Você está na página 1de 21

Marcelino vai a

Moçambique
Marcelino vai a
Moçambique
1ª edição

CONTRACAPA
Quando a gente conhece alguém,
a primeira coisa que faz é se
apresentar, certo? Então, aí vai: Meu nome é
Marcelino, tenho vinte
anos e nasci no interior
do estado de São Paulo.
Sou violonista, adoro
Muita gente acha que a música
tocar e dar aulas
não dá oportunidade para ninguém,
para crianças.
mas queria contar para vocês que
isso não é verdade! Por causa da
música, tive a chance de morar
quase um ano em Moçambique,
um país incrível na África, onde se
fala português. Fui escolhido para
trabalhar como voluntário em uma
escola de música e dividir a casa com
jovens músicos de diferentes países.
Acho que foi uma das melhores coi-
sas que me aconteceram na vida.

Gostaria que todos tivessem a opor-


tunidade de conhecer de verdade
a cultura de outro país, porque o
mundo é mesmo grande e quando
aprendemos a respeitar outras cul-
turas, o nosso coração fica grande
também. Então, resolvi contar algu-
mas coisas sobre essa minha viagem.
Quem sabe vocês não se animam e
viram aventureiros como eu?

2 3
O povo moçambicano fala mais de 20 línguas! conseguirem se comunicar. Além das línguas Daí, vocês pensam: então é fácil entendermos um português mais parecido com o de
Fiquei pensando que isso podia deixar a maternas, metade da população também o que falam lá, porque falamos a mesma Portugal e várias palavras têm um sentido
conversa um pouco difícil, mas no fim todo fala o português, porque Moçambique foi língua. Só que não é bem assim. Eles falam diferente:
o mundo se entende. Como será que isso colônia portuguesa.
acontece? Vão misturando as línguas até

Não estou
entendendo
nada. Não estou
a perceber
Nos disseram
nada. Nós fomos
que o parque
ditos que o parque
está aberto.
está aberto.

BRASIL MOÇAMBIQUE

4 5
Moçambique tem quase e nelas moram animais incrí- Por causa dessas praias todas,
2.500 quilômetros de praias. veis como o tubarão baleia. em Moçambique se come
O país é dez vezes menor do Mas vocês podem nadar sem muito peixe e frutos do mar.
que o Brasil mas o litoral de- medo de encontrá-lo porque, Aliás, sempre achei engraça-
les é só três vezes menor do apesar de tubarão, ele não do esse nome: “fruto do mar”.
que o nosso. Ou seja, propor- tem dentes. É um peixão lindo Eles não são frutos, são bichos
cionalmente, lá tem muito e pacífico, cheio de pintinhas que moram dentro de cascas
mais praia do que aqui! brancas, que só come plâncton. duras. Vai entender...
Procurem fotos na internet e
Enquanto as nossas praias verão como ele é simpático!
são banhadas pelo Oceano
Atlântico, as deles ficam no
Oceano Índico. As areias são
branquinhas, as águas, linda-
mente azuis e transparentes,

6 7
MODO DE FAZER:
Falei que em Moçambique há muitos
peixes e frutos do mar, mas resolvi ensinar Em uma tigela, rale a batata (no ralador mais
para vocês uma receita de que todos vão
1 grosso). Depois, acrescente a cebola, a alface, a
gostar: as badjias, que se parecem um cebolinha e o coentro (ou salsinha) já picados.
pouco com o acarajé do Brasil. Essa receita
é um pouco diferente da tradicional,
porque usa batatas. Fica uma delícia!
2 Adicione o fermento e misture bem.
Bata o ovo em um prato com o garfo,
adicione à mistura e mexa.

Aos poucos, acrescente a farinha


de feijão fradinho, alternando
com um pouco de água, até
formar uma massa homogênea.
Adicione um pouco de sal.

Em uma frigideira, aqueça Quando os dois lados estiverem


3 bem o óleo em fogo alto.
4 dourados, retire as badjias da
INGREDIENTES: (para 4 pessoas)

1 batata média Coloque colheradas da massa frigideira e escorra em papel

¼ de uma cebola grande picada no óleo, formando os bolinhos. absorvente.

2 folhas de alface picada Deixe dourar o lado de baixo e

4 ramos de cebolinha picada vire o bolinho.

