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BrJP

ISSN - 2595-0118

BRAZILIAN JOURNAL OF PAIN


Vol. 03 No 03 Jul/Ago/Set. 2020
Alívio prolongado da dor 1-4

Opioide com
evidências de
efetividade ao ser
empregado no Rápido inicio de ação
tratamento da no tratamento da
fibromialgia.7 dor neuropática. 6
12 h
efetivo
1,2

APRESENTAÇÕES¹: 10 cápsulas duras 50mg, solução oral com 10 mL (100mg/mL), retard: 10 comprimidos revestidos de liberação prolongada 100mg.
MODERADA

TRAMADON® É UM MEDICAMENTO. DURANTE SEU USO, NÃO DIRIJA VEÍCULOS OU


OPERE MÁQUINAS, POIS SUA AGILIDADE E ATENÇÃO PODEM ESTAR PREJUDICADAS.
CONTRAINDICAÇÃO: PACIENTES EM TRATAMENTO COM INIBIDORES DA MAO OU QUE FORAM TRATADOS COM ESSES FÁRMACOS
NOS ÚLTIMOS 14 DIAS.INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA: FÁRMACOS QUE REDUZAM O LIMIAR PARA CRISES CONVULSIVAS.
Referências Bibliográficas: 1. Bula Tramadon® e Tramadon® Retard. Reg. MS nº 1.0298.0261. 2. Grond S, Sablotzki A. Clinical pharmacology of tramadol. Clin Pharmacokinetic. 2004; 43(13):879-923. 3.
Kahan M, Mailis-Gagnon A, Wilson L, Srivastava A; National Opioid Use Guideline Group. Canadian guideline for safe and effective use of opioids for chronic noncancer pain: clinical summary for family
physicians. Part 1: general population. Can Fam Physician. 2011;57(11):1257-66. 4. Klotz U. Tramadol-the impact of its pharmacokinetic and pharmacodynamics properties on the clinical management of pain.
Arzneimittelforschung. 2003;53(10):681-7. 5. World Anti-Doping Agency. Prohibited List January 2020. World Anti-Doping Code: International Standard, 2019. 6. Jefferies K. Treatment of neuropathic pain.
Semin Neurol. 2010;30(4):425-32. 7. Rahman A, Underwood M, Carnes D. Fibromyalgia. BMJ. 2014;348:g1224.
TRAMADON® cloridrato de tramadol - solução oral 100 mg/mL, USO ORAL. USO ADULTO E PEDIÁTRICO ACIMA DE 1 ANO - cápsula dura 50 mg, USO ORAL. USO ADULTO E PEDIÁTRICO ACIMA DE 12
ANOS. TRAMADON® RETARD cloridrato de tramadol - comprimidos revestidos de liberação prolongada 100 mg, USO ORAL. USO ADULTO E PEDIÁTRICO ACIMA DE 12 ANOS. INDICAÇÕES: alívio da dor
de intensidade moderada a grave. CONTRAINDICAÇÕES: hipersensibilidade ao tramadol ou qualquer componente das fórmulas; intoxicação aguda por álcool, hipnóticos, analgésicos, opioides e outros
psicotrópicos; pacientes em tratamento ou tratados com inibidores da MAO (monoamina oxidase) nos últimos 14 dias; epilepsia não controlada adequadamente com tratamento; substituto na abstinência de
narcóticos. Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica ou do cirurgião-dentista. ADVERTÊNCIAS E PRECAUÇÕES: dependência aos opioides, pacientes com
tendência à dependência ou ao abuso de medicamentos, pacientes sensíveis aos opioides, ferimentos na cabeça, distúrbios do nível de consciência de origem não estabelecida, pressão intracraniana aumenta-
da, choque, distúrbios da função ou do centro respiratório, pacientes com epilepsia ou susceptíveis a convulsões (relatadas convulsões em pacientes recebendo tramadol nas doses recomendadas). Em longo
prazo, pode-se desenvolver tolerância e dependência física e psicológica. Durante o tratamento, o paciente não deve dirigir veículos ou operar máquinas, pois sua habilidade e atenção podem estar prejudica-
das. Gravidez: atravessa a barreira placentária, não deve ser utilizado durante a gravidez; no neonato pode induzir alterações na taxa respiratória e no uso crônico levar a sintomas de abstinência. Lactação:
uso não recomendado. Solução oral: este medicamento contém SACAROSE. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: inibidores da MAO, carbamazepina, ondansetrona, álcool e depressores do Sistema Nervoso
Central (SNC), inibidores seletivos da recaptação de serotonina, inibidores da recaptação de serotonina e norepinefrina, antidepressivos tricíclicos, antipsicóticos, fármacos que diminuem o limiar para crises
convulsivas, serotoninérgicos, derivados cumarínicos e inibidores do CYP3A4. POSOLOGIA: ajustar dose à intensidade da dor e à sensibilidade individual do paciente. Dose total diária de 400 mg de cloridrato
de tramadol não deve ser excedida, exceto em circunstâncias clínicas especiais. TRAMADON® Solução Oral: em adultos e adolescentes acima de 12 anos de idade, 50-100 mg a cada 4 ou 6 h. Em crianças
AN-UVF-TRM-1-1º-15-JAN/2020

acima de 1 ano de idade, dose única: 1-2 mg/kg de peso corporal. Não exceder dose diária total de 8mg/kg de peso corporal ou 400 mg (o que for menor). 1 gota = 2,5 mg. TRAMADON® Cápsula Dura (adultos
e adolescentes a partir de 12 anos): 50-100 mg a cada 4 ou 6 h. TRAMADON® RETARD (adultos e adolescentes a partir de 12 anos): até 200 mg 2x/dia. Idosos (acima de 75 anos) e Insuficiência Renal e/ou
Hepática: considerar intervalos maiores entre as doses de acordo com os requerimentos dos pacientes. Pacientes com insuficiência renal e/ou hepática grave não devem tomar TRAMADON® RETARD.
REAÇÕES ADVERSAS: Muito Comum: náusea, tontura. Comum: dor de cabeça, sonolência, vômito, constipação, boca seca, hiperidrose, fadiga. Incomum: regulação cardiovascular (palpitação, taquicardia;
hipotensão postural ou colapso cardiovascular), ânsia de vômito, desconforto gastrintestinal, diarreia, reações dérmicas (ex: prurido, rash, urticária). SUPERDOSE: miose, vômito, colapso cardiovascular,
distúrbios de consciência podendo levar ao coma, convulsões e depressão respiratória à parada respiratória. Aplicar medidas de emergência gerais. Naloxona se depressão respiratória, diazepam se convulsão.
APRESENTAÇÕES: TRAMADON® Solução Oral: embalagem contendo 1 frasco gotejador com 10 mL; Cápsula Dura: embalagem contendo 10 ou 100 cápsulas. TRAMADON® RETARD: embalagem contendo
10 comprimidos revestidos. Para mais informações, vide bula do medicamento. CRISTÁLIA - Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda. - Farm. Resp.: Dr. José Carlos Módolo - CRF-SP nº 10.446 - Rod.
Itapira-Lindóia, km14, Itapira-SP - CNPJ n° 44.734.671/0001-51 - Indústria Brasileira - SAC: 0800 7011918 - nº do Lote, Data de Fabricação e Prazo de Validade: Vide Embalagem. CLASSIFICAÇÃO: VENDA
SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA – SÓ PODE SER VENDIDO COM RETENÇÃO DA RECEITA. MEDICAMENTO SIMILAR EQUIVALENTE AO MEDICAMENTO DE REFERÊNCIA. Reg. MS Nº 1.0298.0261.

Material de divulgação exclusiva aos profissionais de saúde habilitados a prescrever medicamentos.


SUMÁRIO

Volume 3 – nº 3
Julho a Setembro de 2020 EDITORIAL
Publicação Trimestral Definição de dor revisada após quatro décadas_________________________________197
Definition of pain revised after four decades
Josimari Melo DeSantana, Dirce Maria Navas Perissinotti, José Oswaldo de Oliveira Junior, Luci
SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O Mara França Correia, Célia Maria de Oliveira, Paulo Renato Barreiros da Fonseca
ESTUDO DA DOR
DIRETORIA ARTIGOS ORIGINAIS
Biênio 2020-2021 Avaliação do sobrenadante da cultura de queratinócitos ou fibroblastos em modelo de
hiperalgesia inflamatória__________________________________________________199
Presidente Evaluation of the keratinocytes or fibroblasts culture supernatant in an inflammatory hyperalgesia model
Paulo Renato Barreiros da Fonseca Cíntia Ávila Souza, Gilson Gonçalves dos Santos, Felipe Hertzing Farias, Eli Ávila Souza Júnior,
http://lattes.cnpq.br/9099397240334208 Carlos Amilcar Parada
Vice-Presidente
José Oswaldo de Oliveira Junior Efeito da mobilização neural em indivíduos com dor lombar crônica_______________205
http://lattes.cnpq.br/6744087111028320 Effects of neural mobilization on individuals with chronic low back pain
Diretor Científico Marina Ramos, Caio A. H. Cruz, Moises F. Laurentino, Hazem Adel Ashmawi, Fabio M. Santos,
Luci Mara França Correia Marucia Chacur
http://lattes.cnpq.br/8878925882317970
Diretor Administrativo Argila medicinal verde no tratamento da dor lombar inespecífica: ensaio clínico______213
Green medicinal clay in the treatment of the unspecified lumbar pain: clinical trial
Dirce Maria Navas Perissinotti
Mariana Terezinha Delfino, Graciela Mendonça da Silva de Medeiros, Aline Daiane Schlindwein
http://lattes.cnpq.br/4257309602330961
Tesoureiro Intensidade de dor e desconfortos puerperais imediatos__________________________217
Josimari Melo DeSantana Pain intensity and immediate puerperal discomforts
http://lattes.cnpq.br/9819654988177433 Thais do Amaral Tomasoni, Jordana Barbosa Silva, Thalita Cristina Wolff Bertotti, Jessica Perez,
Secretaria Raciele Ivandra Guarda Korelo, Rubneide Barreto Silva Gallo
Célia Maria de Oliveira
http://lattes.cnpq.br/9391711154551929 Relação entre sintomas e sinais imagenológicos das disfunções degenerativas
da articulação temporomandibular com o Research Diagnostic Criteria for
Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor Temporomandibular Disorders e a tomografia computadorizada de feixe cônico _____222
Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 937 Relationship between symptoms and imagenological signs of degenerative temporomandibular joint
Cj. 2 – Vila Mariana disorders using the Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders and cone-beam
04014-012 São Paulo, SP computed tomography
Fone: 11 5904-2881/3959 Bruno Moreira da-Silva, Rafael de Almeida Spinelli Pinto, Letícia Ladeira Bonato, Arnaud Alves
www.dor.org.br Bezerra-Júnior, Eduardo Grossmann, Luciano Ambrósio Ferreira
E-mail: dor@dor.org.br
Fatores preditivos de risco de lombalgia crônica em mulheres: estudo de base
populacional____________________________________________________________228
Citações do Brazilian Journal of Pain
Predictive factors of chronic lower back pain risk in women: population-based study
deve ser abreviado para BrJP.
Patrícia Cilene Freitas Sant´Anna, Guilherme Watte, Anderson Garcez, Stephan Altmayer, Maria
Teresa Anselmo Olinto, Juvenal Soares Dias da Costa
BrJP não é responsável
qualquer que seja a opinião.
Interferência dos sintomas da síndrome do Túnel do Carpo no desempenho
ocupacional_____________________________________________________________234
Os anúncios publicados nesta edição não Interference of the Carpal Tunnel syndrome symptoms on occupational performance
podem gerar conflito de interesses.
Kátine Marchezan Estivalet, Carmine Thomas, Aline Sarturi Ponte, Dyannder da Silva Porciuncula
Pinto, Miriam Cabrera Corvelo Delboni

Intensidade da dor, incapacidade funcional e fatores psicossociais em mulheres com dor


Indexada na SciELO Indexada na LILACS Indexada na Latindex
pélvica crônica: um estudo transversal _______________________________________239
Intensity of pain, disability and psychosocial factors in women with chronic pelvic pain: cross-sectional study
Publicação editada e produzida por Jennifer Nogueira Rocha, Luiz Eduardo de Castro, Virgínia Martello Riccobene, Michele Souza
MWS Design - Telefone: (055) 11 98767-6188
Menezes Autran, Leandro Alberto Calazans Nogueira, Felipe José Jandre dos Reis
Jornalista Responsável
O registro da dor aguda em pacientes hospitalizados ____________________________245
Marcelo Sassine - Mtb 22.869
Recording acute pain in hospitalized patients
Editor de Arte Amanda Brassaroto Gimenes, Camila Takáo Lopes, Alfredo José Alves Rodrigues-Neto, Marina de
Anete Salviano Góes Salvetti
EDITOR CIENTÍFICO José Geraldo Speciali
Universidade de São Paulo, Ribeirão
Relação entre a anteversão de colo do fêmur e a síndrome da dor patelofemoral em
Irimar de Paula Posso
Universidade de São Paulo, São Paulo, Preto, SP. Brasil – jgspecia@fmrp.usp.br mulheres jovens não praticantes de atividade física regular____________________ 249
SP, Brasil – editor.brjp@dor.org.br https://orcid.org/0000-0002-1148-1212
https://orcid.org/0000-0003-0337-2531 http://lattes.cnpq.br/6919225958713920 Relationship of anteversion of the femoral neck with patellofemoral pain syndrome in young
http://lattes.cnpq.br/5789900900585872 José Oswaldo Oliveira Junior
Universidade de São Paulo, São Paulo,
women not practicing regular physical activity
COEDITORES SP, Brasil – jo.oliveirajr@yahoo.com.br Alexandre Otilio Pinto-Junior, Yuri Rafael dos Santos Franco, Quiteria Maria Wanderley Rocha
Célia Maria de Oliveira https://orcid.org/0000-0003-1748-4315
Universidade Federal de Minas http://lattes.cnpq.br/6744087111028320
Gerais, Belo Horizonte, MG, José Tadeu Tesseroli de Siqueira Adaptação transcultural e evidência de validade de conteúdo da versão brasileira da
Brasil – cmariol@terra.com.br Universidade de São Paulo, São Paulo,
https://orcid.org/0000-0002-1937-7364 SP, Brasil – jttsiqueira_52@hotmail.com Nociception Coma Scale-revised_________________________________________ 253
http://lattes.cnpq.br/9391711154551929 https://orcid.org/0000-0002-9721-1634
http://lattes.cnpq.br/9759563517399484
Cross-cultural adaptation and content validity evidence of the Brazilian version of the Nociception
Dirce Maria Navas Perissinotti
Universidade de São Paulo, São Paulo, Karina Gramani Say Coma Scale-revised
SP, Brasil – dircelko@gmail.com Universidade Federal de São
https://orcid.org/0000-0002-0346-1190 Carlos, São Carlos, SP, Brasil – Mariana Bucci Sanches, Cristiane Vias França Silva, Yasmin Mohamed Ali, Marcio Matsumoto,
kagramanis@yahoo.com.br
http://lattes.cnpq.br/4257309602330961
https://orcid.org/0000-0002-2451-8109
João Valverde Filho, Marina de Góes Salvetti
Eduardo Grossmann
Universidade Federal do Rio http://lattes.cnpq.br/5096508613057074
Kátia Nunes Sá
Grande do Sul, Porto Alegre, RS,
Faculdade de Medicina e Saúde
ARTIGOS DE REVISÃO
Brasil – edugdor@gmail.com
http://orcid.org/0000-0002-1238-1707 Pública da Bahia, Salvador, BA, Influência do método Pilates na qualidade de vida e dor de indivíduos com
http://lattes.cnpq.br/4470378345964718 Brasil – katia.sa@gmail.com
Josimari Melo de Santana https://orcid.org/0000-0002-0255-4379 fibromialgia: revisão integrativa__________________________________________ 258
http://lattes.cnpq.br/4313045041004715
Universidade Federal Sergipe, Aracaju,
Luci Mara Franca Correia Influence of the Pilates method on quality of life and pain of individuals with fibromyalgia:
SE, Brasil – desantanajm@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-1432-0737 Centro de Pesquisa Odontológica integrative review
http://lattes.cnpq.br/9819654988177433 São Leopoldo Mandic, Curitiba, PR,
Juliana Barcellos de Souza Brasil – draluci.odonto@gmail.com Bruna Lira Brasil Cordeiro, Igor Henriques Fortunato, Fabiano Ferreira Lima,
https://orcid.org/0000-0002-4977-255X
Universidade Federal de Santa
http://lattes.cnpq.br/8878925882317970 Rinaldo Silvino Santos, Manoel da Cunha Costa, Aline Freitas Brito
Catarina, Florianópolis, SC, Brasil
– juliana@educaador.com Mirlane Guimarães de Melo Cardoso
Universidade Federal do Amazonas,
https://orcid.org/0000-0003-4657-052X
Manaus, AM, Brasil – mirlane. Escalas para a avaliação da dor na unidade de terapia intensiva. Revisão sistemática_263
http://lattes.cnpq.br/0009123389533752
Lia Rachel Chaves do Amaral Pelloso cardoso@uol.com.br Scales for the assessment of pain in the intensive care unit. Systematic review
Universidade Federal do Mato https://orcid.org/0000-0001-9739-8235
Grosso, Cuiabá, MT, Brasil – http://lattes.cnpq.br/1663863759459785 Tássia Catiuscia Nascimento Silva da Hora, Iura Gonzalez Nogueira Alves
liacpelloso@gmail.com Oscar César Pires
https://orcid.org/0000-0001-9594-9371 Universidade de Taubaté, Taubaté, SP,
http://lattes.cnpq.br/1267225376308387 Brasil – oscarpires50@gmail.com Efeito de células-tronco mesenquimais na regeneração das estruturas associadas à
https://orcid.org/0000-0002-7033-0764
Maria Belen Salazar Posso
http://lattes.cnpq.br/2929971233764932 articulação temporomandibular: revisão narrativa___________________________ 275
Fundação Universidade Cristã,
Pindamonhangaba, SP, Brasil –
Paulo Cesar Rodrigues Conti
Faculdade de Odontologia de Bauru,
Effect of mesenchymal stem cells on the regeneration of structures associated with temporomandibular
mbelen@terra.com.br
https://orcid.org/0000-0003-3221-6124
Bauru, SP, Brasil – pcconti@fob.usp.br joint: narrative review
https://orcid.org/0000-0003-0413-4658
http://lattes.cnpq.br/4644641106395490
http://lattes.cnpq.br/3826401854753554 Caren Serra Bavaresco, Thiago Kreutz Grossmann, Daniela Seitenfus Rehm, Eduardo Grossmann
Telma Regina Mariotto Zakka
Rafael Krasic Alaiti
Universidade de São Paulo, São Paulo,
Universidade de São Paulo, São Paulo,
SP, Brasil – trmzakka@gmail.com
SP, Brasil – rafael.alaiti@gmail.com Estresse financeiro e dor, o que surge após uma crise econômica? Revisão
https://orcid.org/0000-0002-3222-2244
http://lattes.cnpq.br/7210747586447129
https://orcid.org/0000-0003-1830-7011
http://lattes.cnpq.br/2213351462207411
integrativa___________________________________________________________ 280
CORPO EDITORIAL
Renato Leonardo de Freitas Financial stress and pain, what follows an economic crisis? Integrative review
Universidade de São Paulo, Ribeirão
Abrahão Fontes Baptista
Preto, SP, Brasil – defreitas.rl@gmail.com Maurício Kosminsky, Michele Gomes do Nascimento, Gabriela Neves Silva de Oliveira
Universidade Federal de Pernambuco,
https://orcid.org/0000-0003-1799-5326
Recife, PE, Brasil – abrahao.
http://lattes.cnpq.br/4321982079895528
baptista@gmail.com
Rosana Maria Tristão RELATOS DE CASOS
https://orcid.org/0000-0001-7870-3820 Universidade Federal de Brasilia, Brasilia,
http://lattes.cnpq.br/3079253830583385 DF, Brasil – rosana.tristao@gmail.com
Fotobiomodulação como adjuvante no tratamento farmacológico da neuralgia
Angela Maria Sousa
Universidade de São Paulo, São Paulo,
https://orcid.org/0000-0002-1751-8506 trigeminal. Relato de caso______________________________________________ 285
http://lattes.cnpq.br/4268612281620305
SP, Brasil – angela.sousa@hc.fm.usp.br Rui Nei de Araújo Santana Jr Photobiomodulation as an adjuvant in the pharmacological treatment of trigeminal neuralgia.
https://orcid.org/0000-0003-1732-9083 Escola Bahiana de Medicina e
http://lattes.cnpq.br/9970857881355001 Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil
Case report
Claudia Carneiro de Araújo Palmeira
Instituto Brasileiro de Controle
– raraujojrneuro@gmail.com João Paulo Colesanti Tanganeli, Denise Sabbagh Haddad, Sandra Kalil Bussadori
https://orcid.org/0000-0002-4291-3559
do Câncer, São Paulo, SP, Brasil http://lattes.cnpq.br/7169808569004429
– ccapalmeira@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-3508-1512
Vania Maria de Araújo Giaretta Manejo de dor em pacientes com osteoartrite de joelho por bloqueio dos nervos
Universidade de Taubaté, Taubaté, SP.
http://lattes.cnpq.br/5570233456997863 Brasil – vania_giaretta@yahoo.com.br geniculares guiado por ultrassonografia. Relato de casos______________________ 288
Durval Campos Kraychete https://orcid.org/0000-0003-4231-5054
Universidade Federal da Bahia, Salvador, http://lattes.cnpq.br/4171286622427592
Pain management in patients with knee osteoarthritis by ultrasound-guided genicular nerve block.
BA, Brasil – dkt@terra.com.br
https://orcid.org/000-0001-6561-6584
Walter Lisboa Oliveira Case reports
Universidade Federal do Sergipe, Aracaju,
http://lattes.cnpq.br/6008595426904260 SE, Brasil – walterlisboa@rocketmail.com Thiago Alves Rodrigues, Eduardo José Silva Gomes de Oliveira, João Batista Santos Garcia
Guilherme Antônio Moreira de Barros https://orcid.org/0000-0001-5798-6737
Faculdade de Medicina de http://lattes.cnpq.br/0512185167681269
Botucatu, Botucatu, SP, Brasil CARTAS AO EDITOR
– gambarros@uol.com.br INTERNATIONAL BOARD
https://orcid.org/0000-0001-6421-353X Allen Finley O que falar sobre pacientes com dor durante e após a pandemia por COVID-19? __ 292
http://lattes.cnpq.br/4793749773394626
Hazem Adel Ashmawi
Dalhousie University, Halifax – Canada. What about patients with pain during and after the COVID-19 pandemic?
https://orcid.org/0000-0003-4579-7749
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Antoon De Laat Josimari Melo DeSantana
Brasil – hazem.ashmawi@hc.fm.usp.br Catholic University of Leuven – Belgium.
https://orcid.org/0000-0003-0957-971X https://orcid.org/0000-0003-3558-1418
http://lattes.cnpq.br/0885913183990095 Gary M. Heir Considerações sobre o novo conceito de dor________________________________ 294
Ismar Lima Cavalcanti Medicine and Dentistry University
Universidade Federal Fluminense, Niterói, of New Jersey, New Jersey – EUA. Considerations about the new concept of pain
RJ, Brasil – ismarcavalcanti@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-0412-2609
https://orcid.org/0000-0001-9571-402X Juliana Barcellos de Souza, Carlos Marcelo de Barros
Jeftrey P. Okeson
http://lattes.cnpq.br/3897507589015450 Kentucky University, Lexington – EUA.
Jamir Joao Sarda Junior
Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí,
https://orcid.org/0000-0002-8303-6150
Jose Manoel Castro Lopes
INSTRUÇÕES AOS AUTORES_________________________________________ 295
SC, Brasil – jamirsarda@hotmail.com University of Porto, Porto – Portugal. Instructions to Authors
https://orcid.org/0000-0001-9580-8288 https://orcid.org/0000-0002-6583-1150
http://lattes.cnpq.br/6152374334604475 Mark Jensen
João Batista Santos Garcia Washington University, Washington – USA.
Universidade Federal do Maranhão, São https://orcid.org/0000-0001-9228-8838
Luiz, MA, Brasil – jbgarcia@uol.com.br Ricardo Plancarte Sanchez
https://orcid.org/0000-0002-3597-6471 National Institute of Cancerology,
http://lattes.cnpq.br/0424234103760462 México – México
José Aparecido da Silva https://orcid.org/0000-0002-7418-1807
Universidade de São Paulo, Ribeirão
Preto, SP, Brasil – jadsilva@ffclrp.usp.br COORDENACAO EDITORIAL Os artigos deverão ser enviados através de submissão online:
https://orcid.org/0000-0002-1852-369X Evanilde Bronholi de Andrade
http://lattes.cnpq.br/7126562427966797 brjp-contato@dor.org.br https://www.gnpapers.com.br/brjp/default.asp
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):197-8 EDITORIAL

Definição de dor revisada após quatro décadas


Definition of pain revised after four decades
DOI 10.5935/2595-0118.20200191

A definição revisada pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) conceitua a dor como “uma experiência sensitiva e emo-
cional desagradável associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial”1.
Datada de 1979, a primeira definição recomendada pelo Subcomitê de Taxonomia e adotada pelo Conselho da IASP conceituava a dor como
“uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada a uma lesão tecidual real ou potencial, ou descrita nos termos de tal lesão”. Essa
definição foi amplamente aceita por profissionais da saúde e pesquisadores da área de dor e adotada por diversas organizações profissionais,
governamentais e não-governamentais, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ao longo de 41 anos, mudanças revolucionárias ocorreram na compreensão do fenômeno da dor, além de publicações muito importantes no
que se refere a sua definição e classificação, especialmente na última década. Antigamente, uma visão dicotômica considerava a dor apenas
como nociceptiva ou neuropática, fato que excluía outras condições, tal como a fibromialgia. Em 2016 surgiu um terceiro descritor, dor
nociplástica, para melhor classificar outras condições dolorosas2.
Em 2019 outra questão conceitual e de classificação foi resolvida, quando da inclusão da dor crônica na Classificação Internacional de Doen-
ças (CID)3. Esta demanda foi resultante da ação conjunta de uma Força Tarefa da IASP e da OMS. Atualmente, a dor consta na CID-11 com
7 subcategorias, sendo 1 primária e 6 secundárias.
Recentemente, alguns profissionais e pesquisadores da área de dor argumentaram que os avanços no entendimento da dor justificavam uma
reavaliação da definição, apresentando propostas de modificação, fortes opiniões em favor ou em oposição à necessidade de revisão e, portan-
to, propuseram modificações ao longo dos últimos anos4,5. Como ocorrem avanços contínuos e consistentes quanto ao conhecimento sobre
a dor e seus mecanismos, a terminologia da dor também deve ser modificada e ajustada.
Sendo assim, em 2018, a IASP convocou uma Força Tarefa Presidencial multinacional, composta por 14 profissionais com ampla experiência
em ciência clínica e/ou básica relacionada à dor para avaliar a definição atual e suas notas explicativas e recomendar se tal definição deveria
ser mantida ou alterada.
A revisão oferece uma sinopse dos conceitos críticos, análise dos comentários dos membros da IASP e do público, e as recomendações finais
do comitê sobre as revisões da definição e das notas que foram discutidas por dois anos. Por fim, a Força Tarefa recomendou uma definição
revisada de dor no início de 2020.
A Diretoria da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED) publicou a tradução oficial para a língua portuguesa não somente
da definição revisada e suas notas, como também de todo o artigo na íntegra, considerando os aspectos semânticos e linguísticos para
a língua portuguesa e contexto brasileiro6,7. Executaram-se as etapas necessárias para a tradução oficial desta definição de dor e suas notas
complementares para a língua portuguesa, no intuito de que nossa população brasileira tenha amplo acesso a uma linguagem uniforme e no
idioma nativo.
Inicialmente, o artigo foi integralmente traduzido por profissional especialista em idioma e com formação em português-inglês. Posterior-
mente, uma etapa de revisão e discussão foi realizada pelos membros da diretoria, clínicos e/ou pesquisadores na área da dor com, pelo me-
nos, 15 anos de experiência. As revisões individuais foram compartilhadas e pontualmente analisadas em reuniões remotas síncronas online,
seguida por uma segunda etapa de revisão até ser obtido consenso sobre a tradução.
A definição revisada em 2020, ao conceituar a dor como “uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada, ou semelhante
àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial”, apresentou enunciado conciso e inequívoco, de fácil tradução nos vários idiomas;
abrangendo as mais variadas experiências de dor, sua diversidade e complexidade, sendo válida tanto para dor aguda como crônica; sendo
aplicável a todas as condições de dor, a humanos e animais e, sobretudo, definida pela perspectiva da pessoa que sente a dor1,6,7.
A definição é complementada por 6 notas explicativas que passam a ser uma lista com itens que incluem a etimologia: 1. A dor é sempre
uma experiência pessoal que é influenciada, em graus variáveis, por fatores biológicos, psicológicos e sociais. 2. Dor e nocicepção
são fenômenos diferentes. A dor não pode ser determinada exclusivamente pela atividade dos neurônios sensitivos. 3. Através das
suas experiências de vida, as pessoas aprendem o conceito de dor. 4. O relato de uma pessoa sobre uma experiência de dor deve ser
respeitado. 5. Embora a dor geralmente cumpra um papel adaptativo, ela pode ter efeitos adversos na função e no bem-estar social e
psicológico. 6. A descrição verbal é apenas um dos vários comportamentos para expressar a dor; a incapacidade de comunicação não
invalida a possibilidade de um ser humano ou um animal sentir dor1,6,7.
Estas notas explicativas complementam a definição de dor, reconhecendo, mas não se restringindo a, os avanços nos conhecimentos pauta-
dos na moderna neurociência da dor, também incorporando outros fatores relevantes como cognição, comportamentos, fatores culturais e
educacionais.

© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor

197
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):197-8 DeSantana JM, Perissinotti DM, Oliveira Junior JO,
Correia LM, Oliveira CM e Fonseca PR

Ainda, ao final das notas explicativas são apresentadas as informa- José Oswaldo de Oliveira Junior3
ções etimológicas sobre a origem da palavra dor: 1. Do inglês médio, https://orcid.org/0000-0003-1748-4315
do anglo-francês peine (dor, sofrimento), 2. Do latim poena (pena, Luci Mara França Correia4
punição) e 3. Do grego poin-e (pagamento, pena, recompensa)1,6,7. https://orcid.org/0000-0002-4977-255X
A conceituação fornece a compreensão, concepção ou ideia comum Célia Maria de Oliveira5
que se tem de uma palavra. A definição da palavra gera a possibi- https://orcid.org/0000-0002-1937-7364
lidade de reconhecimento, de valor, de significação e se destina a Paulo Renato Barreiros da Fonseca6
direcionar uma discussão específica sobre quaisquer assuntos rela- https://orcid.org/0000-0001-8928-4510
cionados e somente deve ser rejeitada se contiver uma contradição 1. Diretora Tesoureira da SBED. Fisioterapeuta, Professora Asso-
lógica explícita ou implícita. Esse tipo de definição pode ser usado ciada do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de
enquanto servir bem para seu propósito de trabalho, portanto, é, em Sergipe. Professora dos Programas de Pós-Graduação em Ciências
sua essência, temporária. da Saúde e Ciências Fisiológicas, Chefe do Serviço de Dor e Movi-
Esta definição revisada de dor é bastante oportuna e se alinha com mento. Aracaju, Se, Brasil. E-mail: desantanajm@gmail.com
todos os esforços atuais da IASP para o avanço de estruturas onto- 2. Diretora Administrativa da SBED, Psicóloga, Doutora em
lógicas da dor, e este editorial não se propõe a interpretar ou julgar a Ciências pelo Departamento de Neurologia da Universidade de
revisão. Todos os fatos decorridos no processo executado pela Força São Paulo, Pós-Doutora pelo Departamento de Psiquiatria da
Tarefa foram expostos na publicação da IASP, assim como a narração Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Pau-
das reiteradas discussões e interpretações feitas pelos membros e seus lo. São Paulo, SP, Brasil. E-mail: dircelko@gmail.com
consultores. 3. Vice-Presidente da SBED, Neurocirurgião, Professor Dou-
Ao invés disso, há que se valorizar a iniciativa da IASP ao compreen- tor da Disciplina de Dor Oncológica da Escola de Oncologia
der as mudanças no cenário da dor e acolher a ânsia da comunidade da Fundação Antonio Prudente, Responsável pela Neurocirurgia
científica e profissional pela necessidade de reavaliação, assim como Funcional e Grupo Especializado em Dor do Serviço de Neuro-
o esforço e dedicação dos membros da Força Tarefa ao desenvolve- cirurgia do Hospital Servidor Público Estadual. São Paulo, SP,
rem um processo de revisão da definição de dor de acordo com di- Brasil. E-mail: jo.oliveirajr@yahoo.com.br
mensões epistemológicas, ontológicas e práticas, cujas etapas foram 4. Diretora Científica da SBED. Odontóloga. Professora de
conduzidas de forma socialmente responsável, democrática, partici- Pós-Graduação em Dor na área de Dor Orofacial. Membro da
pativa, transparente e baseada no método científico. Equipe Interdisciplinar de Cefaleia e Dor Orofacial do Instituto
Uma terminologia uniforme e amplamente conhecida na área de de Neurologia de Curitiba. Curitiba, PR, Brasil. E-mail: draluci.
interesse da dor para comunicar informações sobre pacientes e suas odonto@gmail.com
dores se faz importante para determinar termos básicos de dor e a 5. Diretora Secretária da SBED, Enfermeira, Professora Adjunta
classificação de suas síndromes e condições clínicas, o que tem sido do Departamento de Enfermagem Básica da Escola de Enferma-
o foco constante de diversos comitês da IASP. gem da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte,
Assim, a definição proposta cria um entendimento comum do ter- MG, Brasil. E-mail: cmariol@terra.com.br
mo dor para profissionais de saúde, pesquisadores e pessoas com dor 6. Presidente da SBED. Anestesiologista, Professor Coordenador
em todo o mundo, fornece base para pesquisas na área com o objeti- da Pós-Graduação em Dor - Ensino Einstein. Rio de Janeiro, RJ,
vo de minimizar erros epistemológicos e influencia políticas públicas Brasil. E-mail: paulorenato61@hotmail.com
de saúde, as quais tendem a prover melhora da assistência em saúde.
Tal como a própria Força Tarefa recomendou, esta definição re- REFERÊNCIAS
visada de dor publicada por meio de uma revisão narrativa é um
1. Raja SN, Carr DB, Cohen M, Finnerup NB, Flor H, Gibson S, et al. The revised In-
documento vivo a ser atualizado em consonância com o futuro ternational Association for the Study of Pain definition of pain: concepts, challenges,
progresso da área. and compromises. Pain. 2020;23. doi: 10.1097/j.pain.0000000000001939. Online
ahead of print.
2. Kosek E, Cohen M, Baron R, Gebhart GF, Mico JA, Rice ASC, Rief W, Slu-
Atenciosamente, ka KA. Do we need a third mechanistic descriptor for chronic pain states? Pain.
2016;157(7):1382-6.
3. Treede RD, Rief W, Barke A, Aziz Q, Bennett MI, Benoliel R, et al. A classification of
Diretoria da Sociedade Brasileira para o Estudo chronic pain for ICD-11. Pain. 2015;156(6):1003-7.
da Dor (SBED) - Gestão 2020-2021 4. Williams ACC, Craig KD. Updating the definition of pain. Pain. 2016;157(11):2420-3.
5. Cohen M, Quintner J, van Rysewyk S. Reconsidering the International Association
Josimari Melo DeSantana1 for the Study of Pain definition of pain. Pain Rep. 20185;3(2):e634.
https://orcid.org/0000-0003-1432-0737 6. https://sbed.org.br/wp-content/uploads/2020/08/Defini%C3%A7%C3%A3o-revi-
sada-de-dor_3.pdf
Dirce Maria Navas Perissinotti2 7. Jornal Dor (Publicação da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor – Ano XVIII –
https://orcid.org/0000-0002-0346-1190 2º Trimestre de 2020 – edição 74, 11-8p.

198
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):199-204 ARTIGO ORIGINAL

Avaliação do sobrenadante da cultura de queratinócitos ou fibroblastos


em modelo de hiperalgesia inflamatória
Evaluation of the keratinocytes or fibroblasts culture supernatant in an inflammatory hyperalgesia
model
Cíntia Ávila Souza1,2, Gilson Gonçalves dos Santos1, Felipe Hertzing Farias1, Eli Ávila Souza Júnior3, Carlos Amilcar Parada1

DOI 10.5935/2595-0118.20200038

RESUMO de opioides endógenos. Além disso, foi observado que o efeito


analgésico do sobrenadante de cultura de fibroblastos é mediado
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A inflamação é uma resposta especificamente por agonista µ opioide, tendo uma duração de
de defesa do organismo a uma lesão celular causada por agentes 2 horas.
físicos, químicos ou biológicos, a qual desencadeia, entre outros Descritores: Analgesia, Fibroblastos, Pele, Queratinócitos, Siste-
fatores, a dor. Apesar da inflamação possuir um importante papel ma nervoso periférico.
na proteção e regeneração da lesão tecidual, a dor inflamatória
culmina na diminuição da qualidade de vida. Diante disso, é de ABSTRACT
grande importância o desenvolvimento de formas seguras e me-
nos invasivas para o tratamento da dor inflamatória. O objetivo BACKGROUND AND OBJECTIVES: Inflammation is a de-
deste estudo foi avaliar o potencial anti-hiperalgésico do sobre- fense response of the body to a cellular damage caused by physi-
nadante de cultura de queratinócitos e fibroblastos humanos em cal, chemical, or biological agents, which triggers, among other
modelo experimental de hiperalgesia inflamatória. factors, pain. Although inflammation plays an important role
MÉTODOS: Avaliação da hiperalgesia inflamatória induzida in the protection and regeneration of tissue injury, inflamma-
por carragenina através do uso de von Frey eletrônico em mode- tory pain results in decreased quality of life. In view of this, the
los animais tratados com sobrenadante de cultura de queratinó- development of safe and less invasive forms for the treatment of
citos e fibroblastos. inflammatory pain is of great importance. The objective of this
RESULTADOS: Observou-se que a administração local de na- study was to evaluate the antihyperalgesic potential of the culture
loxona, antagonista opioide não seletivo, em tecido periférico supernatant of keratinocytes and human fibroblasts in an experi-
inibiu o efeito anti-hiperalgésico do sobrenadante da cultura de mental model of inflammatory hyperalgesia.
queratinócitos. Sobrenadante de cultura de fibroblastos dos dias METHODS: Evaluation of carrageenan induced inflammatory
1 e 3 reverte por 2h a hiperalgesia inflamatória induzida por car- hyperalgesia through the use of electronic von Frey in animal
ragenina, sendo esta mediada por agonista µ opioide. models treated with culture supernatant of keratinocytes and fi-
CONCLUSÃO: Este estudo indicou que sobrenadante de cul- broblasts.
tura de fibroblastos e queratinócitos foi capaz de induzir anti- RESULTS: Local administration of naloxone, a nonselective
nocicepção em hiperalgesia inflamatória, mediada pela liberação opioid antagonist, in peripheral tissue, has been observed to
inhibit the antihyperalgesic effect of the keratinocyte culture su-
pernatant. Fibroblast culture supernatant on days 1 and 3 rever-
ses for 2h the carrageenan induced inflammatory hyperalgesia,
Cíntia Ávila Souza – https://orcid.org/0000-0001-8116-010X;
which is mediated by µ opioid agonist. 
Gilson Gonçalves dos Santos – https://orcid.org/0000-0002-2704-3006; CONCLUSION: This study indicates that culture supernatant
Felipe Hertzing Farias – https://orcid.org/0000-0002-0521-9664; of fibroblasts and keratinocytes is capable of inducing antinoci-
Eli Ávila Souza Júnior – https://orcid.org/0000-0002-5054-874X;
Carlos Amilcar Parada – https://orcid.org/0000-0001-5209-8853. ception in inflammatory hyperalgesia, mediated by the release of
endogenous opioids. In addition, it has been observed that the
1. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Biologia, Laboratório de Estudo da Dor,
Campinas, SP, Brasil. analgesic effect of the fibroblast culture supernatant is mediated
2. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas, Graduação em Me- specifically by the µ opioid agonist, having a duration of 2 hours. 
dicina, Campinas, SP, Brasil.
3. Universidade Federal de Alfenas, Faculdade de Medicina, Alfenas, MG, Brasil.
Keywords: Analgesia, Fibroblasts, Keratinocytes, Peripheral ner-
vous system, Skin.
Apresentado em 20 de fevereiro de 2020.
Aceito para publicação em 10 de maio de 2020.
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: CNPq sob número 138343/2017-9. INTRODUÇÃO
Endereço para correspondência:
Rua Jasmin, 190 – Chácara Primavera A inflamação é uma resposta de defesa a uma lesão celular causada
13087-460 Campinas, SP, Brasil. por agentes físicos, químicos ou biológicos1. O processo inflamató-
E-mail: cintiaavilasouza@icloud.com    cintia_avila_souza@hotmail.com
rio é caracterizado por uma série de eventos inter-relacionados que
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor procuram recuperar a integridade tecidual, entre os quais pode-se

199
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):199-204 Souza CA, Santos GG, Farias FH, Souza Júnior EA e Parada CA

observar: aumento do fluxo sanguíneo para a região afetada, aumen- cológicas continuam a ser uma grande desvantagem ao seu uso26-28.
to da permeabilidade vascular, extravasamento de fluido, migração e A relação direta entre sistema nervoso periférico, queratinócitos e
acúmulo de células de defesa2. Como resultado, evidenciam-se sinais fibroblastos evidencia-se como fato promissor na busca por diferen-
característicos de tal processo, denominados sinais cardinais: dor, tu- tes formas seguras de analgesia, sobretudo por se tratar de uma ação
mor, rubor, perda de função e calor1-3. local. Dessa forma, o presente estudo avaliou o potencial anti-hipe-
Apesar de ser um importante mecanismo de alerta e proteção de ralgésico do sobrenadante de cultura de queratinócitos e fibroblastos
uma possível lesão tecidual, a dor proporciona um sofrimento, que humanos em modelo experimental de hiperalgesia inflamatória.
leva à diminuição da qualidade de vida4. Sabe-se que a percepção
dolorosa é desencadeada pela ativação de células especializadas, de- MÉTODOS
nominadas nociceptores5. As terminações nervosas que detectam
esse tipo de estímulo são as fibras Aδ e C. Enquanto as fibras Aδ são Foram utilizados 72 ratos Wistar machos com 6 a 8 semanas de
mielinizadas, com rápida transmissão do estímulo doloroso e, por idade (200-250g), provenientes do Centro Multidisciplinar para In-
isso, responsáveis pela fase aguda da dor, as fibras C, não mieliniza- vestigação Biológica na Área da Ciência em Animais de Laboratório
das e de velocidade de condução lenta, apresentam maior atuação na (CEMIB). Os animais foram acondicionados em gaiolas apropriadas
dor inflamatória e crônica6,7. contendo 4 animais/caixa, permanecendo em estantes ventiladas com
Durante o processo inflamatório, ocorre a liberação de substâncias temperatura e umidade controladas (22°C e 55%, respectivamente)
algogênicas, que são capazes de sensibilizar os nociceptores, dimi- com ciclo claro/escuro de 12h. Os animais receberam água e ração
nuindo o limiar de excitabilidade. Entre elas, podem ser citadas: ace- ad libitum no decorrer de toda pesquisa. Os animais foram divididos
tilcolina, bradicinina, histamina, serotonina, leucotrieno, substância aleatoriamente nos grupos. Após o estudo, os animais foram aneste-
P, entre outras8. A persistência da inflamação leva a mudanças no siados e, em seguida, eutanasiados por decapitação. O tamanho do
sistema nervoso periférico, onde haverá uma exacerbação da resposta grupo (n) para cada grupo experimental é apresentado a seguir:
ao estímulo doloroso, conhecida como hiperalgesia9.
Diante disso, mecanismos endógenos que contrabalanceiam as al- Processamento do material biológico (pele)
terações de origem inflamatória desencadeadas pela lesão inicial são Os fragmentos de pele humana provenientes de blefaroplastias de
liberados visando sua regulação. Um exemplo característico é a libe- indivíduos saudáveis realizadas pela equipe da Plástica Oftalmo-
ração de opioides endógenos e peptídeos derivados de precursores lógica do Hospital de Clínicas da universidade em questão foram
proteicos sintetizados por células sinoviais, mastócitos, linfócitos, encaminhadas ao Laboratório de Cultivo de Células da Pele sob o
neutrófilos, monócitos e células da pele, como queratinócitos e fi- número de protocolo 16013-2/2016 e processados em área estéril,
broblastos que migraram para os locais de lesão9-12. Outro exemplo é sala limpa classe ISO 7, descartado o tecido adiposo, colocado sobre
o aumento da expressão de receptores em neurônios sensoriais peri- uma placa de Petri e dividido em duas porções, sendo que uma delas
féricos e a ruptura da barreira perineural, facilitando a interação dos foi congelada em freezer -80ºC. A outra foi seccionada em fragmen-
opioides e seus receptores13. tos de 2 a 3mm, utilizando instrumento cirúrgico sob fluxo lami-
Na literatura são descritas três famílias de opioides endógenos: as nar, de modo a manter todo o procedimento estéril. Os fragmentos
endorfinas (derivadas da proopiomelanocortina – POMC), as en- menores de pele foram submetidos ao tratamento enzimático com
cefalinas (derivadas da proencefalina – PENK) e as dinorfinas (de- 10mL de solução de tripsina a 0,25% e 1mM de ácido etilenodiami-
rivadas da prodinorfina)14. Cada uma apresenta especificidades com notetracético com a epiderme sempre voltada para cima, e incuba-
diferentes receptores de opioides: μ (endorfina e encefalina), δ (en- dos a 37°C, com tensão de 5% de CO2 por quatro horas, resultando
cefalina e endorfina) e κ (dinorfina)12,15. na separação da epiderme da derme.
A produção de opioides endógenos é conhecidamente realizada por
células do sistema imune11,16. Contudo, estudos demonstram sua Isolamento e cultivo de fibroblastos
produção também em queratinócitos e fibroblastos17-22. Autores ob- Transcorrida a incubação dos fragmentos, a tripsina foi inativada
servaram que fibroblastos e queratinócitos expressam RNA mensa- com o mesmo volume de meio de cultura e os fragmentos da der-
geiro funcional de proencefalina (PENK), estando aptas a sintetizar me foram colocados em um frasco de cultura com meio para fibro-
e secretar peptídeos derivados de PENK, como as encefalinas21. A blastos M199, suplementado com L-glutamina 2mM, penicilina
liberação de fatores inflamatórios, principalmente interleucina-1β 100UI/mL, estreptomicina 0,1mg/mL e 10% de soro fetal bovino
(IL-1β), induz a expressão e liberação de opioides endógenos, que, (SFB). As células foram nutridas, trocando o meio de cultura a cada
uma vez ligados aos receptores das fibras nervosas periféricas, desen- três dias. Quando estas células obtiveram confluência de 90%, apro-
cadeiam o aumento das correntes de potássio e a diminuição das ximadamente 7 dias após início do cultivo, foi feito o repique com
correntes de cálcio nos corpos dos neurônios sensoriais, inibindo o auxílio de solução de tripsina a 0,25% e 1mM de ácido etilenodia-
disparo neuronal e a liberação do transmissor23,24. minotetracético. As células foram utilizadas entre 2-3a passagens. No
Considerando que a hiperalgesia inflamatória desencadeia aspectos momento da utilização os fibroblastos obtidos foram lavados três
negativos em esferas emocionais e físicas comprometendo a qualida- vezes com solução de Hank’s.
de de vida3, é de grande importância o desenvolvimento de formas
seguras de tratamento. Opioides exógenos ainda são as opções mais Isolamento e cultivo de queratinócitos
utilizados no tratamento de diferentes estímulos algésicos25. No en- Após a separação da epiderme, a tripsina foi neutralizada utilizan-
tanto, importantes efeitos adversos associados a essas opções farma- do o mesmo volume de meio de cultura específico para querati-

200
Avaliação do sobrenadante da cultura de queratinócitos ou BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):199-204
fibroblastos em modelo de hiperalgesia inflamatória

nócitos. A suspensão celular obtida foi filtrada em filtro de nylon zadas durante a fase clara, entre 09h00 e 17h00, em sala silenciosa,
de 40µm e centrifugada a 1200rpm e 4°C durante 10 minutos. O com temperatura ambiente mantida a 23ºC.
“pool” de células obtidos, constituído por queratinócitos e mela-
nócitos, foi contado e plaqueado em frascos de cultura, com 1x105 Avaliação do efeito anti-hiperalgésico do sobrenadante da cul-
células por cm2, incubados a 37°C, com 5% de tensão de CO2, em tura de queratinócitos
meio de cultura específico para queratinócitos, complementado Em uma primeira fase, administrou-se carragenina (100μg/50uL/
com L-glutamina 2mM/mL, penicilina 100UI/mL e estreptomi- pata) pela via i.p.l., a qual induziu hiperalgesia inflamatória pelas
cina 0,1mg/mL. A cultura primária de queratinócitos foi obtida a 6h avaliadas. Após duas horas da administração do agente hiperal-
partir da adesão das células aos frascos de cultura que ocorreu em gésico, um antagonista opioide não seletivo (naloxona) foi admi-
aproximadamente 48h. As células foram nutridas trocando o meio nistrado no mesmo local. após 2h30min, 50μl de sobrenadante de
de cultura a cada três dias. O repique foi realizado em aproxima- cultura de queratinócitos (grupos tratados, n=6) de 3 dias ou 50μL
damente 7 dias, quando as células atingiram 90% de confluência e de meio de cultura de queratinócitos (grupo controle, n=6) foram
foram utilizadas na segunda passagem. administrados no mesmo local. Após 30 minutos da administra-
ção do sobrenadante, foi avaliada a hiperalgesia mecânica através
Fármacos do teste de von Frey (Resultados item 1).
Para indução da hiperalgesia inflamatória foi utilizado carrageni-
na a 100µg/50µL/pata (Sigma). A administração de carragenina Avaliação da curva tempo-resposta dos diferentes dias (1 ou 3
(100µg/50uL) no tecido subcutâneo da pata traseira induz hipe- dias) de sobrenadante de cultura de queratinócitos ou fibro-
ralgesia inflamatória por 6h, cujo pico da dor ocorre na terceira blastos frente a hiperalgesia inflamatória
hora31. Foi realizado teste eletrônico de hiperalgesia mecânica (von Frey)
Os antagonistas seletivos dos receptores opioides utilizados foram: previamente ao estudo. Após 1h, foi administrada carragenina
CTOP (Sigma Aldrich/ P5296, antagonista da subunidade µ), (100μg/50μL/pata) pela via i.p.l. da pata posterior direita. Após 2h
Nor- BNI (Norbinaltorphimine/Sigma Aldrich; antagonista da da administração do agente hiperalgésico, foi administrado, no mes-
subunidade kappa) e N115 (Naltrindole/ HCL – Sigma Aldrich; mo local, 50μL de sobrenadante da cultura de queratinócitos (gru-
antagonista da subunidade delta). O antagonista não seletivo de pos tratados, n=6) de diferentes dias (1 e 3 dias) ou 50µL de meio
receptor opioide utilizado foi a naloxona (nalo, Sigma aldrich). de cultura para queratinócitos (grupo controle, n=6) nos períodos já
descritos. Para se estabelecer a curva tempo-resposta, após 0,5, 1, 2,
Injeção intraplantar de fármacos 4 e 6h da administração do sobrenadante, foi avaliada a hiperalgesia
A administração de fármacos pela via intraplantar (i.p.l.) foi reali- mecânica através do teste de von Frey (Resultados item 2).
zada através da utilização de uma agulha hipodérmica BD Ultra-
-Fine® (29G), a qual foi inserida após antissepsia no tecido subcutâ- Participação dos receptores opioides e suas subunidades no
neo da superfície plantar do membro posterior direito. efeito anti-hiperalgésico do sobrenadante de cultura de quera-
tinócitos frente à hiperalgesia inflamatória
Teste comportamental (teste von Frey eletrônico) Foi realizado teste eletrônico de hiperalgesia mecânica (von Frey)
A avaliação da hiperalgesia mecânica na pata de ratos foi realizada previamente ao estudo. Após 1h, foi administrado carragenina
através de von Frey eletrônico em condições basais e após o estí- (100μg/50μL/pata) pela via i.p.l. da pata posterior direita. Após
mulo na pata. Nesse método foi utilizado o anestesiômetro eletrô- 2h da administração do agente hiperalgésico, foram administra-
nico, composto por um transdutor de pressão ligado a um cabo dos antagonistas seletivos das subunidades opioides mμ (CTOP,
conectado a um detector digital de força, no qual a força exercida 20μg/50μL/pata), kappa (Nor-BNI, 10μg/50 μL/pata) e delta
foi expressa em gramas. Na extremidade do transdutor há uma (N115, 3μg/50μL/pata) pela via intraplantar da pata posterior
ponteira, por meio da qual foi aplicada uma força em ângulo reto direita. Após 2,50 horas da administração da carragenina, foi ad-
na região central da pata traseira do animal com pressão gradual- ministrado o sobrenadante da cultura de queratinócitos (grupo
mente crescente. O estímulo foi interrompido após a observação tratado) (n=6/grupo). Após 30 minutos da administração do so-
característica de retirada da pata (flinches). brenadante, foi avaliada a hiperalgesia mecânica através do teste de
Para o experimento, foram utilizadas 6 caixas acrílicas, medindo von Frey (Resultados item 3).
12x20x17cm, cujo assoalho era composto por uma rede de malha Os experimentos seguiram as diretrizes do Comitê de Ética para
de ferro, na qual havia, 25cm abaixo das caixas de experimentação, Pesquisas com Animais da Universidade vigente, sob número de
um espelho inclinado usado para visualização da parte inferior da protocolo 4654-1/2017, e os padrões estabelecidos pela Associa-
pata, facilitando a aplicação da ponteira. Antes de iniciado o ex- ção Internacional de dor (IASP).
perimento, os animais foram mantidos por 15 minutos nas caixas
para ambientação. Foram realizadas 3 medições por animal sendo Análise estatística
o valor final a média das medidas. A intensidade de hipernocicep- Os resultados foram expressos como média±erro padrão da média
ção mecânica foi quantificada como a variação na pressão D de (e.p.m.). A análise dos dados obtidos foi feita pelo teste de análise
reação em gramas, obtida subtraindo-se o valor observado antes do de Variância ANOVA One-way ou Two-way, seguido de teste de
procedimento experimental basal do valor de reação após a admi- Bonferroni para as comparações múltiplas. O nível de significância
nistração do estímulo inflamatório. As sessões de teste foram reali- foi a partir de p<0,05.

201
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):199-204 Souza CA, Santos GG, Farias FH, Souza Júnior EA e Parada CA

RESULTADOS Comparando a curva tempo-resposta de FB1 e FB3 por 12h, ob-


serva-se não haver diferença no tempo e na duração da redução da
1. A administração local de naloxona no tecido periférico inibe hiperalgesia (Cg. + FB1 e Cg. + FB3) entre sobrenadante de 1 ou 3
o efeito anti-hiperalgésico do sobrenadante da cultura de que- dias de cultura isolada de fibroblastos.
ratinócitos
A administração de carragenina (100μg/50μL/pata) i.p.l. induziu hi-
Cg.
peralgesia inflamatória pelas 6h avaliadas. Após duas horas da admi-
Cg. + FB1
nistração do agente hiperalgésico, um antagonista opioide não seletivo
Cg. + FB3
(naloxona) foi administrado no mesmo local. Após 2,50 horas, 50μL

Intensidade de hiperalgesia
de sobrenadante de cultura de queratinócitos (grupos tratados, n=6) 30
de 3 dias ou 50μL de meio de cultura (M.C., 50μL) de queratinócitos

(∆ limiar de retirada)
(grupo controle, n=6) foram administrados no mesmo local. 20
Como mostra a figura 1, sobrenadante da cultura de queratinócitos 10
(M.C., 50μL) reverteu a hiperalgesia mecânica induzida pela car-
ragenina. O efeito analgésico do M.C. foi revertido pelo pré-tra- 0
tamento local com naloxona (Nalo, 10μg), um antagonista não
-10
seletivo de receptor opioide. A administração de M.C. (50μL) na
pata contralateral não alterou o limiar hiperalgésico da carragenina, 0,5
0 1 2 4 6 12
mostrando que o efeito de M.C. possui efeito local e não sistêmico. Tempo após tratamento com sobrenadante (horas)
Administração do meio de cultura puro (M.P.) não altera o limiar
hiperalgésico da carragenina. Figura 2. A administração local de sobrenadante de cultura de fi-
broblastos em tecido periférico reduz temporariamente a hiperalgesia
mecânica induzida por carragenina
Cg = carragenina; FB1 = sobrenadante de cultura de fibroblastos de 1 dia; FB3
30 = sobrenadante de cultura de fibroblastos de 3 dias.
Intensidade de hiperalgesia

20
3. O efeito anti-hiperalgésico do sobrenadante da cultura de fi-
(∆ limiar de retirada)

broblastos é mediado por receptor μ opioide


Uma vez que o efeito analgésico do sobrenadante da cultura de fibro-
10 blasto é medido por receptores opioide, foi analisado qual receptor
opioide especificamente está envolvido nesse efeito analgésico. Anta-
gonistas seletivos das subunidades opioides μ (CTOP, 20µg/50µL),
0
NaCl Nalo. M.P kappa (Nor-BNI, 10µg/50µL) e delta (N115, 3µg/50µL) foram
10% 10uL 50 ug administrados pela via intraplantar, 30 minutos antes da adminis-
-10 M.C 50 uL tração do sobrenadante da cultura de fibroblasto. Como mostrado
na figura 3, a carragenina induziu hiperalgesia que foi revertida por
Cg. 100 ug
Figura 1. O meio de cultura de queratinócitos de 3 dias reverte a 40
hiperalgesia mecânica induzida pela carragenina
Sobrenadante de cultura de queratinócitos de 3 dias. M.C. = meio para cultura
Intensidade de hiperalgesia

de queratinócitos; M.P. = meio puro para cultura de queratinócitos; NaCl = clo-


reto de sódio a 0,9%; Nalo = naloxona; Cg = carragenina. 30
(∆ limiar de retirada)

2. Sobrenadante de cultura de fibroblastos dos dias 1 e 3 rever- 20


te temporariamente a hiperalgesia inflamatória induzida por
carragenina
10
Uma vez que a cultura de queratinócitos para uso clínico possui
uma proporção de 3:1 (queratinócitos: fibroblasto), foi analisado se
a cultura isolada possui o mesmo efeito analgésico. Sobrenadante 0
da cultura isolada de fibroblastos (FB1 e FB3, 50µL) dos dias 1 e 3 Cg 1 1 1 1
FB FB FB FB
reverteu a hiperalgesia induzida por carragenina (Cg.) no tempo de P+ Cg
+ 5+ I+
CTO N11 r-BN
0,5 e 1h, como mostra a figura 2. Porém, esse efeito foi temporário, + + o
Cg Cg +n
ocorrendo uma retomada da hiperalgesia após 2h. A administração Cg
de FB1 e FB3 (50μL) na pata contralateral não alterou o limiar hipe- Figura 3. Antagonista da subunidade µ opioide inibe o efeito analgé-
ralgésico da carragenina, mostrando que o efeito de FB1 e FB2 é lo- sico de sobrenadante da cultura de fibroblastos
Cg = carragenina; FB1 = sobrenadante de cultura de fibroblastos de 1 dia;
cal e não sistêmico. Administração do meio de cultura puro (M199) CTOP = antagonista de subunidade µ; Nor-BNI = antagonista da subunidade
não altera o limiar hiperalgésico da carragenina. kappa; N115 = antagonista da subunidade delta.

202
Avaliação do sobrenadante da cultura de queratinócitos ou BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):199-204
fibroblastos em modelo de hiperalgesia inflamatória

FB1 (Two-way ANOVA, teste de Bonferroni, ***p<0,001). CTOP, lação suscita ser um potencial e seguro alvo para o desenvolvimento
mas não Nor-BNI ou N115, inibiu o efeito anti-hiperalgésico do de novas formas antinociceptivas que busquem a redução dos efeitos
sobrenadante da cultura de fibroblastos na hiperalgesia induzida por adversos conhecidos com o amplo uso de opioides exógenos.
carragenina (Two-way ANOVA, teste de Bonferroni, p>0,05).
CONCLUSÃO
DISCUSSÃO
O presente estudo indicou que sobrenadante de cultura de fibroblas-
Estudos mostraram que além de serem sintetizados por células imu- tos e queratinócitos foi capaz de induzir antinocicepção em hipe-
nes, outras células como queratinócitos e fibroblastos também de- ralgesia inflamatória induzida por carragenina, sendo esta mediada
sempenham importante papel na antinocicepção endógena periféri- pela liberação de opioides endógenos. Além disso, foi observado que
ca, uma vez que tais células expressam mRNA funcional de PENK, a redução da hiperalgesia por sobrenadante de cultura de fibroblas-
estando aptas a sintetizar e secretar peptídeos derivados de PENK, tos é mediada especificamente por agonista μ opioide.
como as encefalinas. A liberação de fatores inflamatórios, notada-
mente IL-1β, induz a expressão e liberação de opioides por essas cé- REFERÊNCIAS
lulas, os quais, uma vez ligados aos receptores das fibras nervosas pe-
1. Abbas AK, Janeway CA Jr. Immunology: improving on nature in the twenty-first
riféricas, inibem o disparo neuronal e a liberação do transmissor12-16. century. Cell. 2000;100(1):129-38.
O presente estudo demonstrou que sobrenadante da cultura de quera- 2. Dawes JM, Anderson DA, Bennett DL, Bevan S, McMahon SB. Inflammatory me-
diators and modulators of pain. Wall and Melzack’s Textbook of Pain. 2013;6:48-67.
tinócitos e fibroblastos promoveu analgesia durante a dor inflamatória 3. Levine JD, Taiwo Y. Inflammatory Pain. In: Wall PD, Melzack R, Bonica JJ. Textbook
induzida por carragenina em modelo de hiperalgesia mecânica, corro- of Pain. 3rd ed. Edinburgh, Scothand, Churchill Livingstone; 1994. 45-56p.
borando estudos prévios16-18,32-34. Os dados obtidos suscitaram que o 4. Carvalho MMMJ. O Sofrimento da dor em câncer. In: Carvalho MMMJ. Introdução
à psiconcologia.1ª ed. São Paulo; 2003. 103-18p.
receptor opioide parece estar envolvido no efeito analgésico da cultura 5. Messlinger K. What is a nociceptor? Anaesthesist. 1997;46(2):142-53.
de queratinócitos. A administração de um antagonista opioide não 6. Besson JM. The complexity of physiopharmacologic aspects of pain. Drugs.
1997;53(Suppl.2):1-9.
seletivo (naloxona) inibiu o efeito anti-hiperalgésico do sobrenadante 7. Webster KE. Somaesthetic pathways. Br Med Bull. 1977;33(2):113-20.
da cultura de queratinócitos de 3 dias em modelo de hiperalgesia in- 8. Woolf CJ. Recent advances in the pathophysiology of acute pain. Br J Anaesth.
1989;63(2):139-46.
flamatória, demostrando que o efeito do sobrenadante da cultura de 9. Stein C, Pflüger M, Yassouridis A, Hoelzl J, Lehrberger K, Welte C, et al. No tolerance
queratinócitos é mediado pela liberação de opioides (Figura 1). to peripheral morphine analgesia in presence of opioid expression in inflamed synovia.
Além disso, os resultados demonstraram que a hiperalgesia inflama- J Clin Invest. 1996;98(3):793-9.
10. Stein C, Gramsch C, Herz A. Intrinsic mechanisms of antinociception in inflamma-
tória induzida pela carragenina foi totalmente revertida ao se aplicar, tion: local opioid receptors and beta-endorphin. J Neurosci. 1990;10(4):1292-8.
30 minutos antes do seu pico de ação, sobrenadante de cultura de 11. Garcia JB, Cardoso MG, Dos-Santos MC. Opioids and the immune system: clinical
relevance. Rev Bras Anestesiol. 2012;62(5):709-18.
fibroblastos de 1 e 3 dias. A reversão total ocorreu 30 minutos após a 12. Slominski AT, Zmijewski MA, Skobowiat C, Zbytek B, Slominski RM, Steketee JD.
aplicação da cultura de fibroblastos, sendo que seu efeito redutor da Sensing the environment: regulation of local and global homeostasis by the skin’s neu-
roendocrine system. Adv Anat Embryol Cell Biol. 2012;212:v, vii, 1-155.
hiperalgesia se manteve até 1h após, quando esta foi reestabelecida. 13. Vetter I, Kapitzke D, Hermanussen S, Monteith GR, Cabot PJ. The effects of pH on
Após 2 horas da aplicação da cultura de fibroblastos, não foi obser- beta-endorphin and morphine inhibition of calcium transients in dorsal root ganglion
vada diferença significativa entre os grupos tratados com cultura de neurons. J Pain. 2006;7(7):488-99.
14. Hollt V. Opioid peptide processing and receptor selectivity. Annu Rev Pharmacol
fibroblastos e o grupo controle na reversão da hiperalgesia induzida Toxicol. 1986;26(1):59-77.
por carragenina. 15. Nakanishi S, Inoue A, Kita T, Nakamura M, Chang AC, Cohen SN, et al. Nucleotide
sequence of cloned cDNA for bovine corticotropin-beta-lipotropin precursor. Nature.
Como forma de verificar a participação dos receptores opioides e 1979;278(5703):423-7.
suas subunidades na analgesia verificada pelo sobrenadante de cul- 16. Sibinga NE, Goldstein A. Opioids peptides and opioid receptors in cell of the immu-
ne system. Annu Rev Immunol. 1988;6:219-49.
tura de fibroblastos, foram administrados antagonistas seletivos das 17. Wintzen M, Yaar M, Avila E, Vermeer BJ, Gilchrest BA. Keratinocytes produce
subunidades opioides um (CTOP, 20ug/50uL/pata), kappa (Nor- β-endorphin and β-lipotropic hormone after stimulation by UV, IL-1α or phorbol
esters. J Invest Dermatol. 1995;104:641.https://www.scopus.com/record/display.
-BNI, 10ug/50uL/pata) e delta (N115,3ug/50uL/pata) pela via uri?eid=2-s2.0-0000723419&origin=inward&txGid=7b951b39c5d52e89782d-
intraplantar. Os presentes resultados demonstraram diferença sig- 718c1d65b2be.
nificativa entre os grupos que receberam antagonistas seletivos das 18. Schauer E, Trautinger F, Köck A, Schwarz A, Bhardwaj R, Simon M, et al. Proopio-
melanocortin-derived peptides are synthesized and released by human keratinocytes. J
subunidades kappa e delta antes do tratamento com sobrenadante Clin Invest. 1994;93(5):2258-62.
da cultura de fibroblastos e o grupo tratado apenas com carrageni- 19. Bigliardi PL, Bigliardi-Qi M, Buechner S, Rufli T. Expression of mμ-opiate receptor
in human epidermis and keratinocytes. J Invest Dermatol. 1998;111(2):297-301.
na. Não houve, porém, diferença significativa entre o grupo tratado 20. Lo HH, Tseng LF, Wei E, Li CH. Endorphin is a potent analgesic agent. Proc Natl
com antagonista seletivo da subunidade mu com relação ao grupo Acad Sci. USA. 1976;7(8):2895-8.
21. Slominski AT, Zmijewski MA, Zbytek B, Brozyna AA, Granese J, Pisarchik A, et al.
controle tratado com carragenina. Isso sugere que apenas o antago- Regulated proenkephalin expression in human skin and cultured skin cells. J Invest
nista seletivo da subunidade um (CTOP, 20ug/50uL/pata) foi capaz Dermatol. 2011;131(3):613-22.
de inibir o efeito analgésico do sobrenadante da cultura de fibroblas- 22. Bigliardi-Qi M, Sumanovski LT, Büchner S, Rufli T, Bigliardi PL. Mu-opiate receptor
and beta-endorphin expression in nerve endings and keratinocytes in human skin.
tos, demonstrando que os receptores kappa e delta não participam Dermatology. 2004;209(3):183-9.
na mediação analgésica induzida pelos fibroblastos. Assim, pode-se 23. Schaible HG. Pathophysiology of pain. Orthopade. 2006;36(1):8-16.
24. Schaible HG. Peripheral and central mechanisms of pain generation. Hand Exp Phar-
perceber que o grupo de opioide envolvido na antinocicepção indu- macol. 2007;(177):3-28.
zida pela cultura de fibroblastos parece ser μ agonista. 25. Siderov J, Zalcberg JR. Prescribing opioids--a painful experience. Med J Aust.
1994;161(9):515-6.
Diante disso, pode-se notar que há uma relação direta entre sistema 26. Benyamin R, Trescot AM, Datta S, Buenaventura R, Adlaka R, Sehgal N, et al. Opioid
nervoso periférico, queratinócitos, fibroblastos e analgesia. Tal corre- complications and side effects. Pain Physician. 2008;11(2 Suppl):S105-20.

