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Introdução
A crença de um julgamento do homem, tendo Deus como juiz e levando em conta os atos praticados em vida por este, é comum em
quase todas as religiões do Mundo.
Na maior parte das crenças, acredita-se que tal julgamento será feito no final dos tempos, após o fim da raça humana, em um outro
plano espiritual. Porém são muitos os que crêem que ainda vivos poderão estar sendo julgados, como os cristãos que esperam a vinda
do Messias por uma segunda vez, crendo que poderão receber a recompensa prometida ainda em vida.
[editar] Interpretações cristãs
No Cristianismo o Juízo Final será o julgamento por Deus de todos os seres humanos que passaram pela terra. Esse evento seria
precedido pela ressurreição dos mortos e pela segunda vinda de Cristo.
Afresco, O Juízo Final D' Michelangelo Buonarroti (Capela Sistina, Palácio Apostólico, Cidade do Vaticano)
[editar] Interpretação Cristã Ortodoxa
A Escola Amilenista sugere que a Bíblia não faz distinção cronológica entre a Segunda Vinda de Cristo, o Arrebatamento da Igreja e a
participação do crente no Novo Céu e na Nova Terra; que haverá apenas uma ressurreição geral dos crentes e dos incrédulos, a qual
ocorrerá durante a Segunda Vinda; que o Juízo Final será para todos os povos; que a Tribulação é algo que experimentamos na
presente era; que o milênio referido em Apocalipse 20 não se trata de um milênio literal, pois o Reino de Deus, inaugurado visivelmente
com a Primeira Vinda de Cristo à Terra, continua espiritualmente presente, embora invisível, e será consumado com a Segunda Vinda
visível de Cristo, o Rei da Glória; que entramos neste Reino pela fé, conforme João 3; e que a Bíblia não faz distinção entre a Igreja no
Antigo Testamento (Israel) e a Igreja do Novo Testamento ("o novo Israel", constituída de circuncisos e incircuncisos). Compartilhasm
desta visão as Igrejas Católica Romana, Ortodoxas Orientais e Protestantes históricos.
[editar] Interpretações Cristãs Heterodoxas
A Escola Pós-Milenista ensina que a Segunda Vinda ocorrerá após o Milênio, o qual não será literal, e a era presente se misturará com
o Milênio de acordo com o progresso do Evangelho no mundo. Esta escola acompanha a mesma linha de interpretação da amilenista,
no que concerne à Ressurreição, ao Juízo Final, à Grande Tribulação e à posição sobre Israel e a Igreja.
A Escola Pré-Milenista divide-se em dois grupos distintos: os pré-milenistas históricos e os pré-milenistas dispensacionalistas. Os
históricos crêem que a Segunda Vinda de Cristo para reinar nesta Terra e o Arrebatamento da Igreja acontecerão simultaneamente; que
haverá a ressurreição dos salvos no início do Milênio, chamada a Primeira Ressurreição, e a ressurreição dos incrédulos ocorrerá no
final do Milênio; que o Milênio é tanto presente como futuro - no presente, Cristo reina nos Céus e, no futuro, reinará na Terra, muito
embora não considerem o período da Grande Tribulação e façam certa distinção entre Israel e a Igreja, enquanto "Israel espiritual".
Os pré-milenistas dispensacionalistas ensinam que a Segunda Vinda acontecerá em duas fases distintas: na primeira, Cristo se
encontrará com a Igreja nos ares e levará os salvos para participar das Bodas do Cordeiro nas regiões celestiais; na segunda, após
sete anos de Tribulação na Terra sem a presença da Igreja, Cristo regressará com ela para reinar neste mundo por mil anos. Eles
fazem distinção entre a ressurreição para a Igreja, na ocasião do Arrebatamento; a ressurreição para aqueles que virão a crer durante a
Grande Tribulação de sete anos (ressurreição esta que ocorrerá na segunda fase da Segunda Vinda de Jesus, no final da Grande
Tribulação); e a ressurreição dos incrédulos no final do Milênio. Distinguem também o julgamento dos crentes após o Arrebatamento
(Tribunal de Cristo), o julgamento dos judeus e gentios convertidos no final da Grande Tribulação (Julgamento das Nações) e o jul-
gamento dos incrédulos no final do Milênio (Juízo Final ou Juízo do Grande Trono Branco).
Para os dispensacionalistas, o período de sete anos da Grande Tribulação será literal, mas a Igreja será arrebatada antes dessa
tribulação. O Milênio será inaugurado e estabelecido com a Segunda Vinda de Jesus (na segunda fase), após a Grande Tribulação, e
durará literalmente mil anos. Para estes, há distinção entre Israel e a Igreja.
Lápides em um cemitério.
Até nesses casos, a definição de morte pode ser difícil. EEGs podem detectar pequenos impulsos eléctricos onde nenhum existe,
enquanto houve casos onde actividade cerebral em um dado cérebro mostrou-se baixa demais para que EEGs os detectassem. Por
causa disso, vários hospitais possuem elaborados protocolos determinando morte envolvendo EEGs em intervalos separados.
A história médica contem muitas referências a pessoas que foram declaradas mortas por médicos, e durante os procedimentos para
embalsamento eram encontradas vivas. Histórias de pessoas enterradas vivas (e assumindo que não foram embalsamadas) levaram
um inventor no começo do século XX a desenhar um sistema de alarme que poderia ser activado dentro do caixão.
Por causa das dificuldades na definição de morte, na maioria dos protocolos de emergência, mais de uma confirmação de morte (de
médicos diferentes) é necessária. Alguns protocolos de treinamento, por exemplo, afirmam que uma pessoa não deve ser considerada
morta a não ser que indicações óbvias que a morte ocorreu existam, como decapitação ou dano extremo ao corpo. Face a qualquer
possibilidade de vida, e na ausência de uma ordem de não-ressuscitação, equipes de emergência devem proceder ao transporte o mais
imediato possível até ao hospital, para que o paciente possa ser examinado por um médico. Isso leva à situação comum de um paciente
ser dado como morto à chegada do hospital.
[editar] Pós-morte
"Tudo é vaidade". Uma ilusão de óptica criada por Charles Allan Gilbert, criticando o apego material da vida mundana.
A questão de o que acontece, especialmente com os humanos, durante e após a morte (ou o que acontece "uma vez morto", se
pensarmos na morte como um estado permanente) é uma interrogação frequente, latente mesmo, na psique humana. Tais questões
vêm de longa data, e a crença numa vida após a morte como a reencarnação ou ida a outros mundos é comum e antiga (veja
submundo). Para muitos, a crença e informações sobre a vida após a morte são uma consolação ou uma cobarvia em relação à morte
de um ser amado ou à prospecção da sua própria morte. Por outro lado, medo do Inferno ou de outras consequências negativas podem
tornar a morte algo mais temido. A contemplação humana da morte é uma motivação importante para o desenvolvimento de sistemas
de crenças e religiões organizadas. Por essa razão, palavra passamento quando dita por um espírita, significa a morte do corpo. A
passagem da vida corpórea para a vida espiritual.
Apesar desse ser conceito comum a muitas crenças, ela normalmente segue padrões diferentes de definição de acordo com cada
filosofia. Várias religiões creem que após a morte o ser vivo ficaria junto do seu criador (Deus).
Muitos antropólogos sentem que os enterros fúnebres atribuídos ao Homem de Neanderthal/Homo neanderthalensis, onde corpos
ornamentados estão em covas cuidadosamente escavadas, decoradas com flores e outros motivos simbólicos, é evidência de antiga
crença na vida após a morte.
Do ponto de vista científico, não se pode confirmar nem rejeitar a idéia de uma vida após a morte. Embora grande parte da comunidade
científica sustente que isso não é um assunto que caiba à ciência resolver, muitos cientistas tentaram entrar nesse campo estudando as
chamadas "experiências de quase-morte", e o conceito de "vida" se associa ao de "consciência". São consideradas duas hipóteses:
A consciência existe unicamente como resultado de correlações da matéria. Se esta hipótese for verdadeira, a vida cessa de existir no
momento da morte.
A consciência não tem origem física, apenas usa o corpo como instrumento para se expressar. Se esta hipótese for verdadeira,
certamente há uma existência de consciência após a morte e provavelmente antes da morte, também, o que induziria às tentativas de
validação da reencarnação.
Até quando (e se) a ciência conseguir demonstrar alguma dessas hipóteses, esse assunto continuará a ser uma questão de fé para a
grande maioria das pessoas.
[editar] Personificação da morte
Jesus deu aos homens a Nova Lei, que é a forma perfeita da Lei de Deus. Esta Nova Lei resume-se nos famosos mandamentos de
amor [17] [18].
A Lei moral ou Lei de Deus, sendo uma obra divina, "prescreve-nos caminhos e normas de conduta que levam à bem-aventurança
prometida, proibindo-nos os caminhos que nos desviam de Deus" [19]. A Lei moral é percebida pelo Homem devido à sua consciência
moral e à sua razão. Esta lei é constituída pela Lei natural, que está "escrita pelo Criador no coração de cada ser humano" [20]; pela
Antiga Lei, revelada no Antigo Testamento; e pela Nova Lei, revelada no Novo Testamento por Jesus.
A Lei natural, sendo "universal e imutável", "manifesta o sentido moral originário que permite ao homem discernir, pela razão, o bem e o
mal". Como todos os homens (fiéis ou infiéis) a percebam, ela é de cumprimento obrigatório [20], mas ela nem sempre é totalmente
compreendida, devido ao pecado. Por isso, Santo Agostinho afirma que "Deus «escreveu nas tábuas da Lei o que os homens não
conseguiam ler nos seus corações»" [21], dando assim origem à Antiga Lei, que "é o primeiro estádio da Lei revelada". Resumida nos
Dez Mandamentos, ela "exprime muitas verdades que são naturalmente acessíveis à razão", coloca "os alicerces da vocação do
homem, proíbe o que é contrário ao amor de Deus e do próximo e prescreve o que lhe é essencial" [22].
A Antiga Lei, sendo ainda imperfeita, "prepara e dispõe à conversão e ao acolhimento do Evangelho" [23] e da Nova Lei, que é a
"perfeição e cumprimento", mas não a substituição, da Lei natural e da Antiga Lei [18]. Esta Nova Lei ou Lei evangélica "encontra-se em
toda a vida e pregação de Cristo e na catequese moral dos Apóstolos", sendo o Sermão da Montanha "a sua principal expressão" [17].
Esta Lei já perfeita e plenamente revelada "resume-se no mandamento do amor a Deus e ao próximo", e é considerada por São Tomás
de Aquino como «a própria graça do Espírito Santo, dada aos crentes em Cristo» [18].
[editar] Dez Mandamentos
Ver artigo principal: Dez Mandamentos
Moisés, grande profeta do Antigo Testamento, traz os Dez Mandamentos ao Povo de Deus [24].
Como os Dez Mandamentos (ou Decálogo) é a síntese da Lei de Deus (e não só da Antiga Lei) e a base mínima e fundamental da
moral católica, a Igreja insiste aos seus fiéis o cumprimento obrigatório destas regras [25], que já tinham sido reveladas no Antigo
Testamento. Aliás, segundo as próprias palavras de Jesus, é necessário observá-los para "entrar na vida eterna" (Mt 19,16-21) [26], além
de ser necessário para o "o povo mostrar a sua pertença a Deus e responder com gratidão à sua iniciativa de amor" [27]. Estes
mandamentos, que "enuncia deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo" [25], dão a conhecer também a
vontade divina e, ao todo, são dez:
1º - Amar a Deus sobre todas as coisas.
2º - Não invocar o Santo Nome de Deus em vão.
3º - Guardar domingos e festas de guarda.
4º - Honrar pai e mãe (e os outros legítimos superiores).
5º - Não matar (nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo).
6º - Guardar castidade nas palavras e nas obras.
7º - Não furtar (nem injustamente reter ou danificar os bens do próximo).
8º - Não levantar falsos testemunhos.
9º - Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos.
10º- Não cobiçar as coisas alheias.
Estes mandamentos podem ser resumidos em apenas dois, que são: "amar a Deus sobre todas as coisas"; e "amar ao próximo como a
nós mesmos". A transgressão de um mandamento infrige todo o Decálogo, porque é um "conjunto orgânico e indissociável" [28].
[editar] Virtude
Ver artigo principal: Virtude, Virtudes teologais e Virtudes cardinais
São Paulo (séc. I) disse que, de todas as virtudes, "o maior destas é o amor" (ou caridade) [29].
A virtude, que se opõe ao pecado, é uma qualidade moral, "uma disposição habitual e firme para fazer o bem", sendo "o fim de uma
vida virtuosa tornar-se semelhante a Deus" [30]. Segundo a Igreja Católica, existe uma grande variedade de virtudes que derivam da
razão e da fé humanas. Estas, que se chamam virtudes humanas, regulam os actos, as paixões e a conduta moral humanas [31], sendo
as mais importantes as virtudes cardinais, que são quatro [32]:
a Prudência, que "dispõe a razão para discernir em todas as circunstâncias o verdadeiro bem e a escolher os justos meios para o
atingir" [33].
a Justiça, que é uma "constante e firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido" [34].
a Fortaleza que "assegura a firmeza nas dificuldades e a constância na procura do bem" [35].
a Temperança que "modera a atracção dos prazeres, assegura o domínio da vontade sobre os instintos e proporciona o equilíbrio no
uso dos bens criados" [36].
Mas, para que as virtudes humanas se atinjam a sua plenitude, elas têm que ser vivificadas e animadas pelas virtudes teologais, que
têm "como origem, motivo e objecto imediato o próprio Deus". Elas são infundidas no homem com a graça santificante e tornam os
homens capazes de viver em relação com a Santíssima Trindade [37]. As virtudes teologais são três:
Fé: por causa dela, o homem acredita e "entrega-se a Deus livremente. Por isso, o crente procura conhecer e fazer a vontade de Deus"
[38]
.
Esperança: por meio dela, os crentes esperam a vida eterna e o Reino de Deus, colocando a sua confiança perseverante nas
promessas de Cristo [39].
Caridade (ou Amor): através dela, "amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos por amor de Deus. Jesus
faz dela o mandamento novo, a plenitude da Lei", sendo por isso «o vínculo da perfeição» (Col 3,14) [40]. O Amor é também visto como
uma "dádiva de si mesmo" e "o oposto de usar" (ver subsecção Amor, Sexualidade e Castidade) [41].
[editar] Pecado
Ver artigo principal: Pecado e Hamartiologia
Um confessionário.
Porém, como o amor de Deus é infinito e como Jesus já se sacrificou na cruz, todos os homems, católicos ou não, podem ser
perdoados por Deus a qualquer momento, desde que eles se arrependam de um modo livre e sincero [49] e se comprometam em fazer os
possíveis para perdoar os seus inimigos [50]. Os católicos que cometem pecados mortais são considerados membros imperfeitos do
Corpo Místico de Cristo, logo é necessário arrependerem-se e serem perdoados para entrarem novamente na comunhão dos santos [51].
Este perdão tão necessário pode ser concedido por Deus sacramentalmente e por meio da Igreja, pela primeira vez, através do
Baptismo e depois, ordinariamente, através da Reconciliação [46].