½ colher de chá de fermento em pó


1 ovo
4 xícaras de chá de farinha de feijão fradinho
1 litro de óleo (para fritar)
Coentro a gosto (se você não gostar, pode usar salsinha)
Sal a gosto

8 9
Essa é uma história da etnia Sena, Fizeram uma reunião bem O reinado do Mocho ia de ven-
do centro de Moçambique. barulhenta e decidiram que to em popa, porque ele ainda
Nos tempos antigos, os pássaros o Mocho seria seu rei. Você deixava cada um cuidar da sua
viviam todos juntos e cada um sabe o que é um mocho? Eu vida. Só que da própria vida ele
cuidava da sua vida. Até que um não sabia: é um tipo de coruja. não sabia cuidar muito bem:
dia, sentiram medo de que acon- E sabe por que o escolheram precisava de vários assistentes
tecesse uma guerra com alguma como rei? Porque alguém para fazer as coisas mais ba-
outra espécie (seria medo dos ho- lembrou que ele tinha chifres nais. Dizia que não conseguia
mens?) e resolveram escolher um na cabeça, e acharam que isso tomar banho sozinho! Como
rei para comandá-los e protegê-los. era sinal de muito poder. será que fazia antes de ser rei?

Pois bem. Três pássaros dife- mexer na cabeça real. Mexeu, Logo, uma multidão de
rentes davam banho nele, mas mexeu e, de repente, gritou: pássaros de todos os tipos se
tinham que seguir uma regra: “Vejam, o rei Mocho não tem juntou e começou a bater no
“Vocês podem me lavar e cuidar chifres! São apenas pelos em Mocho. Bicaram, unharam,
das minhas belas penas, mas forma de chifre!” chacoalharam, até que ele
nunca, NUNCA devem encostar Os outros pássaros correram conseguiu fugir.
nos meus poderosos chifres.” para ver e perceberam que
o passarinho dizia a verdade. É por isso que, hoje, o Mocho
E assim foi feito.
Saíram voando e gritando por só é visto à noite, no escuro
Até que um dia, o rei Mocho aí, para todo o mundo ouvir: das florestas: o tempo pas-
dormiu durante o banho. “O rei nos enganou! Ele não sou, mas ele ainda tem medo
E um pássaro bem pequenini- tem chifre nenhum, são ape- de encontrar os pássaros que
nho e desobediente começou a nas pelos!” enganou.

10 11
Já falei para vocês que em Moçambique Apenas parecem. Os corais são animais inver- se fosse um balé) e os duros, que têm uma Dá para mergulhar e espiar um pouco, mas
há muitas praias, mas esqueci de dizer que tebrados que possuem pequenos tentáculos, base mineral. “Ué, mas minerais são pedras. não pode encostar de jeito nenhum. O melhor
embaixo do mar, no norte do país, existe uma semelhantes a pétalas. Por isso, a espécie Você não falou que eram animais?” Pois é, é deixar esses bichos quietinhos, porque se
verdadeira floresta marinha. São quase 1.900 ganhou o nome de Anthozoa - que quer dizer alguns deles também parecem pedras, mas eles morrerem, muitos peixes e pequenos
quilômetros quadrados de recifes de corais. “flores-animais”. Existem corais moles (que fi- não são. Estão totalmente vivos. O que impor- animais marinhos morrerão também.
Peraí, se eu falei “floresta”, quer dizer que os cam balançando os tentáculos na água, como ta é que são lindos, coloridos e muito frágeis.
corais são plantas? Bom, na verdade, não são.

12 13
Essa pode não ser a festa mais animada de moçambicanos lutaram uns contra os outros,
Moçambique, mas acho que é uma das mais por uma disputa de poder tão complicada que
importantes. Todos os anos, em 4 de outubro, nem vou explicar aqui. Nesta guerra, morreu
se comemora o Dia da Paz e Reconciliação. um milhão de pessoas, e outras tantas ficaram
Isso porque, em 4 de outubro de 1992, foi assi- gravemente feridas. Então, é bonito que todos
nado um acordo de paz que pôs fim a 16 anos os anos se lembre do dia em que a paz final-
de guerra civil. Guerra civil é quando um país mente voltou ao país, porque a guerra é uma
luta contra ele mesmo e não contra outro país. das coisas mais horríveis que podem acontecer
Imaginem que durante 16 anos, um tempo na vida da gente.
que deve ser maior do que a sua idade, os

