Você está na página 1de 7

SUBSÍDIO BÍBLICO E TEOLÓGICO – Revista de Adultos da EBD

Pesquisa e produção: Pr. Isaque C. Soeiro 1


Revisão orto-gramatical: Pr. Mário Saraiva 2

RESUMO
O presente texto serve de apoio aos Educadores da Escola Bíblica Dominical, especialmente aos que
ministram a Revista de Adultos do 3º Trimestre de 2021 (CPAD), intitulado: “O Plano de Deus para Israel
em Meio à Infidelidade da Nação: as correções e os ensinamentos divinos no período dos reis de Israel”,
cujo conteúdo foi desenvolvido pelo pastor-teólogo Claiton Ivan Pommerening.

Este breve subsídio de apoio à Lição 02, “O Reino Dividido: Jeroboão e Roboão”, apresenta um estudo
bíblico sobre a divisão do reino, conforme a narrativa de 1 Reis 11.9 – 12.20. Por meio desse conteúdo,
busca-se: apresentar o contexto histórico e teológico que levou à divisão do reino em reino de Israel
(Norte) e reino de Judá (Sul); apresentar a insensatez e inabilidade política do rei Roboão no tratamento
do conflito que levou à divisão do reino; e, propor uma linha de aplicação à vida cristã baseada na
necessidade do aconselhamento mútuo como parte integrante da vida cristã na comunhão da Igreja.

INTRODUÇÃO

O reino unido das doze tribos de Israel terminou com a divisão narrada em 1 Reis 12. Esse acontecimento
foi o estopim de uma série de disputas e conflitos no decorrer dos anos da história de Israel e foi catalisado
pela imprudência do rei Roboão.

O presente texto está dividido em dois tópicos. O primeiro tópico faz um exame do evento da divisão do
reino, enfatizando as causas históricas, os fatores teológicos e um quadro informativo sobre os dois reinos
em sua existência após a divisão até o fim. E, o segundo tópico apresenta como a insensatez do rei Roboão
tornou a situação conflituosa em divisão irreversível. Na conclusão é proposta uma linha de aplicação à
vida cristã que ressalta o valor do aconselhamento mútuo na comunhão da Igreja.

Leia a narrativa bíblica de 1 Reis 11.9 – 12.20 e, em seguida, este estudo. Bons estudos!

1. UM EXAME DA DIVISÃO DO REINO.

O reino unido de Israel das doze tribos, de caráter teocêntrico, sob o governo do Único Deus Verdadeiro,
com capital política e religiosa em Jerusalém, dividiu-se em dois reinos: Reino de Judá (Sul) e Reino de
Israel (Norte).

1 Pr. Isaque C. Soeiro, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus na cidade de Satubinha (MA). Graduações em: Bacharel
em Administração (UNITINS-TO), Bacharel em Teologia (FATEH-MA). Pós-graduações em: Especialização em Gestão Educacional
(UNISEB-COC), Especialização em Ciência das Religiões (ILUSES/FATEH-MA), Mestrando em Ciência das Religiões (ILUSES/LUSÓFONA)
e Mestrando em Teologia (FAETAD). Diretor do Instituto Pentecostal de Educação Cristã – IPEC. Membro do conselho de educação e
cultura da CEADEMA. E-mail: ic.soeiro.ic@gmail.com.
2 Pr. Mário Saraiva, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Buriticupu (MA). Graduações em: Licenciatura em Letras,

com habilitação em Português, Inglês e suas respectivas literaturas (Universidade Estadual do Maranhão – UEMA). Pós- graduações
em: Especialista em Teologia (Universidade Estácio de Sá – UNESA), Pós-Graduando em Exegese Bíblica (Centro de Estudos Bet-Hakam)
e Mestrando em Ciências Teológicas (Universidade de Desenvolvimento Sustentável – UDS, Assunção, Paraguai). E-mail:
pr.mariosaraiva@gmail.com.
Essa cisão foi drástica. Ocorreu em um período de conturbações na política interna: mudança de rei,
insatisfações sociais e inabilidade política. O que poderia ser resolvido, de modo a preservar a unidade do
reino, tornou-se numa situação incorrigível. O reino dividiu-se. Entretanto, Deus estava no controle dos
rumos da história do seu povo, embora não tenha tomado nenhum culpado como inocente nesse
acontecimento.

