Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Unidade II
5 A ESTÉTICA EM NIETZSCHE
Observação
Friedrich Nietzsche nasceu em 1844 e morreu em 1900, foi um filósofo
e crítico cultural.
Evidenciando que a pretensão da arte mudou, na contemporaneidade não se pode dizer que a arte
é inferior em qualidade comparada a outros momentos da história. Para os artistas, o momento atual
não se trata mais de descobrir o mundo, ou de fazer da arte um instrumento para o conhecimento de
certa realidade, mas sim de definir a obra pelo próprio artista como um desdobramento de si mesmo,
expondo sua subjetividade e descartando qualquer objetividade. Nietzsche influencia esse momento
contemporâneo afirmando que o artista deve se afastar do mundo e exprimir sua vida interior. Para
ele, esse retraimento do mundo se torna manifesto no homem contemporâneo como reflexo da
sociabilidade atual. Dessa forma, o belo está marcado pela irracionalidade, e Nietzsche anuncia a
obsolescência do mundo.
[...] não existem estados de fato em si, mas apenas interpretações, não um
mundo, e sim, uma infinidade de mundos que são apenas perspectivas do
indivíduo vivente: a questão “o que é” é uma maneira de pôr sentido [...].
No fundo, trata-se sempre da questão “o que é para mim” (NIETZSCHE
apud REZENDE, 2009, p. 13-14).
49
Unidade II
Nietzsche, então, segundo Noyama (2016), pretende recuperar a visão de mundo dos gregos e
tenta criar em solo germânico uma cultura genuína, tendo os gregos do século V a.C. como modelo.
Ele propõe naquele momento uma nova compreensão da visão de mundo dos gregos. Foi combatido
no seu tempo pela academia alemã e sua característica moderna o acompanhou ao longo da sua
história, levantando bandeiras próprias, como criticar sem piedade os valores consagrados e a fé cega
na conservação de ideias, “o que se somou à sua forma seca e rígida de escrever, tão morta quanto a
alma do homem moderno, a qual ele batizou de decadente” (NOYAMA, 2016, p. 161).
Para compreender o que eram a arte e o pensamento para os gregos no século VI e V a.C., é
importante formar uma visão da vida e da cultura daquela época. É preciso fazer esse retorno, pois
quando hoje falamos em arte e pensamento, faz-se a associação dos sentidos desses dois termos a
características determinadas ao que entendemos atualmente por arte e pensamento (NOYAMA, 2016).
Em Rezende (2009), vemos que, para os antigos, o belo não era definido simplesmente pela pureza
e pelo prazer subjetivo que proporciona. Vimos que a categoria do belo não era determinada como algo
que proporcionava prazer subjetivo, mas algo que existia fora do indivíduo, como categoria universal.
50
ESTÉTICA
Segundo Noyama (2016), Nietzsche foi um dos intelectuais alemães envolvidos com a questão da
formação cultural do homem e, para isso, ele viu nos gregos antigos questões e reflexões importantes
para pensar a cultura e o homem moderno. Ele via a Grécia como ponto de partida da discussão sobre
o papel da arte na reforma da cultura alemã. Nietzsche e Winckelmann entendiam que os gregos
se encontravam num estágio singular, “no qual a arte exercia um papel protagonista na formação
cultural do homem grego” (NOYAMA, 2016, p. 163).
Não como o velho povo alemão, que queria entreter-se quando vez
por outra rompia o círculo de sua existência interior e que encontrava
distração verdadeiramente prazerosa no debate judiciário, o qual,
por isso, determinava a forma e a atmosfera também para seu drama
(NOYAMA, 2016, p. 164).
Lembrete
51
Unidade II
Observação
Nietzsche se referia aos gregos como povo ingênuo que, por meio da tragédia, se redescobria e
se renovava. Esse processo, de certa forma, aparece naquele momento no povo alemão em festas
como o carnaval e os bailes de máscara. Dessa forma, o espectador moderno, assim como o ateniense,
se deixa tocar pela tragédia, mas não somente por ela, também pela festa, pelo entusiasmo, pela
proximidade com a natureza e com o próprio renascer. Mas ele não celebra as renovações, não admira
e não se sente mais parte da natureza, como também não vê mais sentido em voltar à questão do ser.
