Instrutor-chefe de Krav Maga Striker 2022 INTRODUÇÃO À DEFESA PESSOAL
Para qualquer estudo sobre algo é necessário se estabelecer uma
definição ou várias definições de termos. Uma das definições mais aceitas sobre defesa pessoal é:
Utilizar-se de meios e/ou habilidades para defender-se.
Logo pela definição temos o termo “utilizar-se” que significa pôr em
prática, exercitar ou usar, indicando que a defesa pessoal se dá quando efetivada em uma situação real. Quando não efetivada em algo real, mesmo que em treinamento, não pode ser considerada uma defesa pessoal. Portanto o treino tem que ser prático (imaginar dando um soco e praticar aplicando socos são coisas totalmente diferentes). É preciso haver testes, simulações, protocolos, medições capazes de assegurar o treino ou uso correto daquilo que se pretende para defesa pessoal.
“Meios”, quais seriam esses meios? Não seriam apenas
equipamentos de defesa pessoal (spray de gengibre, pistola, lâmina, etc.), como também armas impróprias (pedra, cadeira, ripa, etc), como obstáculos (portas, mesas, etc.), objetos de vantagem (câmeras, radares, etc.) dentre outros. Esses meios representam uma característica humana de se valer de ferramentas para melhor, aperfeiçoar ou dominar certa área de conhecimento ou prática. Deveria ser impensável a qualquer um o treino correto de defesa pessoal sem a correlação com esses meios.
Quanto as habilidades podem tanto ser mentais, sociais ou físicas.
Como assim? Podemos ter um ótimo planejamento de como agir na iminência de uma situação de risco, um exemplo bem simples é uma pessoa que perto de casa percebe está sendo seguida e entra rapidamente em casa, colocando o muro e portão entre ela e o inimigo. Defendeu-se usando inteligência situacional. Já quando se trata de sociais, um bom exemplo é a negociação, é fazer o inimigo desistir, sair rapidamente ou ainda vacilar para ser possível uma reação. Outro exemplo social é de quando não parecemos ser indefesos, como os outros nos veem depende também da nossa habilidade social, caso um trombadinha o veja como um possível risco a ele, ele irá evitar você. Finalizando as habilidades físicas tanto a de combate quanto as de fuga que é a parte mais visível de todo treino de artes marciais e defesa pessoal.
Por fim o defender-se, atentamos para essa partícula “se”, indicando
que é defender a si mesmo. Nesse momento a definição de defesa pessoal entra em seu “stricto sensu” na qual leva em consideração apenas a pessoa que pratica e não as outras pessoas. Sendo assim estariam excluídas as defesas de outras pessoas. Porém essa é uma definição moderna que faz sentido quanto tentamos separar esportes, artes marciais e defesa pessoal, sendo que antigamente todos treinavam a mesma coisa e a diferença era, onde deveria ser, no contexto. Se usasse em uma apresentação ao rei ou em um campeonato é esporte, se usasse em um combate é arte marcial ou se usasse para sair de um assalto seria defesa pessoal. Treino marcial
Como citado no capítulo anterior na antiguidade não havia essa
definição de defesa pessoal, todos treinavam juntos para guerra, seja no ocidente e/ou oriente. “Mas professor, na Índia diziam que treinavam tal coisa para avanço espiritual”, mas usavam na guerra. A última preocupação era realmente o bem-estar, diferente de hoje onde seria impensável se mandar as moças do Yoga para guerra, pois elas estariam treinadas por saberem fazer a postura do guerreiro. Contudo, nada mais comum que alistar monges, artistas marciais diversos e famílias marciais em época de guerra, lhes dando destaque. Também essa “arte” incluía a “defesa de terceiros” desde os escudos espartanos e romanos os quais protegiam os companheiros de batalha até o treino dos guarda (costas) reais os quais serviam como segurança de reis, imperadores, nobres, etc.
Nessa época não havia a separação de esporte, artes marciais e defesa
pessoal, a não ser pelo uso. Um “samurai” que usasse sua adaga em uma rua para evitar ser morto por um ladrão, praticou defesa pessoal. Já utilizando no dojo ou em batalha, praticou arte marcial. Caso aceitasse uma apresentação ou contenta de pontos na frente do imperador estaria praticando um esporte. E com dito o treino e as técnicas eram exatamente as mesmas devendo o artista marcial apenas desenvolver sua habilidade de luta. Então qual motivo dessa separação se o mesmo treino servia para tudo?
