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REVISÕES DE LITERATURA

MIOFIBROBLASTOS
CÉLULAS RELEVANTES NA SAÚDE
E NA DOENÇA
•revisões de literatura•

Flávia Godinho Costa Wanderley a


Sílvia Regina de Almeida Reis b
Alena Ribeiro Alves Peixoto Medrado c

Resumo

Recentemente, um grande número de estudos sobre miofibroblastos tem sido publicados. Estes ele-
mentos celulares foram primariamente descritos há mais de 40 anos e as suas características ul-
traestruturais, assim como seu papel em diversas condições fisiológicas e patológicas continuam
despertando interesse nas áreas de saúde. O presente trabalho objetiva descrever a biologia celular e
molecular dos miofibroblastos, contextualizando as descobertas científicas sobre estas células regis-
tradas em artigos ao longo dos últimos 40 anos desde a sua descoberta inicial.
Palavras-chave: Míofibroblastos; Tecido conjuntivo; Patologia.

MYOFIBROBLASTS - IMPORTANT CELLS IN HEALTH


AND DISEASE

Abstract
Recently, a large number of studies about myofibroblasts have been published. These cellular elements
were primarily described for over 40 years and their ultrastructural characteristics, as well as its role in
various physiological and pathological conditions continue stirring interest in health area. This paper

Autor correspondente: Alena Peixoto Medrado - alenamedrado@hotmail.com


a. Estudante de Iniciação Científica da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, Bahia, Brasil. Bolsista
Fapesb
b. Doutora em Patologia Oral pela Universidade Livre de Berlim. Professora adjunta do curso de Odontologia da Escola
Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, Bahia, Brasil
c. Doutora em Patologia Humana pela Fiocruz/UFBA, professora adjunta da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública,
Salvador, Bahia, Brasil
aims to describe the cellular and molecular biology of myofibroblasts, and contextualize scientific findings of
these cells recorded in articles over the past 40 years since its initial discovery.
Keywords: Myofibroblasts; Connective tissue; Pathology.

INTRODUÇÃO

O miofibroblasto foi descoberto em eletromicro- central nos diversos tecidos, e que tem participa-
grafias de tecido de granulação presente em pro- ção ativa em diversos processos patológicos
cessos de cicatrização induzidos experimental-
mente.(1)
Logo depois, suas características bioquímicas e HISTOGÊNESE
imunológicas passaram a ser amplamente estuda-
das. A partir destas descobertas, a lista de condi- Desde a primeira descrição dos miofibroblastos na
ções patológicas nas quais estas células têm sido década de 70, várias origens foram propostas para
identificadas, tem crescido consideravelmente. Du- estas células. Tendo em vista que a matriz extrace-
rante muitos anos, a distribuição espacial de tais lular pode influenciar na diferenciação das células
células em carcinomas metastáticos foi descrita do tecido conjuntivo, vários tipos celulares deste
por Gabbiani,(2) e foi proposto que havia similari- tecido poderiam se diferenciar em miofibroblastos,
dades entre o processo de cicatrização tecidual e tais como, fibroblastos, células musculares lisas,
a resposta do estroma à invasão metastática. Nos pericitos e quaisquer outras células mesenquimais
anos seguintes, foram realizados detalhados es- indiferenciadas.
tudos a respeito dos filamentos intermediários e A heterogeneidade da composição do citoes-
isoformas de actina presentes em miofibroblastos queleto dos miofibroblastos levanta muitos ques-
sob diversas circunstâncias. Outras investigações tionamentos em relação à origem destas células.
demonstraram que existe uma correlação entre a Os dados ultraestruturais fornecem evidências de
modulação fenotípica do citoesqueleto de miofi- que durante condições patológicas e meios de cul-
broblastos e o comportamento clínico das lesões tura, os fibroblastos e as células musculares lisas
que contém estas células. Em particular, foi obser- vasculares adquirem aspectos morfológicos muito
vado que os miofibroblastos em tecido de granula- semelhantes aos dos miofibroblastos, o que suge-
ção presentes em feridas cicatriciais expressam o re que estes dois tipos celulares possam ser pro-
fenótipo de músculo liso apenas temporariamente, genitoras dos miofibroblastos. Os filamentos inter-
embora miofibroblastos com um fenótipo de mediários de alfa actina e desmina poderiam ser
músculo liso persistam em cicatrizes anormais, oriundos de células musculares lisas ou pericitos,
doenças fibrocontráteis e condições proliferativas uma vez que estas células apresentam uma dispo-
neoplásicas. sição citoesquelética similar. Uma possível origem
Na década atual, há mais de 40 anos após a vascular também foi proposta por Shum et al.(3)
descoberta inicial, tem sido demonstrado que o com base em observações morfológicas, as quais
miofibroblasto é reconhecidamente um elemento indicam a possibilidade de que as células miofibro-
blásticas desmina positivas, migram da parede de
vasos sanguíneos para o tecido.