203
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):199-204 Souza CA, Santos GG, Farias FH, Souza Júnior EA e Parada CA

27. Chou R, Turner JA, Devine EB, Hansen RN, Sullivan SD, Blazina I, et al. The effecti- 1991;45(2):211- 6.
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204
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):205-12 ARTIGO ORIGINAL

Efeito da mobilização neural em indivíduos com dor lombar crônica


Effects of neural mobilization on individuals with chronic low back pain
Marina Ramos1, Caio A. H. Cruz2, Moises F. Laurentino2, Hazem Adel Ashmawi3, Fabio M. Santos2, Marucia Chacur1

DOI 10.5935/2595-0118.20200041

RESUMO CONCLUSÃO: A técnica foi capaz de reduzir a intensidade da


dor e consequentemente aumentar a mobilidade dos voluntários.
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O objetivo deste estudo foi Além disso, foi observada uma diferença na concentração de ci-
avaliar o efeito da técnica de mobilização neural em indivíduos tocinas no final do tratamento e uma melhoria na qualidade de
com lombalgia crônica, assim como possíveis alterações na dor, vida dos indivíduos.
no comportamento motor e na quantificação de citocinas antes Descritores: Dor, Dor lombar, Qualidade de vida.
e após o tratamento.
MÉTODOS: Foram avaliados 16 indivíduos com idade média ABSTRACT
de 30,45±10,32 anos. A técnica consistiu em um total de 10 in-
tervenções, com duração total de 10 minutos, divididas em qua- BACKGROUND AND OBJECTIVES:  The objective of this
tro séries de 2 minutos cada, com intervalo de 30 segundos entre study was to evaluate the effect of neural mobilization technique
cada série. Os desfechos a seguir foram avaliados: intensidade da on individuals with chronic low back pain, as well as analyze
dor utilizando a escala analógica visual; mobilidade da coluna possible changes in pain, motor behavior and on cytokine quan-
lombar com o terceiro dedo ao solo e goniometria do quadril; tification before and after treatment.
concentração de citocinas no soro com a técnica multiplex; e METHODS: Sixteen individuals with mean age of 30.45±10.32
qualidade de vida com o Oswestry Disability Index, Roland-Morris
years old were evaluated. The technique consisted of a total of 10
Disability Questionnaire and the World Health Organization Qua-
interventions, with a total duration of 10 minutes, divided into
lity of Life Questionnaire-bref.  
four series of 2 minutes each, with a 30-second interval between
RESULTADOS: Os presentes resultados demonstraram uma re-
each series. The following outcomes were evaluated: pain inten-
dução na intensidade da dor de aproximadamente 70% entre as
sity using the visual analog scale; mobility of the lumbar spine
avaliações (p<0,001). Foram observadas melhoras na mobilidade
with the third  finger to the ground test and hip goniometry;
lombar de aproximadamente 25,5% no teste do terceiro dedo ao
solo (p<0,04) e nos ângulos da articulação do quadril (p<0,04). concentration of cytokines in serum with the multiplex techni-
Também foi observada entre as avaliações diferença nas concen- que; and quality of life with the Oswestry Disability Index, the
trações de citocinas, tanto pró-inflamatórias (p<0,009) quanto Roland-Morris Disability Questionnaire and the World Health
anti-inflamatórias (p<0,03). Organization Quality of Life Questionnaire-bref.
RESULTS: Results showed a reduction in pain intensity of appro-
ximately 70% between the assessments (p<0.001). Improvements
in lumbar mobility of approximately 25.5% on the third finger to
the ground test (p<0.04) and improvement in the hip joint angles
Marina Ramos – https://orcid.org/0000-0001-9729-2799;
(p<0.04) were also observed. A difference in cytokine concentra-
Caio A. H. Cruz – https://orcid.org/0000-0001-9927-2724; tions, both pro-inflammatory (p<0.009) and anti-inflammatory
Moises F. Laurentino – https://orcid.org/0000-0001-7986-2452;
Hazem Adel Ashmawi – https://orcid.org/0000-0003-0957-971X;
(p<0.03), was also observed between the assessments.
Fabio M. Santos – https://orcid.org/0000-0002-0415-1960; CONCLUSION: The technique was able to reduce pain inten-
Marucia Chacur – https://orcid.org/0000-0002-0172-4110. sity and consequently increase the mobility of the volunteers.
1. Universidade de São Paulo, Departamento de Anatomia, Instituto de Ciências Biomédi- Additionally, a difference in cytokine concentration at the end of
cas, São Paulo, SP, Brasil. the treatment and an improvement in the individuals quality of
2. Universidade Nove de Julho, Departamento de Ciências Médicas, São Paulo, SP, Brasil.
3. Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina, Serviço de Dor, São Paulo, SP, Brasil. life were observed.
Keywords: Low back pain, Pain, Quality of life.
Apresentado em 18 de fevereiro de 2020.
Aceito para publicação em 25 de maio de 2020.
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: FAPESP 2017/05218-5. INTRODUÇÃO
Endereço para correspondência:
USP - Instituto de Ciências Biomédicas III A dor na região lombar é uma condição que afeta os indivíduos de
Departamento de Anatomia
Av. Prof. Lineu Prestes, 2415; sala: 007 ambos os sexos e reduz a sua capacidade de realizar atividades do dia
05508-900 São Paulo, SP, Brasil.   a dia, o que resulta num custo econômico substancial para a socieda-
E-mail: chacurm@icb.usp.br
de1,2. É importante notar que cerca de 70% da população brasileira
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor pode ter um episódio de dor lombar em algum momento da vida3,4.

205
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):205-12 Ramos M, Cruz CA, Laurentino MF,
Ashmawi HA, Santos FM e Chacur M

A etiologia do desenvolvimento das dores lombares ainda não é clara prévia; que possuíam quaisquer sequelas causadoras de limita-
devido aos inúmeros fatores que podem levar ao seu aparecimento, ções na amplitude de movimento do membro inferior ou defor-
alguns dos quais podem estar relacionados com trabalho repetitivo, midade articular; placas metálicas, parafusos, distúrbios neu-
puxar e empurrar, quedas, má postura, agachamento, levantamen- rológicos que determinam cautela em relação à MN; câncer;
to de pesos, desequilíbrio muscular, síndromes compressivas, entre perturbações cognitivas ou limitações aparentes; qualquer tipo
outros. A dor crônica está entre as principais causas de absenteísmo de dor em outras regiões que não seja característica de dor lom-
no trabalho, licença médica, baixa por doença, compensação dos bar; diabetes mellitus avançada; sob tratamento fisioterapêutico
trabalhadores e baixa produtividade no trabalho1,5-8. pela mesma razão; doenças cardiovasculares não compensadas;
É importante enfatizar que a mobilidade limitada da coluna lom- alterações significativas da sensibilidade; edema nos membros
bar devido a dor pode muitas vezes estar associada a esta condição5. inferiores; e mulheres grávidas.
Outro ponto extremamente relevante no que diz respeito às lesões Após a confirmação da elegibilidade, todos os procedimentos a
do nervo espinhal, particularmente na região lombar, é que são serem realizados durante o estudo foram elucidados e os partici-
frequentemente causadas por síndromes compressivas, como as pantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
hérnias discais. Tais compressões resultam frequentemente em dor (TCLE), de acordo com a Resolução 466/12 do Conselho Nacio-
neuropática, caracterizada por dor ardente espontânea, seguida de nal de Saúde - Brasil, confirmando a sua participação na pesquisa.
alodínia e hiperalgesia, que podem ser observadas nas vias nervosas Após o cumprimento dos critérios de elegibilidade, foi realizada
dos membros inferiores6. uma avaliação clínica e avaliações da intensidade da dor, mobili-
Para além dos tratamentos farmacológicos e cirúrgicos, existem dade vertebral e goniometria do quadril, tendo sido aplicado um
tratamentos não invasivos ou não farmacológicos, tais como a fi- questionário de qualidade de vida.
sioterapia. Em relação aos tratamentos fisioterapêuticos existentes, Dezesseis voluntários participaram neste estudo e foram tratados
podem levar à redução da dor e da tensão muscular, bem como um com a técnica MN.
possível aumento da amplitude de movimento. Um dos tratamen- Para preservar a precisão da eficácia da intervenção, os participan-
tos disponíveis é a mobilização neural (MN), caracterizado por um tes que faltaram a mais de duas sessões foram excluídos do estudo.
conjunto de técnicas que visam impor maior tensão no sistema Todos os participantes foram averiguados por um avaliador cego.
nervoso periférico por meio de certas posturas; movimentos lentos Tanto os participantes como os avaliadores foram encorajados a
e rítmicos são aplicados nos nervos periféricos e na medula espinal, não discutir a intervenção.
melhorando a condução do impulso nervoso8-12.
Estudos demonstraram os efeitos benéficos da MN, incluindo a Intervenção
melhoria da dor articular em pacientes com artrite reumatoide13 e A MN foi realizada pelo mesmo fisioterapeuta desde a primeira
a melhoria da dor cervicobraqueal14. A MN demonstrou um ex- até a última sessão em dias alternados. O tratamento com a técni-
celente prognóstico em pacientes com dor neuropática, para além ca consiste na aplicação de um total de 10 intervenções em cada
de apresentar outras vantagens, tais como baixo custo operacional, paciente, com duração total de 10 minutos, divididas em quatro
fácil aplicação e ausência de efeitos adversos. Os resultados dos séries de 2 minutos cada, com um intervalo de 30 segundos entre
estudos descritos mostraram os efeitos benéficos do tratamento cada série, de acordo com o protocolo proposto em 2012 pelo
com MN. estudo15 e adaptado de Butler10.
As questões da investigação foram: A técnica foi aplicada com o participante sentado numa cadeira
1. A MN foi eficaz para diminuir a dor e melhorar o comporta- adequada, com o quadril flexionado (90º) e joelhos estendidos.
mento motor em indivíduos com dor lombar crônica? Em seguida, o fisioterapeuta aplicou a técnica apenas ao membro
2. A MN foi capaz de interferir na modulação das citocinas? inferior que apresentou alguma deficiência devido à dor lombar,
O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da MN em indivíduos observada no exame físico anterior; em caso de ausência de ra-
com dor lombar crônica, bem como analisar possíveis alterações diação de dor em qualquer dos membros, a técnica foi aplicada
na dor, no comportamento motor e na quantificação das citocinas apenas ao membro inferior direito, de acordo com o estudo15
antes e depois do tratamento. (Figura 1).

MÉTODOS Dimensão da amostra


A dimensão da amostra foi calculada com base na EAV para dor,
Durante o período de julho de 2016 a setembro de 2017, 60 in- considerada o desfecho primário. Para tanto, foi utilizada a variância
divíduos foram avaliados para elegibilidade. Dezesseis indivíduos relatada no estudo16, cujo objetivo era avaliar a MN como técnica
completaram todo o protocolo do estudo de acordo com os crité- de tratamento. Considerando a média e o desvio padrão da pré-in-
rios de inclusão e exclusão. tervenção e pós-intervenção deste estudo, com um valor alfa (α) de
Foram incluídos no estudo indivíduos de ambos os sexos que 0,05 e 90%, determinou-se que eram necessários 20 indivíduos para
preenchiam os seguintes critérios: presença de lombalgia crônica, o grupo experimental.
irradiando ou não para um dos membros inferiores; idade igual ou
superior a 18 anos; pontuação ≥4 na escala análoga visual (EAV). Medições dos resultados
Foram excluídos indivíduos: com dor lombar aguda; espondi- Em primeiro lugar, foram obtidos todos os dados pessoais de cada
lolistese ou fibromialgia; que passaram por cirurgia vertebral indivíduo, incluindo idade, profissão e educação. Após esta pri-

206
Efeito da mobilização neural em indivíduos com dor lombar crônica BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):205-12

deve ser preenchido pelos voluntários, demonstrando o seu sucesso


ou dificuldade no desempenho das tarefas diárias associadas à sua
dor, e o resultado do questionário é a soma das respostas positivas ou
marcadas. Como alguns pacientes tiveram alguma dificuldade em
ler ou compreender as instruções do questionário, a leitura foi feita
em conjunto com os investigadores.

World Health Organization Quality of Life Questionnaire-bref


(WHOQOL-bref)
A fim de padronizar a avaliação da qualidade de vida dos pacientes,
utilizou-se o WHOQOL-bref, que consiste num questionário curto
e de rápida aplicação desenvolvido pela Organização Mundial de
Saúde (OMS). O WHOQOL-bref é composto por um total de 26
questões, divididas em domínios físicos, psicológicos, de relações so-
ciais e ambiente. Para averiguar a qualidade de vida antes e depois do
tratamento proposto, este questionário foi aplicado em dois perío-
dos, a medição inicial (MI), antes do tratamento, e a medição final
(MF) após o final de 100 sessões de tratamento.
Figura 1. Representação da aplicação de mobilização neural
1 - com o paciente sentado em uma cadeira normal, a perna a ser tratada é
Este questionário foi avaliado pelo método desenvolvido por20, uma
levantada até o membro inferior estar completamente estendido; 2 - após a análise por questionário que utiliza o Microsoft Excel para identificar
adução seguida de rotação interna, continuou-se com a extensão até o pa- as médias e desvios padrão para cada indivíduo e unificá-los em um
ciente sentir algum desconforto (não necessariamente dor); 3 e 4 – iniciou-se
movimentos alternados de dorsiflexão e flexão plantar, aproximadamente cinco gráfico que vai de zero a 100 e contém todos os domínios analisados
vezes cada; 5 e 6 - no final, o membro inferior é elevado e abaixado alternada- pelo questionário.
mente, aproximadamente cinco vezes. Os passos 3-4 e 5-6 foram alternados
até ao final de cada série de dois minutos cada.
Escala analógica visual
A EAV foi utilizada para a avaliação da intensidade da dor; ela con-
meira etapa, os participantes foram submetidos a duas avaliações, siste numa linha que vai de zero a 10, em que zero representa a
uma no início e outra no final do programa terapêutico. Ambas ausência de dor e 10 representa a pior dor. Após instruções sobre
as avaliações avaliaram a qualidade de vida Oswestry Disability como utilizar a escala, foi solicitado aos voluntários que marcassem
Index (ODI), Roland-Morris Disability Questionnaire (RMDQ) um ponto na linha que indicasse a intensidade da dor que sentiam
e o World Health Organization Quality of Life Questionnaire-bref no momento da avaliação21.
(WHOQOL-bref), intensidade da dor, mobilidade da coluna
lombar e medidas de citocinas. Mobilidade da coluna vertebral lombar
Foram utilizados dois testes para avaliar a mobilidade da coluna
Oswestry Disability Index lombar: o terceiro dedo ao solo e a goniometria. O teste do terceiro
Foi utilizado o ODI versão 2.0, validado em português em 200717. dedo ao solo consiste em teste ativo em que o indivíduo é colocado
A escala é constituída por uma lista de 10 perguntas com seis res- numa posição ortostática, com os pés separados em linha com os
postas possíveis. Cada resposta tem uma pontuação de zero a 5 na quadris, mantendo o joelho estendido e o calcanhar a tocar o solo.
ordem em que são listadas, ou seja, o primeiro valor é zero e o último Em seguida, o participante foi solicitado a realizar a flexão do tron-
valor é 5. A primeira pergunta avalia a intensidade da dor e as outras co com os braços estendidos e a tentar aproximar a mão do chão.
avaliam o efeito da dor no desempenho de atividades da vida diária, Depois, usando uma fita métrica, mede-se a distância entre a ponta
tais como tarefas pessoais, vestir-se, dormir etc18. do terceiro dedo e o solo e o valor em centímetros é considerado a
A pontuação total obtida neste questionário foi analisada utilizan- mobilidade da coluna lombar do voluntário1,22.
do uma fórmula matemática. Após a soma de todas as pontuações A goniometria refere-se à medição dos ângulos articulares dos in-
individuais do questionário, foi calculada a pontuação total em por- divíduos; aplicada antes da primeira sessão e após a última sessão
centagem para cada voluntário. A pontuação total foi dividida pelo de MN. Para minimizar erros, o fisioterapeuta responsável foi sub-
número de perguntas respondidas multiplicado por 5. O resultado metido a treinamento. As medidas goniométricas da articulação do
desta divisão foi multiplicado por 100, sendo os valores finais dados quadril dos participantes neste estudo foram utilizadas para ambas
em porcentagens ([pontuação (número de perguntas respondidas × as flexões da coxa; a amplitude variou entre zero - 131°±6,4°, e a
5)] × 100)18. amplitude articular variou entre zero e 13°±5,4°; as medidas podem
variar de indivíduo para indivíduo mais ou menos dentro destes va-
Roland-Morris Disability Questionnaire lores estabelecidos23.
A versão em português do RMDQ foi aplicada nos participantes do
estudo19. O questionário consiste em avaliar a gravidade e o nível Medições das citocinas
de incapacidade física induzida pela dor lombar por meio de 24 al- Foi coletado sangue de cada grupo para avaliar o possível im-
ternativas com respostas dicotômicas (sim ou não). O questionário pacto da técnica nas citocinas pró e anti-inflamatórias. Foram

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BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):205-12 Ramos M, Cruz CA, Laurentino MF,
Ashmawi HA, Santos FM e Chacur M

realizadas duas recolhas: a medição inicial (I) e a medição final 61 e 80% caracteriza dor lombar incapacitante. Finalmente, o
após a última sessão (F) de tratamento. Para avaliar a concentra- intervalo entre 81 e 100% caracteriza a imobilidade na cama.
ção de citocinas, foi utilizado o soro sanguíneo dos indivíduos Dos pacientes que participaram deste estudo, um estava no nível
para estas análises. 4 e um no nível 3, com um nível de incapacidade elevado, e os
Para as citocinas específicas IL-1β, IL-4, IL-6 e TNF-α, os reagentes outros pacientes tinham uma pontuação média entre os estágios 2
específicos contidos no kit de mapa Milliplex®TM (Millipore Corpo- e 1, com incapacidade moderada. Na medida final (F) do questio-
ration, Darmstadt-Alemanha) foram avaliados por Multiplex (En- nário ODI, foi avaliado o efeito do tratamento nas alterações da
zyme-Linked Immunosorbent Assay) de acordo com o protocolo condição clínica após a aplicação da fórmula matemática. Com-
especificado pelo fabricante. Todos os procedimentos do estudo parando as medidas iniciais (I) e finais (F) do ODI, observou-se
foram conduzidos de acordo com o Comitê de Ética em Pesquisa melhoria da condição clínica em todos os indivíduos; muitos dos
envolvendo seres humanos do Instituto de Ciências Biomédicas da indivíduos analisados após o tratamento obtiveram excelentes re-
Universidade de São Paulo (CAAE: 56978016.1.0000.5467). O sultados com o protocolo.
ensaio foi também registado nos Clinical Trials (clinicaltrials.gov - Todos os pacientes diminuíram a incapacidade em um nível, e, ao
NCT02671409). final do programa, quase todos os indivíduos alcançaram o primeiro
nível, na faixa de 0 a 20%, o que classifica a mudança como exce-
Análise estatística lente (Tabela 1).
Os resultados são apresentados como a média±SEM. As análises
estatísticas dos dados foram geradas utilizando GraphPad Prism, Tabela 1. Análise dos resultados obtidos nas medições iniciais (I) e
finais (F) do Oswestry Disability Index antes e depois do tratamento
versão 5 (Graph-Pad Software Inc., San Diego, CA). A compara- proposto
ção estatística foi realizada utilizando um teste t emparelhado. Em
todos os casos o valor de p<0,05 foi considerado estatisticamente Mensuração 0-20% 21-40% 41-60% 61-80% 81-100%
significativo. Inicial 7 7 1 1 0

Final 14* 1* 1 0 0
RESULTADOS
Os símbolos representam a diferença estatisticamente significativa entre valo-
res antes e depois do tratamento * p<0,05.
A figura 2 mostra a caracterização dos indivíduos do estudo. Foram
selecionados 60 indivíduos para elegibilidade e apenas 16 indivíduos Roland-Morris Disability Questionnaire
completaram todo o protocolo do estudo de acordo com os critérios Neste questionário, respostas afirmativas e um valor igual ou infe-
de inclusão e exclusão. De todos os indivíduos analisados, utilizou-se rior a 10 pontos indica que a pessoa com dor lombar apresenta um
8 homens e 8 mulheres, com idade entre 25 e 45 anos. pequeno nível de incapacidade, ou seja, apesar da dor, não há im-
pedimento para as tarefas diárias. Quando o total varia entre 11 e
14 alternativas indicadas como positivas, há incapacidade leve ou
Número de moderada para realizar atividades diárias. Quando as respostas po-
voluntários n=60 sitivas são iguais ou superiores a 15, o indivíduo sofre de um grave
nível de incapacidade.
Anamnese Na mensuração inicial, 14 indivíduos apresentaram o parâmetro
normal, não apresentando qualquer tipo de incapacidade para reali-
zar as atividades da vida diária. Na medição inicial, dois indivíduos
Voluntários selecionados do mesmo grupo apresentavam uma incapacidade grave para reali-
Número de voluntários não
para o tratamento com
selecionados n=24
mobilização neural n=36 zar atividades diárias. No final do tratamento este questionário foi
aplicado novamente e 15 dos indivíduos apresentaram parâmetros
normais, enquanto um dos indivíduos com incapacidade grave al-
Número de voluntários cançou os níveis normais; o outro indivíduo que também apresen-
que completaram o tava incapacidade grave inverteu parcialmente a sua condição, atin-
tratamento n=16
gindo uma incapacidade leve/moderada na realização de atividades
diárias (Tabela 2).
Figura 2. Caracterização dos indivíduos para o estudo
Tabela 2. Análise dos resultados obtidos nas medições iniciais (I) e
Oswestry Disability Index finais (F) do Roland-Morris Disability Questionnaire, antes e depois do
Após a medição inicial do ODI, a fórmula matemática foi aplica- tratamento proposto
da para avaliar o grau de incapacidade dos indivíduos. Na medida Tempo 0 a 10 - 11 a 14 – Incapacida- 15 a 24 – Incapacida-
inicial (I), o ODI pode ser classificado em cinco níveis ou fases Normal de leve / moderada de grave
de incapacidade. O primeiro nível, entre zero e 20%, caracteriza Inicial 15 0 2
incapacidade mínima associada às atividades. O segundo nível, Final 16 1 0*
entre 21 e 40%, caracteriza incapacidade moderada. O intervalo O símbolo representa a diferença estatisticamente significativa entre valores
entre 41 e 60% caracteriza incapacidade grave e o intervalo entre antes e depois do tratamento * p<0,05.

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Efeito da mobilização neural em indivíduos com dor lombar crônica BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):205-12

World Health Organization Quality of Life Questionnaire-bref


10
No questionário WHOQOL-bref foi observada uma redução im-
9
portante, principalmente no domínio físico e ambiental, quando
8

Escala analógica visual


comparados os momentos antes e depois do tratamento. Nos domí-
7
nios psicológico e das relações sociais, não se observaram quaisquer *
6 *
alterações durante o período analisado (Figura 3).
5 *
*
4 *
Inicial *
3 * * *
Físico 64,63%
2 *
1
Psicológico 57,94%
0
Relações
I 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª F
55,16%
sociais Intervenções

Ambiente 60,12% Figura 4. Intensidade da dor medida pela escala analógica visual
(I=medida inicial), durante (s = sessões) e após (F=medida final) o tratamento
com MN (n=18). Os símbolos representam a diferença estatisticamente signifi-
Total 59,43% cativa entre os tempos analisados e a medida inicial * p<0,0001. Os dados são
apresentados como a média±SEM.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Final
eficácia do tratamento, tendo sido obtida uma média de 15,4 cm
Físico 60,54%* de distância ao solo. Esta melhoria foi estatisticamente significativa
para a mobilidade da coluna lombar após o tratamento de acordo
Psicológico 57,14% com o protocolo (*p<0,04). Este resultado leva a sugerir que a MN
poderia melhorar a mobilidade lombar de indivíduos com dores
Relações
sociais
54,37% lombares crônicas baixas em cerca de 25,5% (Figura 5).

Ambiente 57,29%*
25
Teste do terceiro dedo ao solo

Total 57,78%
20 *
*p < 0,04
(distância = cm)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
15
Figura 3. Análise dos resultados obtidos nas medições iniciais e finais
do questionário WHOQOL-bref. 10
Os símbolos representam a diferença estatisticamente significativa entre valo-
res antes e depois do tratamento para cada domínio * p<0,05.
5

Intensidade da dor 0
Como mostra a figura 4, quando foram analisadas as médias obtidas I F
para cada período, a pontuação inicial (I) foi de 7,16 para a EAV, in- Intervenções
dicando dor de intensidade moderada. A partir da segunda sessão de Figura 5. Mobilidade da coluna lombar de acordo com o teste do
intervenção com a MN, já foi observada diferença estatisticamente terceiro dedo ao solo
significativa em relação à medida inicial (I) até o tratamento final I = medida inicial; F = medida final.
(F) (*p<0,001). Na medida final, ou seja, após 10 sessões de MN,
os indivíduos apresentaram pontuação igual a 1,61 na EAV, quase Mobilidade da coluna lombar antes (I=medida inicial) e depois (F=-
a pontuação mais baixa possível na escala. Assim, sugere-se que a medida final) do tratamento. Os símbolos representam a diferença
MN foi capaz de reduzir a intensidade da dor dos indivíduos com estatisticamente significativa entre os grupos * p<0,04. Os dados são
dores lombares crônicas em cerca de 70% em comparação com a apresentados como média±SEM.
intensidade da dor inicial.
Goniometria do quadril
Mobilidade da coluna vertebral lombar: Antes do tratamento, foi observada uma flexão média do quadril
Teste do terceiro dedo ao solo: de 87,92°, medida pela flexão do quadril em decúbito dorsal, como
Antes do tratamento, na medida inicial (I), a distância média ao mostra a figura 6A.
solo dos indivíduos era de 20,67cm. Posteriormente, estes mesmos Posteriormente, os pacientes começaram a ser tratados com a MN.
indivíduos iniciaram o tratamento com a MN. No final das 10 in- No final do tratamento, foi feita uma medição final (F) para verificar
tervenções do tratamento com MN (medida final F), a mobilidade a eficácia do tratamento. No final das 10 intervenções com a técnica
do teste da coluna lombar foi novamente realizada para verificar a MN, observou-se uma média de 98,57° de flexão do quadril. Esta

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Ashmawi HA, Santos FM e Chacur M

melhoria foi estatisticamente significativa para a goniometria após o Além disso, a análise da citocina IL-6, que é considerada uma ci-
tratamento com o protocolo proposto (*p<0,04). tocina pró-inflamatória e modulatória, mostrou aumento estatis-
Adicionalmente, relativamente à medição da extensão do quadril em ticamente significativo na medição final (F) em comparação com
decúbito ventral, como mostra a figura 6B, na medição inicial (I) a medição inicial (antes do tratamento MN) (*p<0,009) (Figura
observou-se uma média de 13,8° de extensão do quadril. No final do 7C). A análise da citocina anti-inflamatória IL-4 (Figura 7D) reve-
tratamento foi obtida uma média de 18,2° de extensão do quadril. lou uma diferença significativa antes (I) e depois (F) da aplicação
Esta melhoria foi estatisticamente significativa para a goniometria do tratamento, ou seja, um aumento desta citocina após o trata-
após o tratamento com o protocolo proposto (*p<0,04). mento (* p<0,03).

A B DISCUSSÃO
Extensão do quadril (º)

150 50
Flexão do quadril (º)

* *
A dor lombar pode levar a incapacidade ao longo do tempo e repre-
100 20
senta importante impacto econômico24,25.
50 10 Com base nos resultados do presente estudo, sugere-se que a técnica
MN, quando aplicada em indivíduos com dores lombares crônicas,
0 0 sozinhos ou combinados com terapia farmacológica, foi capaz de
I F I F
Intervenções Intervenções melhorar a qualidade de vida, reduzir a intensidade da dor e aumen-
Figura 6. Goniometria da flexão do quadril (A) e da extensão do qua-
tar a mobilidade funcional, bem como proporcionar uma enorme
dril (B) diminuição das citocinas pró-inflamatórias.
Antes (I=medida inicial) e depois (F=medida final) do tratamento. Os símbolos O questionário ODI é utilizado para medir o nível de incapacida-
representam a diferença estatisticamente significativa entre os grupos * p<0,04.
Os dados são apresentados como média±SEM. de de todos os indivíduos. Embora a maioria dos pacientes tenha
sido classificada na fase dois de incapacidade antes da aplicação da
Citocinas técnica, observou-se redução no nível de incapacidade de todos os
Relativamente ao ensaio de citocinas, foi avaliado o envolvimento pacientes após a aplicação do protocolo. Além disso, foi alcançado
de citocinas pró-inflamatórias e anti-inflamatórias (Figura 7). Em sucesso na melhoria da qualidade de vida de todos os pacientes do
relação às citocinas pró-inflamatórias, foram analisadas IL-1β, IL-6 estudo.
e TNF-α, antes e depois da última sessão de tratamento com MN. O RMDQ é utilizado para analisar o nível de incapacidade física
Os resultados mostram que houve diminuição estatisticamente sig- induzida pela lombalgia. No presente trabalho, sugere-se que o pro-
nificativa nas concentrações de IL-1β e TNF-α (Figuras 7A e B, res- tocolo proposto foi capaz de melhorar a incapacidade de quase todos
pectivamente) entre as médias iniciais (I) e finais (F), ou seja, antes e os indivíduos tratados, de leve a normal.
depois da aplicação do protocolo de tratamento. Foi também observada importante melhora na qualidade de vida
de acordo com o questionário WHOQOL-bref. O tratamento
foi capaz de melhorar o domínio físico após a última sessão de
A IL-1b B FTN-a tratamento da MN. Este domínio inclui a percepção de dor e des-
conforto na vida dos pacientes e está associado a outros fatores
F F como a fadiga, a mobilidade e o sono. No domínio do ambiente,
Medidas

Medidas

houve uma redução na medida final em relação à medida inicial,


mas esta diferença é atribuída à interpretação dos indivíduos antes
I I
das questões analisadas. Não foi observada diferença no domínio
das relações psicológicas e sociais entre os dois períodos em que o
0 50 100 150 200 0 50 100 150 200
pg/mL pg/mL questionário foi aplicado. Estes dados corroboram os dados en-
contrados pelo estudo26, cujos autores observaram, utilizando o
WHOQOL-bref, que o domínio físico foi o mais intensamente
C IL-6 D IL-4 alterado, sugerindo que esta alteração estava fortemente associada
ao nível de incapacidade dos indivíduos.
F F Em relação à escala da dor, observou-se melhora significativa na
Medidas

Medidas

dor dos pacientes tratados com a técnica MN. Todos os indivíduos


tiveram melhora significativa, uma redução média de 70% na dor
I I
após o tratamento avaliada pela EAV. Os resultados corroboram
os autores que observaram melhora da dor em todos os indivíduos
0 2000 4000 6000 0 100 200 300 400 500
pg/mL pg/mL com lesão do nervo ciático27 e dor lombar2,8. O presente trabalho
também corrobora os resultados obtidos pelos estudos24,28, que
Figura 7. Concentração de citocinas IL-1 (A), FTN-α (B), IL-6 (C) e IL-4 (D). observaram uma inversão de alodínia e hiperalgesia e melhora na
Medição antes do tratamento inicial (I) e depois do tratamento final (F) de MN. Os
símbolos representam a diferença estatisticamente significativa entre os grupos; *
amplitude de movimento do membro afetado após a aplicação da
p<0,04. Os dados são apresentados como média ± SEM. técnica de MN.

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Efeito da mobilização neural em indivíduos com dor lombar crônica BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):205-12

Quando se analisou a capacidade funcional de todos os pacientes, Limitações do estudo


observou-se melhora na sua mobilidade. Foi observada uma me- Foram encontradas encontradas limitações no recrutamento e ma-
lhoria estatisticamente significativa na mobilidade da coluna lom- nutenção dos pacientes para aderir ao tratamento, uma vez que a
bar, avaliada pelos testes de distância do terceiro dedo e de avalia- maioria mostrou uma rápida melhoria no seu estado inicial, abando-
ção da goniometria do quadril. Os resultados mostraram aumento nando o tratamento antes do seu fim. Outra limitação foi o horário
médio de 25% na mobilidade da coluna lombar, uma melhoria de tratamento de três vezes por semana, que pode coincidir com as
importante e estatisticamente significativa após o tratamento. Foi obrigações dos pacientes e o horário de trabalho. Outra limitação
também observada melhora nos ângulos articulares dos indiví- prevista pelo estudo foi que os indivíduos a serem recrutados para
duos tratados com MN, tanto para a flexão como para a extensão. tratamento deveriam ter um nível de educação que lhes permitiam
Esta melhoria foi de aproximadamente 24,17% para a extensão e ler, interpretar e responder aos questionários sobre qualidade de
10,8% para a flexão. vida. Todas as limitações enumeradas não impedem que o trabalho
Vale a pena mencionar que os autores observaram também melho- seja realizado, mas limitaram o número de indivíduos que podem
ra na mobilidade dos pacientes utilizando o teste de Shöber, outro ser recrutados para tratamento.
teste clínico semelhante para avaliar a mobilidade lombar. Estudos
recentes observaram também melhora estatisticamente significativa CONCLUSÃO
da mobilidade lombar em indivíduos tratados com MN após lesão
do nervo ciático29 ou após dores lombares8. O tratamento com MN implementado no presente estudo reduziu
Uma vez que se observou melhora da gravidade da dor e do estado a intensidade da dor e aumentou a mobilidade lombar de indivíduos
motor dos pacientes associada à técnica MN, foi então avaliada a com dores lombares crônicas, o que, em geral, acelerou o processo
concentração sérica de citocinas. Já se sabe que as citocinas pró-in- de melhoria/recuperação da capacidade funcional destes indivíduos
flamatórias estão envolvidas na geração de hiperalgesia e alodinia e acelerou o seu regresso às atividades normais do dia a dia.
devido a síndromes compressivas. Estudos já demonstraram um Além disso, o protocolo utilizado no estudo melhorou significati-
aumento das citocinas pró-inflamatórias no sangue e nos tecidos de vamente a qualidade de vida dos pacientes e indicou uma alteração
indivíduos e animais com dores neuropáticas e crônicas30,31. na concentração de citocinas pró e anti-inflamatórias no final do
Os resultados do presente estudo demonstraram diminuição das ci- tratamento com MN em indivíduos com dores lombares crônicas.
tocinas pró-inflamatórias e aumento das citocinas anti-inflamatórias É importante salientar que a MN também pode ser combinada com
após o tratamento com MN. Observou-se diminuição da IL-1β e outros tratamentos convencionais não invasivos, como o tratamento
da TNF-α e aumento das citocinas pró-inflamatórias e anti-infla- farmacológico, o que o torna também um instrumento coadjuvante
matórias da IL-4. Os resultados corroboram estudos anteriores que no tratamento de dores lombares crônicas.
mostraram aumento das citocinas pró-inflamatórias do plasma em
pacientes com dor neuropática32 e redução da concentração de ci- AGRADECIMENTOS
tocinas pró-inflamatórias (IL-1β e TNF-α) após o tratamento de
animais com MN33. Agradecemos à Kelle Vanessa de Oliveira Carvalho e Mirian Cristina
Em relação a IL-6, observou-se um aumento desta citocina após o Rocha pela ajuda na anamnese dos pacientes.
tratamento. Esta citocina é também caracterizada como uma citoci-
na pró-inflamatória e moduladora. Alguns estudos mostram que a REFERÊNCIAS
IL-6, juntamente com a IL-1β e a TNF-α, pode estimular a síntese
de receptores pró-inflamatórios de citocinas e opioide no gânglio 1. Briganó JU, Macedo CSG. Análise da mobilidade lombar e influência da tera-
pia manual e cinesioterapia na lombalgia. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde.
radicular posterior, conduzindo a um efeito duplo9,23,27,31. 2005;26(2):75-82.
É sabido que, na prática clínica, a dificuldade de tratar a dor neu- 2. Kurt V, Aras O, Buker N. Comparison of conservative treatment with and without
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ropática tem sido altamente evidenciada, devido à falta de conheci- trial. J Back Musculoskelet Rehabil. 2020;28. [Epub ahead print].
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resultados deste estudo, o modelo pode ser de grande valor pois esta 4. Teixeira MJ, Figueiró JAF, Yeng LT, Pimenta CAM. Tratamento multidisciplinar do
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Com base nos resultados do presente estudo e e na literatura, é possí- 6. Antonio SF. Abordagem diagnóstica e terapêutica das dores lombares. Rev Bras Med.
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e melhorar a capacidade funcional, demonstrando a sua importância Epidemiologia clínica da dor músculo-esquelética. Rev Med. 2001;80(ed.esp.pt 1):1-21.
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para a prática clínica. A MN também pode ser sugerida como um body quadrant neural mobilization in healthy and low back pain populations: a syste-
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2011;18(2):116-21. diabetic neuropathy. Phys Ther. 2018;98(4):214-22.

212
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):213-6 ARTIGO ORIGINAL

Argila medicinal verde no tratamento da dor lombar inespecífica: ensaio


clínico
Green medicinal clay in the treatment of the unspecified lumbar pain: clinical trial
Mariana Terezinha Delfino1, Graciela Mendonça da Silva de Medeiros2, Aline Daiane Schlindwein3

DOI 10.5935/2595-0118.20200046

RESUMO ABSTRACT

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A dor lombar é uma das BACKGROUND AND OBJECTIVES: Lower back pain is one
doenças musculoesqueléticas de alta incidência em todo o mun- of the musculoskeletal diseases with the highest incidence all
do. Aproximadamente em 85% dos casos ela é classificada como over the world. In approximately 85% of the cases it is classified
inespecífica, significando que não tem causa evidente. Diante as unspecified, which means that it has no evident cause. With
disso, a geoterapia é uma técnica não invasiva que possibilita that in mind, geotherapy is a non-invasive technique that allows
controle da dor lombar. O objetivo deste estudo foi avaliar os control over the lower back pain. The goal of this study was to
resultados da geoterapia no alívio da dor lombar inespecífica. evaluate the results of geotherapy on the relief of the unspecified
MÉTODOS: Ensaio clínico, semi-experimental, do tipo antes lower back pain. 
e depois, de natureza quantitativa, que incluiu 26 participantes METHODS: Semi-experimental quantitative clinical trial, com-
que receberam quatro sessões de cataplasma de argila verde na paring before and after states, including 26 participants who re-
região lombar com intervalo de sete dias. A intensidade da dor ceived four applications of green clay cataplasm on the lower
antes e depois das intervenções foi avaliada pela escala analógica back region with an interval of seven days. The pain intensities
visual e o questionário Oswestry Disability Index. Para análise before and after the interventions were evaluated by a visual ana-
dos dados foram utilizados os testes Kolmogorov-Smirnov e t de log scale and an Oswestry Disability Index. For the data analy-
Student, com nível de significância de 5% (p<0,05). sis, the Kolmogorov-Smirnov and t Student methods were used,
RESULTADOS: Houve significância estatística com a geoterapia with a significance level of 5% (p<0.05).
na modalidade cataplasma lombar com argila verde no alívio da RESULTS: There was significant statistics that showed lower
dor lombar, obtendo-se p=0,0001 para a escala analógica visual. back pain relief with the cataplasm mode geotherapy using green
CONCLUSÃO: A geoterapia com argila verde aplicada na região clay, reaching p=0.0001 in the visual analog scale.
lombar foi efetiva na redução da intensidade da dor lombar crô- CONCLUSION: The geotherapy with green clay applied on the
nica inespecífica. lower back region of the body was effective on diminishing of the
Descritores: Dor crônica, Dor lombar, Terapias complementares. unspecified chronic lower back pain.
Keywords: Chronic pain, Complementary therapies, Low back pain.

INTRODUÇÃO

A dor lombar (DL) inespecífica é definida como dor e/ou disfunção


sem que haja uma causa evidente e específica, equivalendo a mais
de 85% das ocorrências de DL1. É um fenômeno multidimensio-
nal, englobando sofrimento físico e emocional, inaptidão funcional
Mariana Terezinha Delfino – https://orcid.org/0000-0001-5335-5700;   e restrição na participação social, ocasionada tanto por fatores or-
Graciela Mendonça da Silva de Medeiros – https://orcid.org/0000-0001-5438-057X;
Aline Daiane Schlindwein – https://orcid.org/0000-0003-0996-6242. gânicos quanto psicológicos e sociais. Várias diretrizes apontaram a
importância do tratamento biopsicossocial, pois engloba elementos
1. Universidade do Sul de Santa Catarina, Curso de Naturologia, Palhoça, SC, Brasil.
2. Universidade Federal de Santa Catarina, Doutoranda do Curso de Enfermagem, Flori- contributivos ao desenvolvimento da dor no paciente, além de per-
anópolis, SC, Brasil. mitir seu alívio2.
3. Universidade do Sul de Santa Catarina, Programa de Pós-graduação em Ciências da
Saúde, Palhoça, SC, Brasil.
Nessa perspectiva, optou-se pela geoterapia não invasiva, modalida-
de cataplasma lombar com argila verde, indicada devido à melhora
Apresentado em 13 de novembro de 2019. da vascularização, da oxigenação e nutrição tecidual local, propician-
Aceito para publicação em 12 de maio de 2020.
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há. do o alívio da dor3.
A geoterapia, de geo - terra, argila; terapia - tratamento, prática que
Endereço para correspondência:
Rua São Judas Tadeu, nº 489 - Comasa utiliza de argila medicinal como método de intervenção, é uma te-
89228-060 Joinville, SC, Brasil. rapêutica curativa de forma integradora, fundamentada pelas teorias
E-mail: marianatudodelfino@gmail.com
biofotônica, bioelétrica, piezoelétrica e mineralizante, que atua em
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor todos os aspectos do indivíduo, resultando em estado de equilíbrio,

213
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):213-6 Delfino MT, Medeiros GM e Schlindwein AD

relaxamento e harmonia, favorecendo a saúde. A argila verde é apli- no local em que seria aplicada a argila; utilizar opioides. O estudo
cada em casos de desequilíbrio e em quadros de doenças crônicas e/ está em concordância com a Declaração de Helsinque da Associa-
ou dor, como em dores articulares, decorrentes de processos infla- ção Médica Mundial e respeitou a Resolução 466/12 do Conselho
matórios crônicos, bem como, em DL e cervical, pelas suas proprie- Nacional de Saúde5, que determina as Diretrizes e Normas Regula-
dades analgésicas, anti-inflamatória, equilibradora e auxiliadora da mentadoras da Pesquisa em unidade experimental envolvendo seres
homeostase3. humanos, por meio do comprometimento das exigências do Termo
De acordo com o Ministério da Saúde, a geoterapia é uma prática de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
simples, com história bem definida, segura, não invasiva, com eficá- Foram 4 sessões de aplicação da argila verde e avaliação de intensidade
cia em estudos clínicos e que pode ser empregada em processos in- da dor pela escala analógica visual (EAV), sendo que na primeira e na
flamatórios, ferimentos, cicatrização, lesões e em doenças osteomus- última sessões foram preenchidos os instrumentos de coleta de dados.
culares3. Essa terapêutica foi incluída na Política Nacional de Prática Na primeira sessão o participante preencheu o questionário de le-
Integrativas e Complementares (PNPIC) pela portaria número 702 vantamento de características sociodemográficas e o questionário
de 21 de março de 20184. Oswestry Disability Index (ODI) para avaliação da DL. A seguir foi
O objetivo do presente estudo foi avaliar os resultados da geoterapia acomodado em decúbito ventral na maca, foram removidos roupa e
no alívio da DL inespecífica. adornos e a pele foi preparada para a aplicação da argila com esfolia-
ção suave realizada três vezes, utilizando gaze úmida tépida na altura
MÉTODOS de T12 até a região sacral.
A argila verde, em temperatura tépida, na espessura de 2cm, foi
Trata-se de um ensaio clínico de natureza quantitativa, exploratória colocada sobre a gaze umedecida com uma espátula de T12 até a
e de temporalidade longitudinal, do tipo antes e depois, que incluiu região sacral, que foi coberta com papel toalha e lençol cobrindo
alunos e colaboradores da Universidade do Sul de Santa Catarina todo o corpo do indivíduo. Após 40 minutos foi retirada a gaze e os
(UNISUL), com amostra não probabilística, recrutados na univer- resíduos da argila com gaze e algodão úmidos e a área foi seca com
sidade por meio de cartazes fixados nos murais e pelas redes sociais papel toalha.
Facebook e Instagram. Foram incluídos 30 indivíduos alocados em A segunda e terceira sessões ocorreram respectivamente 7 e 14 dias
um grupo tratamento. Após a segunda sessão, quatro participantes depois, seguindo o mesmo procedimento, porém o tempo de per-
foram excluídos por não comparecerem aos atendimentos posterio- manência da argila foi de 40 minutos. A quarta e última sessão
res, portanto o estudo foi concluído com 26 participantes, no perío- ocorreu 7 dias depois da terceira sessão, e após a aplicação da argila
do de fevereiro a maio de 2019 (Figura 1). durante 40 minutos o participante preencheu os questionários so-
Os critérios de inclusão foram ser estudante e/ou colaborador da ciodemográfico e o ODI.
UNISUL ou estar na lista de espera da Clínica Escola; ter DL; idade A pesquisa foi realizada na Clínica Escola de Naturologia da UNI-
entre 18 e 59 anos. Os critérios de exclusão foram apresentar lesão na SUL, sob aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa número
pele no local em que seria aplicada a argila; utilizar fármacos tópicos 3.101.272 e CAAE 04555218.6.0000.5369.

Análise estatística
Elegíveis Foram calculadas média e mediana da intensidade da dor e para o
(n=30) ODI foi utilizado o GraphPad Prism (versão 4). Os dados foram
testados quanto a sua normalidade pelo teste Kolmogorov-Smirnov
e submetidos ao teste t de Student com nível de significância de 5%
Grupo tratamento
(n=30)
(p<0,05).

RESULTADOS
1ª intervenção
Eram do sexo feminino 19 voluntários e 7 do sexo masculino, com
idade entre 19 e 55 anos. Com relação ao uso de fármaco analgé-
2ª intervenção
sico, 88,46% dos participantes declararam não fazer uso e 11,54%
Excluídos 4 apenas quando necessário (durante a pesquisa não fizeram uso). Dos
participantes, 7,69% afirmaram ter entre 3 e 5h de sono, 69,23%
3ª intervenção afirmaram ter entre 5 e 7h e 23,08% afirmaram ter de 8 a 10h.
Em relação à posição mais frequente em seu dia, 88,46% alegaram
4ª intervenção permanecer sentados. Destaca-se a característica de estilo e qualida-
de de vida do grupo nas informações levantadas pelo questionário
sociodemográfico, o qual possibilitou levantar a informação de que
Análise dos resultados 61,54% praticavam atividade física e 42,31% afirmaram trabalhar
de 6 à 8h diárias.
Figura 1. Diagrama do fluxo de participantes durante cada estágio da Houve diminuição significativa da dor após a primeira sessão,
pesquisa com média de dor anterior à aplicação de 4,54±2,319 e posterior

214
Argila medicinal verde no tratamento da dor BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):213-6
lombar inespecífica: ensaio clínico

de 1,81±2,350, com significância estatística (p=0,0001). Na se- trons livres, presentes nos minerais, traduzem as propriedades tera-
gunda sessão a média da dor anterior à aplicação era 4,42±2,120 e pêuticas da argila. Desse modo, dentro das propriedades físico-quí-
após 1,46±1,985, com significância estatística (p=0,0001). Na ter- micas, o potencial energético da geoterapia é embasado pelo efeito
ceira sessão a média anterior à aplicação era 3,04±2,200 e depois piezoelétrico, ocasionado por estruturas cristalinas de sílica livre SI4+
1,12±1,862, com significância estatística (p=0,0001). Na quarta e minerais de argila3. O atrito das estruturas cristalinas da argila,
sessão a média era 2,62±2,844 e após 0,73±1,845, com significância induzido pela adequada manipulação, gera carga elétrica por efeito
estatística (p=0,0001). Com relação aos efeitos mediatos, a média piezoelétrico e ativa o sistema vibracional, encarregado de estimular
de dor antes da aplicação na primeira sessão era 4,54±2,319 e após a pele e manter a ação energética. Por sua vez, a teoria mineralizante,
aplicação na última sessão era 0,73±1,845, com nível de significân- resultado das variedades e concentrações de elementos, assegurada
cia (p=0,0001). pelas propriedades radioativa e intrínseca, pode realizar trocas iôni-
cas entre a argila e a pele3.
Os componentes químicos encontrados na argila verde são: óxido de
p<0,0001 sódio, zinco, monóxido de potássio, óxido de alumínio, magnésio,
manganês, cobre, alumínio, silício, molibdênio, óxido de titânio,
lítio, sódio e potássio, garantindo propriedade analgésica, anti-in-
flamatória, descongestionante e cicatrizante3-11. O estudo6, que rea-
Intensidade da dor

lizou análise química de várias argilas, constatou que a argila verde


apresenta a maior diversidade de elementos, entre eles óxido de fer-
ro, relacionado a magnésio, cálcio, potássio, manganês, alumínio,
fósforo e silício.
Os dados mostraram que 88,46% dos participantes permaneciam
sentados na maior parte do dia. Estudo7 realizado com 52 indivíduos
que trabalhavam sentados evidenciou que 83% apresentavam DL,
o que permite inferir que essa posição pode desencadear o quadro
s

is

is

is

is
te

te

te

te
po

po

po

po
an

an

an

an

álgico, uma vez que, quando a posição sentada é mantida por um


de

de

de

de
1

4
1

período longo, pode gerar algum déficit muscular e articular, interfe-


Sessões rindo na mobilidade, flexibilidade e exaustão dos músculos posterio-
Figura 2. Intensidade da dor avaliada pela escala analógica visual res da coluna, o que pode interferir no seu alinhamento e estabilida-
de. Quando sentado, o indivíduo pode ficar em posição inadequada
Com relação ao ODI, a média de dor inicial foi de 41,23±12,160 e por período prolongado sem apoio lombar e do antebraço, além
a final foi de 33,31±7,918, correspondendo ao nível de significância da flexão anterior do tronco, o que intensifica em mais de 70% a
estatística p=0,001 (Figura 3). pressão sobre os discos intervertebrais, aumentando a probabilidade
do aparecimento de dores7. Por diminuir processos inflamatórios e
p<0,0001 lesões osteomusculares, a geoterapia proporcionou o alívio da dor2.
Um estudo realizado com estudantes universitários evidenciou que
66% referiam dor na região lombar e a postura sentada por um lon-
go período durante a aula foi uma variável que pode estar relacio-
Intensidade da dor

nada à presença de desequilíbrios musculares e as dores, principal-


mente na coluna8.
Dos participantes, 61,54% relataram realizar atividade física, o que
permite inferir que essa prática não contribui para o alívio da DL.
Porém, não foi avaliado o motivo da atividade física, podendo ter
sido realizada para o alívio da dor ou, também, que a dor poderia
ser devida a prática da atividade física. Um estudo envolvendo os
dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013 constatou que
es

is

a atividade física intensa no ambiente de trabalho e em casa, em


po
t
An

De

ambos os sexos, não é benéfica para a saúde, uma vez que aumenta
Figura 3. Intensidade da dor pelo questionário Oswestry Disability Index a sobrecarga muscular e articular, além da fadiga, que podem levar a
problemas osteomusculares9.
DISCUSSÃO Contrapondo esse estudo, uma pesquisa realizada com estudantes de
fisioterapia constatou que 60,5% dos participantes não praticavam
Os resultados mostraram que a aplicação da argila medicinal de cor exercícios físicos e, desses, 60,9%, apresentavam DL – sugerindo
verde na região lombar contribuiu significativamente para o alívio que a prática de atividade física seria um fator de prevenção, já que
da DL inespecífica, de forma imediata e mediata. Um aspecto re- atuaria fortalecendo a musculatura total10.
levante refere-se às teorias que fundamentam a geoterapia, em que A dor crônica na coluna tanto restringe as atividades rotineiras quan-
existe uma relação de trocas iônicas ou radiônicas pelas quais os elé- to gera apreensão devido à sensação de improdutividade, incapaci-

215
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):213-6 Delfino MT, Medeiros GM e Schlindwein AD

dade e redução da autonomia. Essas restrições, de fato, perturbam É fundamental a realização de mais estudos com amostra maior e
adultos em faixa etária economicamente ativa, uma vez que impli- grupo controle, fator limitante deste estudo, para avaliar a possibili-
cam redução da capacidade funcional no trabalho e na execução das dade de o efeito placebo ter influído nos resultados obtidos.
atividades da vida diária, influenciando na qualidade de vida8. Tal
problemática leva à alta demanda por serviços de saúde, gerando, CONCLUSÃO
consequentemente, custos sociais elevados, com a diminuição da
produtividade, ausência no trabalho e, em decorrência disso, gastos A geoterapia com argila verde aplicada na região lombar foi efetiva
com a previdência9,11. na redução da intensidade da dor lombar crônica inespecífica.
Como a maioria dos indivíduos desta pesquisa não usava fármaco
analgésico, é possível inferir que a argila possa ter contribuído para o REFERÊNCIAS
alívio da DL. Uma pesquisa realizada em paciente com queimadura
de segundo grau utilizou como forma de tratamento a argila medi- 1. Silveria APB, Nagel LZ, Pereira DD, Morita AK, Spinoso DH, Navega MT, et al.
Efeito imediato de uma sessão de treinamento do método Pilates sobre o padrão de
cinal na cor cinza e proporcionou alívio da dor e ardência, além de cocontração dos músculos estabilizadores do tronco em indivíduos com e sem dor
auxiliar no processo inflamatório da queimadura12. lombar crônica inespecífica. Fisioter Pesqui. 2018; 25(2):173-81.
2. Desconsi MB, Bartz PT, Flegenbaum TR, Candotti CT, Veira A. Tratamento de pa-
Considerando que 42,31% dos indivíduos estudados trabalhavam cientes com dor lombar crônica inespecífica por fisioterapeutas: estudo transversal.
de seis a oito horas por dia, é possível inferir como possível causa Fisioter Pesqui. 2019;26(1):15-21.
3. Medeiros G, Marimon R. Geoterapia nos cuidados a saúde. In: Hellmann F, Rodri-
da dor o tempo de horas de trabalho. Um estudo que analisou a gues DMO Termalismo e Crenoterapia. Palhoça: Editora Unisul; 2017. 331-49p.
prevalência de dor musculoesquelética em profissionais da enferma- 4. Ministério da saúde (Brasil). Portaria número 702 de 21 de março de 2018. Altera a
gem constatou que os que tinham carga horária semanal entre 30 e Portaria de Consolidação nº 2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, para incluir no-
vas práticas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares – PNPIC.
42h apresentavam maiores queixas álgicas, principalmente na parte Diário Oficial União. 22 mar 2018; Seção 1:65.
inferior da coluna13. Ainda outra pesquisa com acadêmicos de fi- 5. Ministério da Saúde (Brasil). Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 466, de 12
de dezembro de 2012. Aprova diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas en-
sioterapia e psicologia evidenciou que 80,7% apresentavam quadro volvendo seres humanos. Brasília, Diário Oficial da União, 12 de dezembro de 2012.
álgico lombar e permaneciam sentados, eventualmente de maneira 6. Biriti BMAB, Buriti JS, Cartaxo JM, Neves GA. Estudo das propriedades estruturais,
inadequada, por longas horas, o que pode ter contribuído para o térmicas, químicas e granulométricas de argilas com perspectivas em tratamentos me-
dicinais, terapêuticos e estéticos. In: 14º Congresso da Sociedade Latino Americana de
desenvolvimento de tal14. Biomateriais, Órgãos Artificiais e Engenharia de Tecidos. Maresias; 2017. 585-94p.
Outro estudo elaborado com o objetivo de analisar a relação en- 7. Silva JN, Cusatis Neto R. Prevalência de dor lombar em pessoas que trabalham na
postura sentada. UNILUS Ensino e Pesquisa. 2016;13(32):67-75.
tre os distúrbios do sono e a ocorrência de doenças crônicas não 8. Gomes Neto M, Sampaio GS, Santos OS. Frequência e fatores associados a dores
transmissíveis, constatou que 31,4% sofria por alteração do sono e musculoesqueléticas em estudantes universitários. Rev Pesq Fisioter. 2016;6(1):26-34.
9. Malta DC, Oliveira MM, Andrade SSCA, Caiaffa WT, Souza MFM, Bernal RTI.
lombalgia15. Na mesma linha de pesquisa, um trabalho realizado na Factors associated with chronic back pain in adults in Brazil. Rev Saude Publica.
Coreia evidenciou que a presença das algias musculares era significa- 2017;51(Suppl 1):9s.
tivamente maior naqueles que dormiam por 5 a 7h, concluindo que 10. Morais ML, Silva VK, Silva JM. Prevalence of low back pain and associated factors
among physiotherapy students. BrJP. 2018;1(3):241-7.
a duração do sono, curta ou longa, está associada à dor musculoes- 11. Hartivsen J, Hancock MJ, Kongsted A, Louw Q, Ferreira ML, Genevay A, et al. What
quelética, principalmente na região lombar16. low back pain is and why we need to pay attention. Lancet. 2018;391(10137):2356-67.
12. Rivas LDA, Valles JLR, Elías DR. Efecto de la arcilla medicinal en quemaduras de
Os resultados desta pesquisa mostraram a geoterapia como alternati- segundo grado en pacientes del Hospital Nacional Alberto Sabogal Sologuren. Rev
va na prevenção e no tratamento para a dor lombar, com a vantagem Peru Med Intergr. 2016;1(1):25-30.
de ser indolor e não invasiva, atuando no emocional do indivíduo3. 13. Santos EC, Andrade RD, Lopes SGR, Valgas C. Prevalence of musculoskeletal pain in
nursing professionals working in orthopedic setting. Rev Dor. 2017;18(4):298-306.
A argila verde tem, pois, efeito sobre quadros álgicos osteomuscula- 14. Sousa PO, Leal SS, Carvalho MEIM. Lombalgia, hábitos posturais e comportamen-
res, além de promover relaxamento muscular e auxiliar na redução tais em acadêmicos de Fisioterapia e Psicologia de uma instituição de ensino superior.
Fisioter Bras. 2017;18(5):563-70.
de tensão provocada por estresse ou desconforto físico3. 15. Morais LC, Zanuto EAC, Queiroz DC, Araújo MYC, Rocha APR, Codogno JS. As-
Os resultados desta pesquisa mostraram que a geoterapia com argila sociação entre distúrbios do sono e doenças crônicas em pacientes do Sistema Único
de Saúde. J Phys Educ. 2017;28:1-9.
verde é uma alternativa para a prevenção e tratamento para a dor 16. Chun MY, Choo BJ, Yoo SH, Oh B, Kang JS, Yeon C. Association between sleep
lombar, atuando no emocional do indivíduo, promovendo relaxa- duration and musculoskeletal pain. Medicine. 2018;97(50):1-7.
mento muscular, auxiliando na redução de tensão provocada pelo 17. Medeiros GM, Sasso GT, Schlindwein AD. Results of foot reflexotherapy in acute lower
back pain of the nursing team: controlled randomized clinical test. BrJP. 2018;1(4):305-9.
estresse e desconforto físico, com a vantagem de ser indolor e não in- 18. Cunha MS, Pereira MC. Métodos não farmacológicos para tratamento de dor em
vasiva6. Entre as terapias não farmacológicas para alívio da DL a geo- idosos. Rev JRG de Estudos Acadêmicos. 2019;2(5):309-17.
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terapia mostrou resultados significativos na redução da dor quando choose, indications and results on musculoskeletal pain conditions: a systematic re-
comparada a outros estudos17-19. view of reviews. BrJP. 2019;2(4):356-61.

