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Faculdade Maurício de Nassau

Curso de Graduação em Engenharia Civil


Disciplina: Estruturas de Concreto Armado

Prof. ª: Rafaela Lopes da Silva

8º CÁLCULO DE VIGAS – PROCEDIMENTOS DO PROJETO SEMESTRE 2018.2


PERÍODO – PARTE III DATA: 01/10/2018

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Quando se define os pontos de interrupção das barras no processo de


escalonamento, ou seja, os pontos em que as barras são consideradas
desnecessárias, há a necessidade de transferir as tensões das barras para o
concreto. Sendo assim, além do comprimento necessário para resistir aos esforços
de momento fletor (do diagrama deslocado), as barras precisam de um comprimento
adicional, chamado de comprimento de ancoragem reto (ℓ𝑏 ).

Como já comentado, para o conjunto de aço e concreto ser considerado


material estrutural deve existir entre eles a chamada aderência. Tal propriedade
concernente ao concreto armado, deve garantir que não haverá o escorregamento
das barras de aço em relação ao concreto que as envolve, e é, dentre outras 1, um
meio de transferência de tensões.

Segundo a literatura 2, a aderência pode ser decomposta em três parcelas:


adesão, atrito e engrenamento. A primeira é oriunda de processos físico-químicos no
contato do concreto e aço. Assim como a física define, o atrito é a força que surge
na superfície de contato entre aço e concreto quando há a tendência ao
deslocamento relativo entre os dois materiais. Por último, e não menos importante, o
engrenamento, também chamado de aderência mecânica. Este ocorre devido à
presença de mossas e saliências nas barras, que funcionam como peças de apoio.
É importante destacar que em barras lisas a rugosidade das barras também
promove aderência mecânica.

1 Outros meios de transferências de tensões entre aço e concreto para garantia da ancoragem são os
dispositivos mecânicos, ou até mesmo combinação de ambos.
2 Araújo (2014), Carvalho (2014), Leonhardt & Mönnig (1977), dentre outros.
Nos itens a seguir serão tratados alguns aspectos referentes à ancoragem
das barras longitudinais.

2. ANCORAGEM DAS BARRAS LONGITUDINAIS

2.1. Tensão de ancoragem

Na Figura 1 apresenta-se uma barra de aço imersa em uma peça de


concreto, sendo o comprimento ancorado ℓ𝑏 . A barra de aço com diâmetro 𝜙 está
sujeita a uma força de tração R s. Em termos físicos, sabe-se que a tensão que está
sendo transmitida do aço para o concreto não é constante ao longo do comprimento
ℓ𝑏 . Mas para fins de projeto, adota-se um valor médio para a tensão, dado por:

Rs
𝑓𝑏𝑑 = (1)
𝜋𝜙ℓ𝑏

Figura 1 – Esquema de barra de aço ancorada em peça de concreto

2.2. Comprimento de ancoragem reto

Se o dimensionamento da armadura de tração da viga respeitar o limite de


ductilidade, significa dizer que a ruptura da peça, se ocorrer, estará no domínio de
deformação 3. Logo, a tensão que atua na barra de aço é a tensão de escoamento
deste material, e pode-se dizer que:

𝜋𝜙²
Rs = 𝑓 (2)
4 𝑦𝑑

Substituindo a Eq. 2 na Eq. 1, o comprimento de ancoragem é dado por:

𝜙𝑓𝑦𝑑
ℓ𝑏 = (3)
4𝑓𝑏𝑑
A expressão na Eq. 3 fornece o menor comprimento de ancoragem
necessário para que a barra de aço, com uma tensão de escoamento, possa ser
ancorada por aderência, e deve ser maior que 25𝜙.

Algumas observações importantes são feitas acerca do comprimento de


ancoragem:

a) Quanto menor for o diâmetro da barra, menor é o comprimento de barra


necessário para ancorá-la;
b) Comumente ocorre no cálculo de vigas, que a quantidade de armadura
adotada é superior à obtida no dimensionamento, o que faz com que a tensão
na armadura seja inferior a 𝑓𝑦𝑑 . Então, permite-se reduzir o comprimento de
ancoragem na porcentagem diferencial entre a armadura calculada e a
adotada;
c) Por último, observa-se da expressão de ℓ𝑏 , que quanto maior forem as
tensões de aderência (𝑓𝑏𝑑 ), menor é o comprimento de ancoragem
necessário.

