Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Conhecimentos Técnicos - Bianch
Conhecimentos Técnicos - Bianch
AVIÕES
Denis Bianchini
2ª Edição
2015
Copyright 2015 by Denis Bianchini
ISBN 978-85-66282-33-7
Muito cuidado e técnica foram empregados na edição desta obra. Porém, podem ocorrer erros de digitação, impressão ou
dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação à nossa Central de Atendimento, para que
possamos esclarecer ou encaminhar a questão.
Central de Atendimento
email: atendimento@editorabianch.com.br
site: www.editorabianch.com.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Bianchini, Denis
Conhecimentos técnicos - aviões / Denis Bianchini.
2ª Edição -- São Paulo: Editora Bianch, 2015.
15-06106 Bibliografia
ISBN 978-85-66282-33-7
1. Aviadores - Estudo e ensino I. Título.
CDD-629.1307
Sumário
Capa
Folha de rosto
Expediente
Apresentação
Tipos de aeronaves
Aeróstatos
Aeródinos
Classificação dos tipos de aviões
Classificações relativas aos motores
Classificações relativas às asas
Classificações relativas ao tipo de pista utilizada
Classificações relativas a velocidade de deslocamento
Classificações relativas a performance em relação à distância percorrida durante o pouso e
decolagem
Componentes básicos de um avião
5 | MOTORES AERONÁUTICOS
Tipos de motores aeronáuticos
Motores convencionais
Motores a reação
Características dos motores aeronáuticos
6 | MOTORES CONVENCIONAIS
7 | SISTEMA DE LUBRIFICAÇÃO
Óleos lubrificantes
Classificação do óleo lubrificante
Aditivos
Tipos de lubrificação
Lubrificação por salpico
Lubrificação por pressão
Lubrificação mista
Componentes do sistema de lubrificação
Reservatório ou tanque de óleo
Bomba de óleo
Filtro de óleo
Radiador de óleo
Válvulas
Instrumentos do sistema de lubrificação
Falhas no sistema de lubrificação
Baixa pressão do óleo
Elevada pressão do óleo
Temperatura elevada do óleo
Falha nos instrumentos do sistema
8 | SISTEMA DE REFRIGERAÇÃO
Sistemas de resfriamento
Resfriamento a líquido
Resfriamento a ar
Controle da temperatura do motor
9 | SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO
Sistema de admissão
Sistema de superalimentação
Motores não-superalimentados
Motores superalimentados
Compressor
Tipos de acionamento do compressor
Manifold pressure
Sistema de formação de mistura
Mistura ar/combustível
Influência da meteorologia na mistura ar/combustível
Controle da mistura
Táxi e decolagem
Subida
Cruzeiro
Descida
Aproximação e pouso
Corte do motor
Marcha lenta
Sistema de aceleração
Funcionamento da boia na câmara de flutuação
Sistema de controle da mistura
Sistema economizador de combustível
Formação de gelo no carburador
Aquecimento do carburador
Carburador do tipo pressão (injeção)
Sistema de injeção de combustível
10 |SISTEMA DE COMBUSTÍVEL
11 | SISTEMA ELÉTRICO
12 | SISTEMA DE IGNIÇÃO
Principais componentes
Magnetos
Velas de ignição
Cabos de ignição
Chave de ignição
Cheque dos magnetos
Starter
Ignição durante a partida
O acionamento do motor
Combate ao fogo
O fogo
Classes de incêndios
Métodos de extinção
Agentes extintores
Sistema de proteção contra fogo
Sistema de detecção de superaquecimento e fogo
Sistema de extinção e combate ao fogo
Combate ao fogo em aeronaves sem sistema de detecção e extinção de fogo
Fogo no motor em voo
Fogo no motor no solo
14 | HÉLICES
15 | INSTRUMENTOS
16 | MANUTENÇÃO DE AERONAVES
Programa de manutenção
Documentação, manuais e publicações
Documentação requerida a bordo da aeronave
Boletim de serviço
Diretriz de aeronavegabilidade
Lista de equipamento mínimo (MEL)
Obrigações do piloto
Inspeção pré-voo
Diário de bordo
Gabarito
Tipos de motores
Turbojato
Turbofan
Turbo-hélice
Princípios de funcionamento
Principais componentes
Duto de admissão de ar
Compressor
Câmara de combustão
Turbina
Seção de escapamento
Limitações
Instrumentos do motor
Reversor de potência
A utilização dos reversores
19 | SISTEMA HIDRÁULICO
Componentes básicos
Falhas no sistema
Tipos de sistemas
Aquecimento pneumático
Pneumático
Aquecimento elétrico
Fluídos químicos
Inspeção de pré-voo
Utilização dos sistemas em voo
21 | SISTEMA DE PRESSURIZAÇÃO
Principais componentes
Sistema condicionador de ar
Controlador de pressurização da cabine
Válvula de saída de ar (Outflow valve)
Válvula de alívio de pressão (válvula de segurança)
Princípios de funcionamento
Instrumentos básicos do sistema de pressurização
Falhas no sistema
Sistema de oxigênio
22 | PILOTO AUTOMÁTICO
Principais componentes
Sensores
Computadores
Servos
Painel de controle
Princípios de funcionamento
Gabarito
Glossário
Bibliografia
Editora Bianch
Sobre o autor
Outras publicações
Apresentação
Este livro faz parte da coleção de livros da Editora Bianch para o treinamento de piloto
privado (PP) e piloto comercial (PC), que visa qualificar o aluno ou piloto para a
realização da prova de conhecimentos teóricos da ANAC, do respectivo curso, e
obviamente prepará-lo para o uso destes conhecimentos em voo.
Seguindo a linha editorial desta coleção, este livro foi escrito com uma linguagem
simples e direta, proporcionando uma leitura leve e produtiva. Foram utilizadas dezenas
de figuras e imagens, pois temos certeza que tais ilustrações tornam a absorção do
assunto mais fácil. Todo o conteúdo deste livro está baseado no conteúdo programático
estabelecido pela ANAC para os cursos de piloto privado e comercial de avião.
Nesta nova edição foi acrescentado o conteúdo de conhecimentos técnicos para piloto
comercial, portanto, o livro foi dividido em duas partes: a primeira engloba o conteúdo
programático de piloto privado e a segunda o conteúdo complementar para o curso de
piloto comercial.
A primeira parte traz as informações relativas ao funcionamento mecânico do avião,
onde serão abordados diversos assuntos, como: sistemas, estrutura da aeronave,
motores, etc. É também nesta matéria que serão analisados os conceitos básicos de
manutenção e as obrigações e deveres do piloto na operação segura da aeronave,
respeitando sempre os limites impostos pelo fabricante, preconizados no manual de
operações da aeronave.
O manual de operações da aeronave, mencionado acima, será amplamente citado ao
longo deste livro, uma vez que é este o manual que fundamenta os procedimentos
normais e anormais (emergência) realizados pelo piloto durante a operação da aeronave.
É também no manual de operações que o piloto encontrará as limitações e a descrição
dos sistemas e características da aeronave.
O conteúdo deste livro é genérico a todas as aeronaves, no entanto, sempre haverá
alguma particularidade ou diferença nos procedimentos entre a aeronave que você irá
operar e as demais, motivo pelo qual sempre iremos mencionar o manual de operações
da aeronave como a base para a realização de um voo seguro. É fundamental que você
leia o manual de operações da aeronave que irá operar, de modo a familiarizar-se aos
procedimentos e características específicas àquela aeronave. Havendo qualquer
divergência entre as informações contidas neste livro e o manual de operações da
aeronave que será operada, siga sempre o que preconiza o manual de operações!
A segunda parte deste livro traz o conteúdo complementar relativo ao curso de piloto
comercial. Nesta parte o piloto terá a oportunidade de conhecer o sistema hidráulico, de
pressurização, anti-ice/de-ice e de piloto automático, sistemas estes que estão presentes
nas aeronaves mais modernas e de maior porte. A segunda parte também traz a análise
detalhada dos motores a reação, que equipam as aeronaves de alta performance.
Temos a certeza que após a leitura deste livro, aliado a um estudo dedicado e constante
em relação a esta matéria, você estará preparado para a realização da prova teórica de
conhecimentos técnicos (aviões) da ANAC. Portanto, estude e bons voos!
São Paulo, 08 de janeiro de 2015
Denis Bianchini
CONHECIMENTOS TÉCNICOS
PILOTO PRIVADO
1
TIPOS E CLASSIFICAÇÃO DAS AERONAVES
Neste capítulo inicial abordaremos a parte conceitual relativa aos tipos e classificação
das aeronaves e aviões. Na parte final do capítulo analisaremos os componentes básicos
de um avião.
Tipos de aeronaves
Antes de analisarmos os tipos de aeronaves, vamos fazer uma distinção entre o
conceito de aeronave e avião.
Aeronave: é um dispositivo que é usado ou que se pretenda usar para voar na
atmosfera, capaz de transportar pessoas e/ou coisas.
Avião: é uma aeronave de asa fixa, mais pesada que o ar, com propulsão a motor e que
é sustentada no ar pela reação dinâmica do ar contra suas superfícies de sustentação que
permanecem fixas sob determinadas condições de voo.
As aeronaves são divididas basicamente em dois tipos:
- aeróstatos
- aeródinos
Aeróstatos
Aeróstato é uma aeronave mais leve que o ar, que pode elevar-se e manter-se
sustentada no ar pelo emprego de invólucros cheios de gás, com o conjunto pesando
menos que o ar deslocado por tais invólucros. São exemplos de aeróstatos:
- balões: aeróstatos sem propulsão própria, tendo o deslocamento livre.
- dirigíveis: aeróstatos com propulsão própria, podendo ter o deslocamento controlado
através de superfícies aerodinâmicas.
dirigível
balão
Aeródinos
É uma aeronave cuja sustentação no ar provém, principalmente, de forças
aerodinâmicas. São aeródinos: aviões, planadores, helicópteros, autogiros,
motoplanadores e ultraleves.
avião
planador
helicóptero
Classificação dos tipos de aviões
Os aviões possuem diversas classificações que levam em consideração, por exemplo, o
tipo e o número de motores que possuem, a localização e quantidade de asas, velocidade
de deslocamento, etc. Analisaremos a seguir estas classificações.
avião a pistão
avião turbo-hélice
avião a jato
trimotor
quadrimotor
'
Com relação a fixação das asas na estrutura do avião, podemos classificá-los como:
- cantilever: as asas são fixadas à estrutura do avião em um só ponto, sem nenhum
suporte. Exemplo: Cessna 177, Cessna 195.
- semicantilever: as asas são fixadas à estrutura do avião através de suportes, que
ajudam na absorção dos esforços estruturais. Exemplo: Cessna 182, AB115, Caravan.
Esforços estruturais
Durante o projeto e o desenvolvimento de um avião o fabricante realiza exaustivos
testes para avaliar a carga máxima de esforços que a estrutura do avião estará apta a
suportar nas mais diversas situações sem que ocorram danos. Após a homologação do
avião o fabricante estabelece, através do manual de operações, os limites dentro dos
quais a operação deve ser conduzida.
Um piloto que respeita as limitações da aeronave seja ela de peso, velocidade, altitude,
parâmetros do motor ou fator de carga, certamente não terá muitas surpresas
desagradáveis ao longo de sua carreira na aviação. Por outro lado, ao ultrapassar
deliberadamente as limitações impostas pelo fabricante o piloto está abrindo mão da
segurança do voo e colocando em risco a estrutura da aeronave e consequentemente a
própria vida! Portanto, lembramos, enfaticamente, a importância da leitura do manual de
operação da aeronave que você irá voar, a fim de ter conhecimento das diversas
limitações da mesma.
Os principais esforços estruturais sofridos pela estrutura de um avião são:
Materiais utilizados
Os materiais utilizados na construção da estrutura de uma avião devem possuir três
requisitos básicos: resistência, peso (leve) e confiabilidade.
A estrutura necessita ser forte e ao mesmo tempo leve, aumentando a performance e o
desempenho do avião. Ao mesmo tempo esta relação resistência/peso deve ter uma
elevada confiabilidade, minimizando a possibilidade de falhas e danos à estrutura ao
longo do tempo. Além das propriedades citadas acima, o material deve suportar os cinco
esforços básicos citados anteriormente.
Atualmente o alumínio é amplamente utilizado nas construções aeronáuticas,
principalmente pela sua alta resistência em relação ao peso, bem como sua facilidade de
manuseio.
Outro material amplamente utilizado na aviação é a Liga de Alumínio, que nada mais é
do que a combinação do alumínio com outros elementos a fim de maximizar
determinadas características. Um dos aspectos que tornam as ligas de alumínio tão
atraentes é o fato de o alumínio poder combinar-se com a maioria dos metais de
engenharia, chamados de elementos de liga. Com essas associações, é possível obter
características tecnológicas ajustadas de acordo com a aplicação do produto final.
Asas
As asas são aerofólios que ficam fixados na fuselagem e tem a função de produzir a
sustentação necessária para manter a aeronave em voo. Há diversos tipos de designs,
posições, formas e tamanhos de asa, e cada fabricante adota as características mais
adequadas ao projeto de sua aeronave.
Analisaremos a seguir as principais partes que compõem a estrutura das asas.
A figura abaixo exibe os três eixos sobre os quais o avião se movimenta, além das
superfícies de comandos.
Dispositivos hipersustentadores
Os dispositivos hipersustentadores têm a finalidade de aumentar a sustentação
produzida pela asa. O uso destes dispositivos é praticamente indispensável durante as
operações de pouso e decolagem, uma vez que eles permitem a operação da aeronave
com uma velocidade reduzida, o que é primordial nestas duas etapas do voo. Os
dispositivos hipersustentadores mais utilizados são os flaps e os slats.
Flap
O flap é o dispositivo hipersustentador mais comum e está presente em praticamente
todas as aeronaves, desde as mais simples até as mais modernas e sofisticadas, variando
apenas o tipo de flap utilizado por cada aeronave.
Profundor
São aerofólios que controlam o movimento do avião sobre o eixo lateral ou transversal.
O profundor é controlado pelo manche, com movimentos para frente e para trás, e é o
responsável em fazer a aeronave subir ou descer.
Leme
O leme é o responsável pelo movimento da aeronave sobre o eixo vertical, ou seja,
controla a direção do avião, realizando o movimento de guinada. O leme é controlado
pelos pedais.
Controles secundários de voo
Os controles secundários de voo auxiliam na performance do voo e na diminuição das
forças empregadas pelo piloto ao efetuar um movimento com a aeronave. O sistema de
controle secundário de voo é composto pelo flap, slot, spoiler e compensadores. Neste
capítulo analisaremos apenas os compensadores, uma vez que o flap, slot e spoiler já
foram analisados no capítulo anterior.
Compensadores
Alterações na atitude, velocidade e potência do motor fazem com que o piloto tenha
que estar constantemente dando comandos para que a aeronave se mantenha na atitude
desejada. Para minimizar a pressão dos comandos aplicada pelo piloto nos controles
primários de voo, utiliza-se o compensador, instalado no bordo de fuga das superfícies
de comando.
Em algumas aeronaves, principalmente nas de médio e grande porte, a força para que
o piloto mova uma superfície de comando pode ser excessiva, neste caso os engenheiros
projetam determinados compensadores automáticos que minimizam a força necessária
para mover tais superfícies.
Os tipos mais utilizados de compensadores são: fixos, comandáveis e automáticos.
Ajustes nas superfícies de comando
Analisaremos a seguir os ajustes que devem ser realizados nos componentes das
superfícies de comando de um avião. Estes ajustes são realizados pelo mecânico, pessoa
qualificada e treinada para a realização destes procedimentos. Ao piloto compete apenas
informar ao mecânico, através do diário de bordo, sobre alguma discrepância na
operação normal da aeronave.
Os movimentos dos aerofólios (profundor, ailerons e leme) devem ser sincronizados
com os movimentos realizados nos controles de voo instalados na cabine de comando. O
sistema de controles de voo deve ser ajustado para que estas condições possam ser
obtidas em voo. De um modo geral estes ajustes consistem no seguinte:
- posicionamento do sistema de controles de voo em neutro, e temporariamente,
travado por meio de pinos de trava ou blocos; e
- ajustagem do curso das superfícies, tensão dos cabos de comando, hastes de ligação,
e ajustagem dos batentes para as especificações dos fabricantes das aeronaves.
Conjunto de cabos
Para a realização dos ajustes nas superfícies de comando o mecânico irá trabalhar na
estrutura do sistema de controle de voo, que nas aeronaves de pequeno porte é
geralmente composto por:
Esticador: é um dispositivo usado nos sistemas de cabo de controle para o ajuste da
tensão do cabo.
Roldanas ou polias: são usadas para guiar os cabos e também para mudar a direção do
movimento do cabo.
Guias: são usadas para guiar os cabos em linha reta, através, ou entre partes
estruturais da aeronave.
Hastes de comando: são usadas como conexões nos sistemas de comando de voo, para
dar um movimento de "puxa-empurra".
Batentes: podem ser ajustáveis ou não, são usados para limitar o percurso ou
curso de movimento dos ailerons, profundores e leme, evitando desta forma, que o
piloto aplique pressão excessiva e sobrecarregue determinada estrutura.
Uma das regulagens mais frequentes é no ajuste da tensão dos cabos. O fabricante da
aeronave estipula os parâmetros de regulagem da tensão e o mecânico irá trabalhar para
manter sempre o padrão requerido. Cabos com pouca tensão ("frouxos") diminuem
significativamente a ação dos comandos de voo, e cabos com muita tensão ("muito
esticados") deixam os comandos muito duros e pesados.
Fixo: neste tipo de configuração o trem de pouso fica constantemente estendido, não
sendo possível o seu recolhimento. A vantagem deste tipo de trem de pouso, utilizado
em aeronaves de pequeno porte, é a simplicidade do sistema. A grande desvantagem é o
excessivo arrasto criado pela estrutura do trem de pouso durante o voo, o que aumenta o
consumo de combustível. Em aeronaves de instrução é muito comum encontrarmos
aviões com trem fixo, como: Paulistinha, Aero Boero (AB-115), Cessna 152 e Tupi.
Retrátil: neste tipo de configuração o trem de pouso é parcialmente recolhido, ficando
ainda parte da estrutura exposta, desta forma o arrasto produzido pelo trem de pouso é
diminuído, mas não anulado. Atualmente são poucas as aeronaves que adotam esta
configuração. A figura acima exibe o famoso DC-3 com o trem de pouso recolhido.
Amortecedor de mola
Este é o tipo mais simples de amortecedor, ele apresenta molas ou tubos de aço flexível
em sua estrutura. No entanto, este amortecedor não absorve a energia do impacto, ele
apenas o transfere a estrutura do avião, minimizando o esforço sobre as rodas.
A grande vantagem deste sistema é o seu baixo custo operacional, motivo pelo qual ele
é muito utilizado em aeronaves de pequeno porte.
A maior desvantagem do amortecedor de molas é a sua baixa capacidade em absorver o
impacto. É comum em aviões equipados com este tipo de amortecedor, após um pouso
mais duro o avião ficar "quicando", uma vez que as molas não absorvem a energia do
impacto devolvendo-a novamente para o avião.
Amortecedor hidropneumático
Também conhecido como "amortecedor ar e óleo" ou "amortecedor pneumático/hidráulico",
este tipo de amortecedor utiliza ar comprimido combinado com fluído hidráulico para
absorver e dissipar a energia proveniente do impacto. O amortecedor hidropneumático é
o mais utilizado nos aviões atuais.
Este tipo de amortecedor é composto por dois cilindros telescópicos ou tubos. Os dois
cilindros, conhecidos como cilindro e pistão, quando montados formam uma câmara
superior e uma inferior para a movimentação do fluído.
A câmara inferior é cheia de óleo e a câmara superior é preenchida com ar comprimido,
um orifício entre as duas câmaras permite a passagem do fluído para a câmara superior
durante a compressão e o retorno durante a extensão do amortecedor.
Um óleo especial é utilizado nesta estrutura a fim de evitar a rápida movimentação do
óleo entre as duas câmaras, evitando assim o problema que ocorre no amortecedor de
molas, onde o amortecedor transfere grande parte da energia do impacto novamente à
aeronave.
Durante o cheque pré-voo é importante que o piloto observe:
- a correta extensão do telescópio
- a limpeza da estrutura exposta
- a presença de possível vazamento de óleo na estrutura
Conjunto das rodas
O conjunto das rodas é a estrutura do trem de pouso que permite a montagem dos
pneus e do sistema de freios. As rodas são geralmente feitas de alumínio ou magnésio,
materiais resistentes e de baixo peso.
Os três tipos mais comuns de rodas são: rodas bipartidas, rodas do tipo flange
removível e rodas com calha centra e flange fixo. As rodas bipartidas são as mais
utilizadas atualmente.
Durante a inspeção externa no pré-voo, o piloto deverá verificar no conjunto das rodas
o marco de referência pneu/roda, que deverá estar alinhado. Caso haja um
desalinhamento deste marco de referência chame o mecânico da aeronave para que ele
analise a estrutura da roda e libera a aeronave para voo.
Devemos também inspecionar a roda a procura de danos à sua estrutura. As rodas não
devem apresentar rachaduras ou fendas, e deve-se ter certeza de que nenhum objeto
esteja preso entre o trem de pouso e o pneu, e que nenhuma peça do trem de pouso
esteja tocando no pneu.
Pneus
Os pneus de uma aeronave proporcionam certo amortecimento que auxilia na absorção
de parte da energia dos impactos sofridos durante a decolagem e principalmente no
pouso. Eles também são responsáveis em suportar o peso da aeronave em solo e prover
tração necessária para a atuação dos freios, sendo assim, os pneus são projetados para
sustentar altas velocidades e pesadíssimas cargas estáticas e dinâmicas.
Ao contrário do que se costuma supor, a resistência requerida pelos pneus de um avião
é para suportar principalmente o aquecimento rápido durante operações no solo e não o
impacto de pousos mais duros.
Calibragem da pressão
A calibragem correta da pressão dos pneus é sem dúvida o maior cuidado que se deve
ter na manutenção dos mesmos, a fim de manter a durabilidade e eficiência das
operações.
A pressão deve ser checada com a regularidade estipulada pelo fabricante, e mantida
sempre dentro dos valores propostos. A pressão deve ser verificada quando os pneus
estão frios, é necessário aguardar pelo menos duas horas após o voo antes de inspecionar
a pressão.
Estrutura do pneu
Abaixo as principais partes da estrutura dos pneus de um avião.
Banda de rodagem: parte do pneu que fica em contato direto com a pista, feita de
borracha com qualidade para oferecer resistência e durabilidade. A banda de rolagem é
projetada para proporcionar boa tração nas mais variadas condições de pista.
Sulcos: os sulcos ficam localizados na banda de rodagem no sentido longitudinal e têm
a função básica de possibilitar o escoamento de água em pistas molhadas, evitando a
aquaplanagem e garantindo melhor aderência à pista.