O passado, para o homem moderno, deve ser esquecido (NOYAMA, 2016).
O espírito moderno não mais permite esse tipo de homem, que constrói
sua civilização em busca de proteção, segurança e garantias por meio da
repetição, do planejamento e da economia. Em vez de deixar a natureza
completar seus ciclos, ele prefere interromper os processos naturais e
administrar a força da natureza com a técnica e os demais instrumentos
criados pela racionalidade, para afastar o homem de seu passado dito
bárbaro (NOYAMA, 2016, p. 167).
A diferença entre os antigos e os modernos a partir das celebrações (a tragédia, nos gregos, e nas
festas religiosas, nos modernos) tem duplo aspecto: na religiosidade e na arte. Segundo Nietzsche
(2005, p. 70),
quem à sua vista lembrar do ideal do atual reformador da arte terá de dizer
ao mesmo tempo que aquela obra de arte do futuro não é exatamente
uma miragem brilhante, mas enganadora: o que esperamos do futuro já
foi uma vez realidade – em um passado de mais de dois mil anos.
Nesse momento, fica claro que Nietzsche apresenta uma nostalgia ao passado e acredita que esse
seria o ideal para o futuro. É uma inspiração “grega vislumbrar a possibilidade de afirmar a vida e, já
que aqueles homens assim estabeleceram sua relação com ela, resgatar essa relação torna-se, sim,
parte de uma nostalgia” (NOYAMA, 2016, p. 168).
Para Nietzsche, a Modernidade (na Europa em geral e na Alemanha em particular) é uma civilização
em processo de decadência pelos valores com base nos quais entende e sustenta sua cultura e pela
forma de viver.
52
ESTÉTICA
Por outro lado, Nietzsche traz duas figuras para demonstrar suas ideias. Influenciado por
Schopenhauer e sua obra O mundo como vontade e representação, ele lança mão de figuras da
cultura grega para se referir a esses dois elementos como uma forma de entender o mundo em que
vivemos. Ele utiliza as imagens de Apolo (representação) e Dionísio (vontade). Essa visão dualista
do mundo é considerada por alguns um desdobramento do platonismo, e com essa influência ele
faz uma leitura da tragédia grega, que pode ser entendida como a sua mais importante ideia para a
estética. Nietzsche afirma que
Lembrete
Para Nietzsche, a cultura é apenas uma fina casca de maçã que envolve
um caos incandescente.
A partir desse entendimento sobre a tragédia grega, Nietzsche coloca a arte no centro do debate
sobre o homem, a religião, a ciência e a filosofia. Esse é um dos grandes contrapontos desse filósofo,
pois a cultura ocidental moderna colocou a ciência e suas verdades no centro do mundo e atribuiu
funções supérfluas tanto para a arte quanto para a filosofia.
A tentativa de responder qual papel cabe à arte no processo de formação cultural da humanidade,
sobretudo no que diz respeito à concorrência com a ciência e a religião e com olhos atentos para
as condições de reflexão sobre as regras do fazer artístico, esteve no centro de inúmeras discussões
a partir de Nietzsche. Por fim, ele associa arte, filosofia e vida de forma que esses três elementos se
tornam inseparáveis e indispensáveis para a vida sobre a qual ele se propõe a refletir por meio da
filosofia (NOYAMA, 2016).
53
Unidade II
Saiba mais
O século XIX assistiu a uma quebra de paradigma na arte, não importando mais a técnica e
sua precisão, mas a inovação (SILVA, 2017). Vimos que Friedrich Nietzsche, na sua trajetória do
pensamento, deixou de acreditar na possibilidade de uma verdade absoluta. Não existe a verdade, e,
se não existem os fatos, existem apenas as interpretações, dessa forma, não existe o belo em si. Esse
pensamento influenciou muitos pensadores no século XX. Como veremos a seguir, doravante o belo
não ser mais um conceito universal, o gosto passou a ser totalmente relativo, assim como o que pode
ou não ser chamado de arte (CAMPOS, 2008).
