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Unidade III
7 BENJAMIN: OBRA DE ARTE E TÉCNICA DE REPRODUÇÃO
Walter Benjamin foi um filósofo associado à Escola de Frankfurt fortemente influenciado pelas
teorias marxistas e freudianas. Nas palavras de Benjamin,
A influência de Marx é marcante no pensamento de Benjamin. Assim, o ensaio sobre a obra de arte
e a reprodutibilidade técnica é considerado, segundo Buck-Morss (1996), uma afirmação da cultura
de massa e das novas tecnologias pelas quais a arte se dissemina.
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Unidade III
Observação
Com essa crítica, Benjamin certamente pretende dar à arte uma tarefa difícil, a de desfazer a
alienação do aparato sensorial do corpo e restaurar o poder institucional dos sentidos corporais
humanos em nome da autopreservação da humanidade, e isso não através do rechaço às novas
tecnologias, mas pela passagem por elas. Para Buck-Morss (1996), a compreensão crítica benjaminiana
da sociedade de massa entra em ruptura com a tradição do modernismo ao politizar a arte de
forma radical.
Considerando a origem da estética como aquilo que é perceptivo ao tato e à experiência sensorial
da percepção, o campo original da estética não é a arte, mas sim a realidade, a natureza corpórea,
material. A estética nasce de uma forma de cognição alcançada via gosto, audição, visão e olfato.
Essas sensações são uma faculdade pré-linguística anterior não apenas à lógica, como também aos
significados. Para Buck-Morss (1996), esses sentidos todos podem ser aculturados, e é exatamente
esse o interesse da filosofia na Modernidade.
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ESTÉTICA
Posto isto, é interessante observar que, no decurso da Era Moderna, o sentido do termo estética
sobre uma inversão é aplicado à arte mais do que à experiência sensível em si, ao imaginário mais
do que às sensações e ao ilusório mais do que ao real. A consciência dessas mudanças na forma de
entender a estética foi motivo de discussão na Modernidade (BUCK-MORSS, 1996).
Observação
Nesse contexto, Benjamin baseia-se numa ideia freudiana para entender o que é a experiência.
A saber, a consciência é um escudo que protege o organismo contra estímulos do exterior, obstando à
sua retenção e à sua impressão em forma de memória. Em situações extremas ou traumáticas, o ego
protege a consciência, bloqueando a abertura do sistema sinestésico (sensorial) e isolando
a consciência presente da memória do passado. Dessa forma, acontece um empobrecimento da
experiência, provocando na Modernidade uma resposta aos estímulos sem pensar. Segundo Benjamin,
essa é uma necessidade de sobrevivência (BUCK-MORSS, 1996). Para ele, “percepções que antes
suscitavam reflexos conscientes são agora fonte de impulsos de choque dos quais a consciência se
deve esquivar. Na produção industrial bem como na guerra moderna, o choque é a essência mesma
da experiência moderna” (BUCK-MORSS, 1996, p. 22).
Para o filósofo, em nenhum outro lugar a mímesis como um reflexo defensivo é mais aparente
do que na fábrica. O sistema fabril danifica cada um dos sentidos humanos, paralisa a imaginação do
trabalhador. “O seu trabalho é isolado da experiência, a memória substituída pela resposta condicionada,
pelo aprendizado por treinamento mecânico, pela destreza repetitiva: a prática não vale nada”
(BUCK‑MORSS, 1996, p. 23).
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Nesses casos, a percepção se tornaria experiência apenas quando se conectasse com a memória
sensorial do passado, mas, para isso, precisaria superar as barreiras da alienação. Essa exacerbação
da falta de sentido, seja sinestésico, seja cognitivo, resulta na inversão do papel: “o seu objetivo é
o de entorpecer o organismo, insensibilizar os sentidos, reprimir a memória: o sistema cognitivo da
sinestésica tornou-se, antes, um sistema anestésico” (BUCK-MORSS, 1996, p. 24).