216
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):217-21 ARTIGO ORIGINAL

Intensidade de dor e desconfortos puerperais imediatos


Pain intensity and immediate puerperal discomforts
Thais do Amaral Tomasoni1, Jordana Barbosa Silva2, Thalita Cristina Wolff Bertotti1, Jessica Perez1, Raciele Ivandra Guarda
Korelo1, Rubneide Barreto Silva Gallo1

DOI 10.5935/2595-0118.20200047

RESUMO ABSTRACT

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O puerpério imediato esten- BACKGROUND AND OBJECTIVES: The immediate puer-
de-se até o 10º dia após o parto, e este período é caracterizado perium extends until the 10th day after delivery, and this period
pelo retorno do corpo da mulher ao estado pré-gravídico. Os is characterized by the return of the woman’s body to the pre-
objetivos deste estudo foram identificar a intensidade da dor e -pregnancy state. The aims of the study were to identify pain
principais desconfortos relatados pelas mulheres no puerpério intensity and the major discomforts reported by women in the
imediato e analisar a diferença dos desconfortos puerperais de immediate puerperium period and to analyze the difference in
acordo com a paridade e tipo de parto. puerperal discomfort according to parity and type of delivery.
MÉTODOS: Participaram deste estudo 107 puérperas assistidas METHODS: The participants included 107 women attended
em uma maternidade pública. A dor e os desconfortos foram in a public maternity ward. Pain and discomfort were assessed
avaliados por meio da ficha de avaliação fisioterapêutica semies- using the semi-structured physical therapy assessment form and
truturada, e a intensidade da dor foi mensurada com a escala ana- pain intensity was measured using the visual analog scale (VAS).
lógica visual. Os testes de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis foram Mann-Whitney and Kruskal-Wallis tests were applied to identi-
aplicados para identificar diferenças no desconforto a partir do fy differences in discomfort according to the type of parity and
tipo de parto e paridade. delivery.
RESULTADOS: Dor em cólica relacionada à amamentação de RESULTS: Colic pain related to breastfeeding with 4.81±2.52
intensidade 4,81±2,52 foi referida por 55,14% das puérperas, intensity was reported by 55.14% of mothers in the puerpe-
dor perineal de intensidade 4,06±2,09 foi referida por 30,84%, rium, perineal pain with 4.06±2.09 intensity by 30.84%, low
lombalgia de intensidade 4,38±2,09 foi referida por 28,97%, dor back pain with 4.38±2.09 intensity by 28.97%, breast pain with
nas mamas de intensidade 4,76±2,63 foi referida por 23,36% 4.76±2.63 intensity by 23.36% and cesarean related pain with
e dor relacionada a cesariana de intensidade 5,21±2,01 por 5,21±2,01 intensity was reported by 17.75% of mothers. No
17,75%. Não foram encontradas diferenças significativas na in- significant differences in pain intensity were found according to
tensidade da dor de acordo com a paridade. No entanto, foram parity. However, significant differences were found for perineal
encontradas diferenças significativas para intensidade da dor pe- pain intensity and cesarean section.
rineal e incisão da cesariana. CONCLUSION: Pain intensity evaluated by the visual analog
CONCLUSÃO: A intensidade da dor avaliada pela escala analó- scale was classified as moderate or light.
gica visual foi classificada como moderada ou leve. Keywords: Labor pain, Postpartum period, Women’s health.
Descritores: Dor do parto, Período pós-parto, Saúde da mulher.
INTRODUÇÃO
Thais do Amaral Tomasoni – https://orcid.org/0000-0002-9296-0994;
Jordana Barbosa da Silva – https://orcid.org/0000-0001-9867-3788; O período após o parto é denominado de puerpério e pode ser divi-
Thalita Cristina Wolff Bertotti – https://orcid.org/0000-0003-0123-6413; dido em imediato – do 1º ao 10º dia, tardio – do 10º ao 45º dia e
Jessica Perez – https://orcid.org/0000-0001-7643-8920;
Raciele Ivandra Guarda Korelo – https://orcid.org/0000-0002-6754-098X; remoto – após o 45º dia. Nessa fase, ocorrem modificações locais e
Rubneide Barreto Silva Gallo – https://orcid.org/0000-0001-9953-0260. sistêmicas no corpo da mulher que acarretam o retorno do corpo e
1. Universidade Federal do Paraná, Departamento de Prevenção e Reabilitação em Fisiote- dos sistemas ao estado pré-gravídico1. Durante o puerpério imedia-
rapia, Curitiba, PR, Brasil. to, fazem-se presentes alguns desconfortos inerentes ao processo de
2. Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Fisioterapia, São Carlos, SP, Brasil.
parturição. A dor é o sintoma mais frequentemente relatado pelas
Apresentado em 11 de dezembro de 2019. puérperas e pode causar limitações de movimentos, de deambulação
Aceito para publicação em 15 de maio de 2020. e mudanças de postura no leito2, além de dificultar o vínculo entre a
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há.
mãe e o recém-nascido (RN)3.
Endereço para correspondência: Por ser um fenômeno complexo e multifatorial, o tratamento da
Rubneide Barreto Silva Gallo
Av. Coronel Francisco Heráclito dos Santos, 210. dor exige abordagem multiprofissional, visando melhor qualidade
81531-980, Curitiba, PR, Brasil. de vida a mulher4. Compreender e avaliar a dor possibilita não só
E-mail: rubneidegallo@gmail.com
sua melhor caracterização, mas também aproxima o fisioterapeuta
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor do paciente, o que torna o profissional mais atento para entender

217
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):217-21 Tomasoni TA, Silva JB, Bertotti TC, Perez J, Korelo RI e Gallo RB

o significado da dor e suas repercussões. Entretanto, as atividades Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Hu-
realizadas por profissionais de saúde durante o puerpério estão prefe- manos do Hospital das Clínicas, conforme número 1.674.698,
rencialmente relacionadas ao RN e são escassas quando direcionadas CAAE 56163616.8.0000.0096.
ao autocuidado e a redução de desconfortos das puérperas5.
O Ministério da Saúde preconiza uma atenção qualificada e hu- Análise estatística
manizada as mulheres durante o puerpério6. Contudo, a atuação Os dados foram processados no software SPSS, versão 21.0. As va-
profissional baseada no modelo biomédico e desconhecimento das riáveis numéricas estão apresentadas em média±desvio padrão. As
queixas e complicações reais durante o puerpério contribuem para variáveis descritivas foram analisadas por meio de frequência (n) e
a desconformidade entre o modelo assistencial indicado e o encon- porcentagem (%). Para realizar a análise da diferença, a normalida-
trado nas instituições de saúde7. Por outro lado, há uma crescente de dos dados foi analisada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Para
demanda da abordagem fisioterapêutica na Saúde da Mulher, o que analisar a diferença da intensidade da dor de acordo com a paridade,
implica na assistência adequada e fundamentada durante todo o ci- foi aplicado o teste de Mann-Whitney. As participantes foram alo-
clo gravídico-puerperal. Desse modo, é importante conhecer o perfil cadas em dois grupos: 1) primíparas; e 2) multíparas. Para a análise
de puérperas atendidas pelas fisioterapeutas em maternidades públi- de diferença de acordo com o tipo de parto, foi aplicado o teste de
cas, a fim de obter informações que direcionem melhor abordagem Kruskal-Wallis e post-hoc de Mann-Whitney, e as mulheres foram
na avaliação e nas intervenções preventivas e fisioterapêuticas1. Além alocadas em 4 grupos diferentes, de acordo com o tipo de parto: a)
disso, a atuação do fisioterapeuta é considerada auxiliar na melhora com intervenção (episiotomia e/ou fórceps); b) laceração grau 1 ou
da assistência direcionada a puérpera8, desde a promoção e preven- 2; c) cesariana; d) normal. O valor de significância foi estabelecido
ção até a intervenção em saúde9. em p<0,05.
Dessa forma, o objetivo primário deste estudo foi avaliar a inten-
sidade da dor e os principais desconfortos relatados por mulheres RESULTADOS
no puerpério imediato. O objetivo secundário foi analisar a di-
ferença dos desconfortos puerperais de acordo com a paridade e As participantes possuíam média de idade de 26±6,44 anos,
tipo de parto. em sua maioria multíparas (58,9%), de raça branca (60,7%),
com ensino médio completo (54,2%), ocupação remunerada
MÉTODOS (56,1%), com união estável (43,9%) e a maioria estava com
acompanhante durante todo o trabalho de parto e pós-parto
Estudo transversal realizado com 107 mulheres durante o puerpério imediato (97,2%).
imediato até 17h após o parto, no período de agosto de 2016 a maio A média de idade gestacional em semanas foi de 39±1,16 com in-
de 2017. tervalo de confiança de 95% (IC95%) de 39 a 40 semanas, com
Foram incluídas no estudo puérperas de risco habitual, assistidas número médio de consultas pré-natal de 9±3,0 e tempo de trabalho
no alojamento conjunto de uma maternidade pública, sem pro- de parto de 486±334,7 minutos; IC95%: 3335-638,2). A maioria
blemas cognitivos e que concordaram em participar da pesquisa das puérperas teve parto vaginal (73,7%); 6,5% parto vaginal com
após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e episiotomia e/ou fórceps e uma participante teve laceração grau 3
Esclarecido (TCLE), conforme Resolução 466/2012 do Conse- após o parto (0,9%). A média de peso dos RNs foi de 3,19±0,4kg
lho Nacional de Saúde. Foram excluídas do estudo as partici- (IC95% 2,99-3,38). O índice de Apgar foi maior que sete no 1º
pantes que desejaram suspender a participação na pesquisa, as minuto (77,6%) e no 5º minuto (82,2) dos RNs.
que não completaram a ficha de avaliação ou que estavam com As puérperas relataram desconfortos relacionados a amamentação e
informações faltantes no prontuário, ou mulheres que estavam ao intestino, além de desconfortos circulatórios, uroginecológicos e
com complicações puerperais. musculoesqueléticos (Tabela 1).
Um dos instrumentos utilizados nesta pesquisa foi um questionário A média de todos os desconfortos relatados pelas puérperas e avalia-
semiestruturado elaborado pelas pesquisadoras, utilizado no aten- dos pela EAV foi classificada como moderada. Em análise individual
dimento fisioterapêutico, contendo perguntas sobre os dados pes- da pontuação da EAV, a maioria das participantes classificou a dor
soais e obstétricos das participantes, como parte da caracterização da cesariana, dor nas mamas e lombalgia com intensidade modera-
da amostra. Além disso, o instrumento foi constituído de perguntas da. Já a intensidade da dor perineal e das cólicas na amamentação
relacionadas às queixas urinárias e intestinais durante a gestação. Em foi classificada como leve, em sua maioria. Dentre as participantes,
seguida, a participante foi indagada sobre a presença de desconfortos 18 (16,8%) consideraram como intensa a dor das cólicas durante a
puerperais em membros superiores (MMSS), membros inferiores amamentação, 5 (4,7%) a dor na incisão da cesariana, dor perineal e
(MMII), tronco, incisão cesariana e região perineal, além da classifi- lombalgia e 4 (3,7%) a dor nas mamas (Tabela 2).
cação dos desconfortos relacionados aos sintomas uroginecológicos, A tabela 3 apresenta os valores da média e desvio padrão com
intestinais e circulatórios. Após confirmar a presença de dor, a parti- base na classificação da intensidade dos desconfortos pelas puér-
cipante deveria classificar a intensidade da dor pela escala analógica peras e resultado da diferença da intensidade da dor de acordo
visual (EAV)10, que consiste em uma régua com 10cm de compri- com a paridade e tipo de parto. A intensidade da dor foi superior
mento, numerada de zero a 10, na qual zero indica ausência total de em mulheres que realizaram cesariana. Em ordem crescente, os
dor e 10 pior dor imaginável. A intensidade da dor das participantes principais desconfortos encontrados neste estudo foram: dor na
foi classificada em leve (1-3), moderada (4-6) e intensa (7-10). cesariana, dor das cólicas durante a amamentação, dor nas ma-

218
Intensidade de dor e desconfortos puerperais imediatos BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):217-21

Tabela 1. Desconfortos puerperais imediatos relatados pelas puér- Tabela 3. Intensidade da dor durante o puerpério imediato
peras
Variáveis Média±DP Valor Valor
Desconfortos na amamentação n (%) de p* de p#
Dor nas mamas 25 (23,3)
Incisão cesariana 5,21±2 0,38 0,00 A,C,E
Trauma mamilar 9 (8,3)
Cólica durante a amamentação 58 (55,1) Perineal 4,06±2,09 0,99 0,00 B,D,F
Desconfortos intestinais Mamas 4,76±2,63 0,73 0,59
Diarreia 5 (4,7) Cólicas durante amamentação 4,81±2,52 0,21 0,86
Constipação 8 (7,5)
Flatulência 16 (15) Lombalgia 4,38±2,09 0,06 0,09
Incontinência fecal 6 (5,6) p* = p<0,05; teste de Mann-Whitney de acordo com a paridade; p# = p<0,05;
Constipação e flatulência 9 (8,4) teste de Kruskal-Wallis de acordo com o tipo de parto; Post-hoc (tipo de parto)
= Ap<0,002 em relação grupo A (0) e C (3,80); Bp=0,02 em relação grupo A (2) e
Desconfortos circulatórios C (0); Cp<0,000 em relação grupo B (=0) e C (3,80); Dp<0,000 em relação grupo
Varizes 9 (8,4) B (1,97) e C (0); Ep<0,000 em relação grupo C (3,80) e D (EAV=0); Fp<0,000 em
Hemorroida 3 (2,8) relação grupo C (=0) e D (1,13).
Edema 18 (16,8)
Varizes e edema 4 (3,7)
Desconfortos urológicos DISCUSSÃO
IUE na gestação 31 (39,2)
IUE no puerpério 3 (3,1) Durante o puerpério imediato, a mulher passa por alterações físi-
Desconfortos musculoesqueléticos cas, psicológicas e sociais. Ainda no ambiente hospitalar, a puérpera
Síndrome do túnel do Carpo 2 (1,8)
apresenta algumas queixas relacionadas ao puerpério, como dores,
Lombalgia 31 (28,9)
Fraqueza de MMSS 7 (6,5) insegurança e medo. As complicações do pós-parto podem afetar a
IUE = incontinência urinária de esforço; MMSS = membros superiores. qualidade de vida e estado de saúde das puérperas e do RN11. Dessa
forma, durante o puerpério, a equipe multidisciplinar deve atentar-
-se a elaboração de um plano de cuidados que vise ofertar o suporte
mas, lombalgia e dor perineal. Não foram encontradas diferenças necessário à mulher no que se refere ao autocuidado, as transforma-
significativas para a intensidade da dor relatada pelas mulheres de ções no período pós-parto e os cuidados com o RN12.
acordo com a paridade entre primíparas e multíparas. Também A dor foi classificada como moderada para todos os desconfortos
não foram encontradas diferenças significativas quando as mu- citados, após aproximadamente 40h pós-parto. Chama-se atenção
lheres foram comparadas de acordo com o tipo de parto para a para este resultado pois as puérperas recebiam fármacos analgésicos
intensidade da dor relatada nas mamas, nas cólicas durante ama- a cada 6 h como rotina hospitalar, e sua utilização parece não ter sido
mentação e lombalgia. Contudo, foram encontradas diferenças resolutiva para os casos de dor.
significativas para intensidade da dor na incisão cesariana e dor A dor pode ser limitante para mulher, visto que pode interferir
perineal em mulheres com parto cesariano e vaginal com inter- na mobilidade e realização de atividades diárias13. Neste estudo,
venção de episiotomia e/ou fórceps, parto vaginal com laceração as puérperas relataram desconfortos relacionados a amamentação
e parto normal. e associados ao sistema intestinal, circulatório, urológico e mus-
Vale destacar que as puérperas receberam como rotina hospitalar fár- culoesquelético. Concomitante a estes dados, estudo14 também
macos analgésicos de 6 em 6 horas durante o período de internação, encontrou alta prevalência de desconfortos de mulheres durante o
como paracetamol e dipirona. puerpério imediato. Aproximadamente 73% das pacientes relatou

Tabela 2. Prevalência de desconfortos no puerpério imediato relatados pelas participantes do estudo


Intensidade da dor EAV Cesariana Perineal Mamas Cólicas durante amamentação Lombalgia
n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
0 88 (82,2) 74 (69,2) 82 (76,6) 48 (44,9) 76 (71)
Dor leve 1 1 (0,9) 3 (2,8) 1 (0,9) 2 (1,9) 1 (0,9)
2 1 (0,9) 4 (3,7) 4 (3,7) 8 (7,5) 5 (4,7)
3 1 (0,9) 8 (7,5) 5 (4,7) 14 (13,1) 6 (5,6)
Dor moderada 4 2 (1,9) 5 (4,7) 2 (1,9) 9 (8,4) 5 (4,7)
5 8 (7,5) 3 (2,8) 6 (5,6) 6 (5,6) 7 (6,5)
6 1 (0,9) 3 (2,8) 3 (2,8) 1 (0,9) 2 (1,9)
Dor intensa 7 2 (1,9) 2 (1,9) 0 4 (3,7) 2 (1,9)
8 2 (1,9) 3 (2,8) 0 9 (8,4) 2 (1,9)
9 1 (0,9) 0 1 (0,9) 3 (2,8) 0
10 0 0 3 (2,8) 2 (1,9) 1 (0,9)
EAV = escala analógica visual.

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algum desconforto, sendo a cesariana a via de parto associada a orientações de profissionais de saúde no período gestacional e/ou
maior presença de desconfortos. Outro estudo brasileiro15 realiza- puerperal. A equipe multiprofissional deve atender as puérperas
do com puérperas considerou a dor como a complicação materna com base no seu contexto social, cultural e ético. As dificuldades
mais frequente encontrada no puerpério, com índices semelhan- relacionadas a amamentação podem levar a várias consequências,
tes, independente da via de parto. Entretanto, a realização da ce- como desmame precoce, o que põe em risco a saúde do bebê23,24.
sariana foi associada a um maior risco de complicações maternas e De acordo com os resultados deste estudo, a lombalgia foi um
disfunção sexual feminina, e apresentou correlação negativa com o dos principais desconfortos relatados pelas puérperas. Resultado
incentivo às práticas de amamentação. semelhante foi encontrado no estudo25, que destacou a lombalgia
Neste estudo, a maior intensidade de dor foi atribuída à dor na in- como principal desconforto das mulheres, sendo classificada com
cisão cesariana, com intervalo de confiança variando de 4,23 a 6,18. intensidade moderada. Este desconforto pode levar a incapacidade
Apesar disso, não foram encontradas diferenças significativas entre motora da mulher e pode ser relatada pelas puérperas independen-
a intensidade da dor das mulheres de acordo com o tipo de parto. temente da via de parto14. Entretanto, os resultados dos estudos2,7
Contudo, notou-se que a intensidade da dor na incisão da cesariana evidenciaram prevalência de desconfortos e limitações funcionais
foi superior à relatada por mulheres em que o parto foi normal ou durante as atividades cotidianas em puérperas submetidas a ce-
com algum tipo de intercorrência e/ou laceração. Sabe-se que as ta- sariana. Contudo, é válido destacar que as alterações da coluna
xas de cesariana têm aumentado em muitos países, inclusive no Bra- vertebral decorrentes das modificações físicas da gestação podem
sil, contrariando as indicações da Organização Mundial da Saúde contribuir para presença de dor acentuada na região lombar13. Por
(OMS), que preconizam o parto vaginal16,17. A dor após a cesariana isso, a avaliação física individual por profissionais de saúde pode
está intimamente ligada à lesão tecidual devido às reações inflama- direcionar a resolução da queixa mais precocemente14.
tórias decorrentes de um processo traumático que podem produzir Embora a paridade seja uma variável influenciadora na recupera-
dor1. Além disso, a cicatriz abdominal resultante da cirurgia pode ção pós-parto e percepção da dor da mulher26, os resultados deste
desfavorecer a ação de drenagem pelo sistema linfático, além de res- estudo não sustentam esta hipótese, frente a ausência de diferen-
tringir o movimento devido à presença de dor e/ou receio, incenti- ças significativas na análise da intensidade da dor relatada pelas
vando maiores períodos de permanência no leito e favorecendo o mulheres primíparas e multíparas. Dessa forma, os resultados da
surgimento de edemas de MMII14. Resultados semelhantes foram presente pesquisa enfatizam a importância da atenção humanizada
encontrados no estudo2, que realizou a mensuração da dor na inci- de mulheres com ou sem experiência prévia ao parto e ao período
são cesariana e encontrou variação de 1 a 9 durante o repouso, com pós-parto. Concomitante a este achado, os resultados do estudo7
média de dor inferior a encontrada neste estudo <5,21. Entretanto, com mulheres durante o puerpério imediato não apontaram asso-
75% das participantes do estudo relataram dor localizada ao redor ciação entre a paridade e limitações funcionais. Todavia, é válido
da incisão cesariana. Semelhante a estes achados, o estudo14 encon- destacar que experiências prévias relacionadas ao parto podem ser
trou maior prevalência de dores abdominais, cervicalgia e edema em consideradas moduladoras do limiar da dor, e deve-se considerar a
mulheres submetidas a cesariana. subjetividade e individualidade da experiência da dor, uma vez que
Dentre os desconfortos pontuados pelas puérperas, a dor perineal ela é baseada em respostas biológicas, psicológicas e ambientais26.
apresentou média inferior, mas assemelhou-se ao resultado de es- A análise dos dados da presente pesquisa chama atenção para a
tudos brasileiros em que a média de dor perineal foi 4,818 e 4,219. realização de atividades de promoção à saúde de puérperas, visto
Destaca-se também que neste estudo menos de 50% da amostra que estas são escassas e, na maioria das vezes, abrangem apenas os
apresentou dor perineal e destas somente 3,6% tiveram episioto- cuidados do RN e não abordam o aconselhamento da mulher so-
mia e 0,9% laceração de 3º grau. bre autocuidado5. A maioria dos desconfortos do pós-parto pode
Na presente pesquisa, a maior frequência de queixas esteve associa- ser evitada ou reduzida por meio de intervenções precoces no
da a dor das cólicas durante a amamentação, sendo o desconforto pós-parto27. Mesmo a queixa de dor pode ser reduzida após inter-
de segunda maior intensidade de dor. Este sintoma é comum du- venção fisioterapêutica não farmacológica, levando a uma adesão
rante o período pós-parto20, independentemente da via de parto21 de 100% ao tratamento13. Dessa forma, destaca-se a importância
e ocorre pois durante a amamentação há liberação de ocitocina, de práticas interdisciplinares em saúde e favorecimento da pro-
hormônio responsável pela ejeção do leite e por promover contra- moção do cuidado materno-infantil14. Atividades informativas e
ções uterinas20. A prevalência da cólica durante a amamentação foi resolutivas durante o puerpério imediato são bem avaliadas por
de 40% nas participantes do estudo12 submetidas a cesariana. No mulheres e poderiam ser implementadas na rotina de serviços de
estudo13, 15% das mulheres no puerpério imediato apresentaram maternidades9.
esse sintoma. O fisioterapeuta é um profissional qualificado que compõe equi-
Considerando as menções à dor na mama, 66% das participantes pes multiprofissionais e pode auxiliar na redução dos desconfortos
deste estudo apresentavam fissuras mamárias e referiram dor de puerperais por meio da aplicação de recursos fisioterapêuticos es-
moderada a intensa na região. A porcentagem de mulheres com tal pecíficos e não farmacológicos13, como a cinesioterapia, criotera-
queixa foi superior aos dados apresentados em estudo com puér- pia28 e eletroterapia29,30, que compõem as práticas fisioterapêuticas
peras após 2 e 4 meses do parto22. Entretanto, semelhantemente com objetivo de redução dos desconfortos. Além disso, a utilização
ao presente estudo, a intensidade da dor relatada pelas puérperas desses recursos pode contribuir para a diminuição do tempo de
variou de moderada a intensa para 66,7% das participantes22. Este internação das mulheres, bem como a redução de métodos farma-
achado pode estar relacionado ao déficit de acompanhamento e cológicos para analgesia3.

220
Intensidade de dor e desconfortos puerperais imediatos BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):217-21

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221
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):222-7 ARTIGO ORIGINAL

Relação entre sintomas e sinais imagenológicos das disfunções degenerativas


da articulação temporomandibular com o Research Diagnostic Criteria for
Temporomandibular Disorders e a tomografia computadorizada de feixe cônico
Relationship between symptoms and imagenological signs of degenerative temporomandibular
joint disorders using the Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders and
cone-beam computed tomography
Bruno Moreira da-Silva1, Rafael de Almeida Spinelli Pinto2, Letícia Ladeira Bonato2, Arnaud Alves Bezerra-Júnior2, Eduardo Grossmann3,
Luciano Ambrósio Ferreira1

DOI 10.5935/2595-0118.20200045

RESUMO co de alterações na articulação temporomandibular, utilizando o


questionário Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Entre os pacientes com os- Disorders. A presença de dor foi considerada durante: palpação
teodegeneração cortical temporomandibular, a artralgia é uma lateral; palpação intra-articular; movimentos excursivos; e aber-
queixa comum, entretanto, para o diagnóstico preciso de osteo- tura ativa da boca.
degeneração sugere-se a adoção de exames de imagem associados RESULTADOS: Entre os diagnósticos puramente clínicos, ape-
a protocolos de diagnóstico clínico padronizados. O objetivo nas 10,5% foram conclusivos, classificando os pacientes como
deste estudo foi avaliar pacientes com alterações degenerativas portadores de osteoartrite/osteoartrose. Sintomas articulares do-
da articulação temporomandibular previamente visualizados por lorosos foram encontrados em todos os grupos, sem diferença
tomografia computadorizada de feixe cônico, relacionando essas estatisticamente significante. Da mesma forma, a presença de
alterações com os diagnósticos e sintomas clínicos da disfunção distúrbios degenerativos, incluindo achatamento, osteófitos, es-
temporomandibular, a fim de concluir quais das alterações dege- clerose e erosão, foi encontrada em proporções semelhantes em
nerativas se associam ao sintoma álgico.  todos os grupos de diagnóstico.
MÉTODOS: Trata-se de um estudo observacional descritivo CONCLUSÃO: 89,5% das alterações degenerativas foram cli-
transversal. Foram avaliados 38 pacientes que já haviam realiza- nicamente subdiagnosticadas. Houve associação positiva entre a
do realizado a tomografia computadorizada de feixe cônico. Os presença de sintomas e o número de diagnósticos clínicos corre-
indivíduos foram agrupados de acordo com o diagnóstico clíni- tos de osteoartrite/osteoartrose obtidos com o Research Diagnos-
tic Criteria for Temporomandibular Disorders.
Descritores: Artralgia, Osteoartrite, Tomografia computadori-
zada de feixe cônico, Transtornos da articulação temporoman-
dibular.

Bruno Moreira da-Silva – http://orcid.org/0000-0003-0278-4833; ABSTRACT


Rafael de Almeida Spinelli Pinto – http://orcid.org/0000-0002-3503-6025;
Leticia Ladeira Bonato – http://orcid.org/0000-0002-2171-1181;
Arnaud Alves Bezerra-Júnior – https://orcid.org/0000-0001-6760-2522; BAKGROUND AND OBJECTIVES: Arthralgia is a common
Eduardo Grossmann – http://orcid.org/0000-0002-1238-1707; complaint among patients with temporomandibular osteodege-
Luciano Ambrósio Ferreira – http://orcid.org/0000-0002-7965-6787.
neration, however, for the accurate diagnosis of osteodegenera-
1. Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Odontologia, Juiz de Fora, MG, Brasil. tion, it is suggested the adoption of imaging tests associated with
2. Centro Universitário Estácio Juiz de Fora, Departamento de Odontologia, Juiz de Fora,
MG, Brasil standardized clinical diagnosis protocols. The objective of this
3. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Departamento de Morfologia, Porto Alegre, study was to evaluate patients with degenerative changes in the
RS, Brasil.
temporomandibular joint previously visualized by cone beam
Apresentado em 20 de dezembro, 2019. computed tomography, relating these changes with the clinical
Aceito para publicação em 17 de março de 2020. diagnoses and symptoms of temporomandibular disorders, in or-
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há.
der to conclude which of the degenerative changes develop more
Endereço para correspondência: painful symptomatology.
Letícia Ladeira Bonato
Rua José Lourenço Kelmer, s/n - São Pedro METHODS: A cross-sectional observational descriptive study.
36036 Juiz de Fora, MG, Brasil. Thirty-eight patients who had previously done the cone beam
E-mail: atm.leticia@gmail.com
computed tomography exam were evaluated. Subjects were
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor grouped according to clinical diagnosis of temporomandibular

222
Relação entre sintomas e sinais imagenológicos das disfunções degenerativas BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):222-7
da articulação temporomandibular com o Research Diagnostic Criteria for
Temporomandibular Disorders e a tomografia computadorizada de feixe cônico

joint changes using the Research Diagnostic Criteria for Tempo- diagnóstico desses distúrbios, possibilitando a visualização das alte-
romandibular Disorders questionnaire. The presence of pain was rações mesmo nos estágios iniciais da doença2. Enquanto a primei-
considered during lateral palpation; intra-articular palpation; ex- ra é capaz de mostrar atividade inflamatória por ponderação T2, a
cursive movements; and active mouth opening. segunda é considerada o padrão-ouro e, representada pela tomo-
RESULTS: Among the purely clinical diagnoses, only 10.5% grafia computadorizada de feixe cônico (TCFC), é uma modali-
were conclusive, classifying patients as suffering from osteoar- dade de imagiologia útil para a odontologia, com alta precisão di-
thritis/osteoarthrosis. Painful joint symptoms were found in all mensional para avaliação das estruturas faciais, incluindo a ATM12.
groups, with no statistically significant difference. Similarly, the Com esse exame é possível observar a presença de achatamento,
presence of degenerative disorders, including flattening, osteo- esclerose, osteófitos, erosão, reabsorção da cabeça mandibular e/
phytes, sclerosis, and erosion were found in similar proportions ou fossa mandibular, bem como diminuição do espaço articular13.
in all diagnosis groups. Observa-se que, embora para condições intra-articulares haja ne-
CONCLUSION: 89.5% of the degenerative changes were clini- cessidade de utilização de imagens para a determinação de altera-
cally underdiagnosed. There was a positive association between ções patológicas, os próprios autores do CD/TMD enfatizam que
the presence of symptoms and the number of correct clinical os exames de imagem não devem ser utilizados rotineiramente11,
diagnoses of osteoarthritis/osteoarthrosis obtained with the Re- enfatizando a importância do exame clínico. Os profissionais de-
search Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders. vem estar alerta para a existência de sinais e sintomas relacionados
Keywords: Arthralgia, Cone-beam computed tomography, Os- a processos inflamatórios mesmo subclínicos, incluindo a presença
teoarthritis, Temporomandibular joint disorders. de otalgia e artralgia temporomandibular, rigidez articular, estali-
do, crepitação e limitação do movimento mandibular14, na tenta-
INTRODUÇÃO tiva de tornar o diagnóstico cada vez mais preciso, mesmo sem o
uso de exames adicionais.
A articulação temporomandibular (ATM) é uma estrutura comple- Este estudo teve como objetivo avaliar pacientes com alterações
xa que pode ser afetada por processos degenerativos1, sendo a os- degenerativas na ATM previamente visualizadas pela TCFC, rela-
teoartrite uma das manifestações artrogênicas mais prevalentes nesta
cionando tais alterações à qualidade e quantidade de diagnósticos
articulação2. O processo degenerativo geralmente se manifesta de
clínicos e sintomas artrogênicos das disfunções temporomandibu-
forma crônica debilitante, com degradação da cartilagem articular e
lares (DTM).
alterações ósseas subcondrais evoluindo para fibrose sinovial3,4. Acre-
dita-se que, apesar da etiologia multifatorial, tais alterações estejam
MÉTODOS
associadas a uma remodelação disfuncional5 devido à diminuição da
capacidade adaptativa e/ou sobrecarga funcional desta articulação6,7.
Este é um estudo descritivo observacional transversal. A amostra foi
Alterações na proteína de fator de crescimento transformador do
selecionada por meio da análise de TCFC previamente obtida no
tipo beta (TGF-β) têm importância fundamental no desenvolvi-
departamento de radiologia da Faculdade de Odontologia. Foram
mento dessa doença, pois é responsável por estimular a produção de
proteoglicanos e colágeno tipo II na ATM3,5,8. selecionados indivíduos de ambos os sexos com idades entre 18 e 75
Até o momento, existem poucos instrumentos que possam deter- anos que apresentavam sinais de degeneração em pelo menos uma
minar a presença, gravidade e progressão desses processos degene- ATM. Foram excluídos pacientes que já haviam sido submetidos a
rativos na ATM, sendo o tratamento e o diagnóstico baseados em tratamento para DTM, assim como aqueles com histórico de trau-
exames clínicos e de imagem9. Dependendo do método diagnóstico ma craniofacial que já haviam feito alguma cirurgia, além de pacien-
utilizado, de sua especificidade e sensibilidade, a prevalência desses tes com outras doenças envolvendo essa região articular.
distúrbios pode afetar de 1 a 84% da população em geral2. A metodologia do estudo foi dividida em três níveis:
O Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders 1. Avaliar a presença de distúrbios degenerativos da ATM através da
(RDC/TMD) é um instrumento amplamente utilizado para pes- análise da TCFC:
quisas envolvendo disfunções da ATM. Embora seja possível realizar Para o exame de cada ATM, foi selecionada a seção coronal represen-
o diagnóstico de osteoartrite/osteoartrose com este instrumento, o tativa (região mais central) da cabeça mandibular, obtida através da
uso de tomografias é recomendado como padrão-ouro para o diag- janela da ATM do software de manipulação de imagens tomográficas
nóstico de tais processos degenerativos10. Os exames de imagem são iCat Vision (Imaging Sciences International, Hatfield, Pennsylvania,
necessários para o diagnóstico de processos degenerativos da ATM, EUA). A partir desse corte coronal foram gerados cortes parassagitais
mas isso não significa que a doença esteja ativa ou precise de tra- sequenciais, onde as alterações ósseas articulares foram avaliadas.
tamento10,11. Em 2014, uma evolução do antigo RDC/TMD – o As superfícies ósseas da cabeça mandibular e do tubérculo articu-
Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (DC/TMD) – lar de cada ATM foram classificadas de acordo com a metodologia
foi publicado em inglês, criado com objetivos clínicos e de pesquisa. descrita pelo estudo15, de acordo com a presença de: saúde; achata-
Esta nova ferramenta tem sensibilidade de 0,55 e especificidade de mento; erosão; osteófitos; e esclerose. Cada possível alteração pode
0,61 relacionada ao diagnóstico de alterações degenerativas, o que aparecer sozinha ou em combinação em pelo menos dois cortes
sustenta a necessidade do uso de imagens11. parassagitais sequenciais. Essa avaliação foi realizada por um radio-
Assim, a ressonância nuclear magnética (RNM) e a tomografia logista com experiência em imagens de TCFC na ATM, sem o co-
computadorizada (TC) ainda são recomendadas para auxiliar no nhecimento dos dados clínicos do paciente.

223
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):222-7 Silva BM, Pinto RA, Bonato LL,
Bezerra-Júnior AA, Grossmann E e Ferreira LA

Para a realização da TCFC, foi utilizado o sistema i-Cat Next Ge- correlação Spearman. Foi adotado um nível de significância de 5%
neration, operando a 120kV e 3-8mA, com o seguinte protocolo (p≤0.05) e um intervalo de confiança de 95%. Os cálculos foram
de aquisição de imagem específico para a região da ATM: tempo realizados utilizando o SPSS 16.0 para Windows (IBM, Chicago,
de exposição 26,9 s, FOV de 8cm e voxel (espessura da fatia) de Illinois, EUA).
0,25mm. Todas as imagens foram obtidas nas posições de boca aber-
ta e fechada. RESULTADOS
2. Diagnóstico clínico da DTM:
Uma vez selecionados, os indivíduos que tiveram alterações degene- A partir da análise da TCFC foi possível selecionar 38 indivíduos
rativas observadas no exame de TCFC foram solicitados a retornar à com alterações degenerativas em pelo menos uma das ATM, sendo
Faculdade de Odontologia para participar do estudo e de um exame 34 mulheres e quatro homens. A média de idade da amostra foi de
clínico subsequente da ATM. 48,8±9,2 anos.
O RDC/TMD - Eixo I10,16 permitiu verificar se os pacientes tinham Clinicamente, de acordo com a classificação proposta pelo RDC/
algum tipo de DTM, assim como a classificação de acordo com o TMD, foi possível dividir a amostra em três grupos de acordo com o
seu tipo: 1) distúrbios musculares (Grupo I); 2) alterações da posição diagnóstico obtido, para fins de comparação: pacientes sem DTM;
do disco articular (Grupo II); e 3) condições dolorosas e degenera- pacientes sem diagnóstico clínico do grupo III; e pacientes com
tivas da ATM (Grupo III). O método de diagnóstico foi adminis- diagnóstico clínico do grupo III (Tabela 1).
trado a todos os pacientes por um mesmo examinador treinado e De acordo com os sintomas apresentados, no grupo de indiví-
calibrado. Esse instrumento é considerado o padrão-ouro para diag- duos clinicamente diagnosticados sem DTM, 28,5% apresen-
nóstico na pesquisa de DTM10,16. O RDC/TMD não inclui exames taram dor durante a abertura bucal, assim como dor à palpa-
de imagem, mas sugere a realização de TC ou RNM com base nas ção intra-auricular. Nos participantes sem diagnóstico clínico
informações obtidas10,11,15. do grupo III, o principal sintoma encontrado foi dor articular
3. A avaliação do número de sintomas dolorosos presentes em cada durante os movimentos de excursão, 46,6% eram sintomáticos
articulação: à palpação lateral e à palpação intra-auricular. Naqueles com al-
Por meio do exame clínico do RDC/TMD, os sintomas articulares terações degenerativas observadas tanto por imagem quanto por
presentes foram avaliados, considerando a) dor na palpação lateral; RDC/TMD, 100% apresentavam dor à palpação lateral (Tabela
b) dor na palpação intra-auricular; c) dor durante os movimentos de 2). Utilizando o teste de correlação Spearman, observou-se cor-
excursão; e d) dor durante a abertura ativa da boca. relação positiva entre a presença de sintomas e o número de diag-
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da insti- nóstico clínico (r=0,5585) com um valor de p estatisticamente
tuição, CAAE: 308.39714.4.0000.5147, registro número 708.678. significativo (p=0,0003), sugerindo que à medida que mais sin-
Os pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclare- tomas foram apresentados pelos pacientes, mais diagnósticos de
cido (TCLE) antes da realização da pesquisa. alterações degenerativas foram obtidos.
Avaliando a prevalência de alterações degenerativas na região do
Análise estatística tubérculo articular observadas no exame tomográfico no grupo
As frequências absolutas e relativas de alterações encontradas foram que não recebeu o diagnóstico clínico de DTM, cinco indivíduos
apresentadas e a relação entre a presença de alterações de imagem, tinham aplainamento em pelo menos uma ATM e quatro tinham
diagnóstico clínico e sintomas de dor foi mostrada usando o teste de esclerose, entretanto, em nenhum dos participantes do estudo foi
observada a presença de osteófitos e/ou erosão nessa estrutura.
Tabela 1. Diagnóstico clínico de indivíduos, realizado pela aplicação No grupo com DTM, mas ssem diagnóstico clínico do grupo III
do RDC/TMD (n=15), foi observado que 100% dos avaliados tinham achatamento
Sem DTM Sem diagnóstico Com diagnóstico em pelo menos uma ATM, 93,3% tinham esclerose, 73,3% osteófi-
clínico de grupo III clínico de grupo III tos, e 40% tinham erosões.
Grupo I Grupo II Artralgia Alterações Dos participantes com diagnóstico clínico do grupo III, com ar-
degenerativas tralgia (n=12), 83,3% apresentavam achatamento, 66,6% esclerose,
7 (18,5%) 12 (31,5%) 3 (8%) 12 (31,5%) 4 (10,5%) 58,3% osteófitos e 41,6% erosões. No grupo com diagnóstico clí-
Total 15 (39,5%) 16 (42%) nico de osteoartrite ou osteoartrose (n=4), os valores encontrados
DTM = disfunção da articulação temporomandibular. foram respectivamente 50, 50, 25 e 25% (Tabela 3).

Tabela 2. Avaliação da presença de dor pelos grupos de diagnóstico do RDC/TMD


Presença de dor Sem DTM Sem diagnóstico clínico do Com diagnóstico clínico do grupo III (n=16)
(n=7) grupo III (n=15)
Artralgia (n=12) Alterações degenerativas (n=4)
Durante abertura ativa da boca 2 (28,5%) 7 (46,6%) 9 (75%) 1 (25%)
Durante movimentos de excursão 0 (0%) 8 (53,3%) 9 (75%) 2 (50%)
Na palpação lateral 0 (0%) 7 (46,6%) 10 (83,3%) 4 (100%)
Na palpação intra-auricular 2 (28,5%) 7 (46,6%) 10 (83,3%) 2 (50%)
DTM = disfunção da articulação temporomandibular.

224
Relação entre sintomas e sinais imagenológicos das disfunções degenerativas BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):222-7
da articulação temporomandibular com o Research Diagnostic Criteria for
Temporomandibular Disorders e a tomografia computadorizada de feixe cônico

Tabela 3. Prevalência de alterações degenerativas na região do tubérculo articular pelos grupos de diagnóstico RDC/TMD
Sem DTM (n=7) Sem diagnóstico clínico do grupo III Com diagnóstico clínico do grupo III (n=16)
(n=15) Artralgia (n=12) Alterações degenerativas (n=4)
Aplainamento 5 (71,4%) 15 (100%) 10 (83,3%) 2 (50%)
Esclerose 4 (57,1%) 14 (93,3%) 8 (66,6%) 2 (50%)
Osteófitos 0 (0%) 11 (73,3%) 7 (58,3%) 1 (25%)
Erosão 0 (0%) 6 (40%) 5 (41,6%) 1 (25%)
DTM = disfunção da articulação temporomandibular.

Tabela 4. Prevalência de alterações degenerativas na região da cabeça mandibular pelos grupos de diagnóstico RDC/TMD
Sem DTM Sem diagnóstico clínico do grupo III Com diagnóstico clínico do grupo III (16)
(n=7) (n=15) Artralgia (n=12) Alterações degenerativas (n=4)
Aplainamento 7 (100%) 12 (80%) 7 (58,3%) 3 (75%)
Esclerose 6 (85,7%) 12 (80%) 8 (66,6%) 2 (50%)
Osteófitos 3 (42,8%) 7 (46,6%) 4 (33,3%) 1 (25%)
Erosão 1 (14.2%) 4 (26.6%) 3 (25%) 0 (0%)
DTM = Disfunção da articulação temporomandibular.

Figura 1. Tomografia computadorizada de feixe cônico de diferentes articulações temporomandibulares com comprometimento anatômico
analisadas em cortes parassagitais
(a) presença de osteófito na região da cabeça mandíbular; (b) esclerose; (c) aplainamento; (d) erosão; (e) esclerose generalizada na região do tubérculo articular e
pseudocisto subcondral na cabeça da mandíbula.

Em relação à presença de sinais imagenológicos de osteodegene- DISCUSSÃO


ração na região da cabeça mandibular (Figura 1), 100% daqueles
avaliados como sem DTM tinham achatamento, 85,7% escle- As alterações degenerativas da ATM são um grupo de disfunções
rose, 42,8% osteófitos e 14,2% erosão. Dos 15 indivíduos sem relacionadas ao avanço da idade e são caracterizadas como a condi-
um diagnóstico clínico de condições dolorosas ou degenerativas, ção patológica mais prevalente que afeta essa articulação17. O RDC/
80% apresentaram achatamento, 80% esclerose, 46,6% osteófi- TMD é a ferramenta de pesquisa mais amplamente utilizada para
tos, e 25% apresentaram erosão, observados em imagens. Naque- o diagnóstico da DTM. Mesmo assim, embora vise as diferenças
les diagnosticados exclusivamente com artralgia, observou-se que mínimas entre os observadores em seus diagnósticos, sua precisão no
58,3% tinham achatamento em pelo menos uma ATM, 66,6% es- diagnóstico de processos degenerativos é desconhecida, já que não
clerose, 33,3% osteófitos, e 25% erosão. Enquanto naqueles com há critérios clínicos considerados como padrão-ouro para o diag-
diagnóstico clínico de osteoartrite ou osteoartrose (RDC/TMD), nóstico de deterioração da ATM9, o que destaca a necessidade de
75% tinham achatamento, 50% esclerose, 25% osteófitos e ne- imagens para o diagnóstico preciso de tais alterações9,17.
nhum participante tinha erosão na região da cabeça mandibular Em estudo anterior18, seis especialistas em DTM e Dor Orofa-
(Tabela 4). De acordo com o teste de Spearman, não houve relação cial avaliaram 204 pacientes clinicamente usando o RDC/TMD,
estatística significativa entre a quantidade de alterações baseadas e compararam o diagnóstico clínico com a presença de alterações
em imagens e o número de diagnósticos clínicos do grupo III (r=- de imagem encontradas no exame de tomografia convencional. De
0,0896, p=0,59). Entretanto, o resultado sugere que quanto maior acordo com os resultados, foi observado que os especialistas subes-
o número de alterações baseadas em imagens presentes, menor o timaram a presença de alterações de imagem (incluindo a presença
número de diagnósticos corretos obtidos pelo RDC/TMD (corre- de osteófitos, achatamento, esclerose e erosão). Isso mostra que o
lação negativa). diagnóstico clínico das doenças degenerativas tem alta especificida-
Também não houve correlação significativa entre a presença de sin- de (capacidade de identificar corretamente as ATMs sem alterações)
tomas e alterações baseadas em imagem (r=0,1032, p=0,5374). (0,86 a 0,94), e baixa sensibilidade (capacidade de identificar cor-

225
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):222-7 Silva BM, Pinto RA, Bonato LL,
Bezerra-Júnior AA, Grossmann E e Ferreira LA

retamente as ATMs com alterações) (0,14 a 0,40), e baixa sensibi- Outra explicação para a falta de associação entre a presen-
lidade (capacidade de identificar corretamente as ATMs com alte- ça de sintomas clínicos e os achados de imagem (r=0,1032,
rações) (0,14 a 0,40) com relação às alterações osteodegenerativas. p=0,5374) é que muitas vezes as alterações da cartilagem ar-
O presente estudo avaliou apenas pacientes que tiveram alterações ticular nos estágios iniciais não são vistas nas imagens e as al-
degenerativas observadas através do exame de TCFC e não incluiu terações ósseas que se manifestam suficientemente para serem
um grupo de indivíduos saudáveis, considerados o “controle”. En- detectadas nesses exames levam tempo para se desenvolver18.
tretanto, o diagnóstico clínico de osteoartrite/osteoartrose feito ex- Além disso, as diferentes formas de imagens utilizadas também
clusivamente com o RDC/TMD compreendeu apenas 10,5% dos tornam seus resultados distintos e difíceis de serem combina-
casos avaliados, revelando o quanto os processos degenerativos estão dos23. No estudo20, considerando a presença de alterações na ca-
clinicamente subdiagnosticados, já que toda a amostra apresentava beça mandibular, na fossa mandibular e no tubérculo articular,
algum sinal de osteodegeneração baseado em imagem. foi encontrada prevalência de 78,5% de achatamento, 34,8%
Os sinais e sintomas mais comuns que acompanham esse processo de osteófitos, 35,2% de erosão e 17,6% de esclerose. O autor
incluem dor local nas articulações ou orelhas, rigidez na face e man- utilizou o exame tomográfico convencional, enquanto o pre-
díbula, dor e limitação durante a abertura da boca, dor ao mastigar, sente estudo utilizou a TCFC, específica para a região crânio-
estalido e ruídos articulares19. Entretanto, até o momento, consi- -maxilo-facial, o que explica a maior prevalência de alterações
derando estudos anteriores que utilizaram diferentes protocolos de osteodegenerativas avaliadas pela TCFC. Conforme afirmam
exames clínicos, assim como diferentes técnicas radiográficas, não foi outras pesquisas12,24, a TCFC apresenta minimização de artefa-
possível descrever quais achados de imagem poderiam ser previstos a tos de imagem e resolução específica para avaliação cortical da
partir de um exame clínico da ATM e estruturas adjacentes18. O que região crânio-maxilo-facial, incluindo os componentes ósseos
se sabe é que a presença de crepitação grosseira da ATM, assim como da ATM. Tal fato foi considerado para escolha do método de
o aumento da idade e a influência do sexo as mulheres, apresentam obtenção de imagem adotado pelo presente estudo. Durante
maior risco de ter alterações degenerativas da ATM, enquanto não muitos anos, a pesquisa científica sobre DTM lidou com a difi-
há variáveis relacionadas à dor que estejam associadas aos achados culdade de comparar resultados de estudos com pacientes com
de imagem18,20. No presente estudo, considerando as características DTM devido à falta de um protocolo de diagnóstico clínico. O
clínicas de sexo e idade, encontrou-se 89,5% da amostra do sexo RDC/TMD e, mais recentemente, o DC/TMD contribuíram
feminino e média de idade de 48,8±9,2 anos, ligeiramente maior do muito para a resolução deste problema, entretanto, há muitos
que é descrito pela literatura. A média de idade entre pacientes com estudos que não utilizam esses instrumentos25.
osteoartrite da ATM foi de 36±15,6 anos, enquanto a prevalência A TCFC, além de eficaz para diagnóstico dos distúrbios artro-
de mulheres foi de 81,5% em outro estudo21. Uma pesquisa entre gênicos temporomandibulares, tem como vantagem sua baixa
mulheres chinesas com osteoartrite/ose8, revelou a média de idade dose de radiação e menor custo em relação à tomografia conven-
de 33,5±14,3 anos. cional23. Entretanto, também difere dos métodos radiográficos
Em uma pesquisa20 que avaliou clinicamente a presença de dor mus- convencionais por reproduzir uma seção do corpo humano em
cular ou articular, sua intensidade e duração, juntamente com nível qualquer um dos três planos espaciais, permitindo a visualiza-
de depressão, não foi encontrada associação significativa da dor com ção de todas as estruturas estratificadas, especialmente os tecidos
a presença de alterações degenerativas na ATM. Da mesma forma, mineralizados, além de delimitar as irregularidades tridimen-
em nossa avaliação, a presença de dor durante a abertura ativa da sionalmente24,26. Sendo assim, acredita-se que as alterações de-
boca, durante os movimentos de excursão, dor à palpação lateral e generativas da ATM possuem uma prevalência considerável na
intra-auricular, não mostrou diferença estatística significativa entre população com DTM e que o número de casos de osteoartrite/
os grupos. Entretanto, de acordo com o teste de correlação de Spear- ose pode estar subdiagnosticado. Considera-se ainda que são ne-
man, observou-se que à medida que mais sintomas eram apresenta- cessários mais estudos prospectivos bem estruturados, que verifi-
dos pelos pacientes, mais diagnósticos imagenologicos eram obser- quem a prevalência na população geral27.
vados. Analisando os resultados, foi possível constatar que 31,5% Pode-se também apreender que outras alterações, como o desloca-
dos indivíduos apresentavam artralgia, cujo diagnóstico era claro e mento do disco, estão envolvidas na manifestação da artralgia15,26 e
evidenciado pelo RDC/TMD. que outras ferramentas diagnósticas, como a RNM para avaliação
Segundo o RDC/TMD, a presença de crepitação grosseira é de tecidos moles, podem esclarecer essa possível associação24.
considerada um sinal clínico do distúrbio degenerativo, ou seja,
relacionado à osteoartrite/ose (grupo III), devido à alteração da CONCLUSÃO
lubrificação intra-articular e possível atrito entre seus componen-
tes. Entretanto, os resultados do presente estudo revelaram baixa Artralgia foi a condição mais observada entre os indivíduos ava-
frequência desse sinal, mesmo nos pacientes do grupo III. Esses liados após a utilização do RDC/TMD. Houve uma associação
achados, assim como apontados pelos autores da DC/TMD11, en- positiva entre a quantidade de sintomas articulares e o número
fatizam a importância do exame clínico do paciente, considerando de diagnósticos clínicos conclusivos obtidos pelo RDC/TMD.
a presença de cada sinal e sintoma, mesmo que subclínico ou per- Sugere-se que mais estudos sejam realizados com TCFC, com-
cebido apenas durante o exame realizado pelo profissional. Alguns parando as descobertas com informações clínicas, para que seja
autores propõem uma otimização do método de percepção de sons possível avaliar outras associações entre sinais, sintomas e altera-
articulares utilizando um estetoscópio, conforme recomendado22. ções osteodegenerativas da ATM.

226
Relação entre sintomas e sinais imagenológicos das disfunções degenerativas BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):222-7
da articulação temporomandibular com o Research Diagnostic Criteria for
Temporomandibular Disorders e a tomografia computadorizada de feixe cônico

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227
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):228-33 ARTIGO ORIGINAL

Fatores preditivos de risco de lombalgia crônica em mulheres: estudo


de base populacional
Predictive factors of chronic lower back pain risk in women: population-based study
Patrícia Cilene Freitas Sant´Anna1, Guilherme Watte2, Anderson Garcez1,3, Stephan Altmayer2, Maria Teresa Anselmo Olinto1,4,
Juvenal Soares Dias da Costa1,5

DOI 10.5935/2595-0118.20200050

RESUMO sedentário (RC=2,97; IC95%: 1,59-5,55), tabagismo (RC=1,61;


IC95%: 1,07-2,44) e multiparidade (RC=2,84; IC95%: 1,45-
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A dor lombar é uma condi- 5,57). A cor da pele, o estado civil e a obesidade não foram asso-
ção comum em mulheres. Além disso, essa população apresenta ciados a um maior risco de dor lombar crônica.
maior risco de dor crônica. No entanto, os fatores associados à CONCLUSÃO: Este estudo indicou que os fatores de predispo-
dor lombar crônica ainda são controversos. Assim, este estudo sição associados a um maior risco de lombalgia crônica em mu-
teve como objetivo avaliar os fatores de predisposição associados lheres incluíram idade avançada, desvantagem socioeconômica,
ao maior risco de dor lombar crônica. comportamentos de saúde inadequados e multiparidade.
MÉTODOS: Foi realizado um estudo transversal de base po- Descritores: Causalidade, Dor crônica, Dor lombar, Mulheres.
pulacional em uma amostra de 636 mulheres adultas brasileiras
com idades entre 20 e 69 anos que relataram sintomas de dor ABSTRACT
lombar nas últimas duas semanas. O nível de risco de dor lom-
bar crônica foi medido pela versão brasileira validada do escore BACKGROUND AND OBJECTIVES: Low back pain is a
Subgroups for Targeted Treatment (STarT). common condition in women. In addition to that, women have
RESULTADOS: O risco de dor lombar crônica foi classificado a higher risk of chronic pain. However, the factors associated
como baixo, médio e alto em 330 (51,9%), 202 (31,8%) e 104 with chronic low back pain are still controversial. Thus, this stu-
(16,4%) mulheres, respectivamente. Após os ajustes, os princi- dy’s objective was to evaluate the predictive factors associated
pais fatores associados ao maior risco de dor lombar crônica fo- with a higher risk of chronic low back pain.
ram: idade de 50 anos ou mais (RC=2,67; IC95%: 1,43-4,96), METHODS: A cross-sectional population-based study was con-
baixa renda familiar (RC=2,23; IC95%: 1,34-3,72), 4 anos de ducted on a sample of 636 Brazilian adult women aged 20-69
estudo ou menos (RC=2,17; IC95%: 1,35-3,48), estilo de vida years who reported symptoms of low back pain in the last two
weeks. The level of risk of chronic low back pain was measu-
red by the validated Brazilian version of Subgroups for Targeted
Patrícia Cilene Freitas Sant’Anna – https://orcid.org/0000-0002-8278-8692; Treatment (STarT) score.
Guilherme Watte – https://orcid.org/0000-0002-6948-3982; RESULTS: The risk of chronic low back pain was classified as
Anderson Garcez – https://orcid.org/0000-0003-1111-4890;
Stephan Altmayer – https://orcid.org/0000-0001-9214-1916; low, medium, and high in 330 (51.9%), 202 (31.8%), and 104
Maria Teresa Anselmo Olinto – https://orcid.org/0000-0002-3950-4594; (16.4%) women, respectively. After adjustments, the main fac-
Juvenal Soares Dias da Costa – https://orcid.org/0000-0003-3160-6075.
tors associated with a higher risk of chronic low back pain were:
1. Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, aged 50 years or older (OR=2.67; 95%CI: 1.43-4.96), low hou-
São Leopoldo, RS, Brasil.
2. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em
sehold income (OR=2.23; 95%CI: 1.34-3.72), 4 years of edu-
Medicina e Ciências da Saúde, Porto Alegre, RS, Brasil. cation or less (OR=2.17; 95%CI: 1.35-3.48), sedentary lifestyle
3. Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação (OR=2.97; 95%CI: 1.59-5.55), smoking (OR=1.61; 95%CI:
em Ciências da Nutrição, Porto Alegre, RS, Brasil.
4. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Alimenta- 1.07-2.44), and multiparity (OR=2.84; 95%CI: 1.45-5.57).
ção, Nutrição e Saúde, Porto Alegre, RS, Brasil. Skin color, marital status, and obesity were not associated with a
5. Universidade Federal de Pelotas, Departamento de Medicina, Pelotas, RS, Brasil.
higher risk of chronic low back pain.
Apresentado em 11 de fevereiro de 2020. CONCLUSION: This study indicates that the predictive factors
Aceito para publicação em 12 de julho de 2020.
Conflito de interesses: nenhum - Fontes de fomento: Este trabalho foi apoiado pelo Con-
associated with a higher risk of chronic low back pain in wo-
selho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, número do subsídio men included advanced aged, socioeconomic disadvantage, poor
457235/2014-4). Os financiadores não tiveram nenhum papel no desenho, coleta e análise health behaviors and multiparity.
de dados, decisão de publicação e preparação ou aprovação do manuscrito.
Keywords: Causality, Chronic pain, Low back pain, Women.
Endereço para correspondência:
Juvenal Soares Dias da Costa
Av. Unisinos 950, Caixa Postal 275 INTRODUÇÃO
93022-000 São Leopoldo, RS, Brasil.
E-mail: episoares@terra.com.br
Dor lombar (DL) é uma doença altamente prevalente com conse-
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor quências sociais e implicações econômicas para o sistema de saúde1,2.

228
Fatores preditivos de risco de lombalgia crônica em BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):228-33
mulheres: estudo de base populacional

A prevalência da DL em mulheres é maior, e esse grupo tem um O nível de risco de DL crônica foi avaliado usando a versão Bra-
risco maior de sofrer dor crônica3-6. O processo da DL começa com sileira previamente validada da STarT Back Screening Tool16. A
uma fase aguda que pode progredir para a resolução ou tornar-se DL foi identificada pela presença de dor ou desconforto entre a
crônica. Essa condição depende da resposta da dor e seu impacto última costela e o nível mais baixo da região glútea. Além disso,
psicossocial3,7. Estudos demonstraram que importantes fatores so- uma figura ilustrativa da região do corpo foi usada de acordo como
ciodemográficos, de estilo de vida e reprodutivos estão associados indicado previamente17. A STarT Back Screening Tool é composta
com a ocorrência de DL persistente. Indivíduos com idade avançada de quatro questões primárias relacionadas a dor, incapacidade ou
e com desvantagem socioeconômica são mais vulneráveis à ocorrên- comorbidade e cinco questões relacionadas ao impacto psicosso-
cia de DL5,8-10. Além disso, o baixo nível de atividade física11, o ta- cial da dor.
bagismo8,12 e a multiparidade também estão relacionados com uma Quanto a resultados, uma pontuação é gerada e posteriormente es-
maior probabilidade de DL9,13. tratificada em ‘baixo’ risco para 3 pontos ou menos e ‘médio’ ou
Existem vários instrumentos para a avaliação da DL14. No entanto, a ‘alto’ risco para mais de três pontos. Quando a pontuação resulta
ferramenta primária de análise de dor lombar foi desenvolvida e va- em 3 pontos ou mais, a escala psicossocial é usada para classificar o
lidade para identificar e avaliar os subgrupos mais propensos a sofrer risco ‘médio’ (zero-3 pontos nas questões psicossociais) e risco ‘alto’
de DL: STarT (Subgroups for Targeted Treatment) Back Screening (4 pontos nas questões psicossociais)16. O questionário de triagem
Tool14,15. Além disso, esta ferramenta mede o estado e o impacto da STarT foi aplicado em todos os participantes que relataram a pre-
DL aguda nas atividades diárias e nos aspectos psicossociais16. sença de sintomas de DL nas duas semanas anteriores.
Considerando as observações descritas e o contexto social de um país As seguintes características sociodemográficas, de estilo de vida e re-
em desenvolvimento, o objetivo do presente estudo foi avaliar, uti- produtivas em potencial foram investigadas: idade categorizada de
lizando a ferramenta StarT, os fatores preditivos associados à maior 10 em 10 anos; cor de pele; estado civil; renda familiar; nível de
risco de DL crônica em uma amostra de população de mulheres educação em anos de estudo; nível de atividade física, considerando
adultas no Sul do Brasil. A determinação desses fatores pode ajudar como “ativas” aquelas que reportaram uma prática mínima semanal
a identificar os indivíduos com o maior risco de desenvolver dor de 75 minutos de atividade vigorosa ou 150 minutos de atividade
crônica e planejar intervenções preventivas. moderada avaliada pela versão curta do International Physical Acti-
vity Questionnaire (IPAQ)18; tabagismo; paridade e estado nutricio-
MÉTODOS nal obtido pelo índice de massa corporal (IMC).

Um estudo transversal de base populacional foi realizado na área Análise estatística


urbana de uma cidade do sul do Brasil. Uma amostra representativa Os dados foram apresentados para frequência absoluta e relativa
de mulheres de 20 a 69 anos de idade e que relataram dores lomba- (porcentagem) e a análise bivariada foi realizada usando o teste Qui-
res nas duas semanas anteriores foi selecionada, usando amostragem -quadrado da Pearson para mensurar a associação entre as variáveis
sistemática em várias etapas. Em primeiro lugar, foram selecionados independentes e os resultados. A razão de chances (RC) não ajustada
45 setores censitários dos 371 existentes na área urbana do municí- e ajustada com seu correspondente intervalo de confiança de 95%
pio, com base na renda mensal per capita em cada setor. Para cada (IC95%) foi calculada por regressão logística ordinal, usando o mo-
setor censitário selecionado, um bloco censitário e a esquina corres- delo de chances proporcionais. A técnica estima as chances da variá-
pondente foram selecionados aleatoriamente para identificar o do- vel dependente mudar para uma categoria mais alta em função de
micílio a partir do qual se iniciaria a coleta de dados. As casas foram aumentos nas variáveis independentes. A suposição de proporciona-
selecionadas alternadamente (de três em três casas) até que o número lidade no modelo foi avaliada usando o teste de Brant. O comando
total de domicílios necessários para cada setor fosse alcançado. gologit2 (STATA) foi usado com autoajuste para se ajustar os coefi-
O tamanho da amostra para a avaliação do nível de risco para DL cientes das categorias de variáveis nas quais a suposição de chances
crônica foi calculado usando o Epi Info 6.0 (CDC, Atlanta, USA). proporcionais foi violada19. Somente variáveis que apresentaram um
Um total de 460 participantes foi estimado, considerando um nível valor p inferior a 5% (p<0,05) foram mantidas no modelo ajustado
de confiança de 95%, com poder de 80% e aumento de 25% para (variáveis ajustadas umas às outras). Foi definida uma diferença es-
compensar as respostas nulas (recusas/perdas). A amostra final de- tatisticamente significativa de 5% (p<0,05). Todas as análises foram
pois do recrutamento foi composta de 636 mulheres, na proporção realizadas utilizando o programa Stata, versão 12.0 (StataCorp LP,
de 3:1 (controles vs. expostos), o que resultou em nível de confiança College Station, Texas, EUA).
de 99% e poder de 80% para uma razão de chances de 2.
As entrevistas foram administradas na casa dos participantes por RESULTADOS
entrevistadores previamente treinados. As mulheres que estavam
grávidas durante a época do estudo, as mentalmente deficientes ou Um total de 1128 mulheres foi inicialmente entrevistado neste estu-
que tinham história de fratura ou cirurgia lombar nos últimos seis do baseado em população e, destas, 636 (56,4%) relataram DL nas
meses foram excluídas. Entrevistas por telefone foram conduzidas duas últimas semanas antes da data da entrevista, sendo incluídas
com uma porção (10%) aleatoriamente selecionada da amostra para na análise final. A tabela 1 mostra as características gerais da amos-
verificar a consistências dos dados. Indivíduos que se recusaram a tra investigada. A maioria das mulheres tinha 40-49 anos de idade
participar inicialmente, foram depois contatados pelo menos duas (64,5%), cor da pele branca (74,1%), casadas (65,6%), renda fami-
vezes em dias e horários diferentes. liar inferior a um salário mínimo brasileiro (64,2%), oito ou mais

229
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):228-33 Sant´Anna PC, Watte G, Garcez A,
Altmayer S, Olinto MT e Costa JS

anos de estudo (55,6%), eram insuficientemente ativas (88,4%), nível de atividade física, tabagismo, paridade e estado nutricional
não fumantes (55,9%), com 1-2 partos (51,7%) e obesas (38,3%) (Tabela 2).
(Tabela 1). O modelo de regressão múltipla ajustado final é apresentado na ta-
O risco de DL crônica foi calculado como baixo, médio e alto em bela 2. Após os ajustes, os principais fatores associados à maior risco
330 (51,9%; IC95%: 48,0-55,8), 202 (31,8%; IC95%: 28,1-35,4), de DL crônica foram: idade de 50 anos ou mais (RC=2,67; IC95%:
e 104 (16,4%; IC95%: 13,5-19,2) mulheres, respectivamente. Ten- 1,43-4,96), baixa renda familiar (RC=2,23; IC95%: 1,34-3. 72),
do em vista os principais resultados obtidos na análise bivariada 4 anos de educação ou menos (RC=2,17; IC95%: 1,35-3,48), se-
(análise não ajustada), os fatores associados a um maior risco de DL dentarismo (RC=2,97; IC95%: 1,59-5,55), tabagismo (RC=1,61;
crônica foram idade, cor da pele, renda familiar, nível de educação, IC95%: 1,07-2,44) e multiparidade (RC=2,84; IC95%: 1,45-

Tabela 1. Características gerais da amostra e distribuição pelo nível de risco de dor lombar crônica em mulheres adultas no sul do Brasil (n=636)
Características n=636 Nível de risco de dor lombar crônica Valor de pa
n (%) Baixo Médio Alto
n=330 n=202 n=104
n (%) n (%) n (%)
Idade (anos) <0,001
20 – 29 100 (15,7) 74 (74,0) 22 (22,0) 4 (4,0)
30 – 39 126 (19,8) 78 (61,9) 30 (23,8) 18 (14,3)
40 – 49 173 (27,2) 79 (45,7) 56 (32,4) 38 (22,0)
50 – 59 141 (22,2) 60 (42,6) 49 (34,8) 32 (22,7)
60 – 69 96 (15,1) 39 (40,6) 45 (46,9) 12 (12,5)
Cor da pele 0,04
Branca 471 (74,1) 256 (54,4) 147 (31,2) 68 (14,4)
Não-branca 165 (25,9) 74 (44,8) 55 (33,3) 36 (21,8)
Estado civil 0,02
Solteira 107 (16,8) 64 (59,8) 31 (29,0) 12 (11,2)
Casada 417 (65,6) 221 (53,0) 124 (29,7) 72 (17,3)
Divorciada/viúva 112 (17,6) 45 (40,1) 47 (41,9) 20 (17,8)
Renda familiar em dólares (n=620) <0,001
>1100 147 (23,7) 52 (35,3) 62 (42,1) 33 (22,4)
700-1100 180 (29,3) 91 (50,5) 54 (30,0) 35 (19,4)
400-699 159 (25,6) 91 (57,2) 46 (28,9) 22 (13,8)
<400 134 (21,6) 89 (66,4) 35 (26,1) 10 (7,4)
Nível de educação (anos) (n=635) <0,001
≤4 126 (19,8) 35 (27,8) 52 (41,3) 39 (30,9)
5-8 156 (24,6) 64 (41,0) 64 (41,0) 28 (17,9)
>8 353 (55,6) 230 (65,2) 86 (24,4) 37 (10,5)
Nível de atividade física <0,001
Ativa 74 (11,6) 59 (79,7) 12 (16,2) 3 (4,1)
Insuficientemente ativa 562 (88,4) 271 (48,2) 190 (33,8) 101 (18,0)
Histórico de tabagismo (n=632) <0,001
Nunca fumou 353 (55,9) 202 (57,2) 105 (29,7) 46 (13,0)
Ex-fumante 134 (21,2) 49 (36,6) 50 (37,3) 35 (26,1)
Fumante 134 (21,2) 49 (36,6) 50 (37,3) 35 (26,1)
Paridade <0,001
Nenhum filho 96 (15,1) 68 (70,8) 21 (21,9) 7 (7,3)
1 filho 147 (23,7) 97 (65,9) 39 (26,5) 11 (7,4)
2 filhos 181 (28,4) 92 (50,8) 65 (35,9) 24 (13,2)
3 filhos 120 (18,8) 49 (40,8) 41 (34,1) 30 (25,0)
≥4 filhos 92 (14,4) 24 (26,0) 36 (39,1) 32 (34,7)
Estado nutricional (n=634) 0,01
Normal (IMC<25kg/m 2) 182 (28,7) 106 (58,2) 52 (28,6) 24 (13,2)
Acima do peso (25≤IMC<30kg/m2) 209 (33,0) 115 (55,0) 58 (27,8) 36 (17,2)
Obesa (IMC≥30kg/m ) 2
243 (38,3) 108 (44,4) 91 (37,4) 44 (18,1)
a
valores de p para teste Qui-quadrado de heterogeneidade de proporções; IMC = índice de massa corporal.

