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CENTRO UNIVERSITÁRIO CENECISTA DE OSÓRIO – UNICNEC

VALÉRIA TURMINA

Osório

2019
VALÉRIA TURMINA

MASTÓCITOS: IDENTIFICAÇÃO, FUNÇÃO E PRECURSOR MEDULAR.

Artigo apresentado ao curso de Biomedicina do


Centro Universitário Cenecista de Osório –
UNICNEC, como requisito para obtenção do título
de Bacharel em Biomedicina.

Orientador: Prof. MSc Matheus Guedes Duarte.

Osório

2019
“O sucesso nasce do querer, da determinação e da persistência em se chegar a um
objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo
fará coisas admiráveis’’

José de Alencar
SUMÁRIO

1. ARTIGO COMPLETO............................................................................1
2. ANEXO: NORMAS PARA PUBLICAÇÃO NA REVISTA DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ANÁLISES CLÍNICAS............................................. 23
1

1. ARTIGO COMPLETO

Mastócitos: identificação, função e precursor medular.

Mast cells: identification, function and medullary precursor.

Valéria Turmina¹, Matheus Guedes Duarte²

Resumo

A origem dos mastócitos é uma incógnita que vem sendo questionada ao longo dos
anos, o número de pesquisas se elevam buscando desmembrar essa questão e
demostrar caminho para provável resposta. O modelo de hematopoiese clássica
demostra que os mastócitos são originados do mesmo percursor medular do
basófilo, por serem células com as mesmas características granulares. Mas apesar
de possuir características semelhantes aos basófilos, a origem dos mastócitos é
oriunda de uma célula-tronco hematopoiética distinta. O presente estudo constituiu
em uma revisão da literatura pesquisando os progenitores da linhagem celular,
propondo um modelo alternativo de diferenciação dos mastócitos. Além disso,
abordando aspectos como: sua origem, ação, classificação e suas principais funções
em: diversos processos imunológicos, fisiológicos e patológicos. Destacam-se ainda
o meio por qual ocorre à sua ativação, a degranulação e componentes presentes em
seus grânulos. Descrição da participação dos mastócitos em mecanismos do
organismo presentes em processos: alérgicos, inflamatórios e no recrutamento das
células durante procedimento de defesa. Em controvérsia seu excesso patológico e
ativação dos mastócitos nos órgãos e tecidos é característica de uma doença
denominada: mastocitose sistêmica, sendo uma neoplasia hematológica.

Palavras-chave: hematopoiese, mastócitos, precursor medular, marcador celular.

____________________________

¹ Graduando em Biomedicina, Centro Universitário – UNICNEC, Osório, Rio Grande do Sul, Brasil.
² Mestre, Biomédico, Docente, Centro Universitário – UNICNEC, Osório, Rio Grande do Sul, Brasil.

Instituição: Centro Universitário Cenecista de Osório – UNICNEC. Graduação de Biomedicina. Rua 24


de Maio, 141, Centro – Osório, RS. Contato: (51) 2161-0200, valeriaturmina0506@gmail.com
2

Abstract

The origin of the mast cells is an unknown question that has been questioned over
the years, the number of researches are raised seeking to dismember this issue and
demonstrate the path to probable response. The classical hematopoiesis model
demonstrates that mast cells originate from the same basal cell precursor of the
basophil because they are cells with the same granular characteristics. But despite
having characteristics similar to basophils, the origin of the mast cells originates from
a distinct hematopoietic stem cell. The present study constituted a review of the
literature investigating the progenitors of the cell line, proposing an alternative model
of differentiation of mast cells. In addition, addressing aspects such as: its origin,
action, classification and its main functions in: diverse immunological, physiological
and pathological processes. It is also worth noting the means by which it occurs to its
activation, the degranulation and components present in its granules. Description of
the participation of mast cells in mechanisms of the organism present in processes:
allergic, inflammatory and in the recruitment of cells during the defense procedure. In
controversy its pathological excess and activation of the mast cells in the organs and
tissues is characteristic of a disease denominated: systemic mastocytosis, being a
haematological neoplasia.

Keywords: hematopoiesis, mast cells, medullary precursor, cell marker.


3

INTRODUÇÃO

As células progenitoras hematopoiéticas apresentam eficiência para


(1,3,15)
diferenciação em todos as variedades de células sanguíneas , abrangendo
(17,19,1)
mastócitos presentes nos tecidos periféricos . O local de origem dos
mastócitos é a medula óssea, expressando em sua superfície uma glicoproteína
(9)
denominada CD34+ . Resultados de pesquisas realizadas em camundongos
expõe que, ao contrário do dogma atual, o CD34 é um marcador expresso pela
(21)
linhagem hematopoiética madura: mastócitos . Além deste marcador CD34 estar
relacionado com a origem dos mastócitos, é responsável também por origem dos
eritrócitos, basófilos, monócitos, linfócitos, eosinófilos, megacariócitos e neutrófilos
(9)
.

A diferença fundamental entre ratos e humanos é a capacidade proliferativa


(8)
dos progenitores de mastócitos . Por essa razão é uma área de amplo trabalho,
pois é necessário análise de proliferação dos mastócitos no sistema humano, que
apresenta fraco potencial de proliferação in vitro de seus progenitores ( 1, 15, 3).