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Segundo Gabbiani et al.,(1) os miofibroblastos colágeno, a distinção de miofibroblastos em rela-
presentes em tecido de granulação são provavel- ção aos fibroblastos é mais difícil.
mente originários a partir de fibroblastos pré-exis-
tentes. Em tecidos de granulação estudados ex-
perimentalmente, os miofibroblastos expressam ULTRAESTRUTURA
temporariamente marcadores de diferenciação de
células musculares lisas, como, por exemplo, a Os miofibroblastos compartilham aspectos mor-
alfa actina, que desaparecem depois do fechamen- fológicos em comum com fibroblastos e células
to da ferida. Como nunca se constatou a presença musculares lisas. Os fibroblastos em animais adul-
de músculo liso no interstício de tecido de granu- tos e humanos demonstram núcleo fusiforme, um
lação, seria pouco provável concluir que os mio- aparelho de Golgi bem desenvolvido, numerosas
fibroblastos fossem derivados do músculo liso da cisternas de retículo endoplasmático dilatadas,
parede dos vasos. Nas alterações relacionadas à mitocôndrias esparsamente distribuídas e micro-
injúria, fenômenos de reparo, condições prolifera- filamentos, muitas vezes arrumados em discretas
tivas e as presentes no estroma de neoplasmas, os bandas abaixo da membrana plasmática. O contor-
miofibroblastos expressam, em sua maioria, alfa no da célula geralmente é bem delimitado e apre-
actina de músculo liso. senta poucas extensões citoplasmáticas.(7)
O destino dos miofibroblastos não é bem defini- Em relação às células musculares lisas, suas
do.(4) Somente fibroblastos típicos são vistos nos membranas plasmáticas revelam numerosas pla-
estágios finais dos processos fibrocontráteis, o que cas, ou os chamados corpos densos associados à
sugere que o miofibroblasto pode alterar o seu ci- membrana, numerosas vesículas picnóticas, e en-
toesqueleto e retornar à condição de fibroblasto ou volvimento por uma contínua lâmina basal. Elas
desencadear o processo de apoptose. possuem junções tipo gap e junções de aderência.
O citoplasma possui inúmeras faixas de microfi-
lamentos usualmente dispostas paralelamente ao
MICROSCOPIA ÓPTICA longo eixo da célula, entre os quais pode-se ob-
servar numerosos corpos densos. Eles se caracte-
Embora os miofibroblastos sejam melhor carac- rizam como estruturas eletrodensas espalhadas
terizados na microscopia eletrônica, eles exibem pelo citoplasma. O material desses corpos den-
um padrão histológico que permite a sua identi- sos parece ser similar ao material que forma as
ficação na microscopia óptica.(5) Eles são células bandas densas, as quais estão aderidas à mem-
grandes, de aspecto fusiforme e frequentemente brana celular de certas células vasculares muscu-
estrelados, revelando longos prolongamentos cito- lares lisas e provavelmente, correspondem às li-
plasmáticos com um citoplasma acidofílico e fibri- nhas Z das fibras musculares estriadas. Em ambas
lar. O núcleo apresenta-se alongado, com aspecto as estruturas, a alfa actina tem sido observada em
ovóide e margens distintas. Segundo Filioreanu et técnicas utilizando imunohistoquímica. A força de
al.,(6) em secções finas com coloração adequada, transmissão do aparelho contrátil à membrana ce-
alguns núcleos podem se apresentar levemente lular de células musculares lisas ocorre através da
corados, com estriações transversais proeminen- inserção de filamentos de actina dentro das ban-
tes. Um ou dois pequenos nucléolos acidofílicos das densas.(8)
estão freqüentemente presentes. Miofibroblastos Os miofibroblastos exibem um contorno irregu-
bem desenvolvidos são observados em áreas com lar com numerosas e longas extensões citoplas-
pouca expressão de colágeno. Com o emprego da máticas e podem estar conectados por junções de
microscopia óptica no estudo de áreas ricas em aderência e do tipo gap. Eles são envolvidos por