230
Fatores preditivos de risco de lombalgia crônica em BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):228-33
mulheres: estudo de base populacional

Tabela 2. Regressão logística ordinal não ajustada e ajustada, razão de chances e intervalo de confiança de 95% para o nível de risco de dor
lombar crônica, de acordo com os fatores preditivos investigados em mulheres adultas no Sul do Brasil (n=636)
Características Não ajustadas Valor de p Ajustadasa Valor de p
Baixo vs (médio+alto risco)
RC (IC95%) RC (IC95%)
Idade (anos) <0,001 0,021
20-29 1,00 (referência) 1,00 (referência)
30-39 1,91 (1,08-3,36) 1,41 (0,75-2,65)
40-49 3,70 (2,18-6,26) 2,50 (1,36-4,60)
50-59 4,10 (2,38-7,05) 2,67 (1,43-4,96)
60-69 3,55 (2,01-6,30) 1,86 (0,93-3,72)
Cor da pele 0,015
Não branca 1,00 (referência) --
Branca 1,51 (1,08-2,12)
Estado civil 0,006
Solteira 1,00 (referência) --
Casada 1,38 (0,90-2,10)
Divorciada/viúva 2,01 (1,21-3,33)
Renda familiar em dólares <0,001 0,002
>1100 1,00 (referência) 1,00 (referência)
700-1100 1,53 (0,96-2,44) 1,23 (0,74-2,03)
400-699 2,10 (1,33-3,29) 1,54 (0,94-2,53)
<400 3,39 (2,13-5,38) 2,23 (1,34-3,72)
Nível de educação (anos) <0,001 0,001
>8 1,00 (referência) 1,00 (referência)
5-8 2,47 (1,72-3,55) 1,36 (0,91-2,05)
≤4 4,59 (3,08-6,81) 2,17 (1,35-3,48)
Nível de atividade física <0,001 <0,001
Ativa 1,00 (referência) 1,00 (referência)
Insuficientemente ativa 4,27 (2,37-7,68) 2,97 (1,59-5,55)
Histórico de tabagismo <0,001 0,007
Nunca fumou 1,00 (referência) 1,00 (referência)
Ex-fumante 1,21 (0,83-1,75) 1,09 (0,73-1,64)
Fumante 2,33 (1,60-3,40) 1,61 (1,07-2,44)
Paridade <0,001 <0,001
Nenhum filho 1,00 (referência) 1,00 (referência)
1 filho 1,22 (0,70-2,12) 1,05 (0,58-1,89)
2 filhos 2,26 (1,35-3,80) 1,25 (0,70-2,24)
3 filhos 3,81 (2,19-6,64) 1,77 (0,94-3,32)
≥4 filhos 6,96 (3,87-12,5) 2,84 (1,45-5,57)
Estado nutricional 0,008
Normal (IMC<25kg/m2) 1,00 (referência) --
Acima do peso (25≤IMC<30kg/m2) 1,18 (0,80-1,75)
Obesa (IMC≥30 kg/m2) 1,65 (1,14-2,39)
IMC = índice de massa corporal; RC = razão de chances; IC = intervalo de confiança; a a categoria de “baixo risco” de DL crônica obtida pela pontuação da STarT
foi usada como grupo de referência (‘baixo risco’ vs ‘médio+alto risco’). O modelo ajustado final foi avaliado usando o teste Brant para não violar a suposição das
razões proporcionais. Somente variáveis apresentando um valor p inferior a 5% (p<0,05) foram mantidas no modelo ajustado (variáveis ajustadas umas às outras).

5,57). O estilo de vida sedentário (nível insuficiente de atividade DISCUSSÃO


física) permaneceu como o fator com maior força da associação com
DL crônica no modelo ajustado final. Os resultados para idade, ren- O presente estudo abordou os fatores sociodemográficos, de estilo
da, educação e paridade mostraram associação significativa de ten- de vida e reprodutivos associados à prevalência de níveis de risco
dência linear com o nível de risco de DL crônica (Tabela 2). A cor da crônicos em mulheres que relataram DL. Foi revelado que 16,4%
pele, o estado civil e a obesidade não foram associados a um maior das mulheres investigadas tinham alto risco de desenvolver DL crô-
risco de DL crônica. nica. Além disso, o estudo indicou que os fatores preditivos associa-

231
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):228-33 Sant´Anna PC, Watte G, Garcez A,
Altmayer S, Olinto MT e Costa JS

dos com maior risco de DL crônica em mulheres incluíram idade Apesar dos pontos fortes, os resultados desta investigação devem ser
avançada, desvantagem socioeconômica, comportamentos de saúde interpretados com algumas limitações. Em primeiro lugar, devido
inadequados e multiparidade. ao seu desenho transversal, não se estabelece uma relação temporal
A literatura científica atual mostra importantes relações entre fatores entre os eventos, e causalidade reversa não pode ser completamen-
sociodemográficos e a ocorrência de DL. A idade avançada é um te descartada; portanto, a associação observada entre DL crônica e
importante fator de risco para a DL crônica5,8-10. A idade aumenta o falta de atividade física, por exemplo, deve ser tratada com cautela.
processo degenerativo musculoesquelético, o que pode resultar em É muito possível que as mulheres com DL acabem realizando me-
um prognóstico negativo de DL10,20-22. Ademais, os indivíduos com nos atividades físicas. Assim, sugere-se que pesquisas longitudinais
DL crônica estão em desvantagem socioeconômica e com menor sejam realizadas para investigar esta relação em outras amostras de
nível educacional8. Dessa forma, estes indivíduos são muitas vezes mulheres. Em segundo lugar, a ferramenta StarT Back Screening Tool
cobertos por seguros de saúde patrocinados pelo governo e visitam é um instrumento de estratificação utilizado para indicar o risco po-
prestadores de saúde com mais frequência, resultando em disparida- tencial de dor crônica, no entanto, este instrumento não forneceu o
des socioeconômicas8. diagnóstico condicional. Além disso, dado que muitas das mulheres
Quanto a fatores do estilo de vida, a atividade física insuficiente estudadas estavam em período reprodutivo e estavam menstruando,
era altamente prevalente nesta população feminina. Embora a as- pode ser que tenham relatado a dor menstrual como dor nas costas.
sociação de DL e um estilo de vida sedentário seja controversa na Ademais, o comando gologit2 foi aplicado considerando o ‘baixo
literatura11, a atividade física insuficiente foi o fator preditivo mais risco’ de DL crônica como o grupo de referência (‘baixo risco’ vs
fortemente associado ao alto risco de DL no presente estudo. En- ‘médio+alto risco’). Este procedimento foi adotado com o intuito
tretanto, evidências substanciais apoiam o uso do exercício físico de evitar a perda de poder nas análises, devido ao baixo número de
na prevenção primária e secundária da DL crônica, assim como no mulheres na categoria mais alta de DL crônica. Finalmente, uma
tratamento adjunto em indivíduos com dor crônica ativa23. A ativi- pergunta de triagem contemplando apenas as duas últimas sema-
dade física regular tem sido considerada como um fator relacionado nas foi usada para averiguar se a participante havia passado por DL
à estimulação de áreas do cérebro envolvidas em diminuir a inibição recente. Na realidade, não houve informação sobre a duração dos
da dor, diminuindo, assim, a sensibilidade delas à dor24. sintomas de dor crônica neste estudo.
O tabagismo também já foi relacionado à DL crônica8,12. Esta as-
sociação pode ser explicada pela tosse crônica causada pelo ato de CONCLUSÃO
fumar, o que aumenta a pressão intra-abdominal e dos discos in-
tervertebrais. Também foi hipotetizado que a vasculopatia induzi- O estudo indicou que os fatores preditivos associados a um maior
da pelo cigarro afetaria a nutrição dos discos intervertebrais, o que risco de dor lombar crônica nas mulheres incluem idade avançada,
poderia levar ao desenvolvimento de discopatia. Além disso, fumar desvantagem socioeconômica, comportamentos de saúde inadequa-
pode reduzir a resistência dos músculos da região lombar. dos e multiparidade. Além disso, foi revelada uma alta prevalência
A prevalência da DL durante a gravidez é conhecida e estima-se de dor lombar crônica. Assim, devido ao possível impacto da lom-
que afeta 50-80% das mulheres nos últimos dois trimestres de gra- balgia na sociedade, bem como a incapacidade resultante, é impor-
videz25,26. As mulheres grávidas foram excluídas desta pesquisa, de tante destacar a prioridade para a implementação de programas de
todo modo, de acordo com as exigências mecânicas e psicológicas saúde preventiva.
de se cuidar das crianças, o esforço exigido para levantar e carregá-
-las será aumentado13. Além disso, este estudo demonstrou que um AGRADECIMENTOS
histórico de multiparidade está associado a um maior risco de DL
crônica. Descobertas similares relataram anteriormente que criar e AG recebeu bolsa de pós-doutorado (CNPq-Brasil; processo n.
educar crianças aumenta o risco de DL9,13. 152923/2018-7) e MTAO recebeu bolsa de produtividade em pes-
Este estudo apresentou uma pesquisa científica original, sendo in- quisa (CNPq-Brasil; processo n. 307175/2017-0) do Conselho Na-
vestigados importantes fatores preditivos associados à DL em uma cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.
amostra representativa de mulheres jovens e de meia-idade que vi-
vem na área urbana de uma cidade do sul do Brasil. O outro ponto REFERÊNCIAS
forte deste estudo é que foi utilizada uma ferramenta de triagem
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mento, levando em conta questões físicas e psicossociais associadas à 3. Hoy D, Brooks P, Blyth F, Buchbinder R. The Epidemiology of low back pain. Best
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dor2,16. Esses aspectos são importantes, especialmente considerando 4. Meucci RD, Fassa AG, Paniz VM, Silva MC, Wegman DH. Increase of chronic low
que o modelo biopsicossocial é amplamente aceito como a aborda- back pain prevalence in a medium-sized city of southern Brazil. BMC Musculoskelet
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gem mais heurística para avaliar e administrar a dor crônica27,28. A 5. Romero DE, Santana D, Borges P, Marques A, Castanheira D, Rodrigues JM, et al.
abordagem biopsicossocial defende que a experiência da dor é deter- Prevalence, associated factors, and limitations related to chronic back problems in
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232
Fatores preditivos de risco de lombalgia crônica em BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):228-33
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233
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):234-8 ARTIGO ORIGINAL

Interferência dos sintomas da síndrome do Túnel do Carpo no


desempenho ocupacional
Interference of the Carpal Tunnel syndrome symptoms on occupational performance
Kátine Marchezan Estivalet1, Carmine Thomas1, Aline Sarturi Ponte1, Dyannder da Silva Porciuncula Pinto2, Miriam Cabrera
Corvelo Delboni1

DOI 10.5935/2595-0118.20200052

RESUMO CONCLUSÃO: Percebeu-se que é uma síndrome compressiva


que interfere no desempenho ocupacional, além de constatar que
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A síndrome do Túnel do a dor é a principal queixa.
Carpo caracteriza-se por ser a compressiva de maior incidência Descritores: Compressão nervosa, Extremidade superior, Orto-
na população, comprometendo os membros superiores e, con- pedia, Síndrome do Túnel do Carpo.
sequentemente o desempenho ocupacional. O objetivo deste es-
tudo foi identificar os principais sintomas da síndrome compres- ABSTRACT
siva e o impacto da doença nas desordens da(s) extremidade(s)
superior(es) em relação ao desempenho ocupacional. BACKGROUND AND OBJECTIVES: The Carpal Tunnel
MÉTODOS: Trata-se de um estudo quantitativo com abordagem syndrome is characterized as the compression syndrome with the
descritiva, realizado com pessoas adultas diagnosticadas com sín- highest incidence in the population, impairing the upper limbs
drome do Túnel do Carpo, de ambos os sexos. Houve a realização and, consequently, occupational performance. The objective of
de avaliação inicial para identificar dor, edema, parestesia, altera- this study was to identify the symptoms of the compression syn-
ção da sensibilidade e fraqueza muscular. O Disabililies of the Arm, drome and the impact of the disease on upper extremity disor-
Shoulder and Hand também foi usado para avaliar a capacidade de ders in relation to occupational performance.
realizar movimentos motores finos, bem como movimentos mais METHODS: This is a quantitative study with a descriptive approach,
amplos e que exigem capacidades motoras. No presente estudo, conducted with adults, both male and female, diagnosed with Carpal
utilizou-se apenas a parte do instrumento que avalia a gravidade Tunnel syndrome. There was an initial evaluation to identify pain,
dos sintomas em relação à semana anterior da entrevista, além de edema, paresthesia, sensitivity alteration, and muscle weakness. The
outras implicações como dor, desconforto, fraqueza, dificuldade Disabilities of the Arm, Shoulder and Hand was used to assess the
em mover o membro superior e dificuldade para dormir. performance of fine motor activities as well as broader movements
RESULTADOS: Participaram do estudo 15 pessoas com sín- that require motor skills. This study used only the part of the instru-
drome do Túnel do Carpo, totalizando 27 membros acometi- ment that evaluates the severity of symptoms concerning the week
dos, sendo o lado dominante o mais comprometido. A queixa before the interview and other implications as pain, discomfort and
principal foi a dor, com maior intensidade no período noturno, weakness, difficulty in moving the upper limb, and to sleep.
seguida de parestesia. A síndrome compromete o desempenho RESULTS: Fifteen adults diagnosed with the Carpal Tunnel syn-
ocupacional, principalmente em atividades envolvendo as mãos, drome participated in this study (27 affected limbs), being the
e na qualidade do sono. dominant side the most undermined. The main complaint was
pain, with higher intensity at night, followed by paresthesia. The
Carpal Tunnel syndrome also compromises occupational perfor-
mance, especially in activities using hands, and in sleep quality.
Kátine Marchezan Estivalet – https://orcid.org/0000-0001-9625-5515; CONCLUSION: It was noticed that the Carpal Tunnel syndro-
Carmine Thomas – https://orcid.org/0000-0001-7312-2605;
Aline Sarturi Ponte – https://orcid.org/0000-0003-4775-3467; me interferes with occupational performance, as well as that pain
Diander da Silva Porciuncula Pinto – https://orcid.org/0000-0001-9665-7186; is the main complaint.
Miriam Cabrera Corvelo Delboni – https://orcid.org/0000-0001-5049-4561.
Keywords: Carpal Tunnel syndrome, Nerve crush, Orthopedics,
1. Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Terapia Ocupacional, Santa Ma- Upper extremity.
ria, RS, Brasil.
2. Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Estatística, Santa Maria, RS, Brasil.
INTRODUÇÃO
Apresentado em 17 de fevereiro de 2020.
Aceito para publicação em 01 de junho de 2020.
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há. O túnel do carpo é um espaço restrito e elíptico; confinado ventral-
mente pelo retináculo dos flexores – inelástico e resistente; e dor-
Endereço para correspondência:
Avenida Roraima, nº 1000 - Prédio 26 Anexo D, sala 4010B – Bairro Comobi salmente pela superfície anterior dos ossos do carpo1. No túnel do
97105-900 Santa Maria, RS, Brasil. carpo passam quatro tendões flexores superficiais e quatro tendões
E-mail: katinemarchezan@gmail.com
flexores profundos dos dedos, o tendão flexor longo do polegar e o
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor nervo mediano1.

234
Interferência dos sintomas da síndrome do Túnel BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):234-8
do Carpo no desempenho ocupacional

A síndrome do Túnel do Carpo (STC) é definida pela compressão para agendamento da coleta. Houve pré-seleção dos participantes
do nervo mediano no punho, tendo como causa mais comum a via prontuário eletrônico.
idiopática2, sendo a neuropatia de maior incidência da extremida- Para a pesquisa, realizou-se uma avaliação inicial com um questionário
de superior1. Sobretudo, dentre os fatores de riscos, os ambientais composto por algumas perguntas pessoais básicas e das condições de
são os mais significativos2 para o desencadeamento da neuropatia, saúde para identificar: dor, edema, parestesia (dormência, formiga-
principalmente quando relacionados com as ocupações: realização mento e queimação), alteração da sensibilidade e fraqueza muscular.
de grandes esforços em atividades de carregamento manual de cargas Também foi usado o Disabililies of the Arm, Shoulder and Hand
e de tarefas com posturas incorretas, estresse e movimentos repetiti- (DASH)5 que avalia a capacidade de realizar movimentos motores
vos3. Logo, a STC também é considerada uma doença ocupacional4. finos e movimentos mais amplos, exigindo capacidades motoras. No
O conjunto de sintomas da STC causa dificuldades na execução de presente estudo utilizou-se apenas a parte do instrumento que avalia
ações rotineiras, provocando falha na integração dos três elementos a gravidade dos sintomas em relação à semana anterior da entrevista,
do desempenho ocupacional: áreas de desempenho, componentes além de outras implicações como dor, desconforto, fraqueza, difi-
de desempenho e contextos de desempenho3. Assim, a compreensão culdade em mover o membro superior e dificuldade para dormir.
quanto ao diagnóstico, principalmente sobre os sintomas relaciona- Cada item foi pontuado numa escala de um a cinco, de acordo com
dos ao entendimento sobre suas interferências no desempenho ocu- o nível de gravidade ou dificuldade, sendo as pontuações 1 para ne-
pacional, facilita a tomada de decisão sobre o tipo de intervenção ne- nhuma, 2 pouca, 3 mediana, 4 muita e 5 para extrema gravidade ou
cessária, como medidas preventivas e com enfoque na reabilitação3. dificuldade5.
Considerando as implicações da STC, principalmente por ser uma Houve tabulação simples dos resultados, sendo apresentados através
doença considerada contemporânea e incapacitante2, o objetivo da frequência relativa e absoluta, e porcentagem.
deste estudo foi identificar os principais sintomas da STC. Assim, O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, CAAE
permitiu-se mensurar o impacto da doença nas desordens da(s) ex- 97504718.8.0000.5346, parecer 3.468.030/2019. Todos os parti-
tremidade(s) superior(es) em relação ao desempenho ocupacional. cipantes da pesquisa foram previamente informados e estavam de
acordo com a pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Li-
MÉTODOS vre e Esclarecido (TCLE).

Trata-se de um estudo quantitativo com abordagem descritiva, com RESULTADOS


pessoas diagnosticadas apenas com STC, tendo assim a Classificação
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID- Considerando o período de coleta de dados, do total de 255 con-
10) com código G56.0. No período de junho a outubro de 2019, foi sultas realizadas em ambos os ambulatórios, houve a exclusão de
realizada a coleta dos dados no Ambulatório de Ortopedia e Trau- 94,11% das pessoas devido aos critérios de seleção para a pesquisa.
matologia (AOT) de um hospital universitário, nas especialidades de Dentre elas, 37,64% foram excluídas pela idade, principalmente por
Membro Superior e de Síndromes Compressivas. apresentar idade superior a 60 anos. Houve também a exclusão de
A amostra do estudo se caracterizou como amostra não probabilísti- 46,27% das pessoas por apresentarem alguma outra função corporal
ca por julgamento, a qual envolve a seleção da população baseada em acometida, uma vez que a STC pode ter doenças associadas, sendo
critérios de inclusão e exclusão previamente definidos. No período que 45,49% apresentaram acometimento apenas na função neuro-
de coleta de dados foram realizadas 255 consultas no ambulatório, musculoesquelética.
sendo a amostra selecionada pelas delimitações dos critérios que têm Assim, houve a participação de 15 pessoas com diagnóstico de STC,
como objetivo a não interferência de outras doenças nos resultados sendo apenas um (6,66%) participante do sexo masculino e 14
do estudo, detectando especificamente os sintomas da STC e as suas (93,33%) do sexo feminino. A média de idade dos participantes foi
implicações no desempenho ocupacional. de 48 anos, variando entre 41 e 59 anos, considerando a faixa etária
O principal critério de inclusão foram pessoas com síndrome com- adulta. Dentre todos os participantes, 12 (20%) dos casos eram uni-
pressiva em membros superiores (MMSS), sendo apenas seleciona- laterais e três (80%) bilaterais, totalizando 27 membros acometidos,
das aquelas com o diagnóstico de STC. Foram respeitados também sendo que todos os participantes apresentaram o lado dominante
os seguintes critérios: idade entre 18 e 59 anos completos, de ambos como membro acometido.
os sexos, por considerá-los um público jovem-adulto onde se tem A partir do questionamento das principais implicações em relação aos
maior incidência de STC, e que estivessem em acompanhamento sintomas e outras condições provocadas pela STC, tem-se a apresen-
no AOT nas especialidades descritas. Foram excluídas pessoas com tação dos resultados a partir de suas frequências absolutas (Figura 1).
as seguintes funções corporais acometidas: funções mentais globais Os principais sintomas relatados por todos os participantes (100%)
e específicas; funções sensoriais, principalmente de visão, audição e foram a dor, sendo a queixa principal de todos eles, além da pareste-
vestibular; e funções da fala. A escolha pelas funções mencionadas sia – dormência (100%) e formigamento (100%). Outras condições
ocorreu pela dificuldade ou impossibilidade de comunicação para presentes na maioria dos participantes (93,3%) foram a alteração de
a coleta dos dados. Houve a exclusão também de pessoas com his- sensibilidade, geralmente marcada pela hipoestesia, que se trata da
tórico clínico pregresso de algum tipo de deficiência física, ou que diminuição ou perda da sensibilidade; além da fraqueza muscular na
tivessem no histórico clínico atual outro tipo de doença neuromus- mão, especialmente no território de inervação do nervo mediano. O
culoesquelética em MMSS, e pessoas sem interesse em participar sinal menos referido foi o edema, estando presente em apenas seis
da pesquisa, bem como as que não foi possível entrar em contato dos participantes (40%).

235
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):234-8 Estivalet KM, Thomas C, Ponte AS, Pinto DS e Delboni MC

Percebeu-se que a dor no membro superior, ao fazer alguma ativi-


Frequência absoluta

dade específica, acompanha as diversas condições referentes à STC,


sendo referida como extrema por 86,7% dos participantes. A difi-
culdade para dormir, representada pela alteração no sono, foi referi-
da por todos os participantes, sendo para a maioria (86,7%) com ex-
trema dificuldade e para o restante (13,3%) com muita dificuldade.
Tem-se, também, a prevalência de fraqueza no membro superior,
especialmente na mão, em 12 participantes (80%), além da dificul-
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Do

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dade em mover o membro de forma extrema por 11 participantes

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(73,3%). Tais informações são importantes devido à possibilidade
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se
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de de interferência na realização das atividades ocupacionais pelo com-


o
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prometimento motor e sensorial causado pela STC. O desconforto


ra
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na pele, referido como a sensação de alfinetadas, está presente em


Al

66,7% dos participantes com extrema intensidade, mas dentre as


Figura 1. Frequências absolutas dos sintomas e outras condições da
variáveis, é o sintoma que tem menor queixa.
síndrome do Túnel do Carpo (n=15)

DISCUSSÃO
Em relação à dor, houve um questionamento sobre sua intensidade
– leve, moderada, intensa e muito intensa; bem como sobre o mo- A etiologia da STC, na maioria dos casos, é idiopática, mas têm
mento: noturna, diurna e ao acordar (Tabela 1). situações de ordem secundária, como as anomalias do continente
Conforme se observa, o nível de dor geralmente foi moderado e/ou e as anomalias do conteúdo; de ordem dinâmica, como as doenças
intenso. Pode-se considerar que a dor é mais frequente à noite, con- laborais; e de ordem aguda, como os casos de traumatismos6. Ao
siderada como dor intensa por todos os participantes. abordar a STC, fala-se muito sobre a sua incidência, considerando o
Além da identificação das atividades que os participantes têm mui- sexo e a idade. No presente estudo, tem-se a incidência ainda predo-
ta dificuldade, ou que não conseguem realizar, o DASH também minante do sexo feminino e da faixa etária adulta, sendo o pico mais
permite abordar a gravidade da dor e outros sintomas, bem como elevado entre 45 e 59 anos (75% do sexo feminino) e o segundo
a dificuldade de mobilidade do membro superior e para dormir. A entre 75 e 84 anos (64% do sexo feminino)1, podendo interromper
figura 2 ilustra o nível de gravidade, não somente da dor, mas de inclusive a trajetória profissional7. Na meta-análise realizada a partir
outros sintomas e condições provocadas pela STC referidos como de 87 estudos4 tem-se a incidência bruta da STC, sendo as mulheres
extrema intensidade (5) e muita intensidade (4). mais afetadas pela doença, apontando que na maioria dos estudos
epidemiológicos, a maior prevalência da STC está na população fe-
minina8. Outro estudo, com um total de 386 pessoas com STC, 322
Tabela 1. Intensidade e momento da dor (n=15) eram do sexo feminino (83%) e 64 eram do sexo masculino (17%),
Nível de Durante o dia Ao acordar Durante a noite com idade média de 57 anos (faixa de 30 a 81) anos9.
dor na número de parti- número de parti- número de parti- Sabe-se que o comprometimento bilateral é o mais comum na STC,
mão cipantes (n e %) cipantes (n e %) cipantes (n e %) mais de 50% dos casos, sendo que a mão dominante é, usualmente,
Intensa 07 (46,7) 08 (53,3) 15 (100) a primeira e mais intensamente envolvida10. Lembrando que em re-
Moderada 07 (46,7) 06 (40,1) 0 lação ao estudo, a mão mais atingida pelos participantes também é
Leve 01 (6,6) 01 (6,6) 0 a mão dominante, sendo ela, a mão direita. Porém, tem-se também
Total geral 15 (100) 15 (100) 15 (100) a possibilidade de sintomas unilaterais em 75% dos casos, em que o
lado esquerdo foi afetado em 54,8% dos casos11. Assim, vale lembrar
que a característica bilateral aumenta com a duração dos sintomas6.
Informações sobre a idade e o lado dominante são fundamentais na
avaliação inicial, assim como a dimensão e o planejamento de trata-
mentos7. No entanto, aspectos biopsicossociais também são impor-
tantes a considerar, uma vez que as mulheres têm maior tendência a
apresentar a STC, e a incidência da doença aumenta mais linearmente
com a idade e o índice de massa corpórea do que em relação aos de-
mais fatores; além do aumento do risco de STC pela realização de tra-
Dor Desconforto Fraqueza Dificuldade Alteração balhos extenuantes; sendo o suporte social considerado fator protetor6.
em mover no sono De modo geral, o quadro clínico da STC consiste em queixas de dor
o membro
em posições de flexão ou extensão forçadas; ou parestesias, como
Extrema intensidade Muita intensidade dormência e formigamento, no trajeto do nervo mediano, com pio-
Figura 2. A identificação da relação da dor e de outras condições no
ra noturna; presença de pelo menos um dos exames clínicos positi-
membro superior com o instrumento Disabililies of the Arm, Shoulder vos ou evidência de atrofia da região tênar11. Há, também, casos com
and Hand (n=15) presença de edema3.

236
Interferência dos sintomas da síndrome do Túnel BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):234-8
do Carpo no desempenho ocupacional

No estágio precoce da síndrome compressiva, tem-se uma caracteri- rurgia, e o cuidado para não ocorrer aderências cicatriciais, além de
zação de sintoma unicamente noturno devido ao aumento da pres- exercícios de deslizamentos do tendão e do nervo, e eventual forta-
são intratúnel, que pode ocorrer por diferentes motivos, dentre eles a lecimento muscular que também são cuidados no pós-operatório17.
tendência em posicionar o punho em flexão e o aumento da pressão Portanto, cabe ao TO desenvolver a intervenção através da reabili-
arterial na segunda metade da noite1. tação do membro superior por meio do conhecimento da anato-
Conforme o estudo, a dor tem relação com a parestesia – mencio- mia e biomecânica, e pautado no Modelo da Ocupação Humana,
nadas com a sensação de queimação e formigamento. Um estudo auxiliando na aquisição de habilidades, padrões de desempenho e
comparou a distribuição variável da dor pelo membro superior aco- ocupação3.
metido e, de acordo com o estudo, 21% dos pacientes relataram Sendo assim, sempre que houver o comprometimento do desem-
parestesia e dor no antebraço; 13,8%, no cotovelo; 7,5%, no braço; penho ocupacional, é de competência do TO intervir com medidas
6,3%, no ombro; e 0,6%, na região cervical12. Logo, a dor pode ter preventivas visando à promoção da saúde, e medidas com enfoque
irradiação proximal para o braço e o ombro6. na reabilitação, para que não haja agravamento do quadro clínico3,19.
A dor foi o principal sintoma referido. Por sentir dor moderada O trabalho da Terapia Ocupacional na prevenção pode ajudar nas
durante o dia ou dor muito intensa durante a noite, considerou-se orientações com relação às atividades domésticas e atividades diá-
que ela tem alta frequência na população geral e é o sintoma mais rias, adaptando o modo de fazê-las, com o objetivo de melhorar a
comum11. O horário mais comum foi à noite3, em que a pessoa é qualidade de vida de prevenir o agravo dos sintomas da doença17,
despertada do sono13. Em estudo acerca do impacto da STC na qua- principalmente com efeito positivo na manutenção a longo prazo
lidade do sono, tem-se a confirmação da correlação de distúrbios do dos efeitos do tratamento conservador19.
sono nas pessoas com STC pela redução significativa da duração do O tamanho da amostra foi uma limitação do estudo. É necessária a
tempo de sono – cerca de 2,5 horas a menos do que o recomendado realização de outros estudos com amostra maior e possibilidade de
- correndo risco de comorbidades14. Portanto, percebeu-se que a dor discutir as implicações da STC no desempenho ocupacional; rela-
interfere no sono, seja por não conseguir dormir ou acordar durante cionar a STC com outras doenças em MMSS; usar como metodo-
a noite por conta da dor7. Percebeu-se que dentre os sintomas iden- logia o estudo clínico randomizado para a avaliação do quadro álgico
tificados no estudo, a dor é o mais frequente, principalmente à noite, e parestesia e possibilidades de tratamento em pessoas com STC.
bem como a maior queixa dos participantes.
Alguns fatores ocupacionais, principalmente em atividades laborais, CONCLUSÃO
são considerados de risco para desencadear a STC, como a realização
de atividades repetitivas dos flexores dos dedos (tendões que passam A STC pode comprometer o desempenho ocupacional, principal-
junto com o nervo no túnel do carpo), exposição à vibração e au- mente em atividades envolvendo o membro superior. A principal
mento da força manual15,16, além da manutenção de posturas ina- queixa é a dor, que pode ser muito intensa, principalmente durante
dequadas por tempo prolongado; invariabilidade de tarefas; pressão a noite, interferindo no sono e nas atividades ocupacionais. Além
mecânica sobre determinados segmentos do corpo, em particular da dor, também tem a interferência da parestesia no desempenho
os MMSS; trabalho muscular estático; choques e impactos; frio; e ocupacional.
fatores organizacionais e psicossociais6. Além de que, com a perda da
sensação nos dedos, pode haver dificuldade em atividades simples REFERÊNCIAS
do cotidiano como pegar objetos7. Logo, tornou-se importante tam-
1. Chammas M, Boretto J, Burmann LM, Ramos RM, dos Santos Neto NF, Silva JB.
bém pensar nas ocupações realizadas pelas pessoas com a neuropatia, Síndrome do túnel do carpo – Parte I (anatomia, fisiologia, etiologia e diagnóstico).
uma vez que as atividades envolvendo a flexão do punho por longo Rev Bras Ortop. 2014;49(5):429-36.
2. Ibrahim I, Khan WS, Goddard N, Smitham P. Carpal tunnel syndrome: a review of
período podem aumentar a dor5, podendo ser necessário o uso de the recent literature. Open Orthop J. 2012;6:69-76.
uma órtese de repouso7,16,17. 3. Fonseca JCB, Frazão IMS, Pimenta MM, Monteiro RPA, Almeida ZRP. Análise do
desempenho ocupacional de pacientes com síndrome do túnel do carpo. Rev Interinst
A abordagem da disfunção ocupacional na STC requer uma visão Rev Ter Ocup. 2019;3(1):65-75.
holística, a fim de melhor compreender o problema, não somente 4. Spahn G, Wollny J, Hartmann B, Schiele R, Hofmann GO. [Metaanalysis for the
sob os aspectos da função e estrutura corporal, mas também consi- evaluation of risk factors for carpal tunnel syndrome (CTS) Part II. Occupational risk
factors]. Z Orthop Unfall. 2012;150(5):516-24.
derando as implicações da doença nas diferentes áreas de desempe- 5. Hudak PL, Amadio PC, Bombardier C. Development of an upper extremity outco-
nho ocupacional: atividades de vida diária, atividades produtivas e me measure: the DASH (disabilities of the arm, shoulder and hand) [corrected]. The
Upper Extremity Collaborative Group (UECG). Am J Ind Med. 1996;29:602-8.
atividades de lazer7. Assim, o plano de intervenção tem como obje- 6. Oliveira Filho JR, Oliveira ACR. Síndrome do túnel do carpo na esfera trabalhista.
tivo aumentar a independência na realização das atividades de vida Rev Bras Med Trab. 2017;15(2):182-92.
7. Santos LMA, Araújo RCT. Tipos de abordagens nas publicações sobre a síndrome do
diária e reduzir os fatores de risco que influenciam o desempenho túnel do carpo. Cad Ter Ocup. 2008;16(2):101-12.
ocupacional17. 8. Yazdanpanah P, Aramesh S, Mousavizadeh A, Ghaffari P, Khosravi Z, Khademi A.
Considerando as possibilidades de intervenção, a Terapia Ocupacio- Prevalence and severity of carpal tunnel syndrome in women. Iran J Public Health.
2012;41(2):105-10.
nal é uma profissão que pode atuar junto à pessoa com STC18, sendo 9. Żyluk A, Puchalski P. A comparison of the results of carpal tunnel release in patients
capaz de orientá-la a fim de amenizar os sintomas e possibilitar a in different age groups. Neurol Neurochir Pol. 2013;47(3):241-6.
10. De-la-Llave-Rincón AI, Puentedura EJ, Fernández-de-las-Peñas C. New advan-
melhora do desempenho ocupacional e da satisfação na realização de ces in the mechanisms and etiology of carpal tunnel syndrome. Discov Med.
suas atividades. Dentre algumas das abordagens do terapeuta ocu- 2012;13(72):343-8.
11. Jesus Filho AG, Nascimento BF, Amorim MC, Naus RAS, Loures EA, Moratelli L.
pacional (TO) na perspectiva do Modelo Biomecânico estão alguns Estudo comparativo entre o exame físico, a eletroneuromiografia e a ultrassonografia
direcionamentos para o controle do edema e da dor no local da ci- no diagnóstico da síndrome do túnel do carpo. Rev Bras Ortop. 2014;49(5):446-51.

237
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):234-8 Estivalet KM, Thomas C, Ponte AS, Pinto DS e Delboni MC

12. Karolczalk APB, Vaz MA, Freitas CR, Merlo ARC. Síndrome do túnel do carpo. Rev 16. Newington L, Harris EC, Walker-Bone K. Carpal tunnel syndrome and work. Best
Bras Fisioter. 2005; 9(2):117-22. Pract Res Clin Rheumatol. 2015;29(3):440‐453.
13. Evans KD, Volz KR, Hutmire C, Roll SC. Morphologic characterization of in- 17. Sousa LBG, Altafim LZM, Barreto RG, Sousa WCM. Elementos da prática da terapia
traneural flow associated with median nerve pathology. J Diagn Med Sonogr. ocupacional na síndrome do túnel do carpo: um estudo bibliográfico. Rev Interinst
2012;28(1):11-9. Rev Bras Ter Ocup. 2017;1(5):664-80.
14. Patel A, Culbertson MD, Hashem J, Jacob J, Edelstein D, Choueka J. The negative 18. Squissato V, Brown G. Carpal tunnel syndrome. CMAJ. 2014;186(11):853.
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15. Barcenilla A, March LM, Chen JS, Sambrook PN. Carpal tunnel syndrome and its ment in patients with carpal tunnel syndrome. Int J Occup Med Environ Health.
relationship to occupation: a meta-analysis. Rheumatology. 2012;51:250261. 2019;32(2):197‐215.

238
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):239-44 ARTIGO ORIGINAL

Intensidade da dor, incapacidade funcional e fatores psicossociais em


mulheres com dor pélvica crônica: um estudo transversal
Intensity of pain, disability and psychosocial factors in women with chronic pelvic pain: cross-
sectional study
Jennifer Nogueira Rocha1, Luiz Eduardo de Castro1, Virgínia Martello Riccobene1, Michele Souza Menezes Autran2, Leandro
Alberto Calazans Nogueira2,3, Felipe José Jandre dos Reis3,4

DOI 10.5935/2595-0118.20200177

RESUMO o domínio gravidade da dor (r=-0,566; p=0,003) e com cinesio-


fobia (r= -0,550; p=0,001).
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A dor pélvica crônica pode CONCLUSÃO: As mulheres com doença pélvica crônica apre-
ser considerada uma das principais causas de morbidade e in- sentaram níveis moderados de intensidade de dor e limitação fun-
capacidade funcional para as mulheres. A influência dos fatores cional. Os fatores psicossociais com maior pontuação média foram
psicossociais na dor pélvica crônica foi pouco explorada na lite- a ansiedade e estresse. A intensidade de dor e o nível de limitação
ratura. O objetivo deste estudo foi caracterizar o perfil da dor funcional estiveram correlacionados entre si e com a cinesiofobia.
pélvica crônica em mulheres, bem como buscar a presença de Descritores: Dor crônica, Dor pélvica, Impacto psicossocial.
fatores psicossociais e a associação com dor e incapacidade.
MÉTODOS: Estudo transversal que incluiu mulheres com dor pél- ABSTRACT
vica crônica. Os dados referentes da dor, incapacidade e os fatores
psicossociais foram coletados utilizando questionários específicos. BACKGROUND AND OBJECTIVES: Chronic pelvic pain
Foram apresentadas as análises de frequência, tendência central e can be considered one of the main causes of morbidity and func-
dispersão dos dados. O teste de correlação de Pearson foi utilizado tional disability in women. The influence of psychosocial factors
para verificar a correlação entre dor, incapacidade e fatores psicosso- on chronic pelvic pain has been little explored in the literature.
ciais. O valor de significância estatística adotado foi de alfa=95%. This study sought to characterize the profile of chronic pelvic
RESULTADOS: O estudo foi composto por 25 mulheres, com pain in women, the presence of psychosocial factors and the as-
média de idade de 45,4 anos. A intensidade de dor média no mo- sociation with pain and disability.
mento da avaliação foi de 4,76±3,39. A média de incapacidade METHODS: This cross-sectional study included women with
foi de 4,01±2,32. A ansiedade apresentou média de 7,16±3,36 e chronic pelvic pain. Data on pain, disability and psychosocial
estresse 7,04±3,16. O nível de limitação funcional teve correla- factors was collected using specific questionnaires. Analysis of
ção negativa com a intensidade da dor (r= -0,474; p=0,017), com frequency, central tendency and dispersion were presented. Pear-
son’s correlation test was used to verify the correlation between
pain, disability and psychosocial factors. The statistical signifi-
cance was set as alpha=95%.
Jennifer Nogueira Rocha – https://orcid.org/0000-0003-3953-2816; RESULTS: The study consisted of 25 women, with a mean age
Luiz Eduardo Castro – https://orcid.org/0000-0001-6124-9588;
Virgínia Martello Riccobene – https://orcid.org/0000-0001-6073-5058; of 45.4 years. The mean pain intensity at the time of the asses-
Michele Souza Menezes Autran – https://orcid.org/0000-0002-8300-428X; sment was 4.76±3.39. The mean disability was 4.01±2.32. An-
Leandro Alberto Calazans Nogueira – https://orcid.org/0000-0002-0177-9816;
Felipe José Jandre dos Reis – https://orcid.org/0000-0002-9471-1174.
xiety presented a mean of 7.16±3.36 and stress 7.04±3.16. The
level of disability had a negative correlation with pain intensity
1. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Hospital Universitário Gaffrée e Guin- (r = -0.474; p=0.017), with the pain severity domain (r=-0.566;
le, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2. Centro Universitário Augusto Motta, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Re- p=0.003) and with kinesiophobia (r = -0.550; p=0.001).
abilitação, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CONCLUSION: Women with chronic pelvic pain had modera-
3. Instituto Federal do Rio de Janeiro, Curso de Fisioterapia, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica, te levels of pain intensity and disability. The psychosocial factors
Laboratório de Psiconeurofisiologia, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. with the highest mean score were anxiety and stress. The inten-
Apresentado em 02 de março de 2020.
sity of pain and disability were correlated with each other and
Aceito para publicação em 29 de maio de 2020. with kinesiophobia.
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há. Keywords: Chronic pain, Pelvic pain, Psychosocial impact.
Endereço para correspondência:
Felipe Reis INTRODUÇÃO
Instituto Federal do Rio de Janeiro, Campus Realengo
Rua Carlos Wenceslau, 343 – Realengo
21715-000 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. A dor pélvica crônica (DPC) é a dor crônica (DC) ou persisten-
E-mail: felipe.reis@ifrj.edu.br
te percebida em estruturas relacionadas à pelve de homens ou
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor mulheres, frequentemente associada a consequências cognitivas,

239
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):239-44 Rocha JN, Castro LE, Riccobene VM,
Autran MS, Nogueira LA e Reis FJ

comportamentais, sexuais e emocionais negativas, bem como a nos referidos ambulatórios. Não foram elegíveis para o estudo as
sintomas sugestivos de trato urinário inferior, órgãos sexuais, in- mulheres em período gestacional, com história ou diagnóstico
testino, assoalho pélvico ou disfunção ginecológica1. Assim como de neoplasia, doenças neurológicas do sistema nervoso central e
outras DC, a DPC pode estar associada a consequências cogniti- déficit cognitivo.
vas, comportamentais, sexuais e emocionais negativas2. Embora a Para avaliação sociodemográfica e de aspectos gerais sobre a dor
DPC possa ter origem ginecológica, gastrointestinal, urológica ou foi utilizado o Questionnaire for Chronic Pelvic Pain Assessment
musculoesquelética, a maior parte não apresenta uma causa defini- (QCPPA) da International Pelvic Pain Society (IPPS) previamen-
da3. A dor pélvica pode ser considerada uma das principais causas te traduzido e validado para o português19. O QCPPA apresenta
de morbidade e incapacidade funcional para as mulheres podendo questões sociodemográficas sobre trabalho, formação profissio-
interferir nas atividades de vida diária e levar à procura dos serviços nal, idade, estado civil, com quem vive e grau de instrução. Além
de saúde4. Estima-se que cerca de 3,8% das mulheres em qualquer disso, avalia os aspectos dolorosos, menstruais, urinários, gas-
idade e 12% das mulheres em idade reprodutiva se queixam de trointestinais, emocionais, antecedentes obstétricos, cirúrgicos,
sensações de dor na região pélvica5,6, além de cerca de 18% se afas- a ocorrência de violência física/psicológica ou sexual entre outras
tarem do trabalho pelo menos um dia todos os anos devido a dor questões. O QCPPA foi aplicado excetuando-se os quesitos de
pélvica7,8. Dados de uma pesquisa nos Estados Unidos que incluiu fármacos, ajuda profissional e exame físico; na parte do mapa de
773 mulheres com DPC identificou que aproximadamente um dor foi utilizado somente o item que diz respeito a dor perineal
quarto das mulheres precisou de repouso durante 2,5 dias por mês e vulvar.
e perto de 25% apresentou disfunção, ou dispareunia e os custos Em seguida, para a avaliação da dor utilizou-se o Brief Pain Inventory
diretos e indiretos da perda de produtividade foram estimados em (BPI), que é um instrumento multidimensional que avalia a intensi-
aproximadamente 3 bilhões de dólares7. dade da dor e sua interferência nas atividades gerais, humor, capaci-
Além das condições de saúde primárias que se caracterizam pela dor dade de locomoção, trabalho, relacionamentos com outras pessoas,
pélvica, diversos mecanismos e estruturas podem estar envolvidas na sono e diversão com base em uma escala de 11 pontos que varia de
DPC incluindo o trato genital superior, músculos e fáscias da parede zero (sem dor/sem interferência) a 10 (dor tão intensa quanto pos-
abdominal e do assoalho pélvico, bexiga, ureteres e trato gastroin- sível). As pontuações das duas dimensões variam de zero a 10 e são
testinal8,9. A abordagem clínica focada somente nos aspectos bioló- calculadas usando a média do total de itens. Escore elevado represen-
gicos pode aumentar a utilização dos cuidados de saúde e dos testes ta alta intensidade de dor ou alta interferência de dor nas atividades
diagnósticos, além de maior indicação de procedimentos cirúrgicos gerais20. Com o objetivo de caracterizar os descritores de dor mais
ou internações para tratamento da dor3. É importante que, além de frequentes, foi utilizado o questionário de McGill que permite ao
fatores biológicos, seja considerada a influência de fatores cognitivos, paciente retratar com mais detalhes sua experiência dolorosa21.
emocionais, ambientais e sociais na experiência de dor10,11. Também A limitação funcional foi avaliada através da Patient Specific Func-
é preciso reconhecer que mecanismos neurofisiológicos como a tionality Scale (PSFS). Foi solicitado para o paciente identificar até
sensibilização periférica, sensibilização central e modificações neu- três atividades que considera incapaz de realizar ou que apresenta
roplásticas em diversas regiões do cérebro podem contribuir para a alguma dificuldade. A mensuração é feita por escalas do tipo Li-
cronificação, manutenção e evolução da DPC12-14. kert de 11 pontos para cada atividade, sendo que quanto maior
Um grande desafio na prática clínica é identificar a interação dos fa- a pontuação média que varia entre zero e 10 pontos, melhor é a
tores psicológicos, comportamentais e sociais assim como suas con- capacidade do paciente de realizar as atividades22. O PSFS é um
tribuições na experiência da dor. Diversos estudos demonstraram a questionário autoaplicável, validado e amplamente utilizado em
influência de fatores psicológicos no desenvolvimento, persistência e diversas condições musculoesqueléticas, com reprodutibilidade de
tratamento da DC15-17. 0,85 (ICC 0,77-0,90)23.
O objetivo do presente estudo foi caracterizar o perfil da DPC em A avaliação dos fatores psicossociais relacionados à dor foi realizada
mulheres, quanto à localização e a intensidade, o nível de limitação pelo Brief Screening Questionnaire (BSQ) que abrange a avaliação
funcional e a associação com fatores psicossociais. da presença de sintomas de depressão, isolamento social, ansiedade,
estresse, cinesiofobia e catastrofização24. O instrumento é formado
MÉTODOS por nove itens, sendo um item para ansiedade, dois itens para ci-
nesiofobia, um para estresse, um para isolamento social, dois para
Estudo observacional do tipo transversal, que seguiu as recomen- catastrofização e dois para depressão24,25. As respostas foram gradua-
dações do Strengthening the Reporting of Observational Studies in das entre zero e 10, sendo que quanto maior for o valor da resposta
Epidemiology (STROBE)18. Os dados foram coletados de setembro pior o desfecho. O valor de zero representa “nunca faço isso” ou “de
de 2019 a janeiro de 2020 nos ambulatórios de ginecologia de um modo algum”, aumentando para 10, que representa “sempre faço
hospital e de fisioterapia pélvica de outro hospital, na região metro- isso” ou “bastante”24. Esse instrumento utiliza questões breves das
politana do Rio de Janeiro. escalas específicas para cada um dos itens psicossociais previamente
Foram incluídas mulheres com idade superior a 18 anos com validadas para o Brasil.
dor localizada na região da pelve, parte inferior do abdômen, O protocolo de pesquisa foi previamente submetido e apro-
região lombar, aspecto medial da coxa, área inguinal e períneo, vado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do HUGG (CAAE:
na maior parte dos dias por pelo menos seis meses, selecionadas 17465419.0.0000.5258) e todas as participantes assinaram o Termo
por conveniência de acordo com o agendamento das consultas de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

240
Intensidade da dor, incapacidade funcional e fatores psicossociais BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):239-44
em mulheres com dor pélvica crônica: um estudo transversal

Análise estatística Tabela 1. Características clínicas da amostra


Os dados foram processados e codificados em planilha eletrônica do Variáveis n (%)
Microsoft Office Excel, versão 2013 para Windows e analisados com Fármacos
uso do Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 20 para Analgésicos 18 (72)
Mac. O teste de Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para verificar se
Opioides 10 (40)
as variáveis apresentavam distribuição normal. Foram apresentadas
Anti-inflamatório não hormonal 10 (40)
as análises de frequência, tendência central (média ou mediana) e
dispersão (desvio padrão) de acordo com a análise de normalidade Anti-inflamatório hormonal 1 (4)
dos dados. A associação entre a intensidade de dor, a incapacidade Anticonvulsivante 6 (24)
e as variáveis psicológicas foram realizadas por meio do teste de cor- Antidepressivo 5 (20)
relação de Pearson. O valor de significância estatística adotado para Relaxante muscular 3 (12)
todas as análises foi de p<0,05. Agonista receptor adrenérgico 1 (4)
Antiflatulento 1 (4)
RESULTADOS
Hormonal 1 (4)
Cirurgias
Foram incluídas 25 mulheres, com média de idade de 45,4±10,8
anos; xmin=30 a xmax=72. Em relação às demais características da Sim 9 (36)
amostra, 11 (44%) apresentavam ensino médio completo, 11 (44%) Não 16 (64)
eram casadas, 21 (84%) não tabagistas, 18 (72%) não consumiam Comorbidades
álcool e 19 (76%) eram sedentárias. Quanto aos antecedentes obsté- Sintomas urinários 15 (60)
tricos, 20 (80%) já haviam engravidado, 9 (36%) relataram ter tido Síndrome do intestino irritável 14 (56)
pelo menos um aborto e 10 (40%) tinham dois filhos. Consideran-
Síndrome da congestão pélvica 10 (40)
do as características relacionadas ao trabalho, 14 (56%) encontrava-
Enxaqueca 8 (44)
-se em idade economicamente ativa e 8 (32%) estavam afastadas do
trabalho em virtude da presença da dor. Depressão 8 (32)
Quanto às características clínicas, todas as participantes faziam Endometriose 6 (24)
uso de mais de um fármaco, de várias classes, para dor. Dentre Adenomiose 1 (4)
a amostra estudada, 18 (72%) utilizavam analgésicos, 10 (40%) Fibromialgia 1 (4)
opioides, 10 (40%) anti-inflamatórios não hormonais, 6 (24%) Abuso sexual
anticonvulsivantes, 5 (20%) antidepressivos, 3 (12%) relaxan- Sim 5 (20)
tes musculares e 1 (4%) anti-inflamatório hormonal, fármaco
Não 20 (80)
hormonal, agonista de receptor adrenérgico e antiflatulento. Em
relação às cirurgias, 9 (36%) haviam realizado algum tipo de pro- Abuso psicológico/físico

cedimento relacionado à DPC. Quanto as comorbidades comu- Sim 15 (60)


mente associadas à DPC verificou-se que 8 (32%) apresentavam Não 10 (40)
depressão, 15 (60%) sintomas urinários, 14 (56%) síndrome do
intestino irritável, 11 (44%) enxaqueca, 10 (40%) sintomas de
síndrome da congestão pélvica, 6 (24%) diagnóstico de endome- Cefaleia – 68%
triose e 1 (4%) apresentava fibromialgia e adenomiose. Do total,
Dor nos membros
5 (20%) relataram ter sofrido alguma forma de abuso sexual e superiores – 36%
15 (60%) sofreram algum tipo de abuso psicológico e/ou físico Dor supraumbilical
28% Dor lombar – 84%
na infância e/ou na vida adulta. Quanto às estratégias de enfren-
tamento, 19 (76%) mulheres demonstraram estratégia passiva e Dor infraumbilical
Dor glúteos
68%
negativa em relação a dor, como ficar em repouso e assumir a quadril/púbis/
inguinal – 72%
dor pélvica como o principal problema da vida. As características Dor vulvar/
perineal – 76 %
clínicas estão agrupadas na tabela 1. Dor nos membros
Na representação do mapa corporal descrito no BPI, identifican- inferiores – 72%
do os locais afetados pela dor, houve maior presença de dor lombar
(84%), dor vulvar/perineal (76%), seguidos de dor nos glúteos/qua- Figura 1. Mapa corporal representando a frequência da localização
da dor da amostra
dril/púbis/região inguinal e dor nos membros inferiores, ambos com
72% (Figura 1).
A intensidade de dor relatada no momento da avaliação apresentou Na avaliação da funcionalidade pela PSFS as participantes apresen-
média de 4,76±3,39; xmin=zero a xmax=10. Para descrever a carac- taram escore médio de 4,01±2,32; xmin=0 a xmax=8,6. Em relação
terística da dor, os descritores de McGill mais utilizados foram “pe- aos resultados do BPI, a média para o domínio de gravidade da dor
sada” e “sensível”. A média do tempo de dor foi 79,36±61,6 meses; foi de 5,70±2,07; xmin=1,50 a xmax=9,00 e média para o domínio
xmin=6 a xmax=216. impacto da dor foi de 6,69±2,22; xmin=2,85 a xmax=10,0.

241
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):239-44 Rocha JN, Castro LE, Riccobene VM,
Autran MS, Nogueira LA e Reis FJ

Em relação aos fatores psicossociais avaliados por meio do BSQ, a aos fatores psicossociais, a ansiedade e o estresse apresentaram as
ansiedade apresentou média de 7,16±3,36; xmin=zero a xmax=10, o maiores médias, seguido da catastrofização, isolamento social, de-
isolamento social a média foi de 4,12±4,05; xmin=zero a xmax=10, pressão e cinesiofobia. A intensidade de dor e o grau de limitação
o estresse apresentou média de 7,04±3,16; xmin=zero a xmax=10, funcional estiveram correlacionados entre si e com a cinesiofobia.
a catastrofização teve média de 6,0±3,81; xmin=0 a xmax=10, a Os valores de intensidade de dor observados pelo presente estudo
depressão apresentou média de 5,72±3,96; xmin=zero a xmax=10 podem ser considerados moderados26, assemelhando-se a outros
e a cinesiofobia teve média de 3,94±4,36; xmin=zero a xmax=10. estudos com pessoas com DPC27-29. Em estudo realizado no Brasil
Os resultados da avaliação da dor e das medidas psicossociais estão com 91 mulheres a intensidade de dor variou de acordo com a
dispostos na tabela 2. massa corporal de 2,66 a 3,1528. Em outro estudo realizado na
Noruega, participaram 108 mulheres com DPC e a intensidade
Tabela 2. Média e desvio padrão para as medidas relacionadas à dor média de dor foi de 4,230. A intensidade de dor moderada observa-
e as medidas psicométricas
da pode justificar o uso de diferentes métodos analgésicos relatados
Variáveis Média (DP) pelas participantes.
BPI (zero/10) A característica disseminada da dor desta amostra pode ser sugesti-
Intensidade da dor (no momento) 4,76 (33,9) va do envolvimento de mecanismos de sensibilização central31,32. A
Gravidade da dor 5,7 (2,07) ausência da correlação entre a localização da dor e as lesões em pa-
Impacto da dor 6,69 (2,22) cientes com DPC já foi observada em outro estudo33. É possível que
Tempo de dor (meses) 79,36 (61,6) os mecanismos de sensibilização periférica e central possam explicar
Incapacidade (zero/10) 4,01 (2,32) parcialmente essa apresentação clínica34. Entretanto, para confirmar
BSQ (zero/10) essa hipótese, é necessário que outros testes sejam realizados, como a
Ansiedade 7,16 (3,36) aplicação do inventário de sensibilização central35. Apesar de um ins-
Estresse 7,04 (3,16) trumento de avaliação clínica para sensibilização central no contexto
Catastrofização 6,0 (6,81) da DPC já ter sido elaborado, sua validação psicométrica e pontos
Isolamento social 4,12 (4,05) de cortes ainda precisam ser estabelecidos36.
Depressão 5,72 (3,96) Os níveis de incapacidade funcional encontrados no estudo podem
Cinesiofobia 3,94 (4,36) ser influenciados por diversos fatores como, por exemplo, preocupa-
BPI = Brief Pain Inventory; BSQ = Brief Screening Questionnaire; DP = desvio padrão ções, medos e possíveis explicações incorretas em relação às causas
da dor pélvica37. A menor escolaridade também apresenta relação
O nível de limitação funcional teve correlação negativa com a inten- inversa com a DPC, sendo que as mulheres com baixa escolarida-
sidade da dor (r=-0,474; p=0,017), com o domínio de gravidade da de relataram ter dor mais intensa, maior sofrimento, preocupação e
dor (r= -0,566; p=0,003) e com a média de cinesiofobia (r=-0,550; maior incapacidade funcional38.
p=0,001). A intensidade da dor apresentou correlação com o domí- Considerando os fatores psicossociais investigados, a ansiedade e o
nio de gravidade da dor do BPI (r=-0,53; p=0,006). Para as demais estresse foram aqueles que apresentaram maiores médias. Estudos
variáveis psicométricas não houve correlação estatisticamente signi- anteriores reportam prevalência elevada de ansiedade em mulhe-
ficativa. Os dados estão dispostos na tabela 3. res com DPC alcançando 63% da amostra de um estudo também
realizado no Brasil39. Em geral, a prevalência elevada de ansiedade
Tabela 3. Correlação entre as variáveis psicológicas, a intensidade de também é acompanhada pela depressão em pessoas com DPC40,41.
dor e a incapacidade Em outro estudo, também realizado no Brasil, 73% das mulheres
Variáveis Limitação funcional Intensidade da dor com DPC apresentaram ansiedade e 40% depressão41. Nos Estados
r (Valor de p) r (Valor de p) Unidos, um estudo incluindo 107 mulheres com DPC identificou
Limitação funcional - -0,474 (0,017) prevalência de 38,6% de ansiedade e 25,7% de depressão42. Esses va-
Intensidade da dor -0,474 (0,017) - lores de prevalência podem ser considerados elevados ao se comparar
Gravidade da dor -0,566 (0,003) 0,812 (<0,001) com a prevalência global em mulheres de ansiedade, que é de 4,6%
Impacto da dor -0,164 (0,433) -0,027 (0,896) (sendo 9,3% no Brasil) e de depressão, que é de 5,1% (sendo 5,8%
Ansiedade 0,101 (0,630) -0,040 (0,848) no Brasil)43. A média para sintomas de depressão observada nos par-
Isolamento social -0,255 (0,220) 0,008 (0,969) ticipantes foi considerada uma das menores em relação às demais
Estresse 0,049 (0,818) 0,137 (0,515) variáveis. Apesar de ter-se utilizado duas perguntas que apresenta-
Catastrofização -0,106 (0,615) 0,010 (0,963) ram validade na comparação ao Beck Depression Inventory (BDI)25,
Depressão -0,132 (0,531) -0,093 (0,657) essa diferença com os achados na literatura pode estar relacionada
Cinesiofobia -0,550 (0,004) 0,458 (0,021) aos diferentes instrumentos utilizados nos demais estudos. O es-
Os valores em negrito correspondem a correlação estatisticamente significativa. tresse foi a segunda maior média observada. Dor e estresse são dois
processos distintos e sobrepostos, apresentando múltiplas sobreposi-
DISCUSSÃO ções conceituais e fisiológicas. Qualquer fator, seja físico, psicossocial
ou emocional capaz de desafiar a homeostase pode ser considerado
Identificou-se que as mulheres com DPC apresentaram níveis mo- como estressor44. Assim, diversos fatores podem ser considerados
derados de intensidade de dor e de limitação funcional. Em relação como agentes estressores, como a ansiedade45, maus-tratos na infân-

242
Intensidade da dor, incapacidade funcional e fatores psicossociais BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):239-44
em mulheres com dor pélvica crônica: um estudo transversal

cia46, abuso sexual e físico47. Os possíveis mecanismos envolvidos REFERÊNCIAS


entre o estresse e a dor crônica já foram descritos na literatura48.
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Apesar de algumas participantes terem relatado história de abuso of Chronic Pain Syndromes and Definitions of Pain Terms - Part I: Topics and Codes
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Entre os fatores psicológicos avaliados, somente a cinesiofobia apre- cPain/Part_II-F.pdf.
sentou correlação com a incapacidade e com a intensidade de dor. 2. Fall M, Baranowski AP, Fowler CJ, Lepinard V, Malone-Lee JG, Messelink EJ, Ober-
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Este achado pode ser explicado pelo modelo medo-evitação49. Este 3. Jarrell JF, Vilos GA, Allaire C, Burgess S, Fortin C, Gerwin R, et al. Consensus
modelo foi desenvolvido para fornecer uma compreensão de como a guidelines for the management of chronic pelvic pain. J Obstet Gynaecol Can.
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percepção exagerada da dor contribui para a manutenção da dor crô- 4. Da Luz RA, de Deus JM, Conde DM. Quality of life and associated factors in Brazi-
nica50. As pessoas que adotam pensamentos e comportamentos mais lian women with chronic pelvic pain. J Pain Res. 2018;11:1367-74.
negativos sobre a sua condição passam a evitar atividades e experiên- 5. Zondervan KT, Yudkin PL, Vessey MP, Dawes MG, Barlow DH, Kennedy SH. Pat-
terns of diagnosis and referral in women consulting for chronic pelvic pain in UK
cias que consideram dolorosas. De modo geral, o comportamento primary care. Br J Obstet Gynaecol. 1999;106(11):1156-61.
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Res Clin Obstet Gynaecol. 2000;14(3):403-14.
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negativos relacionadas à dor e a incapacidade. De fato, numerosos 9. Zondervan KT, Yudkin PL, Vessey MP, Jenkinson CP, Dawes MG, Barlow DH, et al.
Chronic pelvic pain in the community--symptoms, investigations, and diagnoses. Am
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the clinical significance of functional pain syndromes in children. J Pain Res.
crônica51 e aguda52, osteoartrite do quadril e joelho53,54 e disfunção 2015;8:675-86.
do pé e tornozelo55. 11. Sewell M, Churilov L, Mooney S, Ma T, Maher P, Grover SR. Chronic pelvic pain -
Entre as principais limitações deste estudo pode-se destacar o ta- pain catastrophizing, pelvic pain and quality of life. Scand J Pain. 2018;18(3):441-8.
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manho da amostra relativamente pequeno como sendo a principal 2017;15:140-7.
limitação. Apesar de a coleta ter sido realizada em hospitais de re- 13. As-Sanie S, Kim J, Schmidt-Wilcke T, Sundgren PC, Clauw DJ, Napadow V, et al.
Functional connectivity is associated with altered brain chemistry in women with en-
ferência da região metropolitana do Rio de Janeiro, o número de dometriosis-associated chronic pelvic pain. J Pain. 2016;17(1):1-13.
participantes no estudo foi considerado pequeno. É possível que isso 14. Ferreira Gurian MB, Poli Neto OB, Rosa e Silva JC, Nogueira AA, Candido dos
Reis FJ. Reduction of pain sensitivity is associated with the response to treatment in
tenha ocorrido uma vez que muitas mulheres deixam de procurar women with chronic pelvic pain. Pain Med. 2015;16(5):849-54.
os serviços de saúde considerando que as dores na região pélvica são 15. Surah A, Baranidharan PG, Morley S. Chronic pain and depression. Continuing
normais e buscam por atendimento somente quando a dor se tor- Education in Anaesthesia Critical Care & Pain. 2014;14(2):85-9, https://doi.
org/10.1093/bjaceaccp/mkt046.
na mais intensa. Assim, é necessário cautela na generalização dos 16. Sheng J, Liu S, Wang Y, Cui R, Zhang X. The link between depression and chronic
resultados do estudo. Outra limitação é o desenho transversal do pain: neural mechanisms in the brain. Neural Plast. 2017;2017:9724371.
17. de Carvalho ACF, Poli-Neto OB, Crippa JAS, Hallak JEC, Osório FL. Associations
estudo que não permite atribuir causalidade. Ainda é necessário que between chronic pelvic pain and psychiatric disorders and symptoms. Arch Clin
se investigue a influência de outros fatores como sono, a condição Psychiatry. 2015;42(1):25-30.
18. von Elm E, Altman DG, Egger M, Pocock SJ, Gotzsche PC, Vandenbroucke JP, et al.
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Os achados deste estudo podem contribuir para uma visão mais BE) statement: guidelines for reporting observational studies. J Clin Epidemiol.
ampla da DPC, considerando a abordagem terapêutica destes fa- 2008;61(4):344-9.
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O presente estudo identificou que as mulheres com DPC apresen- tastrophization, and fear of movement in people with low back pain. Clin J Pain.
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243
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):239-44 Rocha JN, Castro LE, Riccobene VM,
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244
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):245-8 ARTIGO ORIGINAL

O registro da dor aguda em pacientes hospitalizados


Recording acute pain in hospitalized patients
Amanda Brassaroto Gimenes1, Camila Takáo Lopes2, Alfredo José Alves Rodrigues-Neto3, Marina de Góes Salvetti4

