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BASEADA NO CURTA-METRAGEM DE
Victor Manoel
PERSONAGENS:
Lili Martins
Melquisedeque Drauzio
Darlene Miragaia
Ronan Miragaia
Alexia Henrica
Chico Maria
Pastor Cláudio
MELQUISEDEQUE - Boa tarde, gente! Estamos aqui para relembrar, né, as memórias do
meu avô… tio… tio-avô. (Ele olha o caixão com medo)...né? Sinto que ele foi um grande
homem (palavras vazias), um grande pai, um grande irmão, um amigo…
PASTOR CLÁUDIO - (Do banco da igreja) Um grande dizimista! Inclusive… vamos pagar,
não é, irmãos?
MELQUISEDEQUE - Tá, tia Poupou! Bem, pra fechar minha fala quero mostrar para vocês
ESTA BOLSA!
(Ele levanta uma mochila rosa desgastado pelo tempo. Ele a segurava com medo e a igreja
fazia um silêncio constrangedor)
MELQUISEDEQUE - Essa bolsa foi o último grande pedido do meu avô. Tio. Tio-avô. Ele
pediu para que eu “trucesse” e desse para ele no caixão e que ele levasse pro túmulo. Tio Bé
era engraçado, “nera”? Bem, agora, é hora de enterrar e fazer seu desejo… (falsamente triste,
no fundo está orgulhoso) Eu lamento NENHUM parente vir...
POUPOU - (Poupou sempre está estressada) Eu TAMBÉM sou parente dele, começa logo!
(Todos na igreja se olham, Melky sai correndo pela igreja desesperado gritando pela
mochila. Ninguém sabia onde estava a mochila)
(Ouvimos a respiração de alguém. Tensa, com um olhar de medo ou raiva, algo entre esses
dois. LILI para de fingir limpar a garrafa de café e pega a mochila que estava dentro de um
armário)
LILI – “Arredianga”... O que foi que eu fiz? Meu Deus, o que foi que eu fiz?
LILI - Peguei, peguei! Chico… se a mamãe sonhar que tô aqui, ela me mata! Já basta ela
descobrir que voltei contigo!
CHICO MARIA - Não, não, vai dar certo, vai dar certo! Quando foi que eu te deixei na
mão?
CHICO MARIA - Para, para! Olha, vou dar uma olhada lá fora, tá? Vê se o Melquisedeque
tá lá, tentar distrair ele, e tu, tu esconde isso aí! Depois quero saber o que tem aí dentro. Beijo,
preta.
LILI - Beijo.
LILI - (Rindo para si mesma) Isso aqui… Isso aqui nunca que ele vê. O que tem aqui dentro
vai fazer eu finalmente fazer Bé e aquela família dele véa nojenta pagar. Eles não perdem por
esperar. Hoje, eu faço justiça!
(Ela sai. Indo em direção ao velório)
(Uma pick up suja de lama para em uma rua esburacada, na frente à igreja onde acontece o
velório (sonografia de carro). A caminhonete está cheia de produtos gráficos como uma lona,
alguns cartazes e uma caixa de som. Dela descem DARLENE MIRAGAIA, segurando uma
mochila recheada de "santinhos", e seu irmão, RONAN MIRAGAIA. Os dois são filhos do ex-
prefeito da cidade, Aldemir Miragaia, um notório político na história da cidade)
(Darlene tira alguns santinhos da mochila e mostra para Ronan. Os papéis tinham o rosto
dela estampado)
DARLENE – (levemente debochada com um pouco de raiva) Bem capaz da gente pegar é
uma leptospirose nessas "banda", isso sim.
RONAN - (Sarcástico) Bem, acho que se tu reclamar com o papai, ele pode resolver...
DARLENE – Te maanca! (tom de superioridade) Olha pra mim, se tu acha que eu vou me
rebaixar, se eu fosse tu, ficava quieto para mim, lulu da Pomerânia! (Suspira e olha ao redor)
Um fim de mundo desses… Essa igreja… Esse defunto… Nem sei o nome… Bá, Bó… BÉ…
Gente, sério… NOJO dessa cidade!
RONAN - E olha ali… aquelas crianças… o tamanho do bucho… E olha que se elas têm as 3
refeições… é um milagre. (Darlene solta uma risadinha) (tom indignado) A mãe tá ainda
chispando aquelas galinhas? Se não quisesse dividir, não ficava dando que nem coelho!
DARLENE - (Suspira) As coisas que a gente tem que passar. Te falar, viu! Tentar começar
minha campanha nessa igreja com “pixé” de mijo é de lascar! Espero que funcione, e que o
papai não apareça!
RONAN - É isso ou tu não começa essa caceta de campanha. Tu já falou com o pastor pelo
menos?
DARLENE - Só mandei mensagem! "Chegar lá", eu dou meu jeito... Só de pensar que vou
ter que passar a tarde abraçada com esses "menino de beira de rua"-
RONAN - Mas é as mães desses "menino de beira de rua" que vai garantir tu ser prefeita, mas
se não quiser, tu pega teus "panim de bunda" e vira prostitutazinha de vereador. (debochado)
Papai ia amar! Do jeito que ele acredita no teu potencial como vereadora!
DARLENE - "Manin"... Se for pra ficar enchendo a minha cabeça, é melhor nem entrar!
