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GUIA DE LEITURA

ANNA KARÊNINA
Índice
Resumo da obra ____________________________ 3
Primeira parte _________________________ 4
Segunda parte___________________________ 9
Terceira parte __________________________ 14
Quarta parte ___________________________ 19
Quinta parte___________________________ 22
Sexta parte ____________________________ 26
Sétima parte___________________________ 30
Oitava parte ___________________________ 34
Chaves de interpretação_______________________ 37
Epílogo ___________________________________ 45
Resumo
da obra1

1 De apoio ao seguinte resumo, há um mapa dos personagens que começa na página 816 do livro.
Primeira parte
1. É apresentada brevemente a família Oblônski, e seu conflito mo-
mentâneo advindo do caso extraconjugal do pai, Stepan Arkáditch,
com uma francesa, preceptora de seus filhos.

2. Stepan Arkáditch se debate com a sua consciência e com a situação


causada pela sua infidelidade, e é aconselhado por dois empregados
íntimos da família, Matvei (Mateus) e Matrona Filimovna, a buscar
perdão da esposa.

3. Descrição do caráter de Stepan Arkáditch. Steve (apelido de Stepan)

realiza algumas atividades cotidianas, vê os filhos, e recebe notícias da


esposa, que dorme em quarto separado, e resolve ir falar com ela.

4. Descrição do sofrimento de Dária Aléksandrovna (Dolly) com a


situação da infidelidade do marido. Steve chega ao quarto, os dois
conversam, a conversa termina infrutífera. Dolly se distrai afogando-se
na rotina da casa.

5. Descrição da carreira e das habilidades sociais de Steve. Cita-se que


só tem o seu emprego público graças ao cunhado, Aleksei Aleksândro-

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vitch Karênin. Segue-se cena de Steve na repartição. Steve recebe uma
visita de Lióvin, marcam um almoço. Lióvin é descrito.

6. É revelado que Lióvin está em Moscou para pedir Kitty Cherbátski,

cunhada de Steve, em casamento. Explica-se as relações de Lióvin com


os Cherbátski, e como é há muitos anos apaixonado por Kitty.

7. Lióvin está hospedado em casa de Kóznichev, seu irmão, um famoso

intelectual e, ao voltar para casa, encontra o irmão discutindo filosofia


com um colega. Tenta entrar na discussão e é tratado pelo irmão com
condescendência, o que o entristece.

8. Kóznichev dá um sermão em Lióvin por não participar das decisões

políticas da região da sua fazenda, e fala que o outro irmão, Nikolai,


encontra-se em mau estado, físico e mental. Lióvin quer visitá-lo.

9. Lióvin vai procurar Kitty no zoológico da cidade. Patina no gelo com

ela e se emociona muito com o encontro. Após, vai jantar com Steve.

10. Durante a janta, Lióvin fala a Steve que pretende pedir Kitty em
casamento.

11. Steve fala de Vrônski, conde que está fazendo a corte à Kitty, e é
portanto rival de Lióvin. A conversa se arrasta um pouco, posto que
cada um está preocupado com seus próprios problemas. Lióvin sai da
janta e vai à casa dos Cherbátski.

12. Kitty Cherbátskaia é apresentada, e fala-se do seu dilema entre Lió-

vin e Vrônski. O pai vê em Lióvin melhor partido; a mãe, em Vrônski.

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13. Lióvin pede Kitty em casamento e tem o pedido recusado.

14. Lióvin, embaraçado, tenta ir embora, mas acaba preso com a che-
gada da princesa Cherbástkaia (mãe de Kitty) e de outros convidados,
incluindo o conde Vrônski.

15. Kitty conta à mãe sobre o pedido de Lióvin, que escuta aliviada so-

bre a recusa. O príncipe Cherbátski (pai de Kitty) briga com a esposa


em virtude do imbróglio, em que ele vê algo desordenado e fonte de
tensão e infelicidade para Kitty. Lembra da infelicidade conjugal de
Dolly, irmã de Kitty, e a mãe desata a chorar.

16. Descrição do conde Vrônski: um sujeito de vida mais ou menos or-

dinária, e de valores mundanos. Vrônski encontra Steve na estação fer-


roviária, o primeiro aguardando sua mãe, o segundo sua irmã, Anna.

17. Vrônski se apaixona por Anna à primeira vista, e a cena é contras-


tada com um suicídio que acontece no mesmo momento nos trilhos
do trem.

18. Vrônski tenta impressionar Anna doando duzentos rublos à família

do suicida. Steve fala com Anna sobre sua situação doméstica.

19. A chegada de Anna é uma festa e alegra a casa. Anna conversa com

Dolly e encaminha a reconciliação dos esposos.

20. Kitty visita os Oblônski e encontra com Anna, que cria uma ime-
diata simpatia por ela.

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21. A paz na casa foi restabelecida, o que alegra e alivia Anna. Vrônski,

mais ou menos tarde da noite, passa na casa dos Oblônski, o que causa
estranhamento a todos.

22. Kitty chega acompanhada da mãe a um baile, o primeiro dela. Kit-

ty encontra com Vrônski, que lhe trata com certa frieza.

23. Kitty, vendo a frieza de Vrônski e um certo esplendor de Anna,


se dá conta de que o esplendor vem de um jogo de sedução dela com
Vrônski, e o baile torna-se cada vez mais tormentoso à Kitty, e cada vez
mais voluptuoso para Anna e Vrônski.

24. Lióvin tortura-se com a recusa de Kitty após sair dos Cherbátski.
Vai até a casa do irmão e o encontra em um triste estado, doente, alco-
olista e em ambiente insalúbre.

25. Nikolai e Lióvin empreendem uma conversa sobre o estado do


trabalhador russo e do povo, que Lióvin dá pouca ou nenhuma aten-
ção e permanece nela por amor ao irmão. Macha, namorada de Niko-
lai, após colocá-lo para dormir depois da bebedeira, promete a Lióvin
mandar notícias sobre o estado dele.

26. Lióvin volta para casa, e, ao chegar, já começa a receber as notícias

de como as coisas andaram no campo. Sente-se feliz de retomar os


trabalhos, e tem a intenção de levar bem a própria vida mesmo com a
recusa de Kitty.

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27. Fala-se do significado sentimental da casa para Lióvin, e Agáfia
Mikháilnova, governanta de Lióvin, mostra a ele que sabe da dor no
coração do patrão.

28. Anna envia telegrama avisando ao marido que vai voltar no mes-
mo dia de Moscou. Conversa com Dolly e revela a ela que se sente
culpada por ter magoado Kitty por ter flertado com o conde Vrônski.

29. No trem de volta à Petersburgo, Anna esforça-se para relaxar lem-


brando que irá rencontrar seu filho, Sergio, e seu marido, Aléksis Ale-
xândrovich, e tenta distrair-se lendo um romance, que descreve uma
felicidade burguesa a qual ela quer retornar.

30. Em uma parada do trem, Anna desce do vagão para tomar ar e


encontra Vrônski na estação. Vrônski a informa de que está atrás dela,
e declara-se. Anna luta contra o turbilhão de emoções gerado. Na che-
gada em Moscou, o marido a espera, e ela espanta-se com o tamanho
de suas orelhas e o trata com certa frieza.

31. Na estação, Vrônski encontra-se com Anna e Aléksis.

32. Chegando em casa, Anna é recebida calorosamente pelo filho, mas,

assim como o encontro com o marido, fica desiludida, esperando que


isso fosse causar mais alegria. Recebe visita da condessa Lídia.

33. Anna e Karênin conversam sobre a viagem de Anna.

34. Vrônski chega em seu apartamento em Petersburgo, que estava aos

cuidados de um amigo, Petrítski.

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Segunda parte
1. Kitty encontra-se gravemente doente, e é tratada por renomados
médicos, mas o príncipe Cherbátski e Dolly sabem que a doença é de
tristeza por ter recusado Lióvin e sido abandonada por Vrônski.

2. Dolly conversa com o pai sobre a sua situação doméstica e a situação

de Kitty.

3. Dolly conversa com Kitty sobre sua doença, e Kitty decide passar
um tempo morando com Dolly.

4. Descreve-se o círculo social de Anna em Petersburgo, e um encon-


tro dela com esse círculo.

5. Vrônski conversa com amigos sobre um caso de adultério em que


um deles, Petrítski, se envolveu. Vrônski é o encarregado de pacificar a
situação, para que não termine em um duelo.

6. Descreve-se uma conversa em um círculo da sociedade em que fa-


lam sobre Karênin, conversa em que Vrônski encontra-se presente.

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7. Anna chega ao encontro, e é chamada por Vrônski para uma con-
versa à parte. Vrônski tenta seduzir Anna, que resiste, e a conversa é
interrompida com a chegada de Karênin.