DOI 10.5935/2595-0118.20200178

RESUMO sugerem a necessidade de treinamento contínuo da Equipe da


Enfermagem com ênfase na avaliação e manejo não farmacoló-
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Os enfermeiros têm posição gico da dor.
privilegiada para realizar a avaliação e o manejo da dor e utili- Descritores: Diagnóstico de enfermagem, Dor aguda, Enferma-
zam intervenções farmacológicas e não farmacológicas. O obje- gem, Manejo da dor, Serviços de saúde.
tivo deste estudo foi comparar os registros hospitalares de dor
em pacientes internados com relato álgico em estudo prévio e ABSTRACT
analisar a presença do Diagnóstico de Enfermagem “Dor Aguda”
e as Intervenções e Atividades de Enfermagem prescritas para o BACKGROUND AND OBJECTIVES: Nurses are in a good po-
manejo da dor. sition to carry out pain assessment and management, as well as to
MÉTODOS: Estudo transversal com coleta de dados retrospec- perform pharmacological and non-pharmacological interventions.
tiva. Utilizou-se como critério de seleção da amostra o relato de The aim of this study was to compare hospital pain records in
dor referida em entrevista de estudo anterior. Foram analisados hospitalized patients with pain reports from a previous study and
os prontuários com a finalidade de verificar os registros de inten- to analyze the presence of the “Acute Pain” Nursing Diagnosis and
sidade de dor aguda, presença do Diagnóstico de Enfermagem the Nursing Interventions prescribed for pain management.
“Dor Aguda” e cuidados de enfermagem prescritos para pacien- METHODS: Cross-sectional study with retrospective data col-
tes adultos internados. lection. As a criteria for sample selection, the pain report referred
RESULTADOS: A amostra do presente estudo consistiu em 63 to in a previous study interview was used. The medical records
pacientes adultos, com tempo médio de internação de 12 dias. Ob- were analyzed to verify the registries of acute pain intensity, pre-
servou-se disparidade entre os registros de prontuário e os dados sence of the “Acute Pain” Nursing Diagnosis and nursing inter-
sobre a dor coletados previamente, indicando subnotificação da ventions prescribed for adult hospitalized patients.
dor. O Diagnóstico de Enfermagem “Dor Aguda” foi identificado RESULTS: The sample of the present study consisted of 63 adult
em 60,3% dos casos e as Intervenções e Atividades de Enferma- patients, with a mean hospital stay of 12 days. There was a dispa-
gem foram pautadas no alívio farmacológico da dor (36,5%). rity between medical records and pain data collected previously,
CONCLUSÃO: Os registros de dor no prontuário do hospital indicating pain underreporting. The “Acute Pain” Nursing Diag-
não refletiram os relatos de dor observados em estudo prévio. nosis was identified in 60.3% of cases and Nursing Interventions
Foi verificada a subnotificação da dor e as Intervenções e Ativi- were based on pharmacological pain relief (36.5%).
dades de Enfermagem elencadas pelos enfermeiros privilegiaram CONCLUSION: The information in the hospital’s medical
a avaliação e o tratamento farmacológico da dor. Esses achados records did not reflect the pain reports observed in a previous
study. There was underreporting of pain and the Nursing Inter-
ventions listed by nurses privileged the assessment and pharma-
Amanda Brassaroto Gimenes – https://orcid.org/0000-0002-1515-5844;
Camila Takáo Lopes – https://orcid.org/0000-0002-6243-6497;
cological treatment of pain. These findings suggest the need for
Alfredo José Alves Rodrigues-Neto – https://orcid.org/0000-0002-5376-7075; continuous training of the Nursing Team with an emphasis on
Marina de Góes Salvetti – https://orcid.org/0000-0002-4274-8709. non-pharmacological pain assessment and management.
1. Universidade de São Paulo, Hospital Universitário, Residente de Enfermagem do Pro- Keywords: Acute pain, Health services, Nursing, Nursing diag-
grama de Saúde do Adulto e do Idoso, São Paulo, SP, Brasil. nosis, Pain management.
2. Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Enfermagem, Departamento de
Enfermagem Clínica e Cirúrgica, São Paulo, SP, Brasil.
3. Universidade de São Paulo, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, São Paulo, SP, Brasil. INTRODUÇÃO
4. Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem, Departamento de Enfermagem Médi-
co-Cirúrgica, São Paulo, SP, Brasil.
Durante a hospitalização, a dor afeta diversas funções fisiológicas e me-
Apresentado em 08 de março de 2020. tabólicas1,2, aumenta o risco de complicações e retarda a recuperação
Aceito para publicação em 17 de junho de 2020.
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há. do paciente. Quando subtratada, a dor aguda pode se tornar crônica,
ocasionando ônus financeiro e social para o paciente e a sociedade3.
Endereço para correspondência:
Av. Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 419 - Cerqueira César Os enfermeiros têm posição privilegiada para realizar a avaliação e
05403-000 São Paulo, SP, Brasil. o manejo da dor e utilizam intervenções farmacológicas e não far-
E-mail: amandabrassaroto@hotmail.com
macológicas. Na Classificação dos Diagnósticos de Enfermagem da
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor NANDA-I, “Dor aguda” é definida como: “Experiência sensorial e

245
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):245-8 Gimenes AB, Lopes CT, Rodrigues-Neto AJ e Salvetti MG

emocional desagradável associada a lesão tissular real ou potencial, Os dados do trabalho atual foram coletados de modo retrospecti-
ou descrita em termos de tal lesão (International Association for the vo e transversal, utilizando-se o instrumento elaborado para este
Study of Pain); início súbito ou lento, de intensidade leve a intensa, fim. Obteve-se autorização para acesso aos prontuários físicos
com término antecipado ou previsível e com duração menor que 3 dos 63 pacientes, sendo coletadas informações sociodemográfi-
meses”2. O alívio da dor é um direito do paciente e uma responsa- cas (idade e sexo) e clínicas. As informações sobre a dor foram
bilidade ética do profissional comprometido com a humanização e extraídas dos valores documentados no impresso de sinais vitais e
qualidade da assistência4. dos DE selecionados pelos enfermeiros após análise da SAE nos
A identificação da queixa álgica e das consequências da dor aguda dias referentes à coleta de dados do estudo principal. A média da
para a recuperação do paciente deve ser uma preocupação do enfer- intensidade da dor foi calculada para o período da manhã, tarde e
meiro. As lacunas de conhecimento sobre avaliação e manejo da dor noite, classificando-as em: intensidade leve (1-4) moderada (5-7)
e a falta de sistematização destes cuidados contribuem para a subno- ou intensa (8-10)12.
tificação e tratamento inadequado, apesar das diversas ferramentas Avaliou-se a presença do DE “Dor Aguda” e as IAE de Dor Aguda
de avaliação e manejo disponíveis5-10. propostas para o controle da dor. Foram consideradas condutas coe-
Revisão da literatura que analisou estudos sobre os registros de dor rentes os registros contendo: A DE-IAD relacionadas ao manejo da
pós-operatória no contexto hospitalar mostrou que a qualidade dos dor. Foram consideradas condutas incoerentes de enfermagem os
registros de enfermagem sobre a dor são insuficientes, afetam a to- registros contendo: IAE relacionadas ao controle álgico sem a pre-
mada de decisão clínica e prejudicam a continuidade do cuidado11. sença do DE “Dor Aguda” e ausência de DE e IAE relacionados ao
Este estudo pretendeu explorar os registros de dor no prontuário, a manejo da dor em pacientes com relato de dor.
prática clínica da Equipe de Enfermagem com relação ao manejo da Este estudo foi aprovado pelos Comitês de Ética da Escola de En-
dor realizada pelo enfermeiro. fermagem da Universidade de São Paulo (Parecer: 2.542.888) e do
Assim, os objetivos deste estudo foram comparar os registros hospi- Hospital Universitário da USP (Parecer: 2.611.208).
talares de dor em pacientes internados que apresentaram dor em es-
tudo prévio e analisar a relação entre o Diagnóstico de Enfermagem Análise estatística
Os dados foram tabulados em planilha eletrônica e analisados em
(DE) “Dor Aguda” e as Intervenções e Atividades de Enfermagem
programa estatístico (SPSS 25.0). Realizou-se análise descritiva das
(IAE) prescritas para o manejo da dor.
características da amostra, do registro do DE “Dor Aguda” no pron-
tuário e das IAE prescritas para esse Diagnóstico. Foram compara-
MÉTODOS
dos os resultados da intensidade da dor do estudo principal com as
médias coletadas no estudo atual.
O estudo foi realizado em um Hospital Universitário de grande
porte localizado na região oeste da cidade de São Paulo. O local
RESULTADOS
da pesquisa caracteriza-se por ser uma instituição pública, fornecer
assistência de nível secundário de atenção à saúde e disponibilizar
Os resultados estão apresentados em três etapas: descrição da amos-
atendimento de emergência, cirúrgico, clínico e ambulatorial. tra, análise dos registros sobre dor no prontuário do hospital em
Este estudo é uma ramificação da pesquisa intitulada “Prevalência comparação ao formulário do estudo principal, e por último, análise
de dor e adequação analgésica: estudo diagnóstico”, cujo objetivo foi do DE e IAE dos referidos pacientes.
identificar a prevalência de dor e a adequação analgésica em pacien- A amostra consistiu em 63 pacientes que relataram dor no estudo
tes internados. Os critérios de seleção da amostra (n=134) do refe- principal. Os pacientes apresentavam tempo médio de internação
rido estudo foram: idade acima de 18 anos; internado no Hospital de 11,9 dias (mediana=10 dias, mínimo=1 dia e máximo=57 dias),
Universitário em novembro de 2017, consciente, lúcido e orientado predomínio de sexo feminino (57,1%) e faixa etária entre 18 e 59
no tempo e espaço, que aceitaram participar da pesquisa após aplica- anos (65,1%). Os locais de internação com mais casos de dor foram
ção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Clínica Cirúrgica (36,5%), Clínica Médica (28,5%) e Pronto-So-
A partir do banco de dados da pesquisa principal, extraiu-se uma corro Adulto (15,8%).
amostra (n=63) de pacientes que referiram dor no momento da entre- Os diagnósticos médicos mais frequentes, por especialidade, foram
vista ou nas 24h que antecederam a entrevista do estudo principal, in- clínicos (30,2%), gastrocirúrgicos (19,0%) e ortopédicos (17,5%).
ternados nas unidades de Pronto Socorro Adulto, Unidade de Terapia Entre os pacientes avaliados, 61,9% apresentavam comorbidades
Intensiva Adulto, Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Clínica Obsté- prévias à internação atual e, destes, 25,4% apresentavam três ou
trica ou Hospital Dia. Os participantes do estudo foram avaliados por mais comorbidades.
meio de questionário desenvolvido para o estudo principal, incluindo Nos formulários do estudo principal, em que a intensidade de dor
dados sociodemográficos, clínicos e de tratamento da dor. foi classificada como: intensidade leve (1-4), moderada (5-7) ou in-
A presença, intensidade e impacto da dor nas atividades foram ava- tensa (8-10)12, 76,3% dos pacientes entrevistados relataram dor mo-
liados. A presença de dor foi avaliada no momento da entrevista e derada ou intensa. Nos registros impressos de sinais vitais, não havia
em relação às 24h que antecederam a entrevista. A intensidade da informação sobre dor em 61,9% (n=39) dos casos e apenas 4,8%
dor foi avaliada pela escala visual numérica (EVN)12 e o impacto da (n=3) apresentavam registro de dor moderada ou intensa (Tabela 1),
dor nas atividades diárias foi avaliado de modo dicotômico (sim/ demonstrando a disparidade entre o autorrelato da dor e o registro
não) em relação a diversas atividades. de dor nos prontuários.

246
O registro da dor aguda em pacientes hospitalizados BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):245-8

Tabela 1. Comparação entre a intensidade da dor nos registros em A despeito da presença de dor referida em todos os pacientes da
prontuário e nos relatos de dor do estudo prévio. São Paulo, 2018 amostra, em 23,8% (n=15) dos casos o enfermeiro não registrou
Intensidade da dor Impressos dos Estudo principal o DE “Dor aguda” e nem IAE para dor aguda (Diagnóstico e
sinais vitais
Atividades Incoerentes II), como se observa na figura 2.
n % n %
Sem dor 39 61,9 - - 100,0%

Dor leve (1-4) 21 33,3 14 23,7


Dor moderada (5-7) 2 3,1 22 37,3 80,0%

Dor intensa (8-10) 1 1,7 23 39,0


60,0%
Total 63 100 59* 100
* Houve 4 registros não avaliados no estudo principal devido ausência de dados.
40,0%
63,5%
A comparação entre os registros de dor no impresso de sinais
20,0%
vitais e no formulário de coleta de dados do estudo principal está 23,8%
representada na figura 1. Observa-se na primeira coluna, que, 12,7%
0,0%
dentre os pacientes com registro de ausência de dor no impresso Diagnóstico e Atividades Diagnóstico e Atividades Diagnóstico e Atividades
Coerentes Incoerentes I Incoerentes II
de sinais vitais, 37,1% haviam relatado dor intensa no estudo
principal. De modo semelhante, na coluna “dor moderada” ob- Figura 2. Relação entre diagnósticos e Atividades de Enfermagem
servou-se ausência de conformidade entre os registros, visto que prescritas. São Paulo, 2018.
50% dos pacientes classificados com dor moderada no prontuá-
rio do hospital referiram dor intensa no estudo principal. DISCUSSÃO

Este estudo comparou os registros hospitalares de dor de pacien-


100,0%
tes internados que haviam relatado a presença de dor em estudo
80,0% 37,1% 38,1%
50,0% principal e analisou a coerência entre os registros de dor, o DE
60,0% “Dor Aguda” e a prescrição de IAE para o seu manejo.
34,3%
100,0% Foi verificada discordância entre o relato dos pacientes quanto
40,0% 47,6% à ocorrência e intensidade da dor e os registros realizados pela
50,0%
20,0% Equipe de Enfermagem em prontuário. Ademais, verificou-se
28,6%
0,0%
14,3% que, em 23,8% dos casos, não houve documentação de dor ou
Sem dor Dor leve Dor moderada Dor intensa prescrição de cuidados para manejo da dor pelos enfermeiros.
Impresso de sinais vitais A disparidade entre o registro da dor em prontuário e a presença
Dor intensa Dor moderada Dor leve e intensidade da dor identificadas no estudo principal mostra
Figura 1. As colunas apresentam a comparação intensidade da dor registros incompletos e processos assistenciais fragmentados,
registrada nos prontuários e no formulário do estudo prévio. São Pau- prejudicando a qualidade e segurança da assistência prestada1.
lo, 2018 A Resolução do Conselho Federal de Enfermagem n° 429/2012
dispõe da responsabilidade e dever dos profissionais em realizar
O DE “Dor Aguda” foi registrado em 60,3% (n=38) dos pron- os registros inerentes ao processo de cuidar que subsidia a conti-
tuários analisados, no entanto toda a amostra do estudo relatou nuidade e a qualidade da assistência13.
dor no estudo principal1. Em 33,3% (n=21) dos pacientes que A avaliação da dor como quinto sinal vital foi instituída para
apresentavam o DE “Dor Aguda” não havia registro de dor no que a sua presença fosse identificada de forma contínua, e que
prontuário, podendo considerar que o enfermeiro, ao registrar o se estabelecessem estratégias adequadas para o seu controle8-10,14.
DE “Dor Aguda”, não considerou apenas a presença de registro Além disso, a adoção de padrões internacionais, como o esta-
de intensidade de dor no impresso de sinais vitais, mas também belecido pela Joint Commission International (JCI) em diversas
as outras características definidoras e fatores relacionados encon- instituições de saúde, reconhece o controle da dor como uma
trados na definição do DE2. prática a ser seguida para o processo de acreditação hospitalar5.
As IAE mais frequentemente prescritas foram: alívio da dor com Quanto à presença de registro de dor em prontuário, estudo que
o uso de analgésicos (36,5%); avaliação da dor de forma abran- avaliou pacientes internados em um hospital secundário obser-
gente (19,0%) e monitorização do grau de desconforto ou dor vou ausência do registro de dor em 53,4% dos prontuários ava-
(17,5%), com ênfase clara nas estratégias farmacológicas em de- liados7, número pouco inferior ao observado no presente estudo,
trimento das medidas não farmacológicas de manejo da dor. que encontrou 61,9% dos pacientes com falhas no registro de
Observou-se que em 63,5% (n=40) dos casos o DE “Dor Aguda” dor no prontuário. A falha no registro da dor corrobora os acha-
esteve associado a IAE pertinentes a esse Diagnóstico (Diagnós- dos em literatura que apontam para a falta de conhecimento dos
tico e Atividades coerentes). Já em 12,7% (n=8) dos casos, os profissionais em relação à avaliação e controle álgico8,9,15.
enfermeiros prescreveram IAE sem registrar o DE “Dor Aguda” A despeito de este estudo ter analisado apenas casos de pacientes
(Diagnóstico e Atividades Incoerentes I). com relato de dor, o DE “Dor Aguda” apareceu apenas em 60,3%

247
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):245-8 Gimenes AB, Lopes CT, Rodrigues-Neto AJ e Salvetti MG

destes casos. Este descompasso pode ter ocorrido por falha na avalia- REFERÊNCIAS
ção da dor ou falta de valorização do relato de dor pelos enfermeiros.
1. Castro CC de, Pereira AKS, Bastos BR. Implementação da avaliação da dor como o
A documentação do Processo de Enfermagem no hospital onde foi quinto sinal vital. Rev Enferm UFPE online. 2018;12(11):3009-14.
desenvolvido o estudo é informatizada, realizada por meio de um 2. Herdman TH, Kamitsuru S. Diagnósticos de enfermagem da NANDA-I: definições e
sistema de apoio ao raciocínio clínico denominado “PROCEnf”. classificação 2018-2020, 11ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2018. 889-91p.
3. Ashmawi HA, Freire GM. Peripheral and central sensitization. Rev Dor. 2016;17(Su-
Esse sistema possibilita percorrer o caminho da avaliação ao plano ppl 1):31-4.
de cuidados16, sendo possível propor intervenções relacionadas à dor, 4. Lisboa LV, Lisboa JA, Sá KN. O alívio da dor como forma de legitimação dos direitos
humanos. Rev Dor. 2016;17(1):57-60.
sem necessariamente ter elencado o DE “Dor Aguda”. Assim, mes- 5. Sousa-Muñoz RL, Rocha GE, Garcia BB, Maia AD. Prevalência de dor e adequação
mo que o DE “Dor Aguda” tenha sido identificado em 60,3% dos da terapêutica analgésica em pacientes internados em um hospital universitário. Medi-
cina. 2015;48(6):539-48.
casos, foram prescritos cuidados para a dor em 76,2% dos casos. 6. Song W, Eaton LH, Gordon DB, Hoyle C, Doorenbos AZ. Evaluation of evidence-
O alívio da dor com analgésicos prescritos foi a IAE mais frequente -based nursing pain management practice. Pain Manag Nurs. 2015;16(4):456-63.
na prescrição de cuidados de enfermagem para manejo da dor aguda, 7. Cavalheiro JT, Ferreira GL, Souza MB, Ferreira AM. Intervenção de Enfermagem para
pacientes com dor aguda. Rev Enferm UFPE online. 2019;13(3):632-9.
remetendo às ações analgésicas do modelo biomédico9. Embora esta 8. Valério AF, Fernandes KS, Miranda G, Terra FS. Dificuldades enfrentadas pela enfer-
intervenção seja necessária para manejo da dor, existem IAE pouco magem na aplicabilidade da dor como quinto sinal vital e os menismos/ações adota-
dos: revisão integrativa. BrJP. 2019;2(1):67-71.
exploradas pelos enfermeiros, como massagem, aplicação de calor e 9. Araujo LC, Romero B. Dor: avaliação do 5o sinal vital. Uma reflexão teórica. Rev Dor.
frio, técnicas de relaxamento e imaginação guiada, que podem con- 2015;16(4):291-6.
10. Nascimento LA, Kreling MCGD. Avaliação da dor como quinto sinal vital: opinião
tribuir no manejo da dor e promoção de conforto do paciente8. de profissionais de enfermagem. Acta Paul Enferm. 2011;24(1):50-4.
Este estudo tem limitações, que devem ser apontadas: utilizou-se 11. Heikkilä K, Peltonen LM, Salanterä S. Postoperative pain documentation in a hospital
análise de dados secundários e amostra de conveniência, fatores que setting: a topical review. Scand J Pain. 2016;11:77-89.
12. Calil AM, Pimenta CAM. Intensidade da dor e adequação de analgesia. Rev Latino-
dificultam a generalização dos achados. -Am Enfermagem. 2005;13(5):692-9.
13. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução no 429, de 8 de junho 2012. Dispõe
sobre o registro das ações profissionais no prontuário do paciente, e em outros docu-
CONCLUSÃO mentos próprios da enfermagem, independente do meio de suporte – tradicional ou
eletrônico. Diário Oficila da União, n° 110, jun 2012; 288p.
14. Nascimento LA, Cardoso MG, Oliveira SA, Quina E, Sardinha DS. Manuseio da
Os registros de dor no prontuário do hospital não refletiram os relatos dor: avaliação das práticas utilizadas por profissionais assistenciais de hospital público
de dor observados em estudo prévio. Foi verificada subnotificação da secundário. Rev Dor. 2016;17(2):76-80.
dor, ainda que o DE “Dor Aguda” tenha sido identificado na maior 15. Cruz DALM, Guedes ES, Santos MA, Sousa RMC, Turrini RNT, Maia MM, et al.
Documentação do processo de enfermagem: justificativa e métodos de estudo analíti-
parte dos casos. As IAE elencadas pelos enfermeiros privilegiaram a co. Rev Bras Enferm. 2016;69(1):197-204.
avaliação e o tratamento farmacológico da dor. Esses achados sugerem 16. Peres HHC, Cruz DALM, Lima AFC, Gaidzinski RR, Ortiz DCF, Trindade MM, et
al. Desenvolvimento de Sistema Eletrônico de Documentação Clínica de Enfermagem
a necessidade de treinamento contínuo da Equipe da Enfermagem estruturado em diagnósticos, resultados e intervenções. Rev Esc Enfermagem USP.
com ênfase na avaliação e manejo não farmacológico da dor. 2009;43(2):1149-55.

248
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):249-52 ARTIGO ORIGINAL

Relação entre a anteversão de colo do fêmur e a síndrome da dor


patelofemoral em mulheres jovens não praticantes de atividade física regular
Relationship of anteversion of the femoral neck with patellofemoral pain syndrome in young
women not practicing regular physical activity
Alexandre Otilio Pinto-Junior1, Yuri Rafael dos Santos Franco2, Quiteria Maria Wanderley Rocha3

DOI 10.5935/2595-0118.20200179

RESUMO entanto, observou-se no grupo com dor havia maior perda


funcional.
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A síndrome da dor patelofe- Descritores: Anteversão óssea, Colo do fêmur, Dor, Mau alinha-
moral se manifesta com dor anterior no joelho ou retropatelar, mento ósseo, Síndrome da dor patelofemoral.
relacionada ao aumento do “stress” articular. Os fatores de risco
incluem disfunções musculoesqueléticas que afetem a distribui- ABSTRACT
ção de forças na articulação do joelho, como ocorre na anteversão
femoral. O objetivo deste estudo foi verificar a relação do ângulo BACKGROUND AND OBJECTIVES: Patellofemoral pain
de anteversão femoral com a dor anterior no joelho de mulheres syndrome is an anterior knee pain (or retropatellar), associated
jovens não praticantes de atividade física regular. to knee joint stress. The risk factors include musculoskeletal di-
MÉTODOS: Estudo transversal, caso-controle. A amostra foi sorders that affect the distribution of forces acting on the knee
composta por 100 mulheres divididas nos grupos dor anterior joint, as in the femoral anteversion. The objective of this study
no joelho (G1) e controle (G2) cada um com 50 indivíduos. was to verify the relationship between the femoral anteversion
Os instrumentos aplicados foram: o Anterior Knee Pain Score, a angle and the patellofemoral pain syndrome in young women
escala numérica da dor, e teste de Craig. Os grupos foram com- who do not practice regular physical activity.
parados entre si pelo teste t de Student, adotando-se p<0,05 para METHODS: This is a cross-sectional, case-control study. The
resultados significativos (GraphPad Prism 8). sample includes 100 women (G1, n=50 - anterior knee pain;
RESULTADOS: A média de idade foi de 21,5±3,45 e 20,9±2,85 G2, n=50 – control group). The instruments applied were the
anos para G1 e G2, respectivamente. A intensidade média da Anterior Knee Pain Score, numerical pain scale, and Craig’s test.
dor foi 4,6±1,97 para o G1, não havendo registro de dor no The groups were compared using the Student’s t-test, p<0.05 for
G2 (p=0,0001). A angulação média de anteversão do colo fe- significant results (GraphPad Prism 8).
moral foi de 16,2±4,85 graus no G1 e 15,6±4,87 graus no G2 RESULTS: The mean age was 21.5±3.45 and 20.9±2.85 years old
(p=0,566). Por fim, o escore médio obtido com o Anterior Knee for G1 and G2, respectively. Mean pain intensity was 4.6±1.97
Pain Score foi de 81,4±10,46 e 94,8±5,41 pontos para os grupos for G1, with no pain recorded in G2 (p=0.0001). The mean an-
1 e 2, respectivamente (p=0,0001).  teversion angle of the femoral neck was 16.2±4.85 degrees in
CONCLUSÃO: Não foi encontrada relação entre angulação G1 and 15.6±4.87 degrees in G2 (p= 0.566). The average score
do colo femoral com a presença de dor anterior do joelho, no obtained with the Anterior Knee Pain Score was 81.4±10.46 and
94.8±5.41 points for groups 1 and 2, respectively (p=0.0001).
CONCLUSION: No relationship was found between angulation
Alexandre Otilio Pinto-Junior – https://orcid.org/0000-0002-7074-3390;
of the femoral neck and the presence of anterior knee pain, howe-
Yuri Rafael dos Santos Franco – https://orcid.org/0000-0003-4510-7680; ver, a greater functional loss in the group with pain was observed.
Quiteria Maria Wanderley Rocha – https://orcid.org/0000-0001-7284-3443. Keywords: Bone anteversion, Bone malalignment, Femur neck,
1. Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas, Faculdade de Medicina, Maceió, Pain, Patellofemoral pain syndrome.
AL, Brasil.
2. Universidade Guarulhos, Curso de Fisioterapia, Guarulhos, SP, Brasil.
3. Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas, Departamento de Morfologia, INTRODUÇÃO
Maceió, AL, Brasil.

Apresentado em 28 de março de 2020.


A síndrome da dor patelofemoral (SDPF) é definida como a presen-
Aceito para publicação em 11 de maio de 2020. ça de dor anterior no joelho ou retropatelar, relacionada ao aumento
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Alagoas (FAPEAL).
da pressão de contato (stress) na articulação patelofemoral, sendo
o problema mais comum do joelho de atletas, principalmente nos
Endereço para correspondência: corredores. A etiologia da SDPF não é bem estabelecida, porém, está
Alexandre Otilio Pinto-Júnior
Rua Santa Sofia, 28 – Ponta da Terra relacionada a causas multifatoriais como trauma direto ou quaisquer
57030-634 Maceió, AL, Brasil atividades que possam causar compressão na articulação femoropa-
E-mail: alexandre.otilio@gmail.com
telar, tais quais longos períodos de sentar, agachar, subir e descer
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor escadas, o que dificulta o diagnóstico daqueles que a possuem1-3.

249
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):249-52 Pinto-Junior AO, Franco YR e Rocha QM

A dor anterior do joelho implica tanto no funcionamento físico (IMC) normal (18,5 a 24,9kg/m2), não praticantes de atividade físi-
quanto em aspectos não físicos por gerar problemas psíquico-emo- ca regular. Foram excluídas as que que possuíam histórico de lesões
cionais, que influencia diretamente na saúde mental e nos relaciona- ligamentares, meniscais, artrose femorotibial e outras doenças pré-
mentos sociais, levando à desmotivação na execução das atividades vias no joelho.
de vida diária1. O critério adotado para classificar os participantes como não pra-
A prevalência da SDPF no mundo varia de 15-45%, ocorrendo ticantes de atividade física regular foi o sedentarismo, conceituado
mais comumente em mulheres, com proporção de 2:1, e em adultos pelo American College of Sports Medicine (ACSM) como práticas de
jovens. Além disso, representa 3% de todas as doenças que acome- atividades físicas leves inferior a 150 minutos por semana7.
tem o joelho1,4. Cada participante foi avaliada em um tempo máximo de 30 minu-
São fatores de risco para a SDPF a fraqueza do músculo quadríceps e tos. Inicialmente, foi aplicada a Anterior Knee Pain Scale (AKPS), a
desalinhamentos biomecânicos no ângulo Q, no ângulo tibiofemo- qual corresponde a uma avaliação psicométrica, composta por 13
ral, rotação estática externa do joelho, torção lateral tibial e hiper- perguntas fechadas e relacionadas às atividades do dia a dia; poden-
pronação do pé, os quais afetam a distribuição de forças que atuam do resultar em pontuação mínima de zero pontos e máxima de 100
na articulação do joelho, haja vista que para um funcionamento pontos, sendo que quanto menor a pontuação maior é a deficiência
harmonioso entre as articulações do quadril e do joelho é necessário funcional do joelho8.
que elas estejam com um alinhamento adequado1-3,5. Em seguida, foi mensurada a intensidade da dor, pela escala numé-
A porção proximal do fêmur sofre influência tanto do plano frontal rica de dor (END), na qual zero significa “ausência de dor” e 10 a
como do axial. No plano frontal, se observa o ângulo de inclina- “pior dor que já sentira”, considerou-se valores de 1 a 3 como dor
ção, relatando a coxa vara ou valga. Enquanto no axial é observado leve, de 4 a 6 como dor moderada, e de 7 a 10 como dor intensa9.
o ângulo de anteversão do colo femoral, formado através de uma A medida do ângulo de anteversão do colo femoral foi realizada
angulação sobreposta dos côndilos femorais e centro da cabeça do pelos mesmos dois avaliadores em todos os participantes através
fêmur, com valor de normalidade entre 8° e 15°. A anteversão acon- do teste clínico de Craig. O avaliando foi posicionado em decú-
tece quando o plano bicondilar passa posteriormente ao centro da bito ventral com joelho fletido a 90º. Um dos avaliadores usando
cabeça femoral, formando com este um ângulo superior a 15°; caso um goniômetro estabeleceu o ângulo zero grau; o outro exami-
ocorra o contrário, passando anteriormente ao centro da cabeça fe- nador palpando o grande trocânter realizou a rotação interna de
moral, o ângulo formado com este será inferior a 8°, estabelecendo quadril até que fosse alcançado seu ponto mais lateralizado. O
uma retroversão de colo do fêmur5. avaliador do goniômetro mede quantos graus de rotação hou-
A anteversão femoral pode levar à rotação medial aumentada do ve em relação ao ponto inicial, estando o valor normal entre 8º
membro, resultando em pés desviados para dentro. Por outro lado, e 15º, acima disso tem-se a anteversão de colo do fêmur5,6. Os
se a anteversão for compensada por aumento da rotação lateral da dois examinadores apresentaram similares resultados da medição
tíbia, haverá compensação com ajuste do pé, desalinhando o joelho, diária estabelecida em testes antes da coleta real. Não houve in-
que adotará o padrão valgo. A determinação do valor para essa an- tervenção terapêutica para a presença de dor no joelho ou para a
teversão é fundamental no diagnóstico e planejamento terapêutico anteversão de colo do fêmur.
com ênfase na triagem preventiva de lesões. Uma forma clínica para Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da ins-
essa mensuração se dá através do teste de Craig, também denomina- tituição (CAAE 46333615.9.0000.5011). Todos os participantes
do de teste de proeminência trocantérica, o qual tem acurácia próxi- assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
ma da avaliação tomográfica da angulação, e apresenta as vantagens
de possuir baixo custo e fácil realização. A sua prática clínica é justi- Análise estatística
ficada por gerar valores equivalentes aos exames tridimensionais5,6. A análise estatística foi descritiva, por meio de média±desvio
Estudos atuais validaram a angulação de anteversão femoral utili- padrão. Os grupos foram comparados entre si pelo teste de t de
zando o teste de Craig em comparação com medidas obtidas por Student, adotando-se p<0,05 para diferenças significativas. Os
tomografia computadorizada (TC) em crianças, entretanto, não há cálculos foram realizados através do programa estatístico software
muitos registros do teste na população adulta jovem5. GraphPad Prism 8®.
O objetivo deste estudo foi verificar a existência de relação entre a
angulação de rotação interna do quadril e a intensidade de dor ante- RESULTADOS
rior ou retropatelar, no joelho de mulheres jovens não praticantes de
atividade física regular. A média de idade encontrada foi de 21,5±2,4 e 20,9±2,6 anos,
respectivamente, para o G1 e o G2. A intensidade média da dor,
MÉTODOS mensurada por meio da END foi de 4,58±1,97 e 0±0,0 para o
G1 e o G2, respectivamente, apresentando diferença significati-
Estudo transversal, observacional, caso-controle, realizado em uma va (p=0,0001). A angulação média encontrada para anteversão do
universidade pública estadual de Alagoas. A amostra foi compos- colo femoral foi de 16,2±4,85 graus no G1 e 15,6±4,87 graus no
ta de 100 mulheres universitárias, organizadas em dois grupos: G1 G2, p=0,566. Por fim, o valor médio obtido com o AKPS foi de
(n=50) – com dor anterior no joelho; e o G2 (n=50) – grupo con- 81,4±10,46 e 94,8±5,41 pontos para os grupos 1 e 2, respecti-
trole, sem relato de dor no joelho. Os critérios de inclusão foram: vamente, com p=0,0001 (Figura 1). A caracterização da amostra
sexo feminino, idade entre 18 e 30 anos, índice de massa corporal encontra-se agrupada na tabela 1.

250
Relação entre a anteversão de colo do fêmur e a síndrome da dor BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):249-52
patelofemoral em mulheres jovens não praticantes de atividade física regular

Tabela 1. Caracterização da amostra. Valores expressos em média simples±DP


Variáveis Grupos
G1 (n=50) G2 (n=50) Total (n=100) Valor de p
Idade 21,5±3,45 20,9 (±2,58) 21,2 (±3,05) -
Nível de dor (END) 4,6±1,97 0 2,3 (±2,69) 0,0001*
Ângulo de Anteversão do colo femoral(graus) 16,2±4,85 15,6 (±4,87) 15,9 (±4,84) 0,566
Função (AKPS) 81,4±10,46 95,2 (±5,41) 88,3 (±10,82) 0,0001*
END = escala numérica de dor; AKPS = Anterior Knee Pain Score; G1 = com dor anterior no joelho; G2 – grupo controle; n – número de participantes. *diferença
estatisticamente significante.

acurácia do teste de Craig e concluíram que ele apresentava maior


100 aproximação dos resultados obtidos por TC quando comparado à
Anterior Knee Pain Score (AKPS)

avaliação radiológica, sugerindo que o teste pode ser usado em tria-


80 gem populacional ambulatorial quando se tem indisponibilidade de
tomografia. Tais achados embasaram este estudo a realizar somente a
60 avaliação clínica da angulação femoral, uma vez que não se dispunha
de recursos para uma análise tomográfica.
40 No estudo5 também foi demonstrado que mulheres com antever-
são femoral aumentada tendem a apresentar maior rotação externa
estática do joelho, sendo um fator de risco para a SDPF; enquanto
20
os homens não mostraram essa associação em seus achados. Além
disso, em um outro estudo de coorte10, foi observado que quanto
0
maior o ângulo de rotação interna do quadril durante uma ativi-
G1 (n=50) G2 (n=50)
dade dinâmica, maior o risco de desenvolvimento da SDPF. Ade-
Figura 1. Comparativo de função do joelho
mais, nesse mesmo estudo, também foi relatado que o aumento
AKPS = Anterior Knee Pain Score; G1 = com dor anterior no joelho; G2 = grupo da rotação interna do quadril em relação à tíbia e do valgo do
controle; n = número de participantes.  joelho estavam diretamente relacionados ao aumento do “stress” na
articulação femoropatelar. Não foi verificada, portanto, em con-
traposição ao presente estudo, a relação entre a anteversão do colo
DISCUSSÃO femoral e o surgimento de dor anterior no joelho em mulheres
jovens sedentárias (p=0,566).
Os estudos que fazem a relação da dor no joelho e a musculatura A amostra foi homogeneizada limitando a idade e ao sexo feminino.
do quadril tem aumentado. Este estudo apresenta de forma pionei- O fator idade é de fundamental importância, pois em pessoas jo-
ra a relação da dor e a angulação transversal do colo femoral. Os vens, como é o caso dos participantes deste estudo, a força muscular
desfechos dor, função e angulação de anteversão do colo femoral é maior com menor perda de fibras, diferentemente de indivíduos
foram avaliados e não foi identificada diferença entre as angulações de idade mais avançada, nos quais diminui o número de fibras pelo
de pessoas com dor anterior no joelho e aquelas que não tem essas processo fisiológico do envelhecimento12. Estudo13 verificou que as
angulações (p=0,566). mulheres que demonstraram maior aparecimento de lesão no joe-
A força muscular depende de dois fatores primordiais, o compri- lho, quando comparadas aos homens, tendiam a ter maior angula-
mento-tensão e a área de secção transversa do músculo. A hipótese ção de anteversão femoral que eles.
inicial deste estudo era que com um fêmur mais antevertido o com- Os desfechos dor e função, considerados secundários, obtiveram di-
primento-tensão dos músculos rotadores laterais do quadril seria ferenças (p=0,0001 para ambos). Justifica-se a dor por um grupo
maior, o que levaria a uma desvantagem mecânica para esse mús- (G1) tê-la, com média de 4,6 pontos na END, e o outro grupo
culo, que por consequência induziria a um favorecimento ao valgo (G2) não ter dor alguma. Nesse sentido, esperava-se uma diferença
dinâmico, fator lesivo para a articulação patelofemoral. Esse fator clinicamente notória para casos de dor anterior no joelho. Quanto
se sustentaria na angulação média das mulheres com dor (G1), que à função, percebeu-se o valor no grupo dor caracterizado com um
está muito próxima ao valor limítrofe dado como normal, que é de score de desordem na articulação patelofemoral. A relação dor e fun-
até 15º. Além disso, estudos biomecânicos demonstraram que uma ção diminuída pode ser aferida, pois é possível observar que o grupo
anteversão femoral acentuada está associada a maiores movimentos com dor (G1) obteve menor score de função do joelho, denotando
de valgo dinâmico, o que incide em maior risco de SDPF5,6,10,11. maior limitação funcional dessa articulação14.
Estudo5 utilizou medidas de TC para validar o teste de Craig, e Considerou-se como ponto forte deste estudo o encobrimento dos
verificou que a angulação do colo femoral avaliada por esse teste avaliadores, os quais apresentavam prática clínica para aplicar o teste
pode consistir na verdadeira angulação de anteversão parcialmen- de forma efetiva. O fator limitante foi a amostra escolhida por con-
te, pois outros fatores podem influenciar no seu valor, apesar de o veniência, sem cálculo amostral, impossibilitando o resultado de ser
teste possuir importante significado clínico. Autores6 investigaram a projetado para uma população mundial.

251
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):249-52 Pinto-Junior AO, Franco YR e Rocha QM

CONCLUSÃO 3. Arrebola LS, Carvalho RT, Lima VCO, Percivale KAN, Oliveira VGC, Pinfildi CE.
Influence of body mass index on patellofemoral pain. Fisioter Mov. 2020;33:e003309.
4. Franco BAFM, Sadigursky D, Daltro GC. Caracterização por estudo anatomorradio-
Não se identificou influência da angulação do colo femoral no surgi- gráfico da posição patelar em pacientes portadores de síndrome femoropatelar. Rev
Bras Ortop. 2018;53(4):410-14.
mento de dor anterior no joelho de mulheres jovens não praticantes de 5. Uota S, Morikita I, Shimokochi Y. Validity and clinical significance of a clinical method
atividade física regular, entretanto, foi possível perceber que a funcio- to measure femoral anteversion. J Sports Med Phys Fitness. 2019;59(11):1908-14.
nalidade da articulação femoropatelar ficou prejudicada, bem como 6. Patro BP, Behera S, Das SS, Das G, Patra SK, Prabhat V. Estimation of femoral neck
anteversion in adults: a comparison between clinical method, radiography, and compu-
o nível de dor é maior proporcionalmente à angulação de anteversão. ted tomography at a tertiary-care center in Eastern India. Cureus. 2019;11(4):e4469.
7. Romancini JLH, Guariglia D, Nardo Jr N, Herold P, Pimentel GGA, Pupulin ART.
Níveis de atividade física e alterações metabólicas em pessoas vivendo com HIV/
AGRADECIMENTOS AIDS. Rev Bras Med Esporte. 2012;18(6):356-60.
8. Fukuda TY, Melo WP, Zaffalon BM, Rossetto FM, Magalhães E, Bryk FF, et al. Hip
posterolateral musculature strengthening in sedentary women with patellofemoral
Agradecimentos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de pain syndrome: a randomized controlled clinical trial with 1-year follow-up. J Orthop
Alagoas (FAPEAL), pelo financiamento ao presente estudo; e à Uni- Sports Phys Ther. 2012;42(10):823-30.
versidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL) 9. dos-Santos GK, Silva NC, Alfieri FM. Effects of cold versus hot compress on pain in
university students with primary dysmenorrhea. BrJP. 2020;3(1):25-8.
pelo local de realização da pesquisa. 10. Uota S, Nguyen AD, Aminaka N, Shimokochi Y. Relationship of knee motions with
static leg alignments and hip motions in frontal and transverse planes during double-
-leg landing in healthy athletes. J Sport Rehabil. 2017;26(5):396-405.
REFERÊNCIAS 11. Kujawa M, Goerlitz A, Rutherford D, Kernozek TW. Patellofemoral joint stress du-
ring running with added load in females. Int J Sports Med. 2020;41(6):412-8.
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quality of life among runners in under-resourced communities in Ekurhuleni, Gau- copenia among community-dwelling elderly of a medium-sized south American city:
teng, South Africa. S Afr J Sports Med. 2018;30(1):1-6. results of the COMO VAI? study. J Cachexia Sarcopenia Muscle. 2016;7(2):136-43.
2. Lima KMM, Flôr JS, Barbosa RI, Marcolino AM, Almeida MG, Silva DC, et al. Ef- 13. Nguyen AD, Shultz SJ, Schmitz RJ. Landing biomechanics in participants with diffe-
fects of a 12-week hip abduction exercise program on the electromyographic activity rent static lower extremity alignment profiles. J Athl Train. 2015;50(5):498-507.
of hip and knee muscles of women with patellofemoral pain: a pilot study. Motriz. 14. Kujala UM, Jaakkola LH, Koskinen SK, Taimela S, Hurme M, Nelimarkka O, et al.
2020;26(1):e10190103. Scoring of patellofemoral disorders. Arthroscopy. 1993;9(2):159-63.

252
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):253-7 ARTIGO ORIGINAL

Adaptação transcultural e evidência de validade de conteúdo da versão


brasileira da Nociception Coma Scale-revised
Cross-cultural adaptation and content validity evidence of the Brazilian version of the
Nociception Coma Scale-revised
Mariana Bucci Sanches1,2, Cristiane Vias França Silva2, Yasmin Mohamed Ali1, Marcio Matsumoto3, João Valverde Filho3, Marina
de Góes Salvetti1

DOI 10.5935/2595-0118.20200180

RESUMO ABSTRACT

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Em pacientes com desordens BACKGROUND AND OBJECTIVES: There are communi-
de consciência e distúrbios cognitivos há barreiras de comunica- cation barriers to assess pain in patients with consciousness and
ção para a avaliação da dor. O objetivo deste estudo foi realizar a cognitive disorders. This study aimed to make the cross-cultural
adaptação transcultural da Nociception Coma Scale-revised (NCS- adaptation of the Nociception Coma Scale-Revised (NCS-R) to
-R) para a língua portuguesa e verificar as evidências de validade the Portuguese language and check the validation evidence of the
de conteúdo da versão brasileira da NCS-R em pacientes não co- content of the NCR-R Brazilian version in non-communicative
municativos com desordens de consciência e distúrbios cognitivos. patients with consciousness and cognitive disorders.
MÉTODOS: Estudo metodológico para adaptação transcultural METHODS: This is a methodological study to check the cros-
da NCS-R dividido em duas etapas: adaptação transcultural e s-cultural adaptation of the NCR-R, divided into two stages:
verificação da validade de conteúdo. A fase de adaptação trans- cross-cultural adaptation and check of the content validity. The
cultural incluiu a tradução inicial, síntese das traduções, retrotra- cross-cultural adaptation phase included an initial translation,
dução, comitê de especialista e debriefing cognitivo baseado em synthesis of translations, back-translation, expert committee,
Beaton e Price. A versão traduzida e adaptada foi avaliada por and cognitive debriefing based on Beaton and Price. A second
um segundo comitê de especialistas para a avaliação do índice de expert committee evaluated the translated and adapted version
validade de conteúdo. to check the content validity index.
RESULTADOS: A NCS-R foi traduzida, adaptada do ponto de RESULTS: The NCS-R was translated and cross-culturally adap-
vista transcultural e apresentou boa evidência de validade de con- ted, presenting good evidence of content validity with a Content
teúdo com Índice de Validade de Conteúdo de 0,86. Validity Index of 0.86.
CONCLUSÃO: A NCS-R encontra-se traduzida e adaptada do CONCLUSION: The NCS-R is translated and transculturally
ponto de vista transcultural, e possui boa evidência de validade adapted and has good evidence of content validity.
de conteúdo. Keywords: Consciousness disorders, Pain, Psychometrics, Nur-
Descritores: Avaliação em enfermagem, Dor, Estudos de valida- sing assessment, Validation studies.
ção, Psicometria, Transtornos da consciência.
INTRODUÇÃO

A dor é definida como uma experiência sensorial e emocional aversi-


Mariana Bucci Sanches – https://orcid.org/0000-0003-3474-7375;
Cristiane Vias França Silva – https://orcid.org/0000-0002-8312-8514;
va, normalmente causada por uma lesão tecidual real ou potencial e
Yasmin Mohamed Ali – https://orcid.org/0000-0001-9254-8062; cada indivíduo aprende a utilizar esse termo por meio de suas expe-
Marcio Matsumoto – https://orcid.org/0000-0003-4425-4902; riências anteriores. Além de gerar estresse físico e emocional signifi-
João Valverde Filho – https://orcid.org/0000-0002-5214-2831;
Marina de Góes Salvetti – https://orcid.org/0000-0002-4274-8709. cativo para os pacientes e seus cuidadores, a dor é razão de impacto
negativo econômico e social1.
1. Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem, São Paulo, SP, Brasil.
2. Hospital Sírio-Libanês, Enfermagem Especializada, Serviço de Tratamento da Dor, São Nesse sentido, o autorrelato é considerado o padrão-ouro para a rea-
Paulo, SP, Brasil. lização da avaliação da dor. Porém, em pacientes não comunicativos
3. Hospital Sírio-Libanês, Departamento de Anestesiologia, Serviço de Tratamento da Dor,
São Paulo, SP, Brasil.
como, por exemplo, pacientes sedados, pacientes sob ventilação me-
cânica, e com lesões neurológicas graves são necessários instrumen-
Apresentado em 24 de abril de 2020. tos observacionais para a identificação do sintoma2.
Aceito para publicação em 29 de maio de 2020.
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há. Em pacientes portadores de lesões neurológicas graves, com de-
sordens de consciência, o termo mais utilizado é avaliação da no-
Endereço para correspondência:
Rua Afonso de Freitas, 320 – Paraíso cicepção, que é definida como processo neural de codificação e
04006-051 São Paulo, SP, Brasil. processamento do estímulo nocivo3,4, que é mediado por conexões
E-mail: maribsanches@hotmail.com    mariana.sanches@hsl.org.br
laterais e mediais cerebrais com distinção entre as áreas envolvidas na
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor percepção da dor versus o sofrimento relacionado à consciência da

253
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):253-7 Sanches MB, Silva CV, Ali YM,
Matsumoto M, Valverde Filho J e Salvetti MG

percepção da dor em questão5,6. Ela está relacionada à dimensão sen- Pela relevância para a pesquisa e prática clínica, são necessários es-
sitiva-discriminativa de ativação do sistema lateral da dor, incluindo tudos sobre a utilização da NCS-R. Nesse sentido, acredita-se que
porções laterais do tálamo, córtex somatossensitivo primário (S1) e a tradução, adaptação transcultural e a verificação das evidências
secundário (S2), opérculo parietal e ínsula7,8. de validade de conteúdo da NCS-R para o contexto nacional pos-
Em relação ao sistema medial da dor, as conexões descendentes sam trazer subsídios para a tomada de decisão clínica na população
do córtex cingulado anterior, região medial do núcleo talâmico e em questão.
substância cinzenta periaquedutal, atuam na modulação da resposta O objetivo deste estudo foi realizar a adaptação transcultural e ve-
ao estímulo nocivo. O giro do cíngulo, amígdala, hipocampo, hi- rificar as evidências da validade de conteúdo da versão brasileira da
potálamo, locus coeruleus, córtex orbitofrontal, e córtex pré-frontal NCS-R.
estão envolvidos no comportamento afetivo relacionados à dor7. A
interconectividade entre a substância cinzenta periaquedutal e cór- MÉTODOS
tex orbitofrontal está associada às respostas cognitivas e emocionais
na presença de dor7. Trata-se de um estudo metodológico para a adaptação da NCS-R. A
Dessa forma, a integração de diversas áreas do cérebro, a partir de autorização para a realização do processo de adaptação transcultural
um estímulo nocivo, caracteriza a dor, segundo Melzack, como foi concedida pela autora Caroline Schnakers, via correio eletrônico.
uma resposta cognitivo-avaliativa, afetivo-motivacional e sensiti- O estudo ocorreu entre fevereiro e agosto de 2019.
vo-discriminativa9. E, apesar de até o presente momento, a maioria A adaptação transcultural foi baseada nos estudos11,12, e sua realiza-
das evidências apontar o papel fundamental da interação tálamo- ção consistiu nas fases: tradução, síntese das traduções, retrotradu-
-cortical que caracteriza a dor como uma experiência consciente, ção, comitê de especialistas e envio da versão adaptada à autora da
existem questionamentos em relação aos pacientes com desordens escala e debriefing cognitivo.
de consciência7,9. Assim como em estudos anteriores para a adaptação transcultural da
Em estudo com utilização de imagens de tomografia computadori- NCS-R, optou-se pela não realização do pré-teste, mas pelo debrie-
zada por emissão de pósitrons (PETCT) investigaram-se respostas fing cognitivo11-13.
do processamento da dor em pacientes com Unresponsive Wakefulness A fase da tradução foi realizada por duas tradutoras convidadas para
Syndrome (UWS) e indivíduos saudáveis, demonstrando aumento participar por meio de correio eletrônico, e, uma vez aceito o convi-
no fluxo sanguíneo nas regiões de mesencéfalo, tálamo contralateral te, o instrumento foi enviado por e-mail.
e que pacientes em estado vegetativo, provavelmente, não sentem o A tradutora (T1) é brasileira, profissional de saúde com proficiência
estímulo doloroso de maneira integrada e consciente7,8. na língua inglesa, com experiência na temática do estudo, o que per-
Em contrapartida, estudos menores e mais recentes demonstraram mitiu uma versão tradução T1 com maior semelhança científica a do
resultados diferentes com a ativação de S1, S2, córtex cingulado an- instrumento. A tradutora (T2) é professora de inglês, sem formação
terior e insula, áreas relacionadas às características da dimensão afeti- na área de saúde e produziu a versão tradução T2.
va da dor, denotando que, apesar de alterada, pode haver presença de A síntese das traduções foi realizada por um tradutor brasileiro, pro-
percepção da dor em alguns pacientes em estado vegetativo, mesmo fessor de inglês sem formação na área de saúde, e posteriormente en-
quando comparados a pacientes em estado mínimo de consciência7. viada às tradutoras T1 e T2. Ao final dessa etapa, obteve-se a versão
Outro ponto de discussão importante é que, pela complexidade e síntese T1-T2.
flutuações clínicas, um número considerável de pacientes diagnosti- A retrotradução foi realizada por dois tradutores americanos, pro-
cados como estado vegetativo, na realidade se encontravam em esta- fessores de inglês e proficientes na língua portuguesa do Brasil e que
do mínimo de consciência, enfatizando a importância de utilização produziram as versões BT1 e BT2.
de instrumentos apropriados para a avaliação e tratamento adequa- Para a avaliação das equivalências semântica, idiomática, conceitual
do da dor em pacientes com desordens de consciência9. e experimental foi criado um comitê de especialistas, seguindo os
O primeiro instrumento para a avaliação da nocicepção em pa- critérios de conhecimento do processo de adaptação transcultural,
cientes com desordens de consciência foi desenvolvido e denomi- domínio dos idiomas inglês e português e conhecimentos relaciona-
nado Nociception Coma Scale (NCS)3. A NCS foi desenvolvida dos ao tema em questão11.
a partir de observações que sugerem comportamentos dolorosos Foram enviadas 15 cartas-convite para a participação no comitê, via
com quatro itens: resposta motora, verbal, visual e expressão facial, correio eletrônico, sendo que o aceite foi formalizado por meio da
e com pontuação em que zero significa ausência de resposta frente assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
ao estímulo nociceptivo e 12 pontos, máxima resposta frente ao por cinco participantes.
estímulo nociceptivo3. O comitê de especialistas foi constituído por um psicometrista, um
Em estudo posterior, utilizando a NCS em 64 pacientes, demons- neurologista, uma das tradutoras (T1), um anestesiologista especia-
traram-se escores mais elevados frente a estímulos nociceptivos nos lista em dor e uma enfermeira especialista em terapia intensiva11. A
itens resposta verbal, resposta motora e expressão facial, sugerindo partir do aceite, foram enviados um formulário de instruções para
bons resultados em termos de sensibilidade. Contudo, o item res- a avaliação do instrumento e uma planilha com a versão original,
posta visual não apresentou diferença. Frente a esses resultados, os versões traduzidas (T1e T2), a síntese (T12) e as duas retrotraduções
autores propuseram a Nociception Coma Scale Revised (NCS-R) com (BT1 e BT2).
pontuação de zero a 9, contudo ainda não existe consenso sobre o A versão produzida nessa fase foi analisada pelas pesquisadoras de
ponto de corte10. acordo com os critérios de concordância entre os especialistas, e suas

254
Adaptação transcultural e evidência de validade de conteúdo BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):253-7
da versão brasileira da Nociception Coma Scale-revised

sugestões fornecidas para os itens julgados como questionáveis ou A coleta dos dados foi iniciada após a aprovação deste projeto pelo
inadequados. A versão resultante do comitê de especialistas foi sub- Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE: 05557018.9.0000.5461).
metida à avaliação da autora da escala, via correio eletrônico.
Após o envio, um segundo comitê de especialistas foi criado para a RESULTADOS
avaliação da validade de conteúdo. Foram enviadas 25 cartas-convite
via correio eletrônico, destinadas a profissionais, seguindo os crité- A escala apresenta somente três itens, que são similares às ques-
rios de conhecimentos sobre o tema em questão e conhecimentos tões comportamentais descritas em outros parâmetros da avalia-
sobre os processos de adaptação transcultural e avaliação de evidên- ção neurológica.
cias de validade de conteúdo. As versões das três primeiras etapas do processo de adaptação da
O aceite para a participação no comitê também foi formalizado por NCS-R: versão Br estão dispostas na tabela 1.
meio da assinatura do TCLE. O comitê foi composto por três dou- A análise das duas traduções foi feita por um terceiro tradutor, e ob-
tores, um médico e dois enfermeiros, dois mestres enfermeiros e dois servou-se que a versão da tradutora T1, de maneira geral, foi a mais
especialistas enfermeiros. Após o aceite, a pesquisadora enviou, via adequada. Entre os ajustes realizados foi sugerido no item “Respos-
correio eletrônico, um formulário com as instruções para preenchi- ta motora” subitem Retirada em flexão; no item “Resposta verbal”
mento das avaliações e uma planilha contendo a versão original e a subitem Reflexo oral/resposta de susto, sendo esses itens pontuados
versão pré-final da NCS-R para a língua portuguesa do Brasil. como questionáveis também pelo comitê de especialistas.
Para o debriefing cognitivo, foram convidados quatro profissionais As traduções foram submetidas à análise pela autora da escala, Dra.
de saúde, sendo três enfermeiros e uma técnica de enfermagem, que Schnakers, que discordou da retrotradução do subitem “Reflexo oral/
receberam treinamento com duração de 1h para a aplicação da ver- resposta de susto” e concedeu o Manual de Aplicação da NCS-R su-
são pré-final em 24 pacientes com desordens de consciência12,14,15. gerindo a consulta para adequação do termo. A partir dessa sugestão,
Foi utilizada estatística descritiva para análise dos dados para a ca- foi revista, pela pesquisadora e pela orientadora, a síntese da tradução
racterização dos sujeitos. Valores superiores a 0,78 do Índice de e das retrotraduções, e o subitem foi alterado para “Reflexo oral/mo-
Validade de Conteúdo (IVC) foram considerados aceitáveis para a vimentos orais involuntários”, sendo novamente submetida à autora e
concordância nos itens clareza, pertinência e relevância entre os es- aprovada e, posteriormente, avaliada por um novo comitê de especia-
pecialistas, sendo opções de resposta: não claro, pouco claro, claro e listas. Os resultados apresentados a seguir estão relacionados à avalia-
muito claro16. ção de equivalência e validade de conteúdo (Tabelas 2 e 3).
Foi solicitada a autorização ao Instituto de Ensino e Pesquisa do Hos- Ao ser verificado o índice de concordância pelos especialistas, em
pital Sírio-Libanês para a realização do estudo e, em seguida, o projeto relação às equivalências, percebeu-se que o instrumento possuía va-
foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da referida instituição. lores de IVC próximos a 1, isto é, apresentou resultados satisfatórios

Tabela 1. Descrição das versões produzidas na tradução, síntese e retrotradução da NCS-R. São Paulo, 2019
Tradução T1 Tradução T2 Sugestão - Síntese T-12 Retrotradução BT1 Retrotradução BT2
Título

Escala de nocicepção no Escala de nocicepção no Escala de nocicepção no Nociception Coma Scale Nociception Coma Scale
coma - revisada coma - revisada coma - revisada - Revised - Revised
Resposta motora Resposta motora Resposta motora Motor response Motor response
3: Localiza estímulo do- 3: Localização para estí- 3: Localização do estímu- 3: Localization for painful 3: Localization for painful
loroso mulo doloroso lo doloroso stimulus stimulus
itens

2: Retirada do estímulo 2: Retirada de flexão 2: Retirada em flexão 2: Move by flexion 2: Withdrawal of flexion
doloroso
1: Postura anormal 1: Pose anormal 1: Postura anormal 1: Abnormal posture 1: Abnormal posture
0: Nenhuma/relaxada  0: Nenhuma/flácida  0: Nenhuma/flácida  0: None/flaccid 0: None/flaccid
Resposta verbal Resposta verbal Resposta verbal Verbal response Verbal Response
3: Verbalização (com- 3: Verbalização (inteligível) 3: Verbalização (inteligível) 3: Verbalization (intelligible) 3: Verbalization (intelligible)
preende)
itens

2: Emite sons (não espe- 2: Vocalização 2: Emite sons  2: Emits sounds  2: Emits sounds
cífico)
1: Gemido 1: Gemidos 1: Gemidos 1: Groans 1: Moans
0: Nenhuma 0: Nenhuma 0: Nenhuma 0: None 0: None
Expressão facial Expressão facial Expressão facial Facial expression Facial expression
3: Choro 3: Choro 3: Choro 3: Crying 3: Cry
2: Careta/franzir de testa 2: Careta 2: Careta 2: Grimace 2: Grimace
itens

1: Espanto/susto 1: Reflexivo oral/resposta 1: Reflexo oral/resposta 1: Oral reflex/fright res- 1: Oral reflex/fright res-
de susto de susto ponse ponse
0: Nenhuma 0: Nenhuma 0: Nenhuma 0: None 0: None

255
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):253-7 Sanches MB, Silva CV, Ali YM,
Matsumoto M, Valverde Filho J e Salvetti MG

Tabela 2. Resultado da avaliação de equivalências pelo comitê de de acordo com os critérios e valores aceitáveis como referência. O
especialistas. São Paulo, 2019 debriefing cognitivo foi realizado por três enfermeiros e uma técnica
Total de concordância* de enfermagem que receberam treinamento com duração de 1h para
a aplicação da versão pré-final em 24 pacientes. Não foi identificada

Experimental
Conceitual
Semântica

Idiomática
nenhuma necessidade de ajuste da versão produzida (Tabela 4).
Itens

Tabela 4. Versão pré-final da Nociception Coma Scale-Revised (Br),


São Paulo, 2019.
1 Escala de nocicepção no coma - 1,00 1,00 1,00 1,00 Respostas motoras
revisada (Br)
Localização do estímulo doloroso (=3)
2 Resposta motora 1,00 1,00 1,00 1,00
Retirada em flexão (=2)
3 Localização do estímulo doloro- 1,00 1,00 1,00 1,00
so (=3) Postura anormal (=1)
4 Retirada em flexão (=2) 1,00 1,00 1,00 1,00 Nenhuma/flácida (=0)
5 Postura anormal (=1) 1,00 1,00 1,00 1,00 Resposta verbal
6 Nenhuma/flácida (=0) 1,00 1,00 1,00 1,00 Verbalização (compreensível) (=3)
7 Resposta verbal 1,00 1,00 1,00 1,00 Vocalização (=2)
8 Verbalização (compreensível) (=3) 1,00 1,00 1,00 1,00 Gemidos (=1)
9 Vocalização (=2) 1,00 1,00 1,00 1,00
Nenhuma (=0)
10 Gemidos (=1) 1,00 1,00 1,00 1,00
Expressão facial
11 Nenhuma (=0) 1,00 1,00 1,00 1,00
Choro (=3)
12 Expressão facial 1,00 1,00 1,00 1,00
Careta (=2)
13 Choro (=3) 1,00 1,00 1,00 1,00
Reflexo oral/ movimentos orais involuntários (=1)
14 Careta (=2) 1,00 1,00 1,00 1,00
15 Reflexo oral/movimentos orais 0,86 0,86 0,86 0,86 Nenhuma (=0)
involuntários (=1)
16 Nenhuma (=0) 1,00 1,00 1,00 1,00
DISCUSSÃO
* IVC = Índice de Validade de Conteúdo.

A dor é uma experiência subjetiva e o autorrelato do paciente é con-


Tabela 3. Resultados do índice de validade de conteúdo pelo comitê siderado padrão-ouro para a avaliação da dor. Contudo, em ambien-
de especialistas. São Paulo, 2019
te de cuidados de pacientes críticos, a avaliação da dor é um desafio,
Total de
pois muitas vezes eles estão impossibilitados de se comunicar3,15.
concordância*
Ao longo das últimas décadas, muitos esforços foram feitos para o
Pertinência

Relevância

desenvolvimento de instrumentos específicos e sensíveis que facili-


Clareza
Itens

tassem a identificação da dor em pacientes não comunicativos, visto


que o manejo da dor pode melhorar os desfechos desses pacientes3.
Em estágios agudos ou crônicos de pacientes com lesões cerebrais
1 Escala de nocicepção no coma - revi- 1,00 1,00 1,00
sada (Br) graves há situações que podem induzir a dor, principalmente duran-
2 Resposta motora 1,00 1,00 1,00
te a realização do cuidado e mobilização6,7.
Estudo que utilizou neuroimagem, os autores sugeriram que há pre-
3 Localização do estímulo doloroso (=3) 1,00 1,00 1,00
servação da capacidade de percepção da dor em pacientes em estados
4 Retirada em flexão (=2) 1,00 1,00 1,00
de consciência mínima, e em alguns pacientes em estado vegetativo,
5 Postura anormal (=1) 1,00 1,00 1,00
reforçando a necessidade da avaliação e manejo da dor5.
6 Nenhuma/flácida (=0) 1,00 1,00 1,00
Na presente pesquisa, o processo de adaptação transcultural da
7 Resposta verbal 1,00 1,00 1,00 NCS-R seguiu todas as etapas recomendadas por Beaton11, ex-
8 Verbalização (compreensível) (=3) 1,00 1,00 1,00 ceto o pré-teste, contudo utilizou-se o debriefing cognitivo, se-
9 Vocalização (=2) 1,00 1,00 1,00 gundo Price12. Em outro estudo de adaptação transcultural da
10 Gemidos (=1) 1,00 1,00 1,00 NCS-R, o pré-teste não foi realizado por considerar que os ter-
11 Nenhuma (=0) 1,00 1,00 1,00 mos utilizados nos itens eram bem difundidos na prática clínica
12 Expressão facial 1,00 1,00 1,00 junto a essa população17. A avaliação da validade de conteúdo da
13 Choro (=3) 1,00 1,00 1,00 NCS-R indicou valores satisfatórios para todos os itens e opções
14 Careta (=2) 1,00 1,00 1,00 de resposta16.
15 Reflexo oral/ movimentos orais involun- 0,86 0,86 0,86 Vale ressaltar que a opção de resposta reflexo oral/movimentos in-
tários (=1) voluntários apresentou escore acima do desejável, mas foi o menor
16 Nenhuma (=0) 1,00 1,00 1,00 índice de concordância, indicando alguma fragilidade nesta opção
*IVC= Índice de Validade de Conteúdo. de resposta.