Mas, Deus também pode conceder este perdão através de muitas maneiras diferentes (ou até mesmo directamente), para todos
aqueles que se arrependeram (incluindo os não-católicos) [52]. Mas, o perdão divino não significa a eliminação das penas temporais, ou
seja, do mal causado como consequência dos pecados cuja culpa já está perdoada. Neste caso, para as eliminar, é necessário obter
indulgências e praticar boas obras durante a vida terrena ou ainda, depois de morrer, uma purificação da alma no Purgatório, com a
finalidade de entrar puro e santo no Céu [53].
[editar] Amor, Sexualidade e Castidade
Ver artigo principal: Amor e Castidade
São José, o pai adoptivo de Jesus, é considerado como um grande modelo de castidade [54] [55].
Em relação à sexualidade, a Igreja Católica convida todos os seus fiéis a viverem na castidade, que é uma "virtude moral e um dom de
Deus" [56] que permite a "integração positiva da sexualidade na pessoa" [56]. Esta integração tem por objectivo tornar possível "a unidade
interior do homem no seu ser corporal e espiritual" [57], supondo por isso de "uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia
da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar por elas e
torna-se infeliz" [58]. "A virtude da castidade gira na órbita da virtude cardinal da temperança" [59].
Logo, "todo o baptizado é chamado à castidade" [60] porque a sexualidade só se "torna pessoal e verdadeiramente humana quando
integrada na relação de pessoa a pessoa, no dom mútuo total e temporalmente ilimitado, do homem e da mulher" [57], ambos unidos pelo
sacramento do Sagrado Matrimónio (que é indissolúvel) [61]. Por isso, os actos sexuais só podem "ter lugar exclusivamente no
Matrimónio; fora dele constituem sempre um pecado grave" [62]. Por estas razões, o sexo pré-marital [63], "o adultério, a masturbação, a
fornicação, a pornografia, a prostituição, o estupro" e os actos sexuais entre homossexuais são condenados pela Igreja como sendo
"expressões do vício da luxúria" [64].
Para a Igreja, o Amor é uma virtude teologal [40], uma "dádiva de si mesmo" e "é o oposto de usar" [41] e de afirmar-se a si mesmo [65].
Aplicado nas relações conjugais humanas, o Amor verdadeiramente vivido e plenamente realizado é uma "comunhão de entrega e
receptividade" [66], de "dádiva mútua do eu e [...] de afirmação mútua da dignidade de cada parceiro". Esta comunhão "do homem e da
mulher" [66] é "um ícone da vida do próprio Deus" [67] e "leva não apenas à satisfação, mas à santidade" [66]. Este tipo de relação conjugal
proposto pela Igreja "exige permanência e compromisso", que só pode ser autenticamente vivido "no seio dos laços do Matrimónio" [68].
Santa Maria Goretti (1890-1902), uma virgem que, tal como os inúmeros santos, viveu rigorosamente e à sua maneira a castidade cristã
[69]
.
Por esta razão, a sexualidade não exerce só a função de procriar, mas também um papel importante na vida íntima conjugal. Usando
as palavras do Catecismo da Igreja Católica, a sexualidade, que "é fonte de alegria e de prazer" [70], "ordena-se para o amor conjugal do
homem e da mulher" [71] e para "a transmissão da vida" [72]. A sexualidade (e o sexo) é também considerada como a grande expressão
"humana e totalmente humanizada" do Amor recíproco, que é assente na "dádiva de si mesmo", "no encontro de duas liberdades em
entrega e receptividade mútuas", onde o homem e a mulher se unem e se complementam [73]. Este verdadeiro e íntegro amor conjugal,
onde a relação sexual é vivida honesta e dignamente, só é possível graças à castidade conjugal [74]. Esta virtude permite uma vivência
conjugal perfeita assente "na fidelidade e na fecundidade" matrimoniais [72].
Para além da castidade conjugal (que não implica a abstinência sexual dos casados), existem ainda diversos regimes de castidade: a
virgindade ou o celibato consagrado (para, como por exemplo, os religiosos, as pessoas consagradas e os clérigos), e "a castidade na
continência" ou abstinência (para os não casados) [75].
[editar] Preservativos e DSTs
Em relação às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), a Igreja defende que a fidelidade no casamento, o amor recíproco, a
castidade e a abstinência são os melhores meios de combatê-las, em detrimento do preservativo. Aliás, segundo a opinião da Igreja, o
uso actual e indiscriminado de preservativos incentiva um estilo de vida sexual imoral, promíscuo, irresponsável e banalizado, onde o
corpo é usado como um fim em si mesmo e o parceiro(a) é reduzido(a) a um simples objecto de prazer. Este tipo de vida sexual é
fortemente condenada pela Igreja [76].
[editar] Homossexualidade
Ver artigo principal: Homossexualidade e catolicismo
Os actos sexuais entre pessoas com tendências homossexuais são considerados moralmente errados porque "violam a iconografia de
diferenciação e complementariedade sexuais [a união homem-mulher], que tornam o amor sexual possível como acto de entrega e
reciprocidade mútuas, e porque são, de natureza, incapazes de gerar vida" [77]. Entretanto, para a Igreja, ter tendências homosexuais
não é considerado um pecado, mas apenas uma "depravação grave" e uma "provação". O pecado está em ceder a essas tendências e
adoptá-las na prática [78]. Na mesma linha de pensamento, a Igreja repudia qualquer reconhecimento legal das uniões entre pessoas do
mesmo sexo [79].
Mas, a Igreja Católica não discrimina os homossexuais e pretende ajudá-los a viver na castidade e "na integridade do amor na entrega
de si mesmos e para evitarem actos sexuais que são, pela natureza, moralmente desordenados, porque são actos de afirmação de si
mesmo e não dádiva de si mesmo" [77]. A Igreja ainda convida os homossexuais a "aproximarem-se, gradual e resolutamente, da
perfeição cristã", através do oferecimento das suas dificuldades e sofrimentos como um sacrifício para Deus, das "virtudes do
autodomínio [...], do apoio duma amizade desinteressada, da oração e da graça sacramental" [78].
[editar] Vida, Planeamento familiar e Contracepção
Papa Paulo VI, autor da encíclica Humanae Vitae (1968), que trata de várias questões sobre a transmissão da vida (ex: a procriação e a
regulação de natalidade) [80].
A Igreja Católica considera a Vida humana como "sagrada" e como uma das maiores dádivas e criações divinas (logo, é um valor
absoluto e inalienável) [81], por isso condena, entre outras práticas, a violência [82], o homicídio, o suicídio, o aborto induzido, a eutanásia
[83]
, a clonagem humana (seja ela reprodutiva ou terapêutica) [84] e as pesquisas ou práticas científicas que usam células-tronco extraídas
do "embrião humano vivo" (o que provocam a morte do embrião) [85]. Para a Igreja, a Vida humana deve ser gerada naturalmente pelo
sexo conjugal [86] e tem início na fecundação (ou "concepção") e o seu fim na morte natural [87] [88]. Segundo esta lógica, a reprodução
medicamente assistida é também considerada imoral porque "dissocia a procriação" do acto sexual conjugal, "instaurando assim um
domínio da técnica sobre a origem e o destino da pessoa humana" [89].
Quanto à regulação dos nascimentos, a Igreja defende-a como uma expressão e "componente da paternidade e maternidade
responsáveis" à construção prudente de famílias, desde que não seja realizada com base no egoísmo ou em "imposições externas" [90].
Mas, esta regulação só pode ser feita através do Planeamento familiar natural, que utiliza métodos de planeamento naturais como a
continência periódica e o recurso aos períodos infecundos [90]. Os outros métodos de contracepção, nomeadamente a pílula, a
esterilização directa e o preservativo, são expressamente condenados [91].
A Igreja ensina inclusivamente que os métodos naturais são formas mais humanistas e responsáveis de viver a responsabilidade
procriadora porque, quando usados correctamente, aumentam e fortalecem a comunicação e o amor entre os cônjuges; promovem o
auto-conhecimento do corpo; nunca tem efeitos colaterais no organismo; e promovem a ideia de que a fertilidade é uma riqueza e
dádiva divina que pode e deve ser utilizada em momento oportuno [92].
[editar] Ver também
Teologia cristã
Teologia moral
Doutrina da Igreja Católica
Igreja Católica
Críticas à Igreja Católica
Doutrina Social da Igreja
Referências
1. ↑ a b c d Doutrina Católica - Teologias e Doutrina Católica - Teologia Moral
2. ↑ Teologia Moral, na "Doutrina Católica"
3. ↑ Catecismo da Igreja Católica (CIC), n. 387
4. ↑ GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo; cap. 5, pág. 86
5. ↑ GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo; cap. 5, pág. 80 e 83
6. ↑ Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC), n. 367 e 368
7. ↑ Verbetes "Moisés" e "Mandamentos da Lei de Deus", da Enciclopédia Católica Popular
8. ↑ I Coríntios 13:13
9. ↑ "São José - Esposo da Virgem Maria", do site Página Oriente
10. ↑ "Teologia das Virtudes Ascéticas: A Castidade" (secção O Modo Mais Perfeito de Viver a Castidade), do site Sociedade Católica
11. ↑ JAMES LIKOUDIS, "Patroness of Purity - St. Maria Goretti, Virgin and Martyr"
12. ↑ CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, "Considerações sobre os projectos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas
homossexuais"; n. 11 (2003)
13. ↑ Verbete "Humanae vitae (HV)", da Enciclopédia Católica Popular
14. ↑ ↑ CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Instrução "Dignitas Personae"; n. 28 a 30 (2008)
15. ↑ ↑ CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Instrução "Dignitas Personae"; n. 16 (2008)
16. ↑ Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 499
17. ↑ GEORGE WEIGEL, A Verdade do Catolicismo; cap. 6, págs. 110-111
A doutrina da Igreja Católica, ou simplesmente a doutrina católica, é o conjunto de todas as "verdades da fé" professadas pela Igreja
Católica. Segundo o Catecismo de São Pio X, a doutrina católica foi ensinada por Jesus Cristo para mostrar aos homens o caminho da
salvação e da vida eterna. As suas partes mais importantes e necessárias são quatro: o Credo, o Pai-Nosso, os Dez Mandamentos e os
sete sacramentos.[1][2]
Esta Igreja cristã acredita que a sua doutrina foi sendo gradualmente revelada por Deus através dos tempos, atingindo a sua plenitude e
perfeição em Jesus Cristo,[3] que é considerado pelos católicos como o Filho de Deus, o Messias e o Salvador do mundo e da
humanidade.[4][5] Mas, a definição e compreensão dessa doutrina é progressiva, necessitando por isso do constante estudo e reflexão da
Teologia, mas sempre fiel à Revelação divina e orientada pela Igreja. [6]
Para os católicos, a sua fé consiste na sua livre entrega e amor a Deus, prestando-Lhe "o obséquio pleno do seu intelecto e da sua
vontade e dando voluntário assentimento à revelação feita por ele".[7] Essa revelação é transmitida pela Igreja sob a forma de Tradição.