Com a crise da percepção, a discussão não deve se ater à possibilidade de educar o ouvido
para a música, mas sim de lhe restituir a audição, e assim com todos os sentidos, restaurando a
perceptibilidade (BUCK-MORSS, 1996).
Benjamin elabora o termo fantasmagoria para a aparência da realidade, do ambiente, que engana
os sentidos por meio da manipulação técnica. As percepções que as aparências oferecem são reais o
quanto baste.
A superexposição aos estímulos sensoriais pensada pela fantasmagoria faz com que os indivíduos
se tornem adictos sensoriais a uma realidade compensatória, e isso se torna um meio de controle
social. Nesse sentido, Benjamin mostra que o papel da arte é ambivalente. Não é mais a experiência
dos sentidos, apenas, que se distingue da realidade, a arte se insere nesse campo fantasmagórico
como entretenimento, como parte do mundo das mercadorias.
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ESTÉTICA
As pinturas retratam uma atmosfera, um gênero, então na moda, que visava pintar mais um
ambiente ou um estado de espírito do que um tema. Segundo Buck-Morss (1996), o sentido da visão
era privilegiado nesse aparato sensorial da Modernidade, mas, segundo a autora, não só a visão foi
valorizada nessa época: a capacidade olfativa foi invadida pelos perfumes, que distanciavam
as pessoas do cheiro da cidade; e a capacidade auditiva foi também foi valorizada a partir das
obras musicais intensas, e é significante para os efeitos anestésicos “destas experiências que a
singularização de qualquer um dos sentidos para estimulação intensa tem o efeito de entorpecer
os demais” (BUCK‑MORSS, 1996, p. 29).
Voltando à questão da tecnologia, para Benjamin esta afetou o imaginário social e a crise da
experiência cognitiva causada pela alienação dos sentidos e tornou possível à humanidade visionar
a sua própria destruição prazerosamente. Nas palavras de Benjamin (2012), a obra de arte sempre
foi reprodutível e, em última instância, imitável. Na história da arte, essa imitação era praticada
pelos discípulos nos exercícios, pelos mestres para a difusão da obra e, por terceiros, meramente
visando o lucro.
Mas a reprodução técnica da obra de arte era até então um processo novo, que estava se desenvolvendo
ao longo da história com interesse crescente. Acompanhando esse processo em desenvolvimento,
Benjamin mostra que a litografia influenciou a técnica de reprodução de forma direta. Esse processo
permitiu às artes gráficas, pela primeira vez, colocar no mercado suas produções não somente em
grande quantidade, mas também sob a forma de criações sempre novas.
É interessante observar, como Benjamin, que essa técnica permite que as artes gráficas ilustrem
a vida cotidiana de forma rápida. Com essa valorização da reprodução da vida cotidiana surge a
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fotografia, com um poder de comunicação bastante importante. Segundo Benjamin, “como o orno
apreende mais depressa do que a mão desenha, o processo de reprodução das imagens experimentou
tal aceleração, que começou a situar-se no mesmo nível que a palavra oral” (BENJAMIN, 2012, p. 181).
Com a fotografia surge o cinema.
Para Benjamin, mesmo na reprodução mais perfeita da obra de arte algo está ausente: sua
existência única no lugar que ela se encontra. A história da obra é parte importante dela, pois descreve
as transformações pelas quais ela passou e a própria passagem do tempo. Essas características
constituem o conteúdo da autenticidade da obra e a identificação do objeto como “aquele” objeto.
“A esfera da autenticidade, como um todo, escapa à reprodutibilidade técnica, e naturalmente não
apenas à técnica” (BENJAMIN, 2012, p. 182).
A autenticidade se perde, então, diante da reprodução técnica, mas não a torna uma falsificação,
pois a reprodução técnica pode trazer outros olhares para essa obra e outras condições de assimilação.
