Você está na página 1de 16

XLV CONGRESSO DA SOBER

"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

O COMPORTAMENTO DA BASE DOS CONTRATOS FUTUROS DE BOI GORDO


EM MINAS GERAIS, MATO GROSSO DO SUL, PARANÁ E SÃO PAULO NA
BM&F E CME

LEONARDO BOTELHO ZILIO; PAULO THIAGO BOLZAN MANSUR; JOAQUIM


HENRIQUE CUNHA-FILHO; JOÃO GOMES MARTINES FILHO.

ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ, PIRACICABA, SP,


BRASIL.

jhcunha@esalq.usp.br

APRESENTAÇÃO ORAL

COMERCIALIZAÇÃO, MERCADOS E PREÇOS AGRÍCOLAS

O Comportamento da Base dos Contratos Futuros de Boi Gordo em


Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo na BM&F e
CME

Grupo de Pesquisa: Comercialização, Mercados e Preços Agrícolas

Resumo: O presente trabalho foca a análise do comportamento da base no mercado de boi


gordo brasileiro e norte-americano durante o período de 1995 à 2006. Para tanto, são
utilizadas séries de preços físico e futuro de algumas praças brasileiras e da Bolsa de
Mercadorias e Futuros (BM&F) e da Chicago Mercantile Exchange (CME). A observação
gráfica é amplamente utilizada na determinação das principais causas das variações nas
diversas bases calculadas entre as praças estudadas e as bolsas em questão. Além disso,
quadros de correlações mostram a proximidade entre os mercados físico e futuro brasileiro e a
baixa relação existente entre o spot nacional e o futuro dos EUA. Choques de oferta causados
por instabilidades cambiais e focos de febre aftosa no mundo também são analisados nos
resultados do trabalho.

Palavras-chaves: Base, Boi Gordo, Correlações, Bolsa de Mercadorias e Futuros e Chicago


Mercantile Exchange.

Abstract: This study investigates basis behavior in the live cattle market in Brazil and USA
from 1995 to 2006. Basis are calculated for several locations in Brazil using local spot prices
1
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

and futures prices from Brazilian Mercantile & Futures Exchange (BM&F) in Brazil and
Chicago Mercantile Exchange (CME) in the US. Graphics are largely adopted to analyze basis
behavior, while correlation coefficients are used to explore relationships between prices. The
results suggest a strong and stable relationship between the local spot price and BM&F futures
pries, but a weak link between the local spot price and the CME futures price. Supply shocks
caused by exchange rate instability and food and mouth disease are analyzed.

Key Words: Basis, Live Cattle, Correlations, Brazilian Mercantile & Futures Exchange,
Chicago Mercantile Exchange.

1. INTRODUÇÃO

A negociação de contratos futuros de boi gordo iniciou-se na década de 1980 na Bolsa


de Mercadorias e Futuros (BM&F) e na década de 1960 na Chicago Mercantile Exchange
(CME). Tanto os contratos negociados na BM&F como na CME podem influenciar o
comportamento dos preços físicos do produto no mercado brasileiro, bem como a tomada de
decisão dos hedgers desse mercado.
O resultado final da operação de hedge dependerá da base, definida como a diferença
entre o preço à vista físico em um local específico e o preço de um contrato futuro em
particular. Esse resultado esta condicionado ao fortalecimento ou enfraquecimento da base
durante a operação.
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (CEPEA/ESALQ/USP) é o
órgão responsável por estimar um preço médio para o estado de São Paulo, utilizado como
referencial no encerramento dos contratos de boi gordo na BM&F. Tal média é composta pelo
preço praticado diariamente em diversas praças do estado1, ponderada pelo número de abates
de cada praça no dia.
As operações de hedge podem ser realizadas em outras bolsas de futuros
internacionais, tais como a CME. Por se tratar de uma bolsa internacional deve-se prestar
atenção a fatores como câmbio e a liquidez dos contratos, uma vez que os mesmos
influenciam a tomada de decisão dos hedgers sobre o local do investimento.
A análise do comportamento da base torna-se fundamental para uma operação de
hedge eficaz, seja considerando o preço BM&F, seja o da CME. Além disso, é importante
avaliar os desdobramentos da base e correlações de preços. Desta forma, é possível proteger o
hedger do risco de preços.
Assim sendo, o objetivo principal deste artigo é descrever o comportamento da base
dos contratos de boi gordo para as praças de Araçatuba/SP (ARAC), São José do Rio Preto/SP
(SJRP), Bauru/Marília/SP (BAUR), Presidente Prudente/SP (PRES), Noroeste do Paraná/PR
(NOPR), Três Lagoas/MS (LAGO), Campo Grande/MS (CAMP) e Triângulo Mineiro/MG
(TRIA), considerando o período de janeiro de 1995 a dezembro de 2006. Com este intuito,
foram obtidas as correlações entre os preços praticados e as bases observadas no período
considerado.

1.1 - O Boi Gordo no Brasil

1
Atualmente o índice de preços elaborado pelo CEPEA leva em conta os preços praticados nas praças paulistas
de Araçatuba, São José do Rio Preto, Bauru/Marília e Presidente Prudente.
2
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

A Tabela 1 sintetiza dados de produção, comercialização e preços do boi gordo no


Brasil durante a última década. O rebanho brasileiro cresceu em torno de 0,8% ao ano neste
período, atingindo, em 2005, aproximadamente 163,9 milhões de cabeças. Para 2006, as
estimativas indicaram que o rebanho permaneceu no mesmo patamar.