8. Karênin, apesar de não ter visto nada de inconveniente na conversa


da mulher com Vrônski, notou que o resto da sociedade julgou incon-
veniente, e então resolve chamar a atenção da mulher.

9. Anna se faz de desentendida ao ter a atenção chamada.

10. Karênin vê que sua relação com a esposa mudou diametralmente.

11. Anna e Vrônski trocam o primeiro beijo. Anna sente-se terrivelmente

culpada, mas busca abafar a culpa com a emoção de estar apaixonada.

12. Lióvin enterra-se no trabalho e em seus estudos para esquecer Kitty.

13. Lióvin toma parte nos trabalhos de sua propriedade, e discute com

os funcionários sobre sua ineficiência.

14. Lióvin recebe a visita de Steve, que muito o alegra. Comunica a


Lióvin da doença de Kitty.

15. Lióvin e Steve caçam juntos.

16. Após uma excelente caçada, Lióvin pergunta detalhes de Kitty, e


fica sabendo que ela foi abandonada por Vrônski e que os Cherbátski
viajarão ao exterior em busca da cura de Kitty.

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17. Lióvin não consegue se livrar da dor que lhe causa pensar que Kitty

sofre de amor por um homem que a abandonou, o que azeda o último


jantar de Steve na casa de Lióvin antes da sua volta a Moscou.

18. Vrônski vive imerso na emoção de viver um romance com Anna,


mas isso está gerando conflitos interiores dele com uma prodigiosa
carreira militar que o espera — ou esperava.

19. Vrônski se prepara para uma corrida de cavalos, a paixão que o


distrai um pouco de Anna. Vrônski será um dos jóqueis, e é favorito
para a vitória.

20. Os compromissos se amontoam antes da corrida, e o dia de Vrônski

é agitadíssimo. Primeiro de tudo, visita sua égua no estábulo.

21. Cumpre compromissos sociais, ansioso para a corrida e para en-


contrar Anna. Anna está ainda mais ansiosa e nervosa para o encontro,
que se dará na casa dos Karênin.

22. Anna informa a Vrônski que está grávida, e que o marido não sabe

de nada.

23. Vrônski pede a Anna que abandone Karênin e fuja com ele. Anna
tem um turbilhão de sentimentos dentro de si, e acha que não conse-
guiria viver sem seu filho mais velho, Sérgio.

24. O dia agitadíssimo segue, agora ainda mais, e passa a descrever-se


os preparativos finais de Vrônski para a corrida, e a chegada dos espec-
tadores na arena, dentre eles Steve e Karênin.

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25. Começa a corrida. Por um erro, Vrônski sofre um acidente durante

a corrida e mata sua querida égua.

26. Descreve-se o estado da relação entre Karênin e Anna, que vai, fria

e dissimuladamente, de mau a pior desde que ele a advertiu sobre a sua


relação inoportuna com o conde Vrônski.

27. Anna prepara-se para ir à corrida.

28. Karênin chega à corrida, Anna já se encontra lá com uma amiga, e

recebe o marido com total frieza, pois fica totalmente concentrada na


corrida, preocupada com Vrônski.

29. Com a queda de Vrônski, Anna fica totalmente desnorteada e é


levada para casa por Karênin. No coche durante a volta, fala franca-
mente a Karênin que o está traindo, e que o despreza.

30. Os Cherbátski estão em uma estação de águas na Alemanha, bus-


cando a cura de Kitty. Kitty se encanta com uma certa Madame Stahl
e sua parenta, Várenka. Pensa em Lióvin, e tem sentimentos confusos.

31. Kitty enceta conversa com Várenka, que estende a mão para a nova

amizade. Kitty alegra-se sobremaneira.

32. Várenka e Madame Stahl são vistas por Kitty com profunda admi-

ração. A amizade entre Kitty e Várenka aprofunda-se.

33. Kitty conhece Madame Stahl pessoalmente, e vê nela e em Várenka

exemplos de caridade cristã, e passa a querer isso para sua vida. Kitty
passa tempo cuidando de um dos doentes da estação de águas.

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34. O príncipe Cherbátski regressa às águas, após uma temporada
fora, e fica muito feliz em rever Kitty. O pai conhece Madame Stahl de
outros tempos, e revela algumas coisas do passado dela a Kitty, o que
acaba quebrando um pouco o encanto da filha pela madame.

35. A presença do príncipe alegra a todos, e a recuperação de Kitty é


completa. Ao desenhar-se o retorno dos Cherbátski à Rússia, Várenka
diz a Kitty que só vai visitá-la após ela, Kitty, casar.

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Terceira parte
1. Kóznitchev vai visitar Lióvin, que o recebe bem, e esperançoso de
que a visita os aproxime.

2. Lióvin vai trabalhar e aproveita para dar uma carona a Kóznitchev,


que vai pescar. Na beira do riacho, conversam.

3. Kóznitchev trata Lióvin com condescendência, e o acusa de não se


preocupar com o bem-comum, e Lióvin tem dificuldade de expressar
suas ideias. A conversa azeda o clima entre os dois.

4. Lióvin resolve, para o bem de sua saúde mental, trabalhar no cam-

po na sega do trigo. Encontra nisso uma alegria sem tamanho, não


só pelo trabalho com a terra como por conviver com os mujiques,
ver seus hábitos.

5. Segue o serviço no campo.

6. Lióvin, radiante de alegria, encontra com o irmão, os dois conver-


sam. Lióvin recebe uma carta de Steve, avisando que Dolly e as crian-
ças estarão na propriedade rural dos Oblônski, próxima da de Lióvin,
e pedindo que vá ajudá-la.

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7. Descrição de como Steve lida com seus deveres de pai de família, e
da chegada e vida de Dolly e dos Oblônski em Erguchovo, sua pro-
priedade rural.

8. A vida de Dolly no campo é feliz, e ela resolve voltar a levar os filhos

à Igreja, para tomarem comunhão.

9. Lióvin visita Dolly e as crianças em Erguchovo. Coloca a conversa


em dia com Dolly.

10. Dolly fala de Kitty a Lióvin. Os dois tem uma conversa franca,
Lióvin se emociona e confirma a Dolly que Kitty recusou um pedido
seu de casamento, e Dolly o assegura de que isso não quis dizer nada.

11. Lióvin volta a cuidar da lida campesina em Pokróvskoe, sua pro-


priedade.

12. Lióvin tenta se distrair com a lida, mas não pára de pensar em Kit-

ty e, certo dia, vê uma carruagem passando pela estrada no meio dos


campos, com Kitty à bordo, e se dá conta de que a ama e não conse-
guirá jamais esquecê-la.

13. É descrito o sofrimento de Karênin com sua situação, e então de-


cide ele, como solução, fazer como se nada tivesse acontecido, com a
condição de Anna abandonar seu amante.

14. Karênin tenta distrair-se com uma intrincada questão de trabalho.

15. Anna, que encontra-se em uma casa de férias dos Karênin, passa
por um turbilhão interior.

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16. Recebe uma carta de Karênin, com o pedido de que ela abandone
Vrônski, e com admoestações acerca da seriedade da situação. Anna
fica desnorteada e resolve buscar conselho com Vrônski.

17. Anna vai à uma festa na sociedade no intuito de encontrar seu


amante.

18. Anna passa por bons e triviais momentos durante a festa, que con-

trastam com a sua tensa situação. Vrônski não consegue ir, então ela
resolve ir procurá-lo.

19. É descrito o cuidado de Vrônski com suas finanças, que não se en-
contram em particular bom estado.

20. Vrônski analisa sua situação pessoal, com a carreira sendo prejudi-

cada pelo caso com Anna e em situação financeira desfavorável.

21. Petrítski busca Vrônski para levá-lo a uma festa em homenagem


a uma espécie de irmão e rival de Vrônski, Sepurkhovskói. Na festa,
Sepurkhovskói se oferece para ajudar Vrônski na carreira, e o mesmo
recusa, pois isso prejudicaria sua relação com Anna.

22. Após sair da festa, Vrônski encontra Anna. A conversa entre os dois

não termina em decisão sobre o seu futuro. Anna anuncia que encon-
trará Karênin para ver como ficarão as coisas.

23. Anna e Karênin tem uma conversa dura, que termina com Karê-
nin reiterando a admoestação de que se Anna não deixar o amante, as
coisas irão mal.

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24. Lióvin encontra-se inquieto com a presença de Kitty em Ergu-
chovo. Dolly envia uma carta pedindo uma sela especial para Kitty, e
Lióvin apenas envia a sela, sem bilhete de resposta, e parte para caçar
nas terras de um amigo, Sviájski.

25. No caminho, Lióvin pára em casa de um abastado mujique, e con-

versa sobre seus negócios.

26. Sviájski oferece um jantar para Lióvin e outros convidados, cujo


assunto é o sistema econômico russo e a produção rural.

