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RESUMO
O aumento do número de cursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil e a decisão do CAU/BR – Conselho
de Arquitetura e Urbanismo do Brasil quanto a exclusividade da atribuição profissional relativa ao ensino
de parte das disciplinas e da coordenação dos cursos de graduação coloca-nos duas questões. A primeira,
se é necessária a formação de arquitetos e urbanistas como professores para o atendimento dessa
demanda. A outra, é se esta formação está sendo promovida. Assim, este artigo tem como objetivo
analisar as ações para a formação docente nos programas de pós-graduação da área de Arquitetura e
Urbanismo do Estado de São Paulo. Considerando a necessidade do desenvolvimento das competências
do professor universitário, foi realizado um levantamento através da CAPES - Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, quanto às disciplinas e estágios de docência promovidos
pelos programas com a finalidade de formar pós-graduandos como profissionais do ensino. Cinco dos sete
programas analisados apresentam tanto disciplinas que discutem o ensino superior quanto estágios de
docência. Contudo, se faz necessário um olhar crítico quanto à eficácia dessas ações, trazendo a necessária
discussão da formação de arquitetos e urbanistas como professores.
PALAVRAS-CHAVE: ensino de arquitetura e urbanismo; competências pedagógicas; formação de
professores; docência; ensino superior
1 INTRODUÇÃO
Diante do crescente número de alunos concluindo sua formação nos programas de pós-
graduação e ingressando como professores nas Universidades, este trabalho analisa os
programas de pós-graduação do Estado de São Paulo na área de arquitetura e urbanismo
quanto à formação docente. As análises se basearam nas competências pedagógicas do
professor universitário propostas por Masseto (2003), Anastasiou (2002) e Freire (1996),
que distanciariam a prática docente do modelo reprodutivo citado por Meira (1991).
Para subsidiar o presente estudo foi realizado um levantamento, no portal da CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), dos programas
paulistas de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo quanto a presença de
disciplinas que abordam a formação docente e o oferecimento de estágios de docência6.
Ao partirmos da reflexão exposta por Masetto (2003) que a formação do profissional que
atua no ensino superior deve se dar no âmbito da pós-graduação, reforça-se a
importância de analisar a suficiência das práticas atuais para essa finalidade.
Segundo Pachane e Monteiro de Aguiar (2004) uma das críticas mais comuns dirigidas
ao ensino superior se refere à didática dos professores universitários ou a sua ausência.
As afirmações frequentes, citadas pelas autoras, são “o professor sabe a matéria, mas
não sabe transmiti-la”, ou “não se preocupa com a docência, priorizando seus trabalhos
de pesquisa”. A carreira docente universitária reafirma, no Brasil, a importância de
pesquisas, publicações acadêmicas e titulações — de Mestre e Doutor. No entanto:
... é questionável se essa titulação, do modo como vem sendo realizada, possa
contribuir efetivamente para a melhoria da qualidade didática do ensino
superior. Os programas de pós-graduação, de maneira geral, tendem a
priorizar em suas atividades a condução de pesquisas, tornando-se
responsáveis, mesmo que não intencionalmente, por reproduzir e perpetuar
a crença de que para ser professor basta conhecer a fundo determinado
conteúdo ou, no caso específico do ensino superior, ser um bom pesquisador
(PACHANE e MONTEIRO DE AGUIAR, 2004, p.01).
É fato que para ser professor, o arquiteto e urbanista depende dos saberes da sua área
de atuação e deve atuar como pesquisador, mas se faz necessário adquirir os saberes da
profissão de professor. Freire (1996) propõe alguns saberes fundamentais para o
exercício do ensino. Um dos principais é a necessidade de convencer-se que “ensinar
não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou sua
construção”. Reproduzir modelos ou incentivar a sua repetição não permitem a
produção ou a construção de algo novo por quem deveria ser o sujeito do processo.
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Os dados do portal da CAPES são referentes ao ano de 2012.
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Outro ponto abordado por Freire (1996) é a necessidade de ensinar para além do
treinamento técnico, por compreender que o ensino tem o caráter de formar o ser
humano e não apenas o profissional. Dessa forma, estimular o livre pensar, a mudança
e a revisão dos conceitos acaba, novamente, por se contrapor ao modelo reprodutivo.
Além desses, o autor aponta que se faz indispensável o “pensar sobre o fazer”:
O saber que a prática docente espontânea ou quase espontânea, ‘desarmada’,
indiscutivelmente produz é um saber ingênuo, um saber de experiência feito,
a que falta a rigorosidade metódica que caracteriza a curiosidade
epistemológica do sujeito. Este não é o saber que a rigorosidade do pensar
certo procura. Por isso, é fundamental que na prática da formação docente, o
aprendiz a educador assuma que o indispensável pensar certo não é presente
dos deuses e nem se acha nos guias de professores que iluminados
intelectuais escrevem desde o centro do poder, mas, pelo contrário, o pensar
certo que supera o ingênuo tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em
comunhão com o professor formador (FREIRE, 1996, p.22).