Tabela 1. Rebanho, produção, consumo interno, exportação, importação, engorda intensiva e


preço ao produtor do boi gordo no período de 1995 a 2006
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006*
Rebanho Milhões de Cabeças 154.1 152.8 152.8 155.1 156.6 160.4 163 165.7 166.1 164.6 163.9 163.9
Produção/Abate Milhões de Cabeças 36.9 36.7 34.2 34.8 34.9 35.1 36.3 37.8 40.4 42.1 42.7 40.2
Consumo Interno Mil ton. Eq. Carc 6603 6653 6238 6236 6083 6070 6160 6197 6095 6107 6003 5531
Exportação Mil ton. Eq. Carc 287 280 287 370 541 554 789 929 1208 1630 1857 1964
Importação Mil ton. Eq. Carc 121 139 112 79 42 57 38 66 58 48 43 32
Engorda Intensiva Mil cabeças 3345 3105 3995 4595 4370 5735 5705 5168 5163 5983 5658 6135
Preço ao Produtor US$/@ - Sao Paulo 26.2 22.8 24.4 23.8 18.6 21.9 18.3 16.7 18.8 20.7 23 25.3

* Estimativa.
Fonte: FNP Consultoria

Como pode ser notado, o abate cresceu em média 1,7% ao ano na última década
atingindo 42,7 milhões de cabeças em 2005. Já o consumo interno vem caindo desde 1996, de
6,6 milhões de toneladas de carne bovina, este consumo atualmente não ultrapassa 5,5
milhões de toneladas.
Por outro lado, houve excelente desempenho das exportações, que cresceram, em
média, 22,5% ao ano na última década, com destaque para o ano de 1999, em que o volume
exportado de carne bovina aumentou 46,2% em relação ao ano anterior. Atualmente, o
volume exportado é de cerca de 2 milhões de toneladas. A importação de carne bovina por sua
vez é relativamente baixa, além de traçar uma trajetória de queda justamente devido a
elevação do padrão de qualidade da carne brasileira, inclusive a destinada ao mercado interno.
Cabe ressaltar a importância que os sistemas produtivos de confinamento e semi-
confinamento vem alcançando como práticas comuns no processo de engorda dos animais. O
número de animais nestes sistemas duplicou na última década, passando de 3,3 milhões para
6,1 milhões de cabeças de gado. Esses valores ainda são muito pequenos comparativamente
ao rebanho total brasileiro, mas indicam a preocupação dos pecuaristas em tornar sua
produção mais racional do ponto de vista econômico.
Os preços pagos ao produtor da carne bovina no Brasil tiveram comportamentos
distintos no decorrer da última década. Ocorreu um movimento de queda acentuada até o ano
de 2003, sendo que em 2002 o preço da carne chegou ao seu nível mais baixo, em torno de
US$ 16,7/@. No entanto, a partir desse ano, vêm ocorrendo um movimento de retomada dos
preços. Segundo a FNP Consultoria, o preço médio estimado para 2006 foi de
aproximadamente US$ 25/@, confirmando a tendência de alta.

2. METODOLOGIA

2.1 - Referencial Teórico

3
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

O estudo do comportamento da base, em se tratando do mercado de derivativos, é de


fundamental importância para a tomada de decisões dos investidores em geral, uma vez que,
quanto mais correta a previsão da base futura, menor o risco desta, e maior a probabilidade
que o hedger consiga obter sucesso.
Garcia & Sanders (1996) citam que a previsão acurada da base fundamenta as
estratégias de decisões sobre investimentos no mercado futuro. Fontes, Castro Jr. & Azevedo
(2003b) definem de forma clara a importância de se estudar a base. Segundo eles “quanto
menor for o risco de base (...) maior a utilidade do mercado de derivativos como instrumento
de gerenciamento da comercialização”.
É fato consolidado na literatura que a análise de commodities estocáveis e não
estocáveis deve ser feita de forma diferenciada. Segundo Goss & Avsar (1999), “a principal
diferença entre commodities estocáveis e não estocáveis é que, na existência de preços físico
e futuro, para commodities estocáveis o prêmio recebido é limitado pelo custo marginal
líquido de estocagem, enquanto o mesmo não se aplica para commodities não estocáveis.” 2
Se uma commodity pode ser estocada, variações bruscas nos preços não devem surtir
efeito de mesma magnitude aos produtores ou traders que armazenam sua produção. Isto
acontece porque este “período desfavorável” para a venda do produto pode ser contornado
com a estocagem, o detentor da commodity segura sua produção até o momento propício para
a venda da mesma. No caso de commodities não estocáveis esta análise não é válida. Um
rebanho de gado, por exemplo, deve ser abatido em uma determinada data, pois, caso
contrário, a agregação de valor advinda de determinado investimento pode se dissipar se o
produtor “guardar” o gado mais tempo do que o economicamente viável.
Castelino (1992) apresenta evidências de redução do risco de base para duas
commodities estocáveis e dois ativos financeiros nos Estados Unidos3. Os resultados mostram
que o hedge de mínima variância é eficaz para o caso dos ativos financeiros 4, mas não repete a
mesma eficiência para os casos das commodities estocáveis.
Os contratos de boi gordo e bezerro são analisados detalhadamente por Silveira &
Ferreira Filho (2004), que mensuraram o risco de base atrelado a cada uma das duas
commodities. Os resultados mostraram que o risco de base para um produtor de boi gordo ao
fazer um cross hedge com bezerro é maior do que para operações de hedge de boi gordo. O
risco de base nas diferentes regiões estudadas do estado de São Paulo também foi analisado.
Neste caso, os resultados mostram que há menor risco de base naquelas regiões que compõem
o Indicador de Preços Disponíveis do Boi Gordo (IBG) do CEPEA/ESALQ/USP. Para os
contratos de bezerro não foi detectada nenhuma diferença significativa entre as regiões
estudadas.
Gaio et al (2005) estudaram a causalidade e a elasticidade na transmissão de preços no
mercado de boi gordo no Brasil entre 2000 e 2004. Os autores concluíram que as praças
estudadas mantêm relações de longo prazo sustentáveis, defendendo também a eficácia dos
contratos de boi gordo atualmente negociados na BM&F.

2.2. Referencial Analítico

2
Trecho traduzido pelo autor do original: Non-Storables, Simultaneity and Price Determination: The Australian
(Finished) Live Cattle Market.
3
Castelino (1992) utiliza dados de milho e trigo para as commodities e dos ativos Treasure Bills e Eurodollar na
análise do hedge de mínima variância.
4
Nota-se que tanto os Treasure Bills como o Eurodollar são títulos de curto prazo, podendo ser considerados
ativos estocáveis.
4
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Inúmeros estudos salientam a importância do estudo da base na área de derivativos.


