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Artigo de Revisão

Células-tronco mesenquimais – caracterização,


cultivo, propriedades imunológicas e aplicações clínicas

Mesenchymal stem cells – characterization, cultivation,


immunological properties and clinical applications

Bruna Amorin, Vanessa de Souza Valim, Natália Emerim Lemos,


Lauro Moraes Júnior, Annelise Martins Pezzi da Silva,
Maria Aparecida Lima da Silva, Lucia Silla

Resumo
As células-tronco mesenquimais (CTM) são consideradas células multipotentes não Revista HCPA. 2012;32(1):71-81
hematopoéticas com propriedades de autorrenovação e capacidade de diferenciação em
tecidos mesenquimais e, possivelmente, em não mesenquimais. Vários estudos recentes têm Laboratório de Cultura Celular
reforçado o caráter multipotente destas células pela capacidade de diferenciarem-se em e Análise Molecular de Células
células derivadas da mesoderma embrionário: osteócitos, condroblastos e adipócitos. Hematopoéticas,
Centro de Pesquisa Experimental,
Devido ao fácil isolamento e cultivo, potencial de diferenciação e produção de fatores de
Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
crescimento e citocinas, as CTMs têm se tornado as candidatas ideais para os protocolos da
medicina regenerativa.
Contato:
Este artigo revisa as principais características dessa célula, forma de obtenção e cultivo, Lúcia Silla
propriedades imunológicas e aplicações clínicas. lsilla@hcpa.ufrgs.br
Porto Alegre, RS, Brasil
Palavras-chave: células-tronco mesenquimais; cultura; terapia celular

Abstract
Mesenchymal stem cells (MSC) are nonhematopoietic multipotent cells with self-
renewal properties and the ability to differentiate into mesenchymal tissues and possibly
nonmesenchymal cells. Several lines of evidence in the past few years have confirmed the
ability of these cells to differentiate into cells derived from embryonic mesoderm, such as
osteocytes, adipocytes and chondroblasts.
Because they are easy to isolate and culture and due to their differentiation potential
and production of growth factors and cytokines, MSC have become ideal candidates for
regenerative medicine protocols.
This study reviews the main characteristics of MSC, how to isolate and culture them, and their
immunological properties and clinical applications.

Keywords: Mesenchymal stem cells; culture; cell therapy

http://seer.ufrgs.br/hcpa Rev HCPA 2012;32(1) 71


Amorin B et al

As células-tronco, por definição, são células indiferenciadas, Células-tronco mesenquimais