[8]
A fé em Deus "opera pela caridade" (Gal 5,6), por isso a vida de santificação de um católico obriga-o, para além de participar nos
sacramentos, a executar a vontade divina,[9], que deve ser feita através, como por exemplo, da prática dos ensinamentos revelados (que
se resumem nos mandamentos de amor ensinados por Jesus), das boas obras e também das regras de vida propostas pela Igreja
fundada e encabeçada por Jesus.[2][10][11][12] Essa entrega a Deus tem por finalidade e esperança últimas a sua própria salvação [13][14] e a
implementação do Reino de Deus. Nesse reino eterno, o mal será inexistente e os homens salvos e justos, após a ressurreição dos
mortos e o fim do mundo, passarão a viver eternamente em Deus, com Deus e junto de Deus.[15]
18 Referências
Deus revela-se a Abraão, o maior patriarca do Antigo Testamento e o "pai dos crentes".[18]
Segundo a fé católica, Deus revelou-se ao homem, através de palavras e acontecimentos, para que o homem possa conhecer o seu
desígnio de benevolência. Esse desígnio "consiste em fazer participar, pela graça do Espírito Santo, todos os homens na vida divina,
como seus filhos adotivos no seu único filho", que é Jesus Cristo.[19] Essa infalível Revelação divina, manifestada ao longo dos séculos
que correpondem ao Antigo Testamento, é plenamente realizada e completada em Jesus Cristo. [3] A partir da ressurreição de Cristo,
não será revelado mais nada aos homens até à Parusia.[6] Mas, "apesar de a Revelação já estar completa, ainda não está plenamente
explicitada. E está reservado à fé cristã apreender gradualmente todo o seu alcance, no decorrer dos séculos."[20]
A partir daí, com a assistência sobrenatural do Espírito Santo, a Revelação imutável (ou o depósito de fé) é transmitida ininterrupta e
integralmente pela Igreja através de uma dupla Tradição (que em latim significa entrega ou ato de confiar) indissociável [21], que pode
ser oral ou escrita (2 Tessalonicenses 2,15; 2 Timóteo 1,13-14; 2,2):
a Tradição oral, ou simplesmente a Tradição, que conserva os ensinamentos de Cristo aos Apóstolos. Por sua vez, eles transmitem
integralmente estes ensinamentos aos seus sucessores (os bispos unidos com o Papa), para que eles possam conservar e difundi-los;
[21][22]
a Tradição escrita, ou a Bíblia, é o produto do registo escrito da Tradição oral pelos quatro evangelistas e outros escritores sagrados,
sempre inspirados pelo Espírito Santo. Para os católicos, a Bíblia é constituída por 73 livros, organizados no Antigo Testamento e no
Novo Testamento.[21]
Além da Revelação imutável, existem ainda as aparições privadas (ex.: as aparições marianas), que não pertencem à Revelação nem
podem contradizê-la. Por isso, os católicos não são obrigados a acreditarem nelas, mesmo que algumas delas foram reconhecidas
como autênticas pela Igreja (ex.: aparições de Fátima). O seu papel é somente ajudar os fiéis a viver melhor a Revelação divina, numa
determinada época da história.[23]
A Tradição, seja ela oral ou escrita, é interpretada e aprofundada progressivamente pelo Magistério da Igreja Católica, que deve ser
obedecido e seguido pelos católicos. Isto porque o Magistério é a função de guardar, interpretar, trasmitir e ensinar a Tradição, que é
própria da autoridade da Igreja, mas mais concretamente do Papa e dos bispos unidos ao Papa. [25] Foi com base na sua interpretação
que a Igreja escolheu os livros pertencentes ao cânon bíblico. Ela acredita que as suas verdades de fé não estão só contidas na Bíblia,
querendo isso dizer que as Tradições oral e escrita "devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência".[26] [21]
A Igreja Católica acredita que, "apesar de a Revelação já estar completa, ainda não está plenamente explicitada. E está reservado à fé
cristã apreender gradualmente todo o seu alcance, no decorrer dos séculos."[20] Por isso, a Igreja admite o desenvolvimento progressivo
da sua doutrina, bem como os costumes e a expressão da fé dos seus fiéis, ao longo dos séculos. Esse desenvolvimento doutrinal, que
se acredita ser orientado pela graça do Espírito Santo, é resultante da interpretação gradual da Revelação divina (ou "crescimento na
inteligência da fé"), que não se pode ser confundida com a matéria da própria Revelação, que é inalterável. Por outras palavras, o
Magistério da Igreja, ao meditar e estudar a Revelação imutável, aperceber-se-ia gradualmente de certas realidades que antes não
tinha compreendido explícita e totalmente.[6][24][27]
O processo do desenvolvimento da doutrina, que tem que ser sempre contínuo e fiel à Tradição, implica a definição gradual de dogmas,
que, uma vez proclamados solenemente, são imutáveis e eternos.[6] Mas, isso "não quer dizer que tais verdades só tardiamente tenham
sido reveladas, mas que se tornaram mais claras e úteis para a Igreja na sua progressão na fé."[28]
Existe uma hierarquia que divide e classifica as várias verdades de fé professadas pela Igreja Católica, já que a sua relação com o
"fundamento da fé cristã" é diferente.[29]
Desse modo, existem os dogmas, que são as verdades infalíveis e imutáveis que constituem a base da doutrina católica. [6] [30] Os
dogmas são definidos e proclamados solenemente pelo Supremo Magistério (Papa ou Concílio Ecumênico com o Papa [31]) como sendo
verdades definitivas, porque eles estão contidos na Revelação divina ou têm com ela uma conexão necessária.[32] Uma vez proclamado
solenemente, nenhum dogma pode ser alterado ou negado, nem mesmo pelo Papa ou por decisão conciliar. [6] Por isso, o católico é
obrigado a aderir, aceitar e acreditar nos dogmas de uma maneira irrevogável.[32]
Além dos dogmas, existem ainda muitas definições doutrinárias que, não estando expressamente definidas na Bíblia ou na Tradição
oral, suscitam ainda dúvidas e não se encontram ainda completamente desenvolvidas. [6] Essas definições, que depois podem se tornar
em dogmas,[6] são divididas em:
verdades de fé, que são objeto de crença por todos os católicos, mesmo que ainda não sejam dogmas e que possam sofrer algum
desenvolvimento doutrinal posterior;[6]
verdades próximas à fé, que faltam pouco para se tornarem em verdades de fé;[6]
hipóteses, que podem ser acreditadas pelos católicos e que permanecem somente como temas de reflexão por parte de teólogos
devidamente credenciados pela Santa Sé.[6]
Além da doutrina oficial ou ortodoxa proposta pela Magistério da Igreja Católica, apareceram várias outras versões teológicas
heterodoxas. Esses desvios do ensino normativo da Igreja podem ser tolerados ou então condenados pela Igreja. Porém, essas
doutrinas não são consideradas heréticas por não porem em causa dogmas ou outras verdades fundamentais.[33][34]
Um dos exemplos mais paradigmáticos de versão teológica heterodoxa é a teologia da libertação, frente à qual a Igreja condenou ao
silêncio alguns dos seus maiores expoentes, como Leonardo Boff. Essa corrente teológica, fortemente influenciada pelo marxismo,[35][36]
foi condenada em 1984 e em 1986 pelo Cardeal Joseph Ratzinger, antigo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e atual Papa
Bento XVI. [37] [38]
A Inquisição refere-se a várias instituições criadas para combater e suprimir a heresia no seio da Igreja Católica. A Inquisição medieval
foi juridicamente instituída em 1231. A instalação desses tribunais eclesiásticos era comum na Europa a pedido dos poderes régios,
nomeadamente em Espanha (1478) e em Portugal (1531/1536), onde ambas dependeram muito do poder civil.[39][40][41]
O condenado era muitas vezes responsabilizado por uma "crise da fé", pestes, terremotos e miséria social, sendo entregue às
autoridades do Estado para que fosse punido. As penas variavam desde o jejum, multas, pequenas penitências, prisão, confisco de
bens, perda de liberdade e tortura até à pena de morte, algumas vezes aplicada na fogueira.[42][40][43]
Nos séculos XV e XVI, influenciados pela Reforma protestante, a Inquisição foi reorganizada: em 1542, o Papa Paulo III instituiu a
Sagrada Congregação da Inquisição Universal.[44] No século XIX, os tribunais da Inquisição foram suprimidos pelos Estados europeus,
mas ainda mantidos pelo Estado Pontifício. Em 1908, sob o Papa Pio X, a instituição foi renomeada Sacra Congregação do Santo
Ofício. Em 1965, por ocasião do Concílio Vaticano II, durante o pontificado de Paulo VI, assumiu o seu nome atual de Congregação
para a Doutrina da Fé.[44][45]
Recentemente, a Igreja Católica reconheceu que a Inquisição "é inconcebível para a atual mentalidade e cometeu, para além da crueza
própria dos costumes de então, verdadeiros abusos e injustiças (como a condenação dos Templários, de Santa Joana de Arc" e de
Galileu Galilei).[39]
[editar] História
O Primeiro Concílio de Niceia (325) formulou o Credo Niceno original, que reconhecia as três Pessoas da Santíssima Trindade (Pai,
Filho e Espírito Santo) e ensinava que Jesus, Filho de Deus, era consubstancial a Deus Pai. Ao definir a divindade de Jesus, esse
concílio condenou o arianismo [46] [47] [48]. Aliás, um dos dogmas centrais do catolicismo, a Santíssima Trindade, já era amplamente
discutido, reflectido e aceite por muitos cristãos antes do Concílio de Niceia: já em 180 d.C., a palavra Trindade era usada por Teófilo de
Antioquia. Mas, antes disso, esta doutrina peculiar já aparecia com grande frequência no âmbito da práxis baptismal (veja-se "Didaquê"
7, 1; e Justino, "Apologia" 1, 61, 13) e eucarística (veja-se Justino, "Apologia" 1, 65-67; e Hipólito, "Tradição Apostólica" 4-13). A fórmula
trinitária (Pai, Filho e Espírito Santo) já aparecia também em várias cartas e escritos cristãos (veja-se Inácio de Antioquia, "Carta aos
Efésios", 9, 1; 18, 2; e na "Primeira Carta de Clemente Romano" 42; 46, 6). No século III, Tertuliano, Orígenes e Gregório Taumaturgo
reflectiram com grande profundidade sobre este dogma católico.[49]
O Primeiro Concílio de Constantinopla (381) definiu a divindade do Espírito Santo, cuja divindade é a mesma do Pai e do Filho. O
concílio também reformulou o Credo Niceno, que passou a constar de mais informações sobre a natureza do Espírito Santo, sobre
Jesus e sobre outros dogmas importantes. Esse concílio condenou o macedonianismo, o apolinarianismo e, mais uma vez, o arianismo.
[50]
Em 431, o Concílio de Éfeso proclamou a Virgem Maria como a Mãe de Deus (em grego: Theotokos), em oposição a Nestório, que
defendia que Maria só devia ser chamada de Mãe de Cristo, porque ela era apenas a mãe da natureza humana de Cristo e não da sua
natureza divina. Nestório defendia que essas duas naturezas eram distintas e separadas, algo que o concílio condenou. Além do
nestorianismo, o concílio condenou ainda o pelagianismo, que entrava em oposição com a doutrina do pecado original e da graça
desenvolvida por Santo Agostinho, no século V.[51] [52]
Santo Agostinho é considerado um dos Padres da Igreja. Esses teólogos, que viveram entre o século II e o século VII, clarificaram e
consolidaram os principais conceitos da fé (ex.: primazia papal, Santíssima Trindade, natureza de Cristo, natureza da Igreja, graça,
cânon bíblico, salvação, pecado, etc.), combateram muitas heresias e, de certa forma, foram responsáveis pela fixação e sistematização
da Tradição católica. Por isso, o pensamento e a reflexão teológica dos Padres da Igreja são ainda hoje uma base fundamental da
construção teológica.[53] [54]
Em 451, o Concílio de Calcedónia definiu que subsistem na pessoa de Jesus Cristo duas naturezas (divina e humana) unidas: "Jesus é
perfeito em divindade e perfeito em humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto de uma alma racional e
de um corpo, consubstancial ao Pai segundo a divindade, consubstancial a nós segundo a humanidade"[55] [56]. Por isso, o concílio
condenou o monofisismo de Eutiques, que defendia que Jesus tinha apenas uma natureza, sendo a natureza humana tão unida à
natureza divina que foi absorvida pela última. Além disso, o concílio condenou também a simonia. [57].
O Terceiro Concílio de Constantinopla (680-681) condenou o monotelismo e reafirmou que Cristo, sendo Deus e homem, tinha as
vontades humana e divina [58]. O Segundo Concílio de Niceia (787) definiu a validade da veneração de imagens santas, condenando
assim a iconoclastia. [59] [60]
São Tomás de Aquino afirmou que a fé e a razão podem ser conciliadas, "porque provêm ambas de Deus", sendo a razão um meio de
entender a fé.[61]
O Quarto Concílio de Latrão (1215) oficializou uma antiga tradição em que cada católico tinha que receber, pelo menos uma vez por
ano, na Páscoa, a confissão e a Eucaristia (ver os cinco mandamentos ou preceitos da Igreja Católica). Esse concílio defendeu também
o celibato clerical, a doutrina da transubstanciação e condenou ainda os albigenses [58] [62] [63].
No século XIII, São Tomás de Aquino, doutor da Igreja e autor da Suma Teológica, adaptou a filosofia de Aristóteles ao pensamento
cristão da época. Ele é considerado o mais alto representante da escolástica, que é um sistema, movimento e método que procurou
reafirmar que a fé supera mas não contradiz a razão. Aliando sempre a filosofia e a teologia, os debates e reflexões escolásticos
baseavam-se na leitura das Sagradas Escrituras e dos escritos dos Padres da Igreja e de vários filósofos. [64] [65] [66]
O Concílio de Constança (1414-1418) condenou as heresias de John Wycliffe e de Jan Hus, que eram dois famosos precursores da
Reforma Protestante [58]. O Quinto Concílio de Latrão (1512-1517) definiu a imortalidade da alma [67].
O Primeiro Concílio de Latrão (1123) e o Segundo Concílio de Latrão (1139) condenaram e invalidaram o concubinato e os casamentos
de clérigos, impondo assim o celibato clerical.[68] [69] Mas, é preciso salientar que o celibato obrigatório já foi decretado pelo Concílio de
Elvira (295-302), mas, como era apenas um concílio regional espanhol, as suas decisões não foram cumpridas por toda a Igreja [70]. O
Primeiro Concílio de Niceia (323) decretou apenas que "todos os membros do clero estavam proibidos de morar com qualquer mulher,
com exceção da mãe, irmã ou tia" (III cânon) [48]. Apesar disso, no final do século IV, a Igreja Latina promulgou várias leis a favor do
celibato, que foram geralmente bem aceitas no Ocidente, no pontificado de São Leão Magno (440-461) [70]. Aliás, o Concílio de
Calcedónia (451) proibiu o casamento de monges e virgens consagradas (XVI cânon) [57].
Porém, apesar disso, houve vários avanços e recuos na aplicação dessa prática eclesiástica, chegando até mesmo a haver alguns
Papas casados, como por exemplo o Papa Adriano II (867-872) [71]. No século XI, vários Papas, especialmente Leão IX (1049-1054) e
Gregório VII (1073-1085), esforçaram-se novamente por aplicar com maior rigor as leis do celibato, devido à crescente degradação
moral do clero. [70] Segundo fontes históricas, durante o Concílio de Constança (1414-1418), 700 prostitutas atenderam sexualmente os
participantes. [72][73][74].
O celibato clerical voltou a ser defendido pelo Quarto Concílio de Latrão (1215) e pelo Concílio de Trento (1545-1563). [70] Atualmente,
as leis do celibato aplicam-se somente aos sacerdotes da Igreja Latina (do Ocidente), ficando de fora as Igrejas orientais católicas e os
ordinariatos pessoais para anglicanos, que admitem padres casados [75] [76] [77].
O Concílio de Trento (1545 - 1563) lutou contra a Reforma Protestante,[47] que foi, a par do Cisma do Oriente, uma das maiores cisões
que a Igreja Católica jamais enfrentou.[78][79]
No século XVI, devido à Reforma Protestante, o Concílio de Trento (1545-1563) foi convocado para reformar a disciplina eclesiástica e
consolidar as principais verdades de fé católicas. Esse concílio reafirmou, clarificou e definiu a presença real de Cristo na Eucaristia, a
doutrina dos sete sacramentos (sendo cada um deles amplamente debatido e definido pelo concílio), a doutrina da graça e do pecado
original, a justificação, o valor e a importância da missa, o celibato clerical, a hierarquia católica, a Tradição, o cânon bíblico (reafirmou
como autêntica a Vulgata), a liturgia (a missa tridentina), o culto dos santos, das relíquias e das imagens, as indulgências e a natureza
da Igreja. O concílio promoveu também a publicação do Index Librorum Prohibitorum. O Concílio de Trento foi o concílio ecuménico que
durou mais tempo, emitiu o maior número de decretos dogmáticos e reformas e produziu os resultados mais duradouros sobre a fé e a
disciplina da Igreja. [58] [80] [81]
Ao longo dos séculos XVII e XVIII, os jesuítas e os jansenistas confrontaram-se com polémicas acerca do papel da graça, da liberdade
humana e da participação do homem na sua própria salvação. Por fim, os jansenistas foram condenados pelo Magistério da Igreja
Católica [82][83]. Em 1854, o Papa Pio IX proclamou como dogma a Imaculada Conceição de Maria [84]. O Concílio Vaticano I (1869-1870)
proclamou ainda como dogma a Infalibilidade Papal.[85] Em 1891, o Papa Leão XIII publicou a encíclica Rerum Novarum, marcando
assim o início da sistematização da Doutrina Social da Igreja [86]. Nos finais do século XIX e inícios do século XX, apareceu a heresia do
modernismo, que foi duramente condenada pelo Papa São Pio X.[87]
Em 1950, o Papa Pio XII proclamou como dogma a Assunção de Maria ao Céu, em corpo e alma [88]. Entre 1962 e 1965, o Concílio
Vaticano II, idealizado pelo Papa João XXIII, impulsionou o aggiornamento (atualização) da Igreja, tratando por isso de vários temas
distintos, tais como a reforma da liturgia, a constituição e pastoral da Igreja (que passou a ser alicerçada na igual dignidade de todos os
fiéis), a relação entre a Revelação divina e a Tradição, a defesa da liberdade religiosa, o empenho ao ecumenismo e a defesa do
apostolado dos leigos. Esse concílio não proclamou nenhum dogma, mas as suas orientações doutrinais e pastorais são de extrema
importância para a ação da Igreja no mundo moderno.[89][90][91] Em 1968, o Papa Paulo VI publicou a encíclica Humanae Vitae, que
tratava de vários assuntos relacionados com o valor da vida, a procriação e a contracepção. [92]
O Magistério da Igreja Católica defende atualmente que boa parte da Tradição, nomeadamente da Bíblia e mais especificamente o livro
de Gênesis, deve ser interpretada como alegoria e de acordo com os costumes e com os conhecimentos científicos da época. Nesse
caso, essas alegorias seriam portadoras de verdade teológica, mas que não possuiriam necessariamente verdade histórica ou
científica.[93] Logo, as interpretações literais são oficialmente abandonadas, muito embora ainda permaneçam certos setores mais
conservadores e fundamentalistas que não o aceitam por inteiro. Esse modo alegórico de interpretar a Bíblia não é algo surgido apenas
nos tempos atuais. Por exemplo, já no século V, Santo Agostinho afirmava que a Bíblia deveria ser interpretada de modo a harmonizá-la
com os conhecimentos científicos disponíveis em cada época.[94][95]
Aliás, a Igreja Católica, defendendo o pensamento de Santo Agostinho e de São Tomás de Aquino, afirma que, "embora a fé supere a
razão, não poderá nunca existir contradição entre a fé e a ciência porque ambas têm origem em Deus."[64] Logo, a partir do século XX, a
Igreja foi lentamente aceitando várias descobertas científicas modernas. Por exemplo, acabou por aceitar oficialmente as teorias do Big
Bang e da evolução (com a constante intervenção divina), defendendo que são compatíveis com a crença da criação divina do mundo,
desde que essas teorias sejam ainda cientificamente válidas. Além disso, não considera o criacionismo e o design inteligente como
teorias científicas ou teológicas.[96]
A Igreja Católica e a ciência continuam a discordarem-se em questões relacionadas, como por exemplo: na infalibilidade e na
autenticidade da Tradição revelada; na negação da existência de Deus e da alma (e da sua imortalidade); nos momentos exatos do
princípio e do fim da vida humana; e nas implicações éticas da clonagem, da contracepção ou fertilização artificiais, da manipulação
genética e do uso de células-tronco embrionárias na investigação científica.[97][98]
Talvez o caso mais paradigmático do conflito entre a ciência e a Igreja Católica seja Galileu Galilei, mas historiadores e cientistas
modernos [nota 1] vêem o caso como algo mais complexo do que apenas um confronto entre ciência e religião. [106] [107] Em 1616, Galileu foi
julgado pela Inquisição romana, que declarou o heliocentrismo como herético e "teologicamente errado". Nunca abandonando as suas
ideias, ele foi por isso sentenciado a prisão domiciliária, em 1633, e foi proibido de ensinar que o heliocentrismo era verdadeiro (só
podia ensiná-lo como uma hipótese).[107]
Com o tempo, porém, a Igreja Católica reviu a sua posição quanto ao heliocentrismo, acabando por aceitá-lo. Em 1758, a Igreja Católica
retirou as obras heliocêntricas do Index Librorum Prohibitorum. [108] Em 1979, o Papa João Paulo II lamentou os sofrimentos de Galileu
causados por católicos e organismos eclesiásticos e defendeu, mais uma vez, que as duas verdades, de fé e de ciência, não podem
nunca contradizer-se, acabando por citar também uma afirmação do próprio Galileu: "procedendo igualmente do verbo divino, a
escritura santa e a natureza, a primeira como ditada pelo Espírito Santo, a segunda como executora fidelíssima das ordens de Deus."