(ansiosa e melancólica) Já basta a pressão aqui, tu sabe que o papai não gosta que eu seja da
política, só ver o tanto que ele me batia! Mas hoje… hoje é minha hora de brilhar!
(No caminho, fazem vozes doces e conversam com as crianças que estavam por perto.
Interação com o público)
(Lili sai do corredor em direção ao salão principal da igreja. Ela deixa o balde perto da
porta de acesso e avista o caixão de Bé. Seu algoz. Ela se aproxima do caixão onde
Melquisedeque e sua amiga ALEXIA SILVA conversam)
LILI - E aí...
MELQUISEDEQUE - E sim, bicha, onde tu tava? ROUBARAM a bolsa do tio. Tô pra ficar
doido! E aliás, tinha como tu servir café “pro” pessoal?
LILI - Ai, desculpa, Melky! Mas não vou ficar servindo café, não, tenho mais o que fazer,
olha o tanto de coisa pra limpar ainda ali atrás. Mas… uma bolsa? Que bolsa?
MELQUISEDEQUE - Aí, um sacotelo féi véi, só os trapos. O velho queria porque queria
que colocasse com ele no caixão. Vai querer seguir as doidice do tio Bé. Tô pra ficar doido
com esse velório. Rapaz, num vejo a hora de acabar pra pegar aquela POP100.
MELQUISEDEQUE – É.… é…, mas claro, só depois da gente enterrar o tio. Avô. Tio-avô.
(Muda de assunto abruptamente) E tu, Lili, nunca mais foi lá na caixa d’água jogar “dominó”
com a gente…
ALEXIA - Sim! Po, Lili, a gente fazia isso desde criança. Tá fazendo o quê tanto?
LILI - Trabalhando... como sempre. Eu já falei já. Tenho tempo pra ficar jogando tempo fora
assim, não, maninha.
LILI - É né, mas acho difícil vencer na vida passando pano na casa dos “outros “ e em todo
buraco dessa cidade”. Até dor na costa tô criando já (Vira pra Melquiseque) E sim, Melky, do
que foi mesmo que ele... (Evitando a palavra "morrer".)
MELQUISEDEQUE - O doutor disse que foi "infarte", né. Mas tu conhece a peça rara que o
tio Bé era. A última vez que vi ele, ele tava indo era beber.
LILI - (Com sarcasmo.) Pois é, e também "num" tem como perguntar pra ele, né.
ALEXIA – (Ansiosa e nervosa) Vou ter que ir ali bem rapidinho, já já eu volto, beleza?
MELQUISEDEQUE - (Sussurrando) "Concurso"... Sei qual é esse "concurso" que ela fez...
LILI - "E é", é? Pra mim que ela tinha saído dessa vida, já.
MELQUISEDEQUE - Que nada, comprou uma Bis zerada esses "dia", fora a vida que ela
leva por aí, Alexia tá montada.
LILI - Como é que pode, né? A vida ganha, já. E sim bicha, tu sabe que horas a Jaqueline
vem?
MELQUISEDEQUE - (Fingindo surpresa) Ah, tá! (noutro tom) Sei não. Num falei com ela
não.
LILI - Tu não falou? Égua, mas então, tu sabe se ela já sabe? Coisa véia mais esquisita,
Melky.
MELQUISEDEQUE – (tom um pouco agressivo) Não sei, Lili! Não conversei com ela não,
égua.
LILI – (responde na mesma agressividade) Eu hein, vai te lascar, diabo. Perguntei de boa.
(Lili olha ao redor. Algo estava muito estranho ali. Seu rosto expressa isso)
LILI - Na verdade, agora que tô aqui olhando. Tem um monte de "xola" do teu tio, mas
"num" tô vendo nenhum daqueles teus "parente"...
LILI – (melancólica e pensativa) Eu sei, eu sei. É só que... mesmo assim... Pra tu ver, né?...
Depois que morre…
(Lili olha pro caixão com pena e raiva. Os irmãos Miragaia entram no velório com uma
pequena aglomeração e as botas PODRES de sujas. Eles ainda estão cumprimentando a
todos, desejando suas condolências)
DARLENE - Boa tarde a todos! Como estão? (falando especificamente com algumas
pessoas, o público) (voz carismática e forçadamente triste) Meus sentimentos... Meus
pêsames, ele era um grande homem.
LILI - Tá, tá, gay! Vai lá, eu vou é tirar satisfação daquelas bota ali cheia de lama no canto
que eu acabei de passar o pano…
LILI - (Aumentando o tom de voz) Com licença os dois, mas eu acabei de limpar isso aqui,
oh!
DARLENE - (tom de superioridade) Oi? Desculpa, mas não precisa de grito não!
(debochada) Se eu fosse tu, eu tomava cuidado com o jeito que tu fala, queridinha.
DARLENE – (indignada) Mas o que que é isso? (irritada) Lava essa tua boca, hein, não sou
tuas pariceiras, não! Ser tratada assim... Que isso! Você me respeita!
POUPOU – (reclamando) Melk, tu num vai oferecer nem um café cum bulacha não é? Égua
do velório mais podi.
MELQUISEDEQUE – Calma tia Poupou, vou vê se pego alguma coisa aqui na cozinha.