Benjamin introduz o conceito de aura da obra de arte, e é ela que se atrofia com a reprodutibilidade
técnica. “Na medida em que ela multiplica a reprodução, substitui a existência única da obra por uma
existência serial” (BENJAMIN, 2012, p. 182-183). Em cada encontro de uma obra com o espectador
há uma atualização dessa obra. Essa situação abala a tradição, e isso se relaciona diretamente com os
movimentos de massa.
Benjamim afirma que o cinema e sua fácil e rápida reprodutibilidade provoca a liquidação do valor
tradicional do patrimônio da cultura. Para ele, “o modo pelo qual se organiza a percepção humana,
o meio em que ela se dá, não é apenas condicionado naturalmente, mas também historicamente”
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ESTÉTICA
(BENJAMIN, 2012, p. 183). Assim, a aura é uma figura singular, composta por elementos espaciais e
temporais. A partir dessa definição, para Benjamin, é fácil identificar os fatores sociais específicos que
condicionam o declínio atual da aura.
Ao mesmo tempo que as massas modernas querem estar mais próximas da arte, elas superam o
caráter único da obra e aceitam a reprodutibilidade.
Cada dia fica mais irresistível a necessidade de possuir o objeto, de tão perto
quanto possível, na imagem, ou antes, na sua cópia, na sua reprodução.
Cada dia fica mais nítida a diferença entre a reprodução, como ela nos é
oferecida pelas revistas ilustradas e pelas atualidades cinematográficas, e
a imagem (BENJAMIN, 2012, p. 184).
Nesse contexto, a obra de arte reproduzida é a reprodução de uma obra de arte criada para ser
reproduzida, e, com isso, a questão da autenticidade das cópias não tem mais nenhum sentido. “Mas,
no momento em que o critério da autenticidade deixa de aplicar-se à produção artística, toda a
função social da arte se transforma. Em vez de fundar-se no ritual, ela passa a fundar-se em outra
práxis: a política” (BENJAMIN, 2012, p. 186).
Duas características das obras de artes podem ser acompanhadas ao longo da história em
relação às suas mudanças e ao significado da obra de arte para os indivíduos, ou massas, como
Benjamin coloca em seus textos. Essas duas características são o valor do culto da obra e o seu
valor de exposição. A produção artística tem seu início em imagens a serviço da magia, por isso a
exposição pública dessa produção era controlada. Pessoas específicas em momentos específicos
poderiam ter acesso a essa produção.
Para Benjamin, os gregos estão em lugar privilegiado na história da arte, pois só conheciam dois
processos técnicos para reprodução da obra de arte, o molde e a cunhagem. Todas as obras, com
exceção das moedas e terracotas, foram produzidas para serem únicas e eternas. Isso se deu pelo
momento de desenvolvimento da técnica em que se encontravam, mas, com isso, produziram valores
eternos. Os gregos então se encontram em posição diametralmente oposta à nossa, pois nunca as
obras de arte foram reproduzidas em tal escala e amplitude. Além dessa reprodutibilidade, a obra
de arte pode ser feita e refeita até uma suposta perfeição, enquanto na Grécia era feita de uma vez
em uma única pedra de mármore. A escultura então era a mais alta obra de arte para os gregos,
enquanto, para Benjamin, o cinema é a mais alta obra de arte do seu tempo.
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8 A ESTÉTICA EM MARCUSE
Herbert Marcuse foi um filósofo alemão, naturalizado norte-americano, que fundou junto com
Adorno, Horkheimer e Benjamim a Escola de Frankfurt. Marcuse também discute a formação social
com relação à dimensão estética do ser humano.
Segundo Rodrigues (2015), Marcuse considera a dimensão estética como uma nova práxis política,
aberta à dimensão da sensualidade, da imaginação e do prazer. É importante destacar que Marcuse,
na sua obra, pretende conciliar os pensamentos de Hegel, Heidegger e Marx. Importante também
lembrar que a Escola de Frankfurt tem como “um dos temas fundamentais o iluminismo, ou seja, a
razão como caminho da emancipação humana de toda repressão desnecessária” (RODRIGUES, 2015,
p. 226). Marcuse também se interessou muito pela psicanálise de Freud, tanto que seu pensamento
pode ser chamado de freudo-marxismo.