Evolução! A sociedade se tornou mais complexa, as armas se
tornaram mais complexas, as pessoas também evoluíram.
Um bom exemplo de como as armas se tornaram complexas seria o
surgimento da arma de fogo em larga escala, até aquele momento, espadas, facas, flechas e armaduras resolveriam bem os problemas. O nobre colocaria sua armadura para caçar bandidos, para ir para guerra ou para participar de Justas (esporte medieval com lanças e cavalos). Esses itens poderiam ser caros e baratos, qualquer camponês poderia equilibrar a luta com um porrete ou outra lâmina. Nesse momento precisou haver uma mudança, além do mais, o surgimento de aviões, navios de guerra, submarino, tornaram o combate corpo-a-corpo uma utilidade secundária. Então para ir para guerra prioritariamente o soldado precisaria saber utilizar desses equipamentos modernos e sobreviver, e não mais ter uma habilidade corpo-a-corpo superior.
Outro bom exemplo que deixa claro como a sociedade se torna
complexa, além desse distanciamento do dojo e do treino de guerra. São as leis, como no Japão onde foi retirada as espadas dos samurais fazendo com que os mesmos priorizassem o treino marcial desarmado (depois de muitas guerras e revoltas) como forma ainda de demonstrar superioridade. Esse “desarmamento”, fez com que a defesa dentro dos centros urbanos se tornasse prioritariamente corpo-a-corpo (aqui também entram facas, porretes e qualquer arma improvisada ou fácil de ser escondida). Lembrando que hoje as armas de fogo estão facilmente disseminadas em qualquer lugar e é impensável a defesa pessoal sem ao menos cogitar a ideia de ser possuir ou ter planos de como reagir a uma arma de fogo.
Uma exemplificação de como as pessoas evoluíram é o treinamento,
na China só quem era aceito por um mestre ou tivesse nascido em uma família marcial teria treinamento marcial. Em Roma, seria apenas nas legiões ou na arena. Hoje pagando-se uma quantia mensal se é possível conseguir todo o tipo de treinamento. Então devemos levar em consideração essas mudanças, as chances de se pegar alguém 100% sem treino alguns estão cada vez menores.
Vale a pena salientar ainda a cultura, no ocidente, houve a
disseminação das artes marciais japonesas e chinesas (dois lugares onde se passaram desarmamentos cruéis, sanguinários e genocidas). Além da dominação ocidental que reforçou essas práticas para tornar mais fácil a dominação. (Europa dominou a China e os EUA pós-guerra impediu o Japão até de ter exército) Com o ego ferido essas duas culturas passaram a endeusar seus passados, facilmente visto em filmes, samurais e heróis de guerra chineses de kung fu para todo lado e como havia o medo de represálias passaram também a evocar o termo de “suprema” para suas artes marciais fato que foi malandramente apoiado pelos governos. Em 1955, no Japão Jigoro Kano e o imperador fazendo uma grande propaganda para “artes marciais” chegando a organizar Judô, Karate dô, criando essa linha “fora da guerra “(JUTSU) para “caminho” (DO, educação, formação). Na China após o massacre das facções inimigas e fechamentos de vários “centros de artes marciais” os revolucionários do Partido Comunista reforçaram a propaganda de superior do Kung fu e de como não precisa de “armas”.
Até hoje não é incomum a fala infantil ao se deparar com um
agressor armado: “venha desarmado se é homem”, “homem luta desarmado”, “venha na mão”, “você não tem honra”, dentre outras coisas infanto-juvenis fora da mentalidade de uma pessoa adulta. Homem que lutava desarmado morria para um tigre ou inimigo e não reproduzia, guerra não tem honra, Samurais além de usar sua lâmina em qualquer um, ainda praticavam atos não muito corretos com crianças nos prostibulo. Um inimigo atacar de surpresa ou quando ele estiver vantagem, é o mais lógico, ninguém, com raras exceções, planeja morrer ou entrar em um combate ou briga em total desvantagem (com raras exceções de QI sub 50). Precisamos no mínimo ter as mesmas armas do inimigo, faz parte do “ter as mesmas oportunidades”.
Portanto esses motivos seriam a base para divisão moderna de artes
marciais a qual aliás ganhou outra definição onde é praticada pela “filosofia” em academias e não mais nos exércitos. Esporte que é treinado também em academias com intuito de obedecer às regras do esporte referido. E a falada defesa pessoal a qual se adaptou a sociedade onde o sujeito vive junto com suas limitações, podendo também ser treinado em academia, porém ao menos de nome está em todos os cursos de agentes de segurança.
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