Definida como sendo a diferença entre o preço físico (PSPOT) e o preço futuro (PFUT), a base
pode ser descrita algebricamente segundo a equação (1):

Base = PSPOT - PFUT (1)

Se o preço pago ao produtor em uma determinada praça é menor do que o preço


negociado na bolsa, tem-se que a base assume valor negativo. Por outro lado, quando o preço
spot for maior do que o preço futuro a base assume valor positivo.
Sabe-se ainda que em geral a base não é constante ao longo do tempo, uma vez que
tanto o preço físico como o preço futuro variam conforme os movimentos do mercado. Se
durante certo período o preço spot se aproximar do preço futuro diz-se que houve
fortalecimento da base, enquanto que o enfraquecimento da base é definido se o contrário
ocorrer.
Esta volatilidade da base, em conjunto com possíveis choques de produção, define o
chamado risco de base. Por definição o risco de base está associado às incertezas que os
hedgers devem se expor ao operar no mercado futuro. Em contrapartida, segundo a Future
Industry Institute (1995), citado por Marques, Mello & Martines Fo. (2006), o risco de base é
mais previsível do que as oscilações dos preços das commodities, sendo que os investidores
preferem assumir o risco de base e eliminar o chamado risco de preços.
Os hedgers, ao efetuarem uma operação na bolsa, calculam a base esperada para o
final do período de negociação. Se este cálculo da base no início da operação for igual a base
no final do período, tem-se uma situação chamada de hedge perfeito, e o resultado da
operação é igual ao esperado no momento inicial. Hull (2003) identificou alguns fatores que
desviam a realidade do conceito de hedge perfeito. Segundo o autor, diferenças nas
características do ativo em relação ao contrato futuro, incertezas quanto à data de
venda/compra do ativo e estratégias de venda do contrato futuro por parte dos investidores são
os principais fatores que fazem com que existam variações inesperadas dos preços spot e
futuro e, por conseqüência, na base.
No presente estudo, foi utilizada análise gráfica e de correlações das séries de preços
físicos e futuros para a análise do comportamento da base nas praças e bolsas propostas. No
primeiro momento foram plotados gráficos relacionando as diversas variáveis em estudo.
Desta forma, é possível observar as tendências e possíveis discrepâncias existentes nos dados.
Foram obtidas também as correlações entre as praças e bolsa estudadas, além do
câmbio e das bases. O cálculo das correlações pode ser obtido conforme a equação (2):

cov(i, j )
ρ ij = (2)
σ iσ j

Com base nesta análise, é possível avaliar a proximidade entre o comportamento dos
preços físicos de duas praças ou de uma praça e uma bolsa. Ficam claras também as relações
existentes entre preços e câmbio.

2.3 - Fonte e Tratamento dos Dados

5
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Como já mencionado anteriormente, as estratégias de mercado adotadas para


commodities estocáveis e não estocáveis devem ser feitas de forma distinta. Da mesma forma,
tem-se que a coleta dos dados feita para essas duas situações também deve ser feita
particularmente em cada um dos caso.
Davis, et al (1999) cita que em casos de animais vivos a obtenção dos dados deve ser
feita de forma que os preços futuros utilizados refiram-se ao contrato de vencimento mais
próximo a data presente. Para o mês de janeiro, por exemplo, os dados de preços futuros
devem ser aqueles com vencimento em fevereiro, se levado em conta contratos live cattle5
negociados na CME. Ao início desse último mês começa-se com a coleta de dados de preços
futuros com vencimento no mês de abril, que é justamente o contrato com vencimento mais
próximo a fevereiro.
Tal método de coleta citado acima deve ser utilizado porque em casos como o
estudado neste trabalho não há a possibilidade de que o produtor estoque seu produto. O
processo de estocagem aplicado em animais vivos poderia gerar a perda de valor agregado do
rebanho advindo, por exemplo, de algum tipo de investimento para a engorda.
A coleta dos dados, efetuada conforme proposto por Davis, et al (1999), foi feita junto
a BM&F e CME (preços futuros do contrato de boi gordo nas duas bolsas), ao Banco Central
do Brasil (Bacen) (dados sobre o câmbio) e ao CEPEA (preços físicos das oito praças
estudadas e do Índice de Preços Cepea com base nas quatro praças paulistas). Todas as séries
de preços foram obtidas diariamente compreendendo o período de janeiro de 1995 a dezembro
de 2006. Os softwares utilizados para a análise dos dados foram o Microsoft Excel e o E-
Views 5.0.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 1 mostra os preços futuros para os contratos de boi gordo na Bolsa de


Mercadorias e Futuros (BM&F) e da Chicago Mercantile Exchange (CME).
a) b)
60 0

-5
50
-10
40
-15

30 -20

-25
20
-30

10 -35
Jan/95 Jan/97 Fev/99 Mar/01 Mar/03 Abr/05 Dez/06 Jan/95 Jan/97 Fev/99 Mar/01 Mar/03 Abr/05 Dez/06

BMF CME DIFBMFCME

Figura 1. Preços BM&F e CME (parte a) e diferença de preços entre as bolsas (parte b). (em
US$)
Fonte: BM&F e CME.

5
Contratos live cattle refere-se ao contrato de boi gordo vivo na CME.
6
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Durante todo o período analisado nota-se que o preço BM&F permanece abaixo do
preço CME, podendo verificar uma tendência de elevação dessa diferença. Após meados de
2003 tanto os preços da CME quanto os da BM&F começam a ter comportamento mais
instável, fato este que pode ser verificado na parte b, onde é exposta apenas a diferença entre
os preços dos contratos mais próximos da BM&F e da CME.
Analisando os valores dos preços da commodity no período vê-se que entre 1995 e
2006, o preço BM&F oscilou aproximadamente entre US$ 30,00/@ e US$ 15,00/@, enquanto
o preço CME oscilou entre US$ 55,00/@ e US$ 30,00/@.
A Tabela 2 mostra a correlação existente entre os preços futuros do boi gordo na
BM&F e na CME. Os valores calculados mostram-se bastante baixos, indicando que há
pequena relação dos preços formados nas duas bolsas.