Publicação
oficial do
Acordo Geral
de Paz de
Moçambique

Um dia, eu estava na minha amigos e descobri que eles sim- Seria bem interessante se, no
casa em Maputo (capital de plesmente adoram as nossas Brasil, também passassem
Moçambique), zapeando o con- novelas. O interessante é que, novelas ou programas feitos em
trole remoto, quando reconheci por causa disso, eles ficam co- Moçambique. Assim, sabería-
alguns rostos que estavam na nhecendo um pouco da nossa mos mais sobre eles também.
TV. Parei para olhar melhor e vi cultura, o jeito como falamos o Minha tia, então… Nossa, viraria
que era uma novela brasileira. português, as roupas que vesti- uma especialista, porque ela é a
Depois, perguntei para alguns mos, as comidas e as músicas. maior noveleira que eu já vi.

14 15
Por onde você passa em
Moçambique, a música ainda tem gente que acha
está sempre tocando. E as braços para cima e para música de outros países que rebolar é só para as mu-
pessoas também adoram “rebentar”. Quando a gente baixo. Demora um pouco europeus e americanos. lheres, mas em Moçambique Quer conhecer um pouco
dançar. No Sul, onde morei, dança esse tipo de música para aprender a dançar sem O resultado soa familiar, mas não tem isso, não. “Rebola da marrabenta? Aqui tem
o estilo mais conhecido parece que vai arrebentar se cansar demais. A marra- ao mesmo tempo tem algu- pai, rebola mãe, rebola filho. um mini docu-
é a marrabenta: o nome mesmo, é quadril para um benta mistura vários ritmos ma coisa única. E como os Eu também sou da família, mentário que
vem do verbo português lado, pernas para o outro, antigos de Moçambique à homens dançam! No Brasil, também quero rebolar”. fala sobre ela:

16 17
A primeira coisa diferente que quero Agora, vou te apresentar outros
contar sobre os instrumentos de instrumentos, bem mais antigos do
Moçambique tem a ver com a história que a guitarra de lata de óleo, que
da marrabenta: quando essa forma ainda são usados em Moçambique.
de música e dança foi inventada em Foi difícil escolher porque lá existem
Maputo, era muito difícil e caro com- muitos, mas aqui vai: Chizambe
prar instrumentos. Então, os músicos Se você olhar para o chizambe,
fabricavam uma espécie de guitarra pode achar que ele é um arco de
com latas de óleo, fios de pesca e rabeca. Só que não. É uma espécie
pedaços de madeira. Uma segunda de gaita de boca feita com um
versão sobre a origem do nome pedaço de madeira em forma de
marrabenta fala dessas guitarras arco, com um capim seco amarra-
improvisadas, que “arrebentavam” do. Para tocar, você tem que colo-
facilmente. Mas isso não impedia car esse pedaço de capim no meio
as pessoas de fazerem uma da boca aberta e bater no arco
música incrível! com um chocalho. As notas vão
mudando, conforme você aperta o
capim em diferentes partes com a
outra mão. Parece meio impossí-
vel, não? Pesquise alguns vídeos
na internet para entender como se
toca o chizambe.

18 19
Chiquitsi ou enpiti
O chiquitsi é um tipo lindo e
diferente de chocalho: primeiro,
você constrói duas “bandejas”
com capim e cordas. Depois, faz
uma espécie de sanduíche com
as duas, colocando uma madeira
e pedras no meio. Para tocar, é
preciso chacoalhar e percutir o
chiquitsi com os dedos.

Chitende
O chitende é um instrumento de
corda, com uma caixa de ressonância
(a cabaça) com a abertura virada
para fora. Para tocar, o músico pega
no instrumento, encostando a aber-
tura da cabaça no peito, e faz um
movimento de vaivém, ao mesmo
tempo que, com os dedos de uma
das mãos, faz pressão sobre o fio e,
com a outra, segura uma palheta
que serve para dedilhar o arame.
De certa forma, você conhece esse
instrumento. Ele é igualzinho a
um berimbau!