Surgiram nesse período diversas escolas do movimento conhecido como arte moderna, como
o impressionismo, o realismo, o simbolismo e o art nouveau (ou arte nova); e, mais tarde, no século XX,
surgiram o expressionismo, o surrealismo, o dadaísmo entre outros. Nenhuma dessas escolas teve
a pretensão de representar o mundo de forma fiel, mas revolucionaram a linguagem artística,
culminando na obra de Marcel Duchamp, em 1917, conhecida como A fonte. Essa obra provocou a
desconstrução radical do conceito de arte.
54
ESTÉTICA
Theodor Adorno (1903-1969) foi um dos filósofos mais importantes da conhecida Escola de
Frankfurt. A Escola de Frankfurt, em geral, e Adorno, em particular, estudaram a massificação e o
empobrecimento da vida humana ocasionados pelos fenômenos de comunicação em massa. Adorno
elaborou críticas agudas contra o sistema formado para massificar a cultura (FIANCO, 2010).
A indústria cultural é um conceito central e essencial na obra desse filósofo. Ele faz análises
profundas sobre a cultura na sociedade moderna, criada pela maquinaria econômica em vigor, a
saber, o capitalismo (SANTOS, 2014).
55
Unidade II
Observação
O século XX assistiu ao processo de massificação dado pela cultura, e esse processo é uma referência
importante nos problemas culturais vividos nesse século. Adorno estabelece essa massificação como
indústria cultural (COSTA et al., 2003). Ele a define como um conjunto de meios de comunicação,
como o cinema, o rádio, a televisão, os jornais e as revistas mais acessíveis às massas. Esses meios
de comunicação formam um sistema poderoso que envolve poder econômico e exerce um tipo de
manipulação e controle social. Ao mesmo tempo que promove a mercantilização da cultura, esse
sistema é legitimado pela demanda por meios de comunicação (COSTA et al., 2003).
Segundo Santos (2014), o conceito de indústria cultural foi cunhado por Adorno em coautoria
com Horkheimer, substituindo a expressão cultura de massa. Eles consideravam que o termo cultura
de massa causava ambiguidade, podendo sugerir que era uma cultura nascida espontaneamente das
camadas populares.
Observação
Considerando o cinema e o rádio como dois meios importantes de comunicação destacados por
Adorno, a tecnologia da montagem e do efeito e o realismo exagerado fazem com que o cinema
consiga, de forma mais rápida, provocar a reflexão do seu espectador, dessa forma, o indivíduo se
integra à multidão. Enquanto o rádio apresenta um comando aberto e de longo alcance, o cinema é
um instrumento que coloca o seu discurso como verdadeiro e absoluto às massas (COSTA et al., 2003).
Para Costa et al. (2003), na indústria cultural esses meios de comunicação não apresentam
preocupação exata com o seu conteúdo, mas com o registro estatístico dos consumidores. Além
disso, a indústria cultural usa a dominação técnica dos bens culturais na Modernidade, adaptando
produtos a um consumo de massa aliado aos interesses do capital para construir um grande sistema:
“O terreno no qual a técnica conquista seu poder sobre a sociedade é o poder que os economicamente
mais fortes exercem sobre a sociedade. A racionalidade técnica hoje é a racionalidade da própria
dominação” (ADORNO apud SANTOS, 2014, p. 26).
56
ESTÉTICA
busca-se o prestígio. Adorno vê o filme e a televisão como criadores de uma ilusão de mundo que não
é percebida espontaneamente pela nossa consciência, e a realidade cinematográfica criada apresenta
forte interesse econômico e político (COSTA et al., 2003).
Para Adorno, não só o cinema e o rádio foram usados para esse processo de massificação, mas a
arte musical também teve seu caráter banalizado. O propósito dessa arte é extirpar a sensibilidade dos
ouvintes, tornando-os “fiéis seguidores do prazer pelo prazer, desconsiderando, assim, o sentido total
da obra” (SANTOS, 2014). Pela cultura de massa, o homem passa a ser subordinado à técnica, e esta
destrói a subjetividade do indivíduo, dando lugar à razão instrumental (COSTA et al., 2003).