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uma lâmina basal, possuem várias vesículas pino- separadas por uma matriz colagenosa contendo
cíticas e apresentam-se conectados à matriz extra- brotamento de capilares e células inflamatórias.
celular por intermédio de fibronexus. Os fibronexus Os fibroblastos presentes no tecido de granula-
são complexos transmembranares de microfila- ção, geralmente exibem aspectos ultraestruturais
mentos intracelulares em aparente continuidade de miofibroblastos.(10) Eles são bem numerosos e
com as fibras extracelulares de fibronectina. Estas mais desenvolvidos na camada exsudativa do feri-
estruturas são muito expressivas numericamente mento e vão sendo gradativamente substituídos a
nos miofibroblastos quando comparados às célu- partir da camada mais profunda, por fibroblastos.
las musculares lisas. O citoplasma dos miofibro- Quando a matriz colagênica é analisada, perce-
blastos exibe numerosos feixes de microfilamen- be-se a predominância do colágeno tipo III, ao pas-
tos (“fibras de stress”) usualmente arranjados so que com a reabsorção do tecido de granulação
paralelamente ao longo eixo da célula, entre os e fechamento do ferimento, os miofibroblastos de-
quais estão muitos corpúsculos densos. O retícu- saparecem e um tipo mais rígido de colágeno pode
lo endoplasmático rugoso e o complexo de Golgi ser identificado. Em modelos experimentais, a aná-
apresentam-se bem desenvolvidos, ao passo que lise das proteínas do citoesqueleto por métodos de
o núcleo demonstra profundas invaginações. Este imunohistoquímica revela que os miofibroblastos
aspecto estrutural tem sido observado em vários presentes no processo normal de cicatrização nun-
modelos de contração celular. ca expressam desmina ou miosina de músculo liso
durante o processo de fechamento da ferida. A di-
ferenciação em células semelhantes às musculares
PAPEL BIOLÓGICO NA lisas está ausente no tecido de granulação inicial.
CICATRIZAÇÃO Nesta fase, os miofibroblastos são pouco desenvol-
vidos, podendo expressar filamentos de vimentina
Os miofibroblastos são descritos em tecidos hu- no seu citoesqueleto. A diferenciação dos miofi-
manos e animais durante condições normais ba- broblastos em células semelhantes às células mus-
seadas em estudos de ultraestrutura. Eles podem culares lisas, se torna temporariamente aparente
ser observados no folículo ovariano e vilosidades quando os miofibroblastos começam a expressar
duodenais do rato, cápsulas das glândulas adre- alfa actina em quantidades cada vez maiores por
nais de ratos e camundongos, septo alveolar pul- volta do 8º ao 15º dia durante a cicatrização. Esta
monar do macaco, ligamento periodontal de ratos isoforma da actina desaparece progressivamente
e camundongos e em muitos outros tecidos.(7) dos miofibroblastos e deixa de ser detectada por
Para se compreender a maneira pela qual os volta do 30º dia.(7)
miofibroblastos participam do processo de cica- Durante o processo de cicatrização, pode ocor-
trização, urge realizar um breve retrospecto dos rer um acúmulo de quantidades excessivas de co-
principais fenômenos relacionados com o proces- lágeno ocasionando o aparecimento de cicatrizes
so cicatricial. A cicatrização é um evento biológico anormais, também denominadas quelóides. A for-
complexo, o qual envolve inflamação, proliferação mação de quelóides parece ser uma predisposição
celular e diferenciação. Está cada vez mais eviden- individual e, por motivos desconhecidos, é mais
te que a migração, polaridade e reorientação das comum em negros.(9) Uma importante distinção
células envolvidas neste processo, são influencia- deve ser feita entre a cicatrização normal, a qual
das pelos constituintes da matriz extracelular, prin- é caracterizada pela formação de um tecido sólido
cipalmente colágeno e fibronectina.(9) Uma das funcional e a cicatriz, que se forma às custas de ex-
etapas críticas da cicatrização é a formação do te- cessivas quantidades de tecido de granulação. Es-
cido de granulação. O tecido de granulação con- tudos recentes salientaram a necessidade de um
siste em muitas camadas de células fibroblásticas, equilíbrio conveniente entre as concentrações de