Amortecedores ou lona de reforço: são camadas extras, geralmente cordonéis de nylon
reforçado, inseridas sob a borracha da banda de rodagem, a fim de proteger o envoltório
de lonas e reforçar a área de rodagem.
Carcaça: é uma das principais estruturas do pneu, elas são camadas constituídas de
fios de nylon, borracha e outros tecidos que se entrelaçam em ângulos opostos
proporcionando rigidez e formato ao pneu.
Lona: estrutura que circunda completamente o corpo do pneu. As lonas são dobradas
em volta dos talões, inserindo-se novamente na carcaça. Elas isolam a carcaça do calor
proveniente das freadas e proporcionam boa selagem contra o movimento.
Talão: constituem-se internamente de arames de aço cobreado, incrustado em borracha
e cobertos com tecidos, tendo a finalidade de proporcionar firmeza à superfície para
montagem na roda.
Câmara interna: nos pneus sem câmara, esta camada de borracha menos permeável
atua como uma câmara de ar embutida, e impede que o ar penetre através das lonas. Nos
pneus com câmara, uma camada mais fina de borracha é usada para evitar o atrito entre a
câmara de ar e a lona interna.
Tipos de freios
Analisaremos a seguir os dois principais tipos de freios: freio a tambor e o freio a
disco.
Freio a tambor
Este tipo de freio é composto por um tambor contendo um par de sapatas (ou lonas). A
pressão aplicada às sapatas alojadas dentro do tambor faz com que este freie a roda,
diminuindo assim a velocidade da aeronave em solo. Uma das maiores desvantagens
deste tipo de freio é o excesso de temperatura gerada durante a frenagem.
Freio a disco
Este é o tipo mais comum de freio utilizado nos aviões, ele é composto por um disco
(de ferro fundido ou material composto, como carbono) acoplado à roda, e por um
conjunto de pastilhas que atuam sobre o disco.
Ao aplicar os freios, que são atuados através de fluído hidráulico, as pastilhas realizam
pressão sobre o disco, diminuindo a velocidade de rotação da roda.
As maiores vantagens deste sistema de freios são: melhor refrigeração e
consequentemente menor temperatura de funcionamento, e facilidade para a inspeção
do sistema.
A seguir analisaremos detalhadamente o sistema de funcionamento e acionamento do
freio.
Sistema de funcionamento
Analisaremos a seguir o funcionamento detalhado do sistema de freios de uma
aeronave de pequeno porte, desde a atuação dos pedais na cabine até a efetiva pressão
das pastilhas sobre a roda.
O pedal de um avião é utilizado para o movimento do leme de direção, do trem de
pouso de nariz e para o acionamento dos freios. Para a atuação dos freios geralmente
aplica-se pressão na parte superior do pedal. É importante ressaltar que a maioria dos
aviões de pequeno porte não possui sistema antiderrapante (anti-skid), portanto, uma
pressão excessiva poderá ocasionar o travamento das rodas. Por este motivo, seja suave
na aplicação dos freios, a menos, é claro, numa situação de emergência.
Os freios são instalados em cada roda do trem de pouso principal, e são atuados
independentes um do outro, ou seja, o freio da roda direita é controlado pelo pedal
direito e o freio da roda esquerda é controlado pelo pedal esquerdo.
Nos aviões de pequeno porte o sistema de freios é totalmente independente dos
demais sistemas. O sistema de freios é composto por um reservatório, um ou dois
cilindros mestres, linhas de fluído e conexões, além do conjunto de freio em cada roda.
A ilustração a seguir exibe os componentes de um sistema de freios a disco.
Inspeção pré-voo
Durante a inspeção externa da aeronave, no pré-voo, é necessário atentar a alguns itens
relativos ao sistema de freios. Devemos assegurar que:
- não há vazamento de fluído hidráulico na linha de freio
- os discos de freio estão em bom estado, não apresentando corrosão ou danos
- as pastilhas não estão excessivamente desgastadas
- a estrutura do freio está firmemente presa à roda
Freios de estacionamento
O freio de estacionamento (parking brake) na maioria das aeronaves é acionado através
de uma alavanca, que geralmente trabalha em conjunto com os pedais. Ao acionar o
parking brake a pressão nos freios será mantida.
A figura a seguir exibe a alavanca de acionamento do parking brake do Seneca II
(PA34).
Shimmy damper
O Shimmy damper é um amortecedor de vibração cuja função é minimizar as vibrações
e oscilações do trem de pouso de nariz durante a operação em solo. O Shimmy damper é
uma pequena unidade pistão/cilindro hidráulico, como é possível visualizar na figura a
seguir.
5
MOTORES AERONÁUTICOS
Motores convencionais
Os motores convencionais (a pistão), que serão amplamente analisados neste livro, são
os motores que equipam a maioria das aeronaves de pequeno porte e as aeronaves de
treinamento.
Estes motores utilizam a energia proveniente da queima do combustível dentro dos
cilindros para mover a hélice. A hélice por sua vez impulsionará grande quantidade de
massa de ar a velocidades relativamente baixas, permitindo que a aeronave desenvolva a
tração necessária ao voo.
Motores a reação
Faremos apenas uma análise superficial dos motores a reação, uma vez que o conteúdo
programático do curso de piloto privado prevê apenas uma visão geral a respeito. A
análise detalhada dos motores a reação encontra-se na segunda parte deste livro.
Os motores a reação equipam praticamente todas as aeronaves comercial em operação
atualmente, e têm como principal característica a elevada potência gerada.
Um motor a reação pode ter o seu funcionamento comparado com um motor
convencional porque em ambos temos praticamente as mesmas fases operacionais. No
entanto, a principal diferença relativa ao funcionamento de um motor a reação se
comparado com os motores convencionais, está no modo e no local onde as fases
operacionais acontecem. Em um motor convencional, as fases ocorrem
intermitentemente, no interior de um cilindro, enquanto que nos motores a reação as
fases ocorrem de maneira contínua.
Outra diferença ocorre na quantidade de massa impulsionada. O motor a reação
desloca uma quantidade relativamente pequena de massa de ar a uma velocidade
elevada.
A seguir exibimos uma figura que compara de forma simplória as fases operacionais
entre ambos os tipos de motores térmicos.
Turbojato: estes motores têm sua força propulsiva conseguida unicamente através dos
gases de escapamento. Por esse motivo são também conhecidos como motores a jato
puro. São reatores que desenvolvem boa força propulsiva, podendo portar dispositivos de
pós-combustão, o que permite um acréscimo 90% maior nas decolagens ao nível do mar.
Porém, em voo de baixa altitude e velocidade, consomem quantidade demasiada de
combustível. Exemplos de aviões equipados com motores turbojato: Boeing 737-200,
Boeing 727 e Boeing 707.
Turbofan: por ser mais econômico e apresentar um nível de ruído bem menor em
relação ao turbojato, este é atualmente o motor mais utilizado para equipar as aeronaves
a jato. O motor turbofan (fan = ventilador, em inglês) possui uma grande área de
admissão de ar, o que logicamente lhe proporciona uma admissão maior de ar. Esta
admissão é feita pelo “fan”, e o ar frio admitido irá se misturar com o ar quente expelido
pelo escapamento, tornando o motor mais silencioso e potente. Exemplos de aviões
equipados com motores turbofan: Boeing 787, Airbus A380 e Embraer 195.
Características dos motores aeronáuticos
Apesar de um motor convencional aeronáutico ser relativamente parecido com um
motor que equipa um automóvel, os padrões de exigência entre ambos são bem distintos.
Um motor aeronáutico deve obedecer as seguintes exigências gerais de:
- eficiência térmica
- economia
- confiabilidade
- durabilidade
- leveza
- ausência de vibrações
- compactação
- flexibilidade de operação
- facilidade de manutenção
Eficiência térmica: é a relação entre a energia mecânica produzida e a energia térmica
liberada pela queima do combustível. Atualmente a eficiência térmica de um motor
convencional é de cerca de 32%, o que obviamente é um valor baixo. O desenvolvimento e
o progresso deste tipo de motor tem aumentado gradativamente esta eficiência, o que
diminui o consumo de combustível e minimiza a emissão de poluentes.
Economia: é a quantidade de combustível consumido para a produção da potência
requerida para operação do motor. Com relação ao consumo de combustível, é
fundamental que os motores aeronáuticos apresentem baixo consumo. Há duas
definições para o consumo de combustível.
- consumo horário: quantidade de combustível consumido por hora de funcionamento,
por exemplo, 100 litros/h ou 2000 kg/h. Nos cálculos efetuados nas navegações aéreas, o
piloto utiliza o consumo horário como referência, que é encontrado no manual de
operação da aeronave. O consumo horário em cada voo irá variar de acordo com alguns
fatores, como: peso da aeronave, nível de voo, regime de potência, velocidade, etc.
- consumo específico: é o parâmetro básico para descrever a economia de combustível
de motores aeronáuticos. O consumo específico utiliza como parâmetro a potência
desenvolvida pelo motor. O gráfico abaixo mostra uma comparação do consumos
específico médio de três tipos de motores à potência homologada, ao nível do mar.
Confiabilidade: é a capacidade do motor em manter o desempenho dentro de uma
classificação específica, em variações amplas de atitudes de voo e sob diversas condições
atmosféricas. Padrões de confiabilidade de motores devem satisfazer as exigências da
autoridade aeronáutica, do seu fabricante e do fabricante do seu produto através do
projeto, pesquisa e teste. Um rígido controle de fabricação e de procedimentos de
montagem é mantido, e cada motor é testado antes de sair da fábrica.
Durabilidade: é o tempo de vida do motor, enquanto mantém a confiabilidade
desejada. Para que a durabilidade do motor seja mantida é imprescindível que sejam
realizadas corretamente todas as revisões estipuladas pelo fabricante do motor.
- motor com cilindros em linha: nesta configuração todos os cilindros ficam dispostos
em linha acima do eixo de manivelas, ou, abaixo (denominado motor invertido).
As vantagens deste tipo de motor são: pequena área frontal.
As desvantagens são: redução da visibilidade do piloto (aeronaves monomotoras),
pequena distância entre a hélice e o solo (o que pode causar problemas no design da
aeronave), refrigeração deficiente do motor e vibração mais acentuada.
Cárter
A base da estrutura de um motor é o cárter. O cárter é responsável em acomodar os
diversos mecanismos do motor, prover a fixação do conjunto de cilindros, sustentar os
rolamentos nos quais o eixo de manivelas se apoia e se mantem alinhado, prover um
reservatório para o óleo de lubrificação e fixar o motor à estrutura da aeronave.
Devido a diversas forças e vibrações as quais o cárter está sujeito durante a operação
do motor é fundamental que o mesmo apresente suficiente rigidez para resistir a esses
esforços à sua estrutura.
Eixo de manivelas
O eixo de manivelas (também conhecido como virabrequim) é a espinha dorsal de um
motor a pistão e a sua principal função é transformar o movimento retilíneo do pistão,
transmitido através da biela, em movimento rotativo para o acionamento da hélice. Em
síntese, o eixo de manivelas é a parte responsável em transmitir a energia gerada pelo
motor para a hélice.
As partes principais do eixo de manivela são: moente (ou pino da manivela) e o braço
da manivela. Contrapesos e amortecedores são comumente ligados ao eixo de manivelas
para minimizar as vibrações do motor.
Biela
A biela é responsável em transmitir a força do pistão para o eixo de manivelas.
As bielas são geralmente fabricadas em liga de aço, com seção reta na forma de I ou H.
Pistão
O pistão é a parte móvel do cilindro, como movimentos retilíneos para baixo e para
cima. Ao se mover para baixo o pistão permite que a mistura ar/combustível entre no
cilindro. Ao realizar o movimento para cima ocorre a expulsão dos gases queimados, a
compressão da mistura ar/combustível, e, em seguida a ignição da mistura. Os gases em
expansão forçam o pistão para baixo novamente. Essa força proveniente da expansão dos
gases é transmitida do pistão para o eixo de manivelas através da biela.
Abaixo as principais partes do pistão.
- anéis de compressão: a finalidade dos anéis de compressão, que normalmente são dois,
é a vedação da folga entre o pistão e o cilindro evitando o escapamento de gases através
do pistão, durante a operação do motor. Eles estão alocados imediatamente abaixo da
cabeça do pistão.
- anéis de lubrificação: estes anéis regulam a espessura do filme de óleo sobre a parede
do cilindro. Se entrar muito óleo na câmara de combustão, ele será queimado e deixará
uma fina camada de carbono sobre as paredes da câmara de combustão, na cabeça do
pistão, velas e cabeça das válvulas. Esse carbono pode causar o emperramento das
válvulas ou dos anéis, se ele penetrar nas ranhuras dos anéis ou nas guias das válvulas.
Além disso, o carbono pode causar falha das velas, bem como detonação, pré-ignição ou
excessivo consumo de óleo. Para permitir que o óleo excedente retorne ao cárter, são
usinados furos nas ranhuras dos anéis, ou nas regiões próximas dessas ranhuras.
Cilindro
O cilindro é a parte do motor na qual a potência é desenvolvida. É no cilindro em que
se encontra a câmara de combustão, local onde ocorre a queima e a expansão dos gases. É
também no cilindro que ficam alojados o pistão e a biela.
Por ser uma das peças mais importantes do motor o cilindro deve apresentar as
seguintes características:
- ser suficientemente forte para resistir às pressões internas, desenvolvidas durante a
operação do motor
- ser construído com um metal leve para diminuir o peso do motor
- ser bom condutor de calor para permitir um eficiente resfriamento.
Um cilindro pode ser dividido basicamente em duas partes: a cabeça e o corpo.
Cabeça do cilindro: a finalidade básica da cabeça do cilindro é proporcionar um lugar
para a combustão da mistura ar/combustível (as válvulas e as velas de ignição são
instaladas na cabeça do cilindro) e proporcionar ao cilindro maior condutividade ao calor
para uma adequada refrigeração.
A cabeça do cilindro constitui a parte superior do cilindro, e geralmente é produzida
em liga de alumínio, por ser essa liga um bom condutor de calor e possuir baixo peso.
Externamente também há um conjunto de aletas de refrigeração, o que permite a
refrigeração a ar, proporcionando uma melhor troca de calor.
Corpo do cilindro: é no interior do corpo do cilindro o local no qual o pistão se desloca,
as paredes internas que ficam em contato direto com o cilindro e são denominadas
camisa do cilindro. A camisa do cilindro recebe um tratamento especial para suportar o
desgaste proveniente do atrito com o pistão.
O corpo do cilindro tem que ser fabricado com um material de alta resistência,
geralmente aço. Ele deve ser o mais leve possível, além de possuir as características
apropriadas para operação em altas temperaturas.
Câmara de combustão
É o local no interior do cilindro no qual ocorrerá a queima da mistura ar/combustível. A
forma da câmara de combustão pode ser plana, semiesférica ou cônica. O tipo
semiesférico é o mais utilizado por ser mais forte e ajudar na expulsão mais rápida e
mais completa dos gases de escapamento.
Válvulas
A mistura ar/combustível entra no cilindro através da abertura da válvula de admissão,
e os gases queimados são expulsos através da abertura da válvula de escapamento.
Portanto, a finalidade básica das válvulas é permitir a abertura e o fechamento do
cilindro durante o seu ciclo de funcionamento.
São dois os tipos de válvulas: válvulas de admissão e válvulas de escapamento. A
diferença básica entre ambas está no formato da cabeça e no material em que são
construídas.
Válvulas de admissão: a cabeça das válvulas de admissão tem a forma de tulipa, este
formato facilita a admissão da mistura ar/combustível. As válvulas de admissão são
resfriadas pela própria mistura ar/combustível o que permite trabalharem em
temperaturas significativamente inferiores às válvulas de escapamento. Por trabalharem
em temperaturas mais baixas as válvulas de admissão podem ser fabricadas de aço
cromo-níquel.
Berço do motor
É a estrutura responsável em fixar o motor à fuselagem da aeronave. O berço é
geralmente construído em tubos de aço e sua estrutura deve ser suficientemente
resistente para suportar as forças de tração e torque, produzidas durante a operação do
motor.
Funcionamento de um motor a pistão (quatro tempos)
Analisaremos a seguir o funcionamento de um motor a pistão de quatro tempos,
responsável em equipar praticamente todas as aeronaves leves de pequeno porte.
O princípio básico de funcionamento de um motor a pistão de uma aeronave é
transformar a energia calorífica proveniente da queima da mistura ar/combustível em
energia mecânica, através do pistão, possibilitando o acionamento do eixo de manivelas e
consequentemente a rotação da hélice, que fornecerá a força tração ao deslocamento da
aeronave.
O ciclo composto por quatro tempos é também conhecido como ciclo de Otto, em
homenagem ao seu descobridor, o engenheiro alemão Nikolaus August Otto. Nesse tipo
de motor, são requeridos quatro tempos para completar a série de ciclos de operação de
cada cilindro. São requeridas duas voltas completas do eixo de manivelas (720º) para que
ocorram os quatro tempos requeridos. Durante a sequência dos quatro tempos ocorrem
também seis fases distintas, conforme veremos a seguir.
Os quatro tempos são:
- admissão
- compressão
- tempo motor (ou tempo de potência)
- escapamento (ou exaustão)
Os quatro tempos
Antes de analisarmos o que ocorre em cada um dos quatro tempos, veremos algumas
definições.
Há duas posições extremas do pistão dentro do cilindro que são definidas como:
- Ponto morto superior (PMS): ponto no qual o pistão atinge a extremidade superior e
inverte a trajetória de seu movimento.
- Ponto morto inferior (PMI): ponto no qual o pistão atinge a extremidade inferior e
inverte a trajetória de seu movimento.
A distância entre o PMS e o PMI é denominada de curso.
Admissão (1º tempo)
No motor a dois tempos um ciclo é composto por apenas dois tempos, conforme o seu
próprio nome sugere. O princípio de funcionamento de um motor a dois tempos é muito
simples, apresentando pouquíssimas peças móveis. Diferente de um motor a quatro
tempos, no motor a dois tempos não há válvulas de admissão e escapamento, aberturas
laterais na camisa do cilindro permitem que o próprio pistão controle a admissão e
escapamento dos gases.
1º Tempo
O pistão ao deslocar-se do PMI ao PMS, após cobrir a janela de descarga, começa a
comprimir a mistura ar/combustível na parte superior do cilindro. Simultaneamente cria-
se no cárter uma depressão, que aspira a mistura através da janela de admissão. Um
pouco antes do pistão chegar ao PMS, uma centelha elétrica é gerada na vela de ignição,
dando início a combustão da mistura comprimida.
2º Tempo
Definições
Potência: um motor converte a energia química do combustível em trabalho. A
potência é o trabalho desenvolvido pelo motor, em uma determinada unidade de tempo.
Torque: é o produto de uma força pela distância dessa força, ao eixo sobre o qual ela
atua, ou, torque = força x distância (a 90o da força). As unidades de medida de torque são
libra-polegada ou libra-pé.
Cilindrada: é definida como o volume total deslocado pelo pistão entre o PMI e o PMS,
multiplicado pelo número de cilindros do motor. A cilindrada é geralmente expressa em
centímetros cúbicos (cm3).
Volume do cilindro: corresponde a soma da cilindrada mais o volume da câmara de
combustão.
Taxa de compressão: todo motor de combustão interna tem que comprimir a mistura
ar/combustível para receber uma quantidade razoável de trabalho em cada tempo de
potência. A mistura ar/combustível em um cilindro pode ser comparada com uma mola
helicoidal, em que, quanto mais é comprimida, mais trabalho é potêncialmente capaz de
realizar. Taxa de compressão é um fator de controle na máxima potência desenvolvida por
um motor.
A razão de compressão de um motor é uma comparação do volume de um cilindro
quando o pistão está no PMI (ponto morto inferior), e o volume quando ele está no PMS
(ponto morto superior). Por exemplo, se existem 140 pol³ de volume em um cilindro
quando o pistão está no PMI e 20 pol³ quando o pistão está no PMS, a razão de
compressão é 140 para 20. Se essa razão é expressa na forma de fração, será escrita como
140/20 ou 7 para 1, geralmente representada por 7:1.
Velocidade de rotação: quando nos referimos à motores, a velocidade de rotação ou
rotação por minuto (RPM) - como é mais conhecido - refere-se a velocidade de rotação do
eixo de manivelas e serve de parâmetro para a operação do motor.
Potência do motor
Há diversos tipos de potência gerada por um motor a pistão, e o conhecimento da
definição de cada uma delas faz-se necessário durante este nosso estudo.
Potência teórica: representa o que seria uma máquina ideal, indicando a potência que
seria obtida pela transformação total da energia térmica, proveniente da queima do
combustível, em trabalho mecânico.
Potência indicada (indicated horse power - IHP): potência bruta produzida pelo motor, ou
seja, é a potência desenvolvida no cilindro pela expansão dos gases queimados sobre o
pistão. IHP = BHP + FHP.
Potência efetiva (brake horse power - BHP): potência que o motor fornece à hélice,
medida no eixo da hélice. A potência efetiva equivale a potência indicada subtraída à
potência de atrito.
Potência de atrito (friction horse power - FHP): é a potência indicada menos a potência
efetiva. É a potência usada por um motor para vencer o atrito entre as partes móveis,
aspirar combustível, expulsar os gases de escapamento, acionar bombas de óleo e
combustível, e similares. Nos motores aeronáuticos modernos, essa potência perdida por
atrito é elevada, podendo atingir de 10% a 15% da potência indicada.
Potência máxima: potência efetiva máxima superior a potência nominal, no entanto,
deve ser utilizada por um curto período (geralmente cinco minutos) de modo a não
comprometer a vida útil do motor. A potência máxima é geralmente utilizada durante a
decolagem ou numa situação de emergência em que seja requerida a potência máxima do
motor.
Potência nominal: potência efetiva máxima que o motor é capaz de desenvolver sem
restrição de tempo. A potência nominal também é conhecida como Maximum Continuous
Thrust (potência máxima contínua).
Potência útil (thrust horse power - THP): potência que o grupo motopropulsor
disponibiliza para a aeronave. Para se obter esta potência deve-se levar em consideração a
eficiência da hélice em converter a potência efetiva em tração. Quanto maior a eficiência
da hélice maior será a sua capacidade em converter a potência efetiva em tração.
Para fins de performance há duas potências que devem ser de conhecimento de um
piloto, potência disponível e potência necessária. A análise mais aprofundada sobre a
influência destas duas potências sobre o voo é realizada no livro de Teoria de Voo.
Potência disponível: potência útil máxima que o grupo motopropulsor disponibiliza à
aeronave.
Potência necessária: potência que a aeronave necessita para se manter em voo reto e
nivelado. A potência necessária deverá ser sempre inferior à potência disponível, sob
pena da aeronave não conseguir manter um voo reto e nivelado.