capazes de autorrenovação por meio de divisões mitóticas
assimétricas (1). As principais características das células-tronco,
As CTMs são consideradas células multipotentes não
tornando-as extremamente interessantes, são a sua capacidade
hematopoéticas com propriedades de autorrenovação e
de autorrenovação, ou seja, são capazes de se multiplicar,
capacidade de diferenciação em tecidos mesenquimais e,
mantendo seu estado indiferenciado, proporcionando uma
talvez, não mesenquimais (14). O primeiro relato das CTMs
reposição ativa de sua população de maneira constante nos
foi realizado pelo pesquisador russo Friedenstein e seus
tecidos; e, mais interessante ainda, sua potencial capacidade
colaboradores, na década de 1970, que as descreveu como
de se diferenciar em diversos tipos celulares do mesmo tecido
sendo células morfologicamente semelhantes a fibroblastos
e, aparentemente, de tecidos diferentes (2).
e com alta capacidade de adesão à superfície plástica (15).
As células-tronco são divididas em dois grandes grupos
Vários estudos posteriores relataram a multipotência destas
que dizem respeito ao seu local de origem: podem ser
células, ou seja, a capacidade de diferenciarem-se em
células-tronco embrionárias (CTE), quando são derivadas
células derivadas da mesoderma embrionária: osteócitos,
da massa celular interna do blastocisto embrionário; e
condroblastos e adipócitos (16-19).
células-tronco adultas (CTA) que são aquelas obtidas do
Denominações utilizadas e caracterização básica das
sangue de cordão umbilical, da medula óssea e do sangue
CTM
periférico; adicionalmente, acredita-se existirem células-
As CTMs, sobretudo aquelas oriundas da medula óssea
tronco para tecidos ou órgãos específicos em todo o
humana, diferem muito quanto à nomenclatura utilizada.
organismo adulto(3).
Inicialmente foram chamados de unidades formadoras
As CTEs são células pluripotentes dotadas de grande
de colônias fibroblastoides (CFU-F, colony forming unit
plasticidade, que apresentam características peculiares,
fibroblast), devido à capacidade de aderir ao plástico das
como uma ilimitada capacidade de proliferação in vitro
garrafas de cultivo e formar colônias de células similares
sob estímulos, além da possibilidade de formar células
aos fibroblastos (20). Foram também denominadas células-
derivadas dos três folhetos embrionários em cultura (4, 5).
tronco ou progenitoras mesenquimais, pois diferenciavam-
As CTAs podem ser consideradas populações celulares
se em uma grande variedade de células não hematopoéticas
indiferenciadas mantidas no organismo adulto, onde
(21) e de células estromais da medula óssea, porque
participam da homeostase tecidual, gerando novas
pareciam originar-se de estruturas de suporte da medula
células em resposta ao repovoamento celular fisiológico
óssea e podiam ser utilizadas como feeder layer para o
ou a uma injúria (5-7).
crescimento das CTHs em cultura (15).
Essas estão em estado quiescente ou de baixa
Em 2005, a sociedade internacional para terapia
proliferação, predominantemente nas fases G0 e G1 do
celular (ISCT – International Society for Cellular
ciclo celular, localizando-se em regiões específicas para
Therapy) propôs uma nova nomenclatura para designar
o seu desenvolvimento e manutenção dos seu atributos,
a população de células fibroblastoides que crescem
particularmente a capacidade de autorrenovação (8). Essas
aderentes ao plástico, isoladas dos mais diversos tecidos e
regiões são denominadas de nichos celulares e dentre os
com capacidade de diferenciação multipotencial in vitro:
principais sítios estão: medula óssea (9), coração (10), rins,
células mesenquimais estromais multipotentes. A ISCT
pele, fígado, pâncreas, ovários, cordão umbilical, placenta,
propõe, ainda, que o termo célula-tronco mesenquimal
líquido amniótico, âmnio, entre outros (11).
seja para aquelas que indubitavelmente, preencham
As primeiras CTAs estudadas e, consequentemente, as
as características de células-tronco e ressalta que estas
mais bem caracterizadas são as células hematopoiéticas
células compõem uma subpopulação das células
provenientes da medula óssea. Estas células são capazes
aderentes ao plástico. A sigla CTM (MSC – do inglês,
de diferenciar-se nos constituintes mieloides e linfoides
Mesenchymal Stem Cell) pode ser utilizada para estas
do sangue e há muito vêm sendo utilizadas com sucesso
situações, mas deve ser corretamente identificada (22).
em transplantes para pacientes com falência medular ou
Ainda de acordo com a ISCT, uma determinada
com câncer (12).
população de células será classificada como célula-tronco
Mais tarde foi isolado outro tipo de célula-tronco
mesenquimal quando apresentar três características-chave.
adulta, também constituinte da medula óssea, porém com
A primeira é que as mesmas sejam isoladas com base nas
propriedades diferentes das hematopoéticas: as células-
suas propriedades de adesão seletiva à superfície do material
tronco mesenquimais (CTM) ou células-tronco estromais.
onde são cultivadas (geralmente plástica); a segunda é a
Elas receberam essa denominação porque derivam do
expressão de determinados antígenos de membrana e, por
folheto embrionário intermediário, o mesoderma, que é
fim, que as células possam ser diferenciadas em tecido
responsável pela formação dos tecidos ósseo, cartilaginoso
ósseo, gorduroso e cartilaginoso após estímulo (22).
e adiposo (13).