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fatores de crescimento presentes na ferida duran- timulando a diferenciação em fibroblastos cultiva-
te os diferentes estágios da cicatrização.(10) Estes dos.(14)
trabalhos sugerem que uma produção excessiva de Considerando que a atividade pro-fibrótica do
tecido conjuntivo, provocando o aparecimento de TGF-b tem sido amplamente descrita e particular-
quelóides, pode ser devido a um aumento nos ní- mente estimula a síntese de colágeno tipo I,(17) al-
veis de TGF-ß 1. guns autores concluíram que esta citocina é pro-
Através da secreção de citocinas inflamatórias, vavelmente muito importante no desenvolvimento
quimiocinas, fatores de crescimento e mediadores da cicatrização e fibrose. Desmoulière et al.,(18) ob-
inflamatórios de natureza lipídica e gasosa, os mio- servaram que o TGF-b pode induzir a expressão de
fibroblastos desempenham um importante papel alfa actina de músculo liso em fibroblastos dispos-
na organogênese, inflamação, reparo e fibrose da tos em meio de cultura sem soro, isto é, na ausên-
maioria dos órgãos e tecidos.(11) Gabbiani(12) desen- cia de replicação celular, o que indica a síntese de
volveu alguns estudos a fim de caracterizar o pa- novo desta proteína. Conforme salientado, o IFN-g
pel das citocinas e possíveis fatores de crescimen- é uma citocina multifuncional que tem sido utili-
to envolvidos na diferenciação de miofibroblastos. zada como um agente terapêutico em potencial
Conforme já foi salientado, a contração da ferida para o tratamento de várias desordens fibrosas, in-
durante a cicatrização é mediada essencialmente cluindo as cicatrizes anormais. Wang et al.(19) sa-
por miofibroblastos. A regulação da diferenciação lientaram que, ao passo que TGF-b 1 estimulava a
de miofibroblastos por parte das citocinas envolvi- mudança fenotípica dos miofibroblastos, o IFN-g
das no processo cicatricial, pode ser dependente, alterava significativamente o citoesqueleto destas
entre outros fatores, da resistência da matriz do te- células, através do declínio na expressão de alfa ac-
cido conjuntivo à deformação.(13) A observação de tina de músculo liso. Tal fato, implicava na dimi-
que o IFN-g diminui a expressão de alfa actina de nuição da contratilidade dos miofibroblastos. Com
músculo liso em células musculares lisas, sugere base nestas observações, os autores sugeriram
que um fenômeno semelhante possa acontecer que o IFN- g pode regular negativamente a ação do
em tecidos de granulação e tecidos com fibrose. TGF- b no controle das alterações no fenótipo de
Desmoulière et al.,(14) demonstraram in vivo que o miofibroblastos.
IFN-g diminui a expressão de alfa actina em fibro- A ação do GM-CSF parece ser indireta, uma vez
blastos em meio de cultura. Além desses estudos, que, quando esta citocina é aplicada em meio de
outros estudos pilotos clínicos tem sugerido que a cultura contendo fibroblastos, não há estímulo
aplicação do IFN-g é eficiente na redução de cicatri- para a síntese de alfa actina de músculo liso, ao
zes hipertróficas e lesões fibromatosas.(15) passo que miofibroblastos ricos em alfa actina são
Após o teste de muitas citocinas em um modelo observados depois da administração local de GM-
experimental consistindo em aplicação tópica das -CSF em tecido subcutâneo.(12) O mesmo fato pode
mesmas em tecido subcutâneo de rato, através de ser observado quando o GM-CSF é aplicado quer
uma mini bomba osmótica, foi demonstrado que diretamente ou através de um vetor viral no alvéolo
TNF, IL-1 e PDGF não estimulam a formação de pulmonar.(20) Neste caso, a administração de GM-
miofibroblasto, mesmo quando estas citocinas es- -CSF é seguida pela expressão de TGF-b 1 e pela
tão presentes na resposta tecidual granulomatosa, expressão de colágeno e alfa actina. Estudos rea-
ao passo que TGF-ß 1 e 2, e mais surpreendente lizados mais recentemente também tem indicado
ainda o GM-CSF, estimulam regularmente o apare- que a IL-10 poderia desempenhar uma função es-
cimento de miofibroblastos ricos em alfa actina de sencial na estimulação de miofibroblastos no rim.
músculo liso.(16) TGF-ß 1 e 2 parecem exercer um (21)
Todas estas evidências podem sugerir que a
poderoso estímulo para a síntese de alfa actina, es- aplicação local de GM-CSF poderia, quer direta ou