A maior parte de outras células hematopoiéticas percorre a circulação


(3,9)
sanguínea basicamente em uma circunstância madura identificável . Acontece
que na linhagem dos mastócitos isto transcorre de maneira contrária das demais
células. Os mastócitos efetivam sua maturação e diferenciação após realizar sua
(26, 2,1)
migração para os tecidos extramedulares e quando se encontra na condição
de células maduras, dificilmente são visualizados no sangue periférico (26).

Os mastócitos são originados dos progenitores hematopoiéticos presentes no


(15,6)
baço e na medula óssea . A diferenciação inicial dos mastócitos acontece na
medula óssea, em seguida as células progenitoras adentram a circulação sanguínea
(1,26) (6,8,9)
, sítio em que são visualizados somente células agranulares . Estas células
deslocam-se através da parede das vênulas e capilares transitando para os tecidos,
(2,3)
local onde ocorre sua proliferação e a diferenciação in situ , resultando no
(1,4)
amadurecimento no momento em que atingem seu tecido ou órgão alvo . É
através do microambiente envolvido que o processo de amadurecimento, ocorre
(2,26,4)
constituindo um fenótipo de mastócito maduro . É relevante destacar, que os
fenótipos não são definidos e que alterações bidirecionais podem ocorrer, conforme
posicionamento anatômico e da regulação exercida por citocinas atuantes no local
4

(6)
, apresentando influência relevante na eficiência do mastócito em reconhecer e
responder aos diferentes estímulos por intermédio de mediadores biologicamente
ativos (23).

No organismo do ser humano, os mastócitos são encontrados na maior parte


(26) (23)
dos órgãos , apresentando extensa distribuição possuindo características de
(16)
serem células residentes nos tecidos . Estão presentes em locais como as
(9)
superfícies epiteliais da pele e nos tratos: gastrointestinal, respiratório, genito-
(11) (9)
urinário , próximos a vasos linfáticos, sanguíneos e nervos periféricos . Em
relação ao hospedeiro, os mastócitos formam uma população heterogênea de
(9)
células , com predominância nos sítios, onde existe contato com o ambiente
(11,23)
externo . Mediante circunstâncias que sejam causadoras de danos ao
organismo, os mastócitos possuem sua atuação de forma imediata, devido sua
localização estratégica, assim sendo intitulados como células socorristas (23,9).

(9)
Estas células, atuantes apenas num sítio ou em diversos sítios anatômicos ,
(23,7)
possuem importante papel na imunidade inata e adaptativa , mastócitos
apresentam vasta gama de componentes como: citocinas, proteoglicanos,
proteases, mediadores lipídicos, que evidenciam a relevância do potencial da
(9)
contribuição dessa célula interessante nos variados processos biológicos .

A origem embrionária dos mastócitos tem sido desígnio de grande debate


(3)
sem respostas ao longo de décadas, sendo que essa célula normalmente
(1)
encontrava-se omitida ou esquecida em modelos clássicos da hematopoiese .
Com a realização de sucessivas pesquisas em animais que busca elucidar essa
questão, é notável que o modelo da hematopoiese clássica deve ser revisado,
propondo um novo contexto de diferenciação a fim de assegurar a compatibilidade
entre os experimentos de culturas celulares e a transcriptômica unicelular dessa
linhagem (3,1,2).

MODELO CLÁSSICO DE HEMATOPOIESE

A hematopoiese também é denominada como hemopoiese. Em adultos, o


principal sítio de produção de células sanguíneas ou hematopoiese é a medula
(24,3)
óssea . A figura 1 demonstra o modelo de hematopoiese clássica, com processo
de diferenciação celular hematopoiética, onde as células pluripotentes são uma
5

linhagem capaz de realizar autorrenovação, originando células com projeções de


diferenciação definidas, sendo progenitoras comuns das demais células do sangue
(24)
.

(15)
Estudos feitos por Hallgren et al (2013) , estabeleceram diversos passos
(1,23)
intermediários no que é designado modelo clássico de hematopoese . Por
(23,3)
intermédio de pesquisas da medula óssea de camundongos , foi definido que a
(15)
evolução do mastócito provem ao longo da via mielóide .

Figura 1 – Ilustração esquemática da hierarquia hematopoiética na medula óssea. A medula óssea consiste em
célula-tronco, células pluripotentes capazes de auto-renovação, células progenitoras comprometidas (células
progenitoras mielóides e linfoides); e células em maturação. As células em maturação se desenvolvem a partir
de células chamadas unidades formadoras de colônias (UFCs). A célula-tronco mielóide dá origem a UFCs
responsáveis pela regeneração de hemácias (UFCs eritróides), plaquetas (UFCs de megacariócitos), basófilos
(UFCs de basófilos) e eosinófilos (UFCs de eosinófilos). Os monócitos e neutrófilos são derivados de uma célula
progenitora comum comprometida (UFCs granulócito-macrófago). A célula progenitora linfoide gera a progênie
(24)
de linfócitos B na medula óssea e a progênie de linfócitos T no timo . (Adaptado de Kierszenbaum AL. Histologia e biologia celular:
uma introdução à patologia St Louis, 2002 Mosby).