27. Na conversa, Lióvin não consegue expor com clareza suas posições.

28. A conversa passa para a mentalidade dos mujiques e a influência da

cultura russa no sistema econômico do país.

29. Lióvin tem uma ideia de refazer o sistema de produção de sua


fazenda, de maneira que renda mais para ele e para os próprios muji-
ques. Tem dificuldades práticas para a implementação, e então decide
viajar para o exterior para investigar o assunto e, com o conhecimento,
escrever um livro.

30. Lióvin faz os preparativos para a viagem, e fala com sua governanta

sobre suas elocubrações econômicas e sociais.

31. Nikolai resolve visitar Lióvin, o que causa sentimentos controver-


sos neste. A morte próxima de Nikolai é um elefante branco entre os
irmãos.

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32. Nikolai começa a tornar-se ácido com Lióvin antes de sua partida,

mas, ao ir embora, está em paz com o irmão. Lióvin parte em sua via-
gem para o exterior.

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Quarta parte
1. Karênin e Anna vivem friamente sob o mesmo teto. Vrônski recebeu

o encargo de ser cicerone de um príncipe visitando Petersburgo.

2. Vrônski recebe um bilhete de Anna pedindo que vá vê-la. Ao chegar,

Vrônski tromba com Karênin na entrada da casa.

3. Anna tem constantes ataques de ciúme de Vrônski, e a interação


entre os dois encontra-se como uma montanha-russa. O espectro da
morte ronda os dois, Vrônski e Anna têm sonhado com ela.

4. Karênin pega as cartas de Anna com Vrônski, briga com ela, e anun-

cia que irá para Moscou, e que Anna irá ouvir dele por meio do advo-
gado.

5. Karênin vai ao escritório de um ilustre advogado especializado em


divórcios, e com ele discute suas opções diante da situação.

6. Karênin tem uma brilhante vitória em sua atuação no serviço públi-

co. Encontra Steve na rua um dia, que o convida à sua casa.

7. Steve visita uma jovem bailarina e depois realiza um banquete em


sua casa para convidados, que contam com Lióvin e Kóznitchev. Ste-

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ve convida os irmãos para virem jantar novamente, jantar que Lióvin
sabe que contará com a presença de Kitty e dos Cherbátski.

8. Karênin passa seus dias trabalhando no hotel em que se encontra


hospedado. Steve vai visitá-lo, convidando-o novamente para sua casa,
e Karênin revela a ele que pedirá o divórcio de Anna. Steve insiste para
que Karênin converse com Dolly.

9. Os convidados chegam para o jantar, e Steve faz sala a todos. A con-

versa corre às mil maravilhas, com inclusive Karênin deixando o siso e


ficando mais descontraído.

10. Continua a espirituosa conversa.

11. Kitty e Lióvin permanecem fisicamente presentes, mas à margem


da conversa.

12. Antes de Karênin ir embora, Dolly vai conversar com ele sobre a
sua situação, e Karênin revela que Anna está tendo um caso. Dolly
pede que ele a perdoe, apelando a valores cristãos.

13. Lióvin consegue um momento mais particular com Kitty, e a pede

em casamento novamente. Ela aceita.

14. Lióvin passa noite em claro, ansioso para ir à casa dos Cherbátski
para pedir Kitty em casamento ao príncipe e à princesa.

15. Lióvin faz o pedido aos Cherbátski, que evidentemente aceitam, e


a felicidade de todos é total.

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16. Em meio à total alegria, começam a fazer os preparativos práticos
para as bodas.

17. Karênin recebe um telegrama de Anna, dizendo que está moribun-


da e pedindo seu perdão. Volta para casa e descobre que a criança já
nasceu, e Anna, de fato, está muito mal. Vrônski encontra-se no quar-
to com Anna, e corre uma cena comovente, em que Karênin perdoa
Anna e Vrônski.

18. Vrônski fica desconcertado com o perdão de Karênin, e, sem saber


como recuperar a própria dignidade e o contato com a realidade, tenta
o suicídio, dando um tiro no próprio peito.

19. Anna começa a se recuperar da enfermidade, e, apesar do perdão e


de um renascimento espiritual de Karênin, segue tendo por ele despre-
zo. Anna é informada por uma amiga, Betsy, da tentativa de suicídio
de Vrônski, e de que ele vai partir de Petersburgo. Betsy pede a Karê-
nin que dê a Anna o divórcio.

20. A situação na casa dos Karênin fica cada vez mais tensa, com o
ódio de Anna por Karênin não arrefecendo.

21. Steve vai visitar sua irmã.

22. Steve conversa com Karênin para pedir que dê à irmã o divórcio,
e acaba convencendo-o.

23. Vrônski teve um ferimento grave, mas não fatal. Betsy informa-o
de que Karênin aceitou conceder o divórcio a Anna. Vrônski vai visi-
tá-la, e ambos decidem sair de Petersburgo juntos.

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Quinta parte
1. O tempo para preparar a festa de casamento é julgado curto pela
princesa Cherbátksi, então todos correm conta o tempo, exceto Lióvin
e Kitty, que estão em êxtase. Dentre os preparativos, a Igreja exige que
Lióvin faça uma confissão antes de casar, o que acaba se mostrando um
evento menos traumático e mais sério do Lióvin pensava.

2. Chega o dia das bodas, tudo prepara-se normalmente e segundo as


tradições russas.

3. Contrariando o normal, Lióvin se atrasa para a igreja por ter proble-

mas com a roupa.

4. Começa a cerimônia, clímax da felicidade de Lióvin e Kitty.

5. Descreve-se a sociedade moscovita presente na cerimônia.

6. A cerimônia se encaminha ao final, com Lióvin quase incrédulo de


felicidade.

7. Anna e Vrônski vivem viajando pela Europa, e no momento encon-

tram-se estabelecidos em Veneza. Vrônski reencontra um amigo e o


traz para conviver em sua casa.

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8. Anna encontra-se feliz, mas sentindo-se culpada por sua felicidade.
Vrônski resolveu entrar em contato com sua veia artística e pratica
pintura.

9. Vrônski e Anna, muito por influência de Golenítchev, o amigo de


Vrônski, resolvem conhecer um promissor artista russo estabelecido
em Veneza, Mikháilov.

10. Descrição de Mikháilov.

11. Chegam os três amigos no ateliê de Mikháilov.

12. Conversam sobre os quadros de Mikháilov.

13. Vrônski encomenda um retrato de Anna a Mikháilov, e acaba de-


sistindo de seguir sua veia artística.

14. A vida matrimonial mostrou-se inesperadamente conturbada para


Lióvin, mas, não obstante, uma vida feliz.

15. Após três meses de casamento, as coisas estão mais pacíficas, mas os

dois são ainda um mistério um ao outro.

16. Chega uma carta informando que Nikolai está nas últimas. Lióvin

quer partir sozinho, mas Kitty insiste para ir junto.

17. Nikolai está hospedado com a companheira em uma espelunca, e


lá também ficam hospedados Lióvin e Kitty.

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18. Lióvin se inquieta na presença do irmão moribundo; Kitty, pelo
contrário, age com seu espírito de caridade cristã tal como aprendeu
com Várenka.

19. Ver a naturalidade de Kitty com Nikolai, e quão bem ela o faz,
causa uma profunda impressão em Lióvin.

20. Nikolai entra nas suas horas finais, confessa e recebe a Sagrada
Comunhão a pedido de Kitty. Toda a situação mexe muito com Lió-
vin, que vê a morte como um grande mistério; juntamente com esse,
abre-se-lhe o mistério do amor, ao ver Kitty cuidando do irmão, e o
mistério da vida: descobrem que Kitty está grávida.

21. A vida de Karênin após o abandono de Anna é uma luta pela ma-
nutenção da luz que encontrou ao abraçar o cristianismo quando per-
doou Anna. A pessoa mais próxima dele é a condessa Lídia.

22. A condessa Lídia tenta dar apoio à Karênin em sua dificuldade e


fortalecer a sua fé. Karênin busca ter fé verdadeira.

23. Condessa Lídia recebe uma carta de Anna, avisando que vai a Pe-
tersburgo e apelando para ver o seu filho.

24. Karênin está satisfeito com o seu trabalho, apesar de seus colegas
o prestigiarem cada vez menos. Condessa Lídia chama Karênin para
uma conversa.

25. Condessa Lídia fala a Karênin da carta de Anna, e o convence a


não deixá-la ver Sérgio, seu filho.

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26. É descrita a vida de Sérgio.

27. É decrita a interação entre Serioja (apelido de Sérgio) e Karênin.


Serioja sente saudades da mãe.

28. Anna e Vrônski chegam a Petersburgo, e o retorno à Rússia é tur-


bulento emocionalmente para os dois.

