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UFOP
Ouro Preto
2017
ANAIS DO III ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE
ESTRUTURAS EM ESCOLAS DE ARQUITETURA
v.1
Ouro Preto-MG
Local: Centro de Artes e Convenções da UFOP
7, 8 e 9 de junho de 2017
Catalogação: ficha@sisbin.ufop.br
ISBN: 978-85-98601-80-9
CDU: 624:72:37(06)
REALIZAÇÃO
COMISSÃO ORGANIZADORA
EQUIPE DE APOIO
Guilherme Arruda
COMISSÃO CIENTÍFICA
CONTATOS
3eneeea@gmail.com
https://www.facebook.com/ensinoestruturasarquitetura/
APRESENTAÇÃO
Antecedentes
Parece-nos importante deixar aqui registrado alguns dos aspectos debatidos no evento
ocorrido nos anos 1970, para que sua memória nos ajude a adensar a compreensão dos
problemas envolvidos no processo de formação dos arquitetos quando o assunto é o
aprendizado do comportamento estrutural, o dimensionamento das estruturas e a relação
entre a concepção estrutural, a concepção arquitetônica e a dimensão construtiva
propriamente dita.
Registrada como uma das primeiras decorrências imediatas da fundação da Associação
Brasileira de Ensino de Arquitetura (ABEA), o I Encontro Nacional de Professores de Estruturas
para Escolas de Arquitetura – realizado em São Paulo, entre os dias 06 e 08 de junho 1974 –
estabeleceu por primeira vez a questão do ensino de estruturas para estudantes de
arquitetura como um problema de formação profissional. Organizado pela ABEA, juntamente
com o Departamento de Assuntos Universitários do Ministério da Educação (DAU-MEC), o
evento, presidido pelo engenheiro e professor Adolpho Polillo (UFRJ), foi organizado em torno
das seguintes temáticas:
a) Objetivos do ensino de estruturas para arquitetos;
b) Sistematização filosófica – processo de aprendizagem;
c) Currículo do curso;
d) Pesquisa experimental.
O que já despontava naquela época como aspecto determinante, enquanto argumento
fundamental para uma estratégia de ensino-aprendizagem que busca ser bem-sucedida, era
a defesa de uma aproximação menos abstrata do fenômeno estrutural. O debate – pelo que
se pode inferir dos registros dos relatores – recomendava, desde então, estratégias que
privilegiassem inicialmente a observação e a experimentação sensorial, para só então seguir
para uma etapa analítica, de verificação matemática ou por aparelhos:
[...] a análise da atual condição em que se encontram as disciplinas de estruturas nas
escolas [...] evidenciou a necessidade de contato com os problemas estruturais no
âmago de seu comportamento, pela observação e crítica e, principalmente, do
conhecimento histórico dos fatores que envolvem o ensino das estruturas em seu
desenvolvimento através dos tempos, complementado com os aspectos
humanísticos intrínsecos aprendidos nas exposições didáticas e nos laboratórios de
provas [...] sob o ponto de vista da sistematização filosófica (como a apreensão dos
conhecimentos estruturais do curso de formação de arquitetos). O relator dividiu a
matéria em três partes: 1° – Hábito de investigação e pesquisa e consequentemente
desenvolvimento da observação; 2° – Educação do sentimento estrutural; 3° –
8 Integração.
A primeira parte daria ênfase ao aspecto intuitivo do aluno, aprimorando sua
sensibilidade estrutural, através de modelos e ensaios, com o próprio aluno
experimentando e chegando às conclusões. Na segunda fase, esta sistematização do
ensino levaria a uma análise quantitativa do comportamento estrutural, com o
objetivo principal do estudo das teorias científicas que explicariam os fenômenos
observados anteriormente de maneira empírica. [Na terceira ocorreria a] Integração
das duas fases anteriores, com uma análise integrada dos fenômenos quantitativos
e qualitativos, se daria através da experimentação com aparelhagem adequada, com
o objetivo de medir o comportamento da estrutura aplicada ao projeto
arquitetônico, que estaria sendo desenvolvido simultaneamente. O objetivo final
seria o aprimoramento da intuição do sentido estrutural, já com a atitude crítica
de dar ao projeto arquitetônico o partido das formas estruturais mais convenientes
(DAU-MEC; ABEA, 1974, p. 5, grifo nosso).
Não obstante alguns esforços empreendidos, constatamos hoje que grande parte dos
problemas apontados àquela época permanecem sem solução ou foram agravados em vista
do extraordinário aumento do número de cursos de Arquitetura no país e da falta de
posicionamento crítico mais efetivo diante de mudanças circunstanciais no corpo de diretrizes
que norteia a condução do ensino de Arquitetura no Brasil (por exemplo, as alterações
curriculares substanciais ocorridas nos últimos 20 anos, que promoveram a supressão de
conteúdos sem a proposição de novas abordagens de assuntos imprescindíveis para a
formação do profissional arquiteto1).
Uma segunda edição daquele evento de 1974 aconteceria em 1985, agora em Goiânia.
Entretanto, são muito restritas as informações sobre seus debates e resultados, restando
apenas o depoimento de alguns de seus participantes.
De todo modo, parece-nos claro que, apesar das recomendações propostas pelos dois
eventos e de alguns avanços obtidos – institucionalmente ou até mesmo por esforços
individuais –, perseveram:
a) A recorrente ausência de conteúdos relativos à história do desenvolvimento do
conhecimento estrutural, bem como da construção, da técnica e da tecnologia em
termos mais amplos;
1
Desde as Diretrizes Curriculares que integraram a Portaria nº1770 de 21 de dezembro de 1994, até a Resolução
nº6 do Conselho Nacional de Educação, que passou a vigorar só em 2 de fevereiro de 2006 – já se vão mais de
20 anos.
b) Uma renitente desarticulação entre ensino de estruturas e ensino de projeto
arquitetônico;
c) Uma certa hegemonia dos sistemas de concreto armado no âmbito do ensino de
estruturas e equivalente ausência de estratégias de ampliação de repertório (aberturas
10 para ensino de outros sistemas e materiais diversos);
d) Uma profunda carência de pesquisa científica específica na área; e
e) A falta de uma efetiva democratização do acesso ao conhecimento mais aprofundado
acerca das estruturas.
Muito embora tenha surgido literatura de mais fácil acesso nos últimos anos, deve parecer
claro, para quem frequenta as instalações onde são ministradas as disciplinas de estruturas
nos cursos de Arquitetura país afora, que se faz necessário um esforço a mais para que se
viabilize a produção de recursos e material didático mais adequados. A democratização do
acesso aos computadores e as possibilidades de simulação de comportamento estrutural daí
decorrentes vêm sendo muito lentamente absorvidas pelo ensino de estruturas no Brasil. Do
mesmo modo, ainda são restritas as iniciativas que levam os alunos aos canteiros
experimentais ou até mesmo aos laboratórios de ensaios (os anais deste III ENEEEA trazem
descrições de algumas dessas iniciativas).
Pressupostos
É um pressuposto que a reorientação do ensino de estruturas nas escolas de Arquitetura
poderia se dar em torno da noção de concepção estrutural. Podemos compreendê-la como a
capacidade de produzir um arranjo adequado dos elementos estruturais de uma edificação,
de modo que se integrem organicamente à forma arquitetônica. Trata-se de imaginar um
modo de fazer com que esse conjunto seja resistente e estável diante das cargas geradas por
si próprio, pelas pessoas e objetos que abriga, assim como de eventuais forças externas –
como ventos, abalos sísmicos etc. Uma vez concebida a estrutura, são mobilizadas
ferramentas para a especificação e o dimensionamento dos elementos estruturais que a
compõem – em geral, lajes, vigas, pilares e fundações e, em alguns casos, cascas, arcos,
abóbodas, cabos, tirantes etc.
Parece-nos correto afirmar que há uma diferença crucial entre concepção estrutural e
cálculo estrutural: a primeira tem caráter especulativo, enquanto o segundo tem caráter
verificativo – o que equivale dizer que a primeira é parte de um processo criativo e que,
portanto, trabalha com problemas abertos; por outro lado, o cálculo estrutural refere-se
primordialmente à finalização de um processo – isto é, a um processo fechado, conduzido a
partir de fórmulas e modelos pré-determinados. Entretanto, ambos requerem as mesmas
bases de compreensão: os princípios físicos relacionados à resistência dos materiais e à
estabilidade das construções.
No âmbito do ensino de Arquitetura, a diferença entre as duas abordagens – especulativa
e verificativa – nem sempre é levada em conta e, muitas vezes, negligencia-se a concepção
em prol do cálculo estrutural que, não obstante seu importante papel, é insuficiente para os
processos de concepção de edificações. Além disso – e talvez justamente em virtude dessa
11 prevalência – as disciplinas de estruturas aparecem frequentemente associadas com a ideia
de conhecimento hermético, abstrato, de difícil apreensão.
No campo da prática profissional, envolvendo conhecimentos de disciplinas tão próximas
como o são a arquitetura e a engenharia, a concepção estrutural poderia adquirir
protagonismo muito mais importante e extenso que o simples domínio de uma linguagem
comum aos dois agentes desse campo, o arquiteto e o engenheiro.
Nestes termos, portanto, o III ENEEEA buscou posicionar-se em defesa da articulação e
consolidação de um campo disciplinar comum, pelo qual os agentes envolvidos na projetação
dos edifícios sintam-se capazes de formalizar soluções concretas, dialógicas e colaborativas,
em lugar de repetir as dicotomias históricas, a reprodução de soluções convencionais frente
às dificuldades de interlocução ou a prevalência de uma abordagem em detrimento de outra
– ou outras, com as quais ainda não nos deparamos.
Objetivos e temáticas
Em termos práticos, propusemos que as discussões fossem organizadas a partir dos
problemas da desarticulação entre ensino de estruturas e ensino do projeto arquitetônico, da
hegemonia do concreto armado no âmbito do ensino, da carência de pesquisa científica
específica na área e da democratização de acesso ao conhecimento acerca das estruturas.
Os objetivos pretendidos para promovermos uma atualização da discussão acerca do
ensino de estruturas foram pensados conforme descritos a seguir:
a) Reorientar o ensino de estruturas nas escolas de Arquitetura para novas abordagens e
articulações nos projetos pedagógicos;
b) Avaliar a articulação entre ensino de projeto e de estruturas;
c) Divulgar a produção de recursos didáticos da área, especialmente da que articula
concomitantemente ensino de projeto e de estruturas;
d) Promover a difusão de propostas inovadoras a partir da articulação entre centros de
pesquisa e ensino;
e) Fomentar a cooperação na pesquisa científica da área;
f) Fomentar propostas de formação docente, como cursos de formação e atualização,
atividades de canteiro e extensão.
Para cobrir essa gama de questões, o evento foi estruturado a partir de três temáticas:
1. Novas orientações para o ensino de estruturas nas escolas de arquitetura: ampliação
das abordagens atuais (crítica ao viés verificativo tradicional, estímulo ao viés
conceptivo), questionamento da hegemonia do concreto armado e ampliação do
repertório de possibilidades de concepção estrutural:
Interessou-nos aqui a discussão de alternativas ao modelo tradicional de ensino de
estruturas vigente nas escolas, muito embora, como questões de fundo,
12 permanecessem algumas indagações: qual o objetivo do ensino de estruturas para
arquitetos? Que iniciativas didáticas inovadoras – tanto em termos de reestruturação
pedagógica quanto de desenvolvimento de materiais instrucionais diferenciados –
estão sendo geradas? Do ponto de vista pedagógico, tais situações envolveriam tanto
uma reestruturação parcial ou integral dos cursos de Arquitetura – como meio para
uma maior integração entre suas disciplinas constituintes, em especial, as de estruturas
– quanto práticas localizadas em disciplinas específicas, que apontam para a superação
das metodologias verificativas (baseadas nos cálculos matemáticos). Estudos que
aprofundam a relação entre espaço construído e tecnologia, bem como dos modos
como se dá sua difusão, são não só pertinentes como essenciais. Considerando ainda a
diversidade das soluções construtivas, interessou-nos saber, além do concreto armado,
como os demais sistemas estruturais (em termos de materiais e tipologias) estão sendo
didaticamente explorados.
2. Articulações entre ensino de projeto arquitetônico e ensino de estruturas: nos ateliês
de projeto, espera-se a síntese dos muitos campos de conhecimento envolvidos no
ensino da arquitetura. Contudo, é neste espaço que mais se sentem os efeitos negativos
do ensino de estruturas pautado pelo viés verificativo:
Coube, no contexto do evento, explorar propostas que reforçam a abordagem
conceptiva e que põem em questão a dimensão construtiva-estrutural do objeto.
Afinal, a forma arquitetônica é tensionada pela solução estrutural, ao contrário de ser
uma mera opção de quem projeta. O ensino de projeto permite gerar reflexões sobre
esta tensão entre a concepção formal e sua solução estrutural. Neste sentido,
questionou-se: como a abordagem dos problemas projetuais estão contribuindo para
a elaboração de uma consciência tectônica? Por que é comum, no desenvolvimento do
projeto, o adiamento das definições de ordem técnica? Estas, estabelecidas ao final do
processo, frequentemente são justificadas mais por critérios formais (ou convenções
construtivas) do que por uma resposta ao programa ou ao sítio. Considerando o embate
entre as abordagens conceptiva e verificativa, o percurso do aluno nas disciplinas de
estruturas na Arquitetura deveria ser uma versão compacta do percurso do aluno de
engenharia civil? Ou essa reflexão sobre a competência a ser desenvolvida requer
outras habilidades/disciplinas necessárias para a formação do arquiteto? Para o
desenvolvimento desta competência é necessário que o aluno desenvolva habilidades
de cálculo estrutural?
3. Meios para o ensino de estruturas: recursos, literatura e material didático:
No campo do ensino de estruturas, os recursos são os mais diversos, dada sua natureza
teórico-prática. Os meios didáticos passam pelo uso de modelos físicos como recurso
para o aprendizado intuitivo do funcionamento das estruturas; desenvolvimento e
13 criação de protótipos em escala real; realização de experimentações construtivas em
canteiro; organização de laboratórios para práticas didáticas e de extensão; produção de
protótipos segundo princípios de pré-fabricação; adoção de recursos computacionais
como instrumentos de auxílio à concepção estrutural. Estudos teóricos que contemplem
a história e a crítica de experiências significativas de ensino de estruturas seriam
necessários para que se possa evoluir em novas proposições? Materiais didáticos como
cartilhas, apostilas, filmes, modelos interativos tornam-se material de referência, podem
favorecer a difusão e replicabilidade de experimentos? O desenvolvimento das
ferramentas computacionais trazem novas abordagens para a gênese do projeto: ao
desenvolvimento da forma guiada pela geometria (simbólico) e/ou pelo contexto (social,
econômico, ambiental), deveríamos superpor uma concepção baseada em
desempenho?
Sessões
As Sessões foram programadas para não acontecerem simultaneamente, permitindo a
todos acompanharem as apresentações de todos.
Dessa forma, todos os inscritos puderam assistir a todas as sessões: foram 28
Apresentações Orais ao todo (18 trabalhos selecionados pelo Comitê Científico e 06 trabalhos
previamente definidos pelo Comitê Organizador) e 39 Apresentações de Pôsteres. Cabe
mencionar que estes anais agregam também outros 9 trabalhos, de autores que não puderam
participar do evento.
Resultados
Ao final do evento, tivemos a oportunidade de apontar algumas orientações e discutirmos
diretrizes para pensarmos o futuro.
Como primeira providência, encaminhou-se a recomendação de promover esta edição dos
anais do encontro, reunindo os trabalhos selecionados e apresentados; a sistematização,
edição e divulgação dos registros em vídeo das mesas de apresentação de trabalhos, das
mesas redondas e das palestras; e a emissão e distribuição dos certificados de participação,
qualificados conforme a modalidade dessa participação.
Pretendendo estabelecer algumas diretrizes para darmos continuidade aos debates e
discussões realizadas agora em 2017, o plenário do evento recomendou a realização de um
próximo encontro em 2019, propondo a FORMAÇÃO DOCENTE como temática, tendo em vista
os diversos trabalhos que versaram sobre as dificuldades encontradas para a formação de
quadros especializados no ensino de estruturas para estudantes de Arquitetura. Neste
sentido, recomendou-se, também, que a programação dessa próxima edição do ENEEEA
inclua a realização de oficinas e cursos de curta duração para professores e estudantes. De
pronto, Recife candidatou-se a receber o IV ENEEEA.
14 Quanto ao formato, os participantes aprovaram plenamente a opção assumida pela
coordenação dessa terceira edição do ENEEEA, recomendando que, para 2019, seja mantida
a apresentação sequencial de trabalhos, sem sessões paralelas, oferecendo a todos a
oportunidade de ouvir e discutir todas as apresentações. Além disso, o plenário também
recomendou a manutenção do espaço para apresentação de pôsteres, sugerindo apenas
incrementar a dinâmica de discussão dos trabalhos apresentados nessa modalidade.
Quanto às temáticas, as sugestões seguem aqui registradas:
Dimensionamento estrutural;
Modelagem digital e afins;
Trabalho com modelos e protótipos, nos âmbitos conceitual e operacional, qualitativo e
quantitativo;
Histórias relacionadas à concepção estrutural (disciplinas, representação, métodos,
difusão de tecnologias etc.);
Canteiro experimental; e
Ações extensionistas.
No que se refere às possibilidades de aprofundamento das interlocuções e diálogo com
outras instituições, foram levantadas algumas diretrizes que poderão orientar a troca de
experiências, abordando questões e práticas que ainda precisam avançar:
Experiências de práticas de ensino-aprendizagem;
Exemplos e desenho de ambientes de ensino-aprendizagem;
Aprofundar a discussão sobre a relação currículo x atribuição profissional;
Promover diálogos com experiências internacionais (Rural Studio – EUA; Grands Ateliers
– França; Valparaiso – Chile).
O III ENEEEA
O evento foi realizado no Parque Metalúrgico Augusto Barbosa – Centro de Artes e
Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto. O Parque disponibilizou estrutura
plenamente adequada para a realização do evento, em portes diversos, com salões, auditórios
e infraestrutura de apoio, além de estacionamento e boa localização na área urbana. Cabe
registrar que o Parque é atualmente gerido de forma compartilhada pela Agência de
Desenvolvimento Econômico e Social de Ouro Preto (ADOP) e pela Universidade Federal de
Ouro Preto (UFOP). E não seria inoportuno mencionar o contexto da cidade: próxima dos três
grandes centros urbanos da região Sudeste do Brasil, provida de estradas de boa qualidade, com
acesso fácil a aeroportos internacionais. Ouro Preto é uma localidade dotada de infraestrutura
de comércio, serviços e lazer apta a receber eventos dessa natureza.
Outro registro importante e que vale aqui de profundo agradecimento: o professor
15 Adolpho Polillo, atualmente aposentado pela UFRJ, foi nosso convidado de honra para a
conferência de abertura deste III ENEEEA. Incansável, o professor Polillo acompanhou
atentamente todas – sem exceção – as sessões de comunicação, mesas redondas e palestras
proferidas ao longo de todo o evento. Sua conferência encontra-se transcrita nos proêmios
destes anais.
O III ENEEEA destinou-se principalmente à interlocução de professores de cursos de
Arquitetura e Urbanismo e Engenharia e também a estudantes e profissionais dessas áreas e
foi dimensionado para 150 participantes. Realizado entre 07 e 09 de junho de 2017, com sede
na Universidade Federal de Ouro Preto, a organização do evento contou com a colaboração
de docentes da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, do
Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – IAU USP, da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Uberlândia – FAUeD/UFU e da
Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco – UFPe.
Comissão Organizadora
07/06 – QUARTA-FEIRA
16
08/06 – QUINTA-FEIRA
17
09/06 – SEXTA-FEIRA
18
TRABALHOS APRESENTADOS ORALMENTE
07/06 – SESSÃO 01 – TEMA 01
TEMA 01: NOVAS ORIENTAÇÕES PARA O ENSINO DE ESTRUTURAS NAS ESCOLAS DE ARQUITETURA
22 Código Título/Autores
COMPARATIVO DE METODOLOGIAS DE ENSINO DE ESTRUTURAS NO CURSO DE ARQUITETURA E
tema01_artigo05 URBANISMO DA UNEMAT
Eveline Nunes Possignolo Costa
DESPERTANDO O INTERESSE E DISSIPANDO A LETARGIA: EXPERIÊNCIA DIDÁTICA NO ENSINO DA
tema01_artigo07 DISCIPLINA DE SISTEMAS ESTRUTURAIS
Ana Isabela Sores Martins da Silva e Camila Correia Teles
ESTUDO DE ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS: CONHECIMENTO INTUITITVO E APLICAÇÃO
tema01_artigo11 PROJETUAL CRIATIVA
Rosalina de Melo Côrrea
IMPLANTAÇÃO DE UM ATELIÊ DE ARQUITETURA E DESIGN EM OURO BRANCO – MG
tema01_artigo12
Marcos M. Franchini, Ernani C. de Araújo e Tito F. R. Aguiar
O DESAFIO DO ENSINO DE SISTEMAS ESTRUTURAIS NO CURSO DE ARQUITETURA EM
tema01_artigo13 GOVERNADOR VALADARES/MG
Rondinelly G. Pereira, Dayane G. Ferreira e Ilara R. D. Melo
O ENSINO DE ESTRUTURAS ATRAVÉS DAS ATIVIDADES EXTENSIONISTAS DO ESCRITÓRIO DE
tema01_artigo14 INTEGRAÇÃO PUC MG
Hilda Cotegipe Pellico e Ayrton Hugo de Andrade Santos
USOS DE ROCHAS NOS SISTEMAS ESTRUTURAIS ARQUITETÔNICOS – POR QUE NÃO NO BRASIL?
tema01_artigo19
Risale Neves
TEMA 02: ARTICULAÇÕES ENTRE ENSINO DE PROJETO ARQUITETÔNICO E ENSINO DE ESTRUTURAS
Código Título/Autores
A EXPERIÊNCIA DA DISCIPLINA PROJETO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO NO CURSO DE
tema02_artigo03 A&U DA PUC MINAS
23
Antonio C. D. Grillo, Silvio R. F. Motta e Giselle M. F. Diniz
A TECTÔNICA COMO ALTERNATIVA PARA INTEGRAÇÃO ENTRE O ENSINO DE ESTRUTURAS E DE
tema02_artigo06 PROJETO ARQUITETÔNICO
Rafaela Santana Balbi e Rodrigo Mendes Patrício Chagas
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO ESTRUTURAL DE EDIFICAÇÕES CONSTRUÍDAS ANÁLOGA ÀS
tema02_artigo07 FORMAS DA NATUREZA
Fabiane Krolow, Carlos E. V. Galvão, Luiz Cláudio Bassam, Manoela R. O. Bastos e Paula R. R. Libos
CANTEIRO EM OBRAS: A NECESSIDADE DA PRÁTICA CONSTRUTIVA NO ENSINO DE PROJETO EM
tema02_artigo11 ALVENARIA ESTRUTURAL
Hugo Alkim de Matos
CONCEPÇÃO ESTRUTURAL DE EDIFICIOS: ARTICULAÇÕES ENTRE PAVIMENTO TIPO E PAVIMENTO
tema02_artigo14 DE GARAGENS
Carlos Alberto Andrade Bomfim e Manoel Messias Teixeira Júnior
DIÁLOGO ENTRE ARQUITETURA E ESTRUTURA A PARTIR DA TECNOLOGIA DAS HABITAÇÕES
tema02_artigo18 INDÍGENAS
José Afonso Portocarrero, Dorcas Araújo Silva, Yara Galdino e Maria Fátima Machado
EXPERIÊNCIA DE ENSINO DE SISTEMAS ESTRUTURAIS E CONSTRUTIVOS INTEGRADOS AOS
tema02_artigo20 ESTÚDIOS DE PROJETO NO UNIBH
Alexandre Kokke Santiago e Rafael Cristelli
EXPERIÊNCIAS DIDÁTICAS NO ATELIÊ DE PROJETO: A INTEGRAÇÃO COM O ENSINO DE
tema02_artigo22 ESTRUTURAS E SISTEMAS DE EDIFÍCIOS VERTICAIS
Ricardo Socas Wiese e Eduardo Westphal
INTEGRAÇÃO ENTRE ENSINO DE SISTEMAS ESTRUTURAIS E DE PROJETOS ARQUITETÔNICOS NA UEL
tema02_artigo25 Cesar Ballarotti, Paulo S. Bardella, Miguel L. Contani, Sidinei Jr. Guadanhim e Maurício G.
Ballarotti
METODOLOGIAS DE ENSINO VOLTADAS AO ENSINO DE TECNOLOGIAS CONSTRUTIVAS
tema02_artigo26
Cynara Fieldler Bremer, Maria Luiza A. C. Castro, Sofia Araújo Lima e Rejane Magiag Loura
O ENSINO DE ESTRUTURAS NO CICLO BÁSICO COMO PRÉ-REQUISITO DAS DISCIPLINAS DE PROJETO
tema02_artigo28
Hugo Alkmim de Matos e Giselle Moraes da Fonseca Diniz
O USO DE VIGAS DE TRANSIÇÃO EM PROJETOS ARQUITETÔNICOS
tema02_artigo32
Maria Regina Leoni Schmid Sarro e Mônica Stuermer
PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE SISTEMAS ESTRUTURAIS NO ATELIÊ DE PROJETO
tema02_artigo34 INTEGRADO
Nébora Lazzarotto Modler, Marcela Álvares Maciel e Camila C. R. Laurett
PROJETO DE ARQUITETURA E ESTRUTURA AUTOPORTANTE: UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO
tema02_artigo36
Ana Luísa Lima Lloyd e Maria Beatriz de Castro Silva
SISTEMAS ESTRUTURAIS: ÊNFASE À COLETA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE MATERIAL VISUAL
tema02_artigo38
Camila Pombeiro Sponchiato e Jorge Munair Neto
ESTRATÉGIAS DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS NO ATELIÊ DE PROJETO: TECTÔNICA, E MATERIALIDADE
tema02_artigo42
Fábio Ferreira Lins Mosaner
TEMA 03: MEIOS PARA O ENSINO DE ESTRUTURAS – RECURSOS, LITERATURA E MATERIAL DIDÁTICO
Código Título/Autores
A CRIAÇÃO DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UAECSA-UFG E AS EXPECTATIVAS
tema03_artigo01 PARA O ENSINO DE ESTRUTURAS
24
Karine C. Oliveira, José R. P. Thiesen, João P. O. Huguenin e Ivo C. Andrade Neto
DESEMPENHO ESTRUTURAL EXPERIMENTADO EM MODELOS COMPUTACIONAIS: UM MEIO DE
tema03_artigo06 CONCEPÇÃO NA ARQUITETURA
Ricardo Henrique Dias
ELABORAÇÃO DE MODELOS ESTRUTURAIS PARA AUXÍLIO NO ENSINO DE ENGENHARIA DE
tema03_artigo07 ESTRUTURAS
Mariana S. B. Ribeiro, Débora O. Oliveira, João Vitor C. Sapucaia e Ludmila Afonso da Silva
ENSINO DA CONCEPÇÃO ESTRUTURAL A PARTIR DO BALANCEAMENTO DE VÃOS EM VIGAS COM
tema03_artigo08 VISTAS À UNIFORMIZAÇÃO DE ESFORÇOS
Fábio Gallo Júnior e Cláudia T. A. Oliveira
PROPOSTA DE MATERIAL DIDÁTICO PARA ENSINO DE LIGAÇÕES FLEXÍVEIS EM ESTRUTURAS COM
O USO DO BAMBU
tema03_artigo10
Frederico Rosalino, Kaline C. Nascimento, Nadyne Mesquita, Patricia Lopes, Sarah S. Reis, Vinícius
Gonçalves e Luiz E. Miola
ESBOÇO DE UMA GENEALOGIA DA REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESTRUTURAS
tema03_artigo11
Roberto Eustáaquio dos Santos, Silke Kapp e Athos Souza e Silva
ESTUDO DOS SISTEMAS ESTRUTURAIS EXISTENTES NAS EDIFICAÇÕES DO CAMPUS DE PRESIDENTE
tema03_artigo13 PRUDENTE DA UNESP
Beatriz Frasão Tonon, Cesar Fabiano Fioriti e Nayra Yumi Tsutsumoto
EXPERIMENTANDO COMO APRENDER – MODELOS E PROTÓTIPOS COMO RECURSOS DIDÁTICOS
tema03_artigo 15 NO ENSINO DE ESTRUTURAS
Maria Amélia Devitte Ferreira D’Azevedo Leite e Yopanan Conrado Pereira Rebello
JOGO DO CONCRETO: TESTES REALIZADOS NA UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
tema03_artigo18
Maria Regina Leoni Schmid Sarro
MÓBILE: UM PROTÓTIPO FÍSICO REPRESENTANDO O EQUILIBRIO DO CORPO RÍGIDO
tema03_artigo20
Alessandra da Silva Arduim e Carlos Alberto Andrade Bomfim
O ENSINO DE DESENHO ARQUITETÔNICO ATRAVÉS DO ENTENDIMENTO TÉCNICO-CONSTRUTIVO
tema03_artigo27
Edgar F. A. Áchar; Isabel M. M. Borba e Heverson A. Tamashiro
O ENSINO DE PROJETO ATRAVÉS DE MAQUETES CONSTRUTIVAS
tema03_artigo28
Juliano Caldas de Vasconcellos e Carlos Henrique Goldman
O USO DE MODELOS REDUZIDOS NO ENSINO DE ESTRUTURAS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
tema03_artigo30 DIDÁTICA
Paulo Sousa
PRÁTICAS LABORATORIAIS NO ENSINO DOS SISTEMAS ESTRUTURAIS NO CURSO DE
tema03_artigo32 ARQUITETURA E URBANISMO
Ricardo Granata
O ENSINO DE ESTRUTURAS RECÍPROCAS EM MADEIRA: EXPERIÊNCIA DIDÁTICA PARA ALUNOS DE
tema03_artigo36 ARQUITETURA
Edna Moura Pinto e César Ballarotti
UTILIZAÇÃO DE MODELOS QUALITATIVOS PARA AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE SISTEMAS
tema03_artigo34 ESTRUTURAIS
Bárbara Siqueira, Cesar Fabiano Fioriti, Fernando Sérgio Okimoto e Nayra Yumi Tsutsumoto
PALESTRA DE ABERTURA
PROF. DR. ENG. CIVIL ADOLPHO POLILLO – 07/06
Antes de tudo, penhorado, agradeço o convite para aqui estar nesta ocasião, na certeza de
25 que atualizarei meus conhecimentos. Hei de haurir tudo o que me será revelado.
Em verdade, tudo começou na década de cinquenta. Ainda no início de minha carreira, já me
dera conta de que algo não estava dando certo, de que era preciso buscar novos métodos que
não aqueles usados na então Faculdade Nacional de Arquitetura para ensinar Estruturas para
futuros arquitetos. Foi importante, no magistério, a oportunidade de começar a lidar,
concomitantemente, com estudantes de Engenharia e de Arquitetura. Naquele tempo não se
cogitava de regime de trabalho em tempo integral. Era, então, possível a um docente acumular
dois cargos. Assim, não raro, acontecia de os professores de Estruturas pertencerem a duas
unidades de ensino. A pesquisa ainda não estava institucionalizada; porém, os professores
interessados em progredir na carreira, sonhando com uma Cátedra, preparavam-se desde logo
para conquistar uma Docência Livre: concurso difícil, igual em tudo – pela lei 444, art. 5º, de
1937 – nas dificuldades, e nos direitos, ao de catedrático, constituído de quatro provas e de
exame de títulos e documentos de cujo julgamento constava um total de cinco graus a serem
atribuídos pelos examinadores. Era a mola propulsora para a investigação espontânea, não
dependente de planos de pesquisa previamente aprovados, contudo heroica, sem apoio de
qualquer natureza. Não se contava com professores orientadores. A tese era impressa com
número mínimo de exemplares a expensas do autor.
Potenciais futuros pretendentes à Cátedra, os candidatos à Livre Docência, muita vez, em
seu caminho, tinham que superar uma série de percalços, desde a formação da banca
examinadora – quase sempre motivo de luta nas Congregações entre duas correntes
politicamente antagônicas. Quem sofria era o candidato à Docência Livre, tanto mais quanto
mais jovem, competente e promissor fosse, e nele vislumbrassem um aspirante à Cátedra
ocupada por um professor em final de carreira, próximo à aposentadoria compulsória.
Tratava-se, pois, de um concurso, não raro, motivo para notícia nos jornais, sobretudo no
Diário de Notícias, publicado no Rio de Janeiro, que abria uma página diária para a Educação.
As provas de defesa de tese e de aula eram realizadas em auditório na presença de grande
assistência, sobretudo de alunos – que torciam pelos jovens mestres que contavam com a
simpatia deles – e até de jornalistas. Na prova de defesa de tese o candidato era examinado
pelo processo “coimbrão”, vale dizer, a banca procurava massacrá-lo. No que se refere aos
cursos de Engenharia e de Arquitetura, a prova prática era uma maratona: num prazo de 8
horas, lutando contra o relógio, era preciso desenvolver um projeto estrutural ou de
arquitetura. Sempre assim, rigorosa era a prova escrita, oportunidade para demonstração de
cultura do candidato. Por ocasião do exame de títulos e documentos, já se exigia dos
postulantes um grande volume de trabalhos publicados, assim como de cursos ministrados e
de projetos executados.
Era, pois, neste ambiente, superando dificuldades – trabalho não mata ninguém –, que ainda
se buscava tempo para pesquisar. Visando a acumular títulos, trabalhos e comunicações eram
26 apresentados periodicamente em congressos e simpósios, tais como as Jornadas Sul-
Americanas de Engenharia, na Europa, aqui, ou acolá. Tais trabalhos, depois de aceitos, eram
publicados em anais. Do mesmo modo, artigos eram escritos para revistas especializadas. Desta
forma, paulatinamente, cada pesquisador ia enriquecendo seu currículo.
Foi este o cenário que encontrei quando ingressei como Professor Assistente na Escola
Nacional de Engenharia e na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil
(hoje, UFRJ). Pela manhã dava aulas nas duas unidades, à tarde trabalhava em escritório de
projeto de estruturas e, à noite, ocupava-me como Diretor Secretário do periódico Estruturas
- Revista Técnica das Construções, isto era um meio propício para o intercâmbio com grandes
centros do exterior. Durante o período de férias escolares, escrevia meus livros.
Vale rememorar que, semanalmente, um grupo interessado reunia-se na Divisão Técnica
de Estruturas do Clube de Engenharia, quando então o delegado brasileiro no Comité
Européen du Béton (posteriormente, Comité Euro-International du Béton), Fernando Lobo
Carneiro, nos dava notícias, em primeira mão, das pesquisas que eram feitas na Europa no
âmbito do Concreto Armado. O intercâmbio que a referida Revista mantinha com o
Laboratório Nacional de Engenharia Civil (Lisboa) e com os congêneres laboratórios de
Estocolmo e de Bergamo (Itália) nos propiciava acompanhar passo a passo o que acontecia
nos países mais avançados. O Brasil não fazia feio. Certa feita, os representantes da União
Soviética junto ao CEB reivindicavam o mérito de terem sido os pioneiros do
dimensionamento de concreto armado no regime de ruptura. No entanto, foi comprovado
que já estava normatizado na nossa NB-1, publicada bem antes da data apontada pelo
delegado soviético. Notícias como esta nos enchiam de orgulho e nos motivavam a ousar em
nossos projetos de pontes, alguns dos quais tinham a sua solução quando inédita comentada
na revista francesa Travaux Publics, que publicava foto da obra já concluída.
Merece registro algo que também era motivo de grande estímulo. Naquele tempo o DNER,
ao fazer as concorrências para a construção de pontes, adotava o seguinte processo: cada
concorrente apresentava um anteprojeto estrutural de um especialista da área e a proposta
para a sua execução por uma firma construtora. Uma banca do DNER atribuía notas aos
projetos, devidamente rubricados por todos os concorrentes, levando em conta também o grau
de audácia. Só então, após a publicação dos graus, eram abertas as propostas dos construtores.
A firma que apresentasse o menor quociente entre preço e nota era a vencedora da
concorrência. Obviamente, a obtenção de uma nota 10 permitia um preço maior do que o de
um concorrente com nota inferior. A emulação entre os projetistas exigia a constante
atualização de conhecimentos, o que não deixava de ser um caminho de investigação e criação.
Como Professor Assistente na cadeira de Estabilidade das Construções, na Escola Nacional
de Engenharia, e na cadeira de Concreto Armado, na Faculdade Nacional de Arquitetura – o
catedrático era o mesmo –, notava que meus colegas – assistentes como eu – faziam
comparações descabidas entre alunos de talentos diferentes e comentários até mesmo
27 desairosos. E, pior, cobravam dos alunos de Arquitetura, injustamente, com excessivo rigor, o
que não lhes fora administrado adequadamente. Usavam, por assim dizer, em suas aulas, a
mesma linguagem que, se era compreendida por uns, para outros, devido às diferenças – por
sinal benditas diferenças –, não fazia o menor sentido.
Ao lidar com os alunos de Arquitetura, muita vez, na busca de uma solução estrutural
diante de um trabalho escolar de projeto de arquitetura, ao sermos consultados e ao
sugerirmos certo caminho, era muito comum ouvir: “Pode isto? Que bom! Então posso
melhorar o meu projeto modificando desta forma...” Com este contato e a familiaridade
crescentes, éramos levados a entender a alma dos arquitetos e crescia nossa admiração pela
imaginação criadora dos alunos, dos quais se poderia esperar um belo futuro, alguns, quiçá,
capazes de no porvir produzir verdadeiras obras de arte, dignas da admiração de todos os que
têm um mínimo de sensibilidade.
O Estudo da História da Arquitetura me atraía cada vez mais. Sempre que podia assistia às
conferências de grandes arquitetos, daqui e de além-mar, que nos visitavam. Isto me ajudou
como engenheiro estrutural, pois, além de dedicar-me às estruturas de edifícios, empolgou-
me o projeto de pontes, quando se tem o seu sentido estrutural aprimorado, vale dizer,
quando se sente o funcionamento da obra como um todo e se pode produzir algo com uma
dose de veia arquitetônica. Não é à toa, pois, que as pontes são chamadas "obras de arte".
O Assistente ia evoluindo com seus alunos de Arquitetura. Quando afirmava "eu aprendo
com meus alunos", isto não era demagogia, mas, em verdade, já aconteciam estímulos
recíprocos e, por assim dizer, admiração mútua.
Trabalhava num escritório de engenharia, num prédio cujas salas davam para uma varanda
comum a todas. Uma pequena mureta delimitava o trecho de varanda de cada uma. O vizinho
era um arquiteto e, nos momentos de descanso, quando íamos à varanda e nos
encontrávamos fortuitamente, ele me mostrava suas primeiras ideias de um projeto e
naturalmente pedia-me a opinião. No início da criação a liberdade deve ser total, mas non
troppo. Há um instante em que é preciso pensar na solução estrutural, não antes, para não
comprometer a liberdade, nem muito tarde, mas que não se pode esquecer em hipótese
alguma. Há um momento para o diálogo entre estruturista e arquiteto acontecer e que
conduzirá sempre à melhor solução do ponto de vista arquitetônico.
Sem poder decidir, inconformado e profundamente contrariado, observava que no exame
final se aplicava aos alunos de Arquitetura o mesmo rigor que aos alunos de Engenharia:
cobrava-se, por exemplo, a dedução de fórmulas em prova oral, o que não contribuía em nada
para o desenvolvimento do futuro arquiteto. Mais tarde, já cabendo a mim decidir, em certa
ocasião, por uma feliz coincidência, no mesmo dia, o tema da aula numa turma de Engenharia
era idêntico ao de outra de Arquitetura. Eu me fazia acompanhar de um auxiliar de ensino
que, notando na agenda que o tema da aula era o mesmo, solicitou-me para ser dispensado
e sair mais cedo. Retorqui: “Absolutamente não!” Ele me acompanhou para a segunda aula e,
28 ao final, disse: “Você tinha razão. Você deu uma aula completamente diferente.” É necessário
usar a linguagem de cada um.
Por ocasião da Reforma de Ensino, ao final da década de 60, a oportunidade de ouro
surgiu, já que era preciso modificar os currículos de todos os cursos. Coube-me a tarefa de
sugerir um para a Faculdade de Arquitetura. Era a chance única de pensar disciplinas como
um todo, percorrendo um caminho gradativo para fazer brotar o talento inegável latente no
futuro arquiteto.
Agora, com apoio oficial, era o momento de pôr em prática o que já vinha antes,
extraprograma, experimentando com os meus alunos. Propus, então, a criação de uma
disciplina, que chamei de Composição e Modelagem das Estruturas, destinada a ambientar
previamente os alunos para os problemas e soluções estruturais, sem a preocupação de
quantificar esforços e tensões, vale dizer, uma análise meramente qualitativa dos fenômenos
estruturais. Só depois, despertada a curiosidade, é que se tratava da análise quantitativa.
Uma vez criada a disciplina, na primeira vez em que figurava na grade curricular, eu mesmo
a ministrei, coadjuvado por um professor duplamente graduado: primeiramente, pela Escola
de Belas Artes e, posteriormente, pela Escola de Engenharia. Ele completava, nas aulas
práticas, minhas exposições orais, graças, sobretudo, à especial aptidão que tinha na execução
de modelos em acrílico, cartolina, madeira ou borracha.
Esta disciplina foi imitada por todas as Faculdades do Rio de Janeiro e a este professor
coube ministrar os cursos em todas elas, o que teve a vantagem de unificar o ensino da
disciplina em toda a cidade. Posteriormente, o Ministério da Educação resolveu preconizá-la,
também, nos cursos de Engenharia, o que, em verdade, não veio a acontecer.
Em 1977, era eu, ainda, Diretor da FAU/UFRJ, quando lá acontecia um concurso para o
magistério. Um dos examinadores, Professor e Diretor da Escola de Engenharia da
Universidade Federal da Bahia, em conversa comigo, contou-me que lhe fora confiada, pelo
DAU/MEC, a tarefa de explicar a “filosofia de certa disciplina a ser criada nos Cursos de
Engenharia” com um texto que, uma vez elaborado, seria enviado a todas as Escolas do país.
Disse-me que estava em dificuldade para realizar essa tarefa. Então, prontamente, dei-lhe um
exemplar da minha tese sobre o ensino de estruturas. Diga-se, de passagem, que este
professor fazia parte da Comissão encarregada de dar parecer para autorização de
funcionamento e/ou reconhecimento de Escolas de Engenharia em todo o país. Qual não foi
minha surpresa quando o Diretor da Faculdade de Engenharia da Fundação Técnico-
Educacional Souza Marques disse-me: “O senhor já soube desta novidade?” Ao ler o que me
apresentava, eu exclamei: “Mas isto é da minha lavra!” Com efeito, verifiquei que, com
variação de certas palavras, o professor se louvara no meu trabalho e não tivera, sequer, a
delicadeza de fazer uma mera referência. Constrangido, não hesitei em manifestar minha
indignação pelo fato e referir-me ao mesmo em prefácio de um dos meus livros.
“Foi com satisfação que vimos as ideias por nós expostas, na tese “Considerações sobre o
29 ensino de estruturas nos cursos de formação de arquitetos” (1968), na conferência, por nós
pronunciada, na Universidade de Brasília, por ocasião da Fundação da Associação Brasileira
de Escolas de Arquitetura (publicada no nº 12 da revista “Educação” do MEC – 1973), em outra
conferência pronunciada em São Paulo, na oportunidade em que tivemos a honra de dirigir o
1º Encontro de Professores de Estruturas de Escolas de Arquitetura – 1974 (publicada pela
ABEA) adotadas pelas altas autoridades do Ministério da Educação quando introduziram na
matéria Teoria das Estruturas do novo Currículo mínimo de Escolas de Engenharia,
recentemente aprovado, a parte de Morfologia das Estruturas.
Tal assertiva se depreende da divulgação, pelo ilustre Professor Ruy Carlos Camargo Vieira
muito digno Diretor Adjunto do DAU, das “recomendações sobre a matéria “Teoria das
Estruturas” (abril de 1977) e sobretudo do documento esclarecedor, apresentado em anexo,
da lavra do ilustre Diretor da Escola de Engenharia da Universidade Federal da Bahia, que
conosco conversou, em várias ocasiões, e que, para honra nossa, em nossos trabalhos acima
citados se baseou.
Soube depois, por colegas meus, que o referido diretor, em conferência na COPPE/UFRJ,
teria se penitenciado e pedido desculpas pelo fato.
Ao ser criada a Associação Brasileira de Escolas de Arquitetura, era eu Diretor da FAU/UFRJ
quando, por iniciativa do Primeiro Presidente da ABEA e Diretor da Escola de Arquitetura da
USP, foi realizada a 1ª Reunião da Associação para discutir o problema do Ensino de Estruturas.
Coordenei o Encontro e preparei sua programação. A reunião aconteceu no vetusto prédio da
FAU, no centro da cidade de São Paulo. Curiosamente, por toda a parte, em ladrilhos e azulejos,
se via AP, obviamente não eram as minhas iniciais como pilheriavam alguns colegas, e sim as do
nome de família do doador do prédio, Álvares Penteado. Os anais desta reunião se constituíram
num importante documento, que contou com a colaboração de ilustres professores de
Arquitetura de São Paulo e de outros estados.
Posteriormente a ABEA pediu-me outro trabalho, que publicou e distribuiu por todas as
Escolas de Arquitetura do país. Na oportunidade, recusei um cheque de 10000 unidades
monetárias da época. Considerei-me pago apenas pela alegria que nossas ideias poderiam ser
a semente para produzir frutos tão almejados que poderiam levar ao aperfeiçoamento do
ensino de estruturas.
Às vezes me perguntam o que aconteceu na FAU. Convocado para Diretor da FAU, depois
Decano do Centro de Letras e Artes e, finalmente, Reitor da Universidade, fiquei 12 anos
empenhado em problemas complicados e administrando crises e, finalmente, realizando a
abertura democrática na universidade, onde havia total liberdade de manifestação, assunto
para noticiários de manhã e à noite na televisão, com trechos de entrevistas.
Livre de qualquer função administrativa, para surpresa de muitos, já podendo me
aposentar, voltei à sala de aula na Faculdade de Arquitetura, que me era tão cara, e dediquei-
30 me ao ensino nas disciplinas Estruturas de Concreto Armado II e Composições Estruturais. Já
na primeira dava um trabalho prático a ser desenvolvido em todo o período. Consistia, este,
de um projeto arquitetônico, cujo programa era apresentado a cada um dos alunos. Tratava-
se de um edifício de habitação em cuja garagem, no subsolo, devia haver certo número de
vagas (2 ou 3 por apartamento, conforme o seu tamanho). Para a parte de Arquitetura havia
total liberdade de criação do anteprojeto. Porém, como era exigida a marcação dos pilares
para atender ao andar-tipo e à garagem, pequenas modificações deveriam ser introduzidas
no anteprojeto para se chegar ao projeto final. Na parte concernente à disciplina
propriamente dita, pedia-se sempre, entre outras coisas:
1. Estimar as cargas nos pilares, usando um processo expedito, e suas áreas;
2. Calcular as cargas e os esforços, dimensionar e detalhar: uma laje, uma viga
simplesmente apoiada e uma viga contínua;
3. Dimensionar e detalhar as armaduras de um pilar central, de um lateral e de outro de
canto, desde a fundação até a cobertura.
Qual não foi a minha surpresa quando me fizeram perguntas relativas à composição de
Arquitetura, tais como: escadas, áreas de ventilação e tantas outras. Foram anos de muita
alegria pela empatia com os jovens e carinho recíprocos.
Aposentado há algum tempo, recebi em minha residência Rita Saramago, que, na verdade,
estava percorrendo o país, numa alentada investigação para configurar o retrato da pesquisa
no Brasil sobre o Ensino de Estruturas para arquitetos. No meu entendimento, ela não só deu
uma fotografia bem nítida, sobre o que se estava fazendo, como também analisou
dissertações de Mestrado e teses de Doutorado que foram objeto daqueles que enfrentaram
o desafio de tentar solucionar um problema fundamental para os arquitetos que continua a
ser motivo de preocupação.
Repito sempre o “óbvio ululante”, como diria Nelson Rodrigues: é preciso não esquecer
que os grandes arquitetos da antiguidade criavam suas obras, concebiam os sistemas
estruturais que as sustentavam e, também, o sistema construtivo. As disciplinas de História e
de Teoria da Arquitetura devem contar com a colaboração de um professor de Estruturas, que
poderá muito contribuir para análise crítica de cada obra. Isto vale também para as obras
recentes que devem ser objeto de uma análise crítica.
Lamentavelmente, verifica-se, em algumas escolas, a tendência de reduzir, cada vez mais,
a carga horária de Estruturas na grade do curso. Impõe-se, como no passado, a
obrigatoriedade do cumprimento de um currículo mínimo, estabelecido em normativa do
MEC, com certo grau de detalhamento.
Acredito que deste encontro possam surgir luzes que hão de permitir, principalmente aos
jovens, encaminhar diretrizes, objetivando implantar e aperfeiçoar as ideias das várias
31 cabeças pensantes destacadas em sua dissertação pela jovem colega Rita Saramago. São os
votos deste velho professor.
Muito obrigado!
SUMÁRIO TEMA 01
NOVAS ORIENTAÇÕES PARA O ENSINO DE ESTRUTURAS NAS ESCOLAS DE ARQUITETURA
ARTIGOS TEMA 01
Novas orientações para o ensino de estruturas nas escolas de arquitetura
É IMPORTANTE COMEÇAR BEM – CONTRIBUIÇÕES DIDÁTICAS DE UMA
DISCIPLINA INICIAL DE SISTEMAS ESTRUTURAIS
LEITE, Maria Amélia Devitte Ferreira D´Azevedo (1); BRAZ, João Carlos Rocha (2)
RESUMO
O ensino de estruturas em Arquitetura se implantou no Brasil influenciado pelo desprestígio da
formação tecnológica frente ao aprendizado de projeto e teoria, e pela tradição politécnica de um
período “introdutório” de conteúdos de formação geral, com evidentes consequências para o
aprendizado. O tema motivou os autores a realizar procedimentos de inovação curricular, colocados
em prática na disciplina “Sistemas Estruturais para Arquitetura I”, de 2004 a 2015 na FAU/PUC-
Campinas, referenciados em pesquisas no âmbito de mestrado e doutorado. Objetivando dar
significado ao aprendizado da estrutura e propiciar a imediata incorporação dos conteúdos
trabalhados às demais áreas logo a partir do ingresso no curso, a prática didática baseou-se em
metas de aprendizagem: identificação tipológica clara das estruturas arquitetônicas e de suas partes
componentes no conjunto da edificação; compreensão das condições de equilíbrio e estabilidade
externas e internas; conhecimento dos esforços e carregamentos; e, compreensão dos critérios para
seleção de materiais e alternativas estruturais. Utilizou-se para tal uma mescla de métodos: teórico-
conceitual, visualização física, estudo de estruturas arquitetônicas existentes, experimentação
construtiva, verificação matemática e procedimentos de avaliação processual ou contínua. Os
resultados foram verificados com consultas sobre ensino-aprendizagem apresentando resultado
satisfatório e potencial evidente para melhorias. A experimentação construtiva se mostrou um
instrumento eficaz de estímulo e sensibilização como recurso introdutório. Explicitou-se a
necessidade de procedimentos de trabalho integrados com as demais disciplinas do curso. A dupla
mista de professores – arquiteta e engenheiro civil – mostrou-se eficaz na elaboração de
conhecimentos em classe.
Palavras-chave: Aprendizagem estrutural; Ensino de estruturas; Estruturas arquitetônicas.
ABSTRACT
The teaching of structures in Architecture was implanted in Brazil influenced by the lack of prestige of
the technological formation compared to the learning of design and theory, and by the Engineering
schools tradition of an "introductory" period of contents of general formation, with evident
consequences for the learning. The theme motivated the authors to carry out some curricular
innovation procedures, put into practice in the discipline "Structural Systems for Architecture I", from
2004 to 2015 at FAU / PUC-Campinas, and referenced in researches in master's and doctorate degree.
Aiming to give meaning to the learning about structure and to provide the immediate incorporation
of the learned contents at the student work in the other areas, since the entry in the course, didactic
practice was based on learning goals: typological identification of the architectural structures and
their parts in the whole building; understanding of external and internal balance and stability
conditions; knowledge of forces and loads; and, understanding of criteria for material selection and
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
O ensino de estruturas se implantou nas escolas brasileiras de Arquitetura e Urbanismo
influenciado pelo desprestígio da formação tecnológica frente ao aprendizado de projeto e
teoria, e pela tradição politécnica de um período “introdutório” ou “básico” de conteúdos de
formação geral em matemática e física, dinamizada pela reforma do ensino universitário
(MEC/USAID) promovida pelo regime militar1, potencializando deficiências ainda hoje
verificadas no aprendizado deste campo de conhecimento.
Tal consideração parte, por um lado, da formulação curricular adotada pelas escolas
autônomas pioneiras, surgidas no primeiro quartel do século 202, marcada pelo desejo de
“restabelecer no Brasil o prestígio histórico da arte de projetar” (ARTIGAS, 1974; In: ABEA,
1978, p. 33), com referência clara à ação separatista em relação aos cursos politécnicos de
formação de engenheiros-arquitetos e às academias de Belas Artes. Destaca-se, neste
contexto, o protagonismo das escolas paulistas – EA/Mackenzie e FAUUSP – na definição de
padrões de ensino tornados exemplares durante décadas, servindo de modelo aos
numerosos cursos criados a partir da década de 70, principalmente.
Inicialmente, as escolas autônomas adotaram currículos híbridos derivados de sua origem
dicotômica, em uma efetiva “somatória de disciplinas”3. Na FAUUSP, por exemplo, pelas
matérias de tecnologia e de técnicas respondiam engenheiros, professores da Escola
Politécnica, e pelas matérias artísticas respondiam arquitetos considerados “modernos” e
defensores do ensino autônomo, como Zenon Lotufo, Vilanova Artigas, Anhaia Mello e
Oswaldo Corrêa Gonçalves, entre outros.
1
Juntamente com a departamentalização, a matrícula por disciplina (regime de créditos), a unificação do
vestibular por região (ingresso por classificação) e a fragmentação do grau acadêmico da graduação, a
instituição do “curso básico” compunha o conjunto de medidas reestruturadoras do ensino superior
instaurados pelo governo nos vinte anos de ditadura militar após o golpe de 1964, implantadas com o auxílio
da agência estadunidense USAID (United States Agency for International Development), e com o propósito de
expandir o sistema universitário na perspectiva da nova ordem político-econômica.
2
Incluem-se neste grupo: Escola de Arquitetura de Belo Horizonte (1930), atual FAU/UFMG; Faculdade
Nacional de Arquitetura no Rio de Janeiro (1946), atual FAU/UFRJ; Escola de Arquitetura Mackenzie (1947),
atual FAU/UPM; e, a FAUUSP (1948).
3
Expressão adotada por Vilanova Artigas para definir o currículo original aplicado à FAUUSP.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Vê-se, portanto, que a instituição do ensino autônomo não partiu de uma nova
concepção didático-pedagógica, específica para a área de Arquitetura.
O tipo de organização do curso e o relacionamento entre os engenheiros e os
arquitetos não conduziram a uma integração de conhecimentos, pelo contrário,
fizeram com que predominasse uma orientação divergente, dicotômica, podendo-
42 se até mesmo dizer, conflituosa, impedindo uma integração entre as duas
orientações, a artística e a técnica (CARVALHO JR., 1994, p. 224).
4
Posteriormente denominado Departamento de Tecnologia.
5
Atual Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo.
6
No Brasil, houve particular influência do modelo germânico, caracterizado por um processo de formação
unificado, a partir de um Curso Fundamental introdutório e obrigatório a todas as especialidades da
Engenharia, seguido então dos Cursos Especiais. No sistema francês, o Curso Fundamental era preparatório ao
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
ingresso nas demais escolas de Engenharia (École des Ponts et Chaussées, École de Mines, etc.), onde eram
ministrados os cursos especiais.
7
Mesmo com formações muito próximas, tornou-se comum certa especialização nas duas áreas, sendo
atribuída ao engenheiro-arquiteto a construção de casas e prédios e, ao engenheiro-civil, a parte de
saneamento, pavimentação e obras de arte.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
8
Estudos detalhados sobre o assunto podem ser encontrados em: LEITE, M. A. D. F. A. O ensino de Tecnologia
em Arquitetura e Urbanismo. 1998. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.; e, LEITE, M. A. D. F. A. A aprendizagem tecnológica do arquiteto.
2005. Tese (Doutorado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 1 – Evolução da Carga Horária Total Média dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo10
6000
45
5000
4000
3000
2000
1000
0
1940 1948 1969 1994 1998 2017
60
50
40
30
20
10
0
1940 1948 1969 1994 1998 2017
9
Amostra significativa deste comportamento curricular pode ser observada na análise dos projetos
pedagógicos vigentes em 10 cursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil constante em: UNIFESP
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO. Projeto Político Pedagógico Curso de Arquitetura e Urbanismo.
Documento para Debate em Sessão no dia 26 de agosto de 2015. São Paulo, 2015.
10
Dados até 1998 obtidos em LEITE, 1998, e, para 2017, em UNIFESP, 2015.
11
Idem nota de rodapé anterior.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2. ANTECEDENTES
Criada em 1974, a FAU/PUC-Campinas figura como uma das escolas referenciais na
formação de arquitetos urbanistas no Estado de São Paulo, e com reconhecimento nacional
por sua trajetória, densidade de egressos de graduação e pós-graduação, iniciativas
46 inovadoras, histórico de contribuições sobre o trinômio ensino-pesquisa-extensão, bem
como a representatividade junto a entidades acadêmicas e profissionais. Dentre as boas
práticas já empreendidas, destacam-se os Fóruns – instâncias democráticas internas de
discussão, encaminhamento de propostas e deliberação – que, principalmente nas três
primeiras décadas da escola, foram definidores de mudanças, ajustes e inovações
importantes no projeto pedagógico, em uma ação de efetiva interação entre professores,
alunos e funcionários na busca de soluções para os problemas verificados.
O XIº Fórum, realizado em outubro de 1993, originou-se dos encaminhamentos do
Seminário sobre Tecnologia e o Ensino de Arquitetura, cuja coordenação esteve a cargo da
autora, e teve como núcleo central dos debates a formação tecnológica do arquiteto. A
motivação para a realização dos dois eventos foi o conjunto de deficiências verificadas à
época no curso, em especial, desinteresse e baixo desempenho dos alunos nas disciplinas
específicas, pouca interação com a exercitação projetual, currículo fragmentário,
desvinculação com a realidade e ausência de experimentação construtiva 12. Os efeitos dos
resultados obtidos foram longevos e graduais, e de variadas ordens, estendendo-se até
2003. De imediato, significaram, apenas por sua ocorrência, uma evidente transformação no
comportamento do Departamento de Tecnologia, caracterizado historicamente por uma
atitude inercial e refratária a mudanças, surgindo da parte dos professores maior
disponibilidade para a troca de ideias e informações, preocupação em contribuir para a
Unidade do curso e uma percepção mais apurada do papel da área no contexto geral do
projeto pedagógico.
Em verdade, os dois eventos contribuíram para a intensificação da discussão interna
sobre o processo de formação, com repercussão ampla entre todos os Departamentos.
Como produto mais palpável do processo, pode-se considerar a reformulação curricular
ocorrida, dividida em três categorias de ações:
Aspectos de reestruturação voltados à caracterização dos três anos iniciais como de
“natureza conceitual e formativa”, e nos quais as disciplinas atuariam “introduzindo os
conceitos gerais da Arquitetura”, enfatizando a exercitação e a experimentação. Como
intenção e também consequência, concentrou-se neste período parte substancial da
carga horária, objetivando-se liberar os dois últimos anos para a realização de estágios e
outras atividades complementares;
Alterações de conteúdos, criação de novas disciplinas e rearranjos da grade curricular;
Estruturação do Departamento de Tecnologia em quatro sequências – Conforto e
Ambiente, Estruturas, Construção e Exatas – com vistas a aperfeiçoar os processos
12
Descrição pormenorizada de todo o processo pode ser encontrada na Dissertação de Mestrado da autora
(LEITE, 1998).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
13
A FAU/PUC-Campinas oferece anualmente 150 vagas no Processo Seletivo. Os alunos ingressantes são
divididos em duas turmas, A e B. O currículo oficial é aplicado à Turma A, e a Turma B segue a grade invertida.
Como as disciplinas de Tecnologia, em geral, implicam conteúdos sequenciais seriados, são criados hiatos entre
as disciplinas de uma mesma sequência. Nas outras áreas, partindo-se da premissa de que a “ordem dos
fatores não altera o produto”, é feita a inversão de oferta na grade, semestre a semestre. Análises sobre o
assunto podem ser consultadas em Leite (1998).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Estabilidade
Sist. Estrut. Resist.dos para Arquit. II
das
para Arquit. I Materiais - Madeira e
ESTRUTURAS
Construções
49 Metal
Sist. Estrut.
TURMA B
Estabilidade
Sist. Estrut Resist. dos para Arquit.
das
para Arquit. I Materiais II -Madeira
Construções
e Metal
TURMA TURMA
Conforto Conforto
A
Ambiental: Ambiental:
CONFORTO E
AMBIENTE
Térmico Ilumin./Acúst.
Conforto Conforto
B
Ambiental: Ambiental:
Ilumin./Acúst. Térmico
Infraestr.. Instalações e Instalações e
TURMA A
Topografia
EXATAS
Topografia
Dado seu caráter inicial, entendeu-se que Sistemas Estruturais para Arquitetura I teria a
tarefa de introduzir um repertório técnico básico para permitir ao aluno tanto o percurso
dentro da sequência específica, como, principalmente, a incorporação e a integração
imediatas dos conhecimentos elaborados às demais áreas do curso, dinamizando seu
aprendizado. Definiram-se, assim, as seguintes metas de aprendizagem:
a) Identificação clara das estruturas arquitetônicas e da tipologia de suas partes
componentes no conjunto total da edificação;
b) A compreensão das condições externas (conjunto) e internas (seções) de equilíbrio e
estabilidade das estruturas;
c) O conhecimento dos esforços e carregamentos;
d) A compreensão dos critérios gerais para seleção de alternativas estruturais e adoção
dos materiais e das técnicas construtivas adequados, em termos conceituais,
econômicos, estáticos e de verificação matemática.
A definição das metas ou objetivos pretendidos buscou seguir preceitos contemporâneos
apregoados por estudiosos do currículo sobre a importância de um plano para o trabalho
docente, com vistas a uma maior clareza quanto à contribuição da disciplina para a aquisição
de habilidades e competências técnicas pelo aluno no âmbito global do curso, bem como a
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
14
Conceito de estrutura, critérios de adoção da melhor solução, papel da concepção e do cálculo estrutural.
15
Características e comportamento estrutural de blocos, barras e lâminas, critérios para aplicação em sistemas
estruturais.
16
Cargas permanentes e acidentais – classificação, quantificação e geometria nas estruturas.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
esclarecimento de dúvidas
Aula 12 TENSÃO17 (Apresentação teórico-conceitual pelos professores + modelos didáticos,
reflexão coletiva)/ Exercícios aplicativos dos itens estudados (Conceito de estrutura/
Geometria/ Carregamentos/ Tensão)
Aula 13 EQUILÍBRIO EXTERNO NAS ESTRUTURAS18 (Apresentação teórico-conceitual pelos
professores + modelos didáticos, reflexão coletiva)/ Exercícios aplicativos dos itens
51
estudados (Conceito de estrutura/ Geometria/ Carregamentos/ Tensão/ Equilíbrio
externo)
Aula 14 EQUILÍBRIO INTERNO NAS ESTRUTURAS19 (Apresentação teórico-conceitual pelos
professores + modelos didáticos, reflexão coletiva)/ Exercícios aplicativos dos itens
estudados (Conceito de estrutura/ Geometria/ Carregamentos/ Tensão/ Equilíbrio
externo e interno)
Aula 15 EQUILÍBRIO INTERNO NAS ESTRUTURAS (Apresentação teórico-conceitual pelos
professores + modelos didáticos, reflexão coletiva)/ Exercícios aplicativos dos itens
estudados (Idem Aula 14))
Aula 16 Avaliação 3 (individual, com consulta) - Peso 5
Aula 17 Apresentação da correção das questões da Avaliação 3, resultados acadêmicos e
esclarecimento de dúvidas
Aula 18 Atividade de recuperação20 (individual)
Fonte: Os autores, 2017.
17
Conceito de tensão, tensões normais e tangenciais, tensões características dos materiais, coeficientes de
segurança, tensões de trabalho.
18
Deslocamentos e movimentos nas estruturas.
19
Esforços nas seções, deformações, hierarquia dos esforços, conceito de inércia.
20
Obrigatória na Universidade para todos os cursos.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
21
REBELLO, Y. C. P. A Concepção Estrutural e a Arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000.
22
Maior aprofundamento sobre o assunto se pode auferir no Capítulo 2 – Considerações sobre ensino-
aprendizagem da Dissertação de Mestrado de Yopanan C. P. Rebello (REBELLO, 1994).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 3 – Modelos didáticos para demonstração de fenômenos físicos incidentes e geometria dos
elementos estruturais
53
Figura 4 – Modelos gráficos e físicos de obras estudadas no Exercício em equipe para demonstração
dos esforços estruturais e sua hierarquia
54
Fonte: Alunos de Sist. Estruturais para Arquitetura I, 2008, 2009, 2010, 2012, 2013 e 2014 23. A autora, 2015.
23
Respectivamente: YAMAMOTO, A. A. et alli; NEVES, C. G. et alli; CARDUCCI, A. C. L. et alli; PAZ, A. et alli;
MICHELAZZO, B. et alli; e, OLIVEIRA B. et alli.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
24
Prazer em ensinar; empenho em explicar claramente; dedicação no trabalho; atenção aos alunos com
dificuldade; comunicação e diálogo com os alunos; experiência profissional e conhecimento do assunto.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Própria participação na Disciplina = Muito bom = 9% a 9,5%; Bom = 69% a 79%; Regular
= 12% a 21,5%; Ruim = 0%;
Melhores aspectos da Disciplina: Conteúdos programáticos = 40,5% a 57%; Práticas
didáticas = 27% a 37%; Postura do professor = 16% a 19%;
58 Piores aspectos da Disciplina: Não há = 20%; Conteúdos programáticos = 9% a 22%;
Práticas didáticas = 59,5% a 60%25; Carga horária do curso = 9,5% a 11,5%26.
Complementarmente, foi realizada consulta aos docentes responsáveis pelas disciplinas
cursadas pelos alunos nos dois semestres subsequentes à conclusão de Sistemas Estruturais
I, objetivando-se a identificação de eventuais diferenças de desempenho e postura
acadêmica dos mesmos comparativamente aos alunos de anos anteriores. As respostas, de
natureza qualitativa, apontaram que os alunos: revelavam-se mais interessados quanto aos
princípios estruturais dos edifícios estudados (Arquitetura Moderna); apresentavam melhor
interpretação conceitual da estrutura no tocante às cargas, tipologia e comportamento
estático, bem como melhor conhecimento da linguagem técnica sobre estrutura e materiais
construtivos e, em geral, melhor rendimento na disciplina (Resistência dos Materiais);
passaram a ter um olhar mais atento sobre a estrutura, reconhecendo e identificando com
clareza os componentes estruturais/ conheciam os conceitos e fenômenos estruturais,
embora, por vezes, não associados à arquitetura proposta/ evidenciavam falta de maior
interatividade entre as disciplinas tecnológicas, de teoria e de projeto (Projeto C).
Nos nove anos subsequentes, manteve-se a consulta aos alunos quanto aos resultados de
aprendizagem, realizada ao final do Exercício em equipe, e como item do Relatório analítico-
crítico sobre a obra estudada. Repetidamente, foram relevados positivamente os seguintes
aspectos: ampliação do repertório técnico sobre arquitetura e construção; resignificação do
trabalho em equipe como integrador das diversas inteligências; maior predisposição para a
elaboração conjunta de conhecimentos; compreensão clara dos fenômenos e tipologias
estruturais; desenvolvimento de métodos próprios para o estudo de obras arquitetônicas; e
aquisição de autonomia de pensamento.
4. CONSIDERAÇÕES
O trabalho realizado na disciplina de Sistemas Estruturais para Arquitetura I possibilitou a
confirmação sobre a validade das metas de aprendizagem estabelecidas de início e mantidas
ao longo de todo período, tendo em vista o papel a ser desempenhado como momento
inicial da sequência de Estruturas. Os alunos, em sua maioria, apresentavam no período
imediatamente sucedâneo um domínio satisfatório sobre os conteúdos trabalhados e
apuramento do pensamento crítico na análise dos objetos arquitetônicos. A ausência de
25
Exercícios de cálculo extensos e de difícil compreensão; falta de experimentação em canteiro; pouca
exemplificação real; repetição de conteúdos; pouco aprofundamento; explicação insatisfatória; aula pouco
atrativa; pouca exercitação teórico-prática.
26
Observe-se como é sensível o aspecto das práticas didáticas, dado que este comparece na avaliação de forma
expressiva tanto positiva como negativamente.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
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arquitetura no Brasil. São Paulo: ABEA, 1978.
CARVALHO JR., J. M. Prática DA ARQUITETURA E CONHECIMENTO TÉCNICO. 1994. Tese (Doutorado)
– Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1994.
DIMENSTEIN, G.; ALVES, R. Fomos maus alunos. Campinas: Papirus Editora, 2003.
FERREIRA, R. B.; FROTA, P. R. O. Conceito de avaliação processual: um estudo de caso na unidade
acadêmica de ciências sociais aplicadas. Disponível em:
<http://gpprf.blogspot.com.br/2011/08/conceito-de-avaliacao-processual-um.html>. Acesso em:
16abr.2017.
LEITE, M. A. D. F. A. A aprendizagem tecnológica do arquiteto. 2005. Tese (Doutorado) – Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
LEITE, M. A. D. F. A. O ensino de Tecnologia em Arquitetura e Urbanismo. 1998. Dissertação
(Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
REBELLO, Y. C. P. Contribuições para o Ensino de Estruturas em Escolas de Arquitetura. 1994.
Dissertação. (Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1994.
UNIFESP UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO. Projeto Político Pedagógico Curso de Arquitetura
e Urbanismo. Documento para Debate em Sessão no dia 26 de agosto de 2015. São Paulo, 2015.
27
Melhor esclarecimento sobre o assunto pode ser auferido no Anexo I da Dissertação de Mestrado do Prof.
Dr. Eng, Yopanan C. P. Rebello, intitulado “Modelos qualitativos para apoio didático” (REBELLO, 1994).
O ENSINO DE ESTRUTURAS NA FAU/UFRJ: EXPERIÊNCIAS RECENTES E
PROPOSIÇÕES PARA O FUTURO
RESUMO
Arquitetura representa a arte de projetar as construções, seus espaços e formas, com conforto,
funcionalidade e estética. Ao longo dos anos, novas técnicas e materiais geraram novas atribuições
profissionais à arquitetura e isto torna importante a inserção de novas disciplinas na grade curricular
do curso. Tal fato pode gerar uma dificuldade no compartilhamento do conhecimento dentro da
duração padrão de cinco anos do curso. Isso somado à questão cultural dos estudantes, em relação à
prioridade no pensamento de criação das formas e projetos de arquitetura, leva a um cenário de
pouco interesse nas disciplinas de estruturas. Na FAU/UFRJ, os professores destas disciplinas sempre
se preocuparam com essa tendência de desvalorização do conhecimento na área, assim ao longo dos
anos foram agregadas novas disciplinas com enfoque mais qualitativo, destacando a disciplina
Modelagem dos Sistemas Estruturais. Merece destaque ainda a disciplina Concepção Estrutural que
compartilha com outras disciplinas um mesmo projeto num espaço denominado Ateliê Integrado I.
Neste artigo, procura-se demonstrar as experiências e ajustes das disciplinas anteriormente referidas
e das disciplinas de Estruturas de Concreto Armado. Propõe-se um ajuste curricular visando
transformar o aprendizado do conteúdo de estruturas em uma experiência mais simples e agradável
para o aluno, sem perder os conhecimentos básicos para a manutenção das atribuições profissionais.
Palavras-chave: Estruturas; FAU/UFRJ; Experiências; Proposições.
ABSTRACT
Architecture represents the art of designing buildings, their spaces and forms, regarding comfort,
functionality and aesthetics. Over the years, new techniques and materials generated new
professional assignments to architecture and it demanded the addition of new disciplines in course
curriculum. This fact can create a barrier for knowledge sharing considering the standard five year
length of the course. In addition, student’s mindset related to the priority on creating architectural
forms and projects, leads to a scenario of low interest in disciplines of structures. At FAU/UFRJ,
structures disciplines teachers have always been concerned with this trend of knowledge devaluation
in the area. Thus, over the years new disciplines with a more qualitative approach have been added,
highlighting the discipline Structural Systems Modeling. It is worth mentioning the discipline
Structural Conception which shares with other disciplines the same project in a space called
Integrated Studio I. In this article, the authors seek to show the experiences and adjustments in the
previously mentioned disciplines and the Concrete Structures disciplines. A curricular adjustment is
proposed aiming to transform structures learning into a simple and pleasant experience for the
student, without losing basic knowledge necessary in keeping professional assignments.
Keywords: Structures; FAU/UFRJ; Experiences; Propositions.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1 INTRODUÇÃO
A etimologia da palavra arquitetura remonta à Grécia e significa a junção das palavras
fundamento/princípio (arkhé) e construção (tékhton) e, ao longo do tempo, se transformou
na arte de se projetar uma edificação ou um ambiente, criando espaços organizados e
61 funcionais, de forma a atender diferentes atividades.
Entretanto, a arquitetura não está associada somente à arte de criação das formas.
A unificação de cada forma, que constituirá uma edificação, necessita de uma sustentação e
é nesse aspecto que se tem a importância do estudo dos sistemas estruturais e sua análise,
desde a concepção, até o dimensionamento e detalhamento. Entretanto, ainda se observa
uma dicotomia não só entre o belo e o funcional, entre o estético e o econômico, mas
também entre a técnica e a arte.
Estes fatos aliados à inserção de novas técnicas e novos ramos do saber aplicados à
arquitetura fizeram com que, ao longo dos anos, houvesse a necessidade da inclusão de
novas disciplinas com aprendizado diferenciado do que se apresentava nos cursos de
arquitetura e urbanismo. Assim, estas modificações na grade curricular de um curso são
importantes para a formação de um profissional mais qualificado.
No que diz respeito à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (FAU/UFRJ), os professores das disciplinas do Departamento de Estruturas
sempre se preocuparam com a forma de transmissão do conhecimento técnico da área aos
alunos, de forma a ser mais interessante e atrativa, uma vez que há uma tendência de
prioridade no pensamento e criação das formas e projetos de arquitetura.
Neste contexto, a reforma curricular ocorrida em 2006 no curso de Arquitetura e
Urbanismo da FAU/UFRJ promoveu o desenvolvimento de experiências pedagógicas
inovadoras, com enfoque mais qualitativo e experimental, principalmente nos dois primeiros
anos acadêmicos: uma no 1º período, com a criação da disciplina “Modelagem dos Sistemas
Estruturais” onde se estuda a fenomenologia estrutural; e outra, no 4º período, com a
criação da disciplina "Concepção Estrutural", associada ao Ateliê Integrado I. A experiência
pedagógica envolve um total de 240 alunos por ano (120 em cada período).
O estudo dos sistemas estruturais é introduzido através da disciplina Modelagem dos
Sistemas Estruturais (MSE). Nesta disciplina, estudam-se não só as características e
propriedades principais de cada elemento estrutural isolado, mas também as diversas
composições estruturais. A metodologia utilizada no curso explora o uso da intuição no
processo de aprendizagem através de: exemplos tirados de elementos existentes na
natureza, da sensibilidade das reações no corpo humano, de modelos reduzidos de
estruturas feitos pelos alunos, monitores e professores; e exemplos de aplicação de
estruturas na arquitetura e engenharia, através de observações das obras construídas no
passado e no presente, seus sucessos e insucessos. Desta forma, procura-se desenvolver
uma base para o início do estudo do processo quantitativo dos diversos fenômenos
existentes nas estruturas.
Qualquer forma arquitetônica requer uma forma estrutural para a sustentação de um
edifício. A idealização destas duas formas deve ser feita concomitantemente de maneira a
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Na prática, por falta de tempo disponível, o que ocorre é que esses conteúdos não são
ensinados e as deduções das fórmulas básicas das disciplinas ficaram prejudicadas. O ensino
nesse sentido fica técnico, com aplicação de fórmulas prontas. Foi retirada também do
currículo a disciplina de Análise Experimental na reforma de 1996, que na tendência atual
deveria compor boa parte das disciplinas de estruturas.
Outra mudança mais significativa foi a inclusão de Concepção Estrutural no currículo de
2006, disciplina que será apresentada em detalhe posteriormente. As demais disciplinas pouco
mudaram ao longo dos anos, com exceção do nome e de pequenos ajustes de conteúdo.
Figura 1 – Alunos construindo modelos qualitativos na disciplina Modelagem dos Sistemas Estruturais
Figura 2 – Alunos manipulando modelos físicos na disciplina Modelagem dos Sistemas Estruturais
67
70
Fonte: Projetos do Ateliê Integrado I dos alunos Esther Costa e Lucas Gabriel.
71
73
exercitar outros sistemas estruturais como aço, madeira e alvenaria. Além disso, o cálculo
das cargas seria já ensinado nessa disciplina, adiantando conteúdos de Estruturas de
Concreto Armado e de Aço e Madeira.
No 4º período, teria uma disciplina de 2 horas-aula por semana apenas para
75
acompanhamento do Atelier Integrado I chamada Sistemas Estruturais II (SES II), pois os
conteúdos necessários já teriam sido assimilados pelos alunos.
A partir daí, teríamos mais duas disciplinas em dois períodos letivos: Sistemas
Estruturais III (SES III) com conteúdo de projeto de Estruturas de Concreto Armado e
Sistemas Estruturais IV (SES IV) com o conteúdo de Aço e Madeira. A disciplina relacionada
ao dimensionamento de elementos de estruturas de concreto armado condensaria os
conteúdos das antigas Estruturas de Concreto Armado I, II e Sistemas Estruturais: lajes, vigas,
pilares, fundações e escadas. Como seria possível condensar conteúdos de três disciplinas
em uma? Primeiro, o cálculo das cargas já teria sido ensinado anteriormente. Depois, boa
parte do conteúdo de sistemas estruturais ficaria para disciplinas eletivas, ou ainda somente
seria passado por meio de seminários com o entendimento do assunto, tal como relatado
anteriormente. Além disso, o objetivo principal seria o projeto de uma casa, de tal modo que
alguns conteúdos de dimensionamento seriam mais simples, por exemplo: (i) poderia se
ensinar o dimensionamento das lajes pré-moldadas ao invés das maciças; (ii) os pilares e
fundações de uma casa são mais simples de calcular; (iii) poderia se fazer apenas um tipo de
escada. Finalmente, o conteúdo de Aço e Madeira se manteria tal como está, com a
utilização de tabelas prontas para facilitar o dimensionamento.
Observa-se que com as alterações nas disciplinas e com o aumento da carga horária em
SES I (em relação à atual CES) há um equilíbrio maior entre o estudo dos diversos materiais
no ensino de estruturas na nova proposta.
Propõe-se também a criação de uma disciplina eletiva que o aluno se inscreveria ao
necessitar auxílio na orientação do TFG quando o mesmo envolver a concepção de
estruturas arrojadas. Esta disciplina viria a oficializar o que já ocorre atualmente quando o
aluno deseja conceber projetos arquitetônicos que demandam a utilização de estruturas não
triviais e se dirigem aos professores de Departamento de Estruturas com dúvidas de como
proceder nestes casos. Como raramente os professores de estruturas são convidados a
coorientar os TFG’s, justifica-se a necessidade desta disciplina que abrangeria palestras
sobre lançamentos de estruturas especiais e de grandes vãos, além do acompanhamento
propriamente dito dos projetos dos alunos no TFG.
Apesar de ter sido apontado o uso de ensaios experimentais apenas em algumas
disciplinas, a intenção seria que todas as disciplinas tivessem a experimentação como
ferramenta didática. Em ISE I, a experimentação seria tanto na construção de maquetes para
entendimento do funcionamento dos elementos e sistemas estruturais (viga, arco, treliça,
cabos, etc.) quanto para o cálculo da reação de vigas usando para isso balanças de cozinha
nos apoios, por exemplo. Em ISE II, poderiam ser utilizados corpos de prova de concreto para
demonstração de tensão e deformação. Em SES I e II, a experimentação poderia ser
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
5 CONSIDERAÇÕES
A disciplina Modelagem dos Sistemas Estruturais no 1º período do curso, de caráter
lúdico e qualitativo, propicia uma maior facilidade e fluidez no entendimento dos conceitos
básicos para as disciplinas dos períodos subsequentes. Trata-se de uma disciplina criada
exclusivamente para alunos de Arquitetura e Urbanismo.
O formato de integração da disciplina Concepção Estrutural com outras disciplinas do
curso no ateliê proporciona mais participação e interesse dos alunos no tema. Desde a sua
introdução, na grade curricular do curso, no ano de 2006, os resultados obtidos têm sido
satisfatórios e positivos.
A proposta da nova reforma que está em andamento na FAU/UFRJ visa uma melhoria do
processo ensino/aprendizagem para torná-lo mais atraente e participativo aos alunos, uma
vez que o formato e a metodologia das disciplinas estão voltados para uma experiência que
busca o equilíbrio entre o ensino teórico e prático, com a utilização de diversos ambientes
da instituição, tais como laboratórios, oficinas e ateliês.
É importante ressaltar que a adequação do currículo às necessidades atuais não geraria
prejuízo à formação de um profissional qualificado, tendo em vista os conhecimentos
básicos para a manutenção das atribuições profissionais.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
BALTHAR, V. K. C. B. L M; OLIVEIRA, M. B.; VELASCO,R. V. Levantamento do Ensino de Estruturas em
Cursos de Arquitetura e Urbanismo, Relatório FAU/UFRJ, 2013.
BRASIL. Lei nº 12.378 de 31 de dezembro de 2010: Regulamenta o exercício da Arquitetura e
Urbanismo; cria o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil CAU/BR e os Conselhos de
78
Arquitetura e Urbanismo dos Estados e do Distrito Federal CAUs; e dá outras providências. Brasília,
2010.
CAU/BR Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil. Resolução nº 21 de 5 de abril de 2012:
Dispõe sobre as atividades e atribuições profissionais do arquiteto e urbanista e dá outras
providências. Brasília, 2012.
GORDON, J. E. Structures or Why Things Don’t Fall Down. London: Da Capo Press, 1978.
HILSON, B. Basic Structural Behaviour – Understanding Structures From Models. London: Thomas
Telford, 1993.
POLILLO, A. Considerações Sobre o Ensino de Estruturas nos Cursos de Formação de Arquitetos. Rio
de Janeiro: Sedegra-Rio, 1968.
RODRIGUES, P. F. N.; HERMIDA A. S. Modelagem de Elementos Básicos de Estruturas para a Análise
Qualitativa do Comportamento Estrutural. Revista de Ciência & Tecnologia, Nova Iguaçu, v. 6, n. 1, p.
19-28, 2006.
SALVADORI, M. G.; TEMPEL, M. Architecture and Engineering: An Illustrated Teacher’s Manual On
Why Buildings Stand Up. New York: Salvadori Educational Center On The Built Environment, 1983.
SALVADORI, M.; HELLER, R. Structure in Architecture. New Jersey: Prentice Hall, 3rd edition, 1963.
SANTOS, J. A. Sobre a Concepção, o Projeto, a Execução e a Utilização de Modelos Físicos
Qualitativos na Engenharia de Estruturas. Tese (Mestrado em Engenharia Civil) – Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1983.
O ENSINO DE ESTRUTURAS NO CURRÍCULO DO CURSO DE ARQUITETURA E
URBANISMO DA PUC MINAS
GRILLO, Antônio Carlos Dutra (1); MOTTA, Silvio Romero Fonseca (2); BAPTISTA, Maria Elisa (3)
(1) PUC-MG, e-mail: acdgrillo@hotmail.com; (2) PUC-MG, e-mail: silvio.motta@gmail.com; (3) PUC-
MG, e-mail: mariaelisabaptista@gmail.com
RESUMO
O presente artigo discute as possibilidades de estratégias pedagógicas diferenciadas do ensino de
estruturas em cursos de Arquitetura e Urbanismo, tomando por base a experiência do curso da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. O currículo atualmente adotado no curso é
resultado de significativa alteração pedagógica adotada em 2008, embasada pelo Projeto Político
Pedagógico do mesmo. Uma das principais mudanças acorreu nas estratégias pedagógicas das
disciplinas de tecnologia, com destaque para as disciplinas de ensino de estruturas. Foi introduzido o
ateliê de projeto como ambiente de ensino das disciplinas de estruturas, reduzindo a relação
professor aluno para 1/20. O objetivo principal é que os conhecimentos teóricos sejam aplicados em
práticas projetuais desenvolvidas pelos alunos na mesma disciplina. Também foi adotada a
flexibilidade nas abordagens específicas das diferentes turmas da mesma disciplina, que são
ministradas por professores de diferentes perfis, arquitetos e engenheiros. O artigo analisa
criticamente essa estratégia pedagógica diferenciada, apresentando, comparando e avaliando as
características dos currículos nesse período, destacando nele as disciplinas de ensino de estruturas.
Palavras-chave: Ensino de estruturas; Arquitetura e tecnologia; Mudança curricular; Abordagem
pedagógica.
ABSTRACT
This paper discusses the possibilities of innovative pedagogical strategies in structure's learning in
courses of Architecture and Urbanism. It presents the experience of the course of the Pontifical
Catholic University of Minas Gerais, where an innovative curriculum was adopted in 2008 as the
result of a significant pedagogical change, based on the Pedagogical Political Project of the Course.
One of the main changes was in the pedagogical strategies of the technology disciplines, including the
structure's disciplines. In structure's disciplines was introduced the atelier of design as it learning
environment, with 1 professor for 20 students. The main objective is improving the learning by using
the theoretical knowledge in design's practices. Flexibility for specific approaches at the different
classes of the same discipline was adopted, which are taught by professors of different areas,
architects and engineers. The paper analyzes this pedagogical strategy, presenting, comparing and
evaluating, the characteristics of the curricula in this period, highlighting the disciplines of teaching
structures.
Keywords: Structure’s Learning; Architecture and Technology; Curriculum; Pedagogical Approach.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
Em 2008, o curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais (PUC Minas) em Belo Horizonte implantou um novo currículo que alterou
substancialmente a estrutura curricular anterior. A alteração foi embasada em um Projeto
80 Político Pedagógico fruto de prolongada reflexão, iniciada em 1999. Dentre as principais
mudanças curriculares, destaca-se uma proposta inovadora e diferenciada na abordagem
das questões tecnológicas na arquitetura, sobretudo no que diz respeito às questões
estruturais e construtivas.
O presente artigo discute as mudanças trazidas pela nova abordagem implantada em
2008 e consolidada no currículo em vigor em 2016. A metodologia inicialmente apresenta as
características do currículo utilizado pelo curso até 2007 e as características do currículo de
2016. A partir desta caracterização, é feita uma comparação considerando os seguintes
aspectos: carga horária das disciplinas por eixos temáticos; organização do ensino ao longo
do curso por eixos temáticos; e perfil/formação dos professores das disciplinas de ensino de
estruturas. Por fim, é feita uma análise crítica das diferenças, buscando identificar possíveis
influências e contribuições das alterações dessas características nos resultados de ensino
obtidos com o novo currículo.
(a)-2007
1º Semestre 2º Semestre 3º Semestre 4º Semestre 5º Semestre 6º Semestre 7º Semestre 8º Semestre 9º Semestre
INFORMÁTICA PLANEJAMENTO E
DESENHO E DESENHO DESENHO DE TEORIA DAS SISTEMAS CONFORTO CONFORTO
85 102 APLICADA À 85 68 68 68 51 68 PROJETO DE 102
EXPRESSÃO ARQUITETÔNICO APRESENTAÇÃO ESTRUTURAS II ESTRUTURAIS AMBIENTAL I AMBIENTAL II
ARQUITETURA ARQUITETURA VII
TOPOGRAFIA E
TÉCNICAS DA PLANEJAMENTO DE ESTRUTURAS DE ESTRUTURAS DE TÉCNICAS
DESENHO PROJETIVO 68 MATEMÁTICA II 68 PERSPECTIVA 85 REPRESENTAÇÕES 68 102 51 68 68 85
CONSTRUÇÃO INTERIORES CONCRETO ARMADO MADEIRA E AÇO RETROSPECTIVAS
CARTOGRÁFICAS
83 DESENHO
DESCRITIVO
85
INTRODUÇÃO AOS
SISTEMAS 51
RESISTÊNCIA DOS
MATERIAIS PARA 102
TEORIA DAS
ESTRUTURAS I
68
PLANEJAMENTO E
PROJETO DE 85
PLANEJAMENTO
AMBIENTAL
85
MATERIAIS E
TÉCNICAS 51
INSTALAÇÕES
PREDIAIS PARA 68
PROJETO DE
URBANISMO II
85
ESTRUTURAIS ARQUITETURA ARQUITETURA III ALTERNATIVAS DE ARQUITETURA
PLANEJAMENTO E MATERIAIS DE PLANEJAMENTO PLANEJAMENTO E PLANEJAMENTO E
DESENHO PLANEJAMENTO
68 PLÁSTICA 85 PROJETO DE 85 CONSTRUÇÃO PARA 68 GEOLOGIA URBANA 68 URBANO E REGIONAL 85 PROJETO DE 102 PROJETO DE 102 68
EXPERIMENTAL HABITACIONAL
ARQUITETURA I ARQUITETURA I ARQUITETURA V ARQUITETURA VI
HISTORIA DA PLANEJAMENTO E HISTORIA DA URBANISMO E PLANEJAMENTO
DETALHES DE TÓPICOS DE
MATEMÁTICA I 68 HISTÓRIA DA ARTE 102 ARQUITETURA E 68 PROJETO DE 85 ARQUITETURA E 102 ARQUITETURA 68 URBANO E REGIONAL 85 68 34
ARQUITETURA ARQUITETURA
URBANISMO I ARQUITETURA II URBANISMO III BRASILEIROS II
FUNDAMENTOS DE HISTORIA DA
TEORIA DA TEORIA DA PROJETO DE PROJETO DE POLÍTICA
ARQUITETURA E 68 FILOSOFIA I 68 FILOSOFIA II 68 ARQUITETURA E 68 68 68 68 85 34
ARQUITETURA I ARQUITETURA II PAISAGISMO URBANISMO I HABITACIONAL
URBANISMO URBANISMO II
ECONOMIA APLICADA
ESTÉTICA 68 68
+ SOCIOLOGIA
(b)-2016
1º Semestre 2º Semestre 3º Semestre 4º Semestre 5º Semestre 6º Semestre 7º Semestre 8º Semestre 9º Semestre
Projeto Estrutura Projeto Estrutura Arquitetura e Arquitetura e Gestão
Projeto Alvenaria Projeto Executivo de
Modelos Digitais I 68 Modelos Digitais II 68 Modelos Digitais III 68 68 Concreto Armado - 68 Metálica e de 68 Tecnologia de 68 de Projetos e Obras - 68 136
Estrutural - 1/20 Edifícios
1/20 Madeira - 1/20 Construção - 1/60 1/60
Projeto Intervenção Projeto de
Projeto Arquitetura Projeto de Edifício - Projeto de Interiores - Projeto Executivo
Representação I 68 Representação II 68 Representação III 68 68 no Ambiente 85 Equipamento 102 102 102 136
Bioclimática - 1/20 1/15 1/15 Urbano
Construído - 1/20 Metropolitano - 1/15
Projeto Construções Projeto de Edifício Projeto Paisagismo Planejamento Urbano
Projeto I 68 Projeto II 68 Projeto III 68 102 85 68 102 Projeto Urbano - 1/20 102
industrializadas - 1/15 Vertical - 1/15 Urbano - 1/20 e Regional - 1/20
Interpretação e Urbanização e Arquitetura e
Planejamento Urbano Planejamento e
Trabalho Integrado I 34 Trabalho Integrado II 34 Trabalho Integrado III 34 Intervenção no 68 68 85 Arquiteturas no Brasil 68 Urbanização 68
- 1/20 Gestão Urbana - 1/20
Espaço Urbano e - 1/60 Contemporâneas -
Intervenção e Gestão
Estudos Sócios- Arquitetura e Estudos Sócios- Teoria da Produção Teoria do Urbanismo - Teoria da Arquitetura - Cultura Reliogiosa
68 68 68 68 68 68 34 do Patrimônio 68
ambientais Estruturas Econômicos e Sociais Habitacional - 1/60 1/60 1/60 Pessoa e Sociedade
Cultural - 1/60
História da História da História da
Arquitetura e Cidades 68 Arquitetura e Cidades 68 Arquitetura e Cidades 68 Optativa I - 1/60 68 Optativa II - 1/60 68 Optativa III - 1/60 68
I II III
Filosofia: Cultura Religiosa: Filosofia:
68 68 68
Modernidade Fenômeno religioso Antropologia e Ética
Tecnologia -
Representação Tecnologia - Outros Projeto Urbano Teoria
Estruturas
(a)-2007 (b)-2016
No currículo de 2016, as disciplinas do eixo Tecnologia passaram de 1.105 para 476 horas-
aula, o que representou uma redução de 43% da carga horária em relação ao currículo de
2007. Dentre elas, as disciplinas associadas ao ensino de estruturas passaram de 626 para
272 horas-aula, reduzindo na mesma proporção de 43% em relação ao currículo anterior.
A redução da carga horária das disciplinas de Tecnologia se justificou pela detectada
inadequação e ineficiência do conteúdo ministrado no currículo de 2007, onde as disciplinas
de tecnologia eram estruturadas nos moldes dos cursos de Engenharia Civil e ministradas
majoritariamente por engenheiros de outros Departamentos. E também se percebe, na
vivência do curso, que essa redução de carga horária foi compensada pelas estratégias
didáticas adotadas no novo currículo, que proporcionaram uma otimização do aprendizado
de estruturas com uma carga horária reduzida.
(b)-2016
500
450
400 Representação
350
Tecnologia - Estruturas
300
250 Tecnologia - Outros
200 Projeto
150
Urbano
100
50 Teoria
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9
(a)-2007
100%
90%
80% Representação
70%
Tecnologia - Estruturas
60%
50% Tecnologia - Outros
86 40% Projeto
30%
Urbano
20%
10% Teoria
0%
1 2 3 4 5 6 7 8 9
(b)-2016
100%
90%
80% Representação
70%
Tecnologia - Estruturas
60%
50% Tecnologia - Outros
40% Projeto
30%
Urbano
20%
10% Teoria
0%
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Pelos gráficos, percebe-se que, no currículo de 2007, havia uma continuidade do ensino
de estruturas ao longo dos oito primeiros períodos, com carga horária relativa semelhante
ao longo de todo curso; já no currículo de 2016, o ensino de estruturas está concentrado no
2º e do 4º ao 6º períodos1, enquanto as outras disciplinas do eixo Tecnologia deram
sequência até o final do curso.
Frente à redução da carga horária das disciplinas relacionadas ao ensino de estruturas, a
concentração dessas disciplinas nas fases inicial e intermediária do curso se deu pelo fato de
serem disciplinas consideradas como intrínsecas à lógica processual, e desenvolvias
juntamente com as primeiras disciplinas de projeto do curso. Outras disciplinas de
Tecnologia puderam ser postergadas, uma vez consideradas de caráter mais
complementares e menos condicionantes do projeto.
1
Em alteração no currículo de 2017, a lacuna de continuidade no 3º período foi suprimida por uma disciplina
associada à construção.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
currículo de 2016, foi necessário fazer uma ponderação da carga horária ministrada. Essa
necessidade ocorre devido ao fato de que a alteração curricular implantou turmas de 20
alunos para as disciplinas Projeto de Alvenaria Estrutural, Projeto de Estrutura de Concreto
Armado, e Projeto de Estrutura Metálica e de Madeira. Assim, no semestre, ocorrem mais de
uma turma para cada uma dessas disciplinas. Além disso, o atual currículo é ministrado no
87
turno da tarde e da noite, o que implica em mais turmas. Adotou-se, nesse estudo, a
ponderação da carga horária de modo a indicar a ligação relativa da formação docente na
disciplina em questão. Se, por exemplo, uma disciplina possuísse 4 turmas, sendo 2 turmas
ministradas por arquitetos e 2 turmas ministradas por engenheiro, a ponderação adotada
aqui consideraria que a disciplina teria 50% de sua carga horária associada a docentes
formados em arquitetura e 50% associada a docentes formados em engenharia.
No ano de 2017, a disciplina Arquitetura e Estruturas possui 2 turmas (tarde e noite),
ambas ministradas por professores formados em engenharia. A disciplina Projeto de
Alvenaria Estrutural possui 4 turmas (2 tarde e 2 noite), sendo as 2 turmas da tarde
ministradas por professores formados em arquitetura e as 2 turmas da noite ministradas por
professores formados em engenharia. A disciplina Projeto de Estrutura de Concreto Armado
possui 5 turmas (3 tarde e 2 noite), sendo as 2 turmas da tarde e 2 turmas da noite
ministradas por professores formados em arquitetura e 1 turma da noite ministradas por
professor formado em engenharia. A disciplina Projeto de Estrutura Metálica e de Madeira
possui 5 turmas (3 tarde e 2 noite), sendo as 2 turmas da tarde e 1 turma da noite
ministradas por professores formados em arquitetura e 1 turma da tarde e 1 turma da noite
ministradas por professores formados em engenharia. A Figura 5-b apresenta o percentual de
horas lecionadas associadas à formação do docente, de acordo com a ponderação adotada
aqui. Praticamente metade da carga horaria das disciplinas de ensino de estrutura está
associada a professores com formação em arquitetura (48%).
(a)-2007 (b)-2016
arquitetos. Esse quadro equilibrado foi uma consequência natural da estratégia curricular
que prevê o ensino de estruturas vinculado ao projeto.
O docente alocado para as disciplinas de estruturas no atual Curso de Arquitetura e
Urbanismo da PUC Minas, seja arquiteto ou engenheiro, tem que ter razoável desenvoltura
no campo não originário de sua formação e investir na construção de um conhecimento
88
nessa zona híbrida. No nosso caso, o curso tem podido contar com alguns professores com
dupla formação (Arquitetura e Engenharia Civil).
Como foi dito, optou-se, no novo currículo, por se permitir uma relativa variação de
abordagens por parte do docente, dentro de um marco comum definido pela ementa e
objetivos de cada disciplina. Essa diversidade implica em ênfases diferenciadas, o que requer
um contínuo acompanhamento do trabalho do professor por parte do Coordenador de eixo
para que não ocorram “desvios”, com ênfase excessiva em aspectos ou da engenharia ou da
arquitetura. Por outro lado, essas diferenças implicam em uma contínua interlocução entre
os professores, frente à natural necessidade de se aprofundarem em questões não
originárias de suas formações acadêmicas ou profissionais.
3. CONSIDERAÇÕES
A partir dos dados levantados e analisados, conclui-se que as estratégias pedagógicas do
novo currículo se voltaram para permitir uma maior proximidade entre os conteúdos do
ensino de estruturas e os conteúdos do ensino de projeto. A carga horária dedicada ao
ensino de estruturas, apesar de reduzida, foi otimizada em seus objetivos. Apesar da falta de
um estudo quantitativo que avalie os resultados dessa alteração curricular, a estrutura
curricular apoiada no ateliê e na experimentação projetual dos princípios estruturais se
mostrou mais eficaz para a compreensão da estreita articulação entre projeto arquitetônico
e projeto estrutural.
Apesar dos resultados positivos, algumas questões merecem especial atenção. A
formação e a postura do professor de estruturas no novo currículo são cruciais,
demandando atenção tanto na contratação quanto no acompanhamento de suas atividades.
A interlocução entre engenheiros e arquitetos, estimulada em encontros organizados pelos
eixos, tem atuado de modo a suprir eventuais lacunas de ambos os lados.
Em parte decorrente das diferentes formações dos docentes dessas disciplinas, alguns
“desvios” têm por vezes que serem contornados: ênfase excessiva em exercícios projetuais,
com pouco aprofundamento nas especificações e dimensionamento estrutural; e ênfase em
aspectos teóricos e cálculos, com reduzida vinculação ao projeto.
Outras deficiências percebidas são: dificuldades em geometria; dificuldades de
compreensão da matemática do fenômeno estrutural; tempo demandado pela dinâmica de
orientação típica dos ambientes de ateliê.
AGRADECIMENTOS
À PUC Minas – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, pelo apoio à participação
no evento.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
SANTOS, R. E.; DUARTE, A. P. Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo - Projeto
Pedagógico. Belo Horizonte: [s.n.], 2008.
BORBA, Isabel Maria de Melo (1); ADRIAZOLA, Marcia Keiko Ono (2)
RESUMO
Considera-se um desafio do Curso Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná - UTFPR, propor trabalhos acadêmicos, que permitam a experimentação prática, propulsores
da profissão de arquitetos e urbanistas, assim como a integração entre disciplinas, desde o primeiro
ano do curso. O presente trabalho pretende descrever a experiência didática da disciplina de Estudos
da Forma, alocada no primeiro ano do curso, a qual integra a introdução do ensino de estruturas
através das estruturas desdobráveis – deployable structures. Estas são estruturas capazes de grandes
mudanças de configurações de forma autônoma e com grande plasticidade, que são cada vez mais
utilizadas, tanto na arquitetura quanto no design, em diversos países. O Estudo da Forma foi
estruturado no curso dividido em Estudo da Forma 1, no primeiro semestre, e Estudos da Forma 2,
no segundo semestre. Ambas visam proporcionar condições para que o aluno desenvolva
competências relativas à estruturação do espaço compositivo para a formulação de suas próprias
propostas visuais. Ao final da disciplina, é proposto um exercício prático de composição no espaço
tridimensional, com a geração da forma visual e foco na arquitetura, utilizando alguma das diversas
formas de estruturas desdobráveis. Os trabalhos apresentados surpreendem pelo alto nível de
compreensão pelos discentes das matérias integradas que compõem a disciplina, assim como pelo
grau de interesse demostrado com o trabalho. Isto acontece, possivelmente, pela visualização da
aplicação prática na arquitetura que o trabalho proporciona, servindo efetivamente de base para as
disciplinas de Projeto Arquitetônico.
Palavras-chave: Ensino de Arquitetura e Urbanismo; Ensino de Estruturas na Arquitetura e
Urbanismo; Integração entre Disciplinas.
ABSTRACT
It is a challenge for the Undergraduate Course of Architecture and Urbanism at the Federal University
of Technology - Paraná (UTFPR) to propose academic assignments which enable practical
experimentations, the thrusters of architects and urbanists career, and integration between
disciplines from the first year of the course. The aim of this study is to describe the didactic experience
of the academic discipline of Form Studies, allocated in the first year of the course, which integrates
the introduction of the teaching structural concepts by means of deployable structures. Deployable
structures are structures that can undergo major changes to their configuration in an autonomous
way and with great plasticity. They are being used more and more both in architecture and design in
several countries. The discipline of Form Studies is divided into Form Studies 1 and Form Studies 2,
taught in the first and in the second semester respectively. Both aim to provide conditions for the
student to develop their skills related to the structuring of the compositional space for the
development of their own visual proposals. At the end of the discipline, the student is assigned a
practical exercise of composition in three-dimensional space, with the generation of the visual form
with a focus on architecture using some of the various forms of deployable structures. The students’
final works surprise by the students’ high level of understanding of the integrated subjects that make
up the discipline and their interest in doing what was assigned. This result is possibly due to the
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
visualization of the practical application in architecture that the work provides, effectively serving as
the basis for the disciplines of Architectural Design.
91
1. INTRODUÇÃO
A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) é a primeira assim denominada no
Brasil e, por isso, tem uma história um pouco diferente das outras universidades. A
Instituição não foi criada e, sim, transformada a partir do Centro Federal de Educação
Tecnológica do Paraná (CEFET-PR). Como a origem deste centro é a Escola de Aprendizes
Artífices, fundada em 1909, a UTFPR herdou uma longa e expressiva trajetória na educação
profissional, tecnológica e social. A Instituição propôs em seus diversos cursos, ao longo de
seus 107 anos, a integração entre teoria e prática, pois seus discentes sempre contaram com
espaços de experimentações.
Diante destes fatos, o curso de Arquitetura e Urbanismo foi idealizado com ênfase no
ensino tecnológico, considerando a sustentabilidade, assim como a interação dos discentes
com o Canteiro Experimental e demais laboratórios desde o início de sua formação. Neste
contexto, o curso tem como base didático-pedagógica a integração entre teoria e
experimentação prática, visando, ainda, à interdisciplinaridade. Esta integração tem sido
proporcionada nas disciplinas ao longo do curso e por meio de atividades extracurriculares,
em que alunos de vários períodos trabalham juntos, trocando experiências e conhecimentos.
Este trabalho é denominado “Estudo Vertical”.
Quanto à interdisciplinaridade, destaca–se neste trabalho a experiência didática de
Estudo da Forma. Esta disciplina, alocada ao longo do primeiro ano do curso, visa
proporcionar condições para que o aluno desenvolva propostas visuais no espaço bi e
tridimensional. As disciplinas de Estudo da Forma 1 e 2, que são base para as disciplinas de
Projeto Arquitetônico, integram a introdução do ensino de estruturas por meio das
estruturas desdobráveis – deployable structures. Dessa forma, pretende-se despertar, nos
discentes, a intuição do desempenho estrutural através da integração dos exemplos dados
nas aulas teóricas e dos exercícios propostos.
que foram construídas as grandes estruturas metálicas. Esta vitória é consagrada pela
construção da Torre projetada por A. G. Eiffel (1832-1923) para a exposição de Paris de 1889
(ARGAN, 1992; GRAEFF, 1995).
Com esta separação, a história da profissão do Arquiteto é marcada pelo modelo Francês
92
por meio de uma instituição: a École des Beaux-Arts de Paris, reconhecida mundialmente. No
Brasil, o ensino de arquitetura tem origem em duas vertentes: da Escola de Belas Artes e das
Escolas Politécnicas. Conforme Ronconi (2002), rapidamente a primeira supera a segunda e
os arquitetos distanciaram-se da experimentação prática como aprendizado. Ainda, de
acordo com o mesmo autor, com este processo o arquiteto abriu mão, durante sua
formação, de conhecimentos essenciais para o ofício, criando uma falsa dicotomia entre a
técnica e a arte. Com isso, predominam as escolas de arquitetura onde se privilegia a
reflexão teórica em detrimento do convívio com a prática.
Assim, mesmo com um amplo campo de trabalho, a atuação do arquiteto no mercado
torna-se restrita, pelo fato de outros profissionais assumirem os encargos que os mesmos
deveriam exercer, justamente pela falha na sua formação (GRAEFF, 1995). Conforme
Saramago (2011), a má formação é acrescida da precariedade de recursos apropriados nas
instituições para a aprendizagem sobre o funcionamento das estruturas.
De acordo com Leite (1998), o domínio da tecnologia é a base para participação do
arquiteto no desenvolvimento tecnológico e para a inserção intensiva do arquiteto na
atividade econômica da construção. Piñón (2006) afirma que um dos problemas, se não o
problema essencial, é a necessidade de recuperar a competência do saber e o fazer como
atributo fundamental da atividade do arquiteto.
Ronconi (2002) propôs como solução a inserção do Canteiro Experimental enquanto meio
de articulação entre disciplinas integrantes da formação universitária do arquiteto.
Conforme Arantes (2008, p. 27),
A pedagogia do Canteiro Experimental é, assim, um "método de conscientização",
como o concebia Paulo Freire: pretende instituir-se como um espaço de unidade
entre o saber e o fazer, como um ligar de problematização e de autonomia dos
sujeitos na definição de sua ação no mundo - fortalecendo-os em suas
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
96
97
Fonte: <https://br.pinterest.com/pin/339177415659994224/>.
Fontes:
a) <https://directory.eoportal.org/web/eoportal/satellite-missions/c-missions/cryosat-2>.
b) <http://www.metalica.com.br/pg_dinamica/bin/pg_dinamica.php?id_pag=1499>.
c) <http://sightlines.usitt.org/archive/v45/n03/stories/ArchAwards.html>.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Fonte:
a) <http://www.archilovers.com/projects/123223/modern-tea-house.html>.
b) e c) <http://standoutmagazine.co.uk/tectoniks-launches-inflatable-fan-structure>.
Fonte:
a) https://thedesignstatement.wordpress.com/category/summer/ .
b) https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Vista_nocturna_cubierta_piscina_San_Pablo.JPG.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
a) b) c)
Fonte:
a)<https://www.researchgate.net/publication/309951603_Design_of_a_composed_Origami-
inspired_deployable_shelter_modeling_and_technological_issues>.
b) <https://i.ytimg.com/vi/pzhvqMfYY50/maxresdefault.jpg>.
c) <https://s-media-cache-
ak0.pinimg.com/736x/bf/88/c5/bf88c51d498555ad406569fb22b53df5.jpg>.
a) b) c)
Fonte:
a) <http://www.akademie-der-kuenste.de/polonyi.html>.
b) <http://www.archdaily.com/9201/temporary-chapel-for-the-deaconesses-of-st-loup-localarchitecture>.
c) <http://www.archdaily.com.br/br/771790/ciputra-artpreneur-benoy>.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
3.1.5 Biomimética
O termo biomimética vem das palavras gregas bios, que significa vida, e mimética, imitar.
Biomimética é a aplicação de métodos e sistemas encontrados em sistemas biológicos para o
estudo e desenho de tecnologia moderna (ADROVER, 2015). Estas não são cópias da
100 fenomenologia biológica, mas abstrações dos conceitos principais. De acordo com Saramago
(2011), a ideia abstrata da natureza nasce nos primeiros anos do Século XX: “Neste sentido,
ganhou repercussão a noção de que a forma estrutural na natureza seria literalmente o
reflexo de leis matemáticas e científicas, sobretudo após a contribuição do escocês D’Arcy
Wentworth Thompson (1860-1948)” (SARAMAGO, 2011, p. 58).
Portanto, a biomimética requer pensamento interdisciplinar e cooperação.
Figura 10 – Exemplos de edifícios e sua relação com o trabalho a ser desenvolvido pelos alunos
Edifício Residencial Kanchanjunga
Edifício Sede da Petrobrás
Bombaim – do arquiteto Charles Correa
Figura 11 – Exemplos de obras e sua relação com o trabalho a ser desenvolvido pelos alunos
Chapel in Villeaceron_Spain1_2001 Research Pavilion. Orléans ICD/ITKE Research Pavilion.
102
a) b) c)
FONTE:
a) <http://www.google.com.br>.
b) <http://www.archdaily.com.br/br/01-157662/arquitetura-biomimetica-o-que-podemos-aprender-da-natureza>.
c) <http://www.archdaily.com.br/br/01-157662/arquitetura-biomimetica-o-que-podemos-aprender-da-natureza>.
O último trabalho do semestre na disciplina de EF2 procura fazer uma conexão com a
disciplina que os alunos enfrentarão no semestre seguinte, o de Projeto Arquitetônico.
Neste trabalho, os alunos devem trabalhar volume e espaço construído, utilizando-se de
repetição complexa de módulos. São mostrados alguns exemplos em projetos reais onde
estes conceitos são empregados (Figuras 15 e 16). Estes exemplos servem de referência na
elaboração das propostas (Figura 17).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 15 – Exemplos de obras e sua relação com o trabalho a ser desenvolvido pelos alunos
ESCOLA CANTONAL – Santiago Calatrava
103
Fonte: <http://www.fec.unicamp.br/~laforma/tupan/cantonal.html>
Fonte: <http://www.fec.unicamp.br/~laforma/tupan/bce.html>.
CALATRAVA-Lyon_Saint_Exupéry_Airport_Railway_Station-p140
FONTE: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/226/misticismo-telurico-o-circulo-em-busca-do-
equilibrio-e-275969-1.aspx.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
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a) b)
Fonte:
a) BAPTISTA, Josely Vianna, 2007.
b) <http://www.popbitch.com/questions/37/37/71/6//sorted.html>.
Figura 16 – Exemplos de obras e sua relação com o trabalho a ser desenvolvido pelos alunos
Tema: Estádios
ESTÁDIO BEIRA RIO ESTÁDIO MINEIRÃO ESTÁDIO CASTELÃO
Figura 17 – Tema do Trabalho: Volume e Espaço Construído com utilização de repetição de módulos
Tema: CAPELA
105
4. CONSIDERAÇÕES
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao professor Toshiyuki Sawada pelas contribuições, desde a fase de criação
do Curso, na elaboração das ementas das disciplinas de Estudos da Forma. Agradecemos
também pela sua atuação como professor voluntário, até os dias de hoje.
REFERÊNCIAS
ADROVE, E. R. Deployable Structures. London: Laurence King Publishing Ltd, 2015.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
ARANTES, F. A. Qual futuro para o Canteiro Experimental?. In: Canteiro experimental: 10 anos na
FAU USP / apresentação de Reginaldo Ronconi - São Paulo: FAUUSP, 2008. p. 24.
ARGAN, G. C. Arte Moderna. Trad. Denise Bottmann e Federico Carotti. São Paulo: Companhia das
Letras, 1992.
ARTIGAS, J. B. V. Contribuição para o relatório sobre ensino de arquitetura. 1974. In: Sobre a história do
107 ensino de arquitetura no Brasil. São Paulo: Associação Brasileira de Escolas de Arquitetura, 1977. p. 31-38.
BAPTISTA, J. V. Oscar Niemeyer: O espetáculo arquitetural: cartilha dos estudantes/pesquisa e
textos. Curitiba: Museu Oscar Niemeyer, 2007.
BUCHANAN, Peter. Renzo Piano Building Workshop – Complete Works. v.1. Editora Phaidon, 2005.
DERRY, T. K.; WILLIAMS, T. I. História de la Tecnologia. Madri: Siglo Veintiuno de España, 1997.
ETGES, N.J. Produção do conhecimento e interdisciplinaridade. Educação e realidade, v. 18, n. 2, p.
73-82, jul-dez, 1993. Porto Alegre.
FERRO, F. Experimentação em Arquitetura: práxis crítica e reação conservadora. In: Canteiro experimental:
10 anos na FAU USP / apresentação de Reginaldo Ronconi - São Paulo: FAUUSP, 2008. p. 21.
FIRMO, C. S. Estruturas Tubulares Reticuladas Geradas e Enrijecidas por Planos de Dupla
Curvatura (hiperbólicos). Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro
Preto, 2003.
RESUMO
Tectônica é um termo contemporaneamente empregado para se referir à materialização dos espaços
idealizados no projeto, por meio da compreensão da concepção estrutural, do conhecimento dos
materiais de construção e da aplicação da intuição estética. Sendo assim, estrutura e arquitetura são
duas coisas inseparáveis, já que não existe construção sem arquitetura e a recíproca é também
verdadeira. O ensino de tectônica da arquitetura com uma linguagem adequada aos estudantes de
arquitetura é uma inovação implementada no Curso de Arquitetura e Urbanismo do Departamento
de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Artes e Comunicações da Universidade Federal de
Pernambuco desde 2012. As experiências didáticas são diversas, todas com o mesmo objetivo, o do
ensino da expressão tectônica. Esse artigo trata desta discussão em três momentos, primeiro, pela
crítica do estado da arte do ensino de estruturas em escolas de arquitetura no Brasil e no mundo,
ressaltando alguns autores que procuram esse novo caminho; segundo, pelo entendimento sumário
do que seria tectônica e a sua relação com o método da concepção estrutural e terceiro, com uma
breve avaliação de cinco anos das disciplinas introdutórias de Tectônica I e II, dadas no primeiro e
segundo semestre respectivamente dentro da dinâmica proposta pelo Projeto Pedagógico Curricular,
implantado em 2010, do Curso de Arquitetura e Urbanismo (CAU – UFPE). Por fim, lança se a questão
título: será a tectônica um caminho possível para o ensino de estruturas em escolas de arquitetura?
Palavras-chave: Ensino de estruturas em escolas de arquitetura; Tectônica; Concepção estrutural.
ABSTRACT
Tectonics is a term contemporaneously used to refer to the materialization of the spaces conceived in
the project, through the understanding of structural design, knowledge of building materials and the
application of aesthetic intuition. Therefore, construction and architecture are inseparable things,
since there is no construction without architecture and the reciprocal one is also true. The teaching of
architecture tectonics with a language suitable for architecture students is an innovation
implemented in the Architecture and Urbanism Course of the Department of Architecture and
Urbanism of the Arts and Communications Center of the Federal University of Pernambuco since
2012. The didactic experiences are diverse, all with the same objective, that of teaching with diverse
didactic tools. This article deals with this discussion in three moments, first, by the critique of the
state of the art of teaching structures in architecture schools in Brazil and in the world, highlighting
some authors who seek this new path; Secondly, the brief understanding of what would be tectonic
and its relation to the structural design method; and third, a brief five-year evaluation of the
introductory tectonics I and II disciplines, given in the first and second semesters, respectively, within
the dynamics proposed by the Project Curricular Pedagogical, implemented in 2010, of CAU - UFPE.
Finally, it launches the question enouced at the title: will the tectonics be a possible way to teach
structures in architecture schools?
1. INTRODUÇÃO
O ensino de arquitetura sempre foi ambivalente ao incorporar temas de construção,
geografia, ciências sociais, história, filosofia, cartografia, topografia, informática, etc. Tal
tema é dotado de maior complexidade com a recente introdução de novas ferramentas e
110 tecnologias de modelagem digital e impressão 3D e pela prototipagem. No prefácio do livro
Sistemas Estruturais, escrito pelo então diretor da Escola de Arquitetura da Universidade de
Minnesota, em 1967, Ralph Rapson apontou o cerne da questão:
[...] o problema da assimilação da grande quantidade de avanços tecnológicos na
arte da arquitetura. Um aspecto importante deste intricado problema é a
integração durante o processo de criação, imaginação e economia em uma
estrutura pura (RAPSON, Prefácio In: ENGEL, 2009, s.p.d.).
O problema que se aponta é como o estudante de arquitetura apreende cada uma dessas
disciplinas com o intuito de resolver questões de projeto de arquitetura, urbanismo e
paisagismo de modo a levarem a soluções simples e práticas. No caso da arquitetura, o
pragmatismo dos processos construtivos se opõe às múltiplas teorias existentes.
A origem da arquitetura está intrinsicamente relacionada à construção. “Toda obra de
arquitetura é por definição construção”, já destacava o engenheiro arquiteto Pier Luigi Nervi.
A questão, que iremos expor como fio condutor, é a existência de uma divergência no ensino
da arquitetura entre o projeto – o planejamento arquitetônico – e a materialidade da
arquitetura – a estrutura.
Não é de hoje essa cisão, mas ela se intensifica enquanto crise, de modo mais
significativo, com a ampliação do número de vagas no ensino superior, fenômeno
perceptível desde a década de 1960 no Brasil, momento em que se implantou, em 1969, a
Reforma do ensino superior. Essa rompeu com tradicionais estruturas das instituições de
ensino superior existentes então no Brasil, como a autonomia e criou regras para nortear a
criação de novos cursos de arquitetura e urbanismo. Uma das principais rupturas foi o fim
das cátedras e a criação de disciplinas por créditos, juntamente com a departamentalização.
Contudo, tais mudanças não foram acompanhadas de melhorias nas condições de
infraestrutura e instalações, recursos didáticos e qualificação dos docentes.
Concomitantemente, foi organizado o I Encontro Nacional de Ensino de Estruturas em
Escolas de Arquitetura, preparado pelo professor da UFRJ Adolpho Polillo. Este, em 1968,
escreve a tese intitulada Considerações sobre o ensino de estruturas nos cursos de formação
de arquitetos1 para se habilitar ao cargo de professor catedrático da cadeira de “concreto
armado” na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. Nesse documento se coloca a
questão de um “ensino adequado de estruturas nos cursos de formação de arquitetos”.
O ensino de estruturas em escola de arquitetura geralmente é dado por engenheiros civis
ligados ao departamentos, escolas e/ou centros de engenharia das universidades. O método
de ensino é baseado, claramente, no modo em que esse engenheiro aprendeu e apreendeu
1
Na biblioteca Joaquim Cardozo, há um exemplar dessa tese, autografado para a professora Nelly Maurício de
Abreu Pinto, em 14/8/1976.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2
A escolha destas três publicações, as quais não são as únicas existentes bem como não foram selecionadas
segundo um critério de avaliação, se deu pela prática didática da autora nas disciplinas de tectônica e das
questões levantadas ao longo das experiências empreendidas e das respostas que foram encontradas nestas.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Problema duplamente maior, pois há tanto uma antipatia quanto uma ignorância por
parte dos arquitetos do que chamou de “poesia das formas estruturais”. O resultado dessa
postura por parte da classe arquitetônica é a criação de projetos sem estruturas, sem
materialidade. Tais atitudes impactam a atuação do engenheiro, pois este tem a “tarefa de
113
fazer tais formas arquitetônicas ficarem em pé e permanecerem”, bem como da “invenção
de novos protótipos de sistemas estruturais”.
Posto o problema, Engel propôs uma nova aproximação do tema dos sistemas estruturais:
Uma teoria de sistemas para estruturas, construídas baixo sua função essencial de
redistribuição de forças, analisada com ilustrações pelos sistemas característicos de
comportamento mecânico, geometria de forma e espacial e potencial de projeto
(ENGEL, 2009, p.20 – grifos da autora).
3
Se a tradução fosse realizada literalmente seria “Construindo arquitetura”, porém, pelo conteúdo,
acreditamos que seja uma melhor tradução, a “Construção da arquitetura”.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
A estrutura do livro é pautada nos três: materiais / módulos, elementos e estrutura. Esse
114 vocabulário construtivo é pautado pelas teorias contemporâneas, como a da tectônica, para
o qual:
Tectônica sempre incorpora todos os três elementos: a conexão conceitual da
montagem física e da metafísica, o espaço arquitetônico, e todos os aspectos que,
mutuamente, interagem, transformam e influenciam, os quais, no final, são
específicos e também exemplares (DEPLAZES, 2008, p.10).
E propõe algo ousado, que vai muito além da estrutura apenas, mas avança ao propor a
exploração do projeto tectônico como um ato crítico. O estudante, bem como o leitor do livro,
tem a independência para estabelecer premissas básicas, formas de análises críticas e pesquisas
intensivas para avançar em uma hipótese e trabalhar analogias. O livro, que é de fato um
manual, reúne obras arquitetônicas e abordagens contemporâneas de sistemas construtivos
convencionais – alvenaria, madeira, concreto e aço –, baseadas na própria experiência do autor
e parceiros. O objetivo é orientar a tarefa de pensar criticamente, o que Deplazes chamou, o
“complexo trabalho da arquitetura”, compreendido enquanto um sistema.
Para tanto, procura tecer uma relação intrínseca entre expressão arquitetônica e
composição construtiva, calcado nos aspectos técnicos. Todo o princípio parte do
entendimento de que todo material ganha forma por um motivo, seja ele relacionado pela
influência sofrida por fatores externos, como aspectos geográficos e culturas, mentalidades
etc.; seja por critérios que determinam a forma. Nesse ponto, chegamos ao cerne do projeto
em si, o partido. Aquilo que é escolhido cuidadosamente pelo autor.
Porém, é preciso ter clareza de que essa moldagem da forma é ambivalente. Sendo que
dentro dos limites de uma solução lógica, existem sempre diferentes opções. E é o manejo
de cada uma dessas três formas que configura no fim o projeto em si, cujo resultado final é o
espaço arquitetônico. Ideia comum, pelo menos a Deplazes e a Engel, os quais afirmam que
existem para um mesmo arranjo de edifício diversas soluções espaciais e estruturais. A
arquitetura, nesse sentido, se torna realidade pela convergência de três fatores: topos, tipos
e tectônica, um sistema holístico (ver gráfico 1).
O modo em que é posto essa metodologia pode pontuar alguns caminhos possíveis para
o implemento das disciplinas de Tectônica de Arquitetura no curso de Arquitetura e
Urbanismo do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de
Pernambuco. Mas antes de entrarmos na terceira parte deste artigo, é necessário se
explicitar, a partir do texto inaugural no século XX do termo tectônica de Eduard Franz
Sekler, Structure, Construction, Tectonics de 1965.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
115
Com relação à arquitetura, a relação entre construção e estrutura parece clara para o autor.
Estrutura é considerada um conceito mais geral e abstrato, que se refere a um sistema e
princípios de organização destinado a ligar com forças presentes na construção. Por exemplo,
pilar-viga, arco, abóboda, cúpula, placa estrutural, etc. Já construção é algo mais concreto. Ela
é a realização de um princípio ou sistema, que muda conforme o material e os processos.
Desse modo, entende que construção é, no fim, uma questão de seleção e manejo de
materiais, processos e técnicas, enquanto estrutura é especificação do sistema estrutural.
Percebe nisso que há falta de uma palavra que tenha um sentido mais profundo e
conectado com a forma visível e tangível da arquitetura que é, claro, resultante da estrutura
que encontrou sua execução pela construção, mas que, ao contrário destas últimas, seja
discutido e julgado de várias formas. O resultado visual também deve nos afetar pela
expressão de certas qualidades que claramente têm relação com o jogo de forças e sua
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
respectiva organização de partes no prédio, que não podem ser descritas apenas em termos
de estrutura ou construção. Para estas qualidades, que são expressas na relação da forma
para as forças, o termo tectônica cabe bem:
Através da tectônica, o arquiteto torna visível, com uma declaração forte, que
intensifica um tipo de experiência da realidade, que é o domínio doa artista - no
116
nosso caso, a experiência das forças relativas as formas na edificação. Assim, a
estrutura, o conceito intangível, é realizado por meio da construção e ganha
expressão visual através da tectônica (SEKLER, 1965, p.92).
Para alcançar tal perfil, seriam necessárias estabelecer quatro ações pedagógicas, dentre elas:
a) a qualidade de vida dos habitantes dos assentamentos e qualidade material do
ambiente construído e sua durabilidade; b) o uso da tecnologia em respeito às
necessidades sociais, culturais, estéticas e econômicas das comunidades; c) o
equilíbrio ecológico e o desenvolvimento sustentável do ambiente natural e
construído (PPC, 2010, p.33).
Nessa frase do PPC do Curso de Arquitetura e Urbanismo vigente, podemos extrair uma das
ações necessárias a serem implantadas no processo: o Laboratório e Canteiro experimental de
Tectônica da Arquitetura. Outro dado importante é que se trata do único momento, fora da
relação das disciplinas, em que aparece a palavra tectônica no documento.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
4
Um dado importante é a existência do Mestrado em Desenvolvimento Urbano, a primeira pós-graduação nessa
área em todo o país, que foi criada em 1987. Esse, contudo, tecia pouca relação com o curso de graduação.
5
Como a introdução de disciplinas como técnicas retrospectivas.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Cada um dos temas é focado na disciplina de projeto, que é aquela que tem o caráter de
integração. Ela é composta por docentes de todas as especificações, isto é, edificações,
planejamento e projeto urbano, e paisagismo. Além de:
A concepção do ensino do projeto abrange a definição conceitual do problema e
sua resolução técnica – sua construtividade. Dessa forma, cada exercício de projeto
é desenvolvido em sua completude – desde a ideia até a resolução técnica de todos
os seus elementos, superando a prática atual de dividir o ensino de projeto nas
tradicionais fases do exercício profissional – estudo preliminar, anteprojeto,
projeto executivo (PPC, 2010, p.48).
6
Cada crédito equivale a 15 horas.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Por essa razão que, no documento, no momento em que descreve a estrutura necessária
para se o novo PPC, são colocados duas ações relacionadas:
Elaborar ação de programa de captação de pesquisadores recém-doutores, com o
objetivo de incorporar profissionais com experiência nas áreas de conhecimento
ainda pouco ou não contempladas (PPC, 2010, p. 81, grifos da autora).
119
Incorporar, pelo mesmo sistema, docentes que venham reforçar áreas
consideradas prioritárias como as de tecnologias da construção, sistemas
estruturais e teoria da arquitetura, urbanismo e paisagismo (PPC, 2010, p. 81,
grifos da autora).
No momento inicial, em 2010, Tectônica ainda não existia enquanto disciplina, contudo,
já havia a percepção da necessidade de uma mudança no campo disciplinar. A primeira ação
foi tentar dialogar com os departamentos responsáveis tradicionalmente pela áreas de
Tecnologias das Construções e Sistemas Estruturais, do Centro de Tecnologias e Geociências
(CTG). Contudo, as respostas, mesmo com o auxílio de docentes de outras instituições, como
a professora Anália Amorim da Escola da Cidade, não houve consenso. O pedido pela
mudança na metodologia foi negada e todas as possibilidades de diálogo fechadas. A saída
encontrada foi criar uma nova disciplina, autônoma dos departamentos da engenharia, que
pudesse dar um enfoque mais dos aspectos, nos sentidos e na expressão construtiva-
estrutural, que se denominou por Tectônica.
No PPC estão relacionadas oito tectônicas, sendo o número, correlato ao semestre em
que é dado:
Tectônica 1;
Tectônica 2;
Tectônica 3;
Tectônica 4;
Tectônica 5;
Tectônica 6;
Tectônica 7;
Tectônica 8.
A proposta inicial para as disciplinas de tectônica era dividida em quatro momentos. O
primeiro, de introdução aos sistemas estruturais básicos e aos materiais de construção; o
segundo, a associação de sistemas estruturais em duas formas tipológicas: os edifícios
horizontais e os verticais. O terceiro, enfoque na coordenação modular e nos sistemas
construtivos pré-fabricados e, por último, o quarto momento, de modos de intervenção nos
edifícios históricos. Era, de fato, mais clara a relação com a propedêutica indicada no PPC.
Outra ação foi o da contratação de docentes habilitados para a área. No ano de 2011, se
abriu o concurso de contratação de professor para as disciplinas, com o nome “Projeto de
Arquitetura com ênfase nos Aspectos Construtivos”. Dentro desse cenário, se criou uma
nova demanda, a qual não era a do engenheiro que dá aula para arquitetos, bem como não
é a do arquiteto que se especializa em áreas de engenharia. Era algo completamente novo:
tectônica. Os pontos relacionados no edital explicitavam esse encaminhamento
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
demandando dos candidatos um perfil entre o teórico e o prático. Desse concurso, duas
pessoas foram habilitadas, tendo a primeira ingressa em 2012 e o segundo em 2013.
Entre 2010, quando o PPC começou a se implantado e o primeiro semestre de 2012, não
houve a disponibilidade das disciplinas do primeiro momento de tectônica, diante da
120
ausência de um docente para a área e da truculência dos docentes do departamento de
estruturas do Centro de Tecnologias e Geociências (CTG). Para resolver tal impasse, a
primeira classe do “currículo novo” teve dois cursos tipo workshop.
O cenário encontrado pela docente ingressa no primeiro semestre de 2012 foi
preocupante, já que a primeira turma do “currículo novo” havia tido apenas o workshop e se
encontrava no quinto período, além de existirem três turmas em tectônica 2 e uma recém
ingressa em tectônica 1. No final, foi um processo de aprendizagem mútua, tanto para a
docente em estruturar toda uma área nova, já que tectônica não existe enquanto disciplina
em outro curso, não havendo nenhum parâmetro para servir de referência, quanto para o
aluno, principalmente aqueles das duas primeiras turmas.
Entre 2012 e 2016, foi buscada a aplicação das ementas, contudo, percebeu-se de
imediato, dificuldades na implementação do terceiro momento, pois a passagem da
concepção estrutural para a associação era realizada de um modo abrupto, sem que
houvesse a introdução e o aprofundamento necessário para que o aluno pudesse projetar
um edifício pensando nos materiais. Na prática, o que aconteceu foi um hiato, entre as
demandas da disciplina de projeto e as de tectônica, que se reproduziu nos momentos
seguintes. Do mesmo modo, não houve nesse período, a montagem do laboratório e do
canteiro de tectônica, apesar dos esforços dos docentes da disciplina.
No segundo semestre de 2015, foi proposta uma minirreforma na sequência das disciplinas
de tectônica, realizada após a análise dos planos de ensino propostos e pela discussão com
colegas da disciplina e da área de projeto arquitetônico, que aprovada no Colegiado do CAU.
Desse modo, os quatro momentos foram alterados para três. Nas duas primeiras,
tectônica 1 e 2, permaneceu o objetivo de introduzir conceitos e análise dos sistemas
estruturais básicos, segundos seu comportamento físico e sua geometria, relacionados com
os materiais de construção. A ideia é introduzir os alunos na concepção e intuição estrutural,
aos conceitos de sistemas estruturais básicos e de estabilidade. O aluno aprende como se
comportam cada sistema estrutural a partir de conceitos como carga, vínculos, tensões e
esforços. As tectônicas 3 a 7 têm como objetivo a materialização da arquitetura: o edifício,
de sua fundação a sua coberta, sendo o enfoque nos materiais, nas técnicas e nos sistemas
construtivos convencionais. Em cada uma das disciplinas, a ideia é mostrar, a partir do
método de Deplazes, conceitos técnicos dos materiais e técnicas construtivas, os sistemas e
os procedimentos de projeto, organizados.
Posteriormente, foram feitas alterações nas sequencias, que ficaram assim:
Tectônica 3: revestimentos;
Tectônica 4: alvenaria e coberta;
Tectônica 5: concreto;
Tectônica 6: estrutura metálica;
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Tectônica 7: madeira.
E, por último, Tectônica 8 volta-se para as técnicas construtivas e modos de intervenção e
de conservação de bens patrimoniais e históricos.
121
4. AS DISCIPLINAS DE TECTÔNICA 1 E 2: O ENSINO DO INTUITIVO
Nessa terceira parte, apresentam-se os pressupostos de ensino de Tectônica, em particular
das atividades didáticas e da metodologia desenvolvida nas duas disciplinas iniciais do curso de
arquitetura e urbanismo, Tectônica 1 e Tectônica 2. Tais disciplinas procuram integrar
conteúdos, antes lecionados separados no “currículo antigo”, como Estática, Resistência dos
Materiais, Tecnologia das Construções e Cálculo de Estruturas, dentro de uma visão da
materialização do projeto arquitetônico e segundo uma linguagem própria aos arquitetos.
Para além do ensino de projeto, as disciplinas de Tectônica aliam a teoria com a prática, a
partir de atividades dinâmicas, desenvolvidas na sala de aula – como a construção de
modelos físicos que possam simular os comportamento dos sistemas estruturais e maquetes
– e no canteiro experimental de tectônica (apesar desse estar ainda em montagem). Nesse
sentido, em Tectônica 1 e 2, demonstra-se como ocorrem os caminhos das forças em cada
um dos sistemas estruturais básicos com o objetivo de se desenvolver concepção e intuição
estrutural. Conceitos definidos pelo engenheiro Yopannan Rebello, aplicado na disciplina por
meio de aulas expositivas, da elaboração de modelos físicos – maquetes, como o tensegrity
– de estudos dos esforços nos sistemas estruturais, aprofundado, e de sua aplicação no
projeto e construção de uma ponte de macarrão.
O escopo das disciplinas de Tectônica 1 e 2 é a análise dos sistemas estruturais básicos
(cabo, arco, treliça, trilítico, cascas e placas estruturais, bem como sistemas híbridos, como
viga vierendeel, vagonada e protendida). Segundo consta no PPC, as ementas dessas
disciplinas são:
Tectônica 1: “conceituação dos fenômenos físicos que atual em sistemas estruturais”;
Tectônica 2: “análise dos sistemas estruturais básicos segundo seu comportamento
físico, da sua geometria e dos materiais de construção”.
Sendo que: Tectônica 1 possui uma carga horária de 15 horas e, 2, de 30 horas. Para
implementar a ementa, optou-se, no primeiro momento, em dividir as disciplinas em duas
dinâmicas distintas, pautadas em dois tempos: em tectônica 1, são passados os conceitos
que possibilitam a compreensão do comportamento dos sistemas estruturais, tais como
cargas e geometria, tipologias básicas dos sistemas estruturais, tipos de vínculos, tensões e
esforços por meio de aulas expositivas; e, em tectônica 2, aprofundam-se tais conceitos e se
implementa a metodologia do fazer e errar.
No primeiro semestre de 2012, momento inaugural da disciplina, o exercício 1 era o
seminário realizado em grupo de um sistema estrutural cujo enfoque é o seu
comportamento por meio de maquetes. O exercício 2 era o projeto e a montagem de uma
ponte feita com dois materiais: cola quente e macarrão tipo “furadinho”. Tal trabalho tem
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
regras claras: cada grupo precisa praticar os princípios de sistemas estruturais de forma e
vetor ativo (conceitos de Engel), para construir uma estrutura capaz de vencer um vão de 80
cm (equivalente a 40 m na escala 1:20), que fosse criativa, esbelta e resistente. No total, a
ponte de macarrão tinha 1 m de comprimento por 15 cm de largura, e teria de suportar uma
122
carga distribuída mínima de 5 kg. O objetivo deste trabalho vai além da aplicação destes
princípios estruturais ou da construção de um objeto com um material, mas o
desenvolvimento da intuição estético-espacial.
Os resultados foram dos mais diversos e interessantes, em ambos os exercícios. Como
existiam quatro turmas sob o mesmo programa, teve-se uma produção com diversas
amostras. A dinâmica didática proposta era interessante, porém, em questões teóricas, os
conceitos não eram estabelecidos com propriedade, enfraquecendo o resultado final. No
caso das pontes, os resultados foram dos mais diversos possíveis, devido sobretudo ao fato
de ser a primeira vez a se realizar tal atividade e as condições envolvidas.
Fonte: autora
Fonte: autora
reestruturar a primeira parte, substituindo os seminários dos alunos por aulas expositivas e
os modelos eram construídos por todos os grupos segundo o tema de sistemas estruturais
submetidos a esforços normais (forma e vetor ativo) e a esforços tangenciais (seção,
superfície ativa e híbridos).
123
Nesse momento, foi-se dando ênfase ao exercício da ponte de macarrão, o que ampliou o
tempo dedicado ao exercício bem como o tempo de assessoria. Os trabalhos finais foram
ganhando complexidade como nas Figuras 4, abaixo, no qual o grupo conseguiu construir um
cabo tensionado usando macarrão, o que possibilitou uma estrutura quase que indestrutível.
Fonte: autora
Fonte: autora
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
poder definir de fato o perfil correto do docente de tectônica. A contratação de mais dois
docentes com perfis mais enfocados nos projetos com materiais como madeira, aço, concreto,
etc. E o enfoque, por parte da coordenação do curso na questão da integração, a partir da
criação de grupos, semelhantes àqueles que construíram em conjunto o novo PPC, para se
125
consolidar cada ano a partir da articulação das atividades e dos conteúdos para que eles se
complementassem e formassem o aluno dentro do perfil pretendido.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos os colegas do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, em especial
ao Fernando Diniz pelo suporte e apoio teórico; à Natália Vieira, pela amizade; à Patrícia
Porto Carreiro e ao Luiz Amorim, pelos momentos dedicados em passar os caminhos
percorridos pela Tectônica do seu nascimento até a chegada a mim. Agradeço aos diversos
colegas de disciplina como Sérgio Bittencourt, Ana Sara Assis, Tiago Ancelmo, Roberto
Araújo, Mariella Falcão, Leila Brunet e Paulo Sousa.
REFERÊNCIAS
DESPLAZES, A. Constructing Architecture: Materials, Processes, Structures. Basel: Birkhauser, 2008.
ENGEL, H. Sistemas estruturais. Barcelona: GG, 2009.
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1968. Tese (Concurso para a Cátedra de Concreto Armado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1968.
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SARAMAGO, R. C. P. Ensino de estruturas nas escolas de Arquitetura do Brasil. 2011. Dissertação
(Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2011.
SEKLER, E. F. Structure, Construction, Tectonics. In: KEPES, Gyorgy (org.). Structure in Art and in
Science. Londres: Studio Vista, 1965, p.89-95.
REBELLO, Y. C. P. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000.
ROSENTHAL, H. W. El estúdio de las estructuras. Buenos Aires, 1960.
AVALIAÇÃO CRÍTICA DO ENSINO DE ESTRUTURAS: ENIGMA DA ESFINGE?
NÓBREGA, Petrus Gorgônio Bulhões (1); COSTA, Fernando José de Medeiros (2)
RESUMO
A concepção estrutural é etapa imprescindível da criação arquitetônica, pois, verdadeiramente, a
estrutura e a arquitetura são indissociáveis. O aluno do curso de Arquitetura deve estar ciente da
importância de ter um conhecimento técnico específico para o bom desempenho neste quesito.
Neste contexto, é natural e desejável que sejam pesquisadas e propostas metodologias visando
adequar ou aperfeiçoar este ensino no ambiente acadêmico. Diferentes abordagens são
desenvolvidas, ou novos recursos didáticos são apresentados, tudo no afã de aprimorar a
compreensão e a apreensão dos conceitos da Engenharia de Estruturas. Por outro lado, há de se
destacar que a concepção estrutural é a fase mais importante, criativa e complexa do projeto de
estruturas, exigindo muita experiência do profissional, algo que o acadêmico ainda não a possui e
que somente a prática e o estudo constante vão lhe agregando ao longo do tempo. Este artigo
constitui uma reflexão, fruto das experiências de décadas de magistério dos autores, avaliando
criticamente como o ensino de estruturas evoluiu e foi questionado, observando que alguns
problemas ainda carecem de solução, ou são assim considerados. É perceptível, após muitos anos de
discussão, a recorrência de certas perguntas, reflexões e propostas, repetindo-se em ciclos
periódicos, numa busca incessante de uma resposta única e ideal, como a requerida pelo enigma da
esfinge mitológica, a qual ameaçava: decifra-me ou devoro-te. Por fim, relatam-se algumas das
experiências vivenciadas no contexto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Palavras-chave: Concepção estrutural; Novas metodologias; Ensino de estruturas.
ABSTRACT
Structural conception is an essential stage of architectural project, since structure and architecture
are truly inseparable. The student of the architecture course must be aware of how important is the
technical knowledge for a good performance in this area. In this context, it is usual to research and to
propose methodologies in order to adapt or improve this teaching in the academy. Different
approaches are developed, or new didactic resources are presented, in order to improve the
understanding and apprehension of the Structural Engineering concepts. On the other hand, it is
important to emphasize that the structural conception is the most important, creative and complex
stage of the structural project requiring, from the architecture student, an ability he doesn’t have.
Only the practical experience and a constant study will qualify him. This paper presents the authors
reflection as a result of decades of teaching, critically evaluating the evolution of the teaching of
structures in the architecture course, emphasizing that there are still some problems that need to be
solved. After years of discussion, certain questions, reflections and proposals are the same, repeated
in periodical cycles, in an incessant search for a unique and ideal answer, as that one required by the
mythological sphinx riddle: decipher me or be devoured. Finally, some of experiences in Federal
University of Rio Grande do Norte are described.
Keywords: Structural conception; New methodologies; Structures teaching.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
Na mitologia clássica grega, há a história da Esfinge, um monstro alado com corpo de
mulher e leão que afligia a cidade de Tebas, parando a todos os viajantes que por seu caminho
passavam, propondo-lhes um enigma e concluindo com a frase: decifra-me ou devoro-te.
127 Como os homens não conseguiam responder corretamente à questão, a esfinge matava-os.
Isto perdurou até que Édipo apareceu e enfrentou a esfinge, conseguindo decifrar seu
enigma. Frustrada, a esfinge jogou-se num precipício e pereceu. Édipo tornou-se rei de
Tebas e conheceu Jocasta (aquela famosa, com a qual compõe o complexo psíquico
formulado por Sigmund Freud e batizado por seu nome).
Não é recente que o ensino de estruturas nas escolas de Arquitetura é debatido,
questionado e criticado. Já dura décadas a discussão sobre novas metodologias e sugestões
de reestruturações pedagógicas. Todo esse debate e embate resultaram em diversas
proposições de novos recursos e ferramentas de ensino, sempre visando à melhoria do
processo de aprendizagem. A despeito de todo este histórico, do imenso avanço tecnológico
recente, da publicação de diversos artigos, dissertações e teses sobre o assunto, o ensino de
estruturas parece continuar deficiente nos cursos de Arquitetura e Urbanismo. Estamos
diante de um enigma?
A preocupação, com absoluta certeza, não é improcedente. Sabe-se que a concepção
estrutural é uma etapa imprescindível da criação arquitetônica, pois, verdadeiramente, a
estrutura e a arquitetura são indissociáveis. De todos os componentes construtivos que
contribuem para a existência da forma arquitetônica, a estrutura é o principal, pois sem esta a
forma não pode ser preservada e assim o organismo funcional arquitetural ficará
comprometido, ou sequer existirá. Neste contexto, o aluno de Arquitetura necessita ter um
1
Disponível em: <http://www.louvre.fr/oeuvre-notices/oedipe-explique-l-enigme-du-sphinx>. Acesso em: 14
abr. 2017.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
conhecimento técnico específico para o relativo domínio acerca do uso e funcionamento dos
sistemas estruturais e a escola não pode se omitir desta importante responsabilidade. Esta é,
realizando uma associação com a lenda narrada anteriormente, a almejada Tebas e o seu reino.
Todavia, qual o conteúdo técnico, sua extensão e sua profundidade, que o aluno de
128
Arquitetura deve dominar? Que habilidades lhe devem ser requeridas? Quais competências
devem ser desenvolvidas? Quais os melhores métodos e meios para se alcançar este fim?
Este é o enigma, e o mistério revela-se em diversas dimensões...
A esfinge, que requer a solução do enigma, parece ser o inconsciente coletivo dos
docentes que lidam com o ensino das estruturas, incomodados pela realidade que vivem. O
herói Édipo, formulador da solução, pode ser qualquer um de nós, professor ou pesquisador.
Entretanto, será que há uma resposta única e absoluta para estas perguntas, assim como
para o quebra-cabeça da esfinge? Existe uma orientação, solução ou proposta “ideal” acerca
do ensino de estruturas nos cursos de Arquitetura? Ou, contrariamente à mitologia, existem
distintas soluções, igualmente adequadas, cuja eficácia muda ao longo do tempo, como as
próprias pessoas, dinâmicas, com suas prioridades, usos, costumes e preferências?
Este artigo dedica-se a refletir sobre o enigma. E sobre o processo de busca de sua
resposta. Mais objetivamente, o trabalho discute a importância do conhecimento das
estruturas, explana sobre esta discussão, desenvolvida nas escolas de Arquitetura, e como
foram construídas algumas novas orientações para este fim, montando-se alternativas ao
modelo tradicional do ensino de estruturas. Relatam-se, paralelamente, diversas
experiências vivenciadas no contexto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
instituição onde labutam e perseveram há mais de duas décadas os autores.
Um segundo concurso só veio a ocorrer em 2009. Neste, foi contratada uma arquiteta,
com formação adicional em Estruturas e Materiais. Assim, normalmente são estes dois
docentes que ministram as disciplinas da área de estruturas do Curso de AU da UFRN.
Para ambos, inevitavelmente, porém de formas diferentes, faz-se necessária uma
133
travessia “para o outro lado”, a fim de compreender certas nuances da formação “oposta”.
Figura 3 – Exercícios de composição estrutural realizados pelos alunos, junto com a disciplina de
Projeto de Arquitetura.
136
137
6. CONSIDERAÇÕES
Certamente o conhecimento do comportamento das estruturas é uma habilidade
indispensável ao arquiteto. Nesta caminhada, de desenvolvimento do sentimento ou
raciocínio estrutural, a ênfase pode, e deve, ser distinta da trajetória usual realizada pelo
engenheiro civil.
Ocorre, todavia, que esta habilidade não se constrói exclusivamente no período do ensino
de graduação, demandando tempo para o seu amadurecimento e concomitante estudo dos
conceitos associados. A convivência com professores de projeto de edificações e de
estruturas que possuam experiência prática é um aspecto fundamental, necessitando haver
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
BALLAROTTI, C. Ensino e aprendizagem fenomenográfica: a apreensão de conceitos básicos de
sistemas estruturais no curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Estadual de Londrina.
2016. Tese (Doutorado) – Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São
Carlos, 2016.
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arquiteto e do engenheiro. 2000. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2000.
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III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
RESUMO
Com base na experiência didática na Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA,
debateremos alternativas ao modelo tradicional de ensino de estruturas, cujo saber científico
permanece eurocentrado, fazendo uso de aportes epistemológicos que superem a universalidade,
neutralidade e abstração das metodologias verificativas, hegemônicas na área, assentes em cálculos
matemáticos. Apontaremos a necessidade de descolonizar o saber arquitetônico, levando em conta a
virada decolonial, que, na América Latina, pretende desmontar a subjetividade do ser e do
conhecimento ainda presentes e atuantes. Esta perspectiva epistemológica é coincidente com os
desejos de autonomia e emancipação dos povos subalternos e constitui questão central na UNILA. A
democratização dos saberes tectônicos é fundamental, já que a maior parte da construção popular
latino-americana é realizada sem acompanhamento profissional e desconhecendo práticas
construtivas dos povos originários. A popularização do conhecimento passa, portanto, por uma
revisão epistêmica, dando voz aos saberes ancestrais e àqueles silenciados, de caráter empírico,
intuitivo e contextualizados e é estratégica para inserção social do/a profissional. A perspectiva
decolonial, utilizada no ensino de História da Arquitetura e de Tecnologias, tem propiciado a
percepção de um desperdício de experiências que inibem algumas soluções que superem a
centralidade da racionalidade ocidental, presente no ensino e concepção de estruturas. A abordagem
tectônica em Arquitetura é diversa da Engenharia e a tendência generalizada de aproximação de
ambas é parte das causas do estranhamento dos/as alunos/as de Arquitetura acerca deste assunto.
Apontaremos também um caminho possível para a aprendizagem de estruturas fundamentado em
conhecimentos tectônicos dos povos latino-americanos.
Palavras-chave: Ensino de estruturas; Metodologia conceptiva; Pensamento decolonial; América Latina.
ABSTRACT
This Work will discuss didactic alternatives to the traditional model of teaching structures, from the
experience at the Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA. The traditional
model, a hegemonic methodology in Architecture and Planning Courses, has eurocentric
epistemological support, making use of contributions that overcome the universality, neutrality and
abstraction, centered on mathematical calculation. We will point out the need to decolonize
architectural knowledge, taking into account the "colonial turn", which in Latin America seeks to
dismantle the subjectivity of being and knowledge, both still present and active. This epistemological
perspective coincides with the desires for autonomy and emancipation of the subaltern peoples and is
a central issue in UNILA. The democratization of tectonic knowledge is fundamental since most of the
Latin American popular construction is carried out without professional accompaniment and ignoring
constructive practices of the native peoples. The popularization of knowledge, therefore, goes
through an epistemic review, giving ancestral knowledge and silenced knowledge, of an empirical,
intuitive and contextualized character, and is strategic for the social insertion of the architect. The
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
decolonial perspective, used in teaching History of Architecture and Technologies has allowed the
perception of a waste of experiences that inhibit some solutions that overcome the centrality of
Western rationality, present in the Teaching and design of structures. The tectonic approach between
Architecture and Engineering is different and the general tendency of approaching both is part of the
causes of the estrangement of the students of Architecture about this. We will also suggest a possible
path for the learning in structure based on tectonic knowledge of the Latin American peoples.
142
Keywords: Teaching of structures; conceptive methodology, decolonial thought; Latin America.
Neste sentido, não será suficiente a virada decolonial se ela não for capaz de situar e
epistemologicamente rever o debate sobre tecnologia, produção tecnológica e,
consequentemente, o ensino nestas áreas do saber. É a partir desta perspectiva que
pretendemos propor um debate sobre a descolonização deste campo de conhecimento no
144
ensino das estruturas em Arquitetura e Urbanismo. Este trabalho, portanto, se apresenta no
limiar de tensionamento entre uma visão homogeneizadora própria da modernidade
ocidental e uma maior pluralidade do conhecimento, negando a neutralidade da produção
científica e tecnológica. As disciplinas de estruturas não podem estar desarticuladas nem das
demais disciplinas, como muitas vezes ocorre (SARAMAGO, 2011), tampouco do debate
epistemológico que acompanha as ciências no século XXI. Dito de outra forma, o “como”
ensinar estrutura está intimamente relacionado com as diferentes formas de compreender o
papel da ciência no percurso formativo e laboral, com a sua conexão a outros campos de
saber e com a inserção do e da profissional na sociedade.
O autor e a autora deste trabalho utilizam suas experiências didáticas na UNILA como
referência para a busca de outros possíveis percursos formativos, em especial constituídos a
partir de duas direções: a primeira de ordem epistemológica e a segunda mais focada nas
questões pedagógicas e metodológicas do ensino de estruturas e a sua relação com os
demais componentes curriculares.
Partirmos do pressuposto epistemológico de que, grosso modo, não são questionadas a
normalidade que os saberes estruturais possuem no cotidiano das universidades e o fato de
que o desenvolvimento da disciplina no país teve como horizonte conceitual o
desenvolvimento tecnológico ilimitado da modernidade ocidental, ao qual a arquitetura
moderna esteve vinculada, guiado pelo padrão cumulativo de conhecimento, pela
temporalidade linear-evolutiva e determinista com relação ao progresso e positividade que
serão alcançados com a contribuição decisiva da ciência. É urgente, destarte, a tarefa de rever
os paradigmas do progresso tecnológico e sua íntima relação com um padrão de consumo e
desenvolvimento insustentável (MARQUES, 2016), o qual a indústria da construção civil
contribui amplamente.
Acreditamos ser necessário descolonizar o saber arquitetônico, levando em conta a virada
decolonial (Cf. ESCOBAR, 1999; MIGNOLO, 1995; LANDER, 2005; BALLESTRIN, 2013), que na
América Latina pretende desmontar a subjetividade do ser e do conhecimento – construídos
com o domínio colonial, mas ainda presentes e atuantes. A decolonialidade visa a uma
perspectiva epistemológica coincidente com os desejos de autonomia e emancipação dos
povos subalternos. Sob esta perspectiva, a questão central debatida recentemente na UNILA
é a urgência de rever e questionar o projeto político de metodologias não pensadas para a
democratização dos conhecimentos de sistemas estruturais, tampouco da própria noção de
tectônica1. Esta democratização é fundamental, já que a maior parte da construção popular
latino-americana é realizada sem acompanhamento profissional. Ademais, o saber científico
1
Utilizada neste trabalho no sentido atribuído por Kenneth Frampton, nos textos Towards a critical
regionalism: Six points for an architecture of resistance e Rappel à l’ordre: The case for the tectonic (apud
AMARAL, 2009), significando a “dimensão material, construtiva e tátil da arquitetura”.
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divisão é condição necessária para possibilitar alternativas futuras para as sociedades, para
redefinir os rumos da ciência e da tecnologia e o papel que cada uma desempenha no sistema
produtivo atual, ou mesmo, desenvolver outros sistemas produtivos não-cumulativos.
Jover (1999) já salientou que, desde o final do século XX, é mais adequado utilizar a
146
expressão “tecnociência” para se referir à relação contemporânea inédita que se
estabeleceu entre ciência e tecnologia. A ciência contemporânea se orienta cada vez mais a
objetos práticos, a fomentar o desenvolvimento tecnológico e a inovação (no seio do mesmo
modelo produtivo). A sociedade tecnológica tem colocado boa parte da ciência em função
de suas prioridades. Até a ciência básica atualmente se caracteriza por uma alta sofisticação
tecnológica. Andrew Feenberg, em seu livro Critical Theory of Technology (1991), defende
uma necessária filosofia da tecnologia, posto que os rumos da tecnologia e da ciência serão
decisivos para o futuro da humanidade, momento em que as questões éticas e políticas
tornam-se cada vez mais relevantes.
Para o autor, as tarefas essenciais no tocante à tecnologia são a revisão cognitiva da
tecnologia e a promoção da democratização tecnológica. O poder decisório sobre a
produção tecnológica hoje se encontra concentrado em grandes corporações e está
programada para atender interesses empresariais, seguindo uma racionalidade própria a
serviço do capital. Estabelece-se uma administração tecnocrática que produz um universo
tecnológico quase unidimensional. A teoria da instrumentalização de Feenberg, apresentada
no livro de 1991 e enriquecida em seus outros três textos (FEENBERG, 1995; 1999; 2002), é
muito útil para explicar o processo de produção tecnológica contemporâneo e as
possibilidades da superação de sua unidimensionalidade. O filósofo propõe a formulação de
um socialismo adaptado à época atual, atribuindo à tecnologia um aspecto central. De
acordo com Feenberg, cada aparato tecnológico possui seu código técnico, composto pelas
características e especificações técnicas com as quais ele foi programado, o que o autor
denomina como instrumentalização primária. A instrumentalização secundária é constituída
pelos valores sociais que são incorporados aos aparatos tecnológicos (FEENBERG, 1991).
Usualmente, tendemos a compreender as decisões ou escolhas tecnológicas como resultado
direto da instrumentalização primária. Isto é, tomamos as características de uma bicicleta,
um smartphone ou um edifício como mero resultado da evolução ou do desenvolvimento da
tecnologia, de uma lógica técnica inerente. Ao mesmo tempo, seus parâmetros técnicos
como eficiência, durabilidade ou segurança, não são assimilados como decisões de ordem
estética, política e econômica, sendo consideradas não essenciais ou de menor relevância.
Como parte integrante da produção científica e tecnológica – da tecnociência –, os
conhecimentos e saberes da área de estruturas estão imersos nesta racionalidade cognitivo-
instrumental. Por tal motivo, devem ser debatidos sob uma perspectiva crítica, pois segundo
Feenberg, a tecnologia é “ambivalente”. Dito de outra forma, os artefatos e sistemas podem
ser projetados tanto para sustentar e reproduzir a ordem social existente como para subvertê-
la e encaminhá-la em outra direção (FEENBERG, 1999, p. 76). Neste sentido, defendemos que
a reprogramação tecnológica proposta por Feenberg passa pela reflexão do ensino e do
conteúdo das áreas de tecnologias, nela inclusos os sistemas estruturais. Em outras palavras, é
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urgente empreender um esforço que contribua para identificar com maior nitidez quais são as
posturas instrumentalistas adotadas no ensino dos sistemas estruturais, a fim de encaminhar
os saberes em outra direção.
Renato Dagnino explica a necessidade de questionar a racionalidade tecnológica capitalista
147
comparando-a com propriedades materiais observadas na Física, a histerese. Trata-se da
tendência de um material ou sistema de conservar suas propriedades na ausência de um
estímulo que as gerou. Ou, ainda, a histerese é a capacidade de preservar uma deformação
efetuada por um estímulo. Dagnino recorre a este conceito para explicar o porquê não bastam
mudar os meios de produção e a propriedade, sem que a tecnologia seja cognitivamente
repensada e que o “resíduo capitalista” da tecnologia combatido (DAGNINO, 1999).
Os povos andinos que habitaram o Peru – não limitados aos Incas, deixaram um legado
rico em termos de tecnologias, mais especificamente, conhecimentos apurados no campo
das estruturas antissísmicas. Este é o caso da Huaca de La Luna, um dos mais antigos
sistemas estruturais antissísmicos em adobe, construído pela civilização Moche, que viveu
148
na costa Peruana antes dos Incas, entre os anos 200 a.C e 600 d.C. Trata-se de uma estrutura
cuja forma assemelha-se à de uma pirâmide invertida, com os pisos superiores maiores que
os inferiores, num total de cinco diferentes níveis sobrepostos, sendo o mais recente sempre
um pouco maior que o mais antigo, utilizado como base, completando com tijolos de adobe
os espaços vazios (CUNHA, 2009).
A Cultura Chimu, que sucedeu a civilização Moche no território costeiro, a partir do século
IX d. C, igualmente desenvolveu soluções construtivas antissísmicas. Merece destaque a
cidade de Chan Chan, planejada para 50 mil habitantes, toda construída em adobe com uma
estrutura própria de praças, templos, palácio, depósitos e cemitério cercados por muralhas
com formato trapezoidal que chegavam a atingir 9 metros de altura, cuja base era alargada
com leve inclinação até o topo mais afunilado. O conjunto arquitetônico é uma das maiores
relíquias arqueológicas em adobe já conhecidos, declarado patrimônio da humanidade pela
UNESCO em 1986.
Ainda na América do Sul, a rede de estradas Incas é dos maiores feitos infraestruturais da
região, estendendo-se por cerca de 30 mil quilômetros, cobrindo uma área entre os atuais
Equador e Chile e da costa do oceano Pacífico até as encostas orientais dos Andes. Há indícios
que estas estradas possam ter chegado até o oceano Atlântico, na atual cidade paulista de São
Vicente (GALDINO, 2002). O traçado das estradas Incas revela pleno domínio da geometria e
da topografia, utilizando muros de arrimo e um eficiente sistema de drenagem de águas de
chuva, que as tornavam eficazes e duradouras. Alguns trechos eram pavimentados com pedra
e outros demarcados com um tipo de planta daninha que marcava o caminho ao mesmo
tempo em que impedia que a estrada fosse tomada e encoberta pelo crescimento de outras
espécies vegetais.
As pirâmides Maias, imponentes na paisagem da América Central e cujas origens
remontam ao século III d.C., destacam-se pelo uso estrutural de pedra calcária, com encaixes
perfeitos que reduziam consideravelmente o uso de argamassa. Esta, inclusive, era feita a
partir do calcário queimado e moído, com propriedades muito semelhantes às do atual
cimento, muito usada em revestimentos e acabamentos, em tetos e vergas sobre portas e
janelas (NAVARRO, 2013).
No que tange às técnicas e tecnologias apropriadas às águas, na região amazônica
brasileira, a população ribeirinha desenvolveu uma habitação flutuante extremamente eficaz e
adequada às cheias e vazantes, constitutivos daquele ecossistema. Dois grandes troncos de
açacus garantem a flutuação da unidade por cerca de 40 anos, sobre os quais é construída
uma plataforma em madeira que receberá a casa completa. A localização sobre a água facilita
o cotidiano, na medida em que as casas em terra (do tipo palafitas) requerem, ao longo dos
seis meses de vazante, idas e vindas várias vezes ao dia para buscar água no rio. Além disso, a
unidade flutuante inclui um banheiro, posicionado estrategicamente à jusante da moradia.
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Nas casas em terra, o banheiro fica no espaço exterior, exigindo maior manutenção. Dito de
outra forma, sempre que há possibilidades econômicas para adquirir os troncos de açacu, as
famílias ribeirinhas preferem a unidade flutuante, perfeitamente adaptada ao ambiente
(MOASSAB e CARDOSO, 2004).
149
Estes são alguns dos exemplos do desperdício de experiências da modernidade ocidental.
O conhecimento ancestral latino-americano, sua tecnologia construtiva, técnicas e materiais
é ainda muito pouco explorado nas disciplinas de estruturas dos Cursos de Arquitetura e
Urbanismo. Ao optar por conteúdos eurocentrados, tais disciplinas perpetuam o histórico de
desvalorização destes saberes milenares. No caso das disciplinas de tecnologia e de
estruturas, a descontextualização destes saberes ocorre em função de uma frequente
desarticulação destas em relação às disciplinas de teoria e história de arquitetura, tanto
quanto devido ao teor abstrato, puramente analítico-matemático, comumente naturalizado
para o ensino destes temas.
Não bastasse a permanência desta lógica descontextualizada da tecnociência, verifica-se
também uma contraditória e limitada socialização desta produção de conhecimento. A lógica da
tecnociência é pautada pela propriedade do saber (JOVER, 1996), pelas patentes, privatizando o
conhecimento, tornando-o exclusivo e excludente (assunto de especialistas), ao contrário de
solidário e inclusivo (sem apropriação popular, difícil de ser reproduzido e recriado pelo povo).