Para Santos (2014), a indústria cultural não mede esforços para colocar o indivíduo em estado de
completo empobrecimento da reflexão crítica e da sensibilidade artística. “A padronização é o valor
decisivo desta proposta cultural. Se a massificação é a pedra angular da industrialização cultural,
o esforço deve ser, então, exercido em prol do extermínio da autonomia dos sujeitos” (SANTOS,
2014, p. 25).
A função de entretenimento que a indústria cultural tem hoje era exercida por uma arte popular
desde o início da civilização ocidental moderna. Comparando as obras de arte com as mercadorias
culturais, Adorno elabora os seguintes tópicos (COSTA et al., 2003):
• Estilo: afirma que este está relacionado com detalhes do construto sem interferir na sua
totalidade, podendo ser trocado sem que a totalidade se modifique.
• Trágico: se comparado com a pura diversão, pode fornecer à indústria cultural uma profundidade
que esta aparentemente não tem: “[...] o trágico se dissolve na falsa identidade da sociedade e
do sujeito, de um modo que se refere novamente ao modo de operação mais típico da indústria
cultural” (COSTA et al., 2003, p. 3).
• Sublimação: nas obras de arte pode ser traduzida, por exemplo, pela representação de nus
na pintura, na escultura e no teatro, sem conotar exibições sexuais. O caráter de linguagem se
sobrepõe ao apelo sensual que pode estar contido numa expressão estética desse tipo.
57
Unidade II
Para discutir a cultura como mercadoria, é importante apresentar a sociedade industrial. A sociedade
industrial pode ser definida como a sociedade que se caracteriza por três elementos ramificadores:
aplicação de conhecimentos científicos e tecnológicos às técnicas da produção; grande investimento
em instalação e maquinários; e produção em série, ou seja, em larga escala (COSTA et al., 2003).
Na sociedade cultural, o que reúne trabalho e lazer é a técnica. Nessa sociedade, até a cultura se
transforma em mercadoria. Para Adorno, na indústria cultural o consumidor não é o rei nem o sujeito,
mas sim o objeto: “Os produtos culturais, os filmes, os programas radiofônicos e as revistas ilustram
a mesma racionalidade técnica, o mesmo esquema de organização e de planejamento administrativo
que a fabricação de automóveis em série ou os projetos de urbanismo” (COSTA et al., 2003, p. 5).
Saiba mais
A indústria cultural instaura uma dominação técnica sobre a sociedade para impedir a
conscientização dos indivíduos. Para Santos (2014), esse é o intuito da maquinaria econômica
capitalista, que busca implantar, por meio da indústria cultural, um comércio fraudulento, de modo
a envolver um rebanho de consumidores que é continuamente ludibriado com promessas vãs. Dessa
forma, o consumidor acaba se tornando um joguete dos interesses econômicos capitalistas.
58
ESTÉTICA
à numerosa demanda. Conforme o autor, a produção desse conteúdo artístico é marcada pela
serialização-padronização-divisão do trabalho.
É a indústria cultural que transforma a cultura em mercadoria. Essa transformação provoca a perda
dos traços de uma experiência autêntica, provocando uma degradação do papel filosófico-existencial
da cultura e tornando os indivíduos em completos objetos dessa indústria (COSTA et al., 2003).
Para Santos (2014), a indústria cultural é o resultado do modo de produção capitalista, ameaçando
a formação da subjetividade humana com seus produtos culturais.
A anulação gradual do sujeito, acrescenta Fianco (2010), e sua substituição pela “quimera maliciosa”
da objetividade mantém uma imagem do sujeito pré-capitalista para ofuscar que a subjetividade não
existe mais. Restou no indivíduo um espaço vazio, aquele que ainda é para si, mas não mais em si.
Para Adorno, segundo Fianco (2010), a vida privada termina para colocar o sujeito na homogeneidade
de pensamento, dominada pelo gosto imposto a uma multidão de consumidores que trazem consigo
a lógica comercial.