É de notar que a racionalização excessiva – que originalmente foi concebida como processo
emancipatório que deveria conduzir o homem à autonomia e à autodeterminação – se transforma
justamente em seu contrário, um crescente processo de instrumentalização para a dominação e
repressão do homem (FREITAG, 1986).
Como apontado anteriormente, Marcuse sofre grande influência de Freud na sua análise da
sociedade, o que pode ser visto na sua obra Eros e civilização. Nela, o ponto de partida é
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ESTÉTICA
Marcuse, ao contrário de outros filósofos da Escola de Frankfurt, faz uma proposta afirmativa,
e não um diagnóstico negativo da sociedade moderna. Freud, por sua vez, aparece pessimista sobre
a possibilidade de o homem ser feliz de forma duradoura. Para ele, o homem está condenado à
infelicidade. Para Freud, no entender de Rodrigues (2015, p. 229):
Freud considera que o amor (Eros) é necessário para manter os indivíduos juntos em sociedade, mas
para preservar a civilização é necessária a renúncia pulsional, ou seja, é necessário institucionalizar a
repressão. Sem essa repressão, a vida em sociedade não seria possível.
Observação
Ele também afirma que, quanto mais civilizada for uma cultura, mais repressora e menos
violenta ela é. Para a sublimação dessa pulsão, é necessário controlar o Eros e canalizar a energia no
trabalho produtivo.
Saiba mais
Para Marcuse, Freud acerta em dizer que há um conflito entre indivíduo e sociedade na civilização,
mas erra ao generalizar esse conflito como necessário a toda civilização.
Em relação à Marx, Marcuse retira a ideia da revolução das massas trabalhadoras e a necessidade de
abolir o modo de trabalho capitalista. Ele percebe, também, que no capitalismo tardio o proletariado
não é mais capaz da revolução universal, pois, para ele, houve uma uniformização das classes sociais
(RODRIGUES, 2015).
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Para Marcuse, o proletariado, que para Marx era o sujeito revolucionário, perde esse caráter
comprado por um aparente bem-estar oferecido pelo consumismo. Diante dessa alienação, segundo
Marcuse, é necessário usar a crítica marxista focada na felicidade total do ser humano, e, por isso, é
necessário acrescentar ao marxismo a dimensão do lúdico, da alegria, do erotismo e da eudaimonia
(RODRIGUES, 2015).
Em Aristóteles, a palavra eudaimonia foi usada como equivalente a supremo bem humano, e o
objetivo da filosofia prática é definir o que é esse bem e como ele pode ser alcançado. No entender de
Marcuse, o homem vive num mundo em que sempre falta algo para satisfazer às suas necessidades,
mas a escassez pode ser administrada favorecendo a dominação de certos grupos.
Essa escassez obriga os homens a viverem sob uma autoridade, sob uma dominação. A partir
dessa ideia, Marcuse elabora os conceitos de repressão básica e o princípio de mais-repressão, ou
repressão excessiva:
• Repressão básica: são aquelas modificações das pulsões ou restrições à satisfação libidinal
necessárias à perpetuação da raça humana na civilização.
Marcuse também atualiza o conceito de princípio de realidade. Este está dividido em princípio
biológico de realidade e princípio de desempenho (ou realização); o último é o princípio de realidade
na sociedade moderna. Nele, quando a sociedade controla a repressão excessiva, substitui o princípio
de desempenho por um princípio de realidade, que libera espaço para o princípio de prazer.