A primeira etapa na evolução mielóide é designada pela regulação negativa


(1,21)
do antígeno Sca-1 . Esta célula intermediária designada como progenitor
mielóide comum (CMP), se distingue do progenitor linfoide comum pelo fato de
(15,3)
expressar IL-7R (receptor da interleucina-7) . Através do progenitor CMP pode-
se coordenar a origem do progenitor de megacariótico-eritrócitos ou a um
subsequente passo no desenvolvimento mieloide, que promove a presença do
(1,3,15)
progenitor de macrófagos de granulócitos (GMP) , que se compreende pela
regulação positiva na expressão dos receptores de IgG de baixa afinidade, FcγRII /
(15)
III (receptores gama Fc II/III também denominados CD32/CD16) . O GMP possui
6

capacidade de dar origem a neutrófilos, eosinófilos e macrófagos ou o novo


progenitor basófilo-mastócitos (BMCP) caracterizado pela primeira vez no baço de
camundongos C57BL(15,1,3) .

A ORIGEM DOS MASTÓCITOS E SEUS PROGENITORES MEDULARES

Estudos filogenéticos apresentam que os mastócitos são células primitivas


(23,4,13)
portadoras de grânulos metacromáticos, densos em elétron no seu interior .
Apesar da descrição dos mastócitos em mamíferos ter ocorrido pela primeira vez há
(23,3)
mais de um século, sua origem sempre foi algo controversa . Devido às
semelhanças fisiológicas e morfológicas, os basófilos também foram indicados como
seus precursores (23).

Os mastócitos humanos são procedentes de células hematopoiéticas da


medula óssea, possuem diversos antígenos de superfície celular funcionalmente
importantes. Esses antígenos abrangem o receptor de célula-tronco (SCFR/CD117),
o receptor de imunoglobulina, além de componentes presentes na membrana dos
(26,15)
mastócitos que estão relacionados com sua ativação . Expressam antígenos
como: CD13+, CD34+, CD117+ e FcεRI- (receptor de alta afinidade para a região
(9,13,7)
Fc da imunoglobulina E) . Pelo meio da circulação sanguínea transmigram
para um tecido específico, onde realiza sua maturação integral. Após sofrer sua
(15,2)
maturação plena , adquire uma vasta quantidade de grânulos presentes no seu
interior (17,4), apresentando sua morfologia definitiva (13)
.

A origem hematopoiética dos mastócitos adultos foi determinada pela


pesquisa pioneira de Hallgren et al (2013) (15). Em princípio, os mastócitos obtidos de
progenitores multipotentes são incorporados em meios de cultura específicos, para
(16)
que ocorra sua maturação . Normalmente os mastócitos são obtidos da medula
(2,3)
óssea ou tecido fetal, como baço, fígado e pele, extraídos de camundongos .
Entretanto o desenvolvimento dos mastócitos maduros é um procedimento de
extensa duração, sendo necessários a utilização de IL-3 (interleucina 3) e o fator de
células-tronco (SCF) ou junção de coquetéis de citocinas, ao qual constantemente
(16,2,15)
resulta em misturas duvidosas de células com maturação incompleta . O
mastócito humano realiza a expressão de citocinas pleiotrópicas e fatores de
crescimento, por exemplo as interleucinas IL-3, IL-4, IL-5, IL-6, IL-8, IL-10, IL-13, IL-
7

16, TNF-α (fator de necrose tumoral alfa), VEGF (fator de crescimento do endotelial
vascular), dentre outros (13).

Na ocasião em que a medula óssea de um rato bege (C57BL) foi


transplantada em camundongos de espécie selvagem irradiado C57BL, nos
camundongos receptores apareceram os mastócitos presentes de tecido com
grânulos anormais da medula óssea provenientes do rato doador, este resultado
(1,23)
propõe que os mastócitos originam-se de precursores da medula óssea . Em
humanos a origem hematopoiética dos mastócitos também foi estimada após
transplante de medula óssea alogênico de paciente portador de leucemia, onde os
mastócitos isolados da medula óssea do receptor expõem o genótipo do doador, em
198 dias após a realização do transplante (23).

Os progenitores de mastócitos foram denominados pela primeira vez em


1990, através de diversas pesquisas aos quais seguiram descrevendo e validando a
(1)
existência dessas células presentes na medula óssea, sangue periférico, intestino
(2,1,23,)
e cavidade peritoneal de camundongos adultos . Em experimentos laboratoriais
anteriores com camundongos, mastócitos foram imunomarcados na medula óssea
nos seus diferenciados estágios de maturação, através da utilização de um anticorpo
(4,2)
monoclonal anti-gangliosídeo característico para mastócito mAb AA4 . Outro
anticorpo monoclonal empregado mAb BGD6 ao qual se liga exclusivamente as
proteínas superficiais de mastócitos RBL-2H3. No emprego destes anticorpos
monoclonais, por serem característicos para a superfície dos mastócitos, foram
aplicados na identificação de AA4 + / BGD6 +, encontrando então progenitores
medulares de mastócitos (2,4).