(Melky vai em direção à cozinha atrás de comida. Lá dentro, ele abre um armário e acaba
achando a mochila de Bé. Ele se surpreende)
MELQUISEDEQUE - Rapaz, onde que tá essas bulachas hem? (Procurando pela cozinha
por um armário) é pra tá aqui (abre o armário) (surpreso) ÉGUA, (confuso, levanta a mão
até a cabeça e coça) Que diabo a bolsa do tio Bé ta fazendo aqui?... valei-me…
DARLENE - [...] (irritada e visivelmente exaltada) Quer gritar? Eu também sei! Minha irmã
quem tá aqui batendo boca aqui é você! E ainda fica achando que tá certa! Que desaforo, acha
que tá onde? E ainda na IGREJA! Respeita o morto!
LILI – (ainda exaltada) Mas eu tô certa, sim! Olha isso aqui, acabei de limpar e agora como
que tá, o "barruzão" jogado aqui, tudo, tudo sujo, oh ... é sério mermo, oh, político é uma
MERDA, num respeita nem o trabalho dos outro e tá bem aqui atrás de voto (tom um pouco
mais calmo e enojado) Qui eu te conheço. (novamente exaltada) TÁ ATRÁS DE VOTO!
DARLENE - Eu não tenho paciência pra isso, não, olha, seu PANTERÃO! Já falei que eu
não queria-
(Ronan percebe que a conversa está indo para um caminho que pode prejudicar o plano de
Darlene e logo intervém)
RONAN – (tom pouco elevado) Já chega! Acabou o show! (tom normal) Darlene se senta lá,
(forçando simpatia) olha... É... como é teu nome mesmo?
LILI - Liberdade.
RONAN – (tom apaziguador) Tá, olha, Liberdade, a gente se desculpa pelo que a gente fez,
tá bom? E a gente vai limpar, não se preocupa, mas pelo amor de Deus, "vamo" parar de
briga, meu pessoal! Respeita o morto!
(Darlene repreende o irmão com o olhar. Ela não queria perder a discussão pra aquela
empregada)
LILI – (irritada) Ah é? Acho bom mesmo! Vão lá. Mas uma coisa que eu não aceito é que
fale coisa de mim na minha frente. (irritada e debochada) Mas quer saber? Quero mais é que
se lasque, tenho mais o que fazer, vou é pular fora e oh, (Se dirige pra Darlene) (tom de
repreensão) tu presta atenção no jeito que tu fala com a gente. Nois é pobre, mas quem te
coloca lá, é eu, é a Dona Maria ali, todo mundo aqui, tá? "Queridinha".
(Lili se afasta, mas permanece no salão da igreja. Ronan senta ao lado de Darlene)Não seria
melhor Lili sair de cena? O que ela ficará fazendo dentro da igreja?
PASTOR CLAÚDIO - Irmãos! Vamos fazer um minuto de silêncio agora, por favor?
(escuta Lili reclamando sozinha ao fundo) Por favor, parem de confusão! (Darlene e Ronan
conversando baixinho) Pessoal, silêncio, por favor! E… durante o minuto de silêncio, minha
digníssima esposa irá passar uma caixinha para pegar uma oferta…
CHICO MARIA - (Sentando) (tom meio grosso, Chico sempre é um pouco arisco) Rapaz, é
igreja ou trombadinha? Pense uma igreja pra roubar…
(Darlene e Ronan fuxicam enquanto fazem boa pose para os convidados do velório)
RONAN - E tu? (Falando baixo para Darlene, tom de repreensão) Olha isso aqui, tu presta
atenção! Tu quer ou não quer começar essa campanha? Hoje é o último dia! De verdade, já
chega aqui montando barraco, quê isso? Tu tá doida?
DARLENE – (Responde falando baixo, chateada e irritada com a situação) Tá, tá, te acalma
também, eu só não ia ficar calada com uma "marginalzinha" dessa mandando eu ir lá pra
aquele canto. De verdade, o sangue subiu na minha cabeça!
RONAN – Calma? Calma o que maninha? Essa bosta dessa campanha tá me estressando
antes mesmo de lançar já. Fora que ainda tem o papa-
DARLENE - Eu não sei que estresse é esse que tu tá. Vai dar certo! Igreja, política, esse povo
AMA isso. Em Quatro-Ladeira é só soltar um "Jesus te ama", tu ganha uns 50 "voto". Agora é
esperar, te aquieta agora, por favor? Obrigada! E o papai… deixa ele lá!
CHICO MARIA – (chama atenção dos irmãos) (tom grosseiro) Xiiiiiiiiu! Com licença, mas
silêncio, por favor? Respeito pelo morto!
(Lili vai na cozinha e não acha a mochila. Ela se desespera e se assusta ao ver Melky. Ele
estava com a mochila em suas mãos, o tempo se torceu ao seu redor)
MELQUISEDEQUE - Não, (imitação debochada da voz de Lili) "mas eu superei já, Melky,
tenho nada disso, mais não, fica tranquilo, vou só limpar a igreja mesmo". (irritado) Sonsa!
MELQUISEDEQUE - (tom elevado) Não! Sua falsa, caninãna! Fica aí, do nada, a gente só
pega no bote!
MELQUISEDEQUE - (tom de aviso, falando, mais baixo) Tu sabe o quanto esse velório é
perigoso…
LILI – (desconfiada) Perigoso? Que perigoso o quê! (volta ao tom defensivo e irritado) Já
disse que não é da tua conta. Me dá! É minha!