29. Anna decide ir até a casa de Karênin para ver Serioja em seu ani-
versário. Com a ajuda dos empregados da casa, consegue.

30. O encontro é muito emocional para ambos. Anna desejava que o


encontro permanecesse secreto, mas Karênin a encontra, e a trata com
cortesia, e isso só aumenta o ódio e nojo de Anna por ele.

31. Anna fica profundamente perturbada após o encontro. Discute


com Vrônski, que fica preocupado com ela.

32. Anna decide ir ao teatro, onde encontrará e será julgada pela socie-

dade petersburguense. Vrônski tenta chamá-la à razão, e é hostilizado.

33. Vrônski fica inquieto em casa, e decide ir ao encontro de Anna no

teatro. Lá, ao encontrá-la, descobre que foi hostilizada por uma senho-
ra por ser uma adúltera. Vrônski e Anna fazem as pazes e vão para o
interior.

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Sexta parte
1. Dolly, Várenka, Kóznitchev e os Cherbátski estão hospedadas em
Pokróvskoe.

2. As moças passam as tardes juntas no terraço e na cozinha da pro-


priedade.

3. Kitty e Lióvin têm um momento a sós, muito terno e que os aproxima.

4. Várenka espera ser pedida em casamento por Kóznitchev.

5. Kóznitchev acaba se acovardando e não pede Várenka em casamento.

6. Steve chega à Pokróvskoe com um amigo, Veslovski, que acaba se


mostrando inconveniente e irritando Lióvin.

7. Kitty e Lióvin conversam sobre a inconveniência de Veslovski, e


Kitty apazigua Lióvin.

8. Steve, Veslovski e Lióvin vão caçar.

9. Veslovski que conduz o coche que os leva ao local da caça, e o acaba

atolando, o que ressuscita a irritação de Lióvin com ele.

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10. A caça vai bem para Steve, e mal para Lióvin e Veslovski.

11. Os três se hospedam na casa de um mujique. Lióvin decide dormir

cedo, Steve e Veslovski decidem ir flertar com algumas camponesas em


uma festa próxima de onde estão hospedados.

12. Lióvin levanta de madrugada e vai caçar mais, dessa vez com sucesso.

13. Os três, após o almoço, vão caçar novamente, e à noite voltam para

Pokróvskoe.

14. Veslovski volta a ser inconveninente, fazendo jogos de flerte com


Kitty, o que gera uma discussão entre ela e Lióvin, mas fazem as pazes
imediatamente.

15. Lióvin expulsa Veslovski da casa, o que causa um frisson entre to-
dos os convidados. Ao jantar, o episódio já é passado e a conversa corre
em grande alegria.

16. Dolly vai visitar Anna, que se encontra na casa de campo dos
Vrônski, próxima de Pokróvskoe. No caminho, pensa na sua vida, e
em como nunca amou, e se Anna não fez bem e não é mais feliz do
que ela.

17. Chega Dolly na propriedade dos Vrônski. Anna pergunta a ela o


que acha da sua situação, mas as duas são interrompidas. Veslovski
encontra-se hospedado na casa.

18. Anna e Dolly conversam amenidades, mas querendo falar sobre a


situação de Anna.

27
19. Anna fala sobre seus sentimentos em relação à sua filha com Vrônski.

20. Vrônski leva Dolly e os convidados para conhecerem um hospital


que ele está construindo na região. Dolly, antes desagradada dele, pas-
sa a gostar de Vrônski.

21. Vrônski consegue falar com Dolly à parte, e pede a ela que conven-

ça Anna de pedir o divórcio de Karênin, para que a sua situação fique


regular e possam voltar à sociedade, e também para que sua filha possa
herdar seus bens.

22. Dá-se um faustoso banquete na janta, com muito luxo. A conversa

se arrasta um pouco, e Dolly sente-se aliviada ao ficar sozinha no quar-


to no fim de tudo.

23. Anna vai ao quarto ter com Dolly, perguntar o que ela acha de
sua situação. A conversa, apesar da eloquente argumentação de Anna,
deixa claro às duas que algo não está bem em sua situação.

24. No dia seguinte, Dolly retorna à sua casa, com um amor renovado

por sua vida doméstica.

25. Vrônski e Anna seguem vivendo no interior, e Vrônski decide, aos


pedidos de um amigo, ser candidato a um cargo eletivo no distrito.
Parte para as eleições, o que gera um desacordo com Anna.

26. Lióvin vive em Moscou devido à proximidade do parto de Kitty.


É chamado para participar nas eleições no distrito que pertence tanto
sua propriedade quanto a de Vrônski.

28
27. Steve, Kóznitchev e Lióvin participam das eleições, mas não como

candidatos.

28. Lióvin se enfada um pouco com as eleições, mas se esforça em


cumprir o papel que lhe foi designado. Vê Vrônski, mas tenta evitá-lo.

29. Há uma discussão política na sala de fumo do local das eleições.

30. Lióvin não consegue mais fugir de Vrônski e é levado a ele.

31. O partido vencedor festeja em um jantar na casa de Vrônski a vi-


tória nas eleições.

32. A relação entre Vrônski e Anna vai de mal a pior, e Anna não con-

segue colocar em prática o que ela julga necessário para que as coisas
vão bem. Anna manda carta a Karênin pedindo o divórcio. Vrônski e
Anna mudam-se para Moscou.

29
Sétima parte
1. Vivendo em Moscou, Kitty acaba encontrando com Vrônski em cer-

ta ocasião, e o encontro corre bem. Lióvin e Kitty se enfadam da vida


na cidade e desejam voltar para Pokróvskoie.

2. Lióvin vai ser apresentado a um estudioso da situação econômica da

Rússia que ele julga muito interessante. Se questiona sobre os custos


insensatos da vida urbana.

3. Lióvin e Metrov, o intelectual, conversam sobre a economia e a so-


ciedade russa.

4. Lióvin visita sua cunhada, Nathalie, e seu concunhado, Lvov.

5. Vão todos juntos a um espetáculo no teatro.

6. Lióvin cumpre compromissos sociais.

7. Lióvin vai ao clube encontrar com amigos. Steve inclui Vrônski na


roda social.

8. Todos ficam levemente bêbados, Steve chama Lióvin para conhecer

Anna.

30
9. Chegam à casa de Anna e Vrônski. Lióvin se impressiona com o
retrato de Anna pintado por Mikháilov.

10. Lióvin se encanta com Anna, que conscientemente o tenta seduzir,

e a bebedeira deu a ele todo um ar onírico ao encontro.

11. Lióvin volta para casa e conta a Kitty que encontrou Anna. Kitty se

entristece, vendo que Lióvin foi seduzido por Anna, e Lióvin admite
que a bebedeira somada à compaixão que sentiu por Anna por sua
infelicidade o confundiram. Conversam longamente e fazem as pazes.

12. Anna encontra-se inquieta e infeliz. À chegada de Vrônski em casa,

brigam a sério.

13. Kitty entra em trabalho de parto.

14. Lióvin corre atrás do médico e de todos que precisam estar presen-

tes. Reza a Deus com honestidade e de coração.

15. Termina o parto, e junto com ele a ansiedade de Lióvin. Kitty e a


criança, um menino, estão bem.

16. Lióvin conversa com o príncipe Cherbátski e com Steve. Esforça-se

para encontrar afeto profundo por seu filho.

17. Steve está em má situação financeira, então vai a Petersburgo baju-


lar alguns altos servidores para tentar uma sinecura. Fala também com
Karênin, pedindo para que conceda o divórcio a Anna.

31
18. Karênin promete pensar no assunto e dar resposta no dia seguinte
à Steve.

19. Serioja aparece na sala onde Steve e Karênin conversam, e vê-se que

não é um menino realmente feliz.

20. Steve aproveita a estada em Petersburgo e vai à sociedade.

21. Na festa que se encontra Steve, chegam a condessa Lídia, Karênin


e o conselheiro espiritual de Karênin, um francês, aparente charlatão,
mas possível taumaturgo.

22. O encontro com o trio causou peso e estranhamento a Steve, que


ficou desanimado. Recebe no dia seguinte a resposta negativa de Karê-
nin quanto ao divórcio.

23. Anna e Vrônski vivem em pé de guerra, e a situação é cada vez pior.

Anna sente-se culpada, e Vrônski passa cada vez mais tempo fora de casa.

24. Anna e Vrônski fazem as pazes, para logo em seguida brigarem de


novo por um ataque de ciúmes de Anna. Se reconciliam novamente, e
decidem voltar ao interior.

25. Recebem telegrama de Steve notificando que Karênin não dará o


divórcio. Brigam novamente, e feio. Vrônski sai de casa e só volta à
noite, Anna tranca-se no quarto e pede para não ser incomodada.

