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Introdução a defesa

pessoal

Prof. Manoel Baruc


Instrutor-chefe de Krav Maga Striker
2022
INTRODUÇÃO À DEFESA PESSOAL

Para qualquer estudo sobre algo é necessário se estabelecer uma


definição ou várias definições de termos. Uma das definições mais aceitas
sobre defesa pessoal é:

Utilizar-se de meios e/ou habilidades para defender-se.

Logo pela definição temos o termo “utilizar-se” que significa pôr em


prática, exercitar ou usar, indicando que a defesa pessoal se dá quando
efetivada em uma situação real. Quando não efetivada em algo real, mesmo
que em treinamento, não pode ser considerada uma defesa pessoal.
Portanto o treino tem que ser prático (imaginar dando um soco e praticar
aplicando socos são coisas totalmente diferentes). É preciso haver testes,
simulações, protocolos, medições capazes de assegurar o treino ou uso
correto daquilo que se pretende para defesa pessoal.

“Meios”, quais seriam esses meios? Não seriam apenas


equipamentos de defesa pessoal (spray de gengibre, pistola, lâmina, etc.),
como também armas impróprias (pedra, cadeira, ripa, etc), como obstáculos
(portas, mesas, etc.), objetos de vantagem (câmeras, radares, etc.) dentre
outros. Esses meios representam uma característica humana de se valer de
ferramentas para melhor, aperfeiçoar ou dominar certa área de
conhecimento ou prática. Deveria ser impensável a qualquer um o treino
correto de defesa pessoal sem a correlação com esses meios.

Quanto as habilidades podem tanto ser mentais, sociais ou físicas.


Como assim? Podemos ter um ótimo planejamento de como agir na
iminência de uma situação de risco, um exemplo bem simples é uma pessoa
que perto de casa percebe está sendo seguida e entra rapidamente em casa,
colocando o muro e portão entre ela e o inimigo. Defendeu-se usando
inteligência situacional. Já quando se trata de sociais, um bom exemplo é a
negociação, é fazer o inimigo desistir, sair rapidamente ou ainda vacilar
para ser possível uma reação. Outro exemplo social é de quando não
parecemos ser indefesos, como os outros nos veem depende também da
nossa habilidade social, caso um trombadinha o veja como um possível
risco a ele, ele irá evitar você. Finalizando as habilidades físicas tanto a de
combate quanto as de fuga que é a parte mais visível de todo treino de artes
marciais e defesa pessoal.

Por fim o defender-se, atentamos para essa partícula “se”, indicando


que é defender a si mesmo. Nesse momento a definição de defesa pessoal
entra em seu “stricto sensu” na qual leva em consideração apenas a pessoa
que pratica e não as outras pessoas. Sendo assim estariam excluídas as
defesas de outras pessoas. Porém essa é uma definição moderna que faz
sentido quanto tentamos separar esportes, artes marciais e defesa pessoal,
sendo que antigamente todos treinavam a mesma coisa e a diferença era,
onde deveria ser, no contexto. Se usasse em uma apresentação ao rei ou em
um campeonato é esporte, se usasse em um combate é arte marcial ou se
usasse para sair de um assalto seria defesa pessoal.
Treino marcial

Como citado no capítulo anterior na antiguidade não havia essa


definição de defesa pessoal, todos treinavam juntos para guerra, seja no
ocidente e/ou oriente. “Mas professor, na Índia diziam que treinavam tal
coisa para avanço espiritual”, mas usavam na guerra. A última
preocupação era realmente o bem-estar, diferente de hoje onde seria
impensável se mandar as moças do Yoga para guerra, pois elas estariam
treinadas por saberem fazer a postura do guerreiro. Contudo, nada mais
comum que alistar monges, artistas marciais diversos e famílias marciais
em época de guerra, lhes dando destaque. Também essa “arte” incluía a
“defesa de terceiros” desde os escudos espartanos e romanos os quais
protegiam os companheiros de batalha até o treino dos guarda (costas) reais
os quais serviam como segurança de reis, imperadores, nobres, etc.

Nessa época não havia a separação de esporte, artes marciais e defesa


pessoal, a não ser pelo uso. Um “samurai” que usasse sua adaga em uma
rua para evitar ser morto por um ladrão, praticou defesa pessoal. Já
utilizando no dojo ou em batalha, praticou arte marcial. Caso aceitasse uma
apresentação ou contenta de pontos na frente do imperador estaria
praticando um esporte. E com dito o treino e as técnicas eram exatamente
as mesmas devendo o artista marcial apenas desenvolver sua habilidade de
luta.
Então qual motivo dessa separação se o
mesmo treino servia para tudo?