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ESTÉTICA
Saiba mais
Esse princípio de realidade é moldado pela civilização e, no caso da sociedade moderna, recebe o
nome de princípio de desempenho, de tal forma que uma sociedade não repressiva não deve ter os
conteúdos repressivos e buscar o prazer. Esse princípio de prazer dominante não é o fim da civilização,
como diria Freud, mas sim a passagem para um nível mais elevado de civilização, segundo Marcuse,
uma civilização sem dominação e sem repressão excessiva (RODRIGUES, 2015).
Para Marcuse, a busca pelo prazer e pelo amor (Eros) é possível por meio da dimensão estética. Ele
volta ao entendimento do que é a estética no seu momento contemporâneo:
Se a estética fosse de fato isso, não teria condições de servir como base para uma práxis política
emancipatória, como ele pretende. Para Marcuse, essa visão da dimensão estética é também o resultado
de uma “repressão cultural” que visa anular os inimigos do princípio do desempenho e manter a
sua dominação. Essa é a grande intenção do autor, resgatar a dimensão política e revolucionária
da estética a fim de suprir o princípio do desempenho e sustentar uma concepção de sociedade
emancipada (RODRIGUES, 2015, p. 235).
Lembrete
Marcuse volta o seu olhar para Kant para elaborar a dimensão estética. Ele percorre as três Críticas
do filósofo começando pela Crítica da razão pura, onde vemos como o conhecimento científico é
possível por meio dos juízos sintéticos a priori. É importante levar em consideração que os juízos
apenas produzem conhecimento na medida em que eles sintetizam os dados da sensibilidade com as
categorias do entendimento, ou, nas próprias palavras de Kant, “intuições sem conceitos são cegas,
pensamentos sem conteúdo são vazios” (KANT, 1980, p. 57).
A sensibilidade para Kant é fornecedora da matéria empírica para o conhecimento, ou seja, não há
conhecimento sem a sensibilidade. Kant dá um passo a mais no entendimento da sensibilidade como
base para o conhecimento. Ele afirma que ela é inferior nessa relação, pois a sensibilidade é
uma faculdade passiva em contraposição à faculdade ativa do entendimento. Assim, a razão, o
entendimento e o conhecimento compõem um processo ativo.
Na visão de Rodrigues (2015), o próprio Kant tentará resolver essa separação radical das duas
esferas – sensibilidade e independência – na Crítica da faculdade de julgar, quando ele introduz, como
já vimos anteriormente, a dimensão estética, que seria a dimensão intermediária entre a natureza e
a moralidade.
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ESTÉTICA
Marcuse parte dos princípios kantianos de que o prazer proporcionado pelo belo é intrinsicamente
subjetivo e não pode ser um prazer regido por interesses, ou seja, ao suspender os interesses particulares,
os homens são capazes de obter uma satisfação devida exclusivamente à beleza do objeto estético.
Esse ponto é fundamental para Marcuse. Para ele, a beleza é finalidade sem fim, intencionalidade
sem intenção e legitimidade sem lei. Dessa forma, a existência estética é incompatível com o princípio
de desempenho e com a racionalidade instrumental, mas é plenamente compatível com o princípio de
prazer. Assim, a posição kantiana é a de que a estética é capaz de fazer a reconciliação erótica (amor
e prazer) do homem com a natureza, acabando com a repressão desnecessária e colocando o homem
no caminho da liberdade. Marcuse encontra no romantismo alemão uma influência para trabalhar a
estética não mais como um patamar mais baixo que a lógica, pois a sensualidade e a beleza passam
a ter um papel de destaque na compreensão da vida humana em sua totalidade.
Schiller foi uma das grandes influências no romantismo alemão para Marcuse. A sua obra tenta
reconstruir a civilização a partir da força libertadora da função estética, sendo que essa estética
poderia formar um novo princípio de realidade, diferente do princípio de desempenho, e ter um papel
decisivo na reformulação da civilização (RODRIGUES, 2015).