Na sequência, a divisão do reino será exame sob diversos aspectos, pelo que será possível compreender
o contexto, as causas e as implicações dessa cisão.

1.1 - O CONTEXTO HISTÓRICO E TEOLÓGICO NA DIVISÃO DO REINO.


A divisão do reino foi gradativamente ganhando força, no decorrer da história, por ciúmes e disputas
entre as dez tribos, mais ao Norte, com a tribo de Judá, ao Sul (cf. Jz 8.1-3; 12.1-6; 2 Sm 19.41 – 20.22).
Nessa relação entre as tribos, foram somando-se várias problemáticas e tensões para as quais não foram
dadas soluções sábias e definitivas. Além disso, o relato bíblico mostra como as ações humanas e as ações
de Deus concorreram nesse episódio.

Essa longa história das disputas internas desembocou no reinado de Roboão. Deste modo, nos tópicos
abaixo, serão tratadas as principais causas históricas e pontos teológicos da divisão do reino, delimitando-
se ao período histórico do reinado de Roboão, segundo a narrativa de 1 Reis 11.9 – 12.20.

1.1.1 - As principais causas históricas da divisão do reino.


No contexto do reinado de Roboão (1 Rs 11.9 – 12.20), o conjunto dos fatores políticos, sociais e
econômicos exerceu uma força impositora para a divisão do reino. As principais causas foram:

A. O conturbado legado do reino de Salomão (1 Rs 11). O rei Salomão caiu no pecado da idolatria,
adorando aos deuses das suas mulheres estrangeiras e patrocinando oficialmente esses cultos
idólatras (v.1-8). A resposta de Deus foi imediata: declaração de juízo contra o rei Salomão. A
narrativa de 1 Reis 11.9-40 mostra que Deus se indignou contra Salomão e, por isso, fez uma
promessa de juízo e trouxe castigo imediato. Segundo a narrativa bíblica:

1) A promessa de juízo decretou a futura divisão do seu reino, na qual a maior parte do reino
seria dado ao governo de um dos servos dele – no caso, uma referência a Jeroboão (v.9-13).
O rei Salomão, por causa das consequências da sua idolatria, deixou o reino na iminência
de uma divisão.

2) O castigo imediato incluiu o surgimento de três inimigos políticos e militares: Hadade, da


linhagem real dos edomitas, Rezom e Jeroboão, a quem foi prometido o governo sobre as
dez tribos do norte. A paz que caracterizou a maior parte do seu reinado foi substituída por
inimigos declarados, ameaças contínuas, conflitos militares e perseguições. O rei Salomão
deixou um reino marcado por conflitos e perturbações em diversas frentes.

B. O peso tributário e operacional deixado por Salomão (1 Rs 11). O rei Salomão construiu e
organizou um reino marcado por excelência, riquezas e belezas. Porém, tudo isso exigiu uma
grande quantidade e variedade de trabalhadores e o pagamento de impostos dos mais variados
para a manutenção do reino (cf. 1 Rs 4.1-19; 5.13-18; 9.10-28; 10.14-29). As tribos eram as
provedoras do reino salomônico: suntuoso, rico e belo. O rei e o reino, que atraíram a

2
admiração de reis e povos, acabaram por provocar uma opressão econômica sobre os israelitas.
Salomão deixou um povo cansado dos custos do reino.

O rei Salomão deixou um ambiente propício à divisão do reino: as insatisfações dos súditos, as
ameaças e conflitos militares, pressão econômica e a promessa de iminente divisão.