MELQUISEDEQUE - Não, não. Fica quieta aí! É sério mesmo? Vai viver, minha irmã!
Quanto tempo isso já tem? O Bé nem vivo mais tá, o meu tio-
LILI - Tio-avô. Ele é teu tio-avô, isso nem parente é. Tu mesmo falava isso. Ficava aí,
mamando no dinheiro do velho. E agora quer cagar regra. (chateada, nervosa) Era a minha
casa. Ele não tinha o direito de ter feito isso não, Melky.
LILI - (Chateada, melancólica, nervosa e irritada) Eu morava naquele terreno tinha 3 anos!
Tava tentando comprar ele com o meu dinheiro! Fazia 3 anos! Ele foi lá e INVADIU meu
terreno. Usou da influência que ele tinha na cidade e pegou meu terreno dizendo que ia usar
pra construir igreja!
LILI – (nervosa, chateada e irritada) "Nego véi", ele virou meu terreno em boca de fumo,
depois de me expulsar! Ele mentia pra cidade inteira! Dizia que construía igreja, mas fazia era
a boca por aí! E tu sabe que ele fazia coisa bem pior. 3 anos pra tentar ter uma casa pra
morar... Minha mãe até me expulsar de casa, me expulsou, e ele foi lá e tomou de conta, fez o
que queria. Nessa época nem trabalhar eu conseguia…
LILI - E? Compara com o que ele fez comigo. (desconfiada) Eu não tô te entendendo… Tu
também não é nenhum santo… Tu não gostava dele… Tu tá defendendo ele?
MELQUISEDEQUE – (sem paciência) Já chega disso. Vou jogar isso no mato, AGORA!
(Melquisedeque se afasta um pouco do palco principal. Com muita raiva, ele faz menção de
jogar o pacote em um matagal, aos fundos o grito de Lili pedindo pra ele parar)
LILI - (desesperada) Para, Melky! Pelo amor de Deus,"manin".
MELQUISEDEQUE – E é por isso que eu vou jogar esse bascui lá na baixa da égua.
LILI - (nervosa) Tu não entende! Eu perdi tudo por causa daquele desgraçado. Quatro-
Ladeira precisa ver quem ele era de verdade, tu sabe mais do que ninguém o que esse homem
fazia. E outra, tu não vai ser afetado não, diabo!
(Melky começa a ficar mais nervoso do que já estava. Ele percebe que não tinha como
esconder por muito tempo)
MELQUISEDEQUE – (nervoso) NINGUÉM VAI VIM! Eu não falei pra ninguém, tá feliz?
Era isso que tu queria saber? O único parente do bosta do Bé aqui sou eu e a Poupou...
LILI - (incrédula) Mentira... não, sério, eu não acredito nisso, não. (irritada) Escroto, tu é um
lixo mesmo, "né", Melky?
LILI - Cala a boca, tu! (se aproximando de Melquisedeque) Tu acha que tu é quem, hein? Seu
merda, tá aí, todo grandão pra cima de mim e armando dentro do velório do único parente que
tu tinha. Sinceramente, hein...
LILI - (Debochada) Ah, é? Precisava pra quê? Pra conseguir aquela POP100 dele é? Vai pra
baixa da égua, tu vai me dar essa bolsa agora, se não eu vou gritar no "mei" daquela igreja e
eu acabo com esse teu "showzin".
PASTOR CLAÚDIO - E agora, com vocês, minha digníssima esposa vai entoar um hino em
respeito ao morto. Pode vir, minha querida!
RONAN - E o ÚNICO ventilador tá dando lá pra China… Olha, Darlene, eu espero que tu
seja presidenta, logo, isso sim! Parece que tô pagando meus pecado!
DARLENE - (fazendo bullying) Olha aquela menina ali! O TAMANHO da buchecha! Sério!
Ai, tô toda me coçando!
CHICO MARIA - (estala o dedo na frente dos irmãos) (tom áspero e repreensivo) Opa,
silêncio! Tô prestando atenção aqui! Respeita o morto!
RONAN - (Indignado) Minha irmã… Tu quer ser eleita assim? Humilhando todo mundo?
DARLENE – (insatisfeita) Tá bom! (noutro tom) Vou lá no pastor, ouvi aqui que ele tava lá
no gabinete dele e tu, tu fica aqui. Vai que dá alguma coisa. Já volto.
DARLENE - Pastor?
DARLENE - (insatisfeita) Não… sinceramente! Cadê esse pastor, hein? (Ela avista um
ventilador) Hum!(ligou o ventilador, fazendo um bom vento) Que milagre, eu tava morrendo
de calor!
(Darlene fica interessada na mochila após ver Lili e Melky brigando por causa da mesma)
DARLENE - Eu PRECISO saber o que tem dentro daquela bolsa véia. Onde já se viu, um
babado desses e eu de fora… vou me meter e com gosto!
LILI – (irritada) OLHA QUER SABER… Sabe o que tu faz com essa bolsa ridícula?
ENGOLE!
(Lili empurra Melky e sai. Melquisedeque segura a mochila com ódio, ele só queria se livrar
daquilo. Alexia chega sorrateiramente. Melky toma um susto)
ALEXIA - Ah, tá. Tu parece meio, sei lá, irritado, irmão... num quer ir no bar aqui na esquina
jogar uma partida de dominó? Pra calmar um poco só.