Aditivos
Os aditivos são elementos químicos cuja finalidade é melhorar as características e
qualidade de um óleo lubrificante. Entre os principais aditivos estão:
Antioxidante: reduz a oxidação do óleo, principalmente às altas temperaturas,
diminuindo a formação de borras e vernizes e permitindo que o óleo dure mais tempo.
Detergente e dispersante: são aditivos de limpeza. Limpam os depósitos formados nos
anéis, válvulas, mancais e circuitos de óleo do motor. Por isso, o óleo fica escuro, mas o
motor fica limpo.
Antiespumante: reduz a formação de espuma no óleo provocada pela agitação do óleo.
Melhorador do índice de viscosidade: esse aditivo impede que a viscosidade caia muito,
em altas temperaturas, ao ponto de prejudicar a lubrificação.
Tipos de lubrificação
O óleo lubrificante é distribuído às diversas partes móveis do motor por um dos
seguintes métodos:
- lubrificação por salpico
- lubrificação por pressão
- lubrificação mista
Lubrificação mista
Neste sistema há uma combinação da lubrificação por salpico e da lubrificação por
pressão. Este é o sistema mais utilizado nos motores aeronáuticos, nele algumas partes,
como o cilindro, são lubrificadas por salpico, e outras, como o eixo de manivelas, são
lubrificadas por pressão.
Componentes do sistema de lubrificação
Analisaremos a seguir os principais componentes do sistema de lubrificação. Embora a
disposição do sistema de óleo em diferentes aeronaves varie significativamente, e as
unidades das quais esses sistemas são compostos difiram em detalhes de construção, a
função desses sistemas é a mesma.
Bomba de óleo
Um dos principais componentes do sistema de lubrificação é a bomba de óleo, cuja
função é retirar o óleo do cárter (cárter molhado) ou do reservatório externo (cárter seco)
e fazê-lo circular sob pressão pelo motor, de modo a promover uma lubrificação
adequada. Após circular pelo motor o óleo é novamente devolvido ao reservatório através
de outra bomba acoplada ao sistema de lubrificação.
As bombas de óleo mais utilizadas são do tipo engrenagem, e geralmente o sistema de
lubrificação é composto por dois tipos de bomba de óleo:
- bomba de pressão: responsável por retirar o óleo do cárter ou reservatório e enviá-lo sob
pressão ao motor.
- bomba de retorno: responsável em enviar o óleo recém-circulado pelo motor de volta ao
cárter ou reservatório.
Filtro de óleo
O filtro de óleo tem a função de reter impurezas e partículas contaminantes que
possam causar danos ao perfeito funcionamento do motor, além de manter as
características de estrutura do óleo, uniformidade de circulação e eficiência no período
de uso pelo motor.
Um filtro do óleo saturado poderá causar passagem do óleo sujo para o motor,
provocando o desgaste prematuro das peças móveis, portanto, recomenda-se a inspeção e
troca do filtro do óleo nas inspeções periódicas, de acordo com o indicado no manual do
fabricante. Durante estas inspeções o mecânico deve analisar os tipos de elementos
retidos pelo filtro, de modo a verificar se há presença de partículas metálicas, o que
indica um desgaste anormal dos componentes do motor.
Radiador de óleo
Pelo fato do óleo absorver certa quantidade de calor do motor, o resfriamento natural
após o seu retorno ao reservatório pode ser insuficiente para mantê-lo dentro de uma
temperatura e viscosidade adequada. O radiador de óleo funciona como um trocador de
calor, pois fica exposto ao fluxo de ar, permitindo assim, que o óleo ao circular pela
estrutura do radiador saia com menor temperatura e maior viscosidade, tornando-o
adequado as devidas propriedades de lubrificação.
A temperatura do óleo pode ser controlada para se adequar as diversas condições de
operação. Por exemplo, o óleo atingirá a temperatura ideal de operação mais rapidamente
se não passar pelo radiador durante o aquecimento do motor. Com o intuito de manter o
óleo numa temperatura ideal, antes do radiador há um termostato (válvula operada
termicamente) que irá direcionar o óleo a passar pelo radiador quando a temperatura
estiver elevada. Se a temperatura do óleo estiver baixa está válvula direcionará o óleo a
passar por fora do radiador, uma vez que não há necessidade de resfriamento do mesmo.
Válvulas
No sistema de lubrificação podemos encontrar os seguintes tipos de válvulas:
Válvula de desvio (by-pass): permite que o fluxo de óleo siga por um caminho
alternativo em caso de obstrução do caminho original. No sistema de lubrificação a
válvula by-pass fica localizada entre a saída de pressão da bomba de óleo e o filtro,
permitindo que o óleo não filtrado se desvie do filtro e entre no motor, no caso do filtro
de óleo estar obstruído. Isso significa que óleo sujo ou não filtrado em um motor é
melhor que não ter nenhuma lubrificação presente.
Manômetro de óleo: indica a pressão do óleo (em PSI) fornecida pela bomba de óleo ao
motor. O sensor fica instalado após a bomba de óleo e antes do motor. Esse importante
instrumento, o primeiro a ser analisado pelo piloto após a partida do motor, tem a
finalidade de acusar uma possível falha no motor causada por uma perda no suprimento
de óleo, falha da bomba, ruptura de linhas de óleo, ou outras causas que podem ser
indicadas pela perda de pressão de óleo. O ponteiro do manômetro de óleo deve
permanecer sempre dentro da faixa verde, indicando assim a correta pressão do óleo.
DICA: Após a partida do motor o piloto deverá monitorar imediatamente o
manômetro de óleo, a fim de verificar se a pressão mínima do óleo foi atingida dentro de
30 segundos*. Caso não haja indicação de pressão, ou a mesma esteja muito baixa, o
motor deverá ser cortado imediatamente, para evitar danos ao motor.
* este tempo pode variar de uma aeronave para outra, sempre consulte o manual de operações
da aeronave, de modo a operá-la dentro dos padrões e limites estabelecidos pelo fabricante.
Conforme visto anteriormente, após a partida dos motores o manômetro do óleo deve
ser o primeiro instrumento a ser monitorado. Caso não ocorra o aumento da pressão em
30 segundos o motor deve ser imediatamente cortado.
Em voo a queda na pressão de óleo pode indicar:
- falha na bomba de óleo
- vazamento de óleo
- pouca quantidade de óleo
Resfriamento a líquido
Neste tipo de sistema, pouco utilizado nos motores aeronáuticos, os cilindros são
refrigerados por um líquido (água ou etileno-glicol) que absorve parte do calor. Esse
líquido circula pelo motor através de uma bomba, que o envia a um radiador refrigerado
a ar, de modo a controlar a temperatura do líquido.
O sistema de resfriamento a líquido apresentam uma série de desvantagens (maior
complexidade, peso e custo) para o uso em motores aeronáuticos..
Resfriamento a ar
Este é o sistema de resfriamento mais empregado nos motores aeronáuticos, e apesar
de possuir algumas desvantagens, se sobressai pela simplicidade, baixo peso e baixo
custo.
Este sistema de resfriamento utiliza o fluxo de ar para trocar calor e diminuir a
temperatura do motor. Em algumas fases do voo, como por exemplo, nas operações de
táxi, onde o fluxo de ar é baixo ocorre a tendência de aquecimento do motor.
Os principais componentes do sistema de resfriamento a ar são:
- aletas dos cilindros
- defletores
- flaps de arrefecimento (cowl flaps)
- capô do motor
Aletas do cilindro: o corpo e a cabeça do cilindro possuem aletas de resfriamento cuja
função é aumentar a área de contato com o fluxo de ar a fim de proporcionar uma melhor
troca de calor e consequentemente um melhor resfriamento do cilindro.
Os cowl flaps são geralmente abertos durante o táxi e a decolagem, sendo parcialmente
ou completamente fechados durante a subida. Em cruzeiro e na descida estão na posição
fechado. Na aproximação final são novamente abertos, para o caso de uma arremetida.
Sempre consulte o manual de operações da aeronave que você irá operar para verificar o
padrão recomendado para a utilização dos cowl flaps!
Capô do motor: além de dar forma aerodinâmica a estrutura do motor, diminuindo o
arrasto parasita, o capô funciona como um invólucro em volta do motor que força o ar a
passar em volta e entre os cilindros, absorvendo o calor dissipado pelas
suas aletas.
Do total de ar de impacto nos bordos da nacele do motor, somente cerca de 20 a 30%
entra no capô para fornecer refrigeração ao motor, o ar restante flui sobre a parte externa
do capô. Portanto, a forma externa do capô deve ser bem projetada de modo a permitir
um fluxo de ar uniforme com a mínima perda de energia.
Controle da temperatura do motor
Conforme analisado ao longo deste capítulo, a operação de um motor em constante
temperatura elevada, ou superaquecimento, poderá causar diversos prejuízos que
poderão resultar inclusive na parada súbita do motor em voo.
O superaquecimento do motor é causado principalmente por:
- baixa velocidade da aeronave (menor fluxo de ar)
- elevada potência do motor (decolagem e arremetida)
- mistura ar/combustível muito pobre
- baixo nível de óleo lubrificante
O piloto tem a obrigação de monitorar constantemente os instrumentos do motor, e
constatando o aumento da temperatura do motor deverá adotar os procedimentos
previstos no manual de operações da aeronave. Os procedimentos mais comuns
empregados nesta situação são:
- abertura total dos cowl flaps (para as aeronaves equipadas com este dispositivo)
- enriquecer a mistura ar/combustível (mais combustível na mistura elevará a
quantidade de combustível evaporado, diminuindo a temperatura do cilindro, . no
entanto o consumo de combustível será maior)
- aumento da velocidade da aeronave (maior fluxo de ar)
- redução da potência do motor (menor calor produzido)
Motores superalimentados
Para minimizar o problema citado anteriormente, relativo a queda da pressão
atmosférica com o aumento da altitude, e aumentar a performance dos motores a pistão,
os fabricantes desenvolveram os motores superalimentados.
Os motores superalimentados possuem um compressor de ar, cuja função é aumentar
a pressão e a densidade do ar que será enviado ao cilindro, o que resultará numa melhora
significativa no desempenho do motor e na performance geral da aeronave.
Apesar dos motores superalimentados compensarem a queda na pressão atmosférica
com o aumento da altitude, há uma determinada altitude na qual o compressor não
consegue mais suprir a demanda requerida pelo motor, e começa a ocorrer uma queda na
pressão de admissão. Esta altitude, chamada de "altitude crítica" é
determinada pelo fabricante do motor. A altitude crítica é geralmente próxima a 18.000
pés, uma altitude na qual as aeronaves equipadas com motores a pistão dificilmente irão
operar, uma vez que tais aeronaves não costumam ser pressurizadas.
O gráfico a seguir nos ajuda a entender melhor a relação "altitude x potência". Podemos
notar que o motor superalimentado é sempre mais potente do que o motor aspirado, no
entanto, conforme descrito acima, a uma determinada altitude ele também começa a
perder potência.
Analisaremos a seguir os principais componentes presentes em um sistema de
superalimentação.
Compressor
Os motores superalimentados utilizam os compressores do tipo centrífugo. Este tipo
de compressor admite o ar através de uma abertura circular situada no centro da carcaça
do compressor, onde ele é coletado pelas pás do rotor, e onde adquire velocidade à
medida que se desloca para frente em direção do difusor. O rotor opera com elevada
velocidade, podendo chegar a 60.000 RPM.
As aletas do difusor direcionam o fluxo de ar, quando este deixa o rotor e, também,
convertem a alta velocidade do ar em alta pressão.
Manifold pressure
As aeronaves equipadas com motores superalimentados possuem um instrumento
chamado de "manifold pressure", cuja função é informar a pressão de admissão da mistura
ar/combustível. Este instrumento é geralmente graduado em polegadas de mercúrio
(inHg).
Mistura ar/combustível
A combustão dentro do cilindro só será possível se a mistura ar/combustível estiver
numa dosagem aceitável, de aproximadamente 1:8 (mistura rica) a 1:20 (mistura pobre).
Estes valores, 1:8 e 1:20, indicam que para cada parte de combustível há 8 ou 20 partes de
ar.
A mistura ideal, ou quimicamente correta, é aquela que após ocorrida a queima, todas
as partes de combustível e ar foram utilizadas, não havendo sobra. A relação
ar/combustível ideal é chamada de estequiométrica (nem pense em decorar esse nome!). É
considerada uma mistura quimicamente correto algo em torno de 1:15 (uma parte de
combustível para quinze partes de ar).
Numa mistura é rica, há excesso de combustível, logo, após a queima haverá sobra de
combustível o que elevará o consumo. Uma mistura rica é capaz de aumentar a potência
do motor, portanto, este tipo de mistura como veremos a seguir, é utilizada durante as
fases onde há necessidade de elevadas potências, como decolagem e pouso (devido a
possibilidade de uma arremetida). Numa mistura excessivamente rica haverá elevada
sobra de combustível, o que resultará numa queda da temperatura do cilindro
diminuindo o calor produzido pela combustão e consequentemente diminuindo a
potência gerada pelo motor.
Se por outro lado dizemos que a mistura é pobre, é porque há pouco combustível na
mistura, logo, após a queima haverá sobra de ar (oxigênio) o que poderá elevar a
temperatura do motor. Uma mistura excessivamente pobre pode vir a causar uma
detonação no motor!
Há determinadas misturas que possuem valores extremos, como 1:5 ou 1:25, o que
impossibilita a combustão, seja por falta (1:5) ou excesso (1:25) de ar em relação ao
combustível presente na mistura. Estas misturas extremas são chamadas de misturas
incombustíveis.
Controle da mistura
Conforme visto na tabela acima, diversos fatores irão afetar a mistura ar/combustível,
logo, para manter a eficiência na operação do motor o piloto deverá ajustar
constantemente a mistura de acordo com o estipulado pelo manual de operações da
aeronave.
Para realizar o ajuste da mistura o piloto deverá utilizar a manete de mistura, que fica
localizada a direita da manete de potência. Propositalmente a manete de mistura é na cor
vermelha, de modo a alertar ao piloto que uma eventual modificação abrupta ou
acidental na posição desta manete pode causar a parada do motor, seja em solo ou em
voo. Por este motivo, qualquer ajuste na manete de mistura deve ser lento e gradual,
principalmente quando o movimento for para trás (empobrecer a mistura) para se evitar
uma possível parada do motor por falta de combustível na mistura.
As figuras a seguir exibem os dois tipos mais comuns de manetes de mistura. Ao
mover a manete de mistura para frente estaremos enriquecendo a mistura, e ao
movermos pra trás estaremos empobrecendo. Podemos visualizar também o instrumento
do fuel flow, sobre o qual a manete de mistura terá atuação direta, em conjunto com a
manete de potência.
O objetivo básico do controle da mistura pelo piloto é evitar que o motor opere com
uma mistura excessivamente rica ou pobre, melhorando desta forma o desempenho do
motor.
Mistura excessivamente rica: irá provocar perda de potência, elevado consumo de
combustível, resfriamento excessivo do cilindro, formação de resíduos (carbono) nas
velas de ignição (pois não ocorre a queima completa do combustível), e, operação
"áspera" do motor.
Mistura excessivamente pobre: irá provocar elevada temperatura na cabeça do cilindro o
que poderá resultar numa combustão anormal (detonação), consequentemente teremos
queda de potência e até a possibilidade da falha total (parada) do motor.
Apesar de ambas as condições serem prejudiciais à operação do motor, é preferível
operar com uma mistura excessivamente rica a uma excessivamente pobre.
Analisaremos a seguir as principais fases operacionais do voo e a maneira como o
piloto deve proceder sobre o controle da mistura ar/combustível. Esta é uma análise
genérica e adotada pela maioria das aeronaves a pistão, no entanto, como o processo de
ajuste da mistura varia de uma aeronave para outra, é dever do piloto operar
estritamente de acordo com o estipulado pelo manual de operações da aeronave!
A lógica do controle de mistura é muito simples, veja.
Durante a decolagem e pouso (devido a possibilidade de uma arremetida) a manete de
mistura deve estar toda a frente, mistura totalmente rica, pois queremos que o motor
disponibilize máxima potência, se necessário.
Durante a subida o ar vai se tornando menos denso (menos ar), logo, a mistura torna-
se progressivamente mais rica. Para evitar esta situação o piloto deve mover lentamente a
manete de mistura para trás, a fim de corrigir a queda na densidade do ar.
Em cruzeiro, geralmente a fase mais longa do voo, vamos prezar pela economia de
combustível, logo, com a aeronave voando num ar menos denso e com menor potência
do motor, poderemos empobrecer a mistura.
Durante a descida ocorre o inverso, com a diminuição da altitude do voo teremos um
acréscimo na densidade do ar (mais ar), logo, a mistura torna-se progressivamente mais
pobre. Para evitar um empobrecimento excessivo da mistura o piloto irá mover
gradualmente a manete de mistura para frente.
Táxi e decolagem
Nas operações em marcha lenta, táxi e decolagem, a manete de mistura deve estar toda
a frente (mistura totalmente rica). Durante a decolagem exige-se a máxima potência do
motor, portanto, é requerido que a manete de mistura esteja totalmente a frente.
Uma exceção a esta regra ocorre para operações em aeródromos situados em elevadas
altitudes, acima de 5000 pés. É uma situação bastante incomum para quem opera
unicamente no Brasil, onde o aeródromo mais elevado (Monte Verde, MG, SNEJ) fica
localizado a 5102 pés, porém, nunca se sabe se o leitor deste livro irá realizar um voo para
Bogotá, localizado a 8361 pés. Para estas operações o piloto deve consultar o respectivo
manual de operações da aeronave, no entanto, geralmente pede-se para que a manete de
mistura seja levemente puxada (empobrecer a mistura) para compensar a queda na
densidade do ar causada pela elevada altitude do aeródromo.
É importante ressaltar que numa decolagem, por exemplo, em um aeródromo situado a
3000 pés com temperatura de 36oC e pressão de 1008 hPa, teremos a densidade do ar
parecida com a de um aeródromo situado a pouco mais de 6000 pés! Ou seja, a
performance de decolagem será equivalente a uma decolagem em um aeródromo situado
a 6000 pés. Nesta situação deve-se considerar a possibilidade de realizar o mesmo
procedimento relativo aos aeródromos situados em elevadas altitudes.
Subida
Durante a subida, à medida que a altitude vai aumentando, ocorre a queda na
densidade do ar, ou seja, teremos uma mistura cada vez mais rica. Se nenhum ajuste na
mistura for efetuado, o motor começará a perder potência (queda de RPM) e o consumo
se elevará. Para corrigir esta situação deveremos diminuir o fluxo de combustível que é
enviado para a formação da mistura, fazemos isso puxando gradativamente a manete de
mistura à medida que a altitude aumenta. Ao efetuar este procedimento você perceberá
que o motor irá operar de forma mais suave.
Os ajustes na manete de mistura devem começar a ocorrer apenas após 5000 pés de
altitude densidade e abaixo de 75% em relação à potência máxima contínua (maximum
continuous power - MCP), até então a manete ainda estará toda a frente (mistura rica). Você
perceberá que o motor começará a operar de forma mais áspera, portanto, esta é a hora
de mover a manete de mistura levemente para trás a fim de que o motor volte a operar
suavemente. Após 5000 pés é aconselhável que o ajuste seja feito a cada 1000 pés.
Cruzeiro
O voo em cruzeiro é geralmente caracterizado por ser a etapa mais longa e por ser
realizado em elevadas altitudes. Nesta fase é imprescindível que tenhamos em mente o
consumo de combustível, o correto ajuste da manete de mistura pode gerar cerca de 25%
de consumo, o que resultará no aumento do alcance, autonomia e performance do voo.
Um voo normal de cruzeiro é realizado com potência entre 55 e 65% em relação a MCP,
portanto, faz-se necessário o ajuste da manete de mistura para trás, de modo a
empobrecer a mistura. À medida que a manete de mistura for sendo movida levemente
para trás será possível perceber um aumento no RPM, causado pelo ajuste correto da
mistura ar/combustível.
Para voos em cruzeiro com potência superior a 75% da MCP a manete de mistura
deverá estar posicionada toda à frente (mistura rica), pois potências superiores a 75%
causam elevado aquecimento do motor, sendo requerida uma mistura rica para prover o
resfriamento do cilindro. Não é muito usual empregar potência superior a 75% nos voos
de cruzeiro, no entanto, sempre consulte o manual de operações da aeronave para
verificar o regime ideal de cruzeiro para as suas operações. Apenas como referência,
acima de 5000 pés, um motor aspirado (não superalimentado) dificilmente atinge 75% da
MCP, ainda que a manete de potência esteja toda a frente.
Descida
Durante a descida ocorrerá, à medida que a altitude decresce, um aumento na
densidade do ar, logo, a mistura irá empobrecer gradativamente. Para corrigir a mistura
evitando que a mesma fique excessivamente pobre, o piloto deve mover a manete de
mistura a frente até que ela esteja posicionada toda a frente, posição que será mantida
até o corte dos motores.
Aproximação e pouso
Nestas duas etapas a manete de mistura que vinha sendo gradativamente levada a
frente durante a descida estará posicionada toda a frente (mistura rica). O motivo da
manete estar nesta posição durante a aproximação para o pouso é que o piloto poderá a
qualquer momento decidir por abordar a aproximação (arremeter), manobra que exige
elevada potência do motor.
Corte do motor
Não há queima da mistura sem a presença de combustível, portanto, para realizar o
corte do motor basta mover a manete de mistura toda para trás, o que cessará o envio de
combustível do sistema de formação de mistura aos cilindros e consequentemente
ocorrerá a parada do motor.
Carburação
A finalidade básica do carburador é formar a mistura do ar com o combustível na
dosagem e em proporção adequada, antes que tal mistura seja entregue aos cilindros
para que ocorra a combustão.
Os carburadores podem ser classificados em dois tipos:
- carburador do tipo boia
- carburador do tipo pressão (injeção)
O carburador mais utilizado é o do tipo boia, por ser mais simples e barato. A
diferença básica entre eles é a pressão na qual o combustível é misturado com o fluxo de
ar. No carburador do tipo boia o combustível é aspirado pelo fluxo de ar, enquanto no
carburador do tipo pressão o combustível é injetado sob pressão no fluxo de ar.
Para permitir que o motor opere com segurança no regime de baixa potência há o
sistema de marcha lenta, que nada mais é do que um injetor de combustível localizado
próximo à válvula da borboleta cuja função é suprir o combustível que não está sendo
suficientemente fornecido pelo medidor principal.
Sistema de aceleração
Quando o piloto comanda a manete de potência toda para frente a borboleta irá se
abrir imediatamente permitindo que o fluxo de ar no tubo de Venturi aumente
rapidamente. No entanto, o combustível fornecido pelo medidor principal sofre certo
retardo em providenciar combustível, o que pode tornar a mistura pobre por um curto
período de tempo e consequentemente causar uma aceleração áspera e inconstante do
motor.