256
Adaptação transcultural e evidência de validade de conteúdo BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):253-7
da versão brasileira da Nociception Coma Scale-revised

Este resultado pode ser explicado pela correspondência mais direta 3. Schnakers C, Chatelle C, Vanhaudenhuyse A, Majerus S, Ledoux D, Boly M, et al.
The Nociception Coma Scale: a new tool to assess nociception in disorders of cons-
entre o item expressão facial e a opção de resposta careta, em com- ciousness. Pain. 2010;148(2):215-9.
paração com o reflexo oral/movimentos involuntários, que pode ser 4. Apkarian AV, Bushnell MC, Rolf-Detlef T, Jon-Kar Z. Human brain mechanisms of
pain perception and regulation in health and disease. Eur J Pain. 2005;9(4):463-84.
considerada uma descrição inespecífica17. Outros autores desenvol- 5. IASP Taxonomy Working Group. Classification of chronic pain (Revised) [internet].
veram estudos em pacientes com desordens de consciência e descre- 2nd ed. Washington, DC: IASP Publications; 2011 [2018 mar 11]. Available from:
veram a careta como o aspecto mais característico da expressão facial https://s3.amazonaws.com/rdcms-iasp/files/production/public/Content/ContentFol-
ders/Publications2/ClassificationofChronicPain/Part_III-PainTerms.pdf
de dor15,17,18. 6. Schnakers C, Zasler N. Assessment and management of pain in patients with disorders
A compreensão da essência do construto e da finalidade de um ins- of consciousness. PM R. 2015;7(11 Suppl):S270-7.
7. Laureys S, Faymonville ME, Peigneux P, Damas P, Lambermont B, Del Fiore G, et al.
trumento observacional de dor são necessárias, uma vez que o escore Cortical processing of noxious somatosensory stimuli in the persistent vegetative state.
indica a presença ou ausência de um comportamento doloroso, su- Neuroimage. 2002;17(2):732-41.
8. Wade DT. How often is the diagnosis of the permanent vegetative state incorrect? A
gerindo que esse instrumento deverá ser avaliado do ponto de vista review of the evidence. Eur J Neurol. 2018;25(4):619-25.
clinimétrico15,19. 9. Schnakers C, Chatelle C, Majerus S, Gosseries O, De Val M, Laureys S. Assessment
Como ponto forte deste estudo destaca-se a disponibilização de um and detection of pain in noncommunicative severely brain-injured patients. Expert
Rev Neurother. 2010;10(11):1725-31
instrumento que reúne evidências de validade de conteúdo para ava- 10. Chatelle C, Majerus S, Whyte J, Laureys S, Schnakers C. A sensitive scale to assess
liar a dor em uma população na qual a dor é sub-identificada e, logo, nociceptive pain in patients with disorders of consciousness. J Neurol Neurosurg
Psychiatry. 2012; 83(12):1233-7.
não manuseada. 11. Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of
Compreende-se como limitação do estudo a ausência da realização cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine. 2000;25(24):3186-91.
do pré-teste. 12. Price VE, Klaassen RJ, Bolton-Maggs PH, Grainger JD, Curtis C, Wakefield C, et al.
Measuring disease-specific quality of life in rare populations: a practical approach to
cross-cultural translation. Health Qual Life Outcomes. 2009;7:92.
CONCLUSÃO 13. Epstein J, Santo RM, Guillemin F. A review of guidelines for cross-cultural adaptation of
questionnaires could not bring out a consensus. J Clin Epidemiol. 2015;68(4):435-41.
14. Costello AB, Osborne JW. Best practices in exploratory factor analysis: Four re-
Foi possível adaptar a NCS-R para a língua portuguesa do Brasil. Os commendations for getting the most from your analysis. Pract Assess Res Eval.
2005;10(7):1-9.
testes realizados indicaram que a NCS-R apresentou evidências de 15. Vink P, Lucas C, Maaskant JM, van Erp WS, Lindeboom R, Vermeulen H. Clinime-
validade de conteúdo adequadas. Novos estudos devem ser realiza- tric properties of the Nociception Coma Scale (-Revised): A systematic review. Eur J
dos para confirmar estes achados e ampliar a avaliação das evidências Pain. 2017;21(9):1463-74.
16. Alexandre NMC, Coluci MZO. Validade de conteúdo nos processos de construção e
de validade desta versão da escala. adaptação de instrumentos de medidas. Ciênc Saúde Coletiva. 2011;16(7):3061-8.
17. Chatelle C, Laureys S, Demertzi A. Pain and nociception in disorders of conscious-
ness. In: Garcia-Larrea L, Jackson PL, editors. Pain and the conscious brain. Philadel-
REFERÊNCIAS phia: Wolters Kluwer Health; 2016. 139-54p.
18. Bernard C, Delmas V, Duflos C, Molinari N, Garnier O, Chalard K, et al. Assessing
1. Aydede M. Does the IASP definition of pain need updating? Pain Rep. 2019;4(5):e777. pain in critically ill brain-injured patients: a psychometric comparison of 3 pain scales
2. Kawagoe CK, Matuoka JY, Salvetti MG. Instrumentos de avaliação da dor em pa- and videopupillometry. Pain. 2019;160(11):2535-43.
cientes críticos com dificuldade de comunicação verbal: revisão de escopo. Rev Dor. 19. Fava GA, Tomba E, Sonino N. Clinimetrics: the science of clinical measurements. Int
2017;18(2):161-5. J Clin Pract. 2012;66(1):11-5.

257
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):258-62 ARTIGO DE REVISÃO

Influência do método Pilates na qualidade de vida e dor de indivíduos


com fibromialgia: revisão integrativa
Influence of the Pilates method on quality of life and pain of individuals with fibromyalgia:
integrative review
Bruna Lira Brasil Cordeiro1, Igor Henriques Fortunato1, Fabiano Ferreira Lima1, Rinaldo Silvino Santos1, Manoel da Cunha Costa1,
Aline Freitas Brito1

DOI 10.5935/2595-0118.20200049

RESUMO ABSTRACT

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A síndrome de fibromialgia BACKGROUND AND OBJECTIVES: Fibromyalgia syndrome


está ligada a um processo de dor e perda da qualidade de vida, o is linked to a process of pain and loss of quality of life. The Pila-
método Pilates pode ser uma forma de exercício físico que atenua tes Method can be a form of physical exercise that alleviates pain.
as dores. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi investigar se in- Thus, the aim of this study was to investigate whether interven-
tervenções com o método Pilates pode propiciar melhoras na dor tions with the Pilates method can provide improvements in pain
e qualidade de vida de pessoas com síndrome da fibromialgia. and quality of life for people with fibromyalgia syndrome.
CONTEÚDO: Trata-se uma revisão integrativa nas bases de da- CONTENTS: A database integrative review, searching for origi-
dos, com busca por artigos originais publicados até novembro nal articles published until November 2019. This review reports
de 2019. Buscou-se relatar os principais resultados para dor e the main results for pain and quality of life for people with fi-
qualidade de vida das pessoas com síndrome da fibromialgia que bromyalgia syndrome who participated in Pilates interventions,
participaram de intervenções com Pilates, a prescrição do méto- as well as the method’s prescription, the variables and the instru-
do, as variáveis e os instrumentos utilizados nas intervenções para ments used in the interventions to better understand the phy-
melhor compreensão do profissional de educação física que ve- sical education professional who will intervene with the Pilates
nha a intervir com o método Pilates em pessoas com síndrome da method in people with fibromyalgia syndrome. Following the
fibromialgia. Seguindo os critérios de inclusão, 5 estudos foram inclusion criteria, 5 studies were selected. The results found im-
selecionados. Os resultados encontrados apontaram melhoras na proved quality of life and decreased pain.
qualidade de vida e diminuição da dor. CONCLUSION: It was found that the Pilates method may be an
CONCLUSÃO:  Observou-se que o método Pilates  pode ser interesting intervention for individuals with fibromyalgia syndro-
uma intervenção interessante para indivíduos com síndrome de me, because of its safety and therapeutic effects on the adversities
fibromialgia pela sua segurança e efeitos terapêuticos nas adver- of fibromyalgia already within 4 weeks of training. Still, it’s impor-
sidades da fibromialgia já com 4 semanas de treinamento. Ainda tant to highlight the importance of continuing training to obtain
assim, é importante destacar a importância da continuidade do its beneficial effects on pain and quality of life of individuals.
treinamento para obtenção dos seus efeitos benéficos para dor e Keywords: Exercise movement techniques, Fibromyalgia, Training.
qualidade de vida dos indivíduos.
Descritores: Fibromialgia, Técnicas de movimento do exercício, INTRODUÇÃO
Treinamento de Pilates.
A síndrome da fibromialgia (SFM) é o segundo distúrbio reuma-
tológico mais comum no mundo, e está presente em 0,7 a 5% da
Bruna Lira Brasil Cordeiro – https://orcid.org/0000-0003-4061-5993; população geral1. No Brasil, a fibromialgia (FM) é a segunda doen-
Igor Henriques Fortunato – https://orcid.org/0000-0001-7124-2371;
Fabiano Ferreira Lima – https://orcid.org/0000-0003-1841-5098; ça reumatológica mais frequente, acometendo 2,5% da população,
Rinaldo Silvino Santos – https://orcid.org/0000-0002-5752-5129; sendo a maioria do sexo feminino com idade média entre 35 e 55
Manoel da Cunha Costa – https://orcid.org/0000-0001-8815-8846;
Aline Freitas Brito – https://orcid.org/0000-0002-7088-4935. anos2. A FM é uma síndrome reumatológica caracterizada por um
quadro de dor musculoesquelética difusa e crônica, que se associa a
1. Universidade de Pernambuco, Escola Superior de Educação Física, Programa Associado de
Pós-Graduação em Educação Física, Recife, PE, Brasil.
outros sintomas como fadiga, distúrbios do sono, rigidez matinal,
distúrbios cognitivos, cefaleia crônica, síndrome do intestino irritá-
Apresentado em 04 de janeiro de 2020. vel, queixas vagas de sensação de edema, além de alguns distúrbios
Aceito para publicação em 01 de junho de 2020.
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há. psicológicos como ansiedade e depressão1.
Embora não seja caracterizada pela mortalidade, a SFM gera um
Endereço para correspondência:
Rua Arnóbio de Marques, 310 – Bairro Santo Amaro grande impacto na capacidade funcional em todas as esferas da vida,
50110-130 Recife, PE, Brasil. como trabalho, lazer e relacionamento familiar, agravando aspectos
E-mail: igorhf13@hotmail.com
psicológicos e influenciando na qualidade de vida (QV) dos indiví-
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor duos por ela afetados3.

258
Influência do método Pilates na qualidade de vida e dor BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):258-62
de indivíduos com fibromialgia: revisão integrativa

Ainda de etiologia desconhecida, a SFM é conhecida como uma sín- da consciência corporal, do condicionamento físico, da postura, do
drome de dor crônica, real, causada pela sensibilização do sistema ner- tônus muscular, da mobilidade articular, circulação sanguínea, além
voso central à dor através de um processamento desordenado dos im- de integrar corpo e mente, podendo ser realizado por pessoas de to-
pulsos nociceptivos4, como os neurotransmissores serotonina (5HT) das as idades, e com disciplina os seus praticantes podem encontrar
e a substância P, que sofrem alterações em suas rotas e implicam dire- um resultado rápido e eficaz na melhora da QV16,17.
tamente na amplificação da percepção de dor, na qualidade do sono, Nesta perspectiva, apesar de se perceber os benefícios do MP em
no humor e em tantos outros sintomas que são relacionados a SFM5. condições diversas, pouco se sabe de forma concisa sobre os benefí-
Ainda assim, a FM pode ser confundida facilmente com distúrbios de cios do MP em pessoas com SFM. Sendo assim, o presente estudo
humor e de ansiedade, o que pode levar a diagnósticos incorretos5. O teve como objetivo investigar, se o MP pode propiciar melhoras na
diagnóstico proposto em 1990 pelo Colégio Americano de Reumato- QV e na dor de pessoas com SFM. Além disso, buscou-se relatar a
logia (ACR)6 se dava pela sensibilidade dolorosa em 11 dos 18 pontos- prescrição, as variáveis e os instrumentos utilizados nas intervenções
-gatilho (PG) localizados pelo corpo, associada a dor generalizada por para melhor compreensão do profissional que venha a intervir com
um período maior que três meses. Após duas décadas o ACR reconsi- o MP em pessoas com SFM.
derou o diagnóstico por PG e passou a indicar o diagnóstico por meio
de questionários e pontuação, que levam em consideração os outros CONTEÚDO
sintomas clínicos da SFM, como fadiga e problemas de cognição1.
O tratamento pode ser farmacológico ou não farmacológico, com o Para o presente estudo foi realizada uma revisão integrativa, que con-
intuito de atenuar as dores e os sintomas gerais relacionados à SFM7. siste na busca sistemática, ordenada e abrangente, que leva a uma
No contexto não farmacológico, a prática de exercícios físicos tem síntese completa de estudos, para um desenvolvimento do pensa-
sido recomendada como uma forma de tratamento eficaz na melho- mento crítico do assunto investigado e a sua prática.
ra da dor, da função física e do bem-estar geral8,9. Para isso, o exercí- A pesquisa foi realizada nas seguintes bases de dados: Pubmed, Scie-
cio aeróbio10, o treinamento de força11 ou a combinação de ambos1,12 lo e BVS. Para busca dos artigos foram utilizados os seguintes ter-
são sugeridos como intervenções mais efetivas para a redução da dor, mos, associados com os descritores e booleanos: “exercise movement
melhora da QV e diminuição dos sintomas de depressão. techniques” OR “Pilates” OR “Pilates based exercises” OR “Pilates
Nesta perspectiva, a prática desses métodos de exercícios físicos pa- training” AND “Fibromyalgia”. Esses descritores deveriam constar
rece ajudar os pacientes com SFM pela liberação de hormônios rela- pelo menos no título, no resumo ou nas palavras-chaves.
cionados com a sensação de prazer, modulação da dor e melhora da Como critérios de inclusão foram selecionados estudos com inter-
função física, como a endorfina e a serotonina, proporcionando ao venção clínica ou quase-experimentais, nos idiomas inglês e portu-
paciente uma sensação de bem-estar e autocontrole para enfrentar as guês, com artigos publicados até novembro de 2019. Nos estudos,
atividades de vida diária4,9. as intervenções deveriam ser com o MP, com avaliação nos períodos
No entanto, alguns pesquisadores4,12 acreditam que a aderência ao pré e pós-intervenção da dor e/ou da QV. Foram excluídos os es-
condicionamento e exercício físico pelos portadores da SFM ainda tudos de revisão, provenientes de trabalho de conclusão de curso,
são baixos, fato este relacionado com o “medo da dor induzida por dissertações e teses.
um exercício físico inapropriado”12. Nesse sentido, sugere-se que o Após a busca pelos termos e o retorno dos estudos, foi feita uma
entendimento da instrução de exercícios físicos de baixo impacto leitura dos títulos e resumos, para avaliar a adequação quanto aos
possibilite maior adesão dessa população à sua prática. critérios de elegibilidade. Dos estudos que entraram nos critérios,
Sendo assim, apesar das recomendações para a prática de exercícios os textos foram lidos por completo, e deles foi realizada a coleta dos
físicos serem para exercícios aeróbios e de força, outros métodos de dados (Figura 1).
treinamento têm sido propostos para pacientes com SFM, a exem-
plo do método Pilates (MP)13, visando a melhora dos sintomas rela-
cionados à SFM. Em pacientes com doenças crônicas não transmis- Resultados da busca
síveis, o MP foi capaz de aumentar a tolerância ao exercício físico, Pubmed (n=9) BVS (n=25) Scielo (n=1)
atenuar os sintomas das doenças e prover a QV dos pacientes14. Em
pacientes com dor crônica na lombar, o MP reduziu os níveis de Artigos excluídos:
dor15. Em estudo piloto conduzido com pacientes com SFM, o MP Repetidos (n=10)
Revisão (n=8)
atenuou os níveis de dor e isso parece ter sido relacionado com a
menor dor muscular tardia, o baixo impacto e a menor produção de Estudos com potencial de inclusão (n=16)
fadiga periférica induzida pelo treinamento14.
O MP é caracterizado pela filosofia do equilíbrio entre o corpo e a Estudos excluídos
mente e tem como princípios a concentração, a respiração, o fluxo, pelo título e resumo:
o controle, a precisão e a centralização13. O MP se divide em exercí- Intervenção
incompatível: (n=8)
cios livres, realizados no solo com o uso de colchonetes, na posição Amostra incompatível: (n=3)
deitado, sentado ou em pé, ou com os mesmos exercícios sendo rea-
lizados em aparelhos que utilizam molas para maior assistência ou Estudos incluídos (n=5)
oferecer resistência ao movimento13. Dentre os benefícios do MP, se
destacam: a melhora da coordenação, da flexibilidade, do equilíbrio, Figura 1. Fluxograma da busca dos estudos

259
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):258-62 Cordeiro BL, Fortunato IH, Lima FF,
Santos RS, Costa MC e Brito AF

Tabela 1. Relação dos artigos resultantes do levantamento bibliográfico


Autores Amostra Variáveis Método de Prescrições de treinamento Resultados
investigadas avaliação
Kumpel 20 M do GP e 20 do GC Qualidade de vida, EAV Protocolo: PS ↑ Qualidade de vida
et al.21 (54±5,1 anos) dor e qualidade do FIQ Duração: 8 semanas ↑ Qualidade do sono
sono PSQS Frequência: 2x/sem ↓ Dor
Sessão: 60 min
Altan et 49 M do GP Qualidade de vida EAV GP GP
al.30 (48,2±6,5 anos) Dor FIQ Protocolo: PS ↑ Qualidade de vida
e 24 do GC Duração: 12 semanas ↓ Dor
(50,0±8.4 anos) Frequência: 3x/sem
Sessão: 60 min
GC
Protocolo: exercícios de alongamento/re-
laxamento
Duração: 12 semanas
Frequência: 3x/sem
Sessão: 60 min
Ekici et 36 M do GP e 15 Qualidade de vida EAV GP GP
al.22 do GC Dor FIQ Duração: 4 semanas ↑ Qualidade de vida
(37,13±6,37 anos) Pontos de dor NHP Frequência: 3x/sem ↓ Dor
21 do GC Ansiedade STAI Sessão: 60 min. ↓ Ansiedade
(36,86±7,73 anos) AL: 10 min GC
MP: 40 min ↑ Qualidade de vida
RL: 10 min ↓ Dor
GC
Massagem no tecido conjuntivo (MTC)
Duração:4 semanas
Frequência: 3x/sem
Sessão: 5 – 20 min.
Komatsu 20 M do GP e 13 do GC Qualidade de vida, EAV GP GP
et al.23 (47,85±9,82 anos) dor, ansiedade e FIQ Duração: 8 semanas ↑ Qualidade de vida
GC 7 M depressão BAI Frequência: 2x/sem ↓ Dor
(53,29±12,27anos) BDI Sessão: 60 min. ↓ Ansiedade
GC ↓ Depressão
Permaneceu com tratamento prévio, inter-
venções e terapias inalteradas.
Cury e 1 M (63 anos) Qualidade de vida EAV Exercícios de PS e PAP GP
Vieira24 Dor FIQ Sessão: 60 min ↑ Qualidade de vida
Flexibilidade Flexiteste Frequência: 2x/sem ↑ Flexibilidade
adaptado Duração: 4 semanas ↓ Dor
Protocolo de treino
AQ: 5 min
PS: 25 min.
PAP: 25 min
RL: 5 min.
M = mulher; GP = grupo Pilates; GC = grupo controle; GF = grupo de flexibilidade; AQ = aquecimento; AL = alongamento; MP = Método Pilates; PS = Pilates solo;
PAP = Pilates com aparelhos; RL = relaxamento; EAV = escala analógica visual; NHP = Nottingham Health Profile; PSQS = Pittsburg Sleep Quality Score; FIQ =
Fibromyalgia Impact Questionnaire; STAI = State-Trait Anxiety Inventory; BAI = Beck Anxiety Inventory; BDI = Beck Depression Inventory.

A busca desta pesquisa retornou 35 artigos, contudo, após a seleção Com base nos novos critérios de diagnóstico, autores19 demonstra-
pelos critérios de elegibilidade, 5 artigos foram incluídos, sendo dois ram prevalência de 2:1 em relação a mulheres e os homens para o
estudos-piloto, um estudo de caso e dois ensaios clínicos. acometimento da FM. Todavia, a superior prevalência de mulheres
Na tabela 1 estão descritos os artigos incluídos e os seus principais para a FM pode conter vieses pelo fato de maior dificuldade dos
dados relacionados às amostras, variáveis avaliadas, métodos de ava- homens de relatarem dor no processo de diagnóstico20.
liação, prescrição das intervenções e os seus principais resultados. Em relação a faixa de idade, a média foi de 35 a 65 anos, o que se
assemelha com a amostra populacional do estudo20, com média de
DISCUSSÃO idade de 59,7±13,5 anos.
Com relação às variáveis investigadas, todos os estudos buscaram
A amostra encontrada nos estudos foi exclusivamente de mulhe- avaliar dor e QV, no entanto, alguns estudos se ativeram a investigar
res, fato este que corrobora com os achados na literatura18, os quais outras variáveis que também estão relacionadas a déficits na SFM. No
mostram que a FM acomete seis vezes mais as mulheres do que os estudo21 foi avaliada a qualidade do sono, em outros dois estudos22,23
homens. Isso pode ser justificado pela facilidade do diagnóstico nas os pesquisadores buscaram avaliar a ansiedade e, no estudo24, a flexibi-
mulheres, por relatarem com maior facilidade a sensação de dor em lidade. Apesar destas variáveis serem diferentes do desfecho primário
comparação aos homens, através dos critérios do ACR de 1990. desta revisão, todas se relacionam fortemente com a QV25-27.

260
Influência do método Pilates na qualidade de vida e dor BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):258-62
de indivíduos com fibromialgia: revisão integrativa

Para avaliação da dor, todos os artigos utilizaram a EAV, que consiste de aquecimento, 40 minutos de exercício de Pilates e 10 minutos de
em uma linha reta de 10cm, na qual zero corresponde a nenhuma resfriamento. O nível da atividade foi aumentando gradativamente
dor e 10 à dor extremamente intensa. Durante a avaliação o pa- de 5 para 10 repetições de acordo com o progresso do grupo. O GC
ciente foi instruído a apontar o nível de dor em que se encontrava. recebeu intervenção de massagem no tecido conjuntivo (MTC) de 5
Um estudo que buscou verificar o efeito do treinamento resistido na a 20 minutos em cada sessão, dependendo da área tratada.
redução da dor de mulheres com FM constatou que a EAV foi o ins- No relato de caso24 a paciente avaliada realizou o MP no solo e em
trumento mais utilizado pelos artigos de sua revisão, destacando-a aparelhos, seu protocolo de treinamento foi dividido em 5 minutos
como um instrumento confiável, simples de aplicar e de baixo custo. de aquecimento, 25 minutos de Pilates de solo, 25 minutos de Pi-
Para avaliação da QV, todos os artigos utilizaram o Fibromyalgia lates em aparelhos e 5 minutos de relaxamento, 2 vezes na semana
Impact Questionnaire (FIQ), instrumento este específico para a durante 4 semanas.
população com SFM, mensurando a influência da doença sobre
as atividades de vida diária. São 19 questões que englobam os Influência do Pilates na dor
assuntos de situação profissional, sintomas físicos, fadiga, rigidez Como resultado para variável de dor, todos os estudos apresenta-
matinal, dor, qualidade do sono, capacidade funcional, distúrbios ram melhora no quadro de dor. Dois estudos já verificaram estas
psicológicos, ansiedade, depressão e bem-estar em geral. Segundo melhoras logo após 4 semanas de intervenção, mostrando um efeito
o estudo29, é o método mais utilizado para avaliar estudos de FM, de curto prazo na diminuição da dor dos indivíduos que interviram
por ser validado e confiável. No entanto, outros estudos22,30, além com o MP. Ainda assim, é valido relatar a importância da conti-
do FIQ, utilizaram o Nottingham Health Profile (NHP), que con- nuidade desta prática. Após 12 semanas sem intervenção30 a dor já
siste em um questionário de saúde subjetiva e autoaplicável, com estava voltando aos níveis relatados no início da pesquisa, concor-
seis variáveis: energia, dor, reações emocionais, sono, isolamento dando com outro estudo32, que verificou melhora na dor após um
social e mobilidade física totalizando 38 itens que são somados protocolo de 16 semanas de atividade física aquática em mulheres
para obter uma pontuação total de NHP, que resulta na percep- com FM, porém, após 16 semanas sem treinamento, verificou que
ção de QV do indivíduo. Em um estudo31 realizado para avaliar essas variáveis foram reduzidas.
sua confiabilidade após acidente vascular encefálico, o NHP foi Em outro estudo33, os pesquisadores buscaram avaliar a eficácia do
considerado confiável, simples e de boa consistência entre os seus MP na redução da dor crônica associada à escoliose não estrutural,
domínios, podendo o NHP ser uma alternativa para avaliação da como resultado, houve diminuição da dor em 66%. O mesmo foi
QV em condições adversas de saúde. verificado com o uso do MP no tratamento da dor lombar, pelo
Além dessas variáveis já citadas, um estudo21 avaliou o sono através qual, através do fortalecimento das musculaturas pélvicas e centrais
do Pittsburg Sleep Quality Score (PSQS), que é um questionário com do corpo, houve melhora no quadro de dor34. Neste sentido, parece
19 itens, divididos em sete categorias: qualidade subjetiva do sono, que o MP é uma intervenção eficaz na melhora da dor nos seus
latência do sono, duração do sono, eficiência habitual do sono, uso diferentes âmbitos, podendo ele ser uma alternativa adequada para
de fármacos para o sono e disfunção diurna. Em outros dois estu- os acometidos pela SFM, fato observado nos estudos encontrados.
dos22,23, avaliou-se a ansiedade através do State-Trait Anxiety Inven- O fato da melhora na dor pode ter sido influenciado pelos efeitos fi-
tory (STAI) e do Beck Anxiety Inventory (BAI). O estudo23 avaliou a siológicos da prática de exercícios físicos na liberação de hormônios
depressão através do Beck Depression Inventory (BDI) e o estudo24 o como a endorfina e a serotonina, que atuam como moduladores de
nível de flexibilidade através do Flexiteste. receptores opioides, fazendo regulação hormonal da sensação de dor12.
Para os métodos de intervenção, a duração dos protocolos encontra-
dos variou de 4 a 12 semanas, sendo dois estudos22,24 com 4 sema- Influência do Pilates na qualidade de vida
nas, dois21,23 com 8 semanas e só um com 12 semanas30. A frequên- Os resultados encontrados em todos os estudos desta revisão obser-
cia semanal dos treinos foi de duas21,23,24 e três22,30 vezes por semana, varam melhoras relacionadas à QV possibilitadas pelo MP. Um dos
com duração média para cada sessão de 60 minutos. estudos incluídos23 observou redução de 14% na pontuação da FIQ,
Para prescrição, dois dos estudos21,30 desta revisão utilizaram o MP destacando-se efeitos positivos nos domínios da ansiedade, depres-
de solo, executando exercícios livres, com o uso de bolas e de fai- são e da dor.
xas elásticas. No estudo30 o protocolo se dividiu em 9 módulos: No entanto, houve um achado interessante em outro estudo30, que
educação postural, educação respiratória, busca da posição neutra, colocou o GC para realizar atividades de alongamento e não obser-
exercícios sentados, exercícios antálgicos, exercícios de melhora da vou diminuição do domínio da dor, fato que contraria o estudo25,
propriocepção e exercícios de alongamento. No grupo controle30 foi o qual observou melhora no quadro da dor com treinos de alonga-
solicitada a realização de exercícios de alongamento e relaxamento mento com as mesmas 12 semanas de intervenção.
em casa com um protocolo de exercícios que já era utilizado pelos Para as outras variáveis, como a ansiedade e a depressão, que foram
pesquisadores em pacientes portadores de SFM. analisadas e que se relacionam com a QV, destaca-se que exercícios
Já em dois estudos22,23 não foi possível identificar a modalidade do procurando associar mente-corpo, por exemplo, tai chi, yoga e o
MP utilizada, já que os autores não a descreveram nos artigos. No Pilates, trabalham não só o corpo físico, mas abrangem caracterís-
entanto, um desses estudos22 dividiu os seus voluntários em 2 gru- ticas psicossociais, emocionais, espirituais e comportamentais do
pos, grupo Pilates (GP) e grupo controle (GC). Ambos os grupos re- indivíduo, podendo ser especialmente benéficos para pessoas com
ceberam intervenções 3 vezes na semana durante 4 semanas. O GP FM9. Essa afirmação abraça os resultados encontrados nos artigos
realizou o protocolo de Pilates, o qual foi dividido em 10 minutos analisados no presente estudo, os quais demonstraram melhora nas

261
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):258-62 Cordeiro BL, Fortunato IH, Lima FF,
Santos RS, Costa MC e Brito AF

variáveis de depressão e ansiedade22,23. Alguns pesquisadores30 afir- American College of Rheumatology 1990 Criteria for the Classification of Fibromyalgia.
Report of the Multicenter Criteria Committee. Arthritis Rheum. 1990;33(2):160-72.
maram que as técnicas de Pilates foram desenvolvidas para treinar 7. Chinn S, Caldwell W, Gritsenko K. Fibromyalgia pathogenesis and treatment options upda-
o corpo visando uma mente forte, possibilitando um total controle te. Curr Pain Headache Rep. 2016;20(4):25.
8. Sosa-Reina MD, Nunez-Nagy S, Gallego-Izquierdo T, Pecos-Martín D, Monserrat J, Álvare-
sobre o corpo. Em outro estudo22, os autores verificaram que a dor e z-Mon M. Effectiveness of therapeutic exercise in fibromyalgia syndrome: a systematic review
a ansiedade também foram correlatas. and meta-analysis of randomized clinical trials. Biomed Res Int. 2017;2017:2356346.
Na qualidade do sono, houve forte correlação entre a qualidade e 9. Busch AJ, Webber SC, Brachaniec M, Bidonde J, Bello-Haas VD, Danyliw AD, et al. Exer-
cise therapy for fibromyalgia. Curr Pain Headache Rep. 2011;15(5):358-67.
os resultados do questionário de impacto da FM, ou seja, quan- 10. Bidonde J, Busch AJ, Schachter CL, Overend TJ, Kim SY, Góes SM, et al. Aerobic exercise
to menor o impacto da FM no indivíduo, melhor a qualidade do training for adults with fibromyalgia. Cochrane Database Syst Rev. 2017;(6):CD012700.
11. Busch AJ, Webber SC, Richards RS, Bidonde J, Schachter CL, Schafer LA, et al. Resistance
sono21. Segundo alguns pesquisadores35, a prática do MP apenas por exercise training for fibromyalgia. Cochrane Database Syst Rev. 2013;(12):CD010884.
4 semanas, 3 vezes por semana, já são suficientes para a melhora 12. Jones KD, Adams D, Winters-Stone K, Burckhardt CS. A comprehensive review of 46 exer-
cise treatment studies in fibromyalgia (1988-2005). Health Qual Life Outcomes. 2006;4:67.
na qualidade do sono. Em outro estudo36, que avaliou o efeito do 13. Wells C, Kolt GS, Bialocerkowski A. Defining Pilates exercise: a systematic review. Comple-
Pilates na qualidade do sono de mulheres idosas, verificou que após ment Ther Med. 2012;20(4):253-62.
12 semanas de prática houve melhoras significativas na qualidade 14. Miranda S, Marques A. Pilates in noncommunicable diseases: s systematic review of its effects
Complement Ther Med. 2018;39:114-30.
do sono, assim como na ansiedade, depressão e fadiga. Todos esses 15. Wells C, Kolt GS, Marshall P, Hill B, Bialocerkowski A. The effectiveness of Pilates exercise
sintomas estão relacionados com a FM, o que corrobora a ideia de in people with chronic low back pain: a systematic review. PLoS One. 2014;9(7):e100402.
16. Bullo V, Bergamin M, Gobbo S, Sieverdes JC, Zaccaria M, Neunhaeuserer D, et al. The
que a prática do MP a longo prazo pode ser de grande aplicabilidade effects of Pilates exercise training on physical fitness and wellbeing in the elderly: a systematic
no tratamento da SFM. review for future exercise prescription. Prev Med. 2015;75:1-11.
17. Wasser JG, Vasilopoulos T, Zdziarski LA, Vincent HK. Exercise benefits for chronic low back
pain in overweight and obese individuals. PM R. 2017;9(2):181-92.
Limitações 18. McNally JD, Matheson DA, Bakowsky VS. The epidemiology of self-reported fibromyalgia
A presente revisão apresentou algumas limitações. A primeira é o in Canada. Chronic Dis Can. 2006;27(1):9-16.
19. Vincent A, Lahr BD, Wolfe F, Clauw DJ, Whipple MO, Oh TH, et al. Prevalence of fibrom-
número limitado de estudos que interviram com o MP em pacien- yalgia: a population-based study in Olmsted County, Minnesota, utilizing the Rochester Epi-
tes com SFM, como também a qualidade dos estudos encontrados. demiology Project. Arthritis Care Res. 2013;65(5):786-92.
20. Wolfe F, Walitt B, Perrot S, Rasker JJ, Häuser W. Fibromyalgia diagnosis and biased assess-
Tudo isso pode refletir a dificuldade de exequibilidade de intervenções ment: sex, prevalence and bias. PLoS One. 2018;13(9):e0203755.
nessa população. Além disso, o pequeno tamanho amostral das pes- 21. Kümpel C, Aguiar SD, Carvalho JP, Teles DA, Porto EF. Benefício do método Pilates em
mulheres com fibromialgia. ConScientiae Saúde. 2016;15(3):440-7.
quisas pode dificultar a extrapolação dos resultados encontrados nas 22. Ekici G, Unal E, Akbayrak T, Vardar-Yagli N, Yakut Y, Karabulut E. Effects of active/passive
pesquisas desta revisão para toda a população com SFM. Ademais, a interventions on pain, anxiety, and quality of life in women with fibromyalgia: randomized
ausência da metodologia da prescrição do MP nos estudos dificulta a controlled pilot trial. Women Health. 2017;57(1):88-107.
23. Komatsu M, Avila MA, Colombo MM, Gramani-Say K, Driusso P. Pilates training improves
formalização de uma recomendação de prescrição, sendo necessária pain and quality of life of women with fibromyalgia syndrome. Rev Dor. 2016;17(4):274-8.
nos próximos estudos a exposição da estruturalização da prescrição do 24. Cury A, Vieira WHB. Efeitos do método Pilates na fibromialgia. Fisioter Bras.
2016;17(3):256-60.
MP. Finalmente, os estudos aqui encontrados compararam o MP com 25. Assumpção A, Matsutani LA, Yuan SL, Santo AS, Sauer J, Mango P, et al. Muscle stretching
grupos que não tinham intervenção, sendo necessária a realização de exercises and resistance training in fibromyalgia: which is better? A three-arm randomized
controlled trial. Eur J Phys Rehabil Med. 2018;54(5):663-70.
ensaios clínicos randomizados comparando o MP com intervenções 26. Vancini RL, Rayes ABR, Lira CAB, Sarro KJ, Andrade MS. Pilates and aerobic training
não farmacológicas já recomendadas, como o treinamento aeróbio, improve levels of depression, anxiety and quality of life in overweight and obese individuals.
treinamento de força e/ou treinamento combinado. Arq Neuropsiquiatr. 2017;75(12):850-7.
27. Silvestri J. Effects of chronic shoulder pain on quality of life and occupational engagement
in the population with chronic spinal cord injury: preparing for the best outcomes with
CONCLUSÃO occupational therapy. Disabil Rehabil. 2017;39(1):82-90.
28. Correia LC, Lima Filho BF, Fontes FP, Varella LRD, Brasileiro JS. Efeito do treinamento
resistido na redução da dor no tratamento de mulheres com fibromialgia: revisão sistemática.
O método Pilates pode ser uma alternativa para a melhora da dor e Rev Bras Ciênc Mov. 2018;26(2):170-5.
29. Marques AP, Santos AMB, Assumpção A, Matsutani LA, Lage LV, Pereira CAB. Valida-
QV do público com SFM, em que se percebeu resultados positivos ção da versão brasileira do Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ). Rev Bras Reumatol.
já com 4 semanas de prática. No entanto, é necessário que esta práti- 2006;46(1):24-31.
ca seja realizada de forma contínua para permanência dos benefícios 30. Altan L, Korkmaz N, Bingol U, Gunay B. Effect of Pilates training on people with fibromy-
algia syndrome: a pilot study. Arch Phys Med Rehabil. 2009;90(12):1983-8.
do método. 31. Cabral DL, Damascena CG, Teixeira-Salmela LF, Laurentino GEC. Confiabilidade do
perfil de saúde de Nottingham após acidente vascular encefálico. Cienc Saude Coletiva.
2012;17(5):1313-22.
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detraining on women with fibromyalgia: controlled randomized clinical trial. Eur J Phys
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College of Rheumatology preliminary diagnostic criteria for fibromyalgia and measurement 33. Araújo MEA, Silva EB, Vieira PC, Cader SA, Mello DB, Dantas EHM. Redução da dor
of symptom severity. Arthritis Care Res. 2010;62(5):600-10. crônica associada à escoliose não estrutural, em universitárias submetidas ao método Pilates.
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senso brasileiro do tratamento da fibromialgia. Rev Bras Reumatol. 2010;50(1):56-66. 34. Vasconcellos MHO, Silva RDS, Santos SMB, Merlo JRC, Conceição TMA. The Pilates®
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e efeitos do exercício. Motriz Rev Educ Fís. 2009;15(2):436-48. 2019;124:62-7.
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262
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):263-74 ARTIGO DE REVISÃO

Escalas para a avaliação da dor na unidade de terapia intensiva.


Revisão sistemática
Scales for the assessment of pain in the intensive care unit. Systematic review
Tássia Catiuscia Nascimento Silva da Hora1, Iura Gonzalez Nogueira Alves1

DOI 10.5935/2595-0118.20200043

RESUMO ABSTRACT

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A dor é considerada como BACKGROUND AND OBJECTIVES: Pain is an unpleasant


uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a sensory and emotional experience associated with actual or
uma lesão efetiva ou potencial dos tecidos. Avaliar a dor é muito potential tissue damage or described in terms of such damage.
complexo, principalmente quando se trata de pacientes ventila- Thus, pain is difficult to evaluate, especially in patients under-
dos mecanicamente na unidade de terapia intensiva. No entanto, going mechanical ventilation in an intensive care unit. However,
existem diversas escalas para avaliam a dor desses pacientes. Des- there are several instruments to assess these patients’ pain. Thus,
sa forma, este estudo teve como objetivo sumarizar dados acerca the aims of the present study were described and characterize
das características psicométricas das escalas de avaliação de dor the psychometric characteristics of the intensive care unit pain
na unidade de terapia intensiva. assessment scales.
CONTEÚDO: Foi realizada uma revisão sistemática através da CONTENTS: A systematic review in the electronic databases of
pesquisa nas bases de dados Pubmed, LILACS, Cochrane Library Pubmed, LILACS, Cochrane Library and Scielo was performed,
e SciELO, foram incluídos os estudos que verificaram a confia- without time restrictions. The focus of this evidence synthesis is
bilidade, a validade, reprodutibilidade e a capacidade de resposta to examine the validity, reproducibility, and responsiveness of in-
das escalas de avaliação de dor na unidade de terapia intensiva. tensive care unit pain scales. 58 studies were included. Cronbach
Dos 58 estudos incluídos, o alfa de Cronbach variou de 0,31 a alpha ranged from 0.31 to 0.96 and the intraclass correlation
0,96 e o coeficiente de correlação intraclasse variou de 0,25 a coefficient from 0.25 to 1.00. A cross-cultural adaptation was
1,00. Houve adaptação transcultural de 28 estudos nas versões performed in 28 studies for use in language Portuguese (Brazil),
brasileira, chinesa, italiana, sueca, portuguesa, inglesa, holande- Chinese, Italian, Swedish, Portuguese (Portugal), English, Dut-
sa, turca, persa, dinamarquesa, polonesa, espanhola e grega. ch, Turkish, Persian, Danish, Polish, Spanish and Greek.
CONCLUSÃO: Os estudos publicados até o momento demons- CONCLUSION: Among the available scales to measure pain in
traram uma lacuna para indicar a superioridade entre as escalas non-responsive patients, the data is not enough to indicate the supe-
que avaliam dor em pacientes em ventilação mecânica. No Brasil, riority between them. In Brazil, most studies demonstrated that the
a maior parte dos estudos ressaltou que as escalas de avaliação da pain scales had satisfactory validity, reliability, and reproducibility
dor apresentam índices de validade, confiabilidade e reprodutibi- rates. Thus, when deciding which scale to use, the convenience of
lidade satisfatórios. Assim, a decisão entre a escala a ser utilizada application and familiarity of the team should be considered.
deve considerar facilidade de aplicação e a familiaridade da equipe. Keywords: Critical care, Intensive care units, Pain measurement,
Descritores: Cuidados críticos, Medição da dor, Reprodutibili- Reproducibility of results.
dade dos testes, Unidade de terapia intensiva.
INTRODUÇÃO

A dor é considerada como uma experiência sensorial e emocional


desagradável, associada a uma lesão efetiva ou potencial dos tecidos,
Tássia Catiuscia Nascimento Silva da Hora – https://orcid.org/0000-0003-2594-3825; ou caracterizada em termos de tal lesão1. No entanto, avaliar a dor
Iura Gonzalez Nogueira Alves – https://orcid.org/0000-0003-2455-3788.
é muito complexo, visto que a percepção da dor envolve aspectos
1. Centro Universitário Social da Bahia, Pós-Graduação em Fisioterapia Hospitalar em Uni- biológicos, emocionais, socioculturais e ambientais2,3. Além do que,
dade de Terapia Intensiva. Salvador, BA, Brasil.
a interpretação e avaliação da dor são subjetivas e pessoais2,4,5.
Apresentado em 03 de abril de 2020. As unidades de terapia intensiva (UTI) são preparadas para prestar
Aceito para publicação em 24 de maio de 2020. cuidados a pacientes em estado crítico ou que precisem de monito-
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há.
ramento constante. Contudo, é comum que esses pacientes sejam
Endereço para correspondência: submetidos a diversos procedimentos de rotina que possam promo-
Iura Gonzalez Nogueira Alves
Avenida Oceânica, 2717 – Ondina ver desconforto e dor. Além disso, na maioria das vezes os pacientes
40170-010 Salvador, BA, Brasil. estão sob ventilação mecânica (VM), em uso de sedativos ou com
E-mail: gonzalez.alvesin@gmail.com
o nível de consciência rebaixado, e devido a isso são incapazes de
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor relatar sua experiência de dor6.

263
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):263-74 Hora TC e Alves IG

Atualmente existem diversas escalas para avaliar a dor em UTI, tais obtido na íntegra. De forma independente, os dois autores analisa-
como a Behavioral Indicators of Infant Pain (BIIP), Behavior Pain ram os artigos para selecionar os que seriam incluídos no estudo. Em
Assessment Tool (BPAT), Behavioral Pain Scale (BPS), Critical-Care caso de discordância, a decisão era realizada por consenso dos auto-
Pain Observation Tool (CPOT), COMFORT Behaviour Scale, Faces res. Foi realizado, também, um rastreamento manual de citações nos
– Legs – Activity – Cry and Consolability Scale (FLACC), Nonver- artigos selecionados.
bal Pain Scale (NVPS), COVERS Scale, Pain Assessment Tool (PAT),
Behavioural Indicators of Pain Scale (ESCID), Multidimensional Ob- Seleção dos estudos e extração dos dados
jective Pain Assessment Tool (MOPAT), Visual Analog Scale horizontal Uma primeira avaliação foi realizada tendo por base os títulos e o re-
(VAS-H) e vertical (VAS-V), Verbal Descriptor Scale (VDS), Numeric sumo dos artigos, sendo excluídos aqueles que não preencheram os
Rating Scale Oral (NRS-O), NRS visually enlarged laminated (NR- critérios de inclusão. Em seguida, os artigos, coletados por meio de
S-V), Neonatal Pain Assessment Scale (NPAS), Neonatal Infant Pain pesquisas em banco de dados, foram lidos na íntegra. Primeiramen-
Scale (NIPS), Premature Infant Pain Profile (PIPP), Nepean Neonatal te foi feita a leitura de todos os artigos selecionados e, em seguida,
Intensive Care Unit Pain Assessment Tool (NNICUPAT), Nonverbal a leitura seletiva e analítica das partes que realmente interessavam.
Pain Assessment Tool (NPAT), FACES, Numeric Rating Scale (NRP) Em seguida, houve o registro das informações extraídas dos artigos
e Crying – Requires Oxygen – Increased Vital Signs – Expression and a fim de ordenar e sumariar o material, de forma que possibilitasse a
Sleepless (CRIES). No entanto, apesar da variedade de instrumen- obtenção de informações relevantes à pesquisa.
tos publicados na literatura científica, muitos profissionais desco- Para a extração dos resultados foi desenvolvida uma tabela, a fim de
nhecem a sua disponibilidade e os aspectos metodológicos para sua extrair as características e os resultados dos estudos, sendo registradas
utilização na prática clínica. as seguintes informações: autores; país/língua; população estudada;
Estudos mais recentes, incluindo guias clínicos (guidelines), refor- idade média; amostra; escalas utilizadas; valores de confiabilidade;
çam a necessidade da avaliação da dor de forma rotineira nos pa- validade; responsividade e reprodutibilidade/equivalência.
cientes internados em UTI com a finalidade de melhorar desfechos
clínicos7-9. Para isso, faz-se necessária a utilização de escalas e assim é Síntese dos dados
essencial que os profissionais que vão lançar mão destes instrumen- Uma vez que os dados do presente estudo não são adequados para
tos, na rotina de atenção aos pacientes, conheçam as escalas disponí- serem reunidos em meta-análise, eles foram combinados por meio
veis para a avaliação, bem como aspectos relacionados a sua validade, de síntese narrativa, sendo apresentadas as informações referentes à
confiabilidade e reprodutibilidade. consistência dos resultados e homogeneidade dos estudos.
Este estudo teve por objetivo sumarizar dados acerca das característi-
cas psicométricas das escalas de avaliação de dor na UTI. Avaliação da qualidade metodológica
Para a avaliação da qualidade dos estudos foi utilizado o checklist
CONTEÚDO proposto pela COSMIN risk-bias (Consensus-based Standards for
the Selection of Health Measurement Instruments). O checklist de
Foi realizada uma revisão sistemática observando-se os critérios de- risco de viés do COSMIN é composto por nove propriedades de
finidos pelo Reporting Guide for JBI Systematic Reviews (JBISRIR)10. medição.
Foram considerados todos os estudos originais que avaliaram a vali-
dade, reprodutibilidade e/ou a confiabilidade das escalas de avaliação RESULTADOS
de dor na UTI em adultos e crianças. A busca não foi restrita por
idioma ou ano de publicação e ocorreu no período de julho de 2019 A estratégia de busca resultou em 241 artigos. Desses, 58 estudos
a abril de 2020 nas bases de dados Pubmed, LILACS, Cochrane Li- atendiam aos critérios de elegibilidade e foram incluídos no presente
brary e Scielo. O PICO mnemônico foi utilizado para definir os estudo. Na figura 1 se observa o fluxograma referente a seleção dos
critérios de inclusão para esta revisão. estudos.
Dos 58 estudos incluídos, 42 artigos tiveram como objetivo verifi-
Estratégia de pesquisa car a confiabilidade, a validade, reprodutibilidade e a capacidade de
A estratégia de busca inicial foi composta por quatro palavras-chave, resposta das escalas de forma individualizada, enquanto 16 artigos
conforme pergunta de investigação (PICO mnemônico) (P: pacien- verificaram as propriedades psicométricas de duas ou mais escalas
tes, C: construto e O: desfecho – propriedades de medição)10-12. As em um único estudo.
palavras-chave utilizadas foram descritas a partir dos termos de busca A amostra total de participantes de todos os estudos foi de 8.122 in-
da Medical Subject Headings (MeSH) e Descritores em Ciências da divíduos, sendo 7.787 adultos e 335 crianças. Em 15 estudos14-23,25-28
Saúde (DeCS), nas quais foram incluídas pacientes de UTI, cuidado não foi informada a quantidade de homens e mulheres (Tabela 1).
crítico e seus sinônimos. Para construto, foi utilizada a medição da Dos 58 artigos, 36 informaram o alfa de Cronbach, que variou de
dor e sinônimos, para desfecho, foi utilizada a reprodutibilidade dos 0,3129 a 0,9630,31. O coeficiente de correlação intraclasse (ICC) va-
resultados e seus sinônimos. riou de 0,2528 a 1,0032 e 19 artigos não informaram o ICC dos estu-
Um revisor experiente realizou a busca e a seleção inicial para iden- dos (Tabelas 2, 3 e 4). 
tificar os títulos e resumos dos estudos potencialmente relevantes. No Brasil, duas escalas foram validadas para língua portuguesa,
Cada resumo foi avaliado por dois revisores de forma independente. a BPS e a CPOT. Assim, quatro estudos avaliaram as proprieda-
Se ao menos um revisor considerasse referência elegível, o artigo era des psicométricas exclusivamente da BPS6,37,42,54 e outro da BPS e

264
Escalas para a avaliação da dor na unidade de BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):263-74
terapia intensiva. Revisão sistemática

CPOT34 (Tabela 3). Dos quatro estudos conduzidos no Brasil que


avaliaram a BPS, dois deles6,54 encontraram coeficiente alfa de Cron-
Identificação

Registros identificados Registros adicionais


por meio de pesquisa no identificados por bach inferiores a 0.6, evidenciando baixa confiabilidade. Nos outros
banco de dados (n=245) outras fontes (n=0) dois estudos37,42 que avaliaram a BPS, os valores do alfa de Cronbach
foi de 0,8 e o ICC variou de 0,7 a 0,95. É importante destacar que
Registros após eliminar os duplicados
todos os estudos realizados no Brasil reportaram a realização da vali-
(n=241) dade transcultural. Os demais estudos que validaram a BPS fora do
Brasil14,15,33,47,50,58,60,68,70 encontraram valores entre 0,64 e 0,86, o que
Seleção

resulta em uma consistência de fraca a boa. O ICC variou de 0,50 a


Registros selecionados Registros excluídos 1,0, obtendo resultados considerados satisfatórios a excelentes.
(n=58) (n=0)
No que se refere a validação da CPOT no Brasil, um único estudo a
realizou e esta foi avaliada com a BPS34. Diferenças significativas en-
Artigos em texto Artigos em texto tre as propriedades de medição da dor não foram encontradas entre
Elegibilidade

completo avaliados para completo excluídos elas. Ambas apresentaram bons índices de validade. Cabe destacar
elegibilidade (n=58) com justificativa (n=0)
que os autores realizaram adaptação transcultural para o português
do Brasil. Os estudos ao redor do mundo que avaliaram a CPOT
Estudos incluídos na de forma isolada17–20,29,36,39,45,46,51,52,57,66,67 identificaram valores do
síntese qualitativa (n=58) coeficiente de Cronbach variando de 0.31 a 0.89 e o ICC variou
de 0.53 a 0.99. As comparações entre a CPOT e a BPS fora do
Incluídos

Brasil32,40,43,49,55 também evidenciaram ausência de diferenças entre


Estudos incluídos na
síntese quantitativa as duas escalas.
(meta-análise) (n=0) Para as demais escalas de avaliação de dor, nenhum estudo brasileiro
foi encontrado. Assim sendo, uma breve descrição dos resultados
Figura 1. Fluxograma do processo de seleção dos artigos está apresentada a seguir.

Tabela 1. Descrição das características dos estudos incluídos


Autores País Pacientes Amostra Escalas
Hylén et al. 33
Suécia Adultos n=57 (63% homens e 37% mulheres) BPS
Kaya e Erden26 Turquia Adultos n=74 NVPS
Sulla et al.14 Itália Crianças n=09 BPS
Klein et al. 34
Brasil Adultos n=168 (88 homens e 80 mulheres) BPS - CPOT
Pudas-Tähkä e Salanterä30 Finlândia Adultos n=06 (04 homens e 02 mulheres) BPS - CPOT - NVPS
Fagioli et al.35 Itália Crianças n=35 (17 meninos e 18 meninas) COMFORT
Shan et al.36 China Adultos n=400 (235 homens e 165 mulheres) CPOT
Dionysakopoulou et al. 31
Grécia Recém-nascidos n=81 (44 meninos e 37 meninas) NIPS - PIPP
Ribeiro et al.37 Brasil Adultos n=27 (25 homens e 02 mulheres) BPS
Wiegand et al. 38
Estados Unidos Adultos n=27 (13 homens e 14 mulheres) MOPAT
Sulla et al. 20
Itália Adultos n=50 CPOT
Kotfis et al.39 Polônia Adultos n=71 (50 homens e 21 mulheres) CPOT
Chookalayia et al. 18
Irã Adultos n=65 CPOT
Rijkenberg et al.40 Holanda Adultos n=72 (52 homens e 20 mulheres) BPS - CPOT
Cheng et al.32 China Adultos n=113 (73 homens e 40 mulheres) BPS - CPOT
Gélinas et al.41 28 países Adultos n=3851 (60,8% homens e 39,2% mulheres) BPAT
Azevedo-Santos et al. 42
Brasil Adultos n=25 (10 homens e 15 mulheres) BPS
Hylén et al.15 Suécia Adultos n=20 BPS
Severgnini et al. 43
Itália Adultos n=101 (64 homens e 37 mulheres) BPS - CPOT
Al Darwish, Hamdi e Fallatah 44
Arábia Saudita Adultos n=47 (27 homens e 20 mulheres) BPS - CPOT - NVPS
O’Sullivan et al.16 Nova Zelândia Crianças n=80 COVERS - PAT
Aktas e Karabulut 45
Turquia Adultos n=66 (48 homens e 18 mulheres) CPOT
Latorre-Marco et al.23 Espanha Adultos n=190 ESCID
Continua...

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BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):263-74 Hora TC e Alves IG

Tabela 1. Descrição das características dos estudos incluídos – continuação


Autores País Paciente Amostra Escalas
Frandsen et al. 46
Dinamarca Adultos n=70 (44 homens e 26 mulheres) CPOT
Joffe et al.19 Canadá Adultos n=79 CPOT
Chen et al.47 China Adultos n=53 (26 homens e 27 mulheres) BPS
Rahu et al. 48
Estados Unidos Adultos n=150 (78 homens e 72 mulheres) NVPS - BPS - FACES
- FLACC - COMFORT
- NRP
Azevedo-Santos et al. 6 Brasil Adultos n=15 (12 homens e 03 mulheres) BPS
Liu, Li e Herr 49
China Adultos n=117 (84 homens e 33 mulheres) BPS - CPOT
Boitor, Fiola e Gélinas17 Canadá Adultos n=125 CPOT
Latorre-Marco et al. 22
Espanha Adultos NI ESCID
Navarro-Colom et al.50 Espanha Adultos n=34 (22 homens e 12 mulheres) BPS
Li et al. 51
China Adultos n=63 (39 homens e 29 mulheres) CPOT
Echegaray-Benites, Canadá Adultos n=43 (22 homens e 21 mulheres) CPOT
Kapoustina e Gélinas52
Chanques et al.53 Estados Unidos Adultos n=30 (11 homens e 19 mulheres) BPS - CPOT - NVPS
Morete et al. 54
Brasil Adultos n=100 (61 homens e 39 mulheres) BPS
Rijkenberg et al.55 Holanda Adultos n=68 (41 homens e 27 mulheres) BPS - CPOT
Topolovec-Vranic et al.56 Canadá Adultos n=66 (36 homens e 30 mulheres) CPOT - NVPS
Linde et al.57 NI Adultos n=30 (23 homens e 07 mulheres) CPOT
Batalha et al. 58
Portugal Adultos n=60 (42 homens e 18 mulheres) BPS
Rivas, Rivas e Bustos 59
Chile Recém-nascidos n=112 (69 meninos e 43 meninas) NIPS
Chen et al.60 China Adultos n=70 (51 homens e 19 mulheres) BPS
Nurnberg Damstrom et al. 29
Suécia Adultos n=40 (21 homens e 19 mulheres) CPOT
Marmo e Fowler21 Estados Unidos Adultos n=24 CPOT - NVPS -
FLACC
Chanques et al.61 França NI n=111 (74 homens e 37 mulheres) VAS-H - VAS-V - VDS
- NRS-O –

Voepel-Lewis et al.62 Estados Unidos Adultos e Crianças n=29 (17 homens e 12 mulheres) NRS-V
n=08 (04 meninos e 03 meninas)* FLACC
*Dados sobre sexo ausente para uma criança
Klein et al.24 Guiné-Bissau Adultos n=270 NPAT
Chanques et al.63 França Adultos n=30 (20 homens e 10 mulheres) BPS
Johansson e Kokinsky 64
Suécia Crianças n=40 (22 meninos e 18 meninas) COMFORT - FLACC
(modificada)
Kabes, Graves e Norris25 Estados Unidos Adultos n=121 NVPS
Holsti et al.65 Canadá Prematuros n=69 (36 meninos e 33 meninas) BIIP
Gélinas e Johnston 66
Canadá Adultos n=55 (32 homens e 23 mulheres) CPOT
Gélinas et al. 67
Canadá Adultos n=105 (83 homens e 22 mulheres) CPOT
Young et al.68 Austrália Adultos n=44 (26 homens e 18 mulheres) BPS
Spence et al. 27
NI Recém-nascidos n=144 PAT
McNair et al.28 Canadá NI n=51 PIPP - CRIES
Marceau69 Austrália Recém-nascidos n=30 (17 meninos e 13 meninas) NNICUPAT
Payen et al.70 França Adultos n=30 (17 homens e 13 mulheres) BPS
NI: não informado
BIIP = Behavioral Indicators of Infant Pain; BPAT = Behavior Pain Assessment Tool BPS = Behavioral Pain Scale; CPOT = Critical-Care Pain Observation Tool; FLACC
= Faces - Legs - Activity - Cry and Consolability Scale; COMFORT Behaviour Scale; FACES Scales; NVPS = Nonverbal Pain Scale; COVERS Scale; PAT = Pain As-
sessment Tool; ESCID = Behavioural Indicators of Pain Scale; MOPAT = Multidimensional Objective Pain Assessment Tool; VAS-H = Visual Analog Scale horizontal e
VAS-V = vertical; VDS = Verbal Descriptor Scale; NRS-O = Numeric Rating Scale Oral; NRS-V = Numeric Rating Scale visually enlarged laminated; NIPS = Neonatal
Pain Assessment Scale, Neonatal Infant Pain Scale; PIPP = Premature Infant Pain Profile; NNICUPAT = Nepean Neonatal Intensive Care Unit Pain Assessment Tool;
NPAT = Nonverbal Pain Assessment Tool; NRP = Numeric Rating Scale; CRIES = Crying-Requires Oxygen - Increased Vital Signs - Expression and Sleepless.

266
Escalas para a avaliação da dor na unidade de BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):263-74
terapia intensiva. Revisão sistemática

Tabela 2. Propriedades de medidas das escalas para avaliação da dor validadas em adultos
Autores Consistência interna Confiabilidade (ICC) Validade Adaptação
(α de Cronbach) Transcultural
Hylén et al.33 NI NI Validade discriminativa Versão Sueca
PND (IC) 0,65 (0,56 – 0,75)
PD (IC) 0,28 (0,17 – 0,40)
Kaya e 0,776 NI Validade de construto Versão Turca
Erden26 Teste Barlett
χ2= 105,433
(p<0,001)
Pudas-Tähkä e BPS: 0,86 BPS: 0,80 NI Versão Sueca,
Salanterä30 CPOT: 0,96 CPOT: 0,80 Holandesa e
NVPS: 0,90 NVPS: 0,80 Chinesa
Shan et al.36 NI 0,86 a 0,93 Validade discriminativa Versão Chinesa
Wiegand et al.38 0,68 - 0,72 NI p<0,001 NI
Sulla et al.20
Pacientes intubados: 0,78 NI Correlações de Spearman: Versão Italiana
0,42 (p<0,05) a
0,99 (p<0,001)
Kotfis et al. 39 0,89 > 0,97 Correlação de Spearman: Versão
R > 0,85, p<0,0001 Polonesa
Chookalayia 02 avaliadores Antes PND: 0,98 Validade discriminativa Versão Persa
et al.18 Antes PND: 0,79 / 0,79 PND: 0,96 Teste de Mann-Whitney: p<0,001
Durante PND: 0,66 / 0,67 Após o PD: 0,99
Após PND: 0,76 / 0,76 Antes PD: 0,97
Antes PD: 0,59 / 0,64 PD: 0,96
Após o PD: 0,98
Rijkenberg CPOT 0,74 (0,68 - 0,79) Validade discriminativa por NI
et al.40 Enfermeira 1: 0,65 P = 0,001 Friedman
Enfermeira 2: 0,58
BPS
Enfermeira 1: 0,62
Enfermeira 2: 0,59
Cheng et al.32 NI Coeficiente Kappa: Validade de construto: Versão Chinesa
CPOT CPOT
Expressão facial: 0,64 (0,31 – 0,98) / Wald X2= 22.82
Movimentos do corpo: 1,00 (1,00 – (p<0,05)
1,00) / Tensão muscular: 0,72 (0,43 BPS
– 1,00) / Complicação com a ventila- Wald X2= 19.71
ção: 1,00 (1,00 – 1,00) (p<0,05)
BPS
Expressão facial: 0,73 (0,46 – 0,99)
/ Membros superiores: 0,94 (0,86
– 1,00) / Complicação com a ventila-
ção: 0,80 (0,41 – 1,00)
Gélinas et al. 41 NI Kappa: Validade convergente NI
Expressão facial neutra (0,69) Correlação de Pearson:
Presença de careta (0,69) r = 0,79
Estremecimento (0,60) (p<0,001)
Olhos fechados (0,70)
Gemidos (0,69)
Queixas verbais (0,78)
Rigidez muscular (0,57)
Punhos cerrados (0,62)
Hylén et al.15 NI Kappa: Validade discriminativa por Svensson Versão Sueca
> 0,89 PND: 0,6406 (0,4861 a 0,7951)
PD: 0,1020 (0,0000 a 0,2066)
Severgnini et NI Kappa: Validade discriminativa NI
al.43 Antes PD: 0,69 (p<0,0001)
PD: 0,64
Depois PD: 0,66
Al Darwish, BPS: 0,95 BPS: 0,77 NI NI
Hamdi e CPOT: 0,95 CPOT: 0,47 e 0,69 (durante aspira-
Fallatah44 NVPS: 0,86 ção e giro, respectivamente)
NVPS: 0,72
Continua...

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BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):263-74 Hora TC e Alves IG

Tabela 2. Propriedades de medidas das escalas para avaliação da dor validadas em adultos – continuação
Autores Consistência interna Confiabilidade (ICC) Validade Adaptação
(α de Cronbach) Transcultural
Aktas e Durante o PD: 0,72 Coeficiente Kappa Validade discriminativa: Versão Turca
Karabulut45 Após o PD: 0,71 0,89 (p=0,001)
Pearson: 0,63
(p<0,001)
Latorre-Marco 0,85 NI Validação convergente Versão
et al.23 r = 0,94 – 0,99 (p<0,001) Espanhola
Frandsen et al. 46 > 0,70 > 0,90 Validação discriminativa Versão
Correlações de Spearman Dinamarquesa
Joffe et al.19 NI 0,727 (95% IC 0,570 - 0,833) Validação discriminativa por NI
Friedman:
(Qui-quadrado = 150,656, p<0,001)
Chen et al.47 Pacientes intubados: 0,962 - 1,000 Correlação Pearson Versão Chinesa
0,724 - 0,743 Pacientes intubados:
Pacientes não intubados: 0,815 - 0,937
0,701 - 0,762 Pacientes não intubados
0,755 - 0,899
Rahu et al.48 NVPS: 0,78 NI Correlações de Spearman NI
BPS: 0,94 NVPS
COMFORT: 0,90 PND: -0,1485 / p=0,35
PD: 0,5594 / p<0,001
BPS
PND: 0,2050 / p=0,19
PD: 0,5557/ p<0,001
FACES
PND: 0,2197 / p=0,18
PD: 0,7613 / p<0,001
FLACC
PND: 0,1072 / p=0,50
PD: 0,6320 / p<0,001
COMFORT
PND: 0,3385 / p=0,03
PD: 0,6527 / p<0,001
Liu et al.49 CPOT: 0,795 NI CPOT Versão Chinesa
BPS: 0,791 Z = - 14,352
p<0,001
BPS
Z = -14,440
(p<0,001)
Boitor, Fiola e NI Repouso: 0,863 Validade discriminativa NI
Gélinas17 PND: 0,956 Teste de Mauchly:
Repouso: 0,535 (p<0,001)
PD: 0,828 Validade convergente:
r = 0,313
(p<0,01)
Latorre-Marco 0,70 a 0,80 NI Correlações de Pearson Versão
et al.22 Antes da avaliação: 0,97 Espanhola
Durante a avaliação: 0,94
Após a avaliação: 0,95
Navarro-Colom PND: 0,66 (IC 95% 0,33-0,83) PND: 0,50 (IC 95%: 0,19 - 0,71) NI NI
et al.50 PD: 0,73 (IC 95%: 0,50-0,87) PD: 0,58 (IC 95%: 0,31 - 0,77)
Li et al.51 0,59 a 0,86 0,80 a 0,91 Validação discriminativa Versão Chinesa
Correlações de Spearman:
0,81 a 0,93
Echegaray- NI > 0,75 Teste Wilcoxon com correção de NI
Benites, Bonferroni:
Kapoustina e (Z = 5,14, p<0,001)
Gélinas AUC: 0,864, P < 0,001 (IC 95% =
et al.52 0,757 - 0,971)
Chanques et BPS: 0,80 Kappa: BPS: 0,90 NI
al.53 CPOT: 0,81 BPS: 0,81 CPOT: 0,86
NVPS: 0,76 CPOT: 0,81 NVPS: 0,92
NVPS: 0,71
Continua...