20 21
Não dá para falar da marrabenta sem
falar de Mafalala. Esse é um bairro muito
importante na periferia de Maputo, de
onde saíram muitos artistas, políticos
(até alguns que viraram presidentes) e
esportistas. A marrabenta foi criada lá.
Com casas de madeira e zinco, o bairro
foi um ponto de resistência dos negros
quando Moçambique ainda não tinha
declarado independência.

Nessa época, ainda no século 20, a


cidade estava dividida entre áreas onde
viviam os brancos (europeus) e áreas
onde viviam os negros. Existe um pala-
vra para essa situação, na qual algumas
pessoas não podem frequentar a área
de outras pessoas: segregação. Infeliz-
mente, isso ainda acontece em algumas
partes do mundo, por preconceito con-
tra algumas raças e religiões.

Depois de muita luta, e depois da inde-


pendência, a segregação acabou em
Moçambique, mas a Mafalala continuou
sendo um lugar muito importante para
a cultura do país.

22 23
Se esse buraco estiver na 1ª fila (a que
Adoro as brincadeiras infantis de fica mais próxima do jogador), a jogada
Moçambique, porque muitas delas termina e passa-se a vez ao adversário.
ainda acontecem na rua. Esta aqui é Se o buraco em questão estiver na 2ª
bem divertida, e até adultos gostam fila (mais perto do adversário) e o bu-
de jogar! Chama-se Ntxuva, ou Jogo raco da frente (correspondente à 2ª fila
de Covas (covas são buracos). do adversário) tiver pedras, o jogador
pode “comer” as pedras desse buraco e
Para começar, é preciso formar dois do buraco imediatamente atrás.
times e cavar no chão quatro filas de
pequenos buracos. Como vocês são Depois é a vez do adversário, que
iniciantes, cada fila pode ter seis bu- jogará da mesma forma. O jogo con-
racos. Em cada buraco são colocadas tinua assim com jogadas alternadas
duas pedrinhas. Cada time é dono de entre as duas equipes. Os jogadores
duas filas, e objetivo do jogo é eliminar são obrigados (enquanto for possível)
as pedras do adversário. a iniciar a jogada por um buraco com
mais de uma pedra. Quando não hou-
Para fazer uma jogada, o jogador es- ver mais buracos com mais de uma
colhe um buraco de partida. Pega as pedra, o jogador poderá iniciar a roda-
pedras desse buraco e coloca-as uma a da a partir de um buraco com uma só
uma nos buracos seguintes, andando pedra, andando neste caso apenas
no sentido contrário ao dos ponteiros um buraco. Se logo a seguir tiver
do relógio. Se a última pedra que esse uma pedra, ele poderá continuar.
jogador largou ficar num buraco que
ainda tem pedras, o jogador reinicia o O jogo termina quando um time elimi-
processo, ou seja, retira as pedras des- nar todas as pedras do time adversário.
se buraco e coloca-as uma a uma nos
buracos seguintes, até que a última Achou complicado?
pedra seja largada num buraco vazio. Dá uma olhada no vídeo:

24 25
A primeira capital de Moçambique Mas e a ilha? É um lugar maravi-
foi a Ilha de Moçambique, que lhoso no Oceano Índico, bem ao
emprestou o nome para todo o norte do país, que parece um pa-
país. Um emir árabe muçulmano raíso perdido no tempo. Como foi
chamado Mussa ibn Bique foi o a capital por quatrocentos anos, e
primeiro governante conhecido Estilo das
funcionava como um ponto de co-
por lá, antes da invasão portugue- edificações da mércio dos portugueses na África
área norte, de
sa da região, que aconteceu em Oriental, ali se misturavam culturas
influência ára-
1550. Quando chegaram nas terras be e europeia: africanas, europeias, árabes e india-
moçambicanas, os portugueses a “cidade de nas. A ilha ainda tem traços dessas
pedra e cal”.
chamaram de “Terras de Mussa ibn culturas, além de algumas cons-
Bique”, em homenagem ao seu truções muito antigas. Por isso,
governante. Mas, com o passar dos foi declarada Patrimônio Cultural
anos, o nome da terra começou Mundial pela UNESCO.
a ser simplificado para facilitar a
pronúncia e passou a se chamar Agora vem a parte triste: acredi-
apenas Moçambique. tam que esse paraíso corre o risco
de desaparecer? Vários estragos já
estão acontecendo por causa das
alterações climáticas. Nos últimos
anos, sempre que o mar sobe muito,

Estilo das as águas inundam parte da cidade,


edificações da provocando estragos nas vias de
região sul, que usa
acesso e nas casas. Se o nível do mar
folhas de palmeiras como
telhados. É conhecida por “cidade continuar subindo, pode ser que um
macuti” e tem influência africana. dia essa ilha maravilhosa simples-
mente seja engolida pela água.