MELQUISEDEQUE - Rapaz, tô é P da vida, já, deu mó pipoco aqui! (Fala animado) Vamo,
tô precisando de uma breja, antes que eu mate um.
(Alexia percebe uma pequena mochila infantil na mão de Melquisedeque) é mochila ou bolsa?
ALEXIA - E, sim, tu deu agora de ficar rodando bolsinha, é? Que bolsa é essa?
MELQUISEDEQUE - Ah, é, tinha até esquecido que isso tava aqui. Achei aqui no chão,
deve ser de uma das crianças que estão aqui. Vou ver se devolvo.
(Melquisedeque tenta disfarçar e coloca a mochila no chão. Ele planeja só jogar uma partida
de dominó e voltar bem rápido. Ele e Alexia vão saindo do cenário)
MELQUISEDEQUE - Bicha, vou deixar aqui enquanto a gente vai lá, na volta eu pego e
devolvo
ALEXIA – Rapaz, larga logo, é so uma bolsa. (Alexia presta atenção onde Melky coloca a
mochila)
DARLENE – Hum-hum (fala animada) Peguei! Esse burro véi, deixa as coisas assim… (Ela
abre a mochila e solta um GRITO)... Como assim esses pobretões têm isso? Não, isso tem que
ficar comigo! Em briga de pobre, rico sempre sobe!
MELQUISEDEQUE – (Tom chateado de desabafo) Eu tô lascado. Acho que não sirvo mais
pra essa cidade, não, Alexia. Quero ir embora.
MELQUISEDEQUE – (frustrado) Sei lá, pro espaço, pro mar. Só queria deixar de ser besta
e meter o pé. Passei minha vida inteira com o tio Bé no meu pé do ouvido: ( voz mais grossa
para similar a voz do tio) "Nunca vou te dar nada", "Tu acha que vai ser alguém?",
"Gayzinho, fala baixo". (tom frustrado)
ALEXIA - Ah, é? E aquela bolsa?
MELQUISEDEQUE - Sei, lá, Alexia! Só acho que ele morreu e acabou que tava certo. Sou
ninguém, um merda. (frustrado e se sentindo abandonado) E pra terminar o bonito do Ronan
ainda tá lá no velório. Ele sabe que eu ainda amo ele. A gente se pegou um tempo atrás... no
meio da loucura que foi a campanha do pai dele, mas eu ainda o amo até hoje.
ALEXIA - Mas aquela bolsa não tem nada a ver com isso, não, né?
ALEXIA - (Presta atenção no nome de Lili) A Lili, é? … Foda, "manin". (começa a atender
o telefone de forma suspeita) Alô?! Ah, tá (Suspeita) Oi? Oi? Aham… Olha, Melky, vou ter
que ir agora… resolver… uma coisa… do meu concurso… Tá, beleza? Tchau!
(mas o MELK não tinha deixado a bolsa no caminho? Como a Alexia foi para o interior da
cozinha da igreja atrás da bolsa?)
ALEXIA - Não tá aqui? Ah, priquito, foi bem aquela sibita da Lili! Vou atrás dela!
(Melky, meio bêbado, percebe algo de errado e corre para verificar a mochila. Ela não
estava mais lá) No meio do caminho ne? Então a Alexia não pode ter ido para o interior da
igreja.
MULHER DO PASTOR – Menina, acho que ele já começou a pregar, senta aí.
MULHER DO PASTOR – (tom de fofoca) Tu viu o vestido da Socorro? Como é que pode?
A mulher tira foto praticamente nua no "facebook" e ainda aparece na igreja assim? Deus
tenha misericórdia, meu Pai!
(Lili está com uma colher de pau velha na mão, espiona e espera Melquisedeque entrar na
cozinha da igreja. Lili avança, de forma bem desajeitada, e coloca Melky contra a parede
com a colher na garganta dele)
MELQUISEDEQUE - Tá não!
(Lili olha incrédula pra Melquisedeque. Ele toma a colher da mão dela)
MELQUISEDEQUE - Ah! A Alexia pegou o teu pacotinho. (sarcástico) Vai lá pegar com
ela agora.
LILI - Eu não acredito nisso, não! Eu vou te matar, eu vou te matar, seu lixo! Bosta seca,
cretino, falso, lixo, escroto!
LILI – (frustrada) Tu sabe que eu roubei aquilo, né? Se me descobrirem eu tô lascada! Que
perturbação, que negócio sem jeito!
MELQUISEDEQUE - Eu? Ai, Lili. Também não é pra tanto. É só a Alexia. Tu acha que ela
ia ter coragem de matar a gente?
LILI – (indignada e frustrada) Té doidé? "Matar a gente"? Não, porque antes dela me matar,
eu te mato. E tu mesmo disse que ela anda por aí fazendo não sei o quê, eu sei lá o que aquela
abestada vai fazer!
LILI - Sinceramente, a minha vontade agora é pegar essa colher e enfiar nos teus "ovo".
LILI - É? Pois trate de começar! Eu vou dar uma olhada atrás dela, vai que ela ainda tá na
igreja escondida. E tu também. Bem feito que ela te meta uma peixeirada.
(Darlene não vê a hora de ir embora, a mulher do pastor não para de falar da vida dos
outros desde que ela se sentou. Ela só queria fugir dali)
MULHER DO PASTOR - [...] Não e depois disso, eu descobri que ela tava falando mal de
mim pra deus e o mundo! Bicha falsa, eu nunca vi um negócio desses!