Tabela 2. Matriz de correlações entre BM&F e CME


BM&F CME
BM&F 1,0000 0,1151
CME 0,1151 1,0000
Fonte: Resultados da pesquisa

A Figura 2 mostra conjuntamente o comportamento do preço futuro BM&F e do preço


físico médio à vista para o estado de São Paulo calculado pelo CEPEA/ESALQ/USP, além da
respectiva base (parte a), e a mesma análise de comportamento em relação a CME (parte b).
a) b)
40 60

30 40

20 20

10 0

0
-20

-10
Jan/95 Jan/97 Fev/99 Mar/01 Mar/03 Abr/05 Dez/06 -40
Jan/95 Jan/97 Fev/99 Mar/01 Mar/03 Abr/05 Dez/06

CEPEA BMF BSCEPEABMF


CEPEA CME BSCEPEACME

Figura 2. Preço CEPEA, BM&F e Base (parte a) e Preço CEPEA, CME e Base (parte b). (em
US$)
Fonte: CEPEA/ESALQ/USP, BM&F e CME.

Comparando os preços BM&F e CEPEA percebe-se alta correlação6. Além disso, as


variações da base são relativamente pequenas, apontando um comportamento bastante
constante no período estudado. Podem-se verificar alguns pontos de maior oscilação no final
de 1998 com a crise do câmbio na economia brasileira, em meados de 2004 e final de 2005.
Tais oscilações serão tratadas com mais detalhes em seções posteriores.
Ao compararmos o mesmo preço CEPEA com os preços praticados na CME constata-
se, primeiramente, uma diferença que oscilou entre US$ 10,00/@ e US$ 30,00/@,
6
O valor calculado dessa e de outras correlações podem ser vistos na Tabela 3.
7
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

comportamento este bastante distinto da base BM&F - CEPEA. Verifica-se também na parte
b, a oscilação ocorrida no final do ano de 1998 devido a desvalorização cambial da moeda
brasileira e a tendência de enfraquecimento da base, ou seja, o aumento da diferença entre o
preço futuro e o preço físico. Essa tendência declinante pode ser verificada até o final da série.
Cabe salientar que entre 1995 e meados de 1998 e entre final de 1999 e início de 2004,
a base tem um comportamento sazonal que acompanha o que se espera dentro do sistema de
produção bovina no hemisfério norte, ou seja, uma queda de preços na primavera/verão e uma
elevação de preços no outono/inverno.
A Figura 3 apresenta uma comparação entre as bases calculadas para o preço CEPEA e
os preços futuros na BM&F e CME (parte a). Verifica-se a influência da crise cambial
brasileira no final de 1998, de forma que a base CME - CEPEA a partir de 1999 começa a
enfraquecer. Pode-se verificar ainda quanto a base BM&F - CEPEA dois períodos de
descolamento significativos, em meados de 2004 e em 2005, períodos a serem estudos
posteriormente.
Na parte b pode ser vista a relação entre o comportamento da taxa de câmbio nominal
(R$/US$) e da base CME - CEPEA. A mudança do regime cambial ocorrida no final de 1998
provocou a brusca oscilação da base. Posteriormente pode-se verificar que há um
comportamento inverso entre as duas séries, ou seja, em períodos de valorização cambial
nota-se fortalecimento da base, enquanto a mesma se enfraquece com o câmbio mais
desvalorizado, o que pode denotar uma forte dependência dos produtores de gado em relação
ao comportamento da taxa de câmbio nas suas tomadas de decisões em relação ao preço
praticado.

a) b)
10 4

3
0
2
-10 0
1
-10
-20 0
-20

-30
-30

-40 -40
Jan/95 Jan/97 Fev/99 Mar/01 Mar/03 Abr/05 Dez/06 Jan/95 Jan/97 Fev/99 Mar/01 Mar/03 Abr/05 Dez/06

BSCEPEABMF BSCEPEACME BSCEPEACME CAMBIO

Figura 3. Base CEPEA - BM&F e Base CEPEA - CME (parte a); Câmbio e Base CEPEA –
CME (parte b). (em US$ e R$/US$)
Fonte: CEPEA/ESALQ/USP, BM&F, CME e Bacen.

O preço calculado pelo CEPEA/ESALQ/USP é uma média para algumas praças do


Estado de São Paulo seguindo uma ponderação em relação ao número de animais abatidos em
cada uma das praças. Logo, como há diferenças entre os preços de cada praça
individualmente, o produtor tomador de preço deve conhecer o comportamento dos valores do
CEPEA, da BM&F e da CME, bem como o preço praticado no mercado físico. A Figura 4 a

8
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

seguir compara as séries de preços das praças selecionadas e os preços futuros praticados nas
bolsas de Chicago e São Paulo.
O comportamento dos preços físico no estado de São Paulo é bastante atrelado ao do
preço BM&F, fato este que já era esperado, dado que o preço de fechamento referenciado na
BM&F é o preço CEPEA. Porém, ao considerarmos outras praças que não as de São Paulo, a
correlação entre o preço praticado na BM&F e os preços físicos passa a ser menor7. Há uma
diferença maior entre os preços das diferentes praças fora do estado em relação ao preço
BM&F, o que determina a maior amplitude das oscilações em relação aos preços físicos das
praças de São Paulo.
Esse comportamento dos preços físicos de outras praças distintas das paulistas pode
indicar que o preço BM&F deva ser usado com cautela pelos produtores desses estados, visto
que em tais locais espera-se um risco de base maior.

a) b)
32 60

28 50

24 40

20 30

16 20

12 10
Jan/95 Jan/97 Fev/99 Mar/01 Mar/03 Abr/05 Dez/06 Jan/95 Jan/97 Fev/99 Mar/01 Mar/03 Abr/05 Dez/06

ARAC CAMP PRES ARAC PRES NOPR


BAUR LAGO SJRP BAUR CAMP TRIA
BMF NOPR TRIA SJRP LAGO CME

Figura 4. Preços spot das praças selecionadas e preço futuro BM&F (parte a) e Preços spot
das praças selecionadas e preço futuro CME (parte b). (em US$)
Fonte: CEPEA/ESALQ/USP, BM&F e CME.