[109]
No ano 2000, o Papa João Paulo II emitiu finalmente um pedido formal de desculpas por todos os erros cometidos por alguns
católicos nos últimos 2.000 anos de história da Igreja Católica, incluindo o julgamento de Galileu Galilei pela Inquisição.[110][111]
Iluminura medieval com a representação clássica da Santíssima Trindade, sendo o homem mais velho o Pai, o mais novo (com uma
cruz) o Filho e a pomba o Espírito Santo.
Ver artigo principal: Deus no cristianismo e Santíssima Trindade
A Igreja Católica, como parte do Cristianismo, acredita no monoteísmo, que é a crença na existência de um único Deus.[112] Para os
católicos, Deus é o criador de todas as coisas e consegue intervir na História, sendo alguns dos seus atributos divinos mais importantes
a onipotência, a onipresença e onisciência.[113] Além desses atributos, Deus também é fortemente referido no Novo Testamento como
sendo a própria Verdade e o próprio Amor: Deus ama, perdoa e quer salvar todas as pessoas e estas podem estabelecer uma relação
pessoal e filial com ele através da oração.[114]
Mas os católicos acreditam também na Santíssima Trindade, isto é, que Deus é um ser uno mas simultaneamente trino, constituído por
três pessoas indivisíveis: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que estabelecem entre si uma comunhão perfeita de amor. Para a Igreja,
esse dogma central não viola o monoteísmo. [115] Essas três pessoas eternas, apesar de possuirem a mesma natureza, "são realmente
distintas, pelas relações que as referenciam umas às outras: o Pai gera o Filho, o Filho é gerado pelo Pai, o Espírito Santo procede do
Pai e do Filho; porém todos sempre existiram, não existindo assim uma hierarquia" entre os três.[116]
Este fresco retrata a criação de Adão (lado esquerdo) por Deus (lado direito).
Deus Pai, a primeira pessoa da Trindade, é considerado o pai perfeito porque ele amou e nunca abandonou os homens, [117] os seus
filhos adotivos, querendo sempre salvá-los e perdoando-os infinitamente, desde que eles se arrependam de um modo sincero. [118] Ele
não foi criado nem gerado e é considerado "o princípio e o fim, princípio sem princípio" da vida, estando por isso mais associado à
criação do mundo. Mas isso não quer dizer que as outras duas pessoas da S.S. Trindade não participassem também nesse importante
ato divino.[119] O Credo Niceno-Constantinopolitano faz referência a Deus Pai:
Para além dos seres materiais, a criação é constituída também por anjos [121], que são seres pessoais puramente espirituais, invisíveis,
incorpóreos, imortais e inteligentes. Eles servem e obedecem à vontade de Deus. Segundo São Basílio Magno, "cada fiel tem ao seu
lado um anjo como protetor e pastor, para o conduzir à vida", sendo esses protetores chamados de anjos da guarda.[122]
Segundo a doutrina católica, o Génesis, ao narrar que o mundo foi criado em seis dias por Deus, quer acima de tudo revelar à
humanidade o valor dos seres criados e a sua finalidade de louvor e serviço a Deus, dando particular destaque ao valor do homem, [123]
que é o vértice da criação visível. [124] Logo, a Igreja Católica, corroborando com a ideia de Santo Agostinho, admite a possibilidade de o
mundo não ser criado literalmente em apenas seis dias.[94]
No princípio do mundo, ocorreu a queda dos anjos, que foi uma rebelião de um grupo de anjos, liderado por Satanás (ou Lúcifer). Eles,
sendo criados bons por Deus, transformaram-se em demónios, porque recusaram livremente Deus e o seu reino, originando assim o
Inferno. Eles, o símbolo do mal, procuram associar o homem à sua rebelião, mas os católicos acreditam que Deus afirmou em Cristo a
sua vitória absoluta sobre o Mal, que se irá realizar plenamente no fim dos tempos, quando o mal acabará por desaparecer.[125]
A Igreja ensina que o mal "é uma certa falta, limitação ou distorção do bem" [126] e é ainda a causa do sofrimento humano, que está
intimamente relacionado com a liberdade humana.[127] Os católicos professam que a existência do mal é um grande mistério, mas eles
têm a certeza de que Deus, sendo bom e onipotente, não pode nunca ser a causa e origem do mal. Eles têm fé de que Deus "não
permitiria o mal se do próprio mal não extraísse o bem." O exemplo mais marcante disso seria a morte e ressurreição de Jesus, que,
sendo o maior mal moral, trouxe a salvação para a humanidade.[128]
O homem foi o único criado à imagem e semelhança de Deus [124] e, por isso, não é um objecto, mas sim uma pessoa com dignidade
humana e "capaz de se conhecer a si mesmo, de se dar livremente e de entrar em comunhão com Deus e com as outras pessoas",
sendo por isso chamado à santidade e à felicidade.[129] Segundo o Gênesis, que pode ser interpretado como uma alegoria, todo o
gênero humano é descendente de Adão e Eva. Ambos possuem uma igual dignidade e, ao mesmo tempo, vivem numa
"complementaridade recíproca enquanto masculino e feminino". Logo, são chamados a formarem um matrimónio indissolúvel de "uma
só carne" (Gn 2, 24), a transmitirem a vida humana e a administrar a Terra, daí a grande responsabilidade do homem no plano de Deus.
[130]
Na perspectiva católica, o homem possui um corpo mortal mas uma alma imortal, que é criada diretamente por Deus. Por isso, depois
da morte, a alma voltará a unir-se ao corpo, mas somente no momento da ressurreição final.[131] Segundo o projeto inicial de Deus, os
homens não sofrem nem morrem.[132] Mas, Adão e Eva, como eram livres e por isso sucumbiram à tentação do Diabo, comeram o fruto
proibido, desobedecendo assim a Deus e querendo tornar-se "como Deus, sem Deus e não segundo Deus" (Gn 3, 5). Assim, eles
perderam a sua santidade original e cometeram o seu primeiro pecado, dando origem ao pecado original (veja a subsecção Pecado).[133]
Além disso, eles espalharam esse pecado a todos os homens, que são seus descendentes, fazendo com que todos passassem a
morrer, a cometerem muitos pecados, a sofrerem e a serem ignorantes. [134] Mas, os católicos acreditam que Deus não abandonou o
homem ao poder da morte e, por isso, pré-anunciou misteriosamente que o mal seria vencido. Isto constituiu o primeiro anúncio da
vinda de Jesus, que, entre outras coisas, instituiu o batismo para a remissão (mas não a eliminação) do pecado original e de outros
pecados.[135]
Jesus é muitas vezes caracterizado como o Bom Pastor, que cuida das suas ovelhas até ao ponto de expor a sua vida por elas.[136]
Jesus Cristo é a figura central do Cristianismo, porque, por vontade de Deus Pai,[137] ele encarnou-se (veio à Terra) para anunciar a
salvação e as bem-aventuranças à humanidade inteira, "ou seja: para reconciliar a nós pecadores com Deus; para nos fazer conhecer o
seu amor infinito; para ser o nosso modelo de santidade; para nos tornar participantes da natureza divina (2 Ped 1, 4);"[138] e para
anunciar o Reino de Deus.[139] Santo Atanásio, um famoso Padre e Doutor da Igreja, afirmou que Jesus, "o Filho de Deus, se fez homem
para nos fazer Deus", ou seja, para nos tornarmos santos como Deus.[140]
Jesus (do hebraico, Yeshua), que significa "Deus salva",[141] é o Messias ou o Cristo. Mais especificamente, ele é consagrado por Deus
Pai e ungido pelo Espírito Santo para a sua missão salvífica: ele, "descido do céu" (Jo 3,13), foi crucificado e depois ressuscitado, e é o
servo sofredor que "dá a sua vida em resgate pela multidão" (Mt 20,28).[5] O Credo Niceno-Constantinopolitano faz referência a Jesus
Cristo:
Jesus, recém-nascido num estábulo, é adorado pelos pastores, que eram pessoas pobres e humildes.
A cristologia católica ensina que Jesus Cristo, Nosso Senhor, [142] é a encarnação do Verbo divino,[143] verdadeiro Deus e verdadeiro
homem, Salvador e Bom Pastor da Humanidade.[4] Ele é também o "Filho Unigénito de Deus" (1 Jo 2, 23), a segunda pessoa da
Santíssima Trindade, porque, no momento do Batismo e da Transfiguração, a voz do Pai designa Jesus como seu Filho predilecto.
Aliás, Jesus apresenta-se a si mesmo como o Filho que "conhece o Pai" (Mt 11,27).[144] Por isso, ele é o único e verdadeiro Sumo
Sacerdote [145] e mediador entre os homens e Deus Pai, [146] chegando a afirmar que "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém
vai ao Pai senão por mim" (Jo 14, 6).[147]
Jesus, sendo Deus, rebaixou-se da sua condição divina para ser um homem, tendo aprendido, tal como as outras pessoas, muitas
coisas através da experiência e da sua inteligência humana, apesar de conhecer íntima e plenamente os desígnios eternos de Deus e
logo a sua infinita sabedoria.[148] Segundo a mariologia católica, Jesus foi concebido virginalmente no seio de Maria pelo poder do
Espírito Santo.[149] Ele nasceu em Belém, na Palestina, no tempo de Herodes, o Grande e do imperador romano Otávio César Augusto.
[150]
Jesus procede de Deus Pai e é eternamente consubstancial a ele. Não foi criado pelo Pai, mas gerado porque encarnou-se, assumindo
assim a sua natureza humana.[151] Jesus é considerado o filho perfeito porque subordinou a sua vontade humana à vontade divina do
Pai, que consiste na salvação de toda a humanidade.[152] Por isso, é-lhe atribuída a redenção (ou salvação) do mundo.[141]
No famoso Sermão da Montanha, Jesus (re)anuncia as Bem-Aventuranças, o Pai-Nosso, o Reino de Deus e a regra de ouro.[153]
A crucificação e morte de Jesus faz parte da vontade de Deus Pai de salvar os homens, através do supremo sacrifício redentor de
Jesus.[154][155]
Durante o seu ministério, é dito que Jesus fez vários milagres, como andar sobre a água, transformar água em vinho, várias curas,
exorcismos e ressuscitação de mortos (como Lázaro).[156] Ele esteve em vários lugares de Israel, nomeadamente na Galiléia, na
Samaria, na Judéia e sobretudo em Jerusalém, logo antes de sua crucificação.[157]
Nas suas muitas pregações, Jesus ensinou, entre outras coisas, o Pai Nosso,[158] as bem-aventuranças [159] e insistiu sempre que o
Reino de Deus estava próximo [160] e em que Deus estava preparando a Terra para um novo estado de coisas. Anunciou também que
quem quisesse fazer parte do Reino de Deus teria de nascer de novo, de se arrepender dos seus pecados, de se converter e purificar.
Jesus ensinava também que o amor, o poder e a graça de Deus eram muito superiores ao pecado e a todas as forças do mal, insistindo
por isso em que o arrependimento sincero dos pecados e a fé em Deus podem salvar os homens.[161]
Ele também mandou os seus discípulos a "amar a Deus de todo seu coração, de toda sua alma e de todo seu espírito" (Mateus 22:37) e
"amar o seu próximo como a si mesmo" (Mateus 22:39). Para Jesus, esses dois mandamentos constituem o resumo de "toda a Lei e os
Profetas" do Antigo Testamento (Mateus 22:40).[162] Ele deu inclusivamente aos homens um novo e radical mandamento de Amor:
"amai-vos uns aos outros, como Eu vos amo" (João 15:10).
Jesus alertou aos seus discípulos que "só quem aceita os meus mandamentos e lhes obedece, esse é que me ama. E quem me ama
será amado por meu Pai. Eu o amarei e manifestar-me-ei a ele. […] Nós viremos a ele e nele faremos a nossa morada" (João 14:21-
23). Sobre esse aspecto, a Igreja acredita também que quem ama a Deus permanecerá no amor. E "quem permanecer no amor
permanecerá em Deus e Deus nele", porque "Deus é amor" (1 João 4:16).