(Darlene se levanta)
DARLENE – (afobada) Olha, agora que eu vi aqui. A hora tá batendo, irmã, vou atrás do
pastor!
MULHER DO PASTOR - Não, menina! Tá cedo ainda, fica aqui mais um pouquinho. Como
que tá teu pai?
MULHER DO PASTOR - Na verdade, acho que eu é que tenho que ir… Cláudio quer que
eu faça umas merenda pro povo, mas tô com vontade de ir e comprar é uns bribote pra esses
menino. Nunca me dei bem com esse negócio de boa samaritana!
DARLENE - A conversa foi boa, irmã!
MULHER DO PASTOR - Mas olha… antes eu vou lá falar com o Pastor Claúdio vai que
ele não começou a pregar, vou pedir pra Lili trazer um cafezinho e a gente aproveita e fala da
campanha e das doações! Nossa futura PREFEITA!
DARLENE - (Darlene espera a mulher sair) (outro tom) Jamanta… essa velha cafona! Olha
a roupa dela… (Olha para a mochila, e começa a tentar esconder) ridícula, miss camelô… e
ainda fica querendo falar dos outros, nunca vi crente falsa igual essa aí.
LILI - Essa coisa véia de fazer café, que ódio, nem queria fazer, eu hein, só falta me prender
aqui logo, esse velório véi pódi.
(Darlene está escondendo a bolsa. Ou pelo menos, tentando. Lili pega Darlene no flagra).
LILI – (irritada) É tu que tá com essa merda? Mas eu num tô dizendo… Passa pra cá!
(Darlene corre e consegue desviar de Lili. Lili fica brava e começa a limpar o café)
LILI - Mas ela não vai sair daqui! Aquela mocreia vai ter o que merece! Eu, hein.
LILI - Sei não! Tô limpando aqui. Se vê ela, me diz aqui… foi ela que derrubou.
(No caminho, esbarra com seu irmão. Ronan andava com o celular na mão)
DARLENE - Não te interessa, vou voltar pra lá, pastor tava me chamando.
DARLENE - Tu vai pra onde? Olha, seu (faz sinal de baitola) gay, tu não me inventa de ir
atrás daquele mata-gato, viu? A gente tem mais o que fazer!
RONAN - Ai, maninha, me erra! Tu vai se assumir quando? baitola (sinal de sapatão)
(Darlene arregala os olhos)
RONAN - Olha, vou cuidar aqui, porque tenho que resolver… umas coisas mesmo, coisas
minhas, beijos, tchau.
(Ronan não fala para onde ia. Darlene volta para o velório)
LILI - Que ódio, como que eu vou pegar aquela bolsa de volta? Ninguém acredita em mim.
Ainda mais com aquela pata choca com ela… Nunca tive chance mermo, o gai sempre quebra
pro mais fraco…
(Lili é surpreendida com uma pegada firme em seu braço. Era Alexia, segurando Lili com
uma mão e uma colher de pau em outra)
(Lili se assusta e tenta se soltar. Alexia continua com a pegada forte em seu braço)
LILI - Que quê é, hein? Tu acha que eu tenho medo de tu? Tu num ta com a bolsa?
ALEXIA – (Com medo) É pra ter! Eu vou dar nessa tua cara se tu não me disser onde que tá a
bolsa. Pera, por quê EU ia tá com a bolsa?
LILI – Num sei, minha irmã, todo mundo quer a desgraça dessa bolsa agora!
ALEXIA – (segurando firme, e ameaçando bater na Lili com a colher de pau) Fala onde que
tá a bolsa!
LILI – (Irritada) Eu não vou dizer nada! Eu que arrumei e ela é minha! Ninguém vai tomar
de mim! Sai pra lá, encosto!
LILI – Eu não sei, inferno! Se eu soubesse tu acha que eu tava aqui falando…
(Chico chega de forma sorrateira)
CHICO MARIA - (Olha nos olhos de Lili) Tu tá com a bolsa? Por que tu ainda num rebolou
aquilo no mato? Num entrega pra Alexia! Tô com tu até o fim, vamo embora daqui.
LILI – Rapaz, mas é cada coisa! Num tô com a bolsa, e mermo que tivesse, não iria entregar
coisa nenhuma! O Bé acabou com a minha vida! Eu vou acabar com ele também!
LILI – NUM SEI, CÃO! (Nervosa) Quer tanto a bolsa? Vai atrás da pata choca filha do
prefeito!
LILI - Perai… NÃO! SÉRIO MERMO? COMO EU FUI BURRA! DE CAIR DE NOVO NA
TUA LÁBIA! SEU BROXA! (se dirige para Alexia) E TU? QUENGA! ME TRAIR? SUA
AMIGA? COBRA! Se vocês dois acham que vão ter aquilo, tão MUITO errados! É minha!
ALEXIA - Cala a boca! Ai, vamo Chico. Sinceramente, eu tenho que comandar tudo aqui,
mermo, é? Tenho tempo pra ficar brigando por macho, não!
(Darlene está claramente nervosa. PASTOR CLAÚDIO está fazendo a pregação final antes
do corpo sair para o enterro. Antes, ele anuncia Darlene)
PASTOR CLÁUDIO - [...] Irmãos, antes de sairmos, quero chamar aqui no púlpito com
muita honra, uma congregada muito fiel. Filha do antigo prefeito e dizimista fiel! Darlene,
pode vir!