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Ontogenia e fontes de CTM baseia na capacidade que estas células têm de aderir
ao plástico (41).
A ontogenia da CTM ainda não é bem conhecida.
Resumidamente, o método é realizado da seguinte
Acredita-se que a CTM multipotente descenda de uma
maneira: o aspirado de medula óssea é processado
célula pluripotente ou mesmo de outra multipotente
utilizando-se um gradiente de centrifugação como, por
presente durante a vida fetal em uma frequência
exemplo, o ficoll. As células são coletadas e plaqueadas
muito maior. Está localizada na fração estromal da
em meio DMEM (Dulbecco’s Modified Eagle Medium),
medula óssea que fornecem o suporte do estroma
enriquecido com soro fetal bovino e penicilina/
para o crescimento e diferenciação de células-tronco
estreptomicina (42).
hematopoéticas e para hematopoese (23).
Após 24h (43) a 72h (16,44), todo o meio de cultivo
Acredita-se, também, que há a presença de uma
é trocado com o objetivo de remover as células não
camada de células estromais que daria sustentação a
aderentes. As células restantes são cultivadas em câmara
hematopoese na região aorto-gônoda-mesonéfrica em
úmida, a 37º C com 5% de CO2 e o meio de cultivo
murinos, que o sangue humano fetal contém, durante
é trocado a cada 3 a 4 dias até atingir confluência em
as primeiras semanas, grande quantidade de CTHs e de
torno de 80%, o que ocorre por volta de 14 dias, quando
células estromais e que ocorra um encontro de células
as células são tripsinizadas e expandidas por passagens
fetais na circulação e nos tecidos maternos, mesmo
subsequentes (18).
décadas após a gravidez, que parecem participar na
Essas células apresentam inibição do crescimento
reparação tissular. Em combinação, estas observações
ao atingir a confluência, levando à necessidade de
apóiam a hipótese da existência de uma CT multi ou
várias passagens sucessivas para se obter grandes
pluripotente que existe desde a idade gestacional precoce
quantidades de MSCs altamente enriquecidas,
e que pode persistir por toda a vida do adulto (24).
com ausência de outros tipos celulares. Porém, se
Além disso, a correlação inversa entre a presença
mais passagens são necessárias, isso pode alterar a
de CTMs no cordão umbilical e a idade gestacional,
qualidade das MSCs (23).
também observada para as CTHs, sugere que as células
A expansão de CTM in vitro possui o risco de
mesenquimais migrem precocemente, durante o
acumular mudanças genéticas e epigenéticas na
desenvolvimento, dos seus sítios primários para outros
célula, o que pode levar a uma transformação celular
tecidos fetais (17). Contudo, a real identidade desta
e ao câncer (45). O cultivo de CTM na presença de
célula e a sua correlação com as CTMs expandidas in
reagentes de origem xenogeneica, como o soro fetal
vitro ainda necessitam ser definidas.
bovino, também limita a utilização destas células em
No ser humano, a medula óssea é a fonte mais conhecida
ensaios clínicos (46).
de CTM, mas também já foram isoladas de outros órgãos e
Diversos autores demonstraram a capacidade de
tecidos, tais como tecido muscular esquelético e derme (25),
substituir o uso de soro fetal bovino pelo lisado de
tecido adiposo (26), membrana sinovial (27), endotélio da
plaquetas no cultivo de CTM (47-51). Este procedimento
veia umbilical (28) e da veia safena (29), rim (30), sangue
previne a contaminação das células cultivadas com
de cordão umbilical e placentário (31,32), medula óssea
patógenos bovinos e a xenoimunização, mantendo a
(33), cartilagem articular (34), ligamento periodontal (35)
capacidade de proliferação e diferenciação, e assim
e pulmão (36).
permite a utilização destas células cultivadas na terapia
Do sangue periférico, ainda é uma questão em
celular para o tratamento de diversas doenças (46).
aberto. Fernandez et al. (37) reportaram a presença de
Outros métodos de isolamento de CTM já foram
células “estromais” no sangue periférico mobilizado. Já
descritos como a seleção positiva (52) ou negativa
os estudos de Zvaifler et al. (38) e Kuznetsov et al. (39)
(32,44) em colunas.
demonstraram que a CTM circula no sangue periférico,
mas que é extremamente rara. Um outro estudo feito por Morfologia e características imunoistoquímicas da CTM
Kassis et al., com o auxílio de microesferas de fibrina,
As CTMs originam colônias após cultivo celular em
isolou CTM de sangue periférico mobilizado, coletado
baixa densidade ou sorting de uma única célula (24).
por aférese, de doadores normais (40).
Presume-se que essas colônias sejam derivadas de uma
Isolamento e cultivo de CTM da medula óssea única célula precursora (16). As colônias com mais de
50 células, quando contadas após 10 a 14 dias de cultivo
Atualmente existem diversos métodos de isolamento
das células mononucleares (CMN) da medula óssea, são
de CTM da medula óssea. Tradicionalmente,
chamadas de CFU-F (13,44).
estas células são isoladas utilizando-se o método
Na microscopia, a CTM apresenta-se como uma célula
originalmente descrito por Friedenstein (41), que se
fibroblastoide alongada, fusiforme e pontiaguda, com