Em relação à música, Adorno faz duras críticas: “rebaixado ao estado de ornamento da vida
cotidiana, denunciando o que ele chama de ‘felicidade fraudulenta da arte afirmativa’, ou seja, uma
arte integrada ao sistema” (COSTA et al., 2003, p. 6).
O entretenimento, para Santos (2014), é uma das características da indústria cultural. O domínio
exercido sob as pessoas é mediado pela diversão.
59
Unidade II
Sendo que o trabalho é dominado por atos repetitivos ou por atividades que não proporcionam
júbilo, as horas restantes do dia são preenchidas pelos passatempos da mídia.
O que deve apetecer o espectador não deve ter nenhuma ligação real
com sua vida cotidiana. Eles são levados estupidamente, com efeito,
a pensarem conforme os parâmetros estabelecidos de antemão pela
indústria do consumo e, assim, são impelidos a pensar acriticamente
(SANTOS, 2014, p. 29).
Como esse pensar acrítico se dá? Nas palavras de Adorno, “o prazer acaba por se congelar no
aborrecimento, porquanto, para continuar a ser um prazer, não deve mais exigir esforço e, por isso,
tem de se mover rigorosamente nos trilhos gastos das associações habituais” (SANTOS, 2014, p. 29).
Assim, o espectador não tem necessidade de nenhum pensamento próprio.
Segundo Adorno, apesar do entretenimento desinteressado promover o descanso, ele está repleto
do interesse do capitalismo, que acaba introduzindo modos próprios de trabalho. Aparece nesse
momento a ideologia do hobby, um passatempo que é implantado coercitivamente. “É necessário,
pois, aderir a uma atividade em que seja possível identificar os resultados, isto é, as consequências
precisam ser palpáveis, justificáveis. Uma prática cujo fim não possui objetividade certamente não é
significativa para a indústria cultural” (SANTOS, 2014, p. 30). É interessante perceber que a “integração
do tempo livre é alcançada sem maiores dificuldades, mas as pessoas não percebem o quanto não são
livres lá onde mais livres se sentem” (SANTOS, 2014, p. 30).
Divertir-se, nessa sociedade, significa renunciar à possibilidade de refletir sobre aquilo que se
está assistindo. Aqui, a contemplação estética pretende suavizar o pensamento, torná-lo inapto para
resistir às forças externas a ele que almejam domesticá-lo.
Como já vimos, segundo Adorno, no sistema capitalista a indústria cultural reproduz bens que são
padronizados para satisfazer as necessidades que são vistas pela indústria como iguais. A indústria
cultural vê a sociedade como alienada de si mesma, podendo padronizar os bens produzidos com
facilidade. A sociedade alienada de si mesma tem sua capacidade de pensar e agir de uma maneira
crítica e autônoma atrofiada (COSTA et al., 2003).
60
ESTÉTICA
Adorno acusa essa nova arte de falsidade ideológica, por sua forma e estética serem uma imitação
e vistas como algo absoluto. Segundo Costa et al. (2003, p. 8), “a produção capitalista controlada
pelos ideais de liberdade conduz ideologicamente a massa, fazendo-a acreditar no mito do sucesso
que é oferecido a todos igualmente, e que ao mesmo tempo escraviza através do poder da ilusão que
acomete os homens”.
Para Adorno, o sistema força as pessoas a serem o que elas não são, usando os meios de comunicação
que retratam uma vida feliz como se fosse um espelho ou uma janela da própria sociedade refletida
na tela (COSTA et al., 2003). Para Fianco (2010), a dominação e opressão dos seres humanos pelas
estruturas da sociedade por meio da ideologia que é apresentada para os indivíduos pelas campanhas
publicitárias e pelos bens culturais de consumo massivo é introjetada pelos receptores. Dessa forma,
altera os valores dos indivíduos sem que estes percebam, transformando em verdadeiros e inabaláveis
os valores que recebem sem notar que eles pertencem a uma estrutura maliciosamente projetada
para manter o indivíduo em estado de submissão.
Voltando à opressão dos seres humanos, a objetificação das relações humanas tem seu auge
nos indivíduos que se dedicam à prática de perseguir interesses, de quem tem planos a realizar.