(Darlene se levanta, ainda trêmula. Ela anda lentamente em direção ao altar da igreja)
DARLENE - (Uma crise de ansiedade) Boa noite a todos... É... Eu... Tamo… Estamos…
Ho... hoje aqui… É…é... Na verdade, na verdade, na verdade, quero…. quero falar… (Ela
olha para o caixão)...
PASTOR CLAÚDIO - Bem… vamos voltar, mas antes… a irmã Poupou vai passar mais
uma oferta missionária. (não entendi)
DARLENE - (tentando voltar para o personagem criado por ela) Ah, é! Oi, dona… (Ela não
sabe o nome dela) Dona… É… não sei, tô nervosa, fi... fiquei fora de mim. Acho que (fala
meu pai quase desabando novamente) meu pai ainda é um grande negócio dentro da minha
cabeça.
DARLENE - O quê?
(Ela começa a cantar um hino/oração totalmente desafinada e cômica. Darlene fica ainda
mais agitada e ansiosa)
MULHER DO PASTOR - Tem certeza? Tá bom, mas se lembre, você tem depressão? Ore
mais! Ele vai te curar!
DARLENE - Calma, calma, vai dar tudo certo… Vai dar tudo certo… Respira, Darlene…
Respira…. (se abana com as mãos, ela está segurando para não chorar)
DARLENE – (confusa) MAS QUE INFERNO!? Ronan? Pobretão? Vocês dois? O que vocês
estão fazendo aqui?
RONAN - Ah, pelo amor de Deus, né, Darlene? "Vamo" baixar a bolinha do moralismo? Tu
sabe a muito tempo de mim e do Melky!
DARLENE - Saber, eu sei! Eu só não sabia que vocês ficavam (gestos engraçados
simbolizando safadeza) assim em lugar público. Imagina se entra alguém aqui. O pastor, uma
criança. Negó vei!
RONAN – (enojado) Olha... e quem é você pra me dizer o que eu tenho que fazer? Sério, eu
olho pra ti e sinto vontade de vomitar. Tu é uma sonsa, isso sim. Viu que eu tava
desconfortável e MESMO assim, ficou insistindo pra começar a merda de uma campanha
numa igreja. Como se você fosse ganhar alguma coisa!
DARLENE – (indignada e chateada) Oi? É sério isso? Ronan, por favor, tu mais do que
ninguém sabe o quanto isso é importante pra mim. O quanto o papai me machucou todos
esses anos. Eu precisava disso!
RONAN - Precisava? Bom, surpresa! O mundo não gira em torno de você, minha querida!
DARLENE - Cala a boca, baitola! Deixa, deixa ele falar. Mostrar a cobra que é. Invejoso,
filho da mãe! (raivosa e chorosa) Quero ver até onde ele vai! Mesmo sendo tratada igual
merda naquela casa, pelo menos, eu sou alguém. E ele? Nada! Sempre teve inveja de mim!
RONAN - (Rindo de deboche) - Invejoso? Inveja? Darlene, por que eu teria inveja de você
em primeiro lugar? Você não é nada, ninguém. Fica se apoiando nessa merda de carreira
política pra tentar se encontrar em algum canto. Tu nunca vai ser prefeita! Papai tava
certo… tu vai virar uma mulher que se vende por dinheiro em cangote de vereador, isso sim!
DARLENE - (estressada, segurando choro) Oi? Eu te odeio. Eu odeio aquela família. Eu não
preciso de macho nenhum, não! Nunca vou precisar, eu vou ser prefeita e vou fechar a
torneirinha de grana, tá?
RONAN - (Debochado) Nossa, não vou mais dormir… Ai, Darlene, quem te aguenta, né?
(Ronan sai da cozinha e bate à porta com força. Darlene segura o choro de raiva)
MELQUISEDEQUE - (Inconveniente) Calma, dona Darlene! Olha, eu, seu irmão, a gente se
ama. Desculpe mesmo, mas isso sempre acontece, irmão é assim mesmo, não que eu saiba,
porque eu cresci sozinho, né? Mas olha, acho que vou casar com seu irmão, então, se a
senhora puder conversar…
(Os três se olham. Melquisedeque e Lili percebe que Darlene AINDA está com a bolsa. Lili
avança e Darlene ameaça)
DARLENE - (Volta a ficar agressiva) Parou! Fiquem aí! Eu bato nos dois!
LILI - Ah, é? Mas bate pra eu desmaiar, tá? Porquê se não, vai ser MUITO ruim pra ti!
DARLENE – (ameaça, coringando) Ah, é? E quem vai tomar de mim? Vocês? Pode tentar!
Coloco os dois na cadeia! Brinca comigo, não!
LILI - Tu jura que eu vou ter medo de você, né? Pra eu meter a mão na tua cara é dois tempo!
DARLENE - Experimenta! Bando de marginal, pobre. Vocês dois! A lei tá do meu lado! O
que tem aqui dentro... Se cair na mão da polícia, vocês saem daqui só no camburão!
LILI - E tu vai junto! Ou tu acha que eu não ouvi o que teu próprio irmão falou? Ninguém te
quer, ninguém te suporta. Tu tá sozinha!
MELQUISEDEQUE - Lili... para! Dona Darlene, por favor, não faça nada com esse
basculho, jogue fora!