Calcularam-se os coeficientes de correlações entre os preços praticados na BM&F, na


CME e nas oito praças analisadas. A Tabela 3 mostra os valores para todo o período, enquanto
a Tabela 4 mostra as correlações anuais.
Pode-se constatar uma elevada correlação entre os preços BM&F e os preços físicos
nas diversas praças relacionadas, incluindo aquelas fora de São Paulo. Entretanto, quando se
verifica as correlações anuais, pode-se constatar que no ano de 1998, ano este da crise cambial
brasileira, os coeficientes de correlação, normalmente altos passaram para o patamar
aproximado de 0,25, baixo em relação aos demais períodos. Em 2004 e 2005 pode-se verificar
também uma pequena mudança no patamar da correlação entre os preços BM&F e os preços
físicos das diferentes praças.

Tabela 3. Correlações entre as séries de 1995 à 2006

7
Valores calculados apresentados na Tabela 3.
9
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

ARAC SJRP BAUR PRES NOPR LAGO


ARAC 1,0000 0,9985 0,9980 0,9969 0,9881 0,9832
SJRP 0,9985 1,0000 0,9986 0,9974 0,9882 0,9828
BAUR 0,9980 0,9986 1,0000 0,9972 0,9888 0,9830
PRES 0,9969 0,9974 0,9972 1,0000 0,9862 0,9817
NOPR 0,9881 0,9882 0,9888 0,9862 1,0000 0,9821
LAGO 0,9832 0,9828 0,9830 0,9817 0,9821 1,0000
CAMP 0,9807 0,9797 0,9803 0,9787 0,9826 0,9950
TRIA 0,9850 0,9869 0,9857 0,9876 0,9764 0,9761
BM&F 0,9358 0,9378 0,9395 0,9412 0,9291 0,9315
CME 0,0399 0,0492 0,0482 0,0749 0,0265 0,0663
CEPEA 0,9992 0,9994 0,9993 0,9987 0,9886 0,9835
CAMBIO -0,6670 -0,6622 -0,6633 -0,6401 -0,6644 -0,6269

CAMP TRIA BM&F CME CEPEA CAMBIO


ARAC 0,9807 0,9850 0,9358 0,0399 0,9992 -0,6670
SJRP 0,9797 0,9869 0,9378 0,0492 0,9994 -0,6622
BAUR 0,9803 0,9857 0,9395 0,0482 0,9993 -0,6633
PRES 0,9787 0,9876 0,9412 0,0749 0,9987 -0,6401
NOPR 0,9826 0,9764 0,9291 0,0265 0,9886 -0,6644
LAGO 0,9950 0,9761 0,9315 0,0663 0,9835 -0,6269
CAMP 1,0000 0,9710 0,9313 0,0547 0,9807 -0,6332
TRIA 0,9710 1,0000 0,9289 0,1409 0,9871 -0,5882
BM&F 0,9313 0,9289 1,0000 0,1151 0,9393 -0,5835
CME 0,0547 0,1409 0,1151 1,0000 0,0530 0,5889
CEPEA 0,9807 0,9871 0,9393 0,0530 1,0000 -0,6587
CAMBIO -0,6332 -0,5882 -0,5835 0,5889 -0,6587 1,0000
Fonte: Resultados da pesquisa

Esta mesma análise foi realizada entre os preços CME e os preços físicos das mesmas
praças anteriores. Ao assumir o período todo, verifica-se uma baixa correlação entre os
preços. No entanto ao tomar os dados anualmente, as correlações apresentam comportamentos
distintos, ano a ano, praça a praça, sendo que em 1998 e em 2000, ocorreu uma correlação
negativa entre os preços CME e os preços físicos no Brasil.

Tabela 4. Correlações anuais dos preços de boi gordo entre praças e bolsas
PREÇOS 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
BM&F x ARAC 0,74 0,86 0,88 0,21 0,98 0,84 0,98 0,99 0,99 0,85 0,65 0,97
BM&F x SJRP 0,72 0,83 0,89 0,23 0,97 0,84 0,98 0,99 0,99 0,85 0,63 0,97
BM&F x BAUR 0,74 0,84 0,88 0,22 0,97 0,84 0,98 0,99 0,99 0,84 0,64 0,97
BM&F x PRES 0,75 0,86 0,90 0,23 0,97 0,82 0,98 0,99 0,99 0,86 0,65 0,97
BM&F x NOPR 0,71 0,82 0,85 0,33 0,97 0,85 0,95 0,98 0,99 0,81 0,70 0,95
BM&F x LAGO 0,71 0,86 0,86 0,26 0,97 0,88 0,97 0,99 0,99 0,92 0,65 0,97
BM&F x CAMP 0,66 0,87 0,80 0,26 0,98 0,89 0,97 0,98 0,99 0,94 0,72 0,96
BM&F x TRIA 0,68 0,85 0,81 0,21 0,98 0,91 0,98 0,99 0,99 0,84 0,60 0,96
CME x ARAC 0,74 0,59 0,14 -0,01 0,37 -0,23 0,42 0,11 0,70 0,21 0,34 0,31
CME x SJRP 0,74 0,61 0,14 -0,01 0,37 -0,22 0,44 0,10 0,70 0,21 0,34 0,31
10
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

CME x BAUR 0,72 0,60 0,11 0,00 0,37 -0,21 0,45 0,10 0,71 0,17 0,33 0,32
CME x PRES 0,73 0,61 0,10 -0,01 0,37 -0,21 0,40 0,12 0,69 0,18 0,36 0,31
CME x NOPR 0,70 0,59 0,19 -0,15 0,36 -0,14 0,49 0,03 0,66 0,11 0,18 0,37
CME x LAGO 0,71 0,62 0,26 -0,18 0,36 -0,29 0,25 0,12 0,71 0,42 0,23 0,33
CME x CAMP 0,71 0,63 0,31 -0,16 0,41 -0,28 0,24 0,16 0,72 0,38 0,24 0,35
CME x TRIA 0,78 0,64 0,30 -0,15 0,39 -0,22 0,40 0,12 0,72 0,25 0,48 0,26
Fonte: Resultados da pesquisa