Para evitar esse problema o carburador é equipado com uma pequena bomba de
combustível, denominada de bomba de aceleração, cuja finalidade é proporcionar um
suprimento extra de combustível durante o período de aceleração. O sistema de
aceleração previne o empobrecimento da mistura, permitindo uma aceleração uniforme.
Este sistema, comumente composto por uma válvula de agulha, está diretamente
ligado a manete de potência. Ao ser solicitado máxima potência do motor, a agulha abrirá
(conforme figura acima) permitindo que a mistura se torne mais rica. À medida que a
manete de potência é recuada, a válvula vai se fechando gradualmente, até o ponto em
que o motor passa a operar abaixo de 60 a 70% de potência, momento em que a válvula se
fecha completamente, empobrecendo a mistura.
Tanques de combustível
Responsáveis pela armazenagem do combustível, os tanques ficam normalmente
localizados dentro da estrutura da asa da aeronave. O tamanho e a capacidade dos
tanques de combustível variam de uma aeronave para outra, levando-se em consideração
a finalidade da operação de cada aeronave.
Os tanques são desenvolvidos em materiais que não reagem quimicamente com o
combustível de aviação, de modo, obviamente, a não contaminá-lo. Na parte superior do
tanque fica localizado o bocal de abastecimento e a tampa que permite a abertura.
Os tanques são ventilados através dos suspiros que permitem a entrada de ar, de modo
a manter a pressão no tanque semelhante a pressão atmosférica externa, prevenindo o
bloqueio do envio de combustível ao motor. Os suspiros podem ser instalados na própria
tampa do bocal de abastecimento ou em tubos presentes na superfície da asa.
São também instalados nos tanques os drenos de transbordamento, cuja finalidade é
evitar danos á estrutura do tanque devido a expansão do combustível com o aumento da
temperatura. É comum observarmos pequena quantidade de combustível saindo por
esses drenos em dias mais quentes. Os drenos de transbordamento podem ser instalados
em conjunto com o suspiro ou separadamente.
Seletora de combustível
Através da seletora de combustível o piloto poderá selecionar o tanque de combustível
através do qual o combustível será enviado ao motor.
A seletora geralmente possui quatro posições: LEFT, RIGHT, BOTH e OFF.
- a posição LEFT indica a seleção do tanque de combustível esquerdo, ou seja, o
combustível enviado ao motor será retirado exclusivamente deste tanque.
- a posição RIGHT indica a seleção do tanque de.combustível direito.
- a posição BOTH indica a seleção de ambos os tanques, ou seja, o combustível enviado
ao motor será retirado igualmente de ambos os tanques. Esta é a posição normal de
operação.
- a posição OFF, ou CUTOFF, cessará o fornecimento de combustível para o motor,
resultando, obviamente, na parada do mesmo.
As posições LEFT e RIGHT são utilizadas apenas para o balanceamento do
combustível entre os tanques.
Filtro de combustível
A finalidade do filtro de combustível é remover contaminações causadas por
sedimentos, impurezas e água que eventualmente estão presentes no sistema.
Após sair dos tanques para as linhas de combustível, o combustível passa por um
simples filtro de malha relativamente grossa, cuja finalidade é evitar a entrada de
partículas maiores no sistema de combustível. Seguindo o caminho até o motor, o
combustível segue pela seletora e logo em seguida pelo filtro principal, antes de chegar
no sistema de formação de mistura. É neste filtro que ocorrerá uma filtragem mais
precisa do combustível. Alguns filtros possuem o corpo transparente, permitindo a
visualização de impurezas e água.
Primer
Alguns sistemas de combustível possuem o Primer, uma bomba (manual ou elétrica)
incorporada ao sistema e utilizada antes da partida do motor, com a finalidade de injetar
combustível diretamente no coletor de admissão, antes do cilindro. O Primer é
especialmente utilizado para auxiliar a partida do motor em dias frios.
Drenos
Os sedimentos e a água, elementos responsáveis pela contaminação do combustível,
são mais pesados do que o combustível, logo, eles tendem a se depositar na parte inferior
do tanque. Por esta razão, os drenos de combustível são instalados na parte mais baixa
dos tanques de combustível de modo a permitir que o piloto colete uma determinada
quantidade de combustível para a análise da possível presença de contaminação
(principalmente água) no sistema. No final do capítulo analisaremos o correto
procedimento de verificação e inspeção do sistema de combustível durante o pré-voo.
Combustíveis
O combustível é uma substância que, quando combinado com o oxigênio, queima e
produz calor. O combustível utilizado nas aeronaves a pistão, conhecido como AVGAS
(AViation GASoline), consiste quase que inteiramente de hidrocarbonos (compondo-se
de hidrogênio e carbono).
Propriedades gerais
O combustível de aviação deve cumprir as seguintes especificações:
- elevado poder calorífico
- facilidade para fluir nas mais variadas condições de operação
- combustão completa nas diversas condições de voo
- alta resistência à detonação
- anticorrosivo
- ação lubrificante
Volatilidade: tendência de uma substância líquida em vaporizar-se sob uma dada
condição. Se a gasolina vaporizar muito rapidamente as linhas de combustível poderão
ficar cheias de bolhas de vapor, ocasionando queda no fluxo de combustível. No entanto,
se o combustível não vaporizar suficientemente rápido poderá resultar em uma partida
difícil, aquecimento lento, aceleração pobre, distribuição desigual de combustível para os
cilindros e uma diluição excessiva no cárter.
A formação de gelo no carburador também é relacionada com a volatilidade. Quando a
gasolina passa do estado líquido para o vapor ela extrai calor das redondezas para efetuar
a mudança de estado. Quanto mais volátil for o combustível, mais rápida será a extração
do calor. À medida que a gasolina sai do bico de descarga do carburador e vaporiza-se,
ela poderá congelar o vapor de água contido no ar que está sendo admitido.
Logo, o motor necessita de um combustível que seja suficientemente volátil para
permitir a fácil formação da mistura de ar e vapor de combustível, necessária para a
combustão.
Poder calorífico: é a quantidade de energia na forma de calor liberada pela combustão
de uma determinada quantidade de combustível. O combustível de aviação (AVGAS)
apresenta elevado poder calorífico.
Poder antidetonante: é a capacidade do combustível em resistir à detonação.
Detonação e pré-ignição
Veremos no próximo tópico a classificação da gasolina de aviação (AVGAS) e citaremos
continuamente o poder antidetonante do combustível, portanto, vamos primeiro analisar
o que vem a ser detonação e quão perigosa ela é para o bom funcionamento do motor. Em
seguida analisaremos a pré-ignição, outro problema que afeta o funcionamento do motor
e por vezes é confundido com a detonação.
No processo de combustão normal da mistura ar/combustível no interior do cilindro
ocorre a queima controlada desta mistura no tempo previsto, sendo liberada a energia
para a geração da potência requerida. Durante a combustão normal, a expansão dos gases
em queima comprime a cabeça do pistão para baixo, firme e suavemente sem um choque
excessivo.
A detonação, popularmente conhecida como "batida de pino", ocorre quando há uma
ignição explosiva e descontrolada da mistura no interior do cilindro. O aumento
excessivo na velocidade de queima causa a elevação da temperatura na cabeça do
cilindro. Em condições severas, o aumento da velocidade de queima diminuirá a
eficiência do motor, e poderá causar dano estrutural à cabeça do cilindro ou pistão. A
pressão aumentada da
detonação exercida, em um curto período de tempo, produz uma pesada carga de
impacto nas paredes da câmara de combustão e cabeça do pistão. A detonação é
identificada pelo aumento súbito na temperatura da cabeça do cilindro e do óleo, e é
mais suscetível de ocorrer com o motor operando em alta potência.
As causas mais frequentes da detonação são:
- utilização de combustível com octanagem abaixo do recomendado
- operação do motor em alta potência e mistura excessivamente pobre
- compressão excessiva
- superaquecimento do motor
A pré-ignição, como o próprio nome sugere, ocorre quando há a ignição prematura da
mistura ar/combustível. Esta combustão prematura é geralmente causada pelo
superaquecimento de alguns pontos (como eletrodos das velas, válvulas de escapamento,
depósitos de carbono, etc.) no interior da câmara de combustão. O superaquecimento
destas partes faz com que a mistura entre em combustão antes do momento apropriado,
o que resultará na perda de potência e no superaquecimento do motor.
Para evitar estes dois problemas que afetam seriamente o funcionamento do motor, o
piloto deve sempre operar dentro dos padrões estipulados pelo manual de operações,
além de estar sempre atento em abastecer a aeronave com o combustível de octanagem
recomendada.
Abastecimento
Procedimento corriqueiro na vida de um piloto, o abastecimento de combustível é um
dos primeiros procedimentos para o início de um voo. Quando falamos em
abastecimento temos a tendência em associar apenas a quantidade de combustível, e
negligenciamos o tipo de combustível que devemos utilizar. Não adianta estar com o
tanque cheio de combustível se o combustível não for apropriado, o uso de combustível
fora das especificações previstas já resultou em diversos acidentes aeronáuticos.
Compete ao piloto enfatizar ao abastecedor o tipo de combustível que deseja abastecer a
sua aeronave.
Inspeção pré-voo
Durante a inspeção pré-voo o piloto deverá verificar alguns itens do sistema de
combustível, tais como:
- presença de vazamento de combustível (lembrar que em dias quentes poderá ..ocorrer
a saída de combustível pelo dreno de transbordamento)
- acompanhar o abastecimento, verificando se o tipo e a quantidade de ..combustível
estão de acordo com o solicitado
- checar visualmente o interior do tanque, para verificar se a quantidade de
..combustível está relativamente compatível com as indicações do liquidometro
- fechamento da tampa do tanque de combustível
- drenagem de combustível para verificar a possível presença de água ou ..impurezas
A drenagem de combustível é uma parte fundamental na inspeção do sistema de
combustível. Uma das piores e mais frequentes contaminações ao sistema de
combustível é a presença de água. Nos dias frios a água pode congelar e bloquear o fluxo
de combustível nas linhas do sistema, e nos dias quentes a água pode chegar ao sistema
de formação de mistura e resultar inclusive na parada do motor.
Como estas contaminações (sedimentos, impurezas e água) são mais pesadas do que o
combustível, elas ficam depositadas na parte de baixo do tanque de combustível. Para ter
certeza de que o sistema está livre destas contaminações, principalmente da água, o
piloto deve retirar uma pequena quantidade de combustível através dos drenos a fim de
verificar se há presença de contaminação no sistema.
Ao constatar a presença de água no combustível o piloto deverá continuar drenando
até que não haja mais evidência de água nos tanques. Se você tiver dúvidas a respeito de
possível contaminação dos tanques com água, e não estiver seguro quanto ao
procedimento realizado, chame o mecânico responsável e informe-o do ocorrido. Nunca
inicie um voo se houver suspeita de contaminação do combustível, pois o motor poderá
ingerir a água durante a decolagem ou na fase inicial de subida, podendo vir a "engasgar"
ou até mesmo parar numa fase extremamente crítica do voo!
11
SISTEMA ELÉTRICO
Este é sem dúvida o assunto que mais causa apreensão aos pilotos, dos iniciantes aos
mais experientes, talvez nem tanto pela dificuldade da matéria, mas pela cultura já
disseminada de que sistema elétrico é uma assunto de difícil compreensão. Vamos tentar
dissecar esta matéria da forma mais clara e objetiva possível, para que você possa obter
uma base sólida a cerca deste assunto, o que vai possibilitar o entendimento do sistema
elétrico tanto de aeronaves de pequeno quanto de grande porte.
Com a modernização contínua das aeronaves cada vez mais equipamentos eletrônicos
são agregados à cabine de comando, tornando a aeronave cada vez mais dependente do
sistema elétrico. Basta observarmos o painel de um Cessna 172 padrão com o painel de
um Cessna 172 equipado com o G1000, é possível observar que praticamente todos os
instrumentos foram substituídos por telas, que por sua vez são eletricamente
alimentadas. Outros sistemas, como iluminação interna e externa, bombas elétricas,
ignição e partida dos motores também dependem da eletricidade para o correto
funcionamento. Por este motivo o conhecimento amplo do sistema elétrico se faz tão
importante.
A parte inicial do capítulo trata dos conhecimentos básicos sobre eletricidade, muito
provavelmente já estudado por você durante as aulas de física do segundo grau do ensino
médio, no entanto, é tão provável que você lembre-se deste assunto quanto deve lembrar-
se da tabela periódica. Em seguida analisaremos o sistema elétrico de uma aeronave de
pequeno porte e a influência prática deste sistema nos seus voos.
Noções básicas de eletricidade
Antes de nos focarmos no sistema elétrico de uma aeronave de pequeno porte, é
essencial que tenhamos a noção básica sobre alguns conceitos de eletricidade, tais
conceitos não precisam ser decorados, é importante apenas que você entenda a lógica a
cerca do assunto.
Átomos
Tudo que possui massa e ocupa lugar no espaço é denominado de matéria. A matéria é
constituída por pequenas partículas chamadas de átomos. Os átomos por sua vez são
constituídos por partículas subatômicas: elétron, próton e nêutron.
Carga elétrica
Conforme analisado, alguns átomos são capazes de ceder elétrons e outros são capazes
de receber elétrons. Quando isto ocorre, a distribuição positiva e negativa que era igual
deixa de existir. Um corpo passa a ter excesso e outro falta de elétrons. O corpo com
excesso de elétrons passa a ter uma carga com polaridade negativa, e o corpo com falta de
elétrons terá uma carga com polaridade positiva.
As cargas elétricas são sujeitas a atração ou repulsão umas com as outras, segundo o
princípio: “cargas elétricas de mesmo sinal se repelem e cargas elétricas de sinais opostos se
atraem”. Por exemplo: as positivas se repelem umas das outras e as negativas se repelem
umas das outras, mas cargas positivas e cargas negativas se atraem.
Tensão elétrica
O fluxo de elétrons de um ponto negativo para um positivo é chamado de corrente
elétrica, essa corrente flui por causa de uma diferença de potêncial entre dois pontos.
Uma carga elétrica é capaz de realizar trabalho ao deslocar outra carga por atração ou
repulsão. A capacidade de uma carga realizar trabalho é chamada de potêncial, logo,
quando uma carga for diferente de outra haverá uma diferença de potêncial entre elas. A
soma das diferenças de todas as cargas do campo eletrostático é conhecida como tensão
elétrica, ou, diferença de potêncial, ou, força eletromotriz (FEM, é a quantidade de energia
gerada para movimentar uma carga elétrica). Tensão, também é popularmente chamada
de voltagem.
A unidade fundamental de diferença de potêncial (tensão) é o volt (V). Se uma bateria
tem tensão de 6V, quer dizer que a diferença entre os dois terminais da bateria é de 6V.
Portanto, a tensão é um indicador da quantidade de energia envolvida na movimentação
de uma carga entre dois pontos de um sistema elétrico.
Corrente elétrica
O fluxo ou movimento ordenado de elétrons é chamado de corrente elétrica. Para se
produzir a corrente os elétrons devem se deslocar pelo efeito de uma diferença de
potêncial. Pode-se dizer, então, que cargas elétricas em movimento ordenado formam a
corrente elétrica, ou seja, corrente elétrica é o fluxo de elétrons em um meio condutor.
Resistência elétrica
Resistência é a capacidade de um fio condutor se opor a passagem de corrente elétrica
através de sua estrutura. O físico alemão Georg Simon Ohm chegou a conclusão de que
todos os materiais sujeitos a uma diferença de potêncial apresentam uma resistência de
valor constante à passagem da corrente elétrica.
A unidade empregada para medir resistência é chamada Ohm (Ω). A resistência de um
condutor e a voltagem aplicada a ele determinam a quantidade de ampères (corrente)
fluindo através desse condutor. Assim, a Lei de Ohm estabelece que 1 Ohm de
resistência limitará o fluxo de corrente em 1 ampère, num condutor ao qual seja aplicada
a voltagem de 1 volt.
Os melhores condutores são materiais, principalmente metais (prata, cobre, ouro e
alumínio), que possuem um grande número de elétrons livres. Contrariamente, os
isolantes (borracha, vidro e cerâmica) são materiais possuindo poucos elétrons livres.
Potência elétrica
Se um trabalho está sendo executado em um sistema elétrico, uma quantidade de
energia está sendo consumida. A razão em que o trabalho está sendo executado, isto é, a
razão em que a energia está sendo consumida é chamada potência elétrica.
Em eletricidade, a tensão realiza o trabalho de deslocar uma carga elétrica, e a corrente
representa o número de cargas deslocadas na unidade de tempo. A unidade fundamental
de potência elétrica é o WATT (equivalente a 1 Joule por segundo). Potência (W) = trabalho
(J) / tempo (s). WATT = volts x ampères.
A tabela a seguir apresenta a relação entre as grandezas e unidades de medida.
ligação em série
O terminal negativo de uma fonte é ligado ao positivo da fonte seguinte. A tensão fica
então igual à soma das voltagens de cada uma das fontes. Como a mesma corrente flui
através das sucessivas fontes, a corrente que a bateria pode suprir é igual a capacidade de
corrente de uma única célula. Assim, uma bateria composta por células em série
proporciona uma voltagem maior, mas não uma maior capacidade de corrente.
ligação em paralelo
Para obter um maior fluxo de corrente do que uma fonte é capaz de suprir, as células
são ligadas em paralelo. A corrente total disponível é igual à soma das correntes
individuais de cada célula, entretanto, a voltagem é a mesma de uma única célula. Para
ligar células em paralelo todos os terminais positivos são conectados entre si, e todos os
terminais negativos da mesma forma.
Cada célula precisa ter a mesma voltagem, caso contrário, uma célula com maior
voltagem forçará a corrente através das células de menor voltagem.
ligação em série
ligação em paralelo
Este tipo de ligação possui como característica básica o fato da tensão sobre cada
resistor ser a mesma, igual à da fonte, com isso a corrente em cada resistor dependerá
apenas de sua resistência, e a corrente total será igual a soma de todas as correntes. A
corrente proveniente da fonte é dividida em várias partes, tantas quantos forem os
resistores ligados. Este é o tipo mais comum de ligação.
Fusível: é uma tira de liga metálica instalada no circuito, que quando a intensidade da
corrente elétrica ultrapassa o limite do fusível, essa liga se esquenta e se funde cortando
assim a passagem de corrente elétrica. O fusível é instalado no circuito de forma que toda
a corrente flua através dele.
Disjuntor: também conhecido como CB (circuit-breaker), os disjuntores têm a função de
interromper o circuito e o fluxo de corrente quando a amperagem exceder um valor pré-
determinado. É comumente usado no lugar de um fusível e pode, às vezes, eliminar a
necessidade de um interruptor. Um disjuntor difere de um fusível pelo fato de
interromper rapidamente o circuito e poder ser religado, enquanto um fusível funde e
precisa ser substituído.
Voltímetro
O voltímetro é utilizado para medir a diferença de potêncial entre dois pontos, por
esse motivo deve ser ligado sempre em paralelo. Ou seja, um voltímetro é um
instrumento medidor de corrente, indicando a voltagem pela medição do fluxo de
corrente. Os voltímetros podem medir tensões contínuas ou alternadas dependendo da
qualidade do aparelho.
Amperímetro
Inversor
Bem menos utilizado do que o retificador, o inversor é um dispositivo que transforma a
corrente contínua (DC) em corrente alternada (AC).
Magnetismo
O estudo do magnetismo faz se necessário para a compreensão mais ampla do sistema
elétrico. O magnetismo está intimamente ligado ao sistema elétrico, e materiais
magnéticos são amplamente utilizados em motores, transformadores, dínamos, bobinas,
ou seja, em equipamentos elétricos de um modo geral.
O magnetismo é definido como a propriedade de um objeto para atrair ou repelir
certas substâncias metálicas. Em geral, tais substâncias são materiais compostos de aço
ou ferro.
Ao analisarmos uma simples barra magnética podemos identificar algumas
propriedades de um imã, veja:
- se livremente suspenso o imã tende a alinhar-se com os polos magnéticos da Terra,
com uma extremidade apontando para o sul e outra para o norte
- formação de um campo magnético envolvendo o imã, cuja direção dos fluxos
magnéticos ou linhas de força é sempre do polo norte para o polo sul, e o sentido destes
fluxos irá variar de acordo com a posição dos polos, conforme exibido em figura a seguir
- os polos de um imã não podem ser separados, ou seja, se quebrarmos um imã as
partes resultantes serão compostas cada uma com polos norte e sul
- as linhas de força, ou fluxos magnéticos, nunca se cruzam
- de acordo com a lei dos polos, os polos iguais se repelem e os polos opostos se atraem
Eletromagnetismo
No século XIX descobriu-se uma importante relação entre eletricidade e magnetismo,
que se refere ao eletroímã. Esta descoberta constatou a presença de um campo magnético
ao redor de um fio condutor onde há a presença de uma corrente elétrica, criada pelos
elétrons movendo-se através deste fio. Quanto maior o fluxo da corrente maior o campo
magnético.
A grande vantagem do eletroímã é a possibilidade de poder ser desligado, ao ser
cessada a corrente elétrica que flui através do fio condutor, algo impossível de se realizar
num imã natural.
Quando um fio tem muitas voltas ele é chamado de bobina. As linhas de força formam
um modelo através de todas as voltas ocasionando alta concentração de linhas de fluxo
no centro da bobina.
Em uma bobina feita de voltas de um condutor, muitas linhas de força se dissipam
entre as voltas da bobina. Ao colocar uma barra de ferro no interior da bobina, as linhas
de força concentrar-se em seu centro. A inclusão de um núcleo de ferro resulta no
aumento do fluxo magnético e na concentração das linhas de fluxo.
Esta combinação de um núcleo de ferro numa bobina é chamada de eletroímã, uma vez
que os polos da bobina possuem as características de um imã natural. A intensidade do
campo magnético de um eletroímã pode ser aumentada pelo aumento das voltas do fio
ou pelo aumento do fluxo de corrente. O tipo de metal do núcleo também influi na
intensidade do campo do eletroímã. Eletroímãs são usados em instrumentos elétricos,
motores, geradores, relés e outros dispositivos.
Solenoide: alguns dispositivos eletromagnéticos funcionam sob o princípio de que um
núcleo de ferro móvel, conservado fora do centro de uma bobina será puxado
imediatamente para a posição central, quando a bobina é energizada. Este princípio é
usado no solenoide, no qual o núcleo de ferro é mantido fora do centro por pressão de
mola, e é atraído quando a bobina é energizada. O solenoide é utilizado para acionar e
mover mecanicamente um dispositivo qualquer.