Evolução! A sociedade se tornou mais complexa, as armas se


tornaram mais complexas, as pessoas também evoluíram.

Um bom exemplo de como as armas se tornaram complexas seria o


surgimento da arma de fogo em larga escala, até aquele momento,
espadas, facas, flechas e armaduras resolveriam bem os problemas. O nobre
colocaria sua armadura para caçar bandidos, para ir para guerra ou para
participar de Justas (esporte medieval com lanças e cavalos). Esses itens
poderiam ser caros e baratos, qualquer camponês poderia equilibrar a luta
com um porrete ou outra lâmina. Nesse momento precisou haver uma
mudança, além do mais, o surgimento de aviões, navios de guerra,
submarino, tornaram o combate corpo-a-corpo uma utilidade secundária.
Então para ir para guerra prioritariamente o soldado precisaria saber utilizar
desses equipamentos modernos e sobreviver, e não mais ter uma habilidade
corpo-a-corpo superior.

Outro bom exemplo que deixa claro como a sociedade se torna


complexa, além desse distanciamento do dojo e do treino de guerra. São as
leis, como no Japão onde foi retirada as espadas dos samurais fazendo com
que os mesmos priorizassem o treino marcial desarmado (depois de muitas
guerras e revoltas) como forma ainda de demonstrar superioridade. Esse
“desarmamento”, fez com que a defesa dentro dos centros urbanos se
tornasse prioritariamente corpo-a-corpo (aqui também entram facas,
porretes e qualquer arma improvisada ou fácil de ser escondida).
Lembrando que hoje as armas de fogo estão facilmente disseminadas em
qualquer lugar e é impensável a defesa pessoal sem ao menos cogitar a
ideia de ser possuir ou ter planos de como reagir a uma arma de fogo.

Uma exemplificação de como as pessoas evoluíram é o treinamento,


na China só quem era aceito por um mestre ou tivesse nascido em uma
família marcial teria treinamento marcial. Em Roma, seria apenas nas
legiões ou na arena. Hoje pagando-se uma quantia mensal se é possível
conseguir todo o tipo de treinamento. Então devemos levar em
consideração essas mudanças, as chances de se pegar alguém 100% sem
treino alguns estão cada vez menores.

Vale a pena salientar ainda a cultura, no ocidente, houve a


disseminação das artes marciais japonesas e chinesas (dois lugares onde se
passaram desarmamentos cruéis, sanguinários e genocidas). Além da
dominação ocidental que reforçou essas práticas para tornar mais fácil a
dominação. (Europa dominou a China e os EUA pós-guerra impediu o
Japão até de ter exército) Com o ego ferido essas duas culturas passaram a
endeusar seus passados, facilmente visto em filmes, samurais e heróis de
guerra chineses de kung fu para todo lado e como havia o medo de
represálias passaram também a evocar o termo de “suprema” para suas
artes marciais fato que foi malandramente apoiado pelos governos. Em
1955, no Japão Jigoro Kano e o imperador fazendo uma grande
propaganda para “artes marciais” chegando a organizar Judô, Karate dô,
criando essa linha “fora da guerra “(JUTSU) para “caminho” (DO,
educação, formação). Na China após o massacre das facções inimigas e
fechamentos de vários “centros de artes marciais” os revolucionários do
Partido Comunista reforçaram a propaganda de superior do Kung fu e de
como não precisa de “armas”.

Até hoje não é incomum a fala infantil ao se deparar com um


agressor armado: “venha desarmado se é homem”, “homem luta
desarmado”, “venha na mão”, “você não tem honra”, dentre outras coisas
infanto-juvenis fora da mentalidade de uma pessoa adulta. Homem que
lutava desarmado morria para um tigre ou inimigo e não reproduzia, guerra
não tem honra, Samurais além de usar sua lâmina em qualquer um, ainda
praticavam atos não muito corretos com crianças nos prostibulo. Um
inimigo atacar de surpresa ou quando ele estiver vantagem, é o mais lógico,
ninguém, com raras exceções, planeja morrer ou entrar em um combate ou
briga em total desvantagem (com raras exceções de QI sub 50). Precisamos
no mínimo ter as mesmas armas do inimigo, faz parte do “ter as mesmas
oportunidades”.

Portanto esses motivos seriam a base para divisão moderna de artes


marciais a qual aliás ganhou outra definição onde é praticada pela
“filosofia” em academias e não mais nos exércitos. Esporte que é treinado
também em academias com intuito de obedecer às regras do esporte
referido. E a falada defesa pessoal a qual se adaptou a sociedade onde o
sujeito vive junto com suas limitações, podendo também ser treinado em
academia, porém ao menos de nome está em todos os cursos de agentes de
segurança.

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