Os mielomastócitos, são progenitores da linhagem dos mastócitos, observa-


se um aumento dessa clonagem nos indivíduos portadores de mastocitose
sistêmica, onde é detectada a mutação D816V no c-kit, com o marcador CD25+
podendo ser um indicador de doença sistêmica, sendo necessária uma investigação
(13)
aprofundada . Um promastócito também foi caracterizado a partir de pesquisas
em sangue fetal de camundongo, sendo FcεRI- e c-kit+, contendo grânulos
(2,7)
metacromáticos, indicando ser uma célula mais diferenciada . Por esse motivo é
necessária a proposta de um modelo atualizado sobre o processo hierárquico de
(7)
diferenciação dos progenitores hematopoiéticos imaturos .
8

LOCALIZAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DOS MASTÓCITOS, E


CLASSIFICAÇÃO

Os mastócitos são praticamente localizados em todos os tecidos, mas


(11,15)
possuem aumento significativo em órgãos que fazem conexão com o ambiente ,
ou seja, nos tratos respiratório, gastrointestinal e geniturinário; na pele, envoltos das
terminações nervosas, sistema nervoso central e adjacente em vasos sanguíneos e
(11,23,9)
linfáticos . Os locais de posicionamento dos mastócitos possui uma ligação
com a imediação de antígenos ambientais, parasitas e demais patógenos que
entram em contato com as superfícies mucosas e a pele (9).

A histologia descreve os mastócitos normais com as seguintes características


morfológicas: núcleo grande ovalado ou arredondado e citoplasma com intensa
granulação, sendo grânulos eletrodensos, apresentando um ou dois nucléolos e
(13,17,4)
microvilosidade presente na membrana plasmática . No entanto, os
mastócitos maduros manifestam uma elevação de grânulos, aos quais se
(22)
apresentam mais densamente corados que seus progenitores . Pesquisas em
camundongos ressaltam as características celulares similares as já descritas
anteriormente, apenas complementam com a inclusão da presença de complexo de
(2)
Golgi . Uma característica importante é que mastócitos de tecidos são de
existência longa e, mesmo após ocorrer sua degranulação, estas células se re-
granulam e sobrevivem (3).

Modificações no fenótipo podem ocorrer no decurso dos estágios da


(23,2)
existência dos mastócitos . Subconjuntos distintos dos mastócitos maduros
foram retratados com base na caracterização estrutural, funcional e bioquímica,
(23)
juntamente com sua localização . Conforme estudo de Maaninka et al (2013) foi
proposto que os mastócitos humanos são classificados conforme o conteúdo de
proteases , classificados em quatro subtipos: 1) mastócitos MCT – mastócitos de
mucosa positivos apenas para triptase; 2) mastócitos MCTC - mastócitos de tecido
(9,23)
conectivo contem mais heparina, respondem a neuropeptídios e são positivos
para quimase e triptase. Ambos subconjuntos possuem transcritos de
(8,7,11,9)
carboxipeptidase A e expressam receptor FcεRI ; 3) mastócitos MCc que são
quimase positivos e triptase negativos; 4) mastócitos MC3c que são triptase
positivos, CPA3 (carboxipeptidase A3) positivos e quimase negativos. Todas os
9

quatro fenótipos foram estimulados na presença de KITLG (fator de crescimento


ligante ao KIT), IL-3, IL-9 e IL-6. O mais interessante que foi demonstrado neste
trabalho é que somente a presença de KITLG foi suficiente para diferenciação nos
fenótipos distintos. A Figura 2 demonstra estágio de maturação e formação dos
grânulos citoplasmáticos presente nos diferentes fenótipos de mastócitos.

Figura 2: Esquema de maturação e formação dos grânulos nos mastócitos teciduais.

Contudo também podemos classificar os mastócitos humanos através da


(7)
localização do tecido e do conteúdo de proteases , classificado-os em dois
subtipos apenas, os fenótipos MCT e MCTC, que são classes de mastócitos melhor
identificadas principalmente nas diferenças de expressão da protease do grânulo
(15,11)
secretor . MCTC são vistos na pele nos linfonodos, submucosa intestinal e
pulmonar, já os MCT prevalece na mucosa pulmonar e intestinal próximos das
células T. Foi recentemente relatado um terceiro fenótipo de mastócitos, o MC3c,
expressando carboxipeptidase A3, triptase, mas não quimase, no epitélio respiratório
em pacientes asmáticos e em análises esofágicas de indivíduos com esofagite
eosinofílica (23).
10

PROCESSO DE ATIVAÇÃO DOS MASTÓCITOS E COMPONENTES PRESENTES


EM SEUS GRÂNULOS

A superfície celular dos mastócitos é constituída por numerosos receptores,


(17,23,26)
aos quais podem ser ativados por diversos estímulos distintos . O meio de
ativação e a resposta mediada pelo mastócito está relacionada a diferentes
incentivos que podem ser influenciados pelo microambiente ou fatores intrínsecos
afetando a expressão, função de receptores de superfície, ou moléculas
sinalizadoras que auxiliam para essas respostas (23).