Durante o Antigo Testamento, Deus, através de profetas, já anunciava a vinda do Messias, para que a humanidade, nomeadamente o
povo escolhido de Israel (ou povo judaico), pudesse reconhecê-lo quando ele viesse. A Igreja ensina que Jesus, sendo o Messias,
cumpriu todas as profecias do Antigo Testamento acerca dessa vinda salvífica, nomeadamente as do profeta Isaías.[163][164][165]
Logo, Jesus não veio para superar, substituir ou abolir os ensinamentos do Antigo Testamento, "mas sim para levá-los à perfeição" (Mt
5,17). Isso quer dizer que ele deu o sentido último e pleno às verdades reveladas por Deus ao longo do Antigo Testamento. [3] Isso
significa também que Jesus, que trouxe simultaneamente continuidade e inovação, renovou também a aliança entre Deus e os homens,
instaurando assim o Novo Testamento (ou a Nova Aliança).[166]
Para os católicos, Jesus amou tanto os homens que entregou-se incondicional e totalmente para eles, chegando ao ponto de sacrificar
voluntariamente a sua própria vida na cruz para livrar-los do pecado [154] e abrir-lhes na plenitude o caminho da salvação e da santidade
(temas tratados na seção Salvação e Santidade). [155] Foi também Jesus que, ao cumprir a vontade de Deus Pai, [137] derrotou o pecado e
o mal,[142] através da sua morte redentora na cruz. E, para derrotar a própria morte, ele ressuscitou ao terceiro dia, [168] após a sua
crucificação em Jerusalém.[150] Esse fato dá aos católicos esperança de que Jesus já garantiu aos homens "a graça da adoção filial que
é a participação real na sua vida divina" e também esperança de que, no dia do Juízo Final, todos os homens serão ressuscitados por
Deus.[167]
Pentecostes, onde o Espírito Santo desceu sobre os doze apóstolos e a Virgem Maria.[169]
Após a sua ressurreição, Jesus continuou na Terra durante quarenta dias, junto dos apóstolos, passando-lhes ainda ensinamentos e
confirmando que eles e a Igreja em geral receberiam o Espírito Santo, algo que aconteceu no Pentecostes. Após esse período de
quarenta dias, Jesus foi elevado ao céu,[170] mas continua atualmente "a permanecer misteriosamente sobre a terra, onde o seu Reino já
está presente como germe e início na Igreja" fundada e encabeçada por ele.[171] Ele está também presente no sacramento da Eucaristia
[172]
. No dia do Juízo Final, que coincide com a realização final do seu novo Reino, Jesus voltará em glória, mas a data precisa deste
acontecimento ninguém sabe.[171]
O Espírito Santo procede do Pai e do Filho e, apesar de invisível, personaliza o amor íntimo e infinito de Deus sobre os homens.
Manifestou-se primeiramente no batismo de Jesus e plenamente revelado no dia de Pentecostes, cinquenta dias após a ressurreição de
Cristo.[169] Ele foi comunicado e enviado aos corações dos fiéis, por meio dos sacramentos, para eles receberem a vida nova de filhos de
Deus[173] e estarem intimamente unidos com Jesus num só Corpo Místico. O Espírito Santo, que é o mestre da oração [174], foi enviado
por Jesus para guiar, edificar, animar e santificar a Igreja e para que ela sempre testemunhe e interprete bem a Revelação divina.[175]
Em relação à Virgem Maria, o Espírito Santo encheu-a de graça e concebeu Jesus Cristo no seio dessa mulher virgem, por isso o
Espírito faz dela a Mãe de Cristo e, como Cristo é o próprio Deus encarnado, também a Mãe de Deus.[176] Ele inspirou também os
profetas do Antigo Testamento para falarem em nome de Deus, sendo essas profecias plenamente realizadas em Cristo, que revelou a
existência do Espírito Santo, a pessoa divina que o ungiu e o consagrou Messias.[177] Resumindo, atribuiu-se ao Espírito Santo, a
terceira pessoa da Trindade, a santificação da Igreja e do mundo com a graça divina e os seus dons. O Credo Niceno-
Constantinopolitano faz referência ao Espírito Santo:
A oração, ou simplesmente o acto de falar com Deus, é uma graça de Deus que permite o estabelecimento de uma relação pessoal,
amorosa e filial dos homens com Deus, que vem ao encontro dos homens e habita nos seus corações. [178] Na oração, o crente eleva a
alma a Deus para o louvar e/ou pede a Deus bens conformes à sua vontade. [179] A Igreja Católica acredita que "a fé e a oração são
forças que podem influir na história" e que podem mudar assim o destino da humanidade. [180]
Uns dos pré-requisitos da oração é acreditar num Deus pessoal e na possibilidade de contatar diretamente com ele, sendo por isso a
expressão mais espontânea da nossa procura incessante de Deus, que simultaneamente nos atrai e nos chama. [179] [181] Logo, a oração
é "o encontro da sede de Deus com a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede d'Ele."[182]
Jesus a rezar no Monte das Oliveiras, pedindo ajuda e força a Deus Pai, mesmo antes de ser traído por Judas Iscariotes.
No Antigo Testamento, a oração já estava presente, como por exemplo, nos vários episódios importantes de personagens bíblicos
(nomeadamente de Abraão, Moisés, David, Isaías, etc.) e do próprio povo de Deus, sendo os Salmos um exemplo da sua expressão. Já
no Novo Testamento, Jesus, apesar de estar em íntima comunhão com Deus Pai, é considerado o perfeito modelo e mestre de oração,
rezando muito ao Pai, principalmente nos momentos mais importantes da sua vida, desde o seu batismo no Jordão à morte no Calvário.
[179]
Jesus, para além de ensinar o Pai-Nosso, ensinou também aos seus discípulos a rezar com devoção e persistência,[179] transmitindo-
lhes as disposições necessárias para uma verdadeira oração.[183] Jesus garantiu-lhes também que seriam ouvidos sempre que rezas-
sem bem,[179] porque a oração humana "está unida à de Jesus mediante a fé. N’Ele, a oração cristã torna-se comunhão de amor com o
Pai". Aliás, é o prórpio Jesus que manda rezar: "Pedi e recebereis, assim a vossa alegria será completa" (Jo 16,24).[184]
O Espírito Santo é o "mestre interior da oração cristã", porque faz com que a Igreja reze muito e entre em contemplação e união com o
insondável mistério de Cristo.[185] Por isso, a oração é indispensável ao progresso espiritual da Igreja e de cada católico. [186] Logo, pouco
a pouco, a liturgia foi-se desenvolvendo e tornou-se na oração oficial da Igreja, com particular destaque para a Liturgia das Horas e a
missa. Por sua vez, a lituriga centra-se na Eucaristia, que é um sacramento que exprime todas as formas de oração [187] Além da liturgia,
desenvolveu-se também a piedade popular, praticada em comunidade ou individualmente.[179]
Apesar de toda a oração ter como destino final a Santíssima Trindade, isso não impede os crentes de prestarem devoção e de rezarem
a Nossa Senhora, aos anjos e aos santos como intercessores junto de Deus.[179] Aliás, a Igreja gosta de orar à Virgem Maria, porque ela
é considerada a orante perfeita e a melhor indicadora do caminho para o seu filho Jesus, o único mediador entre os homens e Deus.
Orações como a Avé Maria e o Rosário são exemplos disso.[188]
A oração, que pressupõe sempre uma resposta decidida da parte de quem reza, é também considerada um combate contra si mesmo,
contra o ambiente e contra Satanás. [186] Ele tenta a todo o custo retirar o crente da oração, através da distração, da preguiça, das
dificuldades e dos insucessos aparentes.[189]
No Sermão da Montanha, Jesus ensinou o Pai-Nosso [158], que é considerada "a síntese de todo o Evangelho" (Tertuliano) e "a oração
perfeitíssima" (São Tomás de Aquino).[190] No Pai-Nosso, os católicos pedem as sete petições a Deus Pai, que são a santificação do
nome de Deus, a vinda do Reino de Deus, a realização da vontade divina, o alimento quotidiano, o perdão divino dos pecados e a
possibilidade de livrarem-se das tentações e do Maligno.[191] Os católicos acreditam que essas sete petições serão plenamente
realizadas na Parusia. [192]
Para além destas petições, o Pai-Nosso, que faz parte da liturgia [192], revela também à humanidade a sua relação especial e filial com
Deus Pai. A partir de então, os homens podem invocar a Deus como Pai, "porque ele nos foi revelado por seu filho feito homem e
porque o seu Espírito no-lo faz conhecer. […] Ao rezarmos a oração do Senhor, estamos conscientes e absolutamente confiantes de
sermos filhos de Deus" [193] e de sermos amados e atendidos por Deus Pai.[194]
A Igreja é uma assembleia constituída pelo povo de Deus, que são todos aqueles que, pela fé e pelo Batismo, se tornaram em filhos de
Deus, membros de Cristo e templos do Espírito Santo.[197] Os católicos acreditam que a única Igreja fundada e encabeçada por Jesus
Cristo,[10] "como sociedade constituída e organizada no mundo, subsiste (subsistit in) na Igreja Católica, governada pelo sucessor de
Pedro e pelos bispos em comunhão com ele."[198] Segundo a Tradição católica, a Igreja está alicerçada sobre o Apóstolo Pedro, a quem
Cristo prometeu o primado, ao afirmar que "sobre esta pedra edificarei a minha Igreja" e que "dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus"
(Mateus 16:17-20).[195]
A Igreja de Cristo é a detentora na plenitude dos sete sacramentos e dos outros meios necessários para a salvação, dados por Jesus à
Igreja. Tudo isso para reunir, santificar, purificar e salvar toda a humanidade e para antecipar a realização do Reino de Deus, cuja
semente é necessariamente a Igreja [199]. Por essa razão, a Igreja, guiada e protegida pelo Espírito Santo, insiste na sua missão de
anunciar o Evangelho a todo o mundo, sendo aliás ordenada pelo próprio Cristo: "Ide e ensinai todas as nações, batizando-as no nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28,19).[200] A Igreja, mediante os sacramentos do batismo e da reconciliação, tem também a
missão e o poder de perdoar os pecados.[201]
No Credo Niceno-Constantinopolitano, é atribuída à Igreja as propriedades de una, santa, católica e apostólica.[202] Além disso, ela é
também chamada de Esposa de Cristo,[203] Templo do Espírito Santo [204] e Corpo de Cristo. Esse último nome assenta na crença de que
a Igreja não é apenas uma simples instituição, mas sim um corpo místico constituído por Jesus, que é a cabeça, e pelos fiéis, que são
os membros desse corpo inquebrável, através da fé e do sacramento do batismo. Esse nome é assente também na crença de que os
fiéis são unidos intimamente a Cristo, por meio do Espírito Santo, sobretudo através do sacramento da Eucaristia. [205][206]
A Igreja Católica é regida pelo Código de Direito Canónico e constituída por 23 Igrejas particulares autónomas sui juris (a Igreja Latina e
as 22 Igrejas orientais católicas), que, por sua vez, são constituídas por uma ou mais circunscrições eclesiásticas. [207][208]
A Igreja Católica é formada pelo clero e por leigos, podendo esses dois grupos terem também como membros as pessoas consagradas,
que normalmente agrupam-se em ordens religiosas ou em institutos seculares.[209] A Igreja dispõe de uma hierarquia ascendente,
baseado nos três graus do Sacramento da Ordem (o Episcopado, o Presbiterado e o Diaconado) [210], que vai desde o simples diácono
até chegar ao cargo supremo de Papa, que é o chefe e pastor da Igreja. Considerado o Vigário de Cristo na Terra e o "perpétuo e
visível princípio e fundamento da unidade da Igreja" [196], o Papa é eleito pelo Colégio dos Cardeais.[211] A Igreja defende que todos os
seus bispos (que são coadjuvados pelos presbíteros e diáconos), devido ao sacramento da Ordem, são os sucessores dos Doze
Apóstolos, sendo o Papa o sucessor direto do Apóstolo Pedro. Daí a autoridade e primazia de que o Papa goza.[196]
A Igreja Católica acredita que os seus ministros sagrados são ícones de Cristo,[212] logo todos eles são homens, porque os doze
Apóstolos são todos homens e Jesus, na sua forma humana, também é homem. [213] Mas isso não quer dizer que o papel da mulher na
Igreja seja menos importante, mas apenas diferente. [214] Excetuando em casos referentes aos diáconos e a padres ordenados pelas
Igrejas orientais católicas e pelos ordinariatos pessoais para anglicanos, todo o clero católico é obrigado a observar e cumprir o celibato.
[75][76][77]
Nas Igrejas orientais, o celibato é apenas obrigatório para os bispos, que são escolhidos de entre os sacerdotes celibatários.[215]
Procissão de Nosso Senhor dos Passos: uma das inúmeras expressões de piedade popular.