Essa menor correlação entre o preço CME e os preços internos no Brasil favorecem as
atividade de hedging na bolsa nacional em detrimento da bolsa de Chicago, uma vez que, a
menor variação da base, reduz seu risco e, portanto, mais eficaz será a operação de hedging.
Por outro lado, sabe-se do maior grau de liquidez da CME em relação a BM&F. Nesse sentido
há o favorecimento das ações dos especuladores no mercado americano. Logo, cabe aos
agentes arbitrarem entre as duas opções conforme suas necessidades.
A Figura 5, parte a, apresenta as bases calculadas entre o preço BM&F e os preços
praticados nas praças selecionadas. Constata-se que, entre as praças do estado de São Paulo, a
base diverge muito pouco. Os preços dos demais estados apresentam um maior descolamento
do preço BM&F, observados principalmente em períodos de maior instabilidade econômica.
A parte b apresenta uma análise similar para o preço CME. Neste caso não há nenhum
descolamento significativo da base, ou seja, os impactos sobre estas bases ocorridos em 1998,
2004 e 2005 são relativamente menos significativos do que para as bases calculadas em
relação ao preço BM&F.

a) b)
8 -5

-10
4
-15
0
-20

-4 -25

-30
-8
-35

-12 -40
Jan/95 Jan/97 Fev/99 Mar/01 Mar/03 Abr/05 Dez/06 Jan/95 Jan/97 Fev/99 Mar/01 Mar/03 Abr/05 Dez/06

BSARACBMF BSCEPEABMF BSPRESBMF BSARACCME BSCEPEACME BSPRESCME


BSBAURBMF BSLAGOBMF BSSJRPBMF BSBAURCME BSLAGOCME BSSJRPCME
BSCAMPBMF BSNOPRBMF BSTRIABMF BSCAMPCME BSNOPRCME BSTRIACME

Figura 5: Bases praças selecionadas vs. Preços BM&F e CME (em US$)
Fonte: Resultados da pesquisa.

Há, portanto, dois preços de referência nos mercado de futuros que podem ser
utilizados pelos produtores como um indicador para seu processo de formação de preço.
Nesse sentido, conforme as análises anteriores, pode-se verificar que existe certa
independência entre os preços praticados na BM&F e os praticados na CME. Isso se reflete
nas correlações calculadas entre as bases das diferentes praças do Brasil consideradas nesse
trabalho e os preços BM&F e CME.

11
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

A Tabela 5 mostra que não há um comportamento comum entre as bases calculadas


para uma determinada praça em relação ao preço BM&F e CME. Nela constam valores
calculados para a média de preços paulista, representados pelo indicador CEPEA, além de
valores para as praças de outros estados. Assumindo o período de 1995 a 2006, as correlações
calculadas entre as bases CEPEA referentes à BM&F e as bases CEPEA referentes à CME
foi, em termos gerais, de aproximadamente 0,15. Em contrapartida, as correlações das bases
CEPEA – BM&F e bases de praças foram relativamente altas, apresentando valores entre 0,85
e 0,92. Analisando as correlações das bases entre praças e CME nota-se que há uma
correlação mais forte do que no caso de BM&F. Neste caso os valores situam-se em torno de
0,99. Desta forma corrobora-se o fato descrito anteriormente de que as bases relacionadas à
BM&F comportam-se de forma menos conjunta do que as bases relacionadas à CME.
Comparando-se as bases de outros – BM&F e bases de outros estados - CME vê-se
que há correlação fraca entre as mesmas. Por exemplo, as correlações entre a base Campo
Grande – CME e as bases de outros estados – BM&F não passa de 0,15, chagando a
apresentar correlação negativa com a base do Triângulo Mineiro – BM&F. Da mesma forma,
a base Três Lagoas – BM&F apresenta correlação em torno de 0,00 quando comparada com
bases das praças – CME.
Num caso particular nota-se que a base do Triângulo Mineiro – BM&F exibe
correlação negativa com todas as bases de praças – CME, mostrando que existe uma
divergência de comportamento entre os preços de boi gordo mineiros e de Chicago.

Tabela 5. Correlações entre algumas bases selecionadas: Relação BM&F vs. CME
BSCEPEABM&F BSCEPEACME BSCAMPBM&F BSCAMPCME BSLAGOBM&F
BSCEPEABM&F 1,0000 0,1539 0,8596 0,1446 0,8777
BSCAMPBM&F 0,8596 0,0149 1,0000 0,0596 0,9741
BSLAGOBM&F 0,8777 -0,0025 0,9741 0,0329 1,0000
BSNOPRBM&F 0,9235 0,1320 0,9004 0,1457 0,8979
BSTRIABM&F 0,9142 -0,1095 0,8367 -0,1125 0,8645
BSCEPEACME 0,1539 1,0000 0,0149 0,9944 -0,0025
BSCAMPCME 0,1446 0,9944 0,0596 1,0000 0,0329
BSLAGOCME 0,1487 0,9952 0,0540 0,9988 0,0380
BSNOPRCME 0,1540 0,9968 0,0371 0,9959 0,0157
BSTRIACME 0,1604 0,9976 0,0254 0,9929 0,0094

BSLAGOCME BSNOPRBM&F BSNOPRCME BSTRIABM&F BSTRIACME


BSCEPEABM&F 0,1487 0,9235 0,1540 0,9142 0,1604
BSCAMPBM&F 0,0540 0,9004 0,0371 0,8367 0,0254
BSLAGOBM&F 0,0380 0,8979 0,0157 0,8645 0,0094
BSNOPRBM&F 0,1455 1,0000 0,1624 0,8659 0,1421
BSTRIABM&F -0,1076 0,8659 -0,1047 1,0000 -0,0810
BSCEPEACME 0,9952 0,1320 0,9968 -0,1095 0,9976
BSCAMPCME 0,9988 0,1457 0,9959 -0,1125 0,9929
BSLAGOCME 1,0000 0,1455 0,9958 -0,1076 0,9940
BSNOPRCME 0,9958 0,1624 1,0000 -0,1047 0,9953
BSTRIACME 0,9940 0,1421 0,9953 -0,0810 1,0000
Fonte: Resultados da pesquisa