O mecanismo mais estudado de ativação de mastócito está relacionado com


a resposta imune adaptativa, na presença de uma reação alérgica, mediada pelo
receptor de alta afinidade IgE presente na superfície de membrana do mastócito
(23,17,9)
. Atualmente tornou-se de suma importância a regulação imunológica inata da
ativação dos mastócitos (23). Pertencentes ao sistema de imunidade inata, mastócitos
dispõem de detecção precoce de microrganismos invasores, como vírus, fungos,
(9,23)
parasitas e bactérias . Os patógenos apresentam estruturas moleculares
denominadas de padrões moleculares associados ao patógeno (PAMPs) os quais
são identificados pelos receptores de reconhecimento de padrões (PRRs), na
superfície dos mastócitos. O contato direto entre PAMPs específica e PRRs estimula
(23,17)
a ativação dos mastócitos resultando na eliminação seletiva de mediadores .
Dentre outros estímulos eficientes para desencadear ativação nos mastócitos estão
as citocinas, os neuropeptídeos, toxinas, fatores de crescimento, complexos imunes,
compostos básicos, estímulos físicos (calor, frio, pressão, fricção) e certas drogas
(álcool, codeínas, morfina, substância iodada de contraste, entre outras). Algumas
lectinas possuem a capacidade de promover ativação e liberação dos mediadores
dos mastócitos especialmente pela ação de FcεRI presentes em sua membrana
superficial (23,9,13).

Recentemente pesquisas apresentaram que receptores para numerosos


ligantes, incluindo os PAMPs, adenosina, quimiocinas, citocinas (IL1, SCF)
anafilotoxinas (C3a e C5a) complexos imunes, estão relacionados na ativação dos
mastócitos. Estes receptores possuem propriedade de potencializar a ativação
mediada pelo FcεRI ou fornecer um estímulo diretamente na liberação de
(23,9)
mediadores a partir de um modo que seja independente de FcεRI . Os
11

mastócitos quando ativados aumentam sua granulosidade, tamanho e quantidade


(12)
.

A via de FcεRI é a mais pesquisada e mais designada para o processo de


ativação dos mastócitos. Na superfície do mastócito o FcεRI é intensamente
expresso e regulado positivamente pelo aumento das concentrações de
(23,17,4)
imunoglobulinas E . O início da ativação depende da IgE própria para o
antígeno, executado pelos linfócitos B após exposição do antígeno e estimulo da IL-
(23,1)
4 . A ligação entre IgE juntamente com os receptores de alta afinidade por
FcεRI, estimula uma proteína G heterotrimérica e uma proteína-quimase (PTK) que
induzem à ativação de processos de sinalização abrangendo a vida da Fosfolipase
A2, o que estimula a formação de mediadores lipídicos, leucotrieno C4 (LTC4),
prostaglandina D2 (PGD2) que são provenientes pela exocitose de grânulos
presentes nos mastócitos (9).

Os mastócitos são caracterizados pela capacidade de sintetizar, armazenar e


(9)
liberar inúmeras moléculas de efeito biológico são células identificadas pelos
grânulos metacromáticos presentes no interior do seu citoplasma (17,11). A granulação
presente nos mastócitos exibe várias semelhanças com os lisossomos, dos quais o
(23)
pH é baixo e a presença de variadas enzimas lisossomais sendo nomeada de
metacromática devido à alta aglomeração de radicais ácidos peculiares dos
(5)
glicosaminoglicanos (sulfato de condroitina ou heparina) . A metacromasia é a
capacidade que diversas moléculas possuem de modificar a coloração de alguns
corantes básicos. Diante disso quando efetuado um processo de coloração onde a
estrutura apresente metacromasia, o resultado é uma coloração final que será
diferente do corante aplicado (22,5,16).

Em humanos, os mediadores dos mastócitos incluem proteoglicanos (sulfato


de condroitina e heparina), aminas biogênicas (histamina), proteases neutras
(quinase, triptase e carboxipeptidase A), hidrolases ácidas, entre outros mediadores
como os elementos do metabolismo do ácido araquidônico e o fator ativador de
plaquetas (PAF), são feitos apenas após a ativação destas células (17, 23,9).

O mastócito é a considerado a célula com maior fonte de mediadores


químicos no organismo resultando na elaboração e liberação de elementos ativos
classificados em três grupos: fatores pré-formados, apresentando baixo peso
12

(9,4)
molecular e presente nos grânulos (histamina, heparina, proteoglicanos,
proteases neutras, β-hexosaminidase e algumas citonas), participam da
hematopoiese, remodelamento de tecidos, imunidade e atuantes em ações
biológicas estes fatores pré-formados são representados pelas interleucinas (IL-6 E
IL-8), TNF-α (fator de necrose tumoral alfa), VEGF (fator de crescimento endotelial
vascular), b-FGF (fator de crescimento de fibroblasto), entre outros e o característico
SCF (fator de célula-tronco) que é eliminado sem danificar a finalidade biológica
(425,9,4)
sobre os mastócitos . Fatores neo-formados: são substãncias elaboradas a
partir do metabolismo do ácido araquidônico como, leucotrienos (LTC 4 e LTB4),
(4,9)
PGD2 (prostaglandina D2), PAF (fator de ativação de plaquetas) e tromboxanos .
E o seu terceiro grupo, fatores neo-sintetizados: a síntese acontece entre 8-12horas
em seguida da degranulação, o fator estimulante de colônias de
granulócito/macrófago (GM-CSF) e as interleucinas ( IL-3, IL-4, IL-5 e IL-6) (4).