Na Igreja Católica, para além do culto de adoração a Deus (latria), existe também o culto de veneração aos santos (dulia) e à Virgem
Maria (hiperdulia). Esses dois cultos, sendo a latria mais importante, são ambos expressos através da liturgia, que é o culto oficial da
Igreja, e também através da piedade popular, que é o culto privado dos fiéis [216][217]
Dentro da piedade popular, destacam-se indubitavelmente as devoções e as orações quotidianas; enquanto que na liturgia destacam-se
a missa (de frequência obrigatória aos domingos e festas de guarda) e a Liturgia das Horas. A Igreja permite também a veneração de
imagens e de relíquias sagradas. Apesar de a piedade popular ser de certo modo facultativa, ela é muito importante para o crescimento
espiritual dos católicos.[216][217]
[editar] Liturgia
Jesus, como Cabeça, celebra a liturgia com os membros do seu Corpo, ou seja, com a sua "Igreja celeste e terrestre", constituída por
santos e pecadores, por habitantes da Terra e do Céu. Cada membro da Igreja terrestre participa e actua na liturgia "segundo a sua
própria função, na unidade do Espírito Santo: os baptizados oferecem-se em sacrifício espiritual […]; os Bispos e os presbíteros agem
na pessoa de Cristo Cabeça", representando-O no altar. Daí que só os clérigos (exceptuando os diáconos) é que podem celebrar e
conduzir a Missa, nomeadamente a consagração da hóstia.[221]
Toda a liturgia centra-se no domingo e na Páscoa anual.[222] Apesar de celebrar o único Mistério de Cristo, a Igreja Católica possui
muitas tradições litúrgicas diferentes, devido ao seu encontro com os vários povos e culturas. Isso constitui uma das razões pela
existência das 23 Igrejas sui juris que compõem a Igreja Católica, todas elas com uma tradição teológica, litúrgica, histórica e cultural
diferentes entre si.[223]
[editar] Sacramentos
A Igreja Católica acredita que os sete sacramentos foram instituídos por Jesus Cristo e confiados à Igreja, durante o seu ministério,
como sinais sensíveis e eficazes mediante os quais é concedida a vida e a graça divinas a todos aqueles que os recebem.[225] A
administração dos sacramentos é independente da santidade pessoal do ministro, embora os frutos dos sacramentos dependam das
disposições de quem os recebe. Sobre os sacramentos, São Leão Magno diz: "o que era visível no nosso Salvador passou para os seus
sacramentos".[226]
Ao celebrá-los, a Igreja Católica alimenta, exprime e fortifica a sua fé, sendo por isso os sacramentos uma parte integrante e inalienável
da vida de cada católico e fundamentais para a sua salvação. Isso porque eles conferem aos crentes a graça divina, os dons do Espírito
Santo, o perdão dos pecados, a conformação a Cristo e a pertença à Igreja, que os torna capazes de viverem como filhos de Deus em
Cristo. Daí a grande importância dos sacramentos na liturgia católica.[227]
Os sete sacramentos marcam as várias fases importantes de vida cristã, sendo estes divididos em três categorias:
os sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Confirmação e Eucaristia), que "lançam os alicerces da vida cristã: os fiéis, renascidos pelo
Batismo, são fortalecidos pela Confirmação e alimentados pela Eucaristia";[228]
os sacramentos da cura (Reconciliação e Unção dos Enfermos), que possibilitam à Igreja a cura e o fortalecimento da nova vida dada
por Jesus através dos sacramentos da iniciação cristã, visto que ela pode ser enfraquecida e até perdida por causa do pecado;[229]
sacramentos ao serviço da comunhão e da missão (Ordem e Matrimónio), que contribuem para a edificação do povo de Deus, para a
comunhão eclesial e para a salvação dos outros.[230]
São Tomás de Aquino afirmou que "todos os sacramentos estão ordenados para a Eucaristia como para o seu fim". Na Eucaristia,
renova-se o mistério pascal de Cristo, atualizando e renovando assim a salvação da humanidade. [231] Também na Eucaristia, onde
Cristo está presencialmente nela, a ação santificadora de Deus em favor dos homens e o culto humano para com Ele atingem o seu
auge.[232]
Segundo a soteriologia católica, a salvação, que é oferecida por Deus, realiza-se, após a morte, no Céu. Essa salvação, que conduzirá
o homem à santidade, à suprema felicidade e à vida eterna, deve ser obtida através da fé em Jesus Cristo e da pertença à Igreja
fundada e encabeçada por ele.[234]
O caminho de santificação do cristão começou no momento do seu batismo, quando ele recebeu a graça santificante, e deve progredir
com a ajuda dos meios de salvação dispostos pela Igreja. Essa progressão, que busca também a perfeição, deve ser sempre motivada
pela esperança da salvação e animada pela caridade. A caridade cristã traduz-se na realização dos ensinamentos cristãos (que se
resumem nos mandamentos de amor) e na prática das boas obras, que exprimem a fé em Cristo e eliminam as penas temporais
causadas pelo pecado. Essa postura e ação do católico e da Igreja contribuiria também para a construção de um mundo melhor e para
a aceleração da realização do Reino de Deus na Terra.[234]
Os católicos acreditam que esse caminho espiritual irá acabar na ressurreição final. No novo Reino de Deus, cada santo ou salvo
gozará eternamente, em íntima união com a Santíssima Trindade, a vida eterna, "a visão de Deus, face a face", e a plenitude da
felicidade e da santidade.[14] [234] Por essa razão, todos são chamados "à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade", que é
justamente a definição de santidade.[235]
Devido ao pecado e à queda do homem, todos os homens têm que morrer. Porém, Deus quis reconciliar-se com os homens e salvá-los,
enviando por isso o seu Filho para que Ele morresse pelos pecadores [237]. Logo, a partir disso, todos os pecados dos homens, no
passado e no futuro, serão perdoados por Deus, desde que os homens se arrependam de um modo livre e sincero.[118]
Por outras palavras, a salvação deve-se à justificação, que é a iniciativa e a ação misericordiosa e gratuita de Deus de conceder a
salvação à humanidade. Essa ação sobrenatural cancela os pecados, por meio da graça santificante do Espírito Santo, que foi merecida
pela paixão de Cristo e dada no batismo aos homens. Para além da graça santificante, que justifica e diviniza os homens, existem ainda
as graças atuais, as graças sacramentais e as graças especiais (ou carismas).[238]
A graça é um dom sobrenatural ou socorro gratuito que Deus concede aos homens, para que eles sejam capazes de agir por amor
d’Ele, para conceder-lhes todos os bens (espirituais ou materiais) necessários à sua existência e também para tornar-lhes filhos de
Deus e participantes da natureza divina e da vida eterna.[239] Aliás, a própria preparação do homem para acolher livremente a graça já é
obra da graça, sendo esta necessária para suscitar e manter a colaboração dos fiéis na justificação pela fé e na santificação pela
caridade. [240]
Na dinâmica da justificação, a liberdade é fundamental porque a resposta do homem à graça divina deve ser livre, pois "a alma só pode
entrar livremente na comunhão do amor".[241] Isso explica o fato de a santidade não ser atingida por todos, apesar da vontade de Deus
de salvar toda a humanidade. Há sempre pessoas que vão para o Inferno, simplesmente porque recusaram livremente o
arrependimento e a graça da salvação, mesmo até no momento da morte. Mas a liberdade, que foi concedida por Deus, permite
também à humanidade participar livremente na construção do Reino de Deus, como filhos de Deus e co-herdeiros de Cristo. Esta
participação só foi possível graças ao sacrifício redentor de Cristo. [242]
Esta participação, para além da fé, assenta-se também na prática quotidiana das boas obras, cujo mérito ou direito à recompensa deve
ser atribuído à graça de Deus e depois à vontade livre do homem. O homem, que juridicamente não tem nenhum mérito porque recebeu
tudo gratuitamente de Deus, pode merecer, por concessão e caridade de Deus, [243] as graças úteis para alcançar a vida eterna, bem
como os bens temporais que Deus acha ser necessários. Mas ninguém pode ter o mérito da graça santificante.[244]
Na encíclica Redemptoris Missio, o Papa João Paulo II afirmou que "a salvação em Cristo […] deve ser posta concretamente à
disposição de todos."[245]
A Igreja Católica acredita que é o instrumento da redenção de todos os homens e o sacramento universal da salvação.[246] Por isso, a
Igreja Católica ensina que fora da Igreja não há salvação. Esse ensinamento remonta aos primeiros séculos do Cristianismo, sendo já
refletido por vários Padres da Igreja, como Santo Agostinho e São Cipriano.[247]. O Papa Pio IX (1846-1878) salientou também que:
Fora da Igreja Apostólica Romana ninguém pode salvar-se.[…] Entretanto, também é preciso ter por certo que aqueles que
sofrem de ignorância da verdadeira religião, se aquela é invencível, não são eles ante os olhos do Senhor réus por isso de culpa
[248]
Essa ignorância invencível, que muitos não-católicos sofrem, pode ser causada pela precariedade dos meios de comunicação, pela
ineficiência da evangelização e por ambientes de restrição e de barreiras contextuais, intelectuais, psicológicas, culturais, sociais e
religiosas, muitas vezes insuperáveis.[249] Isso significa que todos os não-católicos (mesmo os não-cristãos) também podem ser salvos,
desde que, sem culpa própria, ignoram a Revelação divina e a Igreja, mas que "procuram sinceramente Deus e, sob o influxo da graça,
se esforçam por cumprir a sua vontade".[250] Em relação aos bebés e crianças mortas sem batismo, a Igreja tem esperança de que eles
possasm ser salvos,[251] por isso, na sua liturgia, confia-as à infinita bondade de Deus.[252]
A Igreja ensina também que os cristãos não-católicos são irmãos e são, apesar de um modo imperfeito, membros inseparáveis do
Corpo Místico de Cristo, através do batismo.[253] Ou seja, eles são considerados como elementos da única Igreja de Cristo, [254] que
subsiste (subsistit in) na Igreja Católica.[198] Por isso, essas comunidades cristãs dispõem de muitos, mas não da totalidade, dos
elementos de santificação e de verdade necessários à salvação,[253] sendo essa posição católica uma das bases do ecumenismo atual.
Mas, a Igreja Católica afirma que só ela é que contém e administra a totalidade e a plenitude dos meios de salvação.[255] [249]
A posição ecumênica de tolerância e respeito por outras religiões não significa que a Igreja Católica reconhece que todas as religiões
são válidas e iguais e que os homens estão consequentemente livres para sair da Igreja. [249] [247] Para concluir, a afirmação fora da Igreja
não há salvação significa que "toda a salvação vem de Cristo-Cabeça por meio da Igreja, que é o seu Corpo", independentemente de a
pessoa salva ser católica ou não.[234][250] [256]
[editar] Sofrimento
São Francisco de Assis (1182 - 1226), tal como muitos santos, era praticante de inúmeros sacrifícios. Ele experimentou até a pobreza
radical e a dor dos estigmas.[257][258]
Segundo a perspectiva católica, o sofrimento, que é uma consequência do mal [127] e que está associado à morte e às limitações
humanas, nunca foi desejado por Deus. Mas, contra a vontade divina, o sofrimento passou a ser uma realidade intrínseca ao homem,
por consequência do pecado original e, posteriormente, de todos os pecados cometidos pelos homens. [259] [260] Isso significa que o
sofrimento está enredado à liberdade humana e ao conflito entre o bem e o mal no mundo.[127]
Mas, por causa do sacrifício redentor de Cristo, o sofrimento passou a ter um "sentido verdadeiramente sobrenatural e […] humano, […]
porque se radica no mistério divino da redenção do mundo e […] porque nele o homem se aceita a si mesmo, com a sua própria
humanidade, com a própria dignidade e a própria missão."[261] Logo, o sofrimento passou a estar presente no mundo para desencadear
o amor e para possibilitar a conversão e a reconstrução do bem.[262]
Por essas razões, o sofrimento, quer voluntário (ex.: a mortificação), quer involuntário, passou a ser, sob a forma de sacrifício, uma
peça fundamental na salvação da humanidade, mediante a participação pessoal e união dos sacrifícios individuais ao supremo
Sofrimento de Cristo. E essa participação implica a aceitação amorosa e resignada dos sofrimentos mandados por Deus na vida
terrena. Aliás, São Paulo também afirmava que vai "completando na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo, a favor do seu
corpo, que é a Igreja" (Col 1,24).[259][260] Além disso, o sofrimento serve também para Deus provar a fé, a perseverança e a confiança do
homem n'Ele, bem como para tornar o homem mais forte e mais maduro (como no caso de Jó).[126]
A comunhão dos santos pode significar a participação de todos os membros da Igreja nas coisas santas: a fé, os sacramentos, os
carismas e os outros dons espirituais.[263] Por outro lado, e mais vulgarmente, significa a união viva de todos os cristãos em estado de
graça (ou seja, que não estão manchados por pecados mortais e, portanto, são considerados santos em sentido lato), que estão em
três estádios espirituais diferentes:[264][265]
Igreja militante, formada pelos habitantes da Terra que não têm nenhum pecado mortal cuja culpa ainda não foi perdoada;[264][265]
Igreja padecente, constituída pelas almas que ainda padecem no Purgatório [264] e que, por isso, necessitam das orações de sufrágio
(nomeadamente a missa), das boas obras, dos sacrifícios, das indulgências e das obras de penitência praticadas pelos membros da
Igreja militante. [266] Todas estas ações aceleram a purificação e posterior entrada no Céu destas almas padecentes [265];
Igreja triunfante, composta pelos habitantes do Céu (desconhecidos/anónimos ou reconhecidos pela Igreja), que alcançaram a eterna e
definitiva santidade e que, portanto, são os intercessores dos homens junto de Deus.[264][265]
Além desses santos que se encontram nestes três estádios espirituais, a Igreja Católica é também constituída por pessoas que têm
pecados mortais, que são consideradas como membros imperfeitos e só entram novamente na comunhão dos santos (se
considerarmos a segunda definição) se arrependerem dos seus pecados e confessarem. [265] Vulgarmente, e em sentido mais restrito,
um santo é considerado somente como uma pessoa canonizada ou beatificada (ou seja, reconhecida) pela Igreja por se distinguir pela
sua santidade. Por isso, a Igreja reconhece-a como um habitante do Céu e um modelo exemplar de imitação. Além disso, um santo é
ainda digno de culto, mas, apenas de veneração (a dulia), que é diferente do culto de adoração a Deus.[233]
De acordo com a mariologia católica, Deus escolheu gratuitamente Maria como a mãe de seu Filho: para cumprir tal missão, foi
preservada do pecado original e de todos os pecados.[267] O arcanjo Gabriel anunciou à Virgem Maria que Deus faria com que ela
concebesse Jesus do Espírito Santo, ou seja, em virgindade e sem participação de homem algum. [149] Logo, o Espírito Santo faz dela a
Mãe de Cristo e, como Cristo é o próprio Deus encarnado, também a Mãe de Deus.[176][268] Maria aceitou obedientemente essa missão
divina tão necessária à salvação, tornando-se assim na corredentora dos homens. Casou-se com São José, que assumiu a paternidade
terrena de Jesus, mas, mesmo assim, ela conseguiu conservar a sua virgindade por toda a vida.[269]
Devido ao fato de ter concebido Jesus, que é o único Redentor dos homens e a Cabeça da Igreja, ela torna-se também na Mãe da
Igreja e de todos os homens que Jesus veio salvar. Ela "coopera com amor de mãe no nascimento e na formação na ordem da graça"
de qualquer ser humano.[270] Após a sua assunção ao céu, ela, como Rainha do Céu, continua a interceder pelos seus filhos e a ser um
modelo de santidade para todos. Os católicos "vêem nela uma imagem e uma antecipação da ressurreição que os espera", sendo por
isso o ícone escatológico da Igreja (ou a realização mais perfeita da Igreja).[271]
O culto de veneração a Maria (chamado de hiperdulia) é diferente do culto de adoração a Deus. O culto mariano é expresso nas festas
litúrgicas dedicadas a ela, nas peregrinações aos locais onde Maria apareceu, nas inúmeras devoções (ex.: Escapulário de Nossa
Senhora do Carmo) e orações marianas (ex.: Santo Rosário).[272] Uma das principais causas da devoção popular e do culto a Maria tem
a ver com a crença dos católicos na poderosa intercessão de Maria junto de Deus, o destinatário último de todas as orações e pedidos
dos homens.[273][274]
[editar] A mulher
Existe na Bíblia vários versículos onde a figura da mulher é de inferioridade em relação ao homem:
Então descobri que a mulher é mais amarga do que a morte, porque ela é uma armadilha, o seu coração é uma rede e os seus
braços são cadeias.[275]
Foi pela mulher que começou o pecado, e é por culpa dela que todos morremos.
É melhor a maldade do homem do que a bondade da mulher: a mulher cobre de vergonha e chega a expor ao insulto.
O homem não deve cobrir a cabeça, porque ele é a imagem e o reflexo de Deus, a mulher, no entanto, é o reflexo do homem.
Porque o homem não foi tirado da mulher, mas a mulher do homem. Nem o homem foi criado para a mulher, mas a mulher para
[278]
Durante a instrução, a mulher deve ficar em silêncio, com toda a submissão. Eu não permito que a mulher ensine ou domine o
homem. Portanto, que ela conserve o silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E não foi Adão que foi seduzido,
mas a mulher que, seduzida, pecou.[279]
Mas, também existem vários outros onde a mulher assume um papel importante, especial, central e digna (Gênesis 2:20-24, Provérbios
19:14, Provérbios 12:4, Provérbios 31:10, I Pedro 3:7, Efésios 5:25-31, Gálatas 4:4-7, Êxodo 20:12 e Mateus 28:1-10).