26 27
Já deu para perceber que Mo-
çambique tem uma natureza
muito linda e diversa, né? E,
como não poderia deixar de
ser, lá vivem animais incríveis
sobre os quais ainda não falei.

Assim, como em outros países


da África, Moz (um dos apelidos
de Moçambique) tem parques
nacionais onde vivem muitas
espécies de pássaros, e alguns
mamíferos como aqueles que
aparecem no filme do Rei Leão.
Um deles é o elefante.

Antigamente, havia bem mais


elefantes em Moz, muitos
foram mortos por caçadores plantações em uma região O motivo é assustador, mas foi
ou durante a guerra. Em um ao sul. Um desses caçadores interessante entender como os
desses episódios, durante guardou fetos dos elefantes, fetos se desenvolvem durante
a Primeira Guerra Mundial, que foram parar no Museu de os 20 meses de gestação (sim,
quando o país ainda era co- História Natural de Maputo. Ou quase dois anos dentro da bar-
lônia, caçadores portugueses seja, quando você entra nesse riga da mãe!). E isso não existe
resolveram matar uns 300 museu vê seis fetos de elefante em nenhum outro museu do
elefantes porque queriam fazer em vitrines cheias de formol. mundo, só lá.

28 29
Moçambique é um dos países da costa oriental Pois é, eu também não conhecia. Depois de alguns dias viven-
da África que tem a maior população de O dugongo é um mamífero marinho herbí- do em Moçambique, percebi
dugongos, estimada em cerca de 300 indivíduos. voro e o seu nome vem da palavra malaia que muitas coisas se pare-
“DUGONGOS? Nunca ouvi falar”. duyung, que significa sereia. Mede entre ciam com o Brasil. A língua,
2,5 e 4 metros e pode pesar entre 250 e algumas comidas, a música,
499 quilos. O corpo dele é rechonchudo e a as cores ... mas é claro que
cabeça larga, com um lábio superior gran- existem muitas diferenças
de, em forma de U. Ele gosta de comer também, e uma delas é espe-
caules de plantas enterrados, que conse- cialmente interessante.
gue encontrar revirando a areia. Quando
ele come, parece o maior aspirador de pó A população de Moçambique
do mundo. Duvidam? Vejam só: é constituída por 99% de ne-
gros e 1% de brancos. Ou seja,
eu era minoria absoluta lá. Na
verdade, também tem menos
brancos do que negros no
Brasil, mas a desproporção
não é tão grande. Então, se
você é branco em Moçambi-
que, todo mundo sabe que,
muito provavelmente, é es- televisão retratam pessoas no Brasil, apesar de mais
trangeiro. Lá, os brancos são negras. Confesso que me de metade da população
chamados de mulungos. senti um pouco estranho ser de pardos e pretos,
no começo, porque quase quem aparece nas revistas
Sendo um país quase 100% não via pessoas brancas e na TV são quase sempre
formado por negros, é claro nas imagens do dia a dia de os brancos? Por que isso
que todas as revistas, propa- Moçambique. Então, parei ainda é assim? Não parece
gandas e os programas de para pensar: já reparou que, nem um pouco justo.

30 31
Na língua Changana:

Dzichile: Bom dia


Como já expliquei, ainda que o
Kanimambo: Obrigado
português seja o idioma oficial de
Moçambique, as línguas são muitas: Hambanine: Tchau
Maconde, Macua, Sena, Bitonga,
Chwambo… No Sul, onde
Na língua Macua:
morei, a mais popular é o
Changana - que pode, Mosheleliwa: Bom dia
inclusive, ser ensinado
Khochucuro: Obrigado
na escola. Conheçam al-
gumas palavras dessas Khoroa: Tchau
línguas bem diferentes.