ATUAÇÃO DOS MASTÓCITOS EM FUNÇÕES FISIOLÓGICAS E PATOLÓGICAS

Em 1878, Paul Ehrlich atribuiu que os mastócitos estavam relacionados


(14,23)
principalmente na função como efetores de alergia . Somente no decorrer
dessas duas ultimas décadas que os mastócitos obtiveram o reconhecimento de seu
(23)
envolvimento nos processos patológicos e fisiológicos . A eficácia dos mastócitos
de interagir de forma imediata com o microambiente e reagir por meio da eliminação
de diversos mediadores biologicamente ativos ocorre de forma equilibrada, pois se
esta regulação das funções dos mastócitos é descompensada, resulta em efeitos
(23,13)
destrutivos para o organismo . Deste modo os mastócitos tem sua participação
em patologias presentes nos processos alérgicos, inflamatório crônico, doenças
autoimunes e inclusive neoplasias ( 23,27,14).

Nas funções fisiológicas dos mastócitos, são atuantes na homeostase e


reparo de tecidos, sistema nervoso, angiogênese, imunidade inata, imunidade
adaptativa e na tolerância imune. Já nos processos patológicos estão presentes na
alergia, doença de Crohn, doença autoimune, mastocitose, doenças
cardiovasculares e câncer (23).
13

DISFUNÇÃO DA PROLIFERAÇÃO DOS MASTÓCITOS: MASTOCITOSE

A mastocitose é uma doença rara denominada pela proliferação consecutiva


resultando no acumulo dos mastócitos em órgãos e tecidos, particularmente no
(13,23)
sistema gastrointestinal e na medula óssea . Denominada por duas
classificações: mastocitose cutânea (MC) é a que ocorre com maior frequência em
crianças com inicio geralmente precoce, decorrendo antes mesmo de um ano de
vida e quando desencadeada em adultos surge normalmente entre a terceira e
quarta década de vida. Na mastocitose sistêmica (MS), ocorre acúmulo dos
mastócitos nos tecidos e órgãos e geralmente é desencadeada após a terceira
(26,13)
década de vida, caracterizada por ser progressiva e até mesmo mortal .

Apesar de não estar completamente entendida, a hiperplasia patológica dos


mastócitos vendo sendo cada vez mais compreendida e esclarecida, através do
desenvolvimento no estudo da etiopatogenia, que executa uma análise no
reconhecimento de mutações específicas auxiliando na área da oncogênese em
(13)
relação ao crescimento e na diferenciação destas células . Maluf et al (2009),
descreve a identificação mastócitos ocorreu através de uma necropsia de criança
com infiltração orgânica difusa, resultando na descrição da mastocitose sistêmica
(26,13)
.

O crescimento e a diferenciação dos mastócitos estão relacionados com o


receptor tirosina quinase (c-kit) e o SCF. Falhas no gene do SCF ou alterações no c-
kit resultam em deficiência nessas células, bem como distintas mutações no proto-
oncogenese c-kit (CD117) resultam no acréscimo do tempo de vida médio dos
(13,18)
mastócitos e de seus progenitores . No organismo humano, pesquisas apontam
que mutações no c-kit e níveis alterados desse proto-oncogenese c-kit (CD117)
estão relacionados com o progresso da mastocitose. O ligante c-kit possui a
capacidade de controlar diversos efeitos biológicos nos mastócitos, envolvendo
aspectos como crescimento, diferenciação, localização, elaboração dos mediadores
e indução à hiperplasia (13,23).

De fato, perante diferentes fatores presentes no microambiente, se obtém a


distinção na expressão dos mediadores dos mastócitos, assim resultando no
(26)
desenvolvimento de respostas adequadas para essas variações de estímulos .
Por meio de pesquisas, recentemente foi evidenciado que os mastócitos presentes
14

em indivíduos com mastocitose sistêmica nitidamente possuem fenótipo diferenciado


(23,26)
em comparação aos mastócitos normais . Os mastócitos de pacientes
portadores de mastocitose sistêmica expressam CD2 e CD25, sendo contraditório
dos mastócitos normais que não expressam, além de que na mastocitose sistêmica
(26,25)
são expressos CD63, CD69, CD88 e CD203c em quantidades elevadas .

Na classe da mastocitose sistêmica, o c-kit é constantemente expresso nos


mastócitos de uma maneira mutada e como consequência permanece ativada. A
expressão de CD63 e CD203c está de forma positiva sendo regulada, após a
adesão de FcεRI são expressos em excesso em mastócitos neoplásicos presentes
(18, 25)
na mastocitose sistêmica . Expressos principalmente CD30 e CD25 nos
(25)
mastócitos de portadores de mastocitose sistêmica . A expressão de CD30 é
ordenada de forma aberrante na maior parte das formas agressivas e de maneira
lenta na mastocitose sistêmica. Entretanto o CD25 nos mastócitos em mastocitose
sistêmica é expresso de forma excessiva, é um marcador utilizado para
reconhecimento de mastócitos neoplásicos em variações sistêmicas de mastocitose
e disfunções mieloproliferativos relacionadas ao fator de crescimento decorrente de
(26,25)
plaqueta . Outra alteração nos casos de mastocitose sistêmica avançada,
porém que dificilmente ocorre é a liberação de um anticoagulante similar à heparina,
que resulta em complicações hemorrágicas (25).