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Escalas para a avaliação da dor na unidade de BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):263-74
terapia intensiva. Revisão sistemática

Tabela 2. Propriedades de medidas das escalas para avaliação da dor validadas em adultos – continuação
Autores Consistência interna Confiabilidade (ICC) Validade Adaptação
(α de Cronbach) Transcultural
Rijkenberg CPOT: 0,71 CPOT Validade discriminativa por Fried- Versão Inglesa
et al.55 BPS: 0,70 0,75 (0,69 - 0,79) man e Wilcoxon
p=0,001
BPS
0,74 (0,68 - 0,79)
p=0,001
Topolovec- 0,36 a 0,75 0,62 a 0,68 Validade discriminativa por ANOVA NI
Vranic et al.56 CPOT: F = 5,81
p=0,019
NVPS-R: F = 5,32
(p=0,025
Validação de critério:
0,59 a 0,71
(p<0,05)
Linde et al.57 NI Coeficiente Kappa: Validade concorrente NI
0,87 (95% IC, 0,79 -0,94)
Batalha et al.58 0,65 - 0,73 0,79 (0,67 - 0,87) Validade de construto Versão
02 examinadores Portuguesa
Expressão facial: 0,75 - 0,83
Movimento dos MMSS: 0,90 - 0,92
Adaptação ao ventilador: 0,83 -
0,71

Chen et al.60 NI NI Correlação de Pearson: r = 0.50 - Versão Chinesa


1.00 (P < 0.001)
Validade discriminativa por ANOVA
(F = 377.7 p<0,001)
Nurberg- 0,31 - 0,81 0,84 (0,72 - 0,92) Correlações de Spearman: Versão Sueca
Damstrom et 0,32 – 0,45
al.29
Marmo e 0,89 NI Correlações de Pearson NI
Fowler21
Chanques NI NI Correlações de Pearson NI
et al.61
Klein et al.24 0,82 NI Validade de construto NI
(p<0,001)
Voepel-Lewis 0,882 0,67 - 0,95 Validade de construto NI
et al.62 PD: 5,27 SD 2,3
PND: 0,52 SD 1,1
(p<0,001)
Chanques 0,79 0,57 – 0,59 Validação discriminativa NI
et al.63 Coeficiente Kappa: 0,89 / 0,82
Gélinas e NI Antes PD: 0,80 Validade discriminativa por Versão Inglesa
Johnston66 PD: 0,88 RM-MANOVA
Após PD: 0,92 Coeficiente de Pearson:
Antes PD: 0,84 (p≤0,05)
PD: 0,84
Após PD: 0,93
Gélinas et al.67 NI NI Validade discriminativa por ANOVA NI
Correlações de Spearman:
0,49, 0,59 e 0,40
(p≤0,001)
Young et al.68 0,64 NI NI NI
McNair et al.28 NI Antes da cirurgia: 0,60 Validade convergente NI
72 horas após a cirurgia: 0,25
Kabes, Graves e Antes PD: 0,36 NI Correlações de Spearman NI
Norris25 PD: 0,62 135,86
Após PD: 0,62 p<0,001
Payen et al.70 NI Coeficiente Kappa: NI NI
0,74 (p<0,01)
NI = não informado; PD = procedimento doloroso; PND = procedimento não doloroso; BPS = Behavioral Pain Scale; CPOT = Critical-Care Pain Observation Tool;
COMFORT Behaviour Scale; NVPS = Nonverbal Pain Scale; MMSS = membros superiores; IC = intervalo de confiança.

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BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):263-74 Hora TC e Alves IG

Tabela 3. Propriedades de medidas das escalas validadas para avaliação da dor em adultos no Brasil
Autores Consistência Confiabilidade (ICC) Validade Adaptação Transcultural
interna (Cronbach)
Klein et al.34 NI Coeficiente Kappa: Validade preditiva: Versão Brasileira
Algometria de pressão CPOT
CPOT / BPS 0,44 (0,35 - 0,65)
0,96 (0,95 - 0,97) e 0,96 (0,94 - 0,97), BPS
(p<0,001), respectivamente. 0,44 (0,52 – 0,87)
Cuidados padrão
CPOT / BPS
0,96 (0,94 - 0,97) e 0,94 (0,92 - 0,95),
(p<0.001), respectivamente.
Ribeiro et al.37 NI 0,95 (0,90 - 0,98) Validade discriminativa por Versão Brasileira
Kappa:0,70 Friedman e Wilcoxon
p < 0,0001
Santos et al.42 PND (0,8) PND (0,8) Validade de critério: Versão
PD (0,8) PD (0,9) PAS: 0,35 (P = 0,86) Brasileira
PAD: -0,83 (P = 0,69)
PAM: -0,17 (P = 0,93)
FC: -0,30 (P = 0,89)
SpO2: 0,11 (P = 0,61)
Ramsay: -0,34 (P = 0,10)
RASS: 0,32 (P = 0,12)
Apache II: -0,03 (P=0,8)
Validade de construto – teste
de hipótese (p ≤ 0,0001)
Azevedo- Repouso (0,42) Repouso e PD (0,65) Teste de Friedman e Teste Versão
Santos et al.36 PND (0,53) PND (0,53) de Tukey Brasileira
PD (0,57)
Morete et al.54 0,501 Kappa:0,740 NI Versão Portuguesa
ICC de 0,807 (IC 95%: 0,727 - 0,866) (Brasil)
NI = não informado; PD = procedimento doloroso; PND = procedimento não doloroso; BPS = Behavioral Pain Scale; CPOT = Critical-Care Pain Observation Tool;
PAS = pressão arterial sistólica; PAD = pressão arterial diastólica; PAM = pressão arterial média; FC = frequência cardíaca; SpO2 = saturação periférica de oxigênio;
RASS = Richmond Agitation-Sedation Scale; APACHE = Acute Physiology Health Chronic Evaluation.

Tabela 4. Propriedades de medidas das escalas de avaliação da dor validadas em crianças


Autores Consistência interna Confiabilidade (ICC) Validade Adaptação Transcultural
(α de Cronbach)
Sulla et al.14 0,865 NI Validade discriminativa (ROC): 0,995 Versão Italiana
(p<0,001; e.s.= 0,007; I.C. 95%
[0,982; 1,009])
Fagioli et al.35 PND: 0,81 Kappa: NI Versão Italiana
PD: 0,91 0,558
Dionysakopoulou NIPS: 0,87 - 0,95 > 0,98 Validade de critério Versão Grega
et al.31 PIPP: 0,93 - 0,96
O’Sullivan et al.16 COVERS COVERS Spearman: NI
PND: 0,74 PND: 0,82 r = 0,81 (p=0,001)
PD: 0,79 PD: 0,80
PAT PAT
PND: 0,79 PND: 0,83
PD: 0,85 PD: 0,86
Rivas et al.59 0,78 NI Técnica de rotação Varimax e normalização NI
com Kaiser
Johansson e NI Coeficiente Kappa: Validade concorrente NI
Kokinsky64 COMFORT-B 0,76 (p<0,05)
0,71 (0,75 - 0,77)
FLACC
0,63 (0,53 - 0,72)
Holsti et al.65 NI NI Validade discriminativa por ANOVA NI
Spence et al.27 NI 0,84 Correlações de Pearson NI
0,76
(p<0,001)
Marceau69 NI NI Validade discriminativa por ANOVA NI
NI: não informado; PD: procedimento doloroso; PND: procedimento não doloroso; NIPS = Neonatal Pain Assessment Scale; PIPP = Premature Infant Pain Profile;
COVERS Scale; PAT = Pain Assessment Tool; FLACC = Faces - Legs – Activity – Cry and Consolability Scale; COMFORT Behaviour Scale; IC = intervalo de confiança.

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Escalas para a avaliação da dor na unidade de BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):263-74
terapia intensiva. Revisão sistemática

Nonverbal Pain Scale (NVPS), Critical-Care Pain Observation válida e confiável para avaliação da dor fora do Brasil. A comparação
Tool (CPOT) e Behavioral Pain Scale (BPS) entre a COVERS Scale e a PAT16 em UTI neonatal evidenciou que
Dois estudos25,26 tiveram como objetivo revisar a NVPS. Foi encon- ambas as escalas apresentam consistência interna satisfatória, 0,74 a
trado25 um coeficiente de Cronbach de 0,82 e a validade de constru- 0,79 e 0,79 a 0,85, respectivamente. Os ICC apresentaram uma boa
to de p<0,001, resultados favoráveis para boa confiabilidade. confiabilidade, COVERS – 0,80 a 0,82 e PAT – 0,83 a 0,86. Não
Três estudos30,44,53 compararam a confiabilidade da BPS, CPOT e foram encontradas diferenças significativas entre as escalas, as duas
NVPS. Houve discordâncias nos estudos para definir qual a melhor foram consideradas confiáveis e válidas.
escala. BPS e CPOT apresentaram melhor confiabilidade (0,80 e
0,81)53 e melhor consistência interna (0,81) que o NVPS (coeficien- Behavioural Indicators of Pain Scale (ESCID) e Multidimensio-
te de Cronbach: 0,76 e ICC: 0,71). Um estudo evidenciou que a nal Objective Pain Assessment Tool (MOPAT)
NVPS, BPS e CPOT44 são ferramentas confiáveis e válidas, com Dois estudos22,23 apresentaram os valores do coeficiente de Cron-
coeficiente de Cronbach 0,95 para BPS e CPOT, e 0,86 para NVPS. bach de 0,70 a 0,85 para a versão espanhola da ESCID. A validade
Porém, quanto a sensibilidade para avaliar a dor, BPS foi conside- mensurada pela correlação de Pearson foi de 0,94 a 0,97 e a valida-
rada a melhor escala, seguida do CPOT. A NVPS apresentou con- ção convergente (p<0,001), respectivamente. No estudo de mensu-
sistência p=0,16 a p=0,21. Neste sentido, foram identificados bons ração das propriedades psicométricas da MOPAT, os valores do coe-
resultados na consistência interna das três escalas, porém a CPOT ficiente de Cronbach e validade foram considerados satisfatórios38.
e a NVPS foram melhores quando comparadas a BPS (0,96, 0,90
e 0,86, respectivamente)30. No entanto, as três ferramentas foram Neonatal Infant Pain Scale (NIPS), Neonatal Pain Assessment
consideradas confiáveis. Um estudo avaliou a validade e a utilidade Scale (NPAS) e Premature Infant Pain Profile (PIPP)
clínica de duas ferramentas de avaliação de dor, CPOT e NVPS56. A A NPAS59 apresentou coeficiente de Cronbach de 0,78. A NIPS e
validade discriminante por ANOVA sugere que o CPOT seja mais PIPP na versão grega são utilizadas para mensuração da dor em re-
aceitável que o NVPS, porém, as duas ferramentas apresentam boa cém-nascidos internados em UTIs. Foi encontrado o coeficiente de
viabilidade para uso. Cronbach de 0,87 a 0,95 para o NIPS e 0,93 a 0,96 para o PIPP.
O ICC foi maior que 0,98 para ambas as escalas, o que sugere uma
Faces - Legs – Activity – Cry and Consolability Scale (FLACC), consistência excelente entre as escalas31.
COMFORT, Critical-Care Pain Observation Tool (CPOT) e
Nonverbal Pain Scale (NVPS) Premature Infant Pain Profile (PIPP), Crying - Requires Oxy-
A confiabilidade e a validade da FLACC foi avaliada62 e o ICC de gen - Increased Vital Signs - Expression and Sleepless (CRIES) e
0,67 a 0,95 demonstraram alta confiabilidade entre os avaliadores. Nonverbal Pain Assessment Tool (NPAT)
O coeficiente de Cronbach encontrado foi de 0,88. Neste sentido, A comparação da validade convergente de duas escalas, PIPP e
autores35 validaram a versão italiana da COMFORT Behaviour Scale CRIES, mostraram correlação mais evidente nas primeiras 24 ho-
em UTI pediátrica. A consistência interna variou de 0,81 a 0,91 e o ras após a cirurgia e correlações mais divergentes de 40 a 72 horas
coeficiente Kappa de Cohen foi de 0,558, índice moderado. após28. Ambas as escalas foram consideradas válidas para avaliação
Em um estudo, a capacidade de medição da dor da CPOT, NVPS de dor em neonatos na UTI. A validade da NPAT foi avaliada no
e FLACC foi testada21. CPOT e NVPS apresentaram coeficiente de estudo24 e os autores concluíram que essa ferramenta possui boa
Cronbach de 0,89, o que significa alta confiabilidade. A ferramenta validade e confiabilidade entre avaliadores, sendo o coeficiente de
FLACC foi considerada a ferramenta mais utilizada na prática. A Cronbach de 0,82. Além disso, é uma ferramenta de fácil utilização
comparação entre a COMFORT e FLACC modificada foi realiza- e que permite uma abordagem padronizada para a avaliação de dor
da64 e o ICC encontrado foi de 0,71 para COMFORT e 0,63 para em pacientes adultos que não podem verbalizar a dor.
FLACC. A validade concorrente (p<0,05) sugere que ambas as esca-
las são confiáveis para avaliação da dor. Nepean Neonatal Intensive Care Unit Pain Assessment Tool
(NNICUPAT)
Behavior Pain Assessment Tool (BPAT) e Behavioral Indicators A validade da NNICUPAT para mensurar dor em UTI neonatal foi
of Infant Pain Scale (BIIPS) realizada e a confiabilidade inter-examinadores mostrou correlação
A escala BPAT foi considerada instrumento confiável e válido para significativa, sendo r = 0,88 e p<0,02.
mensurar dor em pacientes críticos (coeficiente Kappa variavam de
0,57 a 0,78)41. A BIIPS foi comparada à BPAT em um único es- Nonverbal Pain Scale (NVPS) versus Behavioral Pain Scale
tudo65 pelo método ANOVA, sendo a BIIPS considerada precisa (BPS) versus FACES versus Legs – Activity – Cry and Consola-
e válida para mensurar dor aguda em prematuros (coeficiente de bility Scale (FLACC) versus COMFORT Behaviour Scale versus
Pearson de 0,79). Numeric Rating Scale (NRS)
Em estudo incluído nesta revisão48, a validade e a sensibilidade de
Pain Assessment Tool (PAT) e COVERS scale seis escalas, NVPS, BPS, FACES, FLACC, COMFORT Behaviour
Através de um estudo prospectivo27, foi realizada validação da fer- Scale e NRS foram mensuradas com a finalidade de comparar suas
ramenta de avaliação de dor em recém-nascidos, a PAT. A confia- propriedades psicométricas na avaliação da dor em pacientes não
bilidade interexaminadores foi de 0,84 e as correlações de Pearson comunicativos. Os autores concluíram que as seis ferramentas tive-
de 0,76, p<0,001. Conclui-se que a PAT é considerada uma escala ram correlações de moderadas a altas confirmando sua validade para

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BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):263-74 Hora TC e Alves IG

avaliação da dor e sensibilidade para resposta a dor. No entanto, a Tabela 5. Qualidade metodológica dos estudos incluídos – continuação
utilização da FACES requer cuidado devido a sua subjetividade, que Autores 1 2 3 4 5 6 7 8 9
pode subentender respostas exageradas. Chanques et al. 53
NI NI + NI + NI NI + +
A classificação da qualidade dos estudos incluídos foi realizada pelo Morete et al54 NI NI + + + NI NI NI NI
COSMIN (Tabela 5). Dos 58 estudos, 21 não informaram a consis-
Rijkenberg et al.55 NI NI + + + NI NI + NI
tência interna, 20 não informaram a confiabilidade, 4 apresentaram
a validade de critério e 46 apresentaram validade de constructo. Topolovec-Vranic et al.56 NI NI + NI + NI NI + NI
Linde et al. 57 NI NI NI NI + NI + NI NI
Tabela 5. Qualidade metodológica dos estudos incluídos Batalha et al.58 NI NI + + + NI NI + NI
Autores 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Rivas, Rivas e Bustos 59
NI NI + NI NI NI NI + NI
Hylén et al. 33 NI NI NI + NI NI NI + NI Chen et al.60 NI NI NI + NI NI NI + NI
Kaya e Erden 26
NI NI + + NI NI NI + NI Numberg-Damstrom NI NI + + + NI NI + NI
et al.29
Sulla et al.14 NI NI + + NI NI NI + NI
Marmo e Fowler21 NI NI + NI NI NI NI + NI
Klein et al.34 NI NI NI + + NI + NI NI
Chanques et al.61 NI NI NI NI NI NI NI + +
Pudas-Tähkä e NI NI + + + NI NI NI NI
Salanterä30 Voepel-Lewis et al. 62 NI NI + NI + NI NI + NI
Fagioli et al.35 NI NI + + + NI NI NI NI Klein et al.24 NI NI + NI NI NI NI + NI
Shan et al. 36
NI NI NI + + NI NI + NI Chanques et al.63 NI NI + NI + NI NI + +
Ribeiro et al. 37 NI NI NI + + NI NI + NI Johansson e NI NI NI NI + NI + NI NI
Kokinsky64
Dionysako- NI NI + + + NI + NI NI
poulou et al.31 Kabes, Graves e NI NI + NI NI NI NI + NI
Norris25
Wiegand NI NI + NI NI NI NI + NI
et al.38 Holsti et al.65 NI NI NI NI NI NI NI + NI
Sulla et al. 20
NI NI + + NI NI NI + NI Gélinas e Johnston66 NI NI NI + + NI NI + NI
Kotfis et al. 39 NI NI + + + NI NI + NI Gélinas et al.67 NI NI NI NI NI NI NI + NI
Chookalayia et al. 18
NI NI + + + NI NI + NI Young et al.68 NI NI + NI NI NI NI NI +
Rijkenberg et al. 40
NI NI + NI + NI NI + NI McNair et al. 28
NI NI NI NI + NI NI + NI
Cheng et al. 32
NI NI NI + + NI NI + NI Marceau69 NI NI NI NI NI NI NI + NI
Gélinas et al. 41
NI NI NI NI + NI NI + NI Payen et al. 70
NI NI NI NI + NI NI NI NI
1.Validade do conteúdo; 2. Validade Estrutural; 3. Consistência Interna; 4. Va-
Azevedo-Santos et al. 42
NI NI + + + NI NI + NI
lidade transcultural; 5. Confiabilidade; 6. Erro de medição e reprodutibilidade;
Hylén et al. 15 NI NI NI + + NI NI + NI 7. Validade de critério; 8. Teste de hipótese para validade de constructo; 9.
Responsividade; NI: não informado.
Severgnini et al. 43
NI NI NI NI + NI NI + NI
Al Darwish, Hamdi e NI NI + NI + NI NI NI +
Fallatah44
DISCUSSÃO
O’Sullivan et al.16 NI NI + NI + NI NI + NI
Aktas e Karabulut45 NI NI + + + NI NI + NI Ainda que a avaliação e mensuração da dor sejam difíceis em pacien-
Latorre-Marco et al. 23
NI NI + + NI NI NI + NI tes graves, a mesma deve ser realizada de maneira válida e confiável
Frandsen et al.46 NI NI + + + NI NI + NI a fim de propiciar o controle da dor, se necessário. Assim, para usar
Joffe et al. 19
NI NI NI NI + NI NI + NI escalas de avaliação da dor na prática clínica, os profissionais preci-
sam conhecer o potencial de erros de mensuração das ferramentas e
Chen et al. 47 NI NI + + + NI NI + NI
o potencial que estas possuem para fornecer as informações necessá-
Rahu et al. 48
NI NI + NI NI NI NI + NI
rias, com precisão e reprodutibilidade.
Azevedo-Santos et al. 6 NI NI + + + NI NI + + Revisões e Guidelines publicados previamente sobre manejo da dor
Liu et al. 49
NI NI + + NI NI NI + NI na UTI71-74 reportam a importância do uso de escalas comportamen-
Boitor, Fiola e Gélinas17 NI NI NI NI + NI NI + NI tais de dor para avaliação dos pacientes. Esses estudos reforçam a
Latorre-Latorre-Marco NI NI + + NI NI NI + NI importância das ferramentas de avaliação da dor e seu uso por fi-
et al. 22 sioterapeutas e outros profissionais de saúde em UTIs. Além desses
Navarro-Colom et al.50 NI NI + NI + NI NI NI NI estudos, a mais nova diretriz de prática clínica escrita7 destaca que es-
Li et al.51 NI NI + + + NI NI + NI
tratégias de avaliação e manejo da dor para pacientes críticos devem
ser adotadas, dando ênfase na aplicabilidade clínica e na consciência
Echegaray-Benites, NI NI NI NI + NI NI + NI
Kapoustina e Gélinas dos profissionais sobre a importância da mensuração da dor.
et al.52 Ferramentas padrão de avaliação da dor e novas tendências para
Continua... mensuração da dor em pacientes sob VM, como a pupilometria,

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Escalas para a avaliação da dor na unidade de BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):263-74
terapia intensiva. Revisão sistemática

condutância da pele e índice bispectral (BIS), já são descritas na lite- REFERÊNCIAS


ratura para avaliação de dor nesses pacientes72,75-78. No entanto, exis-
1. Merskey H, Bogduk N. Part III: pain terms, a current list with definitions and notes
tem mais informações científicas acerca das escalas comportamentais on usage. Pain. 1994;2(3):209-14.
no que tange mensuração de dor na UTI em comparação com estes 2. Skrobik Y, Ahern S, Leblanc M, Marquis F, Awissi DK, Kavanagh BP. Protocolized in-
novos métodos71,74-77. Adicionalmente, o uso de escalas ainda cons- tensive care unit management of analgesia, sedation, and delirium improves analgesia
and subsyndromal delirium rates. Anesth Analg. 2010;111(2):451-63.
titui um método mais prático e barato, podendo ser incorporado 3. Vervest AC, Schimmel GH. Taxonomy of pain of the IASP. Pain. 1988;34(3):318-21.
com maior facilidade e abrangência no sistema de saúde. Portanto, 4. Bastos D, Silva G, Bastos I, Teixeira L. Dor. Rev Soc Bras Psicol Hosp. 2007;10(1):86-96.
5. Devlin JW, Skrobik Y, Gélinas C, Needham DM, Slooter AJC, Pandharipande PP, et
pela diretriz clínica publicada mais recentemente acerca do manejo al. Executive summary: clinical practice guidelines for the prevention and manage-
da dor na UTI, tem sido indicada a avaliação sistemática da dor nas ment of pain, agitation/sedation, delirium, immobility, and sleep disruption in adult
patients in the ICU. Crit Care Med. 2018;46(9):1532-48.
UTIs, uma vez que tal conduta promove modificação favorável no 6. Azevedo-Santos IF, Alves IG, Badauê-Passos D, Santana-Filho VJ, DeSantana JM.
desfecho clínico. Psychometric analysis of Behavioral Pain Scale Brazilian Version in sedated and mecha-
Cabe destacar a importância de se desenvolver estudos sobre a ava- nically ventilated adult patients: a preliminary study. Pain Pract. 2015;16(4):451-8.
7. Devlin JW, Skrobik Y, Gélinas C, Needham DM, Slooter AJC, Pandharipande PP, et
liação da dor em pacientes sob VM no Brasil, a fim de melhorar as al. Clinical practice guidelines for the prevention and management of pain, agitation/
evidências científicas sobre esse tema. Adicionalmente, é essencial sedation, delirium, immobility, and sleep disruption in adult patients in the ICU. Crit
Care Med. 2018;46(9):e825-73.
estimular a prática baseada em evidências nas UTIs, promovendo 8. Wøien H. Movements and trends in intensive care pain treatment and sedation: what
a avaliação da dor como o quinto sinal vital, por meio do uso de matters to the patient? J Clin Nurs. 2020;29(7-8):1129-40.
instrumentos de boa qualidade e, consequentemente, melhorando a 9. Durán-Crane A, Laserna A, López-Olivo MA, Cuenca JA, Díaz DP, Cardenas YR, et al.
Clinical practice guidelines and consensus statements about pain management in criti-
rotina de analgesia e sedação. No presente estudo foi possível obser- cally ill end-of-life patients: a systematic review. Crit Care Med. 2019;47(11):1619-26.
var que as escalas de avaliação de dor foram testadas em suas proprie- 10. Stephenson M, Riitano D, Wilson S, Leonardi-Bee J, Mabire C, Cooper K. Systema-
tic reviews of measurement properties. In: Aromataris E, Munn Z (Editors). Joanna
dades psicométricas e de forma distinta pelos autores. Os resultados Briggs Institute Reviewer’s Manual. The Joanna Briggs Institute [Internet]. 2017 [cita-
variaram para cada uma delas embora, de maneira geral, as escalas do 9 de abril de 2020]; Disponível em: https://reviewersmanual.joannabriggs.org/
11. Schardt C, Adams MB, Owens T, Keitz S, Fontelo P. Utilization of the PICO frame-
apresentaram bons índices psicométricos, sem grandes diferenças work to improve searching PubMed for clinical questions. BMC Med Inform Decis
quando foram comparadas entre si. Mak. 2007;7:16.
No Brasil, a escassez de escalas validadas para medir dor em pacien- 12. Fineout-Overholt E, Johnston L. Teaching EBP: asking searchable, answerable clinical
questions. Worldviews Evid Based Nurs. 2005;2(3):157-60.
tes que não verbalizam e estão internados UTI reforça a necessidade 13. Mokkink L, Terwee C, Patrick D, Alonso J, Stratford P, Knol D. COSMIN checklist
de mais estudos nessa área a fim de ampliar a disponibilidade de manual. EMGO Institute for Health and Care Research. Amsterdam, Netherlands.
2010 [citado 9 de abril de 2020]; Disponível em: http:// www.cosmin.nl/images/
instrumentos de mensuração e a comparação destes instrumentos upload/files/COSMIN%20checklist%20manual%20v9.pdf.
no que diz respeito a acurácia. No entanto, apesar do número re- 14. Sulla F, La Chimia M, Barbieri L, Gigantiello A, Iraci C, Virgili G, et al. A first contri-
bution to the validation of the Italian version of the Behavioral Pain Scale in sedated,
duzido de trabalhos científicos sobre o tema, a maioria dos estudos intubated, and mechanically ventilated paediatric patients. Acta Biomed. 2018;89(7-
que mesuraram validade, confiabilidade e/ou reprodutibilidade das S):19-24.
escalas no Brasil apresentou bons índices psicométricos tanto para 15. Hylén M, Akerman E, Alm-Roijer C, Idvall E. Behavioral Pain Scale – translation, relia-
bility, and validity in a Swedish context. Acta Anaesthesiol Scand. 2016;60(6)821-8.
BPS quanto para CPOT. 16. O’Sullivan AT, Rowley S, Ellis S, Faasse K, Petrie KJ. The validity and clinical utility
of the COVERS Scale and Pain Assessment Tool for Assessing Pain in Neonates Ad-
mitted to an Intensive Care Unit. Clin J Pain. 2016;32(1):51-7.
CONCLUSÃO 17. Boitor M, Fiola JL, Gélinas C. Validation of the critical-care pain observation tool
and vital signs in relation to the sensory and affective components of pain during
mediastinal tube removal in postoperative cardiac surgery intensive care unit adults. J
A dor não pode ser tratada se não puder ser avaliada. O prin- Cardiovasc Nurs. 2016;31(5):425-32.
cípio mais importante é que os profissionais devem avaliar os 18. Chookalayia H, Heidarzadeh M, Hassanpour-Darghah M, Aghamohammadi-
níveis de dor e se atentar para os aspectos metodológicos dos -Kalkhoranb M, Karimollahi M. The critical care pain observation tool is reliable
in non-agitated but not in agitated intubated patients. Intensive Crit Care Nurs.
instrumentos escolhidos. Escalas especiais desenvolvidas e vali- 2017;44:123-8.
dadas para pacientes com dificuldades de comunicação devem 19. Joffe AM, McNulty B, Boitor M, Marsh R, Gélinas C. Validation of the Critical-
-Care Pain Observation Tool in the brain-injured critically ill adults. J Crit Care.
ser disponibilizadas e deve existir um plano para avaliar a dor 2016;36:76-80.
nos diferentes cenários. 20. Sulla F, de Souza Ramos N, Terzi N, Trenta T, Uneddu M, Zaldivar Cruces MA, et al.
Validation of the Italian version of the Critical Pain Observation Tool in brain-injured
A maior parte das evidências publicadas até o momento apresen- critically ill adults. Acta Biomed. 2017;88(5S):48-54.
taram uma lacuna para indicar a superioridade entre as escalas que 21. Marmo L, Fowler S. Pain assessment tool in the critically ill post-open heart surgery
avaliam dor em pacientes em uso de VM. Os estudos incluídos res- patient population. Pain Manag Nurs. 2010;11(3):134-40.
22. Latorre-Marco I, Solís-Muñoz M, Acevedo-Nuevo M, Hernández-Sánchez ML, Lópe-
saltam que a maioria das escalas de avaliação da dor apresentam ín- z-López C, Sánchez-Sánchez Mdel M, et al. Validation of the Behavioural Indicators
dices de validade, confiabilidade e reprodutibilidade satisfatórios. of Pain Scale ESCID for pain assessment in non-communicative and mechanically
ventilated critically ill patients: a research protocol. J Adv Nurs. 2016;72(1):205-16.
No Brasil, cinco estudos de validação de escalas para mensurar dor 23. Latorre-Marco I, Acevedo-Nuevo M, Solís-Muñoz M, Hernández-Sánchez M, Lópe-
na UTI foram identificados e dois instrumentos se encontram va- z-López C, Sánchez-Sánchez MM, et al. Psychometric validation of the behavioral in-
dicators of pain scale for the assessment of pain in mechanically ventilated and unable
lidados, a BPS e a CPOT. Dentre estes artigos, a maior parte deles to self-report critical care patients. Med Intensiva. 2016;40(8):463-73.
evidenciou qualidade psicométrica adequada para a BPS, tornan- 24. Klein DG, Dumpe M, Katz E, Bena J. Pain assessment in the intensive care unit:
do-a confiável e válida para uso no Brasil. Quanto à CPOT, foi en- Development and psychometric testing of the nonverbal pain assessment tool. Heart
Lung. 2010;39(6):521-8.
contrado somente um estudo de validação que confirmou a con- 25. Kabes AM, Graves JK, Norris J. Further validation of the nonverbal pain scale in
fiabilidade deste instrumento para uso na prática clínica. Assim, a intensive care patients. Crit Care Nurse. 2009;29(1)59-66.
26. Kaya P, Erden S. Cross-cultural adaptation, validity and reliability of the Turkish ver-
decisão entre a escala a ser utilizada deve considerar facilidade de sion of revised nonverbal pain scale. Agri. 2019;31(1):15-22.
aplicação e familiaridade da equipe. 27. Spence K, Gillies D, Harrison D, Johnston L, Nagy S. A reliable pain assessment tool

273
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):263-74 Hora TC e Alves IG

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Nurs. 2005;34(1):80-6. -Care Pain Observation Tool (CPOT) with brain surgery patients in the neurosurgical
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274
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):275-9 ARTIGO DE REVISÃO

Efeito de células-tronco mesenquimais na regeneração das estruturas


associadas à articulação temporomandibular: revisão narrativa
Effect of mesenchymal stem cells on the regeneration of structures associated with
temporomandibular joint: narrative review
Caren Serra Bavaresco1,2,3, Thiago Kreutz Grossmann4, Daniela Seitenfus Rehm3, Eduardo Grossmann5

DOI 10.5935/2595-0118.20200044

RESUMO CONCLUSÃO: O uso de células-tronco parece ser eficaz no


tratamento das alterações degenerativas das estruturas associadas
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: As desordens temporoman- à articulação temporomandibular. Todavia, devido ao reduzido
dibulares constituem-se em um termo coletivo de problemas que número de estudos e sua heterogeneidade, os resultados apresen-
envolvem os músculos mastigatórios e/ou a articulação tempo- tados devem ser avaliados com parcimônia.
romandibular. Dentre esses, destacam-se os processos degenera- Descritores: Células-tronco, Disco da articulação temporoman-
tivos ósseos e do disco articular, contudo, ainda não foi identi- dibular, Transtornos da articulação temporomandibular.
ficado na literatura um tratamento eficaz para esses casos. Dessa
forma, o objetivo desse estudo foi avaliar o potencial reparador ABSTRACT
das células-tronco mesenquimais sobre as alterações degenerati-
vas das estruturas associadas à articulação temporomandibular BACKGROUND AND OBJECTIVES: Temporomandibular
em humanos e em modelos animais. disorders are the problems involving the masticatory muscles
CONTEÚDO: Foram incluídos ensaios de intervenção em hu- and/or the temporomandibular joint and, among them, the
manos e em animais que apresentassem como variável desfecho o bone and joint disc degenerative processes stand out. However,
reparo dos discos articulares e/ou da articulação temporomandibu- an effective treatment for these cases has not yet been identified
lar. Foram realizadas buscas nas seguintes bases de dados: Pubmed, in the literature. Thus, the primary objective of this study was to
LILACS, Scielo e Google Acadêmico. Os títulos e resumos foram evaluate the reparative potential of mesenchymal stem cells on
analisados para a pré-seleção dos artigos potencialmente elegíveis degenerative changes in structures associated with the temporo-
para sua inclusão. As informações coletadas de cada artigo foram mandibular joint in humans and animal models.
incluídas em planilha específica para essa finalidade contendo o CONTENTS: This narrative review included intervention trials in
ano de publicação, título do artigo, nome do autor, local do es- humans and animals that presented as an outcome variable the re-
tudo, tipo de estudo, metodologia, resultado e conclusões. Foram pair of joint discs and/or temporomandibular joint. The following
selecionados 2 estudos em humanos e 4 estudos em animais para databases were used: Pubmed, LILACS, Scielo and Google Scholar.
compor este estudo. Em todas essas pesquisas apresentadas, a pre- Titles and abstracts were analyzed for the pre-selection of articles
sença de células-tronco foi capaz de melhorar parâmetros clínicos, potentially eligible for inclusion in this review. The information col-
histológicos e morfológicos da articulação temporomandibular. lected from each article was included in a specific spreadsheet for
this purpose containing the year of publication, article title, author’s
name, study location, type of study, methodology, results, and con-
clusions. Two human studies and four animal studies were selected
Caren Serra Bavaresco – https://orcid.org/0000-0002-0730-3632;
Thiago Kreutz Grossmann – https://orcid.org/0000-0003-2681-4128;
to compose the narrative review. In all studies presented, the pre-
Daniela Seitenfus Rehm – https://orcid.org/0000-0003-2378-1359; sence of stem cells was able to improve the clinical, histological, and
Eduardo Grossmann – https://orcid.org/0000-0001-7619-3249. morphological parameters of the temporomandibular joint.
1. Universidade Luterana do Brasil, Porto Alegre, RS, Brasil. CONCLUSION: The use of stem cells seems to be effective in
2. Grupo Hospitalar Conceição, Saúde Comunitária, Porto Alegre, RS, Brasil. treating degenerative changes in temporomandibular joint asso-
3. Associação Brasileira de Odontologia, Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial,
Porto Alegre, RS, Brasil. ciated structures in both animal and human models. However,
4. Hospital Santa Casa de Misericórdia, Porto Alegre, RS, Brasil. due to the small number of studies and their heterogeneity, the
5. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Anatomia, Porto Alegre, RS, Brasil.
results presented should be evaluated sparingly.
Apresentado em 12 de abril de 2020. Keywords: Stem cells, Temporomandibular joint disc, Temporo-
Aceito para publicação em 01 de junho de 2020.
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há.
mandibular joint disorders.

Endereço para correspondência: INTRODUÇÃO


Caren Serra Bavaresco
Rua Mariz e Barros 219
90690-390 Porto Alegre, RS, Brasil. As desordens temporomandibulares (DTM) constituem-se em um
E-mail: c_bavaresco@yahoo.com.br
termo coletivo de problemas que envolvem os músculos mastigató-
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor rios e/ou a articulação temporomandibular (ATM). Dor, estalidos

275
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):275-9 Bavaresco CS, Grossmann TK, Rehm DS e Grossmann E

e limitação mandibular formam a clássica tríade de sintomas das Evidências também sugerem a existência de CTMs associadas ao
DTMs, podendo ser referidos aos músculos mastigatórios, à área fluido sinovial obtido de pacientes submetidos à artrocentese da
pré-auricular ou ambos1,2. Os seus subtipos mais comuns incluem as ATM14. Além disso, estudos recentes sugerem que a utilização de cé-
dores musculares e articulares, principalmente os deslocamentos do lulas-tronco em modelos animais de dor inflamatória, dor neuropá-
disco articular e as doenças articulares degenerativas2. Estudos epi- tica e associada ao câncer produzem poderosos efeitos analgésicos13.
demiológicos demonstraram que 20-25% da população apresentou, Partindo da perspectiva que ainda não está identificado na li-
ao menos, um sintoma associado à DTM2. teratura um tratamento eficaz para os casos de degeneração das
Quando as alternativas conservadoras para o tratamento das altera- estruturas associadas à ATM e do potencial formador de teci-
ções articulares não são efetivas, pode ocorrer a progressão da doença, dos e analgésico das CTMs, o objetivo primário deste estudo
culminando na modificação das estruturas ósseas e do disco articu- foi avaliar o potencial reparador das CTMs sobre as alterações
lar. O mecanismo do fenômeno doloroso ainda não foi completa- degenerativas das estruturas associadas à ATM em humanos e
mente elucidado, todavia sabe-se que quando a membrana sinovial em modelos animais.
da ATM está danificada, muitas citocinas inflamatórias são produ-
zidas e secretadas para o líquido sinovial, fomentando o processo CONTEÚDO
degenerativo e doloroso, o qual varia bastante entre os pacientes3.
As superfícies articulares da ATM são constituídas pelo osso tempo- Foi realizada uma revisão da literatura utilizando-se as bases de
ral, a fossa mandibular, o tubérculo articular e o côndilo mandibular dados Pubmed, LILACS, Scielo e Google (literatura cinza). A es-
(CM). A parte escamosa do osso temporal faz parte da formação tratégia de busca foi dividida para tornar mais sensível a seleção
do arco zigomático e da ATM, incluindo em sua extensão a fossa dos artigos. Para a busca em humanos, foram utilizados os seguin-
mandibular e o tubérculo articular, que atuam como anteparo para tes descritores: ((“temporomandibular joint” [MeSH Terms] OR
o côndilo da mandíbula durante a sua movimentação4. (“temporomandibular”[All Fields] AND “joint”[All Fields]) OR
Do ponto de vista anatômico, o CM é mediolateralmente mais “temporomandibular joint” [All Fields]) AND (“stem cells”[MeSH
longo do que no sentido anteroposterior, formando uma elipse no Terms] OR (“stem”[All Fields] AND “cells”[All Fields]) OR “stem
plano transversal. O tecido conjuntivo fibroso se estende até a pe- cells” [All Fields])) AND “humans” [MeSH Terms]. Para a busca
riferia do disco, fixando o disco articular ao côndilo da mandíbula em animais, foram utilizados os seguintes: ((“temporomandibular
inferiormente e ao osso temporal superiormente. Anteriormente e joint”[MeSH Terms] OR (“temporomandibular”[All Fields] AND
posteriormente, o CM se conecta ao disco da ATM via ligamentos “joint” [All Fields]) OR “temporomandibular joint” [All Fields])
capsulares, enquanto mediolateralmente, conecta-se ao disco através AND (“stem cells” [MeSH Terms] OR (“stem” [All Fields] AND
dos ligamentos colaterais. Esse arranjo garante um contato próximo “cells” [All Fields]) OR “stem cells” [All Fields])) AND “animals”
entre o disco e o CM durante o movimento articular4. [MeSH Terms:noexp].
O disco da ATM é caracterizado como uma fibrocartilagem e está Estratégias de buscas manuais foram realizadas na lista de referências
localizado entre o CM e o osso temporal, provendo os movimentos das publicações incluídas no estudo. Os títulos e resumos foram ana-
de rotação e translação mandibular5. A matriz extracelular do disco lisados para a pré-seleção dos artigos potencialmente elegíveis para
articular é composta por uma trama de colágeno do tipo I, que re- inclusão no estudo.
presenta 80-90% do seu peso seco5, e glicosaminoglicanos (GAGs), Foram incluídos os artigos cujos delineamentos fossem ensaios de
os quais representam até 10% do seu peso6. Aproximadamente dois intervenção em animais ou humanos e que apresentassem como
terços das suas células são fibroblastos, enquanto um terço apresenta variável desfecho o reparo dos discos articulares e/ou das estru-
morfologia semelhante aos condroblastos7. turas ósseas da ATM utilizando CTMs. Foram excluídos estudos
Apesar das funções e das propriedades mecânicas do disco articular de revisão de literatura, estudos in vitro, estudos realizados de
da ATM já estarem bem descritos, ainda não estão claras as suas ca- forma subcutânea e os que não apresentassem a referida variável
racterísticas biomecânicas nos processos inflamatórios e degenerati- desfecho. Não foram incluídas restrições referentes ao período
vos3,5,8. Nesse contexto, o estudo9 destaca que tanto o disco articular de publicação do manuscrito, exceto para o Google Acadêmico
como a membrana sinovial podem sofrer processos degenerativos onde a busca foi realizada nos últimos 3 anos a fim de identificar
após processos inflamatórios crônicos. os estudos mais recentes. As informações coletadas para a análise
Considera-se que a morte de condrócitos causada por apoptose ou qualitativa foram: autores, ano, local de publicação, metodolo-
necrose é uma característica central na doença osteoartrítica clíni- gia, resultados e conclusões.
ca ou experimentalmente. Diversas terapias foram instituídas com Foram encontrados 527 artigos através da utilização dos descritores
a intenção de recuperar a lesão articular apresentada em modelos estipulados para avaliação da efetividade do uso das CTMs na rege-
animais, todavia não foram capazes de estimular a proliferação local neração das estruturas relacionadas à ATM em humanos. Destes, 52
de condrócitos10. foram localizados através do Pubmed e 475 no Google Acadêmico.
As células-tronco mesenquimais (CTM) são células multipotentes Nas bases de dados LILACS e Scielo não foram encontrados artigos.
presentes em uma grande variedade de tecidos. Elas constituem uma Após a leitura dos títulos e resumos, foram selecionados 3 artigos
fonte de tecidos originários da mesoderme, como o tecido ósseo, o para leitura na íntegra, conforme a figura 1. Desses, apenas 2 foram
cartilaginoso e o adiposo. Essas células são capazes de adotar uma incluídos para a análise qualitativa, perfazendo um total de 41 pa-
morfologia fibroblastoide e, sob condições especiais, se diferenciam cientes (28 mulheres e 13 homens), com idades que variaram entre
em adipócitos, condrócitos e osteócitos11-13. 23 e 47 anos. Os países de origem dos estudos foram Brasil e Itália.

276
Efeito de células-tronco mesenquimais na regeneração das estruturas BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):275-9
associadas à articulação temporomandibular: revisão narrativa

Para os estudos em animais, foram encontrados 330 artigos, excluídos, restando 4 artigos para a leitura na íntegra. Os estu-
sendo 65 no Pubmed e 265 no Google Acadêmico. Nas bases dos foram realizados na Finlândia, Egito, China, Estados Uni-
de dados LILACS e Scielo não foram encontrados artigos. Após dos e Itália.
a leitura dos títulos e resumos, foram selecionados 14 artigos Os dados foram tabulados e apresentados na tabela 1 (estudos em
para leitura na íntegra, conforme a figura 2. Desses, 10 foram humanos) e tabela 2 (estudos em animais).

Artigos encontrados
Identificação

Identificação
Artigos identificados Artigos encontrados Artigos identificados
através das bases
através de outras fontes através das bases através de outras
de dados
(n=0) de dados (n=330) fontes (n=0)
(n=527)

Artigos removidos em duplicata Artigos removidos em duplicata


(n=0) (n=0)
Seleção

Seleção
Artigos selecionados Artigos excluídos Artigos selecionados Artigos excluídos
(n=52) (n=49) (n=65) (n=51)
Elegibilidade

Elegibilidade
Artigos selecionados Artigos selecionados
Artigos excluídos Artigos excluídos
para a leitura do texto para a leitura do texto
(n=1) (n=10)
na íntegra (n=3) na íntegra (n=14)
Inclusão

Inclusão

Estudos incluídos na Estudos incluídos na


análise qualitativa análise qualitativa
(n=2) (n=4)

Figura 1. Fluxograma para seleção dos artigos em humanos Figura 2. Fluxograma para seleção dos artigos em animais

Tabela 1. Apresentação dos estudos realizados em humanos incluídos na revisão


Autores e país Metodologia Resultados Conclusões
de Souza 1 paciente do sexo masculino com 27 anos, Todos os parâmetros clínicos avaliados Resultados promissores com o
Tesch et al.14 apresentando reabsorção dos côndilos mandi- mostraram melhoras significativas, sem uso das células-tronco.
bulares, principalmente do lado direito. a presença de eventos adversos.
Tecido utilizado para obtenção das células- Pode-se observar, através da TC, a pre-
-tronco: septo nasal. sença de nova formação óssea cortical
Avaliação das estruturas da articulação tem- e subcortical na ATM direita, redução
poromandibular (ATM) através de tomografia do espaço articular e recuperação par-
computadorizada (TC). cial da anatomia do côndilo mandibular
Variáveis avaliadas: dor articular, abertura bu- e do osso temporal.
cal máxima, ruídos articulares.
Tempo de acompanhamento: 1 semana; 2 se-
manas; 1 mês; 3 meses; 6 meses; 1 ano.
Carboni et 40 pacientes (28 mulheres e 12 homens) com Melhora dos parâmetros em ambos os O uso de células-tronco parece
al.15 alterações intra-articulares, divididos em 2 gru- grupos. O grupo teste apresentou me- ser uma alternativa promissora
Itália pos: grupo teste (artrocentese + células-tron- lhores resultados clínicos em relação à para o tratamento das desor-
co) e grupo controle (artrocentese + solução redução da dor e amplitude da abertura dens da ATM.
fisiológica). Idade variou entre 23 e 47 anos. bucal.
Tecido utilizado para obtenção das células- Em relação ao reparo das estruturas
-tronco: adiposo. articulares, apenas no grupo teste foi
Avaliação das estruturas da ATM através de observado o reparo quase completo da
ressonância nuclear magnética (RNM) morfologia do disco articular e dos liga-
Variáveis avaliadas: dor articular, cefaleia, dor mentos capsulares.
cervical, zumbido, braquialgia, tontura, ruídos
articulares, abertura máxima bucal.
Período de acompanhamento: 1 semana; 1
mês; 3 meses; 6 meses.

277
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):275-9 Bavaresco CS, Grossmann TK, Rehm DS e Grossmann E

Tabela 2. Apresentação dos estudos realizados em animais incluídos na revisão


Autores e país Metodologia Resultados Conclusões
Ahtiainen et Dez animais submetidos à remoção do disco articular bi- Aumento de 7 a 14 vezes na expressão das A utilização das
al.16 lateralmente. Discos inseridos na porção anterior do côn- moléculas de agrecan e colágeno tipo I e c é l u l a s - t ro n c o
Finlândia dilo da mandíbula. tipo II no grupo teste, após 6 e 12 meses, diferenciadas
Grupo Controle (lado direito) respectivamente. melhorou o pa-
Grupo teste (lado esquerdo): contendo os discos polilácti- Em relação a morfologia óssea, foi possível drão morfológico
cos com células-tronco (DCT). observar, no grupo teste, uma calcificação ósseo e do disco
Tempo de avaliação: 6 meses (5 animais) e 12 meses (5 maior no côndilo mandibular e no osso articular.
animais). temporal, assim como uma redução no nú-
Medidas avaliadas: Avaliação radiológica (tomografia cone mero de microcistos.
beam); Histologia (hematoxina e eosina ou tricômio de Mas- Na análise histológica, a cartilagem arti-
son´s); Expressão gênica dos componentes da matriz extra- cular no grupo teste pareceu mais regular
celular da fibrocartilagem no momento da implantação. quando comparada ao grupo controle.
Ciocca et al.17 Uma ovelha. Preparo dos suportes para as células-tronco A análise da formação óssea mostrou Aumento da rege-
Itália mediado pelo uso do CAD-CAM. uma diferença estatisticamente significan- neração óssea de
As células-tronco foram derivadas da medula óssea da te entre o grupo teste e o grupo controle até 79,7% após a
crista ilíaca e as plaquetas foram obtidas do sangue ve- (p<0,05). aplicação das cé-
noso da ovelha. Os valores relativos ao crescimento ósseo lulas-tronco.
Tempo de avaliação: 4 meses mostraram diferença significativa entre os
Medidas avaliadas: avaliação histológica e histomorfomé- côndilos mandibulares com e sem a pre-
trica. sença de células-tronco (p<0,05). O côndilo
mandibular do grupo teste mostrou maior
formação óssea.
Zhang et al.18 Ratas da linhagem C57BL/6J A MCUA causou perda de matriz óssea e A utilização de
China As células da medula óssea marcadas com proteína fluo- anquilose. As injeções semanais de célu- células-tronco foi
rescente verde (GFP-CTM) foram injetadas semanalmente las-tronco restauraram amplamente essas capaz de rever-
nas ATM, iniciando após 3 semanas de estimulação com alterações. ter os processos
mordida cruzada unilateral anterior (MCUA), continuando As células-tronco implantadas expressaram degenerativos
por 4, 8 e 12 semanas. um alto nível de proteína CD163, mas não provocados pela
Outro grupo parou de receber injeções por 4 semanas mostraram proliferação celular notável. O MCUA.
após 8 semanas de injeções. término do fornecimento de células-tronco
Medidas avaliadas: expressão de DAP3, CD163 e ki67. exógenas reverteu os efeitos restauradores.
Zaki et al.19 Cinquenta coelhos foram divididos em três grupos: Grupo As ATMs do subgrupo III, tratadas com te- As células-tronco
Egito. I (n=10) não recebeu tratamento. O grupo II (n=20) foi divi- rapia combinada, mostraram melhora em podem ser usa-
dido em 2 subgrupos de acordo com o tipo de tratamento. todos os parâmetros testados. das com segu-
Um subgrupo (n=10) recebeu uma injeção intra-articular rança e eficácia
(IA) de solução fisiológica (SF) e o outro (n=10) recebeu para reparar alte-
uma injeção IA de SF mais células-tronco. O grupo III rações degene-
(n=20) recebeu uma injeção de emulsão de óleo antes do rativas nas ATMs.
tratamento com SF ou SF mais células-tronco como no
grupo II.
Os coelhos foram sacrificados após a terceira semana e
as articulações foram processadas histologicamente.

DISCUSSÃO recentemente, o septo nasal14. Durante o crescimento in vitro, as


CTMs formam colônias chamadas unidade formadora de colônia
Após a leitura crítica dos estudos, foi possível identificar resulta- fibroblástica (CFU-F). A caracterização fenotípica dessas células
dos promissores com a utilização das CTMs, tanto em humanos revela a expressão de CD44, CD29, CD105, CD73 e CD166 e
quanto em modelos animais, nas perspectivas clínica, histológica ausência de marcadores de linhagem hematopoiética, como CD45
e morfológica. e CD3421.
A engenharia tecidual tem procurado encontrar substâncias que Várias alternativas terapêuticas têm sido propostas para recuperar
possam substituir os discos removidos, incluindo substâncias autó- a função e melhora dos parâmetros clínicos em indivíduos que
genas, tais como a derme e a fáscia do músculo temporal, até mate- apresentaram alterações articulares. Nesse contexto, as alterações
riais sintéticos produzidos a partir do silicone e politetrafluoretano. do disco articular são classificadas em 4 estágios com características
Nas últimas décadas, a implantação de condrócitos autólogos (ACI) patológicas progressivas: a) Deslocamento do disco articular. Es-
desenvolveu-se rapidamente. No entanto, a velocidade limitada de tágio 1: deslocamento do disco articular com redução; Estágio 2:
proliferação celular e diferenciação de condrócitos durante culturas deslocamento do disco articular com redução e travamento fechado
in vitro restringiu o uso de ACI20. intermitente; Estágio 3: deslocamento do disco articular sem redu-
Por outro lado, as CTMs tornaram-se objeto de crescente estudo ção (travamento fechado); Estágio 4: deslocamento do disco articu-
nessa área devido a sua alta capacidade proliferativa, custo inferior lar sem redução com evidência de perfuração do disco articular ou
e menor morbidade ao local do doador20. Sua obtenção tem sido doença articular degenerativa22. Dessa forma, ficou evidente que as
associada a polpa dentária, tecido adiposo, cordão umbilical e, mais abordagens terapêuticas devem estar relacionadas à gravidade da al-

278
Efeito de células-tronco mesenquimais na regeneração das estruturas BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):275-9
associadas à articulação temporomandibular: revisão narrativa

teração apresentada pelo paciente e sua implicação clínica, tendo na REFERÊNCIAS


infiltração articular de CTMs mais um promissor tratamento para
1. Okeson JP, de Leeuw R. Differential diagnosis of temporomandibular disorders and
essas doenças22. other orofacial pain disorders. Dent Clin North Am. 2011;55(1):105-20.
Em relação às evidências apresentadas nos dois estudos realizados em 2. Ohrbach R, Dworkin SF. The evolution of TMD diagnosis: past, present, future. J
humanos, observou-se melhora dos parâmetros clínicos, bem como a Dent Res. 2016;95(10):1093-101.
3. Kellesarian SV, Al-Kheraif AA, Vohra F, Ghanem A, Malmstrom H, Romanos GE,
presença de reparo ósseo avaliado através de exames de imagem. To- et al. Cytokine profile in the synovial fluid of patients with temporomandibular joint
davia, o número de estudos e de pacientes ainda é bastante reduzido, disorders: a systematic review. Cytokine. 2016;77:98-106.
4. Grossmann E. Algias Craniofaciais: Diagnóstico e Tratamento. São Paulo: Editora dos
devendo ser ampliado para que se possa ter resultados mais robustos Editores; 2019.
e concretos em relação à utilização de CTMs. Além disso, devem ser 5. Willard VP, Kalpakci KN, Reimer AJ, Athanasiou KA. The regional contribution of
glycosaminoglycans to temporomandibular joint disc compressive properties. J Bio-
estabelecidos padrões ouro para a definição de critérios diagnósticos a mech Eng. 2012;134(1):1-8.
fim de padronizar os estudos e os seus resultados derivados. 6. Fazaeli S, Ghazanfari S, Everts V, Smit TH, Koolstra JH. The contribution of collagen
Quanto às pesquisas realizadas em animais, caracterizadas como estu- fibers to the mechanical compressive properties of the temporomandibular joint disc.
Osteoarthritis Cartilage. 2016;24(7):1292-301.
dos pré-clinicos, foi possível observar comportamento semelhante ao 7. Mäenpää K, Ellä V, Mauno J, Kellomäki M, Suuronen R, Ylikomi T, et al. Use of adi-
obtido em humanos no que tange à recuperação da morfologia das pose stem cells and polylactide discs for tissue engineering of the temporomandibular
joint disc. J R Soc Interface. 2010;7(42):177-88.
estruturas afetadas pelos modelos de osteoartrite da ATM. Todavia, 8. Colombo V, Palla S, Gallo LM. Temporomandibular joint loading patterns related to
cabe ressaltar que há presença de modelos bastante heterogêneos entre joint morphology: a theoretical study. Cells Tissues Organs. 2008;187(4):295-306.
9. Wang XD, Cui SJ, Liu Y, Luo Q, Du RJ, Kou XX, et al. Deterioration of mechanical
os diferentes estudos. Neste contexto, o estudo23 relatou que estudos properties of discs in chronically inflamed TMJ. J Dent Res. 2014;93(11):1170-6.
realizados em uma única espécie animal não são capazes de prover 10. Wang XD, Kou XX, Mao JJ, Gan YH, Zhou YH. Sustained inflammation induces
resultados experimentais padrão com repeito às alterações da ATM, degeneration of the temporomandibular joint. J Dent Res. 2012;91(5):499-505.
11. Farrar WB. Characteristics of the condylar path in internal derangements of the TMJ.
sendo necessária a obtenção de modelos animais mais fidedignos24. J Prosthet Dent. 1978;39(3):319-23.
O exato mecanismo através do qual a presença de CTMs é capaz 12. Saleh R, Reza HM. Short review on human umbilical cord lining epithelial cells and
their potential clinical applications. Stem Cell Res Ther. 2017;8(1):222.
de melhorar as alterações degenerativas presentes na ATM ainda é 13. Huh Y, Ji RR, Chen G. Neuroinflammation, bone marrow stem cells, and chronic
pouco conhecido. Todavia, acredita-se que fatores de crescimento pain. Front Immunol. 2017;8:1014.
14. de Souza Tesch R, Takamori ER, Menezes K, Carias RBV, Dutra CLM, de Freitas
tais como o fator de crescimento tumoral β1 (TGF-β1) e a família Aguiar M, et al. Temporomandibular joint regeneration: proposal of a novel treatment
das proteínas morfogenéticas ósseas (BMPs) estão diretamente en- for condylar resorption after orthognathic surgery using transplantation of autolo-
volvidas nesse processo23. Além disso, autores25 demonstraram que gous nasal septum chondrocytes, and the first human case report. Stem Cell Res Ther.
2018;9(1):94.
a regulação da via Wnt promove o reparo das cartilagens mediado 15. Carboni A, Amodeo G, Perugini M, Arangio P, Orsini R, Scopelliti D. Temporo-
pela presença de CTMs. mandibular disorders clinical and anatomical outcomes after fat-derived stem cells
injection. J Craniofac Surg. 2019;30(3):793-7.
Em relação a redução da dor e do processo inflamatório, vários estu- 16. Ahtiainen K, Mauno J, Ellä V, Hagström J, Lindqvist C, Miettinen S, et al. Autolo-
dos relatam alívio da dor com a administração de CTMs em mode- gous adipose stem cells and polylactide discs in the replacement of the rabbit tempo-
romandibular joint disc. J R Soc Interface. 2013;10(85):20130287.
los de roedores após injeção sistêmica ou local. A injeção percutânea 17. Ciocca L, Donati D, Ragazzini S, Dozza B, Rossi F, Fantini M, et al. Mesenchymal
de CTMs também causou alívio, em longo prazo, em um estudo stem cells and platelet gel improve bone deposition within CAD-CAM custom-made
piloto de dor discogênica lombar em seres humanos26. Além disso, ceramic HA scaffolds for condyle substitution. Biomed Res Int. 2013;2013:549762.
18. Zhang M, Yang H, Lu L, Wan X, Zhang J, Zhang H, et al. Matrix replenishing by
outro estudo27 demonstrou que o uso de CTMs pode representar BMSCs is beneficial for osteoarthritic temporomandibular joint cartilage. Osteoarth-
uma nova abordagem no tratamento da dor neuropática através da ritis Cartilage. 2017;25(9):1551-62.
19. Zaki AA, Zaghloul M, Helal ME, Mansour NA, Grawish ME. Impact of autologous
redução significativa da dor. Estes resultados colaboram ainda mais bone marrow-derived stem cells on degenerative changes of articulating surfaces asso-
para a compreensão do alívio da dor mediado pelo uso de CTMs. ciated with the arthritic temporomandibular joint: an experimental study in Rabbits.
J Oral Maxillofac Surg. 2017;75(12):2529-39.
Dentre os vieses dos estudos em animais, apenas um estudo apresen- 20. Nejadnik H, Hui JH, Feng Choong EP, Tai BC, Lee EH. Autologous bone marro-
tou cálculo amostral para a realização dos experimentos. Além disso, w-derived mesenchymal stem cells versus autologous chondrocyte implantation: an
a necessidade do aparato laboratorial para diferenciação das CTMs observational cohort study. Am J Sports Med. 2010;38(6):1110-6.
21. Kanafi MM, Ramesh A, Gupta PK, Bhonde RR. Dental pulp stem cells immobilized
ainda impede a aproximação da técnica com a clínica odontológica, in alginate microspheres for applications in bone tissue engineering. Int Endod J.
sendo necessário o estabelecimento de protocolos mais simples para 2014;47(7):687-97.
22. Salash JR, Hossameldin RH, Almarza AJ, Chou JC, McCain JP, Mercuri LG, et al. Po-
que possam ser utilizados na rotina odontológica. tential indications for tissue engineering in temporomandibular joint surgery. J Oral
Maxillofac Surg. 2016;74(4):705-11.
23. Helgeland E, Shanbhag S, Pedersen TO, Mustafa K, Rosén A. Scaffold-based tempo-
CONCLUSÃO romandibular joint tissue regeneration in experimental animal models: a systematic
review Tissue Eng Part B Rev. 2018;24(4):300-16.
24. Zhang M, Yang H, Lu L, Wan X, Zhang J, Zhang H, et al. Matrix replenishing by
O uso de CTMs parece ser eficaz no tratamento das alterações de- BMSCs is beneficial for osteoarthritic temporomandibular joint cartilage. Osteoarth-
generativas das estruturas associadas à ATM tanto em modelos ani- ritis Cartilage. 2017;25(9):1551-62.
mais quanto em humanos. Devido ao reduzido número de estudos e 25. Zhou Y, Wang T, Hamilton JL, Chen D. Wnt/β-catenin signaling in osteoarthritis
and in other forms of arthritis. Curr Rheumatol Rep. 2017;19(9):53.
sua heterogeneidade, os resultados apresentados devem ser avaliados 26. Chen G, Park CK, Xie RG, Ji RR. Intrathecal bone marrow stromal cells inhibit
com parcimônia. Um número maior de pesquisas deve ser realizado neuropathic pain via TGF-β secretion. J Clin Invest. 2015;125(8):3226-40.
27. Di Cesare Mannelli L, Tenci B, Micheli L, Vona A, Corti F, Zanardelli M, et al. Adipo-
a fim de produzir evidências mais robustas em relação à implemen- se-derived stem cells decrease pain in a rat model of oxaliplatin-induced neuropathy:
tação dessa nova terapia. role of VEGF-A modulation. Neuropharmacology. 2018;131:166-75.

279
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):280-4 ARTIGO DE REVISÃO

Estresse financeiro e dor, o que surge após uma crise econômica?


Revisão integrativa
Financial stress and pain, what follows an economic crisis? Integrative review
Maurício Kosminsky1, Michele Gomes do Nascimento1, Gabriela Neves Silva de Oliveira1

DOI 10.5935/2595-0118.20200048

RESUMO ABSTRACT

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Inúmeros estudos epidemio- BACKGROUND AND OBJECTIVES: Numerous epidemio-
lógicos têm investigado as relações entre fatores socioeconômicos logical studies have investigated the relationships of socioecono-
e a percepção da dor. Esses estudos enfatizam principalmente mic factors and pain perception. These studies mainly emphasize
questões relacionadas à renda familiar. O impacto de questões issues related to family income. The impact of specific economic
econômicas específicas sobre o indivíduo e sua relação com a dor issues on the individual and their relationship to pain has not
não têm sido bem avaliados. O objetivo deste estudo foi avaliar been well studied. The purpose of this review is to evaluate the
se o estresse financeiro interfere nos sintomas da dor, conside- impact of financial stress on pain symptoms, considering how it
rando como ele interage e contribui para a experiência da dor, interacts and contributes to pain experience, regardless of its type
independentemente de seu tipo e cronicidade. and chronicity.
CONTEÚDO: Após pandemias, muitas vezes surge uma crise CONTENTS: After pandemics, a global economic crisis often
econômica global, com implicações relevantes para a saúde das emerges, with relevant implications in populations’ health. An
populações. Realizou-se uma revisão integrativa, com pesquisas integrative review was carried out, with searches developed in
desenvolvidas nas bases de dados Medline (via Pubmed), LILA- Medline (via Pubmed), LILACS (via BVS), Scielo and PsycINFO
CS (via BVS), Scielo e PsycINFO, limitadas às línguas portugue- databases, limited to Portuguese, Spanish and English languages,
sa, espanhola e inglesa, e sem restrição para ano de publicação. and no restriction for publication year. The PICO methodology
A metodologia PICO foi utilizada para selecionar os descritores was used to select descriptors from the research question. Selec-
da questão da pesquisa. Também foram estabelecidos critérios de tion and eligibility criteria were also established according to this
seleção e elegibilidade, de acordo com tal estratégia. A amostra strategy. The final review sample consisted of nine articles.
final da revisão consistiu em nove artigos. CONCLUSION: This review identified that financial stress re-
CONCLUSÃO: Identificou-se que o estresse financeiro repre- presents a risk factor for several pain-related parameters, such as
senta um fator de risco para vários parâmetros relacionados à dor, the prevalence of chronic pain, intensity and frequency of pain,
como a prevalência de dor crônica, intensidade e frequência de use of pain drugs and interference in daily activities. This is a
dor, uso de fármacos para o controle da dor e interferência nas fundamental issue, and its recognition can direct the professional
atividades diárias. Trata-se de uma questão fundamental, e seu to a broader and more effective treatment line.
reconhecimento pode direcionar o profissional a uma linha de Keywords: Chronic pain, Economics, Pain, Psychological stress.
tratamento mais ampla e eficaz.
Descritores: Dor, Dor crônica, Economia, Estresse psicológico. INTRODUÇÃO

A crise econômica causada pelo COVID-19 alcançou países de to-


das as faixas de desenvolvimento em muitos setores de suas econo-
mias. De acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC)
e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico,
Maurício Kosminsky – http://orcid.org/0000-0003-3111-7837; a pandemia atual é uma grande ameaça para a economia global1. Em
Michele Gomes do Nascimento – https://orcid.org/0000-0003-2175-7080;
Gabriela Neves Silva de Oliveira – https://orcid.org/0000-0002-2146-4387. tempos de dificuldade econômica, a saúde pode ser afetada brusca-
mente por novas demandas. Estima-se que que o custo do tratamen-
1. Universidade de Pernambuco, Centro de Controle da Dor Orofacial, Recife, PE, Brasil.
to de dor pode em breve ultrapassar as despesas de doenças cardíacas
Apresentado em 26 de março de 2020. ou câncer2. Em tempos de dificuldade econômica também aumenta
Aceito para publicação em 18 de junho de 2020. a carência de controle da dor na população3.
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há.
Devido ao momento da pandemia em curso, suas implicações eco-
Endereço para correspondência: nômicas e repercussões na saúde não podem ser precisamente deter-
Gabriela Neves Silva de Oliveira
Rua José Nunes da Cunhas, nº 4546 minadas. No entanto, comparações com eventos passados podem
54440-030 Jaboatão dos Guararapes, PE, Brasil. indicar efeitos danosos em potencial4. No início da década, a Europa
E-mail: gabrielaneves.oliveira@gmail.com
foi afetada por uma profunda crise econômica, produzindo um im-
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor pacto negativo no comportamento relacionado à dor das pessoas5.