C. A liderança carismática de Jeroboão entre as tribos do norte (1 Rs 11.). Jeroboão, um


conceituado funcionário do reino de Salomão, recebeu de Deus a promessa de governo sobre
as dez tribos do norte (v.26-39). A promessa divina junto com sua liderança carismástica tornou
ele o porta-voz das tribos do norte (1 Rs 12.1-3). O historiador bíblico mostra a afinidade entre
os israelitas do norte e Jeroboão, um tipo de vínculo inexistente com o rei Roboão.

D. A inabilidade política de Roboão (1 Rs 12.). Roboão assumiu um reino que já tinha a perspectiva
de dividir-se, em um ambiente interno conturbado, resultante dos pecados e política do pai.
Além disso, teve, diante de si, na ocasião da sua coroação, em Siquém, todas as tribos do norte,
sob a liderança de Jeroboão, um homem valente, carismático e portador de promessa divina.
Diante desse contexto contrário, a divisão foi declarada oficial por causa da inabilidade política
do rei Roboão naquele momento. Seus erros abriram ainda mais as brechas da desunião,
tornando irreversível a possibilidade de manter a unidade do reino.

1.1.2 - Os principais fatores teológicos da divisão do reino.


Por ser a história de Deus e seu povo, o autor dos Reis mostra os fatores teológicos envolvidos no
processo de divisão do reino. As causas históricas tinham relações com verdades teológicas, pois
Deus estava agindo naquela conjuntura.

Deus, na sua sabedoria e soberania, não teve seus planos frustrados e nem anulou a aliança
davídica. Antes, na sua sabedoria, soberania e misericórdia, o Senhor Deus coordenou os novos
rumos da história do seu povo. O contexto causado pelas consequências do pecado de Salomão foi
direcionado por Deus, para o bem do seu povo.

A. Quanto ao rei Roboão e o reino de Judá, Deus usou a imprudência de Roboão, no tratamento
da contenda, para cumprir suas promessas feitas a Salomão. Deus havia feito uma promessa de
juízo, segundo a qual: por um lado, ocorreria a perda de governo sobre as dez tribos do norte
e, por outro lado, seria garantida a preservação da tribo de Judá, sob o governo da descendência
de Davi – isso por amor a Davi e fidelidade à aliança davídica (1 Rs 11.11-13).

B. Quanto ao rei Jeroboão e o reino de Israel, Deus usou a insensatez de Roboão, para
proporcionar o ambiente de cumprimento da promessa feita a Jeroboão. Deus havia prometido
a Jeroboão um reino duradouro sobre as dez tribos do norte (1 Rs 11.30-38).

A insensatez do rei Roboão foi usada por Deus para cumprir essas promessas. É nesse sentido
que deve ser compreendido o relato do autor bíblico: “Assim o rei não deu ouvidos ao povo,
porque esta reviravolta vinha do Senhor, para confirmar a palavra que o Senhor tinha dito a
Jeroboão, filho de Nebate, por meio de Aías, o silonita” (1 Rs 12.15/NAA). A incapacidade
política de Roboão acelerou a oficialização da divisão, ao provocar ainda mais a ira das tribos
do norte. As escolhas humanas não anulam a soberania divina, e vice-versa. Deus dirige os
rumos da história, às vezes usando as escolhas e circunstâncias humanas como instrumento da
sua soberania.