Vale lembrar, no continente Africano, o alerta sobre esta questão feito por Hassan Fathy,
nos anos 1940/50, aquando a arquitetura moderna e o seu correlato construtivo – o concreto
armado – colonizaram definitivamente os sistemas construtivos. O arquiteto egípcio dedicou
sua vida e obra para lutar contra a imposição do concreto como modelo de desenvolvimento,
já sob a égide do modernismo, no Egito daquele período. Fathy rapidamente percebeu que o
novo modelo construtivo consolidado impunha uma dependência de tecnologia ao país, que
não produzia nem cimento, nem aço, base para o concreto armado. Na contramão das
tendências internacionais uníssonas, o arquiteto procurou resgatar técnicas construtivas
antigas, baseadas nos materiais e no saber local, então, em fase de desaparecimento. Sua
dedicação e intenso trabalho nas comunidades rurais do país lhe permitiram reconstituir uma
técnica ancestral para a construção de abóbadas e cúpulas de tijolo de adobe sem a
necessidade de cofragem – o país carece de madeira para a fabricação de formas. A técnica
que garante a construção completa da moradia, das paredes à cobertura, sem o uso de
madeira e apenas com a terra local está registrada no livro “Construindo com os Pobres” (1982
[1a ed. 1969]), no qual também é narrado todo o boicote da administração pública ao seu
trabalho, em favor do concreto armado.
Importa ressaltar que não é, nem exclusivo do Egito, nem casual o acolhimento, pelos
governos nacionais, do concreto armado como sistema construtivo por excelência. Na tese
de doutorado A ditadura dos empreiteiros: as empresas nacionais de construção pesada,
suas formas associativas e o Estado ditatorial brasileiro, 1964-1985, o historiador Pedro
Campos (2012) demonstra o vínculo indiscernível entre empreiteiras e o governo brasileiro,
desde o período de Juscelino Kubitschek. A temporalidade desta relação não é coincidência:
a ascensão e consolidação do concreto armado como sistema construtivo eleito para o
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século XX implementa toda uma estrutura econômica, produtiva e lobista que alimenta e é
alimentada pelas estruturas de poder até hoje no país. Em alguns países, a produção
industrial em aço não altera a natureza do sistema produtivo e as relações analíticas que
propomos. Esta relação simbiótica acontece de ambos os lados da Guerra Fria, com os países
150
apostando num modelo industrial desenvolvimentista em prol da produção em série, cujo
expoente na construção civil foi e tem sido o concreto armado.
Neste contexto, o ensino de estruturas acaba se voltando mais para a produção industrial
em série e menos para a atuação atomizada e plural dos canteiros de obras autoproduzidos e
autoconstruídos comuns nas periferias das cidades latino-americanas. Ou seja, uma formação
acadêmica centrada naquela parcela do mercado da construção civil comandada pelas grandes
empresas construtoras, formatada para atender as demandas da população por esta via. O
concreto batido na obra, por meio de enxadas, não é o mesmo concreto usinado transportado
por caminhões, ambos não têm a mesma resistência e nem a mesma consistência.
Desta feita, consta do projeto político-pedagógico do curso - PPC, já nas suas páginas
iniciais, a sua vocação “para a produção compartilhada de conhecimentos fundamentais com o
objetivo de promover ações voltadas ao desenvolvimento de espaços e espacialidades
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socialmente mais justos no contexto regional” (ibidem, p. 5). Para tanto, o PPC está
organizando em cinco eixos de instrumentação: (1) Estudos Latino-Americanos, (2) Crítica; (3)
Técnica; (4) Leitura e Representação e (5) Atelier Integrado. A separação dos eixos é um
critério mais de ordem organizacional e menos disciplinar. O ensino da teoria e da prática é
152 uma realidade exercida nos quatro eixos pedagógicos. Cada qual opera esta articulação a
partir de suas especificidades e temáticas (MOASSAB, 2013).
Os e as docentes do curso foram, em sua maioria, concursados/as para atuarem no
atelier integrado e num dos demais eixos de instrumentação, de modo que a autora atua no
Eixo de Instrumentação Crítica, no qual estão inseridas as disciplinas de Crítica e História de
Arquitetura e Urbanismo e o autor, no Eixo de Instrumentação Técnica, ministrando
disciplinas de tecnologias, detalhados a seguir.
No Eixo de Instrumentação Crítica, estão disciplinas que integram tanto o núcleo de
conhecimento de fundamentação (poéticas visuais; Estado, industrialização e sociedade;
arquitetura, cidade e sociedade; arquiteturas e cidades na América Latina) como
profissionais (crítica e história da arquitetura e da cidade; práticas participativas em
arquitetura e urbanismo; estética e filosofia da arquitetura; história da casa e da habitação;
arquiteturas latino-americanas; cidades latino-americanas; políticas públicas de habitação;
políticas de preservação e cartas patrimoniais; deontologia da arquitetura e urbanismo). Sob
a mesma ótica fundante da UNILA, ou seja, o pensamento decolonial, este eixo reúne as
disciplinas de embasamento crítico-reflexivo diretamente relacionadas à arquitetura e ao
urbanismo, as quais visam a instrumentalizar o estudante para um entendimento da
arquitetura como sujeito social e político.
É nesta direção que durante quatro semestres concebe-se a disciplina de “crítica e história
da arquitetura e da cidade”, sob a responsabilidade da autora, pautada para uma
compreensão histórico-política e sócio-cultural da produção arquitetônica e do espaço
construído de cada período e lugar dos principais povos, desde a antiguidade até os dias
atuais. Busca-se, deste modo, evitar uma leitura estetizante da arquitetura, ao mesmo tempo
em que coloca em xeque os valores universalizantes e hierarquizantes da modernidade
ocidental. Especial atenção é dada para a inclusão de diversos saberes construtivos, como é o
caso da arquitetura originária ameríndia, africana, indígena brasileira e latino-americana,
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quilombola. Atenta-se, ainda, para uma análise sobre a clivagem de gênero e etnia na
historiografia da arquitetura, a qual exclui das publicações determinadas produções e
profissionais em favor de uma supervalorização da produção arquitetônica masculina, branca
e produzida no norte global (ou sob as suas diretivas).
153
Nesta direção merecem destaques os trabalhos finais de duas disciplinas deste eixo,
propostos pela autora: as exposições “Arquitetura e Recursos Naturais: Tipologias
Construtivas na América Latina”2 e “Outra(s) Arquitetura(s): os povos e suas tecnologias
construtivas”, resultados das disciplinas ministradas para turmas distintas, Arquiteturas e
Cidades na América Latina (2013) e Crítica e História da Arquitetura e da Cidade I (2014),
respectivamente.
A primeira buscou mostrar um panorama do repertório tipológico latino-americano, com
foco nas técnicas construtivas não dominantes no atual cenário da construção civil. Isto é, o
desafio dos alunos e alunas foi pesquisar e delimitar, no subcontinente, a diversidade
construtiva habitacional que empregasse materiais distintos do usual bloco, concreto e
cimento. Atenção especial foi dada para tipologias dos países de origem dos e das
estudantes daquele semestre (Brasil, Peru, Equador, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Uruguai,
Argentina e Paraguai), com vista a formar um acervo da multiplicidade de tipologias
arquitetônicas destes lugares. Contudo, a organização expositiva foge do óbvio geográfico:
as tipologias foram ordenadas por aquilo que elas têm comum, no que tange à utilização dos
recursos naturais. Se o lugar foi o ponto de partida, as soluções arquitetônicas foram o
encadeamento final expositivo: iluminação zenital; ventilação natural; isolamento térmico
em adobe; isolamento térmico em madeira; isolamento térmico em pedra e isolamento
térmico em palha, temas raramente abordados em disciplinas teóricas.
Por sua vez, o Eixo de Instrumentação Técnica (Figura 3) acolhe e organiza as disciplinas
de capacitação técnico-profissional, voltadas para o aprendizado de instrumentos e técnicas
e a sua aplicação para a arquitetura e urbanismo: topografia; conforto ambiental; ergonomia
do espaço construído e habitado; infraestruturas prediais e urbanas; sistemas estruturais;
155
canteiro experimental – disciplina teórico-prática, ministrada em laboratório próprio, que
aborda, ao longo de quatro semestres, sistemas e métodos construtivos; materiais e técnicas
construtivas; técnicas retrospectivas e custos e decisões projetuais.
Destas, as disciplinas de canteiro experimental I, II e III têm sido ministradas pelo autor e
Sistema Estrutural I lhe foi atribuída para 2017-2, que tem buscado, especialmente articulá-
las às demais do Eixo de Tecnologias e de Crítica. No caso de Sistemas Estruturais I, a
proposta é abordar os saberes tectônicos dos povos latino-americanos já descritos neste
trabalho em estreita relação com as disciplinas do Eixo de Instrumentação Crítica, acima
mencionadas. Nesta direção, vale destacar o trabalho conjunto no semestre 2014.2, que
culminou com já citada exposição (figura 2) “Outra(s) Arquitetura(s)”. Ministrada no mesmo
semestre e para alguns alunos e alunas em comum, a disciplina Canteiro Experimental I
tratou de diversas técnicas construtivas, como as técnicas em terra, em um profícuo diálogo
com o debate em história. A aprendizagem da riqueza tecnológica do continente latino-
americano ocorreu por meio da pesquisa teórica e da experimentação prática de técnicas
construtivas de terra crua, madeira e palha, em escala reduzida na primeira edição da
disciplina e em escala real nas edições seguintes. Ao final, os alunos e alunas produziram
vídeos com a síntese de todo o processo. Cabe salientar que a articulação sistemática aqui
proposta entre as áreas de Crítica e Tecnologia (Figura 4) não é uma experiência
generalizada entre outros professores e professoras, tampouco outras disciplinas. Por
enquanto, como se verá mais adiante, são generalizadas as interlocuções de disciplinas
dentro de cada eixo.
Merece destaque, ainda, a centralidade que a multi, inter e transdisciplinaridade tem nos
cursos da UNILA e como tal encontro de conhecimentos está registrado no PPC do curso,
reconhecendo que:
a estrutura curricular em muitos cursos de arquitetura e urbanismo é pautada por
uma multiplicidade de conhecimentos e abordagens, característica da área, mas
nem todas evitam o mero encontro de monólogos temáticos, em que cada
disciplina mantém seu método ou teoria. A interdisciplinaridade, ao contrário,
pressupõe o esforço de desenvolver perspectivas teórico-metodológicas comuns.
3
Um relato mais específico da experiência com as disciplinas de Canteiro Experimental se encontra em:
CUNHA, G. R; VITORINO, M. E. S. Canteiro Experimental: experiências didáticas e sua articulação com o Projeto
Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNILA. In: Seminário Projetar, 7, Anais... Natal, 2015.
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos anos 60 e adotando-se como marco as revoltas estudantis de maio de 1968 em
Paris, as perspectivas kantianas da razão e humboltianas da cultura têm sido rapidamente
substituídas por preceitos basilares à eficácia de mercado (BELLEI, 2006). Neste sentido, as
humanidades perdem verbas e espaço em detrimento dos saberes das ciências exatas,
159
nomeadamente as engenharias e as novas tecnologias. O saber científico supostamente
objetivo e neutro subsidia a formação de técnicos mais voltados ao aumento da eficiência e da
eficácia, segundo padrões de medidas da produtividade capitalista, e cada vez menos aptos à
reflexão crítica destes próprios padrões.
O avanço dos valores de mercado, acirrados especialmente nas últimas décadas com a
consolidação da globalização neoliberal, tem penetrado diversos espaços da vida social e não é
diferente na universidade, tampouco, nos cursos de arquitetura e urbanismo. Pelo contrário, a
ausência da perspectiva crítica no debate da área tem colaborado para a sua instrumentalização
a serviço do capital e para seu afastamento crescente das demandas sociais.
Em síntese, acreditamos que mais do que reproduzir conhecimentos tectônicos dos povos
latino-americanos, deseja-se mostrar a diversidade da tectônica, como fonte de contestação
da universalidade e neutralidade, centradas na matemática ou na física. Isto significa uma
revisão paradigmática, descentrando as metodologias verificativas abstratas do ensino e da
prática profissional, em favor daquelas de caráter empírico, intuitivo e contextualizados,
mais apropriados para as diversidades de contextos construtivos latino-americanos.
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ESTRUTURAS INVISÍVEIS – REFLEXÃO E PRÁTICA
RESUMO
Como podemos associar a concepção de edifícios a um olhar estético, que perceba a ordem e
proporção que evidenciam a natureza e a qualidade de sua estrutura? Como poder trabalhar, de
maneira prática, para sanar boa parte das lacunas na formação de arquitetos que se formam com
profundas deficiências em matemática e física? O presente trabalho visa relatar experiências que
podem contribuir significativamente para essas questões. O relato dessas experiências tenta mostrar
a importância de um olhar estético sobre as estruturas por meio de algumas reflexões feitas em
oficinas de construção de modelos. Tendo como fundamento a ordem e a proporção, procura-se
treinar o olhar para a percepção das estruturas da natureza, bem como despertar a compreensão
estética de obras emblemáticas. O presente relato procura mostrar como o estudante pode ir à busca
das razões de nos sentirmos atraídos por padrões e harmonias presentes nas principais obras de arte
e de arquitetura. Este artigo pretende, ainda, chamar a atenção para a necessidade de se desenvolver
uma sensibilidade para as estruturas a partir da construção de padrões modulares. Tais modelos
conduzirão os estudantes à observação dos padrões de construção tendo em foco os caminhos de
força e as deformações que revelam as proporções necessárias para o equilíbrio de uma construção.
Palavras-chave: Formação e prática; Oficinas de estruturas; Geometria da Natureza; Ordem
estrutural; Estética.
ABSTRACT
How can we associate the design of buildings to an aesthetic look, you realize the order and
proportion which highlight the nature and quality of your structure? How can working practically to
remedy many of the shortcomings in the training of architects formed with deep deficiencies in
mathematics and physics. The present work aims to report experiences that can contribute
significantly to these issues. The account of these experiences tries to show the importance of an
aesthetic look about the structures through some reflections made in workshops of construction of
models. Taking as the Foundation the order and proportion, seeks to train the eye to the perception of
the structures of nature, as well as arouse aesthetic understanding of emblematic works. The present
report seeks to show how the student can go to search for reasons to feel drawn to patterns and
harmonies presents major works of art and architecture. This article will also draw attention to the
need to develop a sensitivity to the structures from the construction of modular patterns. Such models
will lead students to the observation of the construction standards taking into focus the strength and
the deformation that reveal the proportions needed for the balance of a building.
Keywords: Training and practice; Workshops of structures; Geometry of nature; Structural;
Aesthetic.
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1. PRÁTICA E REFLEXÃO
É preocupante o número de arquitetos que concluem os seus cursos com deficiências
formativas e culturais profundas. Sobretudo aqueles oriundos de escolas particulares que
desovam no mercado brasileiro milhares de “arquitetos” com um nível de conhecimento
162 bastante baixo, tanto no que diz respeito ao repertório cultural como quanto à formação
matemática e técnica. Segundo Yopanan Rebello, “Esta situação nos leva a crer que o aluno
aprende mal as matérias que envolvem matemática ou técnicas, devido a forma como essas
disciplinas lhe são apresentadas, não relacionando estas informações com o mundo prático
e visível”. (REBELLO, 1992). Distanciam-se, cada vez mais, o arquiteto dos técnicos
especializados de tal forma que boa parte das soluções tecnológicas “apagam” a concepção
original de uma obra. Essas distorções se aprofundam no que diz respeito à função das
estruturas na concepção do projeto arquitetônico.
Outro aspecto relevante na formação deficiente do arquiteto é o fato de as disciplinas de
sistemas estruturais e resistência dos materiais terem horas insuficientes para que sejam
preenchidas as necessidades curriculares. Gasta-se muito tempo no ensino de cálculos que
dificilmente saem do tradicional e cartesiano “laje, viga e pilar” e pouco tempo nas novas
formas propostas pela arquitetura contemporânea, onde boa parte desse descompasso
advém de estruturas paramétricas concebidas por sofisticados programas computacionais.
Um comentário de Eduardo Torroja se encaixa perfeitamente na lógica das novas
tecnologias adotadas por projetistas no século XXI:
El asombroso avance, en las teorias mecánicas de las estructuras o elementos
sustentantes de las consturcciones han producido los siglos XIX y XX, hance
menospreciar excesivamente el estudio ontológico de la morfologia resistente,
Todo proyectista que descuide el conocimiento de sus principios, está expuesto a
graves fracasos; y el caso es que en las escuelas hay tanto que aprender que rara
vez queda tiempo para pensar (TORROJA, 1954).
Neste trecho do romance de Umberto Eco, a concepção do belo está intimamente ligada à
ordem, ritmo e proporção, assim como à observação do mundo físico, passível de ser medido
e, por isso mesmo, profundamente matemático. Matemática das formas e da geometria na
sua origem e não a matemática das fórmulas, imediatista e meramente mecânica.
Quando falamos em estrutura, nos referimos aos limites físicos por ela estabelecidos. Ao
observamos uma flor, uma nuvem ou uma onda no mar, nos deparamos com uma ordem
extraordinária que nos remete às origens da vida. Essas formas carregam em si estruturas
invisíveis que fazem parte fundamental de suas constituições, tornando-as luminosamente
belas quando percebidas pelo observador. Fica fácil demonstrar que os conceitos de
modulação estrutural, eixos de organização espacial, proporções, ritmo e harmonia existem,
antes de mais nada, nas formas encontradas na Natureza. E, se há uma ordem que nos
encanta nessas formas, por que não nos inspirarmos nelas para conceber formas
arquitetônicas?
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2. AS EXPERIÊNCIAS
Quem não compreende um olhar, tampouco compreenderá uma longa explicação.
Provérbio Árabe (Fonte: https://pensador.uol.com.br/proverbios_arabes/)
se expor aos demais colegas quais foram os aspectos estruturais descobertos e como ou
porque eles se tornaram encantadores. Essa didática possibilita a imersão em conceitos
como: ordem, modulação e harmonia dos caminhos de forças nas edificações da natureza.
O paralelo com construções arquitetônicas é inevitável e os estudantes e professores
165
podem resgatar as inspirações que dão vida às obras como as de Gaudí, Nervi, Calatrava,
Renzo Piano e muitos outros. Nessa dinâmica, começa-se a integrar várias áreas do
conhecimento que até então estavam dissociadas em disciplinas estanques. Por exemplo, a
organização da estrutura do DNA está associada à ordem pentagonal e, sua espiral, à
proporção áurea que, por sua vez, se originou da construção do próprio pentágono; ou
ainda, um parabolóide hiperbólico pode ser encontrado nos movimentos ondulatórios, na
movimentação repetitiva das asas de um beija-flor assim como está presente na tipologia
usada por Gaudí na Escola da Sagrada Família.
A segunda experiência é baseada na execução de maquetes de estruturas poliédricas que
irão reforçar os procedimentos regulares e harmônicos existentes nas formas acima
mencionadas, tendo como princípio a estabilidade dos triângulos. Constroem-se os três
poliedros regulares cujas faces são triangulares: Tetraedro, Octaedro e Icosaedro (Figura 1).
Em seguida, montam-se os sólidos duais como uma consequência natural desses primeiros:
cubo e dodecaedro (Figura 2).
Após a construção dos poliedros, se faz a relação que cada um tem com as mais variadas
estruturas da Natureza. Por exemplo: os poliedros são feitos a partir de triângulos,
quadrados e pentágonos; as plantas são classificadas quanto ao número de peças por
verticilo como trímeras, tetrâmeras e pentâmeras; originalmente, o triângulo de Pitágoras
tem um lado três, outro quatro e a hipotenusa, cinco. O envolvimento do aluno é imediato.
Várias foram as vezes em que muitos alunos deixaram seus celulares de lado, não
perceberam a hora do intervalo ou ultrapassaram as horas das aulas nessa tarefa. Após a
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
construção dos poliedros regulares, montam-se grandes estruturas usando como módulos a
estrutura de cada um (Figura 3). Esse procedimento leva à compreensão do que representa
a modulação estrutural, conceitos de pré-fabricação, bem como o papel das conexões. Em
aulas seguintes, várias estruturas, em grande escala, são feitas em grupo usando como base
166
triângulos e quadrados e apenas um único tamanho de barra (Figura 4).
estruturas, abre-se para a criação de novas formas pelos grupos. É importante que se
demonstrem em cada modelo os aspectos estéticos inerentes a essas organizações bem
como suas deformações. A todo momento é importante acompanhar a execução dos
modelos, mostrando o comportamento estrutural de cada tipologia.
167
Outro aspecto a ser salientado é que o professor deve fazer o uso do quadro negro o
máximo possível. Deve ainda pedir que os estudantes façam as anotações em seus cadernos
sem pauta e não, simplesmente, tirem fotos da lousa. (Figura 11).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
169
O hábito de copiar o quadro incentiva o aluno a tentar desenhar mais e seu desenho
tende a melhorar muito no decorrer do curso. Além de se exercitar, o desenho traz, cada vez
mais, a compreenção de proporção, dimensionamentos, caminho de forças e uma melhor
apreenção das tipologias da arquitetura.
É muito importante que o aluno possa perceber que um bom desenho arquitetônico não
depende de uma habilidade nata. É fundamental que perceba que o bom desenho é fruto da
compreenção das propriedades ordenadoras do espaço.
O desenvolvimento de protótios baseados em obras arquitetônicas de qualidade permite
que se possa compreender a natureza das estruturas por meio das características dos
diversos materiais utilizados. Essa prática permite fazer os testes de cargas mais vinculados à
obra arquitetônica. Fica fácil entender os caminhos de forças e as deformações de acordo
com cada tipologia. Evidencia-se, ainda a importância dos diversos víunculos estruturais e
como atuam na construção (Figuras 12, 13, 14 e 15).
170
Apenas após vários modelos construídos, vem a parte do projeto e execução de uma
maquete. Todos os modelos foram dimensionados e baseados em cálculos expeditos a partir
de referências existentes. (Figura 18 e 19). Os resultados foram surpreendentes e o nível de
satisfação dos alunos, enorme.
171
3. CONSIDERAÇÕES
As oficinas de modelagem tridimensional, acompanhadas por boas referências,
estabelecendo relações imediatas com obras arquitetônicas executadas, trazem uma
percepção muito mais real do fenômeno físico. Aliam-se a essa percepção as relações
percebidas entre o fenômeno físico e as proporções das obras.
Essas oficinas desviam-se da ideia de que o aprendizado tem de estar apenas na cabeça.
Elas permitem a possibilidade de uso de todos os sentidos, fortes aliados do pensamento e
do raciocínio, na resolução de um problema construtivo. O estudante se envolve
intensamente ao perceber que alguns procedimentos simples, frutos de uma ordem clara,
possibilitam construir formas aparentemente complexas, mas encantadoras. Permitem,
ainda, desvendar mistérios da estabilidade e da ordem estrutural, pois vivenciam o
fenômeno físico.
As oficinas são fruto de um processo associativo entre matéria, forma e a concepção da
forma arquitetônica. No mesmo livro, se referindo ao uso de ábacos para cálculo, Yopanan
ressalta: “O que importa, como resultado, é que a tabela possa refletir de maneira clara e
imediata como o seu construtor vê as diversas relações apontadas, e que, a partir dela,
consiga manipular objetivamente essas relações, orientando o processo de concepção
estrutural” (REBELLO, 2000).
Toda a prática desenvolvida nas oficinas de modelagem, com inúmeros alunos que
possuem falhas significativas em sua formação, demonstra que é possível fazer com que a
análise de modelos e referências construtivas seja forte aliada às operações de cálculo.
O treinamento de um olhar estético, analisando dimensões e proporções, pode ser uma
poderosa ferramenta para aproximar mais o estudante do entendimento do meio físico
necessário à compreensão dos sistemas estruturais.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu mestre e amigo Yopanan Rebello pela simplicidade e beleza com que
interpreta o papel das estruturas na Arquitetura.
Agradeço ao Professor José Roberto Gomes de Soutello pelos profundos ensinamentos
sobre o olhar arquitetônico das estruturas.
Agradeço à minha companheira de aulas de Sistemas Estruturais na Escola da Cidade,
Professora Anália Amorim.
Agradeço à amiga Professora Maria Regina Sarro pela dedicação à educação e pela
firmeza de propósitos.
Agradeço à UNIMONTE (Universidade Monte Serrat), Santos, por acreditar na educação e
pela colaboração nas oficinas.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
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ALGUNS APONTAMENTOS TEÓRICO-FILOSÓFICOS SOBRE A VANTAGEM DO
VIÉS CONCEPTIVO NO ENSINO DE ESTRUTURAS
RESUMO
O artigo pretende discutir, a partir de elementos teórico-filosóficos, as vantagens do viés conceptivo
para o ensino de estruturas nos cursos de Arquitetura e Urbanismo. As reflexões a serem
desenvolvidas têm como ponto de partida resultados obtidos e apresentados na dissertação de
Mestrado do autor. Pretende-se discutir o ato conceptivo em arquitetura, em geral – portanto não
somente o ato de conceber estruturas, mas ele incluído dentro de outro mais amplo, o da
arquitetura como um todo –, como um ato de trabalho. O ato criativo é potencializado quando o
sujeito (projetista) confronta a sua criação como algo objetivado e, a partir desta confrontação,
busca aprimorar o objeto – através de novos ciclos de trabalho – tantas vezes quantas forem
possíveis ou necessárias. Esta forma de trabalhar didaticamente se diferencia daquilo que
poderíamos chamar de vieses conceptivos-fetichizados – mais comuns ao ensino de projeto –, que
atribuem ao sujeito isolado todas as possíveis qualidades de um bom projetista, acreditando que as
boas ideias (ou soluções) surgem de processos estritamente mentais, do confronto da ideia com a
ideia. Mas ela se difere sobretudo do viés verificativo tradicional no ensino de estruturas, porque
estabelece uma relação do projetista com seu objeto que é dinâmica e contínua, além de facilitar o
trabalho coletivo e se afastar do apelo autoral. Em última instância, ela visa a não somente formar
objetos "bem resolvidos", mas sobretudo a formar sujeitos cada vez mais capazes de encontrar saídas
positivas para suas relações com o mundo objetivo e os problemas estruturais e arquitetônicos.
Palavras-chave: Viés conceptivo; Teleologia; Causalidade; Projeto.
ABSTRACT
The paper intends to discuss, from theoretical-philosophical elements, the advantages of the
conceptive bias for the teaching of structures in the courses of Architecture and Urbanism. The
reflections to be developed have as their starting point results obtained and presented in the master's
thesis of the author. It is intended to discuss the conceptual act in architecture in general - hence not
only the act of conceiving structures, but it included within a wider one, that of architecture as a
whole - as an act of labour. The creative act is potentialized when the subject (designer) confronts his
creation as something objectified and, from this confrontation seeks to improve the object - through
new cycles of labour - as many times as possible or necessary. This way of working doactically differs
from what we might call conceptive-fetishized biases - more common to project teaching - that
attribute to the isolated subject all the possible qualities of a good designer, believing that good ideas
(or solutions) arise from strictly mental processes, from the confrontation of idea with idea. But it
differs mainly from the traditional verifying bias in the teaching of structures, because it establishes a
relation of the designer with his object that is dynamic and continuous, besides facilitating the
collective work and moving away from the author's appeal. Ultimately, it aims not only to form "well-
resolved" objects, but above all to form subjects who are increasingly capable of finding positive
outlets for their relations with the objective world and structural and architectural problems.
Keywords: Conceptive bias; Teleology; Causality; Project.
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1. INTRODUÇÃO
É inevitável que a produção contemporânea da arquitetura a nível mundial seja a
inspiração e a fonte de referências para estudantes de arquitetura, ainda mais em um
mundo conectado pela internet. É sabido também que, e isso já foi e é objeto de
174 importantes críticas1, essa mesma arquitetura contemporânea supervaloriza a produção
autoral de alguns poucos arquitetos que trabalham em condições muito diferentes das
“normais” para um arquiteto "médio", seja ele recém-formado ou experiente, sobretudo se
ele estiver posicionado na periferia do capitalismo. Ainda assim, a produção autoral alimenta
os sonhos de grande parte dos estudantes que, não podendo repetir a grandiosidade das
obras dos grandes arquitetos, procuram ao menos se colocar na posição de autores criativos
e únicos, com uma linguagem própria e uma postura soberana diante do conjunto do
processo produtivo da arquitetura.
O presente artigo pretende dialogar com a compreensão de que esta posição do
arquiteto como o grande criador individual, o formulador da ideia que deve ser respeitada
ao longo de todo o processo construtivo, é uma posição socialmente construída e que tem
consequências bastante diretas sobre a forma como é tratada, neste processo, a concepção
estrutural. Este diálogo é um diálogo teórico-filosófico, sem pretensão de apontar uma
solução para a grande curricular de cursos de arquitetura e urbanismo, mas com a pretensão
gerar reflexões a respeito da necessidade de encaixar a concepção estrutural dialeticamente
dentro do processo projetual como algo consciente. Consequentemente, uma vez
compreendida a posição da concepção estrutural dentro do projeto de arquitetura, é natural
que se repense a posição do ensino de estruturas dentro do ensino de arquitetura.
1
Ver ARANTES, 2012 e WHITAKER, 2011.
2
O tema é tratado com propriedade por Pedro Fiori Arantes em ARANTES, 2012.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
creatio ex nihilo, uma criação a partir do nada. Quem transforma água em vinho, este fabrica
vinho do nada, porque o elemento do vinho não está na água; caso contrário não seria a
produção do vinho milagrosa, mas natural” (FEUERBACH, 2007, p.121). Já os arquitetos, em
geral, além de estarem submetidos às leis da física, não podem criar a partir do nada.
175
Mas a noção de que arquitetos são análogos de Deus parece ignorar tais barreiras. Se,
para os arquitetos, o verbo não for suficiente para realizar o impossível diretamente, ele
pode ser suficiente para realizá-lo indiretamente, atribuindo a um outro essa tarefa. Assim,
engenheiros calculistas têm sido capazes de fazer com que quase qualquer proposta formal
se encaixe nas leis da estática, desde que também indiretamente e recorrendo ainda a mais
um “outro”: por fim, recai sobre os braços operários a tarefa final de realizar o impossível,
içando e soldando vigas de aço, encaixando componentes de madeira, concretando
superfícies, enfim, transformando matéria-prima real em produto arquitetônico efetivo.
Desta forma, com tantas mediações e acumulando vários pequenos milagres – que podem
envolver o gasto de incontáveis somas de dinheiro e/ou sérios acidentes de trabalho,
mortes, etc. – o milagre final da arquitetura se faz realidade3.
Quando afirmamos que toda arquitetura pressupõe uma estrutura estamos falando,
obviamente, de uma estrutura feita justamente deste tipo de material ou matéria-prima:
aço, concreto armado ou madeira, só para citar os mais convencionais. Mas Vittorio Gregotti
afirmava que “o projeto arquitetônico não é ainda arquitetura” (GREGOTTI, 1975, p. 13), o
que nos leva a concluir que arquitetos já não fazem mais arquitetura e sim somente projetos
arquitetônicos. Daí que tantas mediações se interponham entre o arquiteto e a realização do
produto arquitetônico. E também daí que o calculista e o operário tenham que ser
necessariamente solicitados, que só entrem em cena depois do arquiteto e que atuem numa
etapa (ou na transição para ela) que comumente denominamos como de “execução”, em
contraposição à etapa de “projeto”.
“O domínio dos próprios movimentos, do próprio corpo, é pressuposto técnico para um
grupo de artistas (atores, bailarinos), ao modo como é para outros o domínio de um
material” (LUKÁCS, 1974, p. 269). Dominar o material é, então, um pressuposto técnico para
uma arte. Um projeto arquitetônico geralmente é feito de desenhos e/ou maquetes. O papel
é, portanto, o principal material manipulado pelo arquiteto projetista. Com exceção de
Shigeru Ban, no entanto, poucos são os arquitetos que propõe utilizar o papel como material
de construção.
Para o arquiteto não basta dominar, como material, somente o papel. O papel não é, para
o arquiteto, um fim, mas somente um meio. Nele deve estar inscrito um conjunto de
informações voltadas para a execução de uma finalidade que se utilizará, no futuro, de
outros materiais. O papel não expressa, portanto, a realização da intenção ou da vontade do
arquiteto, mas apenas a comunicação dessa intenção, lançando-a à frente. Por isso
utilizamos aí a palavra “projeto”, cuja etimologia sugere “algo lançado à frente”.
3
Para um aprofundamento deste tema sugerimos toda a obra sobre arquitetura de Sérgio Ferro.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Apesar de estar descrito aí um “método de trabalho”, tal como sugere o título do capítulo
do livro de onde foi extraída essa passagem, uma leitura atenta parece revelar que o
trabalho, efetivamente, só se inicia após o surgimento da ideia. Não há trabalho na
formação da ideia, a não ser o trabalho mental que parece prescindir do corpo do arquiteto
(“deixo a cabeça trabalhar”). O trabalho efetivamente começaria somente no processo de
exteriorização ou representação da ideia. A ideia surge após um período de “espera”, suas
únicas características processuais estão associadas a momentos “de folga”, de sono ou de
outras ocupações. A ideia, ao que parece, já nasceu pronta ou quase pronta, revelou-se para
o arquiteto. Como num pacote completo, já veio junto a concepção estrutural: “eu queria
[...] essa junção das estruturas com a arquitetura, queria que elas nascessem juntas”
(NIEMEYER apud. INOJOSA, 2010). Diante desse processo, poderíamos levantar duas
hipóteses: ou o arquiteto cumpre apenas uma função de mediador, médium, de algo que
vem de outra dimensão, ou o arquiteto é justamente o ponto de origem, de onde partem as
ideias sem que nada as preceda (a tal “criação a partir do nada”).
4
LEONÍDIO, 2007.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Se a ideia é ponto de partida, ponto zero, ela passa a ser inquestionável. Sendo ela
antecipação do produto final, do edifício construído, ela é também fim. Ela é, portanto, tal
como Deus, ou o Espírito Absoluto de Hegel, “o alfa e o ômega, o princípio e o fim”. Tudo o
que vem no meio tem que simplesmente se adaptar a ela, servi-la. Eis o fetiche: a ideia, que
177
deveria responder às demandas e necessidades, torna-se ela própria a geradora de
demandas e necessidades. Todo o encadeamento de ações necessárias à materialização do
objeto arquitetônico entra em uma espécie de linha de produção, via de mão única: primeiro
a ideia, depois o seu detalhamento, depois a execução.
5
A expressão tem longa trajetória na história da filosofia. Os tradutores de Prolegômenos para um ontologia do
ser social de Lukács resgataram as linhas gerais dessa trajetória em nota. Ver LUKÁCS, 2010, pp. 43-44.
6
Todo o dito na nota anterior vale igualmente para a categoria da causalidade. Ver LUKÁCS, 2010, p. 40.
7
Deve-se sobretudo ao filósofo húngaro György Lukács o esclarecimento desta questão. Importante esclarecer: em
primeiro lugar, a relação entre teleologia e causalidade de Marx e Engels não se apresentam de maneira “pura” ou
“direta” em seus textos, ela foi, digamos, “descoberta” por Lukács, por sua imensa capacidade de interpretação, mas
também pelo fato de ele ter tido uma relação ímpar com a obra dos dois alemães (o que envolve, por exemplo, ele
ter sido o primeiro a tomar conhecimento dos Manuscritos econômico-filosóficos, texto seminal do pensamento de
Marx). Em segundo lugar, essa noção não pode ser atribuída a todo o marxismo, pois ele é constituído de diferentes
interpretações da obra de Marx e Engels. Na verdade, Lukács viu no equacionamento dessas duas categorias uma
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
discorrer longamente – tal como seria recomendável – sobre o tema no espaço deste artigo,
nos limitaremos a expor o seguinte: para eles as duas categorias só constituem uma unidade
(no sentido de uma unidade dialética, portanto, unidade da diversidade) no trabalho
(trabalho humano, considerando o ser humano como o único animal que trabalha), isto
178
porque o trabalho é a primeira manifestação da teleologia.
Marx nega a existência de qualquer teleologia fora do trabalho (da práxis humana)
[...], para Marx, o trabalho não é uma das muitas formas fenomênicas da teleologia
em geral, mas o único ponto onde se pode demonstrar ontologicamente um pôr
teleológico como momento real da realidade material (LUKÁCS, 2013, p. 51).
5. A RELAÇÃO SUJEITO-OBJETO
Uma vez que somente na esfera do ser social é possível uma teleologia, nas demais
esferas operam, portanto, somente relações causais. Uma vez que a teleologia é
“inaugurada”, pois que surge, com o trabalho, inaugura-se também neste mesmo processo a
relação sujeito-objeto. As cadeias causais nada mais são que relações entre objetos.
arma para combater interpretações do marxismo que julgava serem demasiado mecanicistas. Nas palavras de
Nicolas Tertulian, “A ideia de uma 'necessidade teleológica' do socialismo era nesse sentido refutada explicitamente
por Lukács. O socialismo existia para ele somente como possibilidade, e ele exigia que ela fosse recolocada no
contexto real do processo histórico” (TERTULIAN, 2011, p. 116).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Tudo isso nos interessa porque demonstra que o poder de criação do trabalho encontra
no mundo objetivo um universo imenso de possibilidades, mas encontra também limites, já
que a criação só é viável atendendo às leis da natureza e (re)organizando elementos do
mundo objetivo que são pré-existentes.
8
“Antes que o homem chegue a ser para si mesmo sujeito, a natureza se converteu em objeto. Uma coisa
natural não chega a ser objeto a não ser por ter se convertido em objeto ou instrumento do trabalho; só pelo
trabalho surge uma relação sujeito-objeto. Em nenhum intercâmbio material imediato, em nenhum
metabolismo pode se falar razoavelmente de uma tal relação; o oxigênio e o carbono não são de modo algum,
no processo de assimilação e dissimilação, objetos da planta, nem tampouco na união do animal com sua
presa, com o pedaço de mundo que ele devora, pode estabelecer-se mais que uma primeira, fugaz e nebulosa
aparição de uma relação sujeito-objeto; essencialmente, este intercâmbio não se diferencia daquele
metabolismo. Somente no intercâmbio mediado, no processo de trabalho, aparece uma tal autêntica relação
sujeito-objeto, e o estranhamento e subjetivação do homem se produzem somente de forma paulatina, através
de um desenvolvimento lento e contraditório. O homem em gênese e até o homem primitivo estão muito
ligados à natureza, a divisão entre sujeito e objeto, entre homem e mundo circundante, é durante muito tempo
fluida, indeterminada, pouco marcante, e a rigorosa separação entre o ‘Eu’ e o ‘Não-Eu’ é uma forma
extremamente tardia da consciência humana” (FISCHER apud. LUKÁCS, 1974, pp. 88-89).
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6. MEIOS E FINS
Esta forma de conceber a relação entre teleologia e causalidade é exclusiva de uma
determinada interpretação de Marx e Engels, aquela desenvolvida por Lukács. Mas há outros
modos de tratar esta relação. Em sua dissertação de mestrado sobre O ensino de estruturas
180 nas escolas de arquitetura do Brasil, Rita de Cássia Pereira Saramago se utiliza da relação
categorial entre teleologia e causalidade para tecer reflexões a respeito da dificuldade, nos
dias atuais, de alcançar no ensino de estruturas em escolas de arquitetura uma formação no
sentido da Bildung do filósofo alemão Georg Simmel. A relação entre teleologia e
causalidade, neste caso, é empregada não segundo os termos apresentados aqui
anteriormente, mas segundo a própria concepção de Simmel.
Para Simmel esta relação tem como centralidade a inversão entre meios e fins na vida do
indivíduo moderno. Segundo essa concepção, tal como é exposta no contexto da obra
Filosofia do dinheiro, de Simmel, o dinheiro, de meio universal (o equivalente universal de
Marx) passa a se tornar o grande fim para o qual converge todo o desejo humano na
modernidade.
A vida do sujeito da modernidade estaria, segundo Simmel, marcada por um excesso de
mediações: para o homem primitivo a relação entre fim (teleologia) e meios (causalidades)
estava muito próxima, mas na medida em que a sociedade vai se complexificando, vão
sendo inseridas mais e mais mediações neste processo, acarretando o que Simmel chama de
um prolongamento das “cadeias teleológicas”. Neste processo, pela necessidade de um fim
e na ausência de uma Bildung (formação cultural) suficiente para reconhecer esse complexo
de mediações, o homem moderno acaba por tomar meios como se fossem fins, é o que
ocorre com o dinheiro. Esta seria, ainda segundo Simmel, a tragédia da cultura.
Saramago consegue articular de maneira muito interessante esta interpretação com a
realidade do ensino de estruturas nas escolas de arquitetura hoje, valendo-se também da
afirmação de Heino Engel de que “a amplitude dos conhecimentos exigidos” no campo do
estudo das estruturas se choca com “as limitações individuais do profissional” (SARAMAGO,
2011, p. 32). Adiante retomaremos o trabalho de Saramago, que consideramos ter
conclusões fundamentais sobre o problema em questão, mas primeiro gostaríamos de
aproveitar a coincidência de categorias filosóficas entre dois diferentes filósofos para refletir
sobre alguns aspectos que ainda podem contribuir para nossa reflexão.
É certo as concepções sobre a relação entre teleologia e causalidade em Simmel e em Lukács
são incompatíveis9. Em Simmel, a teleologia ainda é privilegiada com relação à causalidade10.
9
Por volta de 1910, Lukács foi aluno de Simmel em Berlim, e foi muito influenciado por ele. Com a eclosão da
Primeira Guerra Mundial em 1914 e sobretudo após a morte de Simmel em 1918, Lukács inicia um processo de
distanciamento daquelas influências, até a sua contraposição. Neste período, Lukács consolida sua
fundamentação marxista. Simmel dialogava com o pensamento de Marx, mas seus fundamentos filosóficos
eram, segundo Nicolas Tertulian (2008), principalmente kantianos, a ponto de ele buscar construir uma
interpretação kantiana para problemas levantados por Marx (por exemplo, o fetichismo da mercadoria).
10
Interessante observar a posição de Lukács a este respeito: “A história da filosofia nos mostra que lutas
espirituais se travaram entre causalidade e teleologia como fundamentos categoriais da realidade e dos seus
movimentos. Toda filosofia de orientação teleológica, para poder operar intelectualmente uma harmonia entre
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Buscando esclarecer de modo muito sucinto essa diferença, podemos utilizar como exemplo o
fato de que Simmel admite a existência de Deus, mas afirmando que este, assim como os
animais, não teriam nem fim nem meios, pois o primeiro cria imediatamente e os segundos
agem instintivamente. Não há, portanto, uma compreensão da causalidade que lhe permita
181
compreender o mundo objetivo como independente da consciência cognoscente11.
7. CAUSALIDADE E COTIDIANIDADE
Voltando a Lukács, perceberemos que a presença dos sujeitos no mundo, por si só, se
insere em um imenso conjunto de relações causais. Independente da consciência filosófica
que possa se desenvolver na cabeça de cada um, todos, indistintamente, estão submetidos a
essas relações causais. Lukács chega a ironizar essa questão em sua Estética:
Mesmo o idealista atua, na vida prática cotidiana, quase sempre como se fosse um
materialista; isto é, ele deve necessariamente reagir à realidade como a algo
independente de sua consciência (por exemplo, se ele atravessa a rua, não atua
como se os automóveis fossem apenas suas representações mentais). E também
quem pensa de modo metafísico na vida cotidiana aplica, instintivamente,
conexões categoriais cuja formulação teórica ele rechaçaria, em teoria, como
sendo “absurda confusão” (por exemplo, ele não admite que a quantidade se
converta em qualidade, mas não lhe é indiferente comer frutas maduras ou verdes)
(LUKÁCS, 1978, p. 111).
Esse convívio com o mundo forma o que chamamos de intuição, como algo que se
incorpora ao nosso cotidiano. Quando nos sentamos para descansar em cima de algum
banco improvisado (seja do material que for), não é necessário que realizemos um cálculo
estrutural para averiguar se aquela superfície é capaz ou não de suportar nosso peso, pois
basta intuir. É óbvio que muitas vezes ficamos com medo, pois pela própria intuição
sabemos que aquela superfície pode estar no limiar entre suportar o peso ou ceder. Este
o seu deus e o universo e com o modo humano, era obrigada a proclamar a superioridade da teleologia sobre a
causalidade. Mesmo quando o deus dava simplesmente corda ao mecanismo do relógio, pondo assim em
movimento o sistema causal, era inevitável uma hierarquia entre criador e criatura e, desse modo, a prioridade
do pôr teleológico. Por outro lado, todo o materialismo pré-marxista, ao negar a constituição transcendente do
mundo, devia, ao mesmo tempo, rejeitar a possibilidade de uma teleologia realmente operante. [...] Quando,
ao contrário, como em Marx, a teleologia é reconhecida como categoria realmente operante apenas no
trabalho, tem-se inevitavelmente uma coexistência concreta, real e necessária entre causalidade e teleologia.
Sem dúvida, estas permanecem opostas, mas apenas no interior de um processo real unitário, cuja mobilidade
é fundada na interação desses opostos e que, para tornar real essa interação, age de tal modo que a
causalidade, sem ver atingida a sua essência, também se torna posta” (LUKÁCS, 2013, p. 52).
11
É evidente que estamos tratando de um tema espinhoso. Para esclarecer minimamente, além de indicar a
pesquisa diretamente nas fontes, apontamos aqui alguns elementos que podem contribuir. Por exemplo, para
facilitar a compreensão da noção de causalidade em Lukács, é interessante situar a importância da teoria da
evolução de Darwin. Em uma carta escrita por Engels e endereçada a Marx, redigida logo após Engels ter lido a
obra de Darwin, lê-se: “Sob certo aspecto, a teleologia não tinha sido derrotada até o momento, mas agora foi”
(ENGELS apud. LUKÁCS, 2013, p. 50). Ou seja, para Marx e Engels o surgimento da teoria da evolução é o ponto de
inflexão necessário para compreender que aquilo que surge de novo na natureza – a não ser que haja intervenção
de uma ação humana – não surge segundo uma teleologia, mas somente por meio das interações causais. Lukács,
bem mais tarde, chega a ironizar uma célebre frase de Kant, anterior a Darwin, que afirmava ser absurdo “esperar
que um dia surja um Newton, que torne compreensível nem que seja a criação de um colmo de capim por meio
de leis naturais não dirigidas por alguma finalidade” (KANT apud. LUKÁCS, 2013, p. 50).
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12
E não seria demais lembrar que estudos científicos a esse respeito (com o surgimento da biomecânica, por
exemplo) só apareceram no início do século XX (SARAMAGO, 2011, p. 58).
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8. ABSTRATO E CONCRETO
O MASP é, em si, um objeto concreto. Concreto não no sentido do concreto armado,
obviamente, mas em sentido filosófico. O concreto, segundo Marx, “é concreto porque é a
síntese de múltiplas determinações, portanto, unidade da diversidade” (MARX, 2011, p. 54).
183 Assim, sendo “unidade da diversidade”, ele precisa ser rompido pela pesquisa para poder ser
analisado: é necessário romper com a totalidade contraditória para poder analisar os
diferentes polos da contradição. Com isso, chega-se à análise das categorias abstratas. Mas
em seguida é necessário retornar ao todo contraditório, montar novamente o todo
despedaçado, para construir o “concreto pensado”, ou seja, para refigurar mentalmente
aquela totalidade concreta em pensamento.
Este rompimento da pesquisa é algo extremamente habitual na vida de um calculista
estrutural: é necessário sempre calcular cada peça estrutural separadamente, mesmo
sabendo que elas foram um todo e que esse todo não é uma mera soma das partes13. A ação
de conjunto de uma estrutura modifica o funcionamento das partes. Por outro lado, se não
for conhecido o funcionamento de cada parte, de nada adiantará saber que a ação de
conjunto a modifica, pois não será possível saber “como” nem o “quanto” ela é modificada.
Ao se calcular uma viga em detrimento de sua inserção no conjunto da estrutura,
estamos procedendo com uma abstração. Abstraímos o todo para analisar a parte. Mas se,
ao contrário, quisermos analisar o conjunto sem conhecer as partes, também estaremos
procedendo com uma abstração. Neste caso abstraímos as partes e olhamos só para o todo
como um todo abstrato. É somente depois de conhecer a totalidade concreta, que inclui o
todo e também cada parte no interior deste todo, que chegaremos a conhecer
concretamente o objeto. Lukács nos ajuda a esclarecer esta questão, embora dentro de uma
discussão que envolve um conceito que não trabalhamos nem trabalharemos neste artigo, o
da universalidade. Ainda assim, sua contribuição nos favorece:
A concreticidade14 do conceito universal é purificada [pela dialética materialista]
de qualquer mistificação, é concebida como o veículo mais importante para
conhecer e dominar a realidade objetiva. Engels formulou de um modo sugestivo
este caráter da universalidade concreta: “Abstrato e concreto: a lei geral da
modificação de forma do movimento é muito mais concreta do que qualquer
exemplo singular 'concreto' dela" (LUKÁCS, 1978, p. 104).
9. O SUJEITO E O PROJETO
Dada a preexistência do mundo objetivo e dada, sobretudo, a sua complexidade, o papel
do arquiteto é o de buscar, através de um longo processo que envolve vários ciclos
teleológicos (tentativas e erros e/ou aperfeiçoamentos) e vários movimentos de abstração e
concretização, elaborar a finalidade (construir o partido do projeto) e ainda elaborar alguns
dos meios pelos quais tal finalidade poderá ser alcançada. Este processo é por si só um
universo, e poderia ser longamente estudado e tratado. Entendemos que algumas boas
sínteses a seu respeito podem ser encontradas, por exemplo, nos esforços do
neorracionalismo italiano de Vittorio Gregotti.
São documentos da formação da imagem não só os esboços com que fixamos
alguns aspectos provisórios, mas também as anotações, os gráficos, os documentos
com os quais indagamos e escolhemos os dados do problema e os pomos em
discussão. Nosso percurso através deles nunca é retilíneo, mas uma paciente e
contínua reelaboração, uma tentativa de solidificação do projeto em torno de
alguns núcleos prontos a liquefazerem-se à simples introdução de um dado
imprevisto ou diversamente interpretável, ao abrir-se uma possibilidade
construtiva, ao defrontar-se com uma incongruência. Através deste trabalho
paciente, longo, fatigante, manual (e quem não se situe neste ponto de vista de
trabalho operário não poderá jamais ser arquiteto), o tema é explorado; este nosso
conhecimento, a princípio geral e esquemático, é logo retomado, à procura de
imagem, em todas as direções; pode estar centrado em qualquer ponto do projeto,
numa secção, num detalhe; capacita-nos cada vez mais para a reelaboração total
do tema e, ao mesmo tempo que se vai tornando preciso o conhecimento, vai-se
precisando a figura. Deste ponto de vista, o meio de representação não é nunca
indiferente ou objetivo, aliás, nem chega a ser meio: indica e forma parte da
intenção projetual. Isso porque, de um lado, não se trata da representação de uma
coisa dada (o artista – diz Merleau-Ponty – possui uma só meio para representar a
obra na qual trabalha: deve realizá-la), mas sim da conversação projetual que nós
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15
“Decerto também os animais têm uma relação – que se torna cada vez mais complexa [...] – com o seu
ambiente. Uma vez, porém, que isso permanece restrito ao território do biológico, jamais pode dar-se para
eles, como, ao contrário, para os homens, tal separação e tal confrontação entre sujeito e objeto. Os animais
reagem com grande segurança àquilo que no seu ambiente costumeiro de vida é útil ou perigoso” (LUKÁCS,
2013, p. 65).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
O saber ver o projeto é semelhante: o projetista não se coloca diante do projeto com os
olhos abertos esperando passivamente que a imagem entre em seu cérebro. Pelo contrário,
ele precisa ver ativamente e segundo uma intenção, teleologicamente. Ele precisa procurar
algo que pode ser uma ou algumas determinações em específico, em meio a um objeto que
186
é, em si, “síntese de múltiplas determinações” (MARX, 2011, p. 54). Ao ver, ele já se orienta
por uma finalidade. Parece-nos que é precisamente aqui que o processo de ensino-
aprendizagem deve atuar: construindo no sujeito habilidades relacionadas a este procurar,
no sentido de desenvolver capacidades de enxergar com cada vez maior criticidade.
16
O verso de Alberto Caeiro, personagem de Fernando Pessoa, se tornou também título do excelente artigo de
Leyla Perrone-Moisés (1997).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
arquitetura exige que o projetista manipule as variáveis da esfera do ser orgânico (conforto
térmico, acústico, lumínico favoráveis à vida no ambiente) e do ser social (fluxos de pessoas,
visualidade da obra arquitetônica, etc.).
Diante da complexidade de se pensar o ensino de arquitetura e urbanismo como um
187
todo, o ensino de estruturas – uma vez que permanece restrito à esfera do ser inorgânico –
deveria ser algo bem menos complexo. Deveria, mas não é, justamente porque arquitetura e
estruturas andam juntas.
É importante que o ensino de arquitetura e o de estruturas tenham seu momento de
divisão, ainda que o objetivo final seja o de que formem, ao final, uma síntese.
O viés verificativo do ensino de estruturas apenas reforça a noção de que é correto
abstrair completamente as estruturas quando se elabora o projeto arquitetônico, pois o
cálculo estrutural aparece como algo que “se adapta”, “corre atrás”. Esta verificação é
importante e não deve ser suprimida, mas é necessário que haja um momento de
antecipação. É importante que o estudante aprenda a manipular também o outro polo da
equação. O lançamento da estrutura precisa ser, para o arquiteto, algo familiar.
É importante que, além do espaço reservado na grade curricular para o ensino de projeto,
haja um espaço reservado para o ensino de concepção estrutural, cuja dinâmica deveria ser
semelhante ou próxima a do ensino de projeto, com a diferença de que nele seria exercitada
a concepção apenas de estruturas.
O que temos atualmente é, muitas vezes, um ensino de estruturas que ensina a calcular,
mas já sem a pretensão de formar calculistas. Com isso, forma-se um arquiteto que não é
nem calculista nem tampouco capaz de elaborar a concepção estrutural. Uma formação
voltada para a concepção estrutural poderia ajudar a tornar mais completo o profissional em
formação. Não procuramos aqui respostas para o “como” fazer isso. Mas acreditamos ter
contribuído para a percepção de que, se não transformarmos a concepção estrutural em
algo que seja visto como uma atividade do próprio arquiteto, não poderemos contribuir para
a superação do fetiche da forma que, ao ser concebida, abstrai completamente a estrutura.
Rita Saramago sustenta que
O ensino do Comportamento Estrutural dentro da formação em Arquitetura
deveria então se voltar ao desenvolvimento daquilo que diversos autores [...]
denominaram de "sentimento estrutural" dos estudantes: de um raciocínio (a
consciência do processo) sobre o funcionamento das Estruturas. Raciocínio este
que os capacite a formular soluções estruturais e a comprovar sua eficiência,
integrando conhecimentos em uma síntese criadora (SARAMAGO, 2011, p. 34).
11. CONSIDERAÇÕES
Diante de todas as colocações teóricas reunidas até aqui, podemos concluir que o que
precisa ser feito na prática é, na verdade, dar prosseguimento a experiências que já tem uma
trajetória razoável no ensino de estruturas nas escolas de arquitetura no Brasil. Trabalhar
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
com um canteiro experimental, só para dar um exemplo, é uma ótima forma de desenvolver
estruturas com abstração da arquitetura. Além disso, experiências deste tipo aproximam o
arquiteto em formação de uma relação íntima com a materialidade das construções,
desenvolvem a intuição estrutural, ensinam que a execução é uma tarefa pesada e
188
fundamental, necessariamente coletiva, etc. Estas experiências ainda carecem, no entanto,
de maior difusão.
Como anunciado no início do artigo, a pretensão aqui não vai além do debate teórico que
fundamenta e ajuda a compreender o sentido de tais práticas. Não se trata de apontar para
a necessidade de se desenvolver novas práticas que nunca tenham sido experimentadas,
mas sim de dar maior profundidade ao entendimento de que as práticas já desenvolvidas de
forma marginal e contra-hegemônica devem se tornar hegemônicas.
Por outro lado, temos convicção de que, afinal, a introdução de um espaço para o
desenvolvimento da aprendizagem da concepção estrutural nos cursos de arquitetura não é
nenhuma panaceia. Desenvolver mais competências no arquiteto em formação, por si só, não
fará com que a arquitetura se torne melhor, até porque é difícil imaginar aonde encaixar mais
competências em grades curriculares tão cheias como já são as dos cursos de Arquitetura e
Urbanismo. A solução seria, efetivamente, desfazer o processo histórico que monopolizou nas
mãos do arquiteto um conjunto enorme de competências. A arquitetura não pode ser obra de
um indivíduo, ela deve ser necessariamente obra de um trabalhador coletivo.
A unidade compositiva da arquitetura, que até o fim da Idade Média era apenas o
resultado da unidade do processo produtivo, se transformou numa unidade imposta e
artificial, operada a partir do produto final idealizado17.
Arquitetura, mesmo em sua concepção, é trabalho, e trabalho é mediação entre o homem
e a natureza. O trabalho é, e sempre será, unidade entre esforço físico e mental, pois o pôr
teleológico é um ato de consciência, mas a consciência por si só não transforma nada sem a
ação do corpo (nem que seja o mínimo necessário, dizer uma palavra por exemplo, para
comunicar a ideia). A divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual que se desenvolveu
ao longo das sociedades de classes é uma violência contra essa essência do trabalho.
Não foi por acaso que a arquitetura se tornou exemplo de ação teleológica de diversos
grandes filósofos, passando por Aristóteles e Marx. Quando a ação teleológica do trabalho é
violentada pela divisão do trabalho entre trabalho intelectual e trabalho manual, a
arquitetura acaba por ser também extremamente violentada.
O projeto não pode ser uma linha de produção, em que tudo o que vem depois tem que
se adaptar ao que já foi feito antes. A “conversação projetual com a matéria arquitetônica”,
de Vittorio Gregotti, não pode ser um monólogo. Ela precisa ser uma conversação entre
diferentes sujeitos que trabalham sobre diferentes aspectos da produção de uma obra
arquitetônica. Ela precisa, como tão bem salientou de tantas maneiras Sérgio Ferro, se
desenvolver em um ambiente de “trabalho livre”.
17
A constatação dessa transformação de fundo na arquitetura é de Sérgio Ferro. Ver, por exemplo, FERRO,
2010.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Tudo isso pode parecer impossível, mas não é, caso concordemos com as palavras de
Lukács: “O homem deve conquistar sua própria liberdade através de sua própria ação. Mas
ele só pode fazê-lo porque toda sua atividade já contém, como parte constitutiva necessária,
também um momento de liberdade” (LUKÁCS, 2009, p. 242). O trabalho ainda não é livre,
189
mas já contém em si uma manifestação da liberdade sonhada.
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<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.133/3950>. Acesso em: 10 abr. 2017.
COMPARATIVO DE METODOLOGIAS DE ENSINO DE ESTRUTURAS NO CURSO
DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNEMAT
UNEMAT, evelcost@unemat.br
RESUMO
O processo de ensino e aprendizagem de estruturas abrangem as teorias das estruturas, os
esquemas estruturais, o projeto, o dimensionamento e suas verificações. No caso do curso de
Arquitetura, muitos alunos relatam que a forma como as disciplinas são ensinadas, sem grande apelo
visual, as tornam desinteressantes, sendo a forma tradicional de ensino classificada como laboriosa e
cansativa. Cabe então ao professor criar metodologias que tornem o assunto acessível aos discentes
sem ser superficial. Partindo desse problema, esse trabalho objetiva apresentar o resultado de um
comparativo entre duas metodologias de ensino de estruturas. A primeira metodologia abordou
tópicos de biomimética, pré-dimensionamentos através de gráficos e produção de modelos físicos de
lançamentos estruturais realizados em projetos de arquitetura. Já a segunda é mais técnica e focada
no desenvolvimento do projeto de estruturas e dimensionamento por cálculo estrutural manual.
Concluiu-se que a metodologia mais conceitual e baseada em teorias de pré-dimensionamento
produziu resposta mais positiva nos alunos do que a baseada em cálculos estruturais e que, para as
turmas e curso estudados, a etapa de dimensionamento do processo de ensino e aprendizagem de
estruturas poderia ser substituída por pré-dimensionamentos dos elementos, utilizando métodos
como os gráficos elaborados por Philip A. Corkill da Universidade de Nebraska, o que tornaria o
ensino de estruturas menos cansativo e mais proveitoso. Com a redução do tempo gasto com
cálculo, as discussões de solução estrutural do projeto de arquitetura poderiam ser intensificadas,
melhorando a relação entre arquitetura e estrutura.
Palavras-chave: Biomimética; Modelos-físicos; Solução-estrutural.
ABSTRACT
The process of teaching and learning structures includes theory of structures, structure schemes,
project, as well as sizing and its verifications. In Architecture, many students report that the way
subjects are taught, without visual appeal, make them uninteresting, meaning that the traditional
way of teaching is laborious and tiring. So, it is the task of the professor to create methodologies that
make the subject accessible to students, without being shallow. From this problem, this work goals to
present the result of a comparative between two methodologies of teaching of structures. The first
methodology approached topics of biomimetic, pre-sizing trough graphics and production of physical
models of structural launches made in architecture projects. In the other hand, the second is more
technical and focus on the development of the structural and sizing project by manual structural
calculation. The study concluded that the conceptual focused methodology, based in theories of pre-
sizing, achieved a better response from students that the one based in structural calculation. This
brought to the conclusion that, to the classes and subject in study, the stage of sizing, in the teaching
and learning process of structures could be replaced by pre-sizing of elements, using methods like the
graphics made by Philip A. Corkill from Nebraska University, what would make the teaching of
structures less tiring and more profitable. With the reduction of the time spent with calculation, the
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discussions about structural solutions of the architectonic project could intensify, improving the
relation between architecture and structure.
Keywords: Biomimetic; Physical-models; Structural-solution.
192
1. INTRODUÇÃO
No período pré-Revolução Industrial, as atividades da construção civil eram
desempenhadas por um único profissional, o arquiteto, que era responsável pela concepção
do projeto, da estrutura, das fundações, materiais, etc. Isso muda por volta de 1748, com a
demanda por estradas, canais, fortificações, que não eram supridas pela tradicional
formação mais humanista da Académie D’Architecture, responsável pelo ensino de
Arquitetura. Esse déficit fez surgir a École des Ponts et Chaussées em 1747, iniciando a
formação de engenheiros com um ensino baseado em rigorosas bases científicas. Somente
com a criação da Bauhaus é que a Arquitetura passa novamente a integrar a técnica em seu
ensino (REBELLO et al., 2009).
Isso de certa forma criou um preconceito a respeito do conhecimento das estruturas por
parte do arquiteto e do projeto de arquitetura pelo engenheiro. Todavia, o arquiteto é o
responsável pela adoção do partido estrutural das edificações, competindo a ele a
compreensão das estruturas e seus adequados regimes de trabalho. Isso favorece
proposições de soluções racionalmente coerentes e permite o desenvolvimento de novas
soluções para novas técnicas e materiais construtivos (SARAMAGO; LOPES, 2009).
Por muitos anos, o ensino das estruturas no curso de Arquitetura foi realizado à
semelhança do que era trabalhado nos cursos de engenharia. Assim, as ementas das
disciplinas ministradas no curso de Arquitetura contemplavam apenas uma forma reduzida
do conteúdo ministrado no curso de Engenharia.
Nesse ponto, Di Pietro (2004) classifica a forma tradicional de ensino de estruturas como
laboriosa e cansativa, através de exercícios variados, excluindo a participação do aluno, que
tem apenas de assimilar o que é passado pelo professor. Rodrigues (2016) afirma que,
apesar de reconhecerem a importância das estruturas para a Arquitetura, muitos alunos
acham que a forma como as mesmas são ensinadas não são condizentes com a sua grande
capacidade de observação visual, o que as torna menos interessantes, sendo isso reforçado
por Zanettini (2002) ao expor que o aluno considera as disciplinas de tecnologia como um
mal necessário e ignora que arquitetura e estrutura são complementares e devem ser
desenvolvidas em conjunto.
Dessa forma, Polillo (1968) afirma que é dever do professor de estruturas, tornar o
assunto acessível aos discentes sem ser superficial, oferecendo máximo de profundidade e
realce à disciplina.
Esse déficit no ensino acontece, em parte, porque a base de formação dos graduandos
em Arquitetura é diferente da base da Engenharia. Enquanto a primeira abrange disciplinas
como história, geometria descritiva, maquetes, expressão gráfica, etc., a segunda engloba
disciplinas da área de exatas, como física, cálculo, estatística, etc. Essa base de formação
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia de desenvolvimento desse trabalho se iniciou com questionários aplicados
na turma de 2016/01 do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNEMAT, com o intuito de
verificar qual estava sendo a contribuição da disciplina para a formação dos discentes. Nesse
questionário, a cada aula, os alunos deveriam preencher o conhecimento adquirido naquela
aula, as dificuldades e se foi possível aplicar aquele conhecimento em outras disciplinas.
Esses questionários foram realizados também após a correção das avaliações. Por esses
questionários, verificou-se que a maior dificuldade dos alunos foi em compreender a
aplicação dos cálculos e, com isso, o processo se tornou mecânico e o aprendizado não foi
satisfatório. Isso foi identificado nas avaliações realizadas por esses discentes, uma vez que
as questões que envolviam cálculo foram bem desenvolvidas ao contrário das teóricas, em
que se avaliava a capacidade intuitiva e lógica do aluno em relação às estruturas.
Com base nesse primeiro resultado, foi proposta uma metodologia semelhante ao que foi
desenvolvido por Leite (2005) na disciplina de Sistemas Estruturais para Arquitetura I da
FAU-PUC Campinas. A autora buscou transformar conteúdos genéricos, sem vinculação
específica com o campo profissional, em algo com significado. Para isso, iniciou a disciplina
com exercícios práticos de experimentação construtiva, propondo análise estrutural de
edifício já existentes, iniciando por um trabalho de observação, indo até a reprodução
gráfica e a construção dos modelos estruturais em escala reduzida do edifício, elaborando ao
final, um relatório analítico-crítico. Para Leite (2005), esse exercício serviu para sensibilizar e
despertar o interesse e a curiosidade pela temática estrutural, situando-a no contexto global
da concepção arquitetônica.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Assim, para a disciplina da UNEMAT, partiu-se de aspectos com maior apelo conceitual e
aplicados nos projetos de arquitetura já desenvolvidos nas disciplinas de Projeto de
Arquitetura da turma do período 2016/02. Foram utilizados métodos de pré-
194
dimensionamento por gráficos e orientações para lançamento estrutural, fornecendo
subsídios para a experimentação das implicações no projeto de arquitetura em que não se
consideraram as estruturas. Posteriormente, foram ministradas aulas com a metodologia
tradicional de etapas de dimensionamento, com a finalidade de identificar se o novo método
aplicado favoreceria a etapa quantitativa das estruturas ou se a segunda se tornaria
dispensável. Ambas foram avaliadas por questionários respondidos pelos alunos,
questionando-se o mesmo que o semestre anterior: “o que se aprendeu naquela aula”, “quais
as dificuldades” e “é possível aplicar o conhecimento adquirido nos projetos de arquitetura?”.
Todavia, a metodologia foi proposta para a base curricular do curso da UNEMAT, podendo
apresentar resultados diferentes em currículos com disciplinas e conteúdos adicionais. Assim,
antes da apresentação da metodologia e os resultados, expõe-se a base curricular do curso de
Arquitetura e Urbanismo da UNEMAT, a relação dos projetos de arquitetura com os de
estruturas, a proposta de interdisciplinaridade do Projeto Pedagógico do Curso.
195
Dessa atividade surgiram discussões sobre como a geometria das estruturas influenciou
em sua resistência, já que uma das treliças que mais suportou carga era composta por
apenas um filete de macarrão. Além disso, durante a prova de carga, foi possível perceber
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
quais barras estavam sendo tracionadas e quais estavam sendo comprimidas. Essa atividade
foi associada ao método dos nós para determinação dos esforços em treliças. Assim, pôde-se
confirmar, em um exercício prático, aquilo que foi desenvolvido teoricamente.
Já em outro semestre letivo, foi proposta aos alunos a construção de estrutura geodésica
197
partindo dos princípios de Richard Buckminster Fuller, ficando livre a escolha do material. Ao
final, deveriam ser feitas considerações a respeito da resistência do material escolhido e de
como se chegou à forma através dos conceitos estudados. Nesse caso, foram criadas
estruturas com materiais diferentes, como foi o caso da estrutura apresentada na Figura 5,
que foi construída com barras de cana de açúcar ligadas por canos de plástico.
Figura 4 – Estrutura geodésica feita com cana-de-açúcar
com isso, subsídios teóricos que embasem uma proposta de revisão da ementa dessa
disciplina, tornando-a mais conceitual.
Como a disciplina de Resistência dos Materiais não aborda lançamento e compreensão
estrutural, inicialmente foram apresentados conceitos de biomimética aplicada à concepção
198
de formas estruturais do ponto de vista da natureza (Figura 6), evoluindo para a análise de
grandes edificações estruturadas em concreto armado.
Figura 5 – Associação de formas da natureza com formas estruturais da Arquitetura
O esboço da estrutura foi realizado nos moldes de um projeto estrutural, locando lajes,
vigas e pilares seguindo as normas de representação e, a partir desse projeto, foram
desenvolvidas maquetes estruturais (Figura 7) para compreender a ligação dos elementos
estruturais e como as forças são descarregadas no solo.
199
Como parâmetro para avaliação, verificou-se se nessa primeira etapa os alunos
conseguiram assimilar o que é um projeto de estruturas, como desenvolvê-lo e quais os
critérios práticos para isso. Quanto à avaliação por questionário, essa metodologia foi bem
avaliada pelos alunos, que relataram sentir facilidade em compreender o conteúdo da forma
em que foi abordado.
Nas aulas seguintes ao desenvolvimento das maquetes, iniciou-se a etapa de
dimensionamento das estruturas, abordando os conteúdos exigidos pela PPC do curso,
utilizando a metodologia de Botelho e Marchetti (2014) para o desenvolvimento, uma vez
que os autores utilizam a NBR 6118/2014 para o dimensionamento de lajes, vigas e pilares
em concreto armado.
A primeira parte do dimensionamento foi voltada ao cálculo das lajes, utilizando as
tabelas de Barës-Czerny, a segunda foram as vigas simples e duplamente armadas e, por
último, os pilares. Inicialmente, esperava-se que a introdução ao estudo das estruturas, o
desenvolvimento de projetos e a maquete pudessem facilitar a compreensão das etapas de
cálculo, o que realmente aconteceu. Trabalhar por etapas facilitou o aprendizado, porém, ao
final da disciplina, ao se aplicar a avaliação por questionário e prova, o resultado apontou
para um aprendizado temporário. O conteúdo de lajes, que foi o primeiro, já havia sido
esquecido na etapa de dimensionamento das lajes.
Já o volume de conteúdo foi outro agravante ao processo, uma vez que comprometeu a
interdisciplinaridade do projeto de estruturas com o projeto de arquitetura. Nas avaliações
por questionário, os discentes apontaram para a necessidade de mais estudos de estruturas,
o que julgaram facilitar o projeto de arquitetura posteriormente.
Assim, por essa primeira avaliação, a ementa da disciplina de Estruturas em Concreto deveria
abordar mais conceitos de estruturas e focar no desenvolvimento/ locação/ lançamento dos
elementos estruturais ao invés de focar no dimensionamento desses elementos.
departamento, essas alterações podem acontecer com mais facilidade, o que pode
futuramente complementar esse estudo.
7. CONSIDERAÇÕES
200 Assim sendo, é notável a necessidade de capacitação do profissional Arquiteto e
Urbanista para a compreensão das estruturas. Isso deve ser desenvolvido na Universidade,
porém, o professor das disciplinas que abordam esse tema e a metodologia que aplica serão
tão responsáveis pelo sucesso na formação acadêmica quanto a construção adequada de
ementas e conteúdos. Por ter uma formação inicial mais humana e menos técnica, a forma
de aprendizagem do aluno do curso de Arquitetura tende a ser mais conceitual e visual, em
que o docente deve sempre demonstrar a aplicação do que se está ensinando. Dessa forma,
voltar o ensino de estruturas para incansáveis etapas de cálculo em disciplinas com carga
horária mínima ocasiona baixa produtividade e pouco retorno de aprendizado.
No caso do curso da UNEMAT, pode-se apontar a metodologia apresentada como uma
alternativa viável para uma revisão da disciplina de Estruturas em Concreto, tornando-a mais
conceitual e ampliando a possibilidade de discussão de projetos. Também é necessário que
exista uma disciplina de Introdução às Estruturas, que pode ser a disciplina de Resistência
dos Materiais reformulada, em que seja abordada a concepção de estruturas.
Assim, essas são contribuições para um assunto que deve ser constante nas reuniões dos
NDEs dos cursos, pois a metodologia ainda não é satisfatória com relação à
interdisciplinaridade no curso, sendo necessárias maiores discussões.
AGRADECIMENTOS
Aos meus alunos de Estruturas em Concreto e Estruturas em Aço e Madeira, em especial aos
meus monitores, Alan e Hevellyn, por serem a razão e oportunizarem esse estudo. À
UNEMAT, pela minha formação e por me permitir desenvolver ensino e pesquisa e à
PROPEC-UFOP, por ter me direcionado à docência.
REFERÊNCIAS
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Brasília. Anais... Brasília: UNB, 2004.
LEITE, M. A. D. F. D. A aprendizagem tecnológica do Arquiteto. Tese (Doutorado) – Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2005.
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Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1968.
REBELLO, Y. C. P. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2007a.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
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arquitetura: uma estrutura para a faculdade de Arquitetura da UFRJ. Disponível em:
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SARAMAGO, R. C. P.; LOPES, J. M. A. Ensino de estruturas nas escolas de arquitetura do Brasil:
estrutura curricular e recursos didáticos. Revista Tecnológica, Edição Especial ENTECA 2009, p. 169-
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SARAMAGO, R. C. P. Ensino de estruturas nas escolas de Arquitetura do Brasil. 2011. Dissertação
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ZANETTINI, S. Siegbert Zanettini: arquitetura, razão, sensibilidade. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2002.
DESPERTANDO O INTERESSE E DISSIPANDO A LETARGIA: EXPERIÊNCIA
DIDÁTICA NO ENSINO DA DISCIPLINA DE SISTEMAS ESTRUTURAIS
SILVA, Ana Isabela Soares Martins da (1); TELES, Camila Correia (2)
RESUMO
Para estabelecer o ambiente construído, é necessário que o projeto arquitetônico vislumbre, na
concepção volumétrica, a solução estrutural. Arquitetura e Estrutura são complementares e devem
ser concebidas sistematicamente, sendo esse um desafio no ensino da Arquitetura. As disciplinas de
estrutura são desinteressantes aos alunos que desejam projetar evitando cálculos. Porém, essas
disciplinas dão o suporte necessário ao desenvolvimento do partido arquitetônico. Considerando
essa premissa, foram aplicadas práticas didáticas na disciplina de Sistemas Estruturais, usuais em
outras disciplinas, como Teoria e História da Arquitetura e Projeto Arquitetônico, na tentativa de
cessar a letargia e desenvolver, nos discentes, um raciocínio estrutural em consonância com a prática
projetual. Para tanto, em paralelo às aulas expositivas, foram ministradas duas atividades práticas,
uma por bimestre, seguidas de seminários. Para essas atividades, foram sorteadas obras relevantes
da arquitetura, sendo realizadas em equipes de 04 alunos. A primeira, a linha do tempo, permite, por
meio da representação gráfica, desenvolver a expressão visual e compreender o assunto abordado,
associando datas, imagens e fatos históricos simultaneamente. A segunda, a maquete física,
possibilita a noção de proporcionalidade, escala, visão espacial, apreensão de detalhes construtivos e
de soluções projetuais através do modelo confeccionado, além da utilização de materiais que
simulem os utilizados no edifício. Os seminários permitem a troca de conhecimento formal e da
experiência na produção das atividades, dificuldades, soluções e escolhas no vencimento das etapas.
A adoção de experiências didáticas de outras disciplinas incentivou o interesse dos alunos para a
compreensão dos diferentes sistemas estruturais, proporcionando o entendimento mais facilitado do
funcionamento das estruturas.
Palavras-chave: Ensino; Estrutura; Arquitetura.
ABSTRACT
To establish the built environment is necessary that the architectural project conceive in the
volumetric design the structural solution. Architecture and Structure are complementary and must be
designed systematically, being that a challenge in Architecture course teaching. The structure
disciplines are uninteresting to architecture students. Thinking about that, some didactic practices
were applied during the semester as timeline and mock-up of some architectural icons buildings of
the world presented in seminars. These didactic practices occurred at the same time as theoretical
classes. The adoption of these didactic experiences stimulated students interest in understanding the
different structural systems, providing a better understandingof the structures functioning.
Keywords: Teaching; Structure; Architecture.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
As bases dos cursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil geralmente estão pautadas nas
matérias de Projeto Arquitetônico e de Projeto Urbanístico, disciplinas projetuais que
demandam tempo tanto de inspiração quanto de confecção e, por serem a espinha dorsal
203 do curso, relegam as demais a um nível secundário. “A cadeira de ‘projeto’ é muito
frequentemente considerada o cerne dos cursos, a principal disciplina, de caráter
preponderadamente prático, alimentada por matérias teóricas” (KOTCHETKOFF; DA SILVA,
2015, p. 2). Devido a essa estrutura, é perceptível, na graduação, o fato de os discentes
priorizarem matérias projetuais em detrimento das teóricas, principalmente quando estas se
referem às Ciências Exatas.
Um dos principais motivos que causam o desafeto dos alunos pelas disciplinas de
estrutura é a abordagem analítica ministrada por professores engenheiros, físicos ou
matemáticos, que não traduzem os números obtidos em aplicabilidade (TULLIO, 2017).
Porém, considera-se que essa deficiência não está no professor de engenharia ou de outra
área da ciência, mas na transmutação de linguagens entre as diferentes linhas de aplicação
do conhecimento.
Outro motivo de desinteresse dos alunos é a massiva quantidade de cálculos, que os
levam à não compreensão da aplicabilidade em projetos, e ao engessamento do processo
projetual. A inadequação dessa metodologia também fica evidente ao ponderar-se que, para
o curso de Arquitetura e Urbanismo, é imprescindível a compreensão do funcionamento
estrutural, e não a destreza do cálculo, já que tal habilidade pertence à Engenharia Civil.
A compreensão sobre as estruturas concederá ao aluno, em sua futura carreira
profissional, a habilidade de desenvolver soluções arquitetônicas financeiramente reduzidas,
estruturalmente seguras e construtivamente viáveis (TULLIO, 2017), ou seja, a arquitetura se
expressa pelo construído, todavia, ela só pode existir se houver uma estrutura corretamente
planejada que a sustente. Dessa forma, deve-se abandonar, ainda na graduação, o uso de
expressões que refletem pensamentos arcaicos, a exemplo: “não preciso saber estrutura,
isso é coisa de engenheiro” ou “o engenheiro que se vire” ou outros absurdos
incorretamente apropriados.
De fato, não é necessária a perícia do cálculo, como já afirmado, mas cabe ao arquiteto
pré-dimensionar as estruturas, locá-las e especificar os materiais a serem utilizados, afinal, a
solução estrutural advém do projeto arquitetônico. Para tanto, se faz necessária a
readequação das disciplinas estruturais por meio da inserção de outras metodologias de
ensino que facilitem o aprendizado, e da integração entre as disciplinas do curso, de forma a
proporcionar o rompimento da letargia dos discentes quanto a essas disciplinas.
Este artigo, portanto, visa retratar metodologias bem sucedidas, aplicadas, durante o
segundo semestre de 2016 e o primeiro semestre de 2017, na disciplina de Tecnologia da
Construção – Sistemas Estruturais, ministrada aos estudantes do curso de Arquitetura e
Urbanismo do Centro Universitário Planalto do Distrito Federal – UNIPLAN, localizado em
Brasília-DF. A principal estratégia adotada para aumentar a motivação dos discentes foi a
readequação da ementa, em que, paralelamente às aulas expositivas (que oferecem suporte
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
forte valorização do novo, representado pelo talento e pela intuição, em agravo à teoria, que é
posta em dúvida. O afastamento da arquitetura em relação à regra, ou à própria tradição,
muda o caráter do entendimento estrutural, como observado na afirmação a seguir:
Esta foi obtendo cada vez mais valor por si mesma, até chegarmos ao momento
vigente, que carrega heranças do momento moderno, em que a presença da
205
invenção é tão exaltada que é proposto que o aprender não se baseia em
precedentes, ou em conhecimentos anteriores, mas apenas em um exercitar
individual de tentativas e erros na prática do projeto (KOTCHETKOFF; LANCHA,
2015 p. 35).
práticos formados por grupos de quatro alunos. Os trabalhos solicitados foram a linha do
tempo e, posteriormente, a maquete física, ambas ao final de cada bimestre, acompanhadas
por seminários. Primeiramente, os grupos sortearam obras relevantes da história da
arquitetura (Quadro 1), para serem posteriormente utilizadas no desenvolvimento das
207
atividades ao longo do semestre.
Fonte: Alunas Iasmin Oliveira Magalhães, Katarina de Sousa Gomes e Lenyne Rabi, 2017.
209
Fonte: alunas Bruna Danielle Leal, Érica Galvão Borges e Iasmin Batista, 2017.
Fonte: Alunos Allan Warley, Donizetti Garcia, Isabella França e Pâmela Corrêa, 2017.
Solicitou-se a utilização de escalas usuais definidas pela NBR 8196 de Desenho Técnico,
implantação do modelo em prancha base rígida, identificada com etiquetas e/ou legendas
explicativas, caso necessário. Os critérios de avaliação foram pautados na originalidade,
criatividade, limpeza, organização e precisão do modelo apresentado.
Essas duas experiências didáticas foram acompanhadas de seminários em que os alunos
puderam intercambiar informações sobre as obras trabalhadas na disciplina. Nesses
seminários, os alunos puderam aumentar o conhecimento de repertório diante das diversas
obras apresentadas, trocar experiências tanto em relação a dificuldades de pesquisa quanto
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
à elaboração de cada etapa, esclarecer dúvidas sobre aspectos construtivos das obras
estudadas, perceber o contexto de cada uma, e entender as soluções projetuais empregadas
diante dos aspectos de funcionalidade do edifício.
Diante disso, espera-se que efeitos em longo prazo também sejam identificados nas
211
disciplinas de projeto, pois a interdisciplinaridade ainda é uma dificuldade de ser posta em
prática efetiva, embora essa disciplina seja um suporte voltado à de projeto arquitetônico.
Isso ocorre porque o exercício projetual realizado na matéria de projeto arquitetônico não
corresponde ao mesmo na disciplina de sistemas estruturais, mas a obras relevantes da
história da arquitetura, forçando o entendimento estrutural do aluno por analogia. Outro
aspecto que deve ser repensado para o refinamento dessa disciplina é que o discente coloca
em prática através das didáticas apresentadas apenas um sistema construtivo, não
realizando experimentos dos demais vistos teoricamente.
Porém, verifica-se que a aplicação de metodologias alternativas possibilitaram resultados
imediatos de motivação, interesse e aprendizado dos alunos no decorrer dos dois semestres
citados. Contudo, como defendida pela teoria da Tectônica, estima-se que os alunos possam
desenvolver projetos com estrutura mais expressiva e articulada com a proposta estética e
funcional, após a aquisição de conhecimento estrutural consolidado.
3. CONSIDERAÇÕES
Adotar atividades que buscaram o interesse dos alunos, através de um entendimento
cognitivo mais facilitado da matéria de sistemas estruturais, foi acertado diante das
considerações relacionadas a essa disciplina dentro do curso de Arquitetura e Urbanismo. Os
discentes puderam fomentar um raciocínio estrutural ao entender o contexto de diferentes
obras arquitetônicas a partir dos conceitos teóricos e comprová-los por meio dos modelos
físicos.
Esse é um dos passos para um esforço conjunto do corpo docente em integrar os diversos
conhecimentos ministrados ao longo do curso, permitindo que o aluno possua uma
concepção global do processo de projetação. Acredita-se, também, que outro resultado da
utilização dessa metodologia, e o consequente envolvimento dos estudantes com o
aprendizado sobre estruturas, será o aumento do desempenho no desenvolvimento de
projetos durante a graduação.
Espera-se que essa experiência possa ser depurada e aperfeiçoada para que alcance de
forma mais ampla e concisa os futuros profissionais do campo da Arquitetura e do
Urbanismo.
AGRADECIMENTOS
A todos os alunos das turmas AU6A41, AU7A41, AU7B41, AU6P41, AU6Q41, AU7P41,
AU7Q41 e AU7R41 que participaram dessa experiência e contribuíram para o futuro
refinamento da mesma.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
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212
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Arquitetônico. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. Capítulo 6.
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Paraná, Ponta Grossa, 2017.
UNIPLAN. Plano de Ensino da disciplina de Tecnologia da Construção – Sistema Estrutural. Disponível
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ESTUDO DE ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS: CONHECIMENTO INTUITIVO E
APLICAÇÃO PROJETUAL CRIATIVA
RESUMO
O estudo de Sistemas Estruturais na academia de Arquitetura tem histórico de resistência por parte
dos estudantes. O desenho e projeto da estrutura são concomitantes à concepção arquitetônica de
uma obra, mas é comum perceber a distância entre proposta projetual e o senso executivo do
estudante. O receio e a limitação criativa de propostas estruturais recaem sobre a falta do domínio
do comportamento e propriedade dos materiais. Se, por um lado, a ciência (engenharia) dos
materiais expandem possibilidades, por outro, os agentes do processo criativo (estudantes de
arquitetura) limitam-se a trabalhar com o básico. Com os sete anos de experiência acadêmica em
Arquitetura, tornou-se evidente que o potencial produtivo dos estudantes é restringido pelo raso
envolvimento com os processos estruturais possíveis. O objetivo do artigo é reportar o
comportamento dos estudantes frente à apresentação do estudo de Sistemas Estruturais, no
primeiro e terceiro anos de Arquitetura e Urbanismo de uma Universidade particular. As pontuações
foram construídas na observação dos alunos, nas disciplinas citadas, e foram auxiliadas pelos
princípios e noções do método Pestallozzi (construção intuitiva do conhecimento), a teoria da
Decisão Estratégica na Administração, de Mintzberg, e o Ensaio Sobre Razão Compositiva, de Edson
Mahfuz. Nas aulas, foram utilizadas tanto a metodologia expositiva tradicional, quanto trabalhos que
permeavam uma metodologia híbrida. Os resultados, gerados de forma continuada pela percepção
docente, mostram maior liberdade projetual à medida que conhecem o objetivo do estudo das
estruturas, o constroem conhecimento cognitivo dos materiais e técnicas, e dispõem de tempo para
elaborar projetos direcionados.
Palavras-chave: Estruturas Arquitetônicas; Conhecimento Estrutural; Construção Intuitiva.
ABSTRACT
The study of Structural Systems in Architecture Academy has a history of resistance on the part of
students. The design and structure are the concomitants of architectural design, but it is common to
see the distance between design proposal and executive student sense. The fear and the creative
limitation of structural proposals fall on the lack of behavior and material property. If on the one
hand, science (engineering) of materials expand possibilities, on the other, the agents of the creative
process (students of architecture) are limited to working with the basics. With seven years of
academic experience in architecture, it became evident that the productive potential of students is
restricted by shallow involvement with structural processes possible. The purpose of the article is
reporting the students ‘behavior ahead of the presentation of the study of Structural Systems, in the
first and third years of architecture and urbanism of a private University. The scores were built on the
observation of the students in the disciplines mentioned, and were supported by principles and
notions of Pestallozzi method (intuitive construction of knowledge), the theory of strategic decision on
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
administrative, Mintzberg, and The Essay on Compositional by Edson Mahfuz, Reason. In class, we
used both the traditional expository methodology, as jobs that permeated a hybrid methodology. The
results generated continuously by perception, showing greater design freedom as we know the
purpose of the study of the structures, the build cognitive knowledge of materials and techniques, and
have time to develop targeted projects.
214 Keywords: Architetonic Structures; Knowledge Structural; Intuitive Construction.
1. INTRODUÇÃO
O repertório que envolve o diálogo entre ensino e aprendizagem é vasto, denso e sem
conclusão precisa, devido às inúmeras variáveis que o permeiam. Na academia de
Arquitetura, um dos assuntos mais polêmicos e inquietantes é a abordagem estrutural e
suas variantes, e o nexo contextual na formação profissional e na produção arquitetônica.
Este artigo aborda a problemática do ensino de disciplinas técnicas (Introdução às
Estruturas, Sistemas Estruturais e Materiais de Construção), em uma Universidade
particular, através da análise cognitiva do docente sob a evolução dos estudantes, numa
vivência experimental em sala de aula, sob a ótica de três teorias distintas:
Construção intuitiva do conhecimento, de Pestallozzi;
Decisão estratégica na Administração, de Mintzberg;
Ensaio Sobre Razão Compositiva, de Edson Mahfuz.
Estas teorias são apenas a fundamentação teórica utilizada para pontuações no processo
ensino x aprendizagem, não sendo abordadas profundamente neste artigo.
Os resultados são gerados de forma continuada, num processo retroalimentado
intuitivamente. O diálogo estabelecido entre proposta pedagógica, prática docente e
reportação discente cria um ambiente propício para a melhoria do método de ensino nas
disciplinas. É claro que outras condicionantes, externas a este processo, acabam limitando o
desenvolvimento profícuo da prática – tempo de aula restrito, tamanho das turmas, entre
outros –, mas ainda assim a experiência é válida como ensaio metodológico e proveitoso
para o estudante, que trabalha o desenvolvimento multidisciplinar.
2. NA ACADEMIA DE ARQUITETURA
Cursar Arquitetura, independente de suas variantes – Urbanismo, Interiores, Paisagismo –
e da escolha da academia – particular, Estadual, Federal – é cercado de sonho, idealizações e
estigmas. Nas escolas de arquitetura nacionais, a máxima exigência de capacitação técnica é
na área artística, com uma avaliação do potencial produtivo do candidato, o que faz com que
a afinidade com a arte seja reforçada.
De fato existe esta estreita, intrínseca e questionável relação entre Arquitetura e Arte,
contestada por muitos e reforçada por outros tantos; mas, definitivamente, não é apenas
nesta que sustentamos a rotina de concepção projetual arquitetônica.
Uma das primeiras ideias construídas sobre a definição de arquitetura associa dois sinônimos,
tão distintos na atualidade. Segundo Morales de los Rios (1960, p.25), “a arquitetura é a arte,
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
ciência e a técnica de conceber, projetar e erigir edifícios com utilidade e beleza”. A semântica
das palavras arte, do latim ars, e técnica, do grego tékne, tem o significado de criar, fabricar ou
produzir algo. Ambas as definições estão associadas à habilidade, natural ou adquirida, de fazer
ou construir alguma coisa. Posteriormente, as designações de ‘arte’ foram direcionadas para
215
produções com caráter e valor estético, distinguindo-se veementemente da ‘técnica’, que
sempre esteve atrelada ao modo, método e forma executiva.
Desta forma, após estas primeiras definições estudadas academicamente, as divergências
foram comuns, principalmente na arquitetura:
“A arquitetura não é uma arte, pois qualquer coisa que sirva a um objetivo se exclui da
esfera da arte.” (Adolf Loos, 1908);
“Arquitetura é arte, nada mais.” (Philip Johnson, 1965);
“A arquitetura é a maior de todas as artes.” (Richard Meier, 1977);
“De um traço nasce a arquitetura. E quando ele é bonito e cria surpresa, ela pode atingir,
sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra de arte.” (Oscar Niemeyer, 1993);
“PAREM de confundir arquitetura e arte.” (Patrik Schumacher, 2014).
Desde o início do curso, os estudantes imergem numa rotina intensa de estudos diversos,
numa profusão de disciplinas fundamentais, mas nem sempre diretivas, que estruturam o
pensamento acadêmico nesta área de estudo. Muitas delas são rejeitadas, contestadas,
julgadas como desnecessárias pelos acadêmicos, que, de forma imatura, não compreendem o
complexo processo de aprendizagem. A grande maioria dos ingressantes em Arquitetura,
justamente e inclusive pelo fato de ter ligação particular com a arte, opta por este curso por
imaginar estar distante da área de exatas, onde proliferam os números, fórmulas, relações,
tabelas, estatísticas, cálculos. Num olhar desatento e leigo, realmente estas pontuações
parecem reais, mas ao observar a arquitetura com olhar um pouco mais apurado, a realidade
está intimamente ligada com Matemática, Física, Química, Geografia, Ecologia, Antropologia,
entre tantas outras que compõem o repertório multidisciplinar desta área. Assim como toda
profissão, a arquitetura também tem seu lado pragmático e seu lado idealista.
Diferente das Engenharias, que tem a dialética matemática atrelada ao escopo dos
estudos, a Arquitetura aborda as disciplinas de exatas com parcimônia, de forma aplicada,
mas nem por isso, superficialmente. Os estudos concernentes às Estruturas Arquitetônicas
se encontram neste contexto paradigmático, onde, ao mesmo tempo em que o jovem
estudante de arquitetura busca justificativas para sua escolha, precisa enfrentar estudos em
áreas nem sempre tão desejadas.
2.1 Estruturas?
O estudo de Estruturas e todos os desdobramentos, nas diversas academias, bordam um
plano fundamental da Arquitetura. Há, na semântica da palavra, originária do grego – archi
(aquilo que vai além, a mais) e tecto (construído, material) – compreende a necessidade de
propor algo a mais que o elemento concreto.
Para que possa arquitetar algo a mais, aquilo que vai além do material, que ultrapasse as
expectativas óbvias de um projeto, o arquiteto necessita dominar o conteúdo pragmático
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
que envolve seu produto, manejando materiais, técnicas e tecnologias com a destreza de um
artesão, utilizando uma ferramenta em seu atelier. O domínio desta ferramenta irá conferir
maior segurança e assertividade nos projetos a que se propõe. A elaboração e refinamento,
que ocorre ao longo dos anos de estudos acadêmicos, à luz da confluência da teoria e da
216
prática, acontecem de maneira diferente para cada indivíduo, mas todos devem sair
capacitados para o exercício da função.
Faz parte da atribuição técnica do profissional em arquitetura conceber obras exequíveis,
com sistemas estruturais resolvidos, adequados tecnicamente. Os anos de experiência, tanto
profissional como docente, principalmente os últimos 3 anos, dedicados ao ensino de
Estruturas na academia de arquitetura, confirmaram a necessidade do aprofundamento
prático das teorias abordadas.
4. PROCESSO DECISÓRIO
Henry Mintzberg, administrador canadense, Ph.D. pelo M.I.T. com ênfase em Estratégia
em Gerência e Negócios e docente há mais de 30 anos, tem uma visão singular sobre
processo decisório na gestão estratégica empresarial. Suas teorias, contraditórias às teorias
contemporâneas apoiadas em teorias sistemáticas e rotinas estáticas, valorizam as
experiências individuais e a possibilidade do desenvolvimento gerencial a partir do
enriquecimento empírico associado às teorias estratégicas.
Na rotina acadêmica, dá prioridade às vivências práticas dos estudantes: os docentes são
instigados a compartilhar o conhecimento adquirido, tendo o professor apenas como
facilitador e balizador do aprendizado. Valorizando a experiência individual e o
desenvolvimento pessoal, agrega as teorias administrativas impulsionando a assimilação do
conhecimento teórico.
A abordagem de Mintzberg traz conceitos elementares e subjetivos do processo
decisório. As estruturas mentais que antecedem o processo de decisão, tanto no
planejamento quanto na estratégia gerencial, formatam um enquadramento no qual são
encaixadas certas rotinas administrativas. Estas escolhas, tanto do recorte quanto das ações
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
4.1 Aplicação
O estudo do Processo Decisório aplicado à Arquitetura, principalmente no que diz respeito às
estruturas, tende a melhorar a produção projetual dentro da academia e na vida acadêmica. À
medida que o estudante/profissional reconhece que a metadecisão (levantamento de recursos
para propostas assertivas), dá subsídio para melhoria do sistema de escolhas possíveis, a
melhoria dos projetos se desenvolverá de forma paulatina, mas consistente.
No plano de ensino da maioria das escolas de arquitetura, estudos sobre Administração
tratam de maneira superficial esta área tão vasta. As disciplinas, geralmente ligadas às
rotinas de gestão – escritório, obra, projeto –, deixam de lado as teorias que abordam
processos subliminares que agem na estruturação da atitude profissional.
A incorporação de rotinas e modelos de reconhecimento e interpretação da realidade nos
processos projetuais, aliado à valorização da experiência individual, auxiliam na construção
cognitiva racional. Segundo Souza (2006, p.9), a redução da ocorrência da decisão pobre e
tendenciada por métodos, técnicas e tecnologias estruturais, também é chamada de
coalizão dominante e é recorrente no processo de concepção estrutural. A falta de recursos
técnicos no repertório do estudante/profissional limita escolhas e inibe decisões de cunho
inovador – característica criativa solicitada no aprimoramento da arquitetura.
Para embasar o processo decisório, a análise de variáveis e possibilidades deve ser
acompanhada de rotina experimental, de forma contínua. Esta rotina, aparentemente
empírica, fornece subsídios metadecisórios.
como cita Norberg-Schulz (1971) apud Mafhuz (1995): “os elementos primários são, por
definição, aqueles que são essenciais à estrutura; se forem retirados, a composição se
desintegra”. Sobre a análise dos elementos de composição, aplicados à arquitetura
moderna, Mahfuz tece o comentário:
219 Mas a maneira como a estrutura é empregada para definir espaços e agrupá-los,
confere aos elementos estruturais um novo grau de importância como verdadeiras
partes arquitetônicas. [...] Para Wright a estrutura é secundária em relação aos
espaços, enquanto nos edifícios de Le Corbusier pode-se encontrar uma situação
quase de igualdade entre espaços e elementos construtivos funcionais, cada um
podendo ser dominante conforme o caso da Ville Savoye” (MAHFUZ, 1995, p. 32).
Segundo ele, todo edifício (arquitetura) tipologicamente constituído, pode ser reduzido a
um tipo, abstraído a unidade mínima, a estrutura sem a qual não teria recursos para existir.
E nesta ponderação entre a massa e o vazio, a composição de espaços e não espaços, a
criatividade pode e deve se expandir.
Mahfuz ainda salienta que o processo criativo em arquitetura não se baseia apenas na
consideração de aspectos programáticos e estruturais, apesar de apresentá-los como
fundamental. É um processo de aprimoramento na rotina de decisão projetual através de
análise, interpretação e adaptação do repertório pessoal do arquiteto.
5.1 Aplicação
Este estudo elaborado por Mahfuz aborda uma possibilidade de análise do processo
projetual em arquitetura. A forma como propõe a desconstrução e segregação das partes
arquitetônicas, observando limites, formas, massas, pesos, classificações, tipologias,
harmonias, entre outros, lógico que não como regra ou um caderno de rotinas pragmáticas,
mas como experimentação analítica, abre possibilidade para a contemplação, reflexão e
construção de pensamento crítico sobre a composição da arquitetura. O amadurecimento
do olhar sintético evolui a cada prática, agregando valor, consistência e profundidade.
Observações e estudos associados tendem a atrair a atenção dos estudantes para assuntos
antes impostos pela ementa ou programa acadêmico do curso, e a organização hierárquica
dos temas forma-se de maneira orgânica e individual, apenas norteada pelo docente.
Fonte: Pinterest.
Evidente que este movimento Pós Moderno contribuiu muito para a racionalização de
atributos arquitetônicos, que até então eram subjugados. A compreensão e evidência da
estrutura arquitetônica, como essência da composição formal, agregou valor e novamente
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
6. EXPERIENCIANDO TEORIAS
A formação técnica (Edificações) precedente à academia de Arquitetura, estudos
acadêmicos posteriores em Engenharia (Civil e de Materiais), afinidade com disciplinas
técnicas (materiais de construção, sistemas estruturais, resistência dos materiais e afins),
associados a treinamentos motivacionais pedagógicos (como docente), estudos na área de
criatividade (especialização em Arte Terapia) e processo projetual (mestrado em
Arquitetura) e enriquecidos pela sinestesia do ambiente acadêmico, geraram ambiente
propício para observar o processo de formação do conhecimento no estudante.
A insistente problemática do estudo de Estruturas em Arquitetura, tanto pela dificuldade
reportada pela coordenação do curso, em encontrar um profissional da arquitetura disposto a
ministrar as disciplinas técnicas, quanto pela resistência a estas disciplinas pelos estudantes,
tornou sensível a necessidade de abordar este assunto de maneira teórica e investigativa.
O convite do colegiado de Arquitetura da Universidade Filadélfia a assumir as disciplinas
de Introdução às Estruturas, ministrada no 1º ano, e Sistemas Estruturais, ministrada no 3º
ano, além de orientação de trabalhos de graduação (TFG/TCC), com a possibilidade de
modelar uma abordagem diversa, apesar da necessidade de seguir rigidamente a Ementa e o
Plano de Ensino e atentar para as normativas internas sobre controle de presença,
avaliações formais, rotinas do colegiado entre outros, possibilitou a experimentação e a
confluência das teorias apresentadas.
dos Materiais são abordadas de maneira incisiva. Conceitos da Matemática e Física são
apresentados, direcionados e otimizados com trabalhos de investigação aplicada às
estruturas. A relação entre obras arquitetônicas os respectivos Esforços Solicitantes
atuantes, feita através de análise estrutural e vetorização dos sistemas, melhora a
222
compreensão e dá razão aos cálculos e fundamentos. Esta atividade, além de estimular a
busca por formas inusitadas, arquétipos arquitetônicos, modelos de estudo, obras
conceituais ou mesmo correntes, associa e constrói uma relação mais próxima entre o
estudo de estruturas e a concepção da arquitetura.
Inevitavelmente, a imaturidade do repertório e da visão arquitetônica produzem
desconexões grotescas. Neste momento, a presença do professor como mediador e
balizador auxilia no alinhamento das pesquisas, refinamento do olhar e exploração em
profundidade das informações, mas o principal intuito da atividade é cumprido: o estímulo
de interação entre forma, função e estruturas, levando o estudante a refletir sobre a obra e
não apenas olhar superficialmente ou de maneira condicionada.
É sensível a melhora do senso de importância das estruturas e da compreensão do
funcionamento dos sistemas estruturais para a arquitetura, apesar da insistente distância
entre essa aparente evolução e a rotina de cálculos exigida na disciplina, evidenciado na
recorrência das avaliações teóricas com notas baixas.
7. CONSIDERAÇÕES
A abordagem multiteórica do ensino de estruturas em escolas de arquitetura agrega valor
e busca uma reestruturação da rotina instituída atualmente. Uma visão que extrapole os
limites da rotina acadêmica convencional são fomentadores de uma revolução necessária.
No Brasil, é nítido que apropriação desta atribuição profissional – o domínio da
composição estrutural – é muito rasa em consequência da formação acadêmica. Os
estudantes de arquitetura são instigados de maneira tímida a buscar soluções e elaborar o
conhecimento estrutural, mesmo considerando as limitações docentes e o escasso tempo
disponível na grade acadêmica para investir nesta área essencial.
O envolvimento do docente, seu comprometimento em produzir conhecimento
consolidado e ensinar o estudante e encontrar seus próprios recursos, somado ao exercício
consciente e responsável do docente sobre a autoelaboração, com certeza produzirá
profissionais mais críticos, que reconheçam e assumam seu papel de agentes modeladores
de relações, espaços e estruturas.
REFERÊNCIAS
BERNHARDT, A. O processo de tomada de decisão na percepção da coalizão dominante formal: um
estudo de caso na Estobel. 2004. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Administração,
Universidade de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.
HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 2004.
MAFHUZ, E. C. Ensaio sobre a razão compositiva. Belo Horizonte: Universidade Federal de Viçosa,
1995.
MAFHUZ, E. C. O mito da criatividade em Arquitetura. ArchDaily, 30 set. 2013. Disponível em:
<http://www.archdaily.com.br/br/01-143733/o-mito-da-criatividade-em-arquitetura-slash-edson-
mahfuz>. Acesso em: 17 abr. 2017.
Pinterest. Imagem da Casa IV, Peter Eisenman. Disponível em:
<https://br.pinterest.com/pin/560205641125069577/>. Acesso em: 17 abr. 2017.
RIOS FILHO, A. M. Teoria e filosofia da arquitetura. Rio de Janeiro: Borsoi, 1960.
SOUZA, W. H. Decidindo como decidir: desenvolviemento de uma estrutura conceitual através de
estudos de caso. 2006. Tese (Doutorado) – Faculdade de Administração, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2006.
IMPLANTAÇÃO DE UM ATELIÊ DE ARQUITETURA E DESIGN EM OURO
BRANCO – MG
FRANCHINI, Marcos Mascarenhas (1); ARAÚJO, Ernani Carlos de (2); AGUIAR, Tito Flávio
Rodrigues (3)
RESUMO
O presente trabalho faz parte da dissertação em desenvolvimento na UFOP para o Mestrado
Profissional em Construções Metálicas – MECOM e tem como objetivo discutir alternativas no ensino
de profissionais do campo da construção civil que permitem o trânsito entre diferentes
conhecimentos e que, de fato, propiciam o desenvolvimento de uma transdisciplinaridade na
concepção de projetos, criatividades e aplicações práticas dos jovens e futuros profissionais. A partir
de experiências e obras análogas, sobretudo a partir da experiência dos Grandes Ateliers d’Isle
d’Abeau inaugurado em 2002 na França, propõe-se projetar e levantar a viabilidade da implantação
de um Instituto de Arquitetura e Design em um edifício com ações de sustentabilidade em Ouro
Branco/MG, cidade a 25 km de Ouro Preto. Entre os resultados parciais deste estudo, figura o projeto
do edifício em si, que permite a aproximação (de diferentes disciplinas) e a realização (construção de
estruturas e espaços). Através do encontro entre os atores envolvidos na construção, desde a
implementação dos materiais ao ambiente construído, é possível aproximar culturas historicamente
distantes, tais como a arte, a arquitetura, engenharia e design.
Palavras-chave: Ensino-aprendizagem em Construção civil; Culturas construtivas inovadoras;
Transdisciplinaridade.
ABSTRACT
The present work is part of the dissertation under development at the UFOP for the Professional
Masters in Metallic Constructions (MECOM) and aims to discuss alternatives in the teaching of
professionals in the field of construction that allow the transit between different knowledge and that,
in fact, provide development of a transdisciplinarity in the conception of projects, creativities and
practical applications of the young and future professionals. From established experiences and similar
references, especially from the background of the Grands Ateliers d'Isle d'Abeau inaugurated in 2002
in France, it is proposed to design and prospect the implantation of an Institute of Architecture and
Design in a building that apply actions of sustainability in Ouro Branco / MG, a city 25 km from Ouro
Preto. Among the partial results of this study is the design of the building itself, which allows the
approximation (of different disciplines) and the stimulate realization (construction of structures and
spaces). Through the encounter between the actors involved in the construction, from the
implementation of the materials to the built environment, it is possible to approach historically
distant cultures, such as art, architecture, engineering and design.
Keywords: Teaching-learning in Construction; Innovative constructive cultures; Transdisciplinarity.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
O contato inicial com o tema do trabalho se deu em dois momentos, ambos no curso de
Mestrado Profissional em Construções Metálicas – MECOM, em Ouro Preto. A proposta
desta pós-graduação é aberta tanto para alunos e profissionais provenientes dos cursos de
225 Engenharia quanto aos de Arquitetura e Urbanismo. Esta abertura propicia uma troca de
conhecimentos que são complementares e que enriquecem as discussões nas aulas.
Em entrevista concedida ao Prof. Dr. Reginaldo Luis Nunes Ronconi1, o arquiteto João
Figueiras Lima destaca a necessidade de se fazer o trabalho de arquitetura na sua dimensão
mais plena e em equipe. Em um primeiro momento, a experiência vivenciada no MECOM
promoveu o desenvolvimento de projetos de forma coletiva que contam com a
subjetividade de cada aluno, potencializada pela contribuição dos outros. Tal virtude vai ao
encontro da indústria contemporânea, na qual, segundo Minto (2002), a aproximação entre
empresas, por meio da formação de parcerias, alianças estratégicas, etc., é uma tendência
inquestionável.
Outra motivação foi o contato com o vídeo institucional dos Grands Ateliers d’Isle
d’Abeau (GA), na França, que despertou o interesse em visitar o local e levantar como se deu
a implementação do instituto, seus desafios e êxitos. Os GA foram abertos em 2002 para as
Escolas de Arquitetura, Arte e de Engenharia (inicialmente francesas) com o intuito de
contribuir à inovação pedagógica no domínio da construção e aproximação dos estudantes
com a formação tecnológica.
No Brasil, cabe destacar a presença de indícios consistentes quanto a um exíguo
reconhecimento quanto à necessidade, e pouca valorização da formação tecnológica na
educação e na prática da Arquitetura (LEITE, 2005). A fronteira entre os territórios da arte e
da técnica em arquitetura sempre foi conturbada e marcada por conflitos e contradições
essenciais, completa Lima (2004).
Este trabalho trata de questões relativas à experimentação prática no processo de ensino-
aprendizagem nos cursos da construção civil com a perspectiva de contribuir com o ensino.
Os métodos utilizados para o desenvolvimento do estudo foram:
Revisão bibliográfica
Visita de campo no terreno de implantação e aos Grands Ateliers na França.
Questionários (Pesquisa de Campo/Virtual) para estudantes, profissionais, e
professores com o objetivo de testar a validade e aplicação, a aceitação e
receptividade do instituto;
Entrevistas com prefeitura municipal de Ouro Branco e empresas produtoras de aço
sobre interesse e viabilidade do instituto;
O projeto arquitetônico como teste da hipótese;
Consultorias em conforto ambiental e cálculo estrutural para desenvolvimento do
projeto.
1
RONCONI, R. L. N. Inserção do Canteiro Experimental nas Faculdades de Arquitetura e Urbanismo. 2002.
Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2. ESCALA 1:1
Segundo Minto (2009), para uma resposta às fortes demandas de criticidade no
aprendizado e na formação do estudante, é possível que se tenha uma síntese conclusiva na
experimentação prática da arquitetura em ambientes de ensino. Há que se reverter o atual
226 quadro da maior ênfase em aulas teóricas e aulas em estúdios e ateliês para uma maior
dimensão da “prática” na arquitetura.
Viu-se que há extrema simbiose entre o “aprender arquitetura” e o “fazer Arquitetura” e,
mesmo a formação do arquiteto durante mais de 4.500 anos tendo ocorrido pela transmissão
direta mestre-aprendiz no canteiro, a sua escolarização após o século XVII, em maior ou menor
intensidade, sempre passou pela influência das práticas de trabalho (LEITE, 2005).
Saber e fazer – conhecimento e ofício – que se objetivam em duas instâncias principais:
no objeto edificado e no objeto projetado. O ensino de projeto é entendido como protótipo
do ensino prático reflexivo, voltado para o desenvolvimento da criatividade, da habilidade
na solução de problemas em situações desconhecidas e únicas. É preciso que o estudante de
arquitetura experimente, exercite cada um dos componentes no contexto do aprender-
fazendo, do seu próprio caminho de ação-reflexão-na-ação (ARCIPRESTE, 2012).
Sobre os canteiros experimentais, Lotufo (2014) aponta que a construção de protótipos
permite a simulação da realidade como etapa de projeto, a experimentação na escala 1:1
pode garantir maior assertividade e complementa que, como ambiente pedagógico, é um
local em que as relações professor/aluno são dialógicas.
227
Trabalhar nos GA permite aos alunos a compreensão clara das noções teóricas
apresentadas em sala de aula e a apropriação de elementos do projeto elaborados na escola,
com a possibilidade de se realizar testes em grande escala e, até, em verdadeira grandeza.
Experimentar de maneira física a escala 1:1 traz referências perceptivas sinestésicas e outros
tipos de representação que são complementares às comumente utilizadas.
Construir em grande escala os protótipos de habitação permite aos estudantes calibrar
suas percepções físicas e psicológicas do espaço e dos materiais, para verificar a viabilidade
técnica do projeto concebido virtualmente e compreender os processos necessários para
realização de estruturas complexas. A experiência de construir após o projetar torna possível
localizar erros de concepção, de modo a melhorar as proposições iniciais e enriquecer o
projeto, muitas vezes, simplificando-o.
A experiência e competência, agora reconhecida dos Grands Ateliers, e as perspectivas
abertas pela questão de experimentação aplicada à arquitetura, definem uma base sólida
para o desenvolvimento de culturas construtivas inovadoras.
4. PROJETO ARQUITETÔNICO
Em 2 de março de 2017, os autores participaram de uma reunião no Gabinete do Prefeito
na Prefeitura Municipal de Ouro Branco em Minas Gerais com o intuito de averiguar o
interesse do município no objeto de pesquisa e que pudessem avaliar a viabilidade de
228 implantação do instituto. Desta reunião, participaram, além dos autores, o prefeito, vice-
prefeito, secretário de obras e interino de gestão urbana, gerente de cultura, gerente de
agricultura e o chefe de gabinete2.
Levantou-se a possibilidade de prospecção do projeto na Fazenda Carreiras em virtude de
sua vocação para receber este tipo de equipamento e, também, pela demanda do Ministério
Público do Estado em ocupá-la.
Fonte: <http://patrimoniocultural.blog.br/wp-content/uploads/2016/06/Fotos-vistoria-26.02.13-173.jpg>.
Acesso em: 10 abr. 2017.
Tombada pelo IEPHA, em setembro de 2000, a Fazenda Carreiras (Figura 3), localizada às
margens da antiga Estrada Real, no município de Ouro Branco, é conhecida como Fazenda
Tiradentes ou Casa Velha de Tiradentes, pois acredita‐se que o Inconfidente teria pernoitado
ali durante uma viagem de São João Del Rei à Vila Rica, em 1788.
Este exemplar da arquitetura rural de Minas Gerais do século XVIII resguarda a
simplicidade das construções da época. Seu processo construtivo é em estrutura
mista de alvenaria de pedra, grossos esteios e barrotes de madeira. As paredes
internas possuem vedações de pau‐a‐pique. A senzala, adequada posteriormente
para outros usos, ficava no porão da casa, mais uma característica do período. A
casa possui níveis diferenciados, com comunicação por meio de escadas,
localizadas em diferentes compartimentos. A entrada, ao nível da estrada, teria
2
Assessoria de Comunicação da Prefeitura Municipal de Ouro Branco/MG: Sustentabilidade em Pauta.
Disponível em: <http://www.ourobranco.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/sustentabilidade-em-
pauta/59754>. Acesso em: 10 abr. 2017.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Nos anos 1970, a família Miranda, após uma centena de anos de posse da Fazenda
Carreiras, vendeu a propriedade para a empresa Açominas. Na época, a sede teve a
229 estrutura recuperada e os telhados reformados.
Em 1979, os arquitetos Éolo Maia e Jô Vasconcellos, com colaboração do também
arquiteto Flávio Grillo, desenvolveram um projeto de restauração a pedido da Açominas. O
objetivo era transformar a fazenda em uma escola de artes plásticas. Em 1989, novo projeto,
também assinado por Jô Vasconcellos, previa a implantação do Museu do Aço ou Casa de
Cultura. A Açominas, em 1992, transferiu a Fazenda Carreiras e suas benfeitorias para a
Prefeitura de Ouro Branco, por compensação de dívida. Mais tarde, em 2004, a fazenda
passou a abrigar o Centro de Cultura, mantido pela Associação Amigos da Cultura de Ouro
Branco. A cessão do espaço para a associação foi por um prazo de cinco anos.
Fonte: <https://www.google.com.br/maps/search/casa+de+tiradentes+ouro+branco/@-20.5885161,-
43.7208586,14z/data=!3m1!4b1>. Acesso em: 10 abr. 2017.
Graus-dia de resfriamento
200
100
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Graus-dia de resfriamento
Graus-dia de aquecimento
140
90
40
-10
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Graus-dia de Aquecimento
231
232
Figura 11 – Legenda com indicação de melhores estratégias de projeto para Ouro Branco - MG
auditório. A concepção estrutural prevê o galpão com dimensões de 24x12m com estrutura
sobre radier vinculado a 9 módulos de 6x9m que abrigam salas de aula, administração,
biblioteca, núcleo de instalações sanitárias e cantina. Com estrutura independente, no hall de
entrada do edifício foi previsto um auditório de 315 m² com capacidade para 200 pessoas.
235
O galpão contará com uma série de workshops de alto desempenho com máquinas
digitais avançadas e instalações de oficina mais básicas que permitirão aos alunos,
pesquisadores e parceiros externos testar e desenvolver novas técnicas e construir modelos
e protótipos na escala 1:1. O objetivo é aproximar os estudantes e os investigadores do
artesanato contemporâneo e da produção direta, não só para produzir produtos acabados,
mas também para experimentar, esboçar e desenvolver conceitos usando tecnologia
tradicional e moderna, pois essas habilidades podem ser cruciais na arquitetura do futuro.
Nas oficinas, os usuários serão capazes de produzir objetos que vão desde detalhes
arquitetônicos muito pequenos, como acessórios e ferramentas, que podem ser impressos
em impressoras 3D, a componentes de construção em escala completa e módulos para uma
montagem ao ar livre. As oficinas na escola estão abertas aos alunos 24 horas por dia e os
alunos podem receber acompanhamento profissional individual durante o dia.
Na proximidade das instalações da oficina, deve haver uma área com espaços de trabalho
flexíveis / salas de aula onde os usuários possam desenvolver projetos em estreito contato
com as oficinas. Esta área será uma área limpa e não exigirá instalações técnicas especiais.
Deve haver espaço com espaço de armazenamento integrado. Aqui, estudantes e
pesquisadores irão se sentar juntos e desenvolver projetos que exigem um uso
particularmente intensivo das máquinas do galpão. A ideia é também que esses ambientes
possam ser oferecidos a empreendedores, pequenas empresas iniciantes, parceiros locais,
professores convidados e assim por diante para colaborações.
As figuras 11 a 14 ilustram o estágio em que o projeto se encontra até a submissão do
presente artigo, em nível de estudo preliminar.
236
5. CONSIDERAÇÕES
Como desenhar de fato uma escola de arquitetura? Como repensar um edifício para as
pessoas que vão criar as arquiteturas de amanhã?
Espera-se que este projeto dê à educação arquitetônica um impulso visionário e forneça
237 uma estrutura adequada ao futuro com espaço para experimentos e novas colaborações.
Emergindo como resultado da estreita colaboração entre engenheiros, arquitetos, designers
e artistas. Um lugar onde as pessoas construam e onde a qualidade da construção é
essencial para a educação e para o desenvolvimento da arquitetura de amanhã.
As mudanças climáticas às quais o planeta passou nas últimas décadas e que irá vivenciar
fazem necessária uma adaptação do habitat em diversas partes do mundo, assim como as
condições de acesso à habitação de qualidade, se degradam vertiginosamente. Há, portanto,
uma necessidade mundial de rever, fundamentalmente, a questão da habitação tanto em
seus métodos de produção quanto nos padrões de uso. O ciclo de vida do espaço construído
é muito longo, os investimentos são caros e muitas partes interessadas. Por isso, é de difícil
realização experiências sistemáticas.
Estas condições impõem transformações da prática da arquitetura e, por extensão, do
ensino profissional, que desenham um horizonte favorável à revalorização da Escola
Tectônica e seus ideais (LIMA, 2014).
O projeto visa estimular a capacidade de criatividade e inovação dos alunos através de
um melhor conhecimento e compreensão científica do material de materiais de construção,
condição fundamental para o desenvolvimento de propostas que respondam aos desafios e
demandas contemporâneas.
Entende-se, portanto, que como questões centrais sobre práticas didáticas na
formação tecnológica caiba se discutir o papel das aulas de aporte teórico-
conceitual e das atividades de experimentação construtiva, seus respectivos
potenciais e características.
Embora o espaço físico não seja autônomo e implique um modelo de operação que
promova efetivamente os objetivos pretendidos, entende-se que esta experiência
possa vir a significar uma retomada de boas práticas de formação tecnológica que
talvez tenham tido sua última expressão efetivamente paradigmática na Bauhaus.
Nesta perspectiva, considera-se fundamental promover uma convivência cada vez
mais íntima, comprometida e afetiva com os ambientes de experimentação
construtiva, de modo a que sejam novamente vistos e assumidos por alunos e
professores como locus de trabalho do arquiteto (LEITE, 2005, p264).
Na tentativa de definir qual seria o perfil do novo profissional, o fazer arquitetônico deve
buscar formas de articular os saberes (arquitetura, design e arte) uma vez que a
complexidade dos problemas do ambiente construído atual exige uma abordagem integrada,
multidisciplinar e transformadora.
AGRADECIMENTOS
Aos professores Ernani Carlos de Araújo e Tito Flávio Rodrigues de Aguiar, pela dedicação,
generosidade e orientações que se complementam e permitem o avanço deste trabalho.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
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e urbanismo e seus referenciais a partir do Trabalho Final de Graduação. 2012 Tese (Doutorado em
Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2012.
LIMA, H. C. Escola Tectônica, Escola Estilística e Ensino de Arquitetura: Limites e Possibilidades de
uma Abordagem Tectônica no Ensino de Projeto. In: III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa
e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. Arquitetura, cidade e projeto: uma construção
coletiva. Anais... São Paulo, 2014.
LOTUFO, T. A. Um novo ensino para outra prática. Rural Studio e Canteiro Experimental,
contribuições para o ensino de arquitetura no Brasil. 2014. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
LEITE, M. A. D. F. A. A aprendizagem tecnológica do arquiteto. 2005. Tese (Doutorado) – Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
MINTO, F. M. Projeto Simultâneo na Construção de Edifícios. 202. Tese (Doutorado em Engenharia
Civil) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.
MINTO, F. C. N. A experimentação prática construtiva na formação do arquiteto. 2009. Dissertação
(Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
MOUSSEAU, M.; NAVE, S.; SNYERS, A. Les Grands Ateliers: Enseigner, Expérimenter, Construire.
Saint-Étienne: Ed. Jean Michel Place, 2008.
O’Donnell Wicklund Pigozzi and Peterson, Architects Inc, VS Furniture, & Bruce Mau Design. The third
teacher: 79 ways you can use design to transform teaching & learning. New York: Abrams, 2010.
Processo de Tombamento do IEPHA/MG – Cidade de Ouro Branco/Fazenda Carreiras – Tombamento
Homologado SEC.19.09.2000 – Diário Oficial Minas Gerais, 2000. p.2
Assessoria de Comunicação da Prefeitura Municipal de Ouro Branco/MG. Sustentabilidade em
Pauta. Disponível em: <http://www.ourobranco.mg.gov.br/detalhe-da-
materia/info/sustentabilidade-em-pauta/59754>. Acesso em: 10 abr. 2017.
O DESAFIO DO ENSINO DE SISTEMAS ESTRUTURAIS NO CURSO DE
ARQUITETURA EM GOVERNADOR VALADARES/MG
PEREIRA, Rondinelly Geraldo (1); FERREIRA, Dayane Gonçalves (2); MELO, Ilara Rebeca Duran de (3)
RESUMO
Este artigo versa sobre os desafios relacionados ao ensino de Sistemas Estruturais no curso de
Arquitetura e Urbanismo na Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) de Governador Valadares,
Minas Gerais. Trata-se de relato da experiência didática do autor, que, no segundo semestre de
2016, ministrou pela primeira vez a disciplina Sistemas Estruturais no Curso de Arquitetura e
Urbanismo. O objetivo do artigo é relatar os cinco principais desafios enfrentados e as soluções
encontradas para mitigar a situação. Os métodos utilizados para avaliação da experiência consistiram
em análise dos relatórios da Comissão Própria de Avaliação da instituição, dos resultados finais das
turmas, de acordo com relatórios da Secretria de Registro Acadêmico e dos resultados alcançados
pelos alunos ao longo do semestre letivo com a utilização de metodologia didática diversificada.
Observou-se que os principais desafios no ensino de Sistemas Estruturais estão relacionados à
dificuldade do professor em definir o foco da disciplina; restrição por parte de muitos alunos às
disciplinas que envolvem física e cálculos matemáticos; dificuldade em associar o conteúdo teórico
com as estruturas arquitetônicas reais; carência de bibliografia específica direcionada ao curso de
Arquitetura e Urbanismo e a falta de interesse dos alunos em participar de pesquisas acadêmicas e
estudos independentes. Através da diversificação metodológica, entretanto, viu-se que os alunos
conseguiram, ao final do semestre, superar muitas dificuldades e atingir resultados satisfatórios
quando comparado com semestres anteriores. Entretanto, aspectos como a definição do foco da
disciplina e o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem autônoma precisam ser aprimorados.
Palavras-chave: Desafios; Sistemas Estruturais; Ensino; Arquitetura e Urbanismo;
ABSTRACT
This article deals with the challenges related to the teaching of Structural Systems in the Architecture
and Urbanism course at the Vale do Rio Doce University (UNIVALE) in Governador Valadares, Minas
Gerais. It is an account of the didactic experience of the author, who, in the second half of 2016, first
ministered the discipline Structural Systems in the Course of Architecture and Urbanism. The objective
of the article is to report the five main challenges faced and the solutions found to mitigate the
situation. The methods used to evaluate the experience consisted in analyzing the reports of the
institution's own evaluation committee, of the final results of the classes, according to the reports of
the Secretary of the Academic Registry and the results achieved by the students during the semester,
with the use of a diversified didactic methodology. It was observed that the main challenges in the
teaching of Structural Systems are related to the difficulty of the teacher to define the focus of the
discipline; Restriction by many students to disciplines involving physics and mathematical
calculations; Difficulty in associating theoretical content with real architectural structures; Lack of
specific bibliography directed to the course of Architecture and Urbanism and the lack of interest of
the students in participating in academic researches and independent studies. Through
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
methodological diversification, however, students were able to overcome many difficulties at the end
of the semester and achieve satisfactory results when compared to previous semesters. However,
aspects such as the definition of the focus of the discipline and the development of the autonomous
learning capacity need to be improved.
Keywords: Challenges; Structural systems; Architecture and urbanism.
240
1. INTRODUÇÃO
A Universidade Vale do Rio Doce – Univale está localizada na cidade de Governador
Valadares, no leste de Minas Gerais. O curso de Arquitetura e Urbanismo é oferecido pela
instituição desde o ano de 2003. Em sua avaliação mais recente pelo Ministério da Educação
e Cultura (MEC), recebeu nota 4 em uma escala que vai de 1 a 5.
Todas as diretrizes do curso são descritas no Projeto Pedagógico do Curso (PPC) e entre
estas diretrizes encontra-se a matriz curricular. A matriz curricular do curso visa atender às
habilidades e competências necessárias para a formação dos alunos para que o egresso
tenha o perfil proposto pela universidade.
Para que o egresso da Univale tenha formação plena, conforme atribuições inerentes ao
Arquiteto e Urbanista, a instituição contempla, em sua matriz, disciplinas direcionadas ao
estudo das estruturas. Entre estas disciplinas, estão Resistência dos Materiais, Sistemas
Estruturais, Estruturas em Alvenaria e Concreto e Estruturas em Aço e Madeira.
Este artigo tem como objetivo relatar os cinco principais desafios e as soluções
encontradas pelo professor, com formação acadêmica em Engenharia Civil, ao ministrar,
pela primeira vez, a disciplina Sistemas Estruturais para o 4º período do curso de Arquitetura
e Urbanismo. Trata-se do relato de experiência didática e pretende-se contribuir com as
discussões em torno do assunto, uma vez que, ao tornar evidentes as dificuldades, fomenta-
se o diálogo, o que estimula a busca por soluções e inovações.
Os métodos utilizados consistiram em estudos de referenciais teóricos e análise de
indicadores oficiais da instituição, como a Comissão Própria de Avaliação (CPA) e registros da
Secretaria de Registro Acadêmico (SRA), considerando-se os resultado obtidos no período
compreendido entre os anos de 2013 e 2016.
Os principais desafios foram listados com base em reuniões com profissionais, na observação
dos relatos e do desempenho dos alunos no decorrer do semestre letivo com a utilização de
recursos tradicionais ou métodos diferenciados, tais como aulas expositivas comuns, aulas
expositivas dialogadas, aulas invertidas, aplicação de exercícios de fixação, minicursos, visitas
técnicas, entrevistas e seminários.
Para desenvolvimento do método, foram utilizados materiais e ferramentas tais como
maquetes, o software Ftool, conteúdos de livros, periódicos e páginas da internet, sendo
estes utilizados como elementos informais. Para avaliar os resultados, foram utilizados
métodos convencionais, tais como a autoavaliação, avaliação oral e escrita, avaliação dos
seminários e análise quantitativa das notas atribuídas às etapas de trabalho.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia utilizada para elaboração deste artigo consiste na observação e registro da
experiência didática do autor, que, no segundo semestre de 2016, fora convidado pela
coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vale do Rio Doce -
Univale, de Governador Valadares, a ministrar a disciplina Sistemas Estruturais. Esta
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
disciplina faz parte da matriz curricular do 4º período do curso que, nesta ocasião, era
oferecido para duas turmas: uma no turno matutino e outra no turno noturno. Nos anos
anteriores, a mesma disciplina fora ministrada por outros professores que, em 2016, já não
faziam mais parte do corpo docente da instituição.
242
Além do relato da experiência didática, foram utilizados os seguintes instrumentos para
legitimação dos resultados: análise dos resultados da Comissão Própria de Avaliação da
univale (CPA) e dos resultados finais dos alunos ao concluírem esta disciplina, conforme
registro na Secretaria de Registro Acadêmico (SRA). Foram analisados os dados das
avaliações da disciplina pela CPA e dos resultados dos alunos ao fim dos semestres letivos
dos anos de 2013, 2014, 2015 e 2016. Com base nestes resultados, pôde-se fazer uma leitura
do desempenho das turmas com o passar dos anos.
A definição da metodologia didática utilizada ao longo do semestre fora pautada em
orientações emitidas pela coordenadora do curso, reuniões com professores que já haviam
ministrado a disciplina Sistemas Estruturais em anos anteriores e professores da disciplina
Projetos, além da própria experiência docente do autor, que leciona na Universidade Vale do
Rio Doce desde fevereiro de 2015, e, anteriormente, por 12 anos, lecionara na rede pública
estadual, ministrando as disciplinas Matemática e Ciências para a Educação Básica.
Os recursos e métodos didáticos utilizados ao longo do segundo semestre de 2016
consistiram em aulas expositivas comuns, aulas expositivas dialogadas, aulas invertidas,
aplicação de exercícios individuais e em grupo, minicursos, visitas técnicas, entrevistas e
seminários. Para auxílio nas aulas, foram utilizados materiais e ferramentas tais como
maquetes, o programa Ftool, conteúdos de livros, periódicos e páginas da internet, sendo
estes utilizados como elementos informais.
Para avaliar os resultados específicos da disciplina Sistemas Estruturais, no segundo
semestre de 2016, foram utilizados métodos diversificados, tais como a autoavaliação,
avaliação oral informal, avaliação escrita individual, avaliação global e trabalhos em grupo.
Conforme normas da instituição, os resultados parciais das avaliações eram informados aos
discentes via Portal do Aluno em três etapas para que os mesmos pudessem melhor
acompanhar os resultados individuais. Além disto, um importante instrumento para a
verificação da assimilação dos conteúdos, da capacidade buscar informações e do
desenvolvimento da aprendizagem autônoma foi a avaliação dos seminários propostos.
A análise dos dados baseou-se na leitura crítica dos resultados em seus aspectos
quantitativos e qualitativos. Desta forma, foi possível listar os cinco maiores desafios
vivenciados pelo professor, com formação superior em Engenharia Civil, ao ministrar, pela
primeira vez, a disciplina Sistemas Estruturais para o Curso de Arquitetura e Urbanismo e,
assim, apontar as medidas utilizadas para mitigar estas situações.
4. RESULTADOS
4.1 Os desafios
4.1.1 Dificuldade do(s) professor(es) em definir o foco da disciplina
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
4.1.2 Restrição, por parte dos alunos, às disciplinas que dependem de cálculos matemáticos
e de física
O segundo desafio ficou evidente com o início do semestre letivo. Durante o primeiro
mês de aula, fora realizada uma sondagem para diagnóstico das turmas de 4º período. Já no
primeiro dia de aula, quando foi apresentado para estas turmas o plano de ensino, os alunos
foram convidados a expressarem suas expectativas em relação ao curso e à disciplina
Sistemas estruturais. Nesta ocasião, apenas 04 alunos, de um total de 38, declararam gostar
ou ter facilidade nas disciplinas que envolviam física e cálculos matemáticos. A maior parte
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
dos alunos declarou que estava preocupada com o conteúdo da disciplina, pois já haviam
conversado com alunos dos semestres anteriores e que a disciplina era considerada difícil.
Muitos alunos também expressaram que apresentaram dificuldade para compreensão dos
conteúdos de Resistência dos Materiais, sendo que esta disciplina fornece a base para o
244
entendimento dos sistemas estruturais. A primeira impressão fora impactante, pois, houve
alunos que manifestaram dificuldades extremas em cálculos, restrições ou bloqueio a estas
disciplinas e, de certa forma, insatisfação com o curso, pois acreditaram, ao se matricular,
que não haveria tantos cálculos no curso de Arquitetura e Urbanismo.
Ao longo do semestre outras situações foram identificadas. Mereceu destaque a
reclamação de alguns alunos que alegaram não ter conhecimento dos conteúdos essenciais
básicos de Matemática, Física e Química, pois estudaram em Escola Pública Estadual e o
Ensino Médio era oferecido com ênfase em áreas humanas, biológicas, naturais ou exatas e,
assim, os alunos que eram matriculados nas turmas com ênfase nos conteúdos humanísticos
não estudavam as disciplinas das áreas exatas, por exemplo. O Ensino Médio na Rede
Estadual seguiu este modelo entre os anos de 2009 e 2011.
Entretanto, as dificuldades não foram observadas somente em relação aos cálculos. Os
alunos também manifestaram dificuldades em interpretar as questões, situações e
enunciados. Este fato tornou-se bem evidente ao aplicar atividades individuais e em grupo, e
nas avaliações, quando se exigia interpretação de questões com enunciados diferenciados,
mesmo para questões que poderiam ser facilmente resolvidas. Havia, ainda, outros dois
problemas evidentes, porém em menor proporção: alunos que, por distração ou por não
dominar recursos tecnológicos simples, como a calculadora científica, erravam as questões
propostas, pois também não tinham noção de grandeza dos conteúdos que calculavam e,
por fim, a dependência ou a confiança de que, mesmo se não aprendessem o conteúdo,
conseguiriam a nota para aprovação utilizando para isso colas em material impresso ou
recursos eletrônicos.
Percebe-se assim que o segundo desafio seria ainda maior que o primeiro: a abordagem
do conteúdo deveria eliminar restrições, superar bloqueios, atender às necessidades de
aprendizagem dos alunos que não tiveram a base curricular necessária e buscar a
compreensão do conteúdo para não haver necessidade de cola em ocasião das avaliações.
abordagem do conteúdo variava de acordo com a troca de professores. Para alguns alunos,
isto era um ponto positivo, pois enfrentavam dificuldade em compreender a abordagem do
primeiro professor. Para os outros, era um ponto negativo, pois precisariam mais uma vez se
adaptarem a um novo método.
245
Ao longo do semestre as dificuldades relacionadas neste tópico iam se manifestando e
até mesmo alguns alunos que já tinham grande conhecimento prévio de obras ou que
apresentavam um excelente desempenho nas disciplinas específicas do curso de Arquitetura
ainda demonstravam carências para associação do conteúdo à sua aplicação prática nas
estruturas reais.
O terceiro desafio, então, era conseguir abordar o conteúdo de forma a associar a teoria à
prática e que esta abordagem fizesse sentido para os alunos: seria preciso compreender que
a estrutura é essencial para a arquitetura.
4.2 As soluções
4.2.1 Direcionamento da disciplina
Para formalizar um plano de ensino de forma a associar teoria e prática, cálculos e
conceitos e que fizesse sentido para alunos do 4º período do curso de Arquitetura e
Urbanismo, buscou-se mesclar as opiniões dos professores, conforme descrito no item 4.1.1.
O plano de ensino contemplou os conteúdos propostos na ementa da disciplina, porém,
buscou-se priorizar, no início da disciplina, a utilização dos diversos elementos estruturais
em seu contexto histórico. Em seguida, a prioridade foi atribuída à revisão dos conceitos
fundamentais relacionados à teoria das estruturas e às leis da física para compreensão do
equilíbrio estrutural.
Após estas etapas, objetivou-se que os alunos conhecessem de forma mais aprofundada
os elementos e estruturas mais comumente utilizados: arcos, cabos, placas, cascas, grelhas,
pórticos e treliças, sendo priorizadas a aplicação prática dos mesmos, as vantagens da
utilização destes recursos e a presença dos mesmos nas estruturas da cidade de Governador
Valadares. Ressalta-se que não era possível, com a carga horária proposta para a disciplina,
direcionar o foco para os cálculos relacionados a todos estes sistemas. Assim, o cálculo dos
sistemas estruturais fora distribuído nas três etapas da disciplina, mas a prioridade fora
atribuída aos cálculos de momentos e tensões em estruturas isostáticas: vigas biapoiadas,
engastes e pórticos simples.
4.3 Os indicadores
3,5
2 MÉDIA GERAL
MENOR CONCEITO
1,5
MAIOR CONCEITO
1
0,5
0
2013 2014 2015 2016
Fonte: Os autores.
Fonte: Os autores.
Observa-se ainda que apenas nos anos de 2013 e 2015, na turma A e 2014, turma B, a
nota atribuída à disciplina Sistemas Estruturais ficou abaixo da média de todas as disciplinas,
ou seja, em um total de 8 Avaliações, 3 não foram satisfatórias, quando comparada com as
demais disciplinas.
251
Estes resultados indicam que houve uma evolução em relação à avaliação dos alunos para
a disciplina Sistemas Estruturais. Este indicador é importante para minimizar a impressão de
que a maior parte dos alunos apresenta restrição em relação à disciplina.
Fonte: Os autores.
Fonte: os autores.
5. CONSIDERAÇÕES
De acordo com a experiência relatada neste artigo, conclui-se que os maiores desafios no
ensino de Sistemas Estruturais para o curso de Arquitetura e Urbanismo estão relacionados
tanto à capacitação do professor quanto à aprendizagem dos alunos, passando por aspectos
intimamente atrelados à prática pedagógica como a carência de material didático
diversificado destinado aos estudantes de Arquitetura.
Em relação à dificuldade do professor em definir o foco da disciplina e selecionar a
bibliografia, percebe-se que ainda há muito a ser discutido, pois ainda há a necessidade de
tornar o conteúdo mais significativo para os alunos. A participação em eventos, como o
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
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BRASIL, Lei 12.378 de 31 de dezembro de 2010. Regulamenta o exercício da Arquitetura e
Urbanismo; cria o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil – CAU/BR e os Conselhos de
Arquitetura e Urbanismo dos Estados e do Distrito Federal – CAUs; e dá outras providências.
CHING, F. D. K; ONOUYE, B. S.; ZUBERBUHLER, D. Sistemas estruturais ilustrados. Porto Alegre:
Bookman, 2010.
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR, Resolução n º 2 de 17 de
junho de 2010. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Arquitetura e
Urbanismo.
ENGEL, H. Sistemas Estruturais. Barcelona: Gustavo Gili SA, 2001.
FTOOL: versão Educacional. Disponível em: <http://www.alis-sol.com.br/ftool/>. Acesso em: 13
abr.2017.
HIBBELER, R.C. Análise das estruturas. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.
REBBELLO, Y. C P. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000.
SALGADO, J. C. P. Estruturas na construção civil. São Paulo: Érica, 2014.
O ENSINO DE ESTRUTURAS ATRAVÉS DAS ATIVIDADES EXTENSIONISTAS DO
ESCRITÓRIO DE INTEGRAÇÃO PUC MG
RESUMO
O presente trabalho analisa o ensino de estruturas no Curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC
Minas nos trabalhos realizados pelo Escritório de Integração (EI), núcleo de extensão associada ao
ensino e à pesquisa existente desde 1991. Localizado no prédio 47 do campus do Coração Eucarístico
em Belo Horizonte, o EI utiliza, além de seu espaço próprio, os laboratórios de Informática,
Maquetes, Prototipagem e Conforto Ambiental. Conta ainda com um canteiro de obras, espaço de
experimentação aberto às disciplinas, às atividades de extensão e de pesquisa de iniciativa de
professores e alunos. O trabalho realizado no EI conta com suporte do Instituto de Ciências Sociais,
em especial do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, da Pró-reitoria de Extensão, em especial
do Núcleo de Políticas Sociais e Urbanas (NUPSU), e de órgãos de financiamento de pesquisa. Na
trajetória recente do EI, pode-se destacar como atividade de extensão no ensino e aprendizado de
estruturas, o projeto CEFOP - Centro de Formação Popular. Desenvolvido entre 2010 e 2014 através
de metodologia reconhecida então como participativa, o projeto pôde contemplar alternativas para
os sistemas estruturais por tratar de variadas tipologias de edificações. Seus resultados indicam o
grande potencial de contribuição da experiência prática e real no ensino e aprendizado de estruturas.
Apresentou ainda pontos positivos quando comparado com a abordagem tradicional, baseada em
situações idealizadas.
Palavras-chave: Atividades práticas extensionistas; Integração; Ensino de Estruturas; Gestão
interdisciplinar.
ABSTRACT
This paper analyzes the teaching of structures in the Architecture and Urbanism Course of PUC Minas
in the work by Integration Office (E.I.), an extension nucleus associated with teaching and research
that existed since 1991. Located in building 47 of the campus of the Eucharistic Heart In Belo
Horizonte, the EI uses, in addition to its own space, the laboratories of Informatics, Models,
Prototyping and Environmental Comfort. It also has a construction site, an area of experimentation
open to disciplines, extension and research activities of teachers and students. The work carried out in
the EI is supported by the Institute of Social Sciences, especially the Department of Architecture and
Urbanism, Extension Pro-rectory, especially the Nucleus of Social and Urban Policies (NUPSU), and
research funding bodies . In the recent trajectory of the EI, it is possible to emphasize as an extension
activity in the teaching and learning of structures, the CEFOP project - Popular Training Center.
Developed between 2010 and 2014 through a methodology that was then recognized as
participatory, the project was able to contemplate alternatives to the structural systems because they
deal with different typologies of buildings. Their results indicate the great potential of contribution of
practical and real experience in teaching and learning structures. It also had good points when
compared to the traditional approach, based on idealized situations.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
255
O Curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC Minas) abriga um núcleo de extensão associado à pesquisa e ao ensino denominado
Escritório de Integração (EI). O EI mantém estreitas relações de troca com as disciplinas da
graduação, trabalhando em consonância com as linhas prioritárias do Projeto Pedagógico do
CAU-PUC MINAS: inclusão, sustentabilidade e construção. Suas principais atuações se dão no
sentido de reabilitar áreas urbanas degradadas, recuperar e equacionar a capacidade
instalada nas cidades e o patrimônio ambiental urbano, buscando desenvolver também
tecnologias da construção civil. Assessora tecnicamente a sociedade organizada na
implantação e no desenvolvimento de práticas construtivas e de recuperação ambiental
autogestionárias, divulgando seus trabalhos e ações por meio de artigos, cartilhas e outras
publicações que colaboram na ampliação da capacidade de atendimento da Arquitetura e do
Urbanismo. Dessa forma, busca aproximar os alunos de Arquitetura e Urbanismo das
demandas socioambientais características da urbanização brasileira, estendendo assim a
prática tradicional do arquiteto. O Centro de Formação Popular (CEFOP) enquadra-se
perfeitamente no escopo de atendimento pretendido pelo EI.
O CEFOP constitui uma entidade apoiada, principalmente pelo movimento Via
Campesina1 que atua em diversos níveis: internacional, nacional e regional. Assim, assume
perfis diferenciados, conforme o espaço de atuação e a diversidade das realidades locais dos
movimentos que a compõem. O movimento conta com a participação de diversas entidades,
com o objetivo comum de intervir nas realidades locais promovendo assim a cidadania e a
justiça social com base na educação.
Assim, a Via Campesina tem como princípio norteador a formação dos trabalhadores,
dando-lhes acesso ao conhecimento por meio do estudo e das técnicas pedagógicas
adaptadas ao cotidiano dos agricultores, seja nos âmbitos filosófico, histórico, econômico,
seja na alfabetização de assentados, ou ainda, na qualificação profissional e no manejo de
técnicas produtivas.
Inicialmente, cerca de 500 pessoas ao ano se beneficiavam dos cursos e treinamentos
promovidos pela Via Campesina. Essas atividades foram desenvolvidas num espaço
improvisado, localizado no Distrito do Barreiro, em Belo Horizonte. Além de ministrar cursos
1
Entidades que apoiam o CEFOP: Consulta Popular, Assembleia Popular, Movimento dos atingidos por
Barragens (MAB) Movimento dos pequenos Agricultores (MPA), Federação dos Estudantes de Agronomia do
Brasil (FEAR), Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), Comissão Pastoral da Terra (CPT),
Pastoral da Juventude Rural (PJR), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Marcha Mundial de Mulheres
(MMM), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Sindicatos dos trabalhadores do Leste de Minas Gerais,
Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD), Juventude do PDT, Caritas, Centro de Estudo Bíblico
(Cebi) e Brigadas Populares.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2. UM NOVO PROJETO
No final de 2010, O CEFOP recebeu como doação um terreno localizado em Ribeirão das
Neves, na porção norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte, o que veio alterar
substancialmente os planos iniciais. Em vista disso, foi reiniciado o trabalho no novo terreno
(Figura 1). Esta mudança de localização não provocou alterações nos objetivos principais da
entidade e tampouco no programa arquitetônico já trabalhado.
2
Através da prática de projeto participativo (integrar o usuário em todas as etapas do processo), foram
realizadas entrevistas e diversas reuniões entre alunos e usuários que possibilitaram a avaliação do programa
arquitetônico, o dimensionamento dos espaços e uma definição de prioridades.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
257
Em vista desta mudança, foram realizados estudos do novo local de modo a retomar o
processo do projeto. Tais estudos trataram de:
Levantamento planialtimétrico;
Levantamento fotográfico;
258 Maquete física e eletrônica para conhecimento do relevo local;
Análise de condicionantes físico ambientais;
Oficinas de programação arquitetônica.
Os referidos estudos são apresentados na Figura 2.
Um importante passo para a reformulação do projeto foi à visita realizada à Escola
Nacional Florestan Fernandes (ENFF)3, em Guararema, São Paulo (Figura 3), obra com o
objetivos similares e instalações já em funcionamento, resultando assim melhor
compreensão do projeto CEFOP.
Em 2012, o projeto Via Campesina teve seu nome alterado para Projeto CEFOP – Centro
de Formação Popular, com o objetivo de abranger um público maior que o projeto anterior.
Após pesquisa sobre as necessidades e demandas dos clientes e algumas reuniões com os
representantes, seguindo a teoria sugerida por Carole (1970), ficou definido que seria
necessário criar uma estrutura que atendesse aproximadamente 120 pessoas por ciclo de
ensino e que essa estrutura deveria conter um auditório, três salas de aula, alojamento,
museu da luta pela terra, casa de moradia, banheiros, cozinha industrial, lavanderia e
biblioteca, que já dispunha de 1000 exemplares, mas com previsão de expansão para 3000.
Obedecendo a uma logística de ocupação do espaço, a obra foi equacionada para ser
executada em etapas uma vez que seriam objetos para o aprendizado dos futuros alunos
participantes com aulas práticas em sistema de autogestão. Assim o sistema construtivo a
ser adotado deveria levar em consideração esse norte.
Os estudos de implantação apresentaram necessidade de um processo de avaliação e
para tanto foram realizadas reuniões com o objetivo de esclarecer as potencialidades do
local e proporcionar noção dos limites impostos pelo projeto. Assim foi possível despertar
nos participantes, um olhar crítico e realista sobre as condições para a ocupação do terreno.
O material gráfico e as maquetes apresentadas (física e eletrônica) serviram de base para
uma reflexão sobre o local e o espaço construído, seus limites e suas potencialidades. Os
aspectos como localização, topografia, insolação, vegetação existente foram avaliados em
uma dinâmica de apuração de usos e necessidades. A Figura 4 apresenta o processo
participativo que foi realizado utilizando o espaço do Escritório de Integração da PUC Minas.
Assim, foram progressivamente sendo definidas posições e afinidades entre itens do
programa resultando volumes diferenciados e seu posicionamento no terreno: uma casa
administrativa, um edifício de alojamentos e, em vista da necessidade de se criar um local
que pudesse sintetizar várias demandas funcionais do projeto, foi proposto um pavilhão de
maior porte, agrupando em um só volume variadas demandas e criando assim uma
3 A Escola Nacional Florestan Fernandes tem sido uma referência para os trabalhadores do Brasil, América
Latina e África.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
hierarquia para a ocupação proposta. Essa resolução veio de encontro a uma necessidade de
constituir, prematuramente, um espaço para reuniões, abrigando pessoas em um estágio
inicial, viabilizando a imediata ocupação do local e foi a que mais atendeu às necessidades
dos clientes. Sendo assim, foi assumida com base para prosseguir com as outras etapas.
259
Figura 3 – Escola Nacional Florestan Fernandes
260
fundações, lajes e cobertura, o que permitiria sua ocupação em encontros periódicos para
tomadas de decisões de ordem geral pelas comunidades organizadas. Em um primeiro
momento, foi pensado o uso da estrutura metálica ou pré-moldada por oferecer maior
agilidade em seu sistema construtivo constituindo um espaço de apropriação mais imediata.
262
Para implantação do projeto, foi realizada uma análise das curvas de nível do terreno. O
terreno apresenta declividade um pouco acentuada, mas condizente com o posicionamento
proposto pela implantação final e com o levantamento topográfico utilizado e apresentados
na Figura 6. O volume assentado sobre a porção mais alta e planificada do terreno
contempla uma ampla e bela vista do entorno. Os demais volumes menores foram
implantados na porção mais baixa. O solo existente no local permitiu que a fundação
adotada fosse uma fundação rasa, do tipo sapata e radier.
3. AS EDIFICAÇÕES
Esta edificação foi desenvolvida com seis dormitórios, capazes de abrigar até 24 pessoas, dois
banheiros, uma sala de estar conjugada com cozinha e copa, um escritório e garagem para três
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
automóveis. Três dos quartos estão localizados no pavimento térreo, garantindo, assim,
acessibilidade aos portadores de deficiência física. O espaço da garagem também pode ser
utilizado para reuniões, aulas e comemorações. No total, essa edificação tem área de 360m².
Para essa edificação, optou-se por adotar o sistema construtivo em alvenaria estrutural.
265
Essa escolha ocorreu em função da disciplina do curso Projeto em Alvenaria Estrutural e este
foi utilizado como um trabalho prático na disciplina.
4. CONSIDERAÇÕES
Um aspecto importante a ser ressaltado no processo descrito é o relacionamento
projeto/obra, por se tratar de construções que, em geral, demandam financiamento para
sua execução. Em primeiro lugar, a demanda de um progressivo e minucioso detalhamento
para maior aproximação do custo real pretendido e sua captação através de diversificadas
fontes de financiamento. Em segundo lugar, o fator tempo inerente à execução, cujo
objetivo é constituir um centro de formação de mão de obra, portanto, não sendo possível
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
descrever uma linha nítida para a materialização da proposta. Além disso, a participação dos
estudantes é limitada ao tempo decorrido durante sua formação, não se alongando, em
geral, por mais de quatro semestres e transcorrendo assim uma mudança entre os
participantes do processo. O uso do projeto em disciplinas gera, no entanto, uma
266
possibilidade de se criar um histórico para o projeto, vivenciado pelas demandas
permanentes dos movimentos participantes.
O projeto de extensão CEFOP foi, entretanto, uma experiência muito rica e diversificada
que mostra as possibilidades de incorporar o ensino de estruturas ou sistemas estruturais de
forma multidisciplinar em escolas de arquitetura, possibilitando a articulação entre cursos
para atendimento às demandas da sociedade, contribuindo não só para a aproximação entre
academia e sociedade civil, mas para o próprio processo de ensino e aprendizagem
fundamentado em situações reais, afinadas, portanto, ao contexto profissional a que se
destinam, estimulando as relações de reflexão entre teoria e prática, o que proporcionou a
inovação e a reflexão acerca das práticas pedagógicas.
No projeto foram ainda contempladas ações vinculadas à obtenção da sustentabilidade,
condição inerente ao resultado pretendido.
Além da experiência interdisciplinar, seu desenvolvimento através da extensão permitiu o
fortalecimento de parcerias entre a universidade e os movimentos sociais, viabilizando assim
o cumprimento de sua missão institucional.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Pró-Reitoria de Extensão da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais pelo incentivo e apoio financeiro que tornaram possível a realização do projeto
CEFOP.
Agradecimentos aos professores orientadores que participaram em etapas sucessivas nos
anos de desenvolvimento do projeto.
Aos estudantes, estagiários e em disciplinas, que participaram da sua concepção e
realização.
Aos grupos participantes, pelo empenho na elaboração do projeto e seu desenvolvimento
sistematizando.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAROLE, P. Participation and democratic theory. Cambridge: Cambridge University Press, 1970.
KAPP, S.; SANTOS, A. P. B. Arquitetura e Participação: a caminho da produção de interfaces e não de
espaços acabados. Disponível em: <http://www.mom.arq.ufmg.br/mom> Acesso em: 22 mai. 2014.
LUCENA, C.; NETTO, M. B. Escola Nacional Florestan Fernandes e a formação dos trabalhadores rurais
sem-terra: as atribuições do movimento frente a sua base. Revista HISTEDBR, Campinas, n.39, p.
211-224, set. 2010.
SANTOS, R. E.; PELLICO, H. C. Centro de Formação Popular – CEFOP: Por um Projeto Participativo.
Cadernos de Arquitetura e Urbanismo PUC Minas, Volume Especial: Escritório de Integração, Belo
Horizonte, v.29 n. 24+25, 2012.
USOS DE ROCHAS NOS SISTEMAS ESTRUTURAIS ARQUITETÔNICOS
– POR QUE NÃO NO BRASIL?
NEVES, Risale
UFPE, risale@hotlink.com.br
RESUMO
Esse artigo enfoca possibilidades de usos de rochas como materiais naturais em sistemas estruturais
de edificações projetadas por arquitetos europeus e brasileiros. Tem por base constatações de
pesquisas realizadas sobre o emprego de rochas em obras no Brasil; exemplos referenciais da
Arquitetura internacional e experiências que vêm sendo compartilhadas na disciplina Uso de Rochas
na Arquitetura ministrada no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de
Pernambuco, UFPE, Brasil, desde 2013. Situa brevemente o potencial internacional e brasileiro do
setor produtivo de rochas ornamentais, contempla a indicação de conhecimentos imprescindíveis
para que o arquiteto entenda as rochas como material de revestimento, composição arquitetônica e,
neste caso, sistemas estruturais entre outros empregos. Sugere a inclusão de um viés conceptivo no
ensino das rochas como sistemas estruturais e a ampliação, para tanto, do conteúdo programático
da disciplina já referida, visando a resgatar o estudo de técnicas construtivas empregadas no passado
e a incentivar a busca de novas formas de emprego das rochas com função plástica e estrutural.
Sugere também, para estudo, a apropriação das referências de obras diferenciadas da Arquitetura
internacional, visando a aprofundar a relação entre forma, estrutura, tecnologia e espaço construído
no ato projetual. Esse é o objetivo da abordagem, estimulado pelo subtema 1 deste III ENEEEA.
Sugere ainda, para viabilizar a ideia, a criação de outro módulo da disciplina em três tópicos para
abrigar o novo conteúdo programático sugerido e, por fim, revela preocupações com a inexistência
de professores preparados para esse ensino.
Palavras-chave: Rochas naturais; Sistemas estruturais; Protagonismo; Forma arquitetônica;
Disciplina.
ABSTRACT
This article focus on the possibilities of using rocks as natural materials on structural systems
projected by brazilian and european architects, starting with concepts on researches about the usage
of rocks in Brazil, referential examples of international architecture and the experience that have
been shared during the classes of “Rocks Usage in Architecture”, held at the Architecture and
Urbanism course in the Federal University of Pernambuco – UFPE, Brazil, since 2013. It briefly situates
Brazilian and international potential on the ornamental rocks productive sector, it contemplates the
indication of unavoidable knowledge in order for the architect to understand rocks as a coating
material, architectonic composition and, in this case, structural systems, among other usages. It
suggests the inclusion of a conceptive understanding in the teachings of rocks as structural systems
and, in order to achieve it, the expansion of the content of the course in a way so that it brings back
the study of constructive techniques from the past and stimulates the research on new ways to use
the rocks for aesthetic or structural functions. It also suggests, for studying purposes, that
international architecture special references should be appropriated (unique constructions), aiming
on deepening the interaction between shapes, structures, technology and constructed area when one
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
is projecting. This is the objective of this approach, stimulated by subtheme 1 of this III ENEEEA. It
suggests, in order to materialize the idea, creating another module of the course in three topics, so it
encapsulates it’s new suggested content in one more module and, finally, it reveals some concerns on
the fact that teachers are not prepared to lecture about this subject.
Keywords: Natural rocks; Structural systems; Protagonism; Architectonic shape; Course
268
1. INTRODUÇÃO
Os alunos de Arquitetura terminam as graduações desconhecendo as possibilidades de
uso de rochas nessa ciência. Essa constatação decorre de, na atualidade, não haver ensino
direcionado nesse sentido nos cursos de Arquitetura do Brasil (NEVES, 2010-2012). Ignoram
que, ao indicarem materiais naturais para revestimentos, é preciso ter conhecimentos
apropriados para tal fim. Desconhecem as inúmeras funcionalidades desses materiais como,
por exemplo, os efeitos de iluminação natural, os quais podem ser filtrados com o emprego
de placas translúcidas, ou os efeitos plásticos que podem ser obtidos por meio de
modelagem de peças para compor volumetrias, fachadas e interiores de forma diferenciada.
Ainda que não se esgote aqui a versatilidade das rochas, é oportuno enfatizar que os
alunos concluem os cursos desconhecendo principalmente as alternativas de usos de rochas
em sistemas estruturais, mesmo os tradicionais, definidores ou não de partidos
arquitetônicos, ignorando que esse material pode ser o protagonista nas criações.
Ao desconhecerem o que é preciso saber para lidar com os revestimentos – que é o uso
mais praticado no país –, não identificam a natureza, os tipos de rochas disponíveis no
mercado, a procedência e muito menos as propriedades de cada espécie, assim como as
características tecnológicas que devem ser avaliadas quando indicadas para cada emprego,
no sentido de assegurar a resistência e durabilidade dos materiais pétreos nas obras.
Esse desconhecimento influi também na arquitetura de interiores, dificultando a
adequação dos usos, cortes e execução de peças. Limita o emprego de pedras naturais em
composições nos cenários de paisagismo, quando poderiam ser aproveitadas as sobras de
lavra que se amontoam no entorno das cavas causando danos às paisagens e deixando de
revertê-las em ações sustentáveis de aproveitamentos, questões tratadas por NEVES (2012),
em Usos de Rochas na Arquitetura – contribuições ao processo da especificação.
O interesse pelo tema aponta, neste artigo, para a abordagem ao viés conceptivo das
rochas como estruturas, sugerindo a apropriação de referenciais construtivos, tendo as
rochas como elementos estruturais tais quais encontrados na Arquitetura internacional.
Visa-se, assim, aprofundar a relação entre forma, estrutura, tecnologia e espaço construído no ato
projetual. Esse é o objetivo deste trabalho, estimulado pelo subtema 1 deste III ENEEEA.
Não é esta, portanto, uma matéria conclusa. Não dita fórmulas ou equações de modelos
estruturais. Trata apenas da experiência recente de uma disciplina eletiva no Curso de
Arquitetura da UFPE, que coloca o uso das rochas como materiais naturais no acervo das
referências arquitetônicas, fala da produção internacional, questiona a produção nacional,
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2. INTERMÉDIO
O assunto “rochas como produto natural”, capturado aqui para uma reflexão sobre
sistemas estruturais no âmbito do ensino da Arquitetura, pode parecer fora de moda ou
coisa da pré-história, mas não o é. As rochas, ainda que redundante a colocação, vieram da
idade da pedra, atravessaram a idade dos metais e a antiguidade, chegaram à idade média
se destacando pela descoberta da pedra angular dos arcos e entraram na idade moderna
com a revelação do talhe dos mármores nas obras de Michelangelo Buonarroti.
O avanço dessas técnicas foi delineando, através dos séculos e lugares, formatos diversos
nas construções. Porém, como não se trata aqui de um relato histórico, importa ressaltar: (1)
que elas chegaram à contemporaneidade com posição definida em economia de mercado de
blocos e chapas, tanto no exterior como no Brasil; (2) que há críticas contundentes aos
arquitetos, por parte de estudiosos não-arquitetos e produtores de rochas; e (3) que as
rochas impressionam hoje, ao serem usadas por grandes arquitetos estrangeiros, revelando-
se material referencial importante para o ensino de projetos.
De acordo com o pesquisador italiano Montani (2016), citado por Chiodi (2017), a
produção mundial de rochas ornamentais e de revestimento (terminologia definida pela NBR
15012:2013) evoluiu de 1,8 milhão t/ano, computado na década de 1920, para um patamar
atual de 140 milhões t/ano. Cerca de 53 milhões t de rochas brutas e beneficiadas foram
comercializadas no mercado internacional em 2015, com provável ampliação em 2016.
Para quem não acompanha esses dados, eles não parecem importantes. Contudo, o
notável crescimento mundial observado também por Montani e noticiado pela Associação
Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais (ABIROCHAS, 2014), caracterizou as décadas
de 1980 e 1990 como a “nova idade da pedra” e o setor de rochas como uma das mais
importantes áreas mínero-industriais, dentre as quais o Brasil é expoente.
Fato é que as rochas não vêm sendo empregadas como material de construção – não se
referindo a insumos como trata a Engenharia Civil, mas como alternativa projetual na
Arquitetura, o que se atribui à falta de ensino hoje como referido, segundo pesquisas
realizadas (NEVES, 2012). Não se tomou por objeto saber se houve ensino sistematizado do
assunto no passado, sendo vagos e divergentes os dados enquanto incorporados à formação
militar ou quando inserido no contexto das Belas Artes, época em que a ciência ainda não se
voltava para os aspectos tecnológicos da construção (CORDEIRO, 2012), o que se supõe ter
deixado mais distante o vínculo entre sistemas estruturais e concepção plástica arquitetônica.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Quanto às críticas de estudiosos aos arquitetos, conforme referido, elas surgiram há mais
de 15 anos (quando nem havia ainda comprovação sobre a inexistência de ensino) e persiste
até hoje, cabendo explicar que se reportam ao desconhecimento dos arquitetos quanto à
natureza e às propriedades das rochas. Por isso, as indicações dos revestimentos para as
270
edificações são empíricas, resultando quase sempre na alteração das feições originais das
rochas, facilmente visualizadas a olho nu, comprometendo-lhes a estética.
Isso é intensificado nos revestimentos de fachadas, muros e portarias de edifícios
situados em regiões litorâneas, expostas às ações do intemperismo marinho, o que passa a
exigir mais cuidados e conhecimentos específicos na hora de se indicar materiais pétreos.
Esses dados não fazem parte do cotidiano da prática profissional dos arquitetos. Até então,
não se entendia bem por que os arquitetos eram, como continuam sendo, responsabilizados
por esses danos, concluindo-se que, se arquitetos não entendem de revestimentos com
rochas, também não terão conhecimento de sua utilização em estruturas de edificações.