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núcleo eucromático, oval, grande e central e citoplasma caracterizam a singularidade biológica e a marca das
abundante. Também podem ser observadas, à microscopia células que os contêm. Contudo, as CTM apresentam
eletrônica, cisternas do retículo endoplasmático rugoso poucos marcadores imunofenotípicos específicos
dilatadas, vacúolos lipídicos cheios ou vazios, corpos (55,61), sendo sua caracterização estabelecida pela
lisossomais e grande quantidade de polirribossomos e identificação de um perfil de marcadores específicos
ribossomos livres citoplasmáticos, além de filamentos e não específicos.
de actina bem organizados em suas extremidades (53). As diferenças quanto à intensidade de expressão
Quando senescentes, as CTMs são grandes, largas, dos diversos antígenos podem ser explicadas devido às
achatadas, proliferam lentamente e expressam uma variações no método de cultivo e na fase evolutiva em
β-galactosidade associada à senescência (54). Células com que as células são avaliadas (62).
morfologia intermediária são observadas no decorrer do A população de CTMs isoladas da medula óssea de
cultivo (43). humanos e camundongos expressa em sua superfície
As CTMs indiferenciadas coram-se pela fosfatase marcadores moleculares como: CD44 (receptor de
alcalina, sudan-black, colágeno IV, fibronectina e não hialuronato), CD105 (endoglina: marcador angiogênico),
se coram pela esterase. A matriz que contorna as CTMs CD106 (VCAM-1: molécula de adesão vascular), CD166
contém colágeno do tipo I e laminina da membrana basal. (ALCAM: moléculas de adesão de leucócitos ativados),
Além disso, um grupo de colônias pode, também, sintetizar CD29 (integrinas VLA-ß), CD73 (SH3 e SH4), CD90 (Thy-
um antígeno associado ao fator VIII, o que indicaria uma 1), Stro-1(estroma de suporte da hematopoese) e Sca-1
provável origem endotelial (55). (63-65).
Kolf et al. afirmaram que o marcador Stro-1 é o
Expansão e proliferação da CTM
melhor marcador a se investigar quando se deseja
A cinética da expansão em cultura das CTMs pode ser pesquisar a presença de CTM. Entretanto, esse marcador
dividida em três fases: 1) inicial, com duração de 3 a 4 é gradualmente perdido durante a expansão em
dias, ocorre logo após o plaqueamento das CMN da MO culturas. Talvez, porém, combinações como Stro-1 e
e o crescimento celular é muito lento; 2) logarítmica, CD106 poderiam constituir bons marcadores para a
durante as primeiras passagens, apresenta um crescimento identificação de CTM humanas (64).
acelerado; 3) plateau: inicia-se quando a célula atinge a Existe um consenso na literatura de que as CTMs
senescência e perde a capacidade de expansão (56, 57). não possuem marcadores típicos de células de
Um estudo feito por Colter et al.(57) demonstrou que as linhagens hematopoéticas e endoteliais, como, por
CTMs podem ser expandidas por mais de 50 vezes quando exemplo: CD11b (marcador de célula imune - integrina
plaqueadas em diluições muito baixas como 1,5 células/ Mac-1), CD14 (receptor de lipopolissacarídeo LPS),
cm2. Contudo, se expandiam por apenas 15 vezes quando CD31 (PECAM-1: molécula de adesão plaquetária),
plaqueadas em concentrações de 5000 células/cm2. Os CD33 (receptor transmembrana de células mieloides),
autores concluíram ainda que seja possível expandir e CD34 (receptor de células endoteliais), CD133 e CD45
obter mais de 1013 CTMs de apenas 20 mL de MO (57). (presentes em todas as células hematopoéticas). Sendo
Stenderup et al. (58) avaliaram dois grupos de doadores assim, a ausência dos antígenos CD14, CD34 e CD45
normais com idades que variavam entre 18 e 29 e 66 a na superfície dessas células mesenquimais permite
81 anos e encontraram uma capacidade de duplicação distingui-las das precursoras hematopoéticas.
da população celular significativamente menor para as Embora já tenham sido identificados oito marcadores
células do grupo mais velho comparado com o grupo de superfície para identificação de MSC, a ISCT concorda
mais jovem. Concluiram também que as CTMs obtidas dos que apenas a identificação dos marcadores CD105, CD73
doadores mais idosos, apesar de manterem a capacidade e CD90, quando não estiverem expressos marcadores
de diferenciação em adipócitos e osteócitos, exibem uma hematopoéticos, é suficiente para a caracterização
diminuição do potencial de proliferação, assim como uma imunofenótipa dessas células. Contudo, essa caracterização
aceleração no processo de senescência, se comparadas às deve sempre estar acompanhada da demonstração da
dos doadores jovens. aderência celular por longos períodos em cultura e da
Quanto às horas necessárias para a duplicação celular diferenciação destas em pelo menos duas linhagens
durante a fase de crescimento logarítmico, Conget e celulares distintas (22).
Minguell (59) encontraram um valor de 33 horas, enquanto
Fases do cultivo de CTM e a relação com a citogenética
que Stute et al. (60) de 24 horas.
A vida de uma CTM pode ser dividida em três fases,
Imunofenotipagem das CTMs
dependendo da sua idade in vitro - fase 1: quando completa
Todas as células do organismo apresentam menos de 50% da vida celular; fase 2: fase crescimento
um conjunto de marcadores de superfície que lento, na qual conclui 50 a 80% da sua existência; fase