3
A narrativa entretece, dessa maneira, as dimensões humana e divina da crise. Roboão
havia agido estupidamente e seguido um mau conselho, e Israel se revoltou contra a casa
de Davi. Mas a explicação última é que Javé (Deus de Israel) esteve por trás dos bastidores,
dirigindo os acontecimentos.3

Matthew Henry comenta essa circunstância:

Os conselhos de Deus se cumpriram. Isso vinha do Senhor (v.15). Ele abandonou Roboão
à sua própria tolice e encobriu aos olhos dele o que à sua paz pertencia, para que o reino
pudesse ser rasgado dele. Note: serve à sua própria sabedoria e propósitos retos através
das imprudências e das iniquidades dos homens, e pega os pecadores na obra das próprias
mãos deles. Aqueles que perdem o reino do céu o atiram longe pela própria obstinação e
tolice deles, como Roboão fez com o seu. 4

Nesse subtópico, foi apresentada a associação entre as causas históricas e fatores teológicos que
incidiram na divisão do reino. Deus agiu por meio das circunstâncias humanas para prover o melhor para
o seu povo, apesar da oficialização da divisão do reino em dois.

1.2 - OS REINOS DIVIDIDOS: Novos Reinos, Novos Rumos.


A divisão do reino iniciou uma nova época na monarquia de Israel. Mais do que isso, cada reino seguiu
rumos diferentes; às vezes, em clara oposição um ao outro; em outras, seguindo acordos políticos.
Entretanto, cada um encaminhou no pecado da idolatria contumaz até o juízo divino, por meio de invasão
e exílio de impérios usados por Deus para essa finalidade.

O teólogo Antônio Gusso5 apresenta o quadro abaixo sintetizando a condição dos dois reinos:6

As Duas Partes Ao Norte Ao Sul


Nome Bíblico Adotaram o nome de Israel Adotaram o nome de Judá
Nome Moderno7 Reino do Norte Reino do Sul
Capital Siquém/ Penuel/ Tirza/ Samaria Jerusalém
Primeiro Rei Jeroboão (930-910 a.C.) Roboão (931-913 a.C.)
Quantidade de Dinastias Nove Apenas uma: a davídica.
Número de Reis Dezenove Vinte
Período de Existência c. 931-722 a.C. c. 931-586 a.C.
Quantidade de Anos 209 anos 345 anos
Conquistados e Exilados Império Assírio Império Babilônico
Último Rei Oséias (731-722 a.C.) Zedequias (731-587 a.C.)

2. A INSENSATEZ DO REI ROBOÃO NA DIVISÃO DO REINO (1 Rs 12).

3 BIMSON, John J. 1 e 2 Reis. In: CARSON, D. A. (et. al.). Comentário bíblico: Vida Nova. São Paulo, SP: Vida Nova, 2009, p.536 (p.509-
590).
4 HENRY, Matthew. Comentário bíblico: Antigo Testamento: Josué a Ester. 1ª ed. 3ª reimp. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2015, p.493.
5 GUSSO, Antônio Renato. Panorama histórico de Israel: para estudantes da Bíblia. 6ª ed. Curitiba, PR: A.D. SANTOS, 2013, p.81.
6 Foram feitos alguns acréscimos para facilitar a compreensão sobre a condição desses reinos.
7 Nomes usados nos livros teológicos na atualidade.

4
O rei Roboão encontrou-se com as dez tribos do norte, na cidade de Siquém, para o reconhecimento
oficial da sua realeza. Entretanto, sob a liderança de Jeroboão, as dez tribos apresentaram uma exigência
como um fator condicional para a aceitação do domínio do rei Roboão (1 Rs 12.1-4).

Roboão estava diante de uma situação complexa de conflito com a iminência de uma cisão irreversível. O
autor bíblico deixou claro duas principais questões envolvidas: por um lado, a exigência das dez tribos: o
alívio da dura servidão e pesado jugo seria respondida com o reconhecimento do domínio do rei Roboão
a quem serviriam; e, por outro lado, a importância dos dois grupos de conselheiros no desfecho do conflito.