A Igreja Católica apenas admite homens como clérigos, e justifica-o porque os doze Apóstolos foram todos homens e Jesus, na sua
forma humana, também é homem.[213] Mas, apesar disso, a Igreja considera actualmente que a mulher e o homem são iguais em
dignidade, porque foram ambos criados à imagem e semelhança de Deus [124], porém são diferentes entre si e, por isso, eles devem
viver numa "complementaridade recíproca enquanto masculino e feminino".[130] Em 1988, o Papa João Paulo II escreveu a carta
"Mulieris Dignitatem", onde ele enalteceu o papel da mulher (incluindo o da Virgem Maria), pediu desculpas às acções machistas
cometidas por membros da Igreja ao longo da história, agradeceu as mulheres por tudo aquilo que elas fizeram ao mundo e apelou à
defesa da dignidade da mulher. [280][214]
Basicamente, o juízo particular é o julgamento de retribuição imediata que cada homem, após a sua morte, recebe de Deus, tendo em
conta a sua fé e as suas obras realizadas durante o seu caminho de santificação terrestre (veja a seção Salvação e Santidade).[283] Após
essa epifania particular, a alma será destinada a estar:
no Paraíso (ou Céu), que é o estado de salvação definitiva e de felicidade suprema, reservado somente às pessoas que, devido à
aceitação de Deus (e do seu amor) e ao seu arrependimento, morreram em estado de graça, isto é, sem manchas de qualquer pecado.
Esses santos formam assim a Igreja triunfante, onde "vêem Deus face a face" (1 Cor 13,12), vivem em comunhão de amor com a
Santíssima Trindade e intercedem pelos habitantes da Terra;[284]
no Purgatório, que é o estado daqueles que, sendo amigos de Deus e já salvos, precisam ainda de purificação para entrarem puros no
Céu. Essa purificação temporária, que os fiéis ainda peregrinos na Terra podem ajudar a acelerar (veja a subseção Comunhão dos
santos), consiste na eliminação das penas temporais dos pecados cujas culpas já estavam perdoadas;[285]
no Inferno, que consiste na condenação eterna daqueles que decidiram livremente viver separados de Deus. Mais concretamente, eles
recusaram Deus, o seu amor e a sua graça salvífica, escolhendo voluntariamente persistir no pecado mortal, mesmo até no momento
da morte.[286] Essas decisões são respeitadas por Deus, porque ele criou o homem como um ser livre e responsável, apesar de ele
querer "que todos tenham modo de se arrepender" (2Ped 3,9).[287]
Essa doutrina escatológica, que trata sobre o destino individual das almas, está sintetizada nos chamados novíssimos, que são quatro:
morte, juízo, inferno e paraíso. O purgatório não entra porque é só um estado espiritual transitório e temporário.[288]
Ver artigo principal: Juízo Final, Parusia, Ressurreição, Escatologia e Reino de Deus
Juízo Final.
Acerca do destino coletivo do homem no fim do mundo, a Igreja ensina que ocorrerá um Juízo final mesmo antes ao fim do mundo, mas
nem ela sabe exactamente qual é a data para tal acontecimento. [282] Mesmo antes disso, Jesus Cristo, que também ressuscitou dos
mortos e vive para sempre, ressuscitará toda a humanidade, dando, mais concretamente, uma nova vida, mas desta vez imortal, para
todos os corpos que pereceram. Nesse momento, todas as almas, quer estejam no Céu, no Purgatório ou no Inferno, regressarão
definitivamente aos seus novos corpos.[289]
Assim sendo, toda a humanidade reunir-se-á diante de Deus, mais concretamente de Jesus, que irá regressar triunfalmente à terra
como juiz dos vivos e dos mortos. Ele confirmará os inúmeros juízos particulares e permitirá consequentemente que o corpo
ressuscitado possa "participar na retribuição que a alma teve no juízo particular". Esta retribuição consiste na vida eterna (para os que
estão no Céu ou no Purgatório) ou na condenação eterna (para os que estão no Inferno). [290]
Depois do juízo final, dá-se finalmente o fim do mundo. O antigo mundo, que foi criado no início por Deus, é libertado da escravidão do
pecado e transformado nos "novos céus e na nova terra" (2 Ped 3,13). Nesse novo estado de coisas, é também alcançada a plenitude
do Reino de Deus, ou seja, a realização definitiva do desígnio salvífico de Deus de "recapitular em Cristo todas as coisas, as do céu e
as da terra" (Ef 1,10). Nesse misterioso reino, onde o mal é inexistente, os santos (ou salvos) gozarão a sua vida eterna e Deus será
"tudo em todos" (1 Cor 15,28), formando assim uma grande família e comunhão de amor e de felicidade. Os condenados viverão para
sempre no Inferno e afastados do Reino de Deus.[15]
Os católicos acreditam que a Revelação divina apresenta as regras para um bom relacionamento dos homens entre si e para com
Deus.[291] Essa ética e moral centra-se no desafio da dádiva de si mesmo aos outros e a Deus. [292] Portanto, essas regras devem ser
praticadas no quotidiano, para libertar o homem da escravidão do pecado,[291] que é um autêntico abuso da liberdade.[293] Isso porque, na
visão católica, o homem só é livre se conseguir ser melhor e ser atraído para o bem e para o belo.[294] A Igreja ensina que a bondade e
as bem-aventuranças definem o contexto para a conduta moral cristã, que é indispensável para o caminho da salvação, iniciada pela
graça santificante do batismo, que justifica.[295][291]
Segundo a Igreja, a transgressão de uma regra moral implica a escolha do mal e por isso o cometimento de pecados, embora a
intenção, as consequências e as circunstâncias pudessem anular ou atenuar a responsabilidade de quem age. Mas isso não pode
nunca alterar a qualidade moral dos próprios atos, visto que "o fim não justifica os meios".[296]
Ver artigo principal: Dignidade e Direitos humanos, Liberdade, Livre-arbítrio e Consciência (moral)
A doutrina católica acredita que o homem possui dignidade, que está radicada na sua criação à imagem e semelhança de Deus, o que
implica necessariamente que o homem possui liberdade e consciência moral. A liberdade é uma capacidade inalienável do homem, [297]
dada por Deus, de escolher entre o bem e o mal. Esse poder único, que "atinge a perfeição quando é ordenada para Deus", torna o
homem responsável pelos seus atos deliberados, devido à sua consciência moral. Logo, "a escolha do mal é um abuso da liberdade,
que conduz à escravatura do pecado." [298]
Quando escuta correctamente a consciência moral, qualquer pessoa percebe a qualidade moral dum ato, permitindo-lhe assumir a
responsabilidade, e consegue ouvir a voz de Deus,[299] que o ordena a praticar o bem e a evitar o mal.[300] O homem, como possui
dignidade, não deve ser por isso impedido ou obrigado a agir contra a sua consciência, [300] se bem que ela também pode produzir juízos
errados. Logo, é preciso educá-la e retificá-la, para que ela possa estar cada vez mais em sintonia com a vontade divina, com a razão e
com a Lei de Deus (nomeadamente a regra de ouro e os mandamentos de amor).[301]
Os católicos acreditam que a Lei moral ou Lei de Deus, sendo uma obra divina, prescreve-lhes a conduta que os levam à salvação e
felicidade eterna, proibindo-os os caminhos que os desviam de Deus e do seu amor.[302] Essa lei é constituída pela Lei natural, que está
escrita por Deus no coração de cada ser humano; [303] pela Antiga Lei, revelada no Antigo Testamento; e pela Nova Lei, revelada no
Novo Testamento por Jesus.
A Lei natural "manifesta o sentido moral originário" que permite ao homem diferenciar, pela razão e pela sua consciência, o bem e o
mal. Como todos os homens (fiéis ou infiéis) a percebam, ela é de cumprimento universal e obrigatório, [303] mas ela nem sempre é
totalmente compreendida, devido ao pecado. Por isso, Santo Agostinho afirma que Deus "escreveu nas tábuas da Lei o que os homens
não conseguiam ler nos seus corações", dando assim origem à Antiga Lei, que é a primeira etapa da Revelação divina e que está
resumida nos Dez Mandamentos.[304]
A Antiga Lei, sendo ainda imperfeita, prepara e predispõe à conversão e ao acolhimento do Evangelho [305] e da Nova Lei, que é a
"perfeição e cumprimento" (mas não a substituição) da Lei natural e da Antiga Lei.[306] Essa Nova Lei encontra-se em toda a vida e
pregação de Cristo e dos Apóstolos, sendo o Sermão da Montanha a sua principal expressão.[307] Essa lei já perfeita e plenamente
revelada resume-se no mandamento do amor a Deus e ao próximo, que é considerada por São Tomás de Aquino como "a própria graça
do Espírito Santo, dada aos crentes em Cristo."[306]
Moisés, grande profeta do Antigo Testamento, traz os Dez Mandamentos ao Povo de Deus.[308]
Como os Dez Mandamentos (ou Decálogo) são a síntese de toda a Lei de Deus e a base mínima e fundamental da moral católica, a
Igreja exige aos seus fiéis o cumprimento obrigatório dessas regras. Quem não seguisse estas regras, cometia pecado. [309] Aliás,
segundo as próprias palavras de Jesus, é necessário observá-los "para entrar na vida eterna" (Mt 19,16-21), além de ser necessário
para os fiéis mostrarem o seu agradecimento e pertença a Deus. [310] Esses mandamentos, que ditam os deveres fundamentais do
homem para com Deus e com o seu próximo, dão a conhecer também a vontade divina e, ao todo, são dez:[309]
Esses mandamentos podem ser resumidos em apenas dois, que são: amar a Deus sobre todas as coisas; e amar ao próximo como a
nós mesmos.[311]
[editar] Virtude
A virtude, que se opõe ao pecado, é uma qualidade moral que dispõe uma pessoa a fazer o bem, sendo "o fim de uma vida virtuosa
tornar-se semelhante a Deus".[312] Segundo a Igreja Católica, existe uma grande variedade de virtudes que derivam da razão e da fé
humanas. Estas, que se chamam virtudes humanas, regulam as paixões e a conduta moral humanas,[313] sendo as mais importantes as
virtudes cardinais, que são quatro: a Prudência, a Justiça, a Fortaleza e a Temperança.[314]
Mas, para que as virtudes humanas se atinjam na sua plenitude, elas têm que ser vivificadas e animadas pelas virtudes teologais, que
"têm como origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus". Elas são infundidas no homem com a graça santificante e tornam os
homens capazes de viver em relação com a Santíssima Trindade.[315] As virtudes teologais são três: a Fé, a Esperança e a Caridade (ou
Amor).[316] Sobre as virtudes, São Paulo disse que a maior de todas elas é o amor (ou caridade).[317]
[editar] Pecado
Segundo Santo Agostinho, o pecado é "uma palavra, um ato ou um desejo contrários à Lei eterna", causando por isso ofensa a Deus e
ao seu amor.[318] Logo, esse ato do mal é um abuso da liberdade [293] e fere a natureza humana. Os católicos acreditam que Cristo, com a
sua morte, revelou plenamente a gravidade do pecado e venceu-o com a seu amor. [318] Há uma grande variedade de pecados, que
podem ser diretamente contra Deus, contra o próximo e contra a si mesmo. Ainda se pode distinguir entre pecados por palavras, por
pensamentos, por omissões e por ações.[319]
A repetição de pecados gera vícios, que obscurecem a consciência e inclinam ao mal. Os vícios relacionam-se com os sete pecados
capitais: soberba, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça.[320] A Igreja ensina também que todos aqueles que cooperam
culpavelmente nos pecados dos outros, são também responsabilizados por tal.[321] Quanto à sua gravidade, os pecados cometidos
podem ser divididos em:
pecados mortais, que são cometidos quando "há matéria grave, são cometidos com plena consciência e deliberado consentimento".
Eles afastam o homem da caridade e da graça santificante e, se o pecador não se arrepender sinceramente, conduzem-no à morte
eterna do Inferno;[322]
pecados veniais, que são cometidos sem pleno consentimento ou sem plena consciência ou ainda quando se trata de matéria leve.