26. Primeira vez que passam brigados o dia inteiro. Anna toma cada
vez mais ópio diluído em água, e passa por ela o pensamento do suicí-
dio. Volta a sonhar com a morte e com um mujique barbudo.

32
27. Vrônski sai de casa, Anna manda o criado enviar um bilhete a ele.
Arruma-se para sair, e vai à casa de Dolly.

28. Chegando na casa dos Oblônski, é informada de que Kitty está lá.

Conversam as duas, Kitty sai-se bem em controlar suas emoções. Anna


despede-se, Kitty e Dolly veem profunda tristeza em Anna.

29. Anna, tomada de ódio por Vrônski, resolve ir atrás dele, que se
encontra na casa da mãe.

30. No caminho até a estação de trem, Anna fica pensando nos diver-
sos eventos da sua vida e na sua situação.

31. Anna toma o trem e enche-se cada vez mais de ódio por Vrônski e
por tudo. Não para de maquinar sobre como fazer Vrônski sofrer. Vê o
mujique que lhe aparece nos sonhos pela janela do trem. Em uma das
paradas, comete suicídio se jogando nos trilhos.

33
Oitava parte

1. Kóznitchev lança um livro ao qual dedicou grande atenção. Julgava


que seria um sucesso e acaba sendo um fracasso. Vai com um amigo
visitar Lióvin.

2. No caminho à Pokróvskoie, em uma das paradas do trem, encontram

vários voluntários para a guerra dos sérvios contra os turcos. Encontram


também Steve, que fala com dor da sua irmã; e encontram também
Vrônski, que se alistou para a guerra e doou boa fortuna para a causa.

3. Kóznitchev e seu amigo passam agora a viagem conversando com


os soldados.

4. Kóznitchev encontra no trem a mãe de Vrônski, e enceta com ela


conversa. Vrônski passou prostrado por muito tempo após o suicí-
dio de Anna, depois ficou enfurecido. Karênin aceitou criar a filha de
Anna com Vrônski como sua.

5. Kóznitchev conversa com Vrônski, que não mais se importa se irá


morrer ou viver na guerra, e vai lutar apenas para cumprir o que julga
um dever moral.

34
6. Kóznitchev e Katavássov, o amigo, chegam em Pokróvskoe. Lióvin
está trabalhando no colmeal e não pode recebê-los.

7. Kitty cuida do filho, Mítia, e pensa no marido e na sua falta de fé,


que é o seu tormento.

8. Começa aqui a descrição das profundas reflexões de Lióvin sobre os

mistérios da vida e da morte, da fé, do sentido da vida.

9. Segue as reflexões. Especialmente aqui sobre a insuficiência da


filosofia.

10. Segue as reflexões. Lióvin chegou a considerar o suicídio, tão pro-


funda a sua descrença, ao passo que também via que essa escuridão ia
abrindo a ele uma compreensão mais aprofundada do que ele buscava.

11. Lióvin tem uma conversa com um mujique que o ajudava a reco-
lher a colheita. O mujique fala de um outro mujique que vive para
Deus, cumprindo Seus mandamentos, o que enche o peito de Lióvin.

12. A conversa com o mujique foi como uma faísca sobre o palheiro, e

acendeu um grande incêndio interior em Lióvin.

13. Lióvin recebe uma epifania, encontra o sentido que tanto buscava,

e agradece a Deus por isso.

14. Lióvin volta para casa determinado a mudar de vida, e a cuidar des-

se sentimento produzido dentro dele por essa epifania, e vê que, apesar


de seus erros, a luz no seu coração não morre.

35
15. Kóznitchev enceta uma discussão sobre a participação russa na
guerra dos sérvios contra os turcos. Lióvin tenta manter-se fora da
discussão, mas é arrastado por seu irmão.

16. Lióvin vê que a discussão não leva a lugar nenhum, mas que ela en-

tristece seu irmão, portanto a vê como má. Resolveu calar-se e chamou


a todos para olhar as nuvens no céu.

17. Arma-se um temporal, Kitty, Mítia e a ama encontram-se em um


bosque mais ou menos próximo da casa. Lióvin corre desesperado
atrás deles, e, ao ver cair um raio, imagina que matou a todos. Reza de
coração, e encontra todos sãos e salvos.

18. A tarde é muito prazerosa, todos conversam e tomam chá. Lióvin


participa do banho do filho, e encontra o amor e o carinho que antes
não achava pelo próprio filho.

19. Lióvin compreende a epifania que teve, e abraça com esperança a


vida com sentido que lhe foi dada.

36
Chaves de interpretação

“Existem dois caminhos, o caminho da vida e o caminho da mor-


te. Há uma grande diferença entre os dois.”
— Didaqué

“Primeiramente, o cocheiro da alma humana dirige uma pare-


lha desigual; depois, um dos cavalos da parelha é belo e nobre e
oriundo de raça também nobre, enquanto o outro é o contrário
disso, tanto em si mesmo como por sua origem. Essa é a razão de
ser entre nós tarefa dificílima e ingrata a direção das rédeas.”
— Platão, Fedro

“Saiba que o Atman é o passageiro na carruagem,


e que o corpo é a carruagem,
Saiba que Buddhi é o condutor,
e Manas são as rédeas.”
— Katha Upanishad

“Aonde está teu tesouro, aí também está teu coração.”


— Evangelho de São Mateus, 6, 21

37
Lev Tolstói tem uma biografia — e bibliografia — marcada pela busca
do real sentido da vida humana. De família nobre e abastada, nasceu
em 1828. Tentou estudar Direito na faculdade de Kazan, onde mais
gazeava do que atendia às aulas, e foi descrito por seus professores
como “incapaz e desinteressado em aprender”. Abandona a faculdade,
volta à propriedade rural de sua família, Yasnaiya Polyiana, e passa a
viver na farra, frequentando a sociedade moscovita e petersburguense
— “fornicador incansável”, em suas próprias palavras. Após contrair
grandes dívidas de jogo, entra no exército e luta na guerra do Cáucaso.
Durante a guerra, passa por uma profunda experiência pessoal, que o
leva a abandonar a vida dissoluta. Por enquanto paremos por aqui na
vida do conde, para que possamos encetar as nossas considerações so-
bre o assunto principal do guia, Anna Karênina, considerado pelo pró-
prio Tolstói o seu primeiro romance perfeitamente acabado, “romance
sério”, em sua opinião — opinião mantida até a sua renúncia à litera-
tura em O que é arte?, de 1897. Em Anna Karênina, Tolstói conseguiu
dar forma literária elevada à busca da verdade à qual aspirava, que não
se dissocia do esforço de abrangência no estilo do escritor; no caso,
da abrangência simplesmente monumental no tratamento do assunto
principal do romance, o amor — um gigantesco painel humano sobre
o amor e o matrimônio.

A abrangência da obra tolstoiana granjeou ao russo admiradores ar-


dorosos, como Virginia Woolf, que o considerava “o maior dentre os
romancistas”. Já Henry James criticou em Tolstói a falta de “composi-
ção”, classificando Anna Karênina como um “monstro solto e disfor-

38
me”. Bem, uma das marcas de Tolstói foi a de ser uma figura divisiva:
entre os seus pares, entre seus críticos e leitores, e, por fim, entre os
clérigos ortodoxos.

Em Anna Karênina, um dos pontos geralmente notados é o parale-


lismo entre as duas personagens, Lióvin e Anna. Além da beleza do
artifício narrativo, o que transparece da justaposição é como cada su-
gestão, pensamento ou ideia, assentidos ou rejeitados, tornam-se ações
que encaminham o nosso destino. Lióvin, um abastado e ainda jovem
fazendeiro que, não encontrando no puro cumprimento dos deveres
de seu trabalho e nos livros de filosofia a plenitude e uma verdadeira
alegria, crê que irá encontrá-la no matrimônio com seu amor de ado-
lescência, Kitty Cherbátskaia. Anna, estrela da sociedade russa, amada,
admirada e invejada por todos à sua volta, goza dos prazeres de seu
estado, e vê em sua vida burguesa e em seu sucesso social a beatitude
possível à vida humana. Atendendo a um pedido de seu irmão, Stepan
(Steve) Arkáditch Oblônski, Anna vai de São Petersburgo a Moscou
para interceder em uma reconciliação entre ele e sua esposa, Dária
(Dolly) Aleksándrovna Oblônskaia, que encontram-se brigados em
virtude de um caso de adultério de Steve. Anna, ao desembarcar na
estação de trem, conhece o conde Aléksei Vrônski, que imediatamente
apaixona-se por ela. Além de Anna ser uma mulher casada e mãe de
um menino, Vrônski encontra-se enamorado de Kitty, e é aí que as
rédeas começam a se perder.