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indiretamente, através do acúmulo de macrófagos cadear esta reação dos miofibroblastos do estro-
estimulados, contribuir para uma importante ex- ma. Os miofibroblastos não estão uniformemente
pressão de TGF-b 1, a qual por sua vez, induziria a presentes dentro dos carcinomas desmoplásicos.
expressão de alfa actina e colágeno, resultando em Quando a sua disposição espacial em relação aos
mudanças fibróticas ou cicatrização. outros componentes do estroma dos carcinomas
Pesquisas adicionais tem revelado que a ação do é analisada, eles são mais evidentes no estroma
TGF-b 1 é mediada através da porção ED-A da fibro- mesenquimal “jovem”, em áreas que correspon-
nectina celular.(22) Esta conclusão está baseada na dem a uma invasão primária do estroma, ou mais
observação de que um anticorpo específico para a consistentemente, na periferia da lesão.(26) No cen-
seqüência de ED-A inibe a ação de TGF-b em indu- tro da área esclerótica destes neoplasmas, os mio-
zir tanto a expressão de RNAm para alfa actina e fibroblastos estão pobremente desenvolvidos ou
colágeno, bem como a expressão destas proteínas. ausentes. Existem três tipos de reação miofibro-
blástica do estroma observadas nos carcinomas
Walker et al.(23) constataram que a IL-1 pode regu-
infiltrativos de ductos mamários: a precoce, na
lar a expressão do receptor para o PDGF por parte
qual os miofibroblastos precedem às células carci-
dos miofibroblastos presentes em pulmão de ra-
nomatosas; a sincrônica, onde percebe-se que os
tos. Karamichos et al.,(24) estudando o endotélio da
miofibroblastos aparecem espacialmente entre as
córnea de gatos, observaram que sob certas con-
células do carcinoma; e a tardia, sendo possível
dições patofisiológicas, as células endoteliais po-
encontrar os miofibroblastos dispostos mais cen-
dem produzir colágeno anormalmente, em virtude
tralmente em relação ao contorno periférico das
da ação estimulatória do TGF-b. Eles concluíram
células carcinomatosas. Estes três tipos de rea-
que as células endoteliais em proliferação adqui-
ção estromal podem ser observados em diferentes
rem um fenótipo temporário de miofibroblastos.
áreas dos carcinomas ductais, sendo que a mais
Logo, o desenvolvimento dos miofibroblastos
comum é a reação sincrônica. Quando a matriz do
provavelmente depende não só do estímulo forne-
colágeno é analisada, quantidades crescentes de
cido pela organização da matriz extracelular, mas
colágeno tipo III estão presentes, principalmente
também do efeito estimulatório gerado por estas
no estroma recém formado; em contraste, o co-
citocinas descritas.
lágeno tipo I é mais evidente dentro da zona es-
clerótica central dos carcinomas mamários, áreas
RESPOSTAS DO ESTROMA AOS nas quais os miofibroblastos são substituídos por
PROCESSOS NEOPLÁSICOS fibroblastos.
Hinz(7) descreveram a ocorrência de miofibro-
Muitos carcinomas invasivos e metastáticos são
blastos também em sarcomas, nos quais eles ge-
caracterizados por uma consistência endurecida
ralmente constituem uma pequena fração da po-
e retração. Na maioria das vezes, eles encontram-
pulação celular. Eles são bem identificados em
-se bem fixos aos tecidos adjacentes. Estas altera-
todos os casos de histiocitomas fibrosos malignos
ções são comuns em virtude da reação estromal
e lipossarcomas esclerosantes bem diferenciados.
desmoplástica.
Embora eles se apresentem bastante numerosos
Ao que tudo indica, os miofibroblastos são par- nas áreas de desmoplasia, em nenhum dos exem-
ticularmente numerosos dentro do estroma de plos citados, os miofibroblastos se constituem
carcinomas metastáticos e invasivos, e os fenô- nos elementos celulares dominantes de quaisquer
menos de retração observados são atribuídos às destes neoplasmas. Os miofibroblastos têm sido
forças contráteis geradas pelos miofibroblastos identificados com menor freqüência e em menor
presentes no estroma.(25) Isto sugere que a invasão número em fibrossarcomas, sarcomas sinoviais,
através da lâmina basal é necessária para desen- hemangiopericitoma maligno e neuroblastoma.

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Foram também descritos na Doença de Hodgkin 10. Li C, Bai Y, Liu H, Zuo X, Yao H, Xu Y et al.
esclerosante nodular,(27) a qual apresenta uma rea- Comparative study of microRNA profiling in
ção estromal nodular que é altamente colageni- keloid fibroblast and annotation of differential
expressed microRNAs. Acta Biochim Biophys Sin
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