DARLENE - Fora? Eu vou é entregar pra polícia isso, sim! Cana! Vocês dois, oh, vão em
cana!
LILI - Tu acha que o quê, só, porque ganha mais do que nós é melhor? "Num" é, não. Tu é
bem pior! Monstra! Vou meter uma mãozada na tua cara, sua cabeçona!
DARLENE - Olha aqui, repete isso e eu te dou parte, já já. Rampeira de barranco.
(Lili vai em direção a Darlene, disposta a bater nela. Alexia chega com algo escondido
dentro da roupa. Os três viram ela, todos assustados)
ALEXIA - "Cabou" a mamata. Passa pra cá, se não, é 3 "pexerada" no bucho de cada um
aqui.
MELQUISEDEQUE - Bem.. alguém precisava fazer alguma coisa, né? Agora, a gente
precisa decidir o que fazer com isso (levanta a mochila) Acho que a gente tem que entregar
para a polícia.
DARLENE - Bem… eu não sei, contanto que isso não prejudique minha campanha
política…
MELQUISEDEQUE - Então, a gente decide junto que esse saco só vai ficar entre nós e
vamo esconder esse segredo?
(Eles se olham)
MELQUISEDEQUE - Lili?
(Lili se vê perdida. Depois de tudo. Ela não podia abandonar o que planejou. Lili olha para
Darlene e Melky)
LILI - Desculpa.
Eles correm atrás. Depois que eles vão embora, Alexia acorda. Acorda de que?
POUPOU - E sim, que diabo foi isso? Sinceramente, queria que isso acabasse logo, oh!
Lili corre para o centro da igreja, onde ainda ocorre o velório, chega ofegante e levanta a
mochila bem alta, segurando muito firme.
LILI – O BÉ NÃO ERA ESSE SANTO QUE VOCÊS PENSAM! Isso aqui! (Levanta a
mochila) É dele! (Aponta para Bé)
… Ele acabou com a minha vida. Ele que roubava terrenos e mais terrenos pela cidade toda!
Dizia que fazia igreja pra montar boca de fumo! Ele que me tirou da minha casa e me fez
morar na rua! E todo mundo, todo mundo aqui passava o pano. Só porque ele era "da igreja".
O homem cometia as maiores barbaridades e ninguém ligava, ninguém nem olhava!
(Gritando e chorando.)
Esse homem era um assassino, um ladrão! O Bé nunca foi esse homem que vocês tão
chorando. Era um lobo. Ele era o maior exemplo do porquê Quatro-Ladeira nunca ia ser uma
cidade decente. Parem, minha gente, parem! Se enxerguem! Pelo amor de Deus! SE
ENXERGUEM!
(Ela vai para o meio da igreja. Muitos olham para ela com pena. Melky está tremulo, nunca
pensou que Lili iria se expor assim, Darlene está chocada)
(A igreja toda está chocada. Mas com nojo. Ninguém liga para Lili)
DARLENE - Bem… eu sinto muito... eu... (abraça Lili, mas faz cara de nojo) deve... deve
ter sido muito difícil passar por tudo isso... é, é muito cansativo trabalhar esse tanto que você
trabalhou... você precisa... precisa de-
Ronan, sem saber o motivo de Darlene querer a bolsa, estranha, mas pega a bolsa de forma
escondida. Fica segurando já que não sabe nada sobre a mochila.
MELQUISEDEQUE – Lili?
Melky olha para os lados procurando a bolsa, que está na mão de Ronan.
Alexia chega, meio cego, e se posiciona atrás do caixão. E ameaça todo mundo. Todos da
igreja gritam, alguns saem correndo. Chico Maria e Alexia surgem também. E pegam a bolsa
do caixão.
Tudo fica escuro. Neste momento, uma sombra. Uma escuridão surge e leva 3 pessoas no
púlpito para algum lugar vermelho. Sombrio. Bé, Alexia, Chico, o caixão e a bolsa
desaparecem.
Darlene, Melky e Lili olham para o fogo com fascínio como se tivessem saindo de um transe.
Os gritos de Alexia, Chico e Bé preechem o espaço.
EPÍLOGO
Todos estão no salão da igreja. Darlene está sendo consolada por algumas mulheres. Ela se
vira para a plateia do teatro e entrega seus santinhos.
DARLENE - (Feliz e entregando para a plateia do teatro seus santinhos) Foi uma luta
intensa contra a bandidagem na cidade. Mas, eu consegui vencer... Inclusive, venci e posso
vencer ainda mais pelo povo de Quatro-Ladeira, pois, apesar dos problemas causados pelos
criminosos, anuncio aqui o início de minha campanha para prefeita da cidade. Darlene
Miragaia, 33, pelo povo, sempre!
Um sentimento de vitória preenche a garota. Ela percebe quem, realmente, ela queria
derrubar. Bé, Alexia, aquele sistema, pelo menos ali, tinha sido destruído.
Melquisedeque coloca o capacete em cima da POP 100 de Bé. Ela espera Ronan subir na
garupa.
MELQUISEDEQUE - (Feliz) Preparado pra gente fugir daqui e nunca mais voltar?
RONAN - (Feliz) Mais que pronto, meu amor, contigo vou até pra lua.
Esse final tem que rever, tem muitos furos! Cadê a parte da Lili contando o podre de
todos que estão no velório????
FIM