Observação
Para Marcuse, não se pode ignorar que a beleza é uma condição necessária da humanidade e, por
isso, fundamental para a formação plena do ser humano. Deixar de considerar isso é alienar o ser
humano de uma importante parte de si (RODRIGUES, 2015).
Assim, ficam claros os pontos de tensão em Marcuse: de um lado ele coloca em evidência o
potencial subversivo e revolucionário da arte e da estética, reconciliadas com a sensualidade
e com o prazer; do outro está a sociedade industrial, que busca desenvolver ao máximo a alienação
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Unidade III
humana para manter o princípio de desempenho. Para Marcuse, a sociedade industrial fragmenta os
seres humanos ao alienar essas pessoas mantendo o princípio de desempenho.
Schiller, na visão de Marcuse, conclui que a doença da civilização moderna é o conflito entre as
dimensões da existência humana, o impulso sensual e o impulso formal, mas, para conciliar esses
polos, Schiller propõe o impulso lúdico. Para Marcuse, então, a salvação da cultura envolveria a
abolição dos controles repressivos que a civilização impôs à sensualidade (RODRIGUES, 2015). Para
o autor, o impulso lúdico é o “jogo”, e não o “jogar algo”; é encarar a própria vida como um jogo no
qual o objetivo não é ganhar, mas apenas jogar. A liberdade, para Marcuse, surge quando a realidade
perde a sua seriedade, ou estruturas repressivas rígidas. Essas estruturas repressivas não deixam o ser
humano mostrar todas as suas potencialidades.
Outra característica que Marcuse encontra no impulso lúdico é a capacidade de este promover
a reconciliação entre o homem e a natureza. Dessa forma, o homem não se sentiria mais dominado
pela natureza.
De uma maneira geral, a retomada da dimensão estética como caminho da libertação é também,
até hoje, um ponto muito fecundo. Marcuse não faz essa retomada com os filósofos seus antecessores
mais recentes, como Nietzsche e Schopenhauer, mas sim com a fonte original desses pensadores, Kant
e o romantismo alemão.
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ESTÉTICA
Exemplo de aplicação
Adorno e Horkheimer apresentam a teoria da indústria cultural. Nessa teoria, encontra-se grande
influência de Marx. Leia as alternativas e assinale a correta em relação a essa influência na teoria de
Adorno e Horkheimer:
Resolução
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Unidade III
Resumo
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ESTÉTICA
Exercícios
Herbert Marcuse é um pensador tão instigante quanto complexo, tanto pelas suas ideias quanto
pelas apropriações que foram feitas delas a partir de um imaginário que tentou delinear para ele uma
imagem de “pensador e militante revolucionário”. Foi trazido assim à cena do debate intelectual e
divulgado, inclusive no Brasil, como maître à penser dos enragés de 1968. Porém sua complexidade
e sua densidade de reflexão permitiram que sobrevivesse não como um “filósofo da moda”, mas como
um grande pensador, permanentemente envolvido pelas novas inquietudes da razão e da emoção que
a Modernidade tardia colocava em cena. Ao lado de Adorno, Horkheimer e Benjamin, estabelecerá
um alicerce teórico fundamental do que conhecemos como Escola de Frankfurt.
E é nesse “movimento de ideias”, conhecido hoje também como Teoria Crítica, surgido na
Alemanha na década de 1920 e consolidado nos anos de 1930, que Marcuse deve ser estudado e
compreendido. Não que isso implique nele, nem nos demais membros desse grupo, uma adesão
acrítica a uma forma de pensar preestabelecida, à qual todos deviam prestar obediência. Muito mais
é uma aproximação intelectual a um conjunto de inquietações compartilhadas às quais se acreditava
poder dar conta, a partir de um referencial teórico, em permanente construção, ao qual todos eles
já haviam assumido previamente como seu. É no diálogo entre seus membros que a “Escola” irá
desdobrando suas reflexões e se construindo. É nesse diálogo intelectual também que precisamos
situar o pensamento de Herbert Marcuse, como um marco referencial a que ele recorria sempre e ao
qual se sentiu ligado por toda a sua vida.