O órgão que comumente é analisado em indivíduos que apresentam ou com


(15)
suspeita de mastocitose sistêmica é a medula óssea . No decorrer dessa última
década, diversas técnicas foram estabelecidas para análise da medula óssea sendo
essenciais para enumeração e análise fenotípica dos mastócitos. O percentual maior
dessas técnicas se baseia na expressão única do receptor SCF nestas células. De
fato na medula óssea, os mastócitos, seus progenitores hematopoiéticos e CD34+
possuem expressão de c-kit, mas, no entanto não visto nas demais células
hematopoiéticas maduras (26).

Na presunção de uma mastocitose sistêmica deve ser realizado um exame


físico e anamnese do indivíduo para fundar o quadro clínico (13,23). Em casos onde se
tem a pressuposição da doença, se faz necessário exame anatomo-patológico da
(13)
lesão para validação do diagnóstico . Para análise em que se suspeita de um
15

quadro sistêmico exames laboratoriais podem ser solicitados auxiliando como um


complemento na investigação (23).

Na circunstância inicial de investigação da doença sistêmica é prescrito um


(26,13)
hemograma completo, sendo reforçado em curtos períodos . Variando de cada
apresentação clínica do paciente outros exames podem ser solicitados, dentre eles:
na presença de dores ósseas recomenda-se análise através de uma densitometria
óssea, ultrassonografia de abdômen na suspeita, mielograma perante variações
como, leucocitose acentuada, anemia, linfonodomegalia, eosinofilia não
(13)
compreendida e hepatoesplenomegalia . Análise do ácido 5-hidroxindolacético e
das metanefrinas na urina de 24 horas importante para excluir hipótese de tumores
(12,23)
carcinoides e auxiliando na pesquisa da mastocitose sistêmica . Exames com
elevação de histamina plasmática e urinária são indícios de mastocitose sistêmica,
ainda mais quando correlacionados com sinais e sintomas no trato gastrointestinal
(13,29)
.

Para auxiliar na diferenciação dos mastócitos com as demais células que são
(23,13)
granulares, são empregadas técnicas como: imuno-histoquímica e citoquímica .
E a técnica mais empregada nesses últimos dez anos é a citometria de fluxo, pois
possibilita realizar a contagem numérica, identificação e determinação das
(29,23,13)
características dos mastócitos por intermédio da imunofenotipagem . Outra
técnica empregada é a observação dos grânulos metacromáticos dos mastócitos
(23)
analisados através das colorações azul de toluidina e May-Grunwald-Giemsa .
No entanto um ponto negativo que ocorre na técnica de coloração, é que com o
processamento dos tecidos a presença dos grânulos do citoplasma dos mastócitos
pode reduzir, que é caracteristicamente menos relevante nos mastócitos neoplásicos
(12,26,25)
anormais . Mediante essas oposições, pesquisas com imunofenotipagem
(23)
tornam-se a opção mais apropriada no diagnóstico de mastocitose .

PROPOSTA DE MODELO DE HEMATOPOIESE REVISADO

Em princípio os mastócitos são células originadas de progenitores


pluripotentes provenientes da medula óssea, decorre sua diferenciação sob
influência de fator de SCF e intervenção do ligante c-kit na existência de outros
fatores de crescimento diferenciados provenientes do microambiente do tecido onde
(16,28,16,27)
estão situados . Em circunstâncias normais os mastócitos maduros não
16

(27)
são observados na circulação sanguínea . Entretanto os progenitores dessas
células transmigram para os tecidos e se distinguem em mastócitos sob a ação de
(1,7,2)
diversas citocinas e do SCF . Dahlin et al (2015) propuseram uma nova linha de
maturação e desenvolvimento dos mastócitos. Neste modelo proposto os mastócitos
são originários da medula óssea onde se desenvolvem a partir das células-tronco
hematopoiéticas (HSC) através de progenitores multipotentes (MPP), progenitores
mielóides comuns (CMPs) e progenitores de granulócitos / monócitos (GMPs). Os
progenitores que originam os mastócitos e os basófilos foram isolados da medula
óssea dentro da fração GMP. A maioria desses progenitores é encontrada entre os
GMPs (FcɛRI+). No entanto, progenitores que dão origem a mastócitos e basófilos
também são encontrados no GMPs.(FcɛRI-) Os progenitores de basófilos /
mastócitos bipotentes (BMCPs) no baço são amplamente negativos para a
expressão de FcɛRI em camundongos C57BL, consistente com o GMPs (FcɛRI -) na
medula óssea. O MCp comprometido pode ou não expressar FcɛRI na medula
óssea. Portanto, eles provavelmente se desenvolvem tanto de FcɛRI - quanto de
FcɛRI + GMPs. Os MCp saem da medula óssea como células FcɛRI - e FcɛRI + que
podem ser encontradas no sangue de camundongos BALB/c (linhagem de
camundongos albinos) e C57BL como MCp comprometidos. Nos tecidos periféricos,
o MCp expressa FcɛRI em baixos níveis em camundongos C57BL. Os estágios de
cada progenitor são demostrados na Figura 2 para descrever os marcadores de
superfície usados para definir o estágio progenitor particular (3).