Na língua Bitonga:

Wunguinde: Bom dia

Nwibomguide: Obrigado

Hinawonana: Tchau

32 33
Talvez vocês já tenham ouvido alguém dizer
“não gosto de despedidas”. Será que essas
pessoas ficam envergonhadas de se emo-
cionar na frente dos outros? Eu acho que
despedidas são bem tristes quando você vai
ficar muito tempo sem ver amigos queridos,
mas também são uma chance para mostrar
a eles que sentirá saudades. Quando fui
embora de Moçambique, as crianças para
quem eu dava aula de música cantaram para
mim essa linda música, que me fez até cho-
rar. Com essa canção me despeço de vocês,
torcendo para que um dia consigam visitar
esse país que eu amo tanto!
Se quiser ouvir, acesse o vídeo
usando esse QR Code.

Salanine
Salanine va makwerhu....
Hita tlela hi vonana....
Loko Hosy yi swi lava....
Salani, salani, salani

Fiquem bem irmãos


vamos voltar a nos ver se
Deus quiser...
Fiquem bem...
fiquem fiquem fiquem

34 35
Marcelino vai a Moçambique
1ª Edição
©2020 • Sustenidos - Organização Social de Cultura

Texto: Alessandra Fernandez A. Costa


Ilustrações: Rafa Antón
Pesquisa: Renan Castro Dias, Ananda Miranda,
Alessandra Fernandez A. Costa
Edição: Maria Eugênia Menezes e Helen Valadares
Design gráfico: Kelly Sato

Agradecimentos: Tapiwa Langa, Amelia Felizardo, Marcelo Brito, Renan


Castro Dias, Lucas D’Alessandro, Miriam Momesso, Rafael Soares, Wannie
Ramos, Lalah Mahigo, Vando Infante, Engristia Irina, Tiger Massuco,
Calisto Rodrigues, Valentino Salimo, Ivo Matine, José Luiz Chambia,
Khalusa Bandaleao e Elidio Mangane

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M314

Marcelino vai a Moçambique


Marcelino vai a Moçambique/ Sustenidos - Organização
Social de Cultura; texto Alessandra Fernandez A. Costa;
ilustração Rafa Antón. - 1 ed. São Paulo: Sustenidos, 2020.
21 p.: il.: 42 cm.

Inclui QR Code
ISBN 978-65-86951-02-8

1. Literatura infantojuvenil. 2. Moçambique – Cultura. 3.


Viagem. I. Costa, Alessandra Fernandez A. II. Título.

CDD: 028-5
CDU: 087.5
O Musicians and Organizers Volunteer Exchange Durante a jornada, eles(as) atuam em festi-
(MOVE) é um programa de intercâmbio e volunta- vais, aulas de música e capacitações, além de
riado entre as organizações musicais JMNorway, enfrentar o desafio de viver em um contexto
Trøndertun Folk High School, Music Crossroads completamente novo. Em alguma medida,
Malawi, Music Crossroads Moçambique e Suste- essa experiência mudou a vida de todos(as)
nidos. A ação é custeada pela Norec – Agência que dela participaram.
Norueguesa para Cooperações em Intercâmbios.
Após alguns anos de colaboração entre as
Desde 2015, o MOVE é realizado no Brasil pela cinco organizações, tivemos a ideia de elaborar
Sustenidos - Organização Social de Cultura, livros infantis que contassem um pouco sobre
gestora do Projeto Guri no interior e litoral de a experiência de ser estrangeiro(a) e viver em
São Paulo. Anualmente, seis jovens ex-alunos(as) outro país. Esperamos que esta coleção des-
e educadores(as) do Projeto Guri são selecio- perte nas crianças a curiosidade em relação
nados(as) para passar uma temporada de dez ao mundo, a coragem de conhecer o novo e o
meses nos outros países participantes: Noruega, respeito por aquilo que é diferente.
Malawi e Moçambique. Da mesma forma, a cada
ano, seis jovens músicos e musicistas desses
países passam dez meses trabalhando como
voluntários(as) nos polos de ensino do Projeto
Guri e em outras organizações parceiras.

Você também pode gostar