A partir desse entendimento, foram realizados a partir de 2003 minicursos e workshops
sobre o tema, assim como foi criado o Painel de Rochas Ornamentais em 2006 na
Universidade Federal de Pernambuco, UFPE (NEVES; BORGES, 2008), iniciando uma série de
investigações, em especial sobre se realmente seriam responsabilidade dos arquitetos as
ocorrências negativas nas rochas assentadas em obras. Em um dos workshops, se investigou
quais usos de rochas vinham sendo praticados no Brasil, com que função e resultados em
termos de durabilidade quando aplicados em obras e como esses materiais estavam sendo
usados por arquitetos em outros países.
Dessa pesquisa, surgiu a expressão usos diferenciados de rochas na arquitetura, ou seja,
todo o uso diferente do simples revestimento (NEVES et al., 2009), como o estrutural, por
exemplo, entre outros, revelando de forma relevante as rochas em obras recentes na
Arquitetura internacional. As soluções encontradas impressionaram alunos, professores de
Arquitetura, de Geologia e de Engenharia de Minas, os quais costumam estudar as rochas
como ciência da Terra e as rochas em si mesmas consideradas, sem verificar a interação
delas na prática dos usos e aplicações nas obras arquitetônicas.
A partir daí, tem-se buscado mais e mais exemplos de usos de rochas na Arquitetura
internacional, tanto como estrutura, quanto como elementos de composição plástica ou
finalidade utilitária (destinados a uma função específica no edifício), individualmente ou
reunidos. Percebeu-se quase indissociáveis nas soluções dos projetos, a resolução estrutural
ou utilitária e a própria composição arquitetônica, deduzindo-se por fim o quanto as rochas
como sistemas estruturais não constituem, a princípio, alternativas projetuais e construtivas
no Brasil, salvo casos pontuais.
Quanto às demais investigações pertinentes às pesquisas de Tese, verificou-se (NEVES,
2012) nos programas das disciplinas de materiais remetidos pelas coordenações dos 223
cursos de arquitetura em funcionamento no país (MEC-ABEA, 2010) que, entre 75% das
escolas que deram respostas, apenas duas comprovaram conteúdo e bibliografia sobre o
tema. Ao mesmo tempo, arquitetos brasileiros em entrevista presencial confirmaram que
desconhecem a natureza, as propriedades e as características tecnológicas das rochas, não
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
usam rochas em sistemas estruturais (pergunta foi específica) e nunca aprenderam sobre o
tema nos cursos. Obtiveram conhecimentos com fornecedores e, na prática, deparando-se
com problemas nas próprias obras e em obras de terceiros.
Resultou como tese a convicção de que os arquitetos brasileiros não conhecem as
271
propriedades nem as características tecnológicas das rochas como materiais naturais, assim
como a concepção de que “arquitetos não especificam, escolhem”. Para especificar é preciso
conhecer o material, assim como avaliar variáveis e condicionantes das obras e do mercado
de produção de rochas. Essa necessidade culminou em criar, a título de contribuição, um
roteiro de especificações e uma ementa de programa de disciplina intitulada Usos de Rochas
na Arquitetura, em curso desde 2013 na UFPE.
Considerando prós e contras, como o potencial de rochas identificado no mapeamento
geológico do território brasileiro pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais do
Ministério das Minas e Energia – CPRM-MME, a falta de ensino apropriado nos cursos de
Arquitetura, as divergências de entendimento sobre aplicação desses materiais na interface
Arquitetura, Geologia, Engenharia de Minas e Engenharia Civil, a motivação dos alunos que
têm participado da experiência de ensino desde 2013 expressa em entrevistas (REVISTA
ROCHAS, 2015) e a pertinência do viés conceptivo das rochas como estrutura no ensino da
Arquitetura, deduz-se oportuno discutir a questão.
Neste sentido, o desdobramento do assunto que segue neste artigo trata rapidamente do
setor de rochas no Brasil (da produção aos usos), apresenta algumas obras que já vem
constituindo referências para a abordagem aos sistemas construtivos estruturados com
rochas, esboça conteúdo mínimo sobre o que os arquitetos precisam saber e apresenta
programa da disciplina hoje ministrada na UFPE, com sugestão de ampliação de conteúdo
sobre sistemas estruturais em rochas.
O Brasil conta hoje com mais de 1500 frentes de lavra cuja principal produção está
voltada para blocos e chapas, tanto serradas quanto beneficiadas e pedras naturais. O
volume de sobras de pedaços de blocos sem dimensão padrão no entorno dos canteiros de
lavra gera problemas ambientais, sobre o que se incentiva a divulgação visando
272
aproveitamentos e, da mesma forma, as sobras de serraria se entulham à espera de usos.
Há, portanto, reservas de rochas no solo brasileiro em termos quantitativos, para suprir
qualquer tipo de demanda provocada por retomadas, recriações ou inovações idealizadas
em projetos arquitetônicos, inclusive como elementos estruturais.
A Revista Rochas de Qualidade que divulga amplamente o setor, traz sempre em suas
edições matérias técnicas que abraçam toda a cadeia produtiva das rochas ornamentais no
Brasil. Em sua edição comemorativa de 50 anos (Ed. 252-2017), abordou o panorama da
produção voltada para exportações e principalmente mercado interno, conforme detalhado
e atualizado por Chiodi Filho, ao abordar o desempenho brasileiro do setor de rochas
ornamentais. Esses dados são importantes como informações gerais e para dirimir dúvidas
sobre o potencial da produção nacional, valendo dizer que ela teria que ser apenas adaptada
e programada à frente a possíveis novas solicitações arquitetônicas.
A pesquisa realizada por Neves (2010-2012) registrou os usos de rochas preferidos por
arquitetos para aplicação em edifícios e comprovou que não há prática de usos de rochas em
estruturas, mas tão somente revestimento normal com placas em assentamento direto,
fachadas aeradas e muito emprego de filetados (também chamado de “canjiquinhas”), tanto
em exteriores quanto em interiores e mobiliários de edificações. Atestou também o uso das
pedras naturais isoladamente ou em contraponto com o aço e o vidro, por vários arquitetos,
entre eles Índio da Costa (RJ), e, em poucos casos, porém significativos, como paredes
estruturais, bastante observado em projeto de João Filgueiras Lima, Lelé.
Na melhor das hipóteses, caso surja em algum momento uma demanda especial de
material pétreo para uso em sistema estrutural, pontualmente ou em média escala,
vislumbra-se uma pesquisa de mercado em busca da natureza e do tipo de rocha
conveniente à produção. Consequentemente, a identificação da localização de jazidas
capazes de suprir as exigências que forem preconizadas a partir das formas e das tecnologias
idealizadas em projetos. O raciocínio estrutural no que tange a esforços, tensões e
resistência, haveria de ser avaliado segundo testes laboratoriais para definição da
caracterização tecnológica do sistema ou sistemas estruturais projetados.
Buscou-se assim nessa seção e pela natureza do tema do III ENEEEA, mostrar obras que se
destacam por suas peculiaridades estruturais e compositivas, conforme projetadas pelo
escritório Niall McLaughlin Architects, pelo arquiteto espanhol Antón Garcia Abril, pelos
arquitetos brasileiros Lelé e Carlos Bratke e, por fim, uma obra projetada pelo italiano Renzo
273
Piano, que pode ser considerada um exemplo complexo de raciocínio estrutural. Por serem,
todas aqui apresentadas, obras nas quais o uso das rochas é ao mesmo tempo suporte e
razão da criação arquitetônica, já constituem base referencial para o estudo e compreensão
das possibilidades de uso desses materiais naturais em sistemas estruturais.
O primeiro exemplo é a Capela Bishop-Edward-King (Figuras 1 e 2), que pertence ao Ripon
College em Cuddesdon, no condado inglês de Oxfordshire, obra do escritório Niall
McLaughlin Architects. A base circular da capela com 3,5m de altura foi revestida com um
tipo de rocha calcária, o CLIPSHAM LIMESTONE, e sobre esse anel sobressai um corpo
também circular de 4m formado por blocos da mesma pedra com dimensões de 25cm x
11cm x 9cm.
Fonte: <http://www.stone-ideas.com/2013/11/15/a-capela-do-ripon-college-na-inglaterra-exibe-na-fachada-
uma-urdidura-em-rochas-ornamentais/>. Acesso em: 14 abr. 2017.
Fonte: <http://www.stone-ideas.com/2013/11/15/a-capela-do-ripon-college-na-inglaterra-exibe-na-fachada-
uma-urdidura-em-rochas-ornamentais/>. Acesso em: 14 abr. 2017.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Segundo a fonte de consulta, os quase 36.000 blocos serrados nas laterais e trabalhados a
mão na parte frontal, foram idealizados com a função de estruturar e fechar a construção ao
mesmo tempo, e a maneira como foram dispostos resultam num efeito de movimento,
causado pela sombra e pela luz. O arquiteto Niall McLaughlin descreve a capela como “cheia
274
de vento e luz no meio das árvores do campus”, se integrando, pela cor da rocha, ao entorno
histórico. A obra foi merecedora do prêmio Stirling do Royal Instituem of British Architects
no ano de 2013, além de ganhar o British Construction Industry Awards.
O segundo exemplo (Figuras 3 a 6) está no Parque Vista Alegre, Santiago de Compostela,
ES, projetado por Antón Garcia Abril para a Sede Geral de Autores e Editores, SGAE (2002).
Segundo Garcia, a parede da obra remete a estruturas megalíticas por empregar pedaços de
rocha com geometria e tamanhos variados, escolhidos em sobras de pedreira, montados em
protótipo experimental em escala real e levados para o local da obra. Foi usada a pedra
MONDARIZ, um granito comum na Região da Galícia, de tom cinza e fenocristais rosados.
Fonte: <https://1.bp.blogspot.com/_PH6mtNlELPU/R0xMcXna38I/AAAAAAAAADU/7sdwOkXjAlg/s320/garcia-
abril4+copy.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2017.
É uma composição que suporta a coberta, formando uma “cortina” com as sobras
estruturadas e ancoradas entre si por cabos, cunhas e cantoneiras metálicas. O resultado
estrutural e escultural confere monumentalidade ao edifício que, como tal, vai além da
dimensão simbólica e funcional dentro da propriedade Vista Alegre. A construção se destaca
no local e ao mesmo tempo com ele se integra, guardando uma relação íntima com o contexto
urbano: respeito à escala do casario do entorno, apropriação do desnível entre a rua adjacente
e o parque elevado e harmonia com o desenho curvo do sítio. Muito além do que revela a
resolução estrutural, a obra conversa com o seu entorno, portanto, com a cidade.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
275
Fonte: A Autora,2011.
Figuras 5 – Sede Geral de Autores e Editores, SGAE, 2002. Modelo Esquemático em corte.
Figuras 6 – Sede Geral de Autores e Editores, SAGE, 2002. Detalhe estrutural: cabos e cantoneira.
Figura 7 – Centro Avançado de Estudos Musicais. Vista externa no Parque Vista Alegre.
Fonte: <http://www.archdaily.com/21496/musical-studies-centre-ensamble-
studio/500df40328ba0d6625001cfc-musical-studies-centre-ensamble-studio-image>. Acesso em: 14 abr. 2017.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
277
Fonte: <http://www.archdaily.com/21496/musical-studies-centre-ensamble-
studio/500df3f728ba0d6625001cf9-musical-studies-centre-ensamble-studio-image>. Acesso em: 14 abr. 2017.
Constam como o quarto e o quinto exemplo, com menor impacto visual por se tratarem
de propostas mais tradicionais (nem por isso de menor valor arquitetônico), exemplos com
função também estrutural, pinçados da produção brasileira. Uma obra de João Filgueiras, no
Distrito Federal (Figuras 10 e 11), e outra de Carlos Bratke em São Paulo (Figuras 12 e 13).
Lelé (entrevistado em 2010), ao encontrar pedras em abundância em determinado
terreno na região do Paranoá/DF, Brasil (1969), optou por abandonar a ideia da estrutura de
uma casa em concreto armado, moldando toda a sustentação da mesma em paredes
sinuosas construídas com a pedra do local. Ao mesmo tempo em que a parede sinuosa em
pedra sustenta a laje, ela circunda um bloco da mesma rocha aflorado no terreno, que
resultou no interior da sala como aparece na figura 11, iluminado por uma abertura zenital.
As rochas encontradas no local dessa obra foram interpretadas em trabalho anterior da
disciplina Geoconservação e Geodiversidade (2010), como supostamente pertencentes a um
afloramento do Grupo Paranoá – constituído, entre outros tipos de rochas, por quartzitos
brancos e amarelados – e, conforme relatos sobre o local, reportam-se ao período meso-
proterozóico segundo dados geológicos sobre a Bacia do Paranoá (MAIA et al., 2005).
Fonte: Joao Filgueiras Lima, Ed. Blau Lisboa, PT, 2000, pg. 51.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 11 – Vista do bloco de rocha interiorizado na sala da Casa do Cerrado iluminado por um domo.
278
Fonte: Joao Filgueiras Lima, Ed. Blau Lisboa, PT, 2000, pg. 51.
Figura 12 – Residência em São Paulo. Uso do concreto ciclópico na escadaria da base e estrutura.
279
O sexto exemplo é uma obra do genovês Renzo Piano, que conforme a sua notabilidade
de arquiteto construtor, ousou em composição estrutural de rocha associada ao aço na
Igreja de romaria em San Giovanni Rotondo, Foggia, Itália (2004). Uma série de arcos de
pedra de dimensões excepcionais, inigualável em todo o mundo, está disposta em
configuração radial que converge para o ponto central do altar e presbitério (Figura 14). Em
certo momento, o arquiteto revelou à Agência de Notícias Franciscanas Zenit:
Provenho de uma família de construtores e creio que levo no sangue o ímpeto de
experimentar. Fiz isso na Potsdamer Platz em Berlim e no centro cultural em Nova
Caledonia [...] a técnica com a qual realizamos os grandes arcos de São Giovanni
Rotondo poderia dar um novo impulso ao uso deste material antigo [...] optei por
uma estrutura radial, centrada no altar com a assembleia reunida em torno e
dividida em setores por grandes arcadas que surgem do único centro. Selecionei
materiais que expressam simplicidade e solidez: a pedra local e a madeira, assim
como o vidro das janelas (RENZO, 2004).
280
Figura 16 – Vista de um bloco de rocha com a posição dos furos para passagem dos cabos de aço.
Fonte: <http://www.architetturadipietra.it/wp/wp-content/uploads/2009/08/aula_liturgica_6.jpg>.
Acesso em: 14 abr. 2017.
Segundo as múltiplas narrativas da obra, das quais não se pode prescindir sob o risco de
ser infiel ao contexto, a atenção maior foi dada à definição estrutural dos arcos, ao seu
equilíbrio e estabilidade quando expostos a variações na distribuição de tensão externa à
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Após avaliação das pedras possíveis de serem utilizadas, foi descartado o uso do granito,
rocha mais fácil de usar devido a sua comprovada força mecânica, mas rejeitada por Piano
por ser excessivamente fria, priorizando a APRICENA, um material calcário de granulação
fina, coloração pálido-creme e alto desempenho mecânico avaliado pelo coeficiente de
elasticidade, resistência à compressão, tensão de cisalhamento e tração na flexão, índices
que implicam em conhecimentos de caracterização tecnológica por parte de projetistas.
A extrema complexidade projetual da igreja santuário projetada por Renzo Piano e, de
forma bem oposta, a curiosa e arranjada composição da obra de Anton Garcia Abril em
Santiago de Compostela, exemplificam o esmero do cálculo estrutural aliado à forma plástica
arquitetônica e o raciocínio logico da sustentação de pedras sobre pedras ou, ainda, quando
apenas ajuntadas por cabos e cunhas, em composição singular. Esse arrojo estrutural não
inibe o valor de sistemas estruturais tradicionais, tais como os empregados por Lelé e Bratke,
nem a modelagem estrutural de peças regulares como projetadas por Niall Architects – são
apenas bem mais acessíveis como técnica construtiva.
É possível então, estimular hoje, no Brasil, por meio do ensino, práticas estruturais
semelhantes? Parece-nos que a resposta é positiva. Cabe estudo, pesquisa, equipe
interdisciplinar. Arquitetos, em geral, não dispõem de conhecimentos para atuarem sozinhos
no âmbito de soluções que envolvam as rochas como material estrutural. No entanto,
visando ao conhecimento, é possível cursar disciplinas eletivas nas graduações e programas
de pós-graduação, como os encontrados nos cursos de Engenharia de Minas, por exemplo,
que já vêm há muito sendo compartilhados com arquitetos nas universidades.
estrutural. O calcário CLIPSHAM LIMESTONE é uma rocha sedimentar, cuja menor dureza
de modo geral permite que se modele com mais facilidade peças em série.
Da mesma forma e com muito mais rigor pela complexidade estrutural dos arcos e pela
vulnerabilidade do sistema às tensões sísmicas da região de Foggia, entre outros fatores
282
tectônicos postos em diversos relatos sobre a obra, foi selecionada por Piano para a Igreja o
calcário APRICENA. O granito, que teria vantagens mecânicas mas não teria a leveza plástica
da textura do calcário, foi dispensado. Além disso, os módulos de composição dos minis e
maxis-quoins tiveram suas arestas delicadamente chanfradas por razões técnicas, resultando
em efeito estético primoroso impossível de se obter no granito devido a sua granulação.
Nas obras do parque Bela Vista em Santiago, as peças não foram manipuladas por decisão
de projeto. Foram usadas na SGAE conforme encontradas, enquanto no CAEM adotou-se a
dimensão padrão dos blocos de lavra e, quando não foi possível usar o bloco inteiro, usou-se
a capa de bloco para manter íntegro o efeito da caixa de pedra. Foi possível, assim, usar o
granito típico da região da Galícia, o MONDARIZ, uma rocha ígnea ou magmática cuja
dureza é característica das rochas dessa natureza, não se prestando ao corte minucioso de
detalhes de acabamentos.
No caso do projeto de Lelé, é bem possível que o tipo de rocha encontrada do local do
terreno seja (a obra ainda existe) um quartzito, que é uma rocha metamórfica. O material
se revela de dureza elevada pela presença do quartzo, tanto que ele usou nas paredes
tamanhos mais ou menos regulares naturalmente encontrados. Como não foi possível cortar
um bloco aflorado no terreno, tal estrutura restou por compor o espaço interno na sala.
A abordagem dessa seção teve por objetivo mostrar o quanto é importante o arquiteto
ter conhecimento para poder definir os materiais com os quais vai trabalhar, principalmente
quando eles vão responder tecnicamente quanto aos esforços demandados pelo projeto e
atuar como protagonistas na criação. Permitiu falar de rocha ígnea, também chamada
magmática, de rocha sedimentar e de rocha metamórfica, que são as rochas encontradas
na crosta terrestre e que constituem os bens minerais não metálicos, enquadrando-se
também na classificação de materiais silicatos e não silicatos. Cada tipo de rocha das três
naturezas guarda propriedades comuns, mas não há uma rocha exatamente igual à outra.
Ao arquiteto, cabe especificar – pelo Art. 2º da Lei 12.378/2010. Para especificar, ele
precisa estar comprometido com a adequação do material em relação à estética, resistência
e durabilidade. Em matéria publicada na extinta Revista Pedras do Brasil (2006), constou:
É preciso lembrar que é o arquiteto quem está na ponta da cadeia produtiva, e a
ele, do ponto de vista legal inclusive, será sempre atribuída a menos que mude a
resolução (na época), a responsabilidade pela especificação dos materiais. É nesse
sentido que tentaremos desenvolver um trabalho (NEVES, 2006).
pedras frias ou acumular calor, e os atributos de inercia térmica terão que ser avaliados.
Cada assunto exigirá conhecimento apropriado.
Para intervir na conservação de monumentos históricos, área de conhecimento específica
cuja abordagem foge ao contexto, é preciso atenção aos processos de alteração e
283
alterabilidade que, segundo Aires-Barros (1991), depende do “tempo geológico” e do
“tempo humano”, este, “à escala do homem e das suas obras de engenharia”. Nesse
“tempo” as rochas se expõem à percolação de águas por porosidade e permeabilidade,
ações de intemperismo e vandalismo, entre outros elencados pelo autor, fatores que
acabam afetando não só monumentos históricos, mas também obras recentes.
Em se tratando de resistência e de especificação para o uso estrutural, matéria desse
trabalho, os arquitetos precisam saber que, antes de serem avaliadas as competências da
rocha na tração, compressão e choque, por exemplo, deve-se verificar com os responsáveis
técnicos as condições dos maciços nas jazidas, para garantir a integridade dos blocos a
serem explotados em função de dimensionamento ou forma estrutural projetada tal qual
procedeu Renzo Piano ao escolher o calcário APRICENA para compor os arcos do santuário.
Portanto, é importante conhecer a natureza das rochas, os tipos ou variedades. É preciso
saber em quais estados do país existem as reservas, assim como é necessário, mais que
tudo, atentar para as propriedades e para a composição mineralógica das rochas, assunto
decisivo para uma correta especificação, seja ela para uso em revestimento, sistemas
estruturais ou elementos componentes de forma plástica.
Na sequência, pode-se buscar um maior entendimento sobre petrografia e sobre
caracterização tecnológica, com respaldo em normas brasileiras ou internacionais. O que se
estuda sobre as rochas como materiais de construção ou ciência das Terras apresente maior
complexidade. Tratou-se aqui de uma simplificação, visando a chamar a atenção para um
mínimo de entendimento, deixando uma recomendação para consulta em Tecnologia de
Rochas Ornamentais – pesquisa, lavra e beneficiamento (VIDAL et al., 2014).
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de Rochas. Informativo 22.10.2014.
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286
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Janeiro: CETEM/MCTI, 2013. 700p.:il.
UTILIZAÇÃO DE TUBOS DE PAPELÃO NA FABRICAÇÃO DE TRELIÇAS
ESPACIAIS
LAMBERT, Rogério de Castro (1); CATTANI, Rudivan Luiz (2); SILVEIRA, Wilson Jesus da
Cunha (3) MACHADO, Jhonatan Manoel Morais (4); STAMBUK, Giovanna K. Ugarte (5);
FORTUNATO, Zolana Jessica Junqueira (6)
RESUMO
Um dos grandes desafios para o ensino de estruturas nos cursos de arquitetura é proporcionar meios
para tornar este conhecimento mais próximo da linguagem intuitiva. Com este intuito foi realizada
uma experiência de concepção de uma treliça espacial utilizando tubos de papelão, desenvolvida por
estudantes do curso de arquitetura e urbanismo da UNISUL (Florianópolis). Os tubos de papelão,
utilizados como miolos de bobinas de papel, apresentam uma considerável resistência mecânica,
principalmente à tração e à compressão, além de baixa densidade. Este material, obtido do resíduo
de gráficas, apresenta um grande potencial de reutilização na construção civil. Foram realizados
ensaios mecânicos no material, a elaboração de maquetes e protótipos em escala 1:1. Foi testada
também a fabricação de treliças a partir de bambus, que acabou sendo descartado por dificuldades
no acoplamento. O acoplamento dos tubos foi implementado por meio de barras de aço e parafusos,
pois foi a solução que apresentou maior estabilidade e praticidade na montagem dentre as testadas.
Foi identificada uma fragilidade do tubo de papelão a impactos laterais e à absorção de umidade. A
investigação proporcionou a comprovação da viabilidade do uso do tubo de papelão em treliças
espaciais de baixo custo e evidenciou ainda a necessidade de aprimoramento das uniões e
condicionamento deste material a intempéries. A experiência prática vivenciada pelos estudantes
permitiu o melhor entendimento das teorias ensinadas nas disciplinas de Sistemas Estruturais e
Sistemas Construtivos, além de evidenciar dificuldades de implementação que não podem ser
compreendidas propriamente em sala de aula.
Palavras-chave: Ensino por experimentação; Treliças espaciais baixo custo; Construção sustentável.
ABSTRACT
One of the great challenges in teaching structural classes to architectural schools is how to make
understanding this knowledge more intuitive. With this in mind this article describes the experiment
that students of the architectural school of Universidade de Santa Catarina -UNISUL- underwent of
making a spatial truss out of cardboard tubes, old magazines and steel bars. Cardboard, normally
discarded as waste, has great potential in the civil construction as a product of reuse. These
cardboard tubes, discarded from plotters, were low density and resisted a fair amount of mechanical
forces especially traction and compression. This project involved the making of models and even a
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
prototype in a 1:1 scale. Before the cardboard tube, the material used was bambu, but shortly it was
discarded due to difficulties in joining the pieces to form the truss. In fact, the union of the bars was
the hardest challenge encountered. After extensive research as to what would be the ideal material to
make such connection, the solution was practical and stable: steel bars. It was also identified and
taken into consideration the fragility of the cardboard to humidity and side blows, leading to the
more recent studies on impermeabilization and strengthening. Besides providing the students with
288
the experience of building something they had only seen in books, this experiment sheds light on the
difficulties encountered in real life.
Keywords: Teaching with experimentation; Low cost spacial truss; Sustainable construction.
1. INTRODUÇÃO
Os cursos de arquitetura, em geral, foram despindo seus projetos pedagógicos da
atividade prática e ensaística que os envolvem. O projeto de arquitetura e sua dimensão
construtiva têm sido gradualmente substituídos por formulações verbais, conceituais e de
justificativas textuais.
Esse abandono do sentido construtivo da materialidade arquitetônica tem arrastado os
cursos a um desentendimento e distanciamento da obra. Observa-se, na prática, que o
estudante, hoje, tem dificuldades em perceber e sentir os elementos da arquitetura porque
ele a está estudando abstratamente, afiançado pelo excesso de verbalização da mesma e
preso em grades curriculares que descartam a prática do laboratório, seja por custos ou
outras questões administrativas das universidades.
Alvar Aalto, célebre arquiteto finlandês, dizia com frequência a seguinte frase: “eu não
escrevo, eu construo”. Essa sentença remete a um entendimento claro que a geração de
Aalto tinha sobre a arquitetura; talvez seja por isso que muitas das grandes obras – as de
excelência arquitetônica – tenham sido todas construídas neste período.
Com o advento da pós-modernidade arquitetônica, escreveu-se muito sobre a arquitetura,
como nunca antes havia sido feito. Talvez aqui, num momento que coincide com o início da
era da imagem, seja o ponto em que a arquitetura – nas escolas – começa a ser projetada com
palavras e perde a sua significação essencial, estrutural, ou seja, construtiva.
Com o intuito de tentar recuperar parte dessa prática arquitetônica no âmbito
acadêmico, aliada a materiais alternativos que atendam a requisitos de sustentabilidade,
iniciou-se, com alguns estudantes, uma série de investigações sobre as treliças espaciais na
arquitetura – por citar um assunto de interesse comum, de pertinência e relevância à prática
do projeto de arquitetura.
Treliças espaciais proporcionam uma ampla gama de possibilidades para concepção
estrutural. Segundo Rebello (2007, p. 71), “[...] existem 32 maneiras diferentes de preencher
um plano com polígonos regulares”; modelos que, na maioria dos casos, são vagamente
utilizados, ou talvez nunca tenham sido. A intensão buscada ao abordar o tema foi explorar
espacialmente estas possibilidades e formar um compêndio de situações reais, através de
maquetes físicas, eletrônicas e protótipos.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 3 – Estrutura construída com tubos de papelão, SBA Expo Pavillion, Expo 2000 Hannover -
Alemanha
O passo seguinte foi executar maquetes estruturais com figuras maiores, o que não foi
possível ser feito com o kit mola, pela limitação na quantidade de peças. Assim, foram
utilizados palitos de churrasco com dimensões padrão, unidos por cola quente (Figura 5a e
5b). Foram construídos dois modelos tridimensionais, o primeiro com pirâmides de base
quadrada e o segundo com tetraedros. A fabricação se mostrou muito fácil e rápida,
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
294
(a) (b)
Fonte: Dos autores, 2016.
(a) (b)
Fonte: Dos autores, 2016.
A execução das conexões com o MDF acabou se mostrando complexa e o encaixe das
barras de bambu exigia que cada parte do conector tivesse o mesmo diâmetro do bambu, o
sistema de amarração com sisal também exigia um bom nível de experiência. Já Quintero
(2015) não teve esses problemas porque foram utilizadas barras com o mesmo diâmetro em
cada ligação, o que teria sido possível, no caso em estudo, se houvesse um estoque
considerável de barras de bambu secas e tratadas.
Em virtude de todas as dificuldades encontradas no uso do bambu e observando o
descarte da gráfica localizada dentro do campus da Universidade, uma nova opção de
material foi cogitada: o tubo de papelão. Atualmente, este material descartado pelas
plotadoras é inutilizado. E, com base no trabalho do arquiteto japonês Shigeru Ban, que
executou muitas obras e grandes estruturas com estes tubos, foram construídos protótipos
para ensaios.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
O tubo de papel, quando usado em quantidade, é capaz de resistir grandes esforços e sua
união com os parafusos permite ainda a desmontagem e a reutilização de todos os materiais
envolvidos com outros fins.
Cada peça confeccionada (chapa de aço envolta em revista dentro de um tubo de
papelão) tinha a mesma quantidade de aço tanto dentro quanto fora do tubo. A parte de
fora recebeu um furo para poder unir-se com as demais (Figura 9c); recebeu também, em
algumas barras, modificações de ângulos (Figura 9b) para poder adequar-se à construção de
uma figura espacial.
Criada a peça principal, foi construído um primeiro tetraedro (Figura 9a). Esta unidade
básica da treliça espacial foi sujeita a testes preliminares por meio da aplicação de cargas de
forma manual, que mostraram que a estrutura possui uma grande resistência à tração e à
compressão. Entretanto, foi observada uma baixa resistência à flexão e à flambagem.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
298
(a) (b)
Além dos passos mencionados acima, realizados num primeiro momento através de
investigações empíricas e ensaios laboratoriais, busca-se dar continuidade à experimentação
formal das possibilidades construtivas geradas pelos tubos de papelão. Possibilidades essas
que sairiam do âmbito da cobertura e entrariam também na utilização do material como
sistema construtivo. Indo mais além, pretende-se experimentar a utilização deste material
também para fabricação de mobiliário, dada sua versatilidade de aplicações.
O próximo passo será a impermeabilização e o enrijecimento dos tubos, além de ensaios
da estrutura nas condições de trabalho mais adversas, como as submetidas às intempéries.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
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da Arquitetura) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2005.
QUINTERO, C. A. S. Desenvolvimento de uma ligação estrutural para construção com bambu
guadua. 2015. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015.
REBELLO, Y.C.P. Contribuição ao ensino de estruturas nas escolas de arquitetura. 1993. Dissertação
(Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de
São Paulo, São Paulo, 1993.
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projeto e à construção. Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, 1998. Disponível em:
<http://www.set.eesc.usp.br/cadernos/nova_versao/pdf/cee4.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2017.
301
ARTIGOS TEMA 02
Articulações entre ensino de projeto arquitetônico e ensino de estruturas
DA IDEIA À MATÉRIA: UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO DE
ESTRUTURAS EM ATELIÊ DE PROJETO
AGUIAR, Monica (1); SPENCER, Carlos Eduardo (2); FAVERO, Marcos (3)
RESUMO
A proposta deste artigo é discutir a experiência pedagógica para o ensino de estruturas na disciplina
Projeto do Espaço do Trabalho, ministrada no 3o período do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CAU/PUC-Rio). Ateliê integrado de projeto que
explora as relações físico-espaciais no processo projetual, a partir de três condicionantes fundamentais:
ideia, cidade e programa, ou conforme Bernard Tschumi, conceito, contexto e conteúdo. Trabalhando
sob a ótica metodológica da reflexão-na-ação, a prática no ateliê se firma a partir da construção de um
conceito operativo central – a ideia do projeto – desde os primeiros croquis até os detalhes
construtivos. Considerando o projeto de arquitetura como um sistema complexo, desenvolvido em
ambiente de múltiplas interdependências, a concepção estrutural e seus desdobramentos físico-
espaciais, são colocados como fatores intrínsecos à materialização da ideia do projeto desde sua fase
inicial. Nesse contexto, o ensino de estruturas, tendo como referencial teórico-metodológico a
fenomenografia, organiza-se considerando as informações que fazem parte do conteúdo programático
como agentes estressores. Para tanto, são realizadas aulas teóricas, trabalho de campo e orientações de
projeto, atividades conduzidas por professores engenheiros – todos com prática profissional em projeto
estrutural – em conjunto com outros professores que integram o ateliê – arquitetos e urbanistas com
expertise em projeto, representação ou teoria. Estratégia multidisciplinar que caracteriza, de maneira
contundente, um processo de ensino-aprendizagem de estruturas por meio de uma abordagem
conceptiva integradora.
Palavras-chave: Ateliê integrado; Materialização de projeto; Reflexão-na-ação; Fenomenografia;
Agente estressor.
ABSTRACT
This paper intends bringing into discussion the pedagogical experience for the structural teaching in
The Work Space Design Studio, discipline lectured in the 3rd semester of the Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro´s Architecture and Urbanism Course. An integrated design studio, in which
the physical-spatial relations are explored in the design process based on three fundamental
constraints: idea, city and program, or according to Bernard Tschumi, concept, context and content.
Methodologically organized under the reflection-in-action approach, this studio practice is based on
the construction of a central operating concept - the design idea - from the first sketches to the
construction details. Considering architectural design as a complex system, developed in a multiple
interdependent environment, structural formulations and its physiscal-spacial repercussions are
considered intrinsic to the embodiment´s design idea since its early stages. In this context,
phenomenographically referenced , structural teaching is organized through its programatic content,
considered as stressing agents. For this purpose, structural engineer teachers, with professional
experience, lecture theoretical classes, conduct field research, and provide design guidance, always
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
in combination with their fellow teachers - architects with expertise in design, graphic representation
or theory - that form the studio team. This multi-disciplined strategy characterizes a striking
integrated conceptive approach to structural teaching.
1. INTRODUÇÃO
Como contribuição ao debate sobre o ensino de estruturas em escolas de arquitetura,
assunto em pauta há várias décadas que continuamente instiga professores por sua
complexidade, este trabalho discute a experiência de ensino de estruturas no ateliê integrado
de projeto, denominado Projeto do Espaço do Trabalho, no período 2012-2016. Disciplina
obrigatória para os estudantes do 3° período do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CAU/PUC-Rio), este ateliê trabalha a relação
entre o ensino de projeto de arquitetura e o de estruturas de maneira integrada, contando
com a participação de uma equipe multidisciplinar de professores que atua simultaneamente,
no dia a dia do ateliê, compartilhando um único ambiente de trabalho (Figura 1).
Figura 1 – Projeto (segundo exercício). Corte e maquetes (M. Silva e J. Frenk, 2016.2).
1
Professores arquitetos Marcos Favero e Carlos Eduardo Spencer, respectivamente.
2
Professora engenheira civil Monica Aguiar.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2.3 Arquitetura-estrutura-arquitetura
O ensino de estruturas no ateliê está vinculado à área de conhecimento denominada
tecnologia, ministrado por professor com formação em Engenharia Civil com prática
profissional em projetos estruturais. Por estar inserido em ateliê do 3° período, o ensino de
306 estruturas tem como objetivo inicial provocar os alunos a buscarem, pela primeira vez,
consistência estrutural para seus projetos. Essa condição impõe um desafio ao professor de
estruturas, que precisa apresentar a complexidade do tema a alunos que ainda não possuem
o embasamento teórico-conceitual necessário para esse aprendizado.
Este fato é determinante para implementação de uma abordagem pedagógica específica
para o ensino de estruturas, cabendo a esse professor introduzir, de maneira articulada com
os demais, os fundamentos conceituais e práticas que servirão de orientação à análise e
solução estrutural dos exercícios a serem desenvolvidos pelos alunos durante o semestre.
Considerando o projeto de arquitetura como um sistema complexo com inúmeras partes
interativas, interdisciplinares e interdependentes, em intenso fluxo de informações que
alimentam o seu desenvolvimento, procura-se enfatizar que a concepção estrutural é fator
determinante para a sua materialização. No ambiente de desenvolvimento do projeto, cada
pequeno problema estrutural a ser solucionado é caracterizado como um agente estressor
(TALEB, 2016, p.79-92), no sentido de pressionar a criatividade dos alunos para que busquem
soluções pertinentes à materialização da ideia do projeto. Em abordagens progressivas – não
necessariamente em progressão linear –, a cada orientação realizada em sala de aula, desde as
fases iniciais do projeto até sua conclusão, a interface entre solução estrutural e projeto de
arquitetura provoca questionamentos que direcionam o processo criativo do aluno.
O tensionamento que surge nesse processo dá origem ao que se caracteriza como agentes
estressores, ou seja, os elementos responsáveis pela introdução de dificuldades inesperadas
ao processo. Cada configuração arquitetura-estrutura-arquitetura é reelaborada
projetualmente, em um processo contínuo e retroalimentador de resolução de problemas,
sempre associado ao conceito central do projeto, a ideia do projeto. Este “refazer”
permanente está fundamentado no conceito de reflexão-na-ação (SCHÖN, 2000) relacionado a
prática do aprender fazendo, que se inicia com a simples capacidade dos alunos em seguirem
instruções e se desdobra em construções de significado, visivelmente perceptíveis no
momento da apresentação de seus projetos ao final do semestre letivo.
Para que sejam atingidos resultados satisfatórios nesse processo, é necessário que se crie
um ambiente dialógico professor-aluno, no qual a presença do professor de estruturas – nesse
caso, principalmente, porém não exclusivamente – em sua relação direta com cada aluno, gera
o engajamento necessário ao aprendizado. Essa postura reforça o entendimento de projeto
como processo colaborativo e interdisciplinar em um ambiente de troca de conhecimento.
Figura 2 –Análise projetual. Isométrica categoria tectônica, Casa 127, H Arqu., Espanha, 2006
(B. Costa, C. Garcia, C. Lima, F. Abreu e N. Ferreira, 2014.1).
Figura 3 – Análise projetual. Conceitos arquitetônicos, Casa Ladrilhos, V. Virzi, Argentina, 2011 (I.
Soares, J. Pereira, M. Silva, A. Liesegang e M. Martins, 2016.2).
3.2 Projeto
O exercício consiste na elaboração do projeto de um edifício de médio porte constituído
por 4 ateliês para artistas e 1 área expositiva, no centro da cidade do Rio de Janeiro (Figura 5).
Realizado em duplas, com duração de 10 semanas e o mesmo sistema de orientação do
primeiro exercício, apresenta o desafio de projetar a partir de 3 condicionantes colocadas
como possíveis geradoras da “boa forma arquitetônica”: ideia, cidade e programa.
Essas três condicionantes, colocadas por Tschumi (2005, p. 76-89) como conceito,
contexto e conteúdo, não são tratadas de modo hierárquico, isto é, em ordem de
prevalência de uma sobre a outra. A chave, segundo este arquiteto, está na exploração da
relação entre estas, que pode ser de indiferença, reciprocidade ou conflito.
Esse exercício possui 2 etapas, cada uma com 5 semanas. Na primeira, os alunos
exploram o contexto, suas características e potencialidades e traçam estratégias projetuais,
geralmente associadas a um conceito operativo provindo da leitura deste. Etapa marcada
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
3
Banca intermediária de caráter processual que visa discutir e avaliar os projetos em seu estágio de
desenvolvimento.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
estrutural, com o propósito de despertar sua curiosidade em relação ao tema, bem como
desenvolver um repertório de códigos de diálogo interdisciplinar com a Engenharia
Estrutural, como um vocabulário de termos técnicos adequados e o entendimento de
características de representação gráfica específicas do projeto estrutural.
310
O emprego, como recurso pedagógico, da compreensão intuitiva de fenômenos torna-se
aqui uma estratégia fundamental de aproximação ao problema. Intuitivamente é possível
compreender o que não é inteligível em um primeiro momento, sendo inteligível o
conhecimento fruto da elaboração do pensamento estratificado em premissas conceituais,
lógicas e racionais, organizadas intelectualmente; e intuitivo o conhecimento que se constrói
através dos sentidos e da apropriação de experiências adquiridas anteriormente. Para
ilustrar esta ideia, pode-se mencionar, por exemplo, que não é necessário estudar as 6
equações universais da estática para compreender uma situação de equilíbrio; ou, que pode-
-se intuir que um corpo submetido a um esforço é passível de deformação, sem que seja
necessário estudar as propriedades mecânicas do material que faz parte de sua composição.
Associado a essa proposta, entende-se que os conceitos definidos por Schön, como a
reflexão-na-ação, a atenção operativa, a ação exploratória, os testes de ações e os testes de
hipóteses, que fundamentam pedagogicamente as premissas desse ateliê, devem ser
também explorados no âmbito do ensino de estruturas:
Quando o profissional reflete-na-ação, em um caso que ele percebe como único,
prestando atenção ao fenômeno e fazendo vir à tona sua compreensão intuitiva
dele, sua experimentação é, ao mesmo tempo, exploratória, teste de ações e teste
de hipóteses. As três funções são preenchidas pelas mesmas ações. E desse fato
deriva o caráter distintivo da experimentação prática (SCHÖN, 2000, p. 65).
discutidos, uma vez que essa é a primeira oportunidade em que os alunos podem confrontar o
aprendizado teórico formal da física com a prática da construção (Figura 8).
Figura 8 – Análise projetual. Maquete e modelos comparativos, executados com material disponível
em sala de aula, para verificação da capacidade resistente à deformação de uma viga com 1 elemento e
313 outra com 4 elementos, Handmade School, A. Heringer, India, 2007 (C. Rocha e grupo, 2016.1).
Figura 9 – Análise projetual. Maquetes estruturais, Casa Nida Navidad, P.Ellrischhausen, Chile,
2015 (C. Verneck, B. Duarte E. Barbosa, L. Oliveira, L. Queiroga, 2016.1) e Refettorio Gastromotiva,
METRO Arquitetos, Brasil, 2016 (J. Meira, G. Veloso, L. Hansen, L. Moreira, C. Névoa, 2016.1).
Figura 10 – Esforços de compressão: Ed. Gustavo Capanema, L. Costa e equipe, Brasil, 1936; e esforços
de compressão e tração: Centro Administrativo de Belo Horizonte, O. Niemeyer, Brasil, 2003.
315
Figura 11 – Esforço de flexão: MASP, L. B. Bardi, Brasil, 1947; e esforços flexão e torção: Ponte
Vlaardingse, West 8, Holanda 2005.
Figura 12 – Fundação Iberê Camargo, Á. Siza, Brasil, 2001; Centro George Pompidou, R. Piano e R.
Rogers, França, 1977; e Metropol Parasol, J. Mayer, Espanha, 2011.
incorporar elementos não previstos inicialmente no projeto, como treliças (Figura 16);
porém todas estas “situações” são discutidas de maneira que os alunos, conscientemente,
possam “tirar partido” destas no desenvolvimento dos respectivos projetos como um
sistema complexo que deve, idealmente, articular forma-espaço-estrutura.
319
Figura 14 – Projeto. Maquete (J. Silveira e S. Costa, 2014.1).
Figura 16 – Projeto. Maquetes (B. Valente, L. Nogueira S., Garcia e S. Simas, 2015.2).
estruturais que representem bem essa escolha (Figura 17 e Figura 18). Consequentemente, já
na fase inicial do projeto, a estrutura tensiona a concepção arquitetônica.
320
Fica estabelecida então, a partir desses agentes estressores, uma nova realidade projetual
para os alunos do ateliê. Em função do stress retroalimentador inserido no projeto com a
introdução dos elementos estruturais, estes são obrigados a uma reelaboração de suas
ideias iniciais, por meio de um (re)fazer de croquis explicativos, desenhos, maquetes de
elementos estruturais e maquetes do projeto, na busca por consistência e pertinência de
soluções, que são aprimoradas aula a aula, sobretudo através de orientações dedicadas, até
o momento da finalização do exercício Projeto, cujo coroamento é a banca realizada no final
do semestre letivo.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho procurou compartilhar a experiência de ensino de estruturas no ateliê
integrado Projeto do Espaço do Trabalho, disciplina obrigatória do 3o período do CAU/PUC-Rio,
no período 2013-20164. O ensino de estruturas, intrinsecamente alinhado com a estratégia
4
O registro de trabalhos selecionados, realizados pelos alunos do ateliê no período 2013 -2016, se
encontra disponível no website da disciplina Projeto do Espaço do Trabalho (link:
https://arq1103.wordpress.com/).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
pedagógica deste ateliê, além de estar fundamentado no conceito de reflexão-na-ação (SCHÖN, 2000),
trouxe como contribuição a aplicação da fenomenografia (FREIRE, 2009) e do conceito de agente
estressor (TALEB, 2016). Reconhece-se que nesse processo de ensino-aprendizagem, apesar dos êxitos
obtidos, os ajustes são e devem ser permanentes. Especificamente, no que diz respeito ao ensino
321
de estruturas nesse ateliê, percebe-se atualmente a necessidade de reforçar o momento de
entrada do ensino de estruturas durante o processo de concepção do projeto arquitetônico,
pois em função do cronograma atual da disciplina, os alunos têm associado o momento da
entrada do professor de estruturas no exercício Projeto (exercício 2), com o momento de
“entrada” da estrutura no projeto arquitetônico propriamente dito.
Além do ajuste mencionado acima, no sentido de trazer ainda mais coerência para a
articulação do ensino de projeto arquitetônico e do ensino de estruturas, entende-se que o
ensino de estruturas deve ser intensificado, com a participação do professor de estruturas
na avaliação final da Análise projetual exercício 1) e entrada antecipada no Projeto(exercício
2), momento em que os alunos ainda estão definido suas estratégias projetuais.
Como resultante de um processo de reflexão-na-ação recíproca percebe-se que tanto a
fenomenografia como o conceito de agente estressor retroalimentaram a prática, ou melhor,
a práxis desse ateliê, pois a metodologia que em um primeiro momento foi aplicada apenas ao
ensino de estruturas, foi incorporada pedagogicamente ao ateliê como um todo.
Essa reciprocidade de processos também pode ser constatada através do aprimoramento
de procedimentos ocorrido ao longo dos últimos cinco anos, durante os quais as falhas
observadas geraram ajustes que redirecionaram as práticas. Ajustes são intrínsecos a uma
estratégia pedagógica dinâmica, pois denotam a qualidade da experiência que, para estar
em consonância com sua própria natureza é sempre, e necessariamente, inacabada.
REFERÊNCIAS
FREIRE, L. G. L.; DUARTE, A. M. Concepções de aprendizagem em estudantes universitários
brasileiros. Psicologia USP, v. 21, n. 4, p. 875-898, 21(4). 2010.
FREIRE, L. G. L. Teoria fenomenográfica e concepções de aprendizagem. Revista Pedagógica, v. 11, n.
22, p. 9-38, jan./jun. 2009.
FREIRE, L. G. L. Concepções e abordagens sobre a aprendizagem: a construção do conhecimento
através da experiência dos alunos. Ciências & Cognição, v. 9, p. 162-168, nov. 2006.
SCHÖN, D. A. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem.
Porto Alegre: Artmed, 2000.
TALEB, N. N. Antifragil: coisas que se beneficiam com o caos. Rio de Janeiro: Best Business, 2016.
TSCHUMI, B. Concepto, Contexto, Contenido. Arquine, v. 34, p. 76-89, 2005.
CAU/PUC-Rio CURSO DE ARQUITEUTRA E URBANISMO DA PUC-Rio. Projeto Pedagógico do Curso de
Arquitetura e Urbanismo. Rio de Janeiro, 2001.
ARQUITETURA DO AÇO E A ESTRUTURA COMO ELEMENTO GERADOR DA
FORMA: EXPERIMENTOS METODOLÓGICOS NO ENSINO DE ARQUITETURA
RESUMO
O texto descreve as atividades acadêmicas de prática de projeto, no Curso de Arquitetura e
Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, envolvendo situações de
industrialização da construção com a utilização do aço como material principal. As disciplinas de
Projeto de Edificação IV do currículo anterior e Atelier de Arquitetura V do currículo atual têm
experimentado, desde 1998, procedimentos e estratégias didático-pedagógicas com a inclusão de
professores engenheiros especializados em estruturas, no corpo docente, composto de professores
arquitetos. Tradicionalmente, a disciplina conta com quatro professores arquitetos, na medida em
que é historicamente adotado, na IES, o módulo de 1:15 na relação professor-aluno para disciplinas
de prática de projeto no Curso de Arquitetura e Urbanismo. O grupo recebe ainda, desde 2000, a
contribuição de um professor engenheiro, integrante formal da disciplina, para atuação em três
momentos cruciais do processo de projeto. Ao longo do texto, são detalhados os procedimentos e as
atividades práticas que envolvem, no decorrer do semestre letivo e do processo de projeto, a
execução de modelos físicos dos módulos estruturais adotados, maquetes como elementos de apoio
à decisão de projeto, documentação de anteprojeto e detalhamento de componentes
industrializados. Ao final, apresenta-se uma análise dos resultados no que se refere à articulação e
interação entre o ensino de projeto de arquitetura e estruturas.
1. INTRODUÇÃO
O texto refere-se a procedimentos metodológicos na disciplina Ateliê de Arquitetura V,
disciplina do 7º. Nível do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. Constituem um grupo de atividades acadêmicas semestrais,
323 nas quais os aspectos estruturais são predominantes na definição da forma e do espaço
arquitetônicos. Destaca-se que as soluções são desenvolvidas considerando um cenário de
industrialização da construção, pré-fabricação e sistemas estruturais independentes que
utilizam o aço como material principal.
O exercício projetual desenvolve-se a partir de um programa de média complexidade,
singular, em contexto urbano em expansão. Ao final das atividades, são produzidas soluções em
nível de anteprojeto incuindo detalhamento de elementos de arquitetura e do sistema
construtivo. Como aporte às atividades dos alunos, são ministrados conteúdos envolvendo
teoria e métodos de projeto aplicados à arquitetura (MONEO, 2008), caráter e linguagem das
edificações a partir da arquitetura do aço, análise qualitativa de estruturas, sistemas estruturais
em aço (ENGEL, 2009; CHING, 2010), instalações, equipamentos e utilidades básicas das
edificações, tecnologia de sistemas construtivos racionalizados, industrializados e sustentáveis.
Incluem-se, nos procedimentos metodológicos, para atingir objetivos propostos pela
disciplina, exposições teóricas, orientação de pesquisa, orientação individual de projeto,
especificação de entregas de etapas, visitas técnicas orientadas, painéis, oficinas e
discussões por grupos de orientação.
O método de trabalho para a fundamentação do processo de projeto vincula-se a uma
sequência de doze etapas cumulativas a serem rigorosamente perpassadas e validadas, sem
as quais não é possível obter-se o produto final, qual seja, a documentação em nível de
anteprojeto, um caderno de detalhes como anexo e uma maquete física de apresentação da
solução proposta ao final do semestre. A partir de um tema semestral estudado e definido
pelo grupo de professores, é dado início ao fluxo do processo através das etapas de:
Análise do programa de necessidades;
Visita e levantamento da área destinada à implantação das propostas e seu entorno
imediato;
Levantamento de tecnologias de materiais, sistemas e processos construtivos;
Estudo de caso de referências temáticas e referências de linguagem;
Estudos preliminares, formulação de hipóteses e intenções formais: partido geral;
Definição e lançamento de partido geral com formulação do princípio estrutural;
Lançamento do modelo estrutural com construção de modelos físicos /módulo
estrutural;
Análise qualitativa e pré-dimensionamento do sistema estrutural proposto;
Execução de maquete em nível de anteprojeto;
Detalhamento de componentes estruturais e comprovação da viabilidade técnica do
projeto por meio de cortes de pele;
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 1 – Visita técnica as obras da futura Sede da Associação do Aço do Rio Grande do Sul.
328
uma compreensão e um grau de definição maior de seu projeto que recupera aspectos
construtivos e estruturais que poderiam não estar evidentes somente em desenhos.
330
Figuras 20, 21 e 22 – Prancha e as maquetes com cortes de pele, integrante da entrega final.
CONSIDERAÇÕES
É importante salientar que, desde o ponto de vista da Engenharia, Viegas (2006, p.85)
contribui de forma significativa quando salienta que “a obtenção da forma arquitetônica
verdadeira, coerente, só será possível com a clara compreensão das necessidades
estruturais”. Em seu texto, descreve sua experiência referente ao ensino de estruturas
metálicas na FAUPUCRS, complementando com a visão da engenharia o experimento
metodológico aqui descrito.
Pode-se afirmar que o conteúdo do experimento vivenciado na disciplina Atelier de
Arquitetura V tem proporcionado um aprofundamento do aluno na prática do projeto
arquitetônico, até a etapa do anteprojeto com detalhamento técnico- construtivo.
Tem possibilitado também sua compreensão e desenvolvimento das relações estético-
formais e técnico-funcionais no espaço arquitetônico, bem como uma vivência na prática de
projeto orientado para a industrialização da construção e da tecnologia da pré-fabricação.
Vem propiciando sua compreensão dos sistemas estruturais em aço na definição
compositiva da edificação.
Tem sido percebida a demonstração do domínio, pelo aluno, da consideração dos aspectos
referentes à racionalização e eficiência do processo construtivo. Além disso, verifica-se seu
crescimento intelectual no que tange à linguagem arquitetônica contemporânea, com
formulação de repertório a partir do cenário tecnológico, histórico e cultural.
AGRADECIMENTOS
Faz-se necessário agradecer e destacar o corpo docente da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo e da Faculdade de Engenharia da PUCRS, participantes e colaboradores da
disciplina ao longo destes vinte anos, seja na disciplina Projeto de Edificação IV (1996-2012)
e Ateliê de Arquitetura V (2012-atual). São eles: Prof. Arq. Luís Carlos Macchi Silva (autor do
programa original da disciplina em 1998), Prof. Arq. Paulo Ricardo Bregatto, Prof. Arq. Carlos
Alberto Hübner, Prof. Arq. Silvio José Jaeger da Rocha, Prof. Esp. Arq. Davi Bondar, Prof. Arq.
Renato Marques Fernandes, Prof. Arq. Luis Alberto Aydos, todos da FAUPUCRS. Destaque-se
de modo especial o Prof. Eng. Felipe Brasil Viegas da FENG, pelo trabalho competente e
inovador, além de sua tarefa de atendimento individual e costumeira nos finais de semestre,
anterior à última entrega da disciplina.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15873-Coordenação Modular para
Edificações. Rio de janeiro: ABNT, 2010.
CHING, F. D. K. Técnicas de Construção Ilustradas. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.
332 CHING, F. D. K.; ONOUYE, B. S.; ZUBERBUHLER, D. Sistemas Estruturais Ilustrados: Padrões, Sistemas
e Projeto. Porto Alegre: Bookman, 2010.
ENGEL, Heino. Sistemas estruturais. Barcelona: Gustavo Gili, 2009.
VIEGAS, F. B.; FIGUEIRÓ, G. S.; VIEGAS, I. B. O ensino de estruturas metálicas na arquitetura: a
experiência da FAUPUCRS. In: FERREIRA, M. S.; KOTHER, M. B. M.; BREGATTO, P. R. (Org.).
Arquitetura e Urbanismo: posturas, tendências e reflexões. 1a.ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2006. p.
218-238.
FERREIRA, M. S.; BREGATTO, P. R. Coordenação Modular e Arquitetura: Tecnologia e Inovação. In:
FERREIRA, M. S.; KOTHER, M. B. M.; BREGATTO, P. R. (Org.). Arquitetura e Urbanismo: Posturas,
Tendências e Reflexões - Volume 2. 1a.ed.Porto Alegre: Livraria do Arquiteto Editora, 2008, v. 1, p.
95-110.
LATORRACA, G. João Filgueiras Lima: Lelé. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 2000.
LITTLEFIELD, D. Manual do Arquiteto: Planejamento, Dimensionamento e Projeto. Porto Alegre:
Bookman, 2011.
MONEO, R. Inquietação teórica e estratégia projetual. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
RENZO PIANO BUILDING WORKSHOP, MUSE - MUseo delle ScienzE di Trento – Itália. Disponível em:
<http://www.rpbw.com/project/muse-museo-delle-scienze>. Acesso em: 15 abr. 2017.
UMA TECTÔNICA OUTRA – A EXPERIÊNCIA DO ENSINO DE ESTRUTURAS DE
MADEIRA A PARTIR DO PROJETO DE COBERTURAS
(1) UNIFOR MG, e-mail: 136.arq@gmail.com; (2) UNIFOR MG, e-mail: alinematos@uniformg.edu.br
RESUMO
Toma-se como pressuposto que o mecanismo estrutural de uma edificação está intrínseco na
concepção arquitetônica. Uma vez que esta analogia não tem sido uma constante nos resultados
projetivos dos alunos, torna-se necessário um entendimento a respeito do ensino de estruturas nos
cursos de arquitetura e urbanismo. Este artigo tem sua base em uma experiência didática com o
objetivo de apresentar o trabalho teórico e prático desenvolvido na disciplina de Estruturas de Madeira
no curso de Arquitetura e Urbanismo no Centro Universitário de Formiga/MG avaliando resultados,
querelas e entraves do processo. A proposta da atividade foi o desenvolvimento de uma cobertura em
madeira para um projeto de unidade padrão da Academia da Saúde do Governo Federal, onde a forma
e a estrutura têm um papel relevante frente aos condicionantes de projeto. Entende-se que os projetos
melhor elaborados partiram de um entendimento mais preciso das características do comportamento
da madeira, mas, ainda sim, poucos trabalhos contemplaram o entendimento dos sistemas
construtivos em madeira. Como resultado, observou-se que pouco foi explorado dos elementos
construtivos plásticos da madeira, como as ligações e a trabalhabilidade do material. Emerge dessa
análise um questionamento sobre a formação dos alunos, que preconiza prioritariamente o concreto
armado como solução massificada para as demandas estruturais de projeto juntamente com o
contexto cultural, de repertório e geográfico onde o acesso a novas tecnologias é mais restrito. Assim,
torna-se necessário um esforço no sentido de acrescentar novos modos operativos de pensamento
projetual para que se possa introduzir a madeira como material estrutural.
Palavras-chave: Estrutura em madeira; Ensino de estrutura; Conceituação arquitetônica.
ABSTRACT
It is assumed that the structural mechanism of a building is intrinsic in the architectural conception.
Since this analogy has not been a constant in students' projective results, it is necessary to
understand the teaching of structures in architecture and urbanism courses. This article is based on a
didactic experience with the objective of presenting the theoretical and practical work developed in
the discipline of Wooden Structures in the Architecture and Urbanism course at the Centro
Universitário de Formiga / MG evaluating results, quarrels and obstacles of the process. The proposal
of the activity was the development of a wooden cover for a standard unit project of the Federal
Government Academia da Saúde, where the form and the structure have a relevant role in front of
the project conditioners. It is understood that the better elaborated projects started from a more
precise understanding of the characteristics of the behavior of the wood, but still, few works
contemplated the understanding of the constructive systems in wood. As a result it was observed
that little was explored of the plastic constructive elements of the wood as the joints and workability
of the material. From this analysis emerges a questioning about the formation of the students, which
prioritizes concrete as a mass solution for the structural demands of the project together with the
cultural, repertoire and geographic context where access to new technologies is more restricted.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Thus, an effort is made to add new operational modes of design thinking so that wood could be
introduced as structural material.
Keywords: Wooden Structure; Teaching Strucuture; Archtetonic concept.
334 1. INTRODUÇÃO
Na concepção de um projeto de arquitetura, a definição do sistema estrutural deveria
estar sempre associada à forma arquitetônica. A estabilidade mecânica do edifício não
poderia ser tratada como um item que será resolvido a posteriori. A dinâmica do projeto
deveria ser tal onde o partido arquitetônico com base conceitual direciona a concepção
estrutural tornando-a parte do processo de projeto e, assim, os cálculos e soluções
estruturais poderiam ser resolvidos de maneira mais simplificada.
Ao longo do processo de desenvolvimento do projeto, o arquiteto deve considerar a
estrutura como uma variável ativa e atuante, o que exige dos profissionais um entendimento
mais apurado deste contexto e o domínio das possibilidades nos mais variados sistemas
estruturais. Desta forma, o arquiteto pode inclusive tirar partido da estrutura onde, muitas
vezes, esta ganha destaque na forma arquitetônica. Ter o conhecimento e o domínio das novas
técnicas que surgem a cada dia no mercado pode fazer com que a obra arquitetônica ganhe o
destaque almejado na contemporaneidade – seja pela simplicidade, seja pela grandiosidade. Isto
acaba por conduzir todo este processo a um novo viés que poderia contribuir para o
entendimento da estrutura como parte da arquitetura: o domínio do tridimensional, com a
modelagem plástica, na maioria das vezes feita por meio de softwares em plataforma 3D,
ajudado na associação da forma arquitetônica com a forma estrutural do edifício.
No entanto, vale ressaltar que muitas vezes essa definição estrutural como norteadora da
forma estética ou da forma construtiva se torna um trabalho difícil ou até impossível de se
controlar devido à subjetividade do fazer arquitetura. Considera-se um campo misto onde
ciências, técnica e arte caminham juntas. Existe uma base intuitiva muito forte e marcante e
que pode dificultar este processo de junção destas áreas afins.
A ideia da concepção modular como reguladora do conceito estrutural e da forma
arquitetônica seria uma outra linha de desenvolvimento do projeto baseado no sistema
estrutural a ser adotado para um determinado edifício. A modulação pode ser tratada como
conceito e conduzir o partido arquitetônico de forma a permitir uma arquitetura flexível,
onde modificações e ampliações seriam mais facilmente ordenadas e sua execução mais
racional. Nesta linha, o profissional precisa, mais uma vez, ter o conhecimento de como é o
comportamento estrutural, a resistência dos materiais, bem como as propriedades físicas e
químicas destes, para associar a cada projeto um tipo de estrutura com uma malha
reguladora ideal.
Assim, como bem observado por Saramago e Lopes (2009), o profissional de arquitetura
tem uma tarefa importante ao deter o conhecimento de como se comportam as estruturas
em seus adequados regimes de trabalho tanto para a proposição de soluções racionalmente
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Esta sequência visa subsidiar os alunos a partir de sua evolução no curso em um espectro
ampliado de possibilidades de soluções estruturais para os projetos. Cabe ressaltar que as
disciplinas (à exceção da experiência relatada neste artigo) são desarticuladas das disciplinas
de projeto, sendo o ensino-aprendizagem realizado a partir de métodos numéricos e
quantitativos de dimensionamento de estruturas e do comportamento dos materiais, sendo
facultado ao aluno o emprego ou não dos sistemas abordados nas disciplinas de projeto no
período corrente. Via-de-regra, apesar do arcabouço apresentado nas disciplinas, mesmo
nos trabalhos finais de curso há uma predominância massiva do uso do concreto armado
como sistema construtivo para os projetos desenvolvidos.
A disciplina de estruturas em madeira é oferecida no 8º período, com carga horária de 40
horas/aula, sendo 20 horas de aulas teóricas e 20 de aulas práticas. Sua ementa descreve os
itens fundamentais a serem abordados como: características e propriedades das madeiras,
sistemas estruturais, dimensionamento a tração, compressão e flexão, cisalhamento,
ligações, revestimentos e aplicações. A metodologia de ensino utilizada na disciplina segue
uma abordagem de exposição oral do conteúdo a partir de exemplos de projetos destacados
que fazem uso de cada solução de estrutura em madeira aplicada na construção civil,
utilizando quadro, projetor de slides e matérias de revistas e magazines sobre arquitetura.
A proposta de ensino-aprendizagem na disciplina partiu de um viés qualitativo da
abordagem da estrutura em detrimento do viés quantitativo. Di Pietro (2004) afirma que o
ensino tradicional das estruturas baseia-se em considerações teóricas e aplicadas por meio de
esquemas de funcionamento onde se deduzem expressões matemáticas. Estas aplicações
matemáticas permitem projetar e dimensionar os conjuntos de elementos que constituem o
projeto estrutural formal e construtivo. Essa forma de ensino gera uma ação passiva dos
alunos vinculando a aprendizagem à repetição exaustiva de exercícios e formulações, quase
sempre, dissociadas do projeto ou do objeto arquitetônico e invariavelmente desprezando
aspectos da concepção estrutural como ferramenta processual do pensamento arquitetônico.
A partir desse questionamento, optou-se por abordar a disciplina a partir de outro viés
abordando a estrutura como solução integrada do partido (ou concepção) da arquitetura.
Em lugar de se entender os sistemas construtivos a fim de se solucionar as demandas
projetuais do arquiteto ou a fim de compatibilizar essas soluções projetuais à disponibilidade
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
de recursos, a ideia foi operar a estrutura como elemento generativo do projeto, a partir do
seu entendimento qualitativo e de seu comportamento e características técnicas.
Dessa forma a disciplina foi estruturada na abordagem de 7 tópicos:
Histórico da construção em madeira desde a antiguidade até a atualidade;
338 Características físicas da madeira e comportamento estrutural nas solicitações de
cargas;
Concepção estrutural em arquitetura (tectônica);
Concepção estrutural utilizando madeira;
Concepção de telhados;
Concepção da estrutura portante em madeira serrada;
Concepção da estrutura portante em madeira laminada colada.
Os tópicos foram apresentados a partir de dois eixos: um de arcabouço técnico e
tecnológico, outro de análise de projetos. Foram utilizadas duas bibliografias base para o
ensino de cada uma das partes. Para a apresentação dos critérios técnicos referentes às
estruturas, foi utilizado como bibliografia Estrutura de Aço, Concreto e Madeira (REBELLO,
2005). Para a discussão da análise dos projetos, foi utilizada A Concepção Estrutural como
Expressão Plástica (GALVÃO, 2009). As aulas foram estruturadas de modo a apresentar,
associados aos conhecimentos técnicos, projetos publicados em revistas de referência onde
eram analisadas as soluções adotadas à luz da concepção estrutural como mote do projeto.
Ao ser apresentado o conteúdo de concepção estrutural em arquitetura, foi apresentada
uma proposta de desenvolvimento de exercício projetual a fim de integrar o entendimento
da estrutura como potencial gerador da forma em arquitetura. Foi escolhido um recorte de
trabalho específico em relação a coberturas, em função da ampla utilização da madeira em
suas soluções. A proposta visou compreender a possibilidade da cobertura como elemento
formulador do partido arquitetônico. A forma significativa do partido é o que Mahfuz (2004)
propõe como forma pertinente, vista pelo autor como fator resultante, ou objetivo último,
da inter-relação de quatro pontos fundamentais da metodologia do projeto arquitetônico. O
“quaterno” seria então composto por três condicionantes internos ao problema do projeto
(lugar, programa e construção) e uma condição externa (o repertório de estruturas formais
que fornece os meios de sintetizar no conjunto da expressão formal os pontos anteriores).
Seguindo o viés da análise tectônica, a escolha do material construtivo é um dos fatores – ao
lado dos fatores topográficos e climáticos, essenciais para a definição de como a “arte
construtiva” desenvolver-se-á na materialização de determinado artefato arquitetônico.
Assim, o material construtivo eleito, à medida que implica em um conjunto de medidas
técnicas de estruturação (características e propriedades físicas do material: resistência,
suporte de cargas e transmissão de esforços) e execução, apresenta-se como gérmen
articulador e gerador da identidade plástica da obra construída.
Tendo a madeira eleita como material construtivo e a cobertura como solução generativa
do projeto, foi apresentado o modelo de Academia da Saúde desenvolvido pelo Governo
Federal, implantado em diversas cidades do Brasil. O projeto segue uma modulação de 3,5
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
metros (possível para a madeira serrada ou laminada colada como material estrutural). A
dimensão da edificação é de 7 x 14 metros. A Figura 1 apresenta a planta baixa e uma
imagem tridimensional de uma dessas academias executadas. A partir desse projeto, foi
pedido aos alunos que desenvolvessem uma proposta de cobertura (com os requisitos já
339
apresentados) para a edificação.
Fonte: <http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_academia_saude.php>.
1º Módulo
Para o primeiro módulo, foi concentrado o conteúdo teórico da disciplina. O conteúdo foi
estruturado a fim de munir os alunos não somente do domínio técnico das características da
madeira como material estrutural e seu comportamento quanto às solicitações e esforços
estruturais, mas, sobretudo de ampliar o repertório de soluções projetivas em madeira.
Focando em projetos contemporâneos desenvolvidos no Brasil, como a Residência R.R dos
arquitetos Andrade Morettin, Archery Hall dos arquitetos FT Architects e do Haras Polana do
Arquiteto Mauro Munhoz (Figura 2). Mahtfuz (1984) observa que a produção arquitetônica
consiste, em grande parte, na transformação e adaptação do conhecimento existente à luz
de circunstâncias sempre variáveis. Também afirma que a atividade de criação exercida por
arquitetos pode ser definida como uma atividade que se baseia em grande parte na
interpretação e adaptação de precedentes.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
340
2º Módulo
O segundo módulo consistiu na orientação dos alunos na realização das propostas de
cobertura para o modelo da Academia da Saúde. Organizados em grupos, no ateliê, os
alunos discutiram com o professor propostas preliminares e conceituais de possíveis
soluções da cobertura. O método de orientação utilizado foi a discussão dialogada e foi
solicitado aos alunos a adoção de pelo menos duas ferramentas de procedimento de projeto
dentre três apresentadas: croquis, maquete e projeto com representação gráfica assistida
por computador. De forma unanime, os alunos optaram por trabalhar com croquis e
desenho assistido pelo computador, alegando que os custos e o tempo demandado na
execução de maquete eram impeditivos para a realização dos modelos nesse trabalho.
As primeiras propostas de solução esboçadas pelos alunos partiram de uma tipologia
estrutural ligada ao concreto-armado. Apesar dos vãos modulares e da possibilidade de
executar a cobertura apoiada apenas nos eixos externos da edificação (com um vão de 7
metros, facilmente solucionado em madeira), a maioria dos alunos, nas primeiras
orientações, solicitou informações sobre o lançamento de pilares. Alguns chegaram a
perguntar como poderiam dividir as “lajes”, visando projetar uma cobertura plana para
servir de base a um teto verde. Um dos trabalhos chamou a atenção por apresentar uma
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
341
3º Módulo
O terceiro módulo consistiu na entrega final dos projetos, sendo exigido o desenho
técnico e o detalhamento das soluções de coberturas. Junto foram apresentadas
perspectivas ilustrativas das soluções aplicadas na forma do edifício. Dentre os trabalhos,
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
quatro foram selecionados por representar amostras das diferenças de resultados, sendo
que alguns se destacaram pela solução executiva e outros pela impossibilidade da execução.
A seguir, serão descritos estes projetos selecionados desenvolvidos por 4 grupos.
Grupo 1: a Figura 4 mostra uma solução usando toras de madeira de eucalipto de grande
342 diâmetro usadas como arcos. Apesar da solução em arco ser recorrente em coberturas de
madeira, a escolha pela tora maciça de grande diâmetro em eucalipto demonstra a falta de
entendimento do conteúdo por parte dos alunos, uma vez que, as fibras da madeira não
suportariam tal tensão ao serem arqueadas na proporção do vão apresentado. O detalhe do
beiral desenhado pelos alunos enseja uma espécie de viga vierendeel de execução
impossível em madeira maciça. A ausência de terças também é um fator de destaque.
Grupo 4: a Figura 7 mostra uma solução da cobertura tipo lanternim projetada a partir de
uma estrutura em treliça Howe mostrando uma preocupação com a variável ventilação e
iluminação natural em uma associação do tipo de fechamento lateral e no elemento e
cobertura. O grupo mostrou um cuidado ao desenhar a treliça indicando o tamanho das
peças e o tipo de encaixe. A concepção da treliça também chama atenção utilizando a
angulação dos banzos superiores e os pontaletes na configuração geométrica do lanternim.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
344
A partir destes trabalhos, percebeu-se uma limitação dos alunos em desenvolver a forma
arquitetônica explorando as possibilidades do material adotado para a estrutura. Tanto o
conceito arquitetônico quanto o conceito estrutural não são testados e experimentados de
forma criativa explorando a plástica e a composição física da madeira. Via-de-regra as
soluções não estabelecem conexão com as obras analisadas em sala e nem fazem uso de
recursos de experimentação das potencialidades plásticas da estrutura, suas ligações e
concepção. Isso despertou o interesse dos autores em se debruçar sobre os possíveis
motivos destes resultados pouco articulados.
4. CONSIDERAÇÕES
348 No contexto tratado, observou-se que os alunos possuem uma limitação projetual
quando avaliamos a conexão entre a estrutura e a arquitetura, o que não deveria ocorrer já
que o conhecimento teórico sobre o material madeira e sua potencialidade deveria conduzir
o conceito projetivo das soluções diversas.
No caso específico estudado, quando se analisa a grade do curso de arquitetura e
urbanismo do UNIFOR/MG, existe uma falta de sincronia entre as disciplinas de projeto e
aquelas que tratam do conhecimento específico de estruturas e materiais no que diz
respeito à aplicação do conteúdo teórico na prática de projeto. Acredita-se que o perfil do
aluno de arquitetura da instituição, bem como sua base de referência arquitetônica,
também influenciam muito os resultados de trabalhos como o analisado nesta pesquisa.
Na tentativa de minimizar as falhas nos resultados dos trabalhos projetivos do curso, tem-se
como opção geral a inserção do trabalho interdisciplinar onde todas as disciplinas teóricas de
conhecimento específico devem articular trabalhos práticos associados aos projetos
desenvolvidos nas disciplinas de Projeto do período corrente. Essa prática foi iniciada no curso
de arquitetura e urbanismo do UNIFOR/MG neste ano de 2017, o que ainda será testado em
futuras pesquisas onde poderá ser uma resposta positiva aos anseios tratados como resultados
satisfatórios entre aplicação da teoria na prática projetual com qualidade formal arquitetônica.
Acredita-se que será construída nos alunos, desde o início do curso, uma mentalidade voltada
para a aplicação do conteúdo teórico no que se refere à história da arquitetura, materiais,
estrutura, conforto ambiental e manipulação de softwares para modelagem plástica como
variáveis ativas e atuantes na concepção de uma arquitetura completa.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao UNIFOR/MG, à coordenação do curso de Arquitetura e Urbanismo e aos
alunos do (atual) 9° período pelo incentivo e colaboração na realização desse trabalho.
REFERÊNCIAS
ABNT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e documentação -
Referências - Elaboração. Rio de Janeiro, 2002.
DI PIETRO, J. E. ; DI PIETRO, J. E. F. O papel do professor no ensino de estruturas das edificações. In:
Cobenge2004, 2004, Brasilia. Anais... Brasília: UNB, 2004.
GALVÃO, F. M. A concepção estrutural como expressão plástica: um olhar tectônico sobre
arquitetura em madeira. 2009. Dissertação (Mestrado em Conforto no Ambiente Construído; Forma
Urbana e Habitação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2009.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
RESUMO
Diversos autores (como REBELLO, 2000) defendem que a concepção estrutural é papel do
profissional que cria a Arquitetura e tem significativa importância no desenvolvimento do projeto
arquitetônico. Este trabalho apresenta parte dos resultados da dissertação desenvolvida no
Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (PPGAU/UFRN), tendo como questão central o exercício da concepção estrutural integrada ao
processo de aprendizagem do projeto de edifícios, em nível de graduação, com estudo de caso em
duas disciplinas de Projeto de Arquitetura: na UFRN e na UFPE. O foco, no entanto, será a análise da
disciplina de Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo 4 da UFPE (2015.2) que tem como
proposta principal o incentivo à verticalização de áreas urbanas. A análise foi organizada em cinco
etapas: a avaliação do Plano de Curso, a observação presencial das atividades da disciplina, a
aplicação de questionários aos alunos e, em seguida, aos professores e a análise dos projetos
desenvolvidos ao final do semestre. Foi possível verificar certa diminuição do afastamento da
matéria “Estrutura” e do conhecimento das propriedades estruturais das demais disciplinas, quando
houve o incentivo dos professores de projeto à pesquisa dos componentes estruturais e outros
sistemas construtivos. Quanto ao processo de projeto dos alunos, observou-se maior cuidado com a
inserção do programa na planta baixa e a supervalorização dos softwares de representação gráfica.
Concluiu-se que há necessidade de uma melhor interação entre as disciplinas de estrutura e de
projeto no âmbito do ateliê.
Palavras-chave: Concepção estrutural; Ensino de projeto; Relação arquitetura-estrutura.
ABSTRACT
Several authors (as REBELLO, 2000) believe that structural design is a role for professionals who
creates the architecture and it has an important place in the process design. This work shows a part
of a dissertation presented in the Architecture and Urbanism Post Graduation Program at the Federal
University of Rio Grande do Norte (PPGAU/UFRN). Its main issue is the exercise of the structural
design integrated to the learning process of building projects in under graduation level having as case
studies two courses of Architectural Design at UFRN e UFPE. Although the focus in this work will be
the analysis of that one of UFPE: Architecture, Urbanism and Landscaping Project 4 (2015.2) that has
as main proposal the incitement of vertical projects in urban areas. The analysis was composed of five
steps: the course plan evaluation, the student’s survey application, then, the professor’s survey and,
finally, the analysis of the projects developed at the end of the semester. First, was possible to identify
a certain decrease in the distance between the “Structure” subject and the structural properties of the
other courses when there was the incitement to research structural components and others
construction systems. Concerning the students design process, the observation reveals a major care
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
about the spaces required in the floor plans and the graphics software programs overvaluation. In
summary, there is need of a better interaction between the structure and design courses.
Keywords: Structural design; Design education; Relationship architecture/structure.
351 1. INTRODUÇÃO
Segundo Peter Cook, as “necessidades práticas” são imprescindíveis para que o desafio de
arquitetura possa começar. Cook desenvolve a estratégia estrutural de uma edificação a partir
do projeto dos “elementos principais”, o que significa adotar um conceito estrutural, como o
uso de uma espinha estrutural, que pode ser uma parede ou um corredor apoiado de pilares.
Do ponto de vista de integração da estrutura com a função dos espaços (não tratada de forma
explícita), pode-se pressupor que a necessidade dos espaços funcionais foi atendida durante o
desenvolvimento do conceito estrutural. Então, o arquiteto volta sua atenção para os
“elementos secundários”, ou seja, os componentes estruturais individuais, como vigas e
pilares. Porém, antes de decidir como projetá-los, ele deve se perguntar que qualidades
estéticas e simbólicas deseja imprimir ao edifício (COOK, 1996 apud CHARLESON, 2005, p.104).
Acredita-se que as mensagens estruturais derivam do nosso conhecimento intuitivo do
comportamento estrutural, entendimento que se origina tanto da experiência física
cotidiana como da percepção das formas naturais estruturais. A percepção da natureza foi
fundamental para a ampliação do entendimento intuitivo das estruturas feitas pelo homem;
por isso, a perplexidade, quando se observa uma coluna cretense (mais larga na base) e uma
noção de estrutura correta quando se observa uma coluna dórica grega (SALVADORI, 1980).
Para Simon Unwin (2013), a relação entre o espaço e a estrutura nem sempre é de forma
direta, porquanto está sujeita a diferentes abordagens. Assim, depois de definida a
estratégia estrutural, ela pode influenciar a organização do espaço, sendo assim capaz de
interferir na organização espacial da arquitetura e, consequentemente, no espaço de vida
que ela acomoda (UNWIN, 2013).
Tendo em vista a relação entre estrutura e arquitetura, desenvolveu-se uma pequisa de
mestrado no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (PPGAU/UFRN). A pesquisa teve como foco o exercício da
concepção estrutural no âmbito da formação do arquiteto, em nível de graduação, mais
precisamente no ateliê de projetos de edifícios em duas instituições de ensico superior do
Nordeste (UFRN e UFPE). Este artigo apresenta a análise da disciplina de Projeto de
Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo 4 da Universidade Federal de Pernambuco. O
acompanhamento da disciplina se deu durante o ano de 2015 e englobou o primeiro
semestre com os estudos da área de intervenção e propostas preliminares, e o segundo
semestre referente ao desenvolvimento do projeto de cada aluno. Os resultados aqui
apresentados são relativos ao segundo semestre.
A análise da disciplina foi organizada em cinco etapas: a avaliação do Plano de Curso, a
observação presencial das atividades da disciplina, a aplicação de questionários aos alunos e
aos professores, em seguida, a análise dos projetos desenvolvidos pelos discentes ao final do
semestre letivo, além da análise geral da disciplina. O artigo inicia discutindo de que forma a
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
o visual e a lógica estrutural. Esta categoria como um todo está expressa em muitos
edifícios, onde a estrutura exposta foi dominada pelos interesses visuais, colocando em
cheque os aspectos técnicos;
3) Na “estrutura como arquitetura”, o autor explora três subcategorias: a arquitetura de
grandes vãos, nas quais as questões técnicas serão levadas a um nível tão alto na escala
353
de prioridades dos arquitetos que elas afetarão significativamente o tratamento estético
do prédio; os arranha-céus, que dependem realmente de uma visão técnica, porquanto
geram problemas estruturais a serem resolvidos como a questão da sustentação
adequada da verticalização e, por conseguinte, as cargas horizontais ocasionadas
principalmente pelo vento, além da necessidade de acomodar os esforços no sentido
horizontal em oposição às cargas gravitacionais tem uma grande influência na estética de
edifícios muito altos; e por fim, uma terceira categoria inclui os edifícios portáteis, pois a
portabilidade requer não só que o prédio seja leve, mas também desmontável. Nesses
casos, quase toda a forma do projeto é determinada pelo critério técnico;
4) A “estrutura como um gerador de formas“ consiste em projetos nos quais a estrutura é
reconhecida como forte influência da forma do edifício, e, mesmo assim, nem sempre ela
é aparente. De fato, a arquitetura se acomoda na configuração dos elementos mais
“sensíveis” estruturalmente, o que a torna bastante positiva, já que o gerador de
possibilidades de formas estruturais é usado para contribuir com o estilo arquitetônico;
5) Por outro lado, na “estrutura aceita”, a forma adotada é sensível estruturalmente,
porém, o interesse arquitetônico não está intimamente relacionado com a função
estrutural. Essa é a mais próxima relação entre a arquitetura e a estrutura desde o
Renascimento, e muitas obras contemporâneas podem ser tomadas como exemplos,
como no caso da primeira sede de escritórios do IBM em Coshan na Inglaterra (1973)
projetada pela Foster Associates. Nela a estrutura é menos determinante sobre a
arquitetura, já que a estrutura econômica e leve foi construída rapidamente e teve um
papel significante no resultado final do edifício (MACDONALD, 2001);
6) A partir do desenvolvimento das tecnologias das estruturas do aço e do concreto
armado tem sido possível conceber edifícios, ao menos na primeira fase de projeto, sem
considerar, no entanto, como ele se suportará ou será construído. Isso se deu porque as
propriedades desses materiais tiveram um progresso intenso e praticamente atendem a
qualquer formato da composição arquitetônica, da mesma maneira, eles se tornaram
economicamente acessíveis: “Esta liberdade representa o que uma significante e contínua
contribuição do conhecimento da tecnologia das estruturas tem feito para a arquitetura,
libertando os arquitetos das restrições impostas pelos apoios dos prédios de alvenaria e
madeira” (MACDONALD, 2001, p. 109).
A introdução do computador no final dos anos 1990, inicialmente como uma ferramenta
de análise estrutural e, em seguida, como uma ajuda na concepção arquitetônica,
possibilitando formas cada vez mais complexas, deu aos arquitetos mais uma liberdade nos
quesitos formais da concepção e da representação da arquitetura. Exemplos como a
extensão do edifício do Victoria and Albert Museum em Londres, do arquiteto Daniel
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1
“Estruturas de forma-ativa: são aquelas que atuam pela sua forma material e são descritas como sistemas
cuja forma é o caminho das forças expressas na matéria. Esta família está composta pelas Estruturas de tração
e se subdividem em Estruturas de tração pura, Estruturas pneumáticas e em Estruturas de compressão
dominante” (DIEZ, 2012, p. 12).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
composição gráfica das fachadas. E, por último, a fase de lançamento das estruturas, tarefa
normalmente exclusiva do engenheiro calculista, onde se deve localizar a estrutura entre as
paredes previamente definidas (LIMA, 2003).
Diante dessas práticas recorrentes, a aprendizagem de alunos imersos em novos sistemas
estruturais e novas abordagens arquitetônicas se torna um desafio, principalmente quanto à
355
concepção estrutural. O processo de projeto arquitetônico, que já envolve uma vasta rede
de condicionantes, deve também estar vinculado à concepção estrutural e isso deve ser
praticado desde a escola. Nesse sentido, realizou-se um estudo de caso em uma disciplina de
Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo da UFPE, considerando este olhar sobre a
concepção estrutural integrada à criação de espaços.
4. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
A dinâmica dos componentes curriculares do Perfil Curricular 01112 de 2010, do Curso de
Arquitetura e Urbanismo da UFPE, é estruturada em módulos intensivos a cada semestre. As
disciplinas de Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo acontecem em quatro módulos,
cada um deles em semanas dedicadas ao desenvolvimento do projeto arquitetônico.
A disciplina de Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo 4 situa-se no 4º período
dessa estrutura curricular e é uma sequência do tema do segundo ano: Renovação. A área
urbana escolhida para o ano de 2015 foi o bairro da Boa Vista, no centro da cidade do Recife,
estudado e aprofundado no primeiro semestre do mesmo ano. Assim, os alunos estudaram
neste período a área definida pelos professores, diagnosticando pontos positivos e
negativos. No segundo semestre letivo, foram determinadas duas quadras para
desenvolvimento dos projetos, seguindo um conceito estabelecido anteriormente, cada
grupo definiu o agenciamento final das quadras e dividiu os projetos e terrenos a serem
elaborados por cada integrante da equipe.
Segundo o Relatório do perfil Curricular da UFPE, esta disciplina não possui pré-requisitos
e entende-se que os denominados “Segno” e o “Coda” são disciplinas co-requisitos de
Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo 4. Ela tem uma carga horária teórica de 15h
e prática de 60, perfazendo um total 75h.
O plano de curso da disciplina em si apresenta as datas destas duas avaliações como parte
de sua dinâmica.
Em primeiro lugar, é apresentada a ementa da disciplina: “A disciplina tem como tema
central a renovação de objetos arquitetônicos, urbanísticos e paisagísticos com ênfase na
substituição de estruturas existentes para atender às demandas contemporâneas de uso e sua
356
sustentabilidade de empreendimentos”. O objetivo principal se mostra semelhante ao conteúdo
da ementa: “Desenvolver as habilidades e competências dos alunos para a elaboração de
projetos de renovação dos objetos arquitetônicos, paisagísticos e urbanísticos sendo observados
os impactos urbanísticos e ambientais”. Assim, a intenção principal do componente curricular é
aprimorar os alunos no conhecimento de projetos em três grandes eixos.
No item Metodologia, o plano de curso deixa claro que a disciplina foi organizada em
quatro módulos (semanas) de projeto e dois de avaliação. Apresenta a divisão dos dois
primeiros módulos, sendo os dois primeiros dias de cada semana dedicados a aulas e
exercícios em forma de esboços sobre o conteúdo ministrado. Os três outros dias foram
planejados para a aplicação deste conteúdo nos projetos individuais e coletivos. Para a
segunda semana, estava planejada a escolha dos projetos a serem desenvolvidos, contando
com a integração das soluções estruturais, o dimensionamento do programa proposto e
soluções em planta do térreo, prevendo também a articulação entre os projetos na mesma
quadra. Para as duas últimas semanas, foi programado o tempo de desenvolvimento dos
projetos, que deveriam ser apresentados nas escalas de 1/100 e 1/50. Nessa parte, ainda são
indicados os limites das áreas urbanas a serem estudadas e onde os alunos farão uma
proposta de intervenção de renovação.
A bibliografia básica conta com quatro livros, dos quais se pode elencar dois de Francis
Ching, “Técnicas construtivas ilustradas” e “Arquitetura: forma, espaço e ordem”. A
bibliografia complementar apresenta doze títulos, dentre eles, onze são referentes ao
conteúdo de urbanismo, paisagismo e um relacionado a estruturas (“Sistemas estruturais”
de Heino Engel). Conta também com a legislação e instrumentos normativos necessários,
como a Lei de Uso e Ocupação do Solo do Município do Recife e a Lei de Edificações do
Município de Recife. Essa bibliografia parece geral, no sentido que abrange vários conteúdos
para a elaboração de um projeto. Porém, como a metodologia de ensino induz os alunos a
escolherem quase todos os aspectos dos projetos, os incentivando também a pesquisarem
mais, outros livros foram sendo inseridos pelos alunos e pelos professores para a consulta
durante o semestre e alguns dos indicados na bibliografia não foram consultados.
O plano de curso conta também com o cronograma geral da disciplina, no qual estão
inseridas as datas do SEGNO e do CODA. Esse cronograma apresenta os conteúdos das aulas
das duas semanas iniciais, a primeira com apresentação dos trabalhos dos alunos do
semestre anterior e uma aula sobre espaços livres públicos. A segunda semana contou com
as aulas sobre os seguintes temas: “Partido Arquitetônico” e “Lançamento da estrutura”. O
SEGNO como indicado no cronograma, aconteceu na semana anterior ao último módulo da
disciplina e o CODA, duas semanas após o término deste. Assim, a disciplina seguiu o
cronograma, tendo início no dia 8 de setembro e término no dia 16 de dezembro.
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turma (51) requer um maior número de docentes, sendo quatro professores de áreas
diferentes (desenho urbano, paisagismo e projeto).
A dinâmica da disciplina de Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo 4 da UFPE,
como explicado anteriormente, se dá em quatro módulos em um semestre. Estes módulos
acontecem em semanas intensivas de desenvolvimento do projeto. Assim, a observação da
358
disciplina será também dividida em quatro fases, considerando o propósito de cada semana.
Na primeira semana, o objetivo principal foi repensar a proposta de acordo com a
avaliação do CODA, considerando o desprendimento do volume proposto anteriormente
para a adaptação do programa e das questões construtivas. Assim, os alunos desenvolveram
o programa de necessidades de cada projeto, levando em conta a área de cada espaço e o
total de ocupação do solo dentro de cada quadra. Também foram repensados o estudo de
fluxos de cada quadra objeto de intervenção e a inserção das massas no contexto urbano. A
utilização da maquete geral se deu mais no 3º período e na primeira semana de Projeto 4.
O incentivo do desenho à mão livre pelos professores ficou claro desde o início da
disciplina, mas também o desenho em escala foi considerado importante, e foi cobrado
escalas em 1:200 e 1:100 (“quanto mais aumentar a escala mais o desenho vai fazer
perguntas”). Segundo um dos professores, o desprendimento do plano de massa
estabelecido no período anterior era muito importante. Para ele, “a forma não vem a priori;
ela vem com o desenvolvimento do projeto”. Era então necessário sair do estágio
especulativo para um estágio mais objetivo, e resolver os diversos problemas de projeto.
Ainda na primeira semana, houve uma aula com os temas: A concepção estrutural e a
estrutura da edificação, na qual foram citadas várias obras e sistemas construtivos diferentes
e com diversos materiais de construção. Foram discutidos especialmente o partido da
solução estrutural e o planejamento da construção. Alguns livros foram levados para a sala
de aula, tais como: “Bases para o projeto estrutural” de Antônio Carlos Vasconcelos, “O
projeto estrutural na arquitetura” de Glória Diez e “Sistemas estruturais ilustrados” de
Francis Ching. O professor da disciplina Tectônica 4 estava presente na sala de aula.
Já na segunda semana, o objetivo principal era a definição prévia do volume e da
estrutura no contexto geral do trabalho em grupo e de acordo com o programa de
necessidades. Alguns alunos já identificavam os pontos de apoio, enquanto outros
começaram pela definição da planta baixa e da volumetria. Alguns grupos apresentaram
maquetes do trabalho na segunda semana de Projeto de Arquitetura, Paisagismo e
Urbanismo 4. O incentivo para desenhar os Cortes no processo de projeto foi importante
para o entendimento da estrutura dentro do edifício. Nestes casos, quase sempre o
professor esboçava o desenho do Corte para explicar junções e materiais da construção.
Em relação ao processo de projeto dos alunos, foi observado que a maior parte começou a
desenvolver o projeto pela planta baixa. No entanto, durante os assessoramentos, quando eram
cobrados cortes e perspectivas (professores em geral desenhavam junto com o aluno), muitos
discentes mudaram de estratégia projetual, avançando o desenvolvimento de outros aspectos.
Ao analisar a fase de desenvolvimento dos projetos, pode-se observar que a maioria não
levou em consideração a concepção estrutural e os sistemas construtivos desde sua fase
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
inicial. Seguiu-se primeiro pela planta baixa e, só após algumas orientações dos professores
(tais como: “Veja a solução estrutural necessária para criar o espaço que você quer”), alguns
alunos passaram a pensar melhor na escolha da estrutura e no posicionamento dos pilares,
lajes e vigas.
Em alguns assessoramentos, foi cobrada a modulação da estrutura, especialmente nos
359
casos em que dois alunos compartilhavam e desenvolviam um projeto (blocos
independentes ou articulados). Foi cobrada também a representação da estrutura no
projeto arquitetônico e nos detalhes.
Os alunos apresentaram no SEGNO seus trabalhos em slides e por equipe. Depois de cada
apresentação, foram feitos comentários a respeito do projeto de cada aluno. Foram dois dias
de apresentações, sendo cinco equipes por dia, processo que contou com a participação de
dois dos professores indicados no Plano de Curso. As avaliações foram relacionadas com a
formatação da apresentação, a integração do conceito estabelecido pelo grupo, questões de
conforto térmico e acústico, aspectos estruturais e representação técnica.
Na quarta semana, os professores decidiram avaliar os trabalhos do SEGNO em conjunto
com todos da turma, apresentando alguns trabalhos que precisavam de mais atenção. O que
ocasionou a despreocupação dos alunos que não tiveram seus trabalhos apresentados e, em
virtude também do tempo, não modificaram os projetos a fim de aprimorá-los. Neste
módulo, os professores também ministraram aulas sobre detalhes construtivos, a exemplo
da caixilharia e detalhes das cobertas, quase sempre levantando elementos já trabalhados
nos projetos dos alunos. Neste módulo, foi constatada a dúvida dos alunos em relação ao
dimensionamento da estrutura, assim como a dificuldade de escolha do material
construtivo. Averiguou-se que alguns alunos não haviam pensado na estrutura até aquele
momento, porém, percebeu-se também que estes alunos não compareciam aos
assessoramentos com muita frequência.
No CODA, ficou definido, especialmente por conta dos trabalhos apresentados no
SEGNO, que os alunos iriam apresentar os projetos também em slides. Foram duas manhãs
de apresentações e uma de entrega/organização das pranchas impressas e conclusão da
disciplina e do ano letivo. O CODA contou apenas com os professores da disciplina, os
outros professores indicados pelo Plano de Curso não compareceram. Os professores
definiram outra forma de avaliação: sem comentários depois das apresentações. A maior
parte dos alunos entregou os projetos impressos no último dia.
Por fim, quanto aos projetos apresentados no CODA, alguns alunos desenvolveram
esquemas da estrutura por meio de modelagem 3D. Foi observado que nesta disciplina a
escolha do material construtivo era livre, assim, alguns alunos optaram pelo concreto
armado e outros pela estrutura metálica. Pelo fato dos alunos estarem cursando a segunda
disciplina de projeto, foi possível perceber uma falta de confiança na definição de detalhes e
materiais construtivos no projeto, o que pode ser ocasionado pela falta de experiência em
projeto de arquitetura e também por não terem cursado nenhuma disciplina de cálculo até
então. Por outro lado, apesar das dificuldades, pode-se observar a importância da
orientação e da cobrança dos docentes quanto às definições da estrutura do projeto.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
analogias como o “esqueleto” ou a “espinha dorsal” do edifício e vários alunos disseram ser
ela responsável pela sustentação, o que os “mantém em pé”. Três deles comentaram sobre
a distribuição de cargas nos elementos do conjunto estrutural.
Uma parcela dos alunos (4) que responderam ao questionário compreende a relevância
da estrutura no processo de projeto: "É a base da construção, a parte que sustenta, deixa
361
em pé, estrutura". Outro aluno respondeu: "A estrutura serve como elemento de
sustentação para o edifício e influencia diretamente na concepção formal e espacial (na
determinação dos vãos e alturas)”.
Em relação aos resultados dos questionários dos professores2, pôde-se observar que um
deles acredita que o momento da concepção estrutural dos alunos foi apenas na fase final
de representação. Comentou ainda que os alunos não tinham todos os conhecimentos das
possibilidades estruturais do sistema estrutural escolhido. Ao avaliar o resultado final dos
projetos dos alunos, em termos da concepção estrutural, um dos professores afirmou ter
sido “razoável”. De acordo com seu discurso, seria necessária uma maior integração da
disciplina de tectônica no dia-a-dia da disciplina de Projeto. Para ele, os projetos dos alunos
podem ser considerados exequíveis, porém, com uma melhor leitura do mercado da
construção e das tecnologias disponíveis em função das questões de logística e da instalação
do canteiro de obras. Quando questionado sobre as dúvidas dos alunos, todas as opções
foram marcadas. O professor indicou como dúvida principal dos alunos a escolha e decisão
do sistema construtivo do projeto. Para ele: “Arquitetura é construção: o sistema
construtivo é também uma decisão cultural, sua escolha técnica e adequação à solução
torna a estrutura vital/fundamental na concepção”.
Segundo outro professor da disciplina, os alunos levaram a estrutura em consideração
desde a fase inicial do projeto, porém, apenas por recomendação dos docentes. Em seu
discurso, ele afirma que a estrutura tem influência parcial na forma do edifício, pois formas
distintas podem ser geradas por sistemas estruturais idênticos e vice-versa; entretanto, a
forma de um edifício e sua estrutura estão profundamente relacionadas. Quanto ao
conhecimento dos alunos das possibilidades estruturais, o professor ainda comentou que
não era possível generalizar, já que alguns alunos compreendiam o comportamento de
determinados sistemas estruturais propostos, enquanto outros não conseguiram entender o
potencial de certos materiais construtivos. De modo geral, o enfrentamento de novos
problemas de projetos pode oferecer a oportunidade de suprir determinadas deficiências.
Quanto à utilização de outro material para alguns projetos, a escolha entre o concreto
armado e o aço (considerando ambos com capacidade de suprir o sistema trilítico) foi
tomada segundo condições específicas definidas por cada estudante, a exemplo da rapidez
da construção, das facilidades de montagem e do peso. Na sua avaliação, tendo em vista a
concepção estrutural, o resultado dos projetos dos alunos foi considerado “Bom”. Como
informado, nem todos os alunos conseguiram associar o problema enfrentado, levando em
2Três dos quatro professores de projeto responderam ao questionário. Apenas o professor de desenho urbano não nos deu
retorno.
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363
Fonte: Projeto dos alunos do 4º período da disciplina de Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo 4
do semestre 2015.2 do CAU/UFPE. Modificado pela autora.
Fonte: Projeto dos alunos do 4º período da disciplina de Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo 4
do semestre 2015.2 do CAU/UFPE. Modificado pela autora.
364
Fonte: Projeto dos alunos do 4º período da disciplina de Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo 4
do semestre 2015.2 do CAU/UFPE. Modificado pela autora.
Fonte: Projetos dos alunos do 4º período da disciplina de Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo 4
do semestre 2015.2 do CAU/UFPE. Modificado pela autora.
O projeto definido como estrutura como arquitetura (Figura 8) foi baseado em duas
principais características determinadas por MacDonald (2001). A primeira é que o projeto foi
elaborado seguindo uma visão mais técnica da estrutura. Em segundo lugar, de modo geral,
esse tipo de relação entre a arquitetura e a estrutura geram problemas estruturais a serem
resolvidos. A evolução do projeto mostra que no seu desenvolvimento houve uma resolução
da estrutura e certa “explosão” das unidades em torno de um eixo central, provocando um
problema estrutural a ser resolvido. Assim, foram feitos vários estudos sobre as
possibilidades estruturais do edifício, chegando a um nível exagerado da distância do eixo
central, o qual teve que ser repensado para o resultado final da disciplina.
Fonte: Projeto dos alunos do 4º período da disciplina de Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo 4
do semestre 2015.2 do CAU/UFPE. Modificado pela autora.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
algum tipo de sistema estrutural, através também de exemplos vistos na própria cidade. Como
o professor argumentou, essa também é uma escolha de cunho cultural.
Em um dos módulos, foi possível observar outras dúvidas dos alunos em relação ao
dimensionamento da estrutura e à dificuldade de escolha do material construtivo, o que
está de acordo com o discurso de um dos professores. Os resultados dos questionários,
366
junto com a observação da disciplina, indicaram várias dúvidas dos alunos em relação ao
pré-dimensionamento dos sistemas estruturais, o que é respaldado pela análise dos projetos
finais da disciplina. Nesta análise, foi identificado que alguns projetos mostraram dimensões
insuficientes para os edifícios muito altos.
Na avaliação dos discentes em relação aos próprios trabalhos, levando em consideração a
concepção estrutural, metade dos alunos afirmou ter sido “ruim” ou “razoável”, o que indica
uma postura crítica dos alunos em relação ao processo de projeto integrado à estrutura, em
oposição às respostas dos professores, que foram “bom” e “razoável”.
De acordo com a observação da disciplina e baseado na análise dos projetos
selecionados, constatou-se também que todos os projetos utilizaram uma modulação como
estimulado pelos professores. Isso constitui um ponto positivo no tocante à concepção
estrutural inserida no processo projetual dos componentes curriculares. Dentre os trabalhos
avaliados, metade foi classificada na categoria “estrutura como um gerador de formas”,
neste caso, indica o papel atuante da modulação estrutural na concepção do espaço
arquitetônico. Nenhum projeto foi considerado como “estrutura ignorada” e apenas três
foram definidos como “estrutura como ornamento”, uma vez que utilizaram a estrutura em
benefício da forma e em detrimento das características resistentes.
6. CONSIDERAÇÕES
O quadro do ensino de estruturas, traçado pela pesquisa de Saramago (2011), identificou
que a maioria das escolas ainda não incentiva o desenvolvimento da concepção estrutural.
Por outro lado, as referências do ensino de projeto mostraram uma preocupação recorrente
com o tipo de didática de estruturas para os cursos de arquitetura do Brasil (problemas
discutidos desde 1964).
Em primeiro lugar, vale ressaltar os limites do caso aqui analisado e esclarecer que, no
curso de AU da UFPE, a formação em estruturas é essencialmente qualitativa, especialmente
por conta das disciplinas de Tectônica, que são ministradas do primeiro ao oitavo período, nas
quais são apresentados os sistemas estruturais e projetos de referência. Segundo alguns
alunos, hoje só há a possiblidade de cursar as disciplinas de cálculo em componentes eletivos.
De acordo com os professores da UFPE, existem certas lógicas do ponto de vista da
concepção estrutural que auxiliam no desenvolvimento do trabalho. Essas lógicas são
estabelecidas conforme cada projeto. De modo geral, os projetos verticais seguem a lógica
da modulação em virtude da economia e da racionalização construtiva. Essa modulação não
precisa ser rígida e pode variar de acordo com o projeto.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
Aos professores e alunos que participaram da pesquisa na UFPE pela anuência,
contribuição e acolhimento, e por compartilharem suas experiências e opiniões. Ao CNPQ,
pelo fomento à pesquisa através da bolsa de mestrado concedida.
REFERÊNCIAS
CHARLESON, A. W. Structure as architecture: a sourcebook for architects and engineers. Oxford:
Architectural Press, 2005.
DIEZ, G. Projeto Estrutural na Arquitetura. Porto Alegre: Masquatro e Nobuko Editoras, v. 1, 2012.
LIMA, H. C. A estrutura arquitetônica como "entrada' do aprendizado de projeto. In: Lara, F.;
Marques, S. (org.) Projetar: pesafios e Conquistas da Pesquisa e do Ensino. Rio de Janeiro: Virtual
Científica, 2003. p. 85-93.
SALVADORI, M. Porque os edifícios ficam de pé. São Paulo: WMF Martins Fontes Ltda., 1980.
SANDAKER, B. N. On span and space - exploring structures in architecture. New York: Routledge,
2008.
UFPB, helioclima.br@gmail.com
RESUMO
Trata o presente relato de uma experiência didática acontecida em 2012, primeiro ano de
funcionamento do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNILA (Universidade Federal da Integração
Latino-Americana), quando ainda reinava uma total precariedade e escassez de recursos materiais,
ambientais e humanos, mínimos necessários para condução a bom termo de um processo de ensino-
aprendizagem inicial de arquitetura. Entretanto, tais circunstâncias, em princípio adversas, deram
ensejo a uma experiência rica em situações e questões para a reflexão sobre o ensino integrado de
forma, função e estrutura em arquitetura. O singular perfil socioeconômico e cultural dos alunos –
majoritariamente vindos de famílias de baixa renda, muitas vezes do campo, oriundos de diversos
países da América Latina, e neófitos em arquitetura –, aliado ao inusitado da extrema precariedade
de um curso em seus primeiros dias, sem um corpo de professores formado, nem projeto
pedagógico, permitiriam conduzir uma experiência didática isenta das “contaminações” que
fatalmente sofreria em situações “normais”. Essa condição didática-laboratorial única produziu um
material valioso para a reflexão sobre a importância da experiência tátil para o desenvolvimento das
aptidões cognitivas necessárias à integração da dimensão estrutural à concepção da arquitetura,
especialmente no início da formação do arquiteto; sobre os efeitos benéficos e maléficos das
ferramentas digitais nesse processo e sobre procedimentos didáticos apropriados; entre outros
pontos de interesse pedagógico neste campo.
Palavras-chave: Ensino de estruturas; Ensino de projeto; Ensino de arquitetura.
ABSTRACT
This paper reports on a didactic experience that took place in 2012, which was the first year of the
Architecture and Urbanism Course, at Federal University of Latin American Integration (UNILA). At
that time, there was great precariousness and scarcity of material, classrooms (atelier) as well as
insufficient human resources, which means that these minimal conditions reduced our ability to start
a successful teaching-learning process in architecture. However, such adverse circumstances, gave us
a chance to gain a rich experience bringing some reflective questions for design teaching, concerning
an integrated approach of form, function and structure. The particular socio-economic and cultural
status of the students – the majority of whom were from rural or suburban low-income families, and
neophytes in architecture and design technologies (this was their first contact with a professor of
architectural design). All this, combined with the unprecedented and extreme uncertainty of a
University in its earliest days, without even a pedagogical project of the course of Architecture, made
possible a didactic experience without any "contaminations". This unique pedagogical condition
produced valuable material to reflect on the importance of the tactile experience for a cognitive
development of the architectural conception, especially at the beginning of an architect's training and
concerning the conception of the structure.
Keywords: Architectural design teaching; Structural design teaching; Architectural teaching.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
A experiência didática de que trata o presente relato aconteceu em 2012, primeiro ano
de funcionamento do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNILA – Universidade Federal da
Integração Latino-Americana, situada em Foz do Iguaçu, na tríplice fronteira Brasil-Paraguai-
370 Argentina. Nesse momento inaugural do curso, reinava uma total precariedade e escassez
de recursos materiais, ambientais e humanos, mínimos necessários para condução a bom
termo de um processo de ensino-aprendizagem inicial de arquitetura.
Entretanto, tais circunstâncias, em princípio adversas, deram ensejo a uma experiência
rica em situações e questões para a reflexão sobre o ensino integrado de forma, função e
estrutura em arquitetura. O singular perfil socioeconômico e cultural dos alunos –
majoritariamente vindos de famílias de baixa renda, muitas vezes do campo, oriundos de
diversos países da América Latina, e neófitos em arquitetura e tecnologias de projeto (este
foi o seu primeiro contato com um professor arquiteto) –, aliado ao inusitado da extrema
precariedade já aludida, de um curso em seus primeiros dias, sem um corpo de professores
formado, nem projeto pedagógico, permitiriam conduzir uma experiência didática isenta das
“contaminações” que fatalmente sofreria em situações “normais”.
Essa condição didática-laboratorial única produziu um material valioso para aprofundar a
reflexão sobre a importância da experiência tátil para o desenvolvimento das aptidões
cognitivas necessárias à integração da dimensão estrutural à concepção da arquitetura,
especialmente no início da formação do arquiteto; sobre os efeitos benéficos e maléficos das
ferramentas digitais nesse processo e sobre procedimentos didáticos apropriados (seleção
de exercícios e sequenciamento, formação de repertórios referenciais, instrumentação
preliminar, etc.); entre outros pontos de interesse pedagógico neste campo.
A exposição se vale de amplo acervo fotográfico do material produzido, assim como das
situações de trabalho que são eloquentes das inferências e hipóteses que se pôde fazer, no
curso dos trabalhos e posteriormente a ele, e que vão desde aspectos relativos à trajetória e
ao perfil individual dos alunos (étnico, cultural, social), ao inesperado papel da precariedade
nesse processo. Não se trata, entretanto, de fazer apologia da precariedade, mas de refletir
sobre o papel pedagógico positivo que ela teve neste caso, seja como emuladora de uma
especial agregação e notável empenho dos estudantes, seja como condicionante do uso
obrigatório das mãos, já que não se contava com equipamentos auxiliares, mecânicos ou
digitais para o desenvolvimento dos trabalhos.
A disposição de trabalho e de solução de problemas, dadas a penúria e a adversidade,
levou-os a buscar soluções criativas que vão desde a criação de ferramentas e
equipamentos especiais, à resolução de problemas construtivos/estruturais específicos
com que se defrontavam – solução de sistemas, materiais, elementos, componentes,
encaixes, nós, etc. – no processo de criação de um objeto arquitetônico expressivo (belo) e
para atender a uma função específica.
Como introduzir todas essas variáveis, de forma integrada, na iniciação de neófitos em
projeto e construção? Essa é uma das questões que se pretende trazer ao debate, e
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
371
2. BREVE HISTÓRICO
A experiência do ateliê inaugural do Curso de Arquitetura da UNILA não está desvinculada
de precedentes. Por trás dela, estão trinta e cinco anos de atuação no ensino de projeto
(1977-2012), em diversas posições no fluxo curricular do Curso de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, adotando sempre a abordagem tectônica e
defendendo-a e aprimorando-a através de textos, experiências didáticas e reflexões teóricas
(vide COSTA LIMA, 2003).
Apesar dos resultados positivos de tais experiências, amplamente reconhecidos por alunos
e professores da instituição e de fora dela, seu alcance foi apenas pontual, praticamente
restrito ao âmbito daquelas disciplinas em que elas eventualmente ocorriam, com pouca ou
nenhuma continuidade em etapas e disciplinas posteriores, e com limitada repercussão sobre
a estrutura curricular e sobre os procedimentos didáticos adotados pelo curso.
Dentro de uma estrutura curricular convencional, compartimentada em disciplinas e não
em conteúdos curriculares – na contramão dos avanços feitos no campo pedagógico do
ensino de arquitetura no Brasil, consubstanciados nas recomendações contidas no
documento Perfis e Padrões de Qualidade (ABEA, 2012), e seguidamente corroboradas em
eventos como os PROJETAR e os próprios ENEEEA –, as chances de qualquer inovação
pedagógica se tornam limitadas.
No caso, apesar dos sucessos pontuais a comemorar, as frustrações se sucediam quando
se tratava de ampliar o alcance dessas inovações para todo o curso. Professores apegados a
suas disciplinas, a seus feudos, e poucos afeitos à inovação e à experimentação – porque
estas implicam em mais trabalho e, sobretudo, em trabalho coletivo – não se mostravam
dispostos a se expor aos riscos de se aventurar fora de suas zonas de conforto. Isto para não
falar de outras questões (convicções/escolas antagônicas de pensamento arquitetônico,
egos acadêmicos, déficit de qualificação individual e coletiva de professores, queda de
qualidade do ensino, banalização da profissão, etc.) que explicam os obstáculos à
consideração da forma e da estrutura, especialmente em arquitetura, como um fenômeno
único, inseparável, indissociável.
Nesse quadro, urgia experimentar os conhecimentos acumulados e as estratégias
didáticas desenvolvidas ao longo desses anos em uma situação didática/laboratorial livre das
contaminações e da inércia de uma estrutura curricular sedimentada. Naturalmente, este
seria o desenho de um curso novo, sem amarras com quaisquer tradições ou vícios, em uma
IES aberta à inovação pedagógica. Eis que surgiu a proposta de implantação de um Curso de
Arquitetura e Urbanismo na recém-criada Universidade Federal da Integração Latino-
Americana (UNILA) – um projeto inédito de universidade brasileira, com a missão de
fomentar a integração cultural, econômica, social e política dos países da América Latina, e
comprometida com a inovação pedagógica, tecnológica e epistemológica, onde, entre
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
pedagógico já em movimento. Se, por um lado, as condições gerais eram bem adversas e
precárias, por outro lado, pelas mesmas razões, abria-se um espaço para uma experiência de
ensino integrado de forma e estrutura, na qual se abordariam também, como não poderia
deixar de ser por se tratar do campo da arquitetura, de questões de escala, de função e de
373
linguagem e expressão cultural, em suas dimensões simbólicas e artísticas.
O risco de haver prejuízo para os estudantes era muito baixo. Caso a experiência não
tivesse êxito, de qualquer forma estava assegurado que os objetivos constantes das ementas
das disciplinas seriam atingidos, pois, em última análise, eles eram bem menos abrangentes
e complexos do que o pretendido.
Ao cabo de poucas semanas de atividades e exercícios preparatórios, os resultados
começaram a aparecer. A seguir, algumas imagens de trabalhos estudantis buscam ilustrar o
processo pedagógico que será comentado ao longo do texto, visando levantar questões
sobre métodos de ensino integrado de estruturas e projeto em escolas de arquitetura, que
merecem ser debatidas.
Cabe ressaltar que o que se busca debater aqui não é o ensino de estruturas em escolas
de arquitetura, mas um ensino de projeto que compreenda a estrutura como um manancial
de força expressiva da arquitetura, isto é, segundo uma perspectiva tectônica. Tectônica,
nesse caso, no sentido em que Kenneth Frampton, em seu Studies in Tectonic Culture
(FRAMPTON, 1995), usa o termo para significar uma poética da construção; uma dimensão
estética, e não meramente técnica, de apreciação e produção de estruturas arquitetônicas.
374
376
Fuller, Frei Otto, Candela, Calatrava, Dieste, Lelé, e muitos outros), iniciando assim um
processo de formação de repertório e de cultura tectônica, fundamentais para o
aprendizado de arquitetura e de projeto arquitetônico.
Este aspecto da experiência, entre outros, serviu de referência para a construção
377
posterior do Projeto Pedagógico do curso, em que se buscou integrar os conteúdos técnicos
com os conteúdos históricos, teóricos e artísticos, procurando romper com o isolamento
desses campos disciplinares, que se criou historicamente nos cursos de arquitetura, e que é
altamente prejudicial à formação do arquiteto – cuja competência profissional é, por sua
natureza transdisciplinar, um amálgama de conhecimentos e habilidades que compreendem
todos esses campos.
obras exemplares de uso criativo das mais diversas técnicas construtivas, sistemas e
materiais estruturais, e de indiscutível rigor tectônico, não só de arquitetos latino-
americanos (como Candela, Dieste, Lelé, Acayaba), mas também das arquiteturas dos povos
originais do território hoje chamado de América Latina, buscando identificar na tipologia de
378
Engel os sistemas estruturais e as estratégias construtivas por eles utilizados.
que confirmam o empenho e a motivação espontânea dessa geração quando se trata do uso
da informática. Uma aluna, dentre os mais motivados e empenhados estudantes no ateliê,
que tinha adquirido por iniciativa própria um razoável domínio da modelagem virtual,
propôs fazer um exercício (estruturas em dupla curvatura), usando esse meio na etapa de
379
concepção do objeto, e depois realizar a maquete física do objeto concebido. O resultado foi
bastante eloquente da distância que existe entre a produção da imagem virtual de um
objeto e sua materialização, especialmente quando não se tem a experiência anterior
necessária à imaginação de objetos de uma determinada natureza material (Figuras 10 e 11).
sensorial, entre mente e mundo, intermediada pela mão, imprescindível para qualquer ação
transformadora da materialidade, aí compreendida a produção da arquitetura.
Estes autores mostram que a mão, mais do que a visão, é a porta de entrada das
informações essenciais para a compreensão do mundo material e constitui o canal
380
privilegiado da aquisição e desenvolvimento das capacidades cognitivas necessárias à
transformação criativa do mundo real – que é, em última instância, a missão do arquiteto.
6. CONSIDERAÇÕES
Em que pesem as dificuldades e a precariedade de recursos que marcou esta experiência,
o ateliê inaugural do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNILA proporcionou um grau de
liberdade que permitiu uma ação de ensino/iniciação à concepção de estruturas
arquitetônicas em que foram mobilizados, de forma integrada, conhecimentos e estratégias
didáticas normalmente separados em disciplinas estanques nos currículos tradicionais dos
cursos de arquitetura, responsáveis por abordar, separadamente, noções de forma e
estruturas. Tal experiência revelou possibilidades e caminhos capazes de assegurar que o
ensino integrado de projeto e estruturas em escolas de arquitetura pode e deve ser
realizado desde o início do curso, para fomentar desde logo a compreensão da forma e da
estrutura como aspectos indissociáveis do objeto arquitetônico (Figura 12).
REFERÊNCIAS
ABEA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO DE ARQUITETURA. Perfis e Padrões de Qualidade. São
Paulo: ABEA, 2012.
COSTA LIMA, H. A estrutura arquitetônica como “entrada” do ensino de projeto. 2003. In: MARQUES,
S. e LARA, F. (Orgs.). Desafios e conquistas da pesquisa e do ensino de projeto. Rio de Janeiro: EVC,
2003. p.85-93.
ENGEL, H. Sistemas de Estructuras. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1997.
FRAMPTON, K. Studies in Tectonic Culture – the poetics of construction in nineteenth and twentieth
century architecture. Chicago: Graham Foundation for Advanced Studies in the Fine Arts/MIT, 1995.
PALLASMAA, J. The yes of the skin: architecture and senses. West Sussex: John Wiley & Sons, 2005.
PALLASMAA, J. The thinking hand: existential and embodied wisdom in architecture. West Sussex:
John Wiley & Sons, 2009.
SENNETT, R. The craftsman. New Haven; London: Yale University Press, 2008.
CORRELAÇÕES ENTRE METODOLOGIA PROFISSIONAL E ACADÊMICA NO
ENSINO DA TECNOLOGIA DA CONSTRUÇÃO
RESUMO
O presente trabalho apresenta os resultados parciais de uma pesquisa de doutorado e refere-se à
análise de diferentes processos metodológicos adotados tanto por arquitetos como engenheiros que
tiveram na experimentação científica o apoio necessário para a realização de suas obras,
identificando alguns profissionais que fizeram do contexto acadêmico uma extensão do seu trabalho.
Esta análise possibilitou averiguar os aspectos metodológicos passíveis de transferência para o
ensino, como o fato destes projetistas recorrerem à investigação física juntamente com a análise
teórica para a resolução dos problemas de ordem construtiva. Esta associação de meios torna-se
fundamental para o amadurecimento das ideias e aperfeiçoamento do projeto, pela possibilidade
dos dados fornecidos pelas ferramentas físicas serem tratados e interpretados por quem os
desenvolve sob a luz dos dados teóricos. Ao atuarem em diferentes momentos históricos,
consequentemente, com diferentes disponibilidades de tecnologias, estes projetistas revelam o
caráter atemporal do processo experimental. Este caminho em direção à inovação está permeado de
dificuldades de diferentes ordens, seja cultural, pela difícil aceitação; econômica, por envolver
processos onerosos desde pesquisas até à etapa de manutenção e, também, dificuldades de ordem
técnica, pela limitação de meios disponíveis para sua manipulação. Esta conjuntura de variáveis levou
muitos projetistas a direcionarem suas pesquisas para assuntos específicos, de maneira que
pudessem dar continuidade às suas investigações e alcançar algo inovador, revelando a importância
da existência do incentivo à formação de ambos profissionais: o generalista e o especialista.
Palavras-chave: Experimentação Construtiva; Ensino da Tecnologia; Associação de Meios.
ABSTRACT
This work presents the partial results of a doctoral research and refers to the analysis of different
methodological processes adopted either by architects or engineers, who had the necessary support
in scientific experimentation for the completion of their buildings, with the identification of
professionals who made the academic context an extension of their work. This analysis made it
possible to verify the potential methodological aspects that could be transferred to education, such as
the fact that these designers used physical research together with theoretical analysis to solve
building issues. This association of means becomes fundamental for the improvement of ideas and
the progress of the project, making it possible for the data provided by the physical tools to be
analyzed and interpreted by the ones who develop these tools based on theoretical data. As they act
in different historical moments, consequently, with different availabilities of technologies, these
designers reveal the dateless character of the experimental process. This path towards innovation is
interfered by difficulties of different types, either cultural or of difficult economical acceptance;
because it involves costly processes from research to the maintenance stage and also due to technical
difficulties, by limiting the means available for its use. This conjuncture of variables led many
designers to direct their research to specific subjects, so that they could continue their research and
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
achieve something innovative, revealing the importance of the existence of the incentive for the
education of both professionals: the generalist and the specialist.
Keywords: Building experimentation; Technology Education; Association of means.
383
1. INTRODUÇÃO
Em meio a diferentes contextos e momentos históricos, o uso da experimentação
construtiva foi um recurso importante ao longo do desenvolvimento projetual arquitetônico,
como auxílio ao enfrentamento de desafios técnicos inerentes ao projeto.
Para melhor compreensão sobre o uso deste recurso, é importante estabelecer
parâmetros que diferenciem metodologias projetuais que seguem a lógica construtiva em
relação àquelas que se apoiam à lógica experimental. No caso da lógica construtiva, os
aspectos relativos à materialidade são solucionados com base em dados já validados e
amplamente divulgados. E, por mais que sejam realizadas releituras das soluções
construtivas a partir de novas aplicações, a pesquisa experimental torna-se, nestes casos,
desnecessária ao longo do processo. Soma-se, a este entendimento, que o conceito de lógica
construtiva seja o conjunto de conhecimentos mínimos esperados (envolvendo materiais,
técnicas e estruturas) para que o projetista possa atuar de forma responsável ao longo de
sua vida profissional sendo, geralmente, adquiridos ao longo de sua formação acadêmica e
aperfeiçoados durante sua atuação profissional.
Em relação à metodologia projetual apoiada à lógica experimental, é requerida ao longo
de um projeto sem precedentes, quando a ciência ou os procedimentos usuais não são
suficientes para gerar a confiança necessária para o início da construção, nestes casos, os
projetistas são inspirados com frequência a realizar estudos experimentais específicos,
geralmente envolvendo maquetes físicas e até mesmo protótipos para ampliar a ciência da
engenharia existente. O objetivo destas pesquisas, segundo Addis (2009), não seria
desenvolver um método de projeto universal, mas sim, compreender uma situação
particular a resolver um problema específico.
Ainda segundo este autor, embora tenha sido a partir da década de 1920 que os testes
com maquetes em escala tenham sido desenvolvidos por inúmeros centros de pesquisa,
inclusive universidades, os testes tornaram-se um método comprovado na comunidade de
pesquisa da engenharia por volta da década de 1950, quando os projetistas deixaram de
analisar os materiais como artesãos e passaram a fazê-los como cientistas. Diante desta
disponibilidade de recursos, quando o problema construtivo não podia ser esclarecido com
base na experiência, os projetistas recorriam à experimentação física juntamente com a
análise teórica. Esta associação de meios é defendida por Pippard (1947), ao relatar ser
fundamental para o amadurecimento das ideias e aperfeiçoamento do projeto, que os dados
fornecidos pelas ferramentas físicas sejam tratados e interpretados por quem as desenvolve
sob a luz dos dados teóricos, principalmente quando o desenho não fornece a dimensão real
do problema a ser enfrentado, justificando a importância dos protótipos serem adotados nas
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
a b c
Fonte: Nervi (1965).
Assim como Luigi Nervi, Eduardo Torroja durante sua carreira apoiou-se no processo
intuitivo experimental para aperfeiçoar os estudos de construções de base cimentícia,
1
Hardy Cross foi professor de engenharia civil e engenharia estrutural na Universidade de Illinois (1930-1937) e
Yale (1937-1951), criador do famoso método matemático interativo de cálculo de reações estruturais
conhecido como método de Hardy-Cross, fundamental para simplificação de cálculos estruturais.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
c
a b c
Fonte: Addis (2009).
a b c
Fonte: Carvalho (2004).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Segundo o engenheiro uruguaio, para que a arquitetura possa ser realmente construída,
os materiais não devem ser usados sem um profundo respeito à sua essência e,
consequentemente, às suas possibilidades. Impulsionado pelas condicionantes contextuais e
técnicas, Dieste encontra-se solitário neste universo dos grandes projetistas adeptos do
386
processo experimental, pois a tendência dos projetistas da época era associar o futuro da
Ciência da Construção à descoberta de novos materiais. No caso de Félix Candela, embora
também tenha sido grande estudioso dos materiais cimentícios, principalmente das cascas
sinclásticas e anticlásticas, foi grande adepto dos processos investigativos com caráter
empírico, não aderindo ao cientificismo acadêmico de Nervi e Torroja, o que lhe rendeu
diversas críticas na época em que atuou.
Sobre o processo adotado pelo projetista, em Candela (1962), observa-se que,
inicialmente, o mesmo procurava imitar os “inovadores” mestres da História da Arquitetura,
convencendo-se de que o caminho mais adequado para a capacitação no desenho e na
construção de cascas de concreto armado seria a experimentação direta, mediante a
construção de modelos, baseando-se no conhecimento das imutáveis Leis da Natureza
(Estática, Mecânica e Resistência dos Materiais).
De acordo com Cassinelo (2010), foi neste processo autodidata que construiu sua
primeira casca experimental chamada “Bóveda Ctesiphon” de San Bartolo de Naucalpan, no
México (Figura 4), cuja geometria correspondia a um arco funicular de diretriz catenária.
Posteriormente, a cada nova variação de geometria, valia-se da construção de cascas
experimentais para comprovar seu funcionamento estrutural e compreender as formas de
otimização de cada processo construtivo. Também em caráter experimental, construiu uma
lâmina com geometria conóide na Fábrica de Fernández em San Bartolo no México (1950) e
o protótipo de “Paraguas”, em Las Aduanas, também no México (1953).
Figura 4 – a) Bóveda Ctesiphon en San Bartolo, 1949; b) Conoide en la Fábrica de Fernández, 1950; c)
Paraguas experimental, en Las Aduanas, 1953.
a b c
Fonte: Cassinello et.al. (2010).
Embora seus maiores esforços tenham se direcionado ao estudo das cascas cimentícias,
Candela buscou aperfeiçoar suas criações em direção à economia e leveza. Segundo Almagro
(2013), estas estruturas se destacam no contexto histórico da arquitetura e engenharia
desta época, mas paulatinamente as estruturas laminares de concreto armado dão espaço a
novos conceitos de estruturas espaciais formadas por elementos lineares.
Sensível a estas mudanças, Emilio Perez Piñero destaca-se em suas investigações a partir
destas novas possibilidades estruturais. Considerado um dos mais precoces gênios da concepção
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
estrutural, Perez Piñero, deixou um brilhante e inovador legado sobre as investigações das
estruturas reticuladas (Figura 5). E, devido ao caráter visionário de suas criações, estas podem
ser consideradas como precursoras da arquitetura cinética, cujos mecanismos são muito
estudados atualmente.
387
A Figura 5a traz uma das imagens do primeiro projeto que Emilio Perez Piñero desenvolveu
explorando estes mecanismos dinâmicos a partir da adoção de modelos físicos. Este projeto foi
submetido no concurso para estudantes no VI UIA de 1961 em Londres, recebendo o primeiro
lugar pela banca de avaliadores composta por Buckminster Fuller, Ove Arup e Félix Candela. Este
primeiro contato com Felix Candela, rendeu-lhe diversas oportunidades de trabalho e futuras
parcerias de pesquisa.
a b c
Fonte: <www.chqs.net/archivos/informes/archivos_1_040310_la +estructura+veloz.pdf>.
388
a a c
b
Fontes: a) e b) Drell (1976); c) <http://www.dn.pt/galerias/fotos/?content_id=4448109&seccao=Artes>.
A importância de seu trabalho não está na perfeição do resultado de suas obras, mas sim
nos métodos e processos mentais que viabilizaram suas realizações, permanecendo ainda
hoje com caráter atemporal um dos princípios que direcionavam suas pesquisas: “Como
resolver um problema construtivo empregando o mínimo de energia construtiva?”.
Ao perpassar por diversos processos investigatórios envolvendo a materialidade, o
arquiteto Renzo Piano desenvolveu uma metodologia particular, algo que o diferencia dos
demais profissionais apresentados. Não se destaca propriamente pelo uso de um
determinado material ou técnica construtiva ou pelo aprofundamento na compreensão de
uma determinada tipologia estrutural; mas busca em suas pesquisas exploratórias a
resolução dos aspectos técnicos juntamente ao valor simbólico e sensorial intrínseco nos
materiais e, a cada desafio, busca novos caminhos e possibilidades construtivas, apoiando-se
muitas vezes na experimentação e com a colaboração de equipes multidisciplinares.
Estas experiências permitiram que trabalhasse pela primeira vez com o ferro fundido
dúctil, plásticos como o policarbonato e colas especiais. Algumas destas tecnologias foram
utilizadas mais tarde em projetos como o Menil Collection e o IBM Pavillion (Figura 7).
Chegou a desenvolver uma série de programas para uma rede de televisão nacional
italiana, com a intenção de mostrar a arquitetura como um produto da invenção tecnológica
– utilizando ferramentas, métodos e materiais construtivos, bem como, discutindo sobre a
organização social envolvida na obra (Figura 8).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 8 – Atividades experimentais realizadas por Renzo Piano antes da criação do escritório Renzo Piano
Building Workshop. Processo de montagem de estruturas apresentados no programa de televisão ‘The
Open Site’, com a finalidade de explicar seus princípios construtivos e potencialidades, 1979
389
Figura 9 – a) e b) Pavilhão do Japão em Hannover. Oportunidade em que Shigeru Ban trabalhou com
Frei Otto. Maquetes de estudo da estrutura entramada e Vista externa do edifício.
390
a b
Fonte: McQuaid (2008).
Ao enquadrar o arquiteto João Filgueiras Lima – Lelé, entre os profissionais que buscaram
no processo experimental o apoio para a realização e validação de suas criações, deve-se
considerar que o arquiteto foi o único profissional nacional que se dedicou a esta prática
com uma profundidade semelhante aos demais aqui abordados. Em depoimento, Lelé
ressalta que a cultura brasileira sempre foi muito conservadora em relação à
experimentação técnica e ao investimento em qualificação de mão-de-obra, estabelecendo
o lucro imediato como premissa de negócio, planejando pouco e, portanto, não fomentando
nenhum progresso tecnológico na direção da industrialização aberta.
Quando analisadas as respostas encontradas para problemas socioeconômicos por meio
do processo experimental – seja com maior ou menor grau científico – destacam-se algumas
soluções cujos detalhes técnicos tiveram uma dimensão muito importante no conjunto da
obra implantada. Um destes desafios pode ser visto no uso do sistema de peças pré-
moldadas em argamassa armada para a resolução das questões de drenagem e saneamento
em lugares propícios ao desabamento, na cidade de Salvador-BA. Neste caso é utilizada a
tecnologia da industrialização da construção por meio dos pré-moldados para solucionar um
problema bastante específico, atentando para o peso das peças e a forma de transportá-las
manualmente em um local pobre e de difícil acesso (Figura 10), uma associação harmônica
entre o alto conhecimento tecnológico e a aplicação quase artesanal.
Figura 10 – Intervenções na resolução das questões de drenagem e saneamento por meio da pré-
fabricação na cidade de Salvador.
a b c
Fonte: a) e b) ELOY, E et al. (2005). c) Imagens concedidas por Cláudia T. de Andrade Oliveira.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
De acordo com Risselada (2010), para Lelé é necessário que o processo de concepção,
concretização e execução seja conduzido tanto quanto possível sob o mesmo denominador,
para que haja um mínimo de negociações entre as partes envolvidas na construção e maior
cooperação entre os diversos atores, onde a “fábrica”, ou local de trabalho, não é apenas
391
um lugar de produção, mas também de pesquisa.
Nos exemplos apresentados, fica evidente a importância da dimensão construtiva nas
obras destes projetistas que, em diversos momentos, viram na experimentação uma forma
de serem confrontados com a materialização de suas obras, pois não bastava concebê-las,
tiveram que construí-las, como forma de fomentar o processo de desenvolvimento
projetual. Em Roland (1965), o autor faz uma consideração pertinente ao relatar que muitas
biografias de projetistas apenas citam as obras mais emblemáticas destes profissionais, sem
narrar com profundidade as dificuldades encontradas no convencimento sobre o potencial
de suas ideias. Sobre esta questão, o arquiteto Felix Candela discorre, ao longo do prólogo
deste livro, que alguns profissionais subestimam o esforço necessário para se criar algo
inovador e que o ato criativo resulta de um trabalho contínuo e de muito esforço, fruto de
muitos anos de estudo e dedicação no enfrentamento de diferentes problemas.
Na intenção de dar continuidade a esta discussão, o Item 2 apresenta diferentes
experiências acadêmicas desenvolvidas por alguns dos profissionais já abordados e que
tiveram a oportunidade de se envolverem com o processo de formação. A partir deste estudo,
é possível compreender como ocorre a aproximação entre seus conceitos profissionais e
acadêmicos a partir de suas propostas voltadas ao ensino. E, como seria o papel da
experimentação como instrumento pedagógico/metodológico na visão destes profissionais.
especialização, necessária para dominar o tema ocorre depois da formação. Para ele, sendo
ou não principiante, a formação continuada era necessária, pela oportunidade de
complementação dos estudos e discussão dos problemas e ainda alertava que a pouca
importância dada sobre esta questão poderia induzir a tendências individualistas. Além
392
disso, defende a preparação de um profissional mais crítico e reflexivo e não apenas
proporcionar-lhe a aquisição de conhecimento: “[...] y el caso es que en las escuelas hay
tanto que aprender que rara vez queda tiempo para pensar” (TORROJA, 1958, p. 1).
Sobre a experimentação física (Figura 11), considera ser esta uma forma eficaz no ensino
de melhorar o entendimento dos princípios básicos das estruturas e aguçar o processo da
intuição que, em associação ao profundo conhecimento dos materiais construtivos, seria
possível alcançar a formação de um profissional mais reflexivo diante do dinamismo
tecnológico vivenciado.
Figura 11 – Estudos em modelos de escala reduzida. a) Hospital Cidade Universitária, Madri, 1934. b)
Fronton Recoletos, 1935. c) Investigações sobre canais e diques.
a b c
Fonte: Torroja (1958).
Seus princípios vão ao encontro dos defendidos por Nervi (1951), ao relatar que o ensino
técnico será muito mais eficiente quando acompanhado de demonstrações experimentais,
privilegiando o processo intuitivo e conceitual. Em diversas oportunidades o engenheiro
discute sobre a dificuldade de se alcançar a síntese entre arte e técnica, agravada ao longo
dos anos pelo desenvolvimento técnico-científico da construção. Sintetiza a essência deste
problema em duas partes: da preparação técnico-científica e da preparação artística dos
futuros arquitetos, analisando em Nervi (1965) estes dois campos separadamente:
a) Preparação técnico-científica – Fala sobre a insuficiência do desenvolvimento teórico e
que o campo entre a teoria e a realidade física não pode ser corretamente resolvido se
não passar por um processo intuitivo dos resultados para que as fórmulas sejam
revistas. Para ele, a materialidade não poderá ser alcançada se não uni-la à
investigação experimental (Figura 12), a fim de complementar e superar a fase
científico-matemática, mas isso não descartaria a importância da aquisição de uma
base teórica sólida ao longo da formação;
b) Preparação artística – Ao realizar críticas sobre a falsidade construtiva e funcional
vivenciadas em sua época, Nervi sugere que a faculdade deveria orientar para uma
verdade funcional, técnica e econômica, acreditando que, na maioria dos casos, este
seria o caminho para alcançar o aspecto estético satisfatório.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
393
a b c
Fonte: Nervi (1965).
A segunda experiência que firmou algum vínculo com a academia foi em Abadiânia por
volta de 19822. Neste período, lecionou na UCG (Universidade Católica de Goiás), que teve
um papel importante como financiadora da experiência, propondo assim como na UNB, que
a universidade estivesse integrada à experiência por meio de uma fábrica com a participação
394
do curso da Engenharia Civil. Segundo Lima (1984), a partir da construção de protótipos
experimentais com caráter didático, foi possível demonstrar a viabilidade de se utilizar mão-
de-obra de baixa qualificação, adotando-se tecnologia avançada e obtendo um produto de
alta qualidade, mesmo diante de um contexto precário e complexo.
Esta segunda experiência foi interrompida, sendo anos mais tarde realizada uma terceira
tentativa na cidade de Salvador, na Fábrica das Cidades. A intenção era recuperar a ideia de
escola integrada à fábrica, destinando uma parte do terreno adquirido a uma escola de pós-
graduação e a outra parte à fábrica. Infelizmente, a parte destinada ao ensino de arquitetura
com laboratórios de pesquisa integrados à produção nunca foi desenvolvida.
Embora as tentativas frustradas, suas propostas de aproximação com a academia estão
diretamente relacionadas com sua metodologia projetual, em que a arquitetura é vista como
processo. Para o arquiteto, suas experiências construtivas bem sucedidas no campo
profissional tinham grande potencial didático-pedagógico, salientando a importância dos
jovens arquitetos se envolverem com as experimentações técnico-construtivas. O arquiteto
defendia que era preciso dominar o suficiente para dialogar com os especialistas, sendo
necessário ao longo da formação dosar a bagagem técnica com a formação artística.
A aproximação com a academia como visto em Lelé pode ter motivações estratégicas
diante da necessidade de obter um cunho mais científico ao longo do desenvolvimento
projetual, assim como aprofundar conhecimentos por meio da experimentação
construtiva. Este cenário é ainda mais evidente ao analisar Frei Otto, pois seu
envolvimento com a academia coincide com o momento que passou a tratar a arquitetura
sob bases científicas, e isso ocorreu, segundo Drell (1976), quando transferiu seu
Laboratório de Estruturas Leves (Institute for Lightweight Structures) para a Universidade
de Stuttgart, gesto que evidencia a essência do seu método em aproximar a arquitetura da
ciência. Esta pode ser considerada uma estratégia para a obtenção de investimentos
contínuos em suas pesquisas e dar maiores chances de materializá-las a partir da
oportunidade de aplicação dos resultados em situações reais.
No laboratório sediado na Universidade de Stuttgart foram desenvolvidos modelos
famosos, como o pavilhão alemão na Expo ‘67’, em Montreal, e o Estádio para os Jogos
Olímpicos de 1972, em Munique. A organização diferenciada no ensino atraiu para o
Instituto uma geração ávida por métodos pedagógicos alternativos, neste caso, a inserção da
área laboratorial, sendo que a maior parte das atividades desenvolvidas pelos alunos era
2
Entre as experiências da UNB e Abadiânia, Lelé também se aproximou da área experimental acadêmica por
outras vias, ao conhecer o trabalho do engenheiro e professor da EESC-USP Frederico Schiel, que trabalhou
juntamente com Pier Luigi Nervi no desenvolvimento da argamassa armada. A partir daí, com a realização de
algumas experiências com Schiel em Brasília em 1972 e, posteriormente, em Salvador em 1979, Lelé alcança
um cunho mais científico no aperfeiçoamento da técnica, dando continuidade experimental ao conhecimento
adquirido em Abadiânia-GO.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
a b c
Fonte: <http://radical-pedagogies.com/search-cases/e14-institute-lightweight-structures-university-stuttgart-
ilek/>.
3. CONSIDERAÇÕES
A partir dos profissionais analisados foram identificadas informações que podem vir a ser
importantes ao longo das pesquisas acadêmicas sobre experimentação construtiva X
processo projetual, estas seriam:
a) Recursos materiais e humanos X Parcerias de pesquisa – para viabilizar suas criações,
os profissionais pesquisados firmaram parcerias estratégicas com os setores
acadêmico e industrial, pela disponibilidade de meios técnicos específicos (materiais e
humanos) para a concretização das suas ideias. Algo necessário, principalmente,
quando o objetivo era a sustentação e continuidade das investigações, cuja duração
pode se estender por longos períodos. A disponibilidade de recursos humanos
capacitados como docentes, pesquisadores e técnicos hábeis para o auxílio nos
experimentos, é uma variável importante para o processo projetual/experimental, de
preferência como equipes fixas de trabalho, para que haja a capacitação continuada.
Outra condicionante refere-se à importância de parcerias que estejam interessadas na
pesquisa e inovação, consequentemente, dispostas a assumirem os riscos presentes no
processo investigativo;
b) Colaboração de equipes multidisciplinares – este aspecto é decisivo na trajetória dos
projetistas estudados, quando os problemas arquitetônicos enfrentados criaram
oportunidades de diálogo com profissionais das mais diversas formações (geralmente
especialistas), proporcionando caráter científico ao processo projetual e,
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
Em agradecimento à FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo,
pelo apoio financeiro ao Projeto de Pesquisa - Processo 2013/22935-1 - que possibilitou o
desenvolvimento deste trabalho. Cabe declarar que: “As opiniões, hipóteses e conclusões ou
recomendações expressas neste material são de responsabilidade do(s) autor(es) e não
necessariamente refletem a visão da FAPESP”.
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O ATO DE CONSTRUIR COMO UMA AÇÃO INTEGRADORA DE CONTEÚDOS NO
CANTEIRO EXPERIMENTAL DA FAU/UFRJ
SILVOSO, Marcos Martinez (1); CORDEIRO, Patrícia Cavalcante (2); ALBUQUERQUE, Rafael
Tavares de (3)
RESUMO
O trabalho apresenta as atividades do Canteiro Experimental da FAU/UFRJ que busca aplicar
conteúdos das disciplinas – materiais de construção, resistência dos materiais, análise estrutural,
projeto e execução de estruturas de concreto armado e processos construtivos. Apesar da tradição
do curso, a implantação do Canteiro deu-se apenas em 2014, buscando atuar na convergência entre
ensino, pesquisa e extensão. São apresentadas aqui as experiências realizadas na disciplina Processos
Construtivos II, do quinto período do curso. No exercício "Projetar e Construir", os alunos são
estimulados a pensar um mobiliário urbano em concreto armado ou argamassa armada. O exercício
aborda todas as fases de projeto e execução – conceituação, projeto básico e executivo, análise
estrutural, propriedades físicas e mecânicas dos materiais, produção de fôrmas e armaduras,
execução de concretagem e montagem dos elementos. Ao final, o elemento construído é analisado
pelos alunos e avaliado criticamente. São apresentados dados obtidos pela aplicação de variações do
exercício durante três semestres, analisando a evolução dos projetos e sua complexidade. A
experiência prática de construção em escala real torna-se uma ação integradora de conteúdos,
aproximando conceitos das disciplinas de estruturas e de processos construtivos. Ao realizar o ato
construtivo, os alunos superam a abstração teórica, passam a vivenciar a materialização e as
consequências do projeto, ampliando a sua compreensão e estimulando sua capacidade de criação.
Palavras-chave: Canteiro Experimental; Construção; Ensino.
ABSTRACT
This article presents the activities of the FAU/UFRJ Experimental Construction Site that seeks to apply
contents of the disciplines - materials of construction, resistance of materials, structural analysis,
design and execution of reinforced concrete structures and constructive processes. The Construction
Site took place in 2014, seeking to act in the convergence between teaching, research and extension.
We present the experiments carried out in the discipline Constructive Processes II, of the fifth
period. In the "Design and Build" exercise, students are encouraged to think of urban furniture in
reinforced concrete or reinforced mortar. The exercise covers all steps of design and execution -
conceptualization, basic and executive design, structural analysis, physical and mechanical properties
of materials, production of formwork and reinforcement, concreting and assembly of the elements. In
the end, the constructed element is analyzed by the students and evaluated critically. It will be
presented, data obtained by application of variations of the exercise during three consecutive
semesters, the evolution of the projects and their complexity will be analyzed. The practical
experience of real-scale construction becomes an integrative action of contents, approaching
concepts of the disciplines, structures and constructive processes. In carrying out the constructive act
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
students overcome theoretical abstraction, they begin to experience the materialization and
consequences of the project, broadening their understanding and stimulating their creative capacity.
Keywords: Experimental Construction Site; Construction; Teaching.
400
1. INTRODUÇÃO
O Canteiro Experimental dentro de uma Escola de Arquitetura e Urbanismo assume
diferentes significados, podendo representar um vínculo entre a arquitetura e sua dimensão
social e econômica, a reaproximação entre o trabalho manual e intelectual, a oportunidade
de sentir estímulos sensoriais físicos no ato de construir e conceber, uma vivência em
processos de trabalho de ajuda mútua, um local de experimentação de técnicas construtivas
e materiais de construção, ou mesmo, a conquista da compreensão que o desenho é apenas
um método de representação que procura dialogar com canteiro visando à construção da
arquitetura de fato. O entendimento dos múltiplos significados do Canteiro Experimental
possibilita que este se torne um espaço pedagógico para a formação do estudante de
arquitetura e urbanismo com uma visão sistêmica de seu campo de saber.
Pode-se dizer ainda que o Canteiro Experimental, na medida em que fomenta a
concepção através do ato de construir, possibilita ao estudante a apropriação de conteúdos
muitas vezes considerados abstratos. Em particular, no ensino de Estruturas, os conteúdos
de análise estrutural e dimensionamento de materiais são de difícil compreensão por
estudantes tanto do curso de Arquitetura e Urbanismo quanto dos cursos de Engenharia. Em
parte, tal dificuldade decorre da metodologia tradicional de ensino, onde inicialmente são
ensinados modelos analíticos, sem que haja a compreensão do funcionamento dos
elementos estruturais e das simplificações necessárias para construção de tais modelos.
Os métodos de ensino utilizados na formação técnica e tecnológica dos alunos em
arquitetura e engenharia passaram a ser tão abstratos que, em muitos dos casos, este
aluno não sabe o verdadeiro porquê de se aprender um determinado conhecimento
teórico. O ensino de estruturas passa por grandes dificuldades nos primeiros períodos de
ensino de teoria. Os alunos sofrem para verdadeiramente internalizar o aprendizado de
inúmeros e demasiados procedimentos matemáticos que resultarão em uma base teórica
para aplicação em uma prática que eles, provavelmente, nunca verão até o início de suas
carreiras profissionais.
O Canteiro Experimental como prática pedagógica tem sido utilizado em diferentes
instituições de ensino de Arquitetura e Urbanismo (RONCONI, 2002; RONCONI, 2005;
MINTO, 2009; PISANI et al., 2009; LOPES, 2014) com destaque para o Canteiro Experimental
da FAU/USP e para as experiências da PUC Campinas (LOPES, 2014). O presente trabalho
apresenta algumas atividades desenvolvidas no Canteiro Experimental da FAU/UFRJ que
procuram aplicar conteúdos de diferentes disciplinas, tais como, materiais de construção,
resistência dos materiais, análise estrutural, projeto e execução de estruturas de concreto
armado e processos construtivos.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
obras e ali desenvolvia seus projetos, num exercício interdisciplinar com engenheiros,
técnicos e operários, dando ao projeto um espírito coletivo e experimental. Segundo Lina
apud Camargo (2008):
a vivência de uma obra é muito maior e a colaboração entre todos esses
profissionais é total. Isso acaba também com a dicotomia ridícula entre
402
engenheiros e arquitetos, além de se poder verificar de perto as despesas, as
negociações e as eventuais negociatas... [...] Os problemas são resolvidos na obra,
às vezes com desenhos feitos à mão e no local, mas com todas as cotas.
Mas foi João Filgueiras Lima, o Lelé, o arquiteto que mais avançou nesta relação próxima
entre projeto e construção. Projetou e implantou a Fábrica de Equipamentos Comunitários
(Faec), criando um sistema de produção de suporte a sua atividade de projeto e execução de
suas obras, atuando em todos os níveis e etapas da construção. Esta experiência influenciou
uma geração de arquitetos e levou à vontade de que o meio acadêmico incorporasse esta
experiência prática no seu processo didático-pedagógico (CAMARGO, 2008).
Experiências de construção prática nas faculdades de arquitetura existiram de forma
isolada desde a década 1970, mas a maioria não teve continuidade nas escolas de
Arquitetura e Urbanismo. O arquiteto Vitor Lotufo foi o pioneiro em experiências de
construção em escala 1:1, utilizando diversos materiais, numa atividade de prática projetual
e construtiva. Esta atividade seria retomada, junto como arquiteto João Marcos de Almeida
Lopes, na experiência do primeiro canteiro experimental na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da PUC de Campinas, em 1978 , conhecido como “Platô” (RONCONI, 2005).
O canteiro experimental da FAU USP, referência nacional para a discussão dos canteiros
nas faculdades de arquitetura, foi criado em 1997, está em funcionamento há 20 anos e foi o
responsável por pavimentar o caminho para que outras universidades implementassem
também o seu canteiro experimental.
As formulações e reflexões vindas desta e de outras experiências influenciaram as
normativas do ministério da Educação, para a definição de um currículo mínimo para os
cursos de arquitetura e urbanismo, onde se explicitam os conteúdos necessários à plena
formação do profissional, na tentativa de incluir a discussão do ensino da construção.
Processo que se inicia na definição das Diretrizes Curriculares que integravam a Portaria
nº1770 de 1994 – diretrizes curriculares e conteúdos mínimos para os cursos de arquitetura
e urbanismo – que recomenda a implantação dos canteiros como essencial para o ensino da
arquitetura e urbanismo, mas sem especificar seu funcionamento.
Este entendimento se consagra no âmbito normativo com a Lei de Diretrizes e bases em
2006 que preconiza que os projetos pedagógicos dos cursos de arquitetura e urbanismo
deverão contemplar “modos de integração entre teoria e prática”, porém o canteiro aparece
ainda timidamente apenas em dois artigos e se apresenta apenas como objeto de visita.
No documento Perfis da Área & Padrões de Qualidade – Expansão, Reconhecimento e
Verificação Periódica dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo, define-se de forma mais clara a
exigência da existência dos canteiros nas faculdades de arquitetura e urbanismo:
Por serem indissociáveis da atividade de ensino, serão exigidos programas e
projetos de pesquisa e extensão que envolvam alunos e professores do curso e
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
materialidade no desenvolvimento de seus projetos. Isso se dá, em grande parte, pelo fato
de tais conteúdos não serem explorados em disciplinas de projeto, contribuindo para a falsa
percepção de que o conhecimento sobre comportamento estrutural e processos
construtivos não faz parte do fazer do arquiteto e pode ser delegado a outros profissionais.
404
O distanciamento das disciplinas de Projeto do eixo Construção pode ser considerado como
um retrato da fragmentação de conteúdos presentes na grade curricular do curso de
graduação da FAU/UFRJ.
O eixo Construção agrega conteúdos de tecnologia da construção, mecânica das
estruturas, sistemas estruturais, dimensionamento dos materiais, gerenciamento da
construção, topografia e instalações prediais e tecnologia do meio ambiente (conforto
ambiental). Na grade curricular do curso, no eixo Construção, tais conteúdos são apresentados
ao longo dos nove períodos que antecedem o TFG, em diferentes disciplinas, listadas a seguir:
1o Período – Modelagem dos Sistemas Estruturais; 2o Período – Topografia, Isostática; 3o
Período – Resistência dos Materiais, Conforto Ambiental I; 4o Período – Saneamento Predial,
Processos Construtivos I, Concepção Estrutural; 5o Período – Estruturas de Concreto Armado I,
Processos Construtivos II, Conforto Ambiental II; 6o Período – Estruturas de Concreto Armado
II, Processos Construtivos III; 7o Período – Estruturas de Aço e Madeira, Saneamento Urbano;
8o Período – Sistemas Estruturais; 9o Período – Gestão do Processo de Projeto, Orçamento e
Gerenciamento de Obra.
As disciplinas de estruturas estão distribuídas em três setores: Mecânica das Estruturas
(Isostática e Resistência dos Materiais); Sistemas Estruturais (Modelagem dos Sistemas
Estruturais, Concepção Estrutural e Sistemas Estruturais); e Dimensionamento dos Materiais
(Estruturas de Concreto Armado I e II e Estruturas de Aço em Madeira).
No Setor de Tecnologia da Construção, as disciplinas Processos Construtivos I, II e III (PC
I, PC II e PC III) são responsáveis por apresentar os conteúdos relacionados diretamente
com materiais de construção e processos construtivos. Na disciplina PC I, são
apresentados, de modo introdutório, diferentes sistemas construtivos (concreto armado,
aço, alvenaria estrutural, etc.). Na disciplina PC II, são apresentados aspetos mais técnicos
da tecnologia de materiais de construção, fundações, estruturas e fechamentos. Já na
disciplina PC III, são apresentados materiais e procedimentos utilizados em sistemas de
revestimento, coberturas e proteções.
A disciplina PC II, objeto de análise neste trabalho, agrega um extenso conteúdo, como pode
ser observado a partir da ementa presente no Projeto pedagógico do curso, transcrita a seguir:
Materiais e procedimentos na execução de estrutura de concreto Armado.
Propriedades do concreto fresco e do concreto endurecido. Dosagem do concreto.
Controle tecnológico do concreto. Estudo geotécnico do terreno. Sondagem a
percussão e rotativas. Fundações superficiais e profundas. Estabilidade de talude e
muros de contenção. Materiais e procedimentos da execução de alvenarias.
Materiais e procedimentos na execução de revestimentos argamassados.
406
etc.), enquanto os alunos são responsáveis pelo material necessário para execução de
fôrmas, que podem ser executadas com diferentes materiais em função dos projetos
desenvolvidos, sendo estimulada a utilização de materiais recicláveis.
Desde a sua primeira aplicação, o exercício sofreu algumas variações nos tipos de
407
elementos construídos. Em 2015.2, foram propostos os seguintes elementos: Banco (lugares
de descanso, socialização ou contemplação); Lixeiras (separadores de lixo); Bicicletário
(guardar ou compartilhar bicicletas); Mesa; Equipamentos de Ginástica (equipamentos para
a prática de exercícios físicos); Brinquedos infantis (equipamentos para playground);
Jardineira vertical (elemento vertical para o cultivo de plantas). Em 2016.1, além dos
elementos propostos em 2015.2, foram acrescentados os seguintes: Luminária (poste
sinalizador limitado a 1,5 metros de altura); Escada (protótipo); Bebedouro urbano.
Em 2016.2, foram propostos novos tipos de elementos e também foi introduzida uma
modificação, incorporando ao exercício temas de seminários de pesquisa sobre técnicas
construtivas e materiais de construção. Dessa forma, foram desenvolvidos os seguintes
temas no exercício de canteiro experimental: Piscina/ Sistemas de contenção do solo;
Espreguiçadeira/ Argamassa armada; Churrasqueira/ Concreto com fibras; Luminária/
Concreto leve; Bebedouro/ Concreto de alto desempenho (CAD); Aparelho de ginástica/
Gerenciamento de Resíduos na Construção Civil/ RCD; Brinquedo para crianças/ Concreto
colorido; Escada/ Pré-fabricação de Estruturas de concreto armado; "Orelhão" de celular/
Concreto de alto desempenho (CAD); Estante/ Pré-fabricação de Estruturas de concreto
armado; Brinquedo para jovens/ Concreto com fibras.
As modificações realizadas no período de 2016.2 buscaram incorporar as sugestões feitas
pelos alunos durante as entregas dos trabalhos dos períodos anteriores. Também procurou
desenvolver mais fortemente o caráter de pesquisa e experimentação através dos temas de
seminário que, ao serem aplicados no exercício de Canteiro Experimental, representam uma
possibilidade de aplicação prática dos conceitos pesquisados.
As entregas dos exercícios são realizadas em diferentes etapas: Estudo preliminar com
apresentação de croquis iniciais, conceito e referências; Anteprojeto com definição da forma
representada em planta e perspectiva; Projeto executivo, incluindo a representação final do
projeto (planta, corte e perspectiva), plantas de fôrmas, plantas de armação, quantitativo de
materiais e cronograma de execução; Entrega final realizada no Canteiro Experimental com
apresentação dos Protótipos e análise crítica.
As entregas preliminares (Estudo preliminar e anteprojeto) são apresentadas em sala de
aula em formato digital (slides). Já a entrega do Projeto executivo é realizada em uma
prancha resumo apresentando sucintamente o projeto no formato A2 vertical (ou dois A3
combinados) e um caderno com as demais informações, sendo apresentado em sala em
arquivo digital (slides). No projeto executivo, pede-se: memorial descritivo abordando os
principais conceitos da proposta; perspectivas e desenhos cotados do objeto, com as
informações necessárias para a execução do mobiliário (planta baixa, cortes, vistas e
perspectivas); perspectivas e desenhos cotados das fôrmas, com as informações necessárias
para a execução do mobiliário (planta baixa, cortes, vistas, e perspectivas); planta de
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
JARDINEIRA VERTICAL
ORELHÃO - CELULAR
JARDINEIRA colmeia
ESPREGUIÇADEIRA
CHURRASQUEIRA
BRINQ. INFANTIL
BRINQ. INFANTIL
BRINQ. INFANTIL
JARDINEIRA PET
BRINQ. JOVENS
EQ. GINÁSTICA
EQ. GINÁSTICA
EQ. GINÁSTICA
BICICLETÁRIO
BICICLETÁRIO
BEBEDOURO
BEBEDOURO
LUMINÁRIA
LUMINÁRIA
ESTANTE
ESCADA
PISCINA
ESCADA
LIXIERA
LIXIERA
BANCO
BANCO
MESA
MESA
SETORES - CONTEÚDOS
mesmo projeto, foram desenvolvidas quatro sapatas de concreto para apoio do brinquedo
no solo do canteiro experimental. A Figura 5 ilustra o desenvolvimento do exercício.
Durante a execução do brinquedo, alguns problemas foram percebidos pelos alunos, que
tiveram dificuldade em montar a armadura dos pilares cilíndricos. A necessidade de elaborar
410
os estribos pequenos o suficiente para caber no interior das fôrmas e ainda assim manter o
cobrimento mínimo exigido por norma foi bastante desafiador aos alunos. Outro ponto
crítico na execução foi a concretagem dos pilares de concreto no local, com dificuldade no
ajuste dos prumos. De um modo geral, o exercício atingiu satisfatoriamente o seu objetivo,
faltando apenas as cordas e as redes de acabamento, que foram suprimidas da execução por
falta de espaço no canteiro de obras. O experimento do brinquedo exigiu dos alunos a
utilização de diversos conhecimentos obtidos em muitas disciplinas como estrutura,
processos construtivos, topografia, projeto, expressão gráfica e outras.
conhecido como Tsuru. O projeto previa um bebedouro acessível em duas alturas que
pudesse ser acessado tanto por uma pessoa em pé como por uma criança ou uma pessoa
em cadeira de rodas. A jardineira central previa o reaproveitamento de parte da água que
seria descartada; sendo assim, foi proposta uma instalação que dividiria essa água: parte
412
passando pela jardineira e parte indo diretamente para o esgoto. Utilizou concreto armado,
madeira para as bandejas, tirantes metálicos para a junção dos perfis, instalação hidráulica
simplificada (mangueira de borracha) e vegetação (Figura 8).
concretagem. Foi necessária a confecção de peças extras para estrutura a fôrma e evitar a
perda da forma final da peça. Este contratempo gerou certo atraso na concretagem, mas
nada que comprometesse o resultado final e a entrega na data prevista.
O uso do concreto leve também foi outro desafio da execução, para diminuir o peso da
415
haste parte do agregado graúdo, foi substituído por argila expandida e parte da areia
substituída por vermiculita. Como estes elementos entram na mistura já hidratados, a
quantidade de água do traço era algo a ser observada. Além da armadura, foi também
executada a instalação elétrica da luminária, incluindo as lâmpadas, acesas no dia da
entrega do trabalho.
O desafio era pensar uma espreguiçadeira que tirasse partido das possibilidades da
argamassa armada: neste sentido, o exercício foi muito satisfatório. O projeto executado
atendeu às expectativas, embora tenha ruído no momento da apresentação por excesso de
carga. A “armadura” utilizada foi uma tela de aço fina, que se mostrou insuficiente para
garantir a resistência da peça. Ao sentarem três pessoas, a peça ruiu em pedaços.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
5. CONSIDERAÇÕES
Ao propor um problema no qual os alunos são desafiados a construir aquilo que
projetaram, estes são colocados frente a uma situação real prática. Assim, aqueles
conteúdos apresentados em diferentes disciplinas passam a ser necessários para a solução
do problema. Por exemplo, o cálculo de esforços solicitantes deixa de ser uma abstração
para tornar-se uma ferramenta que irá possibilitar uma análise estrutural e garantir a
estabilidade do elemento projetado. Ao experimentar, com formas e seções diferentes
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
interdisciplinar surge como uma ideia para o necessário debate sobre um novo projeto
pedagógico para a FAU/UFRJ.
AGRADECIMENTOS
418 Os autores agradecem: à Direção da FAU/UFRJ pelo apoio na implantação e consolidação
do Canteiro Experimental; a agências financiadoras de bolsas de pesquisa, CAPES, CNPq,
FAPERJ; ao arquiteto Paulo Costa do LEMC pelo apoio técnico no desenvolvimento dos
trabalhos; aos alunos da FAU/UFRJ, em especial aos monitores de PC2 e àqueles envolvidos
no desenvolvimento dos projetos apresentados neste trabalho.
REFERÊNCIAS
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escolhidos de Lina Bo Bardi 1943-1991. São Paulo: CosacNaify, 2009.
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20 jun. 2017.
PROJETO, ESTRUTURA E CANTEIRO EXPERIMENTAL: INTEGRAÇÃO ENTRE A
TEORIA E PRÁTICA NO ATÊLIE E CANTEIRO
MODLER, Luís Eduardo Azevedo (1); MODLER, Nébora Lazzarotto (2); TSUTSUMI, Edison Kiyoshi (3)
RESUMO
O presente trabalho apresenta os resultados obtidos na experiência didática de integração de quatro
componentes curriculares (CCRs), lecionados no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFFS, tendo
como objetivo promover a discussão acerca da integração das disciplinas teóricas e práticas dentro
do curso, especificamente no ensino de estrutura. O Plano Pedagógico do Curso (PPC) do curso prevê
que cada fase tenha uma ênfase, sendo que a da terceira fase é “A matéria” e a do quarta fase é “A
estrutura”. Neste artigo, serão discutidos os componentes curriculares de Projeto Arquitetônico e os
Materiais, Projeto arquitetônico e os Sistemas Estruturais, Canteiro Experimental I e Canteiro
Experimental II. Estes quatro CCRs têm como objetivo promover a integração teórica e prática das
ênfases de viés tecnológico materializando em um projeto arquitetônico. Assim, na terceira fase, o
projeto arquitetônico tem como ponto de partida o uso correto dos materiais e, na quarta fase, o
projeto arquitetônico tem como premissa o protagonismo da estrutura. Os Canteiros Experimentais
complementam este conteúdo, pois como descrito no próprio nome, permitem a experimentação,
através de exercícios práticos que utilizam materiais tradicionais e alternativos, bem como a
experiência de erros e acertos na concepção projetual. Estes CCRs já foram ministrados ao longo de
seis anos, existindo diversas mudanças em sua metodologia de ensino, gerando resultados que serão
descritos e discutidos no presente trabalho.
Palavras-chave: Projeto e Estrutura; Projeto e os materiais; Canteiro Experimental.
ABSTRACT
This issue presents the results obtained in a didactic experience of integration of four subjects taught
in the Architecture and Urbanism course of UFFS, aiming to promote discussion on integration of
theoretical and practical subjects within the course, specifically in structure teaching. The Pedagogical
Plan of the course provides that every phase has an emphasis, the third phase is “The Material” ad
the fourth phase is “The Structure”. This article discusses the subjects of Architectural Project and
Materials, Architectural Project and Structural Systems, Experimental Site I and Experimental Site II.