12
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Algumas observações sobre o comportamento da base podem ser captadas olhando sua
evolução ao longo do tempo e relacionando-a com a conjuntura econômica do setor bovino.
Observando-se detalhadamente dois períodos particulares, de julho a dezembro dos anos de
2004 e 2005, vê-se um desprendimento entre o preço CEPEA e o de vencimento dos contratos
futuros da BM&F. A base, que no período estudado permanecia em torno de US$ -0,5/@,
chegou, em outubro de 2004, a US$ -2,74/@, e a US$ -5,54/@ em agosto de 2005. Com isso a
correlação dos preços muda de 99,13% em 2003 para 84,4% em 2004, chegando ao ano de
2005 a 67,4%.
Os motivos para tais desprendimentos dos valores são diversos e mostram uma
imprevisibilidade a respeito da base. Citando alguns desses motivos pode-se dividir os
períodos, sendo o primeiro de julho a dezembro de 2004 e o segundo de julho a dezembro de
2005.
No mês de julho de 2004 o mercado bovino se recuperava do primeiro embargo russo
do ano, causado por um foco de febre aftosa no norte do país, região não exportadora8. Esse
foco, descoberto no inicio de junho, levou a suspensão das exportações para o país europeu,
além da Argentina. Em meados desse mesmo mês o preço BM&F subiu de US$ 19,95/@ para
US$ 22,47/@, movimento que não foi acompanhado no mercado à vista em nenhuma das
praças estudadas, gerando um enfraquecimento da base. Entre agosto e setembro surgiu a
notícia de um novo embargo russo a respeito de um novo foco da febre no estado do
Amazonas o que, o que aliado com fatores climáticos (excesso de chuva antecipando o abate
nos confinamentos no centro-sul) e com a valorização do real frente ao dólar, faz com que o
preço futuro entre num processo descendente atingindo valores menores do que o mesmo
período de 2003. Outubro mostra mais um movimento na gangorra dos preços de boi gordo
no período estudado. Este mês foi caracterizado como a antecipação da entre safra bovina
levando os preços a sucessivas altas, enfraquecendo a base em todas as praças.
Os meses de novembro e dezembro foram marcados por boas e más notícias no
cenário internacional para o Brasil. De um lado tivemos a definição de um acordo bilateral
com a China envolvendo US$ 600 milhões de carne bovina a serem exportados. Em contra
partida, devido a mais um foco de febre aftosa no Mato Grosso do Sul (foco este não
confirmado posteriormente), a Rússia apresentou sua intenção de dar manutenção ao embargo
a carne brasileira. Esses fatores, aliados a antecipação da entressafra, acabaram por influenciar
de forma diferente nas diversas praças do país. Houve um fortalecimento da base nas praças
de São Paulo e do Noroeste do Paraná e um enfraquecimento nas praças de Três Lagoas,
Campo Grande e no Triangulo Mineiro.
Analisando os meses de julho a dezembro de 2005, observa-se que este é o período de
menores correlações entre os preços das praças e da BM&F. Além da crise da febre aftosa a
partir de outubro, outro motivo foi a constante valorização do real frente ao dólar no ano.
Apesar dessa valorização, o volume exportado, assim como o valor recebido, aumentaram
frente a 2004 (13,9% e 22,1% respectivamente). Outro fator a ser colocado é que o número de
abates permaneceu praticamente constante de um ano para o outro (crescimento de 1,4%
atingindo 42,7 milhões de abates), sobrando para o mercado interno a diminuição da
participação na produção de 2,4%. Ainda em julho o mercado mostrava uma diminuição do
preço à vista, chegando a US$ 22,7/@ e ao mesmo tempo projetava um preço futuro para
outubro de cerca de US$ 27/@. Essa diferença foi essencial para a forte discrepância da base
no período, além das variações dos preços nas diferentes praças. Como exemplo, a base de
São José do Rio Preto aumentou em quase nove vezes dentro do mês de julho.
8
Observa-se que no ano de 2003 a Rússia foi o terceiro maior destino de carne bovina brasileira.
13
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Em agosto tradicionalmente se espera uma melhora dos preços à vista devido a


entressafra, fato não confirmado principalmente devido ao aumento da oferta dos
confinamentos e das condições climáticas favoráveis para a pastagem, puxando o preço para
baixo (nível mais baixo do valor da arroba em reais até então desde o início do plano Real).
Nesse mês os preços nas praças acompanharam o valor futuro apresentando queda, havendo
um fortalecimento da base em todas elas. As correlações dos preços no mês de agosto se
apresentaram as mais altas para o período ressaltado (julho a dezembro de 2005). Em
setembro os preços do boi gordo, tanto à vista como no futuro, apresentaram recuperação,
sendo esta última mais intensa devido a expectativa da diminuição da oferta por parte dos
confinadores. O distanciamento do preço futuro frente ao à vista acabou por enfraquecer a
base no período.
No mês de outubro o mercado começou altista em decorrência da redução da oferta,
característica do período, que logo foi abalada pela notícia de um foco de febre aftosa no
Mato Grosso do Sul. O mercado futuro havia saltado de US$ 24,30/@ em meados de
setembro para quase US$ 30,00/@ no inicio de outubro, recuando para US$ 25,50/@ e
fechando o mês em US$ 28,20/@. Esse vai e vem das cotações não foi acompanhada de perto
pelos preços à vista dado as incertezas decorrentes dos focos de aftosa. Depois do primeiro
foco em Mato Grosso do Sul apareceram também outros focos no estado do Paraná, no final
do mês. Observando as bases nas diversas praças estudadas podemos ver que o fortalecimento
ocorreu em São Paulo e no Triangulo Mineiro. Com o fechamento do mercado paulista,
principal mercado consumidor, para as carnes dos estados contaminados, a queda nos preços a
vista nas respectivas praças foi esperado e com isso ocorreu o enfraquecimento da base nas
praças do Paraná e do Mato Grosso do Sul.
Zen (2005) coloca que as incertezas naquele período foram tantas que a praça de
Campo Grande chegou a não apresentar negociações no dia 13 de outubro. Um fato inédito na
história da série de preços do CEPEA. Outra observação inusitada foi a cotação de preços
negociados variando de R$ 52,00/@ a R$ 57,00/@, no mesmo dia, com o mesmo prazo, na
praça de Campo Grande, mais uma característica da incerteza do mercado interno. Já no
mercado externo, o país também sofreu com o embargo de 40 países a carne interna,
acarretando numa redução no embarque de 18,2%. Nos últimos dois meses do ano, as
incertezas a respeito do impacto da febre aftosa marcaram as decisões dos agentes no mercado
de boi gordo.
A abertura para o tráfico de animais vivos dos estados do Paraná e do Mato Grosso do
Sul para São Paulo contribuiu para a derrubada do preço à vista e do futuro, fortalecendo a
base. As correlações dos preços também voltaram a sua normalidade saindo de 12,6% no
índice CEPEA em outubro frente ao preço BM&F para 97,2% em novembro, voltando a
oscilar para 62,7% em dezembro. Outros fatores como a acusação de formação de cartel por
parte dos frigoríficos, também contribuiu para as oscilações de preços. Comparando o final de
2004 com o final de 2005 o valor negociado na BM&F foi R$ 9,00/@ inferior, sugerindo uma
“reflexão aos profissionais do setor pecuário. Os preços tiveram um comportamento bastante
atípico, com movimentos diferentes dos observados nos últimos três anos, incluindo
desvalorizações na entressafra. Houve redução nas margens dos pecuaristas e, conforme
agentes de frigoríficos, também da indústria.” (AgroMensal Dez/05).