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Unidade III
Com base na leitura e nos seus conhecimentos, analise as asserções a seguir e a relação entre elas.
Porque
II – No que tange à Teoria Crítica, Marcuse debruça-se sobre a alienação que a sociedade industrial
e a arte em geral provocam no ser humano.
I – Asserção falsa.
Justificativa: segundo o texto, “ao lado de Adorno, Horkheimer e Benjamin, (Marcuse) estabelecerá
um alicerce teórico fundamental do que conhecemos como Escola de Frankfurt”. No entanto, ainda
de acordo com o texto, “é nesse “movimento de ideias”, conhecido hoje também como Teoria Crítica,
surgido na Alemanha na década de 1920 e consolidado nos anos de 1930, que Marcuse deve ser
estudado e compreendido”. Prossegue-se com o seguinte: “não que isso implique nele, nem nos
demais membros desse grupo, uma adesão acrítica a uma forma de pensar preestabelecida, à qual
todos deviam prestar obediência”. Além disso, tais filósofos tinham uma visão crítica da cultura de
massa (indústria cultural) e da sociedade capitalista que se configurava no início do século XX.
II – Asserção falsa.
Justificativa: de acordo com Marcuse, o avanço da sociedade industrial gera falsas necessidades
ao indivíduo, o que leva à sua integração ao sistema de produção e de consumo. No entanto, ele não
faz essa crítica às artes. Segundo ele, a arte combate a reificação característica da sociedade técnica.
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ESTÉTICA
Figura 17
Em suma, o que é a aura? É uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais:
a aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja. Observar, em repouso, numa
tarde de verão, uma cadeia de montanhas no horizonte, ou um galho, que projeta sua sombra
sobre nós, significa respirar a aura dessas montanhas, desse galho. Graças a essa definição, é fácil
identificar os fatores sociais específicos que condicionam o declínio atual da aura. Ele deriva de duas
circunstâncias, estreitamente ligadas à crescente difusão e intensidade dos movimentos de massas.
Fazer as coisas “ficarem mais próximas” é uma preocupação tão apaixonada das massas modernas
como sua tendência a superar o caráter único de todos os fatos através da sua reprodutibilidade.
Cada dia fica mais irresistível a necessidade de possuir o objeto, de tão perto quanto possível, na
imagem, ou antes, na sua cópia, na sua reprodução. Cada dia fica mais nítida a diferença entre a
reprodução, como ela nos é oferecida pelas revistas ilustradas e pelas atualidades cinematográficas,
e a imagem. Nesta, a unidade e a durabilidade se associam tão intimamente como, na reprodução, a
transitoriedade e a repetibilidade. Retirar o objeto do seu invólucro, destruir sua aura, é a característica
de uma forma de percepção cuja capacidade de captar o “semelhante no mundo” é tão aguda, que
graças à reprodução ela consegue captá-lo até no fenômeno único. Orientar a realidade em função
das massas e as massas em função da realidade é um processo de imenso alcance, tanto para o
pensamento como para a intuição.
BENJAMIN, W. A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica. Porto Alegre: L&PM, 2014. p. 46.
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Unidade III
Com base na leitura e nos seus conhecimentos, avalie as asserções e a relação proposta entre elas.
Porque
Análise da questão
De acordo com Benjamin, a reprodutibilidade da obra de arte, facilitada pela técnica, destrói a sua
aura, pois retira a obra de seu invólucro. A autenticidade se perde, então, com a reprodução técnica.
Dessa forma, a reprodução da Mona Lisa original na figura também está relacionada à destruição
de sua aura.
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FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Figura 9
Figura 10
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Figura 11
Figura 12
Figura 14
Figura 15
REFERÊNCIAS
Audiovisuais
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Exercícios
93
94
95
96
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000