Vale aqui lembrar da parábola da carruagem de Platão, usada pelo


filósofo para falar da constituição da alma humana, e que serve como

39
uma luva para lançar luzes à mecânica do romance. O espírito, ou
intelecto, testemunha e força motriz do ser humano, é o condutor de
uma carruagem com dois cavalos, em que cada um puxa a alma para
uma direção diferente. Os cavalos são as suas potências, uma sendo a
que tende ao que é mais carnal no ser humano — em movimento des-
cendente; a outra, ao que é incorpóreo, à beleza, ao bem, à verdade —
em movimento ascendente. Após a reconciliação dos Oblônski, Anna
é convidada para um baile, baile que será o primeiro de Kitty, irmã
mais nova de Dolly e admiradora do arrebatador charme e garbo de
Anna. O sentimento de que as coisas vão, de pouco em pouco, saindo
de compasso começa quando da descrição da vestimenta de Madamme
Karênina, um vestido simples, elegante, mas com uma invulgar sen-
sualidade, e o ritmo de carrossel desgovernado na trama vai adquirin-
do cada vez mais intensidade com a mazurca que toca durante o baile,
e especialmente com a chegada do conde Vrônski, que gelidamente
ignora Kitty e se investe em um intenso jogo de sedução com Anna.
Kitty termina o baile em frangalhos, atormentada não só pela traição
de seu pretendente e daquela que julgava um modelo para si, mas
também por ter, antes da festa, rejeitado um pedido de casamento de
Lióvin. Anna termina curiosa, mas satisfeita com a sua pequena e pe-
rigosa brincadeira, e tenta soterrar as impressões deixadas lembrando
de seu filho e da ordem burguesa que a espera em casa. Vrônski muda-
-se de Moscou para Petersburgo, abandonando não apenas Kitty mas
também sua carreira militar, decidido a tornar-se amante de Anna.

A impetuosa e descompassada marcha segue. Anna, cedendo às in-


vestidas de Vrônski, torna-se sua amante. No dia de uma aguardada

40
corrida de cavalos, em que Vrônski é não só um dos competidores
mas um dos favoritos, Anna, profundamente angustiada, o informa
de que está grávida. O dia transcorre alucinadamente, e Vrônski tenta
em vão manter a calma, mas é arrastado pela desvairada cavalaria in-
terior causada pelos eventos, e, chegando a noite, na corrida, comete
um erro que custa não apenas a corrida mas a vida de sua amada égua,
Frou-Frou — e também a fachada de segredo que seu romance preser-
vava diante de Aleksei Karênin, marido de Anna. Anna, presente na
plateia, tem um ataque de nervos ao ver o tombo do amante, e, ao ser
confrontada por Karênin, revela a ele que não só o está traindo, mas
como por ele só tem desprezo. A parábola da carruagem tem aí o seu
clímax, onde o afrouxamento das rédeas nas vidas de Vrônski e Anna
se materializa no evento do acidente, vivamente descrito como uma
imagem material da situação dos amantes.

Voltando a Lióvin, ele, envergonhado pela recusa da sua amada, retor-


na à sua fazenda e enterra-se no trabalho e em estudos relacionados à
situação econômica da Rússia como maneira de distrair-se e não per-
der o pé com a realidade. Se sua plenitude estaria no matrimônio, e
com Kitty e nenhuma outra, e esse se tornou impossível, logo, pensa
Lióvin, a plenitude possivelmente está em outro lugar. Não tarda até
que chegue a seus ouvidos que Kitty não casou-se e sente-se mal por
tê-lo recusado. A história de Lióvin e Kitty, seu reencontro e o que se
segue baila a um ritmo inteiramente diferente, pacífico, animado e ale-
gre, mas sem frenesi. As cenas, do reencontro dos dois até suas bodas,
são de beleza sem igual, e tamanho é o gênio de Tolstói para dar viva-

41
cidade à sua escrita que é difícil achar quem já tenha se apaixonado e
que não sinta o alegre nervosismo de Lióvin na noite em que vai pedir
novamente a mão de Kitty, e não se emocione e rejubile com ele ao
“sim” de sua amada.

De um lado, enquanto o clímax de Anna e Vrônski se deu na viva tragé-


dia da corrida de cavalos, aqui o clímax se dá nas bodas de Konstantin
Dimítrich Lióvin e Ekaterina Aleksândrovna Cherbátskaia. Os prepa-
rativos do casamento são recheados de delícias, e de dores que parecem
existir apenas para dotar os acontecimentos de realidade, e culminam
com a cerimônia de casamento, em que, a cada prece do sacerdote, Lió-
vin vê abrir-se a ele uma alegria e uma dimensão da vida que não sabia
existir, e o júbilo de Kitty torna-se totalmente também seu júbilo.

Tolstói descreve tudo de maneira a deixar visível o nexo causal e o


caminho entre o assentimento ou a recusa de ideias, sentimentos, su-
gestões e pensamentos com a pavimentação do destino de cada per-
sonagem. Anna não poderia tornar-se amante de Vrônski sem fazer
uma concepção do que é o amor, e então sentir-se privada desse amor;
Lióvin não poderia encontrar no matrimônio felicidade, e ver nas pa-
lavras do sacerdote durante o rito como que chaves de abertura para
uma compreensão superior da sua felicidade sem antes, igualmente,
uma concepção de amor e crer que nele encontraria uma plenitude.
Não é novidade que Tolstói, bem como Dostoievski e Gógol, recebe-
ram profunda influência do cristianismo ortodoxo, e a descrição desse
processo mental, cunhado por muitos críticos como “fluxo de cons-
ciência” e cuja invenção creditam a Tolstói, não é senão a aplicação li-

42
terária dos ensinamentos sobre vigilância dos pensamentos, da népsis,
que data dos Padres do Deserto do século III e que encontram-se vivos
na tradição ortodoxa.

Por essas e outras, Anna Karênina — como toda a obra de Tolstói — é


frequentemente tachada, pejorativamente, como “moralista”, mas isso
é de uma enorme injustiça. Fazer isso é lançar um olhar tacanho à
Anna Karênina, pois o livro não é um sermão à high society russa ou
uma crítica de costumes, mas sim uma investigação do ser humano, de
seus anseios profundos, de seu fim e do que motiva suas ações. Tolstói
não escreve o livro como um censor, criticando suas personagens, não
faz um juízo das ações de Anna, sequer as descreve como más ou boas,
e o mesmo vale às de Lióvin. Não há, aliás, provavelmente, nenhuma
personagem detestável em todo o livro, do mais pusilânime ao mais
honrado, todos são seres humanos reais, e portanto amáveis. Além
disso, quem poderia ser mais compassivo com o seu próximo do que
aquele que se esforça em descrever, e portanto entender, viva e visce-
ralmente, o seu drama?

Tolstói, após sua experiência na guerra, casa-se e tenta reaproximar-se


da Igreja Ortodoxa como fiel, mas não consegue levar sua conversão
às últimas consequências, por, em suas palavras, não conseguir crer na
Eucaristia. Nisso, o Lióvin dá espaço à Anna na alma do escritor, que
acaba criando um cristianismo próprio, com um Cristo sem milagres
e uma vida espiritual sem mística, que se torna uma seita, adquirindo
considerável número de seguidores. Declara guerra à Igreja Ortodoxa,
escrevendo inúmeros artigos contra a doutrina e o clero, e acaba sendo

43
excomungado — justamente, em sua própria opinião. Em seus últi-
mos dias, deixa esposa e filhos em Yasnayia Polyiana e parte, a pé e em
segredo, em peregrinação ao célebre mosteiro de Optina Pustyin, cen-
tro da ortodoxia russa na época. Tomba gravemente doente de pneu-
monia no meio do caminho, no posto de Astapovo. Esposa e amigos
íntimos vão em seu socorro e o encontram em situação crítica, física
e espiritualmente. Correm então até Optina buscar ajuda do staretz
Barsanúfio, famoso mestre espiritual e taumaturgo da época, para o
caso do escritor querer a confissão e reconciliação com a Igreja antes
de sua morte. Chegando em Astapovo, é negado ao staretz que tenha
contato com Tolstói, e seus seguidores escondem a presença do monge
ao escritor, que falece levando para o túmulo o segredo de suas inten-
ções na peregrinação até Optina, e sem falar com o staretz Barsanúfio.

Anna Karênina é grande como a vida, um testamento da grandeza da


alma de Tolstói, e um verdadeiro espelho para o leitor. O gênio do ro-
mancista estava em representar a natureza humana não só numa escala
monumental, mas com uma força inaudita, da qual Anna Karênina é
exemplo, e um marco na literatura.

44
Epílogo
OS INFIÉIS: A TRAJETÓRIA DE ANNA KARÊNINA NAS TELAS DE

CINEMA E TEVÊ

Na irregular história das adaptações cinematográficas do clássico


de Lev Tolstói, o que se notabiliza é a pouca fidelidade dos reali-
zadores de cinema ao gigante da literatura russa.