De acordo com a lei de Faraday (elaborada por Michael Faraday em 1831), a magnitude
da tensão induzida é proporcional à variação do fluxo magnético, ou seja, a intensidade
da força eletromotriz é cada vez maior quanto mais rápido ocorrer a variação do fluxo
magnético. A indução eletromagnética é a base do funcionamento dos alternadores,
dínamos e transformadores.
Transformador
Transformador é um dispositivo de enorme utilização que permite o ajuste da tensão e
da corrente às necessidades existentes. Os transformadores baseiam-se nos princípios de
eletromagnetismo e da indução eletromagnética. O transformador é um dispositivo que
não tem partes móveis, utiliza a lei de indução de Faraday e não funciona com corrente
contínua.
Logo, um transformador é um equipamento que transforma energia elétrica em
energia elétrica com características diferentes da original, mantendo a independência
elétrica entre as duas tensões do transformador.
O fluxo magnético é criado através de uma bobina, através da qual passa a corrente
elétrica. O valor diferente de tensão é obtido colocando-se uma segunda bobina enrolada
em torno da mesma peça de ferro, bobina esta que será influenciada pelo fluxo
magnético criado pela primeira bobina. A primeira bobina, onde se liga a fonte de
tensão, é chamada de primária e a segunda bobina, onde se busca a tensão diferente, é
chamada de secundária.
Sistema elétrico de uma aeronave
A partir deste tópico o capítulo torna-se mais prático, menos conceitual e
consequentemente menos entediante, pois passaremos a analisar a aplicação do sistema
elétrico na operação do voo e no funcionamento da aeronave.
O sistema elétrico varia significativamente de uma aeronave para outra, portanto, é
altamente recomendado que você leia o manual de operações da aeronave para se
familiarizar com as características pertinentes à aeronave a ser operada. Analisaremos a
seguir o sistema elétrico comum às aeronaves a pistão em geral, no entanto, conforme
mencionado acima, esta análise poderá conter variações em relação aos diversos modelos
existentes.
A maioria das aeronaves a pistão de pequeno porte está equipada com um sistema
elétrico de corrente contínua (DC) de 14 ou 28 volts. O sistema funciona basicamente da
seguinte forma: a corrente elétrica é produzida pelo alternador, quando o motor está em
funcionamento, ou pela bateria, quando o motor está parado. Esta corrente flui pelos fios
e pelos barramentos até atingir os equipamentos que necessitam de energia elétrica para
o seu correto funcionamento. Para a proteção dos equipamentos, o sistema é composto
de disjuntores e fusíveis. O piloto pode acompanhar o funcionamento do sistema através
do amperímetro, e controlá-lo através do master switch localizado no painel da aeronave.
O sistema elétrico básico de uma aeronave é composto por:
- bateria
- alternador
- barramentos e fios
- fusíveis e disjuntores (circuit breakers)
- master switch
- regulador de voltagem
- amperímetro
Os principais equipamentos e instrumentos que necessitam de energia elétrica para o
seu funcionamento são:
- luzes da aeronave (interiores e exteriores)
- rádios
- alguns instrumentos (turn coordinator, horizonte artificial, indicador de quantidade
de combustível)*
- bombas elétricas de combustível
- aquecimento do Pitot (Pitot heat)
- sistema de partida do motor
- acionamento dos flaps (em algumas aeronaves)
* o velocímetro, altímetro, climb e bússola não são alimentados pelo sistema elétrico. Em
algumas aeronaves o horizonte artificial é alimentado pela bomba de vácuo.
Adiante é possível visualizar um diagrama genérico relativo ao sistema elétrico de uma
aeronave a pistão. O manual de operações da aeronave sempre traz um diagrama
parecido ao exposto a seguir, com o arranjo e as características pertinentes à aeronave em
questão, portanto, é conveniente que você analise-o para conhecer melhor o sistema
elétrico da aeronave a ser operada.
* a chave dos aviônicos (avionics master switch) conecta o barramento primário ao
barramento de aviônicos, permitindo a energização dos equipamentos elétricos
conectados a este barramento. Esta chave geralmente fica próxima a Master Switch (na
figura adiante a chave de aviônicos está a direita da master switch).
Bateria
Uma das fontes de energia do sistema elétrico da aeronave, a bateria possui duas
funções básicas no sistema elétrico de uma aeronave:
- prover energia para o acionamento do motor
- fonte auxiliar ou emergencial de energia, para o caso de falha do alternador
A bateria é constituída por um determinado número de células que convertem energia
química em energia elétrica. Os tipos mais comuns de bateria são as de níquel-cádmio e as
de chumbo-ácido.
Alternador
O alternador é a principal fonte de energia do sistema elétrico da aeronave quando o
motor está em funcionamento, uma vez que o alternador é acionado pelo próprio motor.
O alternador inicialmente produz corrente alternada (AC), que posteriormente é
convertida por um retificador em corrente contínua (DC), a corrente utilizada pelo
sistema elétrico das aeronaves de pequeno porte a pistão. A corrente contínua (DC)
produzida é enviada aos barramentos (bus bar), para que os equipamentos eletrônicos da
aeronave possam ser alimentados eletricamente.
Outra importante função do alternador é o recarregamento da bateria, de modo a
mantê-la sempre carregada. A voltagem do alternador é ligeiramente superior a da
bateria para que esta se mantenha completamente carregada pelo sistema elétrico, por
exemplo, uma bateria de 12V é alimentada por um alternador de aproximadamente 14V.
A voltagem de saída do alternador é controlada por um regulador de voltagem.
As aeronaves antigas utilizavam geradores como fonte de energia, no entanto, os
alternadores possuem diversas vantagens (menor peso, facilidade de manutenção e
voltagem constante de saída mesmo em baixas RPM do motor) o que os fez substituir os
antigos geradores.
Barramentos
Os barramentos (bus bar), que são alimentados pelo alternador e pela bateria, são os
centros de distribuição da energia para os equipamentos elétricos da aeronave. Os
barramentos permitem a simplificação do sistema e a diminuição da fiação, pois ocorre a
concentração da distribuição da energia em um ponto comum.
Amperímetro
O amperímetro é o instrumento que o piloto dispõe para monitorar o funcionamento
do sistema elétrico da aeronave. O amperímetro de uma aeronave basicamente indica se
o alternador está gerando energia adequada ao sistema, e se a bateria está sendo
carregada ou não.
Algumas aeronaves não possuem amperímetro, em seu lugar há uma luz de alerta
(vide figura acima) que quando acesa indica uma falha (descarga excessiva da bateria ou
uma falha no alternador) no sistema elétrico.
Há dois tipos de amperímetros, veja:
Este tipo de amperímetro, com o zero (0) ao centro, indica a corrente em ampère
saindo (descarga) ou entrando (carga) na bateria. Veja as possíveis indicações deste tipo
de amperímetro:
- ponteiro a esquerda do zero (negativo): corrente saindo da bateria.
Indica que a energia da bateria está sendo consumida, logo, há
descarga da bateria.
- ponteiro no zero: não há corrente saindo nem entrando na bateria.
- ponteiro a direita do zero (positivo): corrente entrando na bateria.
Indica que a bateria está sendo recarregada.'
Master switch
O Master Switch (ou "interruptor mestre", numa tradução livre) é o interruptor
responsável em controlar todo o sistema elétrico da aeronave, com exceção do sistema de
ignição, que é isolado do sistema elétrico e é alimentado pelos magnetos.
O tipo mais comum de Master Switch é o exibido adiante. Observe que há dois
interruptores, o esquerdo (ALT) que controla o alternador e o direito (BAT) que controla
a bateria.
Magnetos
Um dos componentes mais importantes do sistema de ignição é o magneto, que nada
mais é do que um gerador de corrente alternada acionado pelo próprio motor, que utiliza
um ímã permanente como fonte de energia, sendo completamente isolado do sistema
elétrico da aeronave. Os magnetos geralmente ficam localizados na parte traseira do
motor, conforme é possível visualizar na figura a seguir.
O magneto produz alta voltagem suficiente para forçar uma centelha a saltar entre os
eletrodos da vela em cada cilindro. Sua operação está sincronizada com o motor, de
maneira que a centelha ocorra somente quando o pistão
estiver no curso apropriado em um específico número de graus do eixo de manivelas,
antes do ponto morto alto. Enquanto o motor está girando o magneto é capaz de operar
independente de qualquer outra fonte de energia elétrica, ele precisa apenas da energia
mecânica do motor em movimento para permanecer em funcionamento e poder
alimentar o sistema de ignição com corrente elétrica.
Praticamente todas as aeronaves atuais estão equipadas com um sistema de ignição
duplo, composto por dois magnetos independentes. Cada magneto produz corrente para
uma das duas velas contidas em cada cilindro, conforme é possível visualizar na figura
anterior. Ou seja, o magneto direito alimenta uma das velas de um cilindro e o magneto
esquerdo alimenta a outra vela, isso evita a inoperância total de um cilindro numa
eventual falha em um dos magnetos. A falha em um dos magnetos não afetará o
funcionamento do outro, ocorrerá apenas uma pequena queda na potência gerada pelo
motor.
Este sistema de ignição duplo traz algumas vantagens para a operação do motor, como:
melhor performance, melhor queima da mistura e mais segurança.
Os magnetos são controlados pelo piloto através da chave de ignição localizada no
painel da aeronave, conforme analisaremos a seguir. Ainda neste capítulo veremos como
é realizado o procedimento do cheque dos magnetos em solo.
A seguir analisaremos o princípio de funcionamento de um magneto, e como é o
processo para a geração da alta voltagem que é entregue às velas de ignição do sistema.
Os principais componentes que integram a estrutura de um magneto são:
- imã rotativo
- bobina
- platinado
- ressalto
- condensador
- distribuidor
Velas de ignição
A vela de ignição é a peça responsável em produzir a centelha no interior do cilindro
para que a mistura ar/combustível possa entrar em combustão no momento adequado.
Uma parte da vela na câmara de combustão conduz um impulso de corrente de alta
voltagem entre dois eletrodos produzindo a centelha elétrica.
Os principais componentes de uma vela de ignição são: os eletrodos, o isolante e a
cobertura externa
Há dois eletrodos na composição da vela, o eletrodo central que recebe a alta tensão da
bobina secundária através do distribuidor, e o eletrodo massa que é ligado ao corpo da
vela.
O isolador provê uma proteção em torno do eletrodo. Em adição à isolação elétrica, o
isolador de cerâmica também transfere calor da ponta da cerâmica para o cilindro.
A cobertura externa é resistente à corrosão e possui uma rosca para fixação ao cilindro,
garantindo a fixação plena no conjunto do cilindro evitando vazamento de pressão.
Cada motor pede uma especificação particular de vela, indicada pelo fabricante do
motor. Os tipos de velas de ignição usados em diferentes motores variam em relação ao
calor, faixa de operação, tamanho da rosca e outras características de instalação
requeridas por diferentes motores. A faixa de calor de uma vela de ignição é medida pela
sua capacidade de transferir calor para a cabeça do cilindro. A vela deve operar quente,
permitindo queimar depósitos que podem causar sujeira, entretanto, a uma temperatura
que evite a condição de pré-ignição.
Existem dois tipos principais de velas: as quentes e as frias. As velas quentes possuem
um grande nariz isolador, que cria um longo caminho de transferência de calor. Já as
velas frias possuem um isolador relativamente pequeno, para permitir uma rápida
transferência de calor para a cabeça do cilindro.
Cabos de ignição
Os cabos de ignição possuem um fio isolado para cada cilindro que o magneto supre
no motor. Uma extremidade de cada fio é conectada ao bloco distribuidor e a outra é
conectada à vela apropriada.
O cabo de ignição tem as seguintes funções
- suportar os fios e protege-los de danos devido ao aquecimento do motor, vibração ou
chuva
- servir como um condutor para campos magnéticos desviados, que circundam os fios
enquanto estão carregados momentaneamente com corrente de alta-voltagem
Através da condução destas linhas de força magnéticas à massa, os cabos de ignição
eliminam a interferência elétrica com os rádios e outros equipamentos sensíveis.
Quando o rádio e outros equipamentos elétricos são protegidos desta maneira, diz-se
que a fiação do cabo de ignição está protegida por blindagem. Sem essa blindagem a rádio
comunicação ficaria extremamente exposta à interferência, resultando na inoperância ou
mau funcionamento destes equipamentos.
Chave de ignição
A chave de ignição é a chave que permite ao piloto controlar os magnetos através da
cabine de comando. Nas aeronaves equipadas com motor elétrico de partida (starter), o
piloto também utilizará a chave de ignição para ativar o starter.
Conforme podemos visualizar na figura a seguir, a chave de ignição possui cinco
(motores com starter) possíveis posições, veja:
- OFF (desligado): nenhum magneto selecionado. Posição utilizada após o
desligamento do motor.
- R (right/direito): apenas o magneto direito selecionado. Posição utilizada para a
realização do cheque dos magnetos.
- L (left/esquerdo): apenas o magneto esquerdo selecionado. Posição utilizada para a
realização do cheque dos magnetos.
- BOTH (ambos): ambos os magnetos (R e L) selecionados. Posição normal de
operação, utilizada em condições normais de voo.
- START: acionamento do starter. Posição utilizada apenas durante o acionamento do
motor.
O acionamento do motor
Analisaremos a seguir a parte prática do procedimento de acionamento dos motores,
ressaltando novamente a importante de cumprir estritamente os procedimentos expostos
no manual de operação da aeronave e seus respectivos checklists.
Como atualmente são poucas as aeronaves que não são equipadas com o starter, e,
portanto, requerem o acionamento manual do motor, não vamos detalhar os
procedimentos para o acionamento do motor nestas aeronaves. É conveniente apenas
ressaltar que nestas aeronaves o starter é substituído por uma pessoa que manualmente
irá girar a hélice, o que requer preparo, experiência e o cumprimento rígido dos
procedimentos para este tipo de ação, que se não for realizada de forma correta pode
causar um acidente gravíssimo!
Antes do acionamento do motor alguns procedimentos devem ser realizados:
- ajustar-se no assento de pilotagem de forma adequada
- ajustar e prender os cintos de segurança
- seguir a sequência de checklist da aeronave
- manter os freios aplicados (ou acionar o parking brake)
- fazer uma verificação de 180o para verificar se a área do motor está completamente
livre
- manter a mão direita na manete de potência
- acionar o starter com a mão esquerda
Um procedimento normal de partida não deve durar mais do que 10 segundos, tempo
suficiente para que o motor seja acionado e gire sem o auxílio do starter. Se após 10
segundos o motor não "pegar", volte a chave de ignição para OFF e aguarde um pouco
(cerca de 10 a 30 segundos) para tentar nova partida. O acionamento constante do starter
por um período superior a 30 segundos pode danifica-lo. Se após tentativas sucessivas de
acionamento o motor não pegar, informe o ocorrido ao mecânico para que o mesmo
possa verificar o motivo de tal falha.
Após o acionamento do motor mova a chave de ignição para a posição BOTH, ajuste a
potência em cerca de 1000 RPM para o aquecimento do motor, confira se a pressão do
óleo subiu e prossiga com os checklists aplicáveis.
13
SISTEMA DE PROTEÇÃO CONTRA FOGO
O fogo
O fogo é uma reação química que requer quatro elementos proporcionalmente
combinados para que se origine a chama, são eles:
- calor
- combustível
- comburente
- reação em cadeia
Calor: é uma forma de energia, e consiste no elemento que dá início ao fogo, e faz o
fogo se propagar. Pode ser uma faísca, uma chama, etc.
Combustível: é o elemento, ou material, que queima. O combustível pode ser:
- sólido: tecido, papel, madeira
- líquido: são classificados em voláteis ou não voláteis.
- voláteis: desprendem gases inflamáveis à temperatura ambiente.
Ex.:álcool, éter, benzina, etc.
- não voláteis: desprendem gases inflamáveis a temperaturas maiores do que a
ambiente. Ex.: óleo, graxa, etc.
- gasoso: butano, propano, etano, etc.
Comburente: é o elemento que se combina com os vapores inflamáveis dos
combustíveis, dando origem às chamas e possibilitando a expansão do fogo. Para termos
combustão é necessário um mínimo de 16% de oxigênio, sendo que o ar atmosférico é
composto por cerca de 21%. Abaixo desse percentual (16%) só queimarão materiais que
tiverem oxigênio ligado à sua composição tais como: celuloide, pólvora, etc.
Reação em cadeia: os combustíveis, após iniciarem a combustão, geram mais calor.
Esse calor provocará o desprendimento de mais gases ou vapores combustíveis,
desenvolvendo uma transformação em cadeia ou reação em cadeia, que, em resumo, é
o produto de uma transformação gerando outra transformação.
É importante o conhecimento de algumas temperaturas durante a análise da
combustão e do fogo.
Ponto de fulgor: temperatura mínima para que um combustível libere vapores ou gases
inflamáveis, os quais, combinados com o oxigênio do ar em contato com uma chama,
começam a se queimar, mas a chama não se mantém porque os gases produzidos ainda
são insuficientes.
Ponto de combustão: temperatura mínima para que um combustível desprenda
vapores ou gases inflamáveis que, combinados com o oxigênio do ar e ao entrar em
contato com uma chama se inflamam, e, mesmo que se retire a chama o fogo não se
apaga, pois essa temperatura faz gerar, a partir do combustível, vapores ou gases
suficientes para manter o fogo ou a transformação em cadeia.
Temperatura de Ignição: temperatura em que os gases desprendidos dos combustíveis
entram em combustão apenas pelo contato com o oxigênio do ar, independente de
qualquer fonte de calor.
Classes de incêndios
Os incêndios serão classificados de acordo com as características dos seus
combustíveis. Apenas com o conhecimento da natureza do material que está se
queimando pode-se descobrir o melhor método para uma extinção rápida e segura do
fogo. Empregar um método de extinção errado no combate ao fogo poderá resultar em
consequências graves, por exemplo, o uso do extintor de água em líquidos inflamáveis irá
espalhar o fogo e em fogo de origem elétrica poderá causar choque e morte do indivíduo
que o combate.
Os incêndios são classificados em quatros classe:
Métodos de extinção
Para haver fogo são necessários o combustível, o comburente, o calor e uma reação em
cadeia, portanto, para extinguirmos o fogo, basta retirar um desses elementos.
Retirada de material (isolamento): este é método mais simples, ele consiste na retirada,
diminuição ou interrupção, com suficiente margem de segurança, do material
(combustível) que está queimando e do material que está próximo ao fogo.
Agentes extintores
Os agentes extintores são substâncias químicas sólidas, líquidas ou gasosas, que são
utilizadas na extinção de um incêndio.
A hélice de uma aeronave é formada por duas ou mais pás fixadas no cubo central e a
força necessária para girar as pás é fornecida pelo motor. A hélice é montada em um eixo,
o qual pode ser uma extensão do eixo de manivelas do motor. Em motores de grande
potência, ela é montada em um eixo movido por um trem de engrenagens, acoplado ao
eixo de manivelas do motor.
As hélices são geralmente fabricadas com ligas de alumínio. Em motores de baixa
potência podem-se encontrar hélices de madeira.
A pá da hélice é dividida em seções na forma de aerofólios, e cada uma destas seções
possui um ângulo de torção. As seções localizadas próximas ao cubo possuem maiores
ângulos de torção e nas seções próximas a ponta da hélice o ângulo de torção é menor.
Essa diferença do ângulo da pá ao longo da estrutura da hélice ocorre porque a
velocidade de rotação das seções varia. As seções localizadas próximas à ponta giram
com velocidade superior às localizadas próximas ao cubo. Portanto, os diferentes ângulos
de torção permitem que a tração produzida pela hélice seja relativamente uniforme ao
longo da estrutura das pás.
Nas figuras a seguir podemos visualizar melhor o que vem a ser o ângulo de torção da
pá da hélice, e de como a torção e as características do aerofólio variam ao longo das
seções da pá.
Passo
A cada rotação completa a hélice desenvolve um movimento helicoidal e avança uma
determinada distância, conhecida como passo ou passo teórico.
Porém, devido à velocidade do deslocamento da aeronave a distância avançada pela
hélice acaba sendo menor do que o previsto, o que chamamos de passo efetivo.
A diferença entre o passo teórico e o passo efetivo de uma hélice é denominada de
recuo.
Há alguns tipos específicos de passo que poderão ser encontrados em determinados
modelos de hélices de passo variável, são eles:
Eficiência da hélice
A eficiência de uma máquina é medida pela diferença entre a potência de entrada e a
potência de saída ou produzida, e quanto menor esta diferença maior será a eficiência da
máquina. A eficiência de uma hélice é medida pela diferença entre a potência útil (THP)
pela potência efetiva (BHP), está eficiência varia entre 50 a 87%, dependendo do recuo da
hélice. Quanto menor o recuo da hélice maior será a sua eficiência.
Tipos de hélices
As hélices são classificadas em:
- hélices de passo fixo
- hélices de passo ajustável
- hélices de passo variável (ou, de velocidade constante)
As hélices de passo fixo são divididas basicamente em dois tipos: subida e cruzeiro. As
hélices do tipo subida possuem um passo menor, logo, produzem mais potência,
apresentando melhor performance nas fases de decolagem e subida, mas há uma queda
de performance na fase de cruzeiro. As hélices do tipo cruzeiro possuem um passo
maior, apresentando melhor performance em cruzeiro e penalizando as fases de
decolagem e subida. O tipo da hélice de passo fixo utilizada será determinado pela
finalidade de operação da aeronave.
Numa aeronave equipada com hélice de passo fixo e de passo ajustável, o piloto irá
controlar a potência do motor somente pela manete de potência e terá disponível apenas
um instrumento, o tacômetro, para o monitoramento da potência fornecida pelo motor.
O tacômetro informará a RPM (rotação por minuto) do motor e da hélice, e caberá ao
piloto operar o motor dentro dos padrões estabelecidos pelo manual de operações da
aeronave. Este tipo de hélice é geralmente montada num eixo que é a extensão do eixo de
manivelas, por esta razão a RPM indicada pelo tacômetro refere-se tanto ao motor quanto
à hélice.
Na figura anterior é possível visualizar a maneira pela qual o piloto controla a potência
num motor com hélice de passo fixo. Observe que este controle é muito simples, pois ele
é exercido por apenas uma manete (de potência, geralmente na cor preta) e um
instrumento (o tacômetro). O tacômetro é graduado em centenas de rotações por minuto
(RPM).
Não aplique força (empurrar ou puxar) nas pás ou qualquer outra estrutura das hélices
durante a manobra da aeronave no solo, como por exemplo, a retirada da aeronave do
hangar. Para este tipo de manobra a aeronave possui um "garfo" que é acoplado ao trem
de nariz e áreas específicas designadas pelo fabricante que podem ser utilizadas para
aplicação de força (empurrar ou puxar).