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3: fase de senescência, durante a qual há uma parada fase G0-G1 do ciclo celular (59), o que sugere uma alta
na proliferação celular. No campo da biogerontologia, competência destas células em se diferenciar (17). Entretanto,
baseado em características morfológicas, bioquímicas e estudos que distinguem as células em crescimento das
nas características moleculares, as células na fase 1 são quiescentes evidenciam que apenas 20% destas encontram-
consideradas jovens e na fase 3 senescentes (58). se na fase G0 (não ciclantes) do ciclo celular (59).
A senescência replicativa é um fenômeno
Diferenciação
característico do cultivo de células comprometidas
ex vivo. Há uma parada na proliferação celular o que Como mencionado anteriormente, as células-tronco
limita a geração de um grande número de células. são capazes de formar osteócitos, condrócitos e adipócitos
Ocorre secundariamente a vários fatores, incluindo o tanto in vivo como in vitro. Somada à identificação das
progressivo encurtamento do telômero, secundário à CTMs baseadas em suas características fenotípicas, a
perda progressiva da atividade telomerase (66). capacidade destas células formarem, ao menos, estes três
Após o seu cultivo moderado, as CTMs mantêm seu tipos celulares distintos são um dos critérios funcionais
cariótipo normal e não perdem a atividade da telomerase. disponíveis para identificá-las até então (64).
Contudo, no cultivo extenso, as funções celulares Existem evidências ainda controversas de que as CTMs
diminuem, fato confirmado pelos sinais evidentes de podem, além de diferenciar-se em células de linhagem
senescência e/ou apoptose (17,67). Além disso, um mesodérmica, também dar origem às células dos sítios
ambiente de estresse por baixas e altas concentrações de endodérmicos e neuroectodérmico, pelo do processo de
oxigênio pode afetar a estabilidade cromossômica das transdiferenciação. Dentre estas diferenciações in vitro,
CTMs e assim contribuir para diferentes propriedades sob condições de cultivo apropriadas, estão as derivações
biológicas. A estabilidade cromossômica de CTM sobre em tenócitos, células musculares, cardiomiócitos, células
essas condições é relevante para preparação da CTM e endoteliais, hepatócitos e neurônios (64).
sua aplicação clínica em regeneração tecidual (68). Um trabalho de Baksh et al. demonstrou um
Alguns experimentos demonstram que as CTMs modelo teórico de diferenciação das CTMs no qual as
humanas retêm morfologia estável, fenótipo e características células indiferenciadas passariam por duas fases antes
genômicas durante a expansão (69) enquanto outros de adquirir um fenótipo específico. Na primeira, a
sugerem lesões genômicas que apareceriam em culturas CTM originaria por divisão assimétrica uma população
após várias passagens. Grigorian et al. (70) observaram de células menos indiferenciadas e outra, de células
que em uma de duzentas culturas de CTMs examinadas, precursoras com potencial de autorrenovação e
obtida de doadores sem patologias e cultivadas sob diferenciação mais restritas (73).
condições-padrão houve alterações morfológicas, A transição do compartimento de células-tronco
proliferativas e cariotípicas no decorrer das passagens. As para o das comprometidas ocorreria com a divisão
células dessa cultura anormal mantiveram características simétrica das células progenitoras tri ou bipotentes, o
imunofenotípicas de células mesenquimais, porém que originaria os progenitores unipotentes. Este processo
algumas delas (em torno de 15 a 25%) tiveram numerosas é bem controlado e envolve uma alteração no perfil
aberrações cromossômicas numéricas e estruturais. de secreção de citocinas e de fatores de crescimento,
Existem também estudos reportando acúmulo de assim como uma alteração na estrutura tridimensional
mutações seguidas de transformações malignas das da matriz extracelular, além da ativação e inativação
células mesenquimais de camundongos (71). Quanto de fatores transcricionais e a consequente expressão de
ao surgimento de características tumorigênicas foi genes relacionados a esta via de diferenciação (73).
demonstrado em culturas de CTMs humanas, após um Existem alguns sinais químicos e/ou biológicos que
grande número de passagens in vitro (>50) (70,72). atuam como indutores da diferenciação de MSCs. Fatores
Em contrapartida, alterações cromossômicas não cobbmo TGF- b (Transforming Growth Factor β)- o mais
foram observadas em outro estudo que avaliou os efeitos potente deles, IGF-1 (Insulin-like Growth Ffactor 1), BFGF
da hipóxia ou normóxia nas CTMs (68). (Basic Fibroblast Growth Factor), EGF (Epidermal Growth
Factor), PDGF (platelet-derived growth factor), Wnt e
Ciclo celular
ascorbato estimulam o potencial de diferenciação das MSCs
Estudos de ciclo celular revelaram que, enquanto uma em condrócitos. Várias vias de sinalização intracelulares,
pequena fração das CTMs está ativamente engajada na como MAPK e Smads, são ativadas, induzindo vários
proliferação (aproximadamente 10% das células se encontram fatores de transcrição (SOX9,SOX5,SOX6), levando
nas fases S + G2 + M), a maioria das células se encontra na à produção de proteínas de matriz celular, incluindo