Com perdão a Lev Tolstói pelo trocadilho com a famosa frase de aber-
tura de seu romance Anna Karênina, mas creio que dá para dizer que
todas as boas adaptações cinematográficas se parecem, mas as más
adaptações o são cada uma à sua maneira. Tomemos as obras de ci-
nema e de tevê adaptadas de Jane Austen, a partir de 1995, quando a
atriz Emma Thompson escreveu o roteiro de “Razão e Sensibilidade”
e convenceu o diretor Ang Lee a dirigir o filme, cujo sucesso estron-
doso fez os produtores de cinema descobrirem a “irmã caçula de Sha-
kespeare” (no epíteto do crítico literário Harold Bloom). Por trás da
diversidade estilística entre as produções realizadas desde então, elas
carregam uma marca distintiva, como se fossem todas filhas da mes-
ma família: a acuidade cognitiva, a fina ironia, o espírito perscrutador
da romancista inglesa correm no sangue dos filmes e séries. “Anna

45
Karênina” não teve a mesma sorte. É uma personagem forte demais,
complexa demais, inconveniente demais para seu próprio bem, e os di-
retores e produtores de cinema historicamente se intimidaram diante
dela, ou faltou-lhes acuidade para traduzir a grandeza e profundidade
de seu drama interior.

A adaptação de “Anna Karênina” às telas é uma empreitada deveras


ingrata. Pois, como bem disse o crítico F. R. Leavis, de poucas obras
de arte se pode afirmar, como de “Anna Karênina”, que “Isto aqui é a
vida”. Daria para aventurar-se a dizer que, tal como Shakespeare, Tols-
tói era um grande espelho da natureza. Porém, ao contrário do Bardo,
cuja universalidade é absoluta, adaptável a todos os contextos e cultu-
ras, o velho Liév recusou-se obstinadamente a dar-se ao leitor (ou, no
caso, aos roteiristas, autores de sua adaptação) a não ser da forma tal
como erigiu seus romances. Segundo o crítico literário espanhol José
María Guelbenzu, o desenvolvimento intelectual dos temas e ideias
tolstoianos se dá narrativamente: a própria forma narrativa de Tolstói
tem a força de uma exposição filosófica. Recortes e cortes, omissões,
rearranjos e alterações em seus romances não só desmontam a sua for-
ma, mas desfiguram a própria vida criada por Tolstói.

————

Vladimir Nabokov dizia ser “Anna Karênina” uma das maiores histórias
de amor da literatura mundial. Prefiro a opinião de Guelbenzu, que é
uma história sobre o amor. O amor e a morte, em todas suas variações:
Tolstói, repita-se, era grande como a vida, e em “Anna Karênina” o tema

46
do amor foi construído com uma força narrativa tão grande que o leitor
é sugado para dentro de suas páginas: é como se a vida estivesse aconte-
cendo ali, de forma natural, mas majestosa. Aliás, para mim, a verdadeira
história de amor de “Anna Karênina” é a de Lióvin e Kitty, pois nela estão
refletidas as asperezas de um relacionamento real de casal, contraponto
à ardente e destruidora paixão entre Anna e seu amante, Vrônski. Um
dos aspectos perversos — ou pervertidos — do amor é o adultério. Foi
um tema que se tornou coqueluche na novelística europeia na segunda
metade do século XIX. Não há, contudo, prova que Tolstói tenha lido
a obra mais ilustre desta tendência, “Madame Bovary”, apesar do seu
apreço a Flaubert. Quando Tolstói visitou Paris em 1857, um mês após
o escândalo provocado pelo lançamento de “Madame Bovary”, quando
um processo foi movido contra Flaubert por desacato ao público e à
moral religiosa, o russo não fez menção alguma a ele ou ao caso. Em seu
diário, mencionou os seus encontros com Turgenev, as idas à ópera e ao
teatro, para assistir a Molière. Também escreveu sobre a sua aversão a
Balzac, a quem considerava “um depravado”. Mas sobre Flaubert, nem
uma única palavra. Acadêmicos modernos dedicaram-se inquietamen-
te, nas últimas décadas, a identificar paralelos entre os dois romances,
encontrando, sem dúvida, uma série de semelhanças temáticas e estru-
turais entre eles, mas a verdade é que o espírito de um romance e outro
são opostos. A grandeza de Flaubert é sobretudo estilística, mas Anna
Karênina é a antítese de Emma Bovary. Pense-se o que quiser da aristo-
crata russa, ainda que se a exponha ao opróbrio, a única coisa da qual
não se pode acusá-la é de mediocridade. Emma Bovary era uma mulher
medíocre. Anna, decerto que não.

47
Pois bem, quis o destino que, na História do Cinema, a versão imor-
talizada de “Anna Karênina” tenha sido a de 1935, com Greta Gar-
bo no papel principal, com direção de Clarence Brown. A atriz sueca
já havia estrelado uma versão abastardada do romance de Tolstói, no
cinema mudo, “Love”, de 1927, cuja trama, contudo, desviou-se al-
gumas léguas de “Anna Karênina”. Porém, mesmo a versão “fiel” do
romance protagonizada por Garbo é problemática. Sim, talvez seja um
dos grandes melodramas da MGM nos anos 1930, Greta Garbo esta-
va linda como nunca (o diretor de fotografia do longa-metragem foi
William Daniels, o preferido da atriz, e ele sabia fotografá-la). Mas, no
fundo, “Anna Karenina” (1935), dirigido por Clarence Brown, é uma
traição a Tolstói, uma bem comportada homogeneização sentimental
que descolore a rica paleta de cores da personalidade de Anna, além
de atenuar suas escolhas morais: Anna, no filme, é a esposa sofredora e
inocente; Karênin, seu marido, um sujeito duríssimo, frio e cruel, que
praticamente a empurra aos braços de Vrônski. Falei sobre escolhas
morais, mas é um emprego infeliz destas palavras. Tolstói mostra — o
que pode chocar — é que para Anna não havia escolha. A vitalidade
de Anna (que era a do próprio Tolstói) chega a escandalizar, mas o que
o romancista vai mostrando, com o paciente desenho da sua obra, é
que o desígnio fatídico de Anna foi inexoravelmente cumprido, como
numa correnteza implacável à destruição. O ser humano tem livre ar-
bítrio, pois é criado à imagem de Deus. Mas ao mesmo tempo este
livre arbítrio é relativo, pois o ser humano não é Deus. Deste paradoxo
ontológico é feito o romance de Tolstói. O crente só consegue escapar
das garras de sua própria natureza quando confessa a Deus e reco-

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nhece-se indefeso e dependente do socorro divino para salvar-se — é,
eminentemente, em “Anna Karênina”, o drama de fé de Lióvin.

Sobre a intensidade passional de Anna, da qual o romancista russo


estava ciente, e aliás a reconhecia em si próprio, ela dá ensejo a uma
profunda meditação, no romance, sobre a natureza (e as funções) mas-
culina e feminina no casamento. A intensidade feminina amedronta os
homens. No casamento, porém, idealmente falando, o marido deveria
servir de amparo, e também de “extintor de incêndio” da esposa, para
que ela não seja consumida por sua própria intensidade. O marido
deveria ser a válvula de escape da mulher, e, na intimidade do casal, a
esposa se visse livre para dar vazão a si mesma diante do marido, sem
medo, longe das amarras e constrangimentos das máscaras da vida so-
cial, tendo o marido como uma íntima testemunha benigna de sua
própria interioridade. (O homem também precisa desta válvula de es-
cape, mas só a encontra na solidão contemplativa, diante de Deus).
Karênin não tinha como dar a Anna este suporte espiritual: ele era
um sujeito formal e convencional demais, no pior sentido destas pa-
lavras, aprisionado (e aprisionando a esposa) em seu rigor asfixiante.
Talvez, com estas observações, eu esteja na verdade reduzindo Anna,
ou a “desculpando”, o que é ainda pior. Mas as observações do sábio
romancista são prescientes a quem quiser entender a dinâmica do bom
(e do mau) casamento.