15
INSTRUMENTOS
Os instrumentos são as fontes que o piloto dispõe para controlar, analisar e monitorar
os parâmetros do motor, dos sistemas da aeronave e do voo em si. Dada a importância
que os instrumentos exercem sobre a segurança e a operação de um voo, é fundamental
que o piloto tenha o conhecimento irrestrito dos dados e parâmetros que estão sendo
expostos nestes equipamentos. Esse conhecimento é adquirido pela aprendizagem dos
conceitos básicos relativos aos instrumentos genéricos a qualquer aeronave, e pelo
estudo do manual de operações da aeronave a ser operada, onde será aprendido as
particularidades na operação daquela aeronave.
Neste capítulo analisaremos os instrumentos básicos e genéricos a praticamente todas
as aeronaves, independente de seu porte. O que irá diferir os instrumentos de uma
aeronave para a outra será o grau de modernidade, a disposição e a faixa dos limites de
operação impostos pelo fabricante de cada aeronave.
Mais uma vez fazendo uma analogia com um carro, alguns instrumentos, como o
velocímetro, serão encontrados tanto num Fusca 72 quanto numa Ferrari F550. O que irá
diferir um velocímetro de outro será a sua modernidade (digital ou analógico), as
graduações de velocidade e os limites expostos. Num avião ocorre a mesma coisa, ou
seja, o horizonte artificial presente num bimotor Seneca II terá a função e importância
similar ao do horizonte artificial presente no painel do moderno Boeing 787.
Neste livro nos ateremos a análise básica do princípio de funcionamento de cada
instrumento, não entrando em detalhes sobre a interpretação dos dados fornecidos pelos
mais diversos instrumentos. A interpretação das informações da maioria dos
instrumentos do motor que serão citados neste capítulo, já foi amplamente analisa nos
capítulos anteriores. Para a compreensão dos instrumentos de voo recomendamos o livro
de Navegação Aérea Visual para Piloto Privado, da Editora Bianch, onde será possível
encontrar uma análise mais aprofundada a cerca do assunto. Sempre se lembrando da
importância da leitura cuidadosa do manual de operações da aeronave, a fim de conhecer
as particularidades e limitações de cada instrumento.
Os instrumentos são classificados da seguinte forma:
- instrumentos básicos de voo e de navegação
- bússola1
- giro direcional2
- velocímetro3
- altímetro4
- horizonte artificial5
- variômetro (climb)6
- turn coordinator7
- relógio8
- instrumentos do motor
- tacômetro9
- manifold pressure (indicador da pressão de admissão)10
- termômetros11
- manômetros12
- indicadores de quantidade de combustível13
- indicadores de consumo de combustível14
- instrumentos dos sistemas da aeronave
- instrumentos do sistema elétrico15
- instrumentos do sistema hidráulico*
- instrumentos do sistema de ar condicionado e pressurização*
* estes instrumentos estão presentes apenas em aeronaves turbo-hélice e a jato
Na figura a seguir identificamos os principais grupos de instrumentos presentes numa
aeronave a pistão.
O painel acima nos dá uma amostra clara da evolução constante da aviação. Observe
que no painel de uma aeronave a pistão de pequeno porte é possível encontrar o que há
de mais moderno na tecnologia atual. Cada vez mais os antigos instrumentos analógicos
vão cedendo espaço às telas de LCD que englobam de forma mais nítida, precisa e
organizada os instrumentos de voo, do motor e dos sistemas da aeronave. O EFD é
dividido em duas telas: PFD e MFD. O PFD (primary flight display) exibe basicamente os
instrumentos de voo e de navegação e o MFD (multi-function display) exibe os
instrumentos do motor e dos sistemas, além de englobar outras funções.
Graduação e marcação dos instrumentos
Os diversos instrumentos a bordo da aeronave são graduados em unidades específicas
aos padrões adotados na aviação e ao tipo e porte da aeronave. Por exemplo, os
velocímetros são geralmente graduados em nós (KT), os altímetros em pés (FT), os
tacômetros em RPM, os termômetros em graus Celsius (oC), etc.
As marcações das faixas de operação das indicações exibidas pelo instrumento são
bastante intuitivas, de um modo geral as marcações dos limites operacionais são nas
cores verde, amarelo e vermelho. O verde indica a faixa normal de operação, o amarelo a
faixa de operação com cautela e o vermelho a faixa limite de operação.
Alguns instrumentos possuem graduações ou marcações específicas à operação
daquela aeronave, por este motivo, é fundamental que você estude o manual de
operações da aeronave a ser operada, a fim de conhecer as suas particularidades e
limitações.
Instrumentos básicos de voo e de navegação
Os instrumentos de voo são aqueles instrumentos básicos, indispensáveis em qualquer
aeronave, independente do seu porte. Através destes instrumentos o piloto terá a
informação da situação da aeronave em voo, ou seja, eles lhe informarão a velocidade,
altitude, proa, atitude, se a aeronave esta subindo ou descendo, enfim, todas as
informações básicas e fundamentais para a condução segura de um voo. Os instrumentos
que compõem este grupo são:
- bússola
- giro direcional
- velocímetro
- altímetro
- horizonte artificial
- variômetro (climb)
- turn coordinator
- relógio
Não citamos os instrumentos de navegação (ADF, VOR, ILS, GPS, DME, etc.) na lista
acima pois são instrumentos que merecem um estudo mais aprofundado, e foge do
conteúdo programático para o curso de piloto privado
Quanto ao princípio de funcionamento os instrumentos de voo são divididos em três
categorias básicas:
- instrumentos por pressão (sistema de Pitot estático): são aqueles que utilizam a
variação da pressão do ar como referência para as suas indicações. Ex. velocímetro,
altímetro e climb.
- instrumentos giroscópicos: são aqueles que utilizam as propriedades da inércia
giroscópica como referência. Ex. turn and bank, giro direcional e o horizonte artificial.
- instrumentos magnéticos: são aqueles que utilizam o campo magnético da Terra como
referência. Ex. bússola magnética.
Pressão estática
A pressão atmosférica envolve todo e qualquer corpo na superfície terrestre, e em
qualquer ponto da atmosfera terrestre é possível medir a pressão exercida sobre um
determinado corpo. Para se efetuar esta medição não é necessário que este corpo esteja
em movimento. Na aeronave, as tomadas estáticas são responsáveis em captar a pressão
estática, e em enviá-la para as linhas que alimentam os instrumentos que necessitam
dessa pressão para o seu funcionamento.
A pressão dinâmica varia com a altitude e com o vento relativo. Quanto mais rápido o
vento relativo ou maior a densidade do ar, maior será a pressão dinâmica.
Durante a inspeção externa é importante que você também inspecione o tubo de Pitot,
para verificar alguma possível obstrução. Durante os pernoites, é conveniente que você
proteja o tubo de Pitot com uma capa própria para este fim, cuja finalidade é evitar o
acumulo de impurezas que possam obstruí-lo.
A soma da pressão estática com a pressão dinâmica resultará na pressão total.
DICA: É importante que o tubo de Pitot e a tomada estática estejam sempre
desobstruídos. Insistimos tanto neste assunto pois, o altímetro e o velocímetro são
alimentados por este sistema e uma eventual obstrução causará a indicação errada da
altitude e da velocidade, duas informações imprescindíveis para a condução de um voo
seguro. Portanto, durante a inspeção externa da aeronave no pré-voo, faça uma
verificação cuidadosa deste sistema!
Velocímetro
O velocímetro é o instrumento capaz de calcular a diferença entre a pressão estática e a
pressão dinâmica, e o resultado deste cálculo é a informação da velocidade do
deslocamento da aeronave.
As pressões estática e dinâmica são similares quando a aeronave encontra-se parada,
porém, quando ela começa a se mover a pressão dinâmica torna-se maior do que a
estática. Essa diferença entre as pressões é registrada pelo velocímetro, que devidamente
calibrado, informará através do mostrador a velocidade da aeronave, geralmente medida
em nós (kt).
Na figura a seguir é possível visualizar de forma mais clara o funcionamento interno
do velocímetro.
Altímetro
Um dos principais instrumentos de uma aeronave, o altímetro é o instrumento
responsável pela navegação vertical, ou seja, informa ao piloto a altitude da aeronave
para que possa ser mantida uma separação segura entre o solo e as outras aeronaves,
quando em voo.
O climb utiliza a pressão fornecida pela linha da tomada estática. Esta pressão é jogada
para dentro da caixa do instrumento, onde há uma cápsula aneroide sensível às variações
de pressão. À medida que a pressão diminui ou aumenta, essa cápsula transmite a razão
com que isso ocorre através do ponteiro do mostrador calibrado em centenas de pés por
minuto.
A figura a seguir ilustra o funcionamento do interior do instrumento climb.
Falha no sistema de Pitot estático
Como é de nosso conhecimento o sistema de Pitot estático é formado basicamente pelo
tubo de Pitot e pela tomada estática, ambos localizados na parte externa da aeronave.
Qualquer obstrução nestas superfícies, geralmente causada pela formação de gelo, irá
provocar a indicação errônea e imprecisa destes três importantes instrumentos
(velocímetro, altímetro e climb), algo muito grave, principalmente se o piloto estiver
voando exclusivamente por instrumentos (IMC).
Analisaremos a seguir o que a falha em cada uma das tomadas do sistema de Pitot
estático irá provocar na indicação dos instrumentos, desta forma, você, piloto, poderá
tomar conhecimento sobre tal falha e agir de acordo com a situação.
Giroscópios
Alguns instrumentos utilizam as propriedades dos giroscópios para o seu correto
funcionamento, dentre eles o turn coordinator, o horizonte artificial e o giro direcional.
Para que possamos compreender melhor como estes instrumentos funcionam,
precisamos primeiro analisar o princípio de funcionamento dos giroscópios. O uso do
giroscópio adaptado aos instrumentos de voo e navegação permite a realização de um
voo mais preciso nas mais variadas condições de voo.
Um giroscópio consiste basicamente de uma massa (roda, disco ou volume) que gira
livremente em torno de seu eixo, em uma ou mais direções. Quando em repouso, o
giroscópio é simplesmente uma roda que pode ser girada em qualquer direção sem que
seja alterado o centro geométrico do conjunto. No entanto, quando o rotor passa a girar
velozmente aparece a primeira das duas propriedades do giroscópio, a rigidez no espaço.
A rigidez no espaço ou inércia giroscópica é a tendência do rotor do giroscópio em manter
o seu alinhamento inicial no espaço, com o rotor em alta velocidade, independente da
posição ou movimentação do suporte. Essa propriedade permitirá que o rotor permaneça
estável em seu plano de rotação inicial qualquer que seja a movimentação da aeronave,
tornando-o a base para o funcionamento dos instrumentos que indicam direção (giro
direcional) e atitude (horizonte artificial).
A rigidez será afetada por alguns fatores, como: peso da massa, velocidade da rotação,
raio no qual o peso está concentrado e a fricção do rolamento.
A segunda propriedade do giroscópio é a precessão. A precessão é o giro ou
movimento do rotor em resposta a uma força que lhe foi aplicada. No entanto, a reação a
esta força não ocorrerá no ponto em que ela foi aplicada, mas num ponto a 90o em
relação à direção da rotação.
A precessão pode resultar em pequenos erros em alguns instrumentos, sendo
requerido o realinhamento durante o voo. O giro direcional é um dos instrumentos que
requerem um realinhamento constante. Analisaremos a seguir como é realizado este
realinhamento.
Turn coordinator
Também conhecido como inclinômetro, o turn coordinator tem duas funções, indicar a
velocidade de inclinação da curva (e não o ângulo de inclinação) e a coordenação da
curva.
O avião ao centro do instrumento tem a função de indicar a velocidade de inclinação da
curva, e a bola logo abaixo, indica a coordenação da curva.
Como em praticamente todos os movimentos de uma aeronave, a curva também
necessita de um movimento sincronizado entre manche (aileron) e pedal (leme). Se
durante a curva uma destas superfícies de comando for utilizada em excesso ou de forma
insuficiente, a curva será descoordenada e a aeronave irá glissar ou derrapar.
O turn coordinator é o instrumento que auxilia o piloto a manter a curva coordenada,
pois através dele o piloto terá como visualizar se a aplicação do pedal está sendo correta
ou não.
Horizonte artificial
Conhecido também como indicador de atitude, o horizonte artificial também utiliza os
princípios de giroscópio em seu funcionamento.
A função básica deste instrumento é indicar a atitude da aeronave em relação ao
horizonte, ou seja, reproduzir o imenso horizonte que o piloto pode visualizar quando
em condição VMC, em um instrumento de poucos centímetros.
Giro direcional
A bússola magnética é o indicador primário de direção das aeronaves. Porém, em
alguns casos, como em áreas de turbulência, a leitura da proa na bússola torna-se um
pouco difícil e confusa, tornando a navegação menos precisa.
O giro direcional é um instrumento giroscópico, que auxilia o piloto a manter a proa
magnética da aeronave de forma mais precisa e eficaz, pois a leitura da proa é mais fácil e
apresenta menos variações e erros. Basta compararmos a figura acima com a figura da
bússola a seguir, para constatarmos como o giro direcional dá ao piloto uma visão
acurada da posição e da orientação da aeronave.
Alinhamento do giro direcional
Há, porém, um fator mecânico presente no giro direcional, causado pela precessão do
giroscópio, que pode provocar um afastamento do alinhamento do instrumento com o
norte magnético. Este erro varia de um instrumento para outro, e a incorreta lubrificação
ou sujeira pode aumentar de forma expressiva este desvio do alinhamento original.
Para corrigir este desvio, há um botão no canto inferior esquerdo do instrumento,
como é possível notar na figura acima. A correção do desvio deverá ser feita no solo com
a aeronave parada, ou em voo, com a aeronave nivelada e mantendo a proa constante.
Para realizar este ajuste o piloto deverá inserir no giro direcional, através do botão de
ajuste, a mesma proa indicada pela bússola magnética.
É importante que o piloto confira a proa indicada no giro direcional com a proa da
bússola magnética em intervalos de não mais do que 15 minutos. Se for constatada uma
diferença, o piloto deverá realizar o procedimento de ajuste descrito acima.
Cheque do giro direcional
Durante a preparação da cabine, o piloto deverá ajustar o giro direcional de acordo
com as indicações da bússola magnética, conforme descrito acima.
No momento do táxi da aeronave, o piloto deve verificar se o giro direcional está
indicando a variação de proa na direção correta, conforme a aeronave efetua curvas
durante o táxi.
É importante ressaltar que na maioria dos aviões, o giro direcional assim como todos
os instrumentos giroscópicos, é alimentado pela bomba de vácuo, portanto, para que
estes instrumentos funcionem corretamente é necessário que a bomba de vácuo também
esteja operando corretamente. Para checar o funcionamento da bomba de vácuo,
verifique o instrumento que indica a pressão de sucção, que deverá estar entre 4.5 e 5.5
inHg. Valores menores poderão causar defasagem nos instrumentos giroscópicos.
Bússola magnética
Instrumento básico de navegação e orientação presente em qualquer aeronave, a
bússola magnética é um dos instrumentos de navegação mais antigos, cuja finalidade é a
indicação de direções magnéticas na superfície terrestre.
Descoberta aproximadamente em 2.000 a.C pelos chineses, a bússola é composta
basicamente por uma agulha magnética apoiada no seu centro a uma superfície circular
graduada de 000o a 360o, livre para girar em torno de um eixo vertical, flutuando em uma
cuba cheia de um líquido, que pode ser uma mistura de água e álcool (para não congelar)
ou um destilado fino de petróleo.
Um conjunto de imãs é fixado no lado inferior da rosa dos ventos, alinhado com o seu
eixo norte-sul. A cuba é feita em material amagnético e nela é gravada a linha de fé, uma
referência para a leitura de direções, que deve ser rigorosamente alinhada com o eixo
longitudinal da aeronave.
O funcionamento da bússola funciona da seguinte forma: os imãs da agulha tendem a
se alinhar com as linhas de força do campo magnético da Terra existentes no local. Estas
linhas de força, denominadas de Meridianos Magnéticos, indicam a direção do norte
magnético no local. Portanto, o ângulo indicado na rosa dos ventos entre a linha de fé e a
linha norte-sul da agulha, será igual ao ângulo entre a proa da aeronave e o norte
magnético.
Uma agulha magnética livremente suspensa, quando situada em terra, em local isento
de outras influências magnéticas, permanece orientada na direção do meridiano
magnético (linha de força do campo magnético terrestre). A bordo, porém, existem
outros campos magnéticos, provenientes dos ferros e aços dos quais a aeronave é
construída e dos equipamentos elétricos instalados. E estes outros campos magnéticos
podem provocar um desvio da agulha magnética contida na bússola, e
consequentemente um erro na indicação da direção. O cartão contendo os valores do
desvio bússola fica localizado próximo à bússola, e seus valores variam de uma aeronave
para outra.
Relógio
Presente no painel de todas as aeronaves, o relógio é um instrumento simples, porém
de grande utilidade na navegação aérea. Os relógios utilizados na aviação variam muito
de um modelo para outro, porém, praticamente todos vêm equipados com cronômetro, o
que auxilia muito o piloto durante a navegação e em determinados procedimentos.
Na preparação da aeronave para o voo é importante verificar se a hora indicada pelo
relógio da aeronave está correta, ou seja, representa a hora UTC ou Zulu. Caso você tenha
dúvida quanto à hora correta, basta solicitar esta informação à torre de controle do
aeródromo (solicite a “hora certa”).
Alguns instrumentos de voo analisados, como o giro direcional e o horizonte artificial,
provavelmente não serão encontrados no painel de algumas aeronaves disponíveis para o
treinamento de piloto privado, como é o caso do “Paulistinha” e do AB-115. No entanto,
isso não afetará o treinamento, uma vez que, nessa fase o principal objetivo é o
aprendizado dos princípios básicos da pilotagem, além do fato de que todos os seus voos
serão realizados em condições visuais (VMC). Tais instrumentos serão fundamentais
mais a frente, durante o treinamento de voo por instrumentos.
Instrumentos do motor
Os instrumentos do motor são aqueles que exibem os parâmetros de funcionamento
do motor, como: temperatura e pressão do óleo, consumo de combustível, RPM, etc. A
maioria destes instrumentos já foram amplamente analisados ao longo deste livro, e
como sabemos, estes instrumentos são necessários para que o funcionamento do motor
seja constantemente monitorado, a fim de evitar eventuais surpresas durante o voo.
A graduação e a faixa de operação dos instrumentos do motor variam de uma aeronave
para outra, portanto, opere sempre dentro dos padrões e limites estipulados pelo manual
de operações da aeronave.
Os principais instrumentos do motor são:
- tacômetro
- manifold pressure (indicador da pressão de admissão)
- termômetros
- manômetros
- indicadores de quantidade de combustível
- indicadores de consumo de combustível
A seguir a ilustração dos principais instrumentos do motor. Os instrumentos
localizados a esquerda referem-se aos modernos MFD (multi-function display) das
aeronaves equipadas com EFD (eletronic flight display), e os instrumentos localizados a
direita referem-se aos instrumentos analógicos.
Não faremos uma análise detalhada sobre cada instrumento, pois todos eles já foram
analisados ao longo deste livro.
Instrumentos dos sistemas da aeronave
Estes instrumentos exibem os parâmetros de funcionamento dos diversos sistemas da
aeronave. Nas aeronaves a pistão não há uma complexidade elevada de sistemas que
requeira um monitoramento efetivo e constante, portanto, vamos encontrar apenas
alguns instrumentos do sistema elétrico compondo esta classe de instrumentos.
Encontraremos uma vasta quantidade de instrumentos dos sistemas em aeronaves a
jato, onde o piloto deve realizar o monitoramento constante de diversos sistemas, como:
pressurização, ar condicionado, hidráulico, elétrico, controles de voo, combustível, etc.
Na segunda parte deste livro, relativa ao curso de Piloto Comercial, analisaremos de
forma detalhada alguns destes instrumentos citados acima.
16
MANUTENÇÃO DE AERONAVES
Boletim de serviço
Documento emitido pelo fabricante do produto aeronáutico (aeronave, motor,
equipamento e componente), com o objetivo de corrigir falha ou mau funcionamento
deste produto ou nele introduzir modificações e/ou aperfeiçoamentos, ou ainda visando
à implantação de ação de manutenção ou manutenção preventiva aditiva àquelas
previstas no programa de manutenção básico do fabricante.
Um boletim de serviço, mesmo classificado como "mandatório" pelo fabricante,
somente terá caráter mandatório quando a ANAC ou a autoridade aeronáutica do país de
origem do produto aeronáutico emitir uma Diretriz de Aeronavegabilidade ou
estabelecer no próprio boletim de serviço o seu caráter mandatório, ou quando
incorporado por referência através de outro documento mandatório. Exceção se faz nos
casos dos boletins de serviço emitidos pelos fabricantes de produtos aeronáuticos que
tratam do estabelecimento de limites de tempo calendárico, horário, ciclos ou qualquer
outro referêncial de controle de sistemas ou componentes, que neste caso terá
cumprimento “mandatório”.
Diretriz de aeronavegabilidade
Também conhecida como Airworthiness Directives (ADs), a Diretriz de
Aeronavegabilidade (DA) é o documento emitido ou adotado pela ANAC que contém
ações de segurança operacional a serem executadas em um produto aeronáutico com o
objetivo de restaurar o nível aceitável de segurança operacional, quando evidências
demonstram que este nível aceitável possa estar comprometido. O seu cumprimento é
obrigatório conforme descrito no RBAC 39.
Inspeção pré-voo
A inspeção pré-voo é um procedimento obrigatório e realizado pelo piloto de acordo
com o manual de operações da aeronave, onde constarão os itens a serem verificados.
Qualquer anormalidade encontrada deve ser reportada ao mecânico responsável.
A Seguir a lista de verificações da inspeção pré-voo da aeronave Seneca III, observe que
nesta lista há uma série de itens a serem analisados e qualquer anormalidade ou dúvidas
sobre a integridade de qualquer parte ou superfície da aeronave, informe imediatamente
ao mecânico, nunca inicie um voo se você estiver com qualquer dúvida ou suspeita sobre
a integridade da aeronave!
Geralmente o checklist da inspeção pré-voo das aeronaves trazem a ilustração dos
locais a serem verificados pelo piloto, bem como a sequência adequada. A figura a seguir
se refere à aeronave Seneca III.
Inspeção pré-voo (Seneca III)
Cabine de comando
Compensadores - Em neutro
Inspeção externa
Asa Direita
Pneu - Verifique
Hélice - Verifique
Nariz
Pneu - Verifique
Asa esquerda
Cone de cauda
Empenagem - Verifique
Antenas - Verifique
Diário de bordo
É o livro de registro de voo, jornada e ocorrências da aeronave e de seus tripulantes,
em conformidade com o estabelecido no CBA (Código Brasileiro de Aeronáutica). O
diário de bordo é um dos itens a serem checados pelo piloto durante o pré-voo, e a sua
presença a bordo da aeronave é obrigatória para o voo. É através do diário de bordo que o
piloto poderá ter acesso ao histórico recente da aeronave.