These four subjects aim to promote theoretical an practical integration of technological emphasis by
materializing the content into an architectural project. Thus in the third phase the architectural
project has as its starting point the correct use of materials, as in the fourth phase the premise is the
protagonism of structure. The experimental sites subjects complement that content, for they, as
described in their names, allow the experimentation by means of practical exercises that use both
traditional and alternative materials, as well as the experience of errors and hits in the project
conception. These subjects have already been taught over six years, with several changes in their
teaching methodology, generating results that will be described and discussed in this study.
Keywords: Structural project; The project and the materials; Experimental Site.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo discorre sobre a experiência pedagógica do curso de arquitetura e
urbanismo da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), discutindo especificamente
sobre quatro componentes curriculares: Projeto Arquitetônico e os Materiais, Canteiro
420 Experimental I e II e Projeto Arquitetônico e os Sistemas Estruturais.
O curso de arquitetura e urbanismo recebeu a sua primeira turma de discentes em 2010
e, em 2016, foi realizada a primeira mudança em seu Plano pedagógico do curso (PPC). O
artigo tece considerações sobre este processo de mudança e as reflexões sobre o ensino de
estrutura. O PPC do curso, na sua versão original (revisado em 20131), e na versão de 2016
preconiza que cada semestre seja pautado por ênfases:
Buscando construir um modelo pedagógico, a estrutura curricular, então, é
pautada por um princípio de ÊNFASES, em que a apreensão da totalidade faz-se por
aproximações sucessivas, a cada fase, sendo enfatizado um aspecto particular em
cada abordagem. Esse princípio supõe que, para o aprendizado ocorrer de forma
integral, o acadêmico necessita operar as variáveis da Arquitetura e do Urbanismo
de forma progressiva, não se perdendo, no entanto, a concepção da totalidade da
experiência com o processo de projetação e estudos analíticos. Dessa forma, a cada
semestre, é estabelecida uma ênfase, que direciona o ensino a uma determinada
variável, colocando a em evidência, sobretudo no componente curricular de
Projeto. Entretanto, a concepção da totalidade nunca deve ser perdida, mas sim
evidenciada (MEC; UFFS, 2016, p. 33).
A estrutura curricular nos dois PPCs cita que a ênfase na terceira fase é “A matéria” e, na
quarta fase, é “A estrutura”. Partindo desta premissa, tem-se que os componentes
curriculares ofertados na 3ª e 4ª fase do PPC original são apresentados nos Quadros 1 e 22:
1
Em 2013, foram realizadas revisões referentes à carga horária das disciplinas a partir da sexta fase, portanto,
não modificando os CCRs descritos no presente artigo.
2
A grade curricular do PPC de 2016 será discutida nas considerações.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
construtivas (3ª fase) e Introdução à análise de estruturas (4ª fase), estão ligados com os
componentes curriculares de projeto.
Nas discussões sobre a melhor metodologia para ser aplicada neste CCR, optou-se por
aulas expositivas apenas dos materiais utilizados nas estruturas, vedações e cobertura, e as
suas técnicas construtivas, em que as suas principais características e aplicações eram
passados aos discentes. Para reforçar este conteúdo, foi proposto um exercício projetual
422
com duração de quatro semanas, onde os discentes necessitavam projetar um ateliê cubo
(as dimensões variaram entre 5 m e 6 m, com programas diferentes entre si), utilizando
apenas um conjunto de materiais e de técnicas construtivas definido por meio de sorteio,
sendo que as opções eram: construção em aço, madeira, concreto armado ou alvenaria
estrutural, não existindo a possibilidade de se mesclar o uso destes materiais.
Após a análise e discussão sobre os resultados finais, o segundo projeto a ser
desenvolvido é um Centro cultural, com maior tempo de desenvolvimento e
assessoramento. O conteúdo teórico apresentado complementa as técnicas construtivas,
como o uso de pré-fabricados e conceitos de modulação e racionalidade construtiva.
Exemplos desta abordagem são apresentados nas Figuras 1 e 2.
Figura 1 – Ateliê cubo em madeira – CCR Figura 2 – Ateliê cubo em alvenaria – CCR Projeto
Projeto Arquitetônico e os Materiais Arquitetônica e os Materiais
Fonte: Acervo dos autores, 2015. Fonte: Acervo dos autores, 2015.
Este exercício mostrou-se bastante adequado, pois a escolha dos materiais está
diretamente relacionada com os sistemas estruturais, preparando os discentes para o
conteúdo a ser ministrado na 4ª fase.
Figura 3 – Vedação em parede de taipa de mão – CCR Figura 4 – Mobiliário em madeira – CCR
Canteiro Experimental I Canteiro Experimental I
Fonte: Acervo dos autores, 2014. Fonte: Acervo dos autores, 2014.
segundo associa superfície ativa e forma ativa. Nesse contexto, temos a proposição da
organização do componente em três módulos equivalentes ao desenvolvimento de cada um
dos estudos preliminares e um último módulo para o desenvolvimento do anteprojeto de
um dos sistemas estruturais anteriormente trabalhados. A escolha de qual estudo preliminar
424
será aprofundado em nível de anteprojeto é pautada no assessoramento e desenvolvimento
do projeto do discente.
Cada módulo de estudo preliminar é composto por aulas teóricas integradas a atividades
práticas com modelos e aulas de assessoramento. Assim, em cada um desses módulos, os
discentes apresentaram estudos preliminares de partido e setorização, acompanhados de
estimativa dimensional dos elementos estruturais (pilares, vigas, lajes, entre outros)
utilizando ábacos de Rebello (2000), maquetes do partido estrutural e lançamento da
estrutura através de esquemas estruturais. O módulo final para desenvolvimento do
anteprojeto é composto por assessoramentos, com ênfase no detalhamento construtivo do
sistema estrutural proposto. Exemplos desta abordagem são apresentados nas Figuras 5 a 8.
Figura 5 – Atividade prática em forma ativa – Figura 6 – Atividade prática em forma ativa –
Projeto Arquitetônica e Sistemas Estruturais Projeto Arquitetônica e Sistemas Estruturais
Fonte: Acervo dos autores, 2016. Fonte: Acervo dos autores, 2016.
Figura 7 – Estudo preliminar massa ativa – Figura 8 – Estudo preliminar massa ativa –
Projeto Arquitetônica e Sistemas Estruturais Projeto Arquitetônica e Sistemas Estruturais
Fonte: Acervo dos autores, 2016. Fonte: Acervo dos autores, 2016.
forma arquitetônica e a estrutural por meio de exercícios práticos, em que os estudantes são
desafiados a criar, construir e elaborar críticas sobre as próprias decisões projetuais e
construtivas (MODLER; MODLER, 2015).
As abordagens metodológicas utilizadas no Canteiro Experimental devem, antes de tudo,
425
confrontar o estudante de arquitetura com uma série de conceitos abstratos relativos ao
comportamento estrutural de elementos arquitetônicos. Assim equilíbrio e estabilidade
estrutural, bem como forma arquitetônica, devem ser materializados no primeiro encontro
do componente no exercício “Forma e Equilíbrio”. Conceitos físicos importantes, como
centro de massa e rotação de corpo rígido, também são incorporados à discussão através de
demonstrações concretas em sala de aula.
A importância desse processo se reflete na capacidade do discente de, ao observar a obra
arquitetônica, identificar as características formais que facilitam ou dificultam seu estado de
equilíbrio. Ao perceber esta ligação, fica claro ao discente que a busca de formas mais
estáveis, antes de limitar sua criação, o libera, pois resulta em estruturas mais leves e
versáteis. A partir de uma abordagem simples e quase completamente qualitativa, o
componente curricular segue propondo desafios que aprofundam a apreensão do
conhecimento do estudante acerca da íntima relação entre forma e estrutura. As Figuras 9 e
10 apresentam exemplos de exercícios concluídos.
Fonte: Acervo dos autores, 2017. Fonte: Acervo dos autores, 2017.
3. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Como descrito anteriormente, a estruturação didático-pedagógica dos componentes
curriculares de projeto arquitetônico sofreu modificações ao longo dos anos, culminando em
uma maior escala na mudança do PPC do curso de arquitetura e urbanismo da UFFS. O
Quadro 3 apresenta as principais alterações do PPC do curso. Especificamente nos
Componentes curriculares descritos no presente artigo, as principais modificações estão
apresentadas no Quadro 4.
A primeira constatação observada é que o componente curricular “Projeto Arquitetônico
e os materiais” necessitava de maior carga horária para permitir o desenvolvimento dos
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
discentes sobre o conteúdo. O novo PPC do curso aumentou esta carga horária de 6 para 8
créditos. A questão da materialidade também é uma discussão importante, pois como
observado nas primeiras estruturações didático-pedagógicas, o foco no desenvolvimento do
projeto muitas vezes passava para os revestimentos internos e externos e não no uso
427
correto dos materiais envolvidos na concepção do projeto arquitetônico. Fixando-se apenas
nos materiais e técnicas construtivas ligados à concepção da edificação do ponto de vista
estrutural e de vedação, verificou-se maior compreensão dos discentes sobre a ênfase da
fase e um melhor desenvolvimento no projeto da 4ª fase. O problema que surge desta
opção é que os discentes não possuem repertório necessário sobre sistemas estruturais e,
muitas vezes, algumas alternativas ainda não podem ser exploradas, pois este conteúdo é a
ênfase da 4ª fase do curso.
Outra modificação realizada no novo PPC refere-se a conteúdos preliminares, em que foi
incluído o CCR “Introdução aos sistemas estruturais” na 3ª fase, pois verificou-se que a
apresentação deste conteúdo teórico anteriormente ao projeto arquitetônico da 4ª fase
facilita o seu desenvolvimento. Ressalta-se que outros aspectos no desenvolvimento e análise
dos projetos arquitetônicos, como a composição estético-plástica, fluxos e dimensionamentos
programático-funcionais, também são abordados nos exercícios de projeto.
Quanto aos CCRs de Canteiro Experimental, observa-se que a execução prática realizada
pelos discentes contribui para sua formação, pois os exercícios propostos permitem uma melhor
visualização das características, propriedades e possibilidades estruturais dos materiais.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
4. CONSIDERAÇÕES
As ênfases existentes no PPC do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFFS mostraram-se
importantes no resultado final dos componentes curriculares de projeto arquitetônico.
Como a ementa dos componentes de projeto preconiza o protagonismo de “materiais” e
“sistema estrutural”, é possível direcionar o desenvolvimento do projeto para atingir estes
objetivos. O projeto arquitetônico da 3ª fase necessita do uso correto dos materiais,
principalmente em relação à sua estrutura, vedações e cobertura e o projeto arquitetônico
da 4ª fase tem o sistema estrutural como principal elemento.
Apesar das ênfases, outros aspectos importantes como representação gráfica, conforto
(térmico, lumínico e acústico) também são abordados e discutidos. No caso do conforto
ambiental, como esta é a ênfase da 5ª fase, a abordagem é mais superficial, mas esta discussão
torna-se importante para que o futuro profissional não perca a percepção do todo. Interessante
notar que os próprios discentes questionam diversas vezes sobre o correto uso dos materiais e
sistemas estruturais e as consequências do ponto de vista de conforto ambiental.
A mudança descrita na estrutura didático-pedagógica do projeto da 3ª fase procurou a
integração com a ênfase do projeto da 4ª fase e, apesar de parte do conteúdo de materiais
não ser abordado, o recorte auxiliou no desenvolvimento dos discentes.
Esta divisão em ênfases, conjuntamente com a estruturação didático-pedagógica que insere
a abordagem teórica na ação projetual, é importante no sentido em que conduz os discentes a
projetar com diversos materiais e sistemas estruturais, ao invés de apenas analisar ou
entender as características e os fenômenos a eles relacionados, ou seja, o conteúdo teórico
apresentado ao discente necessita se materializar em um projeto arquitetônico.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos discentes e aos docentes do curso de Arquitetura e Urbanismo
da UFFS pelas discussões realizadas para a estruturação didático-pedagógica dos
componentes curriculares apresentados.
429
REFERÊNCIAS
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IMBRONITO, M. I.; ALMEIDA, E., BRASIL, L. T. de. Mock-up de habitação: relação entre concepção,
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL - UFFS PRÓ-REITORIA DE
GRADUAÇÃO DIRETORIA DE ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA. Projeto Pedagógico do Curso de
Graduação em Arquitetura e Urbanismo – Bacharelado. Chapecó, 2013.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL - UFFS PRÓ-REITORIA DE
GRADUAÇÃO DIRETORIA DE ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA. Projeto Pedagógico do Curso de
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sistemas estruturais: relato de práticas didático-pedagógicas da UFFS. Cadernos ABEA, Balneário
Camboriú, v. 39, p. 662-678, 2014.
CONCEPÇÃO ARQUITETÔNICA A PARTIR DE MODELOS TRIDIMENSIONAIS
DIGITAIS DE SISTEMAS ESTRUTURAIS
RESUMO
Os programas computacionais com interface e comandos que facilitam a modelagem tridimensional
são, cada vez mais, instrumentos fundamentais à concepção arquitetônica desde as primeiras
instâncias da formação do arquiteto e urbanista. Por outro lado, ainda que as ferramentas de
modelagem geométrica tridimensional digital facilitem a concepção da forma, esta atividade não
prescinde dos saberes construtivos, uma vez que a tensão entre estrutura física e estrutura visual
constitui um dos problemas centrais da criação arquitetônica. Este artigo apresenta uma experiência
de ensino-aprendizagem de modelagem geométrica tridimensional digital de objetos arquitetônicos,
em que os requisitos da estrutura resistente devem aparecem como elementos significantes de sua
linguagem e expressividade. Trata-se de um exercício interdisciplinar realizado em curso de
Arquitetura e Urbanismo, visando à integração de saberes, em que os alunos utilizam o conteúdo
apreendido na disciplina Sistemas Estruturais I, para fundamentar a construção de um modelo
geométrico tridimensional digital, na disciplina Perspectiva, um ano depois. A modelagem digital da
estrutura resistente foi precedida de um pré-dimensionamento, à maneira do exercício realizado na
disciplina Sistemas Estruturais I, utilizando-se dos gráficos contidos em Rebello (2000), em que as
dimensões dos elementos estruturais são estimadas para diferentes tamanhos de vãos. A construção
de modelos 3D gerados através de ferramentas informatizadas de auxílio ao projeto e
fundamentados no caráter tectônico da arquitetura, revelou-se um valioso instrumento didático do
saber-fazer arquitetônico, evidenciando a integração entre as partes da estrutura resistente e os
elementos formais e espaciais da arquitetura.
Palavras-chave: Sistemas Estruturais; Interdisciplinaridade; Modelos Tridimensionais Digitais.
ABSTRACT
Computer programs with interface and commands that make it easy to three-dimensional virtual
modeling are, increasingly, essential tools for the architectural design from the earliest steps of the
formation of the architect and urban planner. On the other hand, although the digital three-
dimensional geometric modeling tools makes easy the conception of the form, this activity can not
ignore the constructive knowledge, since the tension between physical structure and visual structure
is one of the core problems of architectural creation. This article presents a teaching-learning
experience of digital modeling of three-dimensional geometric architectural objects in which the
requirements of the resistant structure should appear as significant elements of their language and
expression. It is an interdisciplinary exercise carried out in the undergraduate degree in Architecture
and Urbanism, aimed at integrating knowledge, where students use the seized content in Structural
Systems I course, to support the construction of a digital three-dimensional geometric model in
Perspective course, on a year later. The digital modeling of the resistant structure, in the manner of
the exercise performed in the discipline Structural Systems I, was preceded by a pre-dimensioning
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
using the graphs contained in Rebello (2000), where the dimensions of the structural elements are
estimated for different sizes of spans. Building 3D models generated through design aid computer
programs and based on the tectonic character of architecture, proved to be a valuable teaching
know-how tool, highlighting the integration between the parts of the sturdy structure and the formal
and spatial elements of architecture.
431
Keywords: Structural Systems; Interdisciplinarity; Three-dimensional Digital Models.
1. INTRODUÇÃO
A construção de modelos tridimensionais através de ferramentas digitais tem assumido
relevante papel na dialogia que se estabelece no processo projetual em arquitetura. Os
recentes avanços de programas computacionais com interface e comandos que facilitam a
modelagem tridimensional, no que diz respeito às instâncias de visualização, edição,
animação e texturização, vêm estendendo a participação destas ferramentas no processo de
projeto às fases iniciais de concepção. Os programas de modelagem tridimensional são, cada
vez mais, instrumentos fundamentais à concepção arquitetônica desde as primeiras
instâncias da formação do arquiteto e urbanista.
Ainda que as ferramentas digitais para a modelagem geométrica tridimensional
possibilitem a construção de formas geométricas desde as mais simples às mais complexas,
de maneira muito mais fácil e intuitiva do que os processos manuais utilizados até alguns
anos atrás, a concepção da forma arquitetônica não prescinde dos saberes construtivos,
uma vez que a tensão entre estrutura física e estrutura visual constitui um dos problemas
centrais da criação arquitetônica. Conforme muito bem argumenta Mahfuz (2003, p. 69),
“abstrair-se da realidade física da arquitetura significa cair na pura geometria”.
Para muitos estudiosos – como Angus MacDonald (2001), Lopes, Bogéa e Rebello (2006) e
Rebello (2000) –, a estrutura formal arquitetônica necessita nascer concomitantemente a
uma proposta de estrutura resistente, que lhe é intrínseca, para que a primeira não corra o
risco da não exequibilidade, principalmente quando ela define a própria arquitetura. Ou
seja, quando os requisitos da estrutura resistente aparecem como elementos significantes
de sua linguagem e expressividade.
O contínuo desenvolvimento dos recursos e das interfaces intuitivas dos programas
computacionais que se destinam a construção de modelos tridimensionais digitais têm
trazido estas ferramentas para a fase inicial de concepção do projeto arquitetônico, o
momento da síntese da forma. A utilização desses programas tem sido cada vez mais
relevante na dialogia que se estabelece entre o arquiteto e as suas ferramentas de
concepção ao longo do processo projetual, desde o estudo preliminar até o detalhamento
do projeto executivo. Com estas premissas, habilitar os alunos o mais cedo possível na
utilização operacional dos recursos oferecidos por estes programas passa a ser uma tarefa
importante na formação do arquiteto e urbanista.
Neste trabalho, apresentamos os resultados e a consequente reflexão de uma experiência
de ensino-aprendizagem de modelagem geométrica tridimensional digital da arquitetura a
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
partir de seu caráter tectônico, no que diz respeito às interações entre a forma arquitetônica
e sua estrutura resistente.
A experiência consistiu na realização de exercícios interdisciplinares no curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, visando à integração
432
de saberes, em que os alunos utilizam o conteúdo apreendido na disciplina Sistemas
Estruturais I, localizada no primeiro período, para fundamentar a construção de um modelo
geométrico tridimensional digital na disciplina Perspectiva, dois períodos depois.
2. A INTERDISCIPLINARIDADE
A prática interdisciplinar entre Sistemas Estruturais I e Perspectiva teve como meta
principal colaborar para o desenvolvimento de uma consciência construtiva desde os
primeiros anos da formação do arquiteto, estimulando a concepção da estrutura resistente
da forma arquitetônica desde as primeiras fases do processo projetual. O que pode ser
alcançado com maior facilidade através dos recursos das ferramentas digitais utilizadas para
a construção de modelos geométricos tridimensionais.
A disciplina Sistemas Estruturais I, ministrada no primeiro período do curso, tem como
objetivos fundamentar a identificação e compreensão qualitativa dos fenômenos estruturais
básicos de edifícios e estimular a concepção estrutural no processo de criação do espaço
arquitetônico a partir da apreensão da relação entre estrutura resistente e estrutura
arquitetônica. Os dois primeiros módulos dessa disciplina são fundamentalmente teórico-
analíticos, sendo o terceiro de ordem teórico-prática, em que os alunos aplicam e
experimentam os conceitos e fundamentos das associações de sistemas estruturais básicos
para a concepção da cobertura de um espaço arquitetônico, representado a partir de
modelos físicos reduzidos – maquetes – sendo utilizados para pré-dimensionamento dos
sistemas estruturais os gráficos contidos em Rebello (2000), elaborados pelo professor Philip
A. Corkill da Universidade de Nebraska e traduzidos e adaptados para o sistema métrico
decimal pelo professor Yopanan Rebello e Walter Luiz Junc (Figura 1).
Fonte: Maquete de paraboloide da aluna Vanessa Daltro, do sistema pilar árvore dos alunos Rayssa Alves da
Costa e Elton Cristovão, e da ponte em arco treliçado dos alunos Drizia Lima e José Alberto de Araújo.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Fonte: Maquetes digitais das passarelas dos alunos André Melo e Lizandra de Souza. Tenda modelada por
Adson Edno Silva Diniz – imagens editadas por Aristóteles Cordeiro.
3. CAMINHOS E RESULTADOS
Na experiência em apreço, o objeto de modelagem se constituiu de uma obra arquitetônica
significativa, em que sua estrutura formal fosse definida pela sua estrutura resistente,
conforme a classificação de Macdonald (2001), structure as architecture (estrutura como
arquitetura), para que se evidenciasse o fundamento do exercício que consistia em estimular a
apreensão do espaço arquitetônico a partir das interações entre estrutura formal e estrutura
resistente, numa abordagem tectônica de concepção da arquitetura.
A metodologia adotada fundamentou-se no conteúdo das duas disciplinas e no recurso da
“reconstrução” de uma obra existente a partir da construção de modelo geométrico
tridimensional digital, importante no processo de compreensão e apreensão da arquitetura
e das relações entre suas partes, em particular, dos seus nexos tectônicos.
O primeiro passo do exercício consistiu em pesquisa bibliográfica de obras arquitetônicas
significativas, cuja estrutura formal evidenciasse um dos sistemas, ou uma associação de
sistemas estruturais – arco, treliça, viga vierendeel, viga de alma cheia e cabo, arco e treliça,
ou membrana tensionada – como classificado em Yopanan Rebello (2000) e estudados,
anteriormente, na disciplina Sistemas Estruturais I. Em seguida, os alunos realizaram a
“reconstrução” da obra, ou de parte significativa da mesma, relacionada ao fundamento do
exercício – as interações entre estrutura resistente e estrutura formal – através da
construção do modelo geométrico tridimensional digital.
Dos modelos geométricos digitais elaborados na segunda etapa da experiência
interdisciplinar, como exercício de modelagem final da disciplina Perspectiva, selecionamos
três que ilustram bem as reflexões suscitadas com a realização do exercício de modelagem
fundado no caráter tectônico da arquitetura e com a análise de seus resultados.
Esses trabalhos representam edificações que foram concebidas para diferentes
propósitos – uma estação ferroviária, um restaurante e uma residência – e com estruturas
resistentes constituídas por diferentes materiais como metal, concreto e madeira. Mesmo
com estas diferenças são três objetos arquitetônicos que atendem perfeitamente às
demandas do exercício de modelagem – a de edificações onde o sistema estrutural
desempenha papel de protagonista da forma arquitetônica, tornando evidente sua
participação no ato de conceber o espaço arquitetural.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Fonte: Modelo 3D da aluna Maria Isabel de P. Rocha – editado por Aristóteles Cordeiro.
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Fonte: Modelo 3D do aluno Alcides Henrique da Silva – editado por Aristóteles Cordeiro.
4. À GUISA DE DISCUSSÃO
A construção de modelos 3D gerados através de ferramentas informatizadas de auxílio ao
projeto e fundamentados no caráter tectônico da arquitetura revelou-se um valioso
instrumento didático do saber-fazer arquitetônico. Isto porque este processo evidencia a
integração entre as partes da estrutura resistente e os elementos formais e espaciais da
arquitetura, sendo de extrema importância para a compreensão do papel do sistema
estrutural como suporte à concepção da arquitetura.
Para tanto, torna-se necessário construir um modelo 3D isomórfico, unívoco e relacional,
que reproduza vis-à-vis as suas partes e componentes e que tenham relações lógicas de
dependência entre estas partes (CORDEIRO, 2007).
Os métodos e as técnicas para a modelagem tridimensional na disciplina Perspectiva
buscam a construção de modelos das edificações e seus entornos de forma a que estas três
características estejam sempre presentes. São elas que possibilitam a construção de
modelos multifuncionais e integrados ao ambiente donde se dá a síntese arquitetônica.
O isomorfismo é a característica que impõe, de antemão, a tridimensionalidade dos
modelos. Se o isomorfismo determina que o modelo deva ser formalmente semelhante ao
objeto edificado, temos por corolário, que só um modelo tridimensional é capaz de atender
adequadamente a esta característica.
A utilização da expressão “formalmente semelhante” deriva da impossibilidade teórica –
e prática – de se construir um modelo que tenha vinculações formais de identidade com o
objeto. Em outras palavras, que lhe seja formalmente idêntico. Assim, é necessário
estabelecer a priori qual o grau de similaridade da representação formal tendo em vista as
funções que o modelo deve exercer ao longo do ciclo de projeto.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Fonte: Modelo 3D do aluno Alcides Henrique da Silva – editado por Aristóteles Cordeiro.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Esta operação lógica, a de decompor a edificação ou sistema construtivo real que serve
de objeto em suas partes constituintes, não visa apenas garantir o caráter unívoco e
relacional do modelo digital. Demanda o desenvolvimento de um olhar analítico onde os
conhecimentos sobre as estruturas resistentes vão conduzir a decomposição formal do
439
objeto, uma forma profissional de ver a edificação. Uma das mais importantes contribuições
da utilização de modelos tridimensionais digitais no curso de arquitetura é a facilidade com
que eles possibilitam o desenvolvimento deste olhar analítico.
A análise da arquitetura a partir de sua dimensão tectônica permite a compreensão de
que, no fazer arquitetônico, expressividade e materialidade estão intrinsecamente
associadas, ou seja, arquitetura enquanto arte não se dissocia das técnicas e materiais que a
concretizam (ROCHA, 2012).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência ora relatada não pretende encerrar toda a problemática existente na
apreensão de saberes em curso de arquitetura, a partir do método e do tipo de exercício
adotado. Visa apenas contribuir na reflexão sobre o uso de ferramentas digitais na apreensão
e concepção da forma arquitetônica desde o início da formação do arquiteto e urbanista.
A realização deste exercício interdisciplinar, além de promover a recapitulação e a
consolidação dos conhecimentos apreendidos em um período anterior, no caso da disciplina
Sistemas Estruturais I, igualmente promoveu a construção de modelos digitais com uma
maior consistência formal, ao considerar o caráter tectônico da arquitetura. Esses modelos
digitais por sua vez passam a se constituir em ferramentas de auxílio didático para a
disciplina Sistemas Estruturais I, realimentando o processo de interdisciplinaridade.
Acredita-se que experiências similares estejam acontecendo nos cursos de arquitetura e
urbanismo, decorrentes da difusão e do aperfeiçoamento das ferramentas digitais de
modelagem tridimensional. A mudança de paradigma que estas ferramentas proporcionam
– a passagem de uma concepção de projetos baseada em desenhos para uma concepção de
projetos baseada em modelos – é um estímulo para experimentar novas formas e técnicas
de conduzir o ensino e a aprendizagem na arquitetura.
REFERÊNCIAS
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macroergonômica. 2007. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-graduação em Engenharia de
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MENEZES, Alexandre Monteiro de (1); VIANA, Maria de Lourdes Silva (2); PEREIRA
JUNIOR, Mário Lúcio (3); PALHARES, Sérgio Ricardo (4)
RESUMO
Esta pesquisa investigou o ensino de projeto de edificações nas escolas de arquitetura e
engenharia civil em Belo Horizonte por meio de análise dos projetos pedagógicos e das
matrizes curriculares. Buscou identificar experiências de ensino integrado e simultâneo de
projeto de arquitetura e projeto de estruturas. Procurou verificar a adequação da formação
acadêmica à prática profissional, no mercado da construção civil. Tal adequação baseou-se
em estudos que apontam problemas no tradicional processo linear e tutorial de ensino e de
prática de projeto de edificação, que são geralmente decorrentes de falhas na comunicação
gráfica entre profissionais parceiros. O sistema BIM (Building Information Modeling) parece
possibilitar o trabalho simultâneo de troca de informações entre profissionais parceiros no
ensino e na prática de projeto de edificações. Há evidências que o uso do BIM permite a
simulação de etapas da construção, antevendo as interferências entre projetos, antes da sua
execução. Este artigo traz alguns resultados da investigação sobre o ensino integrado e
simultâneo de arquitetura e estrutura, na prática de projetos de edificações, com o uso da
tecnologia BIM, nas escolas de arquitetura e engenharia civil em Belo Horizonte. A hipótese
é de que há uma inadequação entre a linearidade dos processos no ensino corrente e as
demandas por maior integração e simultaneidade de projetos na prática profissional. A
confirmação desta hipótese poderá subsidiar desdobramentos para futuras pesquisas,
testando mudanças metodológicas de ensino de projeto de edificações. Esta pesquisa busca
analisar a adequação (ou não) do sistema BIM ao ensino de projeto de edificações.
Palavras-chave: Tecnologia BIM; Ensino de Projeto; Arquitetura e Estrutura.
ABSTRACT
This research investigated the teaching of building design in architecture and civil engineering
schools in Belo Horizonte through an analysis of pedagogical projects and course syllabi. It sought
to identify experiences of integrated and simultaneous teaching of architectural and structural
design, and moreover verify the adequacy of academic training to professional practice in the
construction market. This adequacy was based on studies that pointed to problems in the
traditional linear process and tutorial of teaching and practice of building design, which are usually
due to failures in graphic communication between professional partners. The BIM (Building
Information Modeling) system seems to allow the simultaneous exchange of relevant data and
information between professional partners in the teaching and practice environments of building
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
design. There is evidence that the use of BIM allows the simulation of construction stages,
anticipating the identification of interferences between projects, before their execution. This article
brings some results of the research on the integrated and simultaneous teaching of architecture
and structures in the practice of building projects, using BIM technology, in architecture and civil
engineering schools in Belo Horizonte. The hypothesis is that there is an inadequacy between the
442 linearity of processes in current teaching on one side and the demands for greater integration and
simultaneity of projects in professional practice on another. The confirmation of this hypothesis
may promote and support further unfolding and extensions for future research, thus testing
methodological changes in the teaching of building design. This research seeks to analyze the
adequacy (or not) of the BIM system to the teaching of building projects.
Keywords: BIM technology; Project Teaching; Architecture and Structure.
1. INTRODUÇÃO
Nos modelos profissionais de produção baseados em divisão de tarefas, os trabalhadores
especializavam-se nas suas respectivas áreas de atuação, sem se preocuparem com as
outras, ainda que a elas vinculadas. Desta forma, não havia pensamento de integração do
conhecimento, tampouco da realização da tarefa em conjunto (BITTENCOURT, 2003).
Entretanto, o desenvolvimento tecnológico e a globalização vieram reforçar a competição no
mercado de trabalho, impondo a demanda por maior rapidez no processo de produção.
Em decorrência disto, as empresas começaram a investir no trabalho em equipe, deixando
de lado a hierarquização que antes tomava conta de suas estruturas (PEREIRA; FREIRE; SEIXAS,
2002). Desta forma, o mercado de trabalho passou a procurar profissionais com capacidade de
integração, aptos ao trabalho em equipe, com conhecimento e visão sistêmica de todo o
processo de produção e desenvolvimento do projeto (BITTENCOURT, 2003).
Tradicionalmente temos acompanhado um processo de construção civil no qual o modelo
de planejamento se apresenta sequenciado e fragmentado em todas as suas etapas de
produção. O projeto de arquitetura, via de regra, é concebido preliminarmente, atendendo a
pressupostos conceituais, condicionantes técnicos e ambientais, parâmetros legais e, numa
etapa posterior, e de maneira subordinada, são desenvolvidos e compatibilizados os projetos
complementares de engenharia, como estrutura, entre outros. Decisões técnicas tomadas
isoladamente, posteriores às decisões arquitetônicas, podem gerar incongruências e
incompatibilidades de informações, trazendo sérios prejuízos para o resultado das obras como
retrabalho, desperdícios, atrasos, alto custo de produção e baixa qualidade (OKAMOTO, 2006).
Várias pesquisas têm sinalizado para estes problemas, reflexos deste processo linear de
concepção e desenvolvimento de projetos, que induz a falhas na comunicação gráfica entre
os profissionais parceiros (OKAMOTO, 2006; SANTOS, 2003; FABRÍCIO et al., 1999; MENEZES
et al.,2008; MENEZES et al., 2009), e decorre de uma metodologia de ensino e prática de
projeto igualmente tutorial e linear. O entendimento deste processo é consagrado não
somente na prática, mas também, em várias normas técnicas vigentes que consideram o
projeto de arquitetura como o responsável pelas indicações a serem seguidas pelos projetos
de estruturas e instalações (MELHADO, 1997).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
das atuais. Deste modo, torna-se necessário verificar a adequação, ou não, da tecnologia
BIM às teorias contemporâneas de aprendizagem aplicadas ao ensino de projeto de
edificações, por meio da interdisciplinaridade. Segundo Checcucci et al. (2011), das
publicações feitas por pesquisadores sobre o BIM, 24% se encaixam em uma categoria
445
definida por eles como “descrições e análises sobre experiências de ensino utilizando o
BIM”. Os autores afirmam ainda que a tecnologia BIM está, aos poucos, fazendo parte da
preocupação no ensino da engenharia e arquitetura, e que é pequena a difusão de material
sobre o tema, que possa ser acessado livremente, trazendo, assim, dificuldades ao
desenvolvimento dos trabalhos de pesquisa. Entretanto indicam que a maior concentração
de pesquisadores encontra-se nas regiões Sul e Sudeste do país, sendo que a maior
concentração de artigos publicados sobre o BIM está em São Paulo.
Diante da nova tecnologia BIM, as empresas da construção civil vão passar por uma
reestruturação na qual será necessário um outro tipo de raciocínio do processo de projeto,
impondo integração entre suas diversas etapas. A implantação do sistema BIM será de forma
gradual, mas também levará os escritórios a uma alteração do método convencional de
trabalho. O sistema BIM tem como princípio, “auxiliar no processo de criação e gerenciamento
de informações relacionadas à construção, de modo integrado, reutilizável e automatizado,
gerando um modelo digital do edifício ao invés de uma série de desenhos” (LEE et al., 2006).
O sistema BIM permite aos responsáveis pela construção a simulação de etapas da
construção, antevendo as interferências entre projetos. Desta maneira, todos os agentes
participam desse processo, simultaneamente, apresentando uma alternativa para um
processo linear. A pesquisa desenvolvida por Menezes et al. (2010), que estuda a tecnologia
BIM, destaca a importância da troca de experiência e o confronto das opiniões diversas nas
áreas de ensino de Arquitetura, Engenharia e Informática. De acordo com Lee et al. (2006),
este sistema oferece recursos que favorecem a representação e a visualização e que permitem
a modificação dos elementos de forma direta e intuitiva. Eles garantem a centralização da
informação e possibilitam que as atualizações sejam facilmente registradas. As modificações
em uma parte do projeto propagam automaticamente atualizações em outras.
As vantagens do sistema BIM estão relacionadas com a melhor coordenação dos
elementos construtivos e suas interferências, com a redução das horas de serviço, com o
crescimento na produtividade, com a melhoria da qualidade dos desenhos e detalhamentos
e com o controle centralizado do conteúdo e das versões dos documentos de projetos.
Segundo Azuma et al. (2007), o BIM é uma tecnologia que surgiu em função das
preocupações com o tempo e custo gastos na modelagem das informações do edifício. Para
Birx (2006), o BIM é uma evolução no processo de projeto, pois permite novas possibilidades
de visualização e processamento da informação.
Nascimento e Santos (2003) e Bazjanac (2004), citados por Souza et al. (2010), afirmam
que alguns fatores vêm dificultando a implantação efetiva da tecnologia BIM nos escritórios.
Destacam investimento alto em novos equipamentos, arquivos extras e necessidade de
treinamentos dos profissionais, suporte técnico, falta de tempo, resistência à mudança,
longo processo de aprendizagem, deficiência dos softwares e indisponibilidade de uma
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
versão de software gratuita para teste. Já Faria (2007) diz que, apesar das vantagens
advindas do uso, o BIM entrou com força no mercado brasileiro apenas no segmento de
projetos de arquitetura, na etapa inicial da modelagem da edificação. Geus et al. (2007)
dizem que a solidificação da engenharia simultânea na construção exige a formação prévia
446
da equipe de colaboradores e uma comunicação constante durante todo o ciclo de vida do
projeto, o que não acontece nos modelos educacionais na arquitetura e engenharia.
O uso das tecnologias de informação permite a substituição da engenharia sequencial
pela engenharia simultânea, o que reduz as deficiências do processo tradicional sequencial,
como a falta de integração na troca de informações e seus consequentes retrabalhos. A
associação dos sistemas colaborativos de projetos com a tecnologia da informação fornece
uma ferramenta para solucionar problemas do setor da construção civil, como a
fragmentação, a falta de comunicação e coordenação do trabalho desenvolvido entre
projetistas, fornecedores, colaboradores e clientes. Ferreira (2007) ainda enfatiza que o
projeto, além de ser caracterizado como uma forma organizada de informações
compartilhadas, está presente em todas as etapas de execução da obra.
O sistema de informações de construção BIM procura modelar todos os assuntos relativos
à edificação e padronizá-los, compartilhando todas as informações entre os agentes de
maneira interativa e colaborativa. Com os programas BIM, os projetos são elaborados já em
três dimensões, exigindo um esforço de abstração dos projetistas, acostumados a trabalhar
com desenhos em duas dimensões. No longo prazo, porém, um dos grandes problemas da
coordenação de projetos, relativos às interferências entre os sistemas, tende a desaparecer.
Holland, citado por Barison e Santos (2011), afirma que as muitas companhias em todo o
mundo que estão desenvolvendo projetos utilizando a tecnologia BIM procuram por
profissionais que realmente possam trabalhar em projetos BIM; e, com o intuito de atender a
essa demanda, varias matérias estão sendo implantas pelas escolas para expor os alunos a
essas novas ferramentas. No entanto, Barison e Santos (2011) ressaltam que, além de novas,
essas experiências acadêmicas se baseiam em pedagogias que ainda não foram consolidadas.
Segundo Kymell, citado por Barison e Santos (2011), é possível que os cursos que
planejam introduzir a tecnologia BIM em seu currículo enfrentem obstáculos como as
circunstâncias do ambiente acadêmico, dificuldades no aprendizado e/ou na utilização de
ferramentas BIM e a não compreensão dos conceitos BIM.
Para Barison e Santos (2011), a colaboração é um dos conceitos fundamentais
introduzidos pela tecnologia BIM e a integração de diferentes disciplinas é necessária para
seu uso e ensino. Entretanto, tradicionalmente, as instituições não têm interação entre seus
departamentos, além do fato que nem todas as instituições possuem mais de um curso na
área de Arquitetura, Engenharia e Construção.
Segundo Maines (2001), existe uma aversão à ideia do domínio do processo total, na
medida em que no complexo mundo atual torna-se impensável o entendimento de um
homem com saber integral. Porém, essa percepção não significa um saber completo, mas
um domínio da ligação entre o conhecimento, sua aplicação e a interdependência do
trabalho de um profissional com o de outras pessoas.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Importante também destacar uma resistência por parte daqueles que já iniciaram o
processo de aprendizagem utilizando o sistema CAD (Computer Aided Design). Conforme
Delatorre e Pereira (2014), aprender novos comandos e ferramentas, em novo software,
pode ser visto como uma espécie de “retrabalho”, gerando certo desinteresse. Outra
448
problemática notada, citada por alguns grupos de pesquisa como Delatorre, Miotto e Pereira
(2015) e Menezes (2012), é o risco da redução da potencialidade do BIM a um simples
modelador 3D, desconsiderando-se a integração multidisciplinar no processo de projeto.
3. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento da pesquisa, foi feito um levantamento bibliográfico com o
objetivo de identificar artigos científicos, teses ou dissertações relacionadas ao ensino de
projeto simultâneo no Brasil. Assim, esse estudo iniciou com a seleção e classificação dos
textos conforme o grau de convergência com a discussão do ensino de projeto simultâneo
no Brasil. Também foram selecionados artigos relacionados com a questão da linearidade na
forma do ensino e da prática de projeto de edificações, a importância da plataforma BIM no
processo de transição do projeto linear de projeto para o simultâneo, incluindo a inserção
nos currículos dos cursos de arquitetura e engenharia, com foco nas dificuldades e
facilidades no processo de implantação e adaptação.
Com o objetivo de investigar a hipótese apresentada, foram identificadas e selecionadas,
a princípio, instituições que ministram os cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia
Civil no estado de Minas Gerais. Para isto, o sistema referencial usado na coleta dos dados
dos cursos foi o e-MEC. Conforme o site oficial:
O e-MEC é um sistema eletrônico de acompanhamento dos processos que regulam
a educação superior no Brasil. Todos os pedidos de credenciamento e
recredenciamento de instituições de educação superior e de autorização,
renovação e reconhecimento de cursos, além dos processos de aditamento, que
são modificações de processos, serão feitos pelo e-MEC (MEC, 2015).
sobre esses cursos nos sites das instituições, sendo 4% no caso dos cursos de Engenharia
Civil e 9% no caso dos cursos de Arquitetura e Urbanismo. Também foram consideradas
exceções aquelas instituições que não tiveram seus endereços eletrônicos localizados ou
estavam errados. A análise dos gráficos assegurou que a quantidade de matrizes
449
encontradas foi suficiente para o desenvolvimento da pesquisa.
Em seguida, procuraram-se nas matrizes curriculares, por meio da análise dos títulos das
disciplinas, aquelas que pudessem, a partir do projeto de arquitetura, ou projeto de estrutura,
ou projeto de instalações, estarem vinculadas a experiências de projeto simultâneo.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
A partir da seleção de algumas destas disciplinas, e com análise das matrizes curriculares,
foram feitos contatos com os coordenadores dos cursos e solicitadas as respectivas
ementas. A dificuldade de resposta conduziu a um ajuste metodológico, passando-se a
adotar um questionário para coleta de dados, desta vez, direcionado às três Universidades
450
de Belo Horizonte (Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Universidade FUMEC e
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas), e aplicado presencialmente
junto aos coordenadores dos cursos de Arquitetura e Engenhara Civil. Este novo foco
priorizou as Universidades em relação aos Centros Universitários.
5. CONSIDERAÇÕES
A revisão da literatura evidenciou algumas adequações e inadequações do sistema BIM
ao ensino de projeto de edificações. Alguns autores apontaram alguns hábitos na utilização
do software, herdados de uma tecnologia anterior, que acabam trazendo uma utilização que
não opera na lógica do sistema, caracterizando equívocos e subutilização do potencial
oferecido. Estes hábitos apresentam-se como reflexo do ensino e da prática tradicionais,
operando as etapas separadamente (2D e 3D), em contraposição a uma lógica do sistema
que propõe informações simultâneas.
O sistema BIM se apresenta como alternativa, sinalizando uma nova abordagem para o
ensino e prática profissionais na medida em que introduz uma nova maneira de manipulação
das informações dos projetos parceiros, possibilitando trabalho simultâneo entre os
profissionais envolvidos no processo de construção civil. O programa permite avaliação e
tomadas de decisões em todas as etapas de concepção e desenvolvimento do projeto,
revelando coerência com um pressuposto do ensino que preconiza práticas de projeto
simultâneas. Além disto, ao evidenciar a necessidade de entender tanto projeto de
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
454
Gostaríamos de agradecer à Universidade FUMEC e à FUNADESP pelo apoio financeiro e
logístico.
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2016.
.
A EXPERIÊNCIA DA DISCIPLINA PROJETO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO
ARMADO NO CURSO DE A&U DA PUC MINAS
GRILLO, Antonio Carlos Dutra (1); MOTTA, Silvio Romero Fonseca (2); DINIZ; Giselle Moraes da
Fonseca (3)
(1) PUC Minas, acdgrillo@hotmail.com; (2) PUC Minas, silvio.motta@gmail.com; (3) PUC Minas,
gisellemdf@hotmail.com
RESUMO
O trabalho analisa a experiência da disciplina Projeto de Estruturas de Concreto Armado no curso de
Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas. Trata-se de uma disciplina emblemática da interface entre
arquitetura e engenharia, e que é ministrada em um curso que tem uma estrutura curricular
diferenciada, no qual as disciplinas destinadas ao ensino de estruturas se dão em ateliês de projeto,
com turma reduzida, onde os conhecimentos da engenharia são direcionados à aplicação no projeto, e
exercitados como tal. O trabalho apresenta uma análise crítica das experiências de vários professores
com a disciplina nos últimos dez anos, apresentando e discutindo as estratégias didáticas adotadas, os
limites e ênfases das abordagens teóricas, as múltiplas experiências de exercícios projetuais, e o
esforço de coordenação dos grupos da disciplina, ministrados por diferentes professores.
Palavras-chave: Ensino de estruturas; Arquitetura e engenharia; Concreto Armado.
ABSTRACT
This paper analyzes the experience of the discipline Concrete Structures Project in the Architecture
and Urbanism course of PUC Minas. It is a discipline that is emblematic of the interface between
architecture and engineering, and is taught in a course that has a differentiated curricular structure,
in which the structures disciplines happens in studios, with reduced class, where engineering
knowledge is directly applied in projects, and exercised on it. This paper presents a critical analysis of
the experiences of several teachers with this discipline in the last ten years, presenting and discussing
didactic strategies adopted, limits and emphases of theoretical approaches, the multiple experiences
of project exercises, and the discipline coordination efforts.
Keywords: Teaching of structures; Architecture and engineering; Concrete.
1 Para realização deste trabalho, foram analisados os Planos de Ensino dos professores Álvaro Drummond,
Andrea Sanchez, Antonio Grillo, Ayrton Hugo de Andrade e Santos, Carlos D'Àvila, Giselle Moraes da Fonseca
Diniz, Hugo Alkmim de Matos e Paulo Henrique Maciel Barbosa e Silvio Motta.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2.2 Palestras
O curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas tem como rotina convidar
profissionais e acadêmicos para dar palestras. Na maioria das vezes, as palestras organizadas
por uma determinada disciplina são abertas aos demais alunos do curso. A disciplina de
460 Projeto de Estruturas de Concreto participa nessa dinâmica, trazendo com frequência
palestrantes de áreas como concreto protendido e pré-fabricados.
4
Trabalho realizado pelo professor Ayrton Hugo de Andrade Santos.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
465
466
Fonte: <http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/eduardo-de-almeida-residencia-sao-18-01-2006.html>.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
467
Fonte: <http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/gil-carlos-de-camillo-edificio-institucional-15-01-2009.html>
3. CONSIDERAÇÕES
Apesar da riqueza das experiências didáticas levadas a cabo na disciplina Projeto de
Estruturas de Concreto Armado, não há ainda um trabalho de avaliação quantitativa dos
resultados obtidos, nem nessa disciplina, nem nas demais disciplinas de Tecnologia do
currículo da PUC Minas. Essa é uma lacuna de investigação que pode e merece ser explorada.
Ainda assim, é possível fazer um balanço do trabalho na disciplina ao longo desses anos, a
partir das discussões semestrais realizadas entre os professores, dos resultados dos trabalhos
elaborados, e das avaliações informais feitas pelos alunos ao final das disciplinas.
Uma questão que dá margem à discussão diz respeito não apenas a essa disciplina, mas à
lógica curricular de se ter, no Ciclo Profissionalizante, diferentes professores com diferentes
Planos de Ensino, mantendo-se apenas a ementa da disciplina comum a todos. Essa estratégia
implica em certa dificuldade operacional pela necessidade de um contínuo acompanhamento
do trabalho do professor, para que não ocorram "desvios", com ênfase excessiva em aspectos
ou da engenharia ou da arquitetura (conteúdos técnicos ou questões projetuais), questão
agravada pela constante presença de professores substitutos. Para minimizar essa questão,
pensa-se na possibilidade de se detalhar um pouco mais a ementa da disciplina.
Apesar dessa dificuldade, a diversidade docente se apresenta como positiva, por alguns
motivos. A necessidade de lidar, na mesma disciplina, com conhecimentos e habilidades
oriundos da engenharia e da arquitetura faz com que os professores tenham que aprofundar
em questões que, na maior parte das vezes, não são originários de sua formação acadêmica
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
À PUC Minas - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, pelo apoio à participação
no evento.
Aos professores Ayrton Hugo de Andrade e Santos, Hugo Alkmim de Matos e Paulo
Henrique Maciel Barbosa pelas discussões iniciais sobre o trabalho e pela colaboração com o
material para o texto.
REFERÊNCIAS
SANTOS, R. E.; DUARTE, A. P. Curso de Arquitetura e Urbanismo: Projeto Pedagógico. Belo
Horizonte: PUC Minas, 2008. 142 p.
A QUESTÃO ESTRUTURAL DA ARQUITETURA DESCONSTRUTIVISTA
RESUMO
O estudo aborda a problemática da forma arquitetônica, com o objetivo geral de caracterizar o estilo
da arquitetura desconstrutivista, colocando em evidência a questão estrutural de projetos. O
objetivo específico concerne em identificar o tipo de tectônica do projeto The Peak, de Zaha Hadid.
Tal projeto foi exposto na exibição Deconstructivist Architecture, realizada no MoMA, Nova Iorque,
em 1988 – a etimologia do termo “arquitetura desconstrutivista” surge nesta exibição. Philip Johnson
e Mark wigley, curadores do evento, disseram em hipótese que os arquitetos participantes foram
influenciados pela Vanguarda Russa. A metodologia para atingir o objetivo foi bibliográfica, de
caráter textual e iconográfico; partindo do catálogo da exposição, também foram utilizados artigos,
teses, livros e entrevistas cedidas por Hadid. Identificamos que a forma desconstrutivista é intrínseca
à estrutura do projeto. Tal estética foi realizada pelo uso das formas puras encontradas no
modernismo, porém, são deformadas – por elementos diagonais conflitantes, que geram uma ilusão
de instabilidade estrutural. Os artistas russos dos anos 1920 trouxeram experimentos arquitetônicos
que não saíram do papel, sendo que apenas estruturas para cenários de teatro e outros afins foram
realizados. Os projetos arquitetônicos da exposição de 1988 questionavam a forma e a estrutura
tradicional, conferiu-se um rompimento de ideias e um avanço na discussão plástica. Conclui-se que,
ao compreender as características da forma desconstrutivista, realiza-se uma contribuição para a
consciência da tectônica; um fato relevante na questão estrutural de projetos de arquitetura.
Palavras-chave: Arquitetura Desconstrutivista; Tectônica; Zaha Hadid; Kazimir Malevich.
ABSTRACT
This study approaches the problematic of architectural form, aims at characterizing the
deconstructivist architectural style, and highlights the structural aspect of projects. The specific
objective concerns to identify the tectonics of Zaha Hadid’s The Peak project. This project was
exposed at Deconstructivist Architecture exhibition, realized at MoMA, New York, in 1988 - the
etymology of the term “deconstructivist architecture” appears in this exhibition. Philip Johnson and
Mark Wigley, curators of this event, have articulated a hypothesis that Russian avant-garde has
influenced the participants’ architects. The methodology to reach the objectives was bibliographical,
using textual and iconographic features; using the catalogue of the exhibition, articles, thesis, books,
and Hadid’s interviews. We have identified that deconstructivist form is intrinsic to the project
structure. Such aesthetics was realized by using of pure forms found out in modernism – by conflicting
diagonal elements, which generate an illusion of structure instability. The Russians artists of 1920’s
have brought architectonics experiments, which have never been done, only structures for theater
scenarios and other things were realized. We conclude that to comprehend the characteristics of the
deconstructivist form, a contribution will be realized for the consciousness of tectonics, this an
important fact in the structural question of architectures’ projects.
Keywords: Deconstructivist Architecture; Tectonic; Zaha Hadid; Kazimir Malevich.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
A problemática do estudo refere-se a questão estrutural da forma desconstrutivista. A
concepção deste tipo de arquitetura aconteceu nos anos 1980; Philip Johnson e Mark Wigley
organizaram uma exibição para melhor explicá-la. Chamada de Deconstructivist Architecture,
470 a exibição foi realizada na cidade de Nova Iorque, no MoMA (Museum of Modern Art), nos
dias 23 de junho a 30 de agosto de 1988. Johnson, que já havia organizado a exibição
Modern Architecture: International Exhibition (1932), uma das mais relevantes daquela
década, também foi responsável pela fundação do Departamento de Arquitetura e Design
do MoMa (1932), sendo encarregado pela curadoria das exibições Machine Art (1934) e
Mies Van der Rohe (1947).
Foram expostos dez projetos no total e participaram sete arquitetos/escritórios que
atualmente possuem renome mundial, são eles: Frank Gehry, Daniel Libeskind, Rem
Koolhaas, Peter Eisenman, Zaha Hadid, Coop Himmelblau e Bernard Tschumi.
Johnson (1988) definiu no prefácio do catálogo da exibição que a arquitetura
desconstrutivista não foi um movimento, não possuía regras e não consistiu em apenas sete
arquitetos; mas sim a confluência da forma arquitetônica de alguns projetos que surgiram
nos meados dos anos de 1980. O arquiteto questionou-se sobre a forma e, sabendo-se que
ela não se originou do nada, criou a hipótese que tais formas dos projetos expostos
possivelmente retornaram a um pensamento do construtivismo russo, de alguns artistas de
vanguarda dos anos 1920 e 1930, como Kazimir Malevich, El Lissitzky e Rodchenko. Johnson
ainda enfatizou o elemento que aparecia nas obras desses artistas: a sobreposição em
diagonal; torções de planos retangulares e trapezoides – em uma configuração estrutural.
A metodologia deste estudo foi de caráter qualitativo, bibliográfico – textual e
iconográfica. Partindo do catálogo da exibição, foram extraídos os conceitos para o
entendimento da questão estrutural da arquitetura desconstrutivista. Para a
complementação de tal teoria, foram utilizados livros, teses, artigos e a análise de um
projeto exposto, o The Peak de Hadid.
2. A FORMA TRADICIONAL
Wigley (1988) realizou uma abordagem teórica acerca da arquitetura, evidenciando o que
os arquitetos buscavam como forma estável, pura, sem instabilidade e desordem. Com a
imagem demonstrada na Figura 1, o curador da exibição demonstrou que a busca sempre foi
por um viés de regras compositivas que evitam os conflitos de junção das formas; o
retângulo com o círculo, por exemplo. Sem permitir a distorção das formas, mantendo a
pureza como garantia de estabilidade e sem um desvio de ordem estrutural. Sílvio Colin
(2009) escreveu em um artigo para a Revista AU que o uso dos sólidos geométricos puros
como o cubo, cilindro, prisma, paralelepípedo, entre outros, foram figuras estruturantes dos
projetos arquitetônicos modernos: “Em poucos momentos na história da arquitetura os
arquitetos pensaram em desobedecê-los” (COLIN, 2009).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
471
3. A FORMA DESCONSTRUTIVISTA
A exibição revelou uma nova concepção de forma arquitetônica, uma nova sensibilidade
até então não divulgada; a forma pura, que já era utilizada na arquitetura moderna foi então
deformada. Wigley (1988) explicou este conceito de deformação com uma metáfora, dizendo
que a forma tradicional havia sido contaminada, tornando o sonho em pesadelo. O curador da
exibição ainda enfatizou o motivo que fez os projetos serem chamados de desconstrutivos: foi
a habilidade que os arquitetos possuíam em perturbar nosso pensamento sobre a forma. A
palavra em si, “desconstrutivismo”, não se relaciona ou quer dizer algo sobre a filosofia da
desconstrução de Jacques Derrida; Wigley explicou que o prefixo “des” se referia a uma
abordagem das formas do construtivismo (des+construtivismo).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Neste projeto, apesar de visualizarmos uma “falha”, ela não é estrutural, não entra em
colapso, é um simulacro de deformação. Wigley (1988) afirmou que a desconstrução não é
demolição ou dissimulação, desta maneira, tais projetos que simulam estruturas quebradas
não estão inseridos na Arquitetura Desconstrutivista. “O arquiteto desconstrutivista não
destrói os edifícios, mas sim levanta os dilemas dos edifícios, ao realçar impurezas
reprimidas sob as formas puras da arquitetura tradicional” (DORFMAN, 2009, p.95).
A Vanguarda Russa com suas inveções provocou uma ameça das regras clássicas de
composição, contrapondo as hirarquias, harmônias e simetrias existentes; os artistas russos
utilizavam as formas puras para produzir formas impuras, composições geométricas
distorcidas (JOHNSON; WIGLEY, 1988). Malevich e Tátlin foram os precursores dos
movimentos suprematista e construtivista, respectivamente.
O movimento artístico criado por Malevich foi definido por Giulio Carlos Argan (2013)
como uma arte de identidade, condiz entre a ideia e a percepção, que, por meio das figuras
geométricas, criava-se um intrumento mental. Ou seja, uma arte não-objetiva, a pintura em
si não passa uma mensagem de um realismo pictórico, mas sim uma sensação, “graças ao
1
Disponível em: <http://www.messynessychic.com/2016/05/11/lost-facades-of-the-1970s-anti-walmart>.
Acesso em março, 2017.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2
Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Kazimir_Malevich_-_Supremus_58.jpg>. Acesso
em março, 2017.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Para Wigley (1988), a proposta da vanguarda nunca foi causar distorção ou instabilidade
na forma arquitetônica; mas as criações realizadas para a revolução resultaram em
estruturas dinâmicas que transmitiram instabilidade.
De acordo com o texto de Wigley, os projetos de arquitetura que foram executados
474 tiveram suas estruturas simplificadas, para viabilizar sua construção. Desta
maneira, perderam as suas qualidades geométricas revolucionárias, como
instabilidade, tensão, torção, desequilíbrio e movimento, ou seja, tiveram seu
desenho final “purificado” (DORFMAN, 2009, p.96).
3
Disponível em: < http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tatlin%27s_Tower_maket_1919_year.jpg >. Acesso
em março, 2017.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
teatro, decoração de rua, tipografia, foto montagem, e design de roupas. Apesar desta
contradição, Wigley (1988) elucidou com sua hipótese que tais pensamentos criativos da
vanguarda foram recapitulados pelos arquitetos da exibição.
4
Disponível em: <https://www.dezeen.com/2016/07/13/video-interview-patrik-schumacher-meeting-zaha-
hadid-the-peak-paintings-vitra-fire-station-movie/>. Acesso em março, 2017.
5
Disponível em: <http://www.zaha-hadid.com/architecture/the-peak-leisure-club/>. Acesso em março, 2017.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Hadid esclareceu que as rochas dos locais seriam escavadas, retiradas e polidas, criando
assim uma paisagem artificial; sem o terreno no seu estado natural, os blocos em balanço e
a rampa de acesso ganhariam destaque (MOSTAFAVI, 2001). A característica da
sobreposição em diagonal pode ser observada na figura 6 e 7, das quais é possível visualizar
477
uma tectônica peculiar.
Os arquitetos desconstrutivistas trabalham com linhas e planos inclinados,
sobretudo em posição aparentemente instável, explorando as estruturas sólidas
dos edifícios até o seu limite e representam a ideia de desafio da natureza, uma
ideia iluminista em sua essência, mas deslocada para representar a instabilidade, a
incompletude, a imperfeição e o desiquilíbrio das próprias leis maquinistas e de seu
mundo (COLIN, 2009).
Hadid utilizou uma técnica quando estava projetando o The Peak, chamada de X-ray
drawing; foi permitido a ela enxergar todas as plantas sobrepostas, e saber assim como
elaborar a articulação interna do projeto. Sendo assim, a arquiteta garantiu a funcionalidade
do projeto, mantendo sua tectônica; que de fato a estrutura devia ser bem elaborada, a ideia
seria utilizar uma tecnologia para a construção de pontes, para assim, realizar o conceito de
flutuação e inserção do projeto no terreno, e corresponder a forma desconstrutivista
(MOSTAFAVI, 2001). Neste projeto, é possível notar como a arquiteta explorava as formas
platônicas, retorcendo-as; e as implantando em uma sobreposição semelhante aos quadros
suprematistas de numeração 58 de Malevich (GMURZYNSKA et al., 2012).
6
Disponível em: <http://www.zaha-hadid.com/architecture/the-peak-leisure-club/>. Acesso em março, 2017.
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4. CONSIDERAÇÕES
A forma da arquitetura desconstrutivista foi um marco para a discussão plástica, ao
mesmo tempo, um rompimento e um paralelo com o movimento moderno, pois não
descarta o uso de sólido comuns, mas sim uma mescla com elementos geométricos
478 distorcidos.
A hipótese de Johnson e Wigley foi comprovada pelo viés de Hadid, pois a mesma
realizou uma investigação e explorou o pensamento suprematista para elaborar projetos. Os
artistas russos criaram e proporcionaram as formas conflitantes, mas não as realizaram em
arquitetura edificada; os projetos da exibição fazem uma releitura destas formas.
Abre-se um campo de investigação para um detalhamento de como este pensamento
estrutural foi adequado à época; dos dez projetos apresentados, três foram realizados. Dos
sete arquitetos participantes, atualmente a questão estrutural continua intrínseca na
forma de seus projetos, visto que foi na arquitetura desconstrutivista o início desta
contribuição tectônica.
Considera-se que, ao compreender as características da forma desconstrutivista, uma
contribuição para a consciência da tectônica é realizada; um fato relevante na questão do
ensino de estruturas em projetos arquitetônicos. Sendo assim, compreende-se que todo
cálculo e técnicas estruturais podem ser levados à questão plástica da elaboração de projetos.
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desconstrução, de Jacques Derrida, anos 60 a 80. Tese (doutorado) ⎯ Universidade Federal do Rio
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A TECTÔNICA COMO ALTERNATIVA PARA INTEGRAÇÃO ENTRE O ENSINO DE
ESTRUTURAS E DE PROJETO ARQUITETÔNICO
RESUMO
Projetar em Arquitetura, desde a geração da ideia inicial até sua final e posterior execução, permeia
um processo de desenvolvimento e refinamento das soluções projetuais envolvendo “formulação de
hipóteses, a verificação das ideias, um sistema de notações entre outras propriedades” (MOREIRA,
2011, p. 9). Dentre os problemas que devem ser resolvidos, encontram-se a questão construtiva-
estrutural do projeto arquitetônico, sendo a fase de concepção do projeto o momento ideal para
sugerir estratégias. Neste momento, ainda são percebidos os desafios e especificidades do projeto e
feitas escolhas adequadas de acordo com as condicionantes existentes, incluindo aí as possibilidades
estruturais da edificação. No que diz respeito ao ensino de estrutura nos cursos de Arquitetura e
Urbanismo, deve-se considerar outras questões, tais como os métodos de projeto e novas
tecnologias que fazem surgir novos campos de atividade projetual provocando mudanças no
conceito de ensino-aprendizagem (VARGAS, 2007), especialmente quando se trata da integração
entre o ensino de estruturas e projeto arquitetônico. O artigo em questão é uma discussão teórica
realizada a partir de questionamentos surgidos durante o desenvolvimento de uma tese de
doutorado, assim como pela experiência didática dos autores e procura fazer uma reflexão sobre o
ensino de estruturas nos cursos de Arquitetura e Urbanismo brasileiros levando em consideração a
utilização do conceito de Tectônica estudado por Keneth Frampton e tantos outros teóricos antes
dele (FRAMPTON, 1995), como alternativa para que o ensino desta disciplina especificamente nestes
cursos não seja uma versão compacta do que é realizado nos cursos de Engenharia Civil.
Palavras-chave: Ensino de estruturas; Ensino de projeto arquitetônico; Tectônica.
ABSTRACT
Design in Architecture, since the initial idea concept to the building execution, needs a development
process and projectual solutions. Among the problems that must be solved there is the constructive-
structural matter of the architectural project, being the conceptual phase of the design the ideal
moment to suggest new strategies. At this point are percept yet the challenges and specificities of the
design and are made the appropriate choices according to the existing conditioners, including the
building structural possibilities. Regarding the teaching structural knowledge in the Architecture and
Urbanism courses for undergraduate students it must be considered others questions as the design
methodologies and new technologies that create new fields of project activities, culminating changes
in the teaching-learning concept (VARGAS, 2007), especially when it is about the structural knowledge
teaching and the architectural project. There are many variables regarding the reality of the teaching
and curriculum composition of the architecture courses in Brazil. Using the concept of Tectonics, this
paper presents a theoretical discussion due new questions that had emerged during the development
of a PhD thesis, and due the teaching experiences of the authors, trying to show a reflection about the
teaching of structures design in the Architecture and Urbanism Brazilian courses. Tectonics is a term
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
relative to the use and a layout of a building of the materials used and the arrangement of those in
the edification (FRAMPTON, 1995), as an alternative to the teaching structures knowledge to do not
be a compact version of what is taught in Civil Engineering courses.
Keywords: Structures; Architecture Design; Tectonics.
481
1. INTRODUÇÃO
É conhecido o fato de que o ensino nos cursos de Arquitetura e Urbanismo (CAU) é
complexo e que isto se deve, principalmente, à diversidade de temas que são envolvidos na
busca de soluções, sejam elas em projetos arquitetônicos ou urbanísticos.
Quando falamos em projeto de arquitetura, deve-se considerar que este envolve soluções
técnicas e artísticas, resultado da manipulação criativa de diferentes elementos como funções,
volumes, espaço, textura, luz, materiais, componentes técnicos, desempenho e tecnologia
construtiva (KOWALTOWSKI, 2011), sem levar em consideração as questões pessoais dos
projetistas que, em diversos momentos, podem interferir no modo em que o projeto
arquitetônico é ensinado. Lawson (2011) corrobora com esta opinião quando afirma que, para
projetar em Arquitetura, é necessário lidar com ideias precisas e vagas, assim como é exigido
um pensamento sistemático e caótico, ideias criativas e cálculos mecânicos. Neste campo é
bastante provável que projetar exija “considerável especialização e conhecimento técnico,
além de imaginação visual e capacidade específica” (LAWSON, 2011, p. 16).
Dentre estes conhecimentos técnicos e problemas que devem ser resolvidos, encontra-se
a questão construtiva-estrutural do projeto arquitetônico, sendo a fase de concepção do
projeto o momento ideal para sugerir estratégias e soluções. Também neste momento são
percebidos os desafios e especificidades do projeto e feitas escolhas adequadas de acordo
com as condicionantes existentes, incluindo aí as possibilidades estruturais da edificação. No
que diz respeito ao ensino de estrutura nos cursos de Arquitetura e Urbanismo, deve-se
considerar outras questões, tais como os métodos de projeto e novas tecnologias que fazem
surgir novos campos de atividade projetual provocando mudanças no conceito de ensino-
aprendizagem (VARGAS, 2007, p. 98), especialmente quando se trata da integração entre o
ensino de estruturas e projeto arquitetônico. São diversos pontos que concernem à
realidade do ensino e dos currículos destes cursos no país; uma delas que é latente diz
respeito à ausência de integração, pelos estudantes, dos conhecimentos das áreas
pertinentes à formação do arquiteto-urbanista sendo o grande número de disciplinas
presentes nos cursos de arquitetura e urbanismo (TEIXEIRA, 2005).
As disciplinas curriculares, que somadas a outras atividades acadêmicas, formam o
conjunto de conhecimentos e saberes consittutivos da formação de uma
determinada área de conhecimento, são instrumentos através dos quais se pode
desenvolver a capacidade de pensar, de compreender e manejar adequadamente o
mundo ao redor (CAVALCANTE, 2014, p. 27).
Não é necessária somente uma ponderação sobre o currículo das escolas, mas também
sobre como são ensinados os tópicos importantes à prática da profissão. Assim, as reflexões
a respeito do ensino/aprendizagem em arquitetura e urbanismo são necessárias e é
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Sobre o ensino de estruturas, este documento ainda fala, em seu Artigo 5º, que o CAU
deverá possibilitar à formação profissional, pelo menos as seguintes atividades nesta área:
“VIII – a compreensão dos sistemas estruturais e o domínio da concepção e do projeto
estrutural, tendo por fundamento os estudos de resistência dos materiais, estabilidade das
construções e fundações”.
Assim, percebe-se que a Diretriz mostra um encaminhamento básico para o que deve ser
ensinado, não inserindo conteúdos mínimos e isto faz com que cada curso tenha em seus
projetos pedagógicos (PP) seu modo de ensino e de cumprir os assuntos básicos de cada um
destes núcleos fixados. Aqui se destaca a necessidade de atenção sobre a maneira como são
distribuídos estes conteúdos, pois se percebe, em alguns casos, que, em escolas de
arquitetura brasileiras, as disciplinas da área de estruturas ficam sob responsabilidade de
docentes dos cursos de Engenharia Civil, sendo assim, vale a reflexão sobre como são tratados
estes conteúdos, principalmente para que o ensino desta disciplina especificamente nestes
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
cursos não seja uma versão compacta do que é realizado nos cursos de Engenharia Civil e se
estes docentes levam em consideração a interdisciplinaridade nos CAUs, assim como a
integração destes conteúdos com as disciplinas de Projeto Arquitetônico. Vale salientar que,
devido ao grande número de tópicos que devem ser considerados em um Projeto
484
Arquitetônico, é importante pensar criticamente sobre os elementos que nestes interferem.
É grande o número de discentes dos cursos de arquitetura que acha importante o estudo
das disciplinas de Sistemas Estruturais, mas também é grande o número dos que acham que
“a forma como as mesmas são ensinadas não são condizentes com a sua grande capacidade
de observação visual, tornando-se menos interessantes” (RODRIGUES, 2006, p. 157) que
outras disciplinas do curso. Alguns autores já trataram do assunto, destacando a
necessidade e importância de abordá-lo, indicando a necessidade de uma mudança no
ensino de estruturas nas escolas de arquitetura:
A necessidade de mudança na ciência das estruturas que é ensinada nas escolas de
arquitetura surgiu há muito tempo. A primeira sugestão no sentido de orientar esta
transformação começa com a insatisfação de perceber que a metodologia foi
orientada quase que exclusivamente para a engenharia (ITTURALDE, 2015).
Yopanan Rebello (2000) também fala sobre o ensino de estruturas, destacando uma
necessidade de que, nestes cursos em específico, haja uma abordagem com exemplificações,
assim como utilizando discussões da inter-relação entre a proposta estrutural e a
arquitetônica. Sobre a atuação dos docentes de estruturas o autor afirma que:
A grande maioria mostra exemplo de obras edificadas nos quais se apresenta o
sistema estrutural analisado, sem aproveitar a oportunidade para discutir a inter-
relação entre a proposta estrutural e a arquitetônica. Um exame mais atento, no
entanto, revela que lhes faltam algumas propriedades didáticas importantes, o que
pode inviabilizá-las como fonte de aprendizado ou de reforço. A sequência dos
assuntos nem sempre é a mais lógica, ou seja, partindo dos assuntos mais simples
para os mais complexos. Alguns conceitos são citados antes de ter sido
apresentados formalmente, impossibilitando a compreensão do que está sendo
discutido. Outros são indevidamente aprofundados, tornando-se desinteressantes.
Dificilmente um novo conceito apresentado é relacionado a modelos físicos
qualitativos. Raramente é feita a ponte entre os materiais, sua aplicação em
sistemas estruturais e as consequências na forma-função da edificação (REBELLO,
2000, p. 16).
Deve-se refletir: existe uma maneira de ensinar estruturas para engenheiros e outra para
arquitetos? Rebello afirma que não acredita que deva existir esta diferenciação, mas que o
que pode existir é uma separação entre o ensino da concepção estrutural e o ensino de cálculo
matemático das estruturas (REBELLO, 2000). Sendo assim, é importante ter em mente quem é
o responsável pela concepção estrutural, pois “É quase um dogma a ideia de que quem
concebe a estrutura é o profissional engenheiro, que estudou profundamente fórmulas
complexas, capazes de resolver os mais difíceis sistemas estruturais (REBELLO, 2000, p. 26).
Sabe-se que este fato pode ser considerado um equívoco, pois existe uma grande diferença
entre quem idealiza uma estrutura e quem a dimensiona. É possível afirmar que conceber é
“compreender, entender e ser capaz de explicar” (REBELLO, 2000, p. 26) e esta concepção se
antecipa a seu dimensionamento, ou seja, ao cálculo matemático das estruturas.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
necessita estar em harmonia com os demais projetos da edificação. Fusco (1976) apresenta,
conforme Figura 1, que a concepção de um projeto estrutural está baseada uma série de
análises sobre diferentes projetos. O estudo é dinâmico e é feito na forma de uma espiral
que “varre”, em direção ao centro, cada um dos projetos que compõe a edificação, tendo
486
seu fim apenas quando todos os projetos estão em consenso técnico.
Portanto, percebe-se que a fase de criação de um projeto estrutural demanda muito mais
do que a interpretação de cálculos ou o domínio das propriedades dos materiais que
compõem a estrutura. Didaticamente este processo é passado ao estudante através de
etapas que irão compor cada uma das análises de forma independente.
Dentro das ementas dos cursos de Engenharia Civil, o ensino de estruturas é inter-
relacionando entre as disciplinas do nível básico com as do profissional, mas que podem ser
divididas em quatro grupos: disciplinas de embasamento matemático e físico; disciplinas que
relacionam propriedades mecânicas com esforços físicos; disciplinas de análise estrutural
para identificação de esforços internos devido a solicitações externas; e disciplinas de
caráter específico para dimensionamento de estruturas compostas com materiais
específicos: compósitos, metálicos e⁄ou madeiras. Nestas últimas, faz-se a união de todos os
conhecimentos apresentados pelo curso com as referidas normas técnicas vigentes.
Durante o curso, é ensinado que o processo básico de produção de um projeto estrutural
deve adotar os seguintes passos: 1) Concepção estrutural; 2) Análise estrutural, 3)
Dimensionamento e 4) Detalhamento e emissão de plantas.
A fase inicial de concepção estrutural é iniciada com o lançamento das estruturas básicas
(lajes, vigas, pilares e fundações) sobre o projeto arquitetônico e são definidas as dimensões
e materiais específicos, bem como identificação de todas ações que atuarão na estrutura
durante seu período de vida útil. Nesse momento, são feitos cálculos expeditos de pré-
dimensionamentos das cargas e dimensões prováveis que as estruturas terão por meio de
cálculos empíricos.
A fase de análise estrutural determinará as cargas internas nos elementos estruturais com
base em ações pré-estabelecidas na fase anterior. Na terceira etapa, são verificadas se as
dimensões das peças concebidas durante a fase de pré-dimensionamento são suficientes
para suportar as cargas internas. Por fim, caso as dimensões atendam às solicitações
externas e às exigências normativas, são feitos os detalhamentos das estruturas e emissão
das plantas para produção da estrutura.
Ainda na ementa do curso são dispostas disciplinas outras que dão suporte prático
àquelas supracitadas, onde são feitos ensaios laboratoriais e de campo, para que o docente
se familiarize também com as formas de aplicação dos conceitos teóricos. O processo de
concepção estrutural, portanto, não é tão intuitivo. Baseia-se em análises numéricas e
experiências profissionais e formulações empíricas que são moldadas ao longo de todo o
curso. O estudante, neste caso, faz uso do conhecimento prático e lógico para a resolução
dos problemas, visando sempre a máxima economia de tempo, material e mão de obra.
No caso de um estudante de arquitetura, não é adequado que possua o mesmo
conhecimento profundo para a produção de um projeto de estruturas. Entretanto, é
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
importante que tenha noção de alguns conceitos da teoria estrutural para conceber seus
projetos arquitetônicos ou mesmo para discutir e interpretar os projetos estruturais
produzidos por engenheiros. Desta maneira, o caminho proposto na espiral da Figura 1 será
mais curto, pois ambos os projetos apresentarão harmonia desde o início; demandando
487
menor tempo entre os projetos e evitando reuniões e discussões desnecessárias.
Tomando por base da necessidade de estimular o docente de Arquitetura ao estudo de
estruturas, Saramago e Lopes (2011) apresentam várias metodologias nacionais e
internacionais bem sucedidas para a prática do ensino de estruturas em escolas de
Arquitetura e Urbanismo. A Columbia University de Nova York, por exemplo, introduziu o
desenho preliminar para a solução de um problema, estimulando o desenvolvimento do
conhecimento intuitivo do Comportamento Estrutural por meio da realização de testes em
laboratórios de modelos físicos. Num segundo momento, então, são apresentados os
modelos numéricos para a resolução dos problemas.
A introdução do conhecimento de forma mais natural e intuitiva é também proposta por
Polillo (1968) apud. Saramago (2011), o qual propõe que o curso de estruturas deva ser
dividido em quatro fases: Intuição, Análise, Integração entre Intuição e Análise e Integração
com Projeto. O processo de criação de uma determinada estrutura estando dividido em
problematização, concepção inicial, lançamento da estrutura, avaliação quanto aos limites
mecânicos e normativos é acessível, até determinado nível, ao estudante.
Rita de Cássia Pereira Saramago, em sua dissertação, trata do ensino de estruturas em
escolas de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, pois destituída da estrutura, qualquer forma
física não pode ser preservada e, sem estabilidade da forma, a própria existência da
arquitetura perde sua razão de ser. A autora destaca o estudo sobre o ensino de estruturas
dentre os tantos tópicos que concernem à atividade profissional do arquiteto, pois:
Apesar de outros muitos elementos integrarem os objetos da produção
arquitetônica, a diferença reside no fato de que a presença deles nem sempre é
vital: um edifício pode existir sem pintura ou equipamentos eletrônicos, por
exemplo, mas não sem um sistema estrutural que lhe dê sustentação. E ainda que
esse simples arranjo de elementos estruturais colocado no espaço não se constitua
necessariamente como Arquitetura (espaço humanizado), torna-a, contudo,
possível. Por isso, o conhecimento da origem estrutural dos artefatos
arquitetônicos é básico para uma profissão que dela depende.
Assim sendo, investigar como ocorre a formação da categoria na área de Estruturas
implica a constatação de que, se houver deficiências no seu processo educativo,
esses profissionais ficam comprometidos de exercer plenamente sua prática e, por
conseguinte, de intervir criticamente sobre a criação dos espaços sob sua
responsabilidade (a parte da transformação do mundo que lhes cabe). [...] Apesar
de não ser possível afirmar que aquele condicione esta, acredita-se que as
reflexões e as experiências desenvolvidas durante a graduação contribuam com o
desempenho futuro das atribuições de cada ofício, incluindo o dos arquitetos e
urbanistas (SARAMAGO, 2011, p. 29-30).
Além do exposto, é importante considerar que é uma realidade latente as críticas que são
feitas em discursos de arquitetos e estudantes de Arquitetura, pelo menos desde que a
profissão foi regulamentada no Brasil nos anos 1930, a respeito da defasagem entre os
conteúdos ministrados nas escolas e a realidade da profissão (SALVATORI, 2015), o que
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
denota aí uma lacuna no ensino destes cursos. A reflexão considerada aqui é de como o
docente das disciplinas que abordam os sistemas estruturais, extremamente técnicas,
ministram aulas para estes futuros arquitetos? Estes utilizam as mesmas metodologias
apresentadas em cursos de Engenharia Civil? Além disto, o que poderia ser feito em termos
488
de conteúdo nas disciplinas para que os estudantes entendam a materialidade arquitetônica
como um todo (incluídas aí as estruturas dentre os tópicos importantes para o projeto
arquitetônico)? Obviamente a resposta a estas questões irá variar levando em contá tanto a
escola que se analisa, quanto o próprio perfil dos docentes e estudantes.
Antes de responder a estas questões, acredita-se na importância de tratar sobre uma
definição a respeito da Tectônica e posteriormente apresentá-la como uma alternativa ao
complemento do ensino em escolas de arquitetura e urbanismo, pois esta trata,
principalmente, sobre as questões da materialidade arquitetônica levando em consideração
uma separação, para um posterior pensamento em conjunto, entre a estrutura e o
fechamento das edificações. Levando em conta que:
O ato de desenhar um pequeno compartimento de um edifício compromete o
autor com a solução da estrutura que lhe dará sustentação. O que acontece é que
nem sempre o criador da arquitetura tem consciência de que no seu ato criador
dos espaços está intrínseco o ato criador da estrutura. Quando o criador da forma
não se preocupa com o ato gêmeo da concepção estrutural, delegando a outro
profissional esta função, corre o risco de ver seu projeto totalmente desfigurado. O
profissional que vem de fora, por mais boa vontade que tenha, nunca conseguirá
responder adequadamente aos anseios daquele que viveu o momento íntimo da
criação da forma (REBELLO, 2000, p. 27).
Carl Bötticher se interessa pela análise do templo grego para entender a relação entre
estrutura e ornamento. Já Semper, que dá continuidade ao estudo da tectônica, desenvolve
conceitos com conotação diferente da que foi dada pelo primeiro autor. Semper rejeita o
modelo ideal de abrigo primitivo postulado por Abbé Laugier, em seu texto Essai sur
l’architecture (1753), ao publicar, em 1851, Die vier Elemente der Baunkunst (Quatro
Elementos da Arquitetura), no qual este, pela primeira vez, defende o argumento de que a
habitação/arquitetura primitiva (primordial dwelling) pode ser dividida em quatro elementos
básicos: (1) earthwork, (2) the hearth, (3) the framework/roof e (4) the lightweight enclosing
membrane7 (FRAMPTON, 1995). Nesta obra Semper explica a arquitetura primitiva pelo
conjunto destes quatro elementos. Na base de sua teoria, Semper, classifica a produção da
edificação em dois procedimentos fundamentais: tectonics of the frame2 (na qual elementos
lineares e leves são montados de modo a abranger uma matriz espacial, e stereotomics of
the earthwork, onde massa e volume são formados conjuntamente por meio do
empilhamento repetitivo de elementos pesados (FRAMPTON, 1995).
Estes teóricos e historiadores que desenvolveram trabalhos sobre a relação da
arquitetura com sua materialidade, influenciados pelos conhecimentos técnicos adquiridos
no século anterior, deram força à mudança de compreensão original do termo tectônica ou
da cultura tectônica, onde “há uma apropriação do potencial expressivo da estrutura e dos
materiais e técnicas construtivas com vistas ao alcance de uma qualidade estética autêntica
e inerente ao fazer arquitetônico” (ROCHA, p. 44, 2012).
Apesar de Bötticher ter sido bastante importante, a noção de tectônica que temos hoje
está muito ligada a Semper. Foi ele que deu base para Frampton desenvolver seu trabalho a
respeito do tema. No século XX, podemos citar outros autores, além de Kenneth Frampton,
como, por exemplo, Alexi Gan (1922), que “desenvolve uma teoria da arte e uma redefinição
da arquitetura baseada em três disciplinas: tektonika, faktura e konstruktsiia” (AMARAL,
2009, P. 159).
Aparentemente, a tectônica proposta por Alexei Gan não se referia à materialidade
da arquitetura e não levava em conta o sentido que o termo tomou no contexto
1
“The word tectonics derives from the same Greek root which we find in architecture and technology”
(SEKLER, 1965, p.89).
2
Optou-se por não traduzir alguns dos termos por se tratar de expressões muito específicas.
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alemão, seja por uma possível recusa em reaproveitar as contribuições alemãs, seja
por uma recusa política. De todo modo, o sentido dado por Gan ao termo tectônica
não parece ter tido grande repercussão devido, possivelmente, às traduções do
livro, que até hoje não incluem a íntegra do texto (AMARAL, 2009, P. 159).
de alguma maneira oculta (p. 27). É importante perceber a preocupação do autor em alertar
que os leitores não devem confundir a tectônica com os aspectos puramente técnicos e, por
isso, é mais que a revelação da estereotomia ou da expressão da estrutura da construção.
Percebe-se que grande parte dos discursos apresentados sobre a tectônica leva em conta
491
a relação entre as partes da edificação, mostrando assim uma preocupação com o todo
arquitetônico. Enfatiza-se aqui que ainda hoje há a preocupação com que os estudantes dos
cursos de arquitetura e urbanismo consigam entender que o projeto arquitetônico não se
faz de modo isolado, ou seja, este deve levar em conta diversos fatores como citado nos
itens anteriores. A Tectônica também aborda, além das questões estruturais, a questão
cultural da arquitetura. A consideração do sítio em relação ao que vai ser construído e
proposto, seja em exercícios dentro das salas das escolas de arquitetura, seja na futura vida
profissional destes egressos. Não procurou-se aqui entrar nesta discussão, do discurso
cultural da arquitetura sob a ótica da tectônica e nem esgotar tal assunto, mas sim mostrar
esta área de estudos como um importante tópico, em alguns casos esquecido ou utilizado de
modo confuso, a ser considerado na vida acadêmica e profissional de arquitetos e
urbanistas. As discussões sobre o ensino, em geral, “acabam redundando nas questões
metodológicas; se trata de como fazer melhor o que já se faz, construindo uma metateoria
da Arquitetura que se esgota em si mesma” (SALVATORI, 2015, p. 118).
4. CONSIDERAÇÕES
Levando em consideração a tectônica framptoniana, o que se procura mostrar aqui é que
o pensamento a respeito da concepção arquitetônica deve considerar as partes “ativas” e
“inativas” da construção como um todo, levando em conta estrutura e fechamento como um
conjunto que deve trabalhar em harmonia e que as estruturas não devem estar camufladas
ou ocultas por partes consideradas dispensáveis. Acredita-se que, enquanto utilizada como
crítica à produção arquitetônica, a Tectônica pode ser inserida em partes pontuais das
disciplinas que abordam os sistemas estruturais, assim como o projeto arquitetônico de
modo a fazer com que o estudante possa tratar estes dois tópicos de modo conjunto e não
pensando o projeto arquitetônico e posteriormente a concepção estrutural.
O ensino do Comportamento Estrutural dentro das escolas de Arquitetura e
Urbanismo deveria então se pautar no desenvolvimento do sentimento estrutural
dos alunos: de um raciocínio sobre o funcionamento das Estruturas que os capacite a
formular soluções, comprovando sua eficiência (SARAMAGO; LOPES, 2011, P. 655).
Além de ser utilizada enquanto argumento crítico, a tectônica também possui uma
abordagem de instrumento de análise de obras arquitetônicas e, destarte, esta pode ser
utilizada de modo a apresentar aos estudantes um novo modo de olhar e de produzir a
arquitetura. Neste caso, talvez uma alternativa para a inserção da tectônica fosse um acordo
entre os docentes das disciplinas de Projeto Arquitetônico e Sistemas Estruturais sobre como
este tópico poderia ser abordado. De acordo com o exposto, pode-se pensar numa
integração de conteúdos abordando a interdisciplinaridade entre as duas áreas. Fazendo
uma ponte com o que é apresentado por Sekler, que em seus trabalhos porpões uma noção
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
de tectônica como uma nova disciplina ou mesmo uma ciência, que deve ser ensinada em
escolas de arquitetura, conformando-se como uma colaboradora nas trocas
interdisciplinares, como “uma solução aos apuros existentes no contexto interdisciplinar”
(MEDEIROS, 2014, p. 6).
492
Aqui também é sugerido o uso da tectônica, inicialmente não como uma disciplina
separada, mas como um tópico que venha a resolver tais problemas de integração destes
conteúdos e que, aos poucos, possa ser inserido nos projetos pedagógicos das escolas de
arquitetura, sendo uma disciplina que funcione, principalmente, como elemento de fusão
entre os elementos componentes do projeto arquitetônico. Como exemplo desta
abordagem que utiliza a tectônica como disciplina, pode-se citar o curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco, o qual tem uma série de disciplinas
intituladas Tectônica3 e que abordam os mais diversos tópicos a respeito da materialidade
arquitetônica. Talvez esta já seja uma realidade mais avançada que a de outros cursos, mas
acredita-se que a inserção de tópicos a respeito da tectônica, especialmente nas disciplinas
de Projeto Arquitetônico, pode ser uma saída para a compreensão, pelos estudantes, sobre
a materialidade Arquitetônica tornando a experiência visual destes alunos mais analítica.
Tudo isso indica que, ainda em sair do campo profissional da arquitetura, há um
impacto significativo de fatores sociais, inclusive na definição e delimitação dos
conhecimentos que devem compor o currículo de formação dos futuros
profissionais. Há lutas e disputas internas ao próprio grupo que fazem com que as
formas vigentes de ensino na área sejam permanentemente questionadas. A partir
do estabelecimento de uma forma padrão de ensinar um novo arquiteto,
imediatamente se organizam críticas científicas, metodológicas, didáticas, estéticas
e até políticas (BARBOSA, 2015, p. 100).
É preciso salientar aqui que não se procurou com esta abordagem esgotar as articulações a
respeito do tema da inserção da tectônica de modo a ajudar na integração dos conteúdos de
projeto arquitetônico e sistemas estruturais, mas sim chamar atenção ao fato de que a
tectônica como abordada por diversos autores, principalmente Kenneth Frampton, ao analisar
obras de arquitetos modernos, pode sim ser utilizada como conteúdo e como instrumento de
abordagem e análise para aprimorar o olhar dos alunos de Arquitetura e Urbanismo de modo
a facilitar o entendimento e a integração entre as questões projetuais (especialmente quando
se trata da materialidade arquitetônica) com as questões estruturais.
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) pelo apoio.
REFERÊNCIAS
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Referências - Elaboração. Rio de Janeiro, 2002.
3 As disciplinas vão de Tectônica I a Tectônica VIII, como pode ser consultado no link:
<https://www.ufpe.br/arquitetura/index.php?option=com_content&view=article&id=317&Itemid=246>.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
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Livraria, 2007. P. 97-112.
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO ESTRUTURAL DE EDIFICAÇÕES CONSTRUÍDAS
ANÁLOGA ÀS FORMAS DA NATUREZA
KROLOW, Fabiane (1); GALVÃO, Carlos Eduardo Vilela (2); BASSAM, Luiz Claudio (3); BASTOS,
Manoela Rondon Ourives (4); LIBOS, Paula Roberta Ramos (5)
(1) UNIC, e-mail: fabianekrolow@gmail.com; (2) UNIC, e-mail: galvaoarquiteto@gmail.com; (3) UNIC,
e-mail: arq.bassam@hotmail.com; (4) UNIC, e-mail: manoela.bastos@kroton.com.br; (5) UNIC, e-
mail: paula.libos@kroton.com.br
RESUMO
O ensino de projeto de arquitetura realizado por meio de atividades lúdicas como, por exemplo, o
estudo da concepção estrutural de uma série de projetos arquitetônicos durante a formação
acadêmica do aluno, resulta em profissionais práticos que agregam valor quanto à agilidade no
mercado de trabalho. No entanto, é necessária a aplicação eficiente das teorias interdisciplinares que
estão associadas à arquitetura nessas atividades. Dentre as diversas áreas interdisciplinares,
destacam-se os temas referentes a sistemas estruturais onde, comumente, os alunos apresentam
resistência na assimilação dos conteúdos e principalmente na aplicação da prática arquitetônica. O
presente trabalho tem como objetivo relatar a experiência de aplicação de duas atividades de análise
qualitativa acerca da concepção estrutural, sendo a primeira realizada na disciplina de Resistência
dos Materiais, em que é solicitado que o aluno desenvolva uma analogia entre concepção estrutural
com formas da natureza. A segunda atividade foi realizada pela mesma turma na disciplina de
Sistemas Estruturais I, em que foi solicitada a execução de uma maquete de estudo de transferência
de cargas. Essas atividades mostraram-se satisfatórias ao comparar os resultados obtidos em uma
mesma questão aplicada a uma turma que não teve a mesma abordagem.
Palavras-chave: Concepção estrutural; Concepção arquitetônica; Estrutura arquitetônica; Ensino de
arquitetura; Ensino de estruturas.
ABSTRACT
The teaching of architectural design through qualitative activities, such as the study of the structural
design of a series of architectural projects during the student's academic formation, results in
practical professionals who add value as regards agility in the labor market. However, it is necessary
to efficiently apply the interdisciplinary theories that are associated with architecture in these
activities. Among the several interdisciplinary areas, the themes related to structural systems are
highlighted, where students usually present resistance in the assimilation of contents and especially in
the application of the architectural practice. The present work has as objective to report the
experience of applying two activities of qualitative analysis about the structural conception, being the
first carried out in the discipline of Resistance of Materials, where the students develop an analogy
between structural conception and forms of nature. The second activity was carried out by the same
group in the discipline of Structural Systems I, where it was requested the execution of a mockup of
transfer of loads. These activities were satisfactory when comparing the results obtained in the same
question applied to a group that did not have the same approach.
Keywords: Structural design; Architecture design; Architectural structure; Teaching in structure;
Teaching in architecture.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
A concepção de um projeto arquitetônico é um processo complexo em resposta a uma
série de condições existentes e implica a consideração concomitante de uma série de
requisitos, sendo essas condições de natureza puramente funcional e, em graus variados,
496 reflete a atmosfera social, política e econômica (SARAMAGO; LOPES, 2009; PERRONE, 2014).
Lembrando que, para a prática do projeto arquitetônico, o arquiteto deve considerar
todos aspectos citados para que o edifício não se torne prematuramente obsoleto, ou seja,
inadequado à realização das atividades ali previstas (ENGEL, 1970 apud SARAMAGO; LOPES,
2009). As questões relacionadas à concepção estrutural assumiram uma crescente
importância na concepção arquitetônica, devido às inovações tecnológicas vivenciadas a
partir da Revolução Industrial e os limites impostos à construção civil que possibilitaram a
criação de formas variadas e consequentemente, a solução de problemas de maior
complexidade (SALVADORI, 1975 apud SARAMAGO; LOPES, 2009).
Dentro desse contexto, de acordo com Saramago e Lopes (2009), saber como se
comportam as Estruturas em seus adequados regimes de trabalho tem se tornado, para o
arquiteto, cada vez mais importante: tanto para a proposição de soluções racionalmente
coerentes, quanto para o desenvolvimento de novas soluções aos problemas advindos do
aparecimento de técnicas de construção e materiais inéditos. Logo, o ensino das Estruturas
em cursos de Arquitetura deve se aplicar no desenvolvimento do raciocínio (ou sentido)
estrutural dos estudantes, associado à concepção arquitetônica, de modo que eles sejam
capacitados a formular soluções diversificadas e comprovar sua eficiência.
Rebello (1993), após a análise da grade curricular de cinco escolas de Arquitetura e
através de uma fundamentação didática e pedagógica, também formula uma nova
proposta de ensino, baseada no favorecimento da independência intelectual do
estudante em relação ao conhecimento do Comportamento Estrutural. A proposta
de Rebello tomava como fundamento a consideração de que o ensino/aprendizado
de Estruturas efetuava-se até então de maneira fragmentada, prejudicando uma
plena apreensão dos conteúdos por parte dos alunos. Além disso, a ênfase nos
aspectos quantitativos, em detrimento do conhecimento conceitual, resultaria na
formação de um profissional despreparado para conceber, manipular e aplicar em
projeto as várias possibilidades estruturais existentes
Reverberando o esforço de Rebello, Leite (2005), por sua vez, propõe análises
históricas que buscam comprovar uma certa desvalorização da formação
tecnológica do arquiteto frente à formação teórica e projetual. Para reverter esse
quadro, a autora defende a organização do ensino de Arquitetura a partir de três
pressupostos: o arquiteto é um construtor; o currículo deve ser articulado como
vivência integral; e a tecnologia precisa ser compreendida em sua dimensão
inventiva. O primeiro pressuposto pretende restabelecer os laços da profissão com
sua materialidade – recolocando o arquiteto como profissional da construção. O
segundo objetiva alterar a noção de currículo enquanto grade de disciplinas, para
então articular todas as atividades que favorecem a formação do aluno – as aulas
de aporte teórico-conceitual em consonância com as experimentações empíricas. O
último pressuposto ressalta a importância do estímulo à criatividade e à inovação
no campo tecnológico.
Essas reflexões – presentes em teses de autores como Rebello (1999) e Leite
(2005) – contribuíram para demonstrar a relevância que o conhecimento
qualitativo das Estruturas e as experimentações construtivas devem assumir no
ensino de Arquitetura, repercutindo na formulação e implantação de algumas
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
externos tais como: estética, custos, possibilidades construtivas, materiais e tantas outras
variáveis que estão diretamente atreladas à concepção arquitetônica, o que relaciona a
importância dos conhecimentos de estrutura e resistência dos materiais às principais
disciplinas do curso de arquitetura e urbanismo.
498
Lembrando que a concepção arquitetônica engloba uma série de aspectos sociais, legais,
funcionais, estéticos e estruturais, ou seja, é necessário um atendimento a todos esses
fatores para uma prática arquitetônica se desenvolva plenamente, o que deve ser
direcionado nas práticas acadêmicas envolvendo as problemáticas multidisciplinares
presentes na arquitetura (PERRONE, 2014).
Rebello (2000) é um dos autores que mais aborda o processo de concepção estrutural.
Para ele, a concepção de um partido estrutural resulta da síntese de critérios específicos que
podem ser obtidos pela observação dos exemplos existentes e dos fenômenos naturais. O
método proposto por Rebello (1999) apud Saramago e Lopes (2009), baseado em sistemas
estruturais básicos, auxilia a organização do processo de concepção estrutural, ou seja, a
partir do conhecimento de um número determinado de elementos, torna-se possível criar
um número infinito de possibilidades e formas estruturais.
Rebelo (1999) afirma que a forma mais eficiente de aprendizado é através da observação
do que existe, então, em um primeiro momento do desenvolvimento do trabalho, os alunos
deparam-se com os conceitos de analogia, como as comparações com a Asa da libélula, com
os galhos das árvores frondosas, o galho da palmeira, da araucária, do chorão, o pé de
chuchu, o ninho do tinhorão, a casa do joão-de-barro, a colmeia das abelhas, o casulo da
lagarta, a casa do cupim, a teia de aranha, as conchas marinhas, o cogumelo, o pé de
oliveira, o bambu, a casa do ovo (Figura 1), a tartaruga, a bolha de sabão, os ossos dos
vertebrados, o sistema radicular das árvores e ainda dunas e montanhas. Os alunos
percebem com esse estudo “a percepção dos princípios físicos que regem o comportamento
dos sistemas estruturais e que podem inspirar ou até ensinar novas possibilidades”
(REBELLO, 2000, pg. 227).
que já existe interfere na resistência da forma final que pode ser levada para a concepção
estrutural na arquitetura.
De acordo Fay (2006), os alunos estudam a geometria das massas e elementos
estruturais, o conceito de direção e sentido, a distribuição das cargas, tensão e equilíbrio,
499
onde são estudados os conceitos de tração, compressão simples ou axial e flambagem,
forças cortantes e momentos fletor e torçor.
3. ABORDAGEM PEDAGÓGICA
A disciplina de Resistência dos Materiais é ministrada no quarto semestre do curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Cuiabá – Campus Beira Rio. A longo do ano de
2016, foi adotada uma abordagem qualitativa com relação à análise de concepção estrutural.
Inicialmente são estudados os conceitos a respeito de concepção estrutural e, na sequência, é
solicitado aos alunos que desenvolvam um trabalho em grupo, no qual, a partir da escolha de
três projetos arquitetônicos existentes, estabelece-se uma relação da concepção estrutural
com formas e elementos naturais, desenvolvendo uma analogia entre ambos.
Nos semestres seguintes, a grade curricular aborda as disciplinas de Sistemas Estruturais I
e II, onde é estudada a concepção estrutural em concreto armado, madeira e aço. Além de
conhecer os materiais, os alunos se deparam com a necessidade de uma construção
estrutural, o que denominamos de Pré-dimensionamento ou Lançamento da Estrutura.
Ao realizar o exercício do lançamento estrutural, normalmente, a tendência de quem
lança a estrutura é seguir o que é realizado em estruturas específicas de concreto armado,
começando pela locação dos pilares (PINHEIRO; MUZARDO; SANTOS, 2004), o que pode
implicar em uma grande indefinição, outra opção é o lançamento inicial de vigas, pois elas
são responsáveis por captar as cargas dos pavimentos e transferir aos pilares, no entanto, se
observarmos o comportamento estrutural verificamos que não existe uma melhor solução,
“e sim a solução ou as soluções que atendem bem determinada hierarquia de pré-
requisitos” da concepção arquitetônica e estrutural em conjunto (REBELLO, 2000).
Além das indefinições que surgem no lançamento de uma estrutura, nas disciplinas de
Sistemas Estruturais, também é possível perceber a resistência à matemática pelos alunos, o
que gera problemas na absorção dos conteúdos. Em qualquer sistema estrutural, o
lançamento da estrutura é de extrema importância, pois é ele que define as formas do
projeto e, sendo assim, deve ser realizado pelo arquiteto ou em conjunto com o arquiteto, já
que o dimensionamento estrutural se baseia pela definição dos materiais e as formas
atribuídas aos projetos, definido o projeto estrutural executivo.
Para estudo das cargas que atuam nos elementos estruturais e os demais
comportamentos estruturais, na disciplina de Sistemas Estruturais, foi solicitado aos alunos
que eles realizassem maquetes dos esqueletos estruturais, modelando fisicamente em três
dimensões apenas o que é da estrutura de projetos já executados, que tivessem, no mínimo,
dois pavimentos a fim de verificar as cargas e a transferência das cargas. Não foram
atribuídos requisitos de formas ou estilos como pré-requisito a essa atividade, no entanto,
na definição das obras, os alunos trouxeram maquetes que se remetiam a formas diferentes.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
4. MÉTODO
O presente trabalho aborda algumas análises do exercício proposto aos alunos em
Resistência dos Materiais no primeiro semestre de 2016, bem como as maquetes de estudos
de transferência de cargas em Sistemas Estruturais e faz uma comparação quantitativa do
número de acertos e erros obtidos nas disciplinas de Sistemas Estruturais entre os alunos
que desenvolveram e os que não desenvolveram a atividade inicial.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1 Apresentação dos estudos
A figura 2 mostra como um grupo de alunos apresentou a obra escolhida, do estádio de
Pequim, onde a mesma é comparada a um ninho de pássaro, apresentando a obra como um
todo e as suas comparações em um esquema com a estrutura do ninho.
Um grupo de alunos identificou na obra do Restaurante Los Manantiales, comparada a
uma flor de lótus, composta por uma série de forças como o concreto do peso próprio, das
lajes, vigas e pilares, o peso do vidro, da madeira do mobiliário utilizado, alvenaria, entre
outros e forças como das pessoas e intempéries, classificando-as em permanentes e
variáveis (Figura 3).
Outro exemplo de trabalho realizado pelos alunos é com a análise das forças externas e
esforços internos na obra da Ponte de Millau de Norman Foster, onde os alunos realizaram
uma montagem de fotos identificando a obra, as intempéries, a ideia da ação da gravidade
que interfere em toda a estrutura, cargas oriundas dos elementos estruturais e o
comportamento de tração e compressão, e deformação (Figura 4). Uma análise semelhante
também foi realizada na obra do Museu de Arte de São Paulo, MASP, de Lina Bo Bardi, sobre
o qual os alunos apresentaram uma imagem do esqueleto da estrutura o comportamento
estrutural, identificando os elementos estruturais e como eles foram utilizados no projeto,
como as lajes suspensas por cabos de aço, os tirantes, vigas e os pilares de apoio (Figura 5).
Uma última análise é realizada por um grupo de alunos que estudaram o Projeto Eden
(Figuras 6 e 7), que apresenta a seguinte conclusão:
[...] uma cúpula em casca resiste à ação de carregamentos gravitacionais com um
sistema de forças agindo sobre sua superfície sendo, tipicamente, uma força principal
de compressão agindo verticalmente na superfície da cúpula e uma força horizontal
menor, geralmente de tração, agindo em torno da cúpula [...]. O comportamento de
uma cúpula treliçada, no entanto, depende da configuração da malha que a constitui.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Fonte: Fortunato, Soldatelli, Almeida e Nunes, alunos de graduação em arquitetura e urbanismo – primeiro
semestre de 2016.
(a) (b)
Fonte: Assunção, Castilho e Calmon, alunos de graduação em arquitetura e urbanismo – primeiro semestre de
2016.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
502
Fonte: Ferraz e Ferreira, alunos de graduação em arquitetura e urbanismo – primeiro semestre de 2016.
Fonte: Ferraz e Ferreira, alunos de graduação em arquitetura e urbanismo – primeiro semestre de 2016.
Fonte: Ferraz, Silva e Ribeiro, alunos de graduação em arquitetura e urbanismo – primeiro semestre de 2016.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
503
Fonte: Ferraz, Silva e Ribeiro, alunos de graduação em arquitetura e urbanismo – primeiro semestre de 2016.
5.2 REFLEXOS
Na atividade que deu início aos estudos da disciplina de Sistemas estruturais I, estruturas
em concreto armado, os alunos realizaram maquetes físicas do esqueleto estrutural de obras
já executadas em concreto armado.
No desenvolvimento da maquete, os alunos puderam perceber quais são os elementos
estruturais das obras em questão e como que eles estão interligados para garantir a
transferência de cargas na estrutura, oferendo estabilidade e segurança estrutural –
considerando a estrutura como um conjunto de elementos que para transferir um conjunto
de forças até o solo pode utilizar poucos ou muitos caminhos Fay (2006).
(a) (c)
(b) (d)
Fonte: Fortunato, Soldatelli, Almeida, Nunes, Assunção, Castilho, Calmon, Ferraz, Ferreira, Ferraz, Silva e
Ribeiro, alunos de graduação em arquitetura e urbanismo – segundo semestre de 2016.
6. CONSIDERAÇÕES
O mercado atual exige cada vez mais que o desenvolvimento dos projetos ocorra de
forma multidisciplinar, sendo que os profissionais envolvidos devem trabalhar de forma
integrada, pensando não apenas na sua especialidade, mas interagindo com as outras
equipes, tendo como principal objetivo a qualidade do projeto, atendendo os requisitos do
cliente e as informações necessárias para desenvolvimento no canteiro de obras.
Percebe-se então que, com a aplicação de um exercício lúdico, com bases reais e práticas
no início dos estudos das disciplinas de Resistência dos Materiais e Sistemas Estruturais,
proporcionou-se aos discentes um melhor aproveitamento na resolução da questão
proposta. É fundamental a aplicação desse método de analogia do existente a partir de
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
formas existentes na natureza, pois esse tipo de experiência proporciona ao aluno uma
concepção inicial do que é e qual é a importância do sistema e comportamento estrutural.
Notamos a importância de trabalhar os conteúdos referente à concepção e projeto
estrutural ainda durante o curso de arquitetura, para que o aluno já esteja ciente dessa
505
importância no desenvolvimento dos ateliês de projeto e o mercado de trabalho receba
profissionais que possam agregar valor em equipes multidisciplinares na concepção dos
projetos e ainda no acompanhamento da execução das obras, oferecendo a estabilidade e
segurança imprescindível às novas obras.
REFERÊNCIAS
ENGEL, H. Sistemas de estructuras. Madrid: H. Blume, 1970.
FAY, L. Estruturas arquitetônicas: composição & modelagem. Apostila do curso de graduação de
Arquitetura e Urbanismo, disciplina Sistemas Estruturais. Rio de Janeiro, 2006.
LEITE, M.A.D.F.A. A aprendizagem tecnológica do arquiteto. São Paulo: USP, 2005. 366p. Tese
(Doutorado em Tecnologia da Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2005.
LEITE, Y. C. P.; FERREIRA, M. D. A. D. Considerações sobre Ensino e Aprendizagem de Estrutura nas
Escolas de Arquitetura. Paranoá: cadernos de arquitetura e urbanismo, v. 15, p. 1–14, 2015.
PERRONE, R. A. C. Fundamentos de Projeto: Arquitetura e Urbanismo / Rafael Antonio Cunha
Perrone e Heliana Comin Vargas, organizadores – São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo,
2014.
PINHEIRO, L. M.; MUZARDO, C. D.; SANTOS, S. P. Fundamentos do concreto e projetos de edifícios.
Apostila do curso de graduação de Engenharia Civil, Departamento de Engenharia de Estruturas.
Escola de Engenharia de Estruturas. Universidade de São Paulo. Rio de Janeiro, 2006.
REBELLO, Y.C.P. Contribuição ao ensino de estruturas nas escolas de arquitetura. 1993. Dissertação
(Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de
São Paulo, São Paulo, 1993.
REBELLO, Y.C.P. Uma proposta de ensino da concepção estrutural. 1999. Tese (Doutorado em
Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1999.
REBELLO, Y. C. P. A concepção estrutural e a arquitetura. 10. ed. São Paulo: Zigurate, 2000. 271 p.
SALVADORI, M. Structure in architecture. New Jersey: Pentice Hall; Englewood Cliffs, 1975.
SARAMAGO, R. DE C. P.; LOPES, J. M. DE A. Ensino de estruturas nas escolas de arquitetura do Brasil:
estrutura curricular e recursos didáticos. Revista Tecnológica, Edição Especial ENTECA 2009, p. 169-
179, 2009.
ARTICULAÇÃO ENTRE ENSINO DE ARQUITETURA E EM ESTRUTURAS NA
DISCIPLINA DE PROJETO II: EXPERIMENTAÇÃO POR MEIO DE PROTÓTIPOS
RESUMO
O trabalho diz respeito a uma experiência didática ocorrida na disciplina de Projeto e Urbanismo II,
ministrada no ateliê integrado do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade do Extremo Sul
Catarinense (UNESC), localizada em Criciúma, SC. O experimento teve o objetivo de contribuir para o
desenvolvimento de uma metodologia de projeto arquitetônico resultante da inter-relação mediada
de questões subjetivas e objetivas, teóricas e práticas. Estabeleceu-se que, no segundo semestre de
2016, a temática do semestre ficaria centrada em Experimentação, conforme a ementa da disciplina,
alicerçada em três pontos: Ocupação humana do espaço, Processo de projeto e Experimentação
estrutural. Para tanto, a disciplina foi dividida em três módulos: arquitetura e arte a partir da
estrutura (estudando planos horizontais, inclinados e verticais); mockup musical (experimentação
com papel); percepção/ concepção/ construção. Os módulos foram organizados de forma a reforçar
a natureza teórico-prática da disciplina, utilizando modelos físicos, desenvolvimento e criação de
protótipos em escala real, com estímulo à experimentação construtiva, procurando articular o ensino
de arquitetura ao de estrutura, no sentido de ampliar o repertório do aluno.
Palavras-chave: Ensino; Arquitetura; Estrutura; Experimentação; Extensão.
ABSTRACT
This paper reports a didactic experience at the Project, Urbanism and Landscape II course, presented
at the integrated studio of the Architecture and Urbanism Course at Universidade do Extremo Sul
Catarinense (UNESC), in Criciúma-SC, Brazil. The experiment aimed at contributing towards the
development of an architectonic project methodology resulting from the interrelation mediated by
subjective and objective, theoretical and practical questions. According to the subject’s summary, the
semester theme was centred in Experimentation and was based upon three issues: Human spatial
occupation, Project’s process and Structural experimentation. To that effect, the subject was divided
into three modules: architecture and arts from structure (study in horizontal, inclined and vertical
plans); musical mockup (experiment on paper); and perception/conception/construction. Modules
were organized in order to reinforce the theory-practical nature of the subject, with the aid of
physical models, the development and creation of real scale prototypes, thus stimulating the
constructive experiment, aiming at articulating architecture teaching to structure, with the intention
of expanding the student’s repertoire.
Keywords: Teaching; Architecture; Structure; Experiment; Extension.
1. INTRODUÇÃO
O Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC)
iniciou-se em 2003. Tem uma proposta pedagógica que inclui um eixo de problematização que
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
508
O fato de a ementa não dar destaque à importância entre o objeto e sua estrutura, acaba
de alguma forma se refletindo no entendimento estrutural dos alunos nas fases seguintes de
Projeto e de disciplinas relacionadas à tecnologia. A proposta da disciplina, elaborada em
2016/2, procurou articular de maneira mais clara o ensino de arquitetura e de estrutura.
Buscou-se fazer relação com a disciplina de “Materiais de construção” do mesmo semestre,
com vistas a aprimorar o olhar dos alunos a despeito do tema para os conteúdos de
“Técnicas construtivas” e “Sistemas estruturais I”, do semestre seguinte. No que diz respeito
a Estruturas, a disciplina procurou trabalhar a percepção dos alunos principalmente no
entendimento dos esforços (tração, compressão e cisalhamento), na importância das
amarrações e vínculos e dos limites de cada material.
É importante ressaltar que a proposta elaborada, a ser descrita neste artigo, não foi
criada no semestre de 2016/2. É fruto de uma construção coletiva, do corpo de professores
do curso, que vem sendo discutida e aprimorada ao longo da matriz curricular vigente. A
diferença caminha no sentido de reforçar a importância da percepção estrutural e
construtiva, nos primeiros passos do projeto e da formação do arquiteto e urbanista.
2. MATERIAL E MÉTODO
A disciplina de “Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo II” é uma disciplina
obrigatória do segundo semestre do primeiro ano do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
UNESC, com um total de 144H/aulas divididas em 8 créditos por semana.
O objetivo geral da disciplina, segundo o plano de ensino, é: Contribuir para o
desenvolvimento de uma metodologia de processo de projeto arquitetônico resultante da
inter-relação mediada de questões subjetivas (intuitivas) e objetivas (racionais). Os objetivos
específicos são:
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
imaginação e escolha dos alunos. No de plano vertical, os projetos tinham que acontecer nas
paredes do ateliê de projeto, com a intenção de iniciar a discussão sobre a leitura do espaço,
seus usos, suas escala.
1
O projeto aconteceu na Escola Municipal Jairo Luiz Thomaz, que se localiza no Bairro Jardim Angélica, em
Criciúma. Atende cerca de 210 alunos de 6 a 10 anos e educação infantil até 3 anos.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
dos integrantes do grupo. Esta intervenção individual seria através de pequenas estruturas
efêmeras, que poderiam ser brinquedos ou elementos estruturais escultóricos, que
modificassem o uso ou a percepção sobre determinado espaço da escola. Deveria ser
apresentada com maquete e desenhos, semelhantes aos que haviam sido entregues nos
515
módulos anteriores.
A apresentação dos trabalhos foi em grupo. Cada integrante colocou a sua maquete em
um desenho da planta de situação da escola na escala 1/20, feito em giz no piso do ateliê,
pelos professores. Após a apresentação dos trabalhos, fez-se uma discussão sobre os
projetos, ponderando-se o lado construtivo, a relação com os locais escolhidos, elegendo
quais seriam executados e já apontando as readequações necessárias das propostas
escolhidas para possibilitar sua construção.
A fase de construção teve somente mais três aulas e os projetos deveriam ser montados
em um dia na escola. As ponderações feitas pelos professores foram no sentido de pensar que
o projeto deveria ser desenvolvido e pré-montado no ateliê, possibilitando a sua montagem
final na escola em pouco mais de 4 horas. Outro ponto era o material com que os projetos
seriam feitos, a partir dos critérios definidos anteriormente, tendo por referência custo baixo
ou de obtenção gratuita, uma vez que os alunos tinham a responsabilidade de adquiri-los.
Duas aulas de assessoramento de construção e planejamento de montagem se seguiram no
ateliê. Os professores contribuíram e participaram das discussões sugerindo e ponderando
formas de conexões, trabalhando em conjunto com os grupos para possibilitar a fabricação e
montagem. A construção ou montagem das propostas de projeto na escola Jardim Angélica
ocorreu fora do período de aula das crianças. Como programado, levou aproximadamente 4
horas. O transporte dos materiais até a escola também ficou a cargo dos alunos.
3. RESULTADOS
Na disciplina de Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo II, do semestre de
2016/2 os resultados dos três módulos contemplaram, de forma geral, os objetivos traçados
no início do semestre. Todavia, o módulo III (Percepção / Concepção / Construção) congrega
as experiências e aprendizados vivenciados nos módulos anteriores. Desta forma, os
resultados deste módulo serão mais detalhados e aprofundados.
516
Não houve nesta etapa uma grande preocupação com a qualidade e completude de
acabamento de modelos e desenhos. O módulo procurou fortalecer a importância da
relação entre representações tridimensionais e planas, no contexto da metodologia de
projeto. Enfatizou-se a estrutura já no lançamento do partido arquitetônico. A repetição das
entregas teve como objetivo permitir ao aluno um melhor entendimento dos desenhos e
análises, pois corrigia ou alterava encaminhamentos de um exercício para o próximo, visto
que a metodologia era semelhante.
Os exercícios de planos verticais desenvolvidos sobre o espaço do ateliê foram
particularmente interessantes, pois possibilitaram aos alunos ressignificar seu ambiente
diário de estudos. As discussões que aconteceram neste exercício do módulo I refletiram nos
seguintes e ilustram a construção do cabedal de experiências e conhecimentos a que se
propõe a disciplina. O resultado do trabalho da acadêmica Eryca de M. Jacinto é um exemplo
(Figura 3). Seus estudos e interesse sobre estruturas de vigas recíprocas contribuíram para a
construção do projeto no exercício do Módulo III.
Figura 3 – Folha 04 do caderno de projeto de planos verticais da acadêmica Eryca Matos Jacinto. Esq.:
Vista A da estrutura de vigas recíprocas locada no ateliê de projeto. Dir.: Vista A da estrutura de vigas
recíprocas com o entendimento da aluna sobre o encaminhamento das forças de tração e
compressão.
Figura 4 – Esq.: Tubos de papelão sendo colados uns aos outros sobre o desenho no chão do ateliê.
Dir.: Mobiliário locado no pátio do CAU-UNESC, apoiado sobre escoras para que seque a cola. Grupo:
Eryca Matos, Hellem Matia, Larissa de Luca, Lucas Carola, Samanta E. Martins, Vitor Dal Farra.
Figura 5 – Esq.: Mobiliário pronto e sem o escoramento. Dir.: Mobiliário durante a apresentação,
depois de não ter resistido ao seu peso. Grupo: Eryca Matos, Hellem Matia, Lucas Carola, Samanta E.
Martins, Vitor Dal Farra.
Figura 6 – Pranchas 02 e 03 da acadêmica Samanta E. Martins com suas análises do entorno e das
sensações durante a visita à escola no Bairro Jardim Angélica
519
Com o fim das aulas de percepção e concepção, passou-se à atividade de escolha dos
projetos que seriam detalhados com o foco na construção. O resultado da discussão em sala
apontou três tipos de projetos para serem trabalhados, resultantes das similaridades entre
algumas propostas (Figura 8). Duas delas trabalhavam com a criação de labirintos feitos de
estacas fincadas no chão, com fechamento em cordas. Outras duas com um jogo de cordas
presas no chão e em uma empena cega em um dos limites do terreno. Por fim, três
trabalhos propuseram estruturas espaciais, geodésicas ou hexagonais no entorno de
vegetações existentes.
Figura 8 – Os três modelos de projetos escolhidos para serem detalhados e construídos sobre a
planta da escola, desenhada no chão do ateliê, durante a finalização da etapa de concepção.
Com a escolha dos projetos, a etapa de construção demandou uma readequação de todos
os projetos, tendo em vista sua montagem (Figura 9). No projeto dos labirintos, por
exemplo, eram mais de 40 estacas, sendo que cada buraco que receberia as estacas teria em
média 30 cm de profundidade, ou seja, seriam 12 metros de buracos. Outro desafio era
como tencionar as cordas? No primeiro exercício de planos horizontais, já tinha ficado claro
que não seria tão fácil como parecia. Já no projeto de estruturas espaciais, os detalhamentos
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 10 – Projeto do labirinto sendo montado na escola. Esq.: Locação do projeto, medidas sendo
tomadas. Dir.: Finalização do projeto, tensionando as cordas para fazer os caminhos do labirinto.
Grupo: Ana Luiza Colonetti, Francyelly B. Bernardino, Larissa S de Lucca, Lucas Carola, Tatiana Demo
Gava, Vitor Dal Farra.
O projeto que tinha como objetivo destacar uma empena cega, conferindo-lhe outra
relação de escala com o usuário, teve uma montagem relativamente tranquila (Figura 11).
Ocorreram, porém, alguns problemas relativos ao quantitativo das cordas. Pela maquete,
tinha-se a ideia de que seria necessária uma quantidade maior de metros de corda, o que
521
conferiria uma sensação de preenchimento no espaço. Mas isso não se confirmou após a
montagem do projeto, devido à diminuição de pontos de ancoragem na parede e da
metragem de corda utilizada. A fixação na grama, para dar a tensão necessária, também
teve que ser adaptada.
Figura 11 – Projeto do jogo de cordas sobre a empena cega sendo montado na escola. Esq.: Locação
do projeto, medidas sendo tomadas. Dir.: Finalização do projeto, tensionando as cordas, fixação no
chão. Grupo: Aline Borges, Isabela Borges, Lara Minatto, Pedro Bolan, Samuel Cardoso, Sara Camilo.
]
Fonte: Os autores, 2017.
Aparentemente o projeto da geodésica, que conferia uma complexidade maior, foi facilitado
em face do planejamento e pré-montagem no ateliê, o que resultou em menos problemas,
conseguiu conferir um grau melhor de acabamento (Figura 12). Todas as peças chegaram para
montagem pré-furadas e numeradas, o que mitigou os problemas de montagem.
Figura 12 – Projeto de geodésica com vigas recíprocas. Esq.: Finalização da montagem da geodésica.
Dir.: Finalização do projeto com papel celofane colorido. Grupo: Eryca Jacinto, Hellen Mattia, Leila
Matiassi, Samanta Martins, Liliana Rosa, Gabriel Cardoso.
4. CONSIDERAÇÕES
Este trabalho tratou de apresentar uma experiência didática ocorrida na disciplina de
Projeto e Urbanismo II, ministrada no ateliê integrado do curso de arquitetura e urbanismo
da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), localizada em Criciúma, SC. Este
522 experimento teve o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de uma metodologia de
projeto arquitetônico resultante da inter-relação mediada de questões subjetivas e
objetivas, teóricas e práticas.
A percepção dos autores foi de que o objetivo foi atingido na medida em que os
estudantes da disciplina tiveram a oportunidade de abstrair o conhecimento das referências
citadas na ementa da disciplina, dialogaram com o conhecimento entre si e com os
professores, explicitaram o conhecimento apreendido aplicando os passos para o
desenvolvimento do projeto, experimentação no ateliê, implantação e análise crítica.
Uma revisão crítica feita pelos autores, foi com relação à quantidade de exercícios, que se
considerou excessiva. Por vezes, houve a sensação de que os acadêmicos estavam
sobrecarregados com a quantidade de exercício e proximidade das entregas, embora
tenham respondido sempre de forma comprometida. Uma alternativa, neste sentido,
poderia ser a fusão do exercício de planos verticais com o Mockup, diminuindo um módulo,
o que daria mais tempo para os exercícios e entre as entregas. Todavia, durante a aula de
finalização do semestre, os alunos explicitaram seu contentamento com a completude da
disciplina. A possibilidade de troca com usuários reais e o fazer efetivo, com o resultado
palpável do construído, do planejar e executar, foram prazerosos, apesar do trabalho. Além
de que empoderou os alunos de responsabilidades, já que foram além das notas finais.
Por fim, a articulação entre arquitetura e estrutura aconteceu, não só de forma teórica,
no estudo sobre o encaminhamento dos esforços de tração, compressão e cisalhamento, nas
noções sobre os vínculos, sobre os limites do material. Mas, sobretudo, na relação do
conhecimento estrutural com a experimentação, com o silogismo, ao se perder o medo do
erro, na medida em que pode ser entendido também como parte do processo de acerto.
Como pontua Antoni Gaudi: “primeiro supõe o conhecimento de uma coisa, para depois
encontrar outra que nos sirva de base firme. Primeiro se avança um pé para depois avançar
o outro” (GAUDI apud LOTUFO, 2017).
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Universidade do Extremo Sul Catarinense e ao seu Curso de Arquitetura e
Urbanismo por possibilitar esta experiência didática. Aos professores, em especial às
professoras Bárbara Vallilo Siqueira e Gláucia Marchesan, que ministraram a disciplina na
turma da manhã e trocaram experiências e entendimentos sobre a construção dos
exercícios.
À professora Elizabeth Siervi pela atenção e entusiamo. Pelos contatos com o corpo
docente da Escola e da organização de moradores do Bairro Jardim Angélica.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Aos alunos Aline B. Borges, Ana Luiza C. Macarini, Eryca M. Jacinto, Francyelly B.
Bernardino, Gabriel A. Cardoso, Hellen N. Mattia, Isabela O. Borges, Lara S. Minatto, Tatiana
L. Pacheco, Leila I. Matiassi, Liliana Rosa, Lucas Carola, Pedro Bolan, Samanta E. Martins,
Samuel M. Cardoso, Sara Camilo, Vitor Dal Farra e Larissa S de Lucca, por terem partilhado o
523
semestre e as experiências aqui descritas conosco.
REFERÊNCIAS
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helio-olga-jr/>. Acesso em: 2 set. 2016.
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ubatuba-2/>. Acesso em: 2 set. 2016.
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CATANESE, A. (Org). Introdução à Arquitetura. Rio de Janeiro: Campus, 1984.
COLIN, S. Uma Introdução à Arquitetura. Rio de Janeiro: UAPÊ, 2000.
DIETZSCH, A. Arquiteta cria abrigo dobrável de papelão para moradores de rua, 2014. Disponível em:
<https://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/arquiteta-cria-abrigo-dobravel-de-papelao-
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<https://pt.scribd.com/doc/169017989/Licoes-de-Estrutura-Vitor-Amaral-Lotufo>. Acesso em: 16
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SIERVI, E. A juventude, idosos, crianças e mulheres na praça. Trabalho desenvolvido em aula do
Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Extremo Sul Catarinense, 2016a. Criciúma.
Material não disponível para cópia.
SIERVI, E. Conexão escola/praça. Trabalho desenvolvido em aula do Curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade do Extremo Sul Catarinense, 2016b. Criciúma. Material não disponível
para cópia.
CANTEIRO EM OBRAS: A NECESSIDADE DA PRÁTICA CONSTRUTIVA NO
ENSINO DE PROJETO EM ALVENARIA ESTRUTURAL
RESUMO
O presente artigo é resultado de uma experiência didática desenvolvida na disciplina Projeto em
Alvenaria Estrutural do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais durante o primeiro semestre letivo de 2016. A partir de um concurso realizado
internamente e avaliado como trabalho final, a atividade consistiu na construção de um “Parklet”
utilizando blocos portantes de concreto e obedecendo aos parâmetros urbanísticos estabelecidos
pela Prefeitura de Belo Horizonte. Com o objetivo de proporcionar ao aluno o contato com as
possibilidades e limitações do sistema em questão, por meio de uma experiência construtiva, o
exercício permitiu aos grupos vivenciar durante um mês o cotidiano de uma obra além de participar
da execução de um projeto de autoria própria em um local de convívio da escola de Arquitetura da
PUC-MG. O trabalho demonstra a importância do canteiro de obras na formação do arquiteto
através de exercícios práticos que permitam melhor compreensão dos fundamentos teóricos de
concepção e execução em alvenaria estrutural.
Palavras-chave: Alvenaria estrutural; Canteiro de obra; Projeto; Parklet.
ABSTRACT
This paper is the result of a didactic experience developed in the discipline “Structural Masonry
Project” within the Architecture and Urbanism course of the Pontificia Universidade Católica of Minas
Gerais during the first semester of 2016. Through an internal competition evaluated as final work, the
activity had as a product the construction of a "Parklet" using masonry concrete blocks according to
the urban parameters established by the Belo Horizonte City Hall. In order to provide the students a
constructive practice contact and the respective possibilities and limitations of the system in question,
the proposed exercise allowed the groups to experience for a month the daily life of a construction
site, besides participating in the execution of a project of their own authorship in a conviviality place
at the Architecture School of PUC-MG. In this way the work demonstrates through positive and
negative points the importance of the construction practices in the architects career as well as the
development of activities, which are consistent with the theoretical foundations of design and
construction in the structural masonry.
Keywords: Structural masonry; Construction site; Project; Parklet.
1. INTRODUÇÃO
Diante de uma metodologia tradicional que acompanha o ensino de estruturas nas
escolas de arquitetura há alguns anos, faz-se necessária a adoção de práticas construtivas
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1
Estruturas construídas em vaga(s) de estacionamento como forma de extensão da calçada destinadas a
espaços de lazer e convívio.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
solucionados com base nas particularidades de cada tipologia estrutural, fazendo com que o
aluno desenvolva habilidades projetuais capazes de atender a diferentes demandas.
Na introdução da disciplina, foram abordados os princípios básicos de funcionamento
destes sistemas, apresentando os componentes utilizados e como os mesmos podem ser
526
combinados para viabilizar a execução de projetos arquitetônicos. Foram explicitados o
conceito de alvenaria, suas variações com relação ao emprego de armaduras e as
particularidades existentes em obras realizadas com blocos cerâmicos e de concreto.
Uma vez caracterizados os processos de concepção e execução, os alunos passaram a
trabalhar com outra maneira de conceber o espaço, a qual requer organização e
planejamento dimensional em função do tamanho e posição dos blocos. A coordenação
modular foi utilizada como recurso laboral capaz de auxiliar o arquiteto na adoção de
soluções espaciais, proporcionando à arquitetura uma maior integração com as outras
disciplinas envolvidas em uma obra.
Cabe ressaltar que a coordenação modular no Brasil, embora tenha sido implementada
em 1950 e exista uma série de normas técnicas da ABNT (Associação Brasileira de Normas
Técnicas) que regulamentam a sua aplicação, consiste em uma estratégia de trabalho que
não possui caráter obrigatório na produção de elementos construtivos, funcionando apenas
como uma recomendação por parte dos órgãos responsáveis. A sua inclusão no conteúdo da
disciplina tem como objetivo conscientizar o aluno sobre o planejamento e a produção
industrial, formando profissionais que sejam capazes de propiciar mudanças na relação
existente entre fornecedores e responsáveis pelos projetos da construção civil.
A adoção de um método construtivo otimizado propicia maior agilidade, precisão e
qualidade à execução, resultando em maior produtividade quando comparado aos
procedimentos tradicionais. A alvenaria estrutural, cuja racionalização se deve à integração
necessária entre todas as etapas de um empreendimento, vem sendo constantemente
empregada na execução de tipologias residenciais a edifícios de múltiplos pavimentos.
Neste sentido, a abordagem sobre a racionalização construtiva (Figura 1) teve como
objetivo o esclarecimento de como a utilização planejada dos recursos envolvidos é
capaz de gerar mudanças organizacionais no campo da arquitetura e engenharia.
Qualquer perda de tempo e material no canteiro de obras deve ser evitada, sendo que a
utilização de recursos além do necessário à produção também é caracterizada como
desperdício e consequentemente aumento no custo total do empreendimento. Com base
na afirmativa abaixo:
Em toda parte as indústrias são consideradas padrão do adiantamento de um povo.
Os núcleos devotados à pesquisa industrial são verdadeiros centros de elaboração
mental, centros de permutas de idéia, centros de irradiação de inteligência e
progresso. São incontestáveis os benefícios carreados ao alargamento da
inteligência do homem, sua capacidade produtora, ao aumento da sua cultura,
pelas descobertas no campo físico-químico e pelas máquinas, frutos primordiais
das invenções. A competição industrial exalta a inteligência do homem,
estimulando a novas pesquisas, a novos estudos, a novas descobertas, na ânsia
incessante de desbravar os campos infinitos da ciência. A máquina, aumentando
sua produtividade afasta-o do trabalho manual embrutecedor, aguça-lhe a
inteligência, permite a elevação do nível dos salários, a redução das horas de
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
É importante que o arquiteto se habitue a lidar com produtos industrializados, uma vez
que, na construção civil e em todas as áreas do conhecimento relacionadas à tecnologia, há
uma renovação constante entre planejamento e execução proporcionada pelo
527
desenvolvimento de recursos computacionais.
Após a introdução dos sistemas de alvenaria portante, seus componentes e
procedimentos envolvidos, foi realizada, junto aos alunos, uma análise de diferentes
tipologias construídas, identificando as soluções adotadas em função do programa de
necessidades e sua relação com o método construtivo utilizado. Esta atividade serviu como
referência para o estudo da morfologia estrutural de obras análogas e sua relação com o
projeto de arquitetura, realizado na sequência.
Desta maneira, a primeira etapa do semestre consistiu em uma introdução aos processos
e materiais utilizados nas construções em alvenaria estrutural a fim de preparar do aluno
para as próximas atividades dotando-o de um repertório arquitetônico específico. O
embasamento teórico e a compreensão da evolução das técnicas construtivas é fundamental
para que o profissional de arquitetura seja capaz de propor soluções contemporâneas
condizentes as demandas atuais.
3. CONHECIMENTOS TÉCNICOS
Uma vez passado o repertório arquitetônico e histórico construtivo do sistema em sala de
aula, deu-se inicio à segunda etapa da disciplina na qual foram explorados, a partir um viés
técnico, aspectos relacionados à execução de obras em alvenaria estrutural. Os conteúdos
528 listados abaixo foram organizados visando capacitar o aluno para que o mesmo, ao
expressar suas ideias através de expressão gráfica, não tivesse seus conceitos e soluções
propostos prejudicados por falta de conhecimento das características construtivas e sua
respectiva representação.
3.2 Amarrações
As amarrações desempenham um papel de grande importância na estabilidade das
edificações construídas com blocos portantes, sendo imprescindível que projeto e execução
sejam realizados de forma integrada atendendo às restrições construtivas. Essas ligações são
responsáveis pela conexão entre planos verticais ou mudança de direção dos mesmos,
sendo consideradas as amarrações usuais em “L”, “T” e em cruz para explicar a lógica de
interposição de componentes de acordo com as soluções arquitetônicas adotadas.
3.4 Aberturas
Devido à característica portante dos blocos de alvenaria estrutural, os vãos livres devem
ser pensados levando em consideração suas dimensões e modulações em função dos
componentes utilizados, sendo respeitadas suas possibilidades e limitações construtivas.
Como complemento à abordagem feita sobre os pontos de graute, foi explicada a
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
necessidade de sua utilização no reforço estrutural em aberturas, uma vez que todos os
componentes do conjunto desempenham função estrutural na edificação.
Ficha técnica;
Tipologia;
Conceito (estudos, croquis, diagramas, etc.);
Desenhos do projeto (plantas, cortes, fachadas e perspectivas ou fotos);
530 Identificação em planta dos tipo de amarrações utilizadas no projeto;
Modulação arquitetônica;
Processo construtivo;
Elementos constituintes (família de blocos utilizados, lajes, cobertura, escadas, etc);
Fornecedores;
Os trabalhos foram elaborados e entregues segundo as normas da ABNT.
Todo o material produzido foi agregado ao banco de dados da disciplina utilizado nos
períodos seguintes para o enriquecimento do repertório arquitetônico dos alunos (Figura 2).
A partir desta coletânea realizada semestralmente, é possível mapear uma grande
quantidade de obras já executadas e identificar o surgimento de novos projetos mantendo
esta análise construtiva baseada em obras atuais.
possuindo igual importância, uma vez que a arquitetura não se restringe ao planejamento de
áreas edificadas. A disposição dos ambientes da edificação foi dividida da seguinte maneira:
1o Pavto.: Sala de estar, sala de jantar, cozinha, casa de gás, área de serviço, lavabo;
2o Pavto.: Quarto, área de trabalho, banheiro;
532 Cobertura: Especificação do sistema construtivo utilizado e planta de caixa d`água.
Esta atividade foi realizada em duas etapas consecutivas, sendo entregue no primeiro
momento o anteprojeto com a apresentação dos conceitos iniciais e, na segunda fase, o
detalhamento executivo através de detalhamento e perspectivas técnicas.
5. CONCURSO PARKLET
5.1 O que é um “Parklet”?
De acordo com a definição feita pela Prefeitura de Belo Horizonte, o “Parklet” é um
mobiliário urbano caracterizado como “mini-parque” temporário, implantado e mantido
pela população. Construído sobre vagas de estacionamento na via, tem o objetivo de propor
novos usos para esses espaços e potencializar sua apropriação, não existindo uma
padronização para a execução destas tipologias.
Para cada situação, devem ser apresentadas soluções com características específicas que
se adequem às possibilidades do local de instalação. Viabilizado por inciativa privada, cada
“Parklet” deve ser gerido pelo seu proponente durante todo o período de vigência do
licenciamento determinado pelo departamento de regulação urbana da PBH.
As vagas de estacionamento são espaços públicos de utilização potencialmente
privada já que um carro estacionado pode ocupar por longas horas ou mesmo dias
com uma área de aproximadamente dez metros quadrados que poderia, em
muitos casos, ser melhor utilizada para outras atividades que tragam maior
vitalidade e diversidade ao espaço público2.
2
Texto extraído do portal da PBH: Varandas Urbanas.
3
Estúdio de arte e design que se propõem a criar oportunidades para redefinir e reimaginar o mundo ao redor
e as relações com o ser humano.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
534
5.2 O Concurso
Com o objetivo de promover a aproximação entre teoria e prática, a atividade foi pensada
como forma de introdução à logística operacional de um canteiro de obras para que os
alunos pudessem vivenciar o resultado dos processos de projeto desenvolvidos ao longo do
semestre. Baseado nos parâmetros construtivos estabelecidos pela PBH, foi elaborado um
edital de concurso que atendesse às exigências dimensionais presentes na legislação e, ao
mesmo tempo, se adequasse à metodologia proposta para ensino de estruturas em
alvenaria estrutural.
O exercício foi realizado em trios que apresentaram soluções para a construção de
"Parklet” concebido a partir de blocos portantes de concreto. A proposta mais adequada às
premissas apresentadas foi escolhida entre todos os professores da disciplina para ser
executada por todos os alunos em conjunto com o escritório de integração e os responsáveis
pelo canteiro de obras.
Embora a prefeitura permita uma área ocupação maior para a instalação destes “mini-
parques”, as medidas adotadas na atividade foram de 2,30 x 4,50 metros, referentes a uma
vaga de estacionamento na cidade de Belo Horizonte. Além da limitação do espaço, foi
definida a orientação de implantação em função de seu uso dentro da escola de arquitetura
e sua relação com o entorno construído.
Para a elaboração do projeto foram estabelecidos os seguintes critérios:
A estrutura projetada deveria prever espaços para, no mínimo, 6 (seis) pessoas sentadas;
Foi obrigatória a existência de pontos de graute, assim como amarrações entre os blocos
(“L”,”T” ou “Cruz”) para exemplificar na prática o conteúdo dado em sala de aula;
A estrutura final poderia ser revestida ou não, estando esta decisão a critério de cada trio;
A escolha e o posicionamento dos blocos para a concepção da estrutura deveriam
estar baseados nos esforços solicitantes de cada proposta;
Cada trio apresentou um quantitativo de blocos para que fosse feito o orçamento e
compra dos elementos necessários para a execução da estrutura (argamassa, barras de
aço, blocos, etc.);
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
O “parklet” deveria ser projetado um limite com altura limite de sete fiadas;
Todos os projetos foram elaborados com base nos blocos disponíveis no escritório de
integração.
Partindo do conceito de que a utilização da alvenaria estrutural deve ser pensada a partir
535 de componentes modulares. as propostas foram elaboradas pelos alunos com base na
quantidade e tipologias de blocos disponíveis no escritório de integração. Esta restrição foi
considerada favorável uma vez que proporcionou estímulo da criatividade e exploração
formal através do desenvolvimento de soluções idealizadas a partir de uma gama de
elementos pré-definida.
O trabalho foi realizado em duas etapas, sendo a primeira a seleção do melhor projeto e a
segunda a construção da proposta mais adequada. Foram necessárias seis semanas para a
conclusão da atividade das quais as três primeiras consistiram em orientações individuais e
as quatro últimas foram destinadas à execução do “Parklet” no canteiro de obras.
536
537
matéria prima e a subsequente produção dos elementos básicos utilizados em uma obra até
a fase de execução e uma possível demolição do objeto edificado. É importante que sejam
consideradas todas as etapas do processo a fim de minimizar os impactos causados durante
o ciclo de vida dos edifícios.
538
A organização de um canteiro de obras é fundamental para que o trabalho seja realizado
de dentro do tempo previsto, com qualidade e sem desperdício de materiais. É importante
que os alunos saibam que um processo construtivo não se restringe à execução de obra civil,
mas sim como um processo integrado que vai desde a concepção até a entrega do produto.
Sendo assim, aspectos de planejamento como a elaboração cronogramas, cumprimento de
metas e prazos, sobreposição de atividades e a logística de materiais, dentre outros,
puderam ser observados a partir de outro viés. O trabalho desenvolvido pode ser
caracterizado como um resumo do aprendizado do semestre no qual os alunos colocaram
em prática os conhecimentos teóricos aprendidos em sala de aula.
6. CONSIDERAÇÕES
A construção civil é um setor da indústria que exige métodos conexos e sequenciais para
que seja garantida a qualidade do produto final dentro prazo e orçamento previamente
estabelecidos na fase de planejamento. Diante de um mercado cada vez mais exigente, em
função das constantes inovações construtivas, faz-se necessária a adaptação não só das
ferramentas de trabalho mas também dos profissionais responsáveis por operá-las. Para que
se executem obras condizentes com estes avanços técnicos, é fundamental que a
metodologia utilizada nas diferentes etapas de projeto seja compatível com as exigências e
possibilidades de um novo contexto.
A busca por maior eficiência nas técnicas construtivas de tem provocado mudanças
gradativas na relação entre concepção e execução do objeto construído. O tradicional
desenvolvimento arquitetônico desvinculado das etapas de execução dá lugar a atividades
simultâneas, fazendo com que o foco deixe de ser o produto final, mas também a maneira
pela qual o mesmo é concebido. As etapas de produção passam ser realizadas de forma
contínua, evitando o desencontro de informações ao longo do processo.
Ao incorporar novos recursos pedagógicos para ensino de estruturas nas escolas de
arquitetura, espera-se que os alunos desenvolvam habilidades projetuais e capacidade
crítica sobre e a concepção e desenvolvimento de soluções a partir de blocos de alvenaria
estrutural. A atividade baseada na construção de um projeto de própria autoria, somado ao
fato do objeto de estudo fazer parte de uma realidade próxima, instiga o estudante de
arquitetura, gerando maior interesse sobre o assunto e consequentemente um melhor
desempenho na disciplina.
Os sistemas de blocos portantes tradicionalmente empregados na execução de tipologias
caracterizadas pela repetição de unidades passam a ter uma atuação mais ampla no campo
da construção civil. Programas de necessidades, que vão desde residências unifamiliares a
conjunto habitacionais verticais, apresentam, cada vez mais, soluções baseadas nas
características e procedimentos construtivos em questão.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Diante de um retorno dos alunos egressos e professores das disciplinas de projeto dos
períodos seguintes, é possível afirmar que o trabalho realizado foi uma experiência válida que
merece ser desenvolvida visando ao aprimoramento de atividades didáticas que correspondam
à contemporaneidade da arquitetura assim como à interdisciplinaridade que a envolve.
539
Por fim, conclui-se que, apesar da existência de uma ampla gama de inovações
tecnológicas na área do conhecimento em questão, o ensino de estruturas nas escolas de
arquitetura ainda se encontra resistente com relação à adoção de novas propostas. A
experiência construtiva se faz obrigatória na formação do arquiteto estando a cargo dos
professores realizá-la da melhor forma possível.
REFERÊNCIAS
ROCHA, Germana
RESUMO
Este trabalho traz reflexões sobre a importância do desenvolvimento de uma consciência construtiva
desde os primeiros anos da formação do arquiteto, considerando o estudo da forma e da concepção
da arquitetura a partir de sua estrutura resistente, bem como das relações entre arquitetura e sua
materialidade, fundamentado no conceito de tectônica. Trata-se do relato uma experiência de
ensino/aprendizagem em disciplina de sistemas estruturais realizada no primeiro semestre de um
curso de arquitetura e urbanismo, em que a compreensão qualitativa dos fenômenos da estrutura
resistente é fixada a partir de exercício prático de concepção e execução de uma “instalação” –
modelo físico em escala real. A instalação, além de revelar a associação de sistemas estruturais
utilizada, deveria possuir uma dimensão simbólico-conceitual e crítica na intervenção de pequeno
espaço no centro de tecnologia da universidade onde se encontra o curso. O exercício foi realizado
em três momentos. O primeiro – a concepção da instalação – subdividido nas seguintes etapas:
escolha do tema/conceito do espaço a ser abrigado; escolha do sistema/associação estrutural
adequado à proposta; levantamento físico do local; pré-dimensionamento dos sistemas estruturais e
teste em maquetes; pesquisa de materiais. O segundo momento – execução e apresentação da
instalação. A última fase constituiu na elaboração de apresentação, em meio digital, do processo
concepção/execução da instalação, ilustrado com imagens e textos. Os trabalhos alcançaram
resultados surpreendentes, tanto no que diz respeito à aplicação prática dos conceitos sobre
comportamento estrutural, como com relação à apreensão das relações indissociáveis entre
concepção/construção, estrutura formal/estrutura resistente, arquitetura/materialidade.
Palavras-chave: Estrutura formal arquitetônica; Estrutura resistente; Tectônica.
ABSTRACT
This work presents reflections on the importance of the constructive conscience development since
the early years of the architect's training, considering the study of the architectural form and
conception since its resistant structure, as well as the relations between architecture and its
materiality, based on tectonic concept. It reports to a teaching-learning experience occurred on a
discipline of structural systems accomplished in the first semester of an architectural and urbanism
course, in which the qualitative understanding of the resistant structure’s phenomena was fixed on a
practical exercise of conception and execution of an "installation" - physical model on real scale. The
installation, apart from revealing the association of structural systems used, should have a symbolic-
conceptual dimension and critical in the intervention of small space in the technology center of the
university where the course is located. The exercise took place in three moments. The first moment –
design/execution of the installation – was subdivided in the following steps: choice of the theme-
concept and the space to be sheltered; choice of structural system association appropriate to the
proposal; physical survey of the site; structural system design and model testing; materials research.
The second moment: installation’s constructing and presentation. The last phase consisted on the
presentation’s elaboration, in digital media, of the work steps and the installation’s construction,
illustrated with images. The student’s works achieved surprising results, both with respect to the
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
practical application of the concepts of structural behavior and to the apprehension of the
inseparable relations between conception/construction, formal structure/resistant structure,
architecture/materiality.
Keywords: Formal architectural structure; Resistant structure; Tectonic.
541
1. INTRODUÇÃO
A integridade física da forma arquitetônica necessita da estrutura resistente que se
constitui dos elementos arquiteturais de suporte das cargas da construção, desde a
cobertura ao plano do solo. Sua geometria e proporções são determinadas pelo princípio
estrutural, definidor do caminho das forças, sendo seus atributos relacionados às
propriedades dos materiais e à estática. Assim sendo, o estudo da forma e da concepção da
arquitetura a partir de sua estrutura resistente, bem como das interações entre a ordem
técnica e a ordem estética, são fundamentais quando se pretende o desenvolvimento de
uma consciência construtiva, ou como coloca Saramago (2011), de um “sentimento
estrutural”, desde os primeiros anos da formação do arquiteto.
Este trabalho traz o relato de uma experiência didática do comportamento estrutural
na disciplina Sistemas Estruturais I – localizada no primeiro semestre do Curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba – em que a compreensão
qualitativa dos fenômenos da estrutura resistente é fixada a partir de exercício prático de
concepção e execução de uma “instalação” – modelo físico em escala 1:1. A proposta de
trabalho está baseada na cultura tectônica, que tem como um de seus fundamentos o
entendimento de que a estrutura formal arquitetônica necessita nascer
concomitantemente a uma proposta de estrutura resistente, que lhe é intrínseca, para que
a primeira não corra o risco de não ser exequível.
Com base nos conceitos estudados sobre sistemas estruturais básicos – arco, cabo, viga
vierendeel, viga de alma cheia, treliça e pilar, conforme a classificação de Rebello (2000) –,
os alunos devem conceber a instalação utilizando uma ou mais das possíveis associações
entre esses sistemas estruturais básicos, além de adotar, para um dimensionamento
aproximado dos componentes estruturais, os gráficos contidos no livro desse autor.
A instalação, além de revelar a associação de sistemas estruturais utilizada, deve
expressar a dimensão simbólico-conceitual na intervenção de pequeno espaço dentro do
Centro de Tecnologia da UFPB. O exercício é realizado em três etapas. O primeiro momento,
dedicado à concepção da instalação, é subdivido em: escolha do tema/conceito e do espaço
a ser abrigado; escolha do sistema/associação estrutural adequado à proposta;
levantamento físico do local; dimensionamento dos sistemas estruturais e teste em modelos
físicos reduzidos (maquetes); além da pesquisa de materiais e orçamento. O segundo
momento do trabalho é constituído da execução e apresentação da instalação, sendo a
terceira etapa, mais curta, dedicada à elaboração de apresentação em mídia digital,
contendo as considerações e reflexões dos estudantes sobre a experiência, relatando o
processo de concepção à execução da instalação através de texto e imagens.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
A experiência ora relatada vai de encontro aos percursos didáticos traçados a partir da
fragmentação da Tríade de Vitrúvio (forma-técnica-função) comuns na maioria das escolas
de arquitetura, que implica em “decomposição de fundamentos e não decomposição de
saberes em conteúdos didáticos”, como argumenta LIMA (2003, p. 86). A abordagem
542
tectônica em exercício propositivo e executivo de um objeto arquitetônico a partir de
princípios estruturais permite a composição (ou recomposição) de parte desses saberes
mesmo nos primeiros momentos do aprendizado em arquitetura, ao ressaltar, na concepção
da envoltória do espaço, os nexos entre materialidade e expressividade.
analógica e digital, pelo fato de a disciplina estar no primeiro período do curso. Portanto,
adota-se para a terceira parte da disciplina, o Módulo III, um caráter mais prático, em que os
alunos aplicam e experimentam os conceitos e fundamentos das associações dos sistemas
estruturais básicos na concepção da cobertura de um espaço arquitetônico, representado a
543
partir de modelos físicos (maquetes), o que ocorreu nos primeiros anos de nossa experiência
didática nessa disciplina, sendo adotado o uso das instalações de sistemas estruturais em
escala real, recentemente, a partir do último semestre (2016.1). Por ser o objeto central
deste trabalho, a experiência da concepção e execução da instalação é relatada em sua
totalidade mais adiante.
O uso de maquetes físicas, protótipos e instalações não é novidade, pois tem sido
recorrente em cursos de arquitetura, design e engenharias, tanto para comunicar ideias,
conceitos e intenções, como para testar a eficiência da proposta. No caso do estudo das
estruturas resistentes de edificações, observamos que os modelos físicos na escala 1:1 – aqui
chamados de instalações – têm se mostrado mais eficientes para a apreensão tátil e
comportamental dos fenômenos estruturais pelos alunos, a exemplo de experiências em
outras universidades como a PUC-Campinas, UNIMEP, FAU-USP, entre outras, conforme
relata Saramago (2011), sendo os protótipos imprescindíveis para os testes de desempenho,
resistência, entre outros.
Na experiência em apreço, por se tratar de disciplina de curso de Arquitetura e
Urbanismo, a concepção e execução de uma instalação, ou modelo físico em escala real,
além de permitir testar e experimentar os conceitos e o comportamento de sistemas
estruturais busca-se exercitar a concepção da arquitetura a partir do sistema estrutural,
utilizando os recursos permitidos pela associação de sistemas estruturais básicos para o
alcance da interação entre força e forma, materialidade e expressividade.
Figura 1 – Projeto para a extensão do Museu Vitória e Albert, Londres, por Daniel Libeskind, 1995.
Etapa 02
Execução da instalação e apresentação – corresponde a montagem da instalação.
Dependendo da proposta, algumas partes da instalação podem ser “pré-fabricadas”
nas residências dos alunos, facilitando a montagem final na universidade. Em data e
1
Sobre formação de repertório, ver Martinez (2000) e Mahfuz (2003).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Etapa 03
546
Elaboração da apresentação em mídia digital – todo o processo de concepção e
execução da instalação é apresentado em Power Point, devendo conter a justificativa
da escolha do tema/lugar, as considerações sobre a associação de sistemas estruturais
adotada (definição, esforços atuantes, materiais mais adequados, etc.), a obra ou
projeto correlato estudado, os croquis conceptivos e pré-dimensionamentos e
gráficos, materiais escolhidos para a instalação, fotos da elaboração da maquete e
fotos da elaboração do modelo físico finalizado.
São apresentados, a seguir, três dos seis trabalhos realizados, que atenderam ao
exercício de maneiras distintas. Para cada trabalho são feitas considerações em dois níveis:
1) Relação Estrutura resistente/Estrutura formal, como sendo o critério que analisa como as
equipes de alunos trabalharam e relacionaram os dois principais fundamentos do exercício;
2) a Ênfase produtiva, onde se considera a ênfase dada pelas equipes aos processos de
concepção apoiada em pré-dimensionamento dos elementos estruturais, modelos físicos
reduzidos e o processo de execução da instalação.
A Equipe 01 apresentou como instalação um elemento gerador de sombra para otimizar
o uso do banco de uma praça específica do Centro de Tecnologia (Figura 3), intitulada
“TEGERE” – termo proveniente do latim que significa cobrir. Desde os primeiros momentos
da concepção, a equipe decidiu pela associação entre treliça espacial e cabo como elemento
gerador da estrutura formal. Apesar dos alunos terem o conhecimento de que a treliça
espacial e o cabo são sistemas estruturais mais apropriados para o alcance de grandes vãos,
importava para eles explorar os atributos da leveza e transparência do princípio estrutural.
Fonte: Acervo da Equipe 01 (2016.1), formada pelos alunos Fernanda Mota, João Victor, Júlio César, Stela Alves
e Wenia Santos; editado pela autora.
Figura 4 – Detalhe da fixação do pilar da TEGERE através de mão francesa metálica parafusada ao
547 chão e cabos tracionados, também fixados ao piso
Fonte: Acervo da Equipe 01 (2016.1), formada pelos alunos Fernanda Mota, João Victor, Júlio César, Stela Alves
e Wenia Santos; editado pela autora.
Fonte: Acervo da Equipe 02 (2016.1), formada pelos alunos Jöel van Oosterhout, Lincoln Almeida, Manuella de
Freitas, Beatriz de Andrade, José Barbosa Segundo e Kalina Montenegro de Araújo; editado pela autora.
estrutura resistente/ estrutura formal com forte qualidade expressiva, colaborando ainda
para alertar os alunos, numa experiência prática de materialização do objeto concebido,
sobre a importância do pré-dimensionamento da estrutura já na fase de concepção,
principalmente quando ela é definidora da própria estrutura formal.
549
Figura 7 – Imagens do Processo: concepção, pré-dimensionamento, maquete, protótipos e detalhes
das conexões e execução da instalação FRACTOSCÓPIO
Fonte: Acervo da Equipe 01 (2016.1), formada pelos alunos Jöel van Oosterhout, Lincoln Almeida, Manuella de
Freitas, Beatriz de Andrade, José Barbosa Segundo e Kalina Montenegro de Araújo; editado pela autora.
O COLIBRI, título dado à instalação realizada pela Equipe 03, teve como tema central
ressaltar a ausência de cobertura em alguns dos caminhos entre os blocos de aula do CT. A
proposta, entretanto, apresenta um caráter mais escultórico para chamar atenção à
necessidade de sombreamento (Figura8).
Fonte: Acervo da Equipe 01 (2016.1), formada pelos alunos Bruna Fernanda, Mariana Gonçalves, Noberta
Bruna, Thaísy Ferreira e Vivian Rodrigues; editado pela autora.
4. CONSIDERAÇÕES
A prática experimental na idealização e manufatura de protótipos ou instalações em
escala real tem se mostrado uma ferramenta importante na prática pedagógica da
arquitetura, principalmente em disciplinas da área de tecnologia e projeto, em várias
universidades e desde muito tempo. Entretanto, essa prática vem sendo pouco explorada
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
pelos professores das disciplinas que envolvem sistemas estruturais para o ensino de
arquitetura e mesmo de engenharia – em particular no CT de nosso campus –, que adotam
uma abordagem quantitativo-analítica da estrutura resistente, limitando-se alguns, quando
muito, ao uso de modelos físicos reduzidos – maquetes.
551
Uma abordagem excessivamente matemática, sem considerar o projeto, não permite que
os alunos estabeleçam as conexões entre os elementos da estrutura resistente e o todo
arquitetônico, conforme argumentam Rebello e Leite (2015). Isso decorre da decomposição
de fundamentos, dentre eles, a fragmentação da tríade vitruviana, forma-técnica-função,
princípios inseparáveis em toda obra arquitetônica.
Essa fragmentação implica diretamente na separação entre projeto e tecnologia, entre
estrutura formal arquitetônica2 e estrutura resistente, por fim, entre a arquitetura e suas
determinações construtivas. Considerando o caráter da tecnologia na prática e formação do
arquiteto, em sua teoria do projeto, Hélio Pinõn (2006) ressalta que:
A construção é a condição da arquitetura e a tectonicidade um valor inequívoco dos
seus produtos (...) a atenção à construção é uma condição básica do conceber (...)
não há concepção sem técnica, nem projeto sem matéria (PIÑON, 2006, p.126).
REFERÊNCIAS
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arquitetura: antologia teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac Naify, 2006.
LIMA, H. C. A estrutura arquitetônica como entrada na aprendizagem de projeto. In: LARA, F.;
MARQUES, S. Projetar: desafios e conquistas da pesquisa e do ensino. Rio de Janeiro: Virtual
2
Estrutura formal arquitetônica é a síntese do modo como os elementos materiais e espaciais são ordenados,
considerando os condicionantes do lugar, a finalidade da edificação e a disciplina construtiva para alcançar o
significado e simbolismo artísticos desejados (ROCHA, 2012).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Científica, 2003.
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Projetar: desafios e conquistas da pesquisa e do ensino. Rio de Janeiro: Virtual Científica, 2003.
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REBELLO, Y. C. P. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000.
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Getty Research Institute, 2004.
CONCEPÇÃO ESTRUTURAL DE EDIFÍCIOS: ARTICULAÇÕES ENTRE PAVIMENTO
TIPO E PAVIMENTO DE GARAGENS
BOMFIM, Carlos Alberto Andrade (1); TEIXEIRA JÚNIOR, Manoel Messias (2)
RESUMO
A concepção da forma e a organização dos espaços constituem-se nos princípios preliminares para a
definição da estrutura. Em ordem, a criação da forma e a definição dos espaços permitem a
concepção de modelos que se constituem em sistemas estruturais. Nesse contexto, o presente
artigo, fruto de experiência didática, aborda as articulações do ensino de projeto de estruturas e
arquitetura para constituição de um edifício de múltiplos pavimentos articulando o pavimento tipo e
a garagem. Compreendendo os desafios impostos na constituição de edifícios de múltiplos
pavimentos, é possível introduzir os conceitos de núcleos rígidos, estruturas de transição, ação do
vento, desempenho e durabilidade das estruturas, modulação estrutural, escolha adequada dos
sistemas de lajes e conduzir ao pré-dimensionamento dos pilares e vigas solucionando as
articulações do arranjo de vagas nos pavimentos de garagem e pavimento tipo. O exercício impõe
um eficiente projeto de garagens com uma arquitetura adequada às modulações e distribuição do
número de vagas necessário, aliada a um projeto estrutural que permita pilares e vigas ajustados às
necessidades do edifício. Essa experiência conduz à atuação efetiva entre a concepção arquitetônica
e estrutural, e permite, através das etapas desenvolvidas no exercício, uma ampla discussão e
conscientização sobre as responsabilidades do arquiteto na concepção da forma, compreensão de
constituição de sistemas e técnicas construtivas. O artigo aborda as etapas do exercício, métodos e
materiais de simulação utilizados, resultados ao longo de quatro semestres de experiências e
sugestões para implementação e condução de novos trabalhos sobre o tema.
Palavras-chave: Concepção estrutural; Arquitetura; Pré-dimensionamento; Garagem.
ABSTRACT
The design of the form and the organization of the spaces constitute the preliminary principles for the
definition of the structure. In order, the creation of the form and the definition of spaces allow the
design of models that constitute structural systems. In this context, this article, as a result of didactic
experience, addresses the articulations of the teaching of design of structures and architecture for the
constitution of a multi - storey building articulating the pavement type and the garage.
Understanding the challenges imposed in the constitution of multi-storey buildings, it is possible to
introduce the concepts of rigid cores, transition structures, wind action, structural performance and
durability, structural modulation, adequate choice of slab systems and lead to pre-dimensioning of
Pillars and beams solving the joints of the arrangement of vacancies in the pavements of garage and
pavement type. The exercise imposes an efficient design of garages with a suitable architecture the
modulations and distribution of the number of vacancies necessary allied to a structural project that
allows pillars and beams adjusted the needs of the building. This experience leads to effective
interaction between architectural and structural conception and allows through the stages developed
in the exercise a broad discussion and awareness about the responsibilities of the architect in the
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
conception of form, understanding of the constitution of constructive systems and techniques. The
article discusses the exercise stages, simulation methods and materials used, results during four
semesters of experiments and suggestions for implementation and conduction of new works on the
theme
Keywords: Structural design; Architecture; Pre-dimensioning; Garage.
554
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo trata da consolidação de um exercício específico para disciplinas de
Introdução aos Sistemas Estruturais do curso de Arquitetura e Urbanismo. Ao longo de
alguns anos, o método foi aprimorado e experimentado em disciplinas similares na UFBA –
Universidade Federal da Bahia, na disciplina Introdução aos Sistemas Estruturais e na
UNIFACS – Universidade Salvador, na disciplina Sistemas Estruturais em Concreto Armado,
ambas no curso de Arquitetura e Urbanismo. O exercício aborda de maneira técnica e
criativa a concepção de edifícios de múltiplos pavimentos, mostrando o quanto as decisões
acerca do lançamento estrutural e agenciamento dos espaços são importantes para o
trabalho do arquiteto, autor da forma e consequentemente da estrutura. O desafio imposto
pelo exercício parte de inquietações e busca de estratégias no ensino de estruturas para os
cursos de arquitetura, visto que as abordagens realizadas com métodos similares aos
empregados nos cursos de engenharia não despertam o interesse e o aguçar da criatividade
dos futuros arquitetos.
A matéria “Teoria das Estruturas” pela diversidade e volume, há muito tempo foge
de uma total compreensão. A sistemática e conclusiva identificação do conteúdo
de uma mera matéria e portanto seu ensino já é um problema; e ainda mais a
aplicação de sua criatividade. Nem para o especialista em estruturas, o engenheiro
estrutural, a utilização competente de todos os ramos deste campo é possível,
quanto mais para aquele que, além e tudo, ainda tem que dominar um grande
número de outros campos de conhecimento básico para seu trabalho, o arquiteto
(ENGEL, 2006).
Uma vez definida a localização dos elementos estruturais, parte-se para o seu pré-
dimensionamento. Nesta etapa, o arquiteto ainda deve se preocupar com as decisões
formais e precisa ter conhecimento do comportamento estrutural e características do meio
ambiente, conforme a NBR 6118, para determinar as dimensões dos elementos de maneira a
556
atender os aspectos de custos, segurança e durabilidade. As dimensões dos elementos
variam com as cargas, vãos, materiais, tipo estrutural, etc. (SOARES; DEBS, 1999).
Com a conclusão do pré-dimensionamento, inicia-se a etapa de análise estrutural dos
elementos, que deve ser realizada por profissional especializado. Atualmente, o suporte
computacional com inserção de softwares de cálculo estrutural permite maior precisão na
interação entre os vários elementos estruturais, aproximando-se da realidade. Do Modelo
de Grelha à aplicação do Método dos Elementos Finitos, é possível perceber uma grande
evolução na análise estrutural contemporânea, envolvendo simulação do edifício sob a ação
do vento, soluções de contraventamento, núcleos rígidos e composições de pórticos
tridimensionais parametrizados com extração de dados e interação com as demais
disciplinas de projeto.
A escolha do sistema estrutural depende de fatores técnicos e econômicos, dentre eles:
capacidade do meio técnico para desenvolvimento do projeto e execução da obra,
disponibilidade dos materiais especificados, mão-de-obra e equipamentos necessários para
a execução. Os sistemas apresentam particularidades na escolha dos tipos de lajes, podendo
ser maciças, nervuradas, moldadas no local, pré-fabricadas, parcialmente pré-fabricadas ou
protendidas quando se trata de vencer grandes vãos, além de lajes sem vigas, apoiada
diretamente sobre pilares.
