estas
se transmutam em seres reais, a uma abstração da sociedade atual. O
“espetáculo é a reconstrução material da ilusão religiosa” é a ligação a base
terrestre o que antes habitava nuvens religiosas. O espetáculo é a plena
“realização técnica do exílio dos poderes humanos num além” a quebra no
interior do homem. O sonho é a realização desta necessidade, que exprime na
sociedade atual, o desejo de dormir. Isto é, a realidade é deixada de lado, para
sonhar com algo intangível, com algo que se quer.(Debord, p16, 2005)

Sendo a moral o prenuncio do espetáculo, ele é a ideia da conservação


na inconsciência na modificação pratica das condições da existência, ora “ele é
seu próprio produto, e ele fez as suas regras: é um pseudo-sagrado”, desta
maneira, ele é como a moral, ela é sua própria gênese, ela se mantém, oprime
e repreende, ela busca a conservação. A sua origem é a perda da unidade, é a
abstração do todo, o modo de ser concreto do espetáculo é a
“abstração”(Debord, p19, 2005).

A ideia de progresso, possibilitou com que a reprodução técnica


deixasse a arte sem aura, segundo Benjamin. Nos ditames da música, Adorno
irá entender que ela, a música perdeu qualidade, houve regresso, desta
maneira, a ideia de progresso carrega, paradoxalmente, um aparente perca de
qualidade, tornar as coisas produtos as depreciam. Com Debord, captamos a
ideia de espetáculo, que é o corolário, as coisas são, há o fetiche em ter,
possuir, a posse é a realização de um sonho, mas que é rarefeito. Essas
relações, carregam uma perda de autonomia do sujeito, os objetos são
entendidos como sendo o todo, que os indivíduos buscam. Os sujeitos, são, na
medida que têm, nesse sentido o objeto é o objeto metafísico, enquanto é
objeto da vontade, porém, é quase que se a vida dependesse deles, é a ideia
da posse, a vontade do “ter” se iguala a do “ser”, o sujeito é na medida que
possui, e somente pela posso se realiza. O sujeito do progresso, é o que está
inscrito, nos Discursos de Zaratustra, especialmente na parte I “Das Três
Transformações”, o sujeito é “camelo”, segue a vida sobrecarregado, buscando
sempre o ter, possuir, mas nunca se plenifica.

Referências

BENJAMIN, W., HORKHEIMER, M., ADORNO, T. W., & HABERMAS, J.


(1975). Os pensadores XLVIII. Abril S.A. Cultural e Industrial, 1a edição.

Debord, G. (2005). A sociedade do espectáculo.

Nietzsche, F. W. Assim falava Zaratustra; livro para toda a gente e para


ninguém; tradução José Mendes de Souza; Elisabeth Föster - Nietzsche
(apêndices), Geir Campos (prefácio). - Edição Especial. - Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2016.

Nietzsche, F. W. (2017). Crepúsculo Dos Ídolos, ou Como filosofar com o


martelo (P. C. de Souza (ed.); 1a Edição). Companhia de Bolso.
https://books.google.com.br/books?id=NtzsQAAACAAJ

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