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colágeno tipo II, agrecan, requeridos para a formação de (stem cell factor), SDF-1 (stromal derived factor), a oncostatina
cartilagem (23). M (OSM), a BMP-4 (bone morphogenetic protein-4), o ligante
O BFGF ou o sinalizador Wnt podem estimular o Flt-3 da tirosina kinase (Flt-3 lig) e o TGFβ.
potencial de diferenciação osteogênico ou neural. O meio Também produzem uma grande variedade de
suplementado com 1,25-diidroxivitamina D3, 2-fosfato- interleucinas (IL), como: IL-1, IL-6, IL-7, IL-8, IL-11,
ascorbato e β-glicerofosfato pode induzir a diferenciação IL-12, IL-14 e IL-15. Quando cultivadas na presença
osteogênica. VEGF, por sua vez, estimula o potencial de da IL-1α, as CTMs produzem citocinas que agem nos
diferenciação endotelial (23). progenitores hematopoéticos mais maduros, como a TPO
Dexametasona, juntamente com isobutil-metilxantina, (thrombopoietin), o GM-CSF (granulocyte macrophage
insulina e indometacina, estimulam o potencial colony-stimulating factor), o G-CSF (granulocyte colony-
adipogênico; vacúolos ricos em lípides, detectáveis por stimulating factor), o M-CSF (macrophage colony-
coloração com oil red O, acumulam-se no interior das stimulating factor) (17,62,77).
células, que passam a expressar PPAR- γ2 (23). Além disso, as CTMs expressam receptores (R) para
A diferenciação em adipócitos é iniciada por fatores diversas citocinas e fatores de crescimento, como: IL-1R,
agonistas que incluem a insulina, a isometilbutilxantina, IL-3R, IL-4R, IL-6R, IL-7R, LIF-R, SCF-R, G-CSF-R, INFγ-R
a indometacina e os glicocorticoides. A diferenciação é (interferon γ receptor), TNF1-R e TNF2-R (tumor necrosis
acompanhada não só por alterações na morfologia celular, factor receptor), TGFβ2-R, TGFβ3-R, bFGF-R (basic
mas também pela ativação transcripcional de muitos genes fibroblast growth factor receptor), PDGF-R (platelet-derived
como o LPL e o PPARγ2 ( peroxisome proliferator activated growth factor receptor) e o EGF-R (epidermal growth factor
receptor γ2). Este último é membro da superfamília de receptor) (17,77).
receptores de ligantes de fatores transcripcionais ativados Estes dados em conjunto sugerem que as CTMs
e é reconhecido como um receptor nuclear hormonal contribuem para a formação e o funcionamento do
específico do adipócito. Ele tem um papel-chave na microambiente estromal, o qual produz sinais indutores
regulação do aumento das células gordurosas e a sua regulatórios não só para as CTMs, mas também para
expressão é estimulada pela dexametasona (53). o desenvolvimento dos progenitores hematopoéticos