Neste capítulo você terá a oportunidade realizar diversas questões referentes aos
assuntos abordados neste livro. São aproximadamente 200 questões no formato das
questões da prova teórica da ANAC.
Recomendamos também que você pratique através do livro “Simulado de Provas para
Piloto Privado”, também da Editora Bianch Pilot Training. São aproximadamente 2.000
questões, no formato de prova, relativas às cinco matérias que compõem a prova teórica
da ANAC.
6) Uma aeronave cuja sua performance lhe permite pousar e decolar na vertical é
classificado como:
a) STOL
b) VTOL
c) CTOL
d) ATOL
9) A maior parte dos esforços estruturais sofridos pela asa são absorvidos pela(o):
a) longarina
b) ponta da asa
c) revestimento
d) ailerons
15) Tipo atualmente mais utilizado de fuselagem, composto por cavernas, longarinas e
reforçadores:
a) semimonocoque
b) treliça
c) monocoque
d) convencional
22) Dispositivo que atua no extradorso da asa, cuja finalidade é o aumento do arrasto:
a) flap
b) spoiler
c) slat
d) slot
26) O movimento em voo da aeronave sobre os três eixos é realizado através das(os):
a) superfícies de controle secundárias
b) superfícies de controle primárias
c) superfícies hipersustentadoras
d) superfícies de controle geral
31) Ao mover o manche para frente e para trás o piloto está atuando no:
a) profundor
b) pedal
c) aileron
d) leme
33) Se o cabo de uma superfície de comando estiver com muita tensão, qual será a
consequência na pilotagem:
a) comandos mais frouxos
b) ausência de comandos
c) comandos muito duros e pesados
d) não há nenhum efeito aparente
36) Superfícies que tem a função de eliminar pequenas tendências da aeronave em voo
além de reduzir a força requerida para a atuação dos comandos, são denominadas:
a) superfícies primárias
b) superfícies principais
c) superfícies secundárias
d) apenas A e B estão corretas
41) O tipo de trem, com relação a mobilidade, que permite a melhor performance da
aeronave durante o voo, é denominada:
a) fixo
b) escamoteável
c) convencional
d) retrátil
42) Aviões que operam tanto no meio terrestre quanto no meio aquático, são
denominados:
a) aviões terrestres
b) aviões anfíbio
c) hidroaviões
d) aviões aquáticos
46) A parte do amortecedor que mantem as pernas de força direcionadas para a frente,
mantendo o alinhamento da roda, é denominada:
a) tesoura de torção
b) haste
c) agulha
d) cilindro
50) Os freios das rodas são acionados pelo piloto através da(o):
a) manche
b) pedal
c) alavanca do speedbrake ou spoiler
d) todas as anteriores
52) Num avião cujo trem de pouso é convencional, o controle de direção no solo é
realizado através da(o):
a) bequilha
b) trem de nariz
c) trem principal
d) manche
58) Se um determinado motor consome 100 litros/h, estamos nos referindo a(o):
a) consumo específico
b) consumo horário
c) consumo total de combustível
d) todas as anteriores
62) Com relação a disposição dos cilindros, um motor convencional pode ser
classificado como:
a) radial
b) em V
c) em linha
d) todas anteriores
72) A distância entre o ponto morto superior (PMS) e o ponto morto inferior (PMI) é
denominada:
a) cilindrada
b) volume
c) curso
d) fase
74) O único tempo, num motor de quatro tempos, que efetivamente produz potência,
é:
a) admissão
b) tempo motor
c) escapamento
d) compressão
75) À medida que o pistão move-se do PMI para o PMS empurrando os gases
queimados, no tempo de escapamento, a pressão no cilindro irá:
a) aumentar
b) diminuir
c) permanecer constante
d) varia de um cilindro para outro
76) Após a queima do combustível, com a descida do pistão do PMS para o PMI, a
pressão dentro do cilindro irá:
a) diminuir
b) permanecer constante
c) aumentar
d) impossível de se determinar
77) Após completados os quatro tempos e as seis fases, o eixo de manivelas terá girado
um total de:
a) 180o
b) 360o
c) 540o
d) 720o
78) As fases que ocorrem durante os quatro tempos de um ciclo, são respectivamente:
a) admissão, compressão, tempo motor e escapamento
b) admissão, compressão, ignição, combustão, expansão e escapamento
c) admissão, compressão, tempo motor, combustão e expansão
d) admissão, compressão, combustão, expansão e escapamento
79) O tempo em que corre a expulsão dos gases queimados dentro de um cilindro,
chama-se:
a) expansão
b) escapamento
c) ignição
d) combustão
80) Após completada a primeira fase, o eixo de manivelas terá girado um total de:
a) 270o
b) 360o
c) 90o
d) 180o
81) O volume total deslocado pelo pistão entre o PMI e o PMS, multiplicado pelo
número de cilindros do motor, é denominado:
a) curso
b) volume do cilindro
c) cilindrada
d) torque
82) As modificações que resultam no ciclo real de um motor a quatro tempos tem a
finalidade de:
a) diminuir a rotação do motor
b) eliminar uma das fases do ciclo de Otto
c) melhorar a eficiência do motor
d) todas as anteriores
83) Durante o ciclo real de um motor a pistão, o momento em que as duas válvulas
estão abertas é chamado de:
a) cruzamento de válvulas
b) avanço da válvula
c) retardo da válvula
d) disparo da válvula
87) O eixo de manivelas e o cilindro são suportados e fixados no motor através do:
a) balancim
b) cárter
c) mancal
d) coxim
91) A fim de evitar o vazamento de gases sob pressão e reduzir ao mínimo a infiltração
de óleo na câmara de combustão, são instalados na saia do pistão as(os):
a) compressores de ar
b) anéis de segmento
c) câmaras de vedação
d) nenhuma das anteriores
98) 172) Quando o volume do cilindro estiver limitado apenas ao volume da câmara de
combustão, o pistão estará:
a) no PMI
b) no PMS
c) a meio curso
d) impossível de se determinar
112) O sistema de lubrificação que é composto por uma bomba de óleo, é do tipo:
a) por pressão
b) por salpique
c) cárter cheio ou molhado
d) todos os acima estão corretos
116) Após o acionamento do motor o piloto percebe que não houve indicação de
pressão do óleo, o correto procedimento é:
a) prosseguir com o voo e reportar o ocorrido no livro de bordo
b) cortar o motor e informar o ocorrido ao mecânico responsável
c) prosseguir com o voo, porém utilizar a mistura sempre rica
d) manter o motor girando por 15 minutos, caso não haja indicação de pressão do
óleo neste período, cortar o motor e informar o mecânico
123) O sistema responsável em admitir, filtrar e aquecer o ar externo que será utilizado
na mistura ar/combustível, chama-se
a) sistema de admissão
b) sistema de condução
c) sistema de mistura
d) sistema de refrigeração
125) Em elevadas altitudes qual dos motores abaixo terá melhor desempenho:
a) superalimentado
b) não-superalimentado
c) aspirado
d) a altitude não afeta o desempenho do motor a pistão
136) O regime ideal de cruzeiro de determinada aeronave pode ser consultado na(o):
a) RBAC 91
b) livros técnicos aeronáuticos
c) manual de operações da aeronave
d) RAB
138) Num motor superalimentado, onde o compressor é acionado por uma turbina,
esta aproveita:
a) a energia proveniente dos gases de escapamento
b) a energia proveniente do eixo de manivelas
c) a energia elétrica produzida pelo alternador
d) nenhuma das anteriores
144) Num tubo de Venturi, presente no carburador, quanto mais veloz o fluxo de ar no
estreitamento:
a) menor a pressão estática
b) maior a pressão estática
c) não há alteração na pressão estática
d) impossível de se determinar
152) O sistema no qual o combustível é injetado dentro dos cilindros pelos bicos
injetores é o:
a) sistema de injeção indireta
b) sistema de carburação
c) sistema de injeção direta
d) todas as anteriores
165) Um motor que utiliza gasolina 100/130, é abastecido erroneamente com gasolina
80/87, a consequência deste fato poderá ser:
a) a detonação do motor
b) o acumulo de chumbo nas velas
c) o resfriamento excessivo do cilindro
d) falha de ignição
169) No caso de falha do alternador em voo, qual dispositivo irá suprir a energia da
aeronave?
a) solenoide
b) gerador
c) bateria
d) barramentos
175) A tensão alternada pode ser alterada, ou seja, aumentada ou diminuída, através
do:
a) alternador
b) dínamo
c) transformador
d) gerador
178) A fonte de força que converte energia química em energia elétrica, é a(o):
a) dínamo
b) diodo
c) transformador
d) bateria
179) Para proteger os sistemas elétricos da aeronave de danos ou falhas, causados por
corrente excessiva, são instalados dispositivos de proteção, como:
a) fusíveis
b) disjuntores
c) circuit-breakers
d) todas as anteriores
199) Após a partida do motor o piloto percebeu a presença de fogo no motor, nesta
situação deve-se:
a) frear a aeronave e abandoná-la o mais rápido possível
b) solicitar a presença de bombeiros à torre de controle
c) mover a manete de mistura para idle cut-off
d) acelerar o motor para aumentar a ventilação na estrutura do motor
200) Nos motores equipados com hélice de passo fixo o piloto controlará a RPM
através da:
a) manete de hélice
b) manete de mistura
c) manete de condição
d) manete de potência
201) Qual das hélices possui maior eficiência nas mais variadas condições de voo:
a) hélice de passo fixo
b) hélice de passo ajustável
c) hélice de passo variável de velocidade constante
d) a eficiência é a mesma, independente do tipo da hélice
202) Nos motores equipados com hélice de passo variável de velocidade constante o
piloto controlará a RPM através da:
a) manete de hélice
b) manete de mistura
c) manete de condição
d) manete de potência
206) Durante o voo em uma aeronave bimotora ocorre a parada de um dos motores,
neste caso o piloto utilizará qual passo no motor inoperante:
a) passo chato
b) passo máximo
c) passo bandeira
d) passo reverso
210) Uma obstrução na linha de pressão dinâmica proveniente do tubo de Pitot afetará
os seguintes instrumentos:
a) climb e altímetro
b) altímetro e bússola
c) climb e horizonte artificial
d) apenas o velocímetro
219) A troca de uma peça do motor, devido a quebra, é caracterizada como uma
manutenção:
a) externa
b) preventiva
c) corretiva
d) programada
PILOTO COMERCIAL
18
MOTORES A REAÇÃO
Neste capítulo aprofundaremos a análise dos motores a reação, onde faremos o estudo
dos tipos de motores, os princípios de funcionamento, as principais características, os
componentes e os seus instrumentos.
Atualmente, os motores a reação equipam praticamente todas as aeronaves de alta
performance, por ter como principal característica a elevada potência gerada. Com o
avanço tecnológico os fabricantes estão desenvolvendo e equipando até mesmo
aeronaves de pequeno porte com este tipo de motor, podemos encontrar aeronaves com
capacidade para 4 passageiros (Very Light Jets - VLJ) equipadas com motores a reação,
algo improvável até pouco tempo atrás.
Um motor a reação pode ter o seu funcionamento comparado com um motor
convencional porque em ambos temos praticamente as mesmas fases operacionais. No
entanto, a principal diferença relativa ao funcionamento de um motor a reação se
comparado com os motores convencionais, está no modo e no local onde as fases
operacionais acontecem.
Em um motor convencional as fases ocorrem intermitentemente no interior de um
cilindro, e nos motores a reação as fases ocorrem de maneira contínua.
Num motor a reação existe seções independentes para cada fase, de modo que elas
ocorram de forma contínua e sem interrupções. A potência nestes motores é produzida
pela aceleração do ar que passa pela estrutura do motor. Esta é outra diferença, pois os
motores a reação deslocam uma quantidade relativamente pequena de massa de ar a uma
velocidade elevada.
A figura a seguir ilustra claramente as diferenças citadas nos parágrafos acima.
Tipos de motores
Os motores a reação são classificados de acordo o direcionamento do fluxo de ar
dentro do motor e a forma com que a potência é gerada. Os três principais tipos de
motores a reação em operação atualmente são:
- turbojato
- turbofan
- turbo-hélice
Turbojato
Estes motores têm sua força propulsiva conseguida unicamente através dos gases de
escapamento. Por esse motivo são também conhecidos como motores de jato puro.
Basicamente o compressor acelera o fluxo de ar e o envia à câmara de combustão, onde
ocorre a ignição que gera a combustão e a expansão dos gases. Esses gases expandidos
geram potência e também proporcionam energia para que a turbina gire e mantenha o
motor no ciclo de funcionamento.
Os turbojatos são reatores que desenvolvem boa força propulsiva, podendo inclusive
portar dispositivos de pós-combustão, o que permite um acréscimo 90% maior de
potência nas decolagens ao nível do mar. Porém, em voo de baixa altitude e velocidade,
consomem quantidade demasiada de combustível, limitando o alcance e a performance
da aeronave, além de apresentarem excessivo nível de ruído.
Devido a estas desvantagens citadas, os motores turbojato são muito pouco utilizados
atualmente, ficando restritos às aeronaves antigas, como o: Boeing 737-200, Boeing 727 e
Boeing 707.
Turbofan
Podemos dizer, que de certa forma, os motores Turbofan (fan = ventilador, em inglês)
são a combinação perfeita entre as melhores características do Turbojato e do Turbo-
hélice. Estes motores foram desenvolvidos com uma grande área de admissão de ar,
permitindo que uma maior quantidade de ar seja admitida. A maior parte desta massa de
ar é desviada da câmara de combustão,
proporcionando maior potência, maior resfriamento do motor e diminuição do nível de
ruído.
Turbo-hélice
Os motores Turbo-hélice são basicamente um motor a reação equipado com uma hélice
e caixa de engrenagens. Este tipo de motor apresenta ótima eficiência e performance em
determinadas condições, como por exemplo: voo com velocidade menores (entre 210 e
350kt) e altitudes entre 18.000 e 30.000 pés. Apresentam também boa performance em
fases do voo de baixa velocidade (pouso e decolagem)
Duto de admissão de ar
O duto de admissão tem a finalidade de admitir e ordenar o fluxo de ar que será
entregue ao compressor.
Compressor axial: este tipo de compressor é composto por duas partes principais: o
rotor e o estator.
O rotor é a parte móvel do compressor, que consiste de pás fixas a um eixo. Estas pás
funcionam como a hélice de um motor a pistão, impulsionando a massa de ar para os
estágios seguintes. A cada estágio (par consecutivo de pás do rotor e do estator) ocorre o
aumento da taxa de compressão da massa de ar que será entregue ao estágio seguinte,
até que se atinja a câmara de combustão. Alguns compressores chegam a ter mais de 16
estágios e taxa de compressão de 25:1. Quanto maior o número de estágios maior será a
taxa de compressão.
O estator é composto de palhetas (ou pás) fixas cuja função é receber a massa de ar do
duto de admissão, ou do estágio anterior, e ordenar este fluxo de ar para o rotor do
estágio seguinte, de modo a manter a eficiência da compressão do ar em cada estágio. Em
seguida a massa de ar é entregue com velocidade e pressão adequadas para o estágio
seguinte ou para a câmara de combustão.
Para que ocorra o correto funcionamento do motor o fluxo de ar em cada estágio do
compressor deve ser uniforme, com pressão e velocidade adequadas a cada estágio. A
perturbação deste fluxo de ar pode ocasionar um fenômeno conhecido como stall de
compressor, conforme analisaremos a seguir.
As pás dos rotores são aerofólios e estão suscetíveis aos princípios de aerodinâmica
inerentes a qualquer aerofólio, assim como ocorre, por exemplo, com as asas. E assim
como ocorre com as asas do avião, quando o ângulo de ataque crítico das pás é excedido
há o turbilhonamento do fluxo de ar e variação de pressão, resultando no stall de
compressor.
O stall de compressor geralmente está associado à:
- barulho anormal do motor, com fortes estouros ("bang-bang");
- indicação anormal dos parâmetros do motor, como diminuição e variação da rotação e
aumento da EGT; e
- resposta deficiente do motor aos comandos efetuados na manete de potência.
A figura a seguir ilustra parte do checklist do Boeing 737Ng, referente ao stall de
compressor. Achamos interessante a inserção deste checklist para que você veja como as
panes e anormalidades citadas neste livro são gerenciadas e solucionadas na prática. Por
este motivo é fundamental que o piloto tenha total conhecimento da aeronave que irá
operar, de modo a conseguir gerenciar qualquer situação anormal com calma e dentro do
previsto pelo fabricante.
Neste checklist a Boeing lista as condições que comprovam a existência desta
anormalidade, o objetivo do referido checklist e as ações que o piloto deverá adotar para
tentar corrigir esta pane.
Falamos anteriormente sobre a função secundária dos compressores de um motor a
reação, a utilização da sangria de ar (Bleed Air). A sangria de ar é obtida a partir de um ou
mais estágios de compressão, por exemplo, no Boeing 737Ng a sangria de ar é obtida dos
estágios 5 e 9. A sangria de ar permite o funcionamento de outros sistemas da aeronave,
como:
- ar condicionado;
- pressurização;
- anti-ice e de-ice;
- partida pneumática dos motores; e
- pressurização dos reservatórios do sistema hidráulico.
Câmara de combustão
Após passar pelo compressor o ar é entregue em pressão adequada à câmara de
combustão, onde ocorrerá a mistura ar/combustível e a queima. Este processo libera a
energia contida na mistura ar/combustível, que será utilizada pelas turbinas. A maior
parte dessa energia é utilizada pela turbina que está acoplada aos compressores, a
energia restante é absorvida pelos estágios da turbina acoplados ao fan (motor turbofan)
ou a hélice (motor turbo-hélice).
Apenas parte do fluxo de ar que entra na câmara de combustão é utilizada na queima.
O fluxo de ar que entra na câmara é dividido em duas partes: ar primário (ou ar de
combustão) e ar secundário (ou ar de resfriamento).
O fluxo de ar primário (cerca de 25%) é utilizado na queima da mistura ar/combustível.
O fluxo de ar secundário (cerca de 75%) mistura-se com os gases quentes provenientes
da queima, na parte traseira da camisa de combustão. O fluxo de ar secundário resfria o
ar da combustão (de cerca de 1700oC para 820oC), permitindo a entrega dos gases em
temperatura adequada à turbina.
Uma câmara de combustão deve prover:
- queima total e eficiente da mistura ar/combustível;
- controle da temperatura dos gases, evitando excesso de calor e mantendo os gases
dentro dos limites de temperatura determinados pelo fabricante; e
- distribuição dos gases quentes em temperatura adequada para a seção da turbina.
Turbina
A turbina é responsável em absorver a energia proveniente dos gases queimados na
câmara de combustão e transmiti-la ao compressor, ao fan (motor turbofan), à hélice
(motor turbo-hélice) e aos demais acessórios do motor. A turbina é produzida com
materiais altamente resistentes ao calor, de modo a suportar as elevadas temperaturas
dos gases provenientes da câmara de combustão.
Assim como ocorre no compressor, a turbina possui uma parte fixa (estator) e outra
móvel (rotor), no entanto, apenas são utilizados eixos do tipo axial.
Nos motores atuais as turbinas são constituídas de múltiplos estágios, onde a turbina
de alta pressão é acoplada ao compressor e a turbina de baixa pressão é acoplada ao fan
(ou à hélice) e aos demais acessórios do motor. Veja a figura a seguir.
Seção de escapamento
Localizada na parte traseira do motor a seção de escapamento é composta por diversas
partes, cuja função primária é direcionar o fluxo dos gases provenientes da turbina,
evitando turbilhonamento e proporcionando o aumento da velocidade de saída dos
gases. Analisaremos apenas a seção de escapamento de um motor turbofan, uma vez que
os turbojatos praticamente não operam mais em nosso país.
Nos motores turbofan o fluxo de ar admitido é dividido em:
- fluxo de ar primário (core flow); e
- fluxo de ar secundário (bypass flow).
A maioria do fluxo de ar passa por fora do núcleo do motor (bypass flow), e este fluxo é
responsável por mais de 80% da potência gerada por este tipo de motor.
A razão entre o fluxo de ar proveniente do fan (bypass flow) e o fluxo de ar que passa
por dentro do núcleo do motor (core flow) é denominada de bypass ratio. No motor que
equipa o Boeing 737-700/800 (CFM56-7B22) o bypass ratio é de 5.3, e nos modernos
motores que equipam o Boeing 787 o bypass ratio chega a 9.
Mas o que isso significa? Significa que a massa de ar que passa fora do núcleo do motor
é 9 vezes superior aquela que passa pelo núcleo, resultando em menor consumo, menor
ruído, melhor resfriamento do motor e mais eficiência.
Uma situação anormal que pode ocorrer e está relacionada ao bocal de escapamento é
o Engine Tailpipe Fire, que ocorre geralmente durante a partida do motor ou durante o
corte, ocasionada pelo contato do combustível com alguma parte quente do bocal de
escapamento.
O Tailpipe Fire não aciona o alarme de fogo presente na cabine, uma vez que o sensor
encontra-se posicionado a frente do bocal de escapamento. Portanto, quando tal situação
ocorre o mecânico em solo irá informar o piloto, que deverá ler e executar as informações
constantes no checklist da aeronave.
A seguir, parte o checklist do Engine Tailpipe Fire do Boeing 737Ng. Observe que a
primeira ação indicada pelo checklist é o corte do suprimento de combustível para o
motor.
Limitações
A fim de manter a vida útil e a confiabilidade do motor, o piloto deve conhecer os
limites de operação do motor da aeronave. Os motores atuais apresentam poucas
limitações, cabe ao piloto apenas conhece-las e respeita-las.
As limitações são geralmente de rotação (N1), temperatura (EGT) e tempo de operação
do motor em elevada potência (geralmente 5 minutos). Estas informações estão contidas
no manual de operações da aeronave.
A seguir listamos os principais regimes de operação do motor.
- Maximum Take-off thrust: é o regime de tração máxima do motor empregado durante
a decolagem, limitado a 5 minutos. Este limite de tempo não deve ser ultrapassado em
condições normais.
- Go Around Thrust: é o regime de tração máxima do motor empregado durante a
arremetida, limitado a 5 minutos. Este limite de tempo não deve ser ultrapassado em
condições normais. Esta potência é similar a Maximum Take-off Thrust.
- Maximum Continuous Thrust: é o regime de tração máxima para uso contínuo. É
utilizado somente em situações de emergência, geralmente após a limitação de 5 minutos
citados nos dois regimes mencionados acima.
- Climb Thrust: é o limite de potência utilizado durante a subida, em condições
normais.
- Cruise Thrust: é o limite de potência que poderá ser empregado em cruzeiro, em
condições normais.
A figura a seguir refere-se à página N1 LIMIT do FMC do Boeing 737Ng. Observe que
os regimes de potência citados acima encontram-se nesta página. A Maximum Take-off
Thrust fica localizada em outra página do FMC.