Eles, apesar de afetarem o caminho de santificação, merecem apenas penas purificatórias temporais, nomeadamente no Purgatório.[323]
Todos esses pecados pessoais devem-se ao enfraquecimento da natureza humana, que passou a ficar submetida e inclinada à
ignorância, ao sofrimento, à morte e ao pecado. Isso é causado pelo pecado original, transmitido a todos os homens, sem culpa própria,
devido à sua unidade de origem, que é Adão e Eva. Eles desobedeceram a Deus no início do mundo, originando esse pecado, que
pode ser atualmente perdoado (mas não eliminado) pelo batismo.[134]
Porém, como o amor de Deus é infinito e como Jesus já se sacrificou na cruz, todos os homens, católicos ou não, podem ser perdoados
por Deus a qualquer momento, desde que se arrependam de um modo livre e sincero[118] e se comprometam em fazer o possível para
perdoar aos seus inimigos.[324] Esse perdão tão necessário pode ser concedido por Deus sacramentalmente e por meio da Igreja, pela
primeira vez, através do batismo e depois, ordinariamente, através da reconciliação.[322]
Mas Deus também pode conceder esse perdão através de muitas maneiras diferentes (ou até mesmo diretamente) para todos aqueles
que se arrependeram (incluindo os não-católicos).[325] Mas o perdão divino não significa a eliminação das penas temporais, ou seja, do
mal causado como consequência dos pecados cuja culpa já está perdoada. Nesse caso, para as eliminar, é necessário obter
indulgências e praticar boas obras durante a vida terrena ou ainda, depois de morrer, uma purificação da alma no Purgatório, com a
finalidade de entrar puro e santo no Paraíso [326]
[editar] O comércio de indulgências pela Igreja
A partir do século III, as indulgências, que deviam ser e são hoje obtidas gratuitamente, mediante a prática de certos atos de piedade,
começaram por serem concedidas ou vendidas pela Igreja Católica. [327] Ao longo do tempo, a venda das indulgências tornou-se bastante
lucrativo, porque elas garantem a remissão total ou parcial, perante Deus, da pena temporal causada e suportada por um pecado já
perdoado.[326]
O abuso desse comércio provocou Martinho Lutero a escrever as suas 95 Teses e a iniciar a Reforma Protestante. Em 1563, na última
sessão do Concílio de Trento, a venda de indulgências foi abolida definitivamente para não permitir mais excessos e abusos.[328]
São José, o pai adotivo de Jesus, é considerado como um grande modelo de castidade.[329]
Em relação à sexualidade, a Igreja Católica convida todos os seus fiéis a viverem na castidade, que é um dom divino e uma virtude
moral que permite a integração positiva da sexualidade na pessoa. [330] Essa integração exige "uma aprendizagem do domínio de si, que
é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa
dominar por elas e torna-se infeliz." A virtude da castidade relaciona-se com a virtude cardinal da temperança.[331]
Logo, todos os católicos são chamados à castidade [332], porque a sexualidade só se "torna pessoal e verdadeiramente humana quando
integrada na relação de pessoa a pessoa, no dom mútuo total e temporalmente ilimitado, do homem e da mulher",[333] ambos unidos
pelo sacramento do matrimónio (que é indissolúvel).[334] Por isso, os atos sexuais fora do matrimónio constituem sempre um pecado
grave.[335] Por essas razões, o sexo pré-marital, a pedofilia, o adultério, a masturbação, a fornicação, a pornografia, a prostituição, o
estupro e os atos sexuais entre homossexuais são condenados pela Igreja como sendo expressões do vício da luxúria.[336]
Para a Igreja, o amor é uma virtude teologal[316] e o oposto de usar. [337] Aplicado nas relações conjugais humanas, o amor
verdadeiramente vivido e plenamente realizado é uma comunhão de dádiva mútua de si mesmo, "de afirmação mútua da dignidade de
cada parceiro" e um "encontro de duas liberdades em entrega e receptividade mútuas". [338] Essa comunhão conjugal do homem e da
mulher é um ícone da vida da Santíssima Trindade e leva não apenas à satisfação, mas à santidade.[339] Esse tipo de relação conjugal
proposto pela Igreja exige permanência e compromisso matrimoniais.[340]
Santa Maria Goretti (1890-1902), uma virgem que, tal como os inúmeros santos, viveu rigorosamente e à sua maneira a castidade
cristã.[341]
Por essa razão, a sexualidade é uma fonte de alegria e de prazer e ordena-se para o amor conjugal [342] e para a procriação.[343] A
sexualidade (e o sexo) é também considerada como a grande expressão do amor recíproco, onde o homem e a mulher se unem e se
complementam.[338]
O verdadeiro amor conjugal, onde a relação sexual é vivida dignamente, só é possível graças à castidade conjugal. [340] Essa virtude
permite uma vivência conjugal perfeita assente na fidelidade e na fecundidade matrimoniais.[343] Para além da castidade conjugal (que
não implica a abstinência sexual dos casados), existem ainda diversos regimes de castidade: a virgindade ou o celibato consagrado
(para os religiosos, as pessoas consagradas, os clérigos etc.) e a castidade na abstinência (para os não-casados).[344]
[editar] O divórcio
Na atualidade, a Igreja não aceita o divórcio, embora este seja aceite no Antigo Testamento:
se um homem, tendo escolhido uma mulher, casar-se com ela, e vier a odiá-la por descobrir nela qualquer coisa inconveniente,
escreverá uma letra de divórcio, lha entregará na mão e a despedirá de sua casa.[345]
Porém, no Novo Testamento, Jesus, que segundo a Igreja veio completar e dar o sentido definitivo às revelações divinas do Antigo
Testamento, afirmou que:
permitiu escrever carta de divórcio e despedir a mulher, [..] foi devido à dureza do vosso coração que ele vos deu essa
lei; mas, no princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher; e
os dois não serão senão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus
A Igreja afirma que, baseando-se nos ensinamentos de Cristo, o sacramento do matrimónio entre um homem e uma mulher livres é
indissolúvel.[334] Porém, em casos onde não houve um consentimento matrimonial claro e livre de qualquer violência ou de qualquer
"grave temor externo", o matrimónio pode ser declarado nulo e inexistente por autoridades eclesiásticas competentes.[347]
Em relação às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), a Igreja defende que a fidelidade no casamento, o amor recíproco, a
castidade e a abstinência são os melhores meios de combatê-las, em detrimento do preservativo. Aliás, segundo a opinião da Igreja, o
uso atual e indiscriminado de preservativos incentiva um estilo de vida sexual imoral, promíscuo, irresponsável e banalizado, onde o
corpo é usado como um fim em si mesmo e o parceiro(a) é reduzido(a) a um simples objeto de prazer. Esse tipo de vida sexual é
fortemente condenado pela Igreja.[348]
O Papa Bento XVI reafirmou, durante a sua visita aos Camarões e à Angola (17 de Março a 23 de Março de 2009), que a distribuição de
preservativos não ajuda a controlar o problema da SIDA, mas, pelo contário, contribuiria para "piorar a situação". Tais declarações
desencadearam uma tempestade de críticas e condenações por parte de governos e das ONGs. O director executivo do Fundo Mundial
de Luta contra a SIDA, a tuberculose e o paludismo, Michael Kazatchine, pediu a Bento XVI que retirasse as suas declarações
"inaceitáveis". [349]
[editar] Homossexualidade
Os atos sexuais entre pessoas homossexuais são considerados moralmente errados porque violam a "iconografia de diferenciação e
complementariedade sexuais" entre o homem e a mulher e porque são incapazes de gerar vida. [350] Entretanto, para a Igreja, ter
tendências homossexuais não é considerado um pecado nem um castigo, mas apenas uma provação. O pecado está em ceder a essas
tendências e adotá-las na prática.[351] A Igreja repudia também qualquer reconhecimento legal das uniões entre pessoas do mesmo
sexo.[352]
Mas a Igreja Católica não discrimina os homossexuais e pretende ajudá-los a viver na castidade, para que eles evitem os atos sexuais,
que são moralmente desordenados, "porque são atos de afirmação de si mesmo e não dádiva de si mesmo".[350] A Igreja ainda convida
os homossexuais a aproximarem-se gradualmente da perfeição cristã, através do autodomínio, da oração, da graça sacramental, do
oferecimento das suas dificuldades e sofrimentos como um sacrifício para Deus e "do apoio duma amizade desinteressada".[351]
Contudo, paradoxalmente, algumas fontes católicas afirmam que seminários e os noviciados poderiam estar dominados por
homossexuais. Em relação a isso, o presidente do episcopado estadunidense, o Monsenhor Wilton Daniel Gregory declarou que "a luta
continua e é importante que se combata para que os seminários e os noviciados não estejam dominados por homossexuais". [353]
Na encíclica Humanae Vitae (1968), o Papa Paulo VI tratou de temas como a procriação e a regulação de natalidade.[92]
A Igreja Católica considera a vida humana como sagrada e como um valor absoluto e inalienável, [354] por isso condena, entre outras
práticas, a violência, o homicídio, o suicídio, o aborto induzido, a eutanásia,[355] a clonagem humana (seja ela reprodutiva ou terapêutica)
[356]
e as pesquisas ou práticas científicas que usam células-tronco extraídas do embrião humano vivo (que provocam a morte do
embrião).[357] Para a Igreja, a vida humana deve ser gerada naturalmente pelo sexo conjugal e tem início na fecundação (ou concepção)
e o seu fim na morte natural.[358][359] Segundo essa lógica, a reprodução medicamente assistida é também considerada imoral porque
dissocia a procriação do ato sexual conjugal, "instaurando assim um domínio da técnica sobre a origem e o destino da pessoa humana".
[360]
Quanto à regulação dos nascimentos, a Igreja defende-a como uma expressão da paternidade e maternidade responsáveis à
construção prudente de famílias, desde que não seja realizada com base no egoísmo ou em imposições externas. [361] Mas essa
regulação só pode ser feita através do planeamento familiar natural, que utiliza métodos contraceptivos naturais como a continência
periódica e o recurso aos períodos infecundos. [361] Os outros métodos de contracepção, nomeadamente a pílula, a esterilização direta e
o preservativo são expressamente condenados.[362]
Apesar de a missão principal da Igreja, que consiste na salvação da humanidade, ser de âmbito essencialmente espiritual, ela formulou
uma Doutrina Social da Igreja (DSI). Através de uma análise crítica das várias situações sociais, a DSI pretende fixar princípios e
orientações gerais a respeito da organização social, política e económica dos povos e das nações, orientando assim os católicos e
homens de boa vontade na sua ação no mundo.[86]
Através das numerosas encíclicas e pronunciamentos dos Papas, a Doutrina Social da Igreja aborda vários temas fundamentais, como
a dignidade humana; as liberdades e os direitos humanos; a família; a promoção da paz e do bem comum no respeito dos princípios da
solidariedade e subsidiariedade; o primado da justiça e da caridade; o sistema económico e a iniciativa privada; o papel do Estado; o
trabalho humano; o destino universal dos bens da natureza; a defesa do ambiente; e o desenvolvimento integral de cada pessoa e dos
povos.[363][364]
Mas a existência da DSI não implica a participação do clero na política, que é expressamente proibida pela Igreja, exceto em situações
urgentes. Isso porque a missão de melhorar e animar as realidades temporais, nomeadamente através da participação cívico-política, é
destinada aos leigos.[365][366] Logo, a hierarquia eclesiástica está apenas "no negócio de formar o tipo de pessoa que consegue formar e
dirigir governos nos quais a liberdade leva à genuína realização humana".[367]
O pensamento social cristão foi-se desenvolvendo ao longo dos tempos, sendo o início da sua sistematização datada em 1891, ano da
promulgação da encíclica Rerum Novarum pelo Papa Leão XIII.[86] A DSI rejeita as ideologias totalitárias e ateias associadas ao
comunismo ou ao socialismo.[368] Além disso, na prática do capitalismo, a DSI recusa, por exemplo, a excessiva e desenfreada miragem
do lucro e o primado absoluto da lei do mercado sobre o trabalho humano e a economia.[369]
Para além das históricas críticas e divergências entre a doutrina católica e as outras doutrinas cristãs e entre a doutrina católica e a
ciência (com particular destaque ao caso de Galileu Galilei), várias crenças e princípios católicos são também atualmente criticados pelo
mundo moderno e até por alguns católicos.[370]
Como por exemplo, a ética católica sobre o casamento (que na atualidade não aceita o divórcio), sobre a vida (que não aceita o aborto,
a eutanásia, o uso de contraceptivos artificiais e a utilização de células-tronco embrionárias para fins científicos que levem à destruição
do embrião) e sobre o sexo (que não aceita o sexo pré-marital, a homossexualidade e o uso de preservativos) continuam a gerar muitas
polémicas e controvérsias.[370][349] As acções escandalosas e imorais, que vão contra a doutrina católica, praticadas por certos membros
e clérigos católicos (ex: abuso sexual de menores por membros da Igreja Católica) reforçaram as críticas referentes ao modo como
essa doutrina trata a sexualidade e a moralidade em geral.[371] [372] [373]
Com a crescente laicização e secularização do mundo ocidental, algumas pessoas começaram a pôr em causa a compatibilidade entre
a democracia e a doutrina católica e a exigirem até o fim de qualquer influência da Igreja sobre a vida pública e sobre as decisões
legislativas (nomeadamente sobre a questão do aborto).[370]
A própria crença em Deus e as regras ético-morais da Igreja são também duramente criticadas como sendo obstáculos para a
verdadeira libertação, progresso e realização do homem. Questões mais teológicas como a divindade e celibato de Jesus (com
particular destaque às teorias sobre Maria Madalena [374]), os milagres, a existência de dogmas, a vida eterna, a virgindade de Maria e a
paradoxal compatibilidade entre a existência de Deus e a existência do mal e do sofrimento são também questionadas.[370]
Recentemente, a questão teológica da unicidade e universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja Católica [254] e a definição
teológica de que a Igreja Católica é a única Igreja de Cristo [375] continuam a suscitar várias polémicas e desentendimentos.[376] Apesar
dessas duas crenças, a Igreja Católica nunca negou a salvação aos não-católicos. Questões mais disciplinares da Igreja, como a
hierarquia católica, o celibato clerical e a proibição da ordenação sacerdotal às mulheres são também temas debatidos na atualidade.[370]
Em conclusão, a Igreja Católica (e a sua doutrina) é muito controversa, porque ela "revela-se muitas vezes […] em oposição ao que
parece ser o conhecimento vulgar dos nossos tempos" e porque ela insiste sempre em que "a fé envolve verdades, que essas verdades
envolvem obrigações e que essas obrigações exigem certas escolhas". Por essa razão, a Igreja Católica, "vista do exterior, […] pode
parecer de vistas curtas, mal-humorada e atormentadora - o pregador azedo de um infinito rosário de proibições".[377]
A doutrina da Igreja Ortodoxa é muito semelhante à da Igreja Católica, visto que ambas desenvolveram as suas principais crenças
basicamente a partir da mesma tradição.[378] Contudo, existem entre elas várias divergências doutrinárias e disciplinares. Como por
exemplo, os ortodoxos só reconhecem os sete primeiros concílios ecuménicos e não aceitam, como por exemplo, o dogma católico da
Imaculada Conceição (mas os ortodoxos acreditam na Assunção de Maria [379] [380]); o Purgatório; o primado e a infalibilidade do Papa; a
questão do filioque; a falta da epiclese e o uso do pão ázimo (sem fermento) na missa; a comunhão eucarística apenas sob a espécie
do pão; o Batismo por infusão (e não por imersão); a forma de administrar o sacramento da unção dos enfermos; o celibato de todo o
clero e a indissolubilidade do matrimónio.[381]
Devido ao recente e grande esforço ecuménico, muitas dessas diferenças foram sendo parcialmente resolvidas ou, pelo menos,
diminuídas. O principal problema entre as duas igrejas reside ainda na questão da primazia e da infalibilidade do Papa. [381] Mas, mesmo
neste campo, houve progressos significativos, que culminaram com a aprovação do Documento de Ravena, no dia 13 de Outubro de
2007. Nesse documento, as duas igrejas reconheceram a primazia papal, ao afirmar que o Bispo de Roma "é o “protos”, ou seja, o
primeiro entre os patriarcas de todo o mundo, pois Roma, segundo a expressão de Santo Inácio de Antioquia, é a "Igreja que preside na
caridade"".[382] Mas, mesmo assim, os católicos e os ortodoxos ainda divergem quanto aos privilégios desta primazia.[383]
Há também diferenças importantes na doutrina da Eucaristia e dos outros sacramentos (os protestantes só professam o Batismo e a
Eucaristia, que são apenas para eles meros sinais que estimulam a fé [386]); na existência do Purgatório; no culto de veneração à Virgem
Maria e aos santos; na forma de interpretação (com os protestantes a defenderem a interpretação pessoal [387] ou livre-exame das
Sagradas Escrituras) e na composição do Cânone das Escrituras; no papel da Tradição oral; na própria natureza, autoridade,
administração, hierarquia e função da Igreja (incluindo o papel da Igreja na salvação); no sacerdócio; e também na autoridade e missão
do Papa.[385][386]
Contudo, visto que mesmo entre as denominações protestantes há diferenças consideráveis,[387] podemos encontrar entre elas algumas
cujas doutrinas se aproximam bastante da católica. É o caso, por exemplo, de alguns setores do Anglicanismo, que se autointitulam
como anglo-católicos. Recentemente, o diálogo ecuménico moderno levou finalmente a alguns consensos sobre a doutrina da
justificação entre os católicos e os luteranos, através da Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da Justificação (1999).[388] Além disso,
esse diálogo trouxe também vários consensos sobre outras questões doutrinárias importantes, nomeadamente entre os católicos e os
anglicanos.[389]
Segue-se uma pequena lista de sítios com tendências tradicionalistas. O catolicismo tradicionalista professa basicamente os mesmos
dogmas católicos, mas não aceita várias decisões pastorais e doutrinais do Concílio Vaticano II.[390][391]
[editar] Notas
1. ↑ A título de exemplo, estes historiadores e cientistas modernos incluem David C. Lindberg, Ronald Numbers [99] [100]
, Craig Rusbult ,
[101]
Russell Maatman [102], Owen Gingerich [103], Thomas E. Woods Jr.[104] e Jerome J. Langford [105].
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10. ↑ a b IGREJA CATÓLICA. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 2000. pp. N. 161. ISBN 972-603-
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197.↑ Ibidem, n. 153
198.↑ a b Ibidem, n. 162
199.↑ Ibidem, n. 150, 152 e 153
200.↑ Ibidem, n. 172
201.↑ Ibidem, n. 201
202.↑ Ibidem; n. 161, 165, 166 e 174
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221.↑ Ibidem, n. 233 e 235
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299.↑ Ibidem, n. 372
300.↑ a b Ibidem, n. 373
301.↑ Ibidem; n. 374 e 376
302.↑ Ibidem; n. 415
303.↑ a b Ibidem, n. 416
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310.↑ Ibidem; n. 434 e 437
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312.↑ Ibidem, n. 377
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