Na maioria dos edifícios de múltiplos pavimentos, a escolha do tipo de laje nos
pavimentos de garagem está condicionada à possibilidade de se alcançar maiores vãos para
organização espacial das vagas. Um projeto de garagens eficiente encontra soluções de
integração com o projeto arquitetônico, atendendo aos critérios legislativos, previsão
adequada da modulação de pilares, e distribuição de vagas. Com o projeto de estruturas
finalizado, define-se o ajuste dos elementos (pilares e vigas) às necessidades estruturais do
edifício. Essas características do sistema convencional: laje, viga e pilar em concreto armado
e sua interação com o projeto arquitetônico são a temática que originaram o exercício e a
pesquisa apresentada a seguir.
conexões verticais. Nesse tipo de arranjo, a movimentação dos veículos entre os pavimentos
é dada por rampas de acesso, que podem ser: reta de pista simples com subida e descida,
reta entre meios-pisos, com rampas separadas para subida e descida, mão dupla, helicoidais
de mão única independentes ou helicoidais para subida e descida (Figura 1). A escolha do
558
tipo de rampa depende das características do terreno e da disponibilidade de espaço para as
manobras (BEVILAQUA, 2010).
Figura 1 – Tipos de rampa de acesso a garagens. (a) reta de pista simples com subida e descida; (b)
reta entre meios-pisos, com rampas separadas para subida e descida, mão dupla; (c) helicoidais de
mão única independentes; (d) helicoidais para subida e descida
É notável que o projetista não irá resolver os problemas de estacionamentos locais das
cidades contemporâneas. O critério para dimensionar espacialmente a área das vagas é
condicionado por legislações locais e normas específicas. O estacionamento deve ser
considerado desde o projeto, planejado com coerência e em harmonia com as decisões de
arquitetura, para não ser desenvolvido como uma adição vulgar, descaracterizando a leitura
ambiental local e propondo espaços de uso irracional.
1
O Edital do Exercício é um documento que estabelece os objetivos, diretrizes, produtos a serem entregues e
referências que devem ser consultadas durante o processo.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 2 – Slide de apresentação do Seminário: “Garagens, onde estão?”. Edifício Colinas de São
Lázaro, Salvador Bahia
560
Fonte: Equipe 03, UFBA, disciplina: Introdução aos Sistemas Estruturais (2007).
A segunda etapa (realizada com grupos de dois estudantes) tem como objetivo principal a
prática integrada entre arquitetura e engenharia com a obtenção de melhores resultados
espaciais nas garagens com uma integração entre a modulação estrutural, aproveitamento
de área, circulação, número de vagas além de eficiência e economia.
Os estudantes têm como desafio, a partir de uma planta tipo de um edifício de quinze
pavimentos fornecida pelo professor, proceder ao lançamento da estrutura (lajes, vigas e
pilares) concebendo o pavimento de garagens (concepção arquitetônica e estrutural).
O edifício proposto do exercício possui 15 pavimentos tipos, localizado na Orla Atlântica
de Salvador, que apresenta características particulares de agressividade ambiental, onde os
parâmetros de durabilidade previstos na NBR 6118 devem ser levados em consideração
inclusive na parametrização de pré-dimensionamento.
A planta tipo fornecida propõe uma discussão sobre o papel do arquiteto. No método
tradicional de projeto, a concepção estrutural fica sob a responsabilidade de outro
profissional (um engenheiro estruturalista) quando o projeto arquitetônico está finalizado,
interferindo nas possibilidades de soluções e interações entre disciplinas de projeto. O
grande desafio é propor a solução arquitetônica e estrutural da garagem e sua integração
com a planta tipo existente.
estrutural. Outros aspectos como a definição das ações, considerações específicas sobre
ação do vento, requisitos de segurança, custos e durabilidade poderão promover diferentes
resultados para uma mesma proposta. Segundo Rebello (2001),
Conceber uma estrutura é ter consciência da possibilidade da sua existência; é
perceber a sua relação com o espaço gerado; é perceber o sistema ou sistemas
561
capazes de transmitir as cargas ao solo, da forma mais natural, é identificar os
materiais que, de maneira mais adequada, se adaptam a esses sistemas.
2
Fck é a resistência característica à compressão do concreto, sendo um dos elementos do cálculo estrutural,
medida em MPa (Mega Pascal). Essa resistência é medida através de ensaios de compressão de corpos de prova
do concreto extraído da obra. Com os resultados dos ensaios de compressão calcula-se estatisticamente o fck.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Fonte: Equipe 01, UNIFACS, disciplina Sistemas Estruturais em Concreto Armado (2013).
Fonte: Equipe 01, UNIFACS, disciplina Sistemas Estruturais em Concreto Armado (2013).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
5. CONSIDERAÇÕES
efeitos da ação do vento e verificar de maneira hierárquica qual solução atende melhor aos
requisitos de estabilidade, economia e durabilidade.
AGRADECIMENTOS
565 Agradecemos a todos os estudantes que, através desse exercício, permitiram a
materialização deste artigo.
REFERÊNCIAS
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Final de Iniciação Científica – FAPESP. UNESP, Universidade Paulista, 2008.
BEVILAQUA, R. Edifícios Garagem Estruturados em Aço. CONSTRUMETAL – Congresso Latino –
Americano da Construção Metálica, São Paulo. Anais... São Paulo, setembro de 2010.
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São Carlos – USP, Departamento de Engenharia de Estruturas, 1999, 30p.
DIÁLOGO ENTRE ARQUITETURA E ESTRUTURA A PARTIR DA TECNOLOGIA DAS
HABITAÇÕES INDÍGENAS
PORTOCARRERO, José Afonso (1); ARAÚJO SILVA, Dorcas (2); GALDINO, Yara (3); MACHADO, Maria
Fátima (4)
RESUMO
Este artigo pretende apresentar a experiência desenvolvida no Seminário Diálogos III – Arquitetura e
Estrutura, realizado pelo Núcleo de Pesquisas Tecnologias Indígenas – Tecnoíndia, do Departamento de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Mato Grosso, em conjunto com professores da
universidade suíça ETH-Zurich. As habitações indígenas de Mato Grosso, que são alvo de investigação
dos pesquisadores do Núcleo Tecnoíndia desde 2002, foram enfocadas no seminário em função da
simbiose que as mesmas estabelecem entre forma, estrutura e materialidade. Compreendendo a casa
indígena como produção tecnológica, a discussão sugerida pelos pesquisadores do Núcleo Tecnoíndia e
da ETHZ pretendeu propor um olhar que inaugurasse novos entendimentos formais e estruturais das
mesmas. As reflexões feitas durante o seminário foram respaldadas pelos estudos do antropólogo Tim
Ingold. Concordamos com Ingold quando ele propõe que o conhecimento se solidifica através do fazer,
em meio a materiais ativos, equilibrando as forças atuantes sobre o material e intervindo no processo
que está acontecendo no mundo real. A partir deste enfoque, o Seminário compreendeu uma oficina
de mobiliário em papelão, que permitiu que os alunos projetassem e desenvolvessem objetos que
fossem formalmente interessantes, mas que principalmente fossem estruturalmente eficientes,
considerando as potencialidades e os limites do material com que foram construídos. Com formação
em engenharia e atuação no ensino de estruturas para arquitetos, os professores suíços apresentaram
metodologias didáticas que proporcionaram compreensões conceituais de estruturas arquitetônicas,
com o desenvolvimento de modelos em menor escala pelos alunos e a análise de obras existentes e
seu comportamento estrutural.
Palavras-chave: Arquitetura Indígena; Projeto de Arquitetura; Estrutura; Forma e Materialidade.
ABSTRACT
This article intends to present the experience developed in the Seminar Dialogues III – Architecture
and Structure, carried out by the Research Group of Indigenous Technologies – Tecnoíndia,
Architecture and Urbanism Department of the Federal University of Mato Grosso, together with
professors of the Swiss university ETH-Zurich. The indigenous houses, which have been the research
subject from the researchers of the Tecnoindia since 2002, were focused on the seminar in function of
the symbiosis they establish between form, structure and materiality. Understanding the indigenous
houses as technological production, the discussion suggested by the researchers of Tecnoindia and
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
ETHZ, attempted to propose a vision that inaugurated new formal and structural understandings. The
reflections made during the seminar were supported by the studies of the anthropologist Tim Ingold.
We agree with Ingold when he proposes that knowledge solidifies itself through doing, through active
materials, balancing the acting forces on the material and intervening in the process that is
happening in the real world. From this point of view, the Seminar Dialogues III comprised a cardboard
furniture workshop, which allowed students to design and develop objects that were formally
567
interesting, but mainly structurally efficient, considering the potentialities and limits of the material
through they were built. With a background in engineering and dedication in teaching structures for
architects, the Swiss professors presented didactic methodologies that provided conceptual
understandings of architectural structures, with the development of smaller scale models by students
and the analysis of existing buildings and their structural behavior.
Keywords: Indigenous Architecture; Architecture Design; Structure; Form and Materiality.
1. INTRODUÇÃO
No ensino de graduação em Arquitetura e Urbanismo, a retomada das discussões acerca
do entendimento sobre estruturas configura uma demanda emergente. Especificamente na
disciplina de Projeto de Arquitetura, onde se pode observar uma lacuna entre a concepção
formal e o sistema estrutural, que, na maioria das vezes, é pensado como um sistema
independente, concebido após a solução formal e a partir desta.
Em períodos históricos anteriores, o entendimento estrutural já esteve mais presente na
prática da arquitetura, como no modernismo, em que a forma muitas vezes foi uma resposta
das características do concreto armado. Assim como em outros momentos da história da
arquitetura, onde o material e as técnicas disponíveis influenciaram fortemente a solução
estrutural e consequentemente formal. Períodos onde os arquitetos/contrutores
dominavam todo o processo arquitetônico, estrutural e executivo.
A divisão das especialidades (Arquitetura e Engenharia) e as consequentes alterações nos
currículos reduziram a experiência no aprendizado de estruturas nos cursos de Arquitetura.
Chegando-se ao atual pensamento equivocado de que as estruturas são uma atribuição
exclusiva da Engenharia Civil.
Entendemos que a reflexão sobre a arquitetura indígena pode contribuir para a
superação dessa lacuna, pois ela sintetiza o processo de integração entre o pensar e fazer
arquitetônico, resultando um desenho onde forma e estrutura fazem parte de um mesmo
sistema. Na arquitetura indígena, aquele que pensa também executa, não havendo uma
representação gráfica que intermedie estes dois momentos.
A partir do conhecimento sobre arquitetura indígena e do atual contexto de retomada
das discussões expostas, foi realizado o Seminário Diálogos III – Arquitetura e Estrutura,
organizado pelo Tecnoíndia – Núcleo de Estudos e Pesquisas Tecnologias Indígenas,
vinculado à Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia da UFMT.
2. O NÚCLEO TECNOÍNDIA
O Núcleo de Estudos e Pesquisas Tecnologias Indígenas – Tecnoíndia teve início em 2002,
com um projeto de mesmo nome, que tinha como objetivo melhorar o atendimento à saúde
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1
Edital DENSP/FUNASA N° 001/2001 – Programa de Pesquisa em Saneamento e Saúde – Departamento de
Engenharia de Saúde Pública / Fundação Nacional de Saúde. Publicado no D.O.U. nº 163, pg. 61, seção3 em
24/05/2001.
2
O antropólogo Karl von den Steinen fez importantes registros etnográficos sobre etnias indígenas em Mato
Grosso, tendo realizado duas grandes Expedições à região do Rio Xingú nos anos de 1884 e 1887/1888. A
observação citada foi referente à casa Bakairi (ãtã), na região dos rios Kulisehu e Kuluene.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
3
Organizadora do livro Habitações indígenas. São Paulo: Nobel, Edusp, 1983.
4
A pesquisa de Portocarrero enfatizou o desenho das habitações de 10 etnias indígenas de Mato Grosso,
incluindo aspectos formais e estruturais: Bakairi, Bororo, Irantxe, Kamayurá, Karajá, Myky, Paresí, Yawalapiti,
Umutina, Xavante.
5
Cobertura e parede conformam uma peça única de desenho ogival, cujas bases são fixas no terreno e se
encontram amarradas na cumeeira (Figuras 1 e 2).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
570
Fonte: PORTOCARRERO (2010) . Desenho Getúlio Fonte:: PORTOCARRERO (2010) Desenho: Maria
Geraldo Rodrigues Alho (1985) apud PORTACARRERO Carolina Young Rodrigues. Fonte: Aracy Lopes da Silva
(2010, p. 42). (1983), apud PORTOCARRERO (2010, p. 31).
Autor: José Afonso B. Portocarrero, 1992. Autor: José Afonso B. Portocarrero, 2010.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
6
Construção Simples, Forma Complexa (Einfach Bauen, Complex Wirkung): Titulo do artigo publicado por
Portocarrero e Rinke no livro Holz: Stoff oder Form.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 6 – Oficina de mobiliário de papelão: Prof. Dr. Mario Rinke acompanhando o processo
projetual de uma aluna e alunos apresentando e testando suas produções.
573
Fonte: Acervo Núcleo Tecnoíndia. Foto: Yara Galdino. Fonte: Acervo Núcleo Tecnoíndia. Foto: Yara Galdino.
5. CONSIDERAÇÕES
Este trabalho vem reforçar o que já temos afirmado quanto à importância dos estudos
interdiciplinares em arquitetura, tendo a arquitetura indígena como foco gerador destas
reflexões e discussões. O evento Diálogos III – Arquitetura e Estrutura, que foi aqui relatado
e que resultou a presente reflexão, é fruto de vários momentos anteriores de estudos sobre
a arquitetura praticada pelos grupos indígenas.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
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RESUMO
O arquiteto e urbanista possui atuação essencialmente multidisciplinar e os cursos de Arquitetura e
Urbanismo possuem o desafio de formar profissionais para lidar com essa complexa realidade,
entendendo os conteúdos pertinentes à profissão de maneira integrada e não fragmentada. Em
resposta a essa demanda, o curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Belo
Horizonte (UNIBH) possui grade curricular concebida de modo que cada semestre letivo funcione
como um módulo integrado, com produção de conteúdo final completo e coeso. Os estúdios de
projeto de cada módulo funcionam como catalisadores dos conhecimentos das demais disciplinas,
exigindo, no exercício do projeto, a aplicação e o entendimento global dos conteúdos. A estrutura
curricular do curso transformou, ainda, disciplinas muitas vezes isoladas em grandes disciplinas que
englobam diversos assuntos correlacionados. Para englobar conteúdos, foram propostas as
disciplinas intituladas Sistemas Estruturais e Construtivos, abreviadamente, SEC. O presente artigo
propõe apresentar a dinâmica do processo de integração entre estúdios de projeto, SECs e demais
disciplinas, no curso de Arquitetura e Urbanismo do UNIBH, demonstrando como os assuntos
abordados na SEC, de cada um dos módulos, são incorporados aos estúdios de projetos, bem como
as metodologias ativas de ensino utilizadas e as formas integradas de avaliação de aprendizagem
estão focadas no entendimento global da edificação e na aquisição cumulativa de conhecimento.
Palavras-chave: Ensino de Estruturas; Ensino de Arquitetura; Metodologias Ativas; Ensino Integrado.
ABSTRACT
The architect and urban planner is essentially a multidisciplinary professional and the Architecture
and Urbanism courses have the challenge of training professionals to deal with this complex reality,
understanding the contents related to the profession in an integrated and non-fragmented way. In
response to this demand, the Architecture and Urbanism course of the Centro Universitário de Belo
Horizonte (UNIBH) has a curricular grid designed so that each academic semester works as an
integrated module, towards the production of a complete and cohesive final content. The design
studios of each module function as catalysts of the knowledge from the other disciplines, requiring in
the exercise of the project the application and overall understanding of the contents. The curricular
structure of the course has also transformed disciplines often isolated in major disciplines that
encompass several correlated subjects. To encompass contents, the disciplines called Structural and
Constructive Systems (abbreviated to SCS) were proposed. The present paper proposes to present the
dynamics of the integration process between design studios, SCSs and other disciplines, in the
Architecture and Urbanism course of UNIBH. It also aims to demonstrate how the subjects covered in
the SEC, of each module, are incorporated into the design studios, as well as the active teaching
methodologies and the integrated forms of evaluation of learning, focused on the overall
understanding of the building and the cumulative acquisition of knowledge.
Keywords: Structures Teaching; Architecture Teaching; Active Methodologies; Integrated Teaching.
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1. INTRODUÇÃO
O arquiteto e urbanista é um profissional que transita por diversos campos do
conhecimento humano para conseguir realizar com qualidade sua atividade profissional,
possuindo, ainda, o desafio de acompanhar as rápidas mudanças pelas quais passa nossa
577 sociedade, seja do ponto de vista das relações humanas ou do desenvolvimento tecnológico.
Um bom arquiteto, hoje em dia, deve ser um generalista, muito versado em
distribuição dos espaços, em técnicas de construção e sistemas elétricos e
mecânicos, mas também entender bem de finanças, bens imobiliários,
comportamento humano e conduta social. Ademais é um artista, com direito a
expressar seus dogmas estéticos (SALVADORI, 2006, p.10).
1
O termo “sentimento estrutural” é apresentado por Saramago (2011, p.34), a partir da revisão de diversos autores
sobre ensino de estruturas em escolas de arquitetura e terá seu significado trabalhado mais a frente neste artigo.
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consciência de que no seu ato criador dos espaços está intrínseco o ato criador da
estrutura. Quando o criador da forma não se preocupa com o ato gêmeo da
concepção estrutural, delegando a outro profissional esta função, corre o risco de
ver seu projeto totalmente desfigurado (REBELLO, 2000, p.26 e 27).
práticas dos conteúdos e da profissão são trabalhadas como caminho para alcançar a
integração entre os assuntos das disciplinas ensinadas em sala de aula. Experiências
realizadas em projetos de extensão, como os Canteiros-Escola ou Escritórios de Integração,
são exemplos dessas práticas, que trabalham tanto com questões conceituais e humanas,
580
quanto com aspectos técnicos e tecnológicos pertinentes à formação profissional.
Algumas experiências didáticas contemporâneas dos cursos de Arquitetura e Urbanismo
vêm passando por processos, cujos conteúdos tendem a ser trabalhados não em disciplinas
fragmentadas, mas em grandes disciplinas que abordem os assuntos, de maneira aplicada
diretamente na atividade projetual. Saramago (2011) destaca a experiência da PUC-Minas,
onde diversas disciplinas de cunho técnico e tecnológico foram extintas e incorporadas nas
disciplinas de Projeto, propondo um entendimento holístico da construção. Apesar de essa
experiência, como também destacado pela autora, oferecer o risco de haver lacunas de
informações importantes para a formação do profissional, trata-se de um método em que o
conceito de integração de conteúdo pode ser aplicado de maneira profunda.
urbanista, passa por várias dentre as experiências citadas e requer dos cursos dessa área
ações para rever de maneira crítica e propositiva suas estruturas e objetivos curriculares.
2
Segundo Borges e Alencar (2014), Metodologias Ativas são estratégias de docência aplicadas nos processos de
ensino-aprendizagem que buscam conduzir a formação crítica de futuros profissionais nas diversas áreas,
podendo favorecer a autonomia do educando, despertando a curiosidade, estimulando tomadas de decisões
individuais e coletivas, advindos das atividades essenciais da prática social e em contextos do estudante.
3
Considera-se o grupo de disciplinas de SEC como disciplinas teórico-práticas, visto que existem abordagens
teóricas dos temas que fundamentam e embasam o conteúdo previsto nas ementas e, posteriormente, são
aplicadas de forma prática na concepção e desenvolvimento dos projetos das disciplinas de Estúdio.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
584
Figura 2 – Articulação Horizontal das disciplinas práticas do curso de Arquitetura e Urbanismo UNIBH
Na concepção pedagógica do curso, cada professor deve ser parte de uma equipe
multidisciplinar que busca o maior grau de articulação possível entre os conteúdos do
módulo. A equipe deve desenvolver tais articulações, definindo áreas de estudo, terrenos e
programas coerentes em relação a todos os temas abordados nas disciplinas de EU, EA e
SEC. O trabalho final de cada módulo, conduzido, principalmente, pelas disciplinas de
projeto, é, então, acompanhado e avaliado por professores de diversas áreas, contribuindo
para que o aluno experimente o contato com pontos de vista diferentes sobre sua produção.
Dentro ainda da proposta pedagógica do curso, os professores de SEC devem ser
arquitetos e urbanistas, com formação, conhecimento e experiência nas áreas de sistemas
estruturais e construtivos do módulo, com desejável prática profissional em canteiro de
obras, mas também prática em projetos arquitetônicos. Essa opção garante uma abordagem
focada no desenvolvimento do “sentimento estrutural” muito mais do que em métodos
matemáticos, além de garantir professores preparados para contribuir e atender demandas
específicas da produção do projeto arquitetônico dos alunos.
586
EVOLUÇÃO DO MÓDULO
ementas das disciplinas do módulo e no GUIA DE BOAS conteúdo teórico, além de
PRÁTICAS do curso. Desejável inclusão de VISITAS TÉCNICAS. situações práticas aplicadas.
Uma segunda etapa prevê a realização de pesquisas e posterior seminário sobre obras
análogas, para desenvolvimento de uma percepção crítica aplicada. Entende-se que a análise
de uma obra análoga permite múltiplas interpretações, considerando-se diferentes ênfases
nas investigações sobre o edifício abordado. São recorrentes as análises de temas ligados à
inserção na paisagem urbana, relação com o entorno, estratégias de implantação, análises
de fluxos e setorização dos ambientes, dentre outros. É frequente encontrarmos estudos de
obras análogas que não abordam a influência dos sistemas construtivos integrados e as
possibilidades técnicas geradoras da solução dos espaços nos projetos, bem como o
potencial de flexibilização dos espaços gerados por essas soluções.
O objetivo da segunda etapa é, portanto, focar na análise dos sistemas estruturais e
construtivos de edifícios escolhidos pelo professor e pelos alunos, com base nos itens
previstos na ementa da disciplina, em cada um dos módulos. A assistência do professor nas
etapas de escolha das obras é fundamental visto que, além da análise focada nos sistemas
estruturais e construtivos, a pesquisa e a apresentação dos trabalhos em seminário
fomentam a discussão sobre projetos diversificados e criam ambiente propício para o aluno
conhecer diversas soluções já experimentadas e enriquecer seu repertório com boas
referências de obras análogas.
Busca-se, então, a compreensão de como o sistema estrutural é coordenado e se distribui
ao longo da edificação, avaliando os critérios utilizados para sua concepção, lançamento e
dimensionamento, conforme o comportamento das peças e condições de estabilidade
estrutural. Os demais sistemas construtivos e materiais empregados no edifício passam a ser
descritos, não só pelas cores e texturas, mas também pela função desempenhada dentro do
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
4
O significado da sigla BIM (Building Information Modeling ou Modelagem da Informação da Construção é
destacada no livro Handbook of BIM (Eastman, Teicholz, Sacks e Liston, 2011) como uma tecnologia que
engloba todo o ciclo de vida de projeto e da construção, onde “é possível criar digitalmente um ou mais
modelos virtuais precisos de uma construção. Eles oferecem suporte ao projeto ao longo de suas fases,
permitindo melhor análise e controle do que os processos manuais. Quando concluídos, esses modelos gerados
por computador contêm geometria e dados precisos necessários para o apoio às atividades de construção,
fabricação e aquisição por meio das quais a construção é realizada”.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
589
4.1.1 Novos objetivos
Como planejamento de melhoria contínua das disciplinas de SEC, apresentam-se,
atualmente, dois principais desafios de implantação e aperfeiçoamento na matriz curricular:
a implantação de conteúdos relacionados aos usos BIM e de conteúdos práticos de produção
digital parametrizada voltada para simulações de desempenho de edificações em ambientes
virtuais, para difundir a produção de modelos físicos, através de impressões 3D.
utilizados croquis e maquetes físicas em escala reduzida, estas para estudos iniciais de
comportamento, estabilidade e viabilidade estrutural. Após definição das propostas, faz-se
necessário o desenvolvimento de desenhos técnicos, modelagem eletrônica 3D e construção
em tamanho real (Figuras 7 a 10).
590
Figuras 5 e 6 – Exemplos de modelos físicos desenvolvidos pelos alunos para a disciplina Plástica
Fonte: Arquivo do curso de Arquitetura e Urbanismo UNIBH. Trabalhos desenvolvidos por alunos do curso.
Fonte: Arquivo do curso de Arquitetura e Urbanismo UNIBH. Trabalhos desenvolvidos por alunos do curso.
Ainda no ciclo 2, existem duas disciplinas intituladas Esforços nas Estruturas (2A) e
Equilíbrio nas Estruturas (2B) que fornecem embasamento teórico sobre o comportamento
geral dos materiais e esforços presentes nas estruturas e que abordam, também, conceitos
matemáticos para entendimentos desses fenômenos e conhecimento de sua ordem de
grandeza e das deformações existentes nas edificações. Nessas disciplinas, a abordagem
numérica é usada como ferramenta de suporte para o entendimento dos fenômenos
existentes nas estruturas, uma vez que seu foco é fornecer fundamentação teórica básica
para o desenvolvimento do “sentimento estrutural” do aluno.
Essas duas disciplinas sucedem as primeiras experiências livres e qualitativas com
sistemas construtivos e estruturais e demonstram, aos alunos, o porquê de alguns
fenômenos observados. Tais experiências qualitativas continuam ocorrendo nos módulos do
2º ciclo, nos estúdios introdutórios de projeto de arquitetura e urbanismo e, em conjunto
com a avaliação matemática, fornecem bases para as disciplinas SEC dos próximos módulos.
como ocorre nesses estúdios, há aumento de complexidade dos assuntos trabalhados pelos
alunos ao longo do curso, conforme avançam a maturidade e a experiência projetual dos
discentes. Em todos os módulos, a SEC segue a estrutura apresentada anteriormente, tanto
em abordagem do ensino dos sistemas estruturais e construtivos, quanto em demandas de
591
trabalhos. Os temas de SEC se iniciam com sistemas estruturais e construtivos mais simples e
corriqueiros para os alunos, como alvenaria estrutural e concreto armado moldado in loco,
aplicados em construções de edifícios residenciais e comerciais. (Figuras 11 e 12).
Fonte: Arquivo do curso de Arquitetura e Urbanismo UNIBH. Trabalhos desenvolvidos por alunos do curso.
Fonte: Arquivo do curso de Arquitetura e Urbanismo UNIBH. Trabalhos desenvolvidos por alunos do curso.
592
Fonte: Arquivo do curso de Arquitetura e Urbanismo UNIBH. Trabalhos desenvolvidos por alunos do curso.
Fonte: Arquivo do curso de Arquitetura e Urbanismo UNIBH. Trabalhos desenvolvidos por alunos do curso.
Alvenaria Estrutural Fundações Rasas Muros de arrimo de Alvenaria Estrutural Telhados. Detalhes Sistemas de
CONSTRUÇÕES DE
PEQUENO PORTE
moldado in loco. concreto moldadas Retangulões, de blocos de cobertura: casa de pastilhas; Forros de
Sistema de pórticos in loco. Tubulões e Contra-fortes. concreto celular máquinas, caixa Gesso; Fachadas
(pilar – viga – laje). Estacas (Strauss, Sistemas de autoclavado. d'água, barrilete, cortina, structural
Franki). drenagem Divisórias leves. aquecimento solar, glazing, sistemas
incorporada. ar-condicionado. unitizados)
Lajes nervuradas, Estacas Profundas Paredes Diafragma, Alvenaria de tijolos Estruturas de Tecnologia dos
CONSTRUÇÕES DE
GRANDE PORTE
lajes grelha, caixão de concreto Cortinas de Estacas furados. Divisórias telhados para Vidros aplicada à
perdido; Lajes moldadas in loco. moldadas in loco, leves e sistemas grandes vãos. Vigas construção civil;
protendidas. Vigas Hélice Contínua e Cortinas por acoplamento a treliçadas, vigas Pisos de concreto
treliçadas Estacas escavadas atirantadas. seco. especiais. moldados in loco.
metálicas. com uso de fluido Coberturas
estabilizante. Tensionadas.
Estrutura pré- Estacas cravadas Muros de Gabião, Alvenaria de blocos Aberturas nas Painéis pré-
INFRAESTRUTURAS
concreto (sistemas concreto armado e Terra Armada e cobogós; Painéis Sistemas de fachada; Placas de
aporticados, protendido. Solo Grampeado. pré-fabricados de ventilação e piso pré-fabricadas,
esqueleto, painéis concreto e GRC. iluminação zenital Forros modulares.
portantes e (átrios, claraboias,
celulares) sheds e lanternins).
Estruturas Estacas cravadas Cortina de estacas DryWall - Placas de Coberturas Pisos elevados,
INDUSTRIALIZADAS
metálicas, Light metálicas e Estacas prancha, Arrimos gesso, cimentícias, vegetadas. Painéis forros de materiais
CONSTRUÇÕES
Steel Frame, Steel cravadas de ecológicos. OSB, sistemas de de células recicláveis e forros
Deck. madeira membranas de fotovoltaicas. modulares,
impermeabilização. Captação e Fachadas
tratamento de água industrializadas,
pluvial para reuso. painéis ou placas
metálicas.
desenvolvimento de uma reflexão crítica por parte dos alunos, devendo, com objetivo de
minimizar esta dificuldade, ser trabalhada em sala pelos professores a avaliação das
potencialidades e deficiências de cada sistema estrutural e construtivo frente à problemática
discutida no projeto do módulo.
594
De modo geral, percebe-se um “sentimento estrutural” bastante desenvolvido na maioria
dos discentes egressos do curso de Arquitetura e Urbanismo do UNIBH, além de capacidade
crítica e embasamento técnico e tecnológico adequados para o ingresso no mercado de
trabalho. Esses pontos indicam sucesso do modelo proposto, apesar de suas limitações.
6. CONSIDERAÇÕES
Considerando o ciclo de vida dos projetos e edificações, o arquiteto e urbanista presta o
papel de principal agente na sua concepção e atua como grande articulador das interfaces e
as demais disciplinas de projeto. Envolvido, desde as etapas iniciais até as etapas de
detalhamento e acompanhamento da materialização das soluções construtivas, suas
importantes decisões afirmam a necessidade de seu preparo profissional e conhecimento
interdisciplinar. Na prática, além do atendimento às demandas espaciais requeridas pelos
projetos, essas escolhas definem a viabilidade e o nível de complexidade construtiva de suas
obras, além de refletirem diretamente no desempenho requerido para a edificação.
Um dos caminhos para a formação integrada do arquiteto e urbanista passa pela
capacidade das escolas (em função de suas bases curriculares) e dos professores (com suas
atitudes e postura ativa frente aos conteúdos) de proporcionar experiências cujas diversas
disciplinas dialoguem entre si, e o conteúdo teórico de determinado assunto seja abordado
de maneira aplicada em outras disciplinas ou nas atividades proporcionadas pela escola,
como projetos de extensão e pesquisa. Com atividades que se aproximem da realidade da
profissão e permitam ao aluno experimentar os espaços, materiais e resultados de suas
reflexões, as escolas podem tornar a aprendizagem um processo eficiente e integrado.
A experiência consolidada das disciplinas de SEC empregadas na grade curricular do curso
de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH) demonstram
convergências e aproximação com esses ideais. Através das estratégias de condensação do
todo ao conteúdo técnico nessas disciplinas a cada módulo e de, compulsoriamente, integrá-
los à prática de projetos interdisciplinares nos Estúdios de Arquitetura e Urbanismo, cria-se
um ambiente propício ao entendimento global da edificação e à capacitação do aluno como
articulador dos diversos elementos de projeto, garantindo-lhes formação interdisciplinar e
coesa, para uma possível tomada de decisões importantes em sua carreira profissional.
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EXPERIÊNCIAS DIDÁTICAS NO ATELIÊ DE PROJETO: A INTEGRAÇÃO COM O
ENSINO DE ESTRUTURAS E SISTEMAS DE EDIFÍCIOS VERTICAIS
RESUMO
O artigo expõe experiências de ensino de estruturas na disciplina Projeto Arquitetônico V, do 7°
semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC. Baseada em exercícios projetuais de curta
duração, que traziam à luz erros e conflitos para posterior avaliação e reflexão, essa prática destaca o
potencial de integrar saberes a partir do projeto de edifícios verticais. Os exercícios consistem no
desenho arquitetônico e estrutural dos pavimentos de uma edificação, numa ordem preestabelecida. A
experiência destaca as relações sistêmicas de uma edificação vertical e as interferências dos planos, ou
andares, em todo o projeto. Dessa forma, através do erro, os alunos percebiam a importância de
incorporar uma série de elementos e conhecimentos técnicos desde o lançamento do partido. Além
desse exercício, foram incorporadas aulas teóricas sobre o comportamento das estruturas de
edificações verticais, elaboradas especialmente para a temática do ateliê a partir das demandas
apresentadas pelos alunos nos exercícios. Esse apoio teórico permitiu uma aplicação do conhecimento
de forma direta nos projetos desenvolvidos pelos alunos. Além disso, o ateliê funcionou como um
espaço dinâmico onde a tectônica foi incorporada a partir das demandas de cada projeto, facilitando o
aprendizado do conteúdo de tecnologia e sistemas estruturais. As estratégias didáticas que permitiram
aos alunos a possibilidade da dúvida proporcionaram a oportunidade de aprendizado ativo,
incentivando a reflexão, a pesquisa e justificativa dos resultados encontrados.
Palavras-chave: Ensino de projeto; Edifícios verticais; Concepção estrutural; Integração.
ABSTRACT
This paper presents experiences on structural design teaching in the discipline Architectural Design V
from the 7th semester of the Architecture and Urbanism Course from UFSC. Based on short term
design exercises that shed light on conflicts and errors for further evaluation and reflection, this
practice highlights the potential of integrating knowledge through the design of vertical buildings.
The exercises consisted of the architectural design of the levels of a building following a pre-
established order. The experience highlighted the systemic relationships of a vertical building and the
interferences of levels, or floors, overall. Thus through errors the students understood the relevance
of regarding a series of elements and technical information since their preliminary concepts. In
addition short lectures about the behaviour of vertical structures were introduced based on
demands that the students presented in their practice. This theoretical support allowed the direct
application of knowledge in the projects developed by the students. In addition the studio worked as
a dynamic environment where tectonic has been incorporated from the demands of each project
fostering the learning of technology and structure contents. The didactic strategies that allowed the
students the possibility of doubt provided the opportunity for active learning, encouraging reflection,
research and the understanding of the results found.
Keywords: Design teaching; Vertical buildings; Structural design; Integration.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
No ensino de arquitetura, o trabalho em ateliê desempenha um papel fundamental numa
aprendizagem que é orientada ao projeto. Nesse processo, os alunos precisam lidar com
uma série de conceitos até então desconhecidos ou ignorados. Como afirma Lawson (2011,
597 p. 16), “os vários tipos de projeto lidam com ideias precisas e vagas, exigem pensamento
sistemático e caótico, precisam de ideias criativas e cálculos mecânicos.”
Na prática de projeto, o problema a solucionar geralmente se apresenta nebuloso nas
etapas iniciais. A criatividade parece se beneficiar quando agentes externos definem um
problema com mais clareza. Restrições como programa, contexto, linguagem, técnicas,
podem direcionar a busca por uma solução. Os alunos trabalham tendo em vista a solução
final, que é o projeto em si. Essa clareza, no entanto, parece fazer mais sentido quando já
dominamos a prática profissional – quando dominamos as competências necessárias ao
projetar, ou boa parte delas.
O docente depara-se frequentemente com a dificuldade dos alunos em compreender a
importância do projeto como um processo e não somente um fim. A antecipação e a falta de
consciência sobre o que estão desenvolvendo parecem ser grandes obstáculos ao
aprendizado, já que a solução do projeto só se torna possível através do ato de projetar. Desse
modo, cabe ao aluno educar a si mesmo a partir da convocação feita pelo próprio projeto,
fazendo algo que ainda não entende (SCHÖN, 2000), mas que tem interesse em aprender.
No processo criativo, em busca de soluções, o aluno incorpora suas observações e
explorações. Ele invoca a memória de saberes que muitas vezes não tem consciência de
possuir. Aos poucos, estabelece suas escolhas, definindo possíveis caminhos e restrições que
guiarão o projeto. A ênfase numa visão crítica, ou seja, nas questões suscitadas pelo projeto,
leva o aluno a uma “prática reflexiva” (SCHÖN, 2000).
Ao suspender suas desconfianças e permitir a dúvida, o aluno torna-se capaz de enfrentar
problemas que não antecipava. Com o auxílio do professor, esses problemas vão sendo
resolvidos, numa lógica definida por Schön (2000) como “conhecimento na ação”. À medida
que o aluno aprende, essa prática torna-se reflexiva, isto é, uma “reflexão na ação”.
Na prática reflexiva, ao contrário dos processos de análise racional e isolada, reflete-se
diante das séries de imprevistos e suas múltiplas soluções, dando espaço ao improviso e à
criatividade. Nesse contexto, há uma alternância entre processos de análise e síntese. Na
prática de projeto, de modo cíclico, nos é permitido analisar as sínteses que elaboramos.
Práticas reflexivas e processos cognitivos auxiliados por ferramentas de aprendizagem
possibilitam novos métodos que facilitam a compreensão dos estudantes sobre distintos
conceitos e habilidades necessários ao projetar (TURKIENICZ; WESTPHAL, 2012). Essas
estratégias de ensino baseadas na exploração estruturada dos processos cognitivos dos
alunos são uma alternativa às práticas em que os alunos expõem seus projetos e são
criticados pelos professores. À medida que os alunos tomam consciência dos saberes
envolvidos no ato de projetar, de modo empírico, seu processo projetual incorpora a
expressão dos aspectos conceituais, plásticos e tectônicos constituintes da arquitetura.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 1 e 2 – Exemplos de Plantas desenvolvidas por aluno nos exercícios “Tipo A” e “Tipo B”
poderiam ser alterados nas etapas seguintes, exigindo um esforço do aluno em adaptar as
exigências de cada exercício às definições da etapa anterior (Figura 2).
A partir dos condicionantes colocados, o desafio foi o de adaptar o programa de duas
unidades de moradia estudantil coletivas, para 8 moradores cada, em um pavimento “Tipo
603
B”, levando em consideração todas as definições das etapas anteriores e sem modificá-las.
Ao longo deste processo, surgiram inúmeras condições de conflitos que geravam
dificuldades aos alunos ao longo do processo de projeto, sobretudo relacionado a conflitos
com o sistema estrutural (especialmente pilares) e o posicionamento dos shafts.
Figura 5 e 6 – Exemplos de Planta e Corte desenvolvidas por aluno nos exercícios “Térreo” e
“Áreas Técnicas”
604
Figura 7 – Exemplo de material didático (diagramas conceituais) utilizado nas aulas expositivas
606
Alguns alunos definiram o sistema estrutural e construtivo como ponto de partida para o
projeto, definindo condicionantes técnicos já nas fases iniciais de concepção. Destes,
destacou-se o interesse pela reutilização de containers na construção o que demandou
maiores aprofundamentos técnicos já nas fases iniciais de projeto, a partir das possibilidades
e limitações técnicas encontradas (Figura 8).
Outros escolheram sistemas construtivos que apresentavam maiores vantagens na
aplicação a partir das intenções iniciais de projeto, conduzindo as pesquisas a um maior
aprofundamento acerca de sistemas estruturais com aço e sistemas construtivos utilizando
lajes alveolares e em steel-deck (Figura 9). Na mesma direção, foram aprofundados os
conhecimentos técnicos dos diversos tipos de fechamentos e invólucros, como sistemas de
drywall e diferentes tipos de esquadrias (Figura 10).
Figura 8 – Exemplo de prancha síntese com soluções estruturais adotadas pelo aluno ao longo do
processo de projeto na disciplina, combinando estrutura metálica com a reutilização de conteiners
Figura 9 – Exemplo de prancha síntese com soluções estruturais adotadas pelo aluno ao longo do
processo de projeto na disciplina, utilizando estrutura metálica e laje alveolar
607
As cartilhas técnicas produzidas pelos alunos a partir das pesquisas serviu como material
complementar de base, auxiliando nas decisões projetuais ao longo de todo o processo. A
prática complementar da pesquisa também não se limitou a esta etapa, recebendo
atualizações, verificações e complementação, de acordo com o desenvolvimento das
608
atividades de projeto subsequentes.
Destaca-se aqui a importância das atividades de pesquisa que contemplaram o
conhecimento técnico-construtivo desde as etapas iniciais de concepção do projeto,
estimulando a aplicação deste conhecimento e, sobretudo, sua influência nas decisões de
projeto. Tais atividades de pesquisa, entretanto, não constituem uma etapa em uma
suposta sequência linear no processo de projeto, mas sim, atividades que seguem em
paralelo com o processo, fornecendo dados e informações fundamentais para seu
desenvolvimento e aprimoramento.
Figura 11 – Exemplo de material didático (diagramas conceituais) utilizado nas aulas expositivas
609
A experiência didática aplicada nesta disciplina também foi estendida para o semestre
seguinte, visto que, na estrutura curricular do curso, é prevista a continuidade das atividades
na disciplina subsequente, proporcionando o desdobramento dos resultados alcançados e o
aprofundamento do projeto. Sendo assim, novas atividades e estratégias didáticas foram
incorporadas ao processo, apoiadas pelos mesmos fundamentos pedagógicos. Nessa
continuidade das atividades do ateliê, foi possível ainda um maior aprofundamento dos
conhecimentos técnicos aplicados no semestre anterior, conduzindo o desenvolvimento das
atividades em diferentes escalas de projeto, evidenciando as etapas dos processos
construtivos e desenvolvendo os sistemas de interlocução entre o projeto e a obra, através
do projeto executivo.
3. CONSIDERAÇÕES
A primeira seção do artigo relatou uma experiência didática estruturada em um conjunto
sequencial de exercícios projetuais. Esta atividade de curta duração demonstrou um grande
potencial enquanto estratégia didática para o ensino de tecnologia e sistemas estruturais
tendo como ponto de partida a aplicação no projeto arquitetônico. Estratégias desta
natureza permitem revisar de forma crítica modelos de ensino tradicionais pautados na
suposta transferência de conteúdo (professor-aluno) e que geralmente são estruturadas na
fragmentação das áreas de conhecimento.
Os exercícios descritos neste artigo constituem uma estratégia didática que se apoia nas
práticas de ateliê, onde a aprendizagem acontece através da própria dialética da atividade
projetual. Esta experiência também apresenta modelos alternativos à lógica linear de
ensino baseada numa fundamentação teórica inicial seguida de etapas de instrumentação,
aplicação e verificação/avaliação, apresentando uma lógica processual cíclica de “reflexão-
na-ação” (SCHÖN, 2000), a partir das problemáticas suscitadas no ateliê e da aplicação
direta no projeto.
A sequência desses exercícios ainda separa os aspectos funcionais e espaciais dos
estruturais, ou seja, a resolução da planta baixa antecede a concepção estrutural, o que
reproduz a lógica corrente, de caráter fragmentado. Numa situação ideal, esse processo é
sincronizado. Cabe ressaltar que essa separação tem a intenção de mostrar aos alunos suas
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos professores Américo Ishida e João Serraglio pela colaboração e
participação nas atividades didáticas aqui relatadas, assim como na contribuição às
611 discussões e reflexões acerca do ensino de projeto em arquitetura.
REFERÊNCIAS
BARDI, L. B. Contribuição propedêutica ao ensino da teoria da arquitetura. São Paulo: Instituto Lina
Bo Bardi, 2002.
LAWSON, B. Como arquitetos e designers pensam. São Paulo: Oficina de Textos, 2011.
NESBITT, K. Uma nova agenda para a arquitetura. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
SCHÖN, D. Educando o profissional reflexivo. Porto Alegre: Artmed, 2000.
TURKIENICZ, B.; WESTPHAL, E. The cognitive studio: exercises in design learning. In: STEINØ, N.;
ÖZKAR, M. (Orgs.). Shaping design teaching: explorations into the teaching of form. Aalborg: Aalborg
University Press, 2012. p. 185-202.
ZAERA-POLO, A. Arquitetura em diálogo: Alejandro Zaera-Polo. São Paulo: Cosac Naify, 2015.
INTEGRAÇÃO ENTRE ENSINO DE SISTEMAS ESTRUTURAIS E DE PROJETOS
ARQUITETÔNICOS NA UEL
BALLAROTTI, Cesar (1); BARDELLA, Paulo Sérgio (2); CONTANI, Miguel Luiz (3); GUADANHIM, Sidnei
Júnior (4); BALLAROTTI, Maurício Grade (5)
(1) UEL, balla@uel.br; (2) UEL, pbardela@uol.com.br; (3) UEL, contani@sercomtel.com.br; (4) UEL,
sjg@uel.br; (5) m.ballarotti@gmail.com
RESUMO
Este trabalho apresenta o desenvolvimento de um projeto de pesquisa sobre a integração dos
conteúdos das disciplinas de Estruturas com as disciplinas de Projeto Arquitetônico no curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Londrina – UEL. A metodologia aplicada replica
um procedimento baseado em conceitos fundamentais da fenomenografia conjugado com a
abordagem fenomenológica para identificar níveis de adequação no desempenho de estudantes
(baixo, médio e alto). Foi considerado o princípio de que, durante um período letivo, deve haver a
evolução por meio da correção desses níveis de adequação. Neste sentido, a alta adequação no
domínio dos conteúdos relacionados ocorrerá quando a utilização dos sistemas estruturais e de seus
elementos na composição do chamado “esqueleto da edificação” for completa. Os resultados
preliminares encontrados são basicamente que: os alunos (i) começam conscientemente a analisar
os sistemas de apoios e os equilíbrios estruturais no projeto para, em seguida, (ii) alcançar o
conhecimento estrutural relacionado ao pré-dimensionamento e ao dimensionamento dos principais
sistemas estruturais no terceiro ano do curso, em conjunto com a disciplina de “construções em
concreto” e, no quarto ano, (iii) passam a fazer análises de sistemas estruturais compostos por
diferentes materiais, em conjunto com as disciplinas de “estruturas em madeira” e “estruturas em
aço”. Outro aspecto discutido é sobre a capacidade de relacionamento dos docentes entre si e do
estudante com o conjunto formado pelo corpo de professores como principal fator de integração.
Palavras-chave: Articulação de ensino; Ensino de estruturas; Projeto arquitetônico.
ABSTRACT
This work presents the development of a research project on content integration of different courses
on the structure and architectural design fields of the undergraduate program of Architecture and
Urbanism at the State University of Londrina (UEL). The applied methodology recovers a procedure
using the foundations of phenomenography in conjunction with the phenomenological approach to
identify levels of adequacy in student performance (low, medium and high), based on the principle
that an evolution is expected in terms of adequacy levels correction during a school term (semester
course).This adequacy level measures how structured are the isolated course concepts as structural
elements in the composition of the "building skeleton". So far, it has been basically found that
students (i) consciously begin to analyze in the project systems of support and structural equilibrium
to (ii) achieve, in the third year of the course, together with the discipline of concrete constructions,
the knowledge of related to designing of main structural systems (iii) in the fourth year, together with
the disciplines of wood structures and steel structures, they come to perform analyzes of structural
systems composed of different materials. Another aspect that is discussed is that a proper
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
understanding between course professors and between this group of professors and students is the
main factor of integration.
Key words: Articulated teaching; Teaching of structures; Architectural project.
613
1. INTRODUÇÃO
O curso de Arquitetura e Urbanismo da UEL tem como objetivo a formação de
profissionais generalistas, capacitados para responder às diversas demandas relativas ao
espaço construído. Um dos pilares do curso é o eixo vertical de Projeto Arquitetônico. Este
eixo é composto por disciplinas do segundo até o oitavo semestre, cujas características
principais são as atividades em ambiente de estúdio ou ateliê, de caráter
predominantemente prático. Espera-se que, neste eixo, os alunos integralizem os
conhecimentos das demais disciplinas. Neste ponto reside o maior desafio para o sucesso do
projeto pedagógico do curso.
Geralmente, nos cursos de Arquitetura e Urbanismo, a partir do segundo semestre do
primeiro ano, os alunos começam a ter contato com disciplinas que têm por objetivo iniciá-
los no desenvolvimento de um projeto arquitetônico. Entretanto, na maioria das vezes, o
aluno inicia o pensamento direcionado ao projeto arquitetônico sem ter ainda
conhecimento de outros fatores que são de fundamental importância para o
desenvolvimento e a obtenção de um projeto arquitetônico que seja adequado para
construir uma edificação (POLILLO, 1968).
Na primeira etapa deste projeto de pesquisa, foram detectadas junto aos alunos do
segundo ao quarto ano questões que indicam: (i) a necessidade de maior diálogo entre
professores das disciplinas afins para integrar os conteúdos; (ii) excesso de carga horária de
trabalhos e provas determinando falta de tempo para o aluno “maturar o conhecimento dos
conteúdos”; (iii) conteúdo em parte repetidos e ausência de uma linha de raciocínio que
possa conduzir o aluno a objetivos concretos; (iv) falta de exemplo de projetos com
aplicação de sistemas estruturais utilizando obras de referência e obras atuais inovadoras.
Tais fatores adicionais estão relacionados aos projetos construtivos complementares
(estrutural, elétrico, hidráulico, telefônico, etc.) que serão estudados pelo aluno de
arquitetura em disciplinas específicas ao longo do curso. Cabe ressaltar que, na maioria das
vezes, a principal falta de conhecimento do estudante, que está iniciando seu aprendizado
em desenvolvimento de projetos arquitetônicos, relaciona-se ao que chamamos neste artigo
de “esqueleto da edificação”; em outras palavras, na maneira pela qual a edificação que está
sendo projetada vai se manter edificada na forma que foi idealizada pelo arquiteto.
Visando facilitar a integração do conhecimento, uma estratégia do curso de Arquitetura e
Urbanismo da UEL é a inserção de conteúdos e de participação de professores dos
departamentos de engenharia nas disciplinas de projeto. Nesse sentido, a partir do terceiro
semestre, 10% da carga horária da disciplina são alocadas para estruturas e instalações
prediais, especialidades ofertadas na Universidade por dois diferentes departamentos.
Assim, com o objetivo de auxiliar no aprendizado do estudante de arquitetura, foi idealizado
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
um projeto de pesquisa em ensino para acompanhar o aluno desde o início de seus estudos
em projeto arquitetônico e familiarizá-lo gradativamente, em cada etapa de aprendizagem,
com os conceitos essenciais de formação do esqueleto da edificação que devem ser
considerados no projeto estrutural.
Na UEL, o Curso de Arquitetura e Urbanismo dá ênfase maior à área de tecnologia, visto
614
que se situa no Centro de Tecnologia e Urbanismo, co-habitando com os cursos de
Engenharia Civil e Engenharia Elétrica.
Já as disciplinas de Projeto Arquitetônico estão organizadas numa sequência de crescente
complexidade tanto em termos de profundidade de discussão teórica, como em relação à
complexidade e porte dos programas. Iniciam-se no primeiro ano, segundo semestre,
abordando temas como a “Casa Le Corbusier” e um Pavilhão de Exposição, em que o aluno é
motivado a perceber de forma intuitiva a existência dos sistemas estruturais dessas obras.
No segundo ano, primeiro semestre, o aluno desenvolve um projeto a partir de contêineres
que se compõe com uma área coberta para a qual ele busca um sistema estrutural
específico. No segundo semestre, o projeto é voltado para uma edificação contendo térreo
mais dois pavimentos de uma vila habitacional no primeiro bimestre, e uma moradia
estudantil contendo pilotis e mais três pavimentos.
No terceiro ano, primeiro semestre, temos o desenvolvimento de um projeto para o SESC
(auditório, quadras, etc.) que leva o aluno a trabalhar com espaços maiores buscando
soluções estruturais compatíveis. No segundo semestre, o projeto aborda um edifício
vertical de múltiplos andares, empreendimento corporativo, com sistema estrutural vertical
e suas implicações. No quarto ano, primeiro semestre, os alunos participam de um concurso
internacional desenvolvendo um projeto de um museu conforme é abordado a seguir como
um exemplo concreto desta pesquisa. No segundo semestre, desenvolvem projetos com
temas variados finalizando o ciclo das disciplinas de projeto arquitetônico.
As disciplinas de Tecnologia se iniciam no segundo ano, com Mecânica das Estruturas no
primeiro semestre e Resistência dos Materiais, Sistemas Estruturais e Técnicas Construtivas I
no segundo semestre. No terceiro ano, temos, no primeiro semestre, Concreto Armado
quando o aluno dimensiona o pavimento tipo de uma edificação com vigas, lajes e pilares, e
Técnicas Construtivas II, em que estudam alvenaria estrutural. No quarto ano, primeiro
semestre, temos Construções em Madeira e, no segundo semestre, Construções Metálicas.
Tais conceitos começam a ser aplicados de forma intuitiva e, no desenvolvimento do
curso de Arquitetura e Urbanismo, vão sendo complementados nas disciplinas específicas da
área de estruturas. Atualmente, tal projeto de pesquisa está na etapa de desenvolvimento
na Universidade Estadual de Londrina – PR (UEL) e será compartilhado neste artigo, que
também inclui alguns resultados preliminares.
2. DESCRIÇÃO DO PROJETO
O projeto de pesquisa em ensino consiste em desenvolver procedimentos metodológicos
que permitam integrar os conteúdos das disciplinas de estruturas no curso de Arquitetura e
Urbanismo da UEL. Assim, estão sendo desenvolvidos os conteúdos a serem implementados
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
no término do quarto ano do curso, o aluno conseguirá fazer análises de sistemas estruturais
compostos por diferentes materiais. Todos os elementos estruturais devem ser
predimensionados (BALLAST, 1988), representando 30% da nota nas respectivas disciplinas.
Nessa configuração, o pressuposto é que se terá conseguido promover a integração das
disciplinas de estruturas com as disciplinas de projeto arquitetônico do curso de Arquitetura
616
e Urbanismo em termos de conteúdo e avaliação.
A contribuição institucional buscada é suprir a falta de integração das disciplinas de
projeto arquitetônico com as disciplinas de estruturas no curso de Arquitetura e Urbanismo,
além de eliminar a lacuna causada pela desmotivação dos alunos em aprenderem sobre
estruturas, o que pode torná-los inaptos a projetar com eficiência as edificações.
Historicamente, observa-se que a integração dos conteúdos tem sido um desafio, não
obstante a existência de diversas experiências.
A Universidade Estadual de Londrina possui uma organização administrativa em centros
de estudos e departamentos. Assim, os cursos de graduação são atendidos por diversos
departamentos. As disciplinas de projeto arquitetônico da 2ª, 3ª, e 4ª séries do curso de
Arquitetura e Urbanismo preveem 10% da carga horária sob responsabilidade dos
departamentos de Estruturas e de Construção civil. Tem prevalecido a prática de restringir a
utilização dessa carga horária para assessoria e orientação no desenvolvimento dos projetos
ao longo do seu desenvolvimento ou em momentos programados. Naturalmente, uma
condição imprescindível para o êxito é o trabalho colaborativo entre os diversos docentes.
Um empreendimento para a construção de um edifício envolve um número grande
de informações relacionadas ao custo, ao prazo, à qualidade, aos recursos
humanos, aos materiais, aos equipamentos e ao domínio da técnica por parte das
empresas envolvidas. Essas informações precisam ser muito bem gerenciadas a fim
de minimizar os custos e o desperdício na construção (CORRÊA; NAVEIRO, 2001).
3. METODOLOGIA E RESULTADOS
A fundamentação provém da abordagem fenomenográfica que estabelece “o que” e
“como” aluno e professor devem identificar e perceber o fenômeno estrutural relacionado
ao projeto arquitetônico (BALLAROTTI, 2015). Conjuga-se o princípio avaliativo não a um
desempenho expresso por notas ou percentuais; o que se deseja é aproveitar o processo de
correção, não como abordagem de erros e acertos, mas como adequação de percepção.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Fenomenografia pode, assim, ser adotada como uma metodologia de pesquisa. Uma
descrição esquemática de "como" e de "o quê" aparece na estrutura da aprendizagem,
mostrada na Figura 1. Conforme esse esquema, quando os alunos empregam uma
abordagem profunda, a sua intenção é compreender o conteúdo de forma a torná-lo
pessoalmente significativo. Por outro lado, os alunos que adotam uma abordagem
superficial visam reproduzir o conteúdo que assimilam apenas para reunir a quantidade
mínima de informações necessárias para concluir a disciplina. Ao adotar uma abordagem
holística, os estudantes procuram integrar e relacionar o material que estão estudando. Ao
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
principalmente para orientações e assessorias por parte dos professores das engenharias. Essa
prática, igualmente, pode trazer maior ou menor benefício, conforme a afinidade e as
características pessoais dos envolvidos, o que indica ainda campo para melhorias.
Para Corrêa e Naveiro (2001), “é recomendável que o anteprojeto de arquitetura seja
elaborado após a conclusão do estudo preliminar de estrutura. Elaborar os dois projetos
619
simultaneamente permite que o erro seja identificado mais cedo, provocando menos
volume de correções nos projetos”. Ao mesmo tempo em que frisam que a tendência do
aluno inexperiente é projetar em série, o que contraria o perfil dos empreendimentos
modernos, as mencionadas vantagens devem ser a ele mostradas para aprimorar a
elaboração de projetos e exercitar a integração (CORRÊA; NAVEIRO, 2001).
Em 2016, houve uma experiência positiva na disciplina de Projeto do primeiro semestre
da 4ª Série. Foi desenvolvido o projeto de um centro de artes1 que permitia grande
liberdade projetual, tanto em termos formais quando na escolha de materiais. A disciplina
foi programada de modo que a concepção estrutural ocorresse concomitantemente ao
desenvolvimento do plano de massas, ou seja, desde os estágios iniciais do processo de
projeto. A experiência positiva ocorreu no atendimento de projeto, quando foram
solicitados a identificação e o desenho da estrutura como parte integrante do projeto
arquitetônico. O professor de estruturas, juntamente com os professores de projeto,
presentes em quatro dias de aulas, ao longo do semestre, conseguiram subsidiar os alunos
nos requisitos mínimos de estruturas nos seus projetos.
A atividade de projeto representa uma “bricolagem mental feita em equipe”, que
opera por meio de interações entre os agentes, em um processo de aprendizado
coletivo. Assim, o projeto pode ser considerado um processo coletivo e interativo
que requer a colaboração entre seus participantes ao mesmo tempo em que
mantém espaços autônomos de atuação de cada agente especializado (MELHADO;
HENRY, 2000).
1
Como tema, foi adotado um concurso público internacional de projeto arquitetônico em andamento,
promovido pela cidade de Suncheon na Coreia do Sul, denominado “Suncheon Plataforma de Arte”, que previa
um programa diversificado com espaços de exposição e organização museógrafa, setores cultural, educacional,
comercial e demais apoios, com cerca de 5000 m². Foi desenvolvido em duplas.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
integrante da avaliação. Eventuais orientações extraclasse poderiam ocorrer, mas não foi
algo frequente. “Nos questionários aplicados, os alunos demonstram grande interesse pelo
conhecimento dos sistemas estruturais e apontam que os mesmos poderiam ser mais
explorados nas disciplinas de Projeto Arquitetônico” (DELATORRE; TORRESCASANA, 2011).
A partir da fase seguinte, os professores da arquitetura solicitaram aos alunos o
620
desenvolvimento do projeto por meio de modelagem tridimensional. As equipes utilizaram
principalmente o software Sketchup; apenas uma equipe empregou o Revit. A ideia básica era
permitir o desenvolvimento do projeto integrando os diversos componentes e sistemas de
modo que os alunos enxergassem da melhor maneira as interferências e inter-relações. Uma
orientação básica fornecida foi no sentido de – por meio de layers ou camadas separadas –
modelar o sistema estrutural separadamente, ao mesmo tempo em que podiam avançar para
o detalhamento de determinadas ligações e interfaces entre diferentes materiais.
Essa estratégia, embora tenha tomado bastante tempo e em alguns casos a inabilidade
com o uso dos softwares tenha causado algumas dificuldades, revelou-se positiva quanto
aos objetivos estabelecidos. Grande parte dos estudantes compreendeu a necessidade de
definir e projetar o sistema estrutural logo nos primeiros estágios do processo, a importância
da modularidade e da racionalidade, além, evidentemente, das implicações formais e
espaciais da escolha da estrutura.
O processo social de projeto de edifícios é por natureza multidisciplinar e
desenvolvido em uma série de passos interativos que devem conceber, descrever e
justificar soluções para as necessidades dos clientes e da sociedade em geral. A
concepção de um edifício é uma atividade complexa que envolve múltiplas
dimensões e saberes na busca de soluções comerciais, empresariais, financeiras,
formais, espaciais, técnicas e construtivas (MELHADO; FABRICIO, 2004).
Digno de nota foi também a ocorrência de ricas discussões que por vezes tratavam de
alternativas e reflexões sobre o sistema estrutural, seu desempenho, aspectos de execução e
de custos. Finalmente o professor de estruturas também atribui uma nota após avaliar o
material entregue pelas equipes.
621
3 CONSIDERAÇÕES
Os dados compartilhados neste artigo são de um projeto em que a pesquisa é colocada
em sua função de realimentar o ensino de estruturas nas escolas de arquitetura. A sequência
de passos descritos consiste em instruir/parametrizar os alunos das disciplinas de projeto
arquitetônico, para, com eles, trabalhar uma evolução perceptiva (aí residindo a essência da
aprendizagem) – desde os aspectos intuitivos de sistemas estruturais até o momento da
elaboração de projetos estruturais. A referida metodologia tem sido testada e uma primeira
experiência mostrou o “como” os estudantes conseguem realizar essa demanda.
Mesmo enquanto o mencionado sistema BIM não se consolida em nível curricular e
profissional, cabe ao corpo docente um intransferível papel na prática integradora das
disciplinas de projeto e afins para que contribuam para formar adequadamente seus alunos.
Projetar uma edificação sem envolver os principais requisitos técnicos de projeto e
construção se torna um exercício efêmero de algo impossível de se concretizar como obra da
arquitetura e engenharia. Referindo-se à importância de dar maior ênfase, nos cursos de
arquitetura, à integração entre projetos, Corrêa e Naveiro (2001) ressaltam que, “para um
arquiteto recém-formado, é necessário espírito de equipe e conhecimento técnico bastante
fundamentado sobre lançamento e pré-dimensionamento de estruturas a fim de suprir a sua
pouca experiência em integrar os projetos”.
Nosso desafio é buscar meios que facilitem o ensino e a integração dos conteúdos
“complementares” durante a prática de desenvolvimento dos exercícios de projeto no
ambiente de ateliê. Assim, através deste projeto de pesquisa, pretende-se aprofundar
especificamente no tocante à incorporação da concepção do sistema estrutural e de seu pré-
dimensionamento de modo mais natural no processo de projeto arquitetônico.
Consideramos que a concepção e o lançamento de estruturas nos projetos arquitetônicos
podem não ser algo muito simples, como um conjunto de aplicações de algumas regras
estruturais, mas podem tornar-se um estudo complexo, envolvendo recursos humanos,
levantamentos de necessidades, materiais e tecnológicos disponíveis, que vão além das
especificações das normas NBR 05679, 13531 e 13532.
AGRADECIMENTOS
Ao Departamento de Estruturas e ao CTU da UEL pelo apoio e pela estrutura oferecida
para o desenvolvimento dos experimentos deste trabalho.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR-05679 - Elaboração de projetos de obras de
engenharia e arquitetura. Rio de Janeiro, 1995.
ABNT - Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 13531: Elaboração de projetos de edificações
- atividades técnicas. Rio de Janeiro, 1995a.
622
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR-13532 - Elaboração de projetos de edificações
- arquitetura. Rio de Janeiro, 1995b.
BALLAROTTI, C. Ensino e aprendizagem fenomenográfica: a apreensão de conceitos básicos de
sistemas estruturais no curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Estadual de Londrina.
2015. Tese (Doutorado) – Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São
Carlos, 2015.
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CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL, 1., ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE
CONSTRUÍDO, 10., 2004, São Paulo. Disponível em:
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SÄLJO, R. Learning about learning. Higher Education, Washington, v. 8, p. 443-451, 1979.
METODOLOGIAS DE ENSINO VOLTADAS AO ENSINO DE TECNOLOGIAS
CONSTRUTIVAS
BREMER, Cynara Fiedler (1); CASTRO, Maria Luiza Almeida Cunha (2); LIMA, Sofia Araújo (3);
LOURA, Rejane Magiag (4)
RESUMO
A adoção, ou escolha, de determinado sistema estrutural para a constituição de um espaço envolve
uma série de variáveis que vão desde questões muito concretas, como custos, mão-de-obra
disponível e outras, até aquelas de difícil definição, tais como valores sociais, culturais e mesmo
sensações e percepção pessoal. Diferentes propostas curriculares dos cursos de arquitetura no país
incluem disciplinas de projeto nas quais os alunos são confrontados com demandas que procuram
simular a complexidade de situações reais. No curso noturno de Arquitetura da UFMG, uma das
modalidades de ensino são as Oficinas Temáticas, constituídas de atividades práticas de aplicação de
conhecimentos de tecnologia específicos. A pesquisa empreendida procurou investigar a percepção
discente sobre o aprendizado dos sistemas estruturais nestas oficinas, considerando que as decisões
devem ser baseadas também em critérios objetivos. Por meio da aplicação de um questionário
procurou-se, ainda, avaliar a integração das oficinas com outras disciplinas do curso – inclusive as
que se baseiam no ensino teórico de estruturas – e a efetividade do aprendizado dentro de
condições de trabalho integrado em equipes. Pretende-se que o monitoramento das metodologias
nessas disciplinas seja continuado, para que haja uma compreensão maior dos alunos sobre as
tecnologias e sua aplicação nos projetos de arquitetura.
Palavras-chave: Tecnologias construtivas; Sistemas estruturais; Decisões projetuais.
ABSTRACT
The material and structural system choice involves several variables. Some of them are palpable
matters - such as costs, available labor, for example - but others are more difficult to define - such as
social and cultural values or sensations and personal perception. In Architecture courses around the
country different curricular proposals include Design disciplines. This kind of approach promotes a
possibility for students to face demands that simulate the complexity of real situations. In UFMG
Architecture Course (Night), one of the teaching modalities is the Thematic Workshops, consisting on
practical activities that require the application of specific technological knowledge. This paper aims at
investigating students' perception about the learning of structural systems in these workshops,
considering that decisions must be taken in correlation with other decision criteria, taking objective
criteria into account as well. A survey was used to collect data and evaluate the integration between
workshops and other disciplines - including those based on the theoretical approach to structures
teaching . It also intended to investigate teamwork effectiveness for learning processes. The results of
the survey lead to the proposal of a continued monitoring of this workshop methodology in order to
provide the students with a better understanding of technology resources and their application in
architectural design.
Keywords: Constructive Technologies; Structural systems; Design decisions.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
A dicotomia entre os dois padrões de formação profissional – Arquitetura como
manifestação de arte plástica nos tradicionais moldes acadêmicos, e Engenharia como
campo científico-matemático voltado aos meios industriais de produção – persistiu até
624 praticamente meados do século XX, tendo como talvez o único evento tentativo de
integração, ou novo caminho, a instalação do Departamento de Arquitetura da Bauhaus em
1919. O marco cravado pela nova escola na linha do ensino pode ser sucintamente descrito
como o ideal da obra de arte total sob a diretriz da arte de construir. Nesta perspectiva,
mesmo que com certa dubiedade quanto à sua destinação – ensino, experimentação ou
atendimento da produção de mercado – o aprendizado em oficinas surgiu como um caráter
particular e inédito, bem como a ênfase em uma formação teórico-científica.
De forma geral, e na realidade brasileira por influência da Reforma de 1962 na FAUUSP, o
ensino nas escolas de Arquitetura foi organizado em três grandes áreas ou departamentos:
Projeto, História e Tecnologia. Esta divisão, antes de promover efetivamente uma
organização, provocou algumas distorções no tocante ao aprendizado. Primeiramente,
gerou uma partição quase hermética de matérias afins. A departamentalização incorreu
também em um isolamento das disciplinas das três grandes áreas e a ausência quase total
de relações entre as mesmas (REBELLO; LEITE, 2015).
Quanto às questões relacionadas com a concepção estrutural, devido às inovações
tecnológicas ocorridas nas últimas décadas, elas assumiam uma importância crescente para
a profissão. Afinal, se antigamente o projeto estrutural era concebido a partir do
conhecimento adquirido por experiência e tradição, a constante superação técnica e
econômica dos limites impostos à construção possibilita a criação de variadas formas que
exigem a solução de problemas estruturais de maior complexidade, (SALVADORI, 1975 apud
SARAMAGO; LOPES, 2011, p. 1). A estrutura pode determinar a geração da forma, sua
essência, seu efeito – a sua definição não é um ato que “segue o projeto arquitetônico
criativo: em substância, em importância e em tempo”, devendo ser “uma parte integral da
geração primária de ideias para a construção” (ENGEL, 2000, p. 19).
Entretanto, os currículos muitas vezes privilegiam abordagens humanistas, sociais ou
artísticas e negligenciam o aprendizado tecnológico, acreditando que grande parte dos
egressos não vá atuar com a concepção estrutural.
A nova meta educacional deve ser o desenvolvimento da habilidade de adquirir, sintetizar
e aplicar conhecimento para solucionar problemas emergentes e gerar novas formas e
padrões utilizando a criatividade (WEAVER, 1999). Para os arquitetos que decidirem atuar na
concepção de edificações,
[...] saber como se comportam as Estruturas em seus adequados regimes de
trabalho tem se tornado cada vez mais importante: tanto em função da proposição
de soluções racionalmente coerentes, quanto para o desenvolvimento de novas
soluções aos problemas advindos do aparecimento de técnicas de construção e
materiais inéditos (SARAMAGO; LOPES, 2011, p.655).
como custos, mão-de-obra disponível, e outras, até aquelas de difícil definição, tais como
valores sociais, culturais e mesmo sensações e percepção pessoal (REBELLO, 2007).
Dentro das experiências que têm sido desenvolvidas para a busca da integração do
projeto com as diversas disciplinas que ele articula, destacam-se as propostas de trabalho
625
em atelier, desenvolvidas inicialmente pela Architectural Association School of Architecture
de Londres nos anos 1970, e adotadas desde então em diversas escolas de arquitetura no
mundo (WEAVER, 1999). O objetivo desta dinâmica é fazer com que o estudante pense
como um arquiteto, ou seja, aprenda
[...] a resolver problemas a partir da experiência de resolver problemas [...]. Não cabe
ao professor dizer tudo aos estudantes como se o conhecimento passasse de uma
cabeça para a outra [...]. O Importante é organizar uma situação em que os estudantes
efetivamente passem pela experiência. No ensino da arquitetura a estrutura que
melhor organiza esta experiência é o projeto [...] (WEAVER, 1999, p. 36).
Uma das modalidades de ensino de conteúdos teóricos são as Oficinas Temáticas (OT),
objeto de análise neste estudo, “constituídas de atividades práticas de aplicação de
conhecimentos específicos” (ESCOLA DE ARQUITETURA DA UFMG, 2008, p. 5).
As oficinas têm como objetivo principal a prática da metodologia de elaboração de
projetos de arquitetura a partir de um sistema construtivo pré-determinado, enfocando
conhecimentos sobre os componentes do espaço, o desempenho do sistema construtivo e a
relação do objeto estudado com o entorno. Elas partem de concepções de ensino tais como
as de Piaget ou Bruner, que preconizam abordagens de um problema enxergando um todo
estruturado e não apenas partes e detalhes. Assim, como exemplifica Vidigal (2004, p. 3)
o detalhamento de uma peça estrutural específica num projeto pode provocar no
aluno a descoberta de uma maneira de desencadear a concepção arquitetônica,
desde que esse elemento estrutural esteja envolvido num contexto maior de
concepção e linguagem do edifício.
2. METODOLOGIA
Para alcançar o objetivo proposto desenvolveu-se um questionário para avaliar a
integração das oficinas com outras disciplinas do curso – inclusive as que focam no ensino
teórico de estruturas – e a efetividade do aprendizado dentro de condições de trabalho
integrado em equipes. O questionário aplicado foi disponibilizado na forma impressa e
também na internet.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
8%
18% 2016
2017
13% 2018
42%
2019
19% 2020
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao se analisar os questionários, observou-se que 34% dos respondentes cursaram OT de
Técnicas Vernaculares, 42% cursaram OT de Alvenaria Estrutural, 39% cursaram OT de
Construção a Seco e 5% não cursaram qualquer OT. Quando questionados a respeito do
630 momento em que ocorre a reflexão sobre o sistema estrutural a ser utilizado na edificação
(considerando aspectos técnicos, econômicos e ambientais), a maioria (76%) respondeu que
antes da concepção já tenta refletir sobre qual será a melhor estrutura em adequação com o
partido e com o programa e esboça o pré-lançamento dos elementos em paralelo com a
concepção da arquitetura.
Ao analisar a abordagem pedagógica aplicada nas OT e como esta interferiu na
compreensão sobre o conteúdo apresentado (sistema construtivo específico), a grande
maioria relatou que o entendimento melhorou ao longo da disciplina (Figura 3). Esse dado
demonstra que os alunos consolidaram seus conhecimentos sobre os sistemas construtivos
abordados em cada OT ao aplicá-los na prática projetual.
5% Sim, ao longo da
disciplina meu
entendimento
melhorou
Não, tive
dificuldades, apesar
das explicações ao
longo da disciplina e
95% não pude
acompanhar
5%
Sim, pois consegui
compreender como
será realmente
construída a
edificação
Não
95%
3%
Sim, todas as OT que
fiz se articulam bem
29% com outras
disciplinas
As OT se articulam
em parte
Não se articulam ou
68% não percebi a
articulação
Ao se analisar a integração das OT com outras disciplinas do curso, 68% afirmaram que as
OT se articulam em parte com outras disciplinas do curso, como mostra a Figura 6. Supõe-se
que essa resposta tenha relação com a grande flexibilização permitida pela estrutura curricular
do curso e ausência de pré-requisitos para cursar as OT. Os alunos podem cursar uma “Oficina
632
Temática sobre Alvenaria Estrutural” sem ter cursado “Materiais e Técnicas de Construção I”,
por exemplo, que é uma disciplina obrigatória e de base para a área tecnológica.
Ao abordar os benefícios proporcionados pelo aprendizado integrado dos conteúdos de
Projeto com a abordagem da Tecnologia, 76% disseram tê-los percebido em outras
disciplinas (Figura 7).
21%
Não afetou
45%
Facilitou
Dificultou
34%
Com relação ao quesito “seleção tecnológica x concepção x solução estrutural” 45% dos
respondentes afirmaram que a pré-definição do sistema construtivo dificultou a concepção e
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
10%
Devem ser sequenciais na
3% ordem: seleção
tecnológica, concepção e
solução estrutural
Devem ser sequenciais na
74% ordem: concepção,
seleção tecnológica e
solução estrutural
4. CONSIDERAÇÕES
É importante considerar que os alunos respondentes observaram, de forma positiva, a
importância da integração entre os conteúdos de Projeto e de Tecnologia. Além disso, pode-
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
BINDER, T. et al. Design Things. Cambridge: MIT Press, 2011.
BRASIL. Resolução N° 2, de 17 de Junho de 2010. Conselho Nacional de Educação. Câmara de
Educação Superior. Ministério da Educação. Brasília, 2010.
ENGEL, H. Sistemas de estructuras: Sistemas estruturais. São Paulo: Editorial Gustavo Gili, 2000.
ESCOLA DE ARQUITETURA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Projeto pedagógico do
curso de arquitetura e urbanismo noturno da UFMG, Belo Horizonte, 2008.
REBELLO, Y. C. P. Bases para Projeto Estrutural na Arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2007.
REBELLO, Y. C. P.; LEITE, M. A. D.F.D. Considerações sobre o Ensino e Aprendizagem de Estrutua nas
Escolas de Arquitetura. Paranoá Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, 2015. Disponível em:
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SANTOS, R. E. Currículo e qualidade de ensino. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, v. 10, n. 11,
2003. Disponível em:
<periodicos.pucminas.br/index.php/Arquiteturaeurbanismo/article/download/759/733>. Acesso em:
20 jun. 2017.
SARAMAGO, R. C. P; LOPES, J. M. A. Iniciativas didáticas inovadoras aplicadas ao ensino de estruturas
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Docente Universitária, 2011, Uberlândia/MG. Anais do Fórum Internacional Sobre Prática Docente
Universitária, 2011. v. 1. p. 654-663.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
SCHÖN, D. A. Educating the reflective practitioner: Toward a new design for teaching and learning in
the professions. Jossey-Bass, 1987.
VIDIGAL, E. J. Um estudo sobre o ensino de projeto de arquitetura em Curitiba. 2004. Tese
(Doutorado) – Universidade de São Paulo, 2004.
WEAVER, N. The Atelier Principle in Teaching. In: SYMPOSIUM ON NEW DIRECTIONS OF
635 ARCHITECTURAL EDUCATION. Delhi, India: Greha, 1999. Disponível em:
<https://architexturez.net/doc/az-cf-21655>. Acesso em: 20 jun. 2017.
ZAERA-POLO , A. Architecture education in a global world. BERLAGE INSTITUUT. In: The Berlage
Survey of Culture, Education, and Practice of Architecture and Urbanism. NAi Publishers, 2011.
O ENSINO DE ESTRUTURAS NO CICLO BÁSICO COMO PRÉ-REQUISITO DAS
DISCIPLINAS DE PROJETO
RESUMO
O presente artigo caracteriza as metodologias e resultados obtidos no ensino da disciplina
Arquitetura e Estruturas do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais a partir de uma ementa única abordada de distintas maneiras por arquitetos e
engenheiros civis. Desta maneira, o trabalho consiste na análise dos processos desenvolvidos a partir
de diferentes vieses oriundos da formação e experiência de cada docente. Derivada da disciplina de
Introdução aos Sistemas Estruturais e reinserida na primeira revisão do currículo implantado em
2008, a mesma é responsável por proporcionar aos alunos do segundo período um primeiro contato
com estruturas utilizadas na construção civil, capacitando-os a conceber a soluções arquitetônicas e
estruturais de forma integrada e, por consequência, construtivamente viáveis. Com o objetivo de
dotar o aluno de visão crítica sobre a importância dos métodos construtivos na concepção de
projetos, a disciplina é organizada baseando-se no estudo dos conceitos fundamentais relativos ao
comportamento estrutural das edificações como conhecimento imprescindível para o
desenvolvimento de propostas arquitetônicas pautadas por uma lógica estrutural. Desta maneira, o
trabalho desenvolvido consiste na análise dos processos e de resultados produzidos a partir de
diferentes vieses.
Palavras-chave: Ensino de Estruturas; Sistemas estruturais e construtivos; Metodologia; Protótipos.
ABSTRACT
The present paper characterizes the methodologies and results obtained in the teaching of the
discipline “Architecture and Structures” within the course of Architecture and Urbanism of the
Pontíficia Universidade Católica of Minas Gerais from the same syllabus content approached in
different ways by architects and civil engineers. Derived from the discipline "Introduction to Structural
Systems" and reinserted in the first revision of the new curriculum implemented in 2008, it is
responsible for providing the students of the first year a contact with the structural systems used in
the civil construction, enabling them to create architectural and structural solutions in an integrated
and therefore constructively viable way. In order to provide the students a critical view of the
construction methods in the conception of architectural projects, the discipline is organized based on
the study of the fundamental concepts related to the structural behavior of buildings as essential
knowledge for the development of architectural designs based in a structural logic. In this way the
work developed consists in the analysis of the processes and results produced from different biases.
Keywords: Teaching of Structures; Structural and constructive systems; Methodology; Prototypes.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
Diante da necessidade que a Arquitetura tem de relacionar-se com profissionais de outras
áreas do conhecimento a fim de agregar diferentes informações e traduzi-las em
representações técnicas, a interdisciplinaridade torna-se imprescindível para a prática da
637 profissão. Cada demanda abrange uma série de competências específicas não pertencentes
à formação profissional do arquiteto, porém, necessárias para a sua atuação. Este
compartilhamento de metodologias proporciona uma maior integração entre os
colaboradores envolvidos, superando de forma significativa a fragmentação recorrente nos
processos projetuais.
Os métodos tradicionais de desenvolvimento de projeto desvinculados das etapas
construtivas dão lugar a procedimentos conexos nos quais os recursos que a
interdisciplinaridade oferece fazem com que o foco deixe de ser o produto final,
concentrando na maneira pela qual o mesmo é concebido. A colaboração de diferentes
áreas do conhecimento permite a ampliação de possibilidades nas soluções adotadas, uma
vez que são realizadas análises de um mesmo objeto sob diferentes pontos de vista. A partir
de novas demandas, surgem paradigmas que vão além das competências pertinentes ao
campo da construção civil, fazendo com que a concepção arquitetônica passe a ser realizada
de forma mais abrangente mediante diferentes interpretações.
A incorporação de novas tecnologias na indústria da construção civil é a principal
responsável por inovações na maneira de planejar, gerenciar e construir, proporcionando nas
últimas décadas uma maior integração entre os profissionais e atividades envolvidas na
concepção de edificações. Para que se executem obras condizentes com estes avanços
técnicos, é necessário que os métodos utilizados nas diferentes fases de projeto sejam
compatíveis com uma metodologia de trabalho adequada às exigências de um novo contexto.
As etapas de produção passam a ser realizadas de forma contínua evitando o
desencontro de informações ao longo do processo. A maneira como os procedimentos
digitalmente e mecanicamente assistidos têm influenciado as fases conceituais e
construtivas do projeto deixa de ser uma novidade, assumindo o papel principal na
concepção do ambiente construído. Desta maneira, os mesmos são utilizados para auxiliar o
profissional na tomada de decisões e não apenas na representação gráfica do projeto.
O tema Arquitetura e Estruturas como uma das disciplinas introdutórias do curso cumpre
essa função interdisciplinar em um aspecto fundamental na formação do profissional: a
concepção embasada por uma lógica estrutural. A viabilidade física do objeto construído
depende da proposição de seus sistemas, estando as soluções arquitetônicas diretamente
relacionadas às características construtivas da metodologia utilizada.
A construção civil é um setor da indústria que exige processos conexos e sequenciais para
que seja garantida a qualidade do produto final, dentro do prazo e orçamento previamente
estabelecidos na fase de planejamento. Nos últimos anos, o mercado se apresenta cada vez
mais exigente, elevando a outro nível as ferramentas de trabalho e a formação dos
profissionais responsáveis por operá-las. Desta maneira, a atuação do arquiteto estará
diretamente relacionada com a sua capacidade de interagir com outras áreas do
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
É importante ressaltar que, antes da execução das maquetes, os alunos tiveram aulas
expositivas referentes ao projeto de pontes e estruturas treliçadas, as quais serviram como
embasamento construtivo para que os mesmos pudessem elaborar suas propostas baseadas
em um fundamento estrutural coerente.
Diante da necessidade de atualização das práticas relacionadas ao ensino de estruturas,
foi adotado o software Ftool para a simulação de esforços, permitindo uma visualização mais
1
Evento unificado da construção civil e ponto de encontro entre todos os envolvidos na cadeia produtiva do
segmento, realizado em Belo Horizonte, MG.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Construída esta base, parte-se para os estudos da teoria das estruturas, o princípio de
estática, norteador do entendimento acerca das condições de equilíbrio dos corpos e, ao
mesmo tempo, para os estudos da resistência dos materiais, que avança para o
entendimento do comportamento dos corpos sujeitos aos carregamentos intrínsecos à sua
644
função estrutural.
Tal encaminhamento leva o aluno da engenharia a compreender as condições físicas,
geométricas e mecânicas que determinam o comportamento dos elementos estruturais e
habilitá-lo a identificar e propor soluções e sistemas construtivos na concepção das
edificações e monumentos. É neste ponto então que o mesmo ingressa nas cadeiras que
tratarão das estruturas em si, em suas variadas tipologias e gradações: estruturas de
concreto 1 e 2, estruturas metálicas 1 e 2, estruturas de madeira e a iniciação em algumas
outras alternativas como a alvenaria estrutural.
Partindo desse modelo metodológico e do princípio de que é o conhecimento das
possibilidades que surge a liberdade de escolher e de propor soluções, é que se depara com
o desafio ao se ensinar estruturas no curso de Arquitetura. Como inserir no ciclo básico o
conhecimento dos princípios tão necessários para o entendimento do potencial construtivo
dos elementos estruturais? Como prover ao aluno as condições para uma concepção
arquitetônica que seja funcional e também propositiva em sua solução estrutural?
Ademais, o aluno da arquitetura, de uma maneira geral, não tem gosto pela matemática,
sendo a criatividade, a flexibilidade e o leque de possibilidades seus principais agentes
motivadores. Assim, a proposta de ensino aqui descrita detém-se mais em tratar da dinâmica
pedagógica, apresentando as atividades como forma de demonstrar os meios e os resultados.
sentido dentro do contexto do estudo das estruturas. A Lei da Ação e Reação é associada a
restrições aos possíveis movimentos dos corpos (translação e rotação nas três dimensões)
quando vinculadas a apoios externos, gerando as forças e momentos que configuram as reações
nos apoios. O conceito de “equilíbrio dos corpos” está formado, com o racional do “grau de
645
sujeição das estruturas” e do cálculo das “reações de apoio”.
O conceito de força é resgatado e associado aos “carregamentos” aos quais as estruturas
estão sujeitas. A origem das forças horizontais e verticais é conhecida e o aluno é capaz de
mensurá-la a partir das referências estabelecidas em norma. A partir deste momento, o
aluno tem o entendimento, por exemplo, dos impactos do peso próprio das estruturas e dos
efeitos das cargas de vento em edifícios altos, o que traz consciência às suas escolhas ao
propor um espaço arquitetônico.
Com este panorama, o aluno é capaz de reconhecer a estrutura na edificação e identificar
os efeitos das sujeições a ela impostas – seja pelos apoios, seja pelas cargas – e passa a
entender como as cargas caminham pelos elementos estruturais segundo as restrições e
liberdades de movimento. Estão introduzidos, até aqui, princípios da Teoria da Estruturas.
Se a Teoria das Estruturas traz a visão de um Rx do sistema estrutural, a Resistência dos
Materiais leva ao reconhecimento dos elementos estruturais como o recorte de uma
tomografia. Os elementos geométricos – blocos, barras, placas, chapas e cascas – são
identificados como elementos estruturais por meio de componentes como fundações, vigas,
pilares, lajes, paredes, arcos e cúpulas. A barra prismática é lançada no sistema cartesiano
tridimensional e, identificados o “centro de gravidade”, a seção transversal e o comprimento
longitudinal, suas propriedades geométricas são mensuradas integrando suas dimensões nas
três diferentes direções, eixos x, y e z:
Em cada uma das direções obtém se o “comprimento” de seus lados;
Em cada duas de suas direções obtém-se a “área” de suas faces;
Nas três direções o seu “volume”; e ainda
Em cada direção do plano de sua seção transversal, obtém-se o “momento de inércia”
na respectiva direção – introduzindo aqui uma quarta perspectiva geométrica das
peças estruturais, que mede a resistência ao movimento de rotação (= inércia ao giro)
da seção transversal em relação à determinada direção.
O entendimento da propriedade geométrica “momento de inércia” leva o aluno a
reconhecer a relevância da distribuição da massa em relação ao “centro de gravidade”,
podendo tirar partido disso para reduzir os efeitos dos esforços de flexão nas vigas.
Entender o “momento de inércia” permite ainda compreender que as colunas, ou pilares,
demandam especial atenção quanto ao seu “índice de esbeltes”, ou seja, uma medida da
relação geométrica de seu “comprimento” com o “momento de inércia” e a “área” de sua
“seção transversal”.
O conceito de pressão agora reconhecido como “tensão” se abre para as suas
diferenciações a depender de como as forças estão aplicadas na superfície dos corpos e o
efeito que essas provocam neles, as “deformações”. Reconhece-se então os efeitos da
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
“compressão”, “tração”, “flexão”, “torção”, “cisalhamento” dos corpos. Explora-se que para
cada tipo de material há uma “relação tensão x deformação” própria, que parte da fase
elástica, onde essa relação guarda proporcionalidade – conceituado pelo “módulo de
elasticidade”, para a fase plástica, demonstrando a capacidade dos materiais de resistir aos
646
esforços e os seus “limites de utilização” e de “ruptura”. O gráfico tensão x deformação é
apresentado com o comportamento dos principais materiais utilizados em estruturas: aço,
concreto armado e a madeira.
Peculiarmente, elementos estruturais sujeitos à “compressão”, além desses limites de
resistência, têm também impostos a eles os limites de estabilidade. A “flambagem” de um
pilar é a perda de sua estabilidade, cada vez que é ultrapassada sua “carga crítica de
flambagem” – uma medida que leva em conta a relação do material de que é feito (“módulo
de elasticidade”), da forma do pilar, ou seja, como estão distribuídas suas dimensões em
relação ao seu “centro de gravidade” (“momento de inércia”); o comprimento do pilar
conjugado com seus apoios externos (“comprimento de flambagem”), além de uma constante.
Neste ponto, o aluno passa a compreender que a capacidade de um corpo resistir a
esforços passa:
Pela qualidade/tipo do material de que o elemento estrutural é feito;
Pela quantidade/dimensões deste elemento estrutural;
Pela forma/distribuição de material em suas três dimensões. Estão introduzidos, até
aqui, princípios da Resistência dos Materiais.
A teoria é apresentada em aulas expositivas buscando analogias com situações cotidianas
e associações a edificações conhecidas. Portanto, não há barreiras de aprendizagem, o tema
não é absolutamente inédito, nem tão árido quanto se possa parecer e, além do mais, será
testado por meio de trabalhos práticos.
Construído esse repertório, a proposta é experimentar os efeitos desses princípios
fundamentais. Cada assunto tratado se converte em um tema de trabalho. Os alunos são
chamados a elaborar modelos tridimensionais livres e discutir os efeitos a que esses
modelos se sujeitam dentro dos conceitos estruturais estudados. Cada grupo deve construir
um objeto de pequeno porte que represente e demonstre a propriedade ou fenômeno físico
em questão, sob os seguintes critérios:
a) MODELO TRIDIMENSIONAL: deve representar com clareza o fenômeno físico em
análise e atender as condições relacionadas abaixo.
Ter em quaisquer de suas dimensões o valor aproximado de 30 cm, ou possa ser
reduzido a este tamanho, isto é, deve ser portátil;
Os materiais utilizados na confecção do modelo devem ser compatíveis com as
solicitações (forças/carregamentos) a que serão submetidos;
O modelo deve manter sua integridade física após várias demonstrações de seu
funcionamento, isto é, deve ser solicitado dentro de seus limites de utilização.
b) APRESENTAÇÃO: o grupo de alunos deverá apresentar o trabalho à turma, de forma
objetiva e clara, demonstrando o funcionamento do modelo tridimensional com
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 5 – Modelos conceituais para estruturas, desenvolvidos por grupo de alunos sobre os temas:
(a) centro de gravidade; (b) esforços de compressão – o arco; (c) apoio articulado fixo; (d) momento
de inércia
⃗⃗ = (𝜋𝑟 2 . 𝑒. 𝑝esp ). 𝑟
𝑀
R
⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗ ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗ ⍺ (𝜋𝑅 3 )
𝑀𝑚𝑒𝑛𝑜𝑟 ⍺ (𝜋𝑟 3 ) < 𝑀𝑚𝑎𝑖𝑜𝑟
r
faz com que toda a estrutura esteja sujeita à compressão, conduzindo para os apoios a
função de suportar o empuxo gerado.
Com as chapas, que são superfícies planas cujo carregamento se dá de forma paralela ao
seu maior plano, ocorre o mesmo, estão sujeitas apenas à compressão. Entretanto, neste
650
caso, deve-se ter o mesmo cuidado que se tem com as barras. Já que estamos falando de
superfícies retas, deve-se ter atenção à altura da chapa evitando os efeitos da flambagem.
Alvenaria estrutural se vale deste princípio como solução auto-portante.
Apresentados os sistemas estruturais e seus mecanismos de funcionamento, os alunos
desenvolvem em grupo trabalhos que envolvem a pesquisa e elaboração de maquetes que
simulem o comportamento estrutural do sistema em estudo (a exemplo do exposto na
Figura 7). Cada sistema estrutural é tratado como um tema a ser explorado em pesquisa de
edificação existentes para reconhecimento e interpretação do funcionamento das
estruturas, além de trabalhos práticos com propositura de maquetes arquitetônicas cujos
materiais deveriam ser capazes de suportar as solicitações de esforços compatíveis com as
solicitações em situação real, guardadas as proporções em função do porte das maquetes.
Fonte: <http://www.fau.ufrj.br/apostilas/mse/Colunas.htm>.
4.2. Resultados
A ideia com esta proposta didática é compilar em um semestre os conteúdos
fundamentais que explicam o comportamento das estruturas, dando ao aluno uma
compreensão conceitual que lhe permita transitar no ambiente de projetos com a visão
integrada da arquitetura e da estrutura na concepção do espaço, com consciência dos
efeitos e das causas que os originam.
Ter a noção das possibilidades de suas proposições e consciência de suas escolhas dota o
profissional de melhores condições para trabalhar em equipes multidisciplinares, facilitando
o alinhamento a interesses comuns com vistas à viabilização dos empreendimentos
planejados nos projetos, um dos requisitos buscados na formação profissional do arquiteto,
já relatado na introdução deste artigo.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Tornar essa proposta efetiva demanda também um assessoramento nos ateliês de projeto,
já que é na prática das ideias que os conceitos se consolidam. Esta prática tem se tornado
possível com a implantação da nova política pedagógica do curso, que prevê disciplinas de
projetos em formato de ateliê com temas específicos: estruturas de concreto, estruturas de
651
madeira e aço, edifícios altos entre outras, ministradas por professores arquitetos e
engenheiros, onde há possibilidade de se focar nas especificidades estruturais dos respectivos
temas, em detrimento dos demais aspectos arquitetônicos, não menos importantes.
5. CONSIDERAÇÕES
As experiências aqui apresentadas dispuseram sobre uma diversidade de abordagens
sobre o tema relativo às estruturas, que buscando os mesmos objetivos, ainda que por
diferentes estratégias, chegam aos resultados desejados – levar o aluno a compreender a
função estrutural e dar-lhe condições de iniciar-se nas disciplinas de projetos com as noções
fundamentais para as proposições na concepção arquitetônicas.
Embora o conteúdo da disciplina seja desenvolvido de acordo com o enfoque realizado
nas abordagens de cada docente, são explicitados ao longo do curso os conceitos
construtivos básicos necessários para a elaboração de projetos que integram as soluções
arquitetônicas às respectivas demandas estruturais. Essa equalização de habilidades é
realizada nas disciplinas de projeto onde há a efetiva aplicação dos conhecimentos nas
atividades propostas.
Desta maneira, cabe ao corpo discente a busca por esta complementariedade dada pela
formação do professor, uma vez que são ofertadas duas ou três turmas da mesma disciplina
no período em curso em formato de ateliê. A cada final de semestre, são realizadas oficinas
de núcleos formados pelo respectivo eixo de ensino, nas quais o Núcleo de Tecnologia,
responsável pelas disciplinas citadas, promove discussões de estratégias e recursos didáticos
voltados para o ensino de estruturas na escola de Arquitetura da PUC/MG.
Essa diversidade tem efeito positivo, uma vez que proporciona a abertura para constantes
melhorias e interações entre professores e corpo discente cada vez que grupos de alunos
com diferentes repertórios comungam suas experiências nas interseções existentes com as
disciplinas de projeto ao longo da graduação.
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estruturas de edificações. Rio de Janeiro, 1980.
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Studio Nobel, 1998.
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DIEZ, G. Projeto Estrutural na arquitetura. Porto Alegre: Masquatro. 2012.
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III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
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LOPES, J. M.; BOGÉA, M.; REBELLO, Y. C. P. Arquiteturas da engenharia ou engenharias da
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REBELLO, Y. C. P. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2010.
652 SILVA, D. M. S.; SOUTO, A. K. Estruturas: uma abordagem arquitetô nica. Porto Alegre: Editora
Uniritter, 2007.
O ESTUDO DA CONSTRUÇÃO METÁLICA ARTICULADO AO ENSINO E À
APRENDIZAGEM DO PROJETO EM ARQUITETURA
AGUIAR, Tito Flávio Rodrigues de (1); RIBEIRO, Luiz Fernando Loureiro (2)
RESUMO
Este trabalho discute uma experiência didática que buscou articular o estudo da construção metálica
(estruturas em aço) ao ensino e à aprendizagem do projeto arquitetônico. O objetivo deste trabalho é
analisar essa experiência, desenvolvida no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Minas,
Universidade Federal de Ouro Preto, na disciplina Projeto Arquitetônico de Construções Metálicas,
entre 2011 e 2015. A experiência envolveu dois professores de departamentos distintos e formações
diversas: um arquiteto e um engenheiro civil. Nessa disciplina, ambos os professores orientavam os
alunos em um projeto arquitetônico de baixa complexidade funcional. A prática didática na disciplina
envolveu estudo de aspectos particulares da construção metálica como construção industrializada, a
partir da leitura crítica de dissertações produzidas no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil
da Escola de Minas (PROPEC). Destacam-se os seguintes resultados finais: os alunos apresentaram
maior percepção das relações entre forma e técnica construtiva; os alunos absorveram de forma mais
imediata conceitos relacionados a processos próprios da construção metálica; a abordagem qualitativa
da concepção estrutural, descartando-se processos de verificação matemática complexa do
comportamento estrutural, mostrou-se mais adequada à formação dos alunos; foi estabelecido um
diálogo interdisciplinar pela atuação de dois professores com formação profissional diversa e foi
implantada uma prática integradora que propiciou a formação de arquitetos e urbanistas mais atentos
a aspectos técnicos e construtivos, com maior capacidade de se inserirem em equipes
multidisciplinares e com mais segurança para assumirem encargos da coordenação de projetos.
Palavras-chave: Ensino e aprendizagem do projeto; Construção Metálica; Formação de arquitetos e
urbanistas.
ABSTRACT
This paper discusses a didactic experience that sought to articulate the study of the metal building
(steel structures) to the teaching and learning of the architectural project. The objective of this work is
to analyze this experience, developed in the Course of Architecture and Urban Planning, School of
Mines, Federal University of Ouro Preto, in the discipline Architectural Design of Metal Buildings,
between 2011 and 2015. The experiment involved two professors from distinct departments and with
diverse formations: an architect and a civil engineer. In this discipline, both professors oriented the
students in an architectonic project of low functional complexity. The didactic practice in the discipline
involved the study of particular aspects of the metal building as industrialized construction, based on
the critical reading of theses produced in the Graduate Program in Civil Engineering of the School of
Mines. The final results are: the students presented greater perception of the relationship between
form and constructive technique; The students absorbed more immediately concepts related to metal
building systems; The qualitative approach of the structural design, without complex mathematical
verification processes of the structural behavior, provided adequate students' training; An integrated
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
practice and an interdisciplinary dialogue established by the two professors provided the training of
architects more attentive to technical and constructive aspects, with greater capacity to join
multidisciplinary teams and more secure to take charge of project coordination.
Keywords: Teaching and learning of the project; Metal Building; Training of architects.
654
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho aborda uma experiência didática que buscou articular o estudo da
construção metálica, especialmente das estruturas em aço, ao ensino e à aprendizagem do
projeto arquitetônico. O objetivo deste trabalho é analisar essa experiência, desenvolvida
entre o segundo semestre letivo de 2011 e o primeiro de 2015 no Curso de Arquitetura e
Urbanismo da Escola de Minas, da Universidade Federal de Ouro Preto. Esse curso,
juntamente com o Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DEARQ), foi organizado em
2008, no âmbito do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (REUNI). Tanto o curso quanto o departamento foram vinculados à
Escola de Minas, estabelecimento de formação de engenheiros criado em 1876, em Ouro
Preto, Minas Gerais (AGUIAR, 2012, p. 229).
Este trabalho tem como objeto a disciplina Projeto Arquitetônico de Construções
Metálicas, componente curricular obrigatório, semestral, com carga horária de 90 horas.
Nela atuaram juntos dois professores de departamentos distintos e de formações diversas:
um arquiteto e urbanista, do DEARQ, e um engenheiro civil, do Departamento de Engenharia
Civil (DECIV), também da Escola de Minas. São os autores deste trabalho.
Por um lado, a disciplina foi proposta no Projeto Pedagógico do Curso (PPC) com
características comuns às demais disciplinas de projeto arquitetônico do Curso e, sem
dúvida, da maior parte dos cursos de arquitetura e urbanismo no Brasil, que, como salienta
Cláudia Arcipreste, têm justamente as disciplinas projetuais como eixo estruturador
(ARCIPRESTE, 2002, p. 11). Ênfase nos projetos desenvolvidos pelos alunos, dentro e fora de
sala de aula, orientação por professores para esses exercícios projetuais e aporte teórico-
metodológico direcionado às temáticas abordadas nos projetos são as principais
características dessas disciplinas projetuais do Curso.
Por outro lado, a disciplina Projeto Arquitetônico de Construções Metálicas foi
caracterizada de modo bem distinto das demais disciplinas projetuais do Curso e de forma
pouco comum no contexto brasileiro, pela ênfase em aspectos técnico-construtivos relativos
à estrutura em aço. Ênfase que a rigor não corresponde a uma demanda do ofício, pois
dificilmente o emprego da estrutura em aço seria dado a priori nas condições correntes da
construção civil. Contudo, a ênfase nas estruturas em aço justificava-se pela existência na
Escola de Minas de um Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PROPEC) com
expressiva massa crítica no campo da construção metálica. Nesse programa, entre 1994 e
2008, pelo menos 20 arquitetos e urbanistas defenderam dissertações e teses. E esperava-se
que vários professores do DECIV atuantes no PROPEC viessem a se responsabilizar por
disciplinas tecnológicas no Curso de Arquitetura e Urbanismo. Assim, essa disciplina voltada
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
para o projeto arquitetônico de edificações com estruturas metálicas foi incorporada ao PPC
aprovado em 2008.
Na disciplina, entre 2011 e 2015, ambos os professores participaram integralmente da
orientação das propostas projetuais elaboradas pelos alunos. Atendendo à ementa da
655
disciplina, essas propostas sempre demandaram a elaboração de projeto arquitetônico de
um equipamento de uso coletivo, de baixa complexidade funcional. Logo de saída, a prática
didática na disciplina abordou, para além da estrutura metálica, a construção metálica como
construção industrializada.
Neste trabalho, para analisar essa experiência, será feita uma reflexão crítica a partir de
três elementos inter-relacionados. O primeiro é o relato dos professores envolvidos na
experiência didática. O segundo é a análise de trabalhos elaborados pelos alunos na
disciplina ao longo de oito semestres. O terceiro, por fim, é uma revisão bibliográfica –
centrada na formação de arquitetos e urbanistas para a abordagem dos aspectos
construtivos e tecnológicos, no ensino e na aprendizagem do projeto arquitetônico e da
estrutura, e na tectônica – que permitirá colocar em perspectiva informações e dados
extraídos dos relatos e da análise de exercícios projetuais realizados na disciplina.
Na mesma direção, João Marcos de Almeida Lopes nos diz que “diversos aspectos
relativos ao conhecimento tecnológico da arquitetura e do urbanismo vêm sendo
sistematicamente negligenciados, encolhidos ou até mesmo deliberadamente suprimidos –
656
desde sempre” (LOPES, 2014, p. 3). A incapacidade de afirmar a Construção como disciplina
é marca da formação de arquitetos e urbanistas no Brasil, vem de longa data, é deliberada e
tem um corolário perverso: a exclusão dos arquitetos da cena pública e sua marginalização
no mercado de trabalho e na indústria da construção civil. Assim, “cada vez mais e mais os
arquitetos vêm sendo formados por e para este mercado de trabalho, por e para esta e não
outra conjuntura” (LOPES, 2014, p. 15, grifos dos autores). Especificamente, Rita Saramago e
João Marcos de Almeida Lopes salientam que as disciplinas de Estruturas ainda não são
“aspecto distintivo” nos cursos brasileiros de arquitetura, repercutindo negativamente na
inserção dos seus egressos no campo profissional (SARAMAGO; LOPES, 2009, p. 178).
De acordo com Yopanan Rebello e Maria Amélia Leite, a formação de arquitetos e
urbanistas no Brasil não se distancia, nesse ponto, da dicotomia entre dois padrões que
marcaram a formação escolarizada de arquitetos na Europa e na América ao longo do século
XIX e da primeira metade do XX. Por um lado, o padrão tradicional, acadêmico, da
arquitetura como arte. Por outro lado, o padrão científico, da produção industrial e da
abordagem tecnicista da construção, preconizada pela engenharia (REBELLO; LEITE, 2015).
Como nos dizem, a formação escolarizada de arquitetos chegou ao século XXI aferrada a
um arranjo fragmentado e disciplinar, incapaz de dar conta dos problemas da atualidade. Esse
arranjo se contrapõe a uma necessária formação generalista e, ao mesmo tempo, impede que
essa formação generalista ocorra. A formação escolarizada de arquitetos também se revela
incapaz de articular o ensino do projeto e o ensino de tecnologia, bem como de responder às
demandas atuais do ofício do arquiteto e urbanista (RHEINGANTZ; CUNHA; KREBS, 2015).
Essa desarticulação entre ensino e aprendizagem do projeto e ensino e aprendizagem da
tecnologia se manifesta em dois traços distintivos da formação de arquitetos e urbanistas. O
primeiro é justamente essa fragmentação de conhecimentos em disciplinas estanques.
Fragmentação que, segundo Cláudia Arcipreste, é marca de uma cultura já consolidada
(ARCIPRESTE, 2012, p. 159).
O segundo traço, apontado por Arcipreste em 2002, diz respeito à própria condição do
arquiteto como professor. O arquiteto tem atribuição legal para formar novos profissionais,
mas é chamado a ensinar sem ter um preparo específico para tal. Muitos professores apenas
reproduzem nas disciplinas dos cursos de arquitetura e urbanismo, tanto projetuais quanto
tecnológicas, formas didáticas que marcaram sua formação como arquitetos. Ou, podemos
ajuntar, como engenheiros. Assim,
os processos de ensino do projeto apoiam-se nas formas como o professor
aprendeu. Tanto nas formas da sua educação profissional, específicas da
arquitetura, quanto nas formas da sua escolarização anterior, que ele tem
interiorizadas. [...] A prática professoral limita-se, assim, pela falta de referenciais
científicos do campo da educação, de conhecimentos já construídos acerca do
ensinar e do aprender (ARCIPRESTE, 2002, p. 164).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Esses dois traços impedem que os egressos dos cursos de arquitetura e urbanismo se
posicionem com segurança em relação às demandas fundamentais do ofício e à realidade social,
econômica e cultural brasileira. Em especial, frente às questões da estrutura e da construção.
Como nos alertam Rebello e Leite (2015), forma e estrutura de uma edificação são
657
indissociáveis e o criador da primeira será, inevitavelmente, o criador da segunda. Isso dá
medida da importância do conhecimento sobre a estrutura (e também sobre a construção)
no ofício do arquiteto e urbanista e da necessidade de se estabelecer processos didáticos
que impeçam o isolamento dos conteúdos relacionados à estrutura e à construção,
relegados a disciplinas estanques e distintas das disciplinas de projeto. Rebello e Leite
afirmam que para conceber estruturas de boa qualidade é preciso estabelecer um diálogo
entre arquitetos, engenheiros e construtores e tomar o projeto como um “exercício de
pesquisa, de descoberta e investigação conjunta”. (REBELLO; LEITE, 2015, p. 11).
Nesse sentido, Nébora Modler, Marcela Maciel e Luís Eduardo Modler salientam que no
estudo de estrutura os processos didáticos na formação escolarizada de arquitetos devem
garantir conhecimento teórico e a aprendizagem deve desenvolver no estudante a
habilidade de “conceber o partido estrutural integrado ao partido arquitetônico”.
Apresentando uma experiência que, no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal da Fronteira Sul, em Erechim, RS, associou os estudos do projeto arquitetônico e dos
sistemas estruturais, esses autores afirmam que essa associação dependeria de cinco
condicionantes básicos: a demanda por grandes vãos; um programa cuja complexidade
funcional não comprometesse o desenvolvimento do partido estrutural; aumento
progressivo da complexidade dos sistemas estruturais estudados; partido arquitetônico em
blocos e com espaço coberto, mas aberto; sítio que permita discutir a inserção da estrutura
no entorno imediato (MODLER; MACIEL; MODLER, 2015).
Experiências como a descrita acima, embora pontuais, apontam caminhos para romper o
isolamento das disciplinas de estruturas, e, por extensão, de tecnologia nos cursos de
arquitetura e urbanismo no Brasil. De fato, como nos diz Arcipreste, o ensino e a
aprendizagem do projeto têm papel central na formação do arquiteto e urbanista. E os
aspectos técnicos, estruturais e construtivos, são valorizados nas disciplinas de projeto de
modo muito distinto dos aspectos formais e dos aspectos funcionais. Em pesquisa realizada
com professores e alunos de disciplinas de projeto em três cursos belo-horizontinos,
Arcipreste nos mostra que a avaliação dos projetos desenvolvidos pelos estudantes valoriza
de modo inequívoco “questões que dizem da funcionalidade, do atendimento ao programa
de necessidades, das condições de uso, de conforto ambiental, da qualidade das articulações
espaciais, da adequação do projeto à demanda programática”. Ou seja, aspectos funcionais
– da utilitas, nos termos vitruvianos –, apontados por todos como objetivos e fundamentais
(ARCIPRESTE, 2002, p. 127).
Já a valorização dos aspectos plásticos, formais, revela-se mais problemática nas
disciplinas de projeto. Subjetivos, esses aspectos da venustas são apontados como tendo
“pouco peso no resultado dos estudantes”, sendo “pouco trabalhados no contexto das
orientações” dos exercícios projetuais (ARCIPRESTE, 2002, p. 130).
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3. DESENVOLVIMENTO DA DISCIPLINA
Nos dez semestres letivos do Curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal
de Ouro Preto, a inserção de disciplinas tecnológicas ocorre a partir do 3º período, quando é
oferecida a disciplina Materiais de Construção.
As seis disciplinas da área de Estruturas são oferecidas a seguir, com a sequência:
Resistência dos Materiais (4º período); Sistemas Estruturais (5º), Construções de Concreto
Armado e Construções Metálicas I (6º); Construções de Madeira e Construções Metálicas II
(7º). A disciplina Projeto Arquitetônico de Construções Metálicas e estas duas últimas são
cursadas simultaneamente. As disciplinas tecnológicas completam-se com: Estudos de Solo,
Conforto Ambiental, Instalações Prediais I, Instalações Prediais II, Saneamento Urbano,
Técnicas Construtivas, Patologias da Construção, e Técnicas Retrospectivas, todas
obrigatórias; e Projetos de Iluminação I, Projetos de Iluminação II, Planejamento e
Administração de Obras e Transportes Urbanos, eletivas.
A ementa da disciplina Projeto Arquitetônico de Construções Metálicas é composta pelos
seguintes tópicos: Teoria de projetos; Conceitos de espaço e linguagem arquitetônica;
Desenvolvimento de projeto arquitetônico de baixa complexidade em estrutura metálica
contemplando: anteprojeto, projeto executivo, sistema construtivo: estrutura, fechamento,
cobertura etc.; Detalhamento de elementos arquitetônicos; Prática de projeto arquitetônico.
Esses conteúdos são, no programa e no plano de ensino da disciplina, organizados em
quatro unidades: Fundamentação, Estudo Preliminar, Anteprojeto e Projeto Executivo.
Já no oferecimento da disciplina para a primeira turma do Curso, no segundo semestre
letivo de 2011, os autores buscaram articular o estudo da construção metálica,
especialmente das estruturas em aço, ao ensino e à aprendizagem do projeto arquitetônico,
aproveitando a formação distinta de ambos: um arquiteto urbanista e o outro engenheiro
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
civil. Este último foi responsável no semestre anterior pela disciplina Construções Metálicas
I, oferecida para a mesma turma.
Na disciplina, ambos os professores participaram integralmente da orientação das
propostas elaboradas pelos alunos. A baixa complexidade preconizada na ementa foi
660
interpretada como sendo baixa complexidade funcional, que permitiria liberar tempo e
energia para se aprofundar o estudo de questões técnico-construtivas, convergindo com a
experiência da UFFS descrita por Modler, Maciel e Modler (2015). Para potencializar a
abordagem das questões relativas à inserção urbana, optou-se por demandar aos alunos que
projetassem um equipamento de uso coletivo. Restrições quanto a vãos, partidos
arquitetônicos e complexidade construtiva não foram estabelecidas. A prática didática na
disciplina envolveu o estudo tanto das estruturas em aço quanto de aspectos particulares da
construção metálica como construção industrializada, indo além de experiências como as
descritas por Lopes (2014) e Rebello e Leite (2015). O principal subsídio para esse estudo da
construção industrializada foi a leitura crítica de dissertações produzidas no PROPEC.
No programa da disciplina, foram estabelecidos os seguintes objetivos: por meio da
concepção e produção de edifícios em que a construção metálica é o sistema construtivo
básico, tanto estrutural quanto de outros elementos construtivos, possibilitar aos alunos
ampliar o entendimento das relações entre forma, lugar e tecnologia; estudar conteúdos
específicos concernentes à arquitetura das construções metálicas; tratando problemas
projetuais que mobilizassem a análise de condicionantes relativos à construção metálica,
possibilitar aos alunos aprofundar a reflexão sobre os processos de projeto; e levar os alunos
a reconhecer e criticar seus processos e produtos projetuais. Esses objetivos, amplos,
sinalizam a intenção de superar as deficiências da abordagem das questões técnicas nas
disciplinas projetuais, apontadas em 2002 por Arcipreste (2002) e reforçadas por Medeiros
(2014) e Rheingantz, Cunha e Krebs (2014). Em observância a esses objetivos, foram
organizadas as atividades desenvolvidas nas unidades do conteúdo programático da
disciplina, discutidas a seguir.
Na Fundamentação, etapa inicial da disciplina, aspectos relacionados à arquitetura e aço
foram abordados em aulas expositivas, com ênfase em aspectos arquitetônicos e de
utilização do material como elemento estrutural e também plástico, por meio da
apresentação e análise de obras edificadas no Brasil e em outros países. A construção em
aço no Brasil foi tratada tanto a partir das linguagens arquitetônicas quanto a partir do seu
contexto social, cultural, econômico e histórico, bem como pela diferenciação entre
construção metálica em aço e edificações simplesmente estruturadas em aço.
Em aulas expositivas, também foi discutida e analisada a concepção estrutural, a partir de
aspectos conceituais, com forte enfoque na metodologia proposta por Rebello (2003):
estudo de formas da natureza para reforçar a relação entre formas e funções estruturais.
Aspectos técnico-construtivos das construções metálicas, tais como sistemas e perfis
estruturais, ligações, fechamentos horizontais e verticais, coberturas e interações com
instalações prediais foram abordados de modo sucinto, com base nos manuais publicados
pelo Centro Brasileiro de Construção em Aço (CBCA) e no trabalho de Coelho (2003). Previu-
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
se, ainda, a realização de visita técnica orientada. Infelizmente, nem sempre as visitas
técnicas puderam ser realizadas, devido a problemas de logística institucional ou
indisponibilidade de locais para visitação.
Buscando estimular a autonomia dos alunos, optou-se por não definir previamente os
661
temas de projeto que seriam trabalhados ao longo do semestre letivo. No primeiro exercício
de fundamentação, desenvolvido em grupos de até cinco membros, os próprios estudantes
foram levados a construir o tema a ser por eles trabalhado na disciplina. O objetivo principal
desse primeiro exercício era incentivar a pesquisa de campo e levar os alunos a levantar
dados e informações relevantes tanto para o projeto de edifícios em construção metálica de
baixa complexidade funcional quanto para o conhecimento do contexto em que esses
edifícios seriam construídos. A partir dessas premissas, os alunos foram levados a construir o
tema a ser trabalhado nos exercícios projetuais, considerando tanto o contexto urbano
quanto a legislação urbanística da cidade de Ouro Preto.
As orientações básicas envolveram: a análise crítica da legislação urbanística local e da
regulamentação voltada para a preservação do patrimônio cultural edificado na cidade; a
escolha de um bairro da cidade; a identificação de demandas locais por edifícios destinados
a equipamentos urbanos de uso coletivo, com programas arquitetônicos de baixa
complexidade e, a partir dessas demandas, a definição de um uso e um programa
arquitetônico básico; a seleção de terrenos vagos que comportassem a construção de
edifícios destinados ao programa arquitetônico proposto, com registro, por meio de croquis
e imagens fotográficas, do terreno, da via pública e do entorno imediato.
Um segundo exercício de fundamentação era uma pesquisa de obras análogas ou
referenciais, para incentivar a pesquisa bibliográfica e levar os alunos a construir um
repertório de soluções aplicáveis ao projeto de edifícios em construção metálica e, também,
a refletir sobre o contexto em que essas obras foram erguidas. Desse modo, os grupos de
alunos foram instados a eleger como objeto de estudo duas obras em construção metálica
em aço, uma erguida no Brasil e outra construída no exterior. Os grupos foram levados a
abordar obras que apresentassem programa funcional de baixa complexidade, de modo a
estabelecer parâmetros úteis ao desenvolvimento do projeto na disciplina. Com o tempo,
esses dois exercícios de fundamentação foram fundidos em uma única atividade.
A Fundamentação abarcava também quatro Seminários de Fundamentação, que
buscavam incentivar a leitura de textos acadêmicos sobre aspectos relevantes da construção
metálica no Brasil e levar os alunos a conhecer questões de interesse para o projeto de
edifícios em construção metálica, bem como subsidiar o desenvolvimento das soluções
arquitetônicas nos exercícios projetuais da disciplina. Os objetos desses seminários eram
dissertações elaboradas por arquitetos e engenheiros civis no PROPEC. Cada aluno deveria
ler os trechos previamente selecionados pelos professores e elaborar fichamentos,
destacando pontos relevantes para discussão em sala de aula.
O Estudo Preliminar, o Anteprojeto e o Projeto Executivo, as demais unidades do
conteúdo programático da disciplina, estavam estreitamente articuladas por atividades
sequenciais decorrentes das decisões e premissas adotadas na Fundamentação.
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4. RESULTADOS
Ao longo da experiência didática na disciplina Projeto Arquitetônico em Construção
Metálica I, no período abordado, a ênfase foi colocada no desenvolvimento de projetos,
com orientação e acompanhamento dos professores, juntamente com aporte teórico-
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
A estrutura aparente, protegida com pintura anti-incêndio, foi composta por pilares em
perfil “H” e as vigas em “I”, laminados, com estrutura da cobertura em treliças de altura
variável, utilizando duplos perfis “U” conformados a frio, com vedação em dupla chapa
metálica lisa de aço zincado, formando sanduíche com manta de lã de vidro. O lançamento
estrutural foi baseado em modulação de 3 metros, com lajes moldadas in loco, com fôrma
metálica incorporada, propiciando concretagem sem escoramento. Nas vigas, conectores de
cisalhamento asseguraram comportamento misto aço/concreto.
Algumas vedações internas foram indicadas em alvenaria convencional, sendo as externas
compostas por placas cimentícias, suportadas por sistema steel framming composto por
perfis leves, com placas de gesso acartonado na face interna ao edifício.
edifício teria em terraço um mirante para a cidade de Ouro Preto (Figura 2). Do mirante seria
feito o acesso ao interior da galeria.
664
665
A edificação térrea, com 552 m², foi assentada sobre terreno aplainado com divisas
laterais em taludes. Foram previstas salas para práticas sociais, educacionais e esportivas,
articuladas por uma grande varanda. Vigas “I” e pilares “H” em aço compõem a estrutura,
ligados por solda, com vedação em painel EPS, tipo sanduíche com placa central de isopor
entre chapas lisas cimentícias. A cobertura foi prevista em telha termo-acústica ondulada,
com sistema telha/isolante/telha, utilizando o EPS como isolante.
666
A análise dos componentes da bicicleta levou à escolha do aspecto formal das estruturas
metálicas. Os pontos são modulares, com treliças arqueadas, em perfis tubulares de 5 cm de
diâmetro. Os arcos principais são plenos e têm alturas diferentes. Os intermediários são
meio arcos, apoiados em uma viga treliçada, abrigando as bicicletas sob as coberturas em
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Os trechos de escadas rolantes são apoiados por pilares de perfis metálicos com seção
tubular, conectados a vigas em perfil “I”, de seção transversal variável, constituindo
conjuntos em forma de “T”. Estruturas auxiliares de treliças em perfis “C” conformados a frio
interligam os pilares de apoio e suportam as escadas rolantes, cujo sistema de fechamento e
668
cobertura é constituído por “costelas” constituídas por perfis “I” calandrados. O fechamento
é formado por chapas metálicas na faixa central ao longo do eixo das escadas, sobre a qual
são posicionados painéis fotovoltaicos, e completado nas faixas longitudinais laterais por
chapas metálicas perfuradas e por painéis de vidro, com fixação do tipo spider glass.
Sistemas de ventilação são posicionados em todos os trechos de escadas rolantes, sendo as
estruturas de intersecção dos percursos descobertas, com pisos em deck de madeira,
corrimãos em perfis tubulares de aço inox e guarda-corpo em cabos de aço (Figura 8).
No Bairro da Bauxita, a Praça Benedito Xavier tem hoje uma quadra de esportes de uso
comunitário. Cercada por alambrados metálicos, tem manutenção precária e não é coberta.
Para revitalizar essas instalações e proporcionar melhores condições de uso do
equipamento, o aluno João Paulo Xavier Lobato propôs no semestre 2014-2 a recuperação
da quadra de esportes, a instalação de cobertura, a implantação de pistas de skate e a
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
5. CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
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673
RESUMO
Sabe-se que a função de vigas de transição é receber carregamentos concentrados de pilares e
redistribui-los para novos pontos de apoio. Esses elementos podem parecer bastante interessantes à
arquitetura, uma vez que permitem liberar espaços usados por pilares em uma edificação e
possibilitar a existência de grandes vãos às estruturas. Contudo, convém se observar que não se trata
de vigas comuns, pois elas costumam necessitar de grandes dimensões, consumir volumes elevados
de materiais, ter altos custos e grande responsabilidade estrutural. Assim, o seu uso deve ser feito
com bom senso e conhecimento técnico. Em um país onde a mão de obra da construção civil é
deficiente e onde as estruturas comumente não recebem a manutenção recomendada, atribuir às
vigas a responsabilidade de pilares pode ser uma prática arriscada. Observa-se, no entanto, em
cursos de arquitetura, um certo descompasso entre o ensino de projeto e de estruturas, no que diz
respeito às vigas de transição, que faz o seu uso parecer uma solução simples, o que normalmente
não é real. Este trabalho objetiva mostrar aspectos de projeto estrutural e arquitetônico de vigas de
transição, através de uma discussão teórica sobre o assunto e da análise comparativa de dois casos
de sua aplicação em edificações prontas, em caráter educativo. Objetiva-se ilustrar o que poderia ser
uma boa e uma má aplicação dessa solução estrutural, e chamar a atenção dos professores de
projeto e de estruturas sobre a necessidade de se informar o futuro arquiteto sobre possíveis
consequências negativas do uso dessas vigas.
Palavras-chave: Vigas de transição; Vigas de concreto; Estruturas perigosas.
ABSTRACT
It is known that the function of transition beams is to receive concentrated columns loads and
redistribute them to new support points. These elements may seem very interesting to architecture,
since they allow to release spaces used by pillars in a building and to allow large structures spans.
However, it should be noted that these are not common beams, since they usually require large
dimensions, consume high volumes of materials, have high costs and great structural responsibility.
Thereby, its use requires technical knowledge. In a country where construction workforce is deficient
and where structures commonly do not receive the recommended maintenance, throwing pillar
responsibility on a beam can be a risky practice. However, it is observed a certain mismatch in
architecture courses between the teaching of design and structures, with respect to transitional
beams, that makes their use seem a simple solution, which is not usually real. This work aims to show
aspects of structural and architectural design of transitional beams, through a theoretical discussion
on the subject and the comparative analysis of two cases of its application, in an educational
character. It aims to illustrate what could be a good and bad application of this structural solution,
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
and call the attention of project and structure teachers on the need to inform the future architect
about possible negative consequences of the use of these beams.
Key words: Transition beam; Concrete beams; Dangerous structures.
674
1. INTRODUÇÃO
O caminho de forças mais lógico em uma edificação compreende a distribuição dos
esforços dos elementos estruturais menos rígidos, para os mais rígidos. Nesse caminho, é
natural que, à medida que se aumentam os esforços, se aumente também a rigidez dos seus
elementos perante os esforços que lhes solicitam. Assim, são comuns as situações em que
lajes – elementos de rigidez baixa –, recebem grande parte das cargas de uso da edificação e
as direcionam para as vigas, cuja rigidez é maior. As vigas, por sua vez, costumam acumular
cargas de lajes diferentes, paredes, outras vigas, etc., e as direcionam para elementos de
rigidez normalmente ainda maior, os pilares. Esses costumam concentrar cargas de diversas
vigas e direcioná-las para as fundações. Assim se define a sequência mais lógica no caminho
das forças de uma edificação: lajes – vigas – pilares – fundações.
No caso de vigas de transição, essa sequência lógica é um pouco alterada, uma vez que
pelo menos um pilar descarrega seus esforços sobre uma viga e não sobre um elemento de
fundação. As vigas, que já têm grande responsabilidade naturalmente, passam a ter
responsabilidade aumentada, já que nesses casos funcionam como apoios, ao concentrar
cargas verticais da estrutura, antes de redirecioná-las para novos pontos de apoio. Do ponto
de vista técnico, isso não significa necessariamente um impedimento ao seu funcionamento.
A engenharia estrutural tem, a princípio, condições de estabilizar vigas de transição.
Contudo, existe uma distância entre o que a engenharia é capaz de estruturar e o que de
fato convém, entre o papel e a realidade, determinada pelo bom senso. É ela que impõe
restrições ao uso deliberado desse tipo de estrutura.
Deve-se considerar que essa viga terá esforços internos altíssimos e mais altura/ largura
do que uma viga convencional – quanto maior o esforço concentrado sobre ela, maior a sua
altura. Deve-se analisar a influência do uso dessa viga na altura final entre lajes e no gabarito
final da edificação. Além disso, a construção desse tipo de viga em concreto armado ou
protendido comumente é bastante custosa e difícil, devido às grandes seções, materiais
diferenciados e altas taxas de armadura que envolve. Depois, não se pode ignorar o fato de
que uma falha de manutenção da estrutura pode resultar em problemas a longo prazo,
como deformações, corrosão da armadura, etc., e resultar na redução da sua capacidade
resistente, o que poderia ser catastrófico.
A origem deste trabalho foi a percepção de que existem professores de projeto
arquitetônico que costumam recomendar deliberadamente aos seus alunos o uso de vigas
de transição como uma solução arquitetônica, entre tantas outras igualmente ensinadas. De
fato, isso é tecnicamente possível. Porém, nota-se que normalmente se mostram somente
vantagens do uso desses elementos e não se expõe sobre suas possíveis desvantagens e
potenciais perigos. Além disso, nota-se que, em diversos casos, a recomendação de uso
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
desses elementos não está sempre relacionada a uma necessidade real desse tipo de
elemento, mas sim à possível facilidade de se resolver o problema arquitetônico relacionado
a vãos pequenos em níveis onde se desejaria que fossem maiores (como, por exemplo, na
garagem), ou à presença indesejada de pilares. Percebe-se uma necessidade dos ensinos de
675
projeto e de estruturas se aproximarem no sentido de informarem tanto sobre as
possibilidades arquitetônicas de vigas de transição, assim como sobre seus aspectos
negativos. Possivelmente, cabe ao ensino de estruturas a tarefa de esclarecer sobre a grande
responsabilidade estrutural das vigas de transição, os cuidados necessários ao seu uso e as
possíveis consequências do seu mau uso, procurando formar um arquiteto que tenha
conhecimento técnico para avaliar a real necessidade e adequação do uso dessas vigas.
2. A CONCEPÇÃO ESTRUTURAL
A concepção de uma estrutura nasce (ou deveria nascer) naturalmente com a
arquitetura. Estrutura é forma, forma é arquitetura. Assim, o conceito de estrutura é parte
do projeto arquitetônico e faz parte da linguagem adotada pelo arquiteto em seus projetos.
Nesse sentido, Engel expõe que:
Entre as condições básicas que contribuem para a existência de formas materiais
como uma casa, uma máquina, uma árvore ou os seres vivos, a estrutura é
fundamentalmente importante. Sem ela, as formas materiais não podem ser
preservadas, e sem a preservação das formas, o próprio destino do objetivo da
forma não pode ser concretizado. [...] A estrutura é o primeiro e único instrumento
para gerar forma e espaço na arquitetura. Por esta função, a estrutura torna-se um
meio essencial para modelar o meio material do homem (ENGEL, 2001, p.19).
A forma tem importância fundamental ao elemento estrutural. Com uma boa forma,
materiais considerados fracos podem resultar em estruturas altamente resistentes. Rebello
diz, inclusive, que em muitos casos, quem determina a resistência é justamente a forma e
que uma forma bem planejada pode resultar em ganho de resistência e ganho para a
arquitetura (REBELLO, 2000).
A estrutura é referência fundamental ao projeto arquitetônico, porque está diretamente
relacionada com a forma e, assim, com a resistência do conjunto. Contudo, o projeto
arquitetônico é bem mais do que isso. Em obra escrita há mais de 500 anos, Vitruvius já
mencionava que a arquitetura deve ser realizada com princípios de funcionalidade, beleza e
solidez. Nas palavras (devidamente traduzidas) do autor:
O princípio da solidez estará presente quando for feita a escavação dos fundamentos
até o chão firme [...]. O da funcionalidade, por sua vez, será conseguido se for bem
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
realizada e sem qualquer impedimento a adequação do uso dos solos, assim como
uma repartição apropriada e adaptada ao tipo de exposição solar de cada um dos
gêneros. Finalmente, o princípio da beleza será atingido quando o aspecto da obra
for agradável e elegante e as medidas das partes correspondem a uma equilibrada
lógica de comensurabilidade (VITRUVIUS, 2007, p.82).
É questionável uma arquitetura que deixe a desejar em algum desses aspectos, pois não
676
cumpriria o seu papel, de fato. Qual seria a razão de existir de um projeto que preze pela
solidez e pela funcionalidade, sem considerar o aspecto estético em sua criação? Qual seria
a lógica arquitetônica de uma construção ser sólida e esteticamente agradável, sem ser
funcional? Qual seria a coerência de se ter uma construção funcional, esteticamente
adequada e pouco segura, no aspecto estrutural?
Percebe-se que a concepção da estrutura relaciona-se diretamente com o resultado
arquitetônico. Assim, é necessário ao arquiteto o conhecimento de princípios básicos de
funcionamento de estruturas, materiais, carregamentos, esforços e tensões. A busca por
uma integração adequada entre estrutura e arquitetura pode encontrar soluções
interessantes e equilibradas em ambos os aspectos.
Rebello diz que “ao optar por uma solução estrutural, é de fundamental importância não
se deixar influenciar por atitudes momentâneas e modismos, mas sim levar em conta o seu
melhor desempenho” (REBELLO, 2007, p.9). Nesse sentido, a manipulação de elementos
estruturais deve ser feita de forma absolutamente planejada. Não seria coerente se criar
elementos que resolvam problemas estéticos ou funcionais, sem se considerar a sua solidez.
Voltamos a Vitruvius para complementar esse pensamento, mostrando a necessidade de se
planejar, de fato, o projeto de uma edificação, sem deixar elementos ao acaso:
Não deverá haver maior cuidado por parte do arquiteto que não seja o terem os
edifícios corretos planejamentos de acordo com proporções reportadas a uma
determinada parte. Uma vez constituído o sistema de medidas e explanadas por
cálculo as modulações, haverá então lugar para que a sua boa realização leve em
conta a natureza do lugar, seja no que diz respeito ao uso, seja no que diz respeito
ao aspecto exterior, procedendo a ajustamentos através de alterações, diminuindo
ou acrescentando proporcionalmente, de modo a transparecer que o edifício foi
planejado devidamente, e nada foi deixado ao acaso, no que concerne ao resultado
final (VITRUVIUS, 2007, p.300).
arquiteto, uma noção clara de tudo o que se refere aos mecanismos de redirecionamento de
forças nessas peças, envolvendo esforços, materiais, dimensionamento, sistemas de
execução e manutenção, entre outros elementos.
677
3. VIGAS E PILARES NO CAMINHO DE FORÇAS
Pilares e vigas são elementos de barras, o que os torna de certa forma semelhantes.
Trata-se de elementos que apresentam uma de suas dimensões, o comprimento,
predominante em relação às medidas de sua seção transversal. Contudo, ao se analisar a
sua capacidade de transmissão de cargas aos elementos de apoio, percebe-se que eles são
bastante diferentes entre si.
Pilares sofrem essencialmente esforços paralelos ao seu eixo longitudinal, enquanto vigas
sofrem essencialmente esforços paralelos à sua seção transversal. Isso diferencia
completamente o seu funcionamento, o seu dimensionamento, o seu comportamento. O
eixo longitudinal dos pilares costuma ser favorável ao caminho das forças, por ser
normalmente vertical e por ser esse o sentido natural das forças devido à aceleração
gravitacional. Assim, sua geometria já é favorável à dinâmica vertical das cargas. O mesmo
não ocorre com as vigas.
De acordo com Engel, “as atividades do homem realizam-se essencialmente num plano
horizontal e por isso exigem predominantemente uma extensão horizontal no espaço
fechado” (ENGEL, 2001, p.38). Essa extensão é naturalmente criada pelas lajes e pelas vigas.
O autor também defende que:
O fluxo de forças não apresenta problemas, sempre que a forma do objeto siga a
direção das forças atuantes. No caso da força gravitacional, tal situação existirá se a
substância for conectada na rota mais curta e direta com o ponto de descarga, a
Terra. Nascerá portanto o problema quanto o fluxo de força não tome uma rota
direta, mas tiver que sofrer desvios (ENGEL, 2001, p.26)
De acordo com esse conceito, os pilares seriam peças com menos problemas, por sua
forma seguir a direção das forças. Já as vigas já seriam naturalmente um problema, uma vez
que, com a sua necessidade de permitir o uso do espaço, elas precisam transmitir
lateralmente (e não somente verticalmente) as cargas, ao longo do seu comprimento, até os
apoios. Elas precisam oferecer às cargas uma possibilidade de desvio do seu caminho
natural. Segundo Rebello:
O caminho natural que as forças gravitacionais [...] tendem a tomar é o da vertical.
Se for oferecido a estas forças um caminho mais longo, elas obrigatoriamente terão
que percorrê-lo, desviando-se, assim, de sua tendência natural e provocando
esforços que solicitarão os elementos presentes nesse caminho. É como percorrer
um labirinto cheio de desvios [...] (REBELLO, 2000, p.22).
equilíbrio é capaz de resolver grande parte dos casos e neutralizar as forças atuantes.
Porém, os casos de forças elevadas devem ser considerados cuidadosamente, pois as forças,
ao solicitar uma estrutura, tendem a tirá-la do seu estado de equilíbrio. Nas palavras de
Engel, “força é a grandeza que faz com que um sólido se mova ou mude sua posição ou
678
estado” (ENGEL, 2001, p.36), ou seja, se a força existe, existe a tendência de movimento.
Nas vigas de transição, essa tendência não pode ser desprezada, devido à intensidade das
forças normalmente envolvidas nesses casos.
Justamente por isso, Ching et al. (2015) dizem que vigas de transição devem ter os
menores vão possíveis. Isso é bastante coerente quando se analisa a flexão em uma viga,
cujos momentos fletores são proporcionais ao quadrado dos vãos (em casos de cargas
distribuídas), ou ao produto da distância de uma carga aos seus apoios mais próximos (em
casos de cargas concentradas). Ching et al. (2015) lembram também que em qualquer
posição da carga concentrada em uma viga de transição, os esforços são elevados: se a carga
estiver próxima ao apoio, haverá esforços de cisalhamento bastante altos, se a carga estiver
mais no meio do vão, haverá momentos fletores elevados. Isso significa que não existe, em
viga de transição, alguma posição de carga que seja mais favorável – em toda a sua
superfície, se observarão esforços elevados.
Com relação à disposição da estrutura, é interessante a vigas e pilares, no seu papel de
caminho de forças, obedecerem uma ordenação geométrica, que pode ser buscada por um
alinhamento e uma certa modulação estrutural. Essas ações podem simplificar o
funcionamento estrutural do conjunto e facilitar a criação de pórticos no sistema
estrutural, se necessário. Vitruvius já defendia a ordenação na arquitetura, citando como
elementos necessários a ela: ordenação, disposição, eurritmia e comensurabilidade, entre
outros. Em suas palavras:
A ordenação define-se como a justa proporção medida nas partes da obra [...]
tendo em vista a comensurabilidade. é harmonizada pela quantidade [...]. Esta, por
sua vez, consiste em tomar módulos de porções da própria obra e na execução da
totalidade desta, com base em cada uma das partes dos seus membros
(VITRUVIUS, 2007, p.74).
Esse conceito continua atual. Disposição adequada das coisas, proporção, harmonia,
organização são elementos sempre positivos aos projetos.
4. OS ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO
A função dos elementos de transição é distribuir ou concentrar carregamentos de uma
estrutura devido a necessidades arquitetônicas, logísticas ou de alteração dos sistemas
estruturais. Esses elementos podem ser vigas, lajes, blocos ou ainda estacas.
Lajes de transição aparecem em edifícios de alvenaria estrutural ou com paredes de
concreto. As mesmas são normalmente compostas por diversas vigas de transição que
recebem as cargas das paredes estruturais e as transferem para pilares. São necessárias para
abrir espaço em pavimentos térreos e subsolos, que abrigam áreas de uso comum e garagens.
Costumam consumir bastante material e ter execução complexa. Já blocos de transição são
geralmente usados em fundações, para transferir a carga de um ou alguns pilares às estacas.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Mas entre todos os elementos de transição, os que mais interferem ou podem interferir
no projeto arquitetônico são as vigas. São normalmente usadas para receber a carga
concentrada de pilares que, por algum motivo, não são desejados no seu pavimento inferior.
Seu maior uso ocorre em edifícios que apresentam uma incompatibilidade entre a posição
679
dos pilares em dois pavimentos diferentes, em função de diferenças em suas plantas
arquitetônicas. Por exemplo, em um edifício, quando os pilares que suportam as cargas
transmitidas ao longo dos andares, podem chegar ao subsolo causando interferências na
distribuição de vagas de garagem. Um elemento de transição seria capaz de desviar o
carregamento, nesses casos.
Com relação ao cálculo estrutural, essas vigas não admitem muitas simplificações, devido
à ordem de grandeza das ações sobre elas. Além do carregamento concentrado, elas
também estão sujeitas a excentricidades de carregamento e possível torção, o que deve ser
considerado com muito cuidado. Sua armadura, no caso de peças de concreto, costuma ser
especialmente concebida, para compensar os esforços de forma adequada, evitando alguma
patologia. Elas costumam ser estruturas caras que requerem execução muito cuidadosa.
É importante se observar que muitas vezes, alunos costumam adotar vigas de transição
em seus projetos arquitetônicos sem a devida análise das suas dimensões, considerando-as
como vigas comuns. Nesses casos, não se considera que esses elementos necessitam de
mais altura e, assim, poderão eventualmente alterar a altura livre de pé direito, resultando
na necessidade de um aumento do gabarito final do edifício.
Figura 1 – Desenvolvimento das tensões principais em uma peça de concreto sob a ação de uma
carga concentrada
680
Existem diversos métodos para o cálculo de tensões na região mais solicitada do concreto e
todos eles diferenciam-se do cálculo convencional feito em elementos estruturais sem a
presença da carga concentrada. Os esforços equivalentes podem atingir valores consideráveis,
exigindo assim uma armadura que pode ser bastante intensa, no seu combate.
Por conta disso, entende-se que não se pode considerar simplesmente que uma viga de
transição seja uma viga de vão grande ou mais carregada. Ela é diferente, já que não tem a
relação entre seção e esforços proporcional às vigas mais convencionais. Nas vigas de
transição, o aumento de esforços não somente aumenta as tensões, mas também faz com
que apareçam tensões adicionais, o que gera a necessidade de novas armaduras em sua
constituição. A chance de se ter vigas de transição super armadas e difíceis de serem
executadas é grande e deve ser evitada.
6. ESTUDOS DE CASOS
6.1 Edifício Brookfield Malzoni, São Paulo – SP
O Edifício Brookfield Malzoni, que hoje sedia a empresa Google, é um dos mais
modernos edifícios comerciais já construídos em São Paulo – SP. Foi construído em um
terreno onde havia uma casa bandeirista, tombada em 1982 pelo Conselho de Defesa do
Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat). Por se tratar de
área a ser preservada, a área ao seu redor, de 2000 m², não poderia ser solicitada com as
cargas do edifício. Por isso, o edifício precisou ser projetado com um grande vão cobrindo
a área a ser preservada, sobre a qual não poderiam existir pilares. Assim, o projeto foi
desenvolvido com duas grandes torres, apoiadas diretamente no solo, ligadas entre si por
uma torre intermediária de 12 andares, apoiada sobre quatro vigas de transição maciças,
com vãos de 44,4 m. Essa torre intermediária ficou localizada, em partes, sobre a área
tombada (TÉCHNE, 2012).
As Figuras 2 a 7 dão uma ideia da situação do projeto do edifício. A Figura 2 mostra o
terreno de aproximadamente 20000 m² em fase de escavação, formando um “U” ao redor
da área a ser preservada. No total, a escavação alcançou uma profundidade de 18 m, para a
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 2 – Terreno já escavado para a construção do edifício, destacando a área preservada (não
escavada)
Figura 3 – Vista do edifício pronto, mostrando o seu vão central sobre a área preservada
682
683
O projeto estrutural, desenvolvido pelo Eng. Mario Franco (JKMF), resultou em vigas
maciças em concreto, protendidas, com altura de 6,0 m e volume de concreto de 700 m³
cada uma (o que correspondeu a 110 caminhões betoneira por viga). A solução
arquitetônica e estrutural adotada para esse caso mostrou um bom uso de estrutura de
transição e possibilitou o bom aproveitamento do terreno, apesar de parte da sua área ser
tombada. Contudo, não foi uma solução simples (TÉCHNE, 2012).
O momento fletor das vigas de transição mais carregadas chegou a 60.000 tfm, valor de
grande magnitude para estruturas de edifícios. Por conta dos esforços elevados, as vigas de
transição internas do Ed. Brookfield Malzoni receberam 24 cabos com 24 cordoalhas de 15,2
mm de diâmetro, com força inicial de protensão de 11760 tf (FRANCO, 2016). Como
parâmetro de comparação, as vigas de cobertura e piso do MASP, Museu de Arte de São
Paulo, com aproximadamente 70 m de vão, apresentam respectivamente momentos
aproximados de 9000 tfm e 20400 tfm (CÁRDENAS, 2015).
A solução estrutural do Ed. Malzoni foi bastante diferenciada em relação ao que
normalmente se faz em edificações e a execução das vigas também precisou ser especial,
devido ao grande volume de aço e concreto nas peças. Por conta da intensa armadura das
peças, usou-se concreto autoadensável com fck = 50MPa. No projeto de fôrmas, foi
considerada a pressão elevada do grande volume de concreto, adotando-se um controle da
velocidade da concretagem, para se manter as pressões dentro dos valores previstos pelo
cálculo. Para se ter um melhor controle da fissuração, devido ao grande calor de hidratação
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
gerado pelas peças volumosas em concreto, a massa de concreto teve sua água
substituída por gelo, o que permitiu um controle da temperatura da massa durante a
concretagem: o concreto entrou nas formas com temperatura de 16ºC e, devido à reação de
hidratação do cimento, chegou a uma temperatura máxima medida de 65ºC.
684
O Ed. Brookfield Malzoni apresenta-se como um caso interessante de aplicação de vigas de
transição em edifício de alto padrão. Sua concepção aconteceu juntamente com a concepção
do projeto em si, como uma necessidade técnica de bom uso do espaço. O edifício foi
construído em uma região da cidade bastante valorizada pelo mercado imobiliário, que
justificava um aproveitamento máximo da área disponível à construção do empreendimento.
Apesar da existência dessas vigas ter aumentado o cronograma de obra e dificultado a sua
execução, a opção pela transição não impediu que o projeto de cada torre apresentasse uma
organização visual e conceitos de modulação estrutural preconizados por Vitruvius, expostos
acima. Os esforços elevados foram concentrados em quatro vigas, que receberam atenção
especial em seu projeto e execução e foram feitas com cuidado extremo e alta tecnologia.
Pensando no ensino da arquitetura, observa-se que não seria possível se encaixar vigas
como as adotadas neste caso, com seis metros de altura, de forma simplista em projetos.
Tanto o ensino de projeto, como de estruturas, deveriam, nesse caso, desenvolver uma
análise criteriosa sobre as reais necessidades desses elementos, assim como sobre as
implicações do seu uso.
686
687
A Tabela 1 mostra uma visão geral do corte vertical do edifício, com 21 pavimentos. Nela
estão indicados os pavimentos que receberam as vigas de transição, assim como os valores
mínimos e máximos de dimensões das seções transversais dessas peças, retangulares, e de
sua força de protensão.
Foram necessárias 49 vigas de transição protendidas para viabilizar o projeto, com alturas
variando entre 42 cm e 126 cm. Isso certamente comprova o potencial arquitetônico dessas
vigas e mostra que o projetista do edifício em questão conhecia as vantagens do uso desse
tipo de elemento para a arquitetura. Paralelamente, esse caso nos traz a seguinte questão:
perante as considerações teóricas já expostas sobre vigas de transição, até que ponto o
projetista teria conhecimento técnico sobre suas desvantagens? Quais outras soluções para
a concepção estrutural teriam sido estudadas, para se concluir que essa seria a mais
adequada? Se o projetista conhecia os potenciais perigos de uma viga de transição, por
quais motivos ele optaria por inserir 49 unidades desse tipo em seu projeto?
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Novamente pensando no ensino da arquitetura, observa-se que não seria possível se encaixar
solução similar à adotada nesse caso de forma simplista em projetos. Em um caso similar, seria
interessante tanto ao ensino de projeto, como ao de estruturas, o desenvolvimento de uma
análise criteriosa sobre as reais necessidades dos elementos de transição, assim como sobre as
688
implicações do seu uso. Seria uma solução estrutural de alto nível de complexidade.
Identificação e
Variação na força de
quantidade de vigas Seção transversal mínima e
protensão das vigas
Piso de transição e/ou máxima das vigas protendidas
(mínimo a máximo
protendidas devido no pavimento
por pavimento) (tf)
às transições
1061,64 tf (V419)
3 vigas: a
Teto da sobreloja 145 x 106
V429, V419, V412
1415,52 tf (V412 e
V429)
Teto do térreo Não aplicável
13 vigas: V242, V252,
V267, V270, V271, 50 x 101 (V237) 393,2 tf (V237)
Teto do 1º subsolo V261, V244, V237, e a
V206, V239, V229, 120 x 101 (V229) 2280,56 tf (V229)
V232, V219
Teto do 2º subsolo Não aplicável
Baldrame Não aplicável
Total 49 vigas
Fonte: Organizado pela autora, 2017.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
7. CONSIDERAÇÕES
Vigas de transição são elementos delicados, por conta das consequências de elevadas
cargas concentradas aplicadas em sua superfície. Todas as etapas inerentes ao seu uso em
edificações, desde o projeto, até a manutenção, devem receber cuidados especiais, por
689 tratar-se de elementos altamente solicitados e, normalmente, de grande responsabilidade
estrutural. O uso de vigas de transição deve ser feito com parcimônia e total conhecimento
técnico a respeito das suas consequências. Criar elementos de transição no meio do
desenvolvimento de um projeto cuja estrutura já está concebida, para resolver problemas
arquitetônicos de uso do espaço, pode não ser uma atitude coerente. Isso seria uma
adequação da estrutura ao projeto já em desenvolvimento, e não de uma concepção de
projeto e estrutura definidos a partir de critérios técnicos importantes para ambos.
Nesses casos, possivelmente seria mais adequado se fazer uma revisão do projeto
arquitetônico e da concepção estrutural, de forma a se evitar os elementos de transição.
Elementos de transição são recomendados em casos de necessidades técnicas, tais como a
impossibilidade de se alocar pilares sobre determinada região, e considerados coerentes em
situações nas quais a sua indicação nasce junto ou até mesmo antes do projeto arquitetônico.
Os dois casos analisados, de aplicação real desses elementos, mostraram usos
completamente diferentes da solução, ambos aplicados em edifícios de alto padrão. No
primeiro caso, os elementos de transição resolveram um problema técnico, da
impossibilidade de se alocar cargas sobre determinada região. Optou-se por desenvolver a
edificação sobre a área em questão, deslocando os esforços dela advindos para quatro
elementos de transição, todos posicionados em um mesmo nível da edificação e executados
simultaneamente. Esses elementos ofereceram uma solução para a necessidade da
edificação e da área tombada existirem juntos. Tanto o projeto, como a execução dessas
peças, foram bastante complexos. Ainda assim, a edificação projetada sobre essas vigas teve
um projeto ordenado, modulado, sem deixar de ser de alto padrão e sem qualquer
necessidade de transições adicionais.
No segundo caso, os elementos de transição resolveram um problema de arquitetura,
que optou por um projeto diferenciado entre os pavimentos, sem a compatibilização da
estrutura. A escolha por esse tipo de solução não parece ter sido originada com a concepção
da arquitetura, mas como consequência sua, como uma necessidade de se estruturar o
projeto arquitetônico sugerido. A edificação teve um projeto desenvolvido com pouca
modulação estrutural e vigas de transição foram distribuídas em grande quantidade por
cinco pavimentos do edifício, desde a sua base, até quase o seu topo. Tanto projeto, como
execução, foram bastante complexos e prolongados, pela quantidade elevada dos
elementos de transição espalhados pela edificação.
A comparação entre os dois casos analisados nos permite entender que antes de se
confirmar o uso de elementos de transição em um projeto, convém que seja verificada a sua
real necessidade, perante eventuais possibilidades de alterações no projeto arquitetônico.
Os dois edifícios analisados compreendem construções de alto padrão e o fato de um deles
ter mais vigas de transição do que o outro, não lhe atribui maior valor nesse sentido. No
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primeiro caso, a necessidade de vigas de transição não tem relação direta com o padrão da
edificação, mas com aspectos técnicos. No segundo caso, as vigas de transição permitiram a
não repetição de pavimentos, possivelmente desejada no empreendimento de alto padrão.
Os dois projetos analisados mostram que vigas de transição são elementos que podem
690
oferecer à arquitetura soluções bastante interessantes. Contudo, a sua escolha deve levar
em consideração que se trata de elementos de grandes dimensões, com elevada densidade
de armadura, concreto de alta resistência e grande responsabilidade estrutural. Ambos
justificam a afirmação de que a arquitetura pode usá-las, mas deve, sempre que possível,
procurar conceber o arranjo estrutural de forma a minimizar a ocorrência dessas vigas.
Ao ensino da arquitetura, o que envolve tanto projetos, como estruturas, cabe a tarefa de
esclarecer sobre o potencial dessas vigas como ferramenta arquitetônica, e também sobre
sua complexidade e possíveis implicações do seu uso, tanto estéticas como estruturais.
REFERÊNCIAS
MODLER, Nébora Lazzarotto (1); MACIEL, Marcela Álvares (2); LAURETT, Camila Chaves Rael (3)
RESUMO
No Projeto Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Fronteira
Sul, a organização curricular dos semestres privilegia a integração horizontal de componentes
curriculares nas disciplinas de projeto arquitetônico, através de ênfases, sendo para o quarto
semestre elencada a ênfase nos sistemas estruturais. O presente trabalho apresenta a experiência
didática do componente curricular Projeto Arquitetônico e os Sistemas Estruturais (PASE) com o
objetivo de avaliar de que forma as estratégias projetuais adotadas pelos discentes refletiram a
apreensão dos conceitos estruturais estudados. Para a exploração do potencial tectônico da
estrutura, a organização didático-pedagógica de PASE é baseada na classificação dos sistemas
estruturais proposta por Engel. Assim, o plano de ensino estipula o desenvolvimento de dois estudos
preliminares híbridos nos quais os sistemas estruturais a serem empregados no projeto são
preestabelecidos: o primeiro é baseado na associação entre os sistemas em seção ativa e vetor ativo
e, o segundo, nos sistemas de forma e superfície ativa. Sendo cada módulo de estudo preliminar
composto por aulas teóricas, atividades de interação prática com modelos, bem como
assessoramentos. Os resultados apontam para a contribuição das atividades práticas com modelos
no processo de ensino-aprendizagem. Também se verifica um avanço na apreensão projetual quanto
à tecnologia construtiva. Contudo, é possível identificar deficiências de ordem estético-compositivas
nas propostas arquitetônicas, o que revela dificuldade do aluno em propor a solução estrutural como
a protagonista da concepção arquitetônica.
Palavras-chave: Projeto de arquitetura; Ensino de estruturas; Tectonicidade.
ABSTRACT
In the Pedagogical Plan of the Architecture and Urbanism Course at Universidade Federal da
Fronteira Sul (UFFS) the semesters curricular organization privileges the integration of curricular
components in architectural project subjects by means of emphasis, which is, in the fourth semester,
structural systems. This paper presents didactic experience in the Architectural Project and Structural
Systems subject, aiming to evaluate in which the project strategies adopted by the students reflect
the understanding of the structural concepts studied. In order to explore the structure tectonic
potential, the didactic pedagogical organization of the subject is based on the structural systems
classification proposed by Engels. Therefore, the teaching plan stipulates the development of two
pre-established studies: the first one is based on blend between the section active and vector active
structural systems, and the second one is based on the form active and surface active systems. Each
module of preliminary study is composed by theoretical classes, activities of practical interaction with
models and advisories. Results indicate the practical activities contribution with models in the
teaching-learning process. It is also verified an improvement in the project understanding regarding
the constructive technology. However, it is possible to identify aesthetic and compositional
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
deficiencies in the architectural proposals, which reveals the students difficulty in proposing
structure solutions as protagonists of the architectural conception.
692
1. INTRODUÇÃO
Pesquisas acerca dos métodos de ensino de estruturas nas escolas de arquitetura, bem
como do processo de formação do arquiteto em tecnologia têm sido desenvolvidas
buscando, sobretudo, destacar a importância da compreensão das estruturas para o
processo de concepção arquitetônica (LEITE, 2005; MINTO, 2009; SARAMAGO, 2011).
Contudo, na realidade da maior parte da prática de projeto arquitetônico, na academia e na
profissão, verifica-se a ausência de tectonicidade, bem como sua desconsideração ou
marginalização da estrutura em relação à gênese da forma arquitetônica.
Segundo Resende et al. (2015, p. 8), “faz-se necessário entender como se articula a
concepção estrutural no ensino/aprendizado do projeto de arquitetura e que dinâmicas
poderiam facilitar essa articulação”. Conforme Leite (2005), a contemplação da abordagem
tecnológica nos planos pedagógicos dos cursos não implica necessariamente em aumento de
carga horária, mas sim pode ser atingida com a qualificação de práticas didáticas nos
processos de ensino-aprendizagem.
De acordo com Torroja (1960) apud Duarte (2010), a concepção estrutural deve,
necessariamente, estabelecer a conexão entre processos técnicos e artísticos. Para ele, esta
é fruto do processo criativo e pertence a uma etapa do processo de planejamento
arquitetônico anterior ao cálculo que quantifica a estrutura.
Medeiros (2015) realizou experiência didática sobre ensino de projeto arquitetônico com
o objetivo de refletir sobre a relação que se estabelece entre a arquitetura e os seus
aspectos técnico-construtivos. Observou que a atenção conferida pelos discentes aos
aspectos tecnológico-construtivos em seus projetos serviu como estímulo à criatividade na
solução projetual.
O Projeto Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da
Fronteira Sul (UFFS) determina que o processo de ensino-aprendizagem de cada semestre seja
focado em uma ênfase temática, a qual oferece uma forma de integração horizontal entre os
componentes curriculares. As ênfases ao longo dos semestres são: 1º “Arte”; 2º “Desenho”; 3º
“Materiais; 4º “Sistemas estruturais”; 5º “Ambiente”; 6º “A cidade e o edifício”; 7º
“Paisagem”; 8º “ Infraestrutura”; 9º “ Região” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2010).
Partindo do pressuposto de um processo de ensino-aprendizagem cumulativo, as ênfases
pretendem introduzir novas temáticas, considerando um grau crescente de complexidade a
cada semestre. O primeiro semestre do curso dedica-se à compreensão do conceito de
arquitetura, passando pelas suas interfaces entre arte e técnica. O segundo semestre dedica-
se ao desenho como ferramenta não só de representação técnica, mas também do processo
criativo da práxis arquitetônica. No terceiro semestre, os alunos são introduzidos aos
sistemas construtivos, com ênfase nos materiais e sua tectônica. Assim, arte, desenho e
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1
De acordo com Ching (1998), consideram-se como princípios de ordem: eixo, simetria, hierarquia, ritmo e dado.
2
De acordo com Ching (1998), considerando-se como dado: uma reta, um plano ou volume que, por sua
continuidade e regularidade, servem para organizar o padrão de formas e espaços; elemento unificador, capaz
de criar uma linguagem entre diferentes elementos.
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Estudos Preliminares
A partir da proposta apresentada no Módulo I, composto pela associação de sistemas de
massa ativa e vetor ativo, foi possível diagnosticar algumas dificuldades, bem como um perfil
arquitetônico predominante. As soluções volumétricas resultaram em composições
predominantemente ortogonais, o que se entende como um reflexo do programa que abriga
áreas retangulares inscritas (referente à quadra poliesportiva e piscina), bem como
influência dos elementos estruturais com geometria prismática trabalhados neste módulo,
como vigas, pilares e pórticos. As limitações em repertório formal no Módulo I são
justificadas pela ênfase dada em aspectos de dimensionamento dos sistemas estruturais,
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figuras 11 e 12 – Estudos preliminares dos discentes: associação entre massa e vetor ativo
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Figura 13 – Estudos preliminares dos discentes: associação entre forma e superfície ativa
Também, nas propostas que adotaram volumetrias complexas, tais como os parabolóides
hiperbólicos e elípticos, os resultados evidenciaram algumas inadequações de ordem
funcional, como, por exemplo, áreas internas ociosas e insuficiência de iluminação e
ventilação natural. Quanto a este último aspecto, observou-se que os discentes encontraram
certa dificuldade em lançar as esquadrias e planejar a composição estética das fachadas,
prejudicando, inclusive, a condição de conforto dos ambientes internos. Já as propostas
estruturadas a partir de placas dobradas, predominantemente, apresentaram soluções de
fechamentos verticais coerentes quanto às esquadrias (Figuras 14 e 15).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figuras 14 e 15 – Estudos preliminares dos discentes: associação entre forma e superfície ativa
699
3.2 Anteprojeto
Nesta etapa, o exercício projetual passou a ser desenvolvido individualmente. Cada
aluno optou por seguir com um dos estudos preliminares anteriores a fim de alcançar o nível
de anteprojeto. O objetivo proposto para este módulo era que a proposta arquitetônica
fosse adaptada para que se tornasse uma composição híbrida, ou seja, que contasse com
associações entre os sistemas estruturais estudados, associação esta que seria de livre
escolha do discente.
O módulo contou com aulas sobre ligações entre diferentes sistemas estruturais,
estruturação de envoltórias e pré-dimensionamento através de fórmulas empíricas com base
em Rebello (2000) e Rebello (2007). Destaca-se, nesse caso, a importância da associação entre
os ábacos para pré-dimensionamento e fórmulas empíricas para a estimativa dimensional do
sistema estrutural em nível de anteprojeto. Os resultados deste módulo sugerem o
desenvolvimento da maturidade das propostas dos alunos em termos de estabilidade
estrutural, praticamente inexistindo propostas deficientes nesta questão. Destaca-se, neste
ponto, a importância da utilização de modelos reduzidos para o desenvolvimento de uma
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
4. CONSIDERAÇÕES
No presente trabalho, foram apresentadas as práticas de ensino-aprendizagem de
sistemas estruturais desenvolvidas no ateliê de projeto integrado da quarta fase do curso de
Arquitetura e Urbanismo da UFFS no ano de 2016. Essa componente curricular utilizou como
eixo estruturante a classificação dos sistemas estruturais preconizada por Engel (1997) e pré-
dimensionamento estrutural de acordo com ábacos e equações empíricas apresentadas por
Rebello (2000).
Em termos didático-pedagógicos, a proposta foi organizada em três módulos. Para o
primeiro módulo (desenvolvido em duplas), adotou-se, para o exercício projetual do Centro
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AGRADECIMENTOS
Agradecimentos aos discentes da turma de PASE 2016 do Curso de Arquitetura e
Urbanismo da UFFS, aos monitores Alencar Ricardo Trentin, Edivan Arruda de Oliveira e Luís
Caribe Padilha da Silva, bem como à Pro-Reitoria de Graduação da Universidade Federal da
Fronteira Sul.
REFERÊNCIAS
CHARLESON, A. A estrutura aparente: um elemento de composição em arquitetura. Porto Alegre:
Bookman, 2009.
CHING, F. D. K. Princípios de Ordem. In: Ching, F. D. K. Arquitetura, forma, espaço e ordem. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.
DUARTE, M. M. Maquetes estruturais como auxílio no processo de ensino e aprendizagem do
comportamento estrutural através de análise qualitativa. In: XXXVIII Congresso Brasileiro de
Educação em Engenharia - COBENGE, Fortaleza, 2010. Disponível em:
<http://198.136.59.239/~abengeorg/CobengeAnteriores/2010/artigos/591.pdf>. Acesso em: 21 jun.
2017.
ENGEL, H. Sistemas de Estruturais. São Paulo: Hemus, 1997.
LEITE, M.A.D. F. D. Aprendizagem tecnológica do arquiteto. 2005. Tese (Doutorado) – Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL - UFFS PRÓ-REITORIA DE
GRADUAÇÃO DIRETORIA DE ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA. Projeto Pedagógico do Curso de
Graduação em Arquitetura e Urbanismo – Bacharelado. Chapecó, 2010.
MEDEIROS, R. Ensino de projeto e aplicação de conteúdo tecnológico: uma experiência didática. In:
VII PROJETAR: Seminário nacional sobre ensino, pesquisa e prática em projeto de arquitetura e
urbanismo, 2015, Natal. Anais... Natal: Firenze, 2015. v. 1. p. 1-12.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
LLOYD, Ana Luísa Lima (1); SILVA, Maria Beatriz de Castro (2)
RESUMO
Este trabalho busca apresentar experiência vivenciada ao longo de 7 semestres de integração entre
as disciplinas de Estúdio de Arquitetura: Habitação e de Sistemas Estruturais e Construtivos:
construções de pequeno porte – SEC. Com foco na alvenaria autoportante, busca promover reflexões
e discussões acerca da metodologia adotada e sua repercussão no processo de ensino-aprendizagem.
Para isso, são apresentados os pressupostos e toda a estrutura do curso, identificando sua espinha
dorsal, dando ênfase no módulo a ser analisado neste artigo, destacando as possibilidades de
integração horizontal entre suas disciplinas, em especial nas disciplinas de Estúdio de Arquitetura e
de Sistemas Estruturais e Construtivos – SEC. O trabalho embasa-se na relação da arquitetura e
estrutura por Rebello (2003), além de Saramago e Lopes (2009); e, na discussão do ensino, por Freire
(1996) e Pombo (2006); do ensino de arquitetura e estrutura por Rebello e Leite (2015), e também
Arsenic, Longo e Borges (2011). São apresentados estudos de caso com projetos arquitetônicos de
alunos da disciplina de Estúdio, apoiados pelos conteúdos de sistema estrutural e construtivo da
disciplina de SEC, trabalhados em mesmo momento no curso. Também são realizadas entrevistas
com alunos, possibilitando entender, sob sua ótica, o processo e o alcance da aprendizagem, a partir
da didática adotada. Diante dos estudos apresentados, são apontadas potencialidades que precisam
ser reforçadas nas disciplinas para garantir melhor aproveitamento, bem como fragilidades e
entraves detectados e sugestões para aprimorar a articulação horizontal e possibilitar avanço na
interdisciplinaridade e no processo de ensino aprendizagem.