O rei Roboão usou três dias para examinar a questão e dar uma resposta (v.5). Esse período mostrou a
sua insensatez e inabilidade política como rei. O quadro a seguir apresenta aspectos desta insensatez:

O rei Roboão avaliou mal a situação de conflito: não examinou a justiça, a


Roboão
legitimidade e a seriedade envolvidas no pedido do povo. De fato, havia uma pressão
avaliou mal a
econômica e uma demanda de mão de obra de trabalho que se assemelhava à “dura
situação de conflito
servidão”. Contudo, essa delicada situação foi tratada levianamente.
O rei Roboão ouviu dois grupos de conselheiros, com dois tipos de conselhos; sendo
que

1. O primeiro grupo: era formado pelos conselheiros “anciãos” que já oficiavam


nessa função desde o reinado de Salomão. Estes aconselharam: ceda ao pedido
do povo, se fazendo servo deles e falando boas palavras; e, como resposta, eles
se farão seus servos (v.7). Em outras palavras: “os homens experientes e sérios
de seu conselho o recomendaram por todos os meios a responder de maneira
gentil... dar-lhes boas palavras, prometer-lhes algo satisfatório... e servi-los...
dizer-lhe que ele era servo deles, e que aliviaria todas as injustiças e que se
Roboão escolheu os
esforçaria para agradá-los e aliviá-los”8.
conselheiros maus
2. O segundo grupo: era formado pelos conselheiros “jovens” que foram nomeados
pelo novo rei para essa função9. O termo usado no hebraico é y`lādîm, que
significa “os rapazes, jovens”, e tem uma conotação desdenhosa, neste caso10.
Esses eram jovens da mesma faixa etária e convivência do rei Roboão, tinham
sido nomeados por ele para essa função e compartilhavam a mesma imprudência
e altivez (v.8). O resultado foi um conselho mau: seja mais severo do que seu pai,
aumente o jugo e o castigo sobre este povo (v.10-11). Em outras palavras: “os
jovens de seu conselho eram ardentes e arrogantes, e o aconselharam a dar uma
resposta severa e ameaçadora à exigência do povo”11.
O rei Roboão pensou que tinha habilidades maiores do que seu pai, para se impor
sobre as dez tribos do norte e sufocar a exigência deles com maior severidade.
Roboão falhou no
Contudo, ele não tinha nem a habilidade necessária nem o respeito do povo. As dez
exame de si mesmo
tribos eram indiferentes a ele e mais próximas ao governo alternativo, que era o de
Jeroboão. O olhar altivo sempre distorce a visão de si mesmo.

8
HENRY, Matthew, ibidem, p.492.
9
WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário histórico-cultural da Bíblia: Antigo Testamento. São
Paulo, SP: Vida Nova, 2018, p.561.
10
MARTIN, Charles G. 1 e 2 Reis. In: BRUCE, F. F. (org.). Comentário bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. São Paulo, SP: Editora
Vida, 2008, p.558 (p.537-603).
11
HENRY, Matthew, ibidem, p.492.
5
O rei Roboão buscou ouvir o que queria, aquilo que estava conforme sua altivez e imprudência. Foi
incentivado a proferir palavras duras, diante de um povo reclamante; e fazer promessas de maior
severidade, para um povo já exausto do jugo pesado. O resultado foi a divisão em definitivo.

Provérbios 15.1 diz: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira”. Os anciãos
aconselharam a “resposta branda”, mas Roboão os desprezou. Ele proferiu a “palavra dura” e, como
consequência imediata, recebeu das dez tribos uma resposta de revolta que oficializou a divisão do reino:
“Quando todo o Israel viu que o rei não lhe dava ouvidos, reagiu, dizendo: Que parte temos nós em Davi?
Não temos herança no filho de Jessé! Às suas tendas, ó Israel! Cuide, agora, de sua casa, ó Davi! Então
Israel se foi às suas tendas” (v.16/NAA).

CONCLUSÃO

O momento que selou a divisão do reino foi marcado pela insensatez em torno de maus conselheiros com
maus conselhos. O rei Roboão escolheu para junto de si um grupo de conselheiros imprudentes e aceitou
o mau conselho deles, que dinamitou qualquer possibilidade de preservar a unidade do reino. Essa
história ressalta a importância fundamental dos conselhos e possui muitas lições para a vida cristã.