Como Masseto, Anastasiou (2002) defende uma relação professor-aluno diferente de: o
detentor de conhecimento e pessoa que desconhece. A autora sugere estar o docente
na função de condutor/facilitador do estudante no processo, de modo a valorizar
também a relação de ensinagem entre o corpo discente. Para Masseto (2003) o estímulo
ao trabalho em equipe, a busca de soluções em conjunto, faz com que os alunos
acreditem na possibilidade de aprender com seus colegas — uma postura importante a
ser adotada na vida profissional.
Por fim, o professor universitário deve desenvolver a competência do conhecimento das
tecnologias educacionais. Masseto (2003) reforça a relevância do uso de diferentes
dinâmicas de grupo; estratégias de participação em sala de aula, criando um clima
favorável de ensino; bem como a aplicação das novas tecnologias de informação tanto
no ensino presencial quanto no à distância.
7
Em 2010, a CAPES deliberou que o estágio de docência é parte integrante da formação do pós-graduando (Portaria
76 de 11 de abril de 2010, art. 18), posto que a pós-graduação também objetiva a docência e deve qualificar os
pesquisadores para o ensino de graduação. Nesse sentido, foi tornado obrigatório a todos os bolsistas de demanda
social a realização deste estágio
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urbanismo e urbanismo
arquitetura e arquitetura
FAU São Paulo X X 1972
urbanismo e urbanismo
USP
arquitetura e arquitetura
IAU São Carlos X X 1993
urbanismo e urbanismo
Fonte: elaborado pelas autoras.
Dos sete programas oferecidos, cinco apresentam uma disciplina que aborda a
metodologia do ensino superior, sendo esses o da UPM, USJT, UNICAMP e USP – tanto
da FAU quanto do IAU. Da mesma forma, cinco dos sete programas oferecem o estágio
de docência – da UPM, UNESP, UNICAMP, FAUUSP e IAU USP (Tabela 02). Para verificar
quais competências pedagógicas se fazem presentes nas disciplinas de metodologia do
ensino superior, apresentam-se as ementas das disciplinas existentes, assim como os
programas de estágio.
Tabela 2 – Formação docente para arquitetura e urbanismo nos cursos paulistas de pósgraduação: oferta de
disciplina e/ou estágio docente
PUCCAMP - -
UPM X X
USJT X -
UNESP - X
UNICAMP X X
FAU X X
USP
IAU X X
Fonte: elaborado pelas autoras.
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(PAE) a ser cumprido em duas etapas (USP, 2010). Na primeira, o pós-graduando cursa
uma disciplina preparatória para os estágios oferecida na forma de palestras de
especialistas da área do ensino superior. A segunda se refere ao estágio propriamente
dito, realizado em uma disciplina da graduação. O PAE é recomendado para todos os
estudantes do programa. Quanto as disciplinas para a formação docente, na FAUUSP são
oferecidas duas disciplinas, enquanto uma é oferecida no IAU USP para apoio ao
programa de estágio.
Tabela 7 – Ementa da disciplina de Formação do Arquiteto, oferecida pelo programa de pós-graduação da FAUUSP.
DISCIPLINA Formação do Arquiteto
Arquiteto e seu objeto de trabalho
Conceito de projeto e sua função na transformação de seu objeto.
EMENTA Arquitetura como profissão e como formação.
Prática de “ensino” de arquitetura e design.
Propostas de reformulação do ensino de arquitetura.
Fonte: CAPES, 2012.
4 CONSIDERAÇÕES
O que se viu nos programas de pós-graduação do Estado de São Paulo foi a presença de
algumas disciplinas que incentivam a discussão sobre o ensino de arquitetura e
urbanismo, assim como a presença do estágio de docência em sua grande maioria. Em
algumas delas foi possível identificar discussões relativas às competências pedagógicas
apontadas por Masetto (2003), Anastasiou (2002) e Freire (1996) como essenciais para
o exercício da docência universitária.
O domínio da área pedagógica e a preocupação com o ensino de práticas didáticas aos
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REFERÊNCIAS
ANASTASIOU, L. das G. C. Construindo a docência no ensino superior: relação entre saberes pedagógicos
e saberes científicos. In: ROSA, D. E.G.; SOUZA, V. C. de [org.]. Didática e práticas de ensino: interfaces
com diferentes saberes e lugares formativos. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. 279p.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,
1996. 76p.
MASETTO, M. T. Competência Pedagógica do Professor Universitário. São Paulo: Summus, 2003. 194p.
MEIRA, M. E. Criatividade e ensino de arquitetura. In: Caderno ABEA 3. 1991. Disponível em:
<http://issuu.com/gogli/docs/abea_caderno_03>. Acesso em: 07 de jun. 2015.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”. Disciplinas oferecidas. Disponível em:
<http://www.faac.unesp.br/#!/pos-graduacao/mestrado-e-doutorado/arquitetura-e -
urbanismo/disciplinas/1semestre-2015/ e http://www.faac.unesp.br/#!/pos-graduacao/mestrado-e-
doutorado/arquitetura-e-urbanismo/estagio-de-docencia/>. Acesso em: 02 de jun. 2015.
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU. Programa de Pós Graduação Stricto Sensu – Arquitetura e Urbanismo
[mestrado]. Disponível em: <http://www.usjt.br/pgaur/estrutura/apresentacao.php>. Acesso em 02 de
jun. 2015.