A diferenciação em condrócitos ocorre quando as CTMs e outras células estromais presentes na medula óssea
são cultivadas em condições específicas, que incluem (13,17,62,77).
o cultivo em formato tridimensional, meio nutritivo
Propriedades imunológicas da CTM
sem SBF e a adição de um dos membros da família do
TGF-β (transforming growth factor – β), sendo que o Outro motivo, além do seu fácil isolamento e cultivo,
TGF-β2 e o TGF-β3 são os mais efetivos na promoção potencial de diferenciação e produção de fatores de
da condrogênese. Quando cultivadas nestas condições, crescimento e citocinas, para as CTMs se tornarem
as células rapidamente perdem a sua morfologia foco de atenção terapêutica é devido ao seu potencial
fibroblastoide e começam a expressar os componentes imunomodulatório (78-80), embora os mecanismos de
da matriz extracelular, específicos da cartilagem como os imunossupressão sobre a resposta inflamatória e sobre
glicosaminoglicanos (74). os mecanismos de rejeição ao transplante não estejam
O ácido ascórbico, a dexametasona, o β-glicerolfosfato totalmente esclarecidos.
e o SBF são necessários para a ativação da diferenciação Mediante um contato direto das CTMs com um tecido
em osteócitos. Esta via requer a expressão de genes como (alogênico ou autólogo) ou mediante a interação parácrina
o Cbfa-1 (core binding factor alpha1), fosfatase alcalina, com o interferon-gama (INF-γ), produzido por células
osteopontina (OST), osteocalcina e colágeno I (75). imunes do organismo, as CTMs desencadeiam a liberação
Quando cultivadas em monocamadas na presença de de diversos fatores solúveis que atuarão sobre as células
meio indutor específico, as células adquirem morfologia do sistema imunológico (linfócitos e células dendríticas
de osteoblastos, após 14 a 21 dias (76), com aumento da apresentadoras de antígeno - APC) (81,82). Dentre esses
atividade da fosfatase alcalina e deposição de uma matriz fatores, estão as prostaglandinas (PGE2), interleucinas (IL-
extracelular rica em cálcio mineralizado (74). 4, IL-6, IL- 10), fator de crescimento transformador beta
(TGFß), o fator de crescimento hepatoide (HGF) e a enzima
Produção de fatores de crescimento, interleucinas e
indoleamine 2,3-dioxygenase (IDO) (82).
citocinas
Como consequência, a liberação de TGF-ß e HGF
As CTMs produzem um grande número de citocinas, dentre suprime a proliferação dos linfócitos T e B (83), enquanto
elas, podemos citar o LIF (leukemia inhibitory factor), o SCF que a liberação de PGE2 inibe, especificamente, a