Voltando ao longa-metragem com Greta Garbo, a homogeneização


promovida pela MGM à história de “Anna Karênina” foi uma decisão
do produtor do filme, David O. Selznick, também responsável pela

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simplificação da história, que acarretou na quase que completa (e de-
sastrosa) eliminação de Lióvin. No entanto, é um pouco fácil pespegar
a pecha da insensibilidade artística aos chefões dos estúdios de Holly-
wood. Selznick — que foi o produtor de “...E o Vento Levou”, além de
responsável por levar Alfred Hitchcock a Hollywood — tinha um faro
certeiro ao que iria funcionar e ao que não iria nas telas, em suas adap-
tações cinematográficas. Também era uma ave rara na indústria do
cinema em Los Angeles, pois, ao contrário do estereótipo do produtor
hollywoodiano, lia muito. Leu “Anna Karênina”, o que está abundan-
temente provado por seus memorandos aos roteiristas do filme. Ironi-
camente, Selznick não queria fazer “Anna Karenina”, preferindo que
o próximo veículo de Greta Garbo na MGM fosse “Dark Victory”
(“Vitória Amarga”), por fim levado às telas com Bette Davis, quatro
anos depois. Em 1935, o produtor estava ressabiado com o mau de-
sempenho nas bilheterias dos dramas históricos de Garbo, como “Ra-
inha Cristina” (1933), que havia custado caro demais e, ao próximo
filme da atriz, havia escolhido uma história contemporânea (também
mais barata de produzir). A atriz sueca, porém, não gostou do roteiro
de “Dark Victory”. Ela também vinha acalentando há anos o desejo de
fazer uma versão mais fiel de “Anna Karênina” do que a versão muda
de 1927, e, como, por contrato, tinha direito a veto aos roteiros que
a desagradassem, praticamente impôs o romance de Tolstói a Selznick
e à MGM, que a contragosto aquiesceram. Entre perdas e ganhos, há
coisas deslumbrantes nesta versão cinematográfica, como a magnífica
cena inicial do banquete, com um travelling espetacular sobre a quilo-
métrica e opulenta mesa servida, uma bem realizada cena da morte da

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égua Frou-Frou na corrida de cavalos, e as duas cenas de morte sobre
as rodas dos trens: a de um anônimo no primeiro encontro de Anna
com Vrônski, e o fim trágico da própria Anna. Curiosamente, o que
realmente falta é força e carisma ao affair dos protagonistas. Greta
Garbo estava profundamente incomodada de contracenar com Fredric
March, ator errado ao papel de Vrônski, incapaz de dar a impressão de
ser um cavalheiro, ou de assumir a aparência de um militar aristocrata
(Selznick queria Clark Gable no papel). Para piorar, March mostrou-
-se inconveniente durante as cenas românticas com a atriz, fazendo,
durante as filmagens, avanços inapropriados, o que irritou profunda-
mente a sueca, que passou então a estofar alho sob o decote, durante
as cenas entre os dois. (Cenas de cinema, como as leis e a fabricação de
salsichas, é melhor não saber como foram feitas). Contudo, apesar da
heroína interpretada por Garbo não ser fidedigna à criatura de Tolstói,
e que a história filmada por Clarence Brown fosse uma diluição espú-
ria do romance, amputada que foi sem piedade por David O. Selznick
na concepção original do roteiro, algo de mágico aconteceu, pois Gre-
ta Garbo tomou para si a persona tolstoiana, tanto que é impossível
não pensar em Garbo quando se menciona Anna Karênina no cinema.

O fantasma de Garbo deve ter assombrado Vivien Leigh, que interpre-


tou a personagem em 1948, em “Anna Karenina”, de Julien Duvivier.
Apesar de estar belíssima, Vivien Leigh deu ao papel uma interpretação
superficial, numa típica dicção “transatlântica” em voga na época — o
sofisticado sotaque chamado “mid-atlantic”, mistura do sotaque culto
dos EUA com o britânico das classes privilegiadas, que havia se tornado
a forma padrão de falar nos filmes de Hollywood entre os anos 1930

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e o fim dos anos 1940, prestou-se como uma luva às produções con-
vencionais hollywoodianas, tingidas de glamour. Katharine Hepburn,
Cary Grant, Orson Welles e Bette Davis eram exímios na reprodução
deste sotaque híbrido. Vivien Leigh, idem (ao longo da carreira, a atriz
lutou bravamente para suavizar o seu forte sotaque britânico). Mas tal
impostação tirou a gravidade do romance de Tolstói. A intensidade de
Vivien Leigh, tão forte em seus papéis memoráveis, como o de Scarlett
O’Hara em “...E o Vento Levou”, se perdeu no filme. Em “Anna Ka-
renina” (1948), tudo o que a atriz logrou foi transformar a heroína de
Tolstói numa espevitada dama da sociedade de São Petersburgo. Creio
que o problema não estava em Vivien, mas no diretor do filme. O
francês Julien Duvivier ganhou notoriedade com o sucesso de “Pépé
Le Moko - O Demônio da Argélia”, film noir de 1937, que lhe abriu
as portas a Hollywood. Porém, Duvivier nunca conseguiu desenvolver
o ouvido aos diálogos em inglês; aliás, sina dos diretores franceses em
Hollywood então, como René Clair e o próprio Jean Renoir (uma no-
tável exceção, o despretensioso, mas genial Jacques Tourneur, que pa-
recia ter nascido para dirigir filmes de terror e policiais na RKO). Du-
vivier, ao ser contratado para dirigir este drama de época recheado de
diálogos empolados, frutos da colaboração indigesta entre um roteirista
britânico, Guy Morgan, e o dramaturgo francês Jean Anouilh, rapida-
mente mostrou estar fora do seu habitat natural, e fez o que qualquer
diretor esperto faria numa situação de apuros: adaptou a situação a seu
favor, transformando a sua versão de “Anna Karenina” num film noir,
estilo que conhecia como a palma da mão. Filmou-o como se fosse um
suspense sombrio. Trocando em miúdos, um roteiro com tom errado,

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um diretor deslocado, e uma atriz sem direção; não fica difícil perceber
como às vezes os melhores projetos podem dar muito errado, como
aconteceu com “Anna Karenina” (1948).

As versões de “Anna Karênina” continuaram a se suceder, sem grande


alarde. Houve, entre outras, uma produção soviética em 1953, dirigida
por Tatyana Lukashevich, sobre a qual as informações disponíveis são
escassíssimas (ao que consta, foi a versão para cinema de uma monta-
gem do Teatro de Arte de Moscou), seguida de uma versão britânica da
BBC em 1961, direção de Rudolph Cartier, com Claire Bloom como
Anna e Sean Connery (um ano antes de ser catapultado à fama como
James Bond, na série de filmes do agente 007) no papel de Vrônski. Em
1985, foi a vez de Christopher Reeve (o eterno Super-homem) tomar
para si o papel de Vrônski, num telefilme da rede de tevê CBS, com
Jacqueline Bisset como Anna, tentativa infrutífera do ator de se livrar
da imagem do Homem de Aço. Em 1997, o cineasta Bernard Rose
rodou na Rússia uma versão internacional razoável da história, com
Sophie Marceau e Sean Bean. Em 2012, foi a vez de Keira Knightley
assumir o papel de Anna. As duas produções dividiram os críticos, e
não deixaram grande marca na Sétima Arte. Por fim, vale citar a série
de tevê italiana “Anna Karenina” (1973), de Sandro Bolchi, com Lea
Massari no papel principal, não tanto pela produção em si, mas pela
bela trilha de Piero Piccioni. Ao compor o tema de Anna, Piccioni, um
dos compositores mais melodiosos do cinema italiano dos anos 1960
e 1970, o fez de forma estranhamente tensa, quase ríspida, sombria e
melancólica. Era inevitável que um artista da sensibilidade de Piccioni,
ao se aproximar da criação do russo, o fizesse sob o signo da beleza e da

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perplexidade. É o que Tolstói causa, sobretudo, nos grandes artistas,
como também nos seus bons leitores. Acima de tudo, perplexidade.

Mas nem tudo é desacerto na tumultuada história de Anna Karênina nas


telas. Em 1967, o cineasta russo Aleksandr Zarkhi conseguiu redimir o
cinema de sua dívida com Tolstói, produzindo talvez a melhor — ou a
única fidedigna — versão de “Anna Karênina”, com Tatiana Samoilova
no papel principal. Produção da Mosfilm, o estúdio de cinema oficial
soviético, seguiu bastante literalmente o romance, com fidelidade. A in-
terpretação de Tatiana foi excelente. Pela primeira vez, também, teve-se
nas telas a noção geográfica do vasto escopo do romance (Moscou, São
Petersburgo, o bucólico interior russo, a Itália), que, na narrativa tols-
toiana, ganhava um papel opressor. Quanto mais livres eram os persona-
gens, quanto maior o seu raio de ação, podendo mover-se à vontade de
um lugar ao outro, mais aprisionados eles se tornavam — prisioneiros
de seus próprios egos. Era o incômodo recado de Tolstói.

É tal, igualmente, a própria natureza da vida terrena, que se assemelha


à água do mar: quanto mais se bebe dela, mais sede ela causa, e mais
desejo desperta. Lióvin (a voz de Liév Tolstói no romance) deu-se conta
disto, ao notar o aumento de sua corrupção interior quando exposto à
vida glamurosa de Moscou, engajando-se então ativamente ao desapego.
Lições de humanidade — e espiritualidade — do grande romancista.

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