Quanto maior a potência desempenhada pelo motor maior será a rotação dos
compressores (N1) e a temperatura dos gases de exaustão (EGT - Exaust Gas
Temperature). Durante a decolagem e numa arremetida o motor opera com potência
elevada, as vezes próxima aos limites. Nestas condições, o piloto deve sempre lembrar de
monitor os instrumentos do motor (principalemente o EGT), e se um dos limites de
operação for excedido, o piloto deve lançar estas informações no Relatório Técnico da
Aeronave (ou Diário de Bordo), e após o pouso relatar o ocorrido à equipe de
manutenção responsável pela aeronave.
Instrumentos do motor
Cada aeronave apresenta um layout específico para representar as indicações dos
instrumentos de um motor turbofan, no entanto, nas aeronaves atuais as informações
são muito similares, e os instrumentos do motor irão indicar:
- N1
- EGT
- N2
- Indicador de fluxo de combustível
- Pressão do óleo
- Temperatura do óleo
- Quantidade de óleo
- Vibração no motor
* algumas unidades de medida dos parâmetros do motor podem ser customizadas pelo operador,
por exemplo, pode-se optar pela indicação do fluxo de combustível em libras (lb) ou quilos (kg).
Analisaremos a seguir o significado dos principais parâmetros dos instrumentos do
motor.
- N1: indica o percentual de rotação (RPM) do compressor de baixa pressão.
Praticamente todas os parâmetros de rotação durante a operação da aeronave estão
atrelados ao N1.
- EGT: indica a temperatura dos gases de exaustão (exaust gas temperature). O piloto
faz um monitoramento mais cuidadoso deste instrumento durante a partida e em
regimes de alta potência, quando os limites de temperatura indicados pelo fabricante são
mais suscetíveis de serem atingidos.
- N2: indica o percentual de rotação (RPM) do compressor de alta pressão. As
indicações deste instrumento é uma das principais referências durante a partida do
motor.
- Indicador de fluxo de combustível: indica o fluxo de combustível (em libras ou quilos)
que está sendo enviado ao motor.
- Pressão do óleo: indica a pressão do óleo do motor. É importante o monitoramento
deste instrumento após a partida, pois caso não ocorra o aumento da pressão de óleo
após a estabilização do motor, o mesmo deve ser cortado, a fim de se evitar danos.
- Temperatura do óleo: indica a temperatura do óleo do motor. Uma eventual queda
excessiva na pressão do óleo resultará no aumento da temperatura do óleo.
- Quantidade de óleo: indica a quantidade utilizável de óleo. Esta indicação pode sofre
uma queda significativa durante a partida do motor, decolagem e subida, o que é normal
e previsto pelo fabricante.
- Vibração no motor: indica o nível de vibração do motor.
Caso ocorra qualquer indicação anormal ou acima dos limites em um destes
instrumentos o piloto deverá consultar o checklist apropriado.
A figura a seguir ilustra parte do índice do capítulo referente as condições não normais
nos motores do Boeing 737Ng. Vamos supor que o piloto verificou que o motor estava
com vibração acima do normal, neste caso ele faria a leitura do Engine High Vibration e
seguiria as orientações deste checklist.
Reversor de potência
As aeronaves equipadas com motores a reação tem a característica de serem pesadas e
de se aproximarem para o pouso com velocidades relativamente elevadas, se as
compararmos com as aeronaves a pistão.
Com peso máximo de pouso que podem ultrapassar 300.000 Kg e velocidades de
aproximação superiores a 150kt, as aeronaves a jato precisam dissipar toda essa energia
após o pouso, de forma que a desaceleração da aeronave ocorra de forma eficiente,
utilizando um comprimento aceitável de pista.
Para auxiliar na desaceleração após o pouso as aeronaves utilizam três importantes
recursos:
- freios nas rodas;
- freios aerodinâmicos (spoilers/speed brakes); e
- reversores de potência.
O sistema de reversores de potência consiste basicamente de um mecanismo que
altera o sentido do fluxo do ar que sai do motor. O fluxo de ar não chega a ser revertido
totalmente (180o), mas ocorre uma variação significativa (aproximadamente 45o) que
permite o auxílio na desaceleração da aeronave.
Nos motores turbofan esse mecanismo irá alterar apenas o sentido do fluxo de ar
proveniente do fan (bypass flow).
Nos motores turbojato esse mecanismo irá alterar o sentido do fluxo de ar dos gases de
exaustão (core flow).
A utilização dos reversores
Os reversores são mais eficientes em velocidades elevadas, motivo pelo qual devem ser
acionados imediatamente após o toque do trem de pouso principal da aeronave.
O uso dos reversores, em operações normais, é recomendado até cerca de 60kt. A sua
utilização em baixa velocidade pode resultar na ingestão de sujeiras o objetos
indesejáveis.
Em situações anormais, como; rejeição de decolagem, pista escorregadia ou em
qualquer situação que o piloto julgue necessário, deve-se manter os reversores acionados
até a parada total da aeronave ou até que a velocidade de taxi seja atingida.
Cada aeronave possui certas limitações, recomendações e características de operação
dos reversores, portanto, estude sempre o Manual de Operações da aeronave para se
familiarizar com as particularidades na utilização dos reversores.
Na maioria das aeronaves equipadas com reversores de potência é possível fazer a
graduação do uso dos reversores, ou seja, é possível aplicar potência nos motores para
que a eficiência dos reversores seja aumentada.
Esse controle é efetuado na própria manete dos reversores. Observe na figura a seguir
que há três possível posições de graduação dos reversores do Boeing 737Ng. No primeiro
detente (idle) os reversores estão abertos, mas não há aplicação de potência nos motores.
O segundo detente é utilizado em operações normais, ocorrendo aumento na potência
dos motores (cerca de 76% de N1). A última posição é a máxima, onde será empregada a
reversão máxima de potência.
Neste capítulo você terá a oportunidade de realizar diversas questões referentes aos
assuntos abordados na parte relativa aos Conhecimentos Técnicos para Piloto Comercial.
São 50 questões no formato das questões da prova teórica da ANAC.
Recomendamos também que você pratique através do livro “Simulado de Provas para
Piloto Comercial”, também da Editora Bianch. São aproximadamente 2.000 questões, no
formato de prova, relativas às cinco matérias que compõem a prova teórica da ANAC.
13) A razão entre o fluxo de ar proveniente do fan (bypass flow) e o fluxo de ar que
passa por dentro do núcleo do motor (core flow) é denominada de:
a) bypass ratio
b) taxa de compressão
c) burn ratio
d) taxa de eficiência
15) Num motor turbofan, o instrumento que indica o percentual de rotação (RPM) do
compressor de baixa pressão, é o:
a) N1
b) N2
c) EGT
d) manifold pressure
17) Nos motores turbofan o mecanismo dos reversores alteram o fluxo do ar:
a) primário (core flow)
b) secundário (bypass flow)
c) de escapamento
d) todas as anteriores
18) Nos motores turbojato o mecanismo dos reversores alteram o fluxo do ar:
a) primário (core flow)
b) secundário (bypass flow)
c) de escapamento
d) todas as anteriores
19) O uso dos reversores de potência em baixa velocidade pode resultar na(o):
a) formação de gelo no duto de admissão
b) falha no mecanismo de atuação
c) ingestão de sujeira e de objetos indesejáveis
d) todas as anteriores
20) O sistema hidráulico pode ser utilizado para o acionamento dos seguintes
sistemas:
a) reversores de potência e flaps
b) spoilers e controles de voo
c) freios e piloto automático
d) todas as anteriores
26) O ar sangrado do motor (bleed air) é utilizado pelos sistemas que utilizam o método
de:
a) aquecimento mecânico
b) aquecimento elétrico
c) aquecimento hidráulico
d) aquecimento pneumático
29) Durante uma operação normal, a altitude máxima da cabine mantida pelos
sistemas de pressurização é de aproximadamente:
a) 10.000 pés
b) 14.000 pés
c) 8.000 pés
d) 1.000 pés
44) Nos motores turbofan, o fluxo de ar secundário (bypass flow), representa qual
porcentual da potência total gerada pelo motor?
a) 10%
b) 25%
c) 50%
d) 80%
45) Durante a decolagem o motor trabalha com maior rotação dos compressores, logo,
podemos afirmar que nestas condições o EGT irá:
a) aumentar
b) diminuir
c) diminuir, mas apenas se a OAT estiver baixa
d) se manter estável
47) Num motor turbofan, o instrumento que indica o percentual de rotação (RPM) do
compressor de alta pressão, é o:
a) N2
b) EGT
c) N1
d) manifold pressure
48) Num sistema de piloto automático, o piloto seleciona e ajusta os modos através
do(s):
a) sensores
b) servos
c) computador
d) painel de controle
50) Num sistema de pressurização automático o piloto observa que durante a subida a
razão de subida da cabine está em 1.500 pés/min. Logo, conclui-se que:
a) há uma falha no controlador de pressurização
b) há uma falha no sistema de oxigênio
c) há uma falha na válvula de alívio
d) o sistema de pressurização está operando normalmente
GABARITO
Glossário
Aeronave: é um dispositivo que é usado ou que se pretenda usar para voar na atmosfera,
capaz de transportar pessoas e/ou coisas.
Aeróstato: é uma aeronave mais leve que o ar, que pode elevar-se e manter-se sustentada
no ar pelo emprego de invólucros cheios de gás menos que o ar deslocado por tais
invólucros.
Ailerons: são aerofólios localizados no bordo de fuga da asa que possuem a função de
controlar o movimento do avião em torno do seu eixo longitudinal.
Anéis de compressão: têm a finalidade de vedar a folga entre o pistão e o cilindro evitando
o escapamento de gases através do pistão.
Anéis de lubrificação: estes anéis regulam a espessura do filme de óleo sobre a parede do
cilindro.
Asas: são aerofólios que ficam fixados na fuselagem e tem a função de produzir a
sustentação necessária para manter a aeronave em voo.
Avião: é uma aeronave de asa fixa, mais pesada que o ar, com propulsão a motor e que é
sustentada no ar pela reação dinâmica do ar contra suas superfícies de sustentação que
permanecem fixas sob determinadas condições de voo.
Banda de rodagem: parte do pneu que fica em contato direto com a pista, feita de
borracha com qualidade para oferecer resistência e durabilidade. A banda de rolagem é
projetada para proporcionar boa tração nas mais variadas condições de pista.
Batentes: podem ser ajustáveis ou não, são usados para limitar o percurso ou curso de
movimento dos ailerons, profundores e leme, evitando desta forma, que o piloto
aplique pressão excessiva e sobrecarregue determinada estrutura.
Câmara interna: nos pneus sem câmara, esta camada de borracha menos permeável atua
como uma câmara de ar embutida, e impede que o ar penetre através das lonas. Nos
pneus com câmara, uma camada mais fina de borracha é usada para evitar o atrito
entre a câmara de ar e a lona interna.
Carcaça: é uma das principais estruturas do pneu, elas são camadas constituídas de fios
de nylon, borracha e outros tecidos que se entrelaçam em ângulos opostos
proporcionando rigidez e formato ao pneu.
Cilindrada: é definida como o volume total deslocado pelo pistão entre o PMI e o PMS,
multiplicado pelo número de cilindros do motor. A cilindrada é geralmente expressa
em centímetros cúbicos (cm3).
Climb: também conhecido como variômetro e indicador de velocidade vertical, o climb tem a
função de indicar se a aeronave está subindo, descendo ou nivelada, e a razão
(pés/min) com que o faz.
Controles primários de voo: são os responsáveis pelo controle efetivo dos movimentos da
aeronave em voo. Ele é composto pelo aileron, profundor e leme.
Core flow: também chamado de fluxo de ar primário, é fluxo de ar dos gases provenientes
da câmara de exaustão que saem pelo bocal de escapamento.Corpo do cilindro: parte
do cilindro responsável em alocar o pistão, é no interior do corpo do cilindro que o
pistão se desloca.
Cruise Thrust (motor a reação): é o limite de potência que poderá ser empregado em
cruzeiro, em condições normais.
EGT: indica a temperatura dos gases de exaustão (exaust gas temperature). O piloto faz
um monitoramento mais cuidadoso deste instrumento durante a partida e em regimes
de alta potência, quando os limites de temperatura indicados pelo fabricante são mais
suscetíveis de serem atingidos.
Filtro de óleo: tem a função de reter impurezas e partículas contaminantes que possam
causar danos ao perfeito funcionamento do motor.
Fluído hidráulico: é o liquido utilizado para transmitir e distribuir força às unidades que
serão atuadas. Existem diversos tipos de fluído hidráulico, sendo necessária a
utilização do fluído determinado pelo fabricante.
Fusível: é uma tira de liga metálica instalada no circuito, que quando a intensidade da
corrente elétrica ultrapassa o limite do fusível, essa liga se esquenta e se funde
cortando assim a passagem de corrente elétrica.
Guias: são usadas para guiar os cabos em linha reta, através, ou entre partes estruturais
da aeronave.
Hastes de comando: são usadas como conexões nos sistemas de comando de voo, para dar
um movimento de "puxa-empurra".
Hélice: é um aerofólio rotativo que converte a potência produzida pelo motor em força de
tração. A lógica utilizada pela hélice para gerar tração é similar à utilizada pela asa na
geração da sustentação.
Hélice de passo ajustável: tipo de hélice que permite o ajuste do passo ou ângulo de
torção apenas no solo, não sendo possível a sua alteração em voo.
Hélice de passo variável: tipo de hélice que permite o ajuste do passo durante o voo,
podendo o piloto adequar o passo a cada fase do voo, melhorando de forma
significativa a performance da aeronave.
Instrumentos magnéticos: são aqueles que utilizam o campo magnético da Terra como
referência. Ex. bússola magnética.
Instrumentos por pressão (sistema de Pitot estático): são aqueles que utilizam a variação
da pressão do ar como referência para as suas indicações. Ex. velocímetro, altímetro e
climb.
Leme: é o responsável pelo movimento da aeronave sobre o eixo vertical, ou seja, controla
a direção do avião.
Lista de Equipamento Mínimo: mais conhecida como MEL (Minimum Equipment List)
significa uma lista, preparada por um operador de aeronaves em conformidade ou
mais restritiva que a MMEL (lista mestre de equipamento mínimo) estabelecida para o
tipo de aeronave, que estabelece como operar esse tipo de aeronave com particulares
equipamentos inoperantes, desde que atendendo a condições específicas.
Lona: circunda completamente o corpo do pneu, as lonas são dobradas em volta dos
talões, inserindo-se novamente na carcaça. Elas isolam a carcaça do calor proveniente
das freadas e proporcionam boa selagem contra o movimento.
Maximum Continuous Thrust (motor a reação): é o regime de tração máxima para uso
contínuo. É utilizado somente em situações de emergência, geralmente após a
limitação de 5 minutos citados nos dois regimes mencionados acima.
Motor com cilindros em linha: nesta configuração todos os cilindros ficam dispostos em
linha acima ou abaixo do eixo de manivelas,.
Motor com cilindros horizontais opostos: nesta configuração os cilindros ficam dispostos
horizontalmente, com um cilindro em posição oposta ao outro, tendo o eixo de
manivelas ao centro.
Motor radial: neste tipo de configuração os cilindros ficam dispostos ao redor do eixo de
manivelas, e o número de cilindros que compõem este arranjo geralmente é de três,
cinco, sete ou nove. Num motor radial apenas uma dessas bielas é fixa, e prende-se ao
eixo de manivelas, sendo chamada de biela mestra. As demais, por sua vez, são
chamadas de bielas articuladas e se prendem a biela mestra.
Passo bandeira: passo que proporciona significativa redução no arrasto produzido pela
hélice, melhorando a performance do voo em caso de falha no motor.
Passo reverso: passo que proporciona uma melhora na performance de pouso. No passo
reverso o ângulo da pá é negativo.
Passo teórico: distância avançada pela hélice a cada rotação completa, na qual a hélice
desenvolve um movimento helicoidal.
Pistão: é a parte móvel do cilindro, como movimentos retilíneos para baixo e para cima.
Ao se mover para baixo o pistão permite que a mistura ar/combustível entre no
cilindro. Ao realizar o movimento para cima ocorre a expulsão dos gases queimados,
Ponto de fluidez: a menor temperatura na qual o óleo ainda escoa. O ideal é que o óleo
possua baixo ponto de fluidez, permitindo assim, a lubrificação a baixas temperaturas.
Ponto morto inferior (PMI): ponto no qual o pistão atinge a extremidade inferior e
inverterá a trajetória de seu movimento.
Ponto morto superior (PMS): ponto no qual o pistão atinge a extremidade superior e
inverterá a trajetória de seu movimento.
Potência de atrito (friction horse power - FHP): é a potência indicada menos a potência
efetiva. É a potência usada por um motor para vencer o atrito entre as partes móveis,
aspirar combustível, expulsar os gases de escapamento, acionar bombas de óleo e
combustível, e similares.
Potência efetiva (brake horse power - BHP): potência que o motor fornece à hélice, medida
no eixo da hélice. A potência efetiva equivale a potência indicada subtraída à potência
de atrito.
Potência indicada (indicated horse power - IHP): potência bruta produzida pelo motor, ou
seja, é a potência desenvolvida no cilindro pela expansão dos gases queimados sobre o
pistão. IHP = BHP + FHP.
Potência necessária: potência que a aeronave necessita para se manter em voo reto e
nivelado. A potência necessária deverá sempre inferior a potência disponível, sob pena
de não conseguir manter um voo reto e nivelado.
Potência teórica: representa o que seria uma máquina ideal, indicando a potência que
seria obtida pela transformação total da energia térmica, proveniente da queima do
combustível, em trabalho mecânico.
Potência útil (thrust horse power - THP): potência que o grupo motopropulsor
disponibiliza para a aeronave. Para se obter esta potência deve-se levar em
consideração a eficiência da hélice em converter a potência efetiva em tração.
Profundor: são aerofólios que controlam o movimento do avião sobre o eixo lateral ou
transversal.
Reforçadores: são responsáveis em absorver parte dos esforços sofridos pela asa,
aumentando assim a resistência da estrutura da mesma.
Roda: é a estrutura do trem de pouso que permite a montagem dos pneus e do sistema
de freios.
Roldanas ou polias: são usadas para guiar os cabos e também para mudar a direção do
movimento do cabo.
Semicantilever: tipo de fixação na qual as asas são fixadas a estrutura do avião através de
suportes, que ajudam na absorção dos esforços estruturais.
Semimonocoque: tipo de fuselagem derivado da estrutura monocoque, porém, há a
presença de longarinas e reforçadores ao longo da fuselagem, permitindo uma melhor
distribuição dos esforços sofridos pela estrutura.
Sensores (piloto automático): são unidades que captam determinados dados do voo e os
enviam aos computadores do piloto automático. Os principais dados do voo captados
pelos sensores são: posição da aeronave, velocidade, altitude e atitude.
Sistema antiderrapante (anti-skid): sistema que evita o travamento das rodas durante a
frenagem da aeronave no solo, ou seja, quando a roda esta prestes a travar o sistema
libera os freios e assim que a rotação da roda reinicia o sistema volta a atuar os freios.
STOL: Short Take-Off and Landing. Classificação atribuída às aeronaves projetadas para
operarem em pistas com comprimento relativamente curto.
Torque: é o produto de uma força pela distância dessa força, ao eixo sobre o qual ela atua,
ou, torque = força x distância (a 90o da força). As unidades de medida de torque são libra-
polegada ou libra-pé.
Trem de pouso fixo: tipo de configuração na qual o trem de pouso fica constantemente
estendido, não sendo possível o seu recolhimento.
Trem de pouso triciclo: tipo de configuração na qual as rodas do trem de pouso principal
ficam localizadas atrás do centro de gravidade (CG).
Turbofan: motores mais econômicos e com nível de ruído bem menor em relação ao
turbojato, este é atualmente o motor mais utilizado para equipar as aeronaves a jato. O
motor turbofan (fan = ventilador, em inglês) possui uma grande área de admissão de
ar, o que logicamente lhe proporciona uma admissão maior de ar.
Turbojato: estes motores têm sua força propulsiva conseguida unicamente através dos
gases de escapamento. Por esse motivo são também conhecidos como motores a jato
puro.
Válvula de desvio (by-pass): permite que o fluxo do fluído siga por um caminho
alternativo em caso de obstrução do caminho original.
VTOL: Vertical Take-Off and Landing. Classificação atribuída às aeronaves projetadas para
decolar e pousar na vertical, o exemplo clássico é o helicóptero.
Bibliografia
A Editora Bianch é uma empresa que foi criada com o objetivo de proporcionar
materiais de alta qualidade para o treinamento de pilotos. Após constatarmos uma
imensa lacuna no setor literário relacionado à aviação, mais especificamente na área de
treinamento, decidimos ingressar neste mercado, visando trazer aos pilotos um novo
conceito de treinamento e estudo da parte teórica que um piloto necessita.
Todo material editado pela Editora Bianch é cuidadosamente elaborado, utilizando
como referência importantes obras literárias publicadas nos Estados Unidos e Europa,
para que o aluno no Brasil possa estudar por um material rico em informações
atualizadas e de acordo com todo o conteúdo especificado pelo órgão que regula a
aviação civil brasileira, a ANAC.
A nossa principal preocupação ao iniciar o desenvolvimento destes livros era a
linguagem e a forma com que as informações seriam transmitidas ao leitor. Por ser um
tema muito técnico e específico, não queríamos publicar livros com uma leitura muito
carregada, sob pena de torná-los desinteressantes e cansativos ao leitor. Portanto, você
perceberá que a escrita é feita de uma forma simples e direta, como se o aluno estive-se
conversando com o professor. Buscamos também, sempre aliar os textos à gráficos e
figuras, pois acreditamos que isso tem um papel fundamental na absorção do conteúdo
que foi estudado.
Temos a certeza que o nosso trabalho irá proporcionar aos alunos e futuros
comandantes da aviação brasileira uma base sólida para que, ao iniciar a fase prática, ou
o voo propriamente dito, este aluno tenha o conhecimento necessário para empregar em
voo o que aqui foi aprendido.
Denis Bianchini
Editor-chefe
DENIS BIANCHINI
Denis Bianchini nasceu em São Paulo em julho de 1982. Iniciou sua carreira na aviação
no início de 2000 e desde então acumulou aproximadamente 8000 horas de voo.
Atualmente trabalha na Gol Linhas Aéreas como comandante do Boeing 737-700/800.
Paralelamente à aviação administra as empresas Bianch.com e a Editora Bianch.
Outras publicações
Confira a seguir outras publicações da Editora Bianch. Todos estes livros e publicações
você poderá adquirir através do site www.bianch.com.br.
- Acidentes Aéreos
- Diário de Bordo
- Caderneta de Célula
- Caderneta de Motor
- Caderneta de Hélice