Palavras-chave: Ensino de arquitetura e estrutura; Interdisciplinaridade; Arquitetura e estrutura
autoportante; Ensino-aprendizagem; Experiência didática em arquitetura.
ABSTRACT
This work seeks to present lived experience during 7 semesters of integration between the disciplines
of Architecture Studio: Housing and that of Structural and Constructive Systems – SCS. With a focus
on the self-supporting masonry, promote discussions about the Methodology and its repercussion in
the teaching-learning process. The assumptions and the entire structure of the course presented,
identifying its backbone, emphasizing the module analyzed in this article, highlighting the possibilities
of horizontal integration between its disciplines, especially in the disciplines of Architecture Studio
and SCS. The work is based on the relation of architecture and structure by Rebello (2003), and also
by Saramago and Lopes (2009), discussion about teaching by Freire (1996) and Pombo (2006) and
teaching of architecture and structure by Rebello and D`Azevedo (2015), and also by Arsenic, Longo
and Borges (2011). Case studies are presented with architectural projects of students of the Studio
discipline, supported by the structural and constructive system contents of the SCS discipline, worked
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
at the same time in the course. Interviews are also carried out with the students, making it possible to
understand, from their point of view, the process and the scope of learning, based on the didactics
adopted. Finally, in view of the presented studies, the potentialities that need to be reinforced in the
disciplines to ensure better use are pointed out, as well as the fragilities and obstacles detected and
suggestions to further improve the horizontal articulation and to allow advance in interdisciplinarity
704 and in the process of teaching learning.
Keywords: Teaching architecture and structure; Interdisciplinarity; Architecture and self-supporting
structure; Teaching learning; Didactic experience in architecture.
1. INTRODUÇÃO
Um Complexo de Habitação e Serviços é o tema central da disciplina de Estúdio de
Arquitetura: Habitação, que acontece no quinto período, chamado de Módulo 3A, no curso
de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Belo Horizonte – UNIBH. Este é o
momento do curso em que os alunos começam a trabalhar com questões de maior
complexidade, tanto do ponto de vista físico, quanto conceitual. O mesmo acontece com a
articulação entre as disciplinas do módulo, cujos conteúdos são complementares. Na
disciplina de Sistemas Estruturais e Construtivos: construções de pequeno porte – SEC, é
trabalhado o sistema autoportante, mais especificamente a alvenaria estrutural, aplicado ao
projeto. Devido à maior complexidade do tema, há naturalmente uma integração entre as
disciplinas do módulo, resultando num trabalho interdisciplinar. Porém, os projetos
resultantes desse módulo, em experiências anteriores a 2016, apresentavam-se pouco
investigativos tanto do ponto de vista da arquitetura e sua relação com o contexto, como do
ponto de vista técnico, que nada mais eram do que a consequência de uma arquitetura
pouco explorada e pouco comprometida com o lugar.
É diante desse cenário que este estudo procura entender os avanços e entraves que
permeiam o módulo, e que, de alguma forma, repercutem no ensino-aprendizado, focando
o trabalho na integração entre as disciplinas de Estúdio de Arquitetura: Habitação e SEC –
Sistemas Estruturais e Construtivos: Construções de pequeno porte. Trabalhos de alunos que
cursaram este módulo entre 2014-2015 e 2016-2017/1 são confrontados e analisados,
portanto, apresentando diferentes resultados, proporcionados pelas mudanças na prática
didática das duas disciplinas.
Assim, inicia-se a pesquisa a partir de alguns autores que lidam com temas relativos ao
ensino, seja ele focado ou não no ensino de arquitetura e estrutura, como Paulo Freire,
Yopanan Rebello e Maria Amélia Leite, além de Rita de Cássia Saramago e João Marcos de
Almeida Lopes, como também Nikola Arsenic, Orlando Celso Longo e Marcos Borges. Olga
Pombo discursa também sobre o tema interdisciplinaridade.
A partir dessas bases fundamentais para almejar bom caminhamento para os resultados
alcançados em sala de aula, focando no ensino das disciplinas de Estúdio de Arquitetura e de
SEC, entende-se a importância de identificar as lacunas e potencialidades existentes nessas
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
que a curiosidade é a “pedra” fundamental do pensamento do ser humano e é ela que o faz
perguntar, atuar e se re-conhecer.
Baseando-se na curiosidade que nos move, o professor deve, portanto, instigar o
estudante a buscar respostas tanto na vivência prática do cotidiano quanto em conteúdos
706
discutidos em outras disciplinas, sendo catalizador da integração entre elas, fortalecendo a
capacidade crítica, a capacidade de tomada de decisão e a criatividade do aluno para
enfrentar as questões envolvidas. Ao mesmo tempo, deve possibilitar ao aluno o
entendimento de que a interdisciplinaridade é fundamental e que as disciplinas dependem
umas das outras quando se tem um único objetivo.
Segundo Arsenic, Longo e Borges (2011), muitas escolas de arquitetura ainda apresentam
currículos que dificultam a integração entre as disciplinas e, dessa forma, o estudante tem
dificuldade para entender a relação prática entre elas no desenvolvimento de um projeto.
Além disso, segundo os autores, problemas didáticos também são detectados como
agravantes da aprendizagem nas escolas, com metodologias que priorizam o “como ensinar”
ao “como aprender”.
Para possibilitar fluidez na proposta de interdisciplinaridade de uma escola, sem dúvida, é
preciso transformação e amadurecimento de sua proposta pedagógica. Mas, além disso, é
preciso também transformação na atitude de cada docente envolvido. Uma escola que
apresenta um bom projeto pedagógico, com currículo que possibilite boa articulação
disciplinar, não necessariamente será um curso de excelência no assunto
interdisciplinaridade. Pombo (2006) discursa sobre o interesse no que o outro tem a dizer e
na disponibilidade de cooperação quando se trata de um trabalho em comum:
Finalmente uma última palavra para dizer que a interdisciplinaridade se deixa
pensar, não apenas na sua faceta cognitiva - sensibilidade à complexidade,
capacidade para procurar mecanismos comuns, atenção a estruturas profundas
que possam articular o que aparentemente não é articulável - mas também em
termos de atitude - curiosidade, abertura de espírito, gosto pela colaboração, pela
cooperação, pelo trabalho em comum. Sem interesse real por aquilo que o outro
tem para dizer não se faz interdisciplinaridade. Só há interdisciplinaridade se somos
capazes de partilhar o nosso pequeno domínio do saber, se temos a coragem
necessária para abandonar o conforto da nossa linguagem técnica e para nos
aventurarmos num domínio que é de todos e de que ninguém é proprietário
exclusivo (POMBO, 2006, p.13).
pelos blocos de concreto de medidas igual ou múltiplas de 15 foi uma escolha pautada,
principalmente, na facilidade de se trabalhar com uma modulação onde o comprimento e a
largura dos blocos estão inseridos na mesma malha modular de 15 por 15 cm.
A interdisciplinaridade aparece como ponto fundamental para o desenvolvimento do
709
estudante neste módulo. A partir de 2016, a disciplina de SEC passa a apresentar um
formato mais aproximado do cronograma da disciplina de Estúdio de Arquitetura. Enquanto
a disciplina de Estúdio de Arquitetura está trabalhando questões básicas iniciais que
auxiliarão os estudantes futuramente no projeto integrado, a disciplina de SEC também
trabalha fundamentos e noções básicas da alvenaria estrutural, como a análise do sistema, o
conhecimento da coordenação modular, o projeto estrutural e os subsistemas. Dessa forma,
os alunos fazem um workshop com blocos em escala reduzida, simulando amarrações nas
fiadas e elevações, para uma melhor compreensão do sistema.
No trabalho Integrado, os alunos apresentam seus projetos em plantas das fiadas e
desenho das elevações. Para melhor entendimento das amarrações, das vergas,
contravergas, cintamento e lajes, desenvolvem uma modelagem digital com o desenho dos
blocos e fiadas a partir de uma legenda padronizada e disponibilizada como um material
didático de apoio, a partir de 2016.
Já com base e suporte técnico avançado, outra atividade avaliativa na disciplina de SEC
faz o fechamento do semestre. É solicitado o desenvolvimento de um wall section em um
dos edifícios desenvolvidos no projeto. Nesta atividade, há o desenvolvimento de um
desenho em escala mais ampliada, onde são apontados os tipos e função dos blocos,
esquema de laje e apoios, materiais que compõem as fachadas, seus revestimentos e
detalhes construtivos, do solo até a cobertura. Complementando esta atividade, é entregue
um caderno de especificação de materiais de revestimento e acabamento.
Anteriormente, no início do semestre, enquanto a disciplina de E.A: Habitação trabalhava
com o exercício inicial sobre unidades habitacionais e agrupamentos, a disciplina de SEC
trabalhava o entendimento das fases iniciais da obra, como sondagem, locação, canteiro de
obras, etc. Havia, portanto, um descompasso entre os cronogramas das disciplinas de
Estúdio Arquitetura e SEC, apesar da tentativa de integração entre elas. O aluno iniciava o
projeto, portanto, sem o conhecimento das características do sistema da alvenaria
estrutural, e iniciava a modulação apenas no próximo trabalho, o anteprojeto do trabalho
integrado. Com a adequação dos cronogramas, a integração entre os conteúdos das duas
disciplinas aconteceu com maior eficiência.
4. METODOLOGIA
alunos percebiam a integração entre elas. As perguntas foram enviadas por e-mail a todos
os estudantes que cursaram esse módulo em 2016, deixando livre o retorno, a quem
quisesse cooperar com a pesquisa. Um total de 19% respondeu ao questionário e foi com
base nestas respostas que as análises foram realizadas.
710 4.1 Estudos de caso
O estudo abaixo, desenvolvido antes de 2016, refere-se ao primeiro trabalho definido na
disciplina de Estúdio de Arquitetura: habitação (Figuras 1 e 2). Nesse momento, os alunos
ainda não têm informações sobre o funcionamento do sistema construtivo em alvenaria
estrutural na disciplina de SEC, já que estão estudando sobre as fases que antecedem a
própria obra – sondagem, canteiro de obras, locação da obra – e fundações, contenções,
entre outros conteúdos. Assim, eles somente apresentam na disciplina de Estúdio as
unidades habitacionais com os blocos de alvenaria inseridos em módulos de 15 cm. Partindo
inicialmente da definição das unidades habitacionais, eles propõem logo em seguida os
agrupamentos dessas habitações. Esse trabalho não tem um contexto específico e nem um
lote, sendo focado somente no edifício, na discussão das unidades habitacionais (fluxo,
ventilação, iluminação, leiaute, etc.) e dos agrupamentos (circulações verticais e horizontais,
ventilação, iluminação).
Fonte: Ana Luisa Lloyd, 2014-2. Fonte: Ana Luisa Lloyd, 2014-2.
Figura 4 – Trabalho integrado. Estudo preliminar e anteprojeto: implantação. EA: habitação, 2014.
Alunos 04 e 05. Profs: Ana Luisa Lloyd e Alexandre Brasil
Figura 5 – Trabalho final: Planta das fiadas e elevação. SEC, 2014. Alunos 04 e 05. Profs. Maria Beatriz
de Castro Silva e Rafael Cristelli
712
que eu estava fazendo... creio que devido ao grande impacto que sofremos, pois
até o quinto período o máximo que havíamos projetado era uma creche. Penso que
se o contato com o projeto fosse mais tranquilo em volume de trabalho seria mais
proveitoso aos alunos, além de possibilitar um trabalho mais detalhado
(Depoimento do Aluno B do semestre 2016-2).
O que mais me incomodou não só nessa disciplina foi o tempo. Foi tudo muito
713 corrido e às vezes entregava um trabalho correndo que eu poderia melhorar mais e
me dedicar mais, mas o tempo era curto, então as vezes não ficava satisfeita com a
entrega final (Depoimento do Aluno C do semestre 2016-2).
Fica claro, para esses alunos, que a disciplina de Estúdio Arquitetura: Habitação deve ter
proposta bem fundamentada e conectada com o lugar (conceitos e estratégias) e, ainda, ter
qualidade funcional, espacial e ambiental. Importante destacar os conceitos de flexibilidade
e adaptabilidade que começam a surgir.
De maneira resumida, a disciplina estimula o trabalho em equipe, auxilia no
entendimento do diagnóstico urbano para estabelecer diretrizes e estratégias que
tornam o projeto uma ferramenta para pessoas, além de se “encaixar” e
“conversar” com seu entorno e com a cidade. Conceitos importantes do ponto de
vista arquitetônico foram muito bem difundidos na disciplina, como exemplo a
adaptabilidade e flexibilidade aplicados ao projeto, utilização de recursos naturais
referentes à iluminação e ventilação, assim como a relação entre plástica e
funcionalidade (Depoimento do Aluno A do semestre 2016-2).
valia. Não diria que tive um entrave, mas sim o desafio de compatibilizar o projeto
arquitetônico com o sistema construtivo em alvenaria estrutural e as instalações
(Depoimento do Aluno A do semestre 2016-2).
Muitas vezes tínhamos algumas ideias que não podiam ser levar para frente, mas
foi completamente aceitável tendo em vista que temos que pensar em várias coisas
para a elaboração do projeto, e às vezes não dá para fazer tudo que queremos
714 (Depoimento do Aluno C do semestre 2016-2).
5. RESULTADOS
Figura 6 - Trabalho inicial: Diagrama de lugar e Diagrama de Estratégia de projeto. EA: Habitação,
2016-2. Grupo 01: 4 alunos. Profs: Ana Luisa Lloyd e Alexandre Brasi
Figura 7 – Trabalho inicial: Diagramas de estratégia de projeto. EA: Habitação, 2016-2. Grupo 01: 04
alunos. Profs: Ana Luisa Lloyd e Alexandre Brasil
715
Figura 8 – Trabalho inicial: Estratégia de projeto. EA: Habitação, 2017-1. Grupo 02: 04 alunos.
Profs: Ana Luísa Lloyd, Alexandre Brasil e Pedro Morais
Figura 9 – Trabalho Integrado: Anteprojeto – Estratégias de projeto. EA: Habitação, 2016-1. Alunos 06
e 07. Profs: Ana Luísa Lloyd e Alexandre Brasil
Os trabalhos práticos ofertados após esse primeiro exercício referem-se ao trabalho final.
Os alunos trabalham em área maior e agora desenvolvem trabalho integrado com todas as
disciplinas do módulo. (História da Arquitetura Brasileira, Instalações Prediais, Estúdio
Urbanismo: Planejamento Local e Sistemas Estruturais e Construtivos: construções de
716
pequeno porte – SEC).
A proposta de Estúdio habitação nessa fase inicia-se também com Conceitos e Estratégias
de projeto em diagramas (etapa iniciada após 2016) (Figura 9). Depois da fase de estratégias
projetuais, o trabalho avança com desenvolvimento de anteprojeto até o nível de
detalhamento. Nesse momento, os alunos já terão noção de como o sistema estrutural
realmente funciona e apresentam propostas mais detalhadas dos encaixes dos blocos
(Figuras 10 e 11).
Figura 10 – Trabalho final: imagens. EA: Habitação, 2016-2. Alunos 08 e 09. Profs: Ana Luísa lloyd
Lloyd e Alexandre Brasil
Figura 11 – Trabalho integrado: anteprojeto – plantas. EA: Habitação, 2016-1. Alunos 06 e 07. Profs:
Ana Luísa Lloyd e Alexandre Brasil.
Após 2016, os trabalhos de SEC começaram a ser apresentados com mais detalhes e
consistência (Figuras 12 e 13).
Figura 12 – Trabalho final: Wall Section. SEC: Construções de pequeno porte, 2016-2. Alunos 08 e 09.
Profs: Maria Beatriz de Castro Silva e Rafael Cristelli
717
Figura 13 – Trabalho final. Detalhamento de um dos blocos. SEC: Construções de pequeno porte,
2016-2. Alunos 08 e 09. Profs.: Maria Beatriz de Castro Silva e Rafael Cristelli
718
6. CONSIDERAÇÕES
Foram percebidos grandes avanços na disciplina de Estúdio de Arquitetura: Habitação
após 2016. No primeiro trabalho, a condução inicial na disciplina segmentava o
pensamento de alguns alunos, na medida em que o exercício de projeto era focado,
primeiramente, na unidade habitacional e, depois, no agrupamento dessas unidades. Os
alunos não conseguiam entender após esse exercício que, no processo de projeto, era
importante ter noção do todo e ao mesmo tempo das partes. O que ocorria era que os
alunos simplesmente replicavam as unidades habitacionais definidas a priori, tanto
horizontalmente, quanto verticalmente, sem nenhuma leitura do todo. Era evidente a falta
de intenção de projeto. As formas das unidades eram projetadas sem nenhum
entendimento do resultado final do agrupamento (Figuras 1 e 2).
Mesmo entendendo que era um exercício que se focava na arquitetura do edifício,
percebeu-se que a falta de contexto específico prejudicava o entendimento do aluno de
todo o processo de projeto. Era importante o entendimento de que era preciso lidar com
uma variável de condicionantes, muito além das estruturais e de arquitetura do edifício
isolado e, portanto, não teria como projetar o edifício desvinculado de seu contexto. A
proposta para o trabalho, que tinha foco na discussão de fluxos, iluminação, ventilação e
leiaute, quando se fechava no edifício, gerava resultados engessados e pouco investigativos
do ponto de vista da arquitetura e da estrutura. A partir de 2016, percebeu-se que a
inserção de um contexto em que os alunos eram instigados a responder, para além dessas
questões citadas, também às questões do lugar, através de diagramas de conceito e de
estratégias de projeto, gerando trabalhos mais consistentes. Os alunos, a partir de então,
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
iniciam um processo que os possibilita entender a relação do objeto com o seu entorno, as
propostas apresentadas são mais coerentes e suscitam dúvidas mais avançadas de estrutura,
instigando o aluno na pesquisa e aprofundamento dessas questões, contribuindo para o
aprendizado nas duas disciplinas.
720
A alteração do cronograma da disciplina de SEC, antecipando o conteúdo da alvenaria
estrutural permitiu que o processo inicial do projeto já fosse pensado e desenvolvido,
atendendo às especificidades inerentes ao seu sistema estrutural e construtivo. A partir de
2016, uma parte do conteúdo teórico, voltado às questões relativas à implantação e
determinantes de projeto foi retirada. O tempo destinado à atividade do projeto no SEC
ficou maior, o que permitiu avanços tanto na representação das fiadas e elevações (Figura
12), quanto no detalhamento de um wall section (Figura 13), que não havia anteriormente.
Como já mencionado, uma melhor adequação dos cronogramas das disciplinas de SEC e
Estúdio, bem como um material didático de apoio aos alunos, promoveram um trabalho final
diferenciado dos anteriores.
Assim, a proposta da disciplina de SEC: Sistemas Estruturais e Construtivos de pequeno
porte tem um papel importante na formação do aluno do curso, considerando todo o
projeto pedagógico. A partir desse estudo, conclui-se que essa disciplina não deve ser vista
como enrijecedora das propostas dos alunos. Pelo contrário, a partir das restrições e
potencialidades do sistema, os professores de projeto deverão incentivar propostas
instigantes e avançadas junto aos alunos, para que um maior conhecimento da estrutura
possa contribuir positivamente no projeto. Dessa forma, a participação dos professores
como mediadores desse processo e a interdisciplinaridade serão elementos-chave para o
sucesso ou fracasso dessa questão.
Alguns entraves na interdisciplinaridade foram detectados. Apesar de ser um trabalho
integrado, as disciplinas têm entregas isoladas e foi percebido que esse fator contribui para
um entendimento equivocado do aluno de “pensar em caixas”, isolando cada disciplina e
dividindo o trabalho em partes. Assim, muitas vezes, foram detectados resultados diferentes
de um mesmo aluno para mais de uma disciplina.
Muitos alunos destacam a questão do tempo para executar todo o trabalho,
considerando que a proposta é muito grande. Essa questão repercute muitas vezes na
qualidade do trabalho apresentado.
Considerando todos esses apontamentos, propõem-se algumas mudanças nas disciplinas
de SEC e Estúdio Habitação, ainda para 2017. Apesar dos avanços, ainda existem muitos
entraves por parte de alguns alunos quando se deparam com as restrições do sistema
estrutural, levando a propostas mais tímidas. Assim, a proposta para 2017 da disciplina
Estúdio de Arquitetura: Habitação sugere que nos conceitos e estratégias, os alunos deverão
considerar três dos seguintes atributos:
Terraços escalonados no edifício;
Espaços livres públicos no interior do edifício;
Conexões entre edifícios;
Diferença de altura dos blocos e unidades;
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Passarelas-praças;
Possibilidades de expansão nos apartamentos;
Circulação do edifício como elemento de conexão e acesso entre ruas.
A proposta desses atributos, aumentando a complexidade do projeto, além de responder
721 às possibilidades de convívio e apropriação de espaço na comunidade, pode facilitar na sua
relação com o contexto, e também instigar o aluno a entender melhor o funcionamento do
sistema construtivo para possibilitar resposta estrutural a essa proposta mais consistente,
aprimorando o ensino aprendizado.
Já na disciplina de SEC, pretende-se avançar no sentido de promover mais visitas nos
canteiros de obra, para aproximar o estudante ao processo de execução de uma obra em
alvenaria estrutural. Apesar da disciplina de SEC ser considerada uma disciplina teórica, há
orientações aos trabalhos dos alunos, pois se trata de um conteúdo teórico, mas de uma
atividade prática. Assim, a possibilidade de experimentação de atividades práticas num
canteiro de obras na própria escola também é uma das propostas para investimentos futuros.
Para eliminar problemas gerados a partir da entrega separada dos trabalhos em cada
disciplina, a nova proposta para 2017 será um trabalho único para todas as disciplinas,
onde todos avaliarão um só produto. Embora percebidos avanços consideráveis nos
projetos apresentados pelos alunos, as propostas de unidade habitacional ainda são pouco
investigativas quando se foca nas possibilidades de apropriação de espaço e,
consequentemente, nas propostas estruturais para garantir essa qualidade espacial. A
proposta para 2017 busca potencializar discussões sobre flexibilidade e, ao mesmo tempo,
reforçar as possibilidades do sistema estrutural para permitir essa questão, através de
novos olhares sobre o habitar contemporâneo, com o apoio da disciplina de História da
Arquitetura Brasileira.
REFERÊNCIAS
ABNT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e documentação -
Referências - Elaboração. Rio de Janeiro, 2002.
ARSENIC, N.; LONGO, O. C.; BORGES, M. M.. O ensino e aprendizagem da disciplina Projeto no curso
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1996.
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Disponível em: <http://revista.ibict.br/liinc/article/view/3082>. Acesso em: 21 jun. 2017.
REBELLO, Y. C. P.; LEITE, M. A. D. F. D. Considerações sobre o Ensino e Aprendizagem de Estrutura nas
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SARAMAGO, R. C. P.; LOPES, J. M. A. Ensino de estruturas nas escolas de arquitetura do Brasil:
estrutura curricular e recursos didáticos. Revista Tecnológica, Edição Especial ENTECA 2009, p. 169-
179, 2009.
SISTEMAS ESTRUTURAIS: ÊNFASE À COLETA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE
MATERIAL VISUAL
RESUMO
O presente trabalho se refere à pesquisa, em nível de iniciação científica, desenvolvida com vistas à
coleta e interpretação de material visual de diferentes tipologias de sistemas estruturais construídos.
O estudo de cada caso analisado e interpretado se fez tanto do ponto de vista estrutural, quanto do
arquitetônico. O trabalho de levantamento, seleção, estudo e compreensão de diversas tipologias
estruturais (grelhas, treliças metálicas, estrutura em casca) e respectivo uso de cada concepção
arquitetônica, permitiu a consolidação de conhecimento adquirido. Tal conhecimento auxiliou na
concepção de projetos possibilitando o aprimoramento dos mesmos e a exploração de outros
materiais e formas estruturais de processos construtivos pouco convencionais na prática das
construções. Importante ressaltar que as imagens coletadas e arquivadas podem ainda ser utilizadas
para atualização de materiais didáticos hoje existentes na Escola de Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo (EESC/USP), no caso, apostila referente aos Sistemas Estruturais, utilizada
como texto base em disciplina oferecida para o curso de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de
Arquitetura e Urbanismo (IAU/USP) e intitulada “Introdução aos Sistemas Estruturais”.
Palavras-chave: Sistemas estruturais; Análise de obras; Concepção estrutural; Arquitetura.
ABSTRACT
The work of scientific initiation, which the present article is based on, was developed with a view to
the collection and interpretation of visual material of different typologies of constructed structural
systems. The study of each case analyzed and interpreted was done both from the structural and from
the architectural point of view. The work of surveying, selecting, studying and understanding various
structural typologies (grids, metal trusses, shell structure) and the respective use of each architectural
conception allowed for the consolidation of acquired knowledge. Such knowledge assisted in the
project design (in class and stage), enabling the improvement of the same and the exploration of
other materials and non-conventional structural forms, such as steel grids. It is important to point out
that the collected and archived images may eventually be used to update existing teaching materials
at the EESC / USP, such as a handout and a book referring to the Structural Systems, used as basic
text in the courses offered for the Civil Engineering course of Escola de Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo (EESC/USP), in this case, the book titled "Structural Systems - Theory and
Examples", as well as for the Architecture and Urbanism course of the Instituto de Arquitetura e
Urbanismo (IAU/USP), in this case, a book titled "Introduction to Structural Systems".
Keywords: Structural Systems; Analysis of Construions; Structural Design; Architecture.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos de ensino e prática em ateliês, foi possível perceber a importância do
correto entendimento, por parte dos graduandos em Arquitetura, sobre os diversos Sistemas
Estruturais, possibilitando soluções estéticas vinculadas necessariamente à aplicação das
723 técnicas de concepção e construção de sistemas estruturais. A importância da integração
entre a Arquitetura e a Engenharia de Estruturas é apresentada no texto que se segue:
Há, nas prateleiras das bibliotecas das Escolas de arquitetura, uma quantidade
significativa de publicações dirigidas ao ensino de estrutura para estudantes de
arquitetura. Encontram-se títulos tais como ‘Estruturas para Arquitetos’ ou
‘Estruturas Arquitetônicas’ ou ainda ‘The structural basis of Architecture’. Esses
títulos, apesar de denotar uma preocupação com o ensino de estrutura dirigido aos
arquitetos ou estudantes de arquitetura, incorrem num desvio em relação aos
princípios relacionados ao processo de ensino-aprendizagem de estrutura, pois
pressupõe um ensino de estrutura voltado para arquitetos e outro voltado para
engenheiro, o que constitui uma heresia, pois é impossível um estudo de estrutura
que se interesse a esse ou àquele profissional. (REBELLO, 2001, p.15).
2. OBJETIVO
É quase um dogma a ideia de que quem concebe a estrutura é o profissional
engenheiro, que estudou profundamente fórmulas complexas, capazes de resolver
os mais difíceis sistemas estruturais. Isso é um grande engano. Uma coisa é
conceber a estrutura, outra é dimensioná-la para que seja capaz de suportar as
condições de trabalho às quais estará submetida. Conceder é compreender,
entender e ser capaz de explicar (REBELLO, 2001, p.26).
Como dito anteriormente, esse trabalho visa reunir e interpretar um dado conjunto de
imagens que possibilite um melhor entendimento sobre sistemas estruturais, para fins de
elaboração de apresentações para, posteriormente, serem utilizadas na atualização de
livros e apostilas do Departamento de Estruturas, principalmente o material didático
apresentado na Figura 1.
Vale ainda destacar que, obviamente, esse trabalho permitiu à autora maior
conhecimento dos conceitos estruturais e aplicações reais de estruturas (estudo de caso),
bem como complementação e aprimoramento das informações que havia recebido ao
cursar, em sua graduação no Instituto de Arquitetura e Urbanismo, disciplinas voltadas a
esses mesmos temas. Tais informações e, principalmente, a compreensão do funcionamento
dessas estruturas enriquecem o processo projetual, construindo assim projetos mais
coerente e coesos estrutural e arquitetônicamente.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
3. METODOLOGIA
A metodologia empregada no trabalho de iniciação, na discussão das imagens coletadas,
foi, primeiramente, a seleção das obras, a serem trabalhadas, de acordo com sua relevância
histórica e arquitetônica, mesmo que os fatos estejam, normalmente inter-relacionados e
725 interdependentes. Após essa primeira triagem, analisamos cada peculiaridade presente nas
imagens e como cada uma poderia ser melhor abordada e apresentada.
Após essa etapa, um estudo mais detalhado é desenvolvido. Buscando referências
biblográficas, citações e trabalhos que discutem a tipologia estrutural ou a obra
arquitetônica referênciada. Na discussão posterior ao estudo, formula-se um resumo das
conclusões obtida por orientador e aluna, visando a uma explicação sucinta e clara para
melhor compreensão dos alunos. O recolhimento das imagens e a formulações desses
resumos possibilitarão uma posterior reformulação do material apresentado anteriormente.
4. ATIVIDADES REALIZADAS
As atividades realizadas na pesquisa compreenderam, primeiramente, a coleta de
imagens e fotos de diferentes tipos estruturais para posterior discussão com relação aos
aspectos voltados à distribuição de cargas, dos sistemas de apoio, possibilitando
interpretações sobre a solução adotada para tais edificações. É importante ressaltar mais
uma vez que algumas das análises realizadas se fizeram com base suposições e
considerações, uma vez que, em muitos casos, não se conseguia contato com o projetista,
arquiteto ou engenheiro responsável pelo projeto das obras.
O desenvolvimento dessa análise trouxe, para a autora, maior entendimento das
estruturas e obras analisadas, sendo também importante para fins de carreira profissional,
fato em concordância com a citação: Rebello (2001, p.26), “[...] conceber é compreender,
entender e ser capaz de explicar”.
A grelha de aço que faz parte da cobertura na entrada do FIESP – Paulista, em São Paulo,
é composta por diversas seções de vigas de aço, como pode ser observado na Figura 4. As
duas vigas periféricas, com seção I de maior robustez são as vigas principais, ou seja, as vigas
que sustentam o sistema grelha. Pode-se notar também que as vigas transversais, ligadas às
vigas principais, são maiores que as vigas internas que se ligam às vigas transversais,
indicando que as vigas internas de apoiam nas vigas transversais, as quais, por sua vez, se
apoiam nas principais, indicando que o caminho das cargas ocorre da viga de menor seção
para a de maior seção, todas ligadas entre si, sugerindo assim que o sistema de piso em
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
análise esteja trabalhando como grelha, ainda que a ligação entre as vigas possa não garantir
continuidade integral (rigidamente ligadas entre si).
É interessante observar também as emendas nas vigas e a ligação entre elas. Na viga
principal se observa uma chapa fixada por meio de parafusos na alma e na mesa da viga
728
(característica de um engaste), conforme Figura 4, fazendo com que todos os esforços (axial,
cortante e momento fletor) sejam transmitidos na totalidade entre as partes. O mesmo
aspecto se verifica entre as vigas principais e as transversais.
Como a estrutura principal do edifício, onde o sistema de piso de aço está ligado, é
constituída de concreto armado, conforme ilustra a Figura 5, é possível notar que as vigas de
aço que constituem este mesmo sistema de piso são ligadas aos pilares de concreto por
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
meio de chapa metálica, conectada à viga e ligada ao pilar, em ambos os casos, fixados por
meio de parafusos, caracterizando, assim, enquanto sistema de vinculação, algo entre apoio
fixo e engaste – tendo em vista que as mesas não se ligam às chapas, bem como tendo em
vista a extensão da ligação parafusada entre alma da viga e chapa de aço (Figura 6).
729
4.1.3 Sistema de cobertura em treliça de aço
A treliça é muito utilizada para sistemas de cobertura em várias situações, devido à boa
capacidade resistente e por permitir vencer grandes vãos com custo, em geral, relativamente
baixo. A treliça em estudo, apresentada na Figura 7, pertente a um galpão na periferia do
município de Ribeirão Preto, cujas barras são dispostas nas duas direções, transversal e
longitudinal, configurando assim comportamento estrutural similar à grelha (vigas treliçadas
cruzadas no mesmo plano), fazendo com que o sistema trabalhe como vigas integradas.
Vale ainda notar, com relação à diagonal apresentada na figura 8, constituída por barra
composta, formada por duas barras paralelas entre si, que existem elementos que ligam
essas mesmas barras paralelas, cuja função é evitar a possibilidade de instabilidade dessas
segundo o exios de menor inércia, de modo a garantir que essa mesma diagonal apresente
730
trabalho em conjunto entre ambas as barras, de modo a estabelecer que eventual
instabilidade só ocorrerá para o elemento composto, e não individualmente por barra.
Figura 9 – Pilar isolado esperando a fixação da caixa para a passagem de pedestres (a). Dois pilares
com uma parte da caixa de pedestre (b). Passarela praticamente finalizada (c).
(a) (b)
(c)
Fonte: Os autores, 2015.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
A ponte transpõe 1,2 km e sua construção foi dividia em três fases, dois tabuleiros nas
laterais e um tabuleiro central. A sustentação da ponte se dá pelos cabos que ligam os
tabuleiros aos arcos, cujas forças são transmitidas aos quatro pilares distribuídos na extensão
da ponte. Segundo Braga (2010), devido ao seu tamanho e à estrutura viária que sustenta seis
732
pistas de veículos, uma ciclovia e dois caminhos de pedestres, os arcos descarregam nos
pilares forças tridimensionais de alta intensidade. O empuxo causado pelo arco era o maior
calculado na engenharia até o momento, chegando a até 3.500 tf, necessitando na fundação
de 24 estacas horizontais e 66 inclinadas. Videsotti (2009) apresenta que a construção dos
arcos teve que ser auxiliada por pilares temporários metálicos, até que a estrutura já estivesse
travada e trabalhando conjuntamente, como mostra a Figura 11 – em que são apresentados
os cabos utilizados na construção da referida ponte.
Figura 11 – (a) Pilares provisórios para a sustentação dos arcos da ponte e (b). Cabos de aço que
serão utilizados para a sustentação da ponte.
(a) (b)
Fonte: Disponível em <http://wwwo.metalica.com.br/ponte-jk-em-brasilia-a-construcao>. Acesso em: mai.
2015.
5 CONSIDERAÇÕES
A pesquisa, em contexto de Iniciação Científica, conseguiu atingir seu objetivo maior:
promover um conhecimento mais aprofundado sobre sistemas estruturais para a autora do
presente trabalho, em complemento àqueles adquiridos durante seu curso de graduação em
Arquitetura e Urbanismo, cujas informações foram inicialmente obtidas em temas
referentes às disciplinas voltadas Engenharia de Estruturas.
Como pode ser visto no presente trabalho, o conhecimento adicional foi conseguido
enquanto objetivo principal, lembrando que o estudo de estruturas de diversos tipos é de
fundamental importância para o exercício da profissão de arquiteto, tendo em vista que
para concepção arquitetônica é essencial um bom entendimento das estruturas em geral.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
Os autores do presente trabalho agradecem ao CNPq pela bolsa concedida e ao
Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP pela oportunidade concedida à
aluna de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo do IAU, permitindo proporcionar a
733 ela connhecimentos em contexto de concepção estrutural, os quais vão além daqueles
usualmente explorados durante seu curso.
REFERÊNCIAS
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<http://www.aecweb.com.br/cont/m/rev/lajes-nervuradas-garantem-economia-a-
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BRAGA, M.L. A. O concurso de Brasília: sete projetos para uma capital. São Paulo: Cosac & Naify;
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Engenharia de São Carlos - EESC/USP, 2007.
HOLANDA, F. Brasília: cidade moderna, cidade eterna. Brasília: Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade de Brasília, 2010.
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Estrutura Metálica. Disponível em: <http://wwwo.metalica.com.br/construcoes-metalicas-o-uso-do-
aco-na-construcao-civil>. Acesso em: 30 mar. 2015.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
RESUMO
Este artigo apresenta uma reflexão sobre a prática de ensino de projeto de arquitetura nos cursos de
graduação brasileiros tendo em vista as contradições existentes entre os enunciados educacionais,
que indicam uma formação generalista e transdisciplinar, e a estrutura fragmentada dos cursos de
graduação. Partindo de recentes artigos brasileiros sobre ensino de arquitetura e ancorados em
nossa experiência no ensino, indicaremos possibilidades de práticas que propiciem a (re)aproximação
dos diversos conteúdos de um curso de arquitetura no ateliê de projeto, principalmente no que diz
respeito às relações estabelecidas entre o projeto e a construção dos edifícios, sua estrutura e
materialidade. Partindo do princípio que o ateliê de projeto pode mobilizar e trabalhar conceitos
ministrados em disciplinas de história, urbanismo e tecnologia, propomos exercícios que trabalhem
com ênfases em algum aspecto da arquitetura, deixando claro para os alunos que estes são
inseparáveis. Assim, entendemos que às estratégias pedagógicas em ateliê ligados à construção –
especialmente o aspecto estrutural – devam estar alicerçadas em três pontos de apoio: educar o
olhar para entender as construções do ponto de vista tectônico e estrutural; relacionar os conteúdos
com a história das construções ao situar os aspectos construtivos em um tempo e lugar em relação
ao presente; promover exercícios de projeto em ateliê que enfatizem o aspecto tectônico e
estrutural. Apresentaremos a prática pedagógica aplicada na disciplina de Tecnologia da Construção
e Sistemas Estruturais no curso de graduação em arquitetura e urbanismo da Escola da Cidade (São
Paulo – SP) como exemplo de aplicação destas estratégias.
ABSTRACT
This article presents a reflection on the practice of teaching architectural design in Brazilian
undergraduate courses in view of the contradictions between educational statements, which indicate
a general and transdisciplinary education, and the fragmented structure of undergraduate courses.
Based on recent articles on architecture teaching and anchored in our teaching experience, we will
indicate possibilities of practices that will allow the approximation of the various contents of an
architecture course, especially with regard to the relationships established between The design and
construction of the buildings, their structure and materiality. Assuming that the project atelier can
mobilize and work on concepts taught in history, urbanism and technology, we propose exercises that
emphasize some aspect of architecture, always making it clear to students that they are inseparable.
Thus, we understand that the pedagogical strategies in atelier related to construction - especially the
structural aspect - should be based on three points of support: educating the eye to understand
constructions from the tectonic and structural point of view; relate the contents to the history of
constructions by situating the constructive aspects in a time and place in relation to the present;
promote project exercises in an atelier that emphasize the tectonic and structural aspects. We will
present the pedagogical practice applied in the discipline of Construction Technology and Structural
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Systems in the undergraduate course in Architecture and Urbanism at Escola da Cidade (São Paulo -
SP) as an example of the application of these strategies.
736
1. INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta uma reflexão sobre a prática de ensino de projeto de arquitetura nos
cursos de graduação, tendo em vista as contradições existentes entre os enunciados
educacionais, que indicam uma formação generalista e transdisciplinar, e a estrutura
fragmentada dos cursos de graduação. Iniciaremos nossa reflexão a partir de recentes artigos
brasileiros sobre ensino de arquitetura, para então descrever a prática pedagógica aplicada
por nós na disciplina de Tecnologia da Construção e Sistemas Estruturais no curso de
graduação em arquitetura e urbanismo da Escola da Cidade (São Paulo – SP) durante o ano
letivo de 2014. Esta prática, ancorada em nossa experiência no ensino e pesquisa, procura
indicar possibilidades de práticas que propiciem a (re)aproximação dos conteúdos de um curso
de arquitetura no ateliê de projeto, principalmente no que diz respeito às relações
estabelecidas entre o projeto e a construção dos edifícios, sua estrutura e materialidade.
Está explícita, na Resolução do Conselho Nacional de Educação, que instituiu as Diretrizes
Curriculares para o curso de Arquitetura e Urbanismo, a orientação de formação de
profissionais generalistas que lidem, simultaneamente, com conteúdo complexo:
A proposta pedagógica para os cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo
deverá assegurar a formação de profissionais generalistas, capazes de
compreender e traduzir as necessidades de indivíduos, grupos sociais e
comunidade, com relação à concepção, à organização e à construção do espaço
interior e exterior, abrangendo o urbanismo, a edificação, o paisagismo, bem
como a conservação e a valorização do patrimônio construído, a proteção do
equilíbrio do ambiente natural e a utilização racional dos recursos disponíveis
(BRASIL, 2006, p.36).
Deste modo, o segundo atelier reforçaria que as escolhas das configurações técnicas e
formais/espaciais de um edifício são indissociáveis entre si. Em uma perspectiva mais ampla,
1
A Revista Projetar - Projeto e Percepção do Ambiente é o desdobramento do grupo de pesquisa PROJETAR,
criado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 2003 e desde então realizou diversos seminários
voltados para o Ensino e Pesquisa em Projeto de Arquitetura.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
esta proposta se alinha com a problemática levantada por Sennet, ou seja, a da separação
do pensar e fazer, que parece ser a principal dificuldade a ser superada na formação dos
arquitetos e arquitetas frente às questões complexas apresentadas na contemporaneidade.
No entanto, uma proposta como a apresentada acima exige uma revisão geral dos
738
currículos, estas necessárias, porém morosas e trabalhosas. Segundo Edgard Morin (2003,
p.99), também citado por Rheingantz, Cunha, e Krebs (2016), “não se pode reformar a
instituição sem uma prévia reforma das mentes, mas não se podem reformar as mentes sem
uma prévia reforma das instituições”.
Frente à complexidade de uma mudança de curricular, mas reconhecendo a importância
da maior integração dos conteúdos, sugerimos a aplicação de estratégias transdisciplinares
no ateliê de projeto que possam ser colocadas em prática com maior rapidez nas estruturas
curriculares existentes, transformando estas próprias experiências em balões de ensaio de
reformas maiores.
A seguir descreveremos algumas estratégias pedagógicas definidas por nós e ancoradas
em nossa experiência de ensino e pesquisa dos últimos anos, para então apresentar sua
aplicação nas disciplinas de Tecnologia da Construção e Sistemas Estruturais na Escola da
Cidade, em 2014.
2. ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS
Partindo do princípio que o ateliê de projeto pode mobilizar e trabalhar conceitos
ministrados em disciplinas de história, urbanismo e tecnologia, propomos diretrizes
norteadoras, que podemos chamar de estratégias, de exercícios que trabalhem com ênfases
em algum aspecto da arquitetura, sempre deixando claro para os alunos que estes são
inseparáveis, mas que em determinado exercício será dada a ênfase em algum aspecto –
urbano, relação com arte, paisagem, memoriais ou aspectos tectônicos.
Assim, entendemos que às estratégias pedagógicas ligadas à construção em ateliê – que
chamaremos de “tectônico” –, mas principalmente relacionados à concepção estrutural,
devam estar alicerçadas em três pontos de apoio:
Educar o olhar para entender as construções do ponto de vista tectônico e estrutural;
Relacionar os conteúdos com a história das construções: situar os aspectos
construtivos em um tempo e lugar;
Promover exercícios de projeto em ateliê que enfatizem o aspecto tectônico e estrutural.
Elaboramos esta primeira síntese de diretrizes a partir de nossa experiência de ensino de
2009 a 2013 na Escola da Cidade, em concomitância com nossa pesquisa de mestrado (2010-
2012). Estas estratégias didáticas foram, a princípio, formuladas e realizadas de forma
empírica e difusa ao longo deste período. No entanto, serviram de motor para questões
desenvolvidas durante a pesquisa de mestrado, bem como alimentada por ela. Assim, no
intercâmbio entre práticas de pesquisa e ensino naquele período, formulamos os pontos
citados acima, que não pretendem ser uma regra a ser seguida, mas princípios para
contribuir para a discussão do ensino de estruturas nos cursos de arquitetura.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2.1 Educar o olhar para entender as construções do ponto de vista tectônico e estrutural
A estratégia a utilizar neste ponto é o desenho de campo. A ideia principal é procurar
“ver por dentro”, investigar, dissecar, como Leonardo Da Vinci fez com anatomia e botânica.
O pesquisador Rafael Perrone afirma, ao qualificar as funções de olhar, ver e desenhar, que
739 “Percebe-se com o olhar, ordena-se com a visão, constrói-se com o desenho. O olhar dirige-
se às coisas, a visão interpreta objetos, o desenho qualifica a interpretação e a representa, e
mais, constrói e imagina formas de ver os objetos” (PERRONE, 1993, p.5). Ainda, para
justificar a adoção do desenho como instrumento de estudo, referenciamo-nos ao livro Ver
pelo Desenho de Manfredo Massironi, onde o autor destaca a dimensão da flexibilidade e
adaptabilidade de seu uso:
[...] instrumento tão simples, mas, ao mesmo tempo, tão intrinsecamente elástico
que permite a narração, dos mais diversos modos, da complexidade, e cada vez
mais dilatável para cobrir a possibilidade expressiva [...]. De fato, esta técnica
essencial e primária, baseada nos processos da visão, encontra meios e matizes
para se adaptar às mais variadas exigências (MASSIRONI, 2010, p.17).
Figura 1 – Conjunto de detalhes de beirais. Desenhos: A.L. Dias de Andrade. Levantamento da Vale
do Paraíba.
740
742
743
soluções apresentadas a partir daquele esquema inicial e, por fim, chegaram à conclusão
que existia um projeto diferente para cada trabalho (Figura 4).
744
4. CONSIDERAÇÕES
A fragmentação do ensino de arquitetura em disciplinas estanques parece ter reflexos
negativos na aprendizagem dos estudantes, ao passo que a aproximação dos conhecimentos
para o desenvolvimento de um pensamento crítico propositivo, fundamentados no fazer, é o
caminho apontado em diversos artigos, livros e experiências de ensino. As proposições
apresentadas neste trabalho partem desta mesma constatação, a qual motivou tanto nossa
pesquisa de mestrado como nossas práticas na atividade docente.
Ancoradas nessas práticas, as estratégias didáticas apresentadas – a) educar o olhar para
entender as construções do ponto de vista tectônico e estrutural; b) relacionar os conteúdos
com a história das construções; c) promover exercícios de projeto em ateliê que enfatizem o
aspecto tectônico e estrutural – foram formuladas de forma empírica e difusa inicialmente,
no entanto, aplicadas de forma sistematizada em uma disciplina de Tecnologia da
Construção e Sistemas Estruturais na Escola da Cidade ao longo do ano letivo de 2014.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos professores, alunos e funcionários da Escola da Cidade – Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo (São Paulo – SP) – pelo rico convívio e aprendizado ao longo dos
sete anos que lecionei naquela instituição.
REFERÊNCIAS
ADDIS, B. Edificação: 3000 Anos de Projeto, Engenharia e Construção. Porto Alegre: Artmed, 2008.
ANELLI, R. L. O Projeto de arquitetura na pesquisa acadêmica: especificidades, limites e desafios. In:
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BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Resolução n. 06 de 02 de
fevereiro de 2006 – Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Arquitetura e
Urbanismo. Brasília: DOU 03/02/2006, Seção I, p. 36-37, 2006. Disponível em:
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VARGAS, M. (org.). História da técnica e da tecnologia no Brasil. São Paulo: UNESP, 1994.
ARTICULAÇÕES ENTRE ENSINO DE PROJETO ARQUITETÔNICO E ESTRUTURAS
– EXPERIMENTOS NO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA FAAP
OBATA, Sasquia Hizuru (1); COSTA, Marcos de Oliveira (2); FIALHO, Roberto Novelli (3); CRUZ,
Rodrigo Serafino da (4)
(1) FAU-FAAP, e-mail: shizuru@faap.br; (2) FAU-FAAP, e-mail: mocosta@faap.br; (3) FAU-FAAP, e-
mail: rnfialho@faap.br; (4) FAU-FAAP, e-mail: roserafino@gmail.com
RESUMO
As articulações entre ensino de projeto arquitetônico e ensino de estruturas ainda perpassam pela
condição de sobrepor algumas condições estruturais das instituições de ensino superior que são: o
ensino pautado em disciplinas; aulas e horários modulares; buscas por integrações e articulações
entre conteúdos em diferentes disciplinas ou por temas entre atividades projetuais e
conceituais/teóricas de estruturas. O objetivo deste artigo é descrever experimentos sob a proposta
metodológica de atendimento às Diretrizes Curriculares da Área de Arquitetura e Urbanismo para
todo o curso na FAAP, não se configurando uma nova proposta de estrutura curricular e sim a busca
de melhores resultados de atendimentos, através de estratégias de desenvolvimentos dos
conteúdos. Ao analisar as atividades já desenvolvidas sob estas estratégias, apontaram-se melhores
aderências em semestres em que a princípio foram caracterizados por já trazerem em si exercícios e
projetos em dimensões e complexidades similares, que são: 1º, 3º, 6º e 8º; destes se apresentam as
descrições dos experimentos para o 1º semestre. Os resultados demonstram que, mesmo sob uma
característica de compartimentações de conhecimentos, as articulações foram e são suportadas pelo
engajamento dos docentes das disciplinas, atuação dinâmica e integradora do NDE – Núcleo Docente
Estruturante –, além de contar com uma gestão acadêmica colaborativa representada pela
coordenação em demandas de reuniões integradoras horizontais e verticais. Tais condições são as
que geram o pavimentar da integração do ensino como estrutura & construção & forma no curso de
arquitetura e urbanismo da FAAP e com vista à formação como uma atuação tectônica do arquitetar.
Palavras-chave: Projeto e estrutura; Articulações entre disciplinas; Experimentos tectônicos.
ABSTRACT
The joints between the teaching of architectural design and teaching structures still permeate under
structural conditions of higher education institutions, some about: the teaching based on disciplines;
classes and modular schedules; integrations and joints between content in different disciplines or
subjects between project activities and conceptual/theoretical structures. The purpose of this article is
to describe experiments under the methodological proposal of Curriculum Guidelines of architecture
and urbanism for the whole course in FAAP, no modifing the curricular structure and the search of
better result of attendances, through content development strategies. By analyzing the activities
already carried out under these strategies, pointed better tacks in semesters in which at first were
characterized by ever bring itself exercises and projects in similar dimensions and complexities, which
are: 1, 3, 6 and 8, these are descriptions of the experiments for the 1st semester. The results show
that even under a feature of compartmentalization of knowledge, the joints were and are supported
by the engagement of teachers of subjects, dynamic and integrative performance of NDE-Structuring
Teaching Core, an academic collaborative management represented by coordination in meeting
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
demands horizontal and vertical integrators. Such conditions are the ones that generate the paving of
integration of teaching how to structure construction course form & architecture and urbanism at
FAAP and with a view to training as a tectonic activities of the architect.
Keywords: Design and structure; Articulations between disciplines; Tectonic experiments.
747
2. INTRODUÇÃO
A trajetória que passa o Curso de Arquitetura e Urbanismo da FAAP, CAU-FAAP, assim
como toda instituição de ensino superior em Arquitetura e Urbanismo, é correspondente à
sociedade com a formação das competências e as habilidades dos arquitetos e urbanistas. O
referencial formativo tem como lastro a Resolução nº 2, de 17 de junho de 2010, do
Conselho Nacional de Educação, que apresenta a condição que a proposta pedagógica para
os cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo deve assegurar a formação de:
[...] profissionais generalistas, capazes de compreender e traduzir as necessidades
de indivíduos, grupos sociais e comunidade, com relação à concepção, à
organização e à construção do espaço interior e exterior, abrangendo o urbanismo,
a edificação, o paisagismo, bem como a conservação e a valorização do patrimônio
construído, a proteção do equilíbrio do ambiente natural e a utilização racional dos
recursos disponíveis (MEC, 2010, grifo nosso).
Com base na condição formativa estabelecida pelo MEC na Resolução acima descrita,
adotando-se o suporte para a proposição do olhar o plano pedagógico em
desenvolvimento e analisar a metodologia nas disciplinas do ensino de estruturas e tendo
a abordagens nos projetos e estes como condutores do processo educativo e formador do
saber arquitetar, tomaram-se as delimitações do conteúdo obrigatório e comum
preconizados nesta mesma Resolução no Artigo 5º, alínea VIII, das Diretrizes Curriculares
da Área de Arquitetura e Urbanismo:
O Curso de Arquitetura e Urbanismo deverá possibilitar formação profissional que
revele, pelo menos, as seguintes competências e habilidades: [...] a compreensão
dos sistemas estruturais e o domínio da concepção e do projeto estrutural, tendo
por fundamento os estudos de resistência dos materiais, estabilidade das
construções e fundações (MEC, 2010, grifo nosso).
Aos alunos também são apresentadas as questões urbanas que envolvem o Minhocão,
através de aulas expositivas e visita guiada ao mesmo (Figura 1). Nesta visita, os alunos
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
devem desenhar o Minhocão e sua paisagem, além de realizar medições no local. Todo este
trabalho serve para que cada aluno elabore seu próprio cadastro do Minhocão, base para a
sequência do semestre.
Como recurso de melhor identificação da problemática espacial, social, de infraestrutura,
751
da obra e seus sistemas, a disciplina de projeto, além de fornecer os conceitos principais,
utiliza-se da apresentação do documentário Elevado 3.5 de João Sodré, Maíra Bühler e Paulo
Pastorelo (2007) como o intuito de se apropriar didaticamente da condição humana que o
filme aborda, uma vez que foca nos moradores e trabalhadores da região do Minhocão.
Como resultado formativo, este recurso permite aos alunos aprofundar a leitura do
Minhocão, sua inserção no meio e suas relações de espaço e espacialidades, e
representação, obtida na Figura 2, com seu impacto sobre a sociedade paulistana.
753
756
Figura 9 – Apresentação das simulações estruturais a partir do uso do papelão de onda dupla.
5. CONSIDERAÇÕES
Os conteúdos de ensino de estruturas recorrentemente participam da formação com uma
exígua caracterização como aulas laboratoriais e de projeto, representando e conduzindo a
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Alvares Penteado, e
aos professores: Roberto Temin, Ricardo Lacorte, Cícero Ferraz Cruz, Marianna Dal Canton,
Marcio Novaes Coelho Jr., Francisco Barros e Marina Mange Grinover, pela participação nas
disciplinas convergentes deste trabalho nos semestres em que ocorre a integração.
REFERÊNCIAS
ABNT NBR 15575. Edificações habitacionais – Desempenho. Partes 1 a 6. Rio de Janeiro, 2016.
ABNT NBR 6118. Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO
SUPERIOR. Resolução Nº 2, de 17 de Junho De 2010. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais
do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo, alterando dispositivos da Resolução
CNE/CES nº 6/2006. Disponível em:
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=5651-rces002-
10&category_slug=junho-2010-pdf&Itemid=30192 >. Acesso em: 23 mar. 2017.
OBATA, S. H. Construções com papelão: exemplos e parâmetros. Slides da disciplina Tecnologias
Construtivas e Sustentabilidade- CCS 04 do curso de pós-graduação lato-sensu em Construções
Sustentáveis da FAAP. Referente às 1ª e 2ª turmas. Acervo da FAAP. Disponibilizado digitalmente a
758 partir de 07/12/2011.
___. Desmaterialização: Papelão. Compilação de relatórios de ensaios da disciplina Morfologia da
Estrutura dos anos 2012 a 2014. Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Artes Plásticas
da Fundação Armando Alvares Penteado. Acervo pessoal da autora.
SALADO, G. C. Construindo com tubos de papelão: um estudo da tecnologia desenvolvida por
Shigeru Ban. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura, Urbanismo e Tecnologia) – Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2006.
SODRÉ, J.; BÜHLER, M.; PASTORELO, P. Elevado 3.5. São Paulo, 2007. Disponível em:
<http://www.elevadotrespontocinco.com.br/>. Acesso em: 13 mar. 2017.
TRISTÃO, M. A educação ambiental na formação de professores: redes de saberes. São Paulo:
Annablume, 2004.
759
ARTIGOS TEMA 03
Meios para o ensino de estruturas: recursos, literatura e material didático
DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE UM MODELO ESTRUTURAL
QUALITATIVO PARA O ENSINO DE ESTRUTURAS
RESUMO
As primeiras e mais importantes decisões na concepção de um projeto estrutural, visando tanto os
aspectos estéticos como também econômicos, são valores qualitativos e intuitivos. É muito
importante que o profissional envolvido neste processo, seja ele o arquiteto ou o engenheiro, tenha
a habilidade de visualizar e compreender o comportamento das estruturas em diferentes
circunstâncias. Tendo em vista estes aspectos, este trabalho apresenta estudos experimentais,
desenvolvidos em uma Dissertação de Mestrado (OLIVEIRA, 2008) do Curso de Engenharia Civil da
UFOP – Universidade Federal de Ouro Preto, para a avaliação do comportamento de um modelo
estrutural qualitativo, intitulado inicialmente Maquete Estrutural e hoje reconhecido como Modelo
Estrutural Mola. Trata-se de modelo de alta deformação que permite a visualização do
comportamento das estruturas pelo lado qualitativo do fenômeno físico. O Modelo Estrutural Mola é
composto por um conjunto de peças que permitem a montagem e simulação de diversos sistemas
estruturais, permitindo a análise de diferentes conceitos como estabilidade estrutural, visualização
dos deslocamentos e deformadas, comportamento quanto ao tipo de carregamento e condições de
contorno, a influência da forma e o processo de montagem. Nesta pesquisa, foi desenvolvida uma
metodologia experimental alternativa que valida o modelo através de comparações utilizando
imagens digitalizadas. Foram realizados ensaios de diversos sistemas estruturais, concebidos com o
modelo, que posteriormente foram comparados com os resultados obtidos a partir de simulações
dos mesmos sistemas em um software comercial. Os resultados constatam que o comportamento do
modelo proposto é realmente similar ao comportamento de uma estrutura real.
Palavras-chave: Mola; Kit Estrutural Mola; Modelo estrutural qualitativo; Ensino e aprendizado de
estruturas.
ABSTRACT
The definition of a building design in terms of both aesthetic and economy depends upon qualitative
important decisions. In this way, it is very important that professionals involved in the design process,
both Architect and Structural Engineer, should have the ability to visualize and understand the
structural behavior at any circumstances. This paper presents an experimental research – that took
place at the Federal University of Ouro Preto – that consists basically in the development and
validation of a Qualitative Structural Model entitled “Mola Structural Model”. Mola is a high
deformation model, which allows engineers and architects to visualize and understand the basic
structural concepts through a qualitative investigation of the structural behavior. The model is
composed of a set of modulated elements witch allows the assembly and simulation of many
structural systems. For all these systems, the model allows the analysis of different structural
concepts as structural stability, visualization of displacements and deformations, structural behavior
at different load cases and boundary conditions, the shape influence and also the construction
process. To validate the model, we developed an experimental methodology that consists basically in
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
comparing digital images. Simulations have been made in the software “Structural Analysis Program”
(SAP2000) and then compared both results: software’s and model’s deformed shape. Many structural
systems were analyzed under different conditions. The result’s analysis, shows similar deformed
shape between images from the Model and the computer simulation for each system analyzed,
confirming the Model as a trustworthy instrument for a qualitative evaluation of structural behavior.
761 Keywords: Mola; Mola Structural Kit; Qualitative structural model; Teaching and learning structures.
1. INTRODUÇÃO
É de extrema importância que o profissional envolvido no projeto estrutural, seja ele o
arquiteto ou o engenheiro, tenha a habilidade de visualizar e compreender o
comportamento das estruturas em diferentes circunstâncias, e como a forma da estrutura
vai influenciar no seu comportamento. Os profissionais devem desenvolver um sentimento
intuitivo do comportamento estrutural, para que na fase da concepção estrutural – uma das
mais importantes – maior precisão seja obtida. A definição de um projeto visando tanto os
aspectos estéticos como também os econômicos, depende de todas estas importantes
decisões qualitativas (HILSON, 1972).
Segundo Schwark (1996), as primeiras e mais importantes decisões na concepção de um
projeto relacionados a sua importância, necessidade, utilidade, tipo de solução e estética
são valores qualitativos e intuitivos. Só em fase mais adiantada é que se deve completar e
precisar essas primeiras decisões.
Entretanto, o ensino de estrutura que é praticado nas escolas de arquitetura e engenharia
é deficiente quanto a este aspecto. Em geral, os cursos são ministrados por via analítica
exclusivamente e não consideram estrutura como fenômeno, deixando as noções
qualitativas e o desenvolvimento da intuição de lado (POLILLO, 1974). De acordo com
Rebello (200-?), o ensino por meio da matemática, reconhecidamente necessário, não é
suficiente, é preciso ter consciência de que os números são importantes como verificadores
e não como formadores.
Em geral, essas habilidades intuitivas só são desenvolvidas e apuradas após a graduação
dentro dos escritórios por meio da vivência dos projetos. Portanto, acredita-se que o uso de
modelos estruturais qualitativos como ferramenta de auxílio ao aprendizado e a uma pré-
avaliação do comportamento das estruturas seja uma proposta eficiente, já que os modelos
permitem que o profissional ou o estudante desenvolvam, através da vivência dos ensaios, um
sentimento intuitivo do comportamento dos sistemas estruturais. Assim, ao aprimorar essa
capacidade de percepção, o profissional estará mais preparado para conceber uma estrutura.
Assim, esta pesquisa é basicamente experimental, com vistas ao desenvolvimento,
avaliação e validação de um modelo estrutural qualitativo, intitulado Modelo Estrutural
Mola, tendo como objetivo principal verificar a sua viabilidade como um instrumento de pré-
avaliação do comportamento de estruturas. Para isso, o modelo proposto é validado a partir
de comparações com modelos simulados em um software comercial.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
3. FILOSOFIA DE ENSINO
A utilização do Mola para demonstração do comportamento dos sistemas estruturais tem
como base filosofias e métodos de ensino e aprendizagem que defendem o pensamento do
“aprender fazendo”.
A Salvadori Education Centre on the Built Environment (SECBE) é um bom exemplo de
escola que utiliza a metodologia do aprendizado por meio da ação. Fundada pelo Engenheiro
Estrutural Mario Salvadori, a SECBE é uma instituição educacional, voltada para ensino de
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1
<www.salvadori.org>.
2
<www.lego.com/education>.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Os tubos de plástico testados eram muito rígidos e precisavam de uma carga superior à
força magnética dos imãs para sofrerem as deformações desejadas, o que causava
problemas nas ligações. Já as mangueiras de borracha apresentavam grandes deformações,
mas dificilmente retornavam à forma original, permanecendo deformadas.
Depois de diversas tentativas, chegou-se à mola metálica, sem dúvida, o material que
mais se adequou às necessidades do modelo (Figura 3). Após alguns testes, ficou clara a
eficiência do material para este tipo de análise.
Figura 4 – Analogia das seções transversais de uma viga com os passos da mola.
Após a definição do material das peças principais, foram desenvolvidos os outros elementos
estruturais, como lajes, contraventamentos, tirantes, diferentes tipos de ligações, etc. A Figura 5
mostra a primeira apresentação do Mola em 2005 durante o curso de especialização CEACOM III
em Belo Horizonte – MG e um resumo do processo de criação do modelo.
766
Durante o período de 2006 a 2008, foram desenvolvidas, em uma Dissertação de
Mestrado (OLIVEIRA, 2008) no Curso de Engenharia Civil da UFOP – Universidade Federal de
Ouro Preto, a avaliação e a validação do comportamento do Modelo Estrutural Mola.
5. METODOLOGIA DE VALIDAÇÃO
O objetivo principal da investigação experimental foi validar o Modelo Estrutural Mola
como um meio confiável para avaliação qualitativa do comportamento de sistemas
estruturais. Para isso, foram realizados ensaios de diversos sistemas estruturais, que
posteriormente foram comparados com os resultados obtidos com simulações dos mesmos
sistemas no software Structural Analysis Program (SAP2000).
Este trabalho apresenta um programa experimental alternativo que permite a medição
dos deslocamentos sem contato direto com o modelo ensaiado. Esta metodologia foi
desenvolvida com base em estudos de análises experimentais que utilizam técnicas de
aquisição e processamento de imagens digitas (JURJO et al., 2006).
A metodologia experimental, desenvolvida neste trabalho, é constituída basicamente de
quatro etapas, que serão descritas a seguir.
5.2 Digitalização
Nesta etapa, é feita a digitalização da imagem do modelo. Após a montagem do modelo,
é aplicada uma força na direção desejada, gerando uma estrutura deformada, como a
representada na Figura 7. Esta imagem é digitalizada para posterior avaliação e comparação
com a simulação computacional.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 7 – Digitalização.
767
6. RESULTADOS
De modo geral, na comparação dos resultados, foi encontrada boa concordância entre
as deformadas do Modelo Estrutural Mola e as deformadas geradas pelo software
referentes ao comportamento dos sistemas estruturais ensaiados. A seguir, são
768 apresentados alguns resultados.
Observa-se com a sobreposição das imagens na Figura 10 que, para a coluna bi-apoiada
montada com o modelo, a configuração da deformada é bem similar à simulação
computacional. Os eixos estruturais deformados coincidem ao longo de todo o comprimento
da coluna, mostrando um bom desempenho das ligações rotuladas.
770
Observa-se com a sobreposição das imagens na Figura 15 que, para o pórtico montado
com o modelo, a configuração da deformada é bem similar à simulação computacional.
Além da validação do modelo são apresentadas algumas simulações, realizadas com o Mola,
do princípio estrutural de edificações existentes. Essas simulações têm como objetivo comprovar
a versatilidade do modelo, o qual, mesmo limitado por apenas quatro tipos de peças (molas) de
comprimentos diferentes, pode representar, devido sua coordenação modular, uma grande
772
variedade de sistemas estruturais respeitando suas características e proporções.
Quanto à escolha das edificações a serem simuladas, procurou-se definir as que tivessem
a estrutura como destaque, de forma que fosse possível a compreensão do sistema
estrutural apenas com imagens da obra finalizada, sem que houvesse a necessidade de
recorrer a informações de projeto. Todas as comparações foram feitas a partir de fotos das
edificações, em alguns casos, quando disponível e necessário, foram utilizados desenhos
esquemáticos das estruturas (Figuras 20 a 25).
773
774
7. CONSIDERAÇÕES
O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento de um modelo estrutural
qualitativo, denominado Modelo Estrutural Mola, através de comparações com simulações
computacionais.
Os resultados obtidos comprovam a eficiência do modelo para a pré-avaliação do
comportamento de sistemas estruturais. O modelo mostrou-se bastante eficiente, pois
permite a avaliação do comportamento de diferentes estruturas sob diversos aspectos,
levando em conta conceitos de estabilidade estrutural; visualização dos deslocamentos e
deformadas; comportamento quanto ao tipo de carregamento e condições de contorno; a
influência da forma e do arranjo dos elementos, além do processo de montagem. O modelo
possui praticidade de montagem e manuseio, e, ainda, fácil compreensão do funcionamento
da conexão de seus elementos.
REFERÊNCIAS
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engineering students. International Educational Journal, v. 3, n. 1, 2002. Disponível em:
<http://eprints.uthm.edu.my/1815/>. Acesso em: 27 jun. 2017.
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HILSON, B. Basic structural behaviour via models. London: Crosby Lockwood, 1972.
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esbeltas sujeitas ao peso próprio utilizando técnicas de processamento e imagens digitais. In:
Jornadas Sul-americanas de Engenharia Estrutural, 32., Campinas, 2006. Proceedings of the XXXII
Jornadas Sulamericanas de Engenharia Estrutural, 2006. p. 2276-2285.
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metálica (CEACOM III). Universidade Federal de Ouro Preto em parceria com o Instituo Metodista
Izabela Hendrix, Belo Horizonte, 2005.
OLIVEIRA, M. S. Maquete Estrutural: um instrumento para o ensino de estruturas em escolas de
arquitetura. In: Congresso Internacional da Construção Metálica (CICOM III), 3., Ouro Preto, 2006.
Disponível em:
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27 jun. 2017.
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RESUMO
Este artigo aborda o uso de modelos físicos qualitativos como processo de ensino de estruturas em
cursos de arquitetura. Práticas didáticas realizadas paralelamente à abordagem teórica facilitam e
estimulam a compreensão do comportamento e desempenho das estruturas também por meio da
percepção sensorial e do fazer. Destacam-se algumas práticas realizadas com os alunos do curso de
Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix e da Universidade de
Itaúna: maquetes humanas para simular o comportamento dos sistemas estruturais; modelos físicos
simplificados em escala reduzida dos sistemas estruturais e da estrutura de edificações existentes
para a avaliação do comportamento estrutural e processo de construção, respectivamente. Nestas
atividades, os alunos são instruídos a usar adequadamente os materiais (papelão, palito, linha, balsa,
isopor), kits estruturais disponíveis no mercado ou o próprio corpo e estimulados a solucionar
problemas. As atividades propostas proporcionam aulas mais dinâmicas que estimulam a interação e
participação dos alunos, bem como ao uso da sua própria experiência. Como resultado, observa-se
um grande interesse dos alunos no desenvolvimento dos trabalhos, entusiasmo com o resultado das
suas descobertas, reflexões e análises. Observa-se que a experimentação motiva o aluno a aprender
construindo, a trabalhar em equipe. Incentiva-o a observar, sentir, compreender e analisar a
espacialidade e a materialidade do objeto construído, seu desempenho estrutural e sua
construtibilidade. É um procedimento interativo (pensar e fazer) que busca transformar e sedimentar
o conhecimento, estimular soluções intuitivas, espontâneas e inovadoras e contribuir para facilitar a
formação do arquiteto, aproximando o estudo da realidade.
Palavras-chave: Modelos físicos qualitativos; Estruturas; Arquitetura.
ABSTRACT
This article discusses the use of qualitative physical models as a process of teaching structures in
architectural courses. Didactic practices carried out parallel to the theory facilitate the understanding
of the behavior of structures through sensory perception and doing. Some practices carried out with
the students of the Architecture and Urbanism course of the Izabela Hendrix Methodist University
Center and the Itaúna University stand out: human models to simulate the behavior of the structural
systems; simplified physical models on a reduced scale of structural systems and existing buildings for
the evaluation of the structural behavior and construction process. In these activities students are
instructed to properly use materials (cardboard, toothpick, line, styrofoam), structural kits available in
the market or the body itself and stimulated to solve problems. The proposed activities provide more
dynamic classes, stimulating the interaction and participation of the students, as well as the use of
their own experience. As a result, there is a great interest of the students in the development of the
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works, enthusiasm with the result of their discoveries, reflections and analyzes. It is observed that the
experimentation motivates the student to learn by building, to work as a team. It encourages them to
observe, feel, understand and analyze the spatiality and materiality of the built object, its structural
performance and its constructability. It is an interactive procedure (thinking and doing) that aims to
transform and consolidate knowledge, to stimulate innovative solutions and to contribute to the
architect's training bringing study closer to reality.
777
Keywords: Qualitative physical models; Structures; Architecture.
1. INTRODUÇÃO
Este artigo aborda o uso de modelos físicos qualitativos no processo de ensino de
estruturas em cursos de Arquitetura e Urbanismo. Apresenta algumas práticas didáticas
realizadas paralelamente à abordagem teórica que objetivam despertar a curiosidade,
facilitar a compreensão do comportamento das estruturas também por meio da
materialidade, da percepção sensorial e do fazer.
Os modelos físicos têm sido utilizados, desde a antiguidade, no processo de projeto de
arquitetura, bem como para determinar a forma das estruturas, avaliar e checar
comportamento das mesmas.
Segundo Otto (1990), pode-se citar, como exemplo, os modelos realizados por Fillipo
Brunelleschi em 1418 e Antoni Gaudí no período entre 1898 e 1908. Brunelleschi realizou o
modelo físico em escala reduzida (1:8) do domo (formado por duas cúpulas com base
octogonal) da Catedral Santa Maria del Fiori, Florença, para demonstrar que este poderia ser
construído em alvenaria sem uso de andaimes (Figura 1a). Gaudí foi o primeiro a utilizar
modelos físicos tridimensionais de cabos suspensos para representar experimentalmente a
forma de uma estrutura. O caminho das forças de compressão que atuariam na Cripta da
Capela Colónia Guell foi determinado com a inversão da estrutura de cabos suspensa a partir
de um modelo construído com sacos com chumbo presos a cordas fixas ao teto (Figura 1b, 1c).
Figura 1 – (a) Domo Catedral, Florença; (b) modelo da Cripta (c) foto invertida do modelo da Cripta.
a) b) c)
Fonte: (a) Disponível em: < http://www.museumsinflorence.com/musei/cathedral_of_florence.html>. Acesso
em: 15 abr. 2017; (b, c) OTTO et al. (1990, p.1.8, p.2.32).
Nos anos 50, Frei Otto e seu grupo de estudos realizaram experimentos com modelos
físicos precisos e refinados em filme de sabão (Figura 2a) e rede de cabos para interpretar e
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
a) b)
Fonte: (a) BRADASTSCH (2004, p.47); (b) OTTO et al. (1990, p.2.38); Modelo físico (ILEK), foto Eliana Nunes.
É importante destacar que os modelos físicos em escala reduzida podem ser realizados de
forma refinada e precisa, permitindo a observação, avaliação e validação das estruturas,
como, por exemplo, testes em túneis de vento (Figura 3). Modelos físicos também são feitos
de forma simplificada, representando as características mais importantes de um sistema
estrutural para observação e análise qualitativa do seu comportamento.
Figura 3 – Teste em túnel de vento para a tensoestrutura Aries (modelo físico – escala 1:50);
Figura 4 –Representação com maquete humana (a) do sistema estrutural da Forth Railway Bridge (b).
a) b)
Fonte: (a, b) Disponível em: <http://www.forth-bridges.co.uk>. Acesso em: 13 abr. 2017.
Atualmente, os modelos físicos têm sido utilizados como material didático em cursos de
arquitetura e engenharia. As autoras tiveram oportunidade de participar de alguns cursos de
pós-graduação (Especialização em Arquitetura de Estruturas Metálicas – CEACOM III, 2005;
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 6 – (a) Modelos estruturais de vigas perfil T (em papelão); (b) Configuração geral do ensaio.
a) b)
Fonte: (a) Oliveira (2008, p.55); (b) Disponível em: <https://www.catarse.me/mola>. Acesso em: 13 abr. 2017.
Figura 8 – Modelos físicos: projeto de cobertura (membrana tensionada) para a praça-anfiteatro daUFOP.
emborrachado (EVA – Etil vinil acetato) e palitos de madeira. Posteriormente, estes modelos
são testados sob a ação de cargas para avaliação qualitativa do desempenho dos mesmos.
Busca-se observar o caminho das forças e de que modo a geometria de um elemento
estrutural contribui para aumentar sua capacidade de suportar cargas, utilizando de modo
782
mais eficiente os materiais. Nos testes são observados e avaliados:
a) Caminho das forças de compressão nos arcos resultante da inversão da estrutura de
cabos suspensa (Figura 9a); o comportamento de uma cúpula formada pelo arranjo
radial de arcos conectados a aneis superiores e inferiores (Figura 9b);
b) A estabilidade de elementos sob compressão, comparando pilares com diferentes
comprimentos e dimensões da seção transversal (Figura 10);
c) A resistência de elementos sob flexão, alterando a altura da seção transversal das vigas,
ou seja, a distância entre as regiões onde atuam os maiores esforços (Figura 11);
d) A eficiência das grelhas (vigas interligadascom altura e vão reduzidos) na Figura 12;
e) A estabilidade e a capacidade de carregamento dos pórticos, com e sem
contraventamento (Figura 13);
f) A importância da geometria da superfície na rigidez à flexão das placas (comparando
superfícies planas e com dobra) na Figura 14;
g) A geometria (dupla curvatura em direções opostas), a rigidez e o comportamento de
uma casca reticulada (esforços de compressão e tração em direções opostas) e de uma
tensoestrutura (esforços de tração) na Figura 15;
h) A forma de ruptura das treliças planas e a influência da redução do comprimento livre
das pernas da treliça na sua estabilidade e resistência (Figura 16a); a estabilidade e
resistência das treliças espaciais (Figura 16b).
Figura 9 – (a) Arco (isopor) resultante da inversão da estrutura de cabo (corrente); (b) Cúpula (EVA).
a)
b)
Fonte: Eliana Nunes, 2016.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
783
Figura 11 – Teste com vigas (dimensões das vigas de papelão: b= 2,7cm; h= variável; l= 80cm).
Figura 15 – (a) Casca reticulada (palitos de madeira); (b) Tensoestrutura (nylon, linha, pregos).
784
Figura 16 – (a) Treliças planas (varetas de balsa); (b) Treliças espaciais (tubos plásticos).
a)
b)
Fonte: Eliana Nunes, 2016.
de especialização CEACOM III. A proposta é que cada grupo de alunos fabrique um kit de peças
em EVA (colunas em perfil H, bases para as colunas, vigas I, consoles), conforme roteiro de
trabalho. Em sala de aula, as peças são conectadas formando pórticos bidimensionais e
tridimensionais. No novo formato adaptado do trabalho (desenvolvido em dois dias com duas
785
horas/aula), são realizadas também outras análises, conforme será descrito a seguir.
Um dos objetivos do trabalho é o nivelamento da turma, pois é possível relembrar e
sedimentar alguns conceitos como tensões, deformações, deslocamentos e forças. Além
disso, apresentam-se novos conceitos relacionados às estruturas metálicas, além de novas
possibilidades de estabilização.
Ao longo das análises, os alunos são instruídos a fotografar cada fase do experimento e
elaborar um roteiro com o passo a passo, explicando, com suas próprias palavras e
desenhos, o que foi percebido pelo grupo em cada etapa. Para elaborar o roteiro, os alunos
são estimulados a discutir os resultados relembrando conceitos adquiridos anteriormente
em outras disciplinas de estruturas. Este processo estimula a curiosidade dos alunos que
ficam ansiosos para saber se o que eles pensaram e lembraram estava correto. No final da
aula, a professora explica os resultados de cada passo utilizando os termos técnicos, ou seja,
explicita e sistematiza conceitos já assimilados pela prática desenvolvida.
Os testes iniciais nas duas primeiras horas/aula, avaliam o comportamento de elementos
estruturais básicos, como pilar, viga, pórtico e contraventamento, sob a ação de cargas e
com diferentes tipos de vínculos. O uso do EVA é interessante devido à sua flexibilidade, pois
com este material é possível perceber as deformações locais e globais com maior facilidade
sem que haja ruptura. Desta forma, faz-se uma relação com a ductilidade do aço.
Inicialmente são aplicadas forças verticais e horizontais em pilares isolados. É
interessante perceber como os alunos tendem a pensar que em pilares só existe um tipo de
deformação, por flambagem, e que as vigas apenas sofrem flexão. Nestas análises, os alunos
compreendem que o tipo de deformação depende da direção das forças nos elementos
estruturais (Figura 17).
Figura 17 – Modelos em EVA: (a, b, c, d) Pilar1: perfil H com ligação articulada; (e, f, g, h) Pilar 2: perfil
H com ligação rígida.
Além disso, é possivel verificar a rigidez do pilar H, de acordo com a geometria do mesmo
e a direção das forças horizontais aplicadas, primeiramente na alma (Figura 17c-g) e
posteriormente em uma das mesas do pilar (Figura 17h). Nota-se que a deformação é bem
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
maior na direção de menor rigidez (Figura 17c-g). Além disso, os alunos percebem como a
intensidade da força aplicada pode variar dependendo da resistência da peça. Por isso, é
recomendado que todos os alunos do grupo apliquem as forças e não apenas observem, pois
a percepção e consequentemente o aprendizado não seriam os mesmos.
786
Ainda nesta etapa é possível perceber a diferença de comportamento dos elementos
dependendo do número de vínculos em sua ligação pilar-fundação. Os palitos de dente
fazem as vezes de chumbadores e fixam a base de EVA (placa de base) ao isopor (solo). É
possível perceber a diferença entre ligações articuladas (Figura 17a-b-c-d) e rígidas (Figura
17e-f-g-h), conforme a quantidade de palitos e a presença dos consoles, que influenciam a
transferência de momento fletor e o efeito basculante.
Após as análises dos pilares, os alunos são instruídos a fixar as peças para formar pórticos.
Na Figura 18a, é aplicada uma força vertical causando flexão na viga. Como o EVA é bastante
flexível, é possível perceber também o momento torçor e, consequentemente, as
deformações localizadas no perfil I. Posteriormente, na explicação da professora, é sugerido
que em almas muito esbeltas podem ser previstas nervuras de rigidez.
Figura 18 – Aula com maquetes em EVA: a) Aplicação de carga pontual no meio do vão da viga; b)
Testes para simulação de contraventamentos (barbantes).
Ainda utilizando os pórticos como objetos de análise, são inseridos barbantes ao sistema.
As nervuras dos consoles são perfuradas para que seja possível realizar a amarração dos
barbantes. Neste passo, os alunos entendem como os cabos de aço tracionados podem
enrijecer uma estrutura, com tão pouca massa. Estes conceitos são explicados em aulas
anteriores, mas o fato é que os alunos realmente compreendem o comportamento deste
sistema estrutural ao construir e analisar os modelos.
Figura 19 – Maquete em EVA: Simulação de conexão entre isopor (laje) e palitos (conectores).
Por meio dos testes posteriores, realizados com as mesmas peças, verifica-se a
estabilidade global de pórticos tridimensionais com e sem laje. É possível simular o
comportamento de vigas mistas, ou seja, as vigas são conectadas à laje de isopor por meio
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Aconteceram também, aulas para livre criação dos alunos, nas quais eles puderam testar
diversos arranjos estruturais não contemplados no roteiro original do trabalho como, por
exemplo, testes com balanços e tirantes, pontes estaiadas, dentre outras (Figura 21).
Em outro momento do curso, na aula sobre os tipos de perfis estruturais, é proposta uma
atividade em que se utilizam dobraduras de papel para simular o comportamento de perfis
leves, conformados a frio (Figura 22). Os alunos são orientados fazer as dobraduras em uma
folha de papel e realizar os testes individualmente.
É interessante perceber como a geometria do perfil influencia sua rigidez. Cada perfil tem
um formato específico, de acordo com sua função. Por exemplo, o perfil U é menos rígido
que o Ue enrijecido (como o próprio nome sugere), que, por sua vez, pode se tornar mais
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
estável com o acréscimo de outras dobras. Estes perfis são comumente utilizados como
pilares. Os arranjos de perfis Ue, formando um perfil caixa, favorecem sua utilização em
vigas e pilares tubulares, ou seja, a geometria altera a rigidez do elemento estrutural.
Figura 22 – Aula com dobraduras de papel – sequência de dobraduras que enrijece o pilar.
788
Ainda na mesma disciplina é utilizado o kit estrutural Mola Model para simulação de
outros sistemas estruturais como, por exemplo, as treliças espaciais (Figura 23).
As estruturas de madeira também são abordadas nesta disciplina. Neste caso é utilizado
um brinquedo didático chamado Nó Mágico que simula ligações de encaixe entre elementos
de madeira. O nó é rígido e se desfaz com a retirada de uma única peça específica. Os alunos
são desafiados a resolver o quebra-cabeça (Figura 24).
Figura 26 – Projeto da estrutura (simplificado) e kit de componentes: (a) Grid shell, (b) Banco da China.
790
Segue-se a esta prática uma atividade com maquetes humanas. Essa prática foi inspirada
nos modelos do Prof. Yopanan Rebello e na representação da Forth Railway Bridge
(OLIVEIRA, 2008) e tem como objetivo simular e analisar qualitativamente o comportamento
de alguns sistemas estruturais, bem como proporcionar a vivência da transmissão dos
esforços. É uma atividade divertida, que estimula o aprendizado de forma lúdica e, talvez,
por isso, permaneça na lembrança dos alunos mesmo depois de formados.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Por meio dessa prática, os alunos vivenciam o equilíbrio das estruturas e os caminhos das
cargas em diferentes arranjos de elementos estruturais. Além disso, os alunos percebem a
necessidade a importância dos apoios nas estruturas (Figura 30 a, b, c).
Na Figura 30b, demonstra-se como, por meio dessa prática, os alunos entendem com
792
facilidade a estabilização de uma estrutura circular com anéis de compressão (apoio das
mãos) e de tração (apoio dos pés que tendem a escorregar para trás). Nesta prática foi
necessário que outros alunos fizessem apoios com os pés para estabilizar globalmente a
estrutura. Já a Figura 30c simula-se uma estrutura tensionada.
Fonte: (a, b) Fotos fornecidas pelos alunos, 2015; (c) Imagem capturada de vídeo fornecido pelos alunos, 2015.
Figura 31 – (a) Maquete estrutural reduzida; (b) maquete humana do Palácio dos Esportes.
Após a prática de maquetes humanas realizadas em sala de aula, alguns alunos utilizaram
a mesma metodologia para analisar o Palácio dos Esportes, Roma (projeto de Annibale
Vitellozzi e Pier Luigi Nervi). Além da maquete física em escala reduzida solicitada no
trabalho prático 4, os alunos representaram com o próprio corpo o sistema estrutural do
793
estudo de caso (Figura 31).
Inicialmente, no trabalho prático 4, os estudos sobre os sistemas estruturais de forma-
ativa, vetor-ativo e de superfície-ativa (arcos, cascas, tensoestruturas, estruturas
pneumáticas dentre outros) foram baseados em exemplos de Engel (2003), como observado
na Figura 32. No entanto, chegou-se à conclusão que, para os estudantes de arquitetura, é
essencial expressar a relação entre a estrutura e o conceito do projeto arquitetônico (Figura
33). Portanto, este trabalho passou a envolver a pesquisa e análise de edifícios existentes
como base para a realização de modelos físicos em escala reduzida dos sistemas estruturais.
Figura 32 – Modelos físicos reduzidos de sistemas estruturais: a) treliças planas; b) arcos e casca; c)
superfície dobrável; d) estrutura de cabos; e) paraboloide hiperbólico; f) estrutura pneumática; g)
tensoestrutura.
A escolha dos materiais, inclusive das ligações entre peças, a necessidade de escoramento
e a fabricação da base da maquete possibilitam aos alunos um maior entendimento do
processo de fabricação e até a ordem de montagem dos elementos na obra. O processo de
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
fabricação da maquete também é avaliado, sendo que os erros e acertos fazem parte do
aprendizado. Eles aplicam forças verticais e horizontais sobre os modelos e percebem o
caminho das cargas e a deformação das estruturas. Ao final da disciplina, organiza-se uma
exposição destes trabalhos na unversidade (Figura 33).
794
3. CONSIDERAÇÕES
Teve-se por objetivo, neste artigo, apresentar práticas didáticas (maquetes humanas e
modelos físicos simplificados em escala reduzida), realizadas paralelamente à abordagem
teórica, como processo de ensino de estruturas com os alunos do curso de Arquitetura e
Urbanismo (CUMIH e UIT) e Design de Ambientes (UEMG).
A experiência de trabalho com essa abordagem permitiu considerar que tais práticas
facilitam e estimulam a compreensão do comportamento e desempenho das estruturas
também por meio da experiência e do fazer, ou seja, ampliam a compreensão do
comportamento das estruturas. As aulas se tornam mais dinâmicas, realizadas de forma
mais descontraída, já que estimulam a interação e participação dos alunos, bem como ao
uso da sua própria experiência.
Nestas atividades os alunos foram instruídos a usar adequadamente os materiais,
componentes, equipamentos ou o próprio corpo e estimulados a solucionar problemas.
Utilizaram materiais de baixo custo (ex.: papelão, palitos, linha, varetas de balsa, barras de
isopor, EVA, canudos, etc.) para realizar modelos físicos qualitativos ou kits estruturais
disponíveis no mercado. Além disso, os modelos foram testados para avaliar o
comportamento e o desempenho estrutural dos mesmos e proporcionar a vivência da
transmissão dos esforços.
Observou-se um grande interesse por parte da maioria dos alunos no desenvolvimento
dos trabalhos, entusiasmo com o resultado das suas descobertas, reflexões e análises, o que
permite afirmar que a experimentação motiva o aluno a aprender construindo, a trabalhar
em equipe. Isso porque a atividade prática o incentiva a observar, sentir, compreender e
analisar a espacialidade e a materialidade do objeto construído, seu desempenho estrutural
e sua construtibilidade. A experiência deste tipo de prática caracterizou-se também por se
constituir um procedimento interativo (pensar e fazer) que busca transformar e sedimentar
o conhecimento, estimular soluções intuitivas, espontâneas e inovadoras e contribuir para
facilitar a formação do arquiteto e aproximar o estudo da realidade.
Todo este trabalho pode ser potencializado, se as disciplinas de projeto motivarem o
desenvolvimento conjunto da arquitetura e da estrutura desde a concepção.
Registra-se aqui, entretanto, que para estimular a realização destas práticas didáticas em
cursos de graduação, necessita-se ampliar a carga horária de algumas disciplinas de
estruturas e materiais. Entretanto, observa-se que a redução da carga horária dos cursos de
Arquitetura e Urbanismo, estabelecida pelo MEC (Ministério da Educação) dificulta o uso
desta metodologia.
Realizar estas atividades e incentivar a reflexão sobre as informações da sala de aula
demandam também o investimento das universidades em infraestrutura específica (sala ou
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
BRADASTSCH, J.; PATZOLD, P.; FREITAS, C. S.; SCHEUERMANN R.; MONJO, J.; MOLLAERT, M. Form.
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2003. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2003.
MENÁRGUEZ, A. T. Francisco Mora: é preciso acabar com o formato das aulas de 50 minutos. El País,
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NUNES, E. F. Tensoestruturas: elementos e cabos associados a membranas. 2008. Dissertação
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NUNES, E. F. Investigação qualitativa da eficiência de um projeto de cobertura em membrana
estrutural. 2012. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2012.
OLIVEIRA, M. S. Modelo estrutural qualitativo para pré-avaliação do comportamento de estruturas
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OTTO, F. et al. Experiments - IL25. Stuttgart: Information of the Institute for Lightweight Structures,
1990.
REBELLO, Y. C. P. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000.
MODELOS DIDÁTICOS PARA EXPLORAÇÃO E COMPREENSÃO ESTRUTURAL
LOBOSCO, Tales
RESUMO
A utilização de modelos qualitativos didáticos no ensino da arquitetura deve se constituir como uma
ferramenta que permita a visualização dos esforços e a compreensão do funcionamento das peças e
sistemas estruturais de maneira intuitiva e clara por parte dos alunos. Estes modelos não devem
buscar a tradução direta do comportamento da estrutura em escala, tampouco reproduzir um
comportamento preciso e realístico, mas ser capaz de transmitir o padrão de funcionamento e
demonstrar as deformações a que uma estrutura é submetida, ou seja, transmitir conceitualmente a
lógica interna e os padrões de comportamento que fazem uma estrutura funcionar ou romper.
Entretanto, como ferramenta de aprendizado, os modelos devem ser simples e flexíveis para permitir
a exploração de diversas situações e variantes, ou ainda, a criação de diferentes possibilidades
estruturais para uma mesma proposta. Este trabalho se desenvolve como uma discussão teórica com
finalidade didática e apresenta os resultados preliminares obtidos com o propósito de
desenvolvimento de um modelo estrutural que permita a exploração aberta e, ao mesmo tempo,
possua um comportamento que permita a visualização dos esforços atuantes, das deformações
verificadas e da influência da forma na estrutura.
Palavras-chave: Modelo estrutural; Sistema estrutural; Ensino.
ABSTRACT
The use of didactic elastic models should be a tool, in structural and architectural classes, that allows
the understanding of the structural behavior in an intuitive and clear way. These models do not
correspond to a direct translation of the structure in scale, nor to a precise and realistic reproduction
of the structural action. Instead, they aim to be able to transmit the behavioral pattern through a
conceptual logic that shows: how the structure reacts to the forces applied; how it works, support or
failures to the internal tensions their parts are submitted to. However, as a learning tool, the models
should be simple and flexible to allow an exploration of different situations and variants. Also, they
should allow a creation of different structural possibilities for the same proposal. This work develops a
theoretical discussion, with didactic purposes, and presents the preliminary results obtained in the
quest of the development of a structural model that allows an open exploration and, at the same
time, possesses a behavior that allows the visualization of the forces, deformations and the Influence
of the shape on the structure behavior.
1. INTRODUÇÃO
A partir das transformações que afetaram a sociedade no século XX, as construções do
período puderam contar com a plasticidade do concreto armado e a leveza das estruturas
metálicas, abrindo caminho para novas relações construtivas e espaciais. Entretanto, o
797 instrumental existente para o projeto e a previsão do comportamento destas novas técnicas
precisava ser igualmente ajustado. A estabilidade destas soluções não obedecia mais à
mesma relação linear dos antigos arcos romanos e das abóbadas das catedrais medievais,
diretamente vinculados à geometria da construção, “de maneira que seus projetistas
podiam ampliar em escala, diretamente, as informações obtidas a partir de uma maquete”
(SARAMAGO, 2011, p.60).
Ainda no século XVII, Hooke já havia estabelecido a interrelação entre o comportamento
catenário de correntes penduradas e a forma ideal para abóbadas e arcos de alvenaria,
através do rebatimento das forças (ADDIS, 2007). Esta solução invertida traduzia em
compressão as relações de tração e permitiu a criação de artefatos de geometria complexa,
entretanto, o emprego desse mesmo processo seria inviável para a concepção de estruturas
sob flexão ou sujeitas à flambagem, tendo em vista que tais fenômenos não variam
linearmente em função da escala (SARAMAGO, 2011).
Assim, os modelos capazes de simular o comportamento em escala, de maneira a permitir
a previsão de carregamento e colapso de uma estrutura, tiveram que aguardar o trabalho de
Froude, que, apenas no séc. XIX, forneceu as bases necessárias para a correta transposição
dos dados fornecidos pelas maquetes (SARAMAGO, 2011). Os modelos qualitativos, ainda
que não sofressem as mesmas restrições, surgem apenas em 1932, com Beggs, e se
estabelecem somente a partir dos anos 1960 (HARRIS; SABNIS, 1999).
2. MODELOS ESTRUTURAIS
Logo no início de sua obra, Harris e Sabnis (1999) adotam a definição de Janney et. al
(1970) a respeito dos modelos estruturais:
Um modelo estrutural é qualquer elemento estrutural ou montagem de elementos
estruturais construída em uma escala reduzida (em comparação a estrutura em
tamanho real) para ser testado se utilizando da interpretação das leis de
similaridade para interpretar os resultados (JANNEY et al., 1970 apud HARRIS;
SABNIS, 1999, p.2).
Deste modo, um modelo reduzido seria adotado para identificar, de maneira simples, se
será possível, ou não, alcançar um equilíbrio, mantendo-se as proporções determinadas,
independentemente do tamanho do modelo em relação à obra real (TORROJA, 1957).
Existem diversas classificações diferentes para os modelos estruturais, de acordo com os
distintos parâmetros adotados. Entre elas está a de Harris e Sabnis (1999) que organizam
uma classificação segundo as características e finalidades dos modelos, estabelecendo,
assim, uma diferenciação essencial para o propósito deste artigo. Desta classificação,
destacamos três tipos essenciais:
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
perceber que, de maneira geral, poucos autores valorizam esta abordagem da estrutura
como fenômeno, sendo que a grande maioria ainda prioriza a avaliação dos aspectos
técnicos em detrimento dos conhecimentos qualitativos e intuitivos (OLIVEIRA, 2008).
Na direção oposta, encontramos modelos elaborados de maneira mais ou menos
799
improvisada em salas de aula, que, por sua simplicidade e por serem bastante intuitivos,
tornam-se “clássicos” na representação de determinadas situações e acabam sendo também
reproduzidos por diversos autores. Assim, temos o uso de folhas de papel – abertas, em arco
ou dobradas –, demonstrando as propriedades da forma na atuação das estruturas, que são
reproduzidas em livros como Allen e Zalewski (2010), Salvadori (2006) e Rebello (2000).
Também é frequente o uso de uma régua comum para a demonstração da influência das
dimensões em uma viga, assim como da ação da flambagem em pilares, reproduzidos em
Evans et al. (2009), Salvadori (1990), entre outros.
Também encontramos, em diversos autores, outros modelos e experimentos mais
específicos, como os apresentados por:
Salvadori (1990), que propõe a aplicação de uma camada de fita adesiva na face de
uma barra alongada de espuma, contraposta à espuma nua, para que seja possível
visualizar a atuação da armadura metálica em uma estrutura de concreto, através da
redução na deformação do modelo, pelo enrijecimento provocado pela fita;
Evans et al. (2009) e Baixas (2010), que exploram as correlações com o corpo humano
e a possibilidade de recriação destas estruturas e esforços, utilizando-se dos próprios
alunos (Figura 1).
Com a mesma intenção didática dos modelos qualitativos, Engel (2001 – Figura 2), Torroja
(1957), Rebello (2000) e Schodek; Bechthold (2015) se utilizam de desenhos elaborados com
ênfase na visualização do comportamento e das deformações das estruturas, acentuando a
atuação das forças e as reações existentes nas estruturas.
Estes desenhos trazem uma abordagem bastante eficiente para a visualização das
deformações, mas não permitem a manipulação, a alteração de intensidade, a posição dos
esforços ou a recombinação exploratória dos esquemas.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
800
Nesta mesma linha, Pravia e Orlando (2001) desenvolvem um sistema de anéis flexíveis em
treliças planas, que permite a visualização dos esforços nas barras da estrutura, não apenas
diferenciando compressão e tração, mas também permitindo a visualização da grandeza das
forças atuantes, identificadas através da intensidade da deformação dos anéis (Figura 5).
801
Figura 5 – Modelos de treliças planas com anéis flexíveis.
Oliveira (2008), através do emprego de molas no lugar das peças de uma estrutura,
elaborou o kit Mola, que permite a visualização tanto das deformações por flexão quanto
das condições de tração e compressão nas peças (Figura 6). Entretanto, a rigidez necessária
para a estabilidade do modelo tornou a diferenciação entre tração e compressão bastante
sutil. O Mola permite, com a ajuda de diversos conectores e peças acessórias, a montagem
de um significativo número de composições e variantes, mas o perfil circular e homogêneo
das barras, além dos parâmetros rígidos do conjunto, restringe a visualização dos efeitos de
forma e dimensão das peças no comportamento da estrutura.
1 A proposta de um modelo composta por blocos e tendões, não é única: em 1963, Godden desenvolveu um
modelo de blocos rígidos com tendões elásticos que passavam através deles. Não havia, entretanto, a
preocupação com a visualização das deformações ou comportamento estrutural, pois Godden buscava calcular
a carga de colapso, em estruturas metálicas, simulando rótulas plásticas (HARRIS; SABNIS, 1999).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
803
Esta concepção foi elaborada para permitir a montagem, de maneira relativamente fácil,
de diversas configurações estruturais distintas e para que estas configurações pudessem ser
testadas com diferentes dimensões – alterando o tipo de bloco aplicado – e com diferentes
resistências – a partir do uso dos diferentes elásticos – em pontos específicos da estrutura.
Outras peças foram testadas, tanto em MDF quanto em EVA, mas acabaram sendo
descartadas por terem a montagem mais complexa e por seu comportamento não se
mostrar adequado à visualização dos fenômenos. Por fim, nos exemplos apresentados,
utilizamos apenas dois tamanhos de cada peça, pois buscávamos apresentar as formas de
articulação dos elementos e não esgotar as possibilidades exploratórias. Assim,
principalmente por se tratar de um modelo em desenvolvimento, a gama mais ampla de
elementos permanece sendo parte importante do conjunto, a ser estudada, e
complementada, em ensaios futuros.
Nestas montagens, aparentemente as zonas sob compressão não solicitavam a ação dos
esforços, por isso experimentamos uma configuração estrutural semelhante, mas,
posicionando os elásticos apenas nas áreas sob tração, deixando as zonas comprimidas
apenas em contato. Percebemos que o modelo não demonstra alteração evidente na
804
deformação por momento fletor, mas o cisalhamento entre os blocos aparece mais evidente
e também fica mais significativa a possibilidade de torção lateral da peça (Figura 11).
Figura 12 – Vigas com aumento da dimensão nas áreas de maior momento fletor.
Com esta nova configuração, percebemos que o modelo permite a visualização dos
efeitos da dimensão das peças no comportamento de uma estrutura: o ajuste na altura da
viga provocou uma significativa redução na deformação das zonas submetidas à flexão.
Nas montagens lineares com o bloco 2, o modelo também permitiu a visualização dos
fenômenos de deformação e da identificação das áreas sob tração, mas a maior dimensão
horizontal dos blocos prejudicou a leitura dos resultados.
806
4.4 Montagens em Arcos
A flexibilidade formal do bloco 2 permitiu a exploração do modelo em formas curvas e
estruturado apenas pelos elásticos internos, de maneira que a montagem em arco se
apresentou como uma estrutura autoportante. Esta montagem permitiu a visualização da
deformação e do posterior colapso, de acordo com os diferentes carregamentos (Figura 17).
Figura 17 – Arcos.
807
Nestas montagens, o modelo permitiu boa visualização tanto das deformações lineares,
quanto das situações de torção que ocorreram nas peças, ficando evidente os esforços
decorrentes do carregamento e a necessidade dos reforços elásticos.
Também experimentamos montagens em viga balcão, curvas e triangulares, nas quais os
modelos, a exemplo da situação anterior, apresentaram boa visualização dos esforços e
torções encontrados nas estruturas, permitindo a visualização tanto das deformações
quanto das regiões tracionadas e comprimidas das peças (Figura 22).
Figura 23 – Lajes.
5. CONSIDERAÇÕES
A tarefa do professor de estruturas, como de qualquer outro, é sobretudo,
tornar o assunto acessível e atraente aos jovens sem com isto ser apenas
superficial, ao contrário, dando o máximo de profundidade e de realce a sua
disciplina (POLILLO, 1968).
AGRADECIMENTOS
809 Não poderia encerrar este artigo sem um especial agradecimento ao LAGEAR da Escola de
Arquitetura da UFMG, pelo uso dos equipamentos necessários à construção dos modelos e
ao Rodrigo “Rod” Marcandier, por ajudar a operá-los.
REFERÊNCIAS
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TORROJA, E. Razón y Ser de los Tipos Estructurales. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones
Científicas, 1957.
O CANTEIRO EXPERIMENTAL COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO DE ESTRUTURAS
NASCIMENTO, Amanda Campos (1); SILVOSO, Marcos Martinez (2); GONÇALVES, Jardel Pereira (3)
RESUMO
Nas últimas décadas, o ensino de Arquitetura vem se distanciando do “fazer” arquitetônico no que
engloba transformar a reflexão teórica e conceitual em práxis. Essa dificuldade em conceber a
materialização da Arquitetura compõe o quadro de distanciamento do arquiteto da obra e do seu
descolamento da composição estrutural do projeto. O avanço e as mudanças tecnológicas e
construtivas atuais suscitam a discussão de reformular a aprendizagem de estruturas, dessa forma,
se faz necessário refletir sobre estratégias já existentes como: laboratórios, atelier de projeto, aulas
práticas e o Canteiro Experimental. Este último figura como equipamento didático importante ao
ensino de Arquitetura e Urbanismo, respaldado pelas diretrizes curriculares nacionais e por
experiências já consolidadas em universidades. A implantação de espaços experimentais em
Faculdades de Arquitetura é fundamental no que concerne a ser mais uma ferramenta de integração
entre teoria e prática, surgindo especialmente nos últimos anos como estratégia citada nos
programas políticos pedagógicos destas instituições. Desta forma este trabalho tem como objetivo
verificar o uso do Canteiro Experimental associado ao ensino de estruturas nos cursos de Arquitetura
em universidades brasileiras. Para atingir tal objetivo, o projeto de extensão universitária, foi dividido
em 3 etapas: (I) Revisão bibliográfica sobre o tema; (II) Levantamento de Universidades com espaços
experimentais; (III) Associação de atividades no canteiro com o ensino de estruturas.
Palavras-chave: Canteiro Experimental; Ensino; Estruturas.
ABSTRACT
In the last decades, the teaching of architecture has been distancing itself from the architectural
"doing" in which it comprises transforming the theoretical and conceptual reflection into praxis. This
difficulty in conceiving the materialization of Architecture composes the framework of distancing the
architect from the work and its detachment from the structural composition of the project. The
advance and the current technological and constructive changes raise the discussion to redesign the
learning of structures, thus it is necessary to reflect on existing strategies such as: laboratories, a
project studio, practical classes and the experimental job site. This one is an important didactic
material for the teaching of Architecture and Urbanism, supported by national curricular guidelines
and experiences already consolidated in universities. The implantation of these experimental job sites
in Colleges of Architecture is fundamental in what concerns to be another tool of integration between
theory and practice, appearing especially in recent years as a strategy mentioned in the pedagogical
political programs of these institutions. In this way, this work has the objective of verify the use of
experimental job sites associated to the teaching of structures in the courses of Architecture in
Brazilian universities. To achieve this objective, the university extension project was divided into three
stages: (I) Bibliographic review on the subject; (II) Survey of Universities with experimental spaces; (III)
Association of activities in the construction site with the teaching of structures.
Keywords: Experimental job site; Teaching; Structures.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
É notável a fragmentação das áreas de conhecimentos no ensino da Arquitetura e
Urbanismo nas universidades brasileiras. O processo de estruturação dos cursos, ora voltado
à academia de Belas Artes ora a Politécnica, e mais tarde com a consolidação de Faculdades
811 independentes, tornou a grade curricular bastante extensa, mas pouco integrada entre si. A
realidade atual é o distanciamento do arquiteto da prática construtiva e do domínio técnico.
Como discutido por Lopes (2014, p.3), “esse contexto é uma opção – deliberada ou não – por
uma determinada concepção de atuação profissional”. Essa concepção seria a condução ao
esvaziamento da profissão, essencialmente das atribuições políticas e sociais.
Pode-se afirmar que falta, em muitos casos, a consciência sobre o processo de
materialização do projeto. As tecnologias construtivas e sistemas estruturais acabaram por
serem relegadas a segundo plano, na dualidade entre arte e técnica. Segundo Saramago:
O ensino do comportamento estrutural dentro da formação em Arquitetura
deveria então se voltar ao desenvolvimento daquilo que diversos autores-revisados
[...] denominaram de “sentimento estrutural” dos estudantes: de um raciocínio (a
consciência do processo) sobre o funcionamento das estruturas. Raciocínio este
que os capacite a formular soluções estruturais e a comprovar sua eficiência,
integrando conhecimentos em uma síntese criadora (SARAMAGO,2011, p. 34).
2. METODOLOGIA
O projeto de extensão universitária, foi dividido em 3 etapas: (I) Revisão bibliográfica
sobre o tema; (II) Levantamento de Universidades com espaços experimentais; (III)
Associação dos exemplos de atividades no canteiro com o ensino de estruturas. Foram
levantadas ações análogas ao Canteiro Experimental, desde propostas ou projetos de
implantação de espaços experimentais, canteiros experimentais já consolidados, realização
de seminários e discussões (artigos e teses publicados), andamento de pesquisas (iniciação
científica, mestrado ou doutorado) e atividades didáticas concretizadas com viés de
experimentação. Posteriormente foi enviado um questionário online para as seguintes
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
universidades: USP, UPM, UFRJ, PUC-RIO, USU, UEMA, UFFS, UFMS, UFPR, PUC-RS, UNESP,
UNB, UNISANTOS, UFSC, PUC-Campinas, UFPE, UFAM, UFMT, UFSJ, Unicamp, UNILA e
UNIMEP. Destas 22, apenas 9 enviaram respostas, são elas: USU, UFMS, UNILA, UNB, UFFS,
UFRJ, USP, UNIMEP e UPM.
813
O questionário foi enviado a departamentos do curso e/ou professores responsáveis por
espaços experimentais. Está composto de 6 perguntas diretas, como descrito no Quadro 1.
organizador de novos conteúdos específicos naquele que se formava. Aliados com a prática
da experimentação no ensino de Arquitetura, os professores Antônio Battaglia, Érica
Yoshioka e Elisabetta Romano, iniciaram a implantação de um espaço experimental nesta
instituição. O canteiro da FAU-USP foi denominado de “Antonio Domingos Battaglia” e
814
passou a contar com uma sede física em 1997, com projeto arquitetônico de autoria do
Professor Reginaldo Ronconi. Atualmente o espaço possui uma área bastante extensa de
3.000 m², conforme Figura 1.
Existe um alambrado que o cerca, uma cobertura tenso têxtil de 380 m²,onde acontecem
a maior parte das atividades e ficam armazenados muitos materiais. Uma estrutura em
forma de arco foi construída por alunos em atividade no Canteiro e atualmente é utilizada
como escritório e sede do Laboratório de Culturas Construtivas (LCC). Na Figura 2, é possível
visualizar dois containers que estão em processo de adaptação para abrigarem um espaço de
apoio administrativo e de pesquisa com computadores.
• Último Semestre: A disciplina optativa propõe um tema a ser desenvolvido pelos alunos. O
trabalho é único para classe toda e deve conter detalhes para sua execução e
desenvolvimento, através de um cronograma. A Figura 4 exemplifica um destes exercícios.
Neste Canteiro pode ser verificado sobretudo seu viés voltado ao ensino de técnicas
construtivas, privilegiando exercícios executadas em grupo.Conforme Ronconi:
Nas atividades desenvolvidas no Canteiro Experimental um mesmo problema é
examinado pelos olhares dos técnicos das oficinas, dos estudantes e dos
professores. Olhares com formações diversas, porém concentrados no mesmo
objetivo. Esse diálogo, de fazeres e propostas, estabelece suporte para interações
que são raras no meio acadêmico (RONCONI, 2008, p.8).
Apesar de ser um Canteiro com quase 20 anos de funcionamento, ainda concentra suas
atividades em disciplinas de tecnologias que poderiam ser melhor integradas com outras de
projeto e teoria, pois há pouca presença destas últimas no Canteiro. Por consequência,
muitas vezes empírica, as considerações que os alunos podem extrair sobre sistemas
estruturais a partir dos exercícios são promissoras, mas necessitam de um maior
desenvolvimento e amadurecimento por parte das disciplinas específicas de estruturas.
A presença de um canteiro experimental em uma faculdade de arquitetura
eurbanismo só se concretizará, plenamente, quando sua presença também se
tornar nítida no plano curricular daquela. E para que isso aconteça é necessário
discutir o propósito pedagógico e o interesse institucional, para encontrar a forma
mais favorável à implantação da atividade (RONCONI, 2005, p.146).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
A implantação sobre este canteiro foi levantada há algum tempo, quando Pisani, Caldana,
Corrêa, Villá e Amodeo propõem estudo sobre a implantação de um Canteiro Experimental
na UPM:
Lançando-se mão, portanto, de outras formas de refletir sobre as questões
tectônicas, neste caso intermediadas pelo contato direto com as especificidades
819
físicas e construtivas dos materiais a serem manipulados, acreditamos estar dando
um importante passo para o aprimoramento do ensino, no âmbito da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, ainda mais agora que, neste momento, agrega-seà FAU o
curso de Desenho Industrial (PISANI et al., 2009, p.15).
Desde então, tem servido de apoio a trabalhos de TFG e em ações de disciplinas do setor de
Tecnologia da Construção. Em sua definição, o Canteiro Experimental da FAU/UFRJ “centra
suas atenções na experimentação prática construtiva como ação de convergência entre
ensino pesquisa e extensão na formação do arquiteto urbanista”.
820
O Canteiro Experimental da FAU/UFRJ, além de servir como suporte em atividades
didático-pedagógicas e na execução de protótipos para trabalhos de graduação, colabora
com a reflexão e proposição de soluções dentro de ocupações de movimentos organizados
de luta pela moradia, além de ser parceiro no desenvolvimento de melhorias habitacionais
de interesse social em comunidades. Também serve de espaço para realização de oficinas
sobre técnicas construtivas não convencionais e atua em parceria com o Escritório Modelo
de Arquitetura e Urbanismo – ABRICÓ. Em tais atividades, busca-se a interação no
desenvolvimento de temáticas convergentes em disciplinas acadêmicas, projetos de
pesquisa de Iniciação Científica e de Pós-Graduação e promove o entendimento da questão
da prática construtiva, além de temas relevantes como o da habitação de interesse social.
Os objetivos do Canteiro Experimental da FAU/UFRJ são apresentados a seguir:
Representar um espaço de convergência de ensino, pesquisa e extensão na
Arquitetura através da experimentação construtiva e do atendimento às necessidades
da sociedade;
Possibilitar espaço e território fértil para o desenvolvimento de novas técnicas,
produtos, componentes e materiais de construção;
Auxiliar na percepção da totalidade da ação do arquiteto;
Envolver o aluno numa “práxis” que o retire da pura abstração da teoria;
Colocar os arquitetos em formação ou já formados em contato com a realidade do
canteiro, com o peso das coisas e com a fertilidade inventiva do fazer;
Promover um método de conscientização, instituir como um espaço de unidade entre
o saber e o fazer, como lugar da problematização e da autonomia dos sujeitos na
definição de sua atuação;
Desnaturalizar e transformar os canteiros de obra convencionais;
Contrapor-se à privatização do saber e as estruturas acadêmicas, a favor do uso
público do conhecimento, para estabelecer novas técnicas e processos de trabalho;
Promover a troca de experiências entre a academia e a sociedade.
As ações de experimentação são realizadas no LEMC e em sua área externa, onde está
localizado o Canteiro Experimental. O LEMC é constituído por uma área de cerca de 400 m 2,
dividida em um salão principal, uma sala de aula, uma sala de projetos, depósito e câmara
úmida. A Figura 7 apresenta uma visão geral do salão principal do LEMC.
O Canteiro experimental é constituído por uma área de aproximadamente 1.000 m2,
contando com um módulo de apoio com cerca de 60 m2 e um radier de cerca de 290 m2, área
pavimentada com blocos intertravados e área verde. A Figura 8 e a Figura 9 apresentam,
respectivamente, uma visão geral externa do canteiro e do módulo de apoio, e sua a área
interna. Nas áreas localizadas a frente e atrás do módulo de apoio, são implantados os
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
822
O exercício (aplicado desde 2015.2) procura abordar todas as fases de projeto e execução,
com o desenvolvimento da conceituação, elaboração de projeto básico e executivo (plantas de
fôrmas, detalhamento das armaduras e quantitativo de materiais), análise estrutural, projeto
do material com avaliação experimental de suas propriedades físicas e mecânicas, produção
de fôrmas e armaduras, execução de concretagens, desforma e montagem dos elementos. A
Figura 10 exemplifica o resultado obtido ao final do exercício proposto.
Na disciplina Processos Construtivos III, com o Professor Fernando Cesar Negrini Minto, já
foram realizados diferentes exercícios, dentre os quais, destaca-se a construção de arcos e
de elementos portantes em alvenaria de tijolos. Atualmente os alunos são estimulados, a
partir da visita a uma comunidade, a enxergar sua realidade, vislumbrar um problema e
propor uma solução construtiva para o problema observado. Por se tratar de um exercício
completamente aberto, em que os alunos formulam e propõem o problema, os projetos
abrangem uma ampla variedade de materiais e sistemas construtivos. As soluções
apresentadas tratam de diferentes temas, tais como aproveitamento de resíduos, vedações,
esquadrias, sistemas prediais, coberturas, etc (Figura 11).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
823
7. DISCUSSÃO
Tradicionalmente o ensino de análise estrutural, tanto nos cursos de engenharia quanto
nos cursos de arquitetura e urbanismo, parte da construção de modelos analíticos para a
determinação de grandezas físicas e de esforços solicitantes em elementos estruturais.
Conceitos como equilíbrio, reações de apoio, tensão, deformação, tração, compressão,
momento fletor e esforço cortante são apresentados juntamente com métodos de cálculo
de modo repetitivo e, na maioria das vezes, abandonando seu significado físico. Também no
dimensionamento de estruturas de Concreto Armado e de Aço é comum que o ensino se
limite à adoção de expressões e tabelas provenientes de referências normativas, de modo a
obter as dimensões das seções mais adequadas para os elementos estruturais típicos de um
edifício (viga, laje e pilar). Tal metodologia, limitada e repetitiva, leva o estudante a uma
precária compreensão do comportamento estrutural de fato.
A reflexão deste contexto de ensino na prática profissional é ratificada pelo mercado de
trabalho que perpetua posições insignificantes aos arquitetos na área de construção e
tecnologias. Considerando estruturas como parte integrante do ramo de tecnologias nos
cursos de Arquitetura e Urbanismo, o debate sobre o ensino e aprendizagem da mesma
pode nos encaminhar a prática da “boa” arquitetura. Lopes (2014, p.15) lança um
questionamento “E como não dizer que construir trincheiras contra o atual estado de
irrelevância pública do ofício é exatamente o que deveríamos tratar como ‘ensino de
tecnologia’?”. É justamente nesse ponto que se pode apropriar de estratégias de ensino não
tradicionais ou ainda pouco utilizadas, explorando aqui o Canteiro. Observa-se que o uso
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
deste espaço pedagógico não deve excluir outras possibilidades, de forma a exercer
hegemonia sobre o ensino tecnológico na graduação.
O Canteiro Experimental, que em uma de suas facetas representa um espaço de
experimentação construtiva, mostra-se com potencial para tornar-se um importante
824
instrumento pedagógico para o ensino de estruturas. Não apenas funcionando como um
laboratório para, através de ensaios experimentais, verificarem a acurácia do modelo
analítico utilizado, mas também permitindo ao estudante a liberdade da experimentação
com uma base conceitual adequada.
Observa-se, no entanto, que as ações de Canteiro Experimental pesquisadas estão em sua
maioria relacionadas com o “fazer” para aprender arquitetura através do empirismo. Em
geral, associadas a disciplinas de tecnologia da construção, a abordagem no campo do
ensino de estruturas ainda é restrito.
Nesse cenário, a proposta do exercício proposto na disciplina Processos Construtivos II no
Canteiro Experimental da FAU/UFRJ pode representar uma estratégia viável para auxiliar no
ensino de estruturas. Na medida em que os alunos são desafiados a projetar e construir um
elemento, que não necessariamente terá uma forma que possa ser aproximada com os
modelos analíticos utilizados no ensino tradicional de estruturas, estes devem aplicar e
expandir os conhecimentos adquiridos nas disciplinas de estruturas de modo a garantir a
funcionalidade e estabilidade do elemento construído. Acredita-se que, aliando o conteúdo
técnico de materiais e estruturas a um exercício de Canteiro Experimental, desenvolve-se
uma apropriação natural do conhecimento adquirido.
8. CONSIDERAÇÕES
Após a realização deste levantamento, é possível inferir que dentre as 04 universidades
visitadas, a USP, UPM e Unicamp possuem canteiros com viés mais focado em atividades
ligadas a técnicas construtivas, com potencial para desenvolver mais exercícios com
estruturas. O envolvimento das disciplinas específicas de estruturas ainda é rarefeito nestas
instituições, em grande maioria sendo destinada à aplicação de exercícios pontuais no
canteiro, sem maiores implicações interdisciplinares. Nota-se que a UFRJ já direcionou um
maior foco ao ensino de estruturas através da disciplina Processos construtivos II.
Essas experiências aqui levantadas servem como embasamento para analisar a
conjuntura do ensino de tecnologias e estruturas no curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal da Bahia (UFBA). A análise do Canteiro Experimental como ferramenta
de ensino estruturas pode beneficiar a comunidade acadêmica, visto que a UFBA não possui
um espaço como este, mas tem se movimentado em busca de garantir outras possibilidades
de ensino e prática. Cabe ainda observar as potencialidades do canteiro para o “fazer
arquitetônico” e como isso pode se adequar às particularidades do ensino nesta instituição.
Essa construção coletiva será possível a partir de discussões como esta.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
À Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal da Bahia, pelo financiamento do
Programa Institucional de Bolsas de Extensão Universitária (PIBIEX). À Faculdade de
Arquitetura e a Escola Politécnica da UFBA, pelo apoio. Às universidades participantes do
825 projeto, pela colaboração. Em especial à UFRJ, USP, Unicamp e UPM, pela disponibilidade
durante as visitas técnicas.
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rbanismo.pdf >. Acesso em: 25 de jan. 2017.
O SONHO DA INTUIÇÃO ESTRUTURAL OU A NOSTALGIA DO CANTEIRO NO
DESENHO
KAPP, Silke (1); SANTOS, Roberto Eustáaquio (2); SILVA, Athos Souza e (3)
RESUMO
O termo intuição nunca deixa de comparecer nas interseções do campo da arquitetura com o campo
da engenharia estrutural. Enquanto engenheiros calculam, arquitetos almejam uma apreensão
intuitiva das estruturas, que lhes permitiria tomar decisões sem as penúrias da matemática. O
presente texto propõe um exame do conteúdo desse sonho da intuição estrutural e das razões que o
fazem persistir. Começamos pela filosofia do século XVIII (Wolff e Kant), que restringe a intuição
humana à sensibilidade e às imagens. Examinamos então, à luz das proposições teóricas de Sérgio
Ferro e da historiografia de Antoine Picon, como os novos engenheiros desse mesmo período se
esforçam por uma subordinação do trabalho nos canteiros de obra, entrando nos meandros do
processo produtivo e desmantelando o conhecimento técnico que garantia a estabilidade das
construções até então. Arriscamos a interpretação de que o desenvolvimento de uma ciência das
estruturas foi antes consequência do que causa daquele desmantelamento. Mas ela leva à situação
contraditória de que o tempo de trabalho, medida do lucro, aumenta em vez de diminuir. Nossa
hipótese é que dessa contradição decorre a busca por métodos “intuitivos” de definição das
estruturas, como, particularmente, a grafoestática. Por fim, sintetizamos algumas indicações para o
ensino de estruturas que derivam dessa perspectiva histórica.
Palavras-chave: Intuição sensível; Século XVIII; Ofícios da construção; Conhecimento técnico.
ABSTRACT
The word intuition never fails to appear at the intersections between architecture and structural
engineering. While engineers calculate, architects long for an intuitive apprehension of structures
that would enable decision making without mathematical effort. This paper explores such dream of
structural intuition, and the reasons for its persistence. We begin with eighteenth century philosophy
(Wolff and Kant), which restrains human intuition to the realm of senses and images. Based on Sérgio
Ferro's theoretical approach and Antoine Picon's historiography, we then examine how the new
engineers of this very period strove for subordinating workforce on construction sites, interfering in
the minutiae of the production process, and dismantling the technical knowledge that so far had
guaranteed construction stability. We venture the interpretation that structural science development
was rather a consequence of such dismantling than its cause. But it led to a contradiction: working
time, the measure of all profit, increased instead of diminishing. Our hypothesis is that this
contradiction gave rise to the search for 'intuitive' methods of structural definition, in particular
graphic statics. We conclude outlining some pointers on structure teaching based on our historical
perspective.
Keywords: Sensible intuition; Eighteenth century; Building crafts; Technical knowledge.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
Nas interseções da arquitetura com a engenharia estrutural, seja no ensino ou na prática
profissional, o termo intuição nunca deixa de comparecer. Um exemplo imediato está no
texto de chamada para o presente evento, que menciona “o aprendizado intuitivo do
827 funcionamento das estruturas” como um tema a tratar. Outro exemplo é o relato de Vitor
Lotufo sobre como começou a lecionar disciplinas de estruturas, junto com professores de
engenharia, “no objetivo de amenizar e traduzir as aulas para alguma coisa mais palatável
para estudantes de arquitetura” ou, como ele diz alguns parágrafos adiante, “para mentes
mais próximas da arte do que da matemática”1. Palavras como amenizar e traduzir, assim
como a contraposição de arte e matemática, são indícios do que aqui chamamos de sonho
da intuição estrutural: enquanto engenheiros calculam, arquitetos parecem almejar uma
apreensão das estruturas que lhes permitiria tomar decisões certeiras sem passar por aquelas
operações analíticas que, além de serem morosas, sempre implicam o risco de fazer perder
de vista a totalidade estrutural e até, paradoxalmente, a operação da construção.
Nosso objetivo é uma breve investigação teórica e histórica acerca desse sonho da
intuição estrutural, de seus conteúdos e origens, e das razões que o tornaram tão persistente.
Começamos por apontamentos acerca do significado da intuição no contexto da filosofia do
conhecimento do século XVIII, isto é, na soleira da revolução industrial e urbana. Examinamos
então o início de uma reorganização dos canteiros de obra nesse mesmo período, relendo, à
luz das proposições de Sérgio Ferro, a história da engenharia setecentista escrita por Antoine
Picon. Inspirados na manufatura, os novos engenheiros se esforçam por uma subordinação
do trabalho que já não será apenas formal, mas real. Ela entra nos meandros do processo
produtivo e desmantela os ofícios da construção e o tipo peculiar de conhecimento técnico
que garantia a estabilidade das construções até então. Arriscamos a interpretação de que o
desenvolvimento de uma ciência das estruturas foi antes consequência do que causa daquele
desmantelamento. Mas ela gera uma situação contraditória, mesmo do ponto de vista do
comando: o tempo de trabalho, medida do lucro, aumenta em vez de diminuir. Nossa
hipótese é que dessa contradição decorre a busca por métodos “intuitivos” de definição das
estruturas, como, particularmente, a grafoestática. Sabemos que a interpretação aqui
ensaiada não oferece respostas pragmáticas à pergunta sobre o ensino de estruturas para
arquitetos, mas ela ajuda a ver a própria pergunta com outros olhos, e disso derivam, sim,
algumas indicações concretas, tratadas no último item do presente texto.
Um tema como a intuição de arquitetos versus o cálculo de engenheiros tende
perigosamente a chavões (como intuição feminina versus racionalidade masculina). Por isso,
cabe esclarecer desde já que nosso interesse não está na literatura de autoajuda sobre
intuição nem nos papeis socialmente construídos e incorporados que ela fomenta. Interessa-
nos, sobretudo, a diferença entre uma produção material regida por conhecimentos técnicos
operativos e uma produção material regida por conhecimentos tecnológico-científicos.
1 Trata-se de um manuscrito de ainda inédito, que o autor gentilmente nos disponibilizou e que temos
estudado com grande proveito.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Baumgarten (1983 [1735]) explora justamente esse aspecto do conhecimento claro confuso
para inaugurar a “ciência do conhecimento sensível” ou Aesthetica, que mais tarde se torna
uma disciplina filosófica e uma maneira nova de conceber a recepção das (Belas) Artes.
Mas a estética como disciplina demora a se instituir. Quando Kant desenvolve, na Crítica
829
da Razão Pura (1989 [1787]), a teoria do conhecimento que explicaria o revolucionário avanço
da física newtoniana, ele ainda considera equivocada a apropriação do termo alemão Ästhetik
para aquilo que em outras línguas era chamado de “crítica do gosto”. À maneira antiga, Kant
entende aisthesis como sinônimo de receptividade dos sentidos e denomina “estética” a
parte da teoria que trata do funcionamento da sensibilidade, complementar à “lógica”, que
trata do funcionamento do entendimento.
Sem nenhuma pretensão de entrar nos meandros da filosofia kantiana e tomando uma
distância um pouco maior do que os especialistas nesse assunto costumam fazer, talvez não
seja abuso dizer que a Crítica da Razão Pura se lê como uma descrição da divisão do trabalho
no interior do aparato cognitivo humano. As únicas portas de entrada para a consciência são
os sentidos (visão, audição etc.), mas as afetações que recebem se ordenam imediatamente
segundo o que Kant (1989, p. B36) chama de “formas puras da intuição sensível”: espaço e
tempo. Assim, a sensibilidade produz “intuições”, dados externos informados por tempo e
espaço, que constituem a matéria-prima com que a faculdade do entendimento será capaz
de pensar “conceitos”. Apenas nessa conjunção de sensibilidade e entendimento se chega
ao conhecimento. Para Kant, não existe conhecimento intuitivo, da mesma maneira que não
existe intuição intelectual. Intuições são sempre sensíveis e o conhecimento é sempre um
processamento dessas intuições mediante raciocínios.
Mais tarde, na Crítica da Faculdade do Juízo (1995 [1790]), Kant reconsidera a questão da
estética ou crítica do gosto. A prazerosa instantaneidade do “conhecimento sensível”, como
Baumgarten o chamara, é explicada como jogo livre entre as faculdades da imaginação e do
entendimento, que não leva a nenhum conhecimento, mas gera o sentimento de que uma
representação (da consciência) faz sentido. Pode-se dizer, numa linguagem não rigorosamente
kantiana, que o belo provoca a ilusão daquele conhecimento intuitivo que na verdade nos
falta; parece que apreendemos uma totalidade em todas as suas partes, sem fazer esforço.
O que seria, à luz dessas teorias, o conteúdo da intuição estrutural com que os arquitetos
sonham? Tal como a intuição divina ou intelectual, intuição estrutural significaria que um
arquiteto, diante de um projeto ou uma construção, teria imediatamente o conhecimento
claro, distinto e adequado da estrutura, na sua totalidade e em cada elemento e relação.
Como isso não é possível, costumamos recorrer às representações de que temos intuição:
objetos palpáveis e imagens, de fato mais próximos das artes do que da matemática, como
diria Lotufo. Fazemos modelos e desenhos para driblar ou atalhar aquilo que, não por acaso,
se chama análise estrutural – dissecação do objeto e perda da totalidade. Mas modelos e
desenhos contêm armadilhas: quando apresentam coerência visual ou são, nos termos de
Kant, belos, provocam o jogo livre de imaginação e entendimento que leva à prazerosa
ilusão de uma compreensão imediata que na realidade não ocorreu.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
832
contexto, que requer operações materiais e aritméticas suficientemente simples para permitir
razoáveis previsões de custos e prazos. O passo seguinte foi a tentativa de aplicar a mesma
lógica à construção de pontes. Como nesse caso as operações são mais sofisticadas e a mão
de obra é mais qualificada e diversa, os cálculos de materiais e tempo de trabalho se tornavam
833
mais difíceis. Os engenheiros se aproximaram da questão por meio de descrições cada vez
mais minuciosas do produto e do passo a passo de sua execução. “Como num modelo
anatômico, o plano exibia as diferentes camadas da construção” (PICON, 1992, p. 153). O
caminho entre concepção e realização já não era deixado às decisões de múltiplos agentes,
mas passava a fazer parte do projeto.
Em 1773, por exemplo, Perronet faz uma preleção na Académie Royale des Sciences,
intitulada “Memória sobre o cimbramento e o decimbramento de pontes, e sobre os
diferentes movimentos dos arcos durante a sua construção”. O título e as ilustrações não
deixam dúvida de que o tema é o processo (PERRONET, 1777; Figura 2). Em 1793, Perronet
publica um “Projeto de uma ponte de vão de carpintaria de trinta e seis pés, aberta na parte
superior [levadiça], de dez pés de largura e sem chave”. O documento contém uma única
prancha de desenho, mas 27 páginas de descrição dos componentes, com todos os pesos e
medidas. Ou, para citar um último exemplo, o livro mais conhecido de Perronet trata de
projetos e construções de pontes, incluindo um suplemento com ilustrações dos dispositivos
usados nos canteiros (PERRONET, 1789; Figura 3). À diferença dos arquitetos do classicismo
francês, Perronet tenta imprimir aos empreendimentos construtivos, do início ao fim, uma
única lógica, que se aplica aos meios de produção da mesma maneira que à força produtiva:
Forma e processo de construção foram fusionados, assim como trabalho e materiais
foram postos na mesma condição. Como os trabalhadores, via-se a pedra
'trabalhando' no arco da ponte; ela carregava tanto a marca de sua origem geológica
quanto a marca do esforço despendido em cortá-la (PICON, 1992, p. 168).
A partir de uma formação profissional atual, tendemos a imaginar que a estabilidade das
construções teria sido sempre um grande problema para os construtores, até surgir uma
ciência físico-matemática para salvá-los. Na realidade, nem os arquitetos do século XVIII nem
os engenheiros da escola de Perronet tinham um “problema estrutural”. Dizia-se que a solidez
estaria garantia se fossem respeitadas certas proporções no desenho e se a execução fosse
bem feita; o que, traduzido, significa que as construções seriam estáveis se os projetistas
deixassem espaço para que os construtores erguessem a estrutura portante dentro dos
volumes desenhados, usando dimensões e conexões de eficácia comprovada por uma tradição
empírica de séculos. O problema estrutural aparece quando o comando externo entra nos
meandros desse processo em busca de economia de material e trabalho, restringindo a
possibilidade de o corpo produtivo agir conforme o próprio conhecimento técnico. O intuito
de uma racionalização dos canteiros abala a naturalidade (ou a cegueira) com que se
costumava lidar com a duplicidade de estrutura fictícia visível e estrutura portante invisível.
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Figura 2 – Jean Rodolphe Perronet, desenho do processo construtivo de uma ponte de pedras antes
e depois da retirada do cimbramento.
834
Picon não explicita a questão nesses termos, mas ele nota, por exemplo, que “a construção
clássica em cantaria envolvia materiais adicionais que eram usualmente escondidos dentro das
grossas paredes” (PICON, 1992, p. 146). Nesse contexto, ele cita também queixas como a de
Laugier acerca das “enormes massas que se encontram muito frequentemente nas nossas
construções modernas” (LAUGIER apud PICON, 1992, p. 148).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Ora, a engenharia de pontes desenvolvida por Perronet levou a inovações nas formas de
arcos e pilares para torná-los menos massivos do que de costume, mas, se observarmos de
perto essas mudanças, elas não chegam a impressionar pela concepção estrutural. São
experimentos empíricos que se apoiam inteiramente no conhecimento dos canteiros e na
835
habilidade dos trabalhadores. Para ir além, reduzindo ainda mais o consumo de material e
simplificando os procedimentos da construção (rumo aos procedimentos da fábrica de
alfinetes) seria preciso, agora sim, descobrir e codificar com exatidão as premissas da solidez.
O cálculo não foi o único recurso para isso. Em paralelo e em concorrência com ele,
persistiu a ideia de que uma sensibilidade (ou intuição) visual e a experiência na lida com os
materiais seriam as competências mais decisivas para a estabilidade das construções. A
captura do conhecimento técnico se mostrou mais difícil do que o esperado, não apenas
pela resistência dos artífices em comunicar seus segredos, mas porque algo de fato se perde
na tradução da técnica para a tecno-logia, o logos da técnica.
É difícil descrever em palavras o que seria esse algo; caso contrário, não se perderia. No
século XII, quando os ofícios floresciam como nunca, Hugo de São Vítor o denominou scientia
mechanica: a (cons)ciência desenvolvida na manipulação da matéria (HUGO, 2001 [1127], p.
110). No final do século XX, Roger Coleman atribuiu a essa consciência operativa nada menos
que todo o desenvolvimento da tecnologia moderna, e previu que sua eliminação será “tão
prejudicial para o futuro quanto a destruição das florestas tropicais” (COLEMAN, 1991, p. 32).
Não apenas os objetos imprescindíveis ao avanço científico – de instrumentos de medição a
componentes mecânicos e vidraria – foram produzidos manualmente por artífices e com
uma precisão na casa dos mícrones, como também a própria inventividade necessária a esse
avanço proveio dos ofícios. Sérgio Ferro fala da “fartura inventiva de um processo produtivo
capaz de reagir a seu próprio andamento – o que é impossível no quadro rígido da exploração”
(FERRO, 2015, p. 11). As atividades do artífice desmentem a oposição entre “os fatos do
cérebro e os feitos das mãos”, como diz João Marcos Lopes (2006, passim). E, como mostra
Richard Sennett num livro recente e de bastante sucesso, as descobertas da neurociência
confirmam que há um nexo direto entre a operação manual e a capacidade intelectual – algo
como uma “consciência material” ou uma “inteligência operacional” (SENNETT, 2009). O
artífice, diz Sennett, é capaz de se aprofundar no processo produtivo, errar e refazer,
respondendo à singularidade de um material e chegando a produtos – como os violinos
Stradivari, por exemplo – de um nível de excelência que as melhores máquinas até hoje não
imitam. Pena que Sennett não tenha lido Sérgio Ferro e, sem criticar a ideologia dominante,
confunda a arquitetura com o ofício do desenho, que estaria se perdendo nas tecnologias
digitais. Se o tivesse lido reconheceria o óbvio: a experiência da materialidade arquitetônica
não está na operação do lápis sobre o papel, mas no canteiro de obras.
Por volta de 1800, os escritos do arquiteto francês Charles-François Viel dão amostras de
como a ascensão do sistema dos engenheiros e do cálculo foi percebida. Seus títulos indicam
o tom da controvérsia: “Decadência da arquitetura ao final do século dezoito”, “Da impotência
das matemáticas para assegurar a solidez das construções”, “Da solidez das construções a
partir das proporções de ordens da arquitetura” (VIEL, 1800, 1805, 1806). Viel costuma ser
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
meio do processo. E é isso, também, que dá ao expectador externo a impressão de uma ação
intuitiva, sem longos raciocínios. Portanto, a ideia da intuição estrutural – que talvez fosse
melhor entendida como intuição construtiva – não é um delírio de artistas geniais que nada
entendem de matemática. Sua origem está na experiência dos canteiros. O “sistema dos
837
engenheiros” consistiu na tentativa de tornar a produção independente dessa experiência,
primeiro pela quantificação de produtos e processos, e depois, sucessivamente, por uma
ciência das estruturas. (Aliás, que àquela altura arquitetos saíssem em defesa do canteiro
chega a ser uma ironia da história.)
prática?” (CULMANN, 1866, p.V). Ele cita como precedentes Cousinéry, que considera
aquém da matemática de seu tempo, bem como Poncelet, que teria sido o primeiro a tornar
soluções analíticas visualmente presentes por meio de desenhos, sem, no entanto, aplicar
esse recurso à construção. Também lhe é familiar o método de definição de treliças do
838
matemático italiano Luigi Cremona, com quem tinha contato pessoal. Mas o objetivo de
Culmann é mais ambicioso: em vez de facilitar operações práticas ou tornar o cálculo
acessível aos menos instruídos, ele visa a um procedimento de desenho que possibilite aos
engenheiros – e somente a eles – chegar determinações que, pelo cálculo, levariam anos de
trabalho ou seriam mesmo impossíveis.
A grafoestática de Culmann nada tem de simples ou imediata (Figura 5). Ela exige uma
formação acadêmica de vários anos, cujo currículo Culman discute longamente, lamentando
a deficiência da maioria das instituições de ensino superior de seu tempo. Um prerrequisito
é o domínio da nova geometria de Jacob Steiner, isto é, a parte da geometria projetiva de
raciocínio puramente espacial, sem coordenadas ou fórmulas. Contudo, dadas essas
premissas, os engenheiros aprenderiam a lidar com as estruturas de uma maneira tão rápida
e certeira quanto um artífice experiente. O nexo entre seus olhos, cabeças e mãos se
desenvolveria no papel em vez de se desenvolver no material de construção. Chegariam de
novo àquele tipo de conhecimento que ao espectador externo parece intuitivo: apreensão
imediata da totalidade e todos os seus elementos e relações.
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839
Em 1866, Culmann não imagina que seu método seja adequado para arquitetos, porque
lhes faltaria raciocínio espacial abstrato. Porém, há uma conexão direta entre sua
abordagem e aquela adotada pela Bauhaus nos anos 1920. Detalhar essa história exigiria um
estudo à parte, mas ela merece algumas breves indicações.
O suíço Jacob Steiner, autor da geometria em que a grafoestática se baseia, é tido por
maior gênio da geometria pura depois de Euclides. Curiosamente, ele aprendeu a ler apenas
aos quatorze anos de idade e, pouco depois, foi aluno de Johann Heinrich Pestalozzi, criador
da chamada pedagogia intuitiva ou visual (Anschauungspedagogik). Pestalozzi desenvolveu
uma concepção de letramento gráfico, exposta pela primeira vez num livro de 1803, intitulado
ABC der Anschauung, o alfabeto da intuição. Por meio de exercícios de desenho, crianças
ainda muito jovens aprendiam a pensar visual e graficamente, traduzindo o mundo cotidiano
para uma linguagem de formas e relações geométricas. Essa pedagogia intuitiva de Pestalozzi
avançou depois nos trabalhos do seu colaborador Friedrich Fröbel, de quem herdamos a
instituição do Kindergarten e os brinquedos de madeira em formas geométricas simples e
cores primárias. Mais ainda do que Pestalozzi, Fröbel combina o letramento gráfico com a
manipulação de objetos e materiais.
Sua influência em concepções modernas de artes plásticas e arquitetura é conhecida. Em
particular os arquitetos e artistas da primeira fase da Bauhaus conceberam um currículo que
combinava o letramento visual com um letramento manual ou artesanal, aparentemente
reunindo mão e cabeça, não apenas na representação gráfica, mas na operação material.
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seja, se quisermos tornar as construções mais eficientes do ponto de vista estrutural, caberia
pensar forma, execução e matemática em conjunto, e talvez a matemática seja a menos
complicada dessas questões.
Por último, uma hipótese sobre o uso das ferramentas digitais para a tomada de decisões
841
relativas às estruturas e à construção de um modo geral. Elas podem ser utilíssimas, mas
também multiplicam as armadilhas. Se o desenho contém a armadilha do belo (a sensação
de entender o funcionamento) e os bloquinhos e modelos físicos contêm a armadilha da
concretude (a sensação de manipular a matéria “de verdade”), os dispositivos digitais
contêm a armadilha de uma intuição divina – tudo estará dado em todas as minúcias a
qualquer tempo. Mas intuição (humana) exclui raciocínio e crítica. Por mais que pareçam
“intuitivas”, decisões rápidas e compententes acerca de situações construtivas complexas,
quando não são meros golpes de sorte, decorrem da experiência.
Em suma, nossa hipótese ou proposta é que voltemos aos canteiros para ali rearticular
execução, forma e matemática, mobilizando todos os recursos disponíveis, analógicos e
digitais, de uma maneira crítica e sem esperar milagres.
AGRADECIMENTOS
A Vitor Amaral Lotufo, pela generosidade de compartilhar seu manuscrito.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Financiadora de Estudos e
Projetos (FINEP) pelo apoio financeiro e pelas bolsas que possibilitaram as pesquisas de que
resultou o presente trabalho.
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A TEORIA DOS PARÂMETROS ESTRUTURAIS FUNDAMENTAIS E SEU PAPEL NO
ENSINO/APRENDIZAGEM
BALLAROTTI, Cesar (1); CONTANI, Miguel Luiz (2); LOPES, João Marcos de Almeida (3) BALLAROTTI,
Maurício Grade (4)
RESUMO
Este trabalho aborda o papel dos parâmetros estruturais fundamentais (PEF) com o objetivo de
fundamentar alunos e professores para o ensino/aprendizagem dos sistemas estruturais básicos. O
funcionamento básico de cada sistema estrutural é trazido por duas perguntas: “o que” e “como” da
Fenomenografia. Quem gera cada elemento estrutural define “o que” eles são. Quem provoca o
surgimento deles na estrutura determina a ação de cada um dos cinco elementos, definindo o
“como” eles agem e reagem entre si. “O que” e “como” podem ser vistos como os dois fundamentos
explicativos de qualquer sistema estrutural. Assim, o entendimento dos PEF pode ocorrer em duas
etapas: na primeira, identifica-se a origem dos PEF; na segunda, o como eles interagem. Além disso,
alunos e professores têm a possibilidade de entender como cada sistema estrutural funciona por
meio de apenas cinco parâmetros estruturais. Através dos PEF, o aluno tem a oportunidade de
explorar a complexidade dos sistemas estruturais de uma forma bastante simples e abrangente,
permitindo-lhe perceber o fenômeno estrutural nas dimensões de equilíbrio e mecanismo. Essa
abordagem trará subsídios aos professores em relação à apresentação e priorização dos conteúdos
essenciais na percepção e formação de conceitos dos sistemas estruturais.
Palavras-chave: Sistemas estruturais; Mecanismo; Fundamentos.
ABSTRACT
This paper deals with the fundamental structural parameters (PEF) with the objective of providing
support for students and teachers to study basic structural systems. The basic functioning of each
structural system is approached by two questions: "what" and "how” from Phenomenography.
Whoever generates each structural element defines "what" they are. The agent that brings about
their emergence in the structure is the action triggered by each of the five elements, which defines
"how" they act and react to each other. "What" and "how" can be seen as the two explanatory
foundations of any structural system. Thus, the understanding of the PEF can take place in two
stages: in the first one, the origin of the PEF is identified; in the second, the ways they interact. As an
added benefit, students and teachers will learn how each structural system works by means of only
five structural parameters. By studying the PEF, students have the opportunity to explore the
complexity of structural systems in a very simple and comprehensive way, which will allow them to
acknowledge the structural phenomenon in the dimensions of balance and mechanism. Such
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approach will enable teachers to introduce and focus on the essential contents necessary for students
to both identify and build concepts of structural systems.
844 1. INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta uma abordagem dos parâmetros estruturais fundamentais (PEF)
desenvolvidos com o objetivo de instrumentalizar alunos e professores para o
ensino/aprendizagem dos sistemas estruturais básicos (BALLAROTTI, 2015). Trata-se de uma
forma, ao mesmo tempo sintética e abrangente, de entender como determinado sistema
estrutural1 funciona, fundamentada nas áreas de conhecimento das disciplinas do curso de
arquitetura da Universidade Estadual de Londrina (UEL). O trabalho com a disciplina de
Sistemas Estruturais mostrou que os alunos necessitam de mais aprofundamento nos
princípios teóricos dos PEF, pois cada um desses parâmetros relaciona-se com o
conhecimento que é desenvolvido em outras disciplinas do curso de arquitetura:
P (força) – Mecânica das Estruturas;
V (reação) – Mecânica dos Solos e Fundações;
H (força interna) – Resistência dos Materiais;
h (altura útil) – Concreto Armado, Madeira e Aço;
L (vão) - Projeto Arquitetônico.
Essa abordagem considera apenas esses cinco elementos na análise dos sistemas
estruturais e sustenta-se no fato de que todos os sistemas trabalham com tração e
compressão, sejam eles edificados pelo homem ou os existentes na natureza: o corpo humano
(ossos: compressão; tendões: tração), árvores (fibras tracionadas de um lado e comprimidas
de outro), a casca do ovo (parte externa de cálcio resistindo à compressão e a membrana
interna resistindo à tração) e assim por diante. Isso equivale a dizer que, em todos os sistemas
estruturais, existem cabos (resistindo à tração) e arcos (resistindo à compressão).
No caso de vigas, por exemplo, tem-se a trajetória das tensões principais que sugerem
arcos (linhas pontilhadas) e cabos (linhas cheias), conforme a Figura 1. Além das vigas,
poderão ser identificados os cabos e arcos presentes nas cascas, nas treliças, ou seja, em
todos os sistemas (POLILLO, 1968). Na Figura 1(a), tem-se uma viga em balanço em que as
linhas curvas contínuas indicam tração, e a tracejada, compressão. Observa-se que, na Figura
1(b), há uma inversão da posição dessas linhas, visto que a tração passa a ocorrer na parte
de baixo da viga biapoiada. Assim, pode-se considerar que todos os sistemas trabalham com
tração e compressão e que o entendimento desses sistemas começa pela identificação da
natureza dos esforços.
1
Todo sistema estrutural funciona, em última análise, com tração e compressão, e é fundamentado na análise
de tensões principais (TIMOSHENKO; GERE, 1972, p. 134).
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845
A força (P), portanto, que, neste estudo, irá representar todas as forças externas que
atuam na estrutura, embora nem sempre seja uma força pontual, é gerada pelo peso
próprio da estrutura e pelos elementos de massa que a estrutura sustenta. Por exemplo,
paredes, lajes, outros elementos estruturais como vigas e pilares, que se apoiam na referida
estrutura, além das sobrecargas de ocupação da edificação e forças devidas ao vento. Com
isso, a força (P) é gerada pela ação da gravidade que age na massa desses elementos e pela
ação do vento na edificação. Na disciplina de Mecânica das Estruturas, segundo Dias et al.
(2011), o aluno encontra os fundamentos da teoria que aplica o conceito da 2ª Lei de
Newton. Para esse estudo, ilustrações são muito bem-vindas, tendo em vista a inteligência
espacial2 característica do arquiteto, porque, com elas, podem-se representar edificações
indicando os elementos que geram as forças (P). Portanto, P é gerado pela ação da
gravidade que age na massa dos elementos, gerando o peso da viga e da laje, parede e
demais elementos que se apoiam na viga (física – estática – 2ª Lei de Newton). No exemplo
da Figura 3, há duas situações de força concentrada P. A primeira é a força P2, que
representa o peso que o pilar 2 transfere da viga superior para a viga biapoiada inferior 4.
No item (a) da Figura 3, têm-se parte da edificação com a viga (4) e as forças q1 e P2 na
edificação. Na sequência, aparecem o recorte da viga (b) na edificação e a indicação da força
P2. No item (c), tem-se a representação da viga e da força, com a simbologia utilizada na
disciplina de Sistemas Estruturais, e, no item (d), a simbologia utilizada em Resistência dos
Materiais e Mecânica das Estruturas.
2
Gardner (1993) atribuiu ao arquiteto a inteligência espacial, ou seja, a facilidade de visualizar objetos e
edificações no espaço 3D e ao engenheiro a inteligência lógico-matemática, que é a facilidade de representar os
fenômenos físicos com as fórmulas matemáticas, embora ambos devam compartilhas essas duas inteligências.
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1 – Alvenaria (q1)
847
2 – Pilar apoiado na viga (P2)
4 – Viga biapoiada
Na Figura 4, tem-se a força Q6, que representa o peso da laje (q3) suportada pela viga 6
mais seu peso próprio, que se apoia na viga em balanço 5. Com isso, ficam representadas as
forças nas vigas biapoiadas (P2) e na viga em balanço (Q6).
5 – Viga em balanço
6 – Viga biapoiada em viga
No item (a) da Figura 4, tem-se a imagem da viga na edificação com a indicação dos
elementos que irão gerar a força Q6. No item (b), tem-se o recorte da viga em 3D com a
representação da força Q6 gerada pela viga 6. No item (c), tem-se a representação
utilizada na disciplina de Sistemas Estruturais e, no item (d), a representação usual de
Mecânica das Estruturas. Na sequência, apresenta-se o mesmo esquema estrutural com
destaque para a reação V.
de acordo com as estacas, os tubulões, as sapatas, etc., utilizados para executar a fundação
da edificação – que se configuram como elementos estruturais implementados no solo,
capazes de resistir às forças a eles transmitidas pela estrutura (3ª Lei de Newton). Na
disciplina de Mecânica dos Solos e Fundações, o aluno encontra a explicação de como essas
forças V são geradas para cada tipo de solo (BRANCO, 2006). As ilustrações podem ser do
848
pilar e das fundações que o apoiam de acordo com o tipo de solo e fundações utilizadas na
região de estudo. Portanto, V é a reação de apoio gerada pela fundação que apoia o peso do
pilar e do bloco no solo (vem da fundação).
Figura 5 – Esquema mostrando parte inferior dos pilares e o bloco de fundação com as estacas.
Na Figura 5, tem-se a identificação das reações verticais V que ocorrem tanto na viga
biapoiada como na viga em balanço. No item (a) da figura, têm-se a identificação das vigas
na elevação da edificação. Na sequência, têm-se as representações das vigas (b e b’), nas
quais são indicadas as reações, e as representações de viga biapoiada (c) e viga em balanço
(c’), utilizadas na Mecânica das Estruturas.
Na sequência, representa-se o mesmo esquema estrutural com destaque para o vão L.
pilares ou a altura do edifício. As pontes, viadutos, Museu de Arte de São Paulo (MASP),
Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MUBE), edifícios altos serão ilustrações bem-
vindas para caracterizar o fenômeno para os alunos.
Figura 6 – A mesma edificação da Figura 2, agora com destaque para o vão livre, que corresponde ao
849 braço externo de alavanca.
Na Figura 6, tem-se a identificação do vão teórico, que é a distância entre os apoios (L4) e a
distância livre do balanço (L6). No item (a) da figura, tem-se a identificação da viga na elevação
da edificação. Na sequência, aparecem as representações das vigas (b e b’), nas quais se indica
o braço de alavanca ( ) com os respectivos vãos L4 e L6, seguidos das representações de
viga biapoiada (c) e viga em balanço (c´) utilizadas na Mecânica das Estruturas.
Apresenta-se, a seguir, o mesmo esquema estrutural com destaque para as forças
internas Ht e Hc.
Figura 7 – A mesma edificação da Figura 2, com destaque para a seção da viga, mostrando o material
estrutural que a constitui.
850
Na Figura 7, tem-se a identificação das forças internas H. No item (a) da figura, tem-se a
identificação da viga na elevação da edificação. Na sequência, estão as representações das
linhas de tração e compressão nas vigas (b e b´), nas quais indicam-se os vetores Ht e Hc,
seguidos das representações de T e C na linha elástica na viga biapoiada (c) e viga em
balanço (c´) utilizadas na Mecânica das Estruturas.
Na sequência, apresenta-se o mesmo esquema estrutural com destaque para a distância h.
Figura 8 – A mesma edificação da Figura 2, agora com destaque para a altura útil da seção da viga:
braço interno de alavanca.
851
Figura 9 – Vigas: (a) linhas de tração e compressão, (b) alavancas na viga, (c) tração T e compressão C
nas alavancas.
Como exemplo, considere-se a mesma viga biapoiada com uma força P concentrada que
age no centro do vão L provocando as forças internas horizontais de tração embaixo e de
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
compressão em cima (Ht e Hc), distantes h uma da outra (braço de alavanca interno),
equilibrando internamente o sistema (Figura 9). Essas forças H transmitem a força P para
os apoios, que reagem com forças V separadas pelo vão L (braço de alavanca externo)
equilibrando externamente o sistema. Ainda explicando o “como”, pode-se dizer que a
ação do binário Hc – Ht age tencionando a viga para cima, reagindo à ação de P – V, que
852
age empurrando o centro da viga para baixo, equilibrando-a pelo princípio de ação e
reação (3ª Lei de Newton).
Na Figura 10, tem-se o esquema estrutural representativo, mostrando metade da força P,
metade do vão, gerando a força de giro P/2 x L/2 = P.L/4. Entender o mecanismo do sistema
consiste em “encontrar a alavanca” interna e externa no sistema.
Figura 10 – Esquema estrutural representativo, mostrando metade da viga com as forças Hc e Ht.
A alavanca externa resulta da ação da força P e da reação sobre o vão (ou semivão),
fazendo com que parte da estrutura tenda a girar no sentido horário. O mecanismo interno é
gerado pelo braço de alavanca interno H x h, que faz essa parte da estrutura girar no sentido
anti-horário, equilibrando o sistema.
Pelo princípio de ação e reação, as forças Hc e Ht da metade removida da viga agem na
metade restante como um binário interno, equilibrando o sistema.
Encontrar a alavanca dentro da viga (a) leva a um mecanismo (b) que indica como a viga
equilibra a ação da força P, conforme indicado na Figura 11. Na viga em balanço, há uma
inversão da alavanca em função de a tração e a compressão se alternarem em relação à
viga biapoiada.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
853
Figura 12 – Cabo.
Figura 13 – Arco.
Encontrar a alavanca no sistema (a) leva a um mecanismo (b) que indica como o arco
equilibra a ação da força P, conforme indicado na Figura 13. Deve-se observar que a
alavanca representa a forma como a estrutura do arco se constitui num mecanismo de
“alavanca” capaz de transferir a força P para os pontos de apoio da estrutura, onde ocorre V.
Encontrar a alavanca no sistema (a) leva a um mecanismo (b) que indica como a treliça
854
equilibra a ação da força P, conforme indicado na Figura 14. Assim, deve-se observar que a
alavanca representa a forma como a estrutura da treliça se constitui num mecanismo de
“alavanca” capaz de transferir a força P para os pontos de apoio da estrutura, onde ocorre V.
Figura 14 – Treliça.
Encontrar a alavanca dentro da casca (a) leva a um mecanismo (b) que indica como a casca
equilibra a ação da força P, conforme indicado na Figura 15. Da mesma forma, deve-se
observar que a alavanca representa como a estrutura da casca se constitui num mecanismo de
“alavanca” capaz de transferir a força P para os pontos de apoio da estrutura, onde ocorre V.
Figura 15 – Casca.
Encontrar a alavanca dentro da torre (a) leva a um mecanismo (b) que indica como a
torre equilibra a ação da força P, conforme indicado na Figura 16. Da mesma forma, deve-
se observar que a alavanca representa a forma como a estrutura da torre se constitui num
mecanismo de “alavanca” capaz de transferir a força P para os pontos de apoio da
estrutura, onde ocorre V.
855
Figura 16 – Vertical.
i = identificação r = relação
Instrumentos
P L h V H VxP HxP HxL Hxh
856 PROVA x x x x x
TRA
EQUIPE x x x x
TPS trabalho
INDIVIDUAL x x
TED Leitura
Fonte: Adaptado de Ballarotti (2015).
Nesse nível de adequação, pode-se perceber que o aluno indica (i) a maioria dos 5
elementos (PEF) e faz várias relações (r) entre esses elementos. Abordagem semelhante é
feita na Figura 18, a qual foi concebida a partir de uma perspectiva holística (foco no todo),
em que o aluno GP foca todos os aspectos do mecanismo e envolve todos os cinco
parâmetros PEF.
O aluno GP explicou o equilíbrio do sistema, nos seguintes termos: “há um momento
fletor contra o outro”. Mais uma vez, o momento horário P x L (Me) se apresenta contrário
ao par H x h (Mi), no sentido anti-horário.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
857
O desenho do aluno RM indica todos os elementos PEF, o que pode ser uma abordagem
holística. A explicação dada sobre o equilíbrio é bastante significativa (profunda), o que
tende a ser uma alta adequação na interpretação do fenômeno (equilíbrio do sistema
estrutural) – Figura 19.
5. CONSIDERAÇÕES
No que diz respeito à maneira como se percebeu o envolvimento dos alunos nas suas
tarefas nesta análise, tem-se que o aluno de alta adequação normalmente conseguiu perceber
os principais aspectos do fenômeno, mas alguns detalhes ficaram além de sua compreensão.
No caso da média adequação, o aluno percebeu vários aspectos do fenômeno, mas não
conseguiu perceber outros e essas lacunas podem ser "significativas". No caso de baixa
adequação, o aluno geralmente só teria apreendido alguns detalhes que poderiam ou não ser
relevantes. Outra descoberta deste estudo é a evidência de que alunos e professores têm a
possibilidade de entender como cada sistema estrutural funciona por meio de apenas cinco
parâmetros estruturais e como dois tipos de parâmetros (física - vetor de força e geometria -
braço de alavanca) podem se utilizar do conceito da alavanca em cada sistema.
Assim, tal como foi mostrado, uma categorização para essa análise pode ser formada a
partir dos resultados de alunos que emergiram a partir das respostas dos questionários
sobre os fenômenos de sistemas estruturais. Isso ocorreu porque essencialmente os
mesmos procedimentos de pesquisa foram utilizados para a constituição de cada uma das
categorias. Pode-se dizer que, através dos PEF, o aluno teve a oportunidade de explorar a
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
Ao Departamento de Estruturas e ao CTU da UEL pelo apoio e pela estrutura oferecida
para o desenvolvimento dos experimentos desse trabalho.
REFERÊNCIAS
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sistemas estruturais no curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Estadual de Londrina.
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Universidade de São Paulo, São Carlos, 2015.
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Prentice Hall, 1988.
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ponta modificada. 2006. Tese (Doutorado em Engenharia) – Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2006.
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GARDNER, H. Multiple intelligence: the theory in practice. New York: Basic Books, 1993.
LOPES, J. M.; BOGÉA, M. V.; REBELLO, Y. C. P. Arquiteturas da engenharia ou engenharias da
arquitetura. São Paulo: PINI, 2006.
POLILLO, A. Considerações sobre o ensino de estruturas nos cursos de formação de arquitetos.
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Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1968.
RAMSDEN, P. Learning to teach in higher education. London: Routledge, 1998.
TIMOSHENKO, S. P.; GERE, J. M. Mechanics of materials. London: Van Nostrand, 1972.
CONTRIBUIÇÃO À PERCEPÇÃO DO DESEQUILÍBRIO E DO EQUILÍBRIO EM
ARRANJOS RETICULADOS
RESUMO
Apesar dos avanços, a compreensão das estruturas em cursos de arquitetura ainda carece de
metodologia adequada às práticas em ateliê, principalmente em etapas de concepção arquitetônica,
nas quais os rigores necessários da análise estrutural não auxiliam nas tomadas de decisão. O
presente artigo objetiva contribuir através do relato de experiência didática sobre modelos físicos
reduzidos, desenvolvida em laboratório de maquetes e modelos, em Curso de Arquitetura e
Urbanismo, desde 2012, na disciplina de Análise de Sistemas Estruturais I, cujo tema é o equilíbrio e a
estabilidade de arranjos reticulados. Os modelos foram propostos em materiais acessíveis. A
estratégia didática apresenta etapas como interpretação do modelo e sua representação; tamanho e
quantitativo de peças; organização de canteiro; montagem plana e tridimensional; observação e
registro de deformações existentes no plano e no espaço tridimensional; etapa de estabilização e
entendimento de esforços gerados em função de deformações prévias observadas e, por último, um
exercício de analogia com edificações reais. A experiência demonstra que a percepção do
desequilíbrio tem aumentado a predisposição para a compreensão do problema, tornando-se tão
importante quanto o entendimento de estratégias necessárias a sua solução. O reconhecimento de
analogias entre modelos reduzidos e edifícios reais tem contribuído na percepção de esforços, na
importância das necessidades de racionalização e organização das partes, assim como das estratégias
geradas para a obtenção do equilíbrio e estabilidade geral final. A experiência indica que estratégias
de ensino aprendizagem qualitativas estimulam fundamentos aplicáveis à concepção de projetos
arquitetônicos e auxiliam na introdução da análise quantitativa.
Palavras-chave: Desequilíbrio; Equilíbrio; Estabilidade; Estática; Reticulados.
ABSTRACT
In spite of the advances, the understanding of the structures in architecture courses still lacks an
adequate methodology the practices in atelier, mainly in architectural design stages, in which the
necessary rigors of the structural analysis do not aid in the decision making. The present article aims
to contribute through the report of didactic experience on reduced physical models, developed in
model and model laboratory, in Architecture and Urbanism Course, since 2012, in the discipline of
Analysis of Structural Systems I, whose theme is the balance and stability of crosslinked
arrangements. The models were proposed in accessible materials. The didactic strategy presents
steps like interpretation of the model and its representation; size and quantity of parts; site
organization; flat and three-dimensional assembly; stage of stabilization and understanding of efforts
generated due to observed deformations, and finally, an exercise of analogy with real buildings.
Experience shows that the perception of imbalance has increased the predisposition to understanding
the problem, becoming as important as understanding the strategies needed to solve it. The
recognition of analogies between reduced models and real buildings has contributed to the
perception of efforts, the importance of the needs of rationalization and organization of the parts, as
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
well as of the strategies generated to obtain balance and final general stability. Experience indicates
that qualitative teaching-learning strategies stimulate the fundamentals applicable to the design of
architectural projects and assist in the introduction of quantitative analysis.
Keywords: Imbalance; Balance; Stability; Static; Crosslinked.
860
1. INTRODUÇÃO
O Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Newton Paiva apresenta um
Projeto Pedagógico que determina, no primeiro ano de curso, um Núcleo de Conhecimentos
de Fundamentação e, a partir do segundo ano, um Núcleo de Conhecimentos Profissionais,
dentro do qual disciplinas de materiais, tecnologia da construção e sistemas estruturais
ocorrem. A partir do terceiro período, a introdução aos primeiros conceitos estruturais
ocorre simultaneamente à disciplina introdutória de projeto de arquitetura associada ao
tema habitação, cujo foco fundamenta-se em percepção espacial e relação forma função.
Neste sentido, a problematização em ateliê torna-se mais próxima da realidade vivenciada
pelos alunos, com uma proposta de projeto de baixa complexidade. Este primeiro contato
com os conceitos estruturais ocorre sobre estática fundamental, ou seja, estabilidade das
construções, na disciplina de Análise de Sistemas Estruturais 1.