Figura 2: Modelo de desenvolvimento mastocitário de via bidirecional proposto por Dahlin et al (2015)
17

Pesquisas relacionadas com a linhagem celular dos mastócitos geralmente


são executadas em animais, pois a facilidade com que a medula óssea de
camundongos gera a linhagem de mastócitos in vitro não é reproduzível com
(15)
progenitores hematopoiéticos do organismo humano . Obstáculos encontrados
durante o desenvolvimento de pesquisas relacionam-se pelo baixo número de
progenitores de mastócitos da medula óssea ou recrutados para os tecidos, assim
(28,1,2,23)
como na complexidade de realizar o reconhecimento das células . Os
progenitores dos mastócitos são situados em ampla quantidade no tecido do
intestino delgado, estudos expõem que a migração progenitora dos mastócitos
aparenta ser regulada de forma específica pelo tecido (23).

Pesquisadores analisaram a competência de divisão celular de cada um dos


progenitores comprometidos dos mastócitos, também a potencialidade em se tornar
(28,7)
integralmente granulares em meio de cultura . O progenitor do mastócito,
mielomastócito está presente com ampla clonagem na mastocitose sistêmica,
apresentando na maioria dos indivíduos a mutação D816V no c-kit, onde expressa
marcador CD25+ nos mastócitos cutâneos em adultos, apresentando um indicativo
de doença sistêmica, auxiliando na incógnita da descrição dos progenitores dos
mastócitos (13,25,29).

Ainda que se disponha de novos passos para averiguação das características


biológicas e fenotípicas dos progenitores comprometidos dos mastócitos em
humanos, se faz necessário a realização de pesquisas aprofundadas para auxiliar
(28,8,23)
na elucidação dessa questão . A partir de experiências realizadas com sangue
fetal de camundongo, um promastócito foi caracterizado pela presença de grânulos
metacromático no interior do citoplasma, sendo FcεRI-, e c-kit +, indicando ser uma
(2)
célula mais diferenciada . Arock (2016) demonstra na sua pesquisa presença de
(28)
um grupo menor de células progenitoras de mastócitos humanos circulantes ,
após cultura de sete dias, maior parte dos progenitores possuiu a capacidade de se
transformar em células completamente granulares. Progenitores denominados na
pesquisa revelam mais de um promastócito como um progenitor hematopoiético
imaturo (16,1,28).
18

Diante destes dados, foi proposta uma atualização no modelo de


hematopoiese clássico, ao qual conduz a uma melhor elucidação dos progenitores
(28)
dos mastócitos auxiliando a esclarecer a paradigma da linhagem dos mastócitos ,
demonstrado a partir da Figura 3 (24).

Figura 3: Proposta de modelo de hematopoiese.

CONCLUSÃO

Em resumo os mastócitos possuem atribuições fundamentais na regulação


dos procedimentos fisiológicos normais, da mesma maneira que estão presentes em
várias circunstancias fisiopatológicas. Uma evolução relevante foi realizada para
compreensão dessa célula imunológica no decorrer destes últimos anos. A
progressão dos esforços que procuram estabelecer as interações complexas dos
mastócitos conduzirá potencialmente nas atualizações clínicas para diversas
condições patológicas.
19

Atualmente foi compreendido que os mastócitos executam um papel


significativo tanto iniciando o processo de resposta imune inata bem como na
administração das respostas imunes adaptativas. Através destes dados a respeito
da biologia dos mastócitos foi ressaltada a participação dessas células na
patogênese de variadas doenças, presentes no desenvolvimento da resposta
inflamatória alérgica e inclusive na participação como um defensor do hospedeiro. A
eficiência dessas células para reagir agentes inócuos como alergênicos e patógenos
nocivos, desencadeando doenças como asma, processos alérgicos, agravamentos
são comuns em conjunto com infecções. Resultados de estudos voltados a
esclarecer a participação dos mastócitos no sistema imunológico, expõem um papel
versátil para essas células, demonstrando serem atuantes tanto na resposta inata
como adaptativa, sendo possível encontrar mastócitos presentes em indivíduos
normais bem como em processos patológicos.

No decurso das condições homeostáticas, os progenitores dos mastócitos


oriundos da medula óssea são conduzidos para os tecidos periféricos por intermédio
da circulação sanguínea. Pesquisas fornecem uma nova oportunidade de fenotipar
mastócitos imaturos presentes em doenças pela intervenção de exames
sanguíneos. Do mesmo modo proporcionam que os progenitores dos mastócitos
equivalham como um alvo terapêutico em doenças determinadas pela elevação dos
mastócitos nos tecidos ou órgãos periféricos correspondendo como um meio para
diagnóstico identificando irregularidades no decorrer do desenvolvimento da
linhagem dos mastócitos.

Para concluir, apesar das informações sucessivas nesse campo, ainda existe
vasto espaço para realização de pesquisas aprofundadas nas etapas do modelo de
hematopoiese clássico, aprofundando pesquisas voltadas para concretizar etapas da
maturação da linhagem dos mastócitos.
20

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