4. CONCLUSÕES

14
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Os resultados mostram que a base CEPEA - BM&F se comporta de forma estável,


podendo-se notar que os preços físico e futuro do boi gordo no Brasil “caminham” juntos
durante o período analisado. As tabelas de correlações sugerem que a operação de hedge para
o mercado bovino brasileiro é eficaz, favorecendo a operação de proteção de risco ao produtor
brasileiro.
No entanto, a base CEPEA - BM&F apresenta comportamento “anormal” em dois
períodos distintos, nos anos de 2004 e 2005. No primeiro ano, o fato de focos de febre aftosa
no Brasil fez com que o preço físico permanecesse abaixo do esperado, enquanto que, em
2005, além desse mesmo problema aliaram-se ainda a antecipação dos confinamentos bovinos
e eventos que propiciaram uma instabilidade institucional no mercado como contribuintes
para a baixa dos preços do boi gordo.
A análise da base CEPEA - CME mostra um comportamento instável. Após 1999, com
a desvalorização cambial no Brasil, pode-se notar uma elevação na variabilidade da base. O
comportamento do câmbio influencia de forma direta as relações entre os preços interno e
externo, sendo que se pode inferir com base nos resultados que alterações nos preços futuros
da CME não são totalmente absorvidos no mercado futuro brasileiro.
As tabelas de correlações expostas neste trabalho mostram favorecimento das
operações de hedge na bolsa brasileira em virtude da alta correlação dos preços das praças e o
preço BM&F, enquanto que o mesmo não pode ser dito com relação ao preço CME. Neste
caso, a baixa correlação dos preços das praças brasileiras com os preços futuros da CME,
aliados com a volatilidade da base, incentivam a prática especulativa ao invés da proteção do
risco por parte dos produtores. Tal prática especulativa também é favorecida pela alta liquidez
da bolsa de Chicago.
Uma análise mais detalhada dos dados, tal como testes de Co-Integração (Johansen,
por exemplo) e/ou causalidade (Granger, por exemplo), poderia ser um instrumento de grande
utilidade para determinar realmente o quão próximos são os mercados bovino brasileiro e
internacional. No entanto este não foi o foco principal no presente trabalho. Estudos desta
natureza devem ser desenvolvidos para o enriquecimento do mercado de derivativos em
projetos posteriores.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOLSA DE MERCADORIAS E FUTUROS (BM&F). www.BM&F.com.br (consultado em


11 de janeiro de 2007).
CASTELINO, M.G. Hedge Effectiveness: Basis Risk and Minimum-Variance Hedging.
The Journal of Futures Markets, Vol. 12, No. 2, 187-201, 1992.

CASTELINO, M.G. & FRANCIS, J.C. Basis Speculation in Commodity Futures: The
Maturity Effect. The Journal of Future Markets, Vol. 2, No. 2, pp. 195-206, 1982.

CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA (CEPEA).


Informativo CEPEA – Boi. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade
de São Paulo.

CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA (CEPEA).


AgroMensal. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo.

15
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

CHICAGO MERCANTILE EXCHANGE (CME). www.cme.com (consultado em 10 de


janeiro de 2007).

DAVIS, et al. Livestock Basis. Texas Agricultural Extension Service. Texas A&M
University System, 1999.

FONTES, R.E.; CASTRO JUNIOR, L.G. & AZEVEDO, A.F. Base e risco de base da
cafeicultura em Minas Gerais e São Paulo. Resenha BM&F. São Paulo, No. 153, pp. 50-56.
2003b.

GAIO, L.E. et al. Causalidade e Elasticidade na Transmissão de Preços do Boi Gordo


entre Regiões do Brasil e a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Organizações
Rurais & Agroindustriais, Lavras, v. 7, n. 3, p. 282-297, 2005

GARCIA, P. & SANDERS, D.R. The Live Hog Futures Contract: Hás Hedgers’ Risk
Increased? The Journal of Future Markets, Vol 16, No. 4, pp. 421-440, 1996.

GOSS, B.A. & AVSAR, S.G. Non-Storables, Simultaneity and Price Determination: The
Australian (Finished) Live Cattle Market. Australian Economic Papers, vol. 38, pp.
461-480, 1999.

HULL, J.C. Options, Futures and Other Derivatives. New Jersey, Prentice Hall, 5th edition,
2003.

MARQUES, P.V.; MELLO, P.C. & MARTINES FILHO, J.C. Mercados Futuros e de
Opções Agropecuárias. Série Didática No. D-129. Piracicaba, 2006.

ROCHELLE, T.C.P.; FERREIRA FILHO, J.B.S.; O Risco de Base e a Liquidação


Financeira do Contrato Futuro de Boi Gordo. Preços Agrícolas. Abril/1998. 12-15 pp.

SILVEIRA, R.L.F. & FERREIRA FILHO, J.B.S. Análise das Operações de Cross Hedge do
Bezerro e de Hedge de Boi Gordo no Mercado Futuro da BM&F. Resenha BM&F 159,
pp. 56-64, 2004.

ZEN, S.; O Boi não tem Preço. E Agora, José? O Estado de São Paulo, 19 de outubro de
2005. Caderno: Economia. PP. B-2.

16
Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

Você também pode gostar