O Projeto Pedagógico prevê, a partir dos núcleos citados, quatro campos de formação dos
egressos. O campo Tecnologia contempla tradicionalmente as disciplinas associadas à
materialidade da obra de arquitetura. Com o objetivo de alcançar as habilidades prescritas, o
Projeto Pedagógico prevê e estimula o desenvolvimento de atividades práticas diversas.
Dentro desta diretriz, a observação de estruturas reais passou a ser realizada por meio de
visitas técnicas. A iniciativa, contudo, apesar de estimuladora e sensibilizar os alunos para as
questões associadas à construção, não conseguia nos dar uma consciência maior dos alunos
sobre os importantes problemas tratados para manter a integridade da obra arquitetônica.
A experiência didática foi criada em 2012 com o objetivo de dar apoio à percepção e
compreensão dos alunos dos problemas existentes de equilíbrio e estabilidade em
edificações, interpretados como modelos reticulados. Em visitas técnicas, havia a
possibilidade de perceber soluções reais impostas à edificação, mas não ficava evidente à
percepção dos alunos, o problema existente e, consequentemente, como a solução aplicada
funcionava, uma vez que as edificações reais já têm seus problemas de equilíbrio,
estabilidade e resistência resolvidos. A outra dificuldade residiu na escolha das obras, uma
vez que os edifícios em concreto armado moldados no local e, principalmente quando
associados aos demais sistemas construtivos, não permitem a visualização integral de peças
e suas ligações, o que torna difícil sua associação aos modelos em escala reduzida. Em
função disto, as associações ocorrem sempre com edificações em uso, em estrutura metálica
e em estruturas atirantadas em concreto pré-moldado. O pré-requisito é que o sistema
estrutural seja o mais aparente possível, em relação aos demais sistemas da edificação.
A estratégia de uso de modelos reduzidos já vem sendo praticada e discutida por várias
escolas ao longo do tempo (RODRIGUES; HERMIDA, 2006; OLIVEIRA, 2006). Por se tratar de
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
cursos de arquitetura e naturais preocupações advindas da área como a estética final dos
modelos e maquetes criados, o trabalho pretende enfatizar que os modelos não tratam de
uma reprodução formal das edificações, não têm preocupações com escala e nem com
fatores de estética. O importante nos modelos é a evidência de suas situações de
861
instabilidade e desequilíbrio.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O problema da inadequação das estratégias didáticas para o ensino de estruturas em
cursos de arquitetura já é apontado há muitos anos por diversos pesquisadores e docentes
da área (TORROJA, 1958; POLILLO, 1968; ZANETTINI, 2002; SARAMAGO, 2011). O ensino de
análises quantitativas em sala de aula parece não encontrar resultados na principal prática
do ofício de arquiteto, o ateliê de projetos, principalmente em sua etapa de concepção e
nos estágios iniciais de formação. Sabe-se que decisões em projeto arquitetônico já
incorporam as grandes decisões da concepção estrutural, já que a forma permanente é
resultado deste sistema (LOPES; BOGÉA; REBELLO, 2006; REBELLO, 2006). Se
considerarmos que a escolha do sistema estrutural é fruto das etapas iniciais do processo
de projetos, podemos concluir que a fase de concepção é responsável pelo maior impacto
em termos de uso dos recursos e, portanto, nesta etapa reside a maior possibilidade de
sua otimização e adequação. A figura 1 ilustra a importância e o peso das tomadas de
decisão em etapas iniciais do processo de projetos.
Ao concluir que a etapa de concepção dos projetos tem o maior impacto sobre a
qualidade das obras e sobre o custo envolvido nos sistemas do edifício, nisto considerado o
sistema estrutural, parece natural uma concentração de esforços no sentido de melhorar
tomadas de decisão do profissional arquiteto, através de um entendimento esclarecido do
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
3. O EXPERIMENTO DIDÁTICO
O experimento didático intitulado “Oficina de Equilíbrio e Estabilidade em Sistemas
Reticulados” foi concebido em 2012 para a disciplina introdutória ao tema, chamada
“Análise de Sistemas Estruturas 1” com 80 horas aula, para alunos do 3º período do Curso de
Arquitetura e Urbanismo. Os alunos da disciplina já cursaram Fundamentos de Matemática,
Fundamentos de Física, Expressão e Representação e Desenho Arquitetônico, e
desenvolvem a disciplina de estruturas simultaneamente à disciplina de Projeto
Arquitetônico I. Após várias configurações, a oficina é desenvolvida em pequenos grupos de
5 a 6 alunos, num período de 08 horas aula e ocorre no Laboratório de Maquetes e Modelos.
Identificamos como os principais objetivos da prática:
Desenvolvimento de um senso de organização e processo;
Percepção das possibilidades de desequilíbrio e instabilidade de peças e conjuntos;
Percepção consciente das estratégias utilizadas para resolver as situações criadas.
Os materiais utilizados são leves e acessíveis como canudos plásticos de maior espessura
(03 cores), pois funcionam como barras rígidas no contexto do modelo; barbante que funciona
como elemento de montagem dos arranjos e como cabo; fita crepe que funciona como
reforço e como ligação semirrígida; placas de isopor que funcionam como diafragmas. Roteiro,
tesoura, estilete e escalímetro completam os materiais necessários (ver Figura 2 adiante).
Os modelos são apresentados por desenhos planos (elevações) no quadro branco, sem
soluções de equilíbrio e estabilidade. A partir de uma descrição e desenhos planos, os grupos
devem desenvolver um esboço com o objetivo de compreender o arranjo tridimensional
resultante. Neste momento pede-se apenas que, na representação as barras tipo vigas e as
barras tipo pilares sejam representados por cores distintas. A distinção de cor deve estar
associada a funções distintas no arranjo.
A dificuldade observada nesta etapa é a tendência geral dos alunos em querer obter
rapidamente a forma final, sem uma lógica funcional de peças ou uma logística construtiva
associada. Ou seja, o foco predominante é no produto, não no processo. Em vários
momentos, devemos induzir a uma pausa para obter o entendimento do processo
construtivo proposto.
Após a observação das possibilidades de movimento, numa situação onde ocorre a
deformação do arranjo, a próxima etapa consiste na busca de estratégias para impedir os
movimentos identificados, com o objetivo de compor um objeto bidimensional rígido. Na
oficina, as estratégias não são previamente dadas para, a seguir, serem aplicadas. As
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
867
868
Para a etapa de exposição, são dadas as edificações que apresentam analogias com os
modelos propostos. Cada grupo deve analisar seu modelo, e fundamentado nele, comentar
as soluções construtivas da edificação real. A percepção das similaridades e das diferenças é
importante. A Figura 7 ilustra, à esquerda, uma das obras escolhidas, a Residência no Jardim
Vitória, São Paulo, SP, do arquiteto Marcos Acayaba, com projeto de cálculo estrutural em
madeira do engenheiro Hélio Olga de Souza Jr. A Figura 7 mostra alguns “croquis” de
concepção do arquiteto. Nesta figura, a imagem superior à direita, corresponde ao modelo
elaborado pelos alunos. Esta última etapa corresponde à finalização do experimento,
momento reservado a uma aproximação maior com a realidade. A Figura 8 realiza uma
analogia entre edificação real e modelo, com a percepção pelos alunos do sistema de
contraventamento atirantado.
O Quadro 2 organiza algumas das obras escolhidas para a etapa de aproximação com a
realidade. Além de destacar soluções e estratégias adotadas para atribuir equilíbrio e
estabilidade ao conjunto, a concepção estrutural adotada é discutida do ponto de vista de
sua associação com as condicionantes locais de sua implantação.
4. CONSIDERAÇÕES
Após a realização de algumas versões do experimento didático, observamos, de modo
geral, elevada ansiedade nos grupos por uma rápida realização do modelo final. Isto
demonstra um predomínio de questões puramente formais, em detrimento de um raciocínio
construtivo e estrutural. O interesse pelo “saber-representar” predomina sobre o interesse
pelo “saber-construir”. A estratégia de expor a uma situação problema e dispor o tempo
para que os próprios alunos construam as possibilidades de solução, em vez de explicar
previamente e pedir sua aplicação, mostrou-se favorável a uma maior percepção da
importância das questões estruturais. As analogias realizadas com obras arquitetônicas de
destaque têm contribuído para reduzir a dicotomia construída historicamente entre arte e
técnica, uma vez que destaca o engenho incorporado as soluções arquitetônicas.
As etapas da experiência ainda devem ser melhor exploradas no contexto geral da
disciplina de Estática, principalmente em sua associação gradual as estratégias de análise
quantitativas, assim como, a possibilidade de aliar outros recursos didáticos disponíveis.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Além disso, uma maior associação com a disciplina de Projeto Arquitetônico 1 favorece a
introdução a percepção material do espaço e sua representação. A facilidade de obtenção e
transporte dos materiais permitiu o planejamento das etapas de observação em equipes
pequenas, o que resultou numa participação abrangente dos alunos.
870
Há necessidade de organizar um acervo maior de obras de referência, aliado a um maior
número de modelos reduzidos. As etapas iniciais de análise, produção e organização,
favorecem o destaque para um raciocínio construtivo. O experimento consiste numa
sequência didática, dentro da qual ocorre a construção de modelos reduzidos, entendidos
como meios auxiliares no estímulo à experiência necessária ao desenvolvimento de
competências e habilidades. A programação de situações e circunstâncias para a construção
de conhecimento necessita de uma abordagem multidisciplinar.
REFERÊNCIAS
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SARAMAGO, R. C. P. Ensino de estruturas nas escolas de arquitetura do Brasil. 2011. Dissertação
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III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
RESUMO
O objetivo deste trabalho é investigar as possibilidades de implementação de um ensino prático-
reflexivo para as disciplinas de estruturas nos cursos de arquitetura, tendo como enfoque o
desenvolvimento de habilidades relacionadas à concepção estrutural através de metodologia de
“Projeto baseado em Desempenho” e do uso de ferramentas digitais emergentes. As práticas
contemporâneas de projeto em arquitetura e engenharia vêm utilizando ferramentas
computacionais cada vez mais sofisiticadas de representação e avaliação da forma arquitetônica,
através de processos de otimização ou geração, possibilitando o desenvolvimento de processo
iterativo. Para criar ambiente de ensino e aprendizagem que possibilite a transposição didática
dessas práticas para o ensino, recorreu-se a teorias pedagógicas construtivistas, em que o estudante
é o agente responsável pela sua própria aquisição do conhecimento. O ambiente pedagógico
construído vislumbrou a criação de disciplinas híbridas que integrassem a aplicação dos conceitos de
engenharia de estruturas ao desenvolvimento de problemas de projeto. Através das disciplinas, serão
estudados conceitos de industrialização e racionalização construtiva, fazendo com que os estudantes
aprendam a trabalhar questões pragmáticas da construção ainda nas fases iniciais de projeto.
ABSTRACT
This paper aims to investigate the possibilities to develop a practical-reflexive teaching to structural
subjects in architecture courses, having as a focus the development of abilities related to structural
conception through the methodology of Performance-based Design and emerging digital tools. The
architectural and engineering contemporary practices are using digital tools each time more
sophisticated to represent and to evaluated the architectural form though processes of optimization
and generation, allowing the development of an iterative process. In order create a teaching and
learning environment that makes possible the didactical transposition of the professional practices to
teaching, resorted to the constructivist pedagogical theories, where the student is the responsible
agent for your own knowledge acquisition. The pedagogical environment built envisaged the
development of hybrid disciplines that integrate the concepts of structural engineering with the
project assumptions. Through the disciplines will be studied concepts of industrialization and
constructive rationalization, making the students learning to work with construction pragmatics
questions still in the beginning stages of the project.
Keywords: Teaching structures; Project teaching; Performance-based Design; Emerging digital tools;
Constructivist pedagogical theories
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
A aprendizagem do comportamento estrutural afeta diretamente a maneira como os
estudantes e futuros arquitetos irão se relacionar com os aspectos pragmáticos do projeto.
Conceber a estrutura é mais do que pensar na forma plástica; é estabelecer as primeiras
873 definições projetuais das relações de geometria, materialidade e construção. Atualmente, o
ensino de estruturas nos cursos de arquitetura apresenta a mesma abordagem quantitativa
dos cursos de engenharia que visam à formação de engenheiros estruturais, não possibilitando
ao estudante de arquitetura aplicar o conhecimento adquirido às situações de projeto.
O ensino de estruturas nos cursos de arquitetura baseado somente em soluções analíticas
de cálculo manual pode ser considerado, no mínimo, um anacronismo do ensino com a
prática profissional do arquiteto e do engenheiro. O projeto de engenharia de estruturas
requer uma solução complexa que estipula custo, qualidade técnica, facilidade de
manutenção, durabilidade, adequação ao local e apelos estéticos. As soluções que
satisfazem estes critérios não são únicas. No passado, os engenheiros identificavam casos
viáveis utilizando abordagens por tentativas e erro, conhecimento acumulado e raciocínio
dedutivo através dos métodos analíticos. Mas, a partir da década de 60, métodos numéricos
computacionais passaram a ajudar nesta tomada de decisão e, finalmente, orientar o
processo de projeto para encontrar novas soluções.
Na arquitetura contemporânea, as ferramentas digitais ampliaram as possibilidades do
projeto arquitetônico, permitindo que soluções não padronizadas sejam criadas para
problemas estruturais, propiciando a exploração e a investigação, permitindo que as
soluções surjam da complexidade exigida para o projeto (SCHWITTER, 2005). A metodologia
de “Projeto baseado em desempenho” aliada a estas ferramentas permite o
desenvolvimento de métodos onde é possível estabelecer metas e criar estratégias para o
desenvolvimento da forma. Em uma abordagem contemporânea para o desenvolvimento do
projeto de estruturas, a sequência de decisões de projeto parte da estrutura e do material
para posteriormente ser definida a forma. Para Oxman e Oxman (2010), a engenharia de
vanguarda aproxima a otimização e a geração dos projetos estruturais com os conceitos de
arquitetura, revertendo a maneira de pensar forma, força, estrutura e desempenho.
Mas, como transpor essas possibilidades desenvolvidas na arquitetura e engenharia
contemporânea didaticamente para o ensino?
Para a construção de um ambiente de ensino e aprendizagem em que fosse possível
realizar essa transposição, foram analisadas algumas teorias pedagógicas construtivistas
para que, posteriormente, fossem apontadas possibilidades para a proposição de disciplinas
prático-reflexivas híbridas, integrando problemas de projeto a conceitos de análise
estrutural, tendo em vista propiciar ao estudante o desenvolvimento de habilidades e
competências de concepção estrutural.
A definição da abordagem das disciplinas se deu após a construção do ambiente através
do cruzamento do ensino de projeto com o ensino de estruturas, quando foram definidos os
domínios pedagógicos de cada uma delas, criando-se abordagens com maior ou menor grau
de estruturação. A proposta é que sejam ofertadas quatro disciplinas no ambiente de ensino
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
876
A TFC propõe a apresentação da informação de forma não linear, numa estrutura não
hierárquica, mas em rede. Antes de realizar a análise de um caso ou a proposição de um
problema, é necessário que o professor responda se é possível através daquela situação
alcançar os objetivos propostos; se a proposta é relevante e apropriada; e se foi
879
disponibilizado todo o material que o estudante necessita para a análise. E, para analisarem
o caso, ou desenvolverem uma solução para o problema proposto, é necessário que o aluno
consiga com clareza identificar qual é o problema a ser solucionado; quais são as variáveis
relevantes e os critérios para tomada de decisão; quais são as soluções alternativas e qual
seria a decisão mais apropriada.
aprendendo a explorar possibilidades e refletir sobre elas. Schön (2000) coloca que, para a
reflexão-na-ação, primeiro devemos aprender:
Reconhecer e aplicar regras;
Raciocinar a partir das regras até casos problemáticos;
880 Desenvolver e testar novas formas de compreensão e ação em que as soluções
familiares não são suficientes para a solução dos problemas.
É a partir destes pressupostos que serão analisadas a seguir as possibilidades de
implementação de um ensino prático reflexivo com relação às disciplinas de estruturas nos
cursos de arquitetura.
882
trabalhado foi estabelecido de acordo com o domínio proposto para a disciplina, com alto
grau de estruturação, onde seriam pré-estabelecidos o material, as seções, a escala de
projeto, o local e a tipologia.
O objetivo da disciplina é trabalhar conceitos de industrialização na construção, em que,
883
através do uso de ferramenta digital comercial de análise estrutural, os estudantes
podessem aplicar os conceitos apreendidos nas disciplinas teóricas de estruturas. Para tanto,
foi determinado que o material a ser trabalhado será o aço e os perfis a serem utilizados
deverão ser os comercialmente disponíveis em catálogos de fornecedores locais.
A escolha da ferramenta, ou seja, do software para análise estrutural foi feita com relação
ao seu uso comercial na prática profissional. Para tanto, foram analisadas algumas
possibilidades, mas escolheu-se o software SAP2000 por este ser amplamente utilizado para
validação da forma e pré-dimensionamento de projetos de estruturas metálicas na
engenharia; pela sua possibilidade de importar o desenho de softwares de representação
comumente utilizados na arquitetura; e por possibilitar a visualização dos resultados
tridimensionalmente. Portanto, acredita-se que seja essa seja uma ferramenta adequada
para os alunos de arquitetura, por ter uma familiaridade com as ferramentas já utilizadas
para a representação de projetos.
Como material didático para a disciplina, foram desenvolvidos tutoriais com análise
estrutural no software de proposta similar a que será desenvolvida e a elaboração de
apostila com método de análise estrutural no SAP2000, explicando detalhadamente o uso da
ferramenta aplicada ao desenvolvimento de projeto, para que, desta maneira, o estudante
possa acessar o conhecimento quantas vezes forem necessárias.
Para escolha da situação problema, foi identificado o local onde um projeto
infraestrutural poderia ser criado como um ampliador de possibilidades em contexto urbano
complexo, tendo o desenho da estrutura como protagonista da forma, configurando assim o
desenho da própria arquitetura. Para tanto, foi proposto o desenvolvimento de cobertura de
múltiplos usos em região central da cidade de Belo Horizonte, onde serão desenvolvidas
estratégias em que haja uma indeterminação funcional e uma abertura à construção de
significados, criando um espaço habitável e ampliando as possibilidades de sociabilização
para o uso do espaço público.
A proposta é que o edifício se configure como um condensador urbano, sendo um grande
abrigo, constituindo-se de uma grande cobertura que permite uma variedade de usos,
criando elementos de conexão e permanência (MACIEL, 2015). Para tanto, os estudantes
deverão ser capazes de elaborar um projeto de função indeterminada, mas que abarque
múltiplas potencialidades de usos, além de articular os vários fluxos existentes no território,
de tal maneira que amplie o potencial de apropriação do espaço e permita a sobreposição
de usos, tendo a arquitetura como suporte indeterminado, trabalhando o desenho da
topografia e da sombra gerada pela cobertura.
A metodologia de “Projeto Baseado em Desempenho” será utilizada para que o estudante
estabeleça as metas de projeto que deseja alcançar através da análise estrutural por meio
do software SAP2000 e, para o alcance das metas, deverá criar estratégias para a concepção
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
estrutural. As metas poderão ser espaciais, estáticas e/ou construtivas, tendo o aluno a
liberdade de estabelecer quantas metas julgar necessárias para o desenvolvimento do
projeto. Espera-se que, com isto, os conceitos de análise estrutural, que serão revisados ao
longo da disciplina, sejam aplicados no desenvolvimento do projeto, criando um processo
884
iterativo de concepção estrutural, sendo trabalhada simultaneamente uma negociação entre
aspectos de geometria, ações que foram aplicadas, materiais escolhidos e pré-
dimensionamento das seções transversais.
5. CONSIDERAÇÕES
O ensino de estruturas nos cursos de arquitetura ainda permanece com a mesma
abordagem quantitativa utilizada nos cursos de engenharia, sendo que, na arquitetura, a
aprendizagem de conceitos estruturais é um meio para a concepção de projetos; e, na
engenharia, esses conteúdos têm uma destinação fim, onde serão diretamente aplicados
para o desenvolvimento do cálculo estrutural.
A prática profissional dos arquitetos e engenheiros vem se apropriando, desde o final do
séc. XX, de ferramentas digitais de projeto e produção para representação e validação da
forma. A análise estrutural pelo método analítico é importante para a compreensão de
princípios estruturais e verificação de métodos computacionais, mas não representa a única
maneira de se compreender o comportamento das estruturas e projetá-las. As ferramentas
digitais de análise estrutural possibilitam a aplicação de conceitos qualitativos e
quantitativos e a interpretação de resultados numéricos, além de facilitarem a compreensão
do comportamento da forma através de interfaces visuais tridimensionais.
Para a transposição do uso de ferramentas computacionais da prática profissional para o
ensino, foi importante recorrer às abordagens pedagógicas construtivistas para a criação de
ambiente de ensino e aprendizagem. Através das teorias do Ensino Baseado em Problemas
(PBL), Teoria da Flexibilidade Cognitiva e Ensino Prático-Reflexivo, foi possível fazer uma
crítica ao ambiente expositivo tradicional, onde o estudante tem uma relação de passividade
com o conhecimento, não desenvolvendo habilidades de se aplicar os conceitos de
estruturas em situações de projeto.
Para possibilitar um ambiente em que os estudantes de arquitetura pudessem trabalhar a
concepção estrutural através de problemas de projeto, foram utilizados os conceitos de
“Metodologia de Projeto baseado em Desempenho”, segundo a qual é necessário o
estabelecimento de metas e de estratégias para o alcance do desempenho desejado, criando
um processo iterativo de representação e validação da forma estrutural. Para avaliação e
desenvolvimento de processo iterativo, a exploração do potencial das ferramentas digitais
de análise estrutural é fundamental como maneira de instrumentalizar os estudantes a
avaliarem as metas a serem atingidas com a forma projetada.
As disciplinas a serem desenvolvidas de maneira híbrida, integrando conceitos de projeto e
estruturas, representam alternativas para o ensino de estruturas, podendo existir
concomitantemente com as disciplinas de caráter quantitativo atualmente já praticadas. A
expectativa é que elas representem uma possibilidade para a integração do ensino de projetos
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
ao ensino de estruturas, nas quais, além de aplicar os conceitos estruturais para concepção da
forma e sua validação, os estudantes irão trabalhar com aspectos pragmáticos, estabelecendo
as relações entre definições espaciais, estáticas e construtivas do projeto ao canteiro,
ampliando a aprendizagem para além das questões de representação.
885
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao professor e orientador Roberto Eustaáquio dos Santos; aos professores,
funcionários e colegas do Núcleo de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo NPGAU; e
aos alunos do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFMG pelo apoio no
desenvolvimento deste trabalho.
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Porto Alegre: Artmed, 2000.
ENSINO E APLICAÇÃO DA OTIMIZAÇÃO TOPOLÓGICA DA ESTRUTURA NO
PROJETO ARQUITETÔNICO
OLIVEIRA, Charles Jaster de (1); OLIVEIRA, Luna Ollin Steffen de (2); GONÇALVES NETO, Antonio
Carlos de Quadros (3); SANQUETTA, Felipe Taroh Inoue (4)
(1) UP, e-mail: chjaster@hotmail.com; (2) UTFPR, e-mail: luna_steffen@hotmail.com; (3) UP, e-mail:
netogoncalvez@gmail.com; (4) UP, e-mail: felipe_sanquetta@hotmail.com
RESUMO
O presente estudo aborda as etapas necessárias para o ensino da otimização topológica da estrutura
em cursos de graduação de arquitetura e suas consequentes aplicações no projeto. O estudante de
arquitetura, de posse dos conhecimentos básicos das cadeiras de estruturas, é capaz de compreender
processos estruturais mais avançados tecnologicamente, que são os sistemas de otimização da
topologia estrutural, seja por meio de cálculos ou softwares livres e privados disponíveis no mercado.
Os processos de otimização de elementos estruturais tendem a gerar modelos físicos dando relevância
a critérios estruturais ou econômicos originados da compreensão de como a estrutura se comporta. As
reduções de peso e aumento de desempenho das peças estruturais obtidas com o uso de técnicas de
otimização são significativas, sendo a sua importância indiscutível na redução de custos. Conhecidas as
variáveis necessárias para a otimização, a forma geométrica do elemento estrutural tende a se alterar
para configurações orgânicas. O entendimento das possibilidades de concepção e aplicação destas
formas dentro do projeto tornam-se necessárias nos dias de hoje, tornando os projetos racionais e
sustentáveis. Mesmo os processos de otimização apresentando grande complexidade matemática, este
trabalho abordará por meio de exemplos, modelos práticos e simplificados que podem ser facilmente
implementados em sala de aula e na vida profissional do arquiteto, conferindo excelentes resultados
em termos de forma e volumetria estrutural. Como resultado, são apresentadas as implementações
desenvolvidas por estudantes do curso de Arquitetura, em aplicações de projeto de um edifício, de
uma passarela e de um apoio de ponte.
Palavras-chave: Otimização estrutural; Otimização topológica; Concepção estrutural; Arquitetura.
ABSTRACT
This study discusses the steps for the teaching of topology optimization of structure in architecture
undergraduate courses and their applications in the project. The student of architecture, with the
basic knowledge of the disciplines of structures, is capable of understanding more technologically
advanced structural processes, which are the topological optimization systems of the structure, either
through calculations or through free and private software available in the market. The optimization
processes of structural elements create physical models giving relevance to structural or economic
criteria originated from the understanding of how the structures works. The weight reductions and
increase of the performance of the structural parts obtained with the use of optimization techniques
are significant and their importance is undeniable in the reduction of costs. Known as variables
required for optimization, the geometric shape of the structural element tends to change to organic
configurations. Understanding the possibilities of designing and applying these forms within the
project becomes necessary these days, making projects more rational and sustainable. Even with
optimization processes presenting a lot of mathematical complexity, this paper will approach some
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
examples and practical and simplified models that can be easily apply in the classroom and in the
professional life of the architect, giving excellent results in terms of shape and volumes. The presented
results are the implementations developed by the undergraduate students of Architecture, in
applications of design of a vertical building, a footbridge and a bridge pier.
Keywords: Structural optimization; Topological optimization; Structural design; Architecture.
887
1. INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta as etapas e descreve exemplos de ensino de estruturas para
estudantes de arquitetura por meio de processos de otimização. Expõe as possibilidades de
aplicação da otimização topológica da estrutura, por meio de tecnologias já disponíveis, mas
ainda não exploradas dentro do ensino de arquitetura, como softwares gratuitos de
otimização. Dentro das condições e capacitações curriculares já implementadas nas maiorias
das escolas brasileiras de arquitetura, apresentam-se os resultados da otimização em três
aplicações arquitetônicas desenvolvidas por alunos de graduação em arquitetura que
aplicaram a metodologia dentro do processo de criação do projeto arquitetônico.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Para maior compreensão deste trabalho, apresenta-se uma revisão bibliográfica até o
cenário atual tanto do ensino de estruturas na Arquitetura como no conceito de otimização,
focando pontos principais que fundamentam o objetivo deste trabalho.
1
Biomimitismo é a imitação de funcionalidades biológicas como forma, processos e sistemas naturais para
produzir soluções sustentáveis.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Após 1904, os estudos não tiveram aplicações práticas por seis décadas até o surgimento,
em meados da década de 60, da ferramenta computacional e principalmente do método dos
elementos finitos. A indústria aeronáutica foi a principal beneficiada. Na década de 70, a teoria
desenvolvida anteriormente, foi então implementada por meio do surgimento de algoritmos
em linguagem de programação. Na década de 80, softwares comerciais de elementos finitos
passam a incluir alguns módulos de otimização estrutural (ROZVANY et al., 1995), passando a
surgir, ao final da década de 80, o método de otimização topológica.
892
3. METODOLOGIA
O princípio geral do problema de otimização topológica é determinar a distribuição
ótima de material dentro de um domínio designado para cumprir um determinado objetivo.
De modo geral, o problema considerado consiste em se obter a estrutura com máxima
rigidez e menor peso num domínio contendo restrições, apoios, e sujeito a um sistema de
carregamento (Figura 9).
894
4. RESULTADOS
Os resultados dos três objetos de aplicação da metodologia proposta são apresentados
nos itens a seguir. Destaca-se que, em todos os estudos de casos analisados, as etapas
metodológicas propostas foram implementadas a fim de tornar sua utilização didática.
massa que definiu a região a ser otimizada (Figura 11), representada pela região em preto.
Na sequência, considerou-se os apoios da estrutura, tendo a base engastada na fundação. A
próxima etapa figurou a definição das cargas atuantes, considerando-se sua expressividade
vertical, estudou-se a estrutura que seria necessária para evitar o tombamento da
896
edificação, para tanto, aplicaram-se forças horizontais representando o vento (tanto
sotavento como barlavento), conforme Figura 11.
uma estrutura claramente com enrijecimento maior da base da edificação, com leve redução
de rigidez dos elementos até o topo do edifício dentro de um conceito de
contraventamento. As cargas gravitacionais não foram aplicadas, cabendo novas análises e
verificação de seus efeitos combinados.
897
4.2 Estudo de caso 02
Seguindo a mesma linha metodológica da aplicação 01, porém com objetivo definido por
uma passarela para travessia de pedestres de uma rodovia na cidade de Curitiba, com vãos
entre apoios de 20 metros e balanços em cada extremidade de 5 metros. A proposta partiu
da curiosidade em explorar novas possibilidades estruturais em sistema plano, diferente das
tipologias de passarelas em treliça plana e Vierendeel existentes na própria rodovia
estudada (Figura 12).
Destaca-se na etapa estudo de massa, conforme Figura 13, a criação de regiões sólidas
não otimizáveis, como neste caso os pilares de apoio da passarela. Na sequência, houve a
inserção de apoios na parte inferior da região otimizável e cargas tanto de pedestres como
de um sistema de cobertura sobre a mesma. Estes carregamentos foram considerados os
principais para a busca da solução otimizada não sendo considerado sobre a estrutura a ação
do vento e demais carregamentos exigidos por normas. O carregamento apresentado, foi
configurado por meio de concentração de forças relativas as reações das transversinas do
sistema estrutural.
A otimização desenvolvida, resultou em uma geometria orgânica e implementada em
uma configuração de treliça plana e disposta paralelamente, conforme resultado final.
Apresentou-se um enrijecimento nas barras que recebem as cargas para os apoios, visível
tanto na imagem da otimização, quanto no resultado final da Figura 13.
Após a resolução deste problema de passarela, surgiu a curiosidade de modificar a
posição da passagem dos pedestres e, desta forma, modificar a posição dos apoios
estruturais. A facilidade de modelagem do problema, e principalmente o entendimento de
que as restrições e ações têm um papel significativo na geração da forma, permitiu a
configuração de uma nova hipótese a fim de explorar o resultado obtido.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
898
900
5. CONSIDERAÇÕES
A otimização topológica se torna extremamente eficiente quanto ao resultado final de um
projeto. Muitas vezes não de forma integral para condicionantes de projeto, mas também
como mecanismo de orientação da geometria estrutural a ser definida. Destacando tanto a
redução no consumo de materiais, ou melhor, utilizando de forma adequada e funcional os
materiais dentro do processo de concepção estrutural.
O objetivo principal deste trabalho foi alcançado e percebe-se que é possível tais
implementações para alunos de graduação, visto que conceitos básicos de estabilidade das
edificações são utilizados, principalmente cargas, apoios e suas orientações sob a edificação.
Cabe ao professor explorar estes conhecimentos adquiridos e aplicá-los das mais variadas
formas, principalmente no que tange ao desenvolvimento tecnológico. Torna-se consequência
direta o aluno compreender a importância dos conceitos básicos de estruturas e sua influência
sobre a forma, e culmina sendo uma justificativa do “porquê” aprender e estudar esses
conceitos básicos.
Por mais tecnológico e avançado matematicamente que o processo pareça, demonstra-se
com este trabalho que o uso de aplicativos e ferramentas computacionais pode estar
inserido dentro de atividades práticas de alunos de graduação de arquitetura.
Principalmente pelo fato de hoje estas ferramentas serem distribuídas gratuitamente, em
versões educacionais. Apresenta-se como uma excelente ferramenta para compreensão de
critérios essenciais no entendimento das estruturas, visto que, de forma geral, a geometria
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
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III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
SILVA, Athos Souza e (1); KAPP, Silke (2); SANTOS, Roberto Eustáaquio dos (3)
RESUMO
Em escolas de arquitetura no Brasil, o ensino de estruturas raramente incorpora ferramentas digitais
3D avançadas. Muitas disciplinas são superficiais, baseadas em apostilas antigas e representações
rudimentares, que dificultam a compreensão de estudantes não familiarizados com canteiros de obras.
Os professores parecem supor que arquitetos devem saber o bastante para valorizar as soluções de
engenheiros, mas não para propor concepções estruturais. Com o objetivo de descobrir se e como essa
prática de ensino reflete a prática profissional, o primeiro autor deste artigo, estudante de graduação,
realizou entrevistas com engenheiros de estruturas e observações nos seus escritórios. Depois analisamos
juntos os resultados. Eles mostram que os entrevistados que trabalham com projetos não convencionais,
de fato, exploram visualização e modelagem digitais na análise estrutural, na discussão com arquitetos
e na integração dos requisitos técnicos e econômicos nos projetos. Por outro lado, os entrevistados que
trabalham sobretudo para a indústria comum da construção usam ferramentas 3D mais para apresentar
do que para criar soluções. A pesquisa indica ainda que é comum fragmentar formas arquitetônicas
complexas em elementos simples, mais fáceis de calcular, mesmo que sejam estruturalmente menos
eficientes. Reuniões com arquitetos, discussões sobre concepções estruturais e cálculos extravagantes
são vistos como perda de tempo. Nesse sentido, o ensino de estruturas nas escolas de arquitetura
condiz com a prática profissional comum, mas não com os recursos disponíveis. Usá-los no ensino
implicaria mudanças nessa prática.
Palavras-chave: Ferramentas digitais 3D; Visualização; Engenharia estrutural.
ABSTRACT
At Brazilian architecture schools, structure teaching rarely incorporates advanced 3D digital tools.
Many courses are superficial, and rely on outdated leaflets and rough representations, which complicate
understanding for students unfamiliar with construction sites. Lecturers seem to assume that architects
require the knowledge to understand and value engineers' solutions, but not to propose structural
concepts. Aiming to discover if and how this common teaching practice mirrors professional practice,
the first author of this paper, an undergraduate student, conducted interviews with structural engineers
and observations in their offices. We then analysed the results together. They show that the interview
partners working more often on unconventional commissions actually do explore digital visualization
and modelling as a means of structural analysis, discussion with architects, and integration of
technical and economic requirements into their designs. On the other hand, the interview partners
working mostly for the ordinary building industry use digital 3D tools rather to present than to create
solutions. The research also indicates that it is common to split complex architectural forms into
simple elements, easier to calculate, even if structurally less efficient. Meetings with architects,
discussions on structural concepts, and unusual calculations tend to be seen as a waste of time. In this
sense, structure teaching in architecture schools conforms to main professional practice, but not to
the available tools. Using them in teaching would imply changes in this professional practice.
Keywords: 3D digital tools; Preview; Structural engineering
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
Os escritórios de engenharia de estruturas contam com crescentes possibilidades de
modelagem e visualização tridimensional desde os anos 1980. A incorporação de tais
ferramentas por outras áreas da construção civil, como os escritórios de arquitetura e de
905 instalações prediais, ocorreu tardiamente, quase duas décadas depois. Essa defasagem parece
corresponder ao ensino nas escolas de arquitetura, especialmente no campo das estruturas.
De uma maneira geral, a carga horária dedicada a esse tema nos cursos de arquitetura é
reduzida, seja em comparação com disciplinas de projeto, tecnologia e história, seja em
comparação com os currículos dos cursos de engenharia. Além disso, o tema tende a ser
tratado sem profundidade teórica nem exercícios práticos úteis ao trabalho profissional de
um arquiteto. Não são raras as apostilas de décadas atrás, com representações apenas de
esquemas de barras1, que pouco contribuem para o entendimento do funcionamento de
estruturas construtivas reais, principalmente para estudantes que não têm contato com o
canteiro. Recursos de visualização de modelos realísticos ou mesmo de modelos de barras
não são utilizados. O argumento dos professores – via de regra engenheiros – em defesa
dessa prática de ensino é que bastaria a um arquiteto ter noções básicas dos problemas
estruturais que podem surgir nas diversas situações de projeto e que, de resto, arquitetos
deveriam se restringir a entender e aceitar as soluções propostas pelos engenheiros.
A pesquisa cujos resultados apresentamos aqui teve por objetivo descobrir em que
medida essa rotina de ensino reflete a prática profissional dos engenheiros de estruturas nos
seus próprios escritórios em dois sentidos. Primeiro, queríamos saber se ela condiz com a
relação que os engenheiros têm com arquitetos nessa prática. Além disso, estávamos
interessados em descobrir se e como os engenheiros de estruturas usam ferramentas
digitais de modelagem e visualização no trabalho rotineiro nos seus escritórios, e se essas
poderiam ser introduzidas no ensino de estruturas para arquitetos.
Nas seções seguintes, explicitamos os procedimentos de coleta de dados, a análise
desses dados, as possibilidades vislumbradas a partir de ferramentas digitais numa nova
lógica de ensino de estruturas e alguns apontamentos finais.
2. MÉTODOS
Com o objetivo indicado, foram realizadas entrevistas individuais, abertas, com sete
engenheiros atuantes no mercado, todos à frente de escritórios próprios, especializados em
análise e cálculo estruturais. O primeiro autor deste texto, graduando em arquitetura e
urbanismo da UFMG e bolsista de iniciação científica, conduziu sozinho essas entrevistas.
Entendemos que isso deixaria os entrevistados mais à vontade na exposição de suas práticas
e suas opiniões sobre o campo profissional do que uma conversa com professores da Escola
1
Denominamos esquemas, as representações bidimensionais (2D) e, modelos, as representações
tridimensionais (3D). Tanto esquemas quanto modelos podem ser de barras, isto é, reduzidos a linhas que
representam os eixos de força dos respectivos elementos estruturais, ou então realísticos, representando a
geometria completa de tais elementos (altura, largura, espessura).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2
BIM, literalmente, modelagem de informações para a construção, é um processo de gerenciamento de dados
a partir de modelos, compartilhados entre agentes e softwares diversos, com o objetivo de facilitar a tomada
de decisões e a compatibilização de projetos. O termo surgiu na década de 1990, embora sistemas de
compartilhamento existissem antes.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
3. CONCEPÇÃO ESTRUTURAL
Três dos entrevistados (P, H, L) insistiram muito em descrever, de uma maneira formal e
quase idealizada, as atribuições dos diversos profissionais da construção civil e as relações que
existem – ou deveriam existir – entre eles. A palavra respeito foi chave nesse sentido e usada
por todos os seis entrevistados para caracterizar as interações, em particular aquela entre
engenheiros e arquitetos ou entre projeto estrutural e projeto arquitetônico. Respeito parece
significar uma divisão clara de incumbências, sem riscos de invasão de território alheio.
Assim, dada a premissa do respeito mútuo pelas especialidades, todos os entrevistados
disseram, inicialmente, que seu processo de concepção estrutural começa pelo projeto
arquitetônico, respeitando definições geométricas, dimensões e materiais indicados ali, bem
como limitações econômicas que lhes são comunicadas pelo arquiteto ou pelo cliente. Ao
longo das entrevistas, à medida que a conversa se tornava menos formal e alguns dos
programas e projetos eram mostrados, descobrimos um pouco mais sobre como os
entrevistados lidam com os projetos arquitetônicos e eventuais pré-concepções estruturais.
As respostas foram enfáticas: as estruturas propostas pelos arquitetos seriam, em sua
grande maioria, equivocadas e incoerentes, sem correspondência entre planos
sobrepostos e com quantidade de elementos estruturais exagerada ou subestimada.
Disseram que raramente seguem os indicativos do projeto arquitetônico. Uma frase de R.
resume a questão: “A gente respeita o projeto do arquiteto, mas se ele vier com uma
concepção estrutural, eu faço do meu jeito”.
Nesse sentido, o respeito pela divisão do trabalho entre os especialistas (que na prática
muitas vezes prejudica a construção) significa que os arquitetos devem reconhecer sua
incompetência para o lançamento estrutural. Por outro lado, pudemos observar também o
inverso: o engenheiro, na intenção de simplificar o cálculo, transforma formas complexas em
elementos ortogonais simples. Por exemplo, vimos um pilar em “V” sendo considerado, para
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
efeito de cálculo, como pilar vertical comum, acompanhado da sugestão de que se fizessem
enchimentos laterais para preservar a forma plástica. A possibilidade de que ele teria sido
proposto pelo arquiteto para reduzir balanços da laje ali apoiada não foi sequer cogitada.
Ainda sobre a questão da concepção estrutural, é interessante notar que houve
908
diferenças segundo os períodos de formação dos entrevistados. Os mais novos na profissão
demonstraram interesse maior por temas mais presentes nas universidades hoje do que
algumas décadas atrás: geologia e morfologia dos sítios, drenagem, permeabilidade,
materiais locais etc. Outra diferença foi o meio em que fazem o lançamento inicial da
estrutura. Enquanto os mais velhos o fazem manualmente, sobre as pranchas impressas das
plantas arquitetônicas ou em desenhos próprios, os mais jovens utilizam ferramentas digitais
desde o início e trabalham diretamente a partir dos arquivos que os arquitetos proveem.
Nesse contexto, um dos entrevistados comentou que frequentemente faz correções de
projetos estruturais elaborados por outros profissionais. Ele considera que a origem de
muitos erros e concepções pouco eficientes está no fato de engenheiros mais jovens
simplesmente confiarem nas definições do software, sejam gerais ou de detalhes (de
armaduras, por exemplo). Por ignorância, falta de experiência ou para poupar tempo, eles se
eximem de desenvolver um raciocínio espacial, estrutural e construtivo próprio.
4. USO DE SOFTWARES
A segunda parte das entrevistas abordou os softwares usados no trabalho dos escritórios.
Perguntamos sobre suas vantagens e limitações, e sobre os recursos de modelagem,
visualização e representação gráfica disponíveis e usados de fato no dia a dia do trabalho.
Todos os entrevistados fazem uso de alguma ferramenta digital. No entanto, dos softwares
citados, alguns servem exclusivamente ao cálculo de elementos estruturais isolados e geram
relatórios quantitativos, gráficos e esquemas rudimentares, sem possibilidade de modelagem
estrutural. É o caso, por exemplo, dos programas PROVIGA, PROPILAR e PROLAJE
desenvolvidos pela empresa ALTOQI em 1990, não mais comercializados desde 1996, mas
ainda usados por um dos entrevistados. Também é o caso do MSCALC, hoje em dia usado
sobretudo como aplicativo de smartphone. Ainda que essas ferramentas possam auxiliar
disciplinas de cursos de arquitetura, não as abordamos aqui, porque não contribuiriam
muito para uma concepção arquitetônica articulada à concepção estrutural. Um dos
entrevistados usa apenas cálculos manuais e esse tipo de software mais básico. Nesse caso,
predominam soluções estruturais simplificadas, baseadas na experiência profissional. Porém,
este entrevistado terceiriza a elaboração de desenhos técnicos em programas de CAD.
Cinco entrevistados disseram fazer uso de softwares de modelagem e visualização, seja
pessoalmente ou por intermédio de outras pessoas do escritório: o CAD/TQS, citado pelos
cinco; o SAP 2000, citado por um entrevistado; e o Tekla Structures, citado por dois deles.
Produzido desde 1986 pela TQS Informática Limitada, uma empresa brasileira, o
programa CAD/TQS foi concebido para o cálculo e a análise global de estruturas de
concreto armado, protendido, pré-moldado e, também, de alvenaria estrutural. Ele não é
usado para estruturas metálicas. Trata-se de um software em que os elementos – vigas,
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
pilares e lajes – são desenhados num ambiente 2D, que se assemelha ao do AUTOCAD
(Figura 1). Esse ambiente também permite elaborar desenhos técnicos finais, incluindo
detalhamento de fôrmas e armaduras.
910
912
O programa SAP 2000 é produzido pela Computers and Structures Incorporated (CSI),
sediada na Califórnia (EUA). Ele foi concebido para realizar modelagem, análise e
dimensionamento de estruturas de forma integrada, nos mais diversos sistemas e materiais.
Assim como o TQS, o SAP realiza cálculos e análises pelo método dos elementos finitos
913
(MEF), que consiste na resolução de um problema complexo por “discretização”, isto é,
subdivisão da geometria submetida a carregamentos e restrições num número limitado de
pequenas partes, que representam o domínio contínuo do problema. As funções e interfaces
do SAP se assemelham às do TQS. No entanto, ele permite a modelagem e a análise de
estruturas geometricamente mais complexas. A modelagem das estruturas também se faz a
partir de desenhos 2D e valores numéricos que então definem o modelo (Figura 5), mas o
ambiente de visualização dos modelos é, também, um ambiente de edição. Pode-se
selecionar um elemento no modelo para alterá-lo e qualquer alteração é apresentada em
tempo real. Outro ponto importante é que a análise estrutural do SAP fornece
demonstração de deformações no modelo realístico (Figura 6).
O programa Tekla Structures é produzido desde 1996 pela Trimble Incorporated, também
sediada na Califórnia (EUA). A modelagem é feita no próprio ambiente 3D e os modelos são
totalmente editáveis, à semelhança do SketchUp (Figura 7). Além disso, há mais recursos de
detalhamento desses modelos.
915
916
5. APONTAMENTOS
As entrevistas e observações realizadas, embora não sejam uma amostra representativa,
permitem apontar algumas conclusões preliminares que podem embasar futuras investigações.
Elas mostram que os entrevistados que trabalham com projetos não convencionais de fato
exploram visualização e modelagem digitais na análise estrutural, na discussão com
arquitetos e na integração dos requisitos técnicos e econômicos nos projetos. Por outro
lado, os entrevistados que trabalham sobretudo para a indústria comum da construção
usam ferramentas 3D mais para apresentar do que para criar soluções. A pesquisa indica
também que é comum fragmentar formas arquitetônicas complexas em elementos simples,
mais fáceis de calcular, mesmo que sejam estruturalmente menos eficientes. Reuniões com
arquitetos, discussões sobre concepções estruturais e cálculos extravagantes tendem a ser
vistos como perda de tempo.
Nesse sentido, o ensino de estruturas nas escolas de arquitetura condiz com a prática
profissional comum, não quanto às ferramentas usadas, mas quanto ao papel atribuído ao
arquiteto. O conhecimento apenas superficial do tema por parte desses profissionais preserva
de críticas e questionamentos às incumbências dos engenheiros.
Também a relativa negligência de desenvolvedores de softwares e dos próprios profissionais
quanto ao compartilhamento de informações durante o processo de elaboração dos
projetos (via BIM) indica que uma interação mais estreita ou mesmo a interdisciplinaridade
não são interesses prementes, ainda que nenhum dos entrevistados tenha negado sua
importância explicitamente.
Situações como o exemplo do pilar em "V" indicam que há falhas no ensino de ambas as
áreas. Aos engenheiros falta disposição e conhecimento para trabalhar com concepções
estruturais de alguma complexidade espacial e, como diz Yopanan Rebello (SARAMAGO, 2011,
p. 219), um repertório mais amplo de possibilidades estruturais. À exceção de projetos muito
vultuosos, todas as situações tendem a ser enquadradas nos sistemas rotineiros de vigas,
pilares e lajes ortogonais. Os arquitetos, por sua vez, convivem com aulas que não chegam
nem à elucidação das possibilidades estruturais e do funcionamento físico das estruturas.
Por outro lado, o ensino poderia incorporar possibilidades de modelagem e visualização
com alguma facilidade, porque elas são efetivamente usadas nos escritórios. Acreditamos
que os softwares, ainda que com certas ressalvas, deveriam apoiar não somente aulas de
engenharia de estruturas, mas principalmente aulas de projeto, uma vez que aliados a esse
exercício seriam de mais fácil assimilação. Além de possibilitarem a visualização realística das
estruturas propostas e a análise do seu funcionamento mecânico, promoveriam uma
aproximação entre ensino e prática profissional.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
Aos engenheiros que nos concederam entrevistas e acesso a seus escritórios.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Coordenação
de Aperfeiçoamento de Nível Superior (CAPES) e à Financiadora de Estudos e Projetos
917 (FINEP) pelo apoio financeiro e pelas bolsas que possibilitaram as pesquisas de que resultou
o presente trabalho.
REFERÊNCIAS
FONSECA, F. T.; PITANGUEIRA, R. S. Um programa gráfico interativo para modelos estruturais de
barras. 2004. In: Congresso Ibero-Latino-Americano de Métodos Computacionais em Engenharia, 15.,
Recife. Anais do XXV Congresso Ibero-Latino-Americano de Métodos Computacionais em
Engenharia. Recife: UFPE, 2004.
PITANGUEIRA, R. S.; FONSECA, F. T. Insane: uma plataforma para computação científica. In: Encontro
de Modelagem Computacional, 10., Nova Friburgo, 2007. Anais do X Encontro de Modelagem
Computacional, Nova Friburgo, 2007.
PITANGUEIRA, R. S.; FONSECA, F. T.; FUINA, J. S.; CAMARA, L. S.; FONSECA, M. T.; FERREIRA, R. L.;
MOREIRA, R. N.; SALIBA, S. S.; PENNA, S. S. Insane - Versão 2.0. In: Congresso Ibero-Latino-Americano
de Métodos Computacionais em Engenharia, 29., Maceió, 2008. Anais do XXIX Congresso Ibero-
Latino-Americano de Métodos Computacionais em Engenharia, Maceió: UFAL, 2008.
SARAMAGO, R. C. P. Ensino de estruturas nas escolas de Arquitetura do Brasil. 2011. Dissertação
(Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2011.
A CRIAÇÃO DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UAECSA-UFG E AS
EXPECTATIVAS PARA O ENSINO DE ESTRUTURAS
OLIVEIRA, Karine Camila (1); THIESEN, José Rodolfo Pacheco (2); HUGUENIN, João Paulo Oliveira
(3); ANDRADE NETO, Ivo Carrijo (4)
(1) UFG, e-mail: karineco@ufg.br; (2) UFG, e-mail: joserpt@ufg.br; (3) UFG, e-mail:
arquiteto.huguenin@gmail.com; (4) UFG, e-mail: ivocarrijo@gmail.com
RESUMO
O artigo trata de uma experiência em andamento: a criação do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Goiás – Regional Goiás. Tem como objetivo trazer os desafios que surgem
do encontro das condições objetivas para a implementação do curso com as expectativas subjetivas
de um corpo docente e discente abertos à inovação e à experimentação. Do ponto de vista objetivo,
o curso se insere em um contexto geográfico peculiar: uma cidade pequena, com título de
Patrimônio Mundial, no interior do país. Do ponto de vista subjetivo, chama a atenção a abertura
para a inovação didática por parte do corpo docente. Buscando refletir sobre os “Meios para o
ensino de estruturas – recursos, literatura e material didático”, o artigo aborda: i) a proposta
pedagógica do curso; e ii) o Museu de Culturas Construtivas do Cerrado (MCCC), como o laboratório
necessário ao desenvolvimento teórico-prático do ensino de estruturas. Quanto à proposta
pedagógica contida no Projeto Político-Pedagógico do Curso, destacamos a criação de três disciplinas
obrigatórias de Canteiro Experimental e mecanismos para a integração das disciplinas de Projeto
com Sistemas Estruturais. Sobre o MCCC, enfatizamos seu caráter exploratório e inventivo ao
abordar questões relacionadas às técnicas e sistemas construtivos. Assim, o artigo trata de um
conjunto de expectativas que está articulado em uma proposta. Serão apresentadas estas
expectativas, suas motivações e cotejá-las com as experiências já realizadas.
Palavras-chave: Proposta pedagógica; Canteiro experimental; Patrimônio cultural.
ABSTRACT
The article is about an experience in progress: the creation of the Architecture and Urbanism Course
of the Federal University of Goias – Goias Regional. It aims to bring the challenges that arise from the
meeting of the objective conditions for the implementation of the course with the subjective
expectations of a university teachers and students open to innovation and experimentation. From the
objective point of view, the course is inserted in a very peculiar geographical context: a small town,
with the title of World Heritage, in the countryside of the country. From the subjective point of view, it
is worth mentioning the openness to a didactic innovation by the university teachers. Seeking to
speculate on the “Means for teaching structures – resources, literature and didactic material”, the
article addresses: i) the pedagogical-proposal of the course; and ii) the Museum of Constructive
Cultures of the Cerrado (MCCC), as the laboratory necessary for the theoretical-practical development
for the teaching of structures. As for the pedagogical proposal contained in the Political-Pedagogical
Project of the course, we highlight the creation of three compulsory subjects of the Experimental job
site and mechanisms for the integration of the subjects of Project with those of structural Systems.
About the MCCC, we emphasize its exploratory and inventive character when approaching questions
related to the techniques and constructive systems. Thus, the article deals with a set of expectations
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
that is articulated in a proposal. Will be presented these expectations, it motivations and compare
them with the experiences already made.
Keywords: Pedagogical proposal; Experimental job site; Cultural heritage.
919
1. INTRODUÇÃO
O Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unidade Acadêmica Especial de Ciências Sociais
Aplicadas da Universidade Federal de Goiás – Regional Goiás iniciou suas atividades no ano
de 2015, com o ingresso da primeira turma através do Sistema de Seleção Unificada (SiSU).
Sua criação está relacionada à expansão universitária realizada pelo Programa de Apoio a
Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI).
O debate sobre o REUNI é controverso: se por um lado pode e deve ser criticado o fato de
sua implementação ter ignorado os impactos na comunidade acadêmica, por outro não se
pode negar que seus investimentos fortaleceram um importante processo de interiorização
do ensino público superior no Brasil.
Dentro do processo de expansão e interiorização, a Universidade Federal de Goiás se
reestruturou de forma a dar mais autonomia e participação aos Campi do interior existentes
nas cidades de Jataí, Catalão e Goiás. O estatuto vigente desde 2014 indicou que os campi
fossem concebidos tendo em vista sua abrangência geográfica, sendo denominados desde
então como “Regionais”. Atualmente estão em funcionamento, na UFG, as Regionais
Goiânia, Catalão, Jataí e Goiás.
O mesmo estatuto também organizou a oferta na graduação a partir de unidades
acadêmicas interdisciplinares de, no mínimo, quatro cursos. Na Regional Goiás, a abertura
do Curso de Arquitetura e Urbanismo (CAU) em 2015 possibilitou a criação da Unidade
Acadêmica Especial de Ciências Sociais Aplicadas (UAECSA), juntamente aos cursos de
Direito, Serviço Social e Administração, que já estavam em funcionamento.
A inserção do curso na UAECSA oferece outras possibilidades de entendimento do campo
da Arquitetura e Urbanismo. Apesar de constar como uma subárea da Grande Área do
conhecimento das Ciências Sociais Aplicadas, segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes), historicamente os cursos de Arquitetura e Urbanismo se
desenvolveram ligados às carreiras de Belas Artes ou de Centros Tecnológicos, o que, a nosso
ver, pode ter limitado o debate sobre o papel social do campo disciplinar à realidade social do
país. Além disso, a UAECSA possui uma vinculação a movimentos sociais populares1,
possibilitando o desenvolvimento de atividades didáticas-investigativas-propositivas
diferenciadas, calcadas em uma vivência da realidade do espaço, do território e da cidade.
1
A aproximação da UAECSA a movimentos sociais populares é anterior mesmo à sua criação, quando, em 2006, a
articulação da UFG com movimentos sociais como o Movimento de Trabalhadores Sem Terra (MST) e a
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) permitiu a criação de uma Turma Especial de
Direito para Beneficiários da Reforma Agrária e Agricultura Familiar através do Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária (PRONERA), desenvolvido pelo então Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
materiais nas decisões projetuais e demais rumos que curiosamente foram tomados em
função do decorrer das atividades.
Os objetivos desta disciplina consistem especificamente em fornecer ao aluno o
conhecimento das características e propriedades dos diversos materiais de construção, sua
924
fabricação e preparação, possibilitando escolhas adequadas aos projetos; proporcionar
fundamentos teóricos e práticos sobre a relação entre sistemas construtivos e materiais e,
finalmente, desenvolver capacidades criativas vinculadas à aplicação dos materiais na
construção. Para tanto, foi estrategicamente proposta a realização de um projeto de aparato
a ser implantado em espaço urbano envolvendo execução, ensaios e observação de técnicas
construtivas com princípios de coordenação modular e elementos de pré-fabricação,
enfatizando o conhecimento das características e propriedades dos materiais de construção
civil, criando diálogos entre as escalas do objeto e da cidade, enquanto forma e paisagem.
Inicialmente, foram ministradas aulas expositivas dialogadas, com apoio audiovisual de
projeção de slides e vídeos diversos abordando (i) o papel da experimentação na concepção
arquitetônica; princípios de (ii) coordenação modular e (iii) pré-fabricação e (iv) aspectos
sobre a interface entre estrutura e o projeto de arquitetura. Houve uma primeira atividade
de experimentação, na aula inaugural, com vistas a integrar a turma ao caráter experimental
da disciplina. Foram realizadas pinturas a partir de um pêndulo alto carregado com tinta, as
quais diferiam conforme as variações de movimento do pêndulo, de acordo com a forma de
arremesso (Figura 2). Neste primeiro momento, foi estimulado o debate a respeito da
experimentação e das estratégias de concepção/execução no projeto e sua relação direta
com os materiais, sendo que também foi fomentada a pesquisa de projetos e atividades
semelhantes aos assuntos abordados a fim de se constituir um arcabouço de referências.
Figura 3 – Desenvolvimento dos modelos em arame e palito para testes de estabilidade e esforços.
Concluída esta etapa, os grupos seguiram para a execução dos seus projetos na escala 1:1
utilizando os materiais especificados, em horário de aula com orientação e supervisão dos
professores – etapa atualmente em andamento, já em fase de finalização. Observado o
distinto interesse pelo bambu (Figura 5), foram debatidas suas características, propriedades
e os procedimentos de extração, tratamento e manuseio em sala de aula, com apoio de
literatura específica e vídeos de experiências similares.
O interessante no desenrolar desta etapa final foi notar que os grupos que mais
exploraram o objeto tridimensional como recurso de concepção da forma, conseguiram
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 6 – Produção de tiras de plástico a partir de garrafas PET para fazer as amarrações no bambu.
929
5. CONSIDERAÇÕES
A experiência do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UAECSA-UFG revela, ao mesmo
tempo, um amplo conjunto de desafios e dificuldades. O fato de se tratar de um curso em fase
de implementação, com recursos financeiros escassos e carência de espaço físico adequado,
não tem sido impeditivo para que iniciativas inovadoras sejam propostas e experimentadas. A
tentativa de implementação de três disciplinas de Canteiro Experimental em um curso que não
conta sequer com uma maquetaria é uma evidência dessa contradição. No entanto, e por
outro lado, a disposição da comunidade acadêmica em efetivar uma proposta de ensino
diferenciada tem feito com que muitas dessas dificuldades se transformem em combustível
para buscar saídas cada vez mais amplas. É o caso da tentativa de implementação do Museu
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
de Culturas Construtivas do Cerrado, que deve contribuir com a superação de alguns desses
empecilhos estruturais e financeiros e, ao mesmo tempo, contribuir para avançar ainda mais
um passo na consolidação da proposta político-pedagógica do curso, intensificando seu
caráter extensionista e vinculando-se a problemas próprios do território no qual o curso de
932
insere: uma pequena cidade patrimônio da humanidade.
Não apresentamos aqui, portanto, soluções, mas sim experiências embrionárias que
abrem um grande conjunto de problemas. Estes problemas, que podem ser novos para os
docentes, discentes e técnicos diretamente envolvidos com a criação do CAU da UAECSA,
podem não ser novos para os diversos sujeitos que atuam em todo o país no sentido de
construir alternativas a um ensino de estruturas tecnicista e fragmentado. Entendemos que,
neste momento, é fundamental estabelecer trocas de experiências permanentes com
iniciativas do presente e do passado cujos princípios sejam semelhantes.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Coordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo e ao coletivo de
professores do curso, que apoiaram a construção dos ideais pedagógicos do Canteiro
Experimental.
REFERÊNCIAS
SARAMAGO, R. C. P. Ensino de estruturas nas escolas de Arquitetura do Brasil. 2011. Dissertação
(Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2011.
SARAMAGO, R. C. P.; LOPES, J. M. A. Ensino de estruturas nas escolas de arquitetura do Brasil:
estrutura curricular e recursos didáticos. Revista Tecnológica (UEM), v. 18, p. 169-179, 2009.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Projeto Político Pedagógico do Curso de Arquitetura e
Urbanismo da UAECSA Regional Goiás. Goiás: UFG, 2017.
DESEMPENHO ESTRUTURAL EXPERIMENTADO EM MODELOS
COMPUTACIONAIS: UM MEIO DE CONCEPÇÃO NA ARQUITETURA
RESUMO
O trabalho apresenta e discute metodologia e resultados de concepção estrutural aplicada em dois
projetos desenvolvidos no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) financiados
pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR); nesses projetos estudantes de Arquitetura e
Urbanismo, associados a professor engenheiro civil com experiência nas disciplinas “Sistemas
Estruturais”, construíram a forma final de duas edificações por meio de análise de desempenho em
sucessivas observações de comportamento mecânico, utilizando modelos de cálculo computacionais
processados em Método dos Elementos Finitos (MEF). Iniciando pela pesquisa iconográfica de obras
nos sistemas estruturais escolhidos, foram definidos os programas arquitetônicos com consequente
proposição de soluções formais-estruturais a serem ensaiadas: em placas dobradas contínuas, para o
projeto de uma passarela de pedestres em concreto armado, e em placas dobradas discretas, para o
projeto de uma cobertura de pavilhão em grelhas de vigas metálicas em superfícies não-coplanares.
Para as experimentações, foram confeccionados modelos de cálculo computacionais para
processamento em MEF, utilizando o software SAP2000®. Observando a estrutura deformada,
ensaiaram-se modificações da forma buscando a diminuição das flechas até limites impostos; os
impactos geométricos de cada iteração foram superpostos até a obtenção da forma final. Apesar da
limitação da experimentação aos participantes do processo, as descrições dos trabalhos resultaram
em material didático regularmente apresentado a outros estudantes do curso na disciplina “Sistemas
Estruturais – Morfologia”, não só para demonstrar a eficiência estrutural dos sistemas de placas
dobradas, mas também servindo como base para discussões acerca da interação entre arquitetos e
engenheiros na prática profissional.
Palavras-chave: Estruturas Arquitetônicas; Modelagem Computacional; MEF; Análise de
Desempenho; Interação Arquitetura e Estrutura.
ABSTRACT
This paper presents and discusses methodology and results in experiments of structural design in two
different projects developed in the “Institutional Program of Scientific Initiation” (PIBIC) financed by
the “Pontifical Catholic University of Paraná” (PUCPR). In these projects, students of Architecture and
Urbanism associated with a civil engineer constructed the final form of two architectural buildings
through performance analysis in an iterative way, after successive observations of mechanical
behavior, using computational models processed in Finite Element Method (FEM). Having as a
starting point iconographic research of works executed in the chosen structural systems, the
architectural objects were defined with the consequent proposition of formal-structural solutions to
be tested: in continuous folded plates, for the design of a footbridge in reinforced concrete, and in
non-coplanar surfaces discretized by grid of beams, for the design of a pavilion. For the experiments,
three-dimensional computational models were made for processing in FEM, using an software called
SAP2000®. Through observation and critical analysis of the structural behavior indicated by the
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
deformed structure, modifications of the shape were tried, aiming at the reduction of vertical
displacements in critical points on the surfaces until imposed limits; the geometric impacts of each
iteration were superimposed until obtaining the final architectural and structural form. Despite the
limited scope of the experimentation to the participants of the process the descriptions and results of
the works resulted in a didactic material regularly presented to other students in the discipline
"Structural Systems: Morphology" not only to demonstrate the structural efficiency of folded plate
934
systems but also to serve as a basis for discussions about the interaction between architects and
engineers in professional practice.
Keywords: Architectural Structures; Computational Modeling; FEM; Interaction Architecture and
Structure.
1. INTRODUÇÃO
Estudantes de Arquitetura e Urbanismo devem ser orientados a compreender ao longo
do curso, pelo aprendizado teórico e por diferentes práticas, a importância da concepção
estrutural na resolução do projeto arquitetônico. Devem tomar para si a responsabilidade
sobre o lançamento estrutural enquanto arquitetos.
Segundo Saramago e Lopes (2009), entender como se comportam as estruturas nos seus
regimes de trabalho tem se tornado, para o arquiteto, cada vez mais importante: tanto para
a proposição de soluções coerentes, quanto para o desenvolvimento de novas soluções
advindas de novas técnicas de construção e materiais inéditos. Diferentes disciplinas devem
conduzir os estudantes a integrar intuição à capacidade de análise de estruturas para a
aplicação em projetos de Arquitetura. Rebello e Leite (2015) indicam como produtivo para a
aprendizagem de “Sistemas Estruturais” o uso de modelos que representem os fenômenos
físicos que ocorrem com as estruturas; também colocam que é imprescindível que recursos
computacionais relacionados à concepção estrutural sejam tidos como meio privilegiado
para a procura de soluções ótimas e inventivas.
No curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR), os estudantes têm oito semestres da disciplina “Sistemas Estruturais”, onde os
diversos temas vão sendo trabalhados em crescente nível de complexidade e de várias
maneiras: por meio de conceitos de Física, Mecânica e Resistência dos Materiais aplicados
em exercícios de cálculo; por estudo de referências arquitetônicas e analogias com
estruturas da natureza; pela elaboração de desenhos dos diversos sistemas e de detalhes de
ligações entre peças estruturais; pela confecção de maquetes físicas coerentes
estruturalmente segundo um sistema específico e pela realização de ensaios físicos. Além
disso, em algumas disciplinas de Projeto de Arquitetura, há a participação de um professor
de “Sistemas Estruturais”, em ateliê, que colabora com os estudantes no lançamento das
soluções portantes e estabilizantes dos seus projetos arquitetônicos.
Esse artigo apresenta e discute resultados de integração Arquitetura e Estrutura de uma
maneira não corrente no dia-a-dia da sala de aula do curso de Arquitetura e Urbanismo da
PUCPR: em experimentações de concepção estrutural por meio de análise computacional do
comportamento mecânico. Tomaram-se como elementos a serem estudados as superfícies
de placas dobradas – contínuas e discretizadas por barras – em dois projetos desenvolvidos
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 2 – Aumento do momento de inércia pela massa distante do centroide no galho da palmeira.
936
Figura 3 – Exemplos de Obras de referência identificadas nas pesquisas: à esquerda Almacén del Río,
de Félix Candela; à direita Guangzhou Opera House, de Zaha Hadid Architects.
937
Figura 04 – Superfícies modeladas para o estudo inicial das placas dobradas contínuas
Nessa etapa, foram apresentados pelo professor, aos estudantes, todos os pontos
necessários para serem obtidos modelos de cálculo estruturais para processamento
computacional: definição e representação da geometria estrutural em CAD; importação do
desenho para o ambiente de cálculo estrutural; discretização das superfícies em malhas de
elementos finitos selecionados de acordo com o comportamento mecânico esperado, com
geometria de seção e propriedades mecânicas dos materiais estruturais atribuídas; aplicação
1
Disponível em: <http://unavidamoderna.tumblr.com/image/96998774771>. Acesso em: abril 2017.
2
Disponível em: <http://www.archdaily.com/115949/guangzhou-opera-house-zaha-hadid-architects>. Acesso
em: abril 2017.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 5 – Superfícies modeladas para o estudo inicial das placas dobradas discretizadas por barras.
938
objeto de estudo nesses projetos. Com essa etapa, os estudantes puderam comparar os
resultados de deslocamentos verticais máximos obtidos por um plano de referência e seus
correspondentes com dobras menos e mais acentuadas, em diversas tipologias de
associações de superfícies, confirmando a intuição: dobras mais acentuadas produzem maior
939
enrijecimento; a Figura 6 mostra um desses testes.
Já familiarizados com a rotina da modelagem computacional das estruturas, em comum
acordo, os estudantes e o professor definiram quais seriam os objetos principais de estudo.
Nessa última etapa, dos projetos, a interação Arquitetura-Estrutura seria a força motriz dos
encaminhamentos: seria imposta à forma inicial do objeto arquitetônico a busca de
enrijecimento por meio da aplicação de dobras, mantendo o sistema estrutural principal
como de “superfície-ativa”, de acordo com o apresentado em Engel (2001). O arquiteto teria
consciência de que as dobras ocorreriam pela necessidade de serem diminuídas as flechas
elásticas e o enrijecimento seria feito à medida que fossem identificados os pontos de maior
deslocamento no modelo computacional – ou seja, a superfície seria moldada de acordo
com os resultados encontrados no processamento de um modelo anterior até a
determinação daquela forma que atendesse ao deslocamento limite imposto. Seria realizado
um processo iterativo de busca de solução equilibrada entre geometria estrutural eficiente e
estética arquitetônica desejada pelo estudante, já que ele teria uma restrita liberdade para
escolher posicionamento e intensidade das dobras.
de vigas rígidas – mesmo aumentando a espessura da placa não haveria convergência já que
o carregamento permanente também seria progressivamente aumentado.
Figura 9 – Resumo dos modelos gerados nas iterações e flechas máximas elásticas encontradas.
941
Por esse processo, a superfície adotada para a solução do problema foi a do último
modelo apresentado na Figura 9 anterior, ressaltada na Figura 10. Não se pode afirmar que
esta superfície adotada é perfeita quanto à redução para a flecha mínima possível, porque
os procedimentos visavam também à busca de um desenho que atendesse ao desejo formal
942
do arquiteto, além das condicionantes do programa arquitetônico proposto.
Figura 13 – Pontos de apoio na base do modelo estrutural, inclusive com apresentação das escoras
que suportam pontos da cobertura, em imagem unifilar e com peças extrudadas.
Figura 15 – Resumo dos modelos gerados nas iterações para a diminuição das flechas na cobertura e
respectivos valores de flechas máximas elásticas encontradas.
945
Para o modelo mostrado na Figura 15, com a menor flecha na cobertura, fez-se o
levantamento da flecha máxima no piso, que resultou em f máx = 2,33 cm, apresentada na
Figura 16. Pela Figura 16, foi possível compreender o impacto da forma volumétrica com
canto em balanço na flexibilidade geral do sistema nessa região. Sendo assim, para a
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 16 – Flecha máxima no piso f máx = 2,33 cm para o modelo com a menor flecha na cobertura.
946
A Figura 17 mostra a nova estrutura do modelo com ligação alterada da parede inclinada
com o piso, comparando-a inclusive com a geometria do modelo que a originou. Com essa
alteração, verificou-se a diminuição da flecha no piso, passando de f máx = 2,33 cm para f
máx = 1,75 cm, conforme se verifica na Figura 18.
Figura 17 – Barras nas superfícies e escoras internas do modelo na proposta inicial de piso (acima) e
com balanço reduzido (abaixo) enfatizando a modificação da geometria da parede posterior.
Figura 18 – Flecha máxima no plano de piso f máx = 1,75 cm para o modelo com primeira
modificação em relação a geometria original do piso.
947
Nesse ponto, resolveu-se diminuir ainda mais o balanço no piso alterando novamente a
associação parede-piso na região com o maior deslocamento vertical identificado na Figura
18 anterior. Com isso, modificou-se novamente a forma conforme pode ser visto na Figura
19; a nova flecha máxima no piso migrou para outra posição e teve valor reduzido para f
máx = 1,51 cm, conforme demonstrado na Figura 20. Com essa segunda modificação no
piso, verificou-se que a flecha máxima na cobertura – indicada na Figura 20 – também
mudou de lugar, aparecendo numa posição próxima à projeção da flecha máxima no piso e
com valor f máx = 2,65 cm.
Figura 19 – Volumetria após primeira redução do balanço (acima) e com balanço ainda mais reduzido
(abaixo) enfatizando a modificação da geometria da parede lateral.
Figura 20 – Flecha máxima no plano de piso f máx = 1,51 cm e na cobertura f máx = 2,65 cm para o
modelo com segunda modificação em relação a geometria original do piso.
948
Resolveu-se, por fim, incrementar as dobras na nova região com flecha máxima na
cobertura, gerando a última composição do trabalho, que apresentou flecha elástica final
reduzida em pelo menos 70% da inicial, apresentada na Figura 21.
5. CONSIDERAÇÕES
Os estudos realizados atenderam às premissas indicadas para os projetos de pesquisa:
demonstrar a eficiência do sistema estrutural de placas dobradas – contínuas e discretizadas
por barras – em simulações computacionais realizadas num ambiente acadêmico de
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
À Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, pelo financiamento das pesquisas
por meio de bolsas aos estudantes, e aos arquitetos e urbanistas, Vicente Deeke
Boguszewski e Monique Mazurkievz Reis de Almeida, realizadores dos projetos quando
alunos do curso na PUCPR.
REFERÊNCIAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6120: Cargas para o Cálculo de Estruturas de
Edificações – Procedimento. Rio de Janeiro, 1980.
______. NBR 6118: Projeto de Estruturas de Concreto. Rio de Janeiro, 2003
BALMOND, C. Informal. Munich: Prestel, 2000.
ENGEL, H. Sistemas de estructuras: sistemas estruturais. Barcelona: Gustavo Gilli, 2001.
REBELLO, Y. C. P. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2001.
REBELLO, Y. C. P; LEITE, M. A. D. F. D’A. Considerações sobre o ensino e aprendizagem de estrutura
nas escolas de arquitetura. Paranoá: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, n.15, 2015. Disponível
em: <http://periodicos.unb.br/index.php/paranoa/article/view/19742>. Acesso em: 22 jun. 2017.
SARAMAGO, R. C. P; LOPES, J. M. A. Ensino de estruturas nas escolas de arquitetura do Brasil:
estrutura curricular e recursos didáticos. Revista Tecnológica, Edição Especial ENTECA 2009, p. 169-
179, 2009.
ELABORAÇÃO DE MODELOS ESTRUTURAIS PARA AUXÍLIO NO ENSINO
DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS
RIBEIRO, Mariana Silveira de Barros (1); OLIVEIRA, Débora Oliveira De. (2); SAPUCAIA, João Vitor
Coutinho (3); SILVA, Ludmila Afonso da. (4)
(1) CUNP, e-mail: msbribeiro@yahoo.com.br; (2) CUNP, e-mail: debora.dno@gmail.com; (3) CUNP, e-
mail: jvc_sapucaia@hotmail.com; (4) CUNP, e-mail: ludmila.silva2409@gmail.com
RESUMO
O aprendizado nas disciplinas relacionadas à área de Engenharia de Estruturas é fundamental para a
formação dos profissionais arquitetos e engenheiros. É observado o alto nível de dificuldade que os
discentes possuem em compreender e visualizar como se comportam os elementos estruturais
quando submetidos a diferentes tipos de esforços, sendo que uma das formas de complementar o
sistema de ensino já utilizado é a adoção de materiais de apoio didático. Esse trabalho foi
desenvolvido a partir dos resultados de um projeto de Iniciação Científica do Centro Universitário
Newton Paiva, com propósito de estudar maneiras de auxiliar os alunos no processo de
aprendizagem utilizando modelos estruturais. Iniciou-se com a busca de referências bibliográficas
sobre projetos já desenvolvidos por docentes e discentes com esse mesmo propósito.
Posteriormente, foram formulados e aplicados questionários aos alunos a fim identificar em quais
conteúdos estes possuem maior nível de dificuldade nas disciplinas, direcionando a elaboração dos
protótipos de modelos de apoio didático.
Palavras-chave: Novas metodologias; Ensino; Modelos estruturais.
ABSTRACT
The professional training of architects and engineers requires knowledge in subjects related to
Structural Engineering. It is noted that students have great difficulty in understanding and visualizing
how the structural elements behave when submitted to different types of forces. Didactic support
materials are used as a complementary tool to the current educational system. This research was
developed based in the results of a project, at “Centro Universitário Newton Paiva”, and aims the
analysis of educational methods, that use structural models, to help students in the learning process.
The research contains a bibliographical review of projects, developed by teachers and students, which
have similar purpose as the one presented in this research. Subsequently, questionnaires were
formulated and applied to the students to identify the class subjects that students present greater
level of difficulty, leading to the development of prototypes of didactic structural models.
1. INTRODUÇÃO
A Engenharia de Estruturas está inserida no curso de Arquitetura e Urbanismo e é uma área
que envolve a compreensão e análise do sistema estrutural e seus elementos. Dessa forma,
torna-se essencial que todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem tenham
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
aptidão para que a disciplina seja transmitida e compreendida de forma clara e eficaz. O
ensino de disciplinas de forma lúdica, principalmente as que implicam dificuldade de
aprendizagem e entendimento, tem se tornado uma necessidade nos cursos de graduação.
O presente artigo é resultante de pesquisa de um grupo de Iniciação Científica
952
desenvolvida no Centro Universitário Newton Paiva no ano de 2016, no intuito de criar
protótipos para o ensino de Engenharia de Estruturas. Emerge uma preocupação quando
constatado que as disciplinas de Engenharia de Estruturas demandam semestralmente
monitorias cedidas pela Newton Paiva, bem como averiguado que na instituição citada os
índices de reprovação em disciplinas relativas à Engenharia de Estruturas variam até 40%.
Embora seu aprendizado seja essencial, o que se observa é uma considerável reprovação
e a dificuldade da retenção do conhecimento nas disciplinas da área. Conforme Pollilo
(1968), os professores devem apresentar o conteúdo de forma atraente para os estudantes,
sem perder a originalidade da disciplina. Para isso, considera-se importante o
desenvolvimento de novos métodos de ensino que atuem como suporte e auxiliem na
retenção de conhecimento e diminuição do índice de reprovação nessas disciplinas.
Oliveira (2006) constatou que as disciplinas ofertadas no curso de arquitetura não
oferecem instrumentos suficientes que garantam que os estudantes obtenham maior
visualização dos conceitos primordiais da Engenharia de Estruturas. Para aguçar a percepção
dos alunos quanto a reações internas e externas nas estruturas, Rodrigues e Hermida (2006)
destacam a importância do uso de modelos no ensino de disciplinas de sistemas estruturais.
O propósito desse método de estudo/ensino usando modelos é que o estudante consiga
interpretar de forma visual e palpável os sistemas estruturais e seus elementos. Alguns
trabalhos podem ser citados como referência, entre eles o modelo MOLA de maquete
estrutural idealizado pelo arquiteto Marcio Sequeira de Oliveira. Também são citados alguns
protótipos desenvolvidos na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (FAU/UFRJ) e na Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE).
O trabalho desenvolvido teve como objetivo criar protótipos para o auxílio no ensino de
Engenharia de Estruturas no Centro Universitário Newton Paiva. Para isso, foi necessário
analisar os protótipos existentes no meio acadêmico, sua funcionalidade e
representatividade para o ensino de Engenharia de Estruturas. Em seguida, foi realizada uma
pesquisa com os alunos do Instituto de Ciências Exatas, com o objetivo de mapear as
dificuldades de aprendizagem. Como finalidade do estudo, pretendeu-se verificar as
possibilidades para um ensino mais eficiente e prático das estruturas.
Observou-se que a falta de visualização do comportamento de uma estrutura é uma
grande deficiência no ensino dessas disciplinas, portanto, o grupo desenvolveu dois
protótipos de modelos estruturais, que foram baseados nas dificuldades relatadas pelos
alunos e que simulam o comportamento de estruturas e peças estruturais. Tendo em vista
os exemplos citados, é possível analisar como a utilização de modelos estruturais pode ser
uma forma eficaz de aperfeiçoar a técnica de ensino nas instituições.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2. METODOLOGIA
Para alcançar os resultados almejados com a pesquisa, inicialmente foi realizada uma
pesquisa teórica de referências do uso de modelos estruturais no ensino. Foram consultados
materiais suplementares, artigos científicos, publicações, monografias e trabalhos de
953 profissionais da área e professores que desenvolveram protótipos ou modelos para auxiliar
no processo de aprendizagem. Esses materiais apresentam tipos de modelos confeccionados
com materiais distintos e que demonstram como uma estrutura e seus elementos se
comportam sob a ação de forças.
Foram analisadas as disciplinas que compõem o currículo do curso de arquitetura e
urbanismo, suas ementas e conteúdo de acordo com o Projeto Pedagógico do Curso
(CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA, 2012). Essa análise fundamentou a elaboração de
questionários que foram aplicados aos estudantes. O universo da amostra foi composto
pelos alunos das disciplinas de Engenharia de Estruturas dos cursos de Engenharias e
Arquitetura do Centro Universitário Newton Paiva, sendo amostra tomada por
acessibilidade. Esta pesquisa foi autorizada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição,
registrada sob CAAE 57503416.4.0000.5097.
Os questionários foram aplicados em meio eletrônico e pessoalmente, proporcionando
ao grupo realizar análises qualitativas (opinião dos alunos) e quantitativas (resultados
computados). A tabulação dos resultados foi realizada de maneira a possibilitar a análise de
conteúdo e posterior escolha das temáticas a serem tratadas, de acordo com as dificuldades
maiores de aprendizado e ensino. Os resultados auxiliaram na posterior identificação de
mudanças após o uso dos objetos confeccionados.
Foram analisados os materiais e infraestrutura disponíveis para a pesquisa e formulados os
projetos de auxílio didático. Após, iniciaram-se os processos de fabricação utilizando os recursos
dos laboratórios do Centro Universitário Newton Paiva, dentre eles o FabLAB Newton.
O grupo iniciou a modelagem e confecção de dois protótipos de modelos estruturais, um
pórtico e uma viga, que procuram facilitar a aprendizagem das disciplinas que foram
consideradas como de difícil compreensão e visualização. A escolha dos modelos foi baseada
nos materiais disponíveis para pesquisa e nos resultados das análises do questionário
aplicado. A fase de testes não foi contemplada neste artigo, pois ainda não foi realizada a
segunda parte da pesquisa.
e continuam a ser consideradas difíceis pelos alunos. Os autores supracitados afirmam que a
grande quantidade de novos conceitos introduzidos em um tempo pequeno de curso, a
dificuldade da comprovação de fenômenos físicos, bem como as limitações de uma aula
expositiva tradicional são fatores que contribuem na dificuldade de aprendizado.
954
Rebello (1992) afirma que os alunos de arquitetura, apesar de gostarem de ciências
exatas, têm dificuldade de aprendizagem das disciplinas de engenharia de estruturas devido
à falta de relação entre o apresentado em sala de aula e o real/prático.
Um bom aprendizado sobre os sistemas estruturais é fundamental para profissionais das
áreas relacionadas à construção civil. Rodrigues (2003) afirma que para conceber, projetar e
até mesmo executar uma obra, é necessário pelo menos o conhecimento mínimo sobre as
estruturas por parte dos profissionais envolvidos. O referido autor ainda argumenta que as
formas como as disciplinas de Engenharia de Estruturas são lecionadas é questionável do
ponto de vista da separação entre o conteúdo teórico e o cálculo matemático.
No entanto, Rebelo (2000) certifica que a separação entre o conteúdo da concepção
estrutural e o ensino do cálculo matemático é possível. Ainda de acordo com o autor, uma
das dificuldades apresentadas pelos alunos é a visualização dos fenômenos físicos –
equilíbrio dos corpos, deslocamentos e elasticidade – do ponto de vista qualitativo. Dessa
forma, é imprescindível que os professores repassem os conceitos teóricos e, ao mesmo
tempo, estimulem os sentidos cognitivos dos estudantes.
O que acontece na maioria das salas de aula, conforme apresenta Oliveira (2006), é um
tratamento dos aspectos quantitativos das disciplinas em detrimento do conhecimento
qualitativo. São necessárias estratégias para modificar o quadro. A simplificação do
aprendizado pode ser resolvida com a visualização dos fenômenos (REBELLO, 2000).
Fonte: <http://www.abcem.org.br/construmetal/2006/arquivos/Maquetes%20Estruturais.pdf>.
O “Projeto Mola” foi um dos trabalhos desenvolvidos neste intuito. Oliveira (2008), em
sua dissertação de mestrado, elaborou e validou um modelo estrutural reduzido em molas
metálicas que já está sendo comercializado e é apontado como inovação no ensino de
Engenharia de Estruturas em todo o mundo. Como mostrado na Figura 1, o modelo
estrutural é formado por peças metálicas, molas em sua grande maioria, que possuem ímãs
em suas extremidades para que ocorra a conexão das peças. Essas representam os
elementos de uma estrutura que, quando montadas, podem simular o comportamento da
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Outro método utilizado pela FAU/UFRJ que permite a observação do comportamento das
vigas é a realidade aumentada. Neste caso, os protótipos são manipulados diante de uma
mini câmera e, através de um software – ARToolKit –, é possível visualizar em uma tela os
esforços sofridos, conforme Rodrigues, Pinto e Rodrigues (2010).
Figura 3 – Modelo estrutural sendo manipulado por aluna e representando as forças atuantes.
No modelo da Figura 3, além da flexão da viga, é possível observar que surgem reações
de apoio na peça quando submetida à aplicação de uma força vertical para baixo. Este
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 4 – Modelo físico no qual é possível observar os fenômenos de deformação dos pilares de
acordo com o tipo de vínculo.
Fonte: <http://www.fau.ufrj.br/apostilas/mse/Colunas.htm>.
Na Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE), os alunos aprendem os tipos de apoio das
vigas de modelos estruturais com ajuda de modelos em espuma, conforme apresenta Duarte
(2010) e, diante disso, podem observar como o tipo de apoio influencia no seu
comportamento. Na Figura 5, observa-se a viga bi-apoiada com balanço usada na UNIVALE.
Na instituição, também são utilizados modelos de treliças, cabos, planos de lajes com
emborrachados, dentre outros.
960
961
Figura 9 – Modelo de viga seccionada sofrendo deformação através da aplicação de uma força.
6. CONSIDERAÇÕES
O ensino e a aprendizagem das disciplinas da Engenharia de Estruturas, como visto
anteriormente, mostram-se mais eficazes quando utilizam modelos estruturais como materiais
de apoio que permitem a melhor visualização do comportamento de uma estrutura,
contribuindo de forma positiva para o entendimento das disciplinas por parte dos estudantes.
A análise das dificuldades dos alunos foi essencial para a criação dos modelos estruturais,
pois assim os mesmos apresentam funcionalidade compatível com necessidades
apresentadas pelos alunos. O projeto finalizou sua primeira parte com a produção de dois
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
protótipos, um que representa a distribuição das forças num pórtico e outro que representa
as deformações que ocorrem numa viga.
Os modelos estruturais se mostraram eficientes na representação do comportamento das
estruturas em relação às forças que nela atuam, podendo servir como material de apoio para os
962
professores da universidade, para atividades de monitoria e até mesmo para uso dos
estudantes. Porém, será necessária a fase de testes antes que sejam distribuídos na instituição.
Apesar dos protótipos se mostrarem benéficos para as representações dos
comportamentos, eles atendem apenas algumas das dificuldades apresentadas pelos
estudantes, existindo ainda outros conteúdos com grau de dificuldade considerável,
apresentados na presente pesquisa, mas que não tiveram a possibilidade de serem
representados através de protótipos. Dessa forma, o presente trabalho pode servir como
fundamento para pesquisas futuras.
Pode-se também, com este trabalho, impulsionar outros projetos de pesquisa na
confecção de protótipos similares aos que foram criados e na produção de diferentes
modelos estruturais que atendam às dificuldades mencionadas.
O projeto, se concluído com sucesso, irá contribuir para o ensino do Centro Universitário
Newton Paiva e, posteriormente, de outras instituições.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao apoio recebido pelo Centro de Pesquisa, Extensão e Inovação
do Centro Universitário Newton Paiva, às coordenações dos cursos de Engenharias e
Arquitetura e Urbanismo e aos funcionários do FabLAB Newton.
REFERÊNCIAS
CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA. Projeto Pedagógico do Curso de Arquitetura e
Urbanismo. Belo Horizonte: 2012.
MAIA, E. V., CALIXTO, J. M. F., SILVA, R. P., PITANGUEIRA, R. L. S.; CALDAS, K.; RACHID, E. M. Sobre
uma metodologia de ensino de engenharia de estruturas através da Web. Anais do Congresso
Nacional de Engenharia Mecânica, Natal, 2000, pp. 56-63. Disponível em:
<http://abcm.org.br/anais/conem/2000/EC9454.pdf>. Acesso em: 03 jul. 2017.
RESUMO
A posição dos apoios de vigas influencia expressivamente os esforços internos atuantes, os
deslocamentos verticais máximos (flechas) e, portanto, as dimensões requeridas para que suas
seções transversais possam, respectivamente, resistir-lhes e limitá-los. Partindo-se da premissa de
que o arquiteto é o agente responsável pela concepção estrutural, necessita-se sensibilizá-lo quanto
ao impacto que essa simples definição de posicionamento de apoios das vigas acarreta. O objetivo
desse trabalho é apresentar a estratégia didática que vem sendo adotada para o ensino do
balanceamento de vãos em vigas, bem como o estudo teórico que a originou. Em síntese, esse
estudo parte da teoria da resistência dos materiais, de onde se obtêm expressões matemáticas que
fornecem reações de apoio e esforços internos solicitantes em vigas com até cinco apoios
articulados, carregamento descensional uniformemente distribuído e produto de rigidez constante
ao longo de seu comprimento. O emprego de conceitos estatísticos e métodos numéricos para
resolução de equações não lineares possibilitou a determinação de relações entre vãos de vigas que
levam à menor dispersão possível dos momentos fletores máximos atuantes. Os resultados obtidos
foram generalizados e condensados num método para concepção de estruturas que tem se
mostrado pedagogicamente apropriado por proporcionar agilidade à atividade de projeto e rigor
estrutural, sem, no entanto, despender recursos matemáticos sofisticados. A estratégia parte da
determinação, em uma primeira aproximação, do posicionamento de apoios em vigas que conduz à
uniformização dos máximos esforços de flexão atuantes e, portanto, às mínimas dimensões
requeridas para as seções transversais das peças.
Palavras-chave: Ensino de estruturas; Concepção estrutural; Balanceamento de vãos em vigas;
Uniformização de momentos fletores.
ABSTRACT
The position of the beam supports expressively influences the internal stresses acting, the maximum
vertical displacements and, therefore, the dimensions required so that their cross sections can,
respectively, resist and limit them. Based on the premise that the architect is the agent responsible for
the structural design, it is necessary to sensitize him to the impact that this simple definition of
positioning of supports of the beams entails. The objective of this work is to present the didactic
strategy that has been adopted for the teaching of the balancing of spans in beams, as well as the
theoretical study that originated it. In summary, this study starts from the material resistance theory,
from which mathematical expressions are obtained that provide support reactions and internal forces
in beams with up to five articulated supports, uniformly distributed descending load and constant
stiffness product along its length. The use of statistical concepts and numerical methods to solve
nonlinear equations allowed the determination of relations between beams spans that lead to the
least possible dispersion of the active maximum bending moments. The obtained results were
generalized and condensed in a method for designing structures that has proved to be pedagogically
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
appropriate for providing agility to the design activity and structural rigor, without, however,
expending sophisticated mathematical resources. The strategy consists in defining, in a first
approximation, the positioning of supports in beams that leads to the equalization of the maximum
bending stresses acting and therefore to the minimum dimensions required for the cross sections of
the parts.
965 Keywords: Structure teaching; Structural design; Balancing of spans in beams; Standardization of
bending moments.
1. INTRODUÇÃO
Será que “precisa” desse pilar? Posso “tirá-lo”? Será que a viga “aguenta”? De “quanto
em quanto” preciso colocar pilar? Esses são questionamentos frequentemente elaborados
pelos estudantes de arquitetura enquanto concebem a estrutura de seus projetos.
Igualmente comum são também as respostas oferecidas pelos professores que os instruem:
“depende do vão”, “depende da altura que se pretende para a viga”, “para o material ‘𝑥’ a
altura da viga será ‘𝑦 %’ do vão”.
Esse estudo propõe-se a ampliar a discussão sobre concepção estrutural para além da
costumeira aplicação de fórmulas ou consultas a gráficos, ábacos ou tabelas. A estratégia
desenvolvida fundamenta-se na interpretação preliminar do comportamento estrutural das
vigas, a partir da qual se obtêm dimensões otimizadas para seus vãos e seções transversais.
2. MÉTODO
O método consiste em determinar o posicionamento dos pontos de inflexão em vigas –
obtidos mediante teoria da resistência dos materiais – com objetivo de se alcançar
simplificações para elaboração de estratégia didática voltada ao ensino da concepção
estrutural.
A estratégia resultante emprega a distância entre pontos de inflexão como variável
fundamental à estimativa da quantidade e posição de apoios ou interrupções que se façam
necessárias ao longo do comprimento da viga por questões de transporte ou pré-fabricação
(dentes gerber, por exemplo). Além dessa estimativa para arranjo de articulações, conhecer
a distância entre pontos de inflexão – que são pontos de momento fletor nulo – implica
delimitar o comprimento de viga biapoiada que lhe é equivalente (aquela que possui mesmo
momento fletor máximo), para a qual se aplicam regras visando ao pré-dimensionamento da
seção transversal.
Como a posição dos pontos de inflexão em vigas depende das proporções entre seus
vãos, dos carregamentos atuantes e do produto de rigidez1 de sua seção transversal,
necessita-se estabelecer premissas para delimitação dessa investigação, quais sejam:
a) Vigas submetidas a carregamento vertical, de cima para baixo, uniformemente
distribuído (q), com produto de rigidez da seção transversal (EI) constante;
1
O produto de rigidez refere-se à multiplicação do módulo de elasticidade do material (E) pelo momento de
inércia (I) da seção transversal associado ao eixo fletido.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
∑ 𝐹𝑦 = 0 ⇒ 𝑉𝐴 + 𝑉𝐵 − 𝑞ℓ = 0 ⇒ 𝑉𝐵 = 𝑞𝑙 − 𝑉𝐴 (1)
(𝑎 + 𝑏)2 𝑐2 (𝑎 + 𝑏)2 − 𝑐 2
∑ 𝑀𝐵 = 0 ⇒ 𝑉𝐴 𝑏 − 𝑞 + 𝑞 = 0 ⇒ 𝑉𝐴 = 𝑞 (2)
2 2 2𝑏
Para a determinação do momento fletor máximo entre apoios, a barra é seccionada numa
seção genérica 𝑆, distante 𝑥 da extremidade, conforme apresentado na Figura 2.
Na seção 𝑆 são determinadas as equações (3) e (4), que descrevem, respectivamente, a
força cortante e o momento fletor no vão central, em função da variável 𝑥:
2
Como os esforços internos solicitantes preponderantes no dimensionamento de vigas são os momentos
fletores, a proporção entre vãos empregada nesse estudo decorre da uniformização de seus valores máximos
ao longo do comprimento da peça. Proporções de vãos decorrentes da uniformização dos máximos
deslocamentos verticais (flechas) ou forças cortantes não foram contemplados nesse estudo.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
𝑄(𝑥) = 𝑉𝐴 − 𝑞𝑥 (3)
𝑥2
𝑀(𝑥) = 𝑉𝐴 (𝑥 − 𝑎) − 𝑞 (4)
967
2
Figura 2 – Corte em seção genérica de viga biarticulada para determinação de esforços internos
solicitantes entre apoios.
Ao se igualar a equação (3) a 𝑧𝑒𝑟𝑜, obtém-se o valor de 𝑥 onde a força cortante é nula e,
portanto, o momento fletor entre apoios é máximo:
𝑉𝐴
𝑄(𝑥) = 𝑉𝐴 − 𝑞𝑥 = 0 ⇒ 𝑥 = (5)
𝑞
Tabela 1 – Expressões para determinação das reações de apoio e momentos fletores máximos
(positivos e negativos) da viga apresentada na Figura 1.
(𝑎 + 𝑏)2 − 𝑐 2
𝑽𝑨 𝑞
Reações 2𝑏
de apoio
𝑽𝑩 𝑞ℓ − 𝑉𝐴
𝑞𝑎2
𝑴𝑨
𝑴𝒎á𝒙 2
negativos 𝑞𝑐 2
𝑴𝑩
2
𝑴𝒎á𝒙 𝑉𝐴
𝑴𝑨𝑩 𝑉𝐴 ( − 𝑎)
positivo 2𝑞
Fonte: Os autores, 2017.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
𝑞𝑎2 𝑞𝑐 2 𝑉𝐴 √2
968 𝑀𝐴 = 𝑀𝐵 = 𝑀𝐴𝐵 ⇒ = = 𝑉𝐴 ( − 𝑎) ⇒ 𝑎 = 𝑐 = 𝑏 (6)
2 2 2𝑞 4
Com o objetivo de se evidenciar as proporções entre os vãos obtidos em (6), esses serão
expressos nas equações (7) e (8) em função do comprimento total da barra (𝑙) e
apresentados na Figura 3:
√2 √2
𝑎 𝑐 𝑏 4 𝑏 4 √2 − 1
= = = = ≅ 0,207 ⇒ 𝑎 = 𝑐 ≅ 0,207ℓ (7)
ℓ ℓ 𝑎+𝑏+𝑐 √2 2
𝑏 + 2𝑏 4
𝑏 𝑏 𝑏
= = = 2 − √2 ≅ 0,586 ⇒ 𝑏 ≅ 0,586ℓ
ℓ 𝑎+𝑏+𝑐 √2 (8)
𝑏 + 2𝑏 4
Além da proporção entre vãos que leva à otimização dos momentos fletores máximos, é
conveniente determinar os pontos em que os momentos fletores são nulos, pois as
distâncias entre esses pontos correspondem aos vãos a partir dos quais se estabelecem
regras para pré-dimensionamento, conforme será apresentado no item 3 desse estudo.
Igualando-se, portanto, a equação (4) a 𝑧𝑒𝑟𝑜 e substituindo-se 𝑉𝐴 pela expressão
apresentada na Tabela 1, com 𝑎, 𝑏 e 𝑐 em função de ℓ – conforme (7) e (8) –, obtêm-se os
valores de 𝑥 em que os momento fletores são nulos:
𝑥2 ℓ ℓ
𝑀(𝑥) = 𝑉𝐴 (𝑥 − 𝑎) − 𝑞 = 0⇒𝑥 = 𝑜𝑢 𝑥 = (9)
2 2 + √2 √2
Figura 3 – Proporção de vãos que resultam na condição de igualdade entre momentos fletores
máximos (positivos e negativos) e posicionamento de pontos de momentos fletores nulos para a viga
apresentada na Figura 1.
ℓ ℓ √2 − 1 3
𝑑𝐴𝑋 ′ = −𝑎 = − ℓ = ( − √2) ℓ (10)
2 + √2 2 + √2 2 2
969
ℓ √2 − 1 𝑙 3
𝑑𝐵𝑋" = 𝑎 + 𝑏 − = ℓ + (2 − √2)ℓ − = ( − √2) ℓ (11)
√2 2 √2 2
3
Nesse caso, como a estrutura é simétrica, 𝑑𝐴𝑋 ′ = 𝑑𝐵𝑋" = (2 − √2) 𝑙 .
Em função do vão central 𝑏, a distância entre o apoio e o ponto em que o momento fletor
é nulo, será:
3 3 𝑏 2 − √2
𝑑𝐴𝑋 ′ = 𝑑𝐵𝑋" = ( − √2) ℓ = ( − √2) =( ) ≅ 0,146𝑏 (12)
2 2 2 − √2 4
No caso de viga com dois apoios articulados e apenas um balanço, basta que se considere
o vão 𝑐 = 0 nas expressões da Tabela 1 e prosseguir com as substituições nas equações
decorrentes. A Figura 4 a seguir reúne os resultados do estudo em viga biarticulada com um
e dois balanços:
Figura 4 – Proporção de vãos que resulta na condição de igualdade entre momentos fletores máximos
(positivos e negativos) e posicionamento de pontos de momentos fletores nulos e máximos em viga
biarticulada com um ou dois balanços e carregamento vertical uniformemente distribuído (q).
970
𝜃𝐵 𝑒 = 𝜃𝐵 𝑑 (13)
3 𝑑2 𝑣 𝑀
Demonstra-se que a equação diferencial da linha elástica (E.D.L.E.) é expressa por = − , onde 𝑥 é a
𝑑𝑥 2 𝐸𝐼
coordenada do ponto ao longo do comprimento da barra de onde se pretende obter o deslocamento vertical 𝑣.
Integrando-se a E.D.L.E, obtém-se 𝜃(𝑥), que corresponde à equação que fornece as rotações de cada ponto em
função de 𝑥. Ao integrá-la novamente, obtém-se 𝑣(𝑥), propriamente dita.
4
As equações diferenciais da linha elástica são comumente expressas em função do momento fletor. No
entanto, alternativamente, podem ser apresentadas em função da força cortante ou do carregamento atuante,
𝑑3𝑣 𝑄 𝑑4𝑣 𝑞
respectivamente, nas formas =− e = .
𝑑𝑥 3 𝐸𝐼 𝑑𝑥 4 𝐸𝐼
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971
𝑞𝑏 3 𝑀𝐴 𝑏 𝑀𝐵 𝑏
𝜃𝐵 𝑒 = + − − (14)
24𝐸𝐼 6𝐸𝐼 3𝐸𝐼
𝑞𝑐 3 𝑀𝑐 𝑐 𝑀𝐵 𝑐
𝜃𝐵 𝑑 = − + + (15)
24𝐸𝐼 6𝐸𝐼 3𝐸𝐼
Substituindo-se as equações (14) e (15) em (13), obtém-se:
𝑞 −2𝑎2 𝑏 + 𝑏 3 + 𝑐 3 − 2𝑐𝑑 2
𝑀𝐵 = ( ) (16)
8 𝑏+𝑐
Encontrado o valor de 𝑀𝐵 , é possível determinar, por meio das equações de equilíbrio
global, as reações de apoio 𝑉𝐴 , 𝑉𝐵𝑒 , 𝑉𝐵𝑑 e 𝑉𝐶 , conforme apresentado na Figura 7.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
972
Tabela 2 – Expressões para determinação das reações de apoio e momentos fletores máximos
(positivos e negativos) da viga apresentada na Figura 5
𝑞𝑎2
𝑴𝑨
2
973 𝑴𝒎á𝒙 𝑞 −2𝑎2 𝑏 + 𝑏 3 + 𝑐 3 − 2𝑐𝑑2
𝑴𝑩 ( )
negativos 8 𝑏+𝑐
𝑞𝑑2
𝑴𝑪
2
𝑞(𝑎 + 𝑏)2 − 2𝑀𝐵
𝑽𝑨
2𝑏
Reações
𝑽𝑩 𝑞ℓ − 𝑉𝐴 − 𝑉𝐶
de apoio
𝑞(𝑐 + 𝑑)2 − 2𝑀𝐵
𝑽𝑪
2𝑐
𝑉𝐴
𝑴𝑨𝑩 𝑉𝐴 ( − 𝑎)
𝑴𝒎á𝒙 2𝑞
positivos 𝑉𝐴 2 + 𝑉𝐵 2 − 2𝑉𝐵 𝑞(𝑎 + 𝑏) − 2𝑉𝐴 (𝑎𝑞 − 𝑉𝐵 )
𝑴𝑩𝑪
𝑞
Fonte: Os autores, 2017.
5
CV igual a zero, por exemplo, indica que não há variação do conjunto de dados em relação à media, ou seja,
que os dados são iguais à média e que não há, portanto, dispersão.
6
Realizou-se o processo iterativo por meio da função Solver do Microsoft Excel.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
que leva o conjunto de momentos fletores máximos ao 𝐶𝑉𝑚í𝑛 . A Figura 8 a seguir apresenta
os resultados do estudo em viga triarticulada com um, dois e sem balanços:
Figura 8 – Proporção de vãos que resulta na mínima dispersão possível (𝐶𝑉𝑚í𝑛 ) para os momentos
fletores máximos (positivos e negativos) de viga com três apoios articulados, carregamento vertical
974 uniformemente distribuído (q) e produto de rigidez (EI) constante. Indicam-se o posicionamento de
pontos de momentos fletores nulos e máximos, além das dispersões dos 𝑀𝑚á𝑥 em relação à
média (𝑀̅ ).
Figura 9 – Proporção de vãos que resulta na mínima dispersão possível (𝐶𝑉𝑚í𝑛 ) para os momentos
fletores máximos (positivos e negativos) de viga com quatro apoios articulados, carregamento
vertical uniformemente distribuído (q) e produto de rigidez (EI) constante. Indicam-se o
posicionamento de pontos de momentos fletores nulos e máximos, além das dispersões dos 𝑀𝑚á𝑥
em relação à média (𝑀 ̅ ).
975
Figura 10 – Proporção de vãos que resulta na mínima dispersão possível (𝐶𝑉𝑚í𝑛 ) para os momentos
fletores máximos (positivos e negativos) de viga com cinco apoios articulados, carregamento vertical
uniformemente distribuído (q) e produto de rigidez (EI) constante. Indicam-se o posicionamento de
pontos de momentos fletores nulos e máximos, além das dispersões dos 𝑀𝑚á𝑥 em relação à
média (𝑀̅ ).
976
3. RESULTADOS
A Tabela 3 reúne as proporções entre vãos que resultam na mínima dispersão possível
para os momentos fletores máximos das vigas estudadas. Além dessas proporções,
apresentam-se, para cada vão, as distâncias entre pontos de momento fletor nulo (𝐿0 ),
necessárias ao pré-dimensionamento das peças7.
7
Determinar a distância entre esses pontos em que o momento fletor é nulo significa conhecer o comprimento
da viga biapoiada equivalente (aquela que possui mesmo momento fletor máximo), a partir da qual se
estabelecem as regras para pré-dimensionamento. No caso de balanço, conforme demonstrado por Margarido
(2001, p.251), 𝐿0 vale o dobro de sua extensão.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Tabela 3 – Proporção entre vãos que resulta na mínima dispersão possível (𝐶𝑉𝑚í𝑛 ) para os
momentos fletores máximos (positivos e negativos) de vigas com até cinco apoios articulados,
carregamento vertical uniformemente distribuído (q) e produto de rigidez (EI) constante. A tabela
indica também a proporção entre as distâncias entre pontos de momento fletor nulo (𝐿0 ) de cada
vão em função do comprimento total da barra ( ℓ ).
977
vãos → a b c d e f 𝑪𝑽𝒎í𝒏
s/ balanços ℓ - - - - - -
2 apoios
8
Conforme apresentado em 2.2, 2.3 e 2.4, não há, nesse caso, arranjo que satisfaça simultaneamente a
condição de igualdade pretendida para os momentos fletores máximos. No entanto, é possível encontrar a
proporção entre vãos que conduza à mínima dispersão possível entre momentos fletores máximos.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 11 – Aplicação da estratégia didática para concepção estrutural de viga com quatro apoios
articulados e balanço numa extremidade (carregamento vertical uniformemente distribuído e
produto de rigidez constante).
978
9
A experiência tem mostrado que os estudantes, em geral, não têm dificuldade em representar a deformação
da viga. É possível, no entanto, caso se disponha de uma barra de borracha flexível, apresentar o experimento
em sala de aula.
10
O valor da constante 𝑑𝑀𝑜 será discutido a seguir, no item 3.2.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
fletor nulo (𝐿0 ) em cada trecho da viga, conforme apresentado na Figura 11d, e expressos
nas equações a seguir:
𝐿0 𝑎 = 2𝑎 (25)
979
𝐿0 𝑏 = (1 − 0,15 − 0,15)𝑏 = 0,70𝑏 (26)
𝑎+𝑏+𝑐+𝑑 = ℓ (30)
0,70 0,70
𝑏+𝑏+𝑏+ 𝑏=ℓ (31)
2 0,85
340 ℓ
𝑏= = 0,315 ℓ (32)
1079
0,70 0,70
𝑎= 𝑏= 0,315 ℓ = 0,110 ℓ (33)
2 2
𝑐 = 𝑏 = 0,315 ℓ (34)
0,70 0,70
𝑑= 𝑏= 0,315 ℓ = 0,260 ℓ (35)
0,85 0,85
A tabela a seguir compara os resultados entre as posições dos apoios da viga obtidas
para a condição simplificada (𝑑𝑀𝑜 constante) e para a condição real11 de posicionamento
ótimo (𝑑𝑀𝑜 variável):
Tabela 4 – Comparação entre resultados obtidos para condição real de posicionamento ótimo
980 (𝑑𝑀𝑜 𝑣𝑎𝑟𝑖á𝑣𝑒𝑙) e para condição simplificada (𝑑𝑀𝑜 𝑐𝑡𝑒 = 15%) em viga com quatro apoios
articulados, carregamento vertical uniformemente distribuído e produto de rigidez constante. A
tabela indica a proporção entre vãos e as distâncias entre pontos de momento fletor nulo (𝐿0 ) em
função do comprimento total da barra ( ℓ ).
vãos → a b c d
Condição real
Proporção dos
(𝑑𝑀𝑜 variável)
Condição simplificada (CS) 0,110 ℓ 0,315 ℓ 0,315 ℓ 0,260 ℓ
(𝑑𝑀𝑜 cte = 15%) 𝐿0 = 0,221ℓ 𝐿0 = 0,221ℓ 𝐿0 = 0,221ℓ 𝐿0 = 0,221ℓ
vãos
Variação CR x CS
De acordo com a Tabela 4, a posição dos apoios obtida pelo método simplificado
(𝑑𝑀𝑜 𝑐𝑡𝑒 = 15%) varia de −3,66% a +2,70% em relação ao posicionamento ótimo (com
𝑑𝑀𝑜 𝑣𝑎𝑟𝑖á𝑣𝑒𝑙), ou seja, apresenta variações inferiores a 5%. Para o caso de 𝐿0 , as
dispersões são maiores (entre −3,66% e +31,53%): nesse caso, o método simplificado
fornece valores de 𝐿0 subestimado no balanço e superestimados nos demais trechos.
Como as regras para pré-dimensionamento das seções transversais aplicam-se ao maior
comprimento de 𝐿0 obtido entre os trechos da viga, as dimensões da seção resultam,
nesse caso, subestimadas12 em 3,66%.
A Tabela 5 a seguir apresenta numericamente esse exemplo supondo-se a viga com
comprimento de 30m. A questão que surge é se essas variações são aceitáveis e ainda, se
𝑑𝑀𝑜 𝑐𝑡𝑒 = 15% é a melhor escolha para definição desse método simplificado quando
aplicado a outras situações em que se variem a quantidade de apoios articulados e a
condição de extremidade das vigas (com ou sem balanços). O item 3.2 a seguir, discute essa
escolha para 𝑑𝑀𝑜 .
11
A “condição real de posicionamento ótimo” refere-se ao caso desenvolvido em 2.3, cujos resultados
apresentam-se reunidos na Tabela 3.
12
Nesse caso, o maior 𝐿0 obtido para a condição real (𝑑𝑀𝑜 𝑣𝑎𝑟𝑖á𝑣𝑒𝑙) refere-se ao trecho em balanço (𝐿0 =
0,229ℓ). Na condição simplificada (𝑑𝑀𝑜 𝑐𝑡𝑒 = 15%), o 𝐿0 obtido vale 0,221ℓ, constante para todos os trechos,
ou seja, 3,66% menor que o real.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Tabela 5 – Comparação entre resultados numéricos obtidos para condição real de posicionamento
ótimo (𝑑𝑀𝑜 𝑣𝑎𝑟𝑖á𝑣𝑒𝑙) e para condição simplificada (𝑑𝑀𝑜 𝑐𝑡𝑒 = 15%) da viga apresentada na Figura
11, supondo-a com 30 𝑚 de comprimento
a b c d 𝑳𝟎 h viga13
Condição real 0,114 ℓ 0,314 ℓ 0,307 ℓ 0,114 ℓ 0,229 ℓ
981 69 cm
(CR) 3,43m 9,41m 9,21m 7,96m 6,87m
Condição simplificada 0,110 ℓ 0,315ℓ 0,315ℓ 0,260 ℓ 0,221 ℓ
67 cm
(CS) 3,31m 9,45m 9,45m 7,79m 6,62m
CS – CR − 12 𝑐𝑚 +4 𝑐𝑚 +24 𝑐𝑚 − 17 𝑐𝑚 − 25 𝑐𝑚 − 2 𝑐𝑚
Fonte: Os autores, 2017.
3.2 Constante numérica para determinação do ponto de inflexão (𝒅𝑴𝒐 𝒄𝒕𝒆 = 𝟏𝟓%)
O estudo desenvolvido em 3.1, cujos resultados apresentam-se na Tabela 4, foi ampliado
para todas as situações discutidas de 2.1 a 2.4: vigas com até cinco apoios articulados,
carregamento vertical uniformemente distribuído, produto de rigidez constante, providas ou
não de balanços. Além dessas variações quanto ao arranjo e quantidade de apoios, variou-se
também o valor de 𝑑𝑀𝑜 entre 10 e 25%14. Os resultados apresentam-se reunidos no Gráfico 1 e
no Gráfico 2, que indicam, respectivamente, as distribuições normais das variações percentuais
das posições dos apoios da viga e as distâncias entre pontos de momento fletor nulo (𝑳𝟎 )
quando se comparam as condições real (𝑑𝑀𝑜 𝑣𝑎𝑟𝑖á𝑣𝑒𝑙) e simplificada (𝑑𝑀𝑜 constante).
Conforme apresentado no Gráfico 1, valores de 𝑑𝑀𝑜 entre 12 e 15% conduzem a
variações inferiores a 5% no posicionamento dos apoios quando se comparam as condições
real e simplificada. O Gráfico 2 mostra que valores de 𝑑𝑀𝑜 próximos a 20% levam às
menores dispersões de 𝐿0 quando se comparam as duas condições. No entanto, esses
valores de 𝑑𝑀𝑜 quando superiores a 13% conduzem a valores de 𝐿0 subestimados.
Caso se admita subestimar valores de 𝐿0 em até 5% (ou seja, que as dimensões da seção
transversal possam resultar subestimadas15 em até 5%), viabiliza-se a escolha de 𝑑𝑀𝑜
constante igual a 15% do vão, a qual garante inclusive a variação máxima de 5% em relação
ao posicionamento ótimo dos apoios. A
𝐿 𝐿 𝐿
13
Emprega-se, simplificadamente, os valores de 0 , 0 e 0 para determinação das alturas das vigas em
10 12 15
concreto armado, madeira e aço, respectivamente. No caso exemplificado, supôs-se a viga de concreto
armado.
14
Por não serem representativos, não se incluíram nos gráficos valores de 𝑑𝑀𝑜 > 20%.
15
Com exceção do arranjo em que se dispõem 2 apoios com 1 balanço, os balanços dos demais casos
analisados nesse estudo conduzem a 𝐿0 subestimados em até 5% ao se comparar a condição simplificada (C.S.)
com 𝑑𝑀𝑜 constante = 15% e a condição real (C.R.), em que 𝑑𝑀𝑜 é variável.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Gráfico 1 – Distribuições normais das diferenças percentuais entre as posições dos apoios da viga
obtidas para a condição simplificada (𝑑𝑀𝑜 constante) e para a condição real de posicionamento
ótimo (𝑑𝑀𝑜 variável). Destaque para as curvas 𝑑𝑀𝑜 = 12%,13%,14% e 15%, situações em que a
982 variação entre condição simplificada e condição real de posicionamento ótimo é inferior ±5%.
Gráfico 2 – Distribuições normais das diferenças percentuais entre as distâncias entre pontos de
momento fletor nulo (𝑳𝟎 ) de cada trecho da viga obtidas para a condição simplificada (𝑑𝑀𝑜
constante) e para a condição real de posicionamento ótimo (𝑑𝑀𝑜 variável). Destaque para curva
𝑑𝑀𝑜 = 20%, situação em que ocorrem as mínimas variações entre condição simplificada e condição
real de posicionamento ótimo.
Figura 12 – Generalização dos resultados: simplificações (𝑑𝑀𝑜 constante = 15%) para elaboração de
estratégia didática voltada ao ensino da concepção estrutural (“método das inflexões”). Ao se
igualar as distâncias entre pontos de momento fletor nulo (𝐿0 ) de cada trecho da viga, obtém-se a
posição de apoios que conduz à uniformização dos máximos momentos fletores atuantes e,
portanto, às mínimas dimensões requeridas para as seções transversais das peças.
983
4. CONSIDERAÇÕES
A estratégia desenvolvida parte da premissa de se possibilitar ao projetista agilidade e
autonomia no processo de concepção estrutural sem necessidade de consultas a tabelas,
ábacos ou gráficos, nem de recursos matemáticos sofisticados, mas, principalmente, de
estimular a interpretação do comportamento estrutural das peças, além de oferecer
resultados suficientemente precisos para o dimensionamento de vãos e seções transversais
requerido nessa fase inicial de projeto. Essa abordagem tem sido testada e aprimorada ao
longo dos últimos quatro anos em disciplinas regulares dos cursos de arquitetura e
urbanismo da AEC e, no caso da FIAMFAAM, também em orientações de cerca de 450
trabalhos finais de graduação (TFG’s). Ainda que não se tenha empregado parâmetros
objetivos para avaliação da aprendizagem dos estudantes, tem sido notória, na percepção
docente, a autonomia adquirida pelos alunos no trato da concepção estrutural que a
estratégia encerra.
AGRADECIMENTOS
À Escola da Cidade – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e ao Centro Universitário
FIAMFAAM.
REFERÊNCIAS
MARGARIDO, A. F. Fundamentos de estruturas: um programa para arquitetos e engenheiros que se
iniciam no estudo das estruturas. São Paulo: Zigurate, 2001.
MARTHA, L. F. Análise de estruturas: conceitos e métodos básicos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
PROPOSTA DE MATERIAL DIDÁTICO PARA ENSINO DE LIGAÇÕES FLEXÍVEIS EM
ESTRUTURAS COM O USO DO BAMBU
ROSALINO, Frederico (1); NASCIMENTO, Kaline Castro (2); MESQUITA, Nadyne (3); LOPES, Patricia
(4); REIS, Sarah dos Santos (5); GONÇALVES, Vinícius (6); MIOLA, Luiz Eduardo (7)
RESUMO
O presente trabalho apresenta o desenvolvimento de uma aula prática com a utilização de material
didático, parte da disciplina de sistemas estruturais em madeira, na Universidade Católica de Brasília,
no âmbito da graduação em Arquitetura e Urbanismo. O ensino de estruturas na arquitetura,
principalmente de estruturas em madeira, ainda é pouco explorado nas universidades, sendo que um
dos principais desafios neste curso é a difícil compreensão dos sistemas estruturais por parte dos
alunos em um ambiente predominantemente teórico, deste modo, elementos que os motivem a
resolver situações práticas de concepção estrutural devem ser adotados nos cursos de arquitetura.
Na prática proposta neste trabalho, os estudantes utilizam colmos de bambu para confeccionar
estruturas com ligações flexíveis de segunda ordem. Com esta atividade, os estudantes conseguem
perceber na prática os sistemas de ligações em uma estrutura, a distribuição das cargas, o
comportamento das peças quando submetidas a esforços axiais. De forma lúdica e divertida, os
estudantes são capazes de aplicar na prática os conceitos aprendidos em sala de aula. Em cada
prática realizada, é possível observar a capacidade dos alunos de entender a estrutura que está
sendo construída, com isso, os conceitos teóricos são compreendidos com maior facilidade,
possibilitando a aplicação direta nos projetos estruturais.
Palavras-chave: Bambu; Treliças planas; Sistemas estruturais.
ABSTRACT
The present work shows the development of a practical class with the use of didactic material, part of
the discipline of structural systems in wood, in the Catholic University of Brasilia, within the scope of
the graduation in Architecture and Urbanism. The teaching of structures in architecture, especially of
wooden structures, is still little explored in universities, and one of the main challenges in this course
is the difficult understanding of the structural systems by students in a predominantly theoretical
environment, thus elements that motivate them to solve practical situations of structural design must
be adopted in the courses of architecture. In the practice proposed in this work, students use bamboo
stalks to make structures with second order flexible connections. With this activity, students can
perceive in practice the Connections systems in a structure, the distribution of loads, and the
behavior of the pieces when subjected to axial stresses. In a playful and fun way, students are able to
apply in practice the concepts learned in the classroom. In each practice, it is possible to observe the
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
students' ability to understand the structure being constructed, with this, the theoretical concepts are
understood with greater ease, allowing the direct application in the structural projects.
Keywords: Bamboo; Plan truss; Structural system.
985
1. INTRODUÇÃO
Conceber a estrutura para uma edificação é função do arquiteto, para tanto, o ensino dos
sistemas estruturais, caminhamento de cargas, ligações, momento de inércia, deformações
máximas, métodos de pré-dimensionamento, processo construtivo, propriedade dos
materiais, custo de execução e manutenção, entre outros conceitos, devem ser trabalhados
de forma que os alunos possam compreendê-los na teoria e na prática.
O desafio é como melhorar este entendimento por parte dos estudantes, como associar a
concepção estrutural ao desenvolvimento do projeto arquitetônico e, principalmente, estimular
o interesse por estas disciplinas – para tanto, adotar práticas complementares onde o aluno
pode aplicar na prática os conhecimentos adquiridos, ou até, despertar para esta necessidade.
Propostas para a melhoria do ensino de estruturas vêm sendo discutidas ha alguns anos,
podemos citar como um marco desta discurssão no Brasil, o primeiro encontro de
professores de estrutura para escolas de arquitetura, realizado em 1974 na Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da USP, no qual, diversos trabalhos realcionados ao tema foram
publicados nos Anais, contudo, observa-se que pouco tem avançado desde então.
Saramago considera a importância nas escolas de arquitetura do uso de modelos físicos
como recursos para o aprendizado intuitivo do funcionamento das Estruturas e que existem
diversas ferramentas para esta finalidade, ressaltando ainda a necessidade de exercícios de
experimentação construtiva, considerados como ferramentas mais apropriadas à
compreensão do Comportamento Estrutural (SARAMAGO, 2011).
Isto reforça de forma significativa a necessidade de se desenvolver métodos práticos
para o entendimento dos sistemas estruturais. No caso do presente estudo, o uso de
modelos estruturais em pequena escala, utilizando varas de bambu como elemento principal
para a simulação de sistemas compostos por ligações flexíveis, apresenta-se como uma
oportunidade de executar, perceber o funcionamento e corrigir os erros, despertando a real
necessidade de entender os sistemas estruturais para o desenvolvimento de projetos
arquitetônicos mais integrados com a engenharia.
2. MÉTODOS
Foi criado em 2016, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica
de Brasília, um grupo de estudo, denominado Grupo de pesquisa em Tecnologia e
Sustentabilidade. Este grupo tem como a finalidade o desenvolvimento de pesquisas ligadas
a esta área e, por consequência, estimular os estudantes à produção científica, sendo que
uma das pesquisas em desenvolvimento pelo grupo é o uso de modelos para o ensino de
estruturas nos cursos de arquitetura.
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No âmbito do grupo, foi proposta uma forma prática para fortalecer o entendimento dos
sistemas de ligações em estruturas de madeira, predominantemente ligações flexíveis – para
tanto, foi desenvolvida uma oficina piloto de estruturas em pequena escala, na qual utiliza-
se o bambu para a produção de estruturas compostos por uniões flexíveis.
986
As ligações flexíveis, predominante nas estruturas de madeira, necessitam
necessariamente de triangulações ou contraventamentos que possibilitam que uma
estrutura se torne isostática, conforme observamos nas Figuras de 1 a 5.
Figura 2 – Sistema composto de pilar e viga sem travamento: neste caso, a força aplicada fará com
que a estrutura se desloque horizontalmente.
Figura 3 – Sistema composto de pilar e viga, com travamento em mão francesa, auxiliando no
travamento da estrutura e na redução do vão da viga.
987
2.1 O material
A escolha do bambu para ser utilizado nas práticas se dá pelo fato de ser um material
resistente e flexível ao mesmo tempo, sua resistência à tração pode chegar a 2,34 vezes à do
aço CA 50 se considerarmos o peso específico dos materiais comparados (GHAVAMI, 2002 –
Figura 6). Trata-se de um material leve e de fácil manuseio, sem mencionar suas inúmeras
características que o destacam como um material de construção sustentável.
bambu cultivado no Brasil a mais de 100 anos e pode ser encontrado em diversas regiões do
Brasil, com baixíssimo custo de aquisição.
988
É possível utilizar qualquer espécie de bambu, contudo, o workshop deve ser adaptado ao
diâmetro do bambu selecionado para que o aprendizado seja mais adequado ao material.
Para a oficina, é preferível uso de bambus de pequenos diâmetros, pois, além de facilitar a
montagem de estruturas, o seu transporte e armazenamento podem ser um fator que
dificulte o processo.
As espécies mais recomendadas para esta prática, que apresentam pequenos diâmetros,
e que são encontrados em diversas regiões do Brasil são o Phyllostashys áurea (bambu
caninha ou jardim) e o Bambuza tuldóides (bambu taquara).
As ligações são feitas com tiras de câmara de ar (Figura 8), medindo aproximadamente
2,5 cm de largura e 40 cm de comprimento. A escolha deste material para realizar as
ligações é devido à facilidade em unir as peças de bambu, um material elástico e aderente,
portanto, não permite que as peças escorreguem entre si, aplicando a tensão necessária
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
para a união. Outro fator é o custo zero para a aquisição deste material, facilmente
adquirido em borracharias sem custo, contudo, é um material para uso temporário, pois
com o tempo as tiras ressecam e se partem.
Para a simulação dos contraventamentos com cabos de aço, foi utilizada cordinha de
989
algodão, podendo ser qualquer tipo de cordinha, sisal, nylon, entre outras (Figura 9). Com
este elemento, foi possível simular o comportamento de cabos de aço ou barras com
esforços apenas de tração.
A fim de simular a ligação de apoio do modelo, foi utilizada uma pequena ripa de bambu
cravada no solo com o uso de um martelo, permitindo, assim, que a extremidade da vara de
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2.2 A oficina
990 O objetivo era realizar uma oficina onde os estudantes inicialmente percebem as
características do material, principalmente a flexibilidade de resistência, aprendem as
formas de ligação entre os bambus, sempre ressaltando a característica principal destas
ligações, como flexíveis de segunda ordem, ou seja, o contraventamento da estrutura era
algo imprescindível para a estabilidade de qualquer solução adotada.
A oficina inicia com uma primeira explanação sobre os sistemas estruturais que seriam
possíveis de serem executados utilizando as peças de bambu disponibilizadas, os tipos de
ligações e o objetivo da oficina.
Posteriormente os orientadores e monitores executam uma primeira estrutura
apresentando todos os conceitos da isostática e hipoestática, das ligações e
contraventamentos no plano vertical e horizontal, orientando como realizar a união entre as
peças e demais elementos, de modo a garantir um perfeito entendimento do sistema.
Após o entendimento de como realizar as ligações entre os bambus e como funcionam os
sistemas estruturais com ligações flexíveis, são divididos grupos de, no máximo, 6
estudantes de forma aleatória. Para cada grupo, foram fornecidos os seguintes materiais:
12 peças de bambu de 95 cm;
6 peças de bambu de 1,34 cm;
Tiras de câmaras de ar;
Estacas de ripas para fixação do apoio; e
Cordinha de algodão.
Cada grupo tinha 20 minutos para pensar e projetar, em conjunto, uma estrutura
utilizando todas as peças, com o mesmo sistema de ligação ensinado no primeiro modelo – o
objetivo é deixar que os estudantes criem sistemas estruturais, percebam os esforços
envolvidos e estabilizem a estrutura com barras de bambu ou com as cordas de algodão,
simulando um contraventamento com barras e cabos de aço. As regras gerais para a
construção das estruturas são:
A estrutura deverá ser estável;
Deverá funcionar como um abrigo;
Todas as barras devem ser utilizadas.
Na sequência, os grupos partem para a execução das estruturas projetadas, tendo 60
minutos para cumprir a tarefa. Durante o período da execução das estruturas, não é dada, por
parte do orientador, nenhuma orientação, tudo é realizado intuitivamente deixando os
estudantes livres para acertar ou errar, possibilitando assim, o entendimento da problemática.
Ao final do tempo estipulado, com todos os grupos juntos, percorremos cada estrutura
elaborada e analisamos uma por uma, observando e discutindo com os estudantes se os
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objetivos foram atendidos, tais como: A estrutura está estável? Se não, o que deveríamos
fazer para que fique estável? Foram utilizadas todas as barras? Funciona como abrigo?
3. RESULTADOS
991 A oficina piloto foi realizada em 11 de abril de 2007 no campus da Universidade Católica
de Brasília com a turma da disciplina de Sistemas Estruturais em Madeira. Nesta disciplina,
uma das principais questões estudadas é a condição de vínculo das estruturas de madeira,
em sua maioria, vínculos flexíveis de segunda ordem – deste modo, a oficina representa a
lógica dos sistemas estruturais estudados na disciplina.
A oficina iniciou com a montagem de uma estrutura onde os alunos podiam observar as
ligações (Figura 12), entender o sistema de contraventamento vertical e horizontal com
barras e cordas (Figura 13). O objetivo era a compreensão de como uma estrutura
hipoestática com ligações flexíveis se torna estável com o uso de contraventamentos.
Após o entendimento dos processos com o modelo construído pelo orientador, foram
formados 5 grupos que inicialmente tiveram 20 minutos para elaborar um projeto da
estrutura que seria construída (Figuras 14 a 18). Esta etapa é essencial para o início da
montagem, no entanto, alguns grupos não deram importância a esta fase e, com isso, foram
992
os que desenvolveram estruturas com nenhuma ou pouca estabilidade.
No decorrer da oficina, foi possível observar que não existe um nivelamento entre os
estudantes acerca da compreensão dos sistemas estruturais, deste modo, enquanto alguns
grupos desenvolveram estruturas que atendiam a todas as condições de estabilidade, outros
não conseguiram desenvolver estruturas que atendessem o este critério.
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993
4. CONSIDERAÇÕES
Foi possível observar, ao final da oficina piloto, o entendimento, por parte dos
estudantes, dos sistemas estruturais com ligações flexíveis, uma prática lúdica e divertida
onde todos puderam experimentar, errar e aprender com os erros. Quando se aprende
apenas na teoria, o conhecimento pode não ser absorvido e fixado, porém, quando
associamos à prática, certamente a compreensão é muito maior.
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O uso do bambu nesta prática foi determinante para o seu sucesso, possibilitando, além
da facilidade de manuseio pela sua resistência, flexibilidade e leveza, o custo zero para a
produção das peças e elementos de ligação – no caso, tiras de câmara de ar. Deste modo, a
oficina pode ser realizada e aprimorada por outras universidades sem a necessidade de
995
recursos financeiros, mas tão somente a disponibilidade de ação dos docentes e estudantes.
A oficina nos surpreendeu com a quantidade de formas desenvolvidas pelos grupos,
destacando a ilimitada possibilidade de estruturas que podem ser desenvolvidas nesta
prática utilizando o bambu, tiras de câmara de ar e corda (simulando cabos de aço).
Algumas dificuldades foram encontradas durante todo o processo, a ligação de apoio dos
modelos (Figuras 10 e 11) deve ser necessariamente realizada em uma superfície que seja
possível cravar as ripas do bambu a fim de travar o apoio, simulando um apoio de segunda
ordem, portanto, a oficina deve ser realizada preferencialmente sob um gramado ou
qualquer outra superfície que propicie este tipo de situação.
Outro ponto observado como uma dificuldade é a obtenção do material, que, embora seja
disponível na maioria das regiões brasileiras, sua colheita não é simples, visto que geralmente
as matas não são bem manejadas, muitos galhos estão secos, restos de bambu cortados a
poucos centímetros do chão podem ser afiados e a falta de atenção pode causar um acidente.
É importante que os alunos aprendam bem a forma de realizar as amarras antes de iniciar
a construção de sua estrutura, caso contrário, uma série de nós aleatórios será utilizada, o
que irá dificultar a desmontagem, obrigando muitas vezes que as tiras utilizadas nas ligações
tenham que ser cortadas e inutilizadas.
A proposta do grupo é que a oficina seja realizada experimentalmente mais algumas vezes
a fim de avaliar e sistematizar o processo e incorporar nas disciplinas de sistemas estruturais.
AGRADECIMENTOS
Agradecimento especial aos integrantes do Grupo de Pesquisa em Tecnologias
Sustentáveis da Universidade Católica de Brasília, ao alunos da disciplina de Sistemas
Estruturais em Madeira e a todos que acreditaram que esta oficina seria realmente
produtiva e atingiria os objetivos propostos.
Ao Mestre Marcelo Rio Branco, grande inspirador e difusor do uso do bambu.
REFERÊNCIAS
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escolas de arquitetura. Paranoá: cadernos de Arquitetura e Urbanismo, n. 15, 2015. Disponível em:
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SARAMAGO, R. C. P. Ensino de estruturas nas escolas de Arquitetura do Brasil. 2011. Dissertação
(Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2011.
ESBOÇO DE UMA GENEALOGIA DA REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS
ESTRUTURAS
SANTOS, Roberto Eustáaquio (1); KAPP, Silke (2); SILVA, Athos Souza e (3)
RESUMO
Apesar da disponibilidade de softwares de modelagem paramétrica, prevalecem no ensino de
estruturas representações gráficas simplificadas, reduzidas a linhas, pontos e triângulos, tal como na
engenharia do século passado. Elas indicam relações entre elementos, mas abstraem, paradoxalmente,
a materialidade das construções que o estudo das estruturas deveria assegurar. O presente texto é
uma tentativa de reconstituir a genealogia desse tipo de representação. Partimos da geometria
operativa dos construtores pré-renascentistas, em que desenhos eram instrumentos de canteiro.
Tomamos por hipótese uma transformação subsequente em três fases, por princípio sucessivas, mas
por vezes sincrônicas em diferentes lugares e campos do conhecimento. A primeira é exemplificada por
desenhos de Brunelleschi e Leonardo da Vinci, que sugerem uma representação que antecipa o
processo de construção em si. Desenham-se ações futuras. A segunda fase caracteriza a tradição dos
tratados de arquitetura pós-renascentistas e se estende até fins do século XVII. A representação se
concentra na imagem da estabilidade. Desenha-se o produto que a imaginação prevê e que parece
estável aos olhos. A terceira fase é inaugurada pelas ilustrações de Galileu e entra no campo da
construção lentamente, até se aprimorar no século XIX. Nesse caso, os desenhos de concepção
estrutural deixam de representar uma ação sobre a matéria ou uma imagem do produto material e se
tornam instrumentos de cálculo.
Palavras-chave: Representação gráfica; Visualização; Geometria.
ABSTRACT
Despite the available software for parametric modelling, structure teaching still uses mostly simple
graphical representations, restricted to lines, points and triangles, as in past century engineering. They
indicate relations among elements, but paradoxically abstract from the materiality of constructions,
which the study of structures should ensure. This paper is an attempt to reconstitute the genealogy of
such representations. We begin with the operative geometry of pre-Renaissance master builders, who
used drawings as construction tools. Our hypothesis is a subsequent transformation in three stages,
successive in principle, but sometimes used synchronically in different places and fields of knowledge.
Sketches from Brunelleschi and Leonardo da Vinci exemplify the first stage, suggesting a representation
that anticipates the very construction process. They are drawings of future actions. The second stage
characterizes the tradition of post-Renaissance architecture treatises, until the late seventeenth century.
Representations aim at an image of stability. They show a product anticipated by imagination that
seems stable to the eyes. The third stage begins with Galileo's drawings, only slowly migrating into the
construction field, until being improved in the nineteenth century. In this case, structural drawings cease
to represent an action upon matter or an image of a material product, and become calculation tools.
1. INTRODUÇÃO
Hoje estão disponíveis no mercado diversos programas de modelagem paramétrica, a
partir dos quais é possível fazer roteiros, animações, simulações e uma ampla gama de
efeitos visuais aplicados a videogames, desenhos animados, filmes e também a projetos de
997 arquitetura e estrutura (Quadro 1). Alguns desses softwares, como o SAP 2000, ultrapassam
a visualização e permitem a chamada modelagem dinâmica. Eles operam com matemática
discreta, dando margem à criação de formas complexas, amplamente empregadas na
arquitetura contemporânea de caráter monumental.
para concreto armado e estruturas mistas de concreto e aço). Todos eles possibilitam
visualização tridimensional dos elementos de análise estrutural, sendo que o Revit, o Tekla
Structures e o CSI SAP 2000 permitem também a visualização realística da estrutura e das
seções de seus componentes. A Figura 1 ilustra os gráficos de análise dos perfis, da cortante,
998 do momento fletor e dos deslocamentos da estrutura deste último programa.
Fonte: Adaptado de gráficos gerados por Marina Ferreira Borges no Programa CSI SAP2000.
Figura 3 – Representações gráficas de estruturas utilizadas no ensino de arquitetura nos anos 2010.
Fonte: Material didático das disciplinas Análise Estrutural I (2016) e Resistência dos Materiais II (2017) do
curso de Arquitetura e Urbanismo (noturno) da Escola de Arquitetura da UFMG.
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2. LINHA DO TEMPO
Como referência para a genealogia indicada, utilizamos uma história do conhecimento
relacionado à engenharia de estruturas do engenheiro ucraniano-estadunidense, Stephen
Prokofievich Timoshenko (1878-1972). Publicado em 1953 e intitulado History of the
1000 Strength of Materials, o livro sistematiza aquele conhecimento em três grandes áreas: a
teoria da resistência dos materiais, inaugurada por Galileu no século XVII; a chamada teoria
matemática da elasticidade, a partir do início do século XIX; e a teoria das estruturas, criada
em meados do mesmo século. Junto com breves dados biográficos e as respectivas filiações
intelectuais, Timoshenko explica as contribuições científicas dos principais pensadores
nessas áreas, pontuando o desenvolvimento da engenharia e de seu ensino na Europa do
século XVII até os anos 1950.
O trabalho de Timoshenko se destaca na historiografia da engenharia pelo levantamento
minucioso das teorias e de suas aplicações. Por outro lado, ele se assemelha à maior parte
dessa historiografia pelo caráter evolutivo, pela fé no desenvolvimento contínuo da ciência e
pelo fato de acatar, sem nenhuma crítica, a ideia de um vínculo direto e sempre positivo
entre teorias científicas, experimentos empíricos e produção social. Empreendimentos como
as megaobras da engenharia ferroviária do século XIX ou a introdução do aço como material
estrutural aparecem, nessa perspectiva, como conquistas sem reveses. Ciência e tecnologia
ou, mais especificamente, matemática e engenharia, formam a pareceria heroica em prol do
progresso da humanidade.
Timoshenko também está alinhado com muitos outros historiadores no que diz respeito à
Idade Média. Ele faz referências à Antiguidade e considera válido o conhecimento a partir de
Leonardo e Galilei, mas resolve o interstício – nada menos que mil anos – com uma única
frase: "A maior parte do conhecimento que gregos e romanos acumularam a caminho da
engenharia estrutural se perdeu na Idade Média e tem sido recuperado apenas a partir do
Renascimento" (TIMOSHENKO, 1953, p.1). Ora, as sofisticadas construções góticas, sobretudo
as catedrais disseminadas por França, Espanha, Alemanha e norte da Itália, foram construídas
por homens com amplo conhecimento de técnicas construtivas e comportamento dos
materiais. Embora se baseassem numa geometria operativa, graficamente rudimentar se
comparada aos compêndios do século XVII, esses artífices foram capazes de criar formas de
complexidade quase orgânica e cada vez mais audazes (BORK, 2011, p.2; BECHMANN, 1991,
p.25). Decerto, suas operações eram transmitidas diretamente na prática dos canteiros, no
que hoje se poderia chamar formação no trabalho, não em livros. Mas esse tipo de
conhecimento deu origem a estruturas que não ficam nada a dever às da Antiguidade.
Se ainda assim elaboramos uma linha do tempo baseada em Timoshenko (Figura 1), que,
por sua vez, orientou o referido esboço de uma genealogia, nossa leitura é bem menos
positiva: linguagem matemática e representação gráfica, tais como codificadas pelos
acadêmicos da construção (engenheiros e arquitetos), também foram expedientes de
controle na crescente divisão, subordinação e alienação do trabalho. Esse processo coincide
de fato com a cronologia de Timoshenko, ainda que tenha se iniciado antes.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Cambridge
ferroviária
!
Fonte: Organizado pelos autores.
1002
Fonte: <https://static.cambridge.org>.
Figura 3 – Desenho de Brunelleschi para a cúpula da Igreja de Santa Maria dei Fiori.
1003
Fonte: <http://www.lmc.ep.usp.br>.
Fonte: <http://www.filippodiserbrunellesco.org>.
A ponte desmontável de Leonardo da Vinci, ao que tudo indica, teve uma motivação
bélica e teria sido parte de uma encomenda do duque de Milão, Ludovico, o Mouro. Pensada
como um conjunto de vigas recíprocas, compostas por pequenos troncos, ela seria capaz de
suportar o peso de vários homens e fácil de transportar, permitindo movimentos rápidos e
inesperados de tropas. O desenho de Leonardo revela o que se pode chamar de “intimidade”
com o comportamento do material. O desenho parece uma espécie de ampliação de raciocínio
a partir de uma geometria operativa. Assim como Brunelleschi, ele representa o material
como tal (tronco, tijolo), ensaiando no papel as ações a executar na realidade. Os desenhos
menores no canto superior esquerdo da Figura 5 mostram o encaixe dos troncos no chão
antes de serem erguidos. Para que funcionem como vigas recíprocas, é preciso suspendê-las
simultaneamente e como que “trançar” os troncos transversais por entre os longitudinais.
Especulamos que Leonardo deve ter imaginado essa operação ao desenhar o objeto, isto é,
que o desenho é mais do que uma espécie de fotografia antecipada do resultado final.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1004
Fonte: <https://s-media-cache-ak0.pinimg.com>.
Quadro 2 – Datas, temas e ilustrações dos livros que Serlio publicou em vida.
Ordens Clássicas
1005 1537 Livro IV
antigas
Edifícios romanos
1540 Livro III antigos e seus
detalhes
Geometria e
1545 Livro I fundamentos de
matemática
Perspectiva e
1545 Livro II
cenografia
a atenção o Livro Extraordinário (1551) que traz somente figuras. Destaca-se, entre as 51
ilustrações de fachadas de pórticos, o número excessivo de arcos plenos. Ainda que
convincente em sua aparência de estabilidade, trata-se de uma forma estruturalmente
instável em quase todos os casos. As pedras que conformariam o arco pleno não passam de
1006 uma espécie de confeito de argamassa.
Stevin
Mathematicorum
1605
Hypomnematum de
1007 Statica
Galileu
Discorsi e
1638 dimostrazioni
matematiche intorno a
due nuove scienze
Euler
Mechanica sive motus
1736 scientia analytice
exposita
Théorie Complete de la
1776 Construction et de la
Manoeuvre des
Vaiseaux [...]
Navier
Resumé des Leçons
Données a l’École de
Ponts et Chaussées sur
1864 l’application de la
Méchanique a
l’Établissement des
Constructions et des
Machines
Reuleaux
Le constructeur,
tables, formules,
règles, tracés et
1881
renseignements pour
la construction des
organes de machines
[...]
exclusivamente o produto almejado pelo projeto (Quadro 3). Os materiais propriamente ditos
estão apenas esboçados e é impossível deduzir os processos construtivos a partir dos
desenhos. A militância profissional de Navier coincide com o período pós-revolucionário
francês em que houve transformações importantes na produção do espaço e na organização
1008 profissional. A mentalidade dos engenheiros politécnicos os coloca numa posição de
comando da produção do espaço. A construção de infraestrutura viária pelo Estado francês
se dá a partir da sistematização promovida pelas escolas de engenharia. Essa sistematização
se faz a partir das práticas de construção, porém no sentido da subordinação do trabalho,
isto é, contra os oficiais e operários da construção.
Outro exemplo de representação proveniente da engenharia politécnica é a do
engenheiro alemão Franz Reuleaux (1829-1905). Ele pertence a uma família de construtores
mecânicos (Englerth, Reuleaux e Dobbs), inicia sua aprendizagem na fundição Zilken e, em
seguida, na fábrica da família. Entre 1850 e 1852, ele frequenta o instituto politécnico de
Karlsruhe. Mais tarde, a partir de 1856, assume uma cadeira de mecânica aplicada na
politécnica de Zurique e, em 1879, passa para o departamento de construção mecânica do
Instituto técnico de Charlottenbourg, onde se dedica aos estudos de cinemática. O caso de
Reuleaux, por um lado, exemplifica a disseminação da mentalidade politécnica pela Europa
do século XIX. Por outro lado, ilustra também a estratégia das escolas em atrair para seus
laboratórios e quadros docentes jovens profissionais com experiência prática em oficinas. A
representação gráfica utilizada por Reuleaux já é muito próxima da atualmente utilizada nas
disciplinas de estruturas das escolas de arquitetura.
Um passo a mais nesta cronologia seria compreender o modo como a mentalidade
politécnica se difunde além da França, sempre com foco no modo como a representação é
utilizada e instrumentalizada. Um objeto interessante a ser analisado seria a descrição
ilustrada que Vauthier (1853) faz das construções populares no Recife.
3. CONSIDERAÇÕES
O trabalho aqui apresentado é, como o próprio título indica, um esboço, que deve ser
ampliado, complementado, discutido. Mas ele evidencia pelo menos duas coisas. Uma é o
fato de que o desenho de estruturas não coincide necessariamente com o desenho de
construção; o que significa também que se pode conhecer profundamente as relações físico-
matemáticas e representá-las com precisão, sem que isso resulte num desenho para a
execução. Outra é que a progressiva hierarquização no mundo do trabalho é correlata à
progressiva sofisticação de instrumentos abstratos e parciais. Isso significaria também que o
emprego de modelagem paramétrica, BIM e outros recursos tende a promover no âmbito do
trabalho de projeto uma hierarquização semelhante àquela que, entre os séculos XV e XIX,
acometeu o trabalho de construção. Apenas não levará quatrocentos anos.
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AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à
Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (CAPES) e à Financiadora de Estudos e
Projetos (FINEP) pelo apoio financeiro e pelas bolsas que possibilitaram as pesquisas de que
1009 resultou o presente trabalho.
A Marina Ferreira Borges pelos comentários e pelas imagens da Figura 1.
REFERÊNCIAS
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TIMOSHENKO, S. P. History of the Strength of Materials with a brief account of the history of
theory of elasticty and theory of structures. New York, Toronto, London: McGraw-Hill Book
Company, 1953.
VAUTHIER, L. Des maisons d'habitation au Brésil. Revue général d'Architecture, 1853.
ESTUDO DOS SISTEMAS ESTRUTURAIS EXISTENTES NAS EDIFICAÇÕES DO
CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE DA UNESP
TONON, Beatriz Frasão (1); FIORITI, Cesar Fabiano (2); TSUTSUMOTO, Nayra Yumi (3)
RESUMO
Este trabalho de iniciação científica (IC) visou estudar as edificações pertencentes à Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista – FCT/UNESP, campus de Presidente
Prudente, auxiliando no ensino e no aprendizado de sistemas estruturais à medida que levou em
consideração aspectos qualitativos, tais como os tipos de materiais estruturais utilizados, os
elementos estruturais presentes e as vantagens e desvantagens da utilização dos mesmos nas
edificações. Com a realização de um estudo teórico dos tipos de sistemas estruturais, foi possível
descrever detalhadamente a função que cada sistema estrutural exerce na estrutura, sendo possível
prever as razões de seu uso em determinada situação. Após a análise individual de cada sistema
estrutural, também foi possível entender e analisar a estrutura como um todo, levando em
consideração os esforços suportados pela mesma. De modo geral, este trabalho de IC visou abordar
o tema sistemas estruturais de maneira clara e detalhada, complementando com vistorias e
fotografias digitais das estruturas estilizadas na FCT/UNESP, propiciando à aluna de IC uma produção
composta por conhecimentos teórico-técnicos que aprimoraram sua habilidade de visualizar e
compreender o comportamento das estruturas, e como a forma da estrutura influencia no seu
comportamento. Diante disso, o estudo sobre sistemas estruturais realizados durante o período da
pesquisa de IC ressaltou a importância da análise visual na capacidade de percepção e no
aprendizado do comportamento das estruturas.
Palavras-chave: Sistemas estruturais; Estruturas; Materiais estruturais; Edificações.
ABSTRACT
This scientific initiation (SI) paper aimed at studying the buildings belonging to the Faculty of Science
and Technology of the Paulista State University, Presidente Prudente campus, assisting in the
teaching and learning of structural systems as it took into account qualitative aspects, such as the
types of structural materials used, the structural elements present and the advantages and
disadvantages of using them in buildings. With the accomplishment of a theoretical study of the types
of structural systems it was possible to describe in detail the function that each structural system
exerts in the structure, being possible to predict the reasons of its use in a certain situation. After the
individual analysis of each structural system, it was also possible to understand and analyze the
structure as a whole, taking into account the efforts supported by it. In general, this SI paper aimed to
approach the subject of structural systems in a clear and detailed manner, complementing with
surveys and digital photographs of the stylized structures of campus, providing the student of SI a
production composed by theoretical and technical knowledge that improved their ability to visualize
and understand the behavior of structures, and how the shape of the structure influences their
behavior. Therefore, the study on structural systems performed during the period of the SI research
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
emphasized the importance of visual analysis in the capacity of perception and learning of the
behavior of the structures.
Keywords: Structural systems; Structures; Structural materials; Buildings.
1012
1. INTRODUÇÃO
No curso de Arquitetura e Urbanismo, o aluno aprende a desenvolver, a projetar, a
planejar edificações, com as mais diversas finalidades. Para tanto, se faz necessário o estudo
de inúmeras matérias que servirão de base para esse processo, como História e Teoria da
Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura, Conforto Ambiental, Sistemas Estruturais,
Técnicas Retrospectivas, etc. A disciplina “Sistemas Estruturais” foi enfatizada neste
trabalho, considerando que todo arquiteto deve conhecer os tipos de sistemas estruturais
existentes, saber como seus elementos se comportam e estar capacitado a apresentar seu
pré-dimensionamento.
As estruturas criadas pelo homem são concebidas e projetadas para atender a
determinados requisitos básicos, sejam estes de funcionalidade, de estética, de economia,
de equilíbrio, de estabilidade, de resistência, etc. Deste modo, tornam-se a essência da
arquitetura (REBELLO, 1993).
Diante disso, as estruturas se caracterizam por serem as partes mais resistentes de uma
construção. São elas que absorvem e transmitem os esforços, sendo essenciais para a
manutenção da segurança e da solidez de uma edificação. Uma estrutura é formada por
elementos estruturais, que, combinados, dão origem aos sistemas estruturais. A finalidade
de uma estrutura é transmitir as ações sofridas por ela para o solo. Dessa forma, as
estruturas devem ser construídas com materiais que não são perfeitamente rígidos,
chamados materiais estruturais.
Porém, durante séculos, o homem utilizou exclusivamente o conhecimento empírico e
suas habilidades intuitivas para o projeto e execução de suas obras. Somente após o século
XVII, com o desenvolvimento da matemática e da física e com o surgimento das ciências
exatas, é que se passou a dar ênfase à análise teórica dos processos construtivos. Desde
então, o estudo voltado à resistência dos materiais foi pouco a pouco se identificando como
um assunto isolado e específico – com isso, começou a existir uma separação formal entre as
atividades estruturais e as atividades arquitetônicas (SCHWARK, 1996).
A separação entre escolas de Belas Artes e escolas de Engenharia provocou uma divisão
de trabalho entre engenheiros e arquitetos, criando a falsa ideia de que arquitetura é
atividade de arquiteto e estrutura é atividade de engenheiro. De acordo com Franco (1995),
essa separação está na base do equívoco “Estrutura x Arquitetura”.
Essa separação, considerada algumas vezes necessária, é prejudicial a ambas as partes.
Por um lado, a arquitetura fica limitada devido à carência de informações sobre questões
estruturais, e por outro, a engenharia em geral se resume a um mundo de modelos
matemáticos abstratos, o que prejudica a compreensão de suas dimensões sociais,
ambientais e estéticas (CALATRAVA, 2003).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Este trabalho de iniciação científica (IC) visou estudar as edificações pertencentes à
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista – FCT/UNESP, campus
de Presidente Prudente, auxiliando no ensino e no aprendizado de sistemas estruturais à
medida que levou em consideração aspectos qualitativos, tais como os tipos de materiais
estruturais utilizados, os elementos estruturais presentes e as vantagens e desvantagens da
utilização dos mesmos nas edificações.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1016
a b
a b
a b
a b
É possível observar, por meio das figuras apresentadas, que mesmo com aspectos
distintos as características principais são as mesmas, ou seja, a forma como as cargas
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
atuantes “caminham” até as fundações ocorre da mesma maneira, como pode ser
observado na Figura 8.
1018
a b
1019
Na maior parte dos edifícios, o material concreto armado está presente nos pilares e
vigas, no entanto, em alguns deles, é possível observar que as lajes também são constituídas
do mesmo. Trata-se de lajes maciças moldadas in loco, como é o caso do Bloco de Aulas II,
juntamente com os laboratórios, Figura 10.
Na Figura 10, pode ser observado que os pilares e vigas possuem seções transversais de
dimensões menores do que as já apresentadas anteriormente, possivelmente em função de
receber cargas menores.
A edificação anexa onde se encontra o Auditório e a parte Administrativa, juntamente
com as Diretorias, também possui a laje maciça em concreto armado aparente, como pode
ser observado na Figura 11. Sendo que, nas demais, foi possível observar que não existe laje,
apenas a existência de forro em PVC (Cloreto de Polivinila) no interior das salas.
No caso desta edificação, apresentada na Figura 11, pode-se observar que, além da laje
maciça em concreto armado, existem elementos estético-funcionais também em concreto,
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
caracterizando-a. Além disso, os vãos e as alturas dos pilares são um dos maiores até o
momento, se comparado com os demais.
1020
a b
Em relação às seções transversais das vigas e pilares, observou-se que nem sempre se
seguiu a regra de que quanto maior a carga que está submetida, maior deveria ser sua
seção. Estas observações foram feitas através da análise de duas coberturas que ligam
alguns dos departamentos e bloco de aulas, as quais estão mostradas na Figura 12,
juntamente com a edificação mostrada anteriormente.
a b
Se compararmos as duas imagens anteriores, pode ser observado que a Figura 12a possui
laje e cobertura em telha de fibrocimento, e que as seções transversais das vigas e pilares
são menores do que as edificações já citadas, que estão submetidas à aplicação de maiores
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
cargas. No entanto, na Figura 12b, em que o sistema viga-pilar deveria apresentar menores
dimensões de seções transversais por estarem submetidas somente às cargas das telhas de
fibrocimento, é possível observar que são do mesmo tamanho ou até mesmo maiores.
Este fato é visto como contraditório na teoria, em que o cálculo da estrutura é o primordial
1021
para se obter sistemas estruturais corretos de acordo com as cargas atuantes. Neste caso,
podemos mencionar que houve utilização de excesso de material, no caso concreto,
prejudicando na economia e no aumento do peso próprio da estrutura, sem necessidade.
Dentre as vigas, podemos dizer que as mesmas se encontram apoiadas nos pilares, podendo
ser consideradas em alguns casos como vigas biapoiadas e em outros como vigas contínuas. No
entanto, algumas vezes estes pilares não estão, necessariamente, na extremidade da viga,
formando assim pequenos balanços, que variam, como observado na Figura 13.
a b c
intuito de aumentar a estabilidade do sistema, estas são colocadas da maneira em que suas
linhas de eixo se coincidam, como pode ser observado na Figura 14.
Somente em um dos locais em que o sistema estrutural está presente foi possível observar
que existe excentricidade entre as vigas e pilares, ver Figura 15. A desvantagem de haver
1022
excentricidade é a diminuição da estabilidade da estrutura, sendo também necessário que as
cargas vindas das vigas precisem “caminhar” um pouco mais até serem transmitidas aos pilares.
É possível observar, na Figura 15, que a excentricidade dos três elementos que se
interseccionam – duas vigas com direções perpendiculares e um pilar – não se coincidem.
Muitas vezes esta excentricidade pode ser causada, provavelmente, por falha de execução
ou de projeto, pois no plano de fundo da foto (detalhe da elipse vermelha) já não existe a
excentricidade.
O que também pode ser observado é a altura da viga, novamente, possui dimensões
majoradas em relação à necessidade real. A viga que apenas suporta o peso da telha em
fibrocimento (primeiro plano) é maior do que a que sustenta a edificação em que está
localizado o Departamento de Geografia (segundo plano).
São a partir destas comparações e apontamentos das características presentes nas
edificações com este sistema estrutural em concreto armado, que se pode frisar que é o
sistema mais usual dentre as construções, principalmente por possuir mais vantagens do
que desvantagens, como podem ser observadas algumas na sequência:
Vantagens: elevada resistência à compressão; economia na execução; facilidade na
execução; durabilidade; adaptabilidade das formas, enquanto fresco; pouco permeável
e segurança contra incêndio;
Desvantagens: peso próprio elevado; gastos com fôrmas de madeira e facilidade na
formação de fissuras.
Portanto, o concreto armado é utilizado em grande parte das edificações, desde residências
(como mostra a Figura 16), até edifícios institucionais, comerciais e multifamiliares.
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Figura 16 – a) Viga e pilar em concreto armado aparente; b) Viga e pilar em concreto armado com
balanço.
1023
a b
Fontes: a) <http://www.borgeslandeiro.com.br/posts/noticias/estante-de-concreto>;
b) <http://casa.abril.com.br/materia/fachadas-de-vidro-integracao-e-liberdade>.
Se compararmos estas duas edificações, visualizadas na Figura 16, é possível verificar que
as seções transversais dos elementos variam de acordo com as cargas atuantes. Além de que
podemos perceber, na Figura 16b, que a viga também está em balanço, característica
comum entre algumas edificações do campus da FCT/UNESP, já apresentadas
anteriormente, bem como o correto alinhamento das vigas apoiadas nos pilares,
favorecendo a estabilidade do sistema estrutural.
a b
Os dois blocos que formam a edificação possuem sistema estrutural semelhante ao grupo
A, ou seja, formado por vigas e pilares em concreto armado moldado in loco. No entanto, os
pilares na parte interna são mais altos, da maneira que, próximo ao seu topo, existe um tipo
de aba, chamada console, cuja função é apoiar as treliças que formam a cobertura metálica,
1024
como pode ser observado nas Figuras 18 e 19.
Figura 18 – Área central, boulevard, detalhe para o console do pilar.
Figura 19 – Detalhe do console, em concreto armado, que apoia a treliça da cobertura metálica.
A partir da Figura 19, também é possível observar que existe centralidade na junção de
dois elementos que formam a estrutura, a treliça em aço e o console em concreto armado,
que também coincide sua linha de centro (em destaque) com o pilar, também visto na
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mesma imagem. Da mesma maneira que os pilares mostrados no grupo A, estes possuem
praticamente a mesma seção transversal, no entanto, as vigas não são possíveis de serem
identificadas com toda certeza, pois existe uma tela metálica que impede a visibilidade,
como mostra a Figura 20. E igualmente a alguns dos edifícios do grupo anterior, não há laje,
1025
apenas forro em PVC no interior das salas.
As treliças de banzos paralelos são formadas por cantoneiras duplas de abas iguais. E acima
delas, estão as terças também em aço, as quais recebem as cargas vindas da cobertura
metálica. No entanto são compostas por perfis “U” enrijecidos, como mostra a Figura 22.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1026
a b
Fonte: <http://www.sandre.com.br/sistemas-construtivos/>.
5. CONSIDERAÇÕES
Com o intuito de estimular o aprendizado da aluna por meio da análise qualitativa dos
sistemas estruturais, foram apresentados, no relatório final de IC, de maneira detalhada, os
sistemas estruturais existentes, bem como os tipos de materiais que podem ser executados,
para que, quando mencionados no decorrer do trabalho, pudessem ser somente citados. A
partir disso, foi analisado grupo a grupo, de acordo com o sistema estrutural, material e
forma. Dessa maneira, ocorreu o incentivo da estudante de arquitetura para aprender por
meio de observações das edificações.
Na análise dos grupos estudados, observou-se que o material mais utilizado nas
edificações escolhidas da FCT/UNESP é o concreto armado moldado in loco, presente nos
grupos A, B, C, F e G. Se compararmos com os edifícios que são construídos numa cidade ou
no país em geral, o concreto armado ainda se destaca, principalmente pela facilidade de
encontrar mão de obra um pouco mais qualificada que as demais. Da mesma maneira,
podemos assemelhar outros dois grupos, B e C que possuem o mesmo tipo de cobertura: a
metálica com a utilização de treliças.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
A FAPESP – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo, pela concessão da
bolsa de iniciação científica a autora pelo período de dois anos.
REFERÊNCIAS
CALATRAVA, S. Santiago Calatrava conversa com estudantes. Conferências do Massachusetts
Institute of Technology (MIT). Tradução de Lya Luft. Barcelona: Gustavo Gili, 2003.
CARTER, B. Peter Rice: Building to a Human Scale. The Journal of the International Institute,
Michigan, v. 2, n. 3, Spring 1995. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/2027/spo.4750978.0002.309>. Acesso em: 18 abr. 2010.
FRANCO, M. Arquitetura e estrutura: experiências e perspectivas. 1995. Palestra. Disponível em:
<http://www.idea.org.br/programas/06.doc>. Acesso em: 27 abr. 2010.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
LEITE, Maria Amélia Devitte Ferreira D´Azevedo (1); REBELLO, Yopanan Conrado Pereira (2)
RESUMO
Toda forma arquitetônica requer uma estrutura para se manter espacialmente, dotada de requisitos
formais e materiais que garantam sua sustentação permanente. Questões essenciais como a
limitação das deformações, a condução adequada das cargas incidentes até o solo devem ser
contempladas. Deduz-se, portanto, que o criador da forma arquitetônica será, inevitavelmente, o
criador da estrutura. Resta a dúvida sobre quão intencional é esta ação. O domínio da concepção
estrutural para o arquiteto constitui, assim, fator primordial para a boa consecução do projeto de
arquitetura e a adequada direção técnica da obra. A evolução histórica do ensino de arquitetura no
Brasil apresenta deficiências neste quesito da formação, justificadas pela fragmentação das áreas de
conhecimento que implicam a elaboração do projeto no conjunto das disciplinas, pela ênfase na
composição estético-formal e pelo distanciamento em relação às situações reais da profissão, em
especial no que tange à construção. A utilização de modelos e protótipos no processo de ensino-
aprendizagem da estrutura tem se mostrado um caminho privilegiado na superação das dificuldades
verificadas, à medida que permite a simulação do comportamento real da forma proposta e o
enfrentamento de sua materialidade, possibilitando um desenvolvimento inventivo do projeto e a
conquista de autonomia na concepção estrutural. Particularmente, a visualização das deformações e
dos processos de ruptura é de fundamental importância, dada a dificuldade de observação dos
mesmos fenômenos nas estruturas existentes. Objetiva-se o compartilhamento de experiências
didáticas dos autores na utilização de modelos e protótipos como recursos de aprendizagem em
atividades curriculares e extra-curriculares.
Palavras-chave: Modelos estruturais; Modelos didáticos; Protótipos estruturais.
ABSTRACT
Every architectural form requires a structure to maintain itself spatially, endowed with formal and
material requirements that guarantee its permanent sustenance. Essential issues such as limiting
deformation, proper handling of incident loads to the ground should be considered. It follows,
therefore, that the creator of the architectural form will inevitably be the creator of the structure.
There remains the question of how intentional this action is. The domain of structural design for the
architect is thus a prime factor for the successful achievement of the architectural design and the
proper technical direction of the work. The historical evolution of architecture teaching in Brazil
presents deficiencies in this aspect of formation, justified by the fragmentation of the areas of
knowledge that imply the elaboration of the project in the whole of the disciplines, by the emphasis
on the aesthetic-formal composition and by the distance in relation to the real situations of the
Profession, in particular with regard to construction. The use of models and prototypes in the
teaching-learning process of the structure has proven to be a privileged way to overcome the
difficulties encountered, as it allows the simulation of the actual behavior of the proposed form and
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
the confrontation of its materiality, enabling an inventive development of the Design and the
achievement of autonomy in the structural design. Particularly, the visualization of the deformations
and the processes of rupture is of fundamental importance, given the difficulty of observing the same
phenomena in the existing structures. The objective is to share the didactic experiences of the authors
in the use of models and prototypes as learning resources in curricular and extracurricular activities.