Pode-se dizer que 𝑓𝑏𝑑 é a tensão última de aderência, e é definida em função


da qualidade desta propriedade de transferência de tensões. Alguns critérios são
considerados na determinação de 𝑓𝑏𝑑 , e são eles: conformação superficial (tipos de
saliências e mossas), localização da barra no concreto, diâmetro da barra e
resistência do concreto à tração.

De acordo com o item 9.3.2.1 da NBR 6118/2014, 𝑓𝑏𝑑 é dado por:

𝑓𝑏𝑑 = 𝜂1 . 𝜂2 . 𝜂3 . 𝑓𝑐𝑡𝑑 (4)

Sendo:

3
0,21 √𝑓𝑐𝑘 2 (5)
𝑓𝑐𝑡𝑑 =
𝛾𝑐

Onde: 𝑓𝑐𝑡𝑑 é a resistência de cálculo à tração do concreto; e 𝜂1 , 𝜂2 e 𝜂3 são fatores


que levam em consideração as características da barra de aço, sendo seus valores:

1,0 para barras lisas (CA25)


𝜂1 = {1,4 para barras entalhadas (CA60) (6)
2,25 para barras nervuradas (CA50)
1,0 para situações de boa aderência
𝜂2 = { (7)
0,7 para situações de má aderência

1,0 para 𝜙 < 32𝑚𝑚


(8)
𝜂3 = {132 − 𝜙
para 𝜙 > 32𝑚𝑚
100

Observa-se que o 𝜂2 depende da região na qual a barra está inserida,


classificadas como de boa e má aderência. Em resumo ao que é exposto no item
9.3.1 da NBR 6118/2014, a Figura 2 apresenta as regiões consideradas de boa e má
aderência em estruturas de concreto armado, as quais são influenciadas, de acordo
com Scadelai (2009), pela altura da camada de concreto sobre a barra, cujo peso
favorece o adensamento, melhorando as condições de aderência, bem como, no
nível da barra em relação ao fundo da forma, pois a exsudação produz porosidade
no concreto, que é mais intensa nas camadas mais altas, prejudicando a aderência.

Figura 2 – Regiões de boa e má aderência em estruturas de concreto armado


2.3. Comprimento necessário de ancoragem

Como acima mencionado, se a quantidade de armadura adotada (𝐴𝑠,𝑒𝑓 ) for


superior à calculada no dimensionamento (𝐴𝑠,𝑐𝑎𝑙 ), o comprimento de ancoragem
pode ser reduzido. Logo, tem-se que o comprimento necessário de ancoragem é
dado por:

𝐴𝑠,𝑐𝑎𝑙
ℓ𝑏,𝑛𝑒𝑐 = ℓ𝑏 ≥ ℓ𝑏,𝑚í𝑛 (9)
𝐴𝑠,𝑒𝑓

Sendo ℓ𝑏,𝑚í𝑛 , indicado por norma para evitar comprimentos de ancoragem muito
pequenos, o maior valor dentre:

0,3ℓ𝑏
ℓ𝑏,𝑚í𝑛 ≥ { 10𝜙 (10)
10𝑐𝑚

Podem ocorrer casos em que não há comprimento disponível para promover


a ancoragem reta das barras, por exemplo em apoios extremos não largos. A norma
permite adotar ganchos de ancoragem, que por sua vez reduz o comprimento reto
necessário 3.

Sendo assim, ℓ𝑏,𝑛𝑒𝑐 fica dado por:

𝐴𝑠,𝑐𝑎𝑙
ℓ𝑏,𝑛𝑒𝑐 = 𝛼1 ℓ𝑏 ≥ ℓ𝑏,𝑚í𝑛 (11)
𝐴𝑠,𝑒𝑓

Onde: 𝛼1 = 0,7, se o cobrimento de concreto no plano normal ao gancho for maior


ou igual a 3𝜙, e 𝛼1 = 1,0 para barras sem ganchos.

A Figura 3 apresenta um resumo dos comprimentos de ancoragem para o aço


CA50, considerando regiões de boa e má aderência.

E em resumo, a Figura 4 apresenta as dimensões necessárias para a


ancoragem em apoios de extremidade, também para um aço CA50. Sendo que
agora, o ℓ𝑏,𝑚í𝑛 deve ser o maior valor entre 𝑅 + 5,5𝜙 e 60𝑚𝑚.

Vale lembrar que precisam ser respeitados os cobrimentos mínimos da


armadura.

3 Mais detalhes podem ser vistos em Araújo (2014), Carvalho (2014) e Scadelai (2009).
Figura 3 – Resumo dos comprimentos de ancoragem
Figura 4 – Ancoragem em apoios de extremidade
Tabela 1 – Comprimento de ancoragem básico para o aço CA-50

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