Para Adorno, quando essas pessoas travam algum conhecimento com alguém, querem rotular
esse alguém para poder instrumentalizá-lo de acordo com seus interesses mediante um critério de
utilidade, tornando-o um objeto, empobrecendo as relações humanas. Para o autor, na esfera das
relações interpessoais, isso provoca um enfraquecimento da lealdade e da sinceridade. A ideologia do
consumo provoca uma busca pelo sucesso que permite, ou até ensina, dia após dia, a mentir, fingir e
manipular o outro em busca desse sucesso (FIANCO, 2010).
61
Unidade II
Adorno é bastante crítico dessa sociedade cultural, tanto na relação que ela tem com a cultura
como na relação que as pessoas têm entre elas mesmas, no processo de objetivação dos sujeitos. Ele
ressalta que a sociabilização forçada é uma forma de injustiça, pois torna aceitável o fingimento de
que esse mundo morto é habitável,
Adorno critica de forma veemente a sociedade cultural, seja na sua forma de lidar com a arte,
seja no seu comportamento interpessoal. Coloca a indústria cultural no cerne do problema e como
motivadora de todo esse comportamento sem sentido da sociedade. Mas ele, à parte de todos esses
processos, ainda acredita numa boa ideologia, verdadeira, contra a ordem existente e que se empenha
como reflexão ideal em exigir uma ordem melhor do que a já existente (FIANCO, 2010).
Nesse sentido, Adorno afirma que a produção artística pode cumprir esse papel de boa ideologia,
de oposição à ideologia dominante, mas que, para isso, precisa se manter fiel aos antigos processos de
criação como se o mundo do espírito já não estivesse dominado em sua quase totalidade. A produção
não pode ser totalmente subserviente aos processos sociais, nem completamente isolada, para poder
ser realmente produto do espírito (FIANCO, 2010).
Para Santos (2014, p. 25-26), apesar de a reflexão crítica estar ameaçada, não está fadada
ao extermínio:
Adorno não corrobora com a ideia de uma história dissociada dos sujeitos.
O que isto quer dizer? Ele endossa que as condições reais da sociedade são
passíveis de crítica; mais ainda: são suscetíveis de mudança. A exigência
para tal tarefa está na autorreflexão crítica, capaz de trazer à luz as
incongruências, contradições e barbáries presentes em nossa era. Adorno
concorda com Kant quando este sentencia que o homem se encontra
num estado de minoridade intelectual por sua própria culpa. Se não há
subterfúgio, cabe aos sujeitos assumirem o papel de protagonistas de seu
tempo, e não de plateia dele.
Para Adorno, as possibilidades reais de resistência só podem ser realizadas por meio de
sujeitos emancipados. Esses sujeitos estariam aptos não só à reflexão crítica, mas também a
engajamentos políticos.
62
ESTÉTICA
Segundo Santos (2014, p. 34), Adorno não compreende a história como fenômeno apartado dos
homens e, com isso, identifica possibilidades de resistência:
Exemplo de aplicação
Este conteúdo sobre a indústria cultural influencia nossa visão e interpretação da arte. Leia a letra
da música “Bienal”, de Zeca Baleiro, e identifique as questões centrais da indústria cultural.
Bienal
63
Unidade II
Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria
64
ESTÉTICA
Resumo
65
Unidade II
Exercícios
I – Para Nietzsche, vida e arte são fenômenos que não podem ser relacionados.
Porque
II – Segundo Nietzsche, a realidade é imune à arte, ou seja, a arte não é capaz de ajudar o homem
a enfrentar as dificuldades da vida.
I – Asserção falsa.
Justificativa: conforme dito pelo próprio Nietzsche, a arte é fundamental para o entendimento da
existência. Segundo o filósofo, o próprio mundo pode ser encarado como um acontecimento estético.
I – Asserção falsa.
Justificativa: de acordo com Nietzsche, “a arte existe para que a realidade não nos destrua”.
66
ESTÉTICA
Figura 13
67
Unidade II
Análise da questão
68