1031 Keywords: Structural models; Didactic models; Structural prototypes.
1. INTRODUÇÃO
Aqui se encontra o perigo das escolas: de tanto ensinar o que o passado legou – e
ensinar bem – fazem os alunos se esquecerem de que seu destino não é o passado
cristalizado em saber, mas um futuro que se abre como vazio, um saber que
somente pode ser explorado com as asas do pensamento. Compreende-se então
que Barthes tenha dito que, seguindo-se ao tempo em que se ensina o que se sabe,
deve chegar o tempo quando se ensina o que não se sabe (ALVES, 2003, p. 59).
Figura 1 – Modelo funicular de Gaudí; a Sagrada Família em 1926 e atualmente; Montjuic no skyline
de Barcelona.
Fonte: Masini (1977, p. 34) e Tavole 37; a autora, 2012. Organizado pelos autores.
1
Altura do Montjuic = 173,00m.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1032
2
Embora o cálculo estrutural tenha seus primórdios em meados do século 18, até o começo do século 20, as
estruturas eram divididas entre aquelas que podiam ser calculadas, ainda que com grosseiras simplificações, e
as tradicionais, que continuavam a ser projetadas empiricamente ou a ser baseadas em exemplos anteriores
bem sucedidos (REBELLO, 1994).
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Figura 3 – Tipologia de formas estudadas e estruturas em cascas de concreto projetadas por Heinz
Isler.
1033
Figura 4 – Modelos físicos de tecido enrijecido com gesso utilizados por Heinz Isler de formas
funiculares a tração para obtenção de formas comprimidas ótimas.
explicar o átomo (Figura 5), até os modelos matemáticos, passando pelos modelos de
pensamento, que tentam representar intuitivamente um fenômeno.
Figura 5 – Modelo abstrato utilizado por Niels Bohr para representar o átomo.
1035
Um exemplo clássico da aplicação deste último tipo de modelo é a forma pela qual
Einstein estruturava seu pensamento com vistas à elaboração do conhecimento:
[…] Palavras ou a linguagem, como são escritas ou faladas, não parecem
desempenhar qualquer papel no meu mecanismo de pensamento. As entidades
psíquicas que parecem servir como elementos no pensamento são certos sinais e
imagens mais ou menos claras que podem ser “voluntariamente” reproduzidas e
combinadas…mas observadas sob um ponto de vista psicológico, este jogo
combinatório parece ser o recurso essencial no pensamento produtivo — antes de
existir qualquer conexão com a construção lógica em palavras ou outros tipos de
sinais que podem ser comunicados a outras pessoas (EINSTEIN, 1949, p. 142 - 3)3.
3
Carta de Albert Einstein a Jacques Hadamard, que estudava o processo de pensamento dos matemáticos.
Publicada com o Apêndice II em: HADAMARD, J. The Psychology of Invention in the Mathematical Field.
Princeton: Princeton University Press, 1949.
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estrutural observado, dado que as estruturas reais são concebidas de modo a que raramente
aparentem tais fenômenos (Figuras 6 e 7).
Fonte: Balbim (2010); os autores, 2010; Sussekind (1986). Organizado pelos autores.
O mesmo artifício foi utilizado por Lina Bo Bardi para transmitir a João Filgueiras Lima
(Lelé) a concepção estrutural dos contrafortes que havia idealizado para a recuperação de
trechos urbanos de encostas no Centro Histórico da cidade de Salvador, capital do estado da
Bahia. Impossibilitada de comparecer à reunião agendada com Lelé no Rio de Janeiro,
solicitou aos seus colaboradores que entregassem ao arquiteto uma folha de “capim
palmeira” colhida no jardim de sua casa, no bairro paulistano do Morumbi, e colocada em
uma caixa de sapatos:
Entreguem isso ao Lelé e digam que eu penso em uma estrutura assim. Ele vai
entender. Digam que não pude ir ao Rio, mas que nos encontraremos em Salvador
(LATORRACA, 1999, p.166).
Figura 9 – O modelo físico de Lina Bo Bardi (folha), o sistema desenvolvido por Lelé e as obras
executadas em Salvador. Modelo em papel demonstrando a maior inércia da seção plissada.
1038
Figura 10 – Modelo experimental de Frei Otto com película de detergente aplicada a suporte
aramado para estudo de superfícies mínimas em sistemas estruturais em membranas
5
Entrevista concedida a Juan Maria Songel e publicada em seu livro A Conversation with Frei Otto (Paperback).
6
Expressão utilizada pelo Prof. Dr. Arq. João Marcos de Almeida Lopes.
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7
Trabalho desenvolvido em conjunto com o Prof. Dr. Eng. João Carlos Rocha Braz.
8
Vide REBELLO (2000, p.65).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
O cômputo geral das respostas apontou para uma aprovação bastante grande por parte
dos alunos, em especial, quanto aos bons resultados em termos da incorporação de
conhecimentos novos, com destaque para:
Ampliação do repertório técnico: desenvolvimento de método próprio de análise e
estudo de obras; conhecimento de materiais e técnicas construtivas;
Aperfeiçoamento dos procedimentos de trabalho em equipe;
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9
Em conjunto com os Profs. Maxim Bucaretchi, Bóris Petri Henrique, João Verde e Fernando Peres.
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Figura 15 – Quadro com avaliação coletiva de resultados/ Exercícios com protótipos (Continuação).
1045
10
Extraídos de LEITE (2005, p.173).
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11
Os protótipos foram custeados pelas equipes. Este autofinanciamento fazia parte da estratégia metodológica
do exercício, visando-se a obtenção de maior consequência nas decisões de projeto, bem como a familiarização
com o universo econômico da construção.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
dos “galhos” nessa estrutura em árvore deve ser tal que o caminho percorrido pelas cargas
até a fundação sejam mínimos.
Para se obter essa disposição, lançou-se mão de um ensaio simples, onde foi usado um
modelo qualitativo, no qual os galhos e tronco foram simulados com barbantes untados e
1047
enrijecidos com cola branca. Os barbantes, após serem untados em cola branca, foram
juntados. Em seguida, foram abandonados à ação de um pequeno peso, quando, então,
abriram-se até que fosse obtida uma configuração de equilíbrio, quando foram, então,
fotografados. Posteriormente, a foto foi reproduzida em desenho, de forma invertida, ou
seja, na posição em que os galhos estariam na estrutura real. Com esse ensaio, obteve-se o
caminho ótimo de transferência das forças ao longo dos galhos e tronco do pilar árvore
(ver Figuras 16 e 17).
4. CONSIDERAÇÕES
Tanto a vivência acadêmica quanto a prática profissional revelam um campo fértil para o
desenvolvimento contínuo de novas formas de pensar as estruturas arquitetônicas, e a
experimentação construtiva através de modelos e protótipos constitui um recurso
privilegiado para a resolução dos problemas.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Entretanto, verifica-se nos currículos uma presença ainda débil das atividades
experimentais em laboratórios e canteiros, e de forma fragmentária, quando não, acessória,
ao conjunto principal de estratégias didáticas, de natureza predominantemente intelectual.
A prática profissional, influenciada pela formação, tende a reproduzir tal comportamento.
1048
Sugere-se, desta forma, a revisão do papel atribuído à experimentação nos planos de
ensino e a ampliação do tempo curricular dedicado a esta.
Mais do que tudo, buscar-se a consolidação de práticas de ensino-aprendizagem que
possibilitem, como bem disse Frei Otto, para além de encontrar as respostas às questões
colocadas, encontrar também o que não se foi procurar. Exemplo disso é a descoberta fortuita
do sistema de tensegrity por um grupo de alunos iniciantes, quando instados pela autora a
desenvolver em 40 minutos uma proposta de estruturas feita a partir de fios (Figura 18).
Ensinar o que ainda não se sabe e aprender a experimentar, para aprender, quem sabe
sejam caminhos promissores para o ensino de estruturas.
Figura 16 – Exercício rápido (40 min) de estruturas a partir de terra, madeira, papel e fios.
REFERÊNCIAS
ALVES, R. Conversas sobre educação. Campinas: Verus, 2003.
BILLINGTON, A. The art of structural design. New Haven: Yale University Press, 2003.
LATORRACA, G. (Org./Ed.) João Filgueiras Lima, Lelé. São Paulo; Lisboa: Instituto Lina Bo Bardi; Blau,
1999.
LEITE, M. A. D. F. A. A aprendizagem tecnológica do arquiteto. 2005. Tese (Doutorado) – Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
MASINI, L. V. Antoni Gaudí. Firenze: Sansoni, 1977.
REBELLO, Y. C. P. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000.
REBELLO, Y. C. P. Contribuições para o ensino de estruturas em escolas de arquitetura. 1993.
Dissertação. (Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1993.
SUSSEKIND, J. C. Homenagem a Joaquim Cardozo. Módulo, ed. 89; 90; 70 0 71, jan./fev./mar./abr.
1986.
FERRAMENTA PARAMÉTRICA DE APOIO AO ENSINO DA CONCEPÇÃO
ESTRUTURAL
RESENDE, Maria Carolina de Oliveira (1); MOTTA, Silvio Romero Fonseca (2)
RESUMO
Nas últimas décadas, houve grande avanço em ferramentas digitais de apoio ao projeto
arquitetônico, proporcionando experimentações e aprofundamento em áreas pouco exploradas até
então. Ademais, além das inovações, o último século foi essencial para o modo como se projeta e
ensina arquitetura atualmente. O presente artigo busca explorar a potencialidade de ferramentas
paramétricas no ensino da concepção estrutural dentro das universidades, a fim de auxiliar
estudantes no pré-dimensionamento estrutural. A pesquisa faz parte do projeto de iniciação
científica desenvolvida no curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC-MG, com apoio da FAPEMIG. O
estudo das potencialidades das ferramentas foi realizado por meio de uma análise de ferramentas
paramétricas que potencialmente poderiam ser implementadas e usadas por estudantes, baseando-
se na flexibilidade das ferramentas, assim como a facilidade de compreensão da interface e
aplicabilidade nas formas arquitetônicas usuais.
Palavras-chave: Concepção estrutural; Parametricismo; Ferramentas Paramétricas.
ABSTRACT
In the last decades there has been a great advance in digital tools to support architectural projects,
providing experimentation and deepening in areas little explored until then. In addition, beyond the
innovations, the last century was essential for the way architecture is designed and taught. The
present article seeks to explore the potential of parametric tools in the teaching of structural design
within universities, in order to assist students in the structural pre-dimensioning. The research is part
of the project of scientific initiation, developed in the course of Architecture and Urbanism at PUC-
MG, with the support of FAPEMIG. The study of the tools was carried out through an analysis of
parametric tools that could potentially be implemented and used by students, based on its flexibility,
as well as in the ease of understanding of the interface and application in usual architectural forms.
Keywords: Conceptual Structural; Parametricism; Parametric tools.
1. INTRODUÇÃO
No final do século passado, houve grande progresso das tecnologias digitais na
arquitetura, principalmente nas ferramentas de concepção arquitetônica e em suporte ao
desenho arquitetônico, possibilitando que o mesmo seja representado de forma complexa e
detalhada. Tal avanço tecnológico fomenta a exploração e experimentação de diferentes
soluções projetuais em diversos campos de estudo – tais como estrutural, estético, de
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2. OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho é analisar as potencialidades das ferramentas digitais de
simulação estrutural aplicadas na concepção arquitetônica e investigar as possibilidades de
1
Software é um programa ou conjunto de instruções que controlam o funcionamento de um computador.
2
Plugin é um programa instalado no computador que possibilita a utilização de diferentes tipos de recursos no mesmo.
3
A modelagem paramétrica aplicada ao objeto arquitetônico é um processo de projeto que utiliza parâmetros
para gerar formas.
4
Ferramentas paramétricas na arquitetura são ferramentas baseadas em parâmetros de entrada e saída para
desenvolvimento de análises e modelagem de formas.
5
Plugin paramétrico para o software Rhinoceros.
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3. RESULTADO E DISCUSSÕES
3.1 Modelagem paramétrica e simulações estruturais
De certo modo, o panorama atual da Arquitetura ainda segue o legado modernista
deixado pelo último século, uma época em que os arquitetos ansiavam pela renovação
estética e funcional, e, motivados pelos ventos da revolução industrial, acreditavam no
paradigma em que a forma segue a função (de Louis Sullivan).
O século XX também foi protagonista de grandes avanços nas tecnologias digitais e do uso
destas como apoio ao desenvolvimento arquitetônico, marcando profundamente o cenário
atual, que também reflete a pluralidade de propostas projetuais, criadas principalmente pelo
emergente avanço tecnológico (SCHEEREN; LIMA, 2015). O avanço de ferramentas baseadas
em parâmetros6, desenvolvida a partir de lógicas matemáticas, teve grande repercussão no
debate arquitetônico contemporâneo quando Patrick Schumacher publicou um manifesto
definindo as arquiteturas digitais com a denominação de um novo estilo, o Parametricismo7
(SHUMACHER, 2008). Este manifesto amplia as discussões, nas quais a arquitetura não está
apenas associada a um novo conjunto instrumental de ferramentas digitais, mas sim a um
novo estilo e movimento.
Segundo Natividade (2012), ultimamente tem-se usado estratégias tecnológicas como
base de diversas abordagens metodológicas como, por exemplo, a parametrização e o uso
de algoritmos8. Essas abordagens não apenas utilizam ferramentas paramétricas para
criação de formas e modelos esteticamente diferentes, mas também criam algoritmos
modelo de alto nível de complexidade.
Uma grande possibilidade dos modelos paramétricos9 é permitir a exploração de aspectos
da concepção arquitetônica, especialmente aqueles de abordagem complexa. A concepção
estrutural do objeto arquitetônico tem muitas vezes essa característica inerente ao
comportamento estrutural. O objeto arquitetônico é essencialmente uma construção e
compreensão do fenômeno estrutural, enquanto a concepção da estrutura é parte
fundamental do processo de projeto. Nos cursos de arquitetura, os fundamentos deste
comportamento estrutural são muitas vezes abordados de modo introdutório, dificultando ao
6
São ferramentas computacionais que consideram, para criação e desenvolvimento da forma, elementos de
entrada e saída pré-determinados.
7
Termo criado por Patrick Shumacher, como o estilo arquitetônico do século XXI.
8
Conjunto de regras para resolução de problemas ou equações.
9
Modelos desenvolvidos em programas paramétricos ou através de parâmetros.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
aluno explorações mais profundas. Assim, pré-dimensionar estruturas pode ser um desafio para
os alunos durante a exploração projetual.
Pesquisas recentes mostram o potencial das tecnologias digitais, especialmente as
baseadas em modelagem paramétrica, em contribuir nas explorações do comportamento
1052
físico e estrutural de formas arquitetônicas complexas (MOTTA, 2014). Essas tecnologias
podem ser utilizadas para o desenvolvimento de ferramentas de apoio para o pré-
dimensionamento de estruturas arquitetônicas complexas.
3.2 Karamba
O Karamba é um plugin pago de análise estrutural para o Grasshopper que trabalha junto
com modelos tridimensionais no Rhinoceros. Foi criado em abril de 2014, tem sido
atualizado constantemente desde seu lançamento e possui uma avaliação de 5,0 em 5,0
pelos usuários do food4rhino.com10. Sua principal função é a análise de sistema estrutural de
vigas e pilares e suas respostas sob as cargas, sendo possível desde a criação de simples
vigas e treliças à otimização das posições de pilares.
O plugin permite diversos tipos de análises e possibilita uma gama de soluções. Deste
modo, cria resultados de diferentes abordagens e eficiência, sendo muito usado por grandes
escritórios de arquitetura e para o dimensionamento de formas complexas. No entanto,
apesar das diversas possibilidades que ele proporciona, apresenta barreiras para o amplo
uso por arquitetos e estudantes, principalmente por ser pago e com a versão estudantil
simplista e limitada. Outro ponto importante é o fato dele possuir diversas entradas
complexas que necessitam de conhecimento prévio em engenharia e fenômenos estruturais,
dificultando seu uso pelos estudantes.
Os principais comandos são os de análise do modelo e otimização das vigas e pilares. Seus
inputs11 são os elementos, que podem ser vigas, pilares ou malhas, a definição dos suportes e
cargas, e a definição do tipo estrutural. Os elementos estruturais podem ser definidos
conforme as normativas de diversas regiões – como os EUA, Rússia, Índia e Japão, entre outros
–, considerando as famílias de metais usadas em cada estado, e os tipos de perfis estruturais.
Para iniciar a análise no Karamba, são necessárias algumas etapas para a criação da
geometria e a análise da mesma. Inicialmente é preciso criar a geometria a qual será
utilizada para o estudo ou entrar com uma geometria já pronta, através de linhas ou malhas,
e convertê-la para o Karamba, como por meio do comando “Line to Beam”12 ou do “Mesh to
Shell”13. Como é possível verificar nas Figuras 1 e 2.
10
Site de plugins e diferentes softwares para Rhinoceros 3D.
11
Entradas específicas de cada comando, que variam de funcionalidade e recebem os elementos essenciais
para seu funcionamento.
12
Comando que transforma uma linha em viga;
13
Comando que converte uma malha em uma casca lida pelo programa.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1053
Os inputs do comando “Line to Beam” são, respectivamente: “Pontos” (Pts), que é a lista
de pontos que torna mais fácil referenciá-los no modelo; “Linha” (Line) para o comando
“Line to Beam” ou “Malha” (Mesh) no comando “Mesh to Shell”, responsável pela conversão
da geometria para o modelo; ”Novo” (New) que entra uma booleana14; “Remover”
(Remove) que remove linhas duplicadas; “Limite” (LDist), que é a distância limite para pontos
coincidentes – caso negativo, os nós serão testados pela proximidade da lista de pontos
entrados no comando; e identidade da "Viga” (BeamId), que é a entrada de um “Painel”
(panel), o qual, ao ser definido, possibilita a identificação da viga.
Para prosseguir, é necessário conectar a outro comando do Karamba, Figura 3,
responsável por criar o modelo, o “Assemble Model”15, que coleta todas as partes estruturais
do modelo, como vigas, suportes, materiais, cargas, entre outras.
O comando pode ser inicialmente ligado por “Nós” (Pts) ou “Elementos” (Elem), que
permite que o modelo crie as vigas. É necessário também definir um tipo de suporte e as
condições de apoio para translação e rotação. Ele pode ser fixado através de nós, pontos de
coordenadas ou índices, e é conectado com o comando “Supp”, do Karamba, Figura 4.
14
É um dado que possui dois valores, 0 e 1, que é respectivamente falso e verdadeiro.
15
Comando responsável pela criação de elementos finitos no modelo através da entrada de linhas, malhas,
entre outros.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1054
No “Assemble Model”, é possível também definir as “Cargas” (Load), que são vetores. Tanto
as cargas, quanto os suportes são definidos através de nós nas direções X e Y (Figura 5).
viga, que pode distinguir entre concreto, madeira, metal e alumínio. Dentro de cada família,
ainda é possível a definição do tipo do material. A Figura 6 ilustra o “Cross-section”,
enquanto a Figura 7 ilustra o “Material”.
Fonte: Organizado pelos autores, 2017. Fonte: Organizado pelos autores, 2017.
4. CONSIDERAÇÕES
1057 O projeto de pesquisa, a que deu origem o presente artigo, iniciou o desenvolvimento de
uma ferramenta paramétrica, ainda em processo, específica para estudantes de arquitetura
e arquitetos, que possuísse interface e funções para diferentes tipos de público na pré-
concepção estrutural. Pretende-se, assim, estimular o estudo de novas possibilidades e
explorações dentro da universidade.
Já existem várias iniciativas para a criação de ferramentas semelhantes e algumas já
possuem nível de abrangência e uso em diversas situações de concepção arquitetônica
estrutural. No processo de elaboração, compreendeu-se que, para o desenvolvimento de
ferramentas paramétricas, é necessário um conhecimento aprofundado tanto de
programação quanto de conceitos matemáticos e físicos. Para tal, é necessário o
envolvimento de profissionais de diversas áreas de conhecimento, em processo
multidisciplinar. Portanto notou-se, durante a pesquisa, a importância da participação do
profissional arquiteto na elaboração de ferramentas paramétricas.
A ferramenta será elaborada como um plugin de modelagem paramétrica do
Grasshopper3D, logo, será mais acessível para o público especializado, permitindo diferentes
tipos de funções e interações dentro do aplicativo. Inicialmente foram exploradas interfaces
que sejam de fácil compreensão e acesso ao estudante de arquitetura. O nome escolhido foi
DragonFly. A Figura 11 mostra a interface desenvolvida na pesquisa.
multidisciplinar da mesma. Os pontos a serem aprimorados dizem respeito aos esforços que
ocorrem nos elementos estruturais, especialmente os esforços devido a momentos, torção,
entre outros, tanto quanto aprofundamento em sua programação.
1058
AGRADECIMENTOS
À FAPEMIG, pelo apoio financeiro e técnico através da bolsa de iniciação científica, ao
PROBIC/PUC-MG e à PUC-MG por possibilitar o estudo e desenvolvimento da pesquisa.
REFERÊNCIAS
LOSS, A. Ornamento e Crime. Áustria, 1908.
MOTTA, S. R. F. Simulação estrutural e modelagem de formas arquitetônicas complexas: a interação
entre forma e estrutura através de ferramentas digitais. 2014. Dissertação (Doutorado) –
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014.
NATIVIDADE. V. G. Para além dos clichês paramétricos. In: XVI Congresso da sociedade
iberoamericana de gráfica digital. p.584-588, 2012. Disponível em:
<http://papers.cumincad.org/data/works/att/sigradi2012_355.content.pdf>. Acesso em: 23 jun.
2017.
PREISINGER, C. Linking structure and parametric geometry. Archit Design, 83, p.110-113, 2013.
SCHEEREN, R.; LIMA, D. L. C. O manifesto do Parametricismo: perspectivas acerca de um “novo estilo
global” para o design da arquitetura e do urbanismo. V!RUS, São Carlos, n. 11, 2015. [online]
Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus11/index.php?sec=4&item=5&lang=pt>.
Acesso em: 15 Abr. 2017.
SCHUMACHER, P. Parametricism as style: parametricist manifesto. 2008. Disponível em:
<http://www.patrikschumacher.com/Texts/Parametricism%20as%20Style.htm >. Acesso em: 15 Abr.
2017.
JOGO DO CONCRETO: TESTES REALIZADOS NA UNIVERSIDADE ANHEMBI
MORUMBI
RESUMO
O Jogo do Concreto é uma ferramenta didática de metodologia ativa, desenvolvida com o objetivo de
diversificar a forma de transmissão de informações em salas de aula e provocar um comportamento
de maior envolvimento do aluno com o conteúdo apresentado. Trata-se de um jogo de tabuleiro,
com perguntas e respostas sobre o assunto concreto, aplicado à arquitetura e à construção civil em
geral. São abordados conceitos teóricos sobre o material, seus componentes, tipos, formas de
execução, manifestações patológicas, características estruturais, comportamento perante esforços
ou agentes externos, sua relação com projetos arquitetônicos, etc. Além das questões técnicas e
arquitetônicas sobre o assunto concreto, o jogo também aborda questões educativas sobre o
comportamento dos alunos na escola, valorizando ações de boa conduta e penalizando ações que
não colaboram com o desenvolvimento do estudante. O projeto é um resultado de experiências
didáticas com jogos em salas de aula, que foram se aprimorando até chegar a este formato. O jogo
foi aplicado em cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil em 2016, com resultados
bastante positivos. Os alunos mostraram-se bastante motivados a aprender através da ferramenta e
apontaram diversas vantagens por ela apresentada, inclusive a possibilidade de ser usada em
processos avaliativos.
Palavras-chave: Jogo didático; Jogo do concreto; Metodologia ativa; Arquitetura e estruturas;
Arquitetura e concreto.
ABSTRACT
Jogo do Concreto is an active learning methodology based didactic tool, developed aiming to diversify
the way information is transmitted in classrooms and to improve the student involvement with study
contents. It is a board game, containing questions and answers about concrete, applied to
architecture and civil construction in general. It involves theoretical concepts about the material, its
components, types, execution, pathological manifestations, structural aspects, loading behaviors, its
relation with the project, etc. In addition to technical and architectural issues related to the concrete,
the game also involves educational issues about student behaviour at school, valuing good conduct
actions and penalizing actions that do not colaborate with student development. This game is a result
of many previous didactic experiences with games in classrooms and was applied both in Architecture
and Civil Engineering courses throughout 2016, with very favorable results. The students became very
motivated to learn with this tool and pointed out several advantages about it, including the possibility
of its use in evaluation processes.
Keywords: Didactic game; Concrete game, Active methodology; Architecture and structures;
Architecture and concrete.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
A prática da educação em sala de aula, durante muito tempo, seguiu um formato quase
padronizado, de aulas expositivas em quadro negro (ou similar). Este formato atualmente é
questionado, porque parece não se encaixar mais com o perfil dos alunos do século XXI.
1060 De acordo com Lira, o primeiro estabelecimento de ensino no Brasil, instalado em 1549,
apresentava uma prática didática tradicional, tendo o professor como elemento ativo e o
aluno passivo. Instauravam-se, em salas de aula, muita rigidez de normas disciplinares e o
autoritarismo do professor, cujo conhecimento era considerado inquestionável. Esse modelo
de ensino durou bastante tempo, até o início do século XX, quando o professor começou a
ser visto como um facilitador da aprendizagem e o aluno conquistou um papel mais ativo no
processo ensino-aprendizagem (LIRA, 2016).
Em seguida, com a ditadura militar, surgiu um movimento por escolas mais tecnicistas,
nas quais o professor era um técnico mais eficaz. O estudante passou então a receber um
ensino mais individualizado, sendo reprodutor de livros didáticos e de anotações do
professor, e perdeu o seu espaço criativo ou pensante. A queda da ditadura militar
novamente mudou esse panorama e fez surgir uma nova escola, motivada pelos anseios de
liberdade dos alunos. O professor passou a ser o educador e um parceiro dos alunos, capaz
de direcionar o aprendizado, porém com a participação intensa dos alunos, responsáveis por
fazer, criar e recriar a história e o seu conhecimento. Atualmente, observa-se um modelo
similar na educação, porém com a interferência de tecnologias diversas, que podem ser
facilitadoras de aprendizagem. E como uma das finalidades da educação é a humanização do
homem, aos estudantes é direcionado um papel mais social (LIRA, 2016).
O novo papel do estudante nos leva a analisar as aulas de maneira crítica, verificando a
sua capacidade de produzir conhecimento de fato. Não se admite mais o modelo de aula
focada no professor, com conhecimento irrefutável. As aulas devem ser focadas no aluno,
buscando o desenvolvimento de suas competências. Scallon expõe que isso envolve diversos
elementos, tais como a integração de saber fazer e saber ser, um sistema de conhecimentos
conceituais e procedimentos, o estado da pessoa, sua capacidade de agir e transferir, suas
habilidades (SCALLON, 2015, p.142). Os métodos de aulas devem ser assim aperfeiçoados,
de forma a permitir um bom aproveitamento das possíveis formas de comunicação entre
professores e alunos e de forma a centralizar a educação no aluno, especificamente. A
tecnologia pode ser grande parceira nesse sentido, oferecendo inúmeras possibilidades.
O Jogo do Concreto é uma ferramenta desenvolvida com o propósito de colaborar com essa
nova mentalidade de educação. Busca oferecer um bom aproveitamento de práticas didáticas
pelos alunos, possibilitando uma forma não tradicional de se adquirir e se transmitir
conhecimento e, possivelmente, configurando-se como uma forma de avaliação dos alunos.
usuários dos espaços criados. A segurança, ou como diz Vitruvius, a solidez, é fundamental É
justamente nesse aspecto que está a necessidade de conhecimentos técnicos por parte do
arquiteto. Nesse sentido, as palavras de Engel são bastante esclarecedoras:
Especialmente na arquitetura, a estrutura assume uma parte fundamental:
- A estrutura é o primeiro e único instrumento para gerar forma e espaço na
1062
arquitetura. Por esta função, a estrutura torna-se um meio essencial para modelar
o meio material do homem.
- A estrutura apoia-se na disciplina exercida pelas leis das ciências naturais.
Consequentemente, entre as forças de formação do projeto arquitetônico, as
linhas de estrutura são como uma norma absoluta.
- A estrutura em sua relação com a forma arquitetônica, apesar de tudo,
proporciona um espaço infinito de atuação. A estrutura pode estar completamente
escondida pela própria forma da construção: também poderá ser a própria
arquitetura.
- A estrutura personifica a tentativa criativa do projetista de unificar forma,
material e forças. A estrutura, então, apresenta um meio inventivo estético, para
ambos, forma e experiência de construção.
Em consequência, pode-se concluir que as estruturas determinam as construções
de maneira fundamental – suas origens, sua existência, suas consequências [...]
(ENGEL, 2001, p.19).
A receptividade do livro foi tamanha que ele já foi traduzido para diversos idiomas e
1063 lançado em diferentes edições em vários países.
Rebello, na prática da engenharia e no ensino de estruturas, optou por adotar formas de
ensino baseadas na observação e estudo de fenômenos físicos através de modelos
estruturais. O autor é a favor da “a separação entre o ensino da concepção estrutural e o
ensino do cálculo matemático das estruturas” (REBELLO, 2000). Nesse sentido, escreveu
diversos textos e livros voltados principalmente a estudantes de arquitetura e engenharia,
sempre com a preocupação de explorar as inter-relações entre estrutura e arquitetura de
forma didática e esclarecedora.
A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro
implementou uma ferramenta de ensino através de princípios da realidade aumentada,
também usando modelos estruturais reduzidos no ensino de sistemas estruturais. As
imagens de simulação de cargas feitas nos modelos físicos são capturadas por uma câmera e
transportadas para um software que faz a leitura de ações e reações sobre os elementos
estruturais. O projeto visa introduzir o assunto aos alunos de forma lúdica e adequada ao
seu perfil, após a constatação de que “uma das maiores dificuldades, em termos
pedagógicos, nos cursos de arquitetura é a interface entre as disciplinas de estruturas e as
demais disciplinas de projeto arquitetônico” (RODRIGUES et al., 2010).
Oliveira desenvolve um trabalho muito interessante, que nasceu com sua pesquisa de
mestrado e hoje cresce incessantemente. O autor criou sistemas de molas metálicas em escala
reduzida, capazes de gerar a denominada “Maquete Estrutural”, destinada a desenvolver um
estudo qualitativo das estruturas, através de diversos componentes metálicos auxiliares, que
possibilitam a montagem de infinitos sistemas estruturais. Suas peças estão espalhadas por
diversos países e comprovam a eficiência do modelo para a pré-avaliação do comportamento
de sistemas estruturais. Conforme o autor, “o manuseio da Maquete Estrutural, desde a
montagem até a aplicação do carregamento, mostrou-se muito importante na compreensão
do comportamento das estruturas analisadas [...]” (OLIVEIRA, 2008).
Essas práticas pedagógicas são exemplos do que diferentes ações com o mesmo objetivo:
facilitar o ensino de estruturas. Todas têm uma característica em comum: saem do formato
expositivo e oferecem uma experiência visual, e às vezes sensorial, aos seus usuários, com
uma preocupação clara de se oferecer a compreensão mais aprofundada dos conceitos
mostrados. O seu foco é justamente o usuário.
Lira diz que, em pleno século XXI, o professor deve atualizar-se com novas didáticas. As
Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTICs) surgem como facilitadoras de
aprendizagem (LIRA, 2016, p.32). Entre elas, está o computador, que pode oferecer grande
ajuda na aprendizagem, porém sem nunca poder substituir a mediação do professor – se
uma das finalidades da educação é a humanização do homem, isso não pode acontecer
somente com máquinas. Ainda assim, o autor defende que os modelos de ensino da escola
tradicional não são totalmente ultrapassados, podendo ser mesclados com as teorias dos
dias de hoje, desde que respeitando as necessidades dos alunos e a dinâmica da aula e do
assunto tratado. O professor deve ter atitude e postura profissionais, planejando e avaliando
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Percebe-se, por essas pesquisas, que o aluno que só ouve ou só lê retém pouco
conhecimento. São necessárias ações mais integradas, que promovam pelo menos duas
formas de absorção de informações. O professor precisa adotar estratégias diferentes da
aula tradicional para que suas exposições sejam absorvidas em uma porcentagem
convincente. Enquanto isso, cabe ao aluno mais do que simplesmente ouvir ou assistir a uma
aula. É de sua responsabilidade se envolver com o assunto tratado, discutindo-o e aplicando-
o em situações práticas.
Coelho também expõe fatores que definem a escolha de práticas educativas efetivas, entre
os quais, destacam-se: características individuais dos alunos, da turma e do professor;
objetivos educacionais; estrutura do assunto a ser tratado; nível de escolaridade; espaço físico
e de tempo a ser usado; materiais de apoio existentes e outros (COELHO, 2013). A escolha de
atividades que atendam a todos esses fatores poderia ampliar a disposição mental dos alunos
para adquirir novas ideias e atitudes. Nesse sentido, técnicas de ensino socializado podem ser
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
bastante eficazes, pois, a partir da interação mental e social, o grupo tende a desenvolver sua
capacidade cognitiva com significativa efetividade. O ensino de forma socializada aprimora o
desempenho dos alunos envolvidos, como consequência da multiplicação de ideias e da soma
de esforços. O professor é, nesses casos, responsável por evitar a tendência à formação de
1066
grupos conhecidos pelos alunos, organizando-os de forma mesclada.
Com relação ao ensino da arquitetura, especificamente, Saramago diz que se houver
deficiências no seu processo educativo, isso pode comprometer os profissionais na prática
da profissão. Sua pesquisa considera que existe uma conexão estreita entre o processo de
formação e a atuação profissional do arquiteto, defendendo que as reflexões
desenvolvidas durante a graduação contribuem para o desempenho futuro de um
profissional. Ao analisar aspectos didáticos e metodológicos de cursos de arquitetura no
país, a autora expõe sobre a possibilidade de ter ocorrido uma ruptura entre dois aspectos
do fazer arquitetônico: arte e técnica, o que originou um modelo de educação inadequado,
por ser muito fragmentado (SARAMAGO, 2011).
5. O JOGO DO CONCRETO
5.1 O desenvolvimento do jogo
O jogo do concreto foi resultado de um processo iniciado pela autora em 2012, na prática
de jogos em sala de aula. A primeira experiência desse tipo com os alunos ocorreu com a
atribuição para eles desenvolverem, em grupos, jogos de palavras cruzadas sobre assuntos
essencialmente conceituais, posteriormente resolvendo os jogos propostos por outros
grupos. O desenvolvimento foi feito com um software gratuito para a criação de palavras
cruzadas, entre os vários existentes na internet. A atividade mostrou-se bastante eficaz
como ferramenta auxiliar ao processo da memorização por parte dos alunos. Percebeu-se,
na ocasião, a prática dos jogos como um fator motivacional e no processo de assimilação de
informação. Palavras cruzadas foram posteriormente aplicadas como uma questão de prova
para os mesmos alunos participantes da atividade e o resultado foi surpreendentemente
positivo, com grande quantidade de acertos das questões apresentadas.
Posteriormente, a autora propôs a diversas turmas a criação de jogos de memória para a
disciplina Mecânica dos Solos, envolvendo o seu aspecto mais conceitual. Os alunos foram
orientados a desenvolver durante um semestre, aula a aula, questões para o jogo, que foram
devidamente corrigidas e melhoradas ao longo do processo. O produto final desta atividade
foi um jogo montado por cada grupo e posto à prova no final da disciplina, ao ser jogado em
sala de aula por outros grupos. A prática da criação de questões e do jogo em si lembrava os
conceitos envolvidos em montagens coletivas de quebra cabeças, revelando um alto nível de
cooperação entre os alunos participantes. A dinâmica do jogo foi capaz de motivar diversos
perfis de alunos a participarem intensamente da atividade, incluindo aqueles que se
mostravam mais dispersos ou desinteressados durante as aulas.
Após a prática dos jogos de memória, foi desenvolvido em 2015 o chamado “Jogo da
Arquitetura”. Sua proposta era oferecer aos alunos uma ferramenta de conhecimento de
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
questões do ENADE e de outros concursos em geral. O jogo era composto por perguntas de
concursos já realizados e o seu objetivo era que os alunos acertassem o maior número
possível de questões, andando sobre um tabuleiro com seus peões. Foi testado através de
um evento chamado “Campeonato da Arquitetura”, com alunos voluntários da Universidade
1067
Anhembi Morumbi. Seu formato ficou bem interessante e foi aprovado pelos participantes
do campeonato. Contudo, o jogo ficou muito lento, uma vez que as questões de concurso
usadas eram excessivamente longas, o que atribuía certa monotonia à atividade. Além disso,
o jogo havia sido feito com cartões numerados de perguntas e respostas e constatou-se que
o processo de busca pelos cartões numerados colaborava para que a atividade ficasse ainda
mais demorada. Curiosamente, observou-se que os alunos atraídos pelo campeonato tinham
um mesmo perfil, de pessoas mais calmas e dedicadas aos estudos. O jogo não atraiu os
alunos mais agitados ou dispersos.
O Jogo do Concreto foi desenvolvido com a proposta de juntar um pouco de cada
experiência anterior, somando os acertos e eliminando elementos que não haviam
funcionado bem anteriormente. Procurou-se criar um formato que permitisse uma atividade
dinâmica e capaz de atrair a atenção de diversos perfis de alunos. Assim, foi criado um jogo
de perguntas e respostas, com desenvolvimento sobre um tabuleiro. Para melhorar a
dinâmica das questões, elas foram formatadas em arquivo eletrônico a ser projetado na
ocasião do jogo em si, permitindo a todos os jogadores presentes enxergar a questão da vez
e se envolver na sua resposta. Para evitar a monotonia da repetição de ações e criar um
clima de competitividade no jogo, foram inseridas, entre as questões conceituais, situações
de sorte ou azar, que poderiam beneficiar ou prejudicar jogadores.
1068
passaram por pelo menos duas correções/ revisões. O aprendizado sobre o assunto
com o jogo começou nessa etapa e se desenvolveu ao longo de dois meses;
Motivar: com o espírito de competição entre os participantes, o jogo tem a intenção
de motivá-los a se envolver com o seu conteúdo e se expor mais ao assunto
1069
apresentado;
Entreter: com ilustrações bastante claras, perguntas objetivas e curtas, além de
situações inesperadas de sorte ou falta dela, o jogo foi proposto para ser uma forma
agradável de entretenimento;
Educar: com cartas de sorte ou azar, o jogo tem um papel educativo, de mostrar aos
alunos possíveis benefícios e malefícios de situações corriqueiras da sua vida
estudantil.
1070
1073
“Devo confessar que me surpreendi com o Jogo do Concreto. Apesar de ter dado um certo
trabalho, o jogo é interativo e bem divertido.”
1074 “O jogo é muito interessante, pois permite de maneira lúdica o aprendizado da matéria. Porém,
há questões muito complexas que necessitam de alternativas para serem melhoradas. O jogo
também permitiu a quebra de “panelas” da sala, assim diferentes pessoas conversaram entre si e
com a competividade do jogo, o clima ficou bem agradável.”
“Os pontos positivos do jogo foram o aprendizado e a interação do alunos. Pontos negativos,
não houve.”
“Esse método contribui para que os alunos aprendam de forma divertida e estimula a interação
entre os estudantes na discussão do conteúdo aplicado em aula. “
“O jogo foi uma ótima forma de interação entre os alunos. Foi uma maneira diferente de
aprendizado mais dinâmico.”
“Realmente proporciona conhecimento em tópicos dos assuntos tratados em aula. Maior ponto
positivo foi que as questões foram elaboradas pelos próprios alunos.”
“- Pontos positivos: proporciona uma dinâmica melhor para a aula e uma maior interação dos
alunos com o conteúdo. Uma didática diferente ajuda em um melhor aprendizado.
- Pontos negativos: nenhum.”
“Amei o Jogo do Concreto, uma forma muito descontraída de testar o conhecimento. Inclusive,
foi mais divertido que o jogo da memória, que era interessante. Porém, esse foi mais interativo.
Poderia repetir mais vezes.”
“Funciona basicamente como uma revisão de todo o semestre. Deveria ser repetido diversas
vezes [...] em todas as matérias com o conteúdo mais teórico. Acredito que atividades deste gênero
deveriam ser estimuladas mais vezes. Clareza = 10; conteúdo = 10; dinâmica = 10; formato = 10.”
“Achei interessante, didático e divertido como nova ferramenta no aprendizado. Para avaliações,
seria um novo método com menos pressão e maior interação da sala em um modo mais fácil de se
entender o conteúdo. “
6 CONSIDERAÇÕES
A educação está passando por um processo de mudanças profundas, buscando formas
mais eficazes de envolver os alunos no aprendizado. As formas de transmissão do
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
ABNT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e documentação -
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MÓBILE: UM PROTÓTIPO FÍSICO REPRESENTANDO O EQUILIBRIO DO CORPO
RÍGIDO
RESUMO
Diante da dificuldade dos alunos das disciplinas de Sistemas estruturais de concreto armado do curso
de arquitetura e urbanismo em compreender um sistema de forças e o equilíbrio do corpo rígido, foi
proposto como metodologia de ensino o desenvolvimento de protótipos físicos através da estrutura
de Móbiles para o aprendizado intuitivo do funcionamento das estruturas. O Móbile é uma estrutura
móvel, com elementos individuais conectados e suspensos por fios, cabos e barras, de maneira a
manter o equilíbrio total entre os elementos e a estrutura final. O trabalho tem por objetivo aplicar
os conhecimentos e habilidades na determinação de esforços em estruturas e seus elementos, pré-
dimensionamento de elementos básicos de estruturas, trabalhando com diferentes pesos dos
elementos e fixação em diversos níveis assimétricos dos elementos. A proposta visa à
interdisciplinaridade, utilizando, como tema de cada Móbile, itens já vistos em outras disciplinas.
Como materiais e métodos utilizados, as turmas foram divididas em equipes, posteriormente
realizou-se o sorteio dos temas a serem abordados por cada grupo, os alunos realizaram as
orientações em sala de aula e apresentam os resultados através de seminário e relatório do
desenvolvimento do processo, da produção dos elementos, da memória de cálculo da estrutura e da
verificação de equilíbrio final através da fixação do Móbile na sala de aula. A proposta de trabalho foi
aplicada em três semestres utilizados como avalição parcial das disciplinas de Sistemas Estruturais de
Concreto Armado e obteve resultados positivos na compreensão dos princípios de momento de
forças e equilíbrio do corpo rígido.
Palavras-chave: Equilíbrio; Torque; Vínculos; Protótipos.
ABSTRACT
Faced with the difficulty of the students of the disciplines of structural systems of reinforced concrete
of the course of architecture and urbanism in understanding a system of forces and the balance of the
rigid body, it was proposed as methodology of teaching the development of physical prototypes
through the structure of Mobiles for the Intuitive learning of structures. The Mobile is a mobile
structure, with individual elements connected and suspended by wires, cables and bars, in order to
maintain the total balance between the elements and the final structure. The aim of this work is to
apply knowledge and skills in the determination of efforts in structures and their elements, pre-
dimensioning of basic elements of structures, working with different weights of the elements and
fixation in different asymmetric levels of the elements. The proposal aims at interdisciplinarity, using
as themes of each Mobile items already seen in other disciplines. As materials and methods used, the
classes were divided into teams, later the lottery of the subjects to be approached by each group was
carried out, the students carried out the orientations in the classroom and present the results through
seminar and report of the development of the process, Of the production of the elements, of the
calculation memory of the structure and the verification of the final equilibrium by fixing the Mobile
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
in the classroom. The work proposal was applied in three semesters used as partial evaluation of the
disciplines of Structural Systems of Armed Concrete and obtained positive results in the understanding
of the principles of moment of forces and equilibrium of the rigid body.
1079
1. INTRODUÇÃO
O artigo discute aspectos intervenientes no ensino e na aprendizagem de estrutura nas
escolas de Arquitetura, com vistas ao seu aprimoramento. Demonstra a relação intrínseca
entre forma de um modelo projetual e sua estrutura, e a responsabilidade do acadêmico de
arquitetura e urbanismo na compreensão dos sistemas estruturais e de suas concepções
como futuro arquiteto. Apresentam-se propostas de procedimentos e modelos didáticos
para compreensão das disciplinas de Introdução aos Sistemas Estruturais e Sistemas
Estruturais de Concreto Armado, com ênfase nos desafios da vida profissional, em especial, a
aplicabilidade das teorias sobre equilíbrio dos corpos rígidos e momento das forças em
relação a um eixo fixo.
A maioria das concepções que os estudantes trazem para a sala de aula é oriunda das
primeiras situações problemas que os mesmos foram apresentados e assim capazes de
dominar ou das experiências adquiridas tentando modificá-las. Por exemplo, se o professor
de Introdução aos Sistemas Estruturais perguntar para os alunos, em uma aula teórica de
equilíbrio de corpo Rígido, a respeito da situação de equilíbrio de um corpo apoiado sobre
uma base e a representação das forças que estão atuando sobre ele, a maioria dos alunos irá
representar em função de concepções trazidas do cotidiano. Muitas vezes estes alunos
representam apenas as forças de ação no corpo e não de reação demonstrando que
compreendem a teoria, porém, não a prática, pois deveriam detectar as forças de ação e
reação bem como suas direções, sentidos e módulos provenientes do contato com a base.
As concepções acompanharão os processos de aprendizagem dos alunos, durante sua
vida acadêmica. A construção do conhecimento para eles, neste caso, pode tornar-se um
processo difícil, sinuoso, com etapas de avanços e retrocessos, continuidade e
descontinuidade. Segundo Carvalho Júnior (2008, p.212):
Um conceito não se forma a partir de um só tipo de situação, o que sugere a
necessidade de se diversificarem as atividades de ensino em um movimento que
permita ao sujeito a aplicação de um dado conceito em diversas situações e que faça
a integração entre as partes e o todo. A necessidade de diversificação de situações
cumpre um papel importante na conceitualização, pois fornece uma base para que os
estudantes possam testar seus modelos explicativos em contextos diversos.
Quando lembramos que este conceito já foi visto anteriormente com outro nome, o aluno
começa a compreender a teoria e o desenvolvimento do exercício prático. Ainda assim
existe uma grande dificuldade em relacionar os exemplos numéricos com os elementos
reais; desta forma, a elaboração de modelos físicos com a proposta de estruturas reais,
1080
como, por exemplo, vigas, pilares, lajes, cargas variáveis e cabos, facilitam o aprendizado.
As sequências didáticas que tenham como objetivo apresentar aos alunos situações-
problema, nas quais os mesmos possam aplicar seus conhecimentos prévios desenvolvidos
em outras disciplinas sobre um determinado conteúdo do currículo, são procedimentos que
facilitam a exploração do conhecimento de novos conceitos e dos já adquiridos pelos alunos,
sendo que este processo poderá culminar em uma aprendizagem interdisciplinar.
É importante identificar se os exemplos aplicados e os protótipos físicos desenvolvidos
representam os conceitos de equilíbrio estático de corpos rígidos e não apenas a aplicação
de conceitos empíricos sobre o tema. Durante a elaboração do trabalho proposto, foi
possível observar que provavelmente existe uma grande descontinuidade entre
compreensão da teoria com a prática, entre as concepções prévias sobre o tema e os
conhecimentos científicos apresentados na disciplina. Quando inseridos e inter-relacionados
no processo de desenvolvimento do protótipo, existe uma grande dificuldade em aplicar as
forças de reações existentes, o peso dos cabos, das barras e a localização dos eixos de
aplicação das forças dos elementos, para que venham realmente atingir um estágio de
conhecimento científico.
O modo como o conhecimento científico é transmitido ou construído nos processos de
ensino e aprendizagem de ciências é assim definido por Pereira (2008, p. 17):
Um conhecimento é considerado científico, quando o mesmo é compartilhado por
um grupo de pesquisadores, que formam uma comunidade científica. Nesse
compartilhamento de ideias e pensamentos, representa-se uma forma de
conhecimento que é simultaneamente simbólica por natureza e ajustada por uma
sociedade. Considerar que o conhecimento científico é construído, negociado e
validado por uma sociedade, nos faz refletir como esse conhecimento é difundido
em salas de aulas por todo o mundo.
desta forma, não adiantava apenas apresentar conceitos de estrutura, mas relacionar com
os temas propostos. A sequência de ensino foi desenvolvida em 5 aulas, em cada semestre
letivo. O tempo destinado à coleta de dados se estendeu por esse tempo devido às
características do trabalho proposto, cuja questão central era a verificação de como evoluem
1081
os modelos explicativos dos alunos ao longo da sequência de ensino e em que medida as
escolhas realizadas potencializaram a aprendizagem multidisciplinar dos estudantes.
Partindo do pressuposto de que o tempo de aprendizagem nem sempre coincide com o
tempo do ensino teórico, a pesquisa envolveu um período maior que o destinado ao
cronograma de aulas sobre o assunto para que fosse possível acompanhar a evolução dos
modelos conceituais dos estudantes, o que envolve período de pesquisa, construção e
montagem do protótipo.
2. CONCEITOS DE EQUILÍBRIO
O equilíbrio de um corpo rígido está associado à ausência de movimentos de translação e
rotação em um determinado corpo. As condições de equilíbrio são estabelecidas em função
de equacionamento de forças que atuam em um determinado corpo rígido e estas forças
possuem módulos e direções, cuja resultante deve ser nula.
Quando uma partícula está em equilíbrio no espaço tridimensional, devem-se usar as três
equações de equilíbrio (1).
∑ Fx = 0 ∑ Fy = 0 ∑ Fz = 0 (1)
MO = F . r (2)
O equilíbrio do corpo rígido pode ser representado através do diagrama de corpo livre, com
suas forças atuantes, seus módulos, suas direções e seus pontos de atuação. Um dos exemplos
de modelos físicos que representa um sistema de formas é a estrutura de um Móbile.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1082
O móbile foi inicialmente sugerido por Marcel Duchamp para uma exibição de 1932, em
Paris, representando o maior exponente da escultura móbile (PERISSINOTO, 2000). Esta
estrutura pode ser desenvolvida com diferentes materiais e suas forças podem estar
aplicadas em diversos pontos da estrutura, no entanto, a grande relação com a teoria do
equilíbrio do corpo rígido está em equilibrar todas estas forças em um único modelo.
3. METODOLOGIA APLICADA
As características apresentadas neste projeto, que lhe conferem um caráter de pesquisa
qualitativa, baseiam-se no fato de tratar-se de uma pesquisa descritiva em que o processo é
mais relevante do que os próprios resultados finais da pesquisa (BOGDAN; BIKLEN, 2008).
O trabalho foi desenvolvido em três etapas: apresentação teórica dos conceitos; a
segunda foi o desenvolvimento dos protótipos e processo de cálculos; e a terceira com a
apresentação do seminário, dos modelos e entrega dos relatórios.
A primeira etapa do trabalho consistiu em apresentar a teoria de equilíbrio de forças,
somatório das forças dos eixos cartesianos e momento de uma força em relação a um ponto
fixo. Os alunos assistiram a aulas teóricas sobre o equilíbrio estático dos corpos rígidos, com
duração de quatro aulas, distribuídas em dois dias.
A aula expositiva foi utilizada como o recurso de apresentação verbal e visual dos
conceitos e para relembrar seus conhecimentos prévios a respeito do tema, utilizando a
linguagem, a nomenclatura e a simbologia apropriada ao estudo do Equilíbrio de Corpo
Rígido. Este recurso foi fundamental, nesta etapa do projeto, utilizando a linguagem, a
nomenclatura e a simbologia apropriada ao estudo, as situações de aplicações das leis de
Newton, como a ação e reação.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 2 – Aluna desenvolvendo móbile sobre o tema Janelas – confeccionando a carga de cada
elemento – turma de Introdução aos Sistemas Estruturais do primeiro semestre 2017.
Figura 3 – Alunos desenvolvendo móbile sobre o tema coberturas localizando a aplicação da força –
turma de Introdução aos Sistemas Estruturais do primeiro semestre 2017.
1084
Esta etapa foi fundamental para a compreensão da teoria relacionada com a prática das
estruturas arquitetônicas: como, para cada estrutura, os alunos deveriam pesar os
elementos a serem utilizados e o móbile final deveria atender ao conceito de equilíbrio de
corpo rígido, todos os cálculos de momento de uma força e de equilíbrio total da estrutura
(Figuras 4 e 5) deveriam ser apresentados no seminário e, através de relatório,
representando o processo de aplicabilidade da teoria na prática da produção do móbile.
Figura 5 – Imagem do slide apresentado pelo grupo do tema arquitetura barroca – turma de Sistemas
Estruturais de Concreto Armado do segundo semestre 2016.
1085
Figura 6 – Imagem da Exposição dos móbiles da turma de Introdução aos Sistemas Estruturais do
primeiro semestre 2017.
Figura 7 – Imagem da apresentação do seminário dos móbiles da turma de Introdução aos Sistemas
Estruturais do primeiro semestre 2017.
1086
Na apresentação dos seminários, foi solicitada aos alunos a elaboração de material a ser
projetado e disponibilizado para toda a turma em meio digital, a pesquisa sobre o tema a ser
trabalhado no modelo físico, o desenvolvimento do protótipo e suas decisões sobre cargas,
materiais e pontos de aplicação e suas conclusões (Figura 6 e 7). A proposta de disponibilizar
1087
para a turma veio do conceito de compartilhar a informação e criar um banco de dados
sobre os temas trabalhados.
No relatório técnico, foi solicitado, além do processo produtivo, uma autoavaliação
através de um quadro com cronograma de atividades de cada membro (Quadro 1), bem
como as críticas sobre o trabalho proposto.
4. CONSIDERAÇÕES
Durante o processo de desenvolvimento deste trabalho, foi possível identificar os
principais problemas de compreensão e dificuldades dos conceitos prévios dos alunos a
respeito das condições de equilíbrio.
O envolvimento dos estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo no trabalho produz,
sem dúvida, a concretização da construção da aprendizagem onde o aluno pode criar uma
relação direta da teoria com a prática. Consideramos este objetivo alcançado quando
desenvolvemos todo o processo da elaboração do protótipo, as propostas e concepções
alternativas dos alunos para o Equilíbrio do corpo Rígido, a abordagem através de várias formas
de exposição da teoria e a simulação através dos cálculos numéricos desenvolvidos pelos alunos.
Foi possível identificar, através deste trabalho, que outros elementos arquitetônicos e
técnicos das demais disciplinas abordadas como tema dos protótipos se fizeram representar
através de pesquisa de forma, dimensões e técnicas construtivas, criando uma
interdisciplinaridade no futuro profissional.
Ainda que a interdisciplinaridade esteja prevista no projeto pedagógico do curso, tendo o
eixo de projeto integrado de arquitetura, urbanismo e paisagismo, a motivação do exercício
é fruto de experiência dos autores que ensinam disciplinas de estruturas e disciplinas de
projeto arquitetônico.
A proposta do móbile como elemento de aprendizagem facilita a compreensão e traz
para o âmbito acadêmico de arquitetura e urbanismo uma abordagem lúdica para disciplinas
que apresentam grande índice de reprovação. Os resultados avaliados nas turmas em que foi
aplicado o modelo mostram grandes melhorias conceituais nos alunos participantes,
demonstrando profissionalismo e maturidade inclusive no processo de auto avaliação.
Como continuidade deste trabalho, pretende-se ampliar outros modelos para demais
conceitos curriculares das disciplinas de sistemas estruturais no curso de arquitetura e
urbanismo da UNIFACS, ampliando a interdisciplinaridade e a aplicabilidade da estrutura nos
futuros projetos.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a participação e dedicação dos alunos que desenvolveram e realização um
excelente trabalho dos protótipos dos móbiles nos semestres e turmas já citadas, bem como
a colaboração dos colegas docentes durante as orientações extraclasse.
1088
REFERÊNCIAS
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Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências e Matemática,
Universidade Luterana do Brasil, Canoas, 2008.
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Dissertação (Mestrado) – Curso de Artes da Escola de Artes e Comunicação, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2000.
O ENSINO DE DESENHO ARQUITETÔNICO ATRAVÉS DO ENTENDIMENTO
TÉCNICO-CONSTRUTIVO
ACHÁ, Edgar Fernando Adriazola (1); BORBA, Isabel Maria de Melo (2); TAMASHIRO, Heverson
Akira (3)
(1) UTFPR, e-mail: edgaracha1@gmail.com; (2) UTFPR, e-mail: isabelmb2@gmail.com; (3) UTFPR, e-
mail: heversontamashiro@gmail.com
RESUMO
A pesquisa na docência de um dos autores é na área do ensino de desenho arquitetônico, com
ênfase no entendimento técnico-construtivo e sua correta representação gráfica, desde seu
doutorado concluído em 2010. Desde antes da docência, nos escritórios de arquitetura, verificava
essas deficiências dos alunos estagiários e arquitetos recém-formados, conteúdos fundamentais e
complementares. Por meio de exercícios e análise das respostas dos alunos, os professores de
desenho arquitetônico trabalham na linha do entendimento técnico-construtivo por um viés prático,
com a aproximação do olhar na construção. Assim, com mais conhecimento, os alunos elaboram seus
desenhos arquitetônicos. Os professores abarcam conteúdos relacionados ao sistema construtivo
alternativo à alvenaria, que é a construção metálica, sobretudo da estrutura, que dará sustentação a
tudo: sistemas de pisos, fechamentos, cobertura, revestimentos, etc. À primeira vista, parecendo ser
muito complexo para um aluno de segundo semestre, os professores iniciam aos poucos, com
exercícios menos complexos, mas com o olhar na construtibilidade. Por fim, propõem um edifício
metálico, dois pisos, para que elaborem o desenho arquitetônico, com entendimento básico de
estrutura (esqueleto do edifício), piso, fechamento e cobertura. Apresentam fotos de obras, vídeos
de construção metálica, didáticas perspectivas explodidas e maquete física elaborada por um grupo
de alunos. Além disso, os professores levam parafusos e pedaços de vigas e perfis para a sala de aula.
Resulta que aproximadamente um terço deles assimila com bastante consistência esse aprendizado
técnico-construtivo. Outro terço, razoavelmente; e outro terço fica com um conhecimento menor.
Palavras-chave: Desenho arquitetônico; Técnica construtiva; Estrutura.
ABSTRACT
The research of one of the authors is in the architectural drawing teaching area with emphasis in the
understanding of the technical-constructive methods and its exact graphic representation, since his
PhD completed in 2010. Before the teaching experience, disabilities regarding this topic –
fundamental and complementary contents – was verified in trainee students and just graduated
architects in architecture offices. Through exercises and analysis of students’ responses, the teachers
of architectural drawing work on the understanding of the technical-constructive methods process
with a practical proposal, with approach in the construction method point of view. In this sense, with
greater knowledge, the students work on their architectural drawings. The teachers introduce
contents related to constructive methods which are alternatives to masonry, such as steel frame
construction system, especially regarding the structure which will be the main support for: floors,
closure, roof, wall covering, etc. At first sight, it might seem complex for a first year student, so the
teachers introduce the exercises methodically, through less complex exercises with approach in the
constructability. In the end, it is purposed for the students to work on the architectural drawing of a
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
two-floors steel frame building, with basic understanding of the structure (frame of the building),
floor, closure and roof. It is presented photos and videos about steel frame, didactical exploded
perspective views and a physical model made by a group of students. Furthermore, the teachers bring
to the class materials such as screws, rafter parts and construction profiles. It is concluded that
approximately one third of the students assimilate this constructive method with good
understanding. The other third, fairly; and the last third acquire limited knowledge.
1090
Key-words: Architectural drawing; Technical-constructive methods; Structure.
1. INTRODUÇÃO
Com este trabalho, objetivamos a melhoria do ensino de desenho técnico arquitetônico,
ferramenta indispensável para o desenvolvimento de projeto de arquitetura. Trata-se de um
modo de ensinar esse conteúdo através do entendimento técnico construtivo primeiro e,
depois, de sua correta representação gráfica. Professores, pesquisadores, arquitetos em
seus escritórios têm reparado, desde há muito tempo, que a maioria dos estudantes de
arquitetura e arquitetos recém-formados desenham pouco, não desenham tão bem e nem
entendem satisfatoriamente a construção. Detectamos algumas falhas na maioria das
escolas de arquitetura: a do desenho (ou não desenho) e a falta de entendimento técnico
construtivo. A maioria dos estudantes é mais treinada e capacitada para a concepção do
partido arquitetônico e da forma e deixa em segundo plano a viabilidade técnica construtiva
– com seu desenho técnico menos detalhado, muitas vezes mascarado com perspectivas
muito bem ilustradas eletronicamente. Formamos um arquiteto com todas as prerrogativas
de teoria, história e crítica da arquitetura, conteúdos imprescindíveis e falhamos no ensino
do arquiteto construtor. Estas constatações vêm sendo percebidas pelos professores e
arquitetos que se queixam de que os alunos desenham mal (ou não desenham) e/ou que
demonstram pouco entendimento técnico construtivo.
É o caso de um dos autores que, no trabalho profissional de projeto de arquitetura,
reparava nessas deficiências dos alunos estagiários e iniciou a coletar essas deficiências,
instigado em como solucionar essas falhas. Como professor na área de desenho
arquitetônico, depois de quase vinte anos de formado, detecta em muitas escolas a
diminuição das horas de desenho técnico em detrimento de outros saberes necessários para
a formação do arquiteto. Em seus estudos de Mestrado, estuda a constatação do atual
ensino de desenho técnico arquitetônico nas escolas brasileiras de arquitetura (TAMASHIRO,
2005). Em seguida, no Doutorado (concluído em 2010), propõe uma possibilidade de
inovação no ensino de desenho técnico arquitetônico a partir do entendimento técnico
construtivo (TAMASHIRO, 2010).
Este trabalho tratará de um caso particular de ensino de desenho técnico de uma
edificação em estrutura metálica a alunos de segundo período da disciplina de desenho
arquitetônico, por meio do entendimento construtivo.
Professores e profissionais da área de Estruturas também se debruçam a pesquisar como
os alunos aprendem Estruturas. É o caso, por exemplo, da pesquisa de Rita de Cássia Pereira
Saramago (2011) sobre o ensino de Estruturas nas escolas brasileiras de Arquitetura. Já
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2. DESENHOS PRELIMINARES
1091 Entendemos que capacitar os estudantes de arquitetura em desenho técnico
arquitetônico, disciplina da área de fundamentos no projeto pedagógico de um curso de
arquitetura, é transmitir-lhes e treiná-los para praticar desenhos de implantação, plantas de
todos os pavimentos, desenhos de cortes e elevações e ilustrações perspectivas. Para isso,
antes, possivelmente em outras disciplinas, o aluno capacitou-se em desenho geométrico e
geometria descritiva. Também deve ter aprendido a treinar o desenho de croquis, primeiros
esboços e o desenho de observação. Em algumas escolas, alguma iniciação em CAD, talvez.
Esse conjunto de disciplinas objetiva a competência do aluno na área da linguagem gráfica
da arquitetura, do estudante de arquitetura e urbanismo saber comunicar-se graficamente.
O curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(UTFPR), que tem quase dez anos, foi criado por professores arquitetos e engenheiros a
partir do Departamento Acadêmico de Construção Civil (DACOC), que detém os cursos de
Engenharia Civil e alguns cursos técnicos e tecnológicos em extinção. Recentemente os
professores do curso de Arquitetura se desvincularam e criaram um novo Departamento: o
Departamento Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo (DEAAU). A UTFPR era o antigo e
reconhecido CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológico do Paraná. Antes ainda, Escola
Técnica e Escola de Aprendizes Artífices, remontando sua história de quase 108 anos de
tradição de ensino técnico. O Curso de Arquitetura foi concebido com um viés de formação
tecnológica, trazendo para si toda a experiência de Escola Técnica. Os alunos ingressam por
meio do sistema ENEM/SISU e vêm de diversos estados do Brasil. No exame do vestibular,
não passam pela prova de habilidade específica de desenho, geometria e composição, como
muitas outras escolas de arquitetura, sobretudo as particulares.
Os alunos perfazem uma gama diversificada, ora pelas suas origens, advindo de diversos
estados, ora pelo seu pouco treino em desenho, condição não contemplada no seu ingresso
no curso, pois não têm a prova de habilidade específica. Mas alguns vêm de escola técnica.
Muitos deles vêm com dúvidas de sua escolha e se apaixonam pelo curso. E, a partir daí,
todos acabam se derivando para as diversas áreas da arquitetura: projeto, urbanismo, teoria
e história, etc. No entanto, todos têm que passar pela capacitação e treino em desenho e
entendimento construtivo.
A matéria de desenho arquitetônico que os autores lecionam no curso de Arquitetura e
Urbanismo da UTFPR é dividida em duas disciplinas semestrais: Meios de Expressão 1 para o
primeiro período e Meios de Expressão 2, segundo período. Após alguns exercícios de
instrumentos de desenho à mão (régua paralela, esquadros, lapiseira, etc.), desenho de
isométricas e breves perspectivas, os professores transmitem aos alunos os conteúdos
básicos de plantas, cortes e elevações.
Para os desenhos de corte, os professores explicam detalhadamente uma construção
convencional em alvenaria e estrutura de pilares, vigas e lajes em concreto, sempre
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
apresentando fotos de obras. Os exercícios de corte são os mais exigentes, em que os alunos
devem provar que sabem “puxar” da planta (geometria projetiva) e que sabem da
construtibilidade (viga baldrame, viga, laje, piso acabado, etc.). Os alunos aprendem também
cálculo e desenho de escadas, esquadrias e telhados com tesoura em madeira e telha de
1092
barro, a cotagem, etc.
Na segunda metade do segundo período, lhes é proposto desenhar um projeto completo
de uma edificação simples em estrutura metálica. Ao falar do material (aço) e seus
desempenhos, é também explicado o que é um sistema de montagem, de ligações, etc. Além
de falar da ligação viga-pilar e viga-viga, é preciso falar das conexões para os sistemas de
pisos, fechamentos e cobertura. São conteúdos complexos para alunos iniciantes de curso.
Por isso, antes, são propostos exercícios de aproximações ao objeto complexo. Propõem-se
exercícios que apuram o olhar do estudante ao detalhe, até chegar ao “parafuso”.
1093
Thomaz French (1985, p.550) escreve que “as pessoas que não estão familiarizadas com
os problemas e com os métodos possíveis de solução, estão impossibilitadas de executar um
projeto”. Assim, em primeiro lugar, um projetista deve ter conhecimento profundo de todos
os elementos envolvidos.
1094
1095
Figura 7 – Parte do desenho técnico de um aluno do fechamento sobre parede da fachada da fábrica.
Figura 8 – Parte do desenho técnico de um aluno do fechamento sobre parede da fachada da fábrica.
Figura 10 – Imagens ilustrativas da ligação de pilar e viga metálica, ligações de vigas metálicas,
sistema de piso com painel tipo “wall”, sistema de fechamento em chapa trapezoidal.
Figura 11 – Imagem ilustrativa de simulação de corte passando por um trecho de uma fachada em
vista, parede com janela, com divisória em gesso acartonado, em escada de concreto, parede
interna, vão em alvenaria e parede com porta para o exterior da edificação.
Figura 12 – Fotos de recursos de desenho, maquetes físicas e simulações eletrônicas 3D para melhor
ilustrar e facilitar a compreensão da construção do edifício metálico.
1099
chapas. Entra aí um dispositivo de ligação, com furo oblongo, alongado, prevendo uma
regulagem milimétrica de afastamento ou aproximação, já visto no exercício de fechamento
da fábrica com as paredes irregulares.
Figura 18 – Desenho técnico do sistema de fechamento e do sistema do piso com painel tipo “wall”,
elaborado por uma aluna.
1101
Figura 19 – Partes do desenho técnico final do edifício metálico, elaborado por uma aluna.
Sendo assim, o primeiro desenho que os alunos devem produzir é esse entendimento da
ligação da chapa nas longarinas e a ligação dessas nas vigas periféricas do edifício. Fazem o
desenho de um pedaço da planta e do corte em escala 1:5. E elaboram uma perspectiva
isométrica para entender. Depois é que desenham as plantas, cortes e elevações em 1:50 ou
1102
1:25. Assim, desenham com mais segurança, pois já enfrentaram e entenderam o problema
do fechamento (Figura 18).
Os desenhos finais são elaborados a mão, em folhas de papel croquis, tamanho 70 x 50
cm, com instrumentos de régua paralela e esquadros. Após entender o esquema das
conexões metálicas, que é uma espécie de “lego”, os alunos se debruçam em desenhar as
plantas, cortes e elevações. O trabalho é individual (Figura 19).
Os professores mostram desenhos prontos de alunos de semestres anteriores. Assim,
podemos explicar a quantidade de pranchas e de peças gráficas, diagramação, espessuras de
traço, algumas cotas necessárias, indicação e endereçamento de detalhes, acabamento dos
desenhos, etc. Nesse sentido, as dúvidas de diagramação já são sanadas visualmente e podemos
nos fixar em cobrar dos alunos o entendimento técnico construtivo e sua correta representação.
Figura 20 – Resultado dos desenhos técnicos de uma prova avaliativa sobre estrutura metálica,
elaborados por uma aluna.
4. CONSIDERAÇÕES
O Curso de Arquitetura da UTFPR possui em seu projeto pedagógico um viés tecnológico.
Nas disciplinas de projeto arquitetônico, os professores cobram de seus alunos desenhos de
detalhamento. Solicitam também desenhos de cortes setorizados ou de envoltória, na escala
1:20 ou 1:25, forçando o aluno a entender e representar a construtibilidade. Os professores
de Tecnologia colocam em prática exercícios de tesouras em coberturas de madeira,
impermeabilização, construção de paredes em gesso acartonado, revestimentos, etc.
Nas disciplinas de Meios de Expressão 1 e 2, nos dois primeiros períodos, os alunos se
capacitam e treinam conteúdos de desenho técnico arquitetônico através do entendimento
técnico construtivo. No último exercício, elaboram desenhos de uma edificação em estrutura
metálica, o que os leva a entender a lógica dessa construção, a precisão milimétrica das
peças e das ligações, os parafusos, o sistema de piso industrializado, etc. O intuito desse
exercício de edifício metálico, já no segundo período de curso de arquitetura, permite ao
aluno propor soluções construtivas alternativas à da alvenaria convencional, caminhando
para a construção industrializada.
Para o entendimento da complexidade desses exercícios, os professores se desdobram
em trazer para a sala de aula fotos de obras, já que visitar obras seria muito difícil em turmas
grandes. Trazem também pedaços de perfis metálicos. Aos poucos, introduzem os alunos na
realidade das obras. Os professores também promovem exercícios que se aproximam os
alunos para o olhar ao detalhe construtivo. Elaboram também maquetes virtuais para
poderem enxergar, por diversos ângulos, a edificação. Recursos de vídeos também são
apresentados. Por fim, desenhos de perspectivas explodidas para explicar os revestimentos
ou algum detalhe do sistema construtivo metálico.
Ainda que seja um desafio complexo para alunos de segundo período, os resultados são
favoráveis ao aprendizado. Analisando os desenhos dos alunos – trabalho e prova de
avaliação –, percebemos que um terço deles entenderam completamente a construção
metálica e sua representação gráfica. Outro terço alcançou médio entendimento, mas
enxergamos potencial de melhora ao longo do curso, pois absorveram a cultura do
detalhamento. Outro terço deixou a desejar, pelas dificuldades, seja de entender
construção, seja da sua correta representação gráfica.
O que constatamos é que aplicam aos poucos em seus projetos arquitetônicos nos anos
subsequentes. E pedem assessoria aos professores e acabam completando o ciclo desse
aprendizado técnico construtivo na sua formação de arquiteto construtor.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
O agradecimento destina-se a todos os estudantes de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Positivo e da UTFPR, desde o ano de 2009, para quem ministramos esses
conteúdos de entendimento técnico-construtivo em estrutura metálica e sua correta
1104 representação gráfica. São eles o nosso suporte final de resultados, através de suas questões
e dúvidas e desenhos realizados. Agradecemos também a todos os professores e
profissionais da área de estrutura e instalação metálica que nos ajudaram a sistematizar
esses conhecimentos. Sobretudo, queremos agradecer os alunos – alguns já arquitetos –
André Martini Braz, Ariane Mariano de Lacerda, Bianca Mendonça Rodrigues, Cristiano
Maciel, Daniel Lima Ribeiro, Elisa Beatriz Trombetta, Fernanda de Miranda Muller Cwiertnia,
Francine Kaviski, Gabriel Casconi Della Santa, Giovana Isabela Spanhol, Iara Camillo
Magrinelli, Ingrid Carina Landau Hirsch, Isabelle Barcelos Malaquias, Juliana Hitomi Hara,
Letícia Gonçalves dos Santos, Matheus Henrique Cruzara, Raquel Guidolin de Paula, Renan
Rafahel Bagnolin Arruda, Rodrigo Vinci Philippi e Yasmin Bertola, cujos desenhos, maquetes
ou desenhos eletrônicos aparecem neste trabalho.
REFERÊNCIAS
ABNT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e documentação -
Referências - Elaboração. Rio de Janeiro, 2002.
______. NBR 6492: Representação de projetos de arquitetura. Rio de Janeiro, 1994.
LEITE, M. A. D. F. A. A aprendizagem tecnológica do arquiteto. 2005. Tese (Doutorado) – Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
SARAMAGO, R. C. P. Ensino de estruturas nas escolas de Arquitetura do Brasil. 2011. Dissertação
(Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2011.
FRENCH, T.E.; VIERCK, C.J. O desenho técnico e tecnologia gráfica. Porto Alegre: Globo, 1985.
TAMASHIRO, H. A. Desenho técnico arquitetônico: constatação do atual ensino nas escolas
brasileiras de arquitetura e urbanismo. 2003. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2003.
________. Entendimento técnico-construtivo e desenho arquitetônico: uma possibilidade de
inovação didática. 2010. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São
Paulo, São Carlos, 2010.
O ENSINO DE PROJETO ATRAVÉS DE MAQUETES CONSTRUTIVAS
RESUMO
O presente trabalho procura relatar experiência didática da disciplina de Projeto Arquitetônico IV,
que aborda um anteprojeto para o Museu de Arte Contemporânea de Porto Alegre/RS. O artigo foca
especificamente no exercício de detalhamento, a partir da elaboração de maquetes construtivas em
escala 1:50, em que a materialidade e o raciocínio projetual se expressam através de um estudo de
uma parcela do edifício em corte. Dentro das atividades de ateliê, houve a intenção de ampliar a
utilização da maquete como um método de investigação prática. Através da incorporação desta
atividade, objetivou-se a possibilidade de o aluno aprofundar suas tomadas de decisões, buscando
maior consequência nas escolhas construtivas, assim como observar a partir destas determinações
suas influências nos aspectos funcionais, formais e estéticos da solução arquitetônica. Num primeiro
momento, são realizados os desenhos bidimensionais e tridimensionais que darão suporte ao
processo de construção das maquetes pelas duplas de trabalho. A escala escolhida permite a
representação de elementos primários e secundários da estrutura, além de revestimentos internos e
externos, planos de laje/piso, coberturas e elementos estruturais diversos. A apresentação das
maquetes deve contemplar uma “fatia” completa do edifício, previamente selecionada através de
critérios que os professores determinam para toda a turma. A partir desta abordagem, foi possível
verificar no ateliê de projeto a utilização de práticas que possam aumentar o seu grau de
comprometimento e experimentação dos sistemas construtivos e estruturais, verificando aquelas
decisões que foram tomadas nos desenhos previamente elaborados.
Palavras-chave: Ensino de projeto; Maquete; Construção.
ABSTRACT
The present work reports a didactic experience of the Projeto Arquitetônico IV class, which
approaches a preliminary project for the Museum of Contemporary Art of Porto Alegre/RS. The article
focuses specifically on the detailing exercise, based on the elaboration of 1:50 scale constructional
models in which the materiality and the design reasoning are expressed through a study of a portion
of the building in section. Within the atelier activities, it was intended to extend the use of the model
as a method of practical investigation. Through the incorporation of this practice, the objective was to
enable the student to deepen his decision-making, seeking greater consequence in the constructive
choices, as well as to observe from these determinations his influences on the functional, formal and
aesthetic aspects of the architectural solution. In the first moment the two-dimensional and three-
dimensional drawings are executed, which will support the process of construction of the models by
the working pairs. The chosen scale allows the representation of primary and secondary elements of
the structure, in addition to internal and external coatings, slab / floor plans, roofing and various
structural elements. The presentation of the models must contemplate a complete "slice" of the
building, previously selected through criteria that the teachers determine for the whole class. From
this approach, it was possible to verify in the project workshop the use of practices that could increase
the degree of commitment and experimentation of the constructive and structural systems, verifying
those decisions that were taken in the previously elaborated drawings.
Keywords: Design education; Model; Construction.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
O exercício da disciplina de Projeto Arquitetônico IV, que ocorre mais precisamente no
sexto semestre do curso de arquitetura, aborda a temática do Museu de Arte
Contemporânea de Porto Alegre. O porte e a complexidade deste tipo de edificação são
1106 parte do componente curricular, na sequência das disciplinas de projeto arquitetônico do
curso, que apresenta um nível crescente de complexidade programática a cada semestre. A
disciplina objetiva, através de aulas expositivas e leituras programadas, organizar a crítica
arquitetônica para as mudanças que ocorreram nos últimos vinte anos e para a compreensão
da importância crescente que a instituição museu tem para a cidade contemporânea.
A parte de estudo se inicia com uma repertorização a partir de exemplares pré-
selecionados pelos professores e apresentados pelos acadêmicos numa dinâmica de
seminário, trabalho este elaborado em grupos de quatro estudantes. Como diretriz deste
seminário, os exemplares devem ser apresentados a partir da investigação das suas
premissas funcionais (utilitas), estéticas (venustas), estruturais (firmitas) e do seu contexto
de implantação (locus)1. A partir deste momento, é indicado aos acadêmicos que a
repertorização deve ser abordada como um dos referenciais formadores das suas intenções
de projeto. Através de etapas sucessivas, os alunos são levados a compilar informações e
dados para a sua proposta arquitetônica. Já nas primeiras etapas os estudantes são
estimulados a produzirem maquetes volumétricas, na escala 1:500, que são inseridas no
modelo geral de contexto do projeto (Figura 1):
É a maquete como instrumento de desenho. Em vez de você desenhar, você faz
maquete. Não tem nada a ver com as maquetes profissionais, do maquetista que
tem a função de mostrar a ideia já pronta. A maquete aqui é um instrumento que
faz parte do processo de trabalho; são pequenos modelos simples. Não é pra
ninguém ver (ROCHA, 2006 p. 22).
1
O conceito expandido da tríade vItruviana foi exposto pelo arquiteto chileno Alejandro Aravena em palestra
do Programa de Pesquisa e Pós-graduação (PROPAR) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2002.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
2. PROCESSO DE PROJETO
O lançamento do partido arquitetônico se inicia com um exercício em que os acadêmicos
devem expor suas ideias diretamente no quadro, desenhando a mão livre e argumentando
suas decisões perante toda a turma. Para isso, é projetada no quadro branco uma imagem
do lote com seu entorno com uma malha de 5 x 5m sobreposta, que serve apenas para
referência de medida para o desenho. Cada um dos estudantes justifica sua abordagem a
partir das características do lugar e dos condicionantes programáticos, representando
através de diagramas as relações entre os problemas de projeto e do objeto.
Através desta prática, todos os participantes do ateliê interagem com os professores de
forma mais dinâmica, sem a interface engessada e individualizada do desenho no
computador. Dessa forma, o ambiente de ensino e aprendizagem é reforçado por uma
2
O currículo do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Feevale é composto por 3600 horas. A
disciplina de Projeto Arquitetônico IV é a última do conjunto de sete disciplinas de projeto arquitetônico que
possui apenas um encontro semanal.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
3
Sobre articulação entre estrutura portante e estrutura formal ver artigo de Edson Mahfuz: MAHFUZ, E.
Reflexões sobre a construção da forma pertinente. In: LARA, F.; MARQUES, S. (Orgs). Projetar: desafios e
conquistas da pesquisa e do ensino de projeto. Rio de Janeiro: EVC, 2003. p. 64-80.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
São estimuladas as soluções mistas, envolvendo aço e concreto, com peças pré-fabricadas
e/ou executadas na obra. Como um dos temas fundamentais da disciplina é o exercício de
grandes vãos estruturais, é bastante comum a utilização de soluções protendidas ou com
treliças espaciais. Mais uma vez, o cálculo não é prioridade nem objeto de verificação, mas
1109
sim a lógica do raciocínio que não deve reduzir a forma estética a uma simples consequência
da forma estática4. Distante do caráter estético se tornar “refém” da solução estrutural, a
disciplina não deixa de reforçar a ideia de que a forma e imagem da edificação podem e
devem refletir a influência da solução tectônica da proposta. Este tipo de ponderação tem
sido feita aos alunos, objetivando que as propostas tenham pertinência num contexto de
unidade formal – sem perder a contribuição da sua verdade estrutural.
Desenvolvidas as questões contextuais, funcionais e plásticas, nas últimas quatro semanas
de aula, a disciplina se dedica ao tema do detalhamento do edifício, que se inicia a partir de
uma aula expositiva, em que são agrupadas e revisadas as soluções construtivas das
tecnologias adotadas pelos alunos em suas propostas. Na sequência desta aula, é proposto aos
alunos partirem para a investigação gráfica do detalhamento. Para isso, o edital da etapa
solicita a confecção de cortes ampliados da fachada e em perspectiva axonométrica
renderizada – apresentados em pranchas impressas em um painel avaliativo (Figura 4).
4
Ver artigo de Joaquim Cardozo em: MACEDO, D. M.; SOBREIRA, F. J. A. Forma estática - forma estética:
ensaios de Joaquim Cardozo sobre arquitetura e engenharia. Brasília: Câmara dos Deputados, 2009. p. 135-136.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
5
Deve ser mencionado que a discussão sobre a função da maquete arquitetônica, como é conhecida hoje, é
estabelecida por Leon Battista Alberti na Renascença. A discussão foi deixada de lado pela ênfase no desenho
arquitetônico até o século XX. No discurso contemporâneo, na era pré-digital e digital, o assunto tem atraído
grande interesse e tornou-se um importante campo de estudo. Ver ARPAK, A. Physical and virtual:
transformation of the architectural model. 2008. Master of Architecture. Architecture Department, Middle East
Technical University, 2008.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Referente à produção dos modelos físicos das seções ampliadas, cabe ressaltar o esforço
conjunto despendido pelos alunos, para lograr êxito na tarefa. Sobre como executar estas
maquetes, a disciplina apenas ofereceu orientações gerais de escala, possíveis materiais para
a confecção das maquetes, bibliografias de apoio e um banco de imagens de referência,
compilado previamente pelos professores. A partir destas orientações, coube aos alunos a
6
Sobre a classificação dos detalhes em suas três definições ver: FORD, E. R. The architectural detail. New York:
Princeton Architectural Press, 2011. p. 45.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
escolha de como e de qual maneira a maquete seria confeccionada por eles. Neste
momento, foi de fundamental importância a repertorização em termos de técnicas de
execução e materiais oferecidas pelos exemplos demonstrados na aula teórica sobre
modelos construtivos. Foi a partir das imagens fornecidas que os acadêmicos puderam
1112
visualizar as possibilidades do exercício.
Foram utilizadas pelos alunos diferentes formas de execução com uma produção bastante
diversificada, passando pela utilização de materiais e técnicas mais tradicionais, até a
incorporação de tecnologias de fabricação digital7. Sobre esta última técnica, mais
precisamente do processo de corte a laser das peças (CNC laser) é importante destacar a
rapidez na execução e a precisão do acabamento final no modelo8. Observou-se que o uso
desta tecnologia de produzir maquetes foi impactante no processo da disciplina,
despertando o interesse dos demais alunos (Figura 6). De modo geral, a utilização do corte a
laser ainda não está disponível para todos os estudantes, porém este processo se mostra
promissor para atividades como esta, desenvolvida em ambiente de ateliê.
7
A fabricação digital abrange um conjunto de tecnologias para a produção de objetos físicos, utilizando os
modelos gerados em computador e permitindo que a produção destes modelos seja controlada diretamente
pelo projeto, através de dados numéricos. Ver: BARROS, A.M. Fabricação Digital: sistematização metodológica
para o desenvolvimento de artefatos com ênfase em sustentabilidade ambiental. 2011. Dissertação (Mestrado)
– Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: 2011. p.12.
8
KNOLL, W.; HECHINGER, M. Architectural models: construction techniques. J. Ross Publishing, 2007.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
3. CONSIDERAÇÕES
A maquete em escala adequada ao final do trabalho serviu como elemento fundamental e
determinante para a percepção da materialidade da construção do edifício, dando resposta
e feedback que os desenhos do detalhamento – elaborados de forma tridimensional e
renderizados com a representação dos respectivos materiais – não possibilitaram. A
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
REFERÊNCIAS
ARPAK, A. Physical and virtual: transformation of the architectural model. 2008. 101 p. Master of
Architecture. Architecture Department, Middle East Technical University, 2008.
BARROS, A. M. Fabricação Digital: sistematização metodológica para o desenvolvimento de artefatos
com ênfase em sustentabilidade ambiental. 2011. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre: 2011.
FORD, E. R. The architectural detail. New York: Princeton Architectural Press, 2011.
KNOLL, W.; HECHINGER, M. Architectural models: construction techniques. J. Ross Publishing, 2007.
MACEDO, D. M.; SOBREIRA, F. J. A. Forma estática - forma estética: ensaios de Joaquim Cardozo
sobre arquitetura e engenharia. Brasília: Câmara dos Deputados, 2009.
MAHFUZ, E. Reflexões sobre a construção da forma pertinente. In: LARA, F.; MARQUES, S. (Orgs).
Projetar: desafios e conquistas da pesquisa e do ensino de projeto. Rio de Janeiro: EVC, 2003. p. 64-80.
PIÑ ÓN, H. Teoria do projeto. Porto Alegre: Livraria do Arquiteto, 2006.
REBELLO, Y. C. P. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000.
ROCHA, P. M. D. Maquetes de papel. São Paulo: CosacNaify, 2007.
SMITH, A. Architectural model as machine. Burlington: Architectural Press, 2004.
O USO DE MODELOS REDUZIDOS NO ENSINO DE ESTRUTURAS: UM RELATO
DE EXPERIÊNCIA DIDÁTICA
RESUMO
Partindo do pressuposto de que o conhecimento sobre o comportamento das estruturas é de grande
relevância dentro da formação do profissional da arquitetura e urbanismo, esse trabalho consiste
basicamente em um relato e discussão de experiência didática, desenvolvida em disciplina da
graduação de arquitetura e urbanismo, na Universidade Federal de Pernambuco. Essa experiência foi
desenvolvida como projeto prático na matéria, em que os alunos, divididos em grupos, produziram
modelos reduzidos de estruturas reais, a fim de visualizar, materializar e mostrar a aplicação prática
de grande parte dos conceitos que foram trabalhados ao longo da disciplina. No projeto, os alunos
desenvolveram seus modelos fora do horário da aula, a partir de uma proposta definida e igual para
todas as equipes, mas que deixava alguns elementos em aberto, como o tamanho e o material do
modelo, de forma a estimular a criatividade e intuição. A maior parte dos grupos optou pelo uso da
madeira, na forma de palitos, mas uma das equipes se destacou, ao inovar com o uso de espuma de
polietileno na forma de espaguete flutuador. Além da montagem e confecção, os alunos precisaram
explicar seus modelos oralmente, em uma aula que correspondeu à culminância do projeto. No
trabalho, são discutidas também, além dos resultados (como o bom retorno dos alunos), estratégias
para melhorar e ampliar propostas didáticas desse tipo.
Palavras-chave: Experiência didática; modelo reduzido; abordagem qualitativa.
ABSTRACT
Based on the assumption that knowledge about the behavior of the structures is of great relevance in
the training of architects, this paper basically consists of the report of an didatic experience,
developed in a subject of the graduation of architecture, in the federal university of Pernambuco. This
experience was developed as a practical project of the subject; the students were divided in groups,
and they developed reduced models of real structures, in order to visualize, materialize and show the
practical application of most of the concepts that have been studied during the semester. In the
project, the students developed their models outside of class time, starting with a proposal of work,
common to all groups. In this proposal, however, there were few things undefined, such as the
material to be used (which was free) and the size of the models, and it was done in this way in order
to stimulate creativity and intuition. Most of the groups used wooden sticks, but one used
polyethylene foam in the shape of spaghetti float. In addition to assembly and cofection, students had
to explain their models orally to their colleagues, in the project presentation class. Thus, this paper, in
addition to the results (such as good student feedback), also discusses strategies to improve and
broaden this type of didatic proposals.
Keywords: Didatic experience; reduced models; qualitative approach.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
O conhecimento sobre como as estruturas se comportam quando carregadas é de grande
relevância na formação do profissional da arquitetura e urbanismo. Há diversos autores e
trabalhos que respaldam essa afirmação, como, por exemplo, Rebello (2000, p. 26), que
1116 apresenta e discute a ideia de que forma e estrutura são indissociáveis, e que, portanto,
quem cria a forma cria também a estrutura, refutando a ideia “tradicional” de que o
profissional engenheiro é o único responsável pela concepção estrutural. Assim, esse mesmo
autor ratifica e explica essa ideia em:
O que acontece é que nem sempre o criador da arquitetura tem consciência de que
no seu ato criador dos espaços está intrínseco o ato criador da estrutura. Quando o
criador da forma não se preocupa com o ato gêmeo da concepção estrutural,
delegando a outro profissional esta função, corre o risco de ver seu projeto
totalmente desfigurado (REBELLO, 2000, p. 27).
2. EXPERIÊNCIA DIDÁTICA
Nessa parte do artigo, é discutida e detalhada a experiência didática, com a apresentação
da disciplina, da proposta e do projeto prático, inclusive com fotos da montagem e dos
modelos apresentados na culminância.
1117
2.1 Sobre a disciplina
A disciplina na qual foi desenvolvida a experiência desse artigo, Tópicos Especiais em
Tectônica III, é um componente curricular eletivo de 30 horas, do curso de graduação em
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Essa matéria é
oferecida em todos os semestres, mas essa experiência ocorreu no segundo semestre do ano
de 2016 (no período de agosto a outubro), e faz parte de um conjunto de outras disciplinas de
Tópicos Especiais em Tectônica, que vão desde a I até a IV, e dizem respeito, respectivamente,
ao pré-dimensionamento de elementos estruturais: lajes, vigas, pilares e fundações.
Esse conjunto de matérias visa complementar o que já é trabalhado nas disciplinas
obrigatórias de Tectônica, que são oferecidas do primeiro ao oitavo semestre do curso, da I a
VIII, e cada uma traz uma abordagem das questões mais estruturais e técnicas da construção
por trás dos projetos arquitetônicos, e são tradicionalmente ministradas pelos professores
Arquitetos do próprio Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Assim, em complemento
às disciplinas obrigatórias, as disciplinas eletivas de Tópicos Especiais em Tectônica são
tradicionalmente ministradas por professores Engenheiros do Departamento de Engenharia
Civil, visam oferecer um aprofundamento das questões estruturais no âmbito profissional da
Arquitetura e Urbanismo, trazendo um pouco da ótica do profissional da Engenharia, mas
sem focar tanto nos cálculos matemáticos. Assim, esses componentes têm como objetivo
geral trabalhar o comportamento das estruturas quando sujeitas a esforços e solicitações, e
também apresentar metodologias e discutir estratégias para o pré-dimensionamento desses
componentes, de acordo com as necessidades do projeto arquitetônico.
Por uma questão didática, as disciplinas são divididas em quatro, e cada uma se
aprofunda em um elemento estrutural. Nesse artigo, a experiência foi desenvolvida na
matéria Tópicos Especiais em Tectônica III, que versa sobre o elemento estrutural pilar. O
conteúdo programático básico é então:
Apresentar os pilares como elementos do conjunto arquitetônico;
Destacar e discutir os esforços solicitantes em pilares (tração, compressão, flexão,
cisalhamento);
Pilares muito esbeltos: considerações sobre a flambagem;
Associações entre pilares e vigas: o estudo dos pórticos;
Pré-dimensionamento de pilares para os diferentes materiais (madeira, aço, concreto
armado e protendido).
Para desenvolver a ementa, a metodologia da disciplina corresponde, basicamente, à
discussão dos conceitos do conteúdo em sala de aula, por meio de aulas expositivas, sempre
complementadas com o desenvolvimento de atividades práticas orientadas em sala de aula,
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
pavimentos. Com relação aos materiais, os grupos acabaram usando, em sua maioria, a
combinação palito de madeira com cola quente, até pela familiaridade com esses materiais
por já os terem usado em outras atividades do curso. Contudo, um grupo inovou bastante ao
utilizar espuma de polietileno na forma de espaguete flutuador (muito usado em piscinas, de
1119
forma recreativa) e essa mesma equipe também se destacou pelo tamanho do modelo, por
apresentarem o maior dentre as equipes. As fotos dos modelos de todos os grupos, bem
como as análises do que cada um propôs e mostrou estão na próxima seção.
A figura 1 acima mostra o modelo reduzido do grupo 1, que representou duas caixas
d´água aporticadas. À esquerda da figura, observa-se um modelo com pilares muito esbeltos
e sem contraventamento, enquanto que à direita verifica-se uma situação oposta, com
pilares mais robustos e curtos (bem menos esbeltos) e contraventados nas duas direções.
Nesse sentido, o grupo 1 explorou muito bem o conceito da esbeltez e como combatê-la, por
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Além da concepção das ligações, é importante ressaltar também o cuidado que os grupos
tiveram em representar a interação solo-estrutura, ou seja, as fundações dos pilares. O
grupo 1 teve o cuidado de montar uma base espessa de isopor reforçado, para propiciar a
estabilidade de seus dois modelos quando carregados. Na Figura 2, percebe-se que o grupo
2 teve cuidados semelhantes, representando com argila as quatro sapatas isoladas dos
pilares. Nos modelos do grupo 1, as fundações simularam uma espécie de engastamento,
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
pois eles usaram cola para fixar a base dos pilares de madeira, enquanto o grupo 2 optou
por uma fundação mais articulada (menos rígida do que a do grupo 1) também, pois não
utilizaram cola na junção dos pilares com as quatro sapatas isoladas, que foram feitas de
argila. Os dois grupos conseguiram então demonstrar na prática que os dois tipos de
1121
fundações foram efetivos, mesmo que com características distintas.
mostrou essa distinção com dois modelos distintos, por terem optado por ligações rígidas.
Entretanto, por terem usado uma situação de pilares mais esbeltos e sem o
contraventamento, o grupo 1 conseguiu mostrar melhor a instabilidade lateral causada pela
carga. Assim, os dois primeiros grupos se complementaram em suas apresentações.
1122
O grupo 3, por outro lado, trouxe uma perspectiva diferente: apresentaram o modelo de
um prédio residencial, com três pavimentos (Figura 4). Esse grupo apresentou dificuldades
com o uso da cola quente, o que resultou em alguns pilares desalinhados, mas ainda assim
eles conseguiram demonstrar o uso das ligações rígidas entre vigas e pilares. Conseguiram,
assim como os grupos anteriores, mostrar o efeito de contraventamento, mas eles
apresentaram esse efeito em um âmbito mais global, mostrando também a participação das
lajes. Como fizeram uma estrutura mais complexa do que a caixa d´água, eles também
conseguiram com o modelo demonstrar o efeito de redistribuição de esforços comum nos
edifícios, ou seja, eles mostraram, na prática, de maneira qualitativa, que por meio das
ligações rígidas, o edifício assume um comportamento global de pórtico, com redistribuição
e solidarização dos esforços.
Ainda na Figura 4, observa-se mais dois pontos de diferenças em relação aos grupos 1 e 2.
Primeiramente, o grupo 3 desenvolveu mais de dois pavimentos e, com isso, mostrou mais
de um travamento lateral em cada pilar. Além disso, esse grupo também teve uma
concepção diferente para a fundação, optando por uma solução mais profunda do que as
sapatas rasas mostradas pelos grupos anteriores. O grupo se preocupou, inclusive, em
representar a camada superficial como mais flexível e deformável (menos espessa), a fim de
justificar a necessidade de aprofundamento das fundações com o uso de estacas. Os alunos
também tiveram os cuidados adicionais de representar o bloco como elementos de transição
entre o pilar a estaca, e desenhar as diferentes camadas de solos.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
'
Com uma concepção bastante simples, o grupo 4 apresentou a mesma ideia defendida
pelos grupos 1 e 2, com a apresentação de uma caixa d´água, e com a possibilidade de
mostrar diferentes esbeltezes e o uso do contraventamento por vigas intermediárias.
Contudo, o uso dessa espuma de polietileno, combinado com o tamanho maior do modelo
em si, tornou as deformações bem mais perceptíveis. Na demonstração prática do modelo
(ver Figura 6), o grupo colocou uma caixa de papelão em cima do mesmo e começou a
gradativamente encher com areia, seguindo a prática desenvolvida pelo grupo 1. Ao atingir
um determinado peso de areia, foi possível observar instabilidade lateral nos pilares, os
quais, como mostra a Figura 6, inicialmente não estavam travados lateralmente (estavam
sem as vigas intermediárias de travamento lateral).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1124
𝜋²𝐸𝐼
Pcr = (1)
𝐿𝑓²
Como pode ser constatado pela avaliação da equação anterior, uma diminuição no
comprimento efetivo de flambagem (ou altura livre, corresponde ao denominador da fração
da Equação 1) para metade do valor inicial (com o uso de travamento lateral no meio da
peça), verifica-se um aumento de quatro vezes no valor da carga crítica de flambagem. Isso
quer dizer, na prática, que o pilar contraventado no meio consegue resistir a quatro vezes
mais carregamento antes de flambar do que o pilar destravado e os alunos do grupo 4
conseguiram mostrar a validade dessa equação com o peso de areia como sendo a carga.
Eles inclusive já haviam testado antes da apresentação e trouxeram a areia já pesada. A
Figura 7 mostra essa configuração final, já com o contraventamento posicionado.
Além dessas inovações, também é importante destacar a fundação do grupo 4.
Basicamente consistiu em uma chapa de madeira, na qual eles uniram com os pilares de
espaguete flutuador por meio de simples parafusos. Assim, diferentemente dos outros
grupos, o modelo do grupo 4 tinha estabilidade apenas na direção vertical, devido ao apoio
deixar a estrutura livre horizontalmente. Contudo, os próprios alunos do grupo encontraram
uma solução bastante engenhosa para isso, usando barbantes, que eles prenderam na hora
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
3. CONSIDERAÇÕES
Diante do que foi exposto, conclui-se que o projeto prático atingiu seu objetivo principal,
que foi prioritariamente contribuir para o aprendizado do conteúdo, com uma abordagem
mais qualitativa e estimulante ao viés conceptivo e intuitivo. Os alunos mostraram, tanto
com os modelos quanto na apresentação oral durante a culminância do projeto, que
assimilaram bastante bem os conteúdos trabalhados em sala. Além disso, apesar de a
proposta inicial ter sido a mesma para todos, cada grupo acabou seguindo por um caminho
diferente e, no final, como foi mostrado na seção anterior, todos mostraram minimamente o
que foi pedido e ainda conseguiram cada um acrescentar uma novidade ou algo inusitado.
Também ficou bastante claro, não apenas pelas fotos da montagem (que os grupos
enviaram), mas também pelo momento da apresentação oral, que todos os integrantes do
grupo estiveram de fato presentes e contribuíram para o modelo. A prova escrita da disciplina
aconteceu duas semanas após a culminância do projeto e os alunos demonstraram bom
desempenho, sobretudo nas questões que eram cobradas explicações e croquis dos conceitos
e das ligações entre as peças – provavelmente muito em função disso foi da possibilidade que
eles tiveram de desenvolver essas situações de forma prática com o projeto.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Além desse retorno no âmbito didático, houve também o fato de satisfação com a
disciplina. Verificou-se que os alunos, de um modo geral, gostaram bastante da maneira
como a disciplina foi conduzida e, sobretudo, do projeto prático, como uma oportunidade de
materializar e avaliar tridimensionalmente o conteúdo trabalhado ao longo da matéria. Esse
1126
retorno positivo pode ser constatado também ao verificar que os alunos recomendaram aos
seus colegas que cursassem a disciplina, que é de caráter eletivo. No semestre seguinte ao
do projeto, ou seja, no primeiro semestre de 2017, as turmas das eletivas cresceram, muito
devido ao fato de os alunos do semestre anterior terem recomendado a disciplina.
Como essa experiência didática do projeto prático foi desenvolvida pela primeira vez na
eletiva no semestre passado, ainda há muita margem para melhorias e crescimento. Em
2017, por exemplo, a ideia do projeto está sendo ampliada para outra disciplina de Tópicos
Especiais, para ser desenvolvido de maneira integrada com a da disciplina de Tópicos
Especiais em Tectônica III, já que muitos alunos cursam as duas matérias paralelamente.
Assim, é uma nova perspectiva de integração dos conceitos dos elementos estruturais. Além
disso, para os semestres futuros, também estão sendo pensadas outras melhorias, como o
uso de diferentes materiais. Como existe uma boa integração entre os Departamentos de
Engenharia Civil e o de Arquitetura e Urbanismo na universidade, pode-se pensar em
projetos práticos envolvendo o auxílio de alunos da Engenharia Civil, com uso de alvenaria,
concreto e aço materiais disponíveis no galpão da Engenharia Civil da Universidade e que os
alunos desse curso utilizam em suas práticas.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos departamentos de Engenharia Civil e de Arquitetura e Urbanismo, ambos
da Universidade Federal de Pernambuco, por todo o apoio ao longo das disciplinas.
Agradeço também à professora Malu Freitas, pelas conversas e valorosos conselhos durante
a elaboração deste trabalho.
REFERÊNCIAS
BOTELHO, M. H. C. Concreto armado eu te amo, para arquitetos. São Paulo: Blucher, 2016.
REBELLO, Y. C. P. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000.
SARAMAGO, R. C. P. Ensino de estruturas nas escolas de Arquitetura do Brasil. 2011. Dissertação
(Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2011.
SILVER, P.; MCLEAN, W.; EVANS, P. Sistemas estruturais. São Paulo: Blucher, 2013.
PRÁTICAS LABORATORIAIS NO ENSINO DOS SISTEMAS ESTRUTURAIS NO
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
GRANATA, Ricardo
RESUMO
Este artigo relata a experiência do uso da modelagem física e das práticas de canteiro experimental
no ensino da arquitetura e urbanismo como instrumentos de especulação de projeto e
entendimento dos sistemas estruturais e dos processos construtivos. As atividades relatadas têm
início com a experiência da modelagem física como método primordial para o entendimento e
especulação dos sistemas estruturais e finaliza com a experiência plena de todo o processo de
produção arquitetônica – do estudo preliminar ao projeto executivo, passando pelos detalhamentos
e cálculos estruturais, iniciados na experimentação pela modelagem e culminando na experiência
física do canteiro de obras. A experiência do canteiro evoca as contradições da obra em relação ao
projeto e esta interlocução dos processos práticos e intelectuais constitui um amparo fundamental à
formação do arquiteto e urbanista. Todas as atividades são apresentadas no artigo através de
amostragens obtidas durante a prática docente do autor, com o recorte, em uma experiência
didática de três anos, na disciplina Laboratório de Tecnologia do 7o. semestre (4o. ano) do curso de
Arquitetura e Urbanismo do FIAMFAAM Centro Universitário – partindo do segundo semestre de
2013 ao segundo semestre de 2016 – envolvendo assim, aproximadamente, trinta turmas com a
variação de 25 a 50 alunos cada.
Palavras-chave: Modelagem física; Canteiro experimental; Sistemas estruturais.
ABSTRACT
This article reports the experience of the use of physical modeling and the practices of experimental
construction site in the teaching of architecture and urbanism as instruments of project speculation
and understanding of the structural systems and the constructive processes. The reported activities
begin with the experience of physical modeling as the primary method for the understanding and
speculation of structural systems and ends with the full experience of the entire architectural
production process - from the preliminary study to the execution project, through structural details
and calculations, initiated in the experimentation by modeling and culminating in the physical
experience of the construction site. The experience of the experimental construction site evokes the
contradictions of the work in relation to the project and this interlocution of the practical and
intellectual processes constitutes a fundamental support for the graduation of the architect and
urbanist. All activities are presented in the article through samplings obtained during the author's
teaching practice, with the clipping, in a didactic experience of three years, in the discipline
Laboratory of Technology of the seventh grade (4th year) of the Architecture and Urbanism course at
FIAMFAAM Centro Universitário - from the second semester of 2013 to the second semester of 2016 -
thus involving approximately thirty classes with a variation of 25 to 50 students each.
Keywords: Physical modeling; Experimental construction site; Structural systems.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
As atividades apresentadas neste artigo foram desenvolvidas durante a participação de
diversas turmas na disciplina Laboratório de Tecnologia, do 7o. Semestre do curso de
Arquitetura e Urbanismo do FIAM FAAM – Centro Universitário, com a duração de um
1128 semestre letivo. O trabalho apresenta, assim, uma pequena parte da produção desenvolvida
do segundo semestre de 2013 ao segundo semestre de 2016, o que envolve cerca de 30
turmas, com a variação de aproximadamente 25 a 50 alunos cada.
Desta forma, este artigo relata as atividades desenvolvidas em uma disciplina
experimental cujo objetivo original é dar suporte prático às disciplinas análogas e teóricas de
sistemas estruturais e – como característica intrínseca de uma disciplina desenvolvida em
ambiente laboratorial – promover a experimentação. Esta experimentação, da forma como
praticada aqui, é creditada às atividades de modelagem física e de canteiro experimental,
como instrumentos primordiais na especulação de projeto, entendimento dos sistemas
estruturais, entendimento dos processos construtivos e do próprio ensino dos sistemas
estruturais e construtivos no curso de Arquitetura e Urbanismo.
A disciplina tomou o formato aqui apresentado a partir da segunda metade de 2013,
quando da inserção dos diversos exercícios propostos pelo autor, dispostos em duas fases –
modelagem física e canteiro de obras experimental – na intenção de compor uma estrutura
de exercícios sequenciais individuais de modelagem física que atendesse à demanda de um
maior entendimento e maior aproximação por parte do aluno aos sistemas estruturais,
resistência dos materiais e processos construtivos. Assim, de uma forma experimental
gradual culminando na aplicação dos conceitos pré-adquiridos nos exercícios anteriores, na
prática do canteiro.
Na primeira fase – modelagem física –, respeitando a sequência dos exercícios
inicialmente propostos, foram desenvolvidos cinco exercícios de modelagem física,
contemplando os sistemas estruturais de treliças espaciais, treliças planas, superfícies
tensionadas e cascas, correspondendo, respectivamente, a três famílias de sistemas
estruturais: Sistemas Estruturais de Vetores Ativos, Sistemas Estruturais de Forma Ativa e
Sistemas Estruturais de Superfície Ativa (ENGEL, 1981).
Na segunda fase, foi proposto um exercício de desenvolvimento de uma peça de mobiliário
urbano em 1:1 em concreto ou argamassa armada – micro concreto (CAMPOS, 1994) – para
ser projetado e a posteriori executado em canteiro experimental. Nesta fase, o aluno tem a
experiência plena de todo o processo de produção arquitetônica – do estudo preliminar ao
projeto executivo, passando pelos detalhamentos e cálculos estruturais, iniciados na
experimentação também pela modelagem e culminando na experiência física do canteiro de
obra. A experiência do canteiro evoca as contradições da obra em relação ao projeto e esta
interlocução dos processos práticos e intelectuais constitui um amparo fundamental ao aluno,
trazendo autonomia de decisão em seus projetos e enriquecendo a sua formação. Os
trabalhos então são finalizados com esta experiência real de produção arquitetônica e
tecnológica do início ao fim, proveniente de um processo contínuo e ininterrupto de produção
de conhecimento prático durante todo o semestre letivo deste processo didático.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1
ROZESTRATEN, A. S. Modelagem manual como instrumento de projeto. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n.
049.04, Vitruvius, jun. 2004. Ver: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.049/576>.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Figura 1 – Modelos conceituais para a Deux Bibliothèques de Jussieu, Rem Koolhaas, Paris, França,
1993.
Koolhass ainda coloca, nas suas asserções, que a própria estrutura em si apresenta uma
carga a ser resolvida na arquitetura. Toda a carga de uma edificação é enraizada onde mais
2
Em: <http://static.nai.nl/oma/Start_EN/Start_index_en.html>. Acesso em: 10 set. 2014. Tradução do inglês
para o português do autor.
3
HOLL, S.; GANNON, T. Steven Holl: Simmons Hall. Nova York: Princeton Architectural Press, 2004.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
interessa, segundo Koolhaas – nos pavimentos inferiores. Existe uma herança estrutural,
com volume físico expressivo, no chão – a carga que é depositada e confiada ao solo.
A necessidade e a destreza estrutural por parte dos arquitetos é mais do que sabida e
pode ser vista nas atividades dos grandes mestres e profissionais, como já mencionado.
1132
A impregnação de conhecimento fúteis provindo de uma era de informação, rápida e de
complexidades (CARDOSO, 2016) atropela por muitas vezes a multidisciplinaridade da
atividade do arquiteto vivida pelo estudante de Arquitetura e Urbanismo. Deve-se então
incentivar o aluno às práticas para que a integração seja evidenciada e vivenciada com a
intenção explícita de gerar o domínio e a liberdade de proposições arquitetônicas e
estruturais que se espera.
Cecil Balmond aprofunda-se neste mérito nas suas obras da década de 90. Arquiteto,
artista, engenheiro, filósofo, matemático e músico, teve uma forte influência nos grandes
projetos das últimas décadas quando exerceu sua profissão de engenheiro na ARUP, uma
das, senão a maior, empresa de engenharia estrutural do mundo e na qual se tornou vice-
presidente, fundando AGU – Advanced Geometry Unity. Sua atividade estreitou a relação
entre arquitetura e estrutura quando da colaboração com nomes como Philip Johnson, Toyo
Ito, FOA, Rem Koolhaas, dentre diversos outros, levando ao ponto deste último convidá-lo a
ser sócio criativo do seu escritório.
As intenções e colaborações bem sucedidas entre profissionais da arquitetura e da
estrutura não são novidades e, aliás, são bem conhecidas, por parte do próprio Ove Arup e
também nas figuras de Richard Rogers e Renzo Piano com Peter Rice no Centro Georges
Pompidou (1977) ou posteriormente na colaboração de Steven Holl e Guy Nordenson no
Simmond Hall do MIT (2002), dentre diversas e diversas outras.
Balmond traz um componente criativo total neste processo – no seu livro, Informal de
2001, levou a questão da integração à tona e “chamou” literalmente os engenheiros para
“abraçar a arquitetura” (BALMOND, 2001) – na intenção de um trabalho criativamente
compatibilizado. Esta simbiose de disciplinas enaltecida por Balmond é um ponto marcante
para o presente artigo. É o que quer se enfatizar, mesmo que de uma forma inicial tímida,
nos exercícios propostos e o que se espera das atividades práticas – que o aluno, futuro
arquiteto e urbanista, tenha o conhecimento e entenda as questões sobre as disciplinas
inerentes à arquitetura e que “as chame” para si, que “as abrace”, para que ele possa ter
uma maior liberdade de proposição no processo projetual.
making), o aluno neste primeiro exercício atua com materiais que simulam o trabalho real
da estrutura e, como sugestão, utilizam palitos de bambu ou madeira (tipo "churrasco"),
ligados por nós confeccionados por eles mesmos a partir de conduítes (espaguetes) de pvc
de 2.5 mm. Estas estruturas têm um comportamento estrutural, com as liberdades,
1133
movimentações e solicitações de esforços dentro da realidade dos sistemas de Vetores
Ativos (Figuras 2, 3 e 4).
Toda a composição e especulação projetual são dadas de forma física tridimensional pela
modelagem, iniciando-se por um módulo tridimensional que se estende à composição do
sistema total. Desta forma, além de experimentar a condição indeformável do triângulo – “a
menor unidade de estrutura da natureza” (FULLER, 1981) – o aluno começa e entender que
treliças espaciais partem sempre de um módulo tridimensional, de origem triangular, assim
como visto de forma preliminar nas leituras de apoio propostas – preliminarmente a cada
exercício de modelagem física proposto, é sugerida a leitura e resenha de um capítulo
análogo ao exercício, do livro de Heino Engel, como apoio teórico à atividade.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1134
Dos sistemas de vetores ativos, o aluno passa para as formas ativas e as superfícies ativas
(ENGEL, 1981) – sendo assim, experimenta respectivamente no terceiro e posteriormente no
quarto e quinto exercício, as superfícies tensionadas e a formatação da casca.
No terceiro exercício, a realidade da modelagem física volta à tona. Com um tecido
tensionável, o aluno explora e entende o Sistema de Forma Ativa e as propriedades físicas
inerentes de sua geometria. Para isso, experimenta as diversas espessuras e materialidade
de um tecido para a obtenção de uma viabilidade de tensão dentro de uma
proporcionalidade. Os materiais utilizados neste exercício são a lycra ou o elastano (“meia-
calça”), um simples palito, base rígida, linhas e alfinetes. Os alunos tiveram também a
possibilidade de experimentar o formal e tencionar a superfície dentro ou fora das próprias
estruturas em treliças planas previamente concebidas (Figuras 6 e 7).
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1136
exercício, fica muito claro outro conceito preliminar, pois o aluno experimenta e
compreende, na prática, a geometria da lâmina (REBELLO, 2001). Compreende, de uma
forma muito preliminar no início e que se aprofunda no decorrer do exercício, que a lâmina
pode ganhar estabilidade no instante em que a superfície é estruturada por meio de dobras
1137
e vincos, diferenciando de forma eloquente a Superfície Ativa da Seção Ativa (ENGEL, 1981)
– ou seja, diferenciando, assim, como, por exemplo, o comportamento de uma casca
anticlástica (paraboloide hiperbólico) do comportamento estrutural da lâmina, como uma
seção ativa, expressa pela laje maciça plana que se apoia em vigas.
Figura 8 – Desenvolvimento de modelos experimentais de cascas com tela aramada e aplicação de resina.
Figura 9 – Desenvolvimento de moldagem dos modelos experimentais de cascas com tela aramada
utilizando gesso sobre lamina melamínica e eps.
No quinto exercício, uma continuação do anterior – que poderia até ser intitulado de 4B –
, o aluno molda a casca utilizando o gesso. Além de representar ou estudar um tipo
estrutural, tem-se mais uma abordagem interessante: o aluno inicia, neste momento, o
contato com os materiais de construção. Apesar de o gesso moldado aparecer aqui como
1138
uma representação análoga do que seria uma casca em argamassa armada, o aluno
experimenta o gesso como o próprio material da construção civil – o aglomerante
quimicamente ativo, aéreo e de pega rápida em um sistema de estuque (Figura 9).
Este último exercício experimental de modelagem constitui então um trabalho de
transição. Um exercício onde começa a experimentação com materiais de canteiro. O uso do
aglomerante e a moldagem em fôrma. Um exercício no qual a fôrma exerce um papel
fundamental. Um primeiro contato com sistemas que aparecerão na segunda fase da
disciplina onde o foco é a argamassa armada e o concreto armado.
Esta primeira fase da disciplina se encerra então com a produção de cinco modelos e suas
respectivas peças gráficas intercalados por leituras de textos análogos.
uma fôrma (Figura 10), além de entender através dele os materiais envolvidos, os custos
gerados e os processos construtivos.
Figura 10 – Modelo de banco para-ciclo e modelo experimental de fôrmas desenvolvidos pelos alunos.
1139
É certo afirmar que o método utilizado, principalmente no canteiro, possui suas fragilidades
pelo fato de, dentro de certos parâmetros, trabalhar com bases empíricas. Trata-se de
experimentações em ambiente escolar, o qual muitas vezes está desprovido de equipamentos
profissionais, como, por exemplo, balanças, computadores, mesa vibratória etc., que trariam
1141
resultados próximos aos obtidos na indústria. Porém as bases empíricas utilizadas – como, por
exemplo, os métodos de traçar a argamassa e o concreto ou a maneira de adensá-los – são os
comumente utilizados na construção civil e amplamente divulgados, o que assegura, com
critérios pré-testados, a fidelidade dos resultados. Apesar deste apontamento, faz-se
necessário deixar claro também que o objetivo que cerca o trabalho não é exclusivamente o
de obter o mais preciso e perfeito resultado técnico e plástico. A riqueza do método e dos
resultados obtidos está na apropriação do espaço-canteiro pelo aluno, no entendimento das
dialéticas e problemáticas da transição projeto-obra, na prática e no conhecimento adquirido
pelos acertos e erros que a experimentação prevê.
4. CONSIDERAÇÕES
As escolhas, as decisões corretas, ou mesmo os erros, são atos próprios de um processo
prático, experimental. Com isso, a experimentação enriquece o poder intelectual do aluno
como notado em todas as fases da disciplina.
Desde o início, com as modelagens, o aluno é deparado com a experimentação na
utilização de modelos no processo de projeto e no estudo e entendimento dos sistemas
estruturais. A modelagem surge, então, como experimentação tridimensional e não como a
representação costumeira de um projeto. O aluno, ainda em processo de aprendizado,
muitas vezes não entendia ou esbarrava em decisões de projeto carecidas da experiência ou
ainda, apresentava dificuldades de expressar as soluções estruturais no desenho.
Através da experiência da modelagem na disciplina, o processo se inverte e o que antes
era uma simples representação de um processo de projeto se torna o próprio. E, com isso,
de forma notória, ele entende os sistemas, faz escolhas e determina um todo que, uma vez
estabelecido, é representado de forma bidimensional com autonomia – fruto de um
processo experimental de simbiose de arquitetura com estrutura, desejável e importante na
formação do arquiteto.
O mesmo acontece quando o aluno se depara com o canteiro de obras de uma forma
experimental. As decisões certas ou erradas, nas idas e vindas da pré-experimentação do
modelo ao projeto, são colocadas à prova novamente na prática, gerando assim conhecimento,
autocrítica e poder de decisão projetual propiciados pela experiência acumulada.
AGRADECIMENTOS
Agradeço os professores coordenadores, diretores pedagógicos, pró-reitores e reitores
que me apoiam e/ou me apoiaram nas instituições em que ensino e que contribuem de
forma extensa no enriquecimento diário da minha atividade docente, em ordem alfabética –
Profa. Dra. Ana Elena Salvi, Prof. Dr. Cléber Ferrão Corrêa, Prof. Me. Marcos Medina, Profa.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Dra. Maria Luiza Domingues Villar, Profa. Me. Mariangela Mendes Lomba Pinho, Prof. Me.
Mauro Motoda, Profa. Dra. Paula Katakura, Prof. Dr. Pedro Américo Frúgoli, Prof. Dr. Peter
Ribon Monteiro e Profa. Me. Roseane Marques da Graça Lopes. Ao colega Prof. Dr. José
Baravelli, pelas diversas vezes que trabalhamos juntos nas disciplinas laboratoriais, na
1142
expectativa que desta colaboração surjam experimentações e novos artigos. Agradeço em
particular às instituições em que ensino e que apoiam: FIAMFAAM – Centro Universitário,
UNIP – Universidade Paulista e UNISANTOS – Universidade Católica de Santos. Agradeço
também a todos os colaboradores nestas instituições.
REFERÊNCIAS
BALMOND, C. Informal. Munique; Berlin; Londres; Nova York: Prestel Verlag, 2008.
CAMPOS, P. E. F. Argamassa armada volume 1 – produção industrializada: aplicações e processo de
fabricação com telas soldadas. São Paulo: Instituto Brasileiro de Telas Soldadas, 1994.
CARDOSO, R. Design para um mundo complexo. São Paulo: UBU, 2016.
ENGEL, H. Sistemas de estruturas. São Paulo: Hemus, 1981.
FULLER, R. B. Critical Path. Nova York: St. Martin’s Press, 1981.
ROZESTRATEN, A. S. Modelagem manual como instrumento de projeto. Arquitextos, São Paulo, ano
05, n. 049.04, Vitruvius, jun. 2004. Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.049/576>. Acesso em: 10 set. 2014.
ZAERA, A. Encontrando liberdades: Conversaciones con Rem Koolhaas. El Croquis, Madri, n. 53, 1993,
p. 6-31.
UTILIZAÇÃO DE MODELOS QUALITATIVOS PARA AVALIAÇÃO DO
COMPORTAMENTO DE SISTEMAS ESTRUTURAIS
SIQUEIRA, Bárbara (1); FIORITI, Cesar Fabiano (2); OKIMOTO, Fernando Sérgio (3); TSUTSUMOTO,
Nayra Yumi (4)
RESUMO
Este trabalho é parte de um projeto de iniciação científica, (IC) desenvolvido pelo período de três
anos, e que teve como objetivo geral o estudo e a análise de modelos estruturais qualitativos de
vigas, pilares e pórticos, com posterior comparação dos resultados de maquetes virtuais geradas por
meio de software comercial. Cabe mencionar que, no decorrer do desenvolvimento deste projeto de
IC, foram observadas e discutidas algumas questões, e ocorreu a necessidade de aprofundá-las,
visando atingir resultados que enriquecessem o assunto estudado, incluindo ainda mais de perto a
realidade na vida acadêmica. Ao invés de analisar estruturas isoladas, o trabalho também contou
com a presença de um modelo visual e gráfico de uma estrutura pré-existente, neste caso, a ponte
que se encontra na cidade de São Luís do Paraitinga, no Estado de São Paulo. Os resultados obtidos
com as maquetes qualitativas e virtuais comprovaram a eficiência dos modelos para a pré-avaliação
do comportamento de sistemas estruturais. Assim, foi possível unir a teoria, a prática e a alta
tecnologia, alcançando o objetivo de levar o aluno de arquitetura a desenvolver sua sensibilidade,
visando à compreensão do comportamento das estruturas, cultivando sua imaginação criadora,
tendo como guia a intuição e principalmente a sua autoconfiança, ao comprovar os resultados de
forma mais precisa possível com o software utilizado. Por fim, esse entendimento aproximou a
grandeza dos fenômenos manifestados à percepção dos sentidos humanos, uma vez que nas
estruturas reais, em geral, nossos meios de percepção são incapazes de registrar estes valores.
Palavras-chave: Modelos qualitativos; Maquete estrutural; Ensino.
ABSTRACT
This paper is part of a three year scientific initiation (SI) project, whose main objective was the study
and analysis of qualitative structural models of beams, pillars and porches, with a comparison of the
results of virtual models generated through commercial software. It should be mentioned that during
the development of this SI project, some questions were observed and discussed, and it was necessary
to deepen them, in order to achieve results that would enrich the subject studied, including even more
closely the reality in And, instead of analyzing isolated structures, the work also had the presence of a
visual and graphic model of a pre-existing structure, in this case the bridge that is in the city of São
Luís do Paraitinga, State of São Paulo. The results obtained with the qualitative and virtual models
proved the efficiency of the models for the pre-evaluation of the behavior of structural systems. Thus,
it was possible to unite theory, practice and high technology, reaching the goal of taking the student
of architecture to develop their sensitivity, aiming at understanding the behavior of structures,
cultivating their creative imagination, guided by intuition and especially Your self-confidence, by
verifying the results as accurately as possible with the software used. Finally, this understanding
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
brought the greatness of manifested phenomena closer to the perception of the human senses, since
in real structures, in general, our means of perception are incapable of recording these values.
Keywords: Qualitative models; Structural model; Teaching.
1144
1. INTRODUÇÃO
À primeira vista, parece óbvio o significado de uma estrutura, sendo tudo aquilo que
sustenta, porém, o conceito é mais amplo e complexo, estando presente em todas as áreas
do conhecimento (REBELLO, 2003). É valido salientar inclusive que estrutura está em tudo
que nos rodeia, nas plantas, no ar e nas pessoas, nos objetos e nas ideias.
O conhecimento estrutural, desde os primórdios da humanidade, provém de tentativas
baseadas em experiências prévias. O profissional desde aquela época se preocupava em
desenvolver sua intuição ao conceber projetos estruturais (FAY, 2006). Afinal,
Foi pela intuição, uma das qualidades mais valiosas da inteligência humana, que
desde a mais remota antiguidade, o homem conseguiu fazer as suas construções
estáveis. Naturalmente, tomando para o modelo as admiráveis e sábias soluções da
natureza, que ainda hoje sugerem os sistemas estruturais modernos (POLILLO, 1968).
foi pela intuição, uma das qualidades mais valiosas da inteligência humana, que desde a
mais remota antiguidade o homem conseguiu fazer as suas construções estáveis.
Naturalmente, tomando como modelo as admiráveis e sábias soluções da natureza, que
ainda hoje sugerem os sistemas estruturais modernos (POLILLO, 1968). Tudo se voltava para
a prática e esse conhecimento empírico era passado de geração para geração como
segredos da corporação.
A noção de estrutura é parte integrante do inconsciente coletivo. Todo ser humano tem
no subconsciente a noção de equilíbrio, sendo assim, é de extrema importância que o
profissional envolvido no processo da concepção estrutural, seja ele o arquiteto ou o
engenheiro, desenvolva ainda mais essa habilidade, passando a visualizar, compreender e
analisar o comportamento das estruturas em diferentes circunstâncias, promovendo ainda
mais sua autoconfiança e seu processo intuitivo.
Todavia, o uso de modelos qualitativos como ferramenta de auxílio no processo de
ensino-aprendizagem de estruturas é uma atividade que vem sendo desenvolvida há mais de
70 anos. Um dos primeiros a utilizar modelos estruturais para demonstrações em sala de
aula foi Rathbun, que em 1934 utilizou blocos de madeira presos por arames para
demonstrar o comportamento de um arco (HARRIS; SABNIS, 1999).
Dentre todos os tipos de modelos estruturais, os utilizados para demonstrações em sala de
aula, geralmente, são os mais simples. Devido sua aplicação, é preciso que os mesmos sejam
portáteis e fáceis de operar. Esses modelos podem ser executados com materiais comuns,
como, por exemplo, papel, madeira, plástico ou borracha, pois normalmente não necessitam
de instrumentação e o comportamento das estruturas é analisado visualmente por meios de
deformações acentuadas (SANTOS, 1983). De maneira paralela, sabe-se que as primeiras e
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
mais importantes decisões na concepção de um projeto estrutural, que visa tanto os aspectos
estéticos como também os econômicos, são valores qualitativos e intuitivos.
Pensando nisso, este trabalho reuniu as três metodologias de ensino: a teoria, a prática e
a alta tecnologia, com a finalidade de levar o aluno a desenvolver sua sensibilidade, visando
1145
à compreensão do comportamento das estruturas, cultivando sua imaginação criadora,
tendo como guia a intuição e principalmente a sua autoconfiança, ao comprovar os
resultados de forma mais precisa possível com o software comercial utilizado. Assim, unimos
o passado intuitivo e sensível do profissional ao presente teorizado pelo mesmo e ao futuro
tecnológico de precisão. Com isso, estaremos auxiliando na formação de profissionais muito
mais aptos, precisos e confiantes a conceber estruturas.
Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo geral o aprimoramento de uma
metodologia experimental alternativa para validar alguns tipos de modelos qualitativos e
que consistiu basicamente de comparações utilizando imagens digitalizadas, desenvolvido
por Oliveira (2008). Assim, foram realizados ensaios em modelos qualitativos de vigas,
pilares e pórticos planos, sendo que posteriormente esses ensaios foram comparados com
os resultados obtidos a partir de simulações computacionais dos mesmos sistemas
estruturais em software comercial. Além disso, para mostrar o quão importante é saber o
conceito, entender a análise gráfica e desenvolver o cálculo, foi escolhido um modelo real
para representar visualmente e graficamente o que ocorre com a estrutura ao ser solicitada.
O modelo proposto é bem completo na questão de engenharia, pois se trata de uma ponte
com estrutura em concreto armado, com três vãos em arco abatido e apoios nas
extremidades. Os apoios intermediários são engastados. O tabuleiro é dividido em três
segmentos, sendo o central dotado de apoios Gerber. Essa ponte se encontra localizada na
cidade de São Luís do Paraitinga, no Estado de São Paulo.
2. METODOLOGIA
Durante a realização do trabalho, foram desenvolvidas atividades divididas em quatro
etapas, descritas na sequência:
• 1ª Etapa: Montagem dos modelos qualitativos, sendo que os materiais constituintes
foram, basicamente, espuma de seção quadrada, placas e bolas de poliestireno
expandido (EPS), cola, tinta e madeira. Também foram utilizados alguns artifícios como
componentes dos modelos produzidos – neste caso, tratou-se de acessórios que
serviram como elementos rígidos para a conexão/ancoragem das peças de ligação. Os
modelos qualitativos foram montados conforme o Quadro 1;
• 2ª Etapa: Digitalização das imagens, sendo utilizado um aparato instrumental simples
composto de uma câmera digital acoplada em tripé metálico. Para melhorar a
qualidade das imagens, foi utilizado fundo de cor preta para aumentar o contraste com
as peças dos modelos qualitativos e eliminar as sobras geradas pelas estruturas sobre a
base e o próprio fundo. Portanto, todo manuseio dos modelos, incluindo a aplicação
do carregamento, foi realizado manualmente. Cabe informar que, no modelo da
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A comparação dos resultados e sua consequente análise foram realizadas a partir das
imagens obtidas pelos modelos qualitativos e as obtidas pelos modelos computacionais.
Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, as intensidades de força aplicadas na maquete
1147 física e na eletrônica se diferem. Contudo, com as imagens colocadas isoladamente uma
abaixo da outra (ou lado a lado), mesmo com intensidades mais ou menos amplificadas, é
possível obter uma análise comparativa dos modelos através de aspectos como a flecha, o
efeito das vinculações e, principalmente, a eficiência de maquetes estruturais e modelos
eletrônicos qualitativos, para a pré-avaliação de comportamentos estruturais.
a b
deformação é mais acentuada quanto maior sua proximidade com o apoio móvel, enquanto
que a proximidade com o engaste minimiza a deformação do sistema, por isso esta é a
configuração de tal deformada.
a b
a b
a b
Podemos verificar que a deformação da maquete estrutural (Figura 4a) se assemelha muito
com a simulação computacional (Figura 4b). O tipo de vinculação que este sistema implica
permite que, quanto maior for a proximidade com o bordo livre, mais acentuada é a
deformação, em contrapartida, o posicionamento mais próximo ao engaste diminui a mesma.
1149
proximidade com o engaste minimiza a deformação deste sistema estrutural. Outro fator
observado é que, por ser um apoio móvel na extremidade superior dos pilares, ocorre o
deslocamento dos mesmos devido à força de compressão neles aplicadas.
Figura 6 – Pilar engastado e apoiado: a) maquete estrutural; b) simulação computacional.
1150
pilares biengastados após a aplicação de carga. Nota-se que, neste modelo de pilar, não ocorre
deslocamento pela compressão, fato este mais uma vez ocasionado pelo processo de
vinculação. Com isso, é possível observar a similaridade e eficácia dos modelos apresentados.
1151
3.2.4 Pilar engastado e livre (Figura 8)
Figura 9 – Pórtico plano com as ligações de base engastadas, submetido à carga vertical concentrada
no meio do vão: a) maquete estrutural; b) simulação computacional.
a b
Figura 10 – Pórtico plano com as ligações de base engastadas, submetido à carga horizontal
concentrada na parte no nó superior: a) maquete estrutural; b) simulação computacional.
1152
a b
O pórtico plano em questão é de modelo único, sendo que a diferença entre eles está no
ponto em que a carga foi aplicada. O fato do pórtico ser um elemento que apresenta todas
as ligações rígidas faz com que suas deformações sejam minimizadas, pois, quando
solicitamos a viga do elemento com a carga concentrada no meio do vão (Figura 9), a mesma
não se deforma sozinha, mas “pede auxílio” para os pilares que se deformam também. O
mesmo acontece quando o sistema é submetido à carga horizontal concentrada na parte do
nó superior (Figura 10), sendo que também todos os elementos envolvidos são solicitados e,
assim, a deformação é minimizada, pois agora são os pilares que “pedem ajuda” à viga que,
por sua vez, também se deforma. Isto pode mostrar a similaridade e eficácia dos modelos de
pórticos apresentados.
4.2.2 2ª Simulação
Esta simulação conta apenas com a presença da carga pontual. Pode ser observado na
sequência, tanto na maquete física (Figura 13) quanto na virtual (Figura 14), que no primeiro
ponto em que a carga foi aplicada, logo na extremidade da viga, próximo ao pilar, a ponte
sofreu leve deformação. Mais uma vez tal fato fica mais claro na maquete virtual, pois a
espessura da viga Gerber na maquete física não possibilitou claramente tal visualização. Isto
tudo porque a primeira parte da viga, em que se encontra a carga, “pede ajuda” ao meio da
estrutura, controlando melhor sua deformação.
Figura 13 – Deformação da ponte com a primeira carga pontual: modelo físico.
A aplicação da segunda carga pontual foi feita no centro na primeira parte da viga Gerber
(em vermelho) e, devido à distância equivalente dos pilares, esta parte sofre uma
deformação ainda maior do que a apresentada anteriormente. Entretanto, devido ao vão
menor, a flexão ainda é discreta. Na simulação computacional (Figura 15), tal fato fica mais
visível quando comparado à maquete física (Figura 16). Novamente, a maneira como as
partes da viga se juntam auxilia na menor deformação da parte em que a carga foi aplicada,
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
assim como já demonstrado anteriormente. É valido ressaltar que o maior vão sofre uma
leve deformação natural quase que imperceptível, devido ao seu peso próprio.
1154
A aplicação da terceira carga seguiu o mesmo princípio da primeira carga aplicada nesta 2ª
simulação, com a diferença que o vão da segunda parte da viga (em amarelo) é maior,
ocasionando em uma deformação também maior, conforme as Figuras 17 e 18. A flecha é mais
intensa no ponto em que a carga foi aplicada e isto pode ser observado em ambos os modelos.
1155
4.3.3 3ª Simulação
Esta última simulação une o que já foi apresentado nas simulações anteriores. A primeira
carga aplicada na ponte foi a carga distribuída, unida à primeira carga pontual. Os resultados
de ambos os modelos se aproximam e isso pode ser observado nas Figuras 21 e 22. A carga
distribuída faz com que toda a ponte flexione, intensificando a flecha no maior vão. Já a
carga pontual aumenta a deformação, na primeira extremidade da ponte, próximo ao
primeiro pilar. Mais uma vez, a simulação computacional permite uma melhor visualização
da carga pontual quando comparada à maquete física, devido à espessura da viga e ao
tamanho dos vãos.
Figura 21 – Deformação da ponte com carga distribuída e primeiro ponto da carga concentrada:
modelo físico.
Figura 22 – Deformação da ponte com carga distribuída e primeiro ponto da carga concentrada:
modelo virtual.
Figura 23 – Deformação da ponte com carga distribuída e segundo ponto da carga concentrada:
modelo físico.
Figura 24 – Deformação da ponte com carga distribuída e segundo ponto da carga concentrada:
modelo virtual.
Figura 25 – Deformação da ponte com carga distribuída e terceiro ponto da carga concentrada:
modelo físico.
Figura 26 – Deformação da ponte com carga distribuída e terceiro ponto da carga concentrada:
modelo virtual.
1157
Fonte: Os autores, 2017.
Figura 27 – Deformação da ponte com carga distribuída e quarto ponto da carga concentrada:
modelo físico.
Figura 28 – Deformação da ponte com carga distribuída e quarto ponto da carga concentrada:
modelo virtual.
4. CONSIDERAÇÕES
Sabe-se que a memória visual do ser humano é a que mais predomina dentre os atributos
associados à inteligência, razão pela qual os modelos didáticos e dinâmicos para o ensino de
estruturas são fundamentais, para que os conceitos que os envolvem sejam mais bem
compreendidos e fixados.
O conhecimento adquirido de forma lógica de experimentação é extremamente
importante para a formação de qualquer profissional. Diante disso, os resultados obtidos
neste trabalho comprovaram a eficiência dos modelos qualitativos e de maquetes virtuais
para a pré-avaliação do comportamento de sistemas estruturais. Os modelos qualitativos
mostraram-se bastante eficientes quando comparados aos modelos computacionais
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, pela concessão da
bolsa de iniciação científica à autora pelo período de três anos.
REFERÊNCIAS
FAY, L. Estruturas arquitetônicas: composição e modelagem. Rio de Janeiro: Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, 2006.
HARRIS, H. G.; SABINS, G. M. Structural modeling and experimental techniques. Florida: CRC Press
LLC, 1999.
OLIVEIRA, M. S. Modelo estrutural para pré-avaliação do comportamento de estruturas metálicas.
2008. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto,
2008.
POLILLO, A. [Sem título]. In: ENCONTRO DE PROFESSORES DE ESTRUTURA PARA ESCOLAS DE
ARQUITETURA. 1., 1974, São Paulo. Anais... São Paulo: FAU/USP, 1974.
REBELLO, Y. C. P. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2003.
SANTOS, J. A. Sobre a concepção, o projeto, a execução e a utilização de modelos físicos
qualitativos na engenharia de estruturas. 1983. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo, são Paulo, 1983.
O ENSINO DE ESTRUTURAS RECÍPROCAS EM MADEIRA: EXPERIÊNCIA
DIDÁTICA PARA ALUNOS DE ARQUITETURA
RESUMO
Este trabalho trata dos meios didáticos empregados ao ensino de sistemas estruturais tendo como
universo os alunos do curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Universidade Federal do Semiárido. Trata-se de
uma experiência didática realizada por meio de minicurso, workshop e pela integração das
disciplinas: Projeto de Arquitetura 02, Fundamentos Ambientais e Fundamentos das Estruturas 02. O
objetivo dessa experiência visa ao despertar de interesse e à compreensão por sistemas construtivos
distintos dos tradicionalmente empregados em nosso país e incorporá-los a prática projetual, os
Reticulados Recíprocos (RR). Para que o objetivo fosse atingido, adotaram-se os seguintes
procedimentos metodológicos: a preparação de material didático, realização de minicurso e
whorkshop com tutoria, elaboração de projetos e modelos em escala. O resultado permitiu a
articulação entre três disciplinas envolvidas no quarto período acadêmico do curso de arquitetura e
urbanismo, culminando na proposta de uma edificação em sistema construtivo recíproco com
atenção a condicionantes climáticas, conceito, partido e funcionalidade; bem como a confecção de
material didático e a construção de um modelo físico demonstrativo para compreensão do sistema.
Palavras-chave: Ensino; Arquitetura; Reticulado Recíproco; Modelo físico.
ABSTRACT
This work deals with educational media employees to teaching of structural systems with the universe
the students of undergraduate degree in Architecture and Urbanism and Civil Engineering at the
Federal University of Rio Grande do Norte and the Federal University of the Semi-arid . It is a didactic
experience accomplished through lecture, workshop and the integration of disciplines: Architectural
Project 02, Ambient Fundamentals and Fundamentals of the Structures 02. The aim of this experiment
is the awakening of interest and understanding for constructive systems other than those traditionally
employed in our country and incorporate the design practice, the Reciprocal Frame (RF). In order to
achieve this goal were adopted the following methodological procedures: the preparation of
educational materials, conducting lecture and whorkshop with tutoring, projects elaboration and
scale models. The result allowed the articulation between three disciplines involved in the fourth
quarter of the course of architecture and urbanism, conditions in the proposal of a building in
reciprocal constructive system with attention to climatic constraints, concept, party and functionality;
as well as the preparation of teaching materials and the construction of a physical model statement
to understand the system.
Keywords: Teaching; Architecture; Reciprocal Frame; Physical model.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1. INTRODUÇÃO
O exercício projetual fazendo uso de sistemas construtivos em madeira está atrelado a
inúmeros questionamentos. Dentre estes questionamentos, estão as opções de arranjos e a
adequada escolha das junções entre os diferentes elementos estruturais. O projetista
1160 precisa de certo nível de conhecimento sobre o material e noções mínimas do
comportamento estrutural para obter êxito em suas propostas.
Por outro lado, os cursos de graduação em nosso país carecem de maior divulgação sobre
as práticas construtivas fazendo uso desse material. A prática nas disciplinas de base
tecnológica têm contribuído para que esta lacuna se mantenha na formação dos alunos dos
curso de arquitetura e engenharia civil. Vê-se oportuna a elaboração de procedimentos
metodológicos que possam colaborar para a divulgação e a apreensão desses
conhecimentos, bem como a produção de material consultivo que venha a ser utilizado
pelos alunos do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo.
As atividades aqui expostas nada mais são que experimentações didáticas e
metodológicas que resgatam a utilização de um sistema estrutural milenar bastante
intuitivo, o qual pode despertar nos alunos a criatividade projetual e construtiva com
sistemas estruturais não muito comuns. Existe um potencial inexplorado que envolve a
geometria espacial de sistemas estruturais a partir do conhecimento e da exploração dos
Reticulados Recíprocos – RR.
O objetivo, portanto, é desafiar alunos e professores a explorar esses arranjos
estruturais autoportantes que desafiam a lógica cartesiana mais convencional já conhecida
dos sistemas estruturais existentes. Por meio de diferentes abordagens, foram
implementados os procedimentos que colocam alunos e professores em contato com a
prática dos conceitos do sistema.
2. OS RETICULADOS RECÍPROCOS
O Reticulado Recíproco – RR pode ser definido como uma trama tridimensional na qual
três ou mais vigas inclinadas promovem apoio mútuo a partir de suas extremidades
interiores, configurando um polígono regular. A extremidade interna de cada viga se apoia
na respectiva extremidade da viga adjacente. A extremidade externa das vigas tem sua
estabilidade garantida por meio do apoio das vigas sobre uma viga de contorno, paredes ou
diretamente sobre pilares, garantindo assim a estabilidade global.
O sistema combina pequenas vigas, fazendo uso de um padrão altamente simétrico, que
resulta em uma estrutura rica em detalhes e com um belo resultado plástico. Há quem o
compare a mandalas e a ninho de pássaros, os quais partem de pequenos gravetos para
formar a complexa estrutura de abrigo.
A madeira foi o primeiro material a ser utilizado para a execução de RR, no entanto,
podem ser executadas em aço, alumínio e concreto. O sistema é aplicado em coberturas,
pontes, passarelas e entre-pisos, e se destaca pela criação de geometrias complexas
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
Os possíveis motivos para o quase desconhecimento desse sistema nos dias atuais pode
ser entendido se considerarmos que só recentemente foi-lhe dada uma denominação. Outro
motivo a ser considerado é que, sendo um sistema estrutural relativamente antigo que
usava como principal matéria prima a madeira, material suscetível a incêndios e
deterioração ao longo dos séculos, restaram alguns poucos exemplares para estudo. Soma-
se aos motivos anteriores o fato de que só recentemente surgiram recursos de projetação
por meio de ferramentas CAD que possibilitaram melhores condições para representação
em projeto, despertando o interesse por parte dos arquitetos (PUGNALE et al., 2011).
3. ATIVIDADES PRÁTICAS
Duas atividades práticas foram realizadas para elaboração e divulgação de conteúdo. O
primeiro foi um minicurso intitulado ARQUITETURA DO RETICULADO RECÍPROCO: PROJETO,
ANÁLISE E PRÉ-DIMENSIONAMENTO, com 8h/aula, sendo 6 horas presenciais e 2 horas de
atividades extraclasse, realizadas no Campus da Universidade Federal do Semiárido
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
3.1 Minicurso
Onde, (n) número de vigas – extremidade das vigas; (α) ângulo externo entre as vigas; (r0)
raio externo; (ri) raio interno – ponto de intersecção das vigas; (A) altura total (por eixo) da
extremidade externa da viga e o ponto de intersecção com a outra viga (projeção vertical);
(a1) altura (por eixo) da extremidade externa da viga até o ponto de intersecção com a outra
viga (projeção vertical); (a2) altura (por eixo) do ponto de intersecção da viga até a
extremidade da viga; (b1) Comprimento da viga a partir de sua extremidade externa até o
ponto de intersecção; (b2) Comprimento da viga a partir intersecção até sua extremidade
interna; (B) Comprimento da viga em projeção (projeção horizontal); (L) Comprimento da
viga em verdadeira grandeza.
Com o conhecimento desses parâmetros e fazendo uso de equações trigonométricas
citadas por Larsen (2008), ver equações 1 a 7, os alunos realizam os cálculos para
determinação das dimensões em projeto.
360
𝛼= (1)
𝑛
∝
𝑏2 = 2𝑟𝑖 𝑠𝑒𝑛 2 (2)
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1
2 2 𝑏2
𝑏1 = [𝑟0 2 − (𝑟𝑖 cos∝ ) ] − (3)
2 2
𝐵 = 𝑏1 + 𝑏2 (4)
1164 𝑏1
𝑎1 = 𝐴 (5)
𝐵
𝑎2 = 𝐴 − 𝑎1 (6)
1
𝐿 = (𝑏 2 + 𝐴2 )2 (7)
Os materiais empregados para as aulas práticas do minicurso foram: folhas A4, compasso,
calculadora científica, caneta/lápis/borracha, régua/par de esquadros, transferidor, estilete,
palitos de madeira para churrasco cola a quente, palitos de fósforos e barbante.
3.2 Workshop
Após a apresentação dos aspectos históricos, tipologias e o comportamento estrutural, os
participantes receberam o material necessário para confeccionar os modelos. Não foram
considerados nessa experiência, o processo de dimensionamento ou projeto prévio, a ênfase
foi dada aos resultados formais e composição. Os participantes com auxílio de alunos
monitores, elaboraram a montagem de pequenas unidades RR, Figura 6.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
1165
1168
5. CONSIDERAÇÕES
A associação do conhecimento teórico com a atividade prática proporcionou dinanismo
na transmissão de um sistema construtivo complexo. Na primeira atividade, os alunos
divididos em equipes demonstraram satisfação a realizar o trabalho em equipe, com
características de cooperação e complementação de conhecimentos. Deste modo, o ensino
de estruturas recíprocas, que em princípio pode apresentar complexo em face as
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
DI CARLO, B. The wooden roof of Leonardo and the New Structural Research. Nexus Network
Journal, v. 10, n.1, Turin, 2008.
LARSEN, O. P. Reciprocal frame architecture. Amsterdam: Elsevier, 2008.
PUGNALE, A., Parigi, D., Kirkegaard, P. H., And Sassone, M. The principle of structural reciprocity:
history, properties and design issues. In: IASS: Intl. Conference on Space Structures, 2011, p.414–421.
Disponível em:
<http://pure.au.dk/portal/files/69948216/The_Principle_of_Structural_Reciprocity.pdf>. Acesso em:
27 jun. 21017.
OBATA, Sasquia Hizuru (1); GRINOVER, Marina Mange (2); FEHR, Lucas (3)
RESUMO
Dos pareceres de deficiência de formação em nível nacional quanto à compreensão dos sistemas
estruturais e o domínio da concepção e do projeto estrutural, com base no relatório de 2014 do
Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), constata-se que as estratégias pedagógicas
desenvolvidas nas instituições de ensino superior ainda não atingiram, de fato, a integração
formativa de domínio da concepção e do projeto estrutural nos cursos de arquitetura. Deste cenário,
extraem-se várias lacunas para serem preenchidas e que podem ampliar o rendimento formativo
quanto às habilidades e competências não somente dos concluintes dos cursos de graduação de
Arquitetura e Urbanismo, mas que promovam a maior compreensão dos sistemas estruturais, estes
proporcionados nos conteúdos programáticos. Tomando-se como referenciais publicações em que se
identificou aderência às estratégicas programáticas propostas, o presente artigo tem o objetivo, sob
a temática “Meios para o ensino de estruturas – recursos, literatura e material didático”, de
apresentar análises e experiências dos autores como docentes nestes cursos e em relação às
experiências acadêmicas, fornecendo exemplos de aulas em que se destaca a leitura de projetos e
descrições de obras que contribuam para fundamentações teórico-práticas de resistência dos
materiais, estabilidade das construções e fundações. Conclui-se que as obras e projetos como
recursos proporcionam a maior compreensão dos sistemas estruturais, mas o suporte de um plano
de curso, plano pedagógico e atuação de envolvimento dos docentes na constituição, elaboração e
preparo de uma nova forma educativa representa uma transformação de metodologias e dos
profissionais envolvidos como uma cadeia formativa.
Palavras-chave: Projetos e obras arquitetônicas; Sistemas estruturais; Ensino de estruturas.
ABSTRACT
The conclusion of deficiency assessment of national-level about the understanding of structural
systems and the field of design and structural design, based on the 2014 Brazilian National survey
report of Student Performance (ENADE), turns out that the strategies developed in higher education
institutions have not yet reached the formative design domain integration and structural design. In
this scenario, extracting several gaps to be filled and that extend the formation yield as the skills and
competencies not only of graduates of degree courses of architecture and urbanism, but to promote
better understanding of structural systems, these provided in the syllabus. Taking as a reference in
publications which identified strategic programmatic proposals, adherence to this article aims under
the theme "Media for teaching structures – features, literature and teaching material" to present
analyses and experiences of the authors as teachers in these courses and academic experiences, and
provides examples of classes in which stands out the reading projects and descriptions of works that
contribute to the theoretical and practical foundations of strength of materials , stability of buildings
and foundations. Is possible to conclude that the works and projects as resources provide greater
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
understanding of structural systems, but support a plan of course, educational plan and for the
involvement of teachers in the creation, development and preparation of a new form of education
represents a transformation of methodologies and the professionals involved as a formation.
Keywords: Architecture Projects and works; Structural systems; Teaching structures.
1171
1. INTRODUÇÃO
Sob a proposta de apresentar estudos de projetos e obras que proporcionam a
compreensão dos sistemas estruturais como conteúdos acadêmicos de concepção e projeto
estrutural, este artigo considera dois referenciais formais e qualitativos: as avaliações de
curso no Brasil – Exame Nacional de Desempenho de Estudantes, ENADE, e abordagens
sobre o conhecimento estrutural para arquitetos provenientes de publicações específicas.
As avalições de curso no Brasil são tomadas neste artigo de modo introdutório para
apresentar o cenário de lacunas de apropriação do conhecimento pelos formandos de modo
geral e atendendo ao objetivo deste artigo, que serve como ferramenta de identificação das
diretrizes de avaliação objetiva como parâmetro para seleção de conteúdos desenvolvidos
pelos autores e apresentados como estudos de projetos.
As referências bibliográficas sobre o conhecimento dos sistemas estruturais para a
arquitetura e urbanismo de Salvadori e Heller (1987), Baixas (2010) e Addis (2009) serviu de
parâmetro de confirmação para a seleção dos estudos de projetos para este artigo.
Os estudos de projetos e obras apresentados são possibilidades com foco na maior
compreensão dos sistemas estruturais, mas principalmente servem de referencial e como
suporte à imprescindível atuação na constituição, elaboração e preparo de uma nova forma
educativa e a ser melhorada continuamente, pois se tratou de uma seleção pelo melhor e
entre diversos conteúdos lecionados.
De modo geral, tem-se que o relatório expõe o despreparo dos formandos tanto em
relação às questões técnicas e específicas do curso e o DAS (2014) coloca-se como um
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
resultado que não pode ser considerado como uma estatística educacional restrita a
relatórios técnicos e burocráticos, sendo necessária a aderência pelos cursos através de
reformas curriculares e mudanças nas salas de aula.
competências, pois não deve ser o espelho distorcido ou com foco simplesmente reduzido
ou diminuído do curso de engenharia civil, e sim um curso aderente ao formar as
competências e habilidades de concepção e projeto estrutural.
A ideia de formações distintas deve estar plenamente clara nas estratégias e
1175
metodologias dos cursos de arquitetura e urbanismo e engenharia civil e, como já declarado
por Salavadori e Heller (1987), o desenvolvimento quantitativo para a formação em
arquitetura e urbanismo prima em estratégia didática, sendo a partir da matemática mais
simples dos números, da álgebra e o cálculo elementar, pois:
Não há dúvida que tanto na mente do engenheiro como do arquiteto, os modernos
conceitos estruturais quando aplicados de modo adequado e quando um arquiteto
de posse da compreensão cabal das estruturas tem produzido resultados
surpreendentes e isto não significa que os arquitetos venham a ser matemáticos,
sugerem-se simplesmente que se deseja expressar através das formas estruturais,
o profissional deve primeiro capacitar-se para usar as ferramentas de análises
quantitativas. E, se surpreenderá ao descobrir que sua intuição cumulativa o levará
a soluções estruturais corretas sem demasiado manejo matemático.
estudos de projetos e obras que proporcionam a compreensão dos sistemas estruturais, base
da formação que a graduação em arquitetura e urbanismo pode se pautar.
De fato, não se trata de algo também novo, mas centrado na prática docente e
reciclagem constante. Sobre os entraves do ensino, deve-se sair da aridez para transparecer
1176
com exercícios de projeto e modelos que devem ser simplificados e aplicados em
subdivisões para que suportem a intuição e a matemática elementar.
Os níveis de complexidades devem ser transpostos e gradualmente impostos e se seguir a
diretriz norteadora das palavras chaves de Ove Arup: o projeto não ser estanque e
fragmentado a especialidades, mas sim ser considerado um Projeto Total. Em seu discurso
de 1970, cita que:
A qualidade do trabalho corresponde a incansável busca da qualidade ou mesmo
excelência no projeto. A criação da arquitetura total, com todas as suas
implicações.... Esclarecer com mais detalhes o que queremos dizer com qualidade
ou excelência seria uma tarefa enorme, mas se trata de um negócio (e se ganha
com isto e há retorno – inserção nossa), ou seja, o arquitetar de modo total, ou
seja, Projeto Total. O que se quer é uma estrutura ou edificação com qualidade,
caráter, unidade, não uma mera escultura ou auto-expressão estética, mas aquele
que serve a uma aspiração humana e vale a pena, de forma honesta, direta,
prática, e que se pode chegar a grande arte quando necessário. Sabemos que isto
se consegue com integração, uma síntese de todos os elementos diferentes, as
habilidades, conhecimentos e recursos que são necessários para criar o todo, e que
nos superarmos nessa tarefa exige esforço mental, uma paixão inquieta por
perfeição. O que quero ressaltar é que devemos sempre estar cientes do fato de
que as partes devem se encaixar no projeto do todo, e que o todo deve se
relacionar demais unidades maiores. Devemos buscar a meta fundamental, tentar
o máximo, é necessário deixando de lado nossos programas de necessidades de
maneira privativa e gratuita reagindo as responsabilidades múltiplas de modo
atender aos requisitos da construção efetiva. Os projetistas cada vez mais
envolvidos na elaboração do programa de necessidades, porque a decisão correta
sobre o que construir em geral é mais importante do que como construímos e, ela
afeta nosso trabalho profundamente. Devemos ter consciência deste contexto
amplo e os engenheiros devem estar mais cientes do esquema arquitetônico, para
termos controle absoluto sobre o projeto e o sistema de construção, talvez seja
também desejável, em certos casos, assumir o papel de construtor, organizando o
trabalho das subempreiteiras especializadas.
1179
Como referencial metodológico e estratégico indica-se para este estudo que as atividades
sejam desenvolvidas em grupos de quatro e cinco alunos, em uma classe composta de cerca
de 40 alunos, duas horas aulas semanais como total de 10 minutos e carga horária semestral
de 36 horas aulas.
6.2 Introdução a visão sistêmica sobre a tipologia de subestrutura de piso em laje treliçadas
Figura 3 – Planta da laje de cobertura da Casa Moinho Villa, de Way Architecture Yell.
modular dos vãos arquitetônicos e das peças pré-fabricadas – razões que reduzem as
perdas de materiais e desperdícios de recursos;
Apresentar condições básicas para a utilização de sistemas construtivos pré-moldados
ou pré-fabricados. No caso específico, as lajes armadas treliçadas conduzem à reduzida
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utilização de fôrmas de madeiras em obras de pequeno porte.
Deste exemplo de projeto e utilizado em aula sobre a tipologia de subestrutura de pisos
nervurados em uma direção, busca-se apresentar como a visão sistêmica e integrada entre
as diversas especialidades construtivas forma o produto como um todo – sendo, neste
exemplo, o sistema estrutural da subestrutura de piso o condutor do estudo das formas que
a construção se constituirá, a morfologia básica de um projeto residencial como exemplo.
6.3.1 Junta de dilatação: vista na laje: Figuras 4a no teto do prédio 3 e, 4b e 4c no piso da praça.
“A junta de dilatação que percorre todo o prédio é limitada com duas chapas metálicas
laterais e preenchida com espuma para evitar rachaduras” (Alunos Grupo 2, 2017).
A Figura 5c é descrita como sendo uma “estrutura de sustentação radial e sobre consolo”
(Grupo 1, 2017) e a Figura 5d de pesquisa e apresentada por um dos grupos demostra a
procura por outros exemplos e citam a identificação que:
A obra de Rino Levi possui a mesma forma de apoio em consolo onde o pavimento
do mezanino é apoiado lateralmente e afastado do pilar (Disponível em:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/12.048/4083?page=4.
Acessado em 20 de fevereiro de 2017) (Grupo 4, 2017).
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Nas Figuras 7a e 7b, está apresentada a viga em balanço que apoia a laje em grelha que
cobre um dos blocos do subsolo, descrevendo-se a seção da viga em seção I para as cargas
elevadas e para que altura moldada fosse reduzida e, na ponta do balanço, está a junta de
dilatação da laje do térreo (Grupo 1 e 2, 2017).
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Como resultado de esquematização de um dos blocos, apresenta-se a planta em esquema
unifilar e parte dos esquemas estáticos das vigas, Figuras 8a e 8b, respectivamente.
Existiu um módulo de fôrma, para ser feito em etapas, assim é colocado módulo
por módulo, como mostra a foto, subindo os níveis nota-se as tábuas moduladas e
desenhadas por arquitetos, para ficar com um encaixe correto. Este pilar parede
precisou ser moldado em etapas, pois o concreto gera reação exotérmica, de calor
grande - gera liberação grande de calor, portanto não se pode fazer a coluna
inteira, precisa ser feita por etapas (Grupo 4, 2017).
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Desta visita técnica, são apontados muitos outros itens estruturais e construtivos – como
juntas de controles, rufos, platibandas, vigas escadas, pilaretes, escadas maciças, escadas
plissadas, rampas, entre outros –, dos quais se extraíram exemplos que podem demonstrar
que este recurso de observação, com as descrições e as construções das representações
impactam em uma efetividade na consolidação do conhecimento e conduzirão a uma
melhoria na habilitação, sendo que os resultados desta experiência foram perceptíveis nos
desenvolvimentos de todos projetos neste semestre.
A solução está em pontos de encontros das duas vigas vierendeel como suporte das
caixas e o prolongamento dessas vigas ocorre entre montantes em posição diagonal e,
portanto, com angulações diversas – denominada em obra de “viga caótica”;
A “viga caótica” configurou a forma como é vista e definida a fachada do museu e
1186 possibilitou que vigas simplesmente apoiadas de 9m de vão suportem as caixas dos
ambientes, ou seja, cubos de exposições.
Com este exercício, mesmo que neste artigo se mostrem os destaques do sistema
estrutural, pode-se comprovar que possui a consistência de fornecer aos formandos a busca
por conceitos desenvolvidos nas disciplinas de todo o curso e suas integrações, assim como
o exercício da construção e criação de maquetes que possibilitam considerar materialidades,
além de gerar maior apreensão dos conceitos dos sistemas construtivos, a configuração dos
elementos estruturais, as subestruturas e a visão sistêmica de uma obra.
7 CONSIDERAÇÕES
Como resultados das aplicabilidades e para se absorver os resultados que as avaliações do
ENADE proporcionam de modo temporal e periódico, há que se entender que existem lacunas
formativas e de habilitações, as quais devem ser resolvidas através das disciplinas – não somente
como estratégias parciais, mas que de fato busquem pavimentar novas ações e que de fato
exigem colaborações e integrações entre disciplinas e docentes para que possam contribuir de
modo mais eficiente e centrado na formação das competências e habilidades requeridas.
Da observação das formas das questões e em aderência às diretrizes curriculares, é possível
definir que há uma necessidade de maior objetividade, com metodologias e estratégias de
formação, que coloquem à luz que conteúdos ora desenvolvidos com aprofundamentos e
especificidades de formulações e deduções físicas e matemáticas não conduzirão à apreensão
de conceitos estruturais como se requer a formação em arquitetura e urbanismo.
Notou-se que se ter como exemplo a construção dos conceitos por parâmetros elencados
neste artigo e estes suplantados a expressão gráfica para modelos até protótipos conduzem
ao amalgamento não só de conceitos, mas como as formas são concebidas.
Como resultado, é possível indicar que se devem desenvolver metodologias integradas
desde o primeiro semestre, uma vez que as mesmas incutem também um maior
protagonismo aos alunos.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.
No que se refere à introdução do caráter sistêmico dos projetos e estes vistos como
produtos que integram diversos sistemas e processos construtivos, como já posto em prática
em disciplina de morfologia das estruturas, terceiro semestre, permite-se uma maior
integração entre as disciplinas de projeto de arquitetura e das tecnologias já apreendidas –
1187
mesmo como uma aplicação pontual em exercício, bem como consolida a própria morfologia
como ato projetual & estrutural, como o estudo da forma através de uma metodologia
sistêmica que gera o entendimento estrutural intrínseco à forma e como se constituirá a obra.
Colhe-se que há um resultado positivo quando se busca a constatação de elementos e o
entendimento dos sistemas estruturais pelos alunos através de visitas técnicas orientadas,
dados os resultados de maior facilidade no desenvolvimento dos projetos. Mas como crítica
e que proporcione maior avanço, entende-se que se poderá contar, além das formas e
leituras de outras materialidades, com a apresentação de obras referenciais e já do
repertório formativo e em citações de outras disciplinas.
A aplicabilidade do tema deste presente artigo refere-se à “concepção e projeto
estrutural: estudos de projetos e obras”, que proporcionam a compreensão dos sistemas
estruturais como uma construção do conhecimento, conforme preconizado por Ove Arup
como “Projeto Total”, apropriando-se do entendimento das formações citadas por Baixas
entre engenharia civil e arquitetura. Deve-se, portanto, ter uma concepção do plano de
curso e de disciplinas centrados em suas habilidades e objetivos da formação.
Finalmente a concepção e o domínio de um projeto estrutural por profissionais da
arquitetura e urbanismo através de uma formação que contemple estudos de projetos e
obras proporcionam a compreensão dos sistemas estruturais como parte intrínseca e do
todo, mas é imprescindível que, como estratégia e atendimento a um maior aproveitamento
nas avaliações de curso como o ENADE, haja o real suporte de um plano de curso, plano
pedagógico e atuação de envolvimento dos docentes na constituição, elaboração e preparo
de uma nova forma educativa – e, de certo, entende-se como uma transformação de
metodologias e dos profissionais envolvidos na cadeia formativa.
REFERÊNCIAS
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Porto Alegre: Bookman, 2009.
CATTERMOLE, P. Buildings for tomorrow – architecture that changed our world. Londres: Thames &
Hudson Ltd., 2006.
BAIXAS, J. I. Forma resistente. Santiago: Escola de Arquitectura Pontificia Universidad Católica de
Chile, 2010.
DAS – Diretoria de Avaliação da Educação Superior. ENADE 2014 – Exame Nacional de Desempenho
dos Estudantes: Relatório de área – Arquitetura e Urbanismo. Versão 07-04-2014. INEP, 2014.
FEHR, L. O projeto frente a questões contemporâneas da cidade e da arquitetura: O Museu de la
Memoria de Santiago do Chile. 2010. Tese (Doutorado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. ENADE. Disponível em:
<http://portal.inep.gov.br/enade> Acessado em 09-05-2017>. Acesso em: 23 mar. 2017.
III ENEEEA – Ouro Preto, Brasil, 07 a 09 de junho de 2017.