Na vida cristã e na comunhão da Igreja, surgem problemas e conflitos, e, nessa dinâmica, todo cristão
experimenta momentos nos quais precisa ser aconselhado e outros nos quais é solicitado a aconselhar.
Essa necessidade é reconhecida na Bíblia, que trata os bons conselhos com grande valor: “Quem despreza
os bons conselhos acabará mal, mas quem os segue será recompensado. Os ensinamentos das pessoas
sábias são uma fonte de vida; eles ajudam a evitar as armadilhas da morte” (Pv 13.13-14/NTLH).

No Novo Testamento, o “aconselhamento mútuo” é ensinado como uma prática de amor de uns pelos
outros. Espera-se que os membros no corpo de Cristo sejam solícitos em aconselhar uns aos outros (Gl
6.1-2; Rm 15.1,14; 1 Ts 4.18; 5.11; Hb 3.13; Tg 5.16). Entre os textos bíblicos, destaca-se o ensino do
apóstolo Paulo aos Colossenses: “Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-
se uns aos outros com toda a sabedoria...” (3.16/NVI).

A prática do aconselhamento mútuo coloca cada cristão em duas posições: como alguém que precisa ser
ministrado no aconselhamento e como alguém que precisa ministrar o aconselhamento a outros. Cada
cristão precisa aprender a ser aconselhado e ser conselheiro. Nesse sentido:

1. O cristão deve aprender a buscar e receber conselhos edificantes com bons conselheiros. Buscar
aconselhamento é uma atitude de prudência e humildade, que manifesta a dependência cristã de
uns para com os outros; mas, mesmo na Igreja, é necessário saber com quem buscar os bons
conselhos. Não basta boas intenções, nem somente a familiaridade entre os cristãos; é preciso ter
as condições espirituais que fazem o bom conselheiro dar conselhos edificantes.

Na perspectiva bíblica, o bom conselheiro não é aquele que usa as técnicas da psicologia, ou
técnicas de autoajuda ou as próprias opiniões. O bom conselheiro é aquele que tem comunhão
com o Espírito Santo, que sonda todas as coisas, e que é cheio da Palavra de Deus. O bom
conselheiro ministra a Palavra de Deus ao próximo, aplicando as verdades bíblicas às necessidades,
na resolução dos problemas e na solução dos conflitos. Portanto, o aconselhamento bíblico
envolve estar cheio da Palavra de Cristo e manusear corretamente a Palavra de Deus no ensino,

6
na admoestação, na repreensão, na correção, no consolo, no encorajamento e outras formas de
aplicação (Cl 3.16; 2 Tm 3.16). Somente dessa forma será possível ensinar e aconselhar
mutuamente com toda a sabedoria.

2. O cristão deve estar preparado para dar conselhos bons e edificantes. Aconselhar é um serviço
espiritual e de amor que exerce uma séria influência sobre o aconselhado. Provérbios 12.18
expressa esse poder no aconselhamento da seguinte forma: “Há palavras que ferem como espada,
mas a língua dos sábios traz a cura” (NVI). Por isso, é preciso considerar a seriedade desse serviço
e exercê-lo segundo as fontes espirituais de poder e sabedoria que Deus concedeu ao seu povo.

É fundamental “a confiança na presença do Espírito Santo e a crença na suficiência da Palavra de


Deus”12. Como conselheiro, o cristão deve manter uma comunhão viva com o Espírito Santo,
dependendo da sua orientação, e ministrar a Palavra de Deus com singeleza, verdade e amor.

APOIO:

Comissão de Educação da CEADEMA Conduzindo a Educação Através do Reino

12
TURNER, Donald T. A prática do pastorado. 2ª ed. São Paulo, SP: Imprensa Batista Regular, 1989, p.198.
7

Você também pode gostar