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Células-tronco mesenquimais

produção dos linfócitos T citotóxicos e as demais é apenas parcial nas células NK no estágio proliferativo
citocinas pró-inflamatórias. A enzima IDO induz a (88).
apoptose dos linfócitos T por transformar o triptofano, Em um outro estudo, Corcione et al. avaliaram o efeito
que é um aminoácido essencial para a ativação dessas das CTMs sobre as células B e demonstraram que, pela
células em produtos tóxicos no seu citoplasma (84). De secreção de fatores solúveis inibitórios após sinalização
forma análoga aos mecanismos anteriormente descritos, parácrina, as CTMs inibem, in vitro, a proliferação, a
in vitro, a IDO, PGE2 e TGF-ß induzem a perda do quimiotaxia e a diferenciação das células B em células
potencial citotóxico das células natural killer (NK), por secretoras de anticorpos (81).
suprimirem a produção de IL-2, IL-15 e INF-γ (85). Em Como antes exposto, as CTMs parecem ser efetivas na
relação às APC, evidenciou-se que as CTMs interferem indução da tolerância. Entretanto, a maioria das análises
na diferenciação, maturação e ativação dessas células foi realizada com CTMs cultivadas e não in vivo (24).
por meio da produção de IL-6 e de fator de crescimento
Aplicações clínicas da CTM
estimulador de macrófago (M-CSF). Além disso, a
liberação de PGE2 pelas CTMs inibe a produção e A habilidade de purificar, cultivar e manipular CT
secreção de fator de necrose tumoral alfa (TNF-a) e de somáticas multipotentes fornece aos pesquisadores células
INF-γ e estimula a produção de citocina anti-inflamatória de valor inestimável, que podem servir para o estudo
IL-10 (82,84). e o desenvolvimento do reparo tissular com o objetivo
Além dos efeitos imunossupressores, as CTMs de corrigir lesões provocadas por doenças congênitas
expressam pequenas quantidades de complexo de ou degenerativas. Esse processo conhecido por terapia
histocompatibilidade principal (MHC-I) e níveis celular, visa principalmente substituir as células doentes
negligenciáveis de MHC-II (86) e/ou não expressão ou disfuncionais por células sadias. Como exemplo disso a
MHC-II em sua superfície (87). Durante o processo de terapia com células-tronco que é considerada um ramo da
seleção clonal positiva e negativa realizada pelas células terapia celular.
de defesa do organismo (reconhecimento do próprio e do As células-tronco mesenquimais, devido ao seu
não próprio), essas células utilizam o MHC para realizar fácil isolamento e cultivo, potencial de diferenciação
tal seleção. Logo, na ausência de MHC, como verificado e produção de fatores de crescimento e citocinas, têm
nas CTMs, o processo de seleção de não próprio não se tornado as candidatas ideais para os protocolos da
ocorre, impedindo que o organismo que recebeu essas medicina regenerativa (66).
células indiferenciadas as reconheça como não próprias Como prova disso, alguns estudos utilizando CTMs
e realize a rejeição dessas (78). em ensaios clínicos mostram que, bilhões de CTMs
Também o contato célula-célula faz com que haja a isoladas ou ligadas a biomateriais, são necessárias. Para
produção de diferentes tipos de fatores de crescimento isso, a produção de CTMs necessita da observação e
solúveis pelas CTMs, incluindo fator estimulador de aderência às boas práticas de manufatura, para assegurar
colônias de granulócitos (G-CSF), fator estimulador a liberação deste “medicamento celular” de modo
de colônias de macrófagos e granulócitos (GM-CSF) seguro, reprodutível e eficiente (89).
e diversas interleucinas (IL-1,6,7,8,11,12,14,15), Portanto, são várias as áreas da medicina em que
que influenciam fibroblastos e células granulocíticas as células-tronco têm sido empregadas, entre elas:
envolvidas no processo de inflamação (16). cardiologia (90); ortopedia (91); neurologia (92);
Entretanto, em um estudo feito por Spaggiari et al. endocrinologia (93).
demonstrou que as células NK, previamente ativadas pela A CTM tem ganhado considerável atenção também
IL-2, lisam de maneira eficiente as CTMs autólogas ou como ferramenta de tratamento da DECHa (Doença do
alogênicas. Tal ativação pode ser inibida pela exposição Enxerto Contra o Hospedeiro aguda) após transplante
das CTMs ao INF-γ, que resulta em uma maior expressão halogênio de células tronco hematopoéticas (89,94,95).
das moléculas de HLA classe I na superfície das CTMs. Em Esta ferramenta de tratamento é estudada no Hospital
contrapartida, as CTMs podem, por mecanismos ainda de Clínicas de Porto Alegre pelo grupo do Centro de
não elucidados, inibir a indução de proliferação das Tecnologia Celular do RS localizado do Centro de
células NK latentes e não ativadas. Todavia, este efeito Pesquisas Experimental.

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