280
Estresse financeiro e dor, o que surge após uma BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):280-4
crise econômica? Revisão integrativa

A segurança econômica é definida pela capacidade dos indivíduos,


lares e comunidades de cobrir seus gastos essenciais de uma maneira Registros identificados Registros adicionais

Identificação
por meio da procura identificados por meio
digna e sustentável6. Os custos associados de alimentos, habitação,
na base de dados de outras fontes
roupas, produtos de higiene, saúde e educação englobam os itens (n=440) (n=10)
classificados como “necessidades básicas’’7. Quando não é possível
garantir esses itens, dificuldades financeiras podem se tornar uma Registros depois de removidas
forma de estresse na vida das pessoas. as duplicatas (n=443)
O estresse financeiro (EF) é a condição pela qual uma empresa ou

Seleção
indivíduo não consegue gerar renda, sendo incapaz de cumprir com Registros Registros
suas obrigações financeiras. O EF pode ser classificado de duas for- selecionados excluídos
mas: EF crônico, associado com um baixo nível socioeconômico, e o (n=443) (n=424)
EF agudo, resultado de incidentes financeiros8. O primeiro é ligado
a tensões contínuas sem perspectiva imediata de solução, e o último Artigos completos

Elegibilidade
se refere a eventos graves diários9. As crises econômicas podem pro- avaliados para Artigos completos
elegibilidade (n=19) excluídos
vocar um ou ambos os eventos.
(n=10)
O EF causado pelas crises econômicas das pandemias tem um im-
pacto na saúde dos indivíduos, especialmente nos países mais vul- Estudos incluídos na Não mediram dor
neráveis. Uma vez que a literatura tem se concentrado neste tópico, análise qualitativa (n=9) (n=10)
o objetivo da presente revisão foi avaliar o impacto do EF nos sin-

Incluídos
Não mediram as
tomas de dor, considerando como ele interage e contribui para a dificuldades financeiras
Estudos incluídos na
experiência da dor, independentemente do seu tipo ou cronicidade. análise quantitativa (n=6)
(meta-análise) (n=0)
CONTEÚDO
Figura 1. Diagrama de fluxo de PRISMA para inclusão de artigos10
A revisão integrativa seguiu os passos recomendados: 1. Elaboração
da pergunta diretiva, 2. Estabelecimento dos critérios de inclusão estudos foram desenvolvidos, a distribuição foi de: Estados Unidos
e exclusão, 3. Análise crítica dos estudos incluídos, e 4. Extração, (4), Alemanha (2), Singapura (1), Japão (1) e Grécia (1). As amos-
síntese e apresentação dos dados10,11. A pergunta da pesquisa foi: ‘’O tras dos estudos variaram de 200 a 7560 participantes.
EF ou as dificuldades financeiras têm um efeito na dor?’’. Uma pro- Dos artigos selecionados, oito são transversais e um de coorte. Seis
cura abrangente foi conduzida a partir das bases de dados: Medline, instrumentos de EF foram identificados. A maioria dos estudos rea-
(via Pubmed), LILACS (via BVS), Scielo e PsycINFO até maio de lizou levantamentos específicos dos participantes (4). Os estudos co-
2020. Os termos de procura foram definidos de acordo com a me- letados avaliaram a variada faixa de dificuldades financeiras. Dentre
todologia PICO (Paciente, Intervenção, Comparação e Resultados). elas, recursos para gastos e necessidades diárias, superendividamen-
Foram incluídos primariamente: EF, superendividamento e dor, to, adversidade financeira subjetiva e habilidade de arcar com gastos
com termos relacionados em todas as áreas. Os limites foram de- básicos. Um estudo não especificou o tipo de dificuldade financeira
terminados para somente incluir estudos quantitativos em adultos e estudada. Para avaliar a exposição ao EF, o instrumento mais utili-
escritos em Inglês, Português e Espanhol, sem limites referentes ao zado foram os levantamentos específicos de cada estudo, desenvol-
período da publicação. As listas de referências das fontes coletadas vidos pelos próprios autores. Em alguns estudos, a exposição ao EF
também foram consultadas. A procura foi realizada com as seguintes foi coletada por meio de bases de dados de agências de consultoria
palavras-chave: ‘estresse financeiro’, ‘dificuldades financeiras’, ‘fardo de dívidas.
financeiro’, ‘pressão financeira’, ‘adversidades financeiras’, ‘superen- Quanto à investigação das condições de dor, a maioria dos estudos
dividamento’ e ‘dor’, combinados com os operadores booleanos: abordou a dor musculoesquelética, tanto aguda quanto crônica.
OU/E (dor), OU (percepção de dor), OU (dor aguda), OU (dor Um estudo avaliou especificamente a dor cervical e dois investi-
crônica), E “estresse financeiro”, OU “fardo financeiro”, OU “pres- garam a dor oncológica. Os resultados relacionados à dor incluem
são financeira”, OU “adversidades financeiras”, OU “dificuldades intensidade diária e/ou por período, impacto da dor na função,
financeiras”, OU “superendividamento”. frequência da dor e uso de fármaco para controle da dor. Para
Para a inclusão na revisão final, cada artigo atendeu ao seguinte cri- medir a condição dolorosa, os estudos utilizaram diversos instru-
tério: artigo original investigando o EF em jovens adultos ou adultos mentos e escalas. O uso do questionário McGill foi relatado em 2
mais velhos e o seu efeito na dor. Revisões de literatura, disserta- estudos. O Breve Inventário da Dor também foi citado por dois
ções, teses, estudos sem resultados bem estabelecidos ou artigos não estudos. Dois outros estudos utilizaram escalas numéricas. Os de-
relacionados ao tema foram excluídos. O processo da estratégia de mais estudos analisaram dados de diferentes bases de dados, porém
procura está apresentado na figura 1. não foram especificados.
O final da pesquisa gerou 9 estudos. Quanto aos anos de publicação, Todos os estudos incluídos nesta revisão encontraram associação en-
a maioria dos estudos tinham sido realizados nos últimos 5 anos. A tre EF, dificuldades financeiras ou endividamento com escores de
distribuição foi de um artigo para os anos de 2009, 2011, 2016, dor mais elevados, independentemente do tipo de dor ou população
2020, dois para 2018 e três para 2019. Quanto aos países onde os estudada. Os resultados são apresentados na tabela 1.

281
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):280-4 Kosminsky M, Nascimento MG e Oliveira GN

Tabela 1. Distribuição dos estudos de acordo com os autores, formato, medições e resultados relacionados à dor
Autores Formato EF Dor Avaliação do Avaliação da Resultados da Dor
EF Dor
Evans Transversal Recursos para Dor crônica Levantamento Questionário Dificuldades financeiras foram associadas à
et al.12 necessidades específico de Dor McGill dor crônica (r=0,29** p=0,000)
básicas
Evans Transversal Recursos para Intensidade Levantamento Questionário As dificuldades financeiras foram cor-
et al.13 necessidades da dor específico de Dor McGill relacionadas com a intensidade da dor.
básicas Os indivíduos com maiores dificuldades fi-
nanceiras relataram maior intensidade de
dor (p<,01).
Warth Transversal Superendivi- Vários crité- Centros de Levantamento O superendividamento aumentou significa-
et al.3 comparativo damento rios de dor consultoria de IOD tivamente as chances de dor após o ajuste
dívidas (aOR 1,30; 95%-IC1.07-1,59). Os superen-
dividados tiveram uma probabilidade signi-
DEGS1 ficativamente menor de usar fármaco para
dor em relação à população em geral após o
ajuste (aOR 0,76; 95%-IC0.58-0,99).
Malhotra Transversal Recursos para Interferência Questionário Breve Inventá- Uma pontuação mais alta de dificuldades
et al.14 gastos diários da dor em Americano de rio da Dor financeiras foi associada a pior resultado fí-
atividades Recursos e sico (ou seja, maior dor e sofrimento total)
diárias Serviços (p<0,05).
Batistaki Transversal A u t o p e rc e p - Intensidade Levantamento Escala Numé- A maioria dos pacientes (97,5%) acreditava que
et al.5 prospectivo ção da intensi- da dor específico rica a intensidade da sua dor teria melhorado se a
dade da crise sua situação financeira tivesse sido melhor.
Sekiguchi Coorte A u t o p e rc e p - Dor cervical Levantamento Comprehen- Foi observada uma taxa significativamente
et al.15 ção de difi- de início re- das condições sive Survey of maior de dor no pescoço nos participantes
culdade finan- cente de vida Living Condi- que consideraram suas dificuldades econô-
ceira tions micas subjetivas “duras” (OR 1⁄4 2,10, 95%
IC 1⁄4 1,34-3,30) ou “muito duras” (OR 1⁄4
3,26, 95% IC 1⁄4 1,83-5,46; p<0,001) em
comparação com aqueles que consideraram
suas dificuldades “normais”.
Lathan Transversal Reservas G r a v i d a d e Questionário Breve Inventá- Em comparação com pacientes com mais de
et al.16 retrospectivo financeiras em da dor de qualidade rio da Dor 12 meses de reservas financeiras, aqueles
meses de vida com reservas financeiras limitadas reporta-
ram aumento significativo da dor (diferença
média ajustada, 5,03 [IC 95%, 3,29 a 7,22] e
3,45 [IC 95%, 1,25 a 5,66]).
Rios e Transversal Habilidade de Intensidade Levantamento Escala numé- A interação entre a preocupação financeira
Zautra17 prospectivo arcar com gas- de dor diária específico rica diária e as dificuldades econômicas foi sig-
tos básicos nificativa. Este efeito foi estatisticamente
significativo após o controle da influência
das variáveis de controle de nível 2 (adver-
sidade econômica, idade, neuroticismo,
grupo diagnóstico e status de trabalho).
(β = .47, SE .23, p .04).
Ochsmann Transversal Superendivi- Presença de Agências de Levantamento Ser superendividado foi identificado como
et al.18 damento lombalgia consultoria de IOD um modificador de efeitos independente e
dívidas foi associado a maiores probabilidades de
sofrimento de dor nas costas (aOR:10,92,
95%IC: 8,96 – 13,46).
aOR = razões de chances ajustadas; IC = intervalos de confiança; EF = estresse financeiro; DEGS1: Alemanha (2008–2011); Levantamento IOD: Alemanha (2017).

DISCUSSÃO condição econômica16. Na literatura consultada, foram encontrados


apenas 9 artigos relatando associação ou correlação entre o EF e a
Para os autores, esta é a primeira revisão a sintetizar amplamente experiência de dor. Esses estudos têm demonstrado consistentemen-
as evidências publicadas sobre as condições de dor e a exposição ao te que esse tipo de estresse está associado a várias condições de dor.
EF. Todos os estudos incluídos nesta revisão estabeleceram uma re- Um estudo de análise multinível revelou que a preocupação finan-
lação entre o status socioeconômico e a dor. A renda familiar é uma ceira diária estava associada à dor diária, e também que as dificul-
avaliação que geralmente reflete a condição socioeconômica de um dades econômicas moderam os efeitos da preocupação financeira
indivíduo ou de um grupo de indivíduos. Por outro lado, a constru- diária na dor diária. A preocupação financeira levou a um aumento
ção do EF é uma medida subjetiva de como o indivíduo percebe sua significativo da dor entre aqueles que classificaram suas situações fi-

282
Estresse financeiro e dor, o que surge após uma BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):280-4
crise econômica? Revisão integrativa

nanceiras como mais estressantes. Aqueles com grandes dificuldades tos diretos e indiretos do tratamento, ponderando a condição finan-
econômicas foram os que sentiram mais dor nos dias com grandes ceira do paciente. Como forma de prevenção, os currículos escolares
preocupações financeiras, aqueles com um nível médio de dificulda- devem introduzir conteúdos relacionados à educação financeira.
des econômicas sentiram efeitos mais moderados da preocupação fi- Esta revisão tem algumas limitações. Em primeiro lugar, a maioria
nanceira diária na dor, e aqueles com baixas dificuldades econômicas dos estudos foi transversal. Entretanto, mesmo que a causalidade
pareceram não sentir qualquer impacto da preocupação financeira possa não ser assumida entre EF e dor, eles fornecem uma represen-
diária na dor. Esses achados indicaram que havia evidência de varia- tação geral das características ou frequência do ponto de dados visa-
ção considerável entre os indivíduos na relação entre a preocupação do, em qualquer momento, o que faz deles uma oportunidade útil
financeira diária e a dor17. de determinar a alocação de recursos para a população. Em segundo
É importante observar que ‘’renda familiar’’, termo frequentemente lugar, como o EF foi determinado de diversas formas, sua prevalên-
empregado em estudos para avaliar o status socioeconômico e a dor, cia pode ser subestimada, e torna-se difícil extrapolar esses achados
pode não ser adequado para avaliar as dificuldades econômicas reais para a população em geral. Finalmente, a dor não aliviada ou crônica
de um indivíduo, já que não reflete as obrigações financeiras ou dí- é uma condição incapacitante e também pode alterar a dinâmica fa-
vidas. Um estudo em particular encontrou uma associação temporal miliar e aumentar o EF ou o número de visitas ao sistema de saúde.
diária entre EF e percepção de dor mais elevada durante esse dia13. É Portanto, estudos longitudinais são recomendados para identificar a
importante ressaltar que indivíduos com renda familiar relacionada relação temporal entre exposição ao EF e dor, evitando equívocos.
ao estrato social mais baixo podem ter níveis reduzidos de EF. Por Estudos futuros devem identificar diferentes tipos de EF, estabele-
outro lado, os indivíduos com renda familiar associada ao estrato so- cendo uma pontuação para padronização de novas pesquisas, bem
cial mais elevado podem apresentar um nível elevado de EF devido como incluir desenhos que possam permitir entender como o EF
à presença de dívidas excessivas. interfere nas variáveis psicológicas, sociais e fisiológicas, alterando a
A partir desta perspectiva, as dívidas financeiras são relatadas como percepção da dor. Um dos pontos fortes desta revisão foi a utilização
relacionadas a vários problemas de saúde, particularmente aqueles da rigorosa metodologia fornecida pelo estudo11 para a realização
relacionados à saúde mental14. A dor é também uma experiência de uma revisão integrativa. Além disso, foram realizadas e repetidas
mais frequente em indivíduos com dívidas3 , e mesmo pequenas múltiplas checagens dos artigos fontes em diversas etapas do proces-
dívidas podem ampliar a percepção da dor15. De acordo com isso, so de análise para evitar conclusões prematuras errôneas.
dois estudos constataram que a crise econômica está associada a um
aumento na prevalência da dor5,16. Portanto, após uma crise eco- CONCLUSÃO
nômica global, pode ocorrer um fenômeno de endividamento18 e,
nesse caso, é de se esperar maiores índices de dor em indivíduos Esta revisão identificou que o EF representa um fator de risco para
financeiramente impactados por pandemias. vários parâmetros relacionados à dor, tais como prevalência de dor
Os estudos incluídos nesta revisão analisaram o EF de diferentes ma- crônica, intensidade da dor, frequência da dor, uso de fármaco para
neiras. Alguns deles relataram informações sobre a reserva financeira dor e interferência da dor nas atividades diárias. Considerando que
do último ano16, condições disponíveis para tratamentos de saúde, a dor é um fenômeno multifatorial, é preciso conhecer bem a si-
habitação e outras obrigações5, recursos para necessidades básicas tuação econômica do paciente, incluindo o superendividamento e
como alimentação ou contas públicas12,13,17, nível de endividamen- a dificuldade de pagar itens mensais essenciais. Esta é uma questão
to3,18, avaliação de dificuldades financeiras crônicas15 e questionários fundamental e o seu reconhecimento pode estender a consciência
desenvolvidos pelos autores5,12,13,17. De qualquer maneira, todos os profissional a uma linha de tratamento mais ampla e eficaz.
parâmetros de dor foram associados à exposição a EF.
Em 2016, um estudo desenvolvido entre uma amostra de 5343 pa- REFERÊNCIAS
cientes com câncer constatou que um grande número de indivíduos
1. Chakraborty I, Maity P. COVID-19 outbreak: migration, effects on society, global
estava propenso a relatar seu EF, sugerindo que esta variável pode ser environment and prevention. Sci Total Environ. 2020;728:138882.
usada como rotina durante a avaliação clínica16. O questionamento 2. Henschke N, Kamper SJ, Maher CG. The epidemiology and economic consequences
of pain. Mayo Clin Proc. 2015;90(1):139-47.
sobre o EF parece ser menos inconveniente do que a investigação 3. Warth J, Puth MR, Tillmann J, Porz J, Zier U, Weckbecker K, Muster E. Over-inde-
da renda familiar, pois o EF é encontrado em todos os estratos so- btedness and its association with pain and pain medication use. Prev Med Rep 2019;
ciais, causando assim menos constrangimento no fornecimento de 16: 100987.
4. Cerami C, Santi GC, Galandra C, Dodich A, Cappa SF, Vecchi T, et al. COVID-19
informações. A identificação deste grupo de pacientes vulneráveis Outbreak in Italy: are we ready for the psychosocial and economic crisis? Baseline
pode ser relevante quando o objetivo é fornecer uma terapêutica que Findings from the Longitudinal PsyCovid Study. SSRN Electron J. 2020;1. [Epub
ahead of print].
aborde aspectos mais amplos da dor14. 5. Batistaki C, Mavrocordatos P, Smyrnioti ME, Lyrakos G, Kitsou MC, Stamatiou G,
Nesse sentido, as dívidas financeiras intensificam vários parâme- et al. Patients’ perceptions of chronic pain during the economic crisis: lessons learned
from Greece. Pain Physician 2018;21(5):E533-43.
tros relacionados à dor3, podendo, consequentemente, aumentar os 6. What is Economic Security? https://www.icrc.org/en/document/introduction-econo-
custos de saúde da população. Durante a crise econômica, políticas mic-security (2015, accessed 19 May 2020).
que reduzem a carga financeira dos pacientes com altos níveis de EF 7. Jay MA, Bendayan R, Muthuri SG. Lifetime socioeconomic circumstances and chro-
nic pain in later adulthood: findings from a British birth cohort study. BMJ Open.
podem reduzir os custos finais para os sistemas de saúde. Com o 2019;19:e024250.
mesmo objetivo, a orientação para o controle das despesas familiares 8. Skinner MA, Zautra AJ, Reich JW. Financial stress predictors and the emotional and
physical health of chronic pain patients. CognTher Res. 2004;28:695-713.
pode ser uma ferramenta importante no cuidado individual. Além 9. Avison WR, Turner RJ. Stressful life events and depressive symptoms: disaggregating the
disso, o profissional de saúde deve ser cauteloso e considerar os cus- effects of acute stressors and chronic strains. J Health Soc Behav. 1988;29(3):253-64.

283
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):280-4 Kosminsky M, Nascimento MG e Oliveira GN

10. Moher D, Liberati A, Tetzlaff J, Altman DG, PRISMA Group. Preferred reporting cancer: results from the COMPASS study. Support Care Cancer. 2019;12 [Epub ah-
items for systematic reviews and meta-analyses: the PRISMA statement. PLoSMed. ead of print].
2009;6(7):e1000097. 15. Sekiguchi T, Hagiwara Y, Sugawara Y, Tomata Y, Tanj F, Watanabe T, et al. Influence
11. Souza MT, Silva MD, Carvalho R. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein. of subjective economic hardship on new onset of neck pain (so-called: katakori) in
2010;8(1 Pt 1):102-6. the chronic phase of the Great East Japan Earthquake: A prospective cohort study. J
12. Evans MC, Bazargan M, Cobb S, Assari S. Mental and physical health correlates of Orthop Sci. 2018;23(5):758-64.
financial difficulties among African-American older adults in low-income areas of Los 16. Lathan CS, Cronin A, Tucker-Seeley R, Zafar SY, Ayanian JZ, Schrag D. Association
Angeles. Front Public Health. 2020;8:21. of financial strain with symptom burden and quality of life for patients with lung or
13. Evans MC, Bazargan M, Cobb S, Assari S. Pain intensity among community-dwelling colorectal cancer. J Clin Oncol. 2016;34(15):1732-40.
African American older adults in an economically disadvantaged area of Los Angeles: social, 17. Rios R, Zautra AJ. Socioeconomic disparities in pain: the role of economic hardship
behavioral, and health determinants. Int J Environ Res Public Health. 2019;16(20):3894. and daily financial worry. Health Psychol. 2011;30(1):58-66.
14. Malhotra C, Harding R, Teo I, Ozdemir S, Hoh GCH, Neo P, et al. Financial difficul- 18. Ochsmann EB, Rueger H, Letzel S, Drexler H, Muenster E. Over-indebtedness and
ties are associated with greater total pain and suffering among patients with advanced its association with the prevalence of back pain. BMC Public Health. 2009;9:451.

284
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):285-7 RELATO DE CASO

Fotobiomodulação como adjuvante no tratamento farmacológico da


neuralgia trigeminal. Relato de caso
Photobiomodulation as an adjuvant in the pharmacological treatment of trigeminal neuralgia.
Case report
João Paulo Colesanti Tanganeli1, Denise Sabbagh Haddad2, Sandra Kalil Bussadori1

DOI 10.5935/2595-0118.20200042

RESUMO ABSTRACT

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A neuralgia trigeminal pro- BACKGROUND AND OBJECTIVES: Trigeminal Neuralgia
voca intenso sofrimento e comprometimento da qualidade de causes intense suffering and impaired quality of life. The diag-
vida. O diagnóstico é clínico. A termografia tem se mostrado nosis is clinical. Thermography has been proven to be a useful
uma ferramenta útil tanto para a confirmação quanto para o tool, both for confirming and monitoring this neuralgia. Photo-
acompanhamento dessa neuralgia. A fotobiomodulação está cada biomodulation is being increasingly well documented, especially
vez mais bem documentada, em especial quando associada com when associated with the first-choice therapy, which is pharma-
a terapia de primeira escolha, que é a farmacoterapia. O objetivo cotherapy. In this case report, the objective was to investigate the
deste estudo foi investigar a atuação do laser, associado a anticon- performance of the laser, associated with anticonvulsants, in a
vulsivante, em paciente com neuralgia trigeminal, considerando patient with trigeminal neuralgia, considering its results from a
os seus resultados sob o ponto de vista clínico e termográfico. clinical and thermographic point of view.
RELATO DO CASO: Paciente do sexo masculino, 62 anos, por- CASE REPORT: Male patient, 62 years old, presenting idiopa-
tador de neuralgia trigeminal idiopática, diagnosticado há 4 anos, thic trigeminal neuralgia, diagnosed 4 years before, being con-
sendo controlado com oxcarbazepina (600mg), dividida em 2 do- trolled with oxcarbazepine (600mg), divided in 2 daily doses,
ses diárias, sendo esta dose dobrada no último ano. Nos últimos being the dose doubled in the last year. In the last 4 months, the
quatro meses os sintomas se agravaram com o aumento da dose do symptoms worsened with the increase in the drug dosage, gene-
fármaco, gerando efeitos adversos não suportados pelo paciente. rating side effects not supported by the patient. Photobiomodu-
Foi proposta a fotobiomodulação como tratamento complemen- lation was proposed as a complementary treatment, with infrared
tar, sendo realizada a termografia infravermelha antes e depois do thermography being performed before and after treatment. After
tratamento. Após o protocolo de laserterapia de baixa intensida- the low-intensity laser therapy protocol, there was a significant
de, houve melhora significativa, demonstrada tanto pelo relato improvement, demonstrated both by the patients report and the
do paciente quanto observado pela termografia, mantendo-se esse thermography, maintaining this result in the 6-month control.
resultado no controle de seis meses. O fármaco foi reduzido para The dosage was reduced to 300 mg/day, restoring quality of life.
300mg/dia, o que devolveu ao paciente a qualidade de vida. CONCLUSION: Low-intensity infrared laser photobiomodula-
CONCLUSÃO: A fotobiomodulação por laser de baixa intensi- tion can be extremely useful when associated with an appropriate
dade infravermelho pode ser extremamente útil quando associa- drug in the control of idiopathic trigeminal neuralgia, both in
da a um adequado fármaco no controle da neuralgia trigeminal the immediate and medium-term outcome.
idiopática, tanto no resultado imediato quanto a médio prazo. Keywords: Laser therapy, Thermography, Trigeminal Neuralgia.
Descritores: Neuralgia do trigêmeo, Terapia a laser, Termografia.
INTRODUÇÃO
João Paulo Colesanti Tanganeli – https://orcid.org/0000-0002-8022-6987;
Denise Sabbagh Haddad – https://orcid.org/0000-0001-7053-0881; A neuralgia trigeminal (NT) é uma doença que envolve o V par
Sandra Kalil Bussadori – https://orcid.org/0000-0002-9853-1138.
craniano, apresentando como características dor intensa, paroxísti-
1. Universidade Nove de Julho, Programa de Pós-Graduação em Biofotônica Aplicada às ca e de curta duração. Os pacientes reportam a dor como um cho-
Ciências da Saúde, São Paulo, SP, Brasil.
2. Universidade de São Paulo, Departamento de Estomatologia, Disciplina de Radiologia,
que elétrico, sendo frequentemente desencadeada por estímulos
São Paulo, SP, Brasil. não nociceptivos, tais como mastigar, pentear os cabelos, escovar
Apresentado em 21 de janeiro de 2020.
os dentes, fazer a barba ou mesmo toques suaves na região envol-
Aceito para publicação em 13 de maio de 2020. vida, fenômeno esse conhecido como alodínia. O portador geral-
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há.
mente passa por vários profissionais de saúde até obter o diagnós-
Endereço para correspondência: tico correto. Nesse cenário, o cirurgião-dentista é, muitas vezes, o
João Paulo Colesanti Tanganeli
Rua Cotoxó, 303 cj 86 – Perdizes
primeiro profissional a ser procurado e tem um papel fundamental
05021-000 São Paulo, SP, Brasil. no diagnóstico diferencial com respeito às dores odontogênicas. É
E-mail: tanganeliodonto@hotmail.com    tanganeliodonto@gmail.com
frequente se observar diversos procedimentos iatrogênicos, como
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor endodontias e exodontias desnecessárias e que podem até agravar a

285
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):285-7 Tanganeli JP, Haddad DS e Bussadori SK

situação do paciente. De acordo com a Classificação Internacional da língula e forâmen mentual. A energia entregue por ponto foi de
de Cefaleias (ICHD), estabelecida pela Sociedade Internacional de 4J (133,2J/cm2),10 sessões e intervalo de 72h entre as aplicações.
Cefaleias, a NT enquadra-se na parte III, item 13: lesões dolorosas Ao final do protocolo de fotobiomodulação, foi realizado novo re-
dos nervos cranianos e outras dores faciais, subdivisão 13.1.1, com gistro termográfico, mostrando que o padrão passou a ser simétrico
as seguintes divisões: - 13.1.1.1: NT clássica; -13.1.1.2: NT secun- (ΔT<0,3°C). O neurologista diminuiu a administração do fármaco
dária e 13.1.1.3: NT idiopática. para 150mg/dia, com significativo controle da dor. No acompanha-
O diagnóstico é clínico, mas pode ser complementado pela termo- mento de seis meses, o paciente relatou efetivo controle da dor (EAV
grafia infravermelha, útil tanto para o diagnóstico quanto para o entre 1 e 2) com completa recuperação da qualidade de vida.
acompanhamento da evolução do caso. A literatura ainda é escassa
em relação ao uso da termografia na NT. Entretanto, os autores são
unânimes em afirmar o uso promissor desse exame como auxiliar
de diagnóstico. Além disso, salientam a importância desse exame na
diferenciação entre as dores neuropáticas e de origem pulpar. Por ser
um método de diagnóstico por imagem, não invasivo, a termografia
é capaz de detectar e registrar imagens infravermelhas que refletem
a dinâmica microcirculatória da superfície cutânea em tempo real,
compreendendo os sistemas vascular, neurovegetativo e musculoes- Figura 1. Termografia anterior ao tratamento
quelético, além de processos inflamatórios1-3.
O objetivo deste estudo foi investigar a atuação do laser, associado a
anticonvulsivante em paciente com NT, considerando os seus resul-
tados sob o ponto de vista clínico e termográfico.

RELATO DO CASO

Paciente do sexo masculino, 62 anos de idade. Queixava-se de dor Figura 2. Termografia posterior ao tratamento - 72 horas após a úl-
intensa em choque elétrico de curta duração, junto à região da asa tima sessão
do nariz, lado direito, de grau 9 pela escala analógica visual (EAV).
Como fatores desencadeantes, o paciente citava mastigação, barbear- DISCUSSÃO
-se, escovar os dentes e falar. O histórico relatava que a dor fora diag-
nosticada há 4 anos como NT idiopática, sendo tratado pelo mé- Os efeitos da fotobiomodulação estão muito bem documenta-
dico neurologista com oxcarbazepina (600mg) dividida em 2 doses dos, incluindo-se o controle das dores neuropáticas. Uma recente
ao dia nos primeiros dois anos, sendo essa dose dobrada no último revisão sistemática, avaliando a eficácia da terapia por LBI no
ano. Entre 2016 e 2017 foi submetido à reabilitação protética com tratamento das dores neuropáticas, concluiu que tal tratamento
realização de implantes odontológicos. A proposta do neurologista pode ser efetivo tanto para NT quanto para outras condições
seria aumentar ainda mais a dose, sendo essa conduta não tolerada como neuralgia occipital e síndrome de ardência bucal, de for-
pelo paciente por conta dos efeitos adversos, tais como sonolência, ma isolada ou combinada com outras terapias5. Essa mesma re-
perda de reflexos e vertigem. Assim, com o objetivo de melhorar os comendação pode ser observada por outro estudo6. Em relação
sintomas sem aumentar os efeitos adversos vivenciados, foi proposto à combinação de laserterapia e fármaco, o estudo controlado7
o tratamento por meio de laser de baixa intensidade (LBI). Com o demonstrou que a utilização do laser pode complementar a far-
intuito de auxiliar o diagnóstico e quantificar o acompanhamento macoterapia de forma que permita a redução da dose e conse-
terapêutico, foi solicitado o exame de termografia infravermelha. quentemente menores efeitos adversos. Observou-se na literatura
No primeiro registro, foi possível identificar o envolvimento hipor- variações de protocolos, que podem levar a conclusões erradas
radiante dos segundo e terceiro ramos do nervo trigêmeo do lado por conta de subdose, comprimento de onda inadequado etc.8. A
direito, assimetria térmica dos terços médio=0,4oC e inferior=0,6oC. fotobiomodulação também tem sido investigada em outras do-
O equipamento utilizado para a aquisição das imagens foi o Ther- res neuropáticas orofaciais, tais como neuralgia pós-herpética9,10,
maCAM® T450 (FLIR® Systems, Inc., Wilsonville, OR), sendo que neuropatias diabéticas11,12 e dores neuropáticas não orofaciais,
todo o protocolo termográfico foi baseado no guideline da Academia como do nervo ciático13. A comparação da fotobiomodulação
Americana de Termologia (AAT)4. com outras terapias não farmacológicas, tais como estimulação
O tratamento por fotobiomodulação foi proposto e aceito seguindo eletromagnética transcraniana, demonstrou que ambas podem
o protocolo abaixo: ser efetivas, sendo a primeira mais eficaz quando se trata de dores
LBI com potência de saída de 100mW, sendo utilizado o compri- associadas a doenças sistêmicas, como a esclerose múltipla14.
mento de onda infravermelho próximo, 808nm. Aplicação pontual, Os mecanismos que explicariam esses efeitos positivos podem
com distância de 5mm entre os pontos, ao longo do trajeto do ramo ser relacionados à otimização da atividade mitocondrial, modu-
maxilar da região inferior do arco zigomático até a emergência do lação da informação nociceptiva aferente, alteração da excitabi-
nervo infraorbital, e ao longo do nervo alveolar inferior parte do lidade e condução neural, assim como a modulação do processo
ramo mandibular do trigêmeo, trajeto extrabucal e intrabucal região inflamatório associado15,16. Uma interessante revisão sistemática

286
Fotobiomodulação como adjuvante no tratamento BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):285-7
farmacológico da neuralgia trigeminal. Relato de caso

mostra que a terapia por LBI é efetiva no tratamento das dores REFERÊNCIAS
neuropáticas, sendo recomendada a utilização do comprimento
1. Graff-Radford SB, Ketelaer MC, Gratt BM, Solberg WK. Thermographic assessment
de onda infravermelho (780 a 905nm), sugerindo-se potência de of neurophatic facial pain. J Orofac Pain. 1995;9(2):138-46.
saída mínima de 70mW. Contudo, não se pode estabelecer ainda 2. Haddad DS, Brioschi ML, Baladi MG, Arita ES. A new evaluation of the heat dis-
um protocolo adequado em relação à dose final, devido a sua tribution on facial  skin  surface  by  infrared  thermography. Dentomaxillofac Radiol.
2016;45(4):20150264.
variação com respeito as doses empregadas com sucesso16. Em 3. Hardy PA, Bowsher DR. Contact thermography in idiopathic trigeminal neuralgia
relação ao emprego da termografia nas dores neuropáticas, a li- and other facial pains. Br J Neurosurg. 1989;3(3):399-401.
4. American Academy of Thermology, Guidelines for dental-oral and systemic health
teratura mostra resultados satisfatórios, em especial às condições infrared thermography. Pan Am Journal Med Thermol. 2019;5(1):41-55.
de neuropatia periférica associadas ao diabetes17,18. Entretanto, 5. de Pedro M, López-Pintor RM, de la Hoz-Aizpurua JL, Casañas E, Hernández G.
Efficacy of low-level laser therapy for the therapeutic management of neurophatic
quanto às dores orofaciais, até o momento existe uma escassez orofacial pain: a systematic review. J Oral Facial Pain Headache. 2018;34(1):13-30.
de artigos e não há uma padronização em relação aos protocolos, 6. Falaki F, Nejat AH, Dalirsani Z. The effect of low-level laser therapy on trigeminal
neuralgia: a review of literature. J Dent Res Dent Clin Dent Prospects. 2014;8(1):1-5.
mas a literatura mostra que o emprego de tal técnica de imagem 7. Ebrahimi H, Najafi S, Khayamzadeh M, Zahedi A, Mahdavi A. Therapeutic and
é promissor como auxiliar de diagnóstico. A assimetria térmica é analgesic efficacy of laser in conjunction with pharmaceutical therapy for trigeminal
a determinante que irá indicar as possíveis alterações. Os reflexos neuralgia. J Lasers Med Sci. 2018;9(1):63-8.
8. Amanat D, Ebrahimi H, Lavaee F, Alipour A. The adjunct therapeutic effect of lasers
simpáticos que irão desencadear a dor paroxística sem que os es- with medication in the management of orofacial pain: double blind randomized con-
tímulos sejam nociceptivos podem ser detectados por diferenças trolled trial. Photomed Laser Surg. 2013;31(10):474-9.
9. Al-Maweri SA, Kalakonda B, AlAizari NA, Al-Soneidar WA, Ashraf S, Abdulrab S,
de temperatura da ordem de 0,4ºC1-3. et al. Efficacy of low-level laser therapy in management of recurrent herpes labialis: a
No presente relato, observou-se que a melhora reportada pelo systematic review. Lasers Med Sci. 2018;33(7):1423-30.
10. Gomes RN, Viana LV, Ramos JS, Castro NM, Nicolau RA. Effects of photobiosti-
paciente foi coerente com as imagens termográficas de simetria mulation in the treatment of post-herpetic neuralgia: a case report. Rev Bras Geriatr
térmica entre os lados direito e esquerdo com ΔT<0,3°C, tanto Gerontol. 2018;21(1):102-7.
no pós-operatório imediato, quanto no controle de seis meses, 11. Abdel- Wahhab KG, Daoud EM, El Gendy A, Mourad HH, Mannaa FA, Saber MM.
Efficiencies of low-level laser therapy (LLLT) and gabapentin in the management of peri-
mantendo-se estável e efetiva. pheral neuropathy: diabetic neuropathy. Appl Biochem Biotechnol. 2018;186(1):161-73.
12. Rocha IR, Ciena AP, Rosa AS, Martins DO, Chacur M. Photobiostimulation reverses
alodynia and peripheral nerve damage in streptozotocin-induced type 1 diabetes. La-
CONCLUSÃO sers Med Sci. 2017;32(3):495-501.
13. de Andrade ALM, Bossini PS, do Canto de Souza ALM, Sanchez AD, Parizotto NA.
Effect of photobiomodulation therapy (808 nm) in the control of neuropathic pain in
A fotobiomodulação associada ao fármaco anticonvulsivante de mice. Lasers Med Sci. 2017;32(4):865-72.
primeira escolha foi efetiva no controle da dor provocada pela 14. Seada YI, Nofel R, Sayed HM. Comparison between trans-cranial electromagnetic
stimulation and low-level laser on modulation of trigeminal neuralgia. J Phys Ther Sci.
NT idiopática. Os registros obtidos pela termografia foram coe- 2013;25(8):911-4.
rentes com a melhora dos sintomas relatados pelo paciente, tanto 15. Holanda VM, Chavantes MC, Wu X, Anders JJ. The mechanistic basis for photobio-
nos resultados imediatos quanto no médio prazo. O emprego do modulation therapy of neuropathic pain by near infrared laser light. Lasers Surg Med.
2017;49(5):516-24.
LBI permitiu a redução da dose do fármaco e, consequentemen- 16. de Andrade AL, Bossini PS, Parizotto NA. Use of low-level laser therapy to control
te, dos efeitos adversos, melhorando significativamente a quali- neuropathic pain: a systematic review. J Photochem Photobiol B. 2016;164:36-42.
17. Astasio-Picado A, Martínez EE, Gómez-Martín B. Comparison of thermal foot maps
dade de vida do paciente. Novos protocolos otimizados devem between diabetic patients with neurophatic, vascular, neurovascular, and no complica-
ser realizados, tanto na fotobiomodulação quanto no registro dos tions. Curr Diabetes Rev. 2019;15(6):503-9.
18. Gatt A, Falzon O, Cassar K, Ellul C, Camilleri KP, Gauci J, et al. Establishing diffe-
padrões termográficos nos pacientes com dores orofaciais neuro- rences in thermographic patterns between the various complications in diabetic foot
páticas e na NT. disease. Int J Endocrinol. 2018;12;2018:9808295.

287
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):288-91 RELATO DE CASO

Manejo de dor em pacientes com osteoartrite de joelho por bloqueio


dos nervos geniculares guiado por ultrassonografia. Relato de casos
Pain management in patients with knee osteoarthritis by ultrasound-guided genicular nerve
block. Case reports
Thiago Alves Rodrigues1, Eduardo José Silva Gomes de Oliveira1, João Batista Santos Garcia1

DOI 10.5935/2595-0118.20200051

RESUMO ABSTRACT

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A osteoartrite do joelho é BACKGROUND AND OBJECTIVES: Knee osteoarthritis is


uma doença crônica que tende a afetar pessoas idosas e é carac- a chronic disease that tends to affect elderly people and is cha-
terizada por dor intensa, rigidez articular e limitação da mobili- racterized by severe pain, joint stiffness and limited function. In
dade. Em casos mais avançados, a abordagem da osteoartrite do more advanced cases, the initial approach of knee osteoarthri-
joelho com o tratamento conservador convencional farmacoló- tis performed with traditional conservative pharmacological or
gico e não farmacológico pode não apresentar resultados satisfa- non-pharmacological treatment may not present satisfactory re-
tórios. Nesse sentido, existem alternativas de intervenção em dor sults. There are alternatives for pain intervention with favorable
com resultados favoráveis, com maior tempo de analgesia e que results, with longer analgesia and that can help rehabilitation,
auxiliam a reabilitação, como a realização de bloqueios analgési- such as analgesic peripheral nerve blocks, including the genicular
cos em nervos periféricos, como bloqueio dos nervos geniculares nerve block, and radiofrequency ablation. The objective of this
e a ablação por radiofrequência. Este estudo teve como objetivo study is to report cases of genicular nerve block guided by ultra-
relatar casos de bloqueios dos nervos geniculares guiados por ul- sonography, with favorable results in relation to analgesia and
trassonografia, com resultados favoráveis em relação à analgesia e return of functional capacity.
retorno da capacidade funcional. CASE REPORTS: Four elderly patients diagnosed with advan-
RELATO DOS CASOS: Quatro pacientes idosos diagnosticados ced knee osteoarthritis, with limited range of motion, and with
com osteoartrite de joelho em grau avançado, com limitação da severe chronic pain (mean visual numeric scale - VNS=7.75)
amplitude de movimento e com dor crônica, com intensidade mé- were submitted to ultrasound-guided genicular nerve block, pre-
dia de 7,75 pela escala visual numérica, foram submetidos ao blo- senting significant pain improvement (mean VNS after 1 month
queio de nervos geniculares guiado por ultrassonografia, apresen- of block=2.25) and regain of functional capacity. There were no
tando melhora importante da dor após um mês do bloqueio, com cases of complications. 
intensidade média de 2,25 e reganho da capacidade funcional, não CONCLUSION: Genicular nerve block guided by ultrasono-
havendo casos de complicações relacionadas aos bloqueios.  graphy is a technique that can be performed as an intervention
CONCLUSÃO: O bloqueio dos nervos geniculares guiado por measure in pain. It presents satisfactory results of analgesia and
ultrassonografia é uma técnica que promoveu analgesia satisfató- regain of functional capacity, facilitating the rehabilitation pro-
ria e ganho da capacidade funcional, além de facilitar o processo cess, and can be adopted in an outpatient clinic context.
de reabilitação, podendo ser realizada em caráter ambulatorial. Keywords: Knee osteoarthritis, Nerve block, Pain, Ultrasonography.
Descritores: Bloqueio nervoso, Dor, Osteoartrite do joelho, Ul-
trassonografia. INTRODUÇÃO

A osteoartrite do joelho (OAJ) é uma doença crônica que tende a


Thiago Alves Rodrigues – https://orcid.org/0000-0003-3086-6844; afetar pessoas idosas e é caracterizada por dor intensa, rigidez arti-
Eduardo José Silva Gomes de Oliveira – https://orcid.org/0000-0003-0883-4774; cular e limitação da mobilidade1-3. A abordagem terapêutica da OAJ
João Batista Santos Garcia – https://orcid.org/0000-0002-3597-6471.
inclui técnicas farmacológicas e não farmacológicas4,5. Apesar destes
1. Universidade Federal do Maranhão, Hospital Universitário, Ambulatório de Dor Crônica, tratamentos, muitos pacientes continuam a sofrer de dor refratária
São Luís, MA, Brasil.
no joelho6.
Apresentado em 14 de fevereiro de 2020. Nesse sentido, existem alternativas de intervenção em dor com resul-
Aceito para publicação em 10 de maio de 2020. tados favoráveis, que produzem reduções significativas na dor e au-
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há.
xiliam a reabilitação por meio da melhora na capacidade funcional,
Endereço para correspondência: como bloqueio de nervos periféricos7-9 e a utilização de ablação por
Thiago Alves Rodrigues
R. Barão de Itapari, 282 – Centro radiofrequência (RF)10-12.
65070-220 São Luís, MA, Brasil. Os bloqueios de nervos periféricos dos membros inferiores são téc-
E-mail: thiagoalves2005@gmail.com
nicas bem descritas na literatura. O uso infrequente destas técnicas
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor em caráter ambulatorial pode ser devido, em alguns casos, à neces-

288
Manejo de dor em pacientes com osteoartrite de joelho por bloqueio BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):288-91
dos nervos geniculares guiado por ultrassonografia. Relato de casos

sidade de um alto volume de anestésico, várias injeções, bloqueio tratamento conservador para alívio da dor não apresentava resposta
motor secundário eventual, que limita o tratamento ambulatorial satisfatória. Não apresentavam doenças de tecido conjuntivo, nem
do paciente e a necessidade de uma revisão completa da anatomia, déficits neurológicos prévios ou doenças psiquiátricas (Tabela 1).
mas sobretudo pela falta de conhecimento dos benefícios que os blo- O BNG foi realizado na sala de procedimentos do ambulatório de
queios nervosos periféricos podem trazer para o paciente7-9. As téc- dor crônica sob técnica asséptica e monitorização de pressão arterial,
nicas de bloqueios nervosos guiadas por ultrassom (US) são basea- cardioscópio e saturação arterial de oxigênio. Não foram adminis-
das na visualização direta das estruturas e da agulha, possibilitando trados sedativos ou pré-medicação. Cada paciente foi colocado na
acompanhar em tempo real a dispersão do anestésico local, podendo posição supina com um travesseiro debaixo da fossa poplítea para
obter um bloqueio mais eficaz, de menor latência, dependência de aliviar o desconforto e posicionar os joelhos ligeiramente flexiona-
referências anatômicas e volume de solução anestésica, além de apre- dos. O transdutor linear de alta frequência 12MHz foi posicionado
sentar maior segurança13. para abordagem em plano, primeiro SM, depois SL e, por último,
A inervação da articulação do joelho é fornecida por diversos ramos IM, ao longo da epífise do fêmur ou da tíbia e movido para cima
articulares, divididos em compartimentos anterior e posterior. Os ou para baixo para identificar os epicôndilos dos referidos ossos. As
ramos nervosos do compartimento anterior são provenientes dos artérias geniculares foram identificadas perto do periósteo, nas jun-
nervos femoral, fibular comum e safeno. Os ramos do comparti- ções do epicôndilo com as epífises do fêmur e tíbia, confirmadas pela
mento posterior são provenientes dos nervos tibial, obturador e ciá- presença da pulsatilidade. Assim, os pontos-alvo do BNG deviam
tico. A conjugação e a organização desses ramos anteriores formam estar próximos a cada artéria genicular, porque as artérias genicular
os nervos geniculares, que são responsáveis pela maior parte da iner- SL, SM e IM percorrem ao lado dos respectivos nervos geniculares,
vação sensitiva da área anterior da articulação do joelho14-19, assim, ou superfícies corticais femorais e tibiais devido à sua relação topo-
são alvos para bloqueios sensitivos7-9 e ablação por RF10-12. Os ramos gráfica com os feixes neurovasculares geniculares (Figuras 1, 2 e 3).
geniculares súperomedial (SM), súperolateral (SL) e inferomedial Depois de confirmar o posicionamento da ponta de agulha Pajunk®
(IM) podem ser alcançados com grande acurácia sob orientação de 22Gx100mm UniPlex NanoLine próximo a uma artéria genicular,
US, com visualização direta ou de pontos de referência que determi- administrou-se 5mL de uma solução contendo 4mL de bupivacaína
nam a localização pela proximidade15,16. sem vasoconstritor a 0,5% e 1mL (2mg) de dexametasona em cada
O bloqueio dos nervos geniculares (BNG) guiado por US é baseado local-alvo (SL, SM e IM), totalizando 15mL de solução. Nos casos
em estudos anatômicos que demonstram que os nervos geniculares de bloqueio bilateral, estes foram realizados com uma semana de
são acompanhados por artérias geniculares e estão localizados próxi- diferença para cada joelho.
mos a estruturas ósseas, musculares e tendíneas14-19 que permitem me-
lhor visualização e acurácia com US15,16. São realizadas punções ao re-
dor do joelho, próximas da localização de cada nervo a ser bloqueado,
para infiltração de solução com anestésico local e corticoesteroide7-9.
O presente estudo teve como objetivo relatar uma série de casos ava-
liando a eficácia dessa técnica de bloqueio guiado por US em relação
ao tempo de analgesia e retorno de capacidade funcional.

RELATO DOS CASOS

Esta série de casos incluiu pacientes acompanhados no Ambulatório


de Dor Crônica do Hospital Universitário da Universidade Federal
do Maranhão entre outubro de 2019 e janeiro de 2020.
Os pacientes apresentados eram idosos (idade 60-79 anos, média=69
anos) com dor crônica no joelho e achados radiológicos revelando Figura 1. Bloqueio dos nervos genicuclares.
OAJ avançada (Kellgren-Lawrence grau ≥3). Nestes pacientes, o Fonte: https://calvinjohnsonmd.com/genicular-block

Tabela 1. Pacientes diagnosticados com osteoartrite de joelho submetidos a bloqueio genicular guiado por ultrassonografia
Casos Sexo Idade Comorbidades Limitação Tratamento Reabilitação Bloqueio EVN EVN um mês
(anos) de mov. genicular antes pós-bloqueio
1 M 79 HAS/DAC/DM2/OP 45º Glucosamina+condroitina FST Bilateral 8 3
Analgésica
2 F 60 OA/OP 45º Glucosamina+condroitina/ FST Bilateral 7 2
duloxetina Analgésica
3 M 71 HAS/OP 45º Glucosamina+condroitina/ FST Bilateral 8 1
codeína Analgésica
4 F 66 OA/OP/HAS/DM2 45º Dipirona/alendronato/codeína FST Esquerdo 8 3
Glaucoma Analgésica
DAC = doença arterial coronariana; DM2 = diabetes mellitus tipo 2; HAS = hipertensão arterial sistêmica; OA = Osteoartrite; OP = Osteoporose; FST = fisioterapia;
EVN = escala visual numérica; M = masculino; F = feminino.

289
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):288-91 Rodrigues TA, Oliveira EJ e Garcia JB

em casos mais avançados, que apresentam maiores níveis de dor e


de acometimento da capacidade funcional, levando à ocorrência de
dor refratária ao tratamento6. Lançar mão de técnicas minimamente
invasivas, como bloqueios periféricos, pode agregar valor ao manejo
álgico de tais pacientes. Neste contexto, apresenta-se como opção
terapêutica o BNG, relatado nesta série.
A técnica do BNG sob orientação de US incluiu os nervos genicula-
res SM, SL e IM para bloqueio sensitivo. O ramo ínfero lateral não é
incluído devido à sua proximidade ao nervo fibular comum, respon-
sável pela inervação motora da perna e do pé16,18. Foram utilizadas as
artérias geniculares e superfícies ósseas como pontos de referência no
US, método já relatado em outros estudos, para se realizar bloqueio
por dispersão da solução próxima ao nervo e ter maior segurança
durante o procedimento7,8,11. Como estas estruturas nervosas apre-
sentam difícil visualização por conta de seus tamanhos reduzidos e
Figura 2. Nervo e artéria genicular superolateral das artérias que acompanham seus trajetos, os pontos de referência
para o BNG devem ser próximos de cada artéria genicular ou da
superfície cortical óssea, independentemente da visualização dos
respectivos nervos, pois são mais fáceis de localizar sob orientação
do US, devido à pulsatilidade das artérias e hiperecogenicidade dos
ossos7,8,11. Contudo, em pacientes idosos e com doença vascular pe-
riférica avançada, estas artérias podem não ser visíveis ou podem ter
um diâmetro muito pequeno, o que dificulta a visualização. Dessa
forma, outros pontos de referência importantes são as superfícies
corticais femorais e tibiais devido à sua estreita relação topográfica
com os feixes neurovasculares geniculares.
O uso de US facilita o alcance dos nervos geniculares por meio da
dispersão de maiores volumes da solução contendo anestésico local
e corticosteroides, utilizando essas estruturas como referência, em
casos de localização imprecisa15,16. A dose escolhida foi baseada em
dados previamente publicados, que apresentam uma variação em
relação ao volume da solução, variando de 2 a 6mL, de acordo com
os anestésicos locais e corticosteroides utilizados, além da concentra-
ção destes7-9,20. Vale ressaltar que o BNG também pode ser realizado
Figura 3. Bloqueio do nervo genicular superior lateral utilizando a relação com uso de radioscopia, requerendo maior estrutura e realização em
entre artéria e nervo e a superfície cortical para guiar o posicionamento ambiente cirúrgico, além de não permitir visualização de estruturas
da agulha vasculares sem uso de contraste16,18.
O BNG associado a corticosteroide pode apresentar eficácia seme-
Os pacientes foram observados durante 2h na sala de recuperação lhante à ablação por RF9, uma técnica emergente, geralmente prece-
e depois liberados. Durante essas 2h, os pacientes foram avaliados dida de BNG diagnóstico com anestésico local, que parece ser eficaz
em relação à amplitude de movimento e capacidade para deambu- no tratamento da dor de difícil controle em casos de OAJ10-12. Assim,
lar sem auxílio de órteses. A dor foi avaliada usando EVN antes do o BNG associado a corticosteroide foi escolhido como técnica neste
bloqueio e após 1 mês do procedimento. A média da EVN antes estudo para auxiliar no manejo da dor crônica de difícil controle,
do procedimento foi de 7,75 e, após um mês, de 2,25. Todos os com melhora momentânea do quadro álgico, possibilitando melhor
pacientes apresentaram melhora importante da dor e da amplitude adesão às terapias adjuvantes de reabilitação em pacientes com OAJ,
do movimento, conseguindo realizar a reabilitação com maior faci- podendo apresentar melhora sustentada por maior tempo. A uti-
lidade. Nenhuma complicação em relação à técnica foi observada. lização da US para guiar o procedimento trouxe maior segurança,
evitando complicações relacionadas à punção vascular19,21 ou falhas
DISCUSSÃO na realização do bloqueio, permitindo a realização em situação am-
bulatorial sem maiores dificuldades.
A abordagem conservadora do tratamento da OAJ envolve, além O BNG pode atuar como intervenção que facilita o processo de
de terapia farmacológica, a prescrição de fisioterapia, hidroterapia, reabilitação, sendo necessários mais estudos para estabelecer indica-
acupuntura, viscossuplementação, infiltrações intra-articulares de ções mais concretas e precisas. Sua ação sobre a inervação sensitiva
corticosteroides, órteses e mudanças de estilo de vida, como redução do joelho é uma opção a considerar quando a infiltração articular e
de peso e exercício físico4,5. Apesar da presença de várias modalidades a prótese total de joelho não podem ser realizadas, ou existe comor-
de tratamento conservador, este pode não alcançar bons resultados bidade associada que contraindica a infiltração devido ao risco de

290
Manejo de dor em pacientes com osteoartrite de joelho por bloqueio BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):288-91
dos nervos geniculares guiado por ultrassonografia. Relato de casos

hematoma ou artrite séptica. Também pode ser uma opção quando 8. Demir Y, Güzelküçük U, Tezel K, Aydemir K, Taşkaynatan MA. A different approach
to the management of osteoarthritis in the knee: Ultrasound guided genicular nerve
a infiltração articular não é mais eficaz ou em casos em que o pacien- block. Pain Med. 2017;18(1):181-3.
te aguarda artroplastia de joelho. 9. Qudsi-Sinclair S, Borrás-Rubio E, Abellan-Guillén JF, Padilla Del Rey ML, Ruiz-Me-
rino G. A comparison of genicular nerve treatment using either radiofrequency or
analgesic block with corticosteroid for pain after a total knee arthroplasty: a double-
CONCLUSÃO -blind, randomized clinical study. Pain Pract. 2017;17(5):578-88.
10. Choi WJ, Hwang SJ, Song JG, Leem JG, Kang YU, Park PH, et al. Radiofrequency
treatment relieves chronic knee osteoarthritis pain: a double-blind randomized con-
Nestes relatos de casos, o BNG revelou-se um tratamento eficaz para trolled trial. Pain. 2011;152(3):481-7.
a dor crônica relacionada à OAJ, em que o US facilitou e melhorou 11. Protzman NM, Gyi J, Malhotra AD, Kooch JE. Examining the feasibility of ra-
diofrequency treatment for chronic knee pain after total knee arthroplasty. PM R.
os resultados, além de ser possível a realização da técnica em casos de 2014;6(4):373-6.
localização imprecisa por conta de acometimento vascular causado 12. Kesikburun S, Yaşar E, Uran A, Adigüzel E, Yilmaz B. Ultrasound-guided genicular
nerve pulsed radiofrequency treatment for painful knee osteoarthritis: a preliminary
pelo uso de volumes maiores de solução anestésica. report. Pain Physician. 2016;19(5):E751-9.
13. Helayel PE, Conceição DB, Oliveira Filho GR. Bloqueios nervosos guiados por ultra-
-som. Rev Bras Anestesiol 2007;57(1):106-23.
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2013;39(1):1-19. nd-guided genicular nerve block: a cadaveric study. Pain Physician. 2015;18(5):E899-
2. Nazarinasab M, Motamedfar A, Moqadam AE. Investigating mental health in pa- 904.
tients with osteoarthritis and its relationship with some clinical and demographic fac- 16. Tran J, Peng PWH, Lam K, Baig E, Agur AMR, Gofeld M. Anatomical Study of the
tors. Reumatologia. 2017;55(4):183-8. Innervation of Anterior Knee Joint Capsule: Implication for Image-Guided Interven-
3. de Rooij M, van der Leeden M, Heymans MW, Holla JF, Häkkinen A, Lems WF, et tion. Reg Anesth Pain Med. 2018;43(4):407-14.
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systematic review and meta-analysis. Arthritis Care Res. 2016;68(4):481-92. the anterior capsule of the human knee: implications for radiofrequency ablation. Reg
4. Bannuru RR, Osani MC, Vaysbrot EE, Arden NK, Bennell K, Bierma-Zeinstra SMA, Anesth Pain Med. 2015;40(4):363-71.
et al. OARSI Guidelines for the non-surgical management of knee, hip, and polyarti- 18. Fonkoué L, Behets C, Kouassi JK, et al. Distribution of sensory nerves supplying the
cular osteoarthritis. Osteoarthritis Cartilage. 2019;27(11):1578-89. knee joint capsule and implications for genicular blockade and radiofrequency abla-
5. DeRogatis M, Anis HK, Sodhi N, Ehiorobo JO, Chughtai M, Bhave A, et al. Non- tion: an anatomical study. Surg Radiol Anat. 2019;41(12):1461-71.
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6. Crawford DC, Miller LE, Block JE. Conservative management of symptomatic knee 2016;19(5):E697-705.
osteoarthritis: a flawed strategy? Orthop Rev. 2013;5:e2. 20. Ergönenç T and Serbülent GB. Long-term effects of ultrasound-guided genicular ner-
7. Kim DH, Choi SS, Yoon SH, Lee SH, Seo DK, Lee IG, et al. Ultrasound-guided ve pulsed radiofrequency on pain and knee functions in patients with gonarthrosis.
genicular nerve block for knee osteoarthritis: a double-blind, randomized controlled Sakarya Med J. 2019;9(1): 52-8.
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2018;21(1):41-52. after genicular nerve radiofrequency ablation. Pain Rep. 2019;4(3):e736.

291
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):292-3 CARTA AO EDITOR

O que falar sobre pacientes com dor durante e após a pandemia por
COVID-19?
What about patients with pain during and after the COVID-19 pandemic?
DOI 10.5935/2595-0118.20200181

Prezado editor, Ademais, a telessaúde provavelmente será incorporada por alguns ser-
viços depois desse uso forçado das ferramentas tecnológicas e da expe-
Que começo de 2020! A pandemia trouxe inumeráveis desafios para riência com os pacientes, como mencionado na recente publicação da
a saúde pública, para a política, economia e relações pessoais em PAIN7. Entretanto, os profissionais da saúde devem ter cuidado no
todo o mundo. A COVID-19 provocou grandes impactos1. O foco futuro quando esta crise humanitária tiver sido resolvida, pois precisa-
foi direcionado para a assistência aos pacientes que foram infecta- remos ter critérios claros para indicar que tipo de paciente/doença/dis-
dos pelo vírus, especialmente aqueles que desenvolveram distúrbios função ou que fase do tratamento da dor pode ser abordada usando-se
respiratórios graves. Por outro lado, muitos pacientes com doenças a telessaúde. Não existem garantias de que isso funcionará para todo e
crônicas foram destituídos de sua rotina, e do acesso seguro e fácil ao qualquer caso. A dor crônica é multidimensional, e os pacientes com
seu tratamento de saúde. dor geralmente precisam de assistência e contato presencial. Uma carta
A dor é a queixa mais prevalente em todo o mundo, e a dor não recentemente publicada no BrJP8 descreveu os principais fatores que
aliviada continua sendo um problema de saúde global. Entretanto, devem ser considerados para essa implementação no Brasil.
uma revisão sistemática mostrou que a prevalência de pacientes com Além disso, as pessoas têm características biopsicossociais que afetam
dor crônica na população geral nos países em desenvolvimento foi a dor. Os componentes biológicos, psicoemocionais e os aspectos
de 18%. Estudos com a população brasileira identificaram que entre sociais são relevantes para o paciente com dor9. Ainda considerando
28 e 40% da população sofre com dores crônicas, com maior pre- o contexto biológico, o isolamento social interferiu tremendamente
valência entre as mulheres, idosos, e população com baixo índice de nas estratégias físicas para o tratamento da dor. A prática de exercí-
desenvolvimento humano2,3. Durante o período da pandemia glo- cios tem sido o padrão-ouro no tratamento da maioria das condições
bal, os riscos de morbidade da dor, e até mesmo mortalidade, podem de dor crônica.
ser drasticamente amplificados. Segundo a Organização Mundial da Entretanto, muitos pacientes com dor precisam de uma supervisão
Saúde, as pandemias anteriores geraram um número maior de pa- profissional adequada e espaço apropriado para realizar e se manter
cientes com diagnóstico de dor osteomuscular crônica associada ao em um programa de exercícios físicos. Agora, os pacientes estão em
transtorno de estresse pós-traumático4. casa. Eles estão se movimentando o suficiente? Eles têm vontade de
O que realmente acontece com esses pacientes durante o período de se movimentar? Eles têm acesso aos profissionais de saúde que pos-
quarentena? Esse não é um cenário promissor para os pacientes com sam ajudá-los e fazer o acompanhamento virtual? Eles têm acesso a
dor crônica, principalmente nos países em desenvolvimento. Não há essa nova tecnologia? Eles são motivados (por eles mesmos ou pelos
dúvida de que aquilo que pode ser feito para tratar a dor é diferente familiares/amigos) para se exercitarem? Infelizmente, a maioria já
daquilo que foi feito nos países em desenvolvimento. Alguns fatores parou de se movimentar.
contribuíram para essa situação, tais como a formação limitada dos Além do mais, vários aspectos psicoemocionais estão fortemente
profissionais de saúde, escassez de instalações para o tratamento da correlacionados com vários estados de dor, tais como ansiedade,
dor, e acesso inadequado aos tratamentos para o alívio da dor. Nos depressão, catastrofização, medo, baixa autoeficácia, hipervigilância.
países em desenvolvimento, houve uma crescente motivação para a Condições do humor, energia para realizar atividades e o sono tam-
educação em dor e o crescimento dos treinamentos clínicos, ao mes- bém interferem nas emoções. Todos esses fatores contribuem para
mo tempo, várias barreiras foram impostas às mudanças na prática dar início, manter ou exacerbar as condições de dor.
pelos governos e administradores de saúde5. Por fim, a situação socioeconômica, a cultura e os relacionamentos
Primeiro, os pacientes que eram atendidos tiveram seu tratamen- podem ter influência na saúde. Muitos aspectos sociais podem afetar
to de saúde interrompido inesperadamente. Embora a telemedici- e aumentar a dor, como condições domésticas inadequadas, falta de
na e a telereabilitação tenham sido usadas com sucesso em muitos alimento e artigos de higiene, preocupações com o emprego, acú-
casos para muitos prognósticos6, elas não podem ser consideradas mulo de dívidas, preocupação com familiares/amigos, falta de priva-
como normal da noite para o dia. Além disso, devemos ressaltar que cidade, ausência de apoio familiar/amigos e incerteza sobre o futuro.
a situação em países em desenvolvimento, como o Brasil, é muito Não seremos mais os mesmos que antes. Nossos pacientes também
precária se levarmos em consideração a escassez de equipamentos não. Eles se transformarão. Provavelmente, as características de suas
adequados e conectividade, e o aculturamento dessas práticas tecno- dores mudarão. Será que teremos pacientes diferentes com dor de-
lógicas mais recentes no âmbito da saúde. pois da pandemia? Quem eles eram antes da pandemia? Como era
sua dor? O que cada um passou durante a quarentena? Como fize-
ram? Você está mentalmente preparado o suficiente para considerar
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor todas essas possíveis transformações?

292
O que falar sobre pacientes com dor durante e BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):292-3
após a pandemia por COVID-19?

Apesar do pessimismo aqui expresso, e considerando que a ciência REFERÊNCIAS


muda, será que mais dor é o único contexto clínico que podemos
1. Tay MZ, Poh CM, Rénia L, MacAry PA, Ng LFP. The trinity of COVID-19: immu-
esperar? Talvez, situações sérias de miserabilidade social, pânico des- nity, inflammation, and intervention. Nat Rev Immunol. 2020;20(6):363-74.
controlado sobre a doença e sobrevivência, aumento da violência 2. Souza JB, Grossmann E, Perissinotti DMN, Oliveira Junior JO, Fonseca PRB, Posso
doméstica, grave sensação diária de que o lar se tornou uma prisão IP. prevalence of chronic pain, treatments, perception, and interference on life activi-
ties: Brazilian population-based survey. Pain Res Manag. 2017;2017:4643830.
podem ter um papel distrator no cérebro e alterar as manifestações 3. Ferreira KASL, Bastos TRPD, Andrade DC, Silva AM, Appolinario JC, Teixeira MJ,
de dor, uma vez que ainda não sabemos como essas experiências et al. Prevalence of chronic pain in a metropolitan area of a developing country: a
population-based study. Arq. Neuropsiquiatr. 2016;74(12):990-8.
extremas podem modular o status da dor. 4. World Health Organization et al. Integrating palliative care and symptom relief into
Atenção é imprescindível. Tanto os profissionais de saúde como os responses to humanitarian and crises: a WHO guide. 2018.
5. Bond M. Pain education issues in developing countries and responses to them by the
pesquisadores que realizam estudos observacionais ou estudos clíni- International Association for the Study of Pain. Pain Res Manage 2011;16(6):404-6.
cos precisam estar cientes de muitos desses fatores que podem ter 6. Adamse C, Dekker-Van Weering MG, van Etten-Jamaludin FS, Stuiver MM. The
afetado o status da dor nos pacientes depois que a pandemia passar e effectiveness of exercise-based telemedicine on pain, physical activity, and quality
of life in the treatment of chronic pain: a systematic review. J Telemed Telecare.
a vida estiver caminhando para o novo normal. 2018;24(8):511-26.
Em geral, eventos negativos são seguidos por um tipo de transfor- 7. Eccleston C, Blyth FM, Dear BF, Fisher EA, Keefe FJ, Lynch ME, et al. Managing
patients with chronic pain during the COVID-19 outbreak: considerations for the
mação positiva. Sabemos que já estamos testemunhando mudanças rapid introduction of remotely supported (eHealth) pain management services. Pain.
comportamentais em muitas pessoas que aprenderam a valorizar 2020;161(5):889-93.
8. Fioratti I, Reis Felipe JJ, Fernandes LG, Saragiotto BT. The COVID-19 pandemic and
pequenas coisas, a importância das pessoas, a vida ao ar livre, a socia- the regulations of remote attendance in Brazil: new opportunities for people dealing
lização, a rotina diária e a estabilidade. with chronic pain. BrJP. 2020;3(2):193-94.
De fato, que recomeço! 9. Engel GL. The need for a new medical model: a challenge for biomedicine. Science.
1977;196(4286):129-36.

Josimari Melo DeSantana


Universidade Federal de Sergipe, Departamento
de Fisioterapia, Aracaju, SE, Brasil.
http://orcid.org/0000-0003-1432-0737.
E-mail: desantanajm@gmail.com

293
BrJP. São Paulo, 2020 jul-set;3(3):294 CARTA AO EDITOR

Considerações sobre o novo conceito de dor


Considerations about the new concept of pain
DOI 10.5935/2595-0118.20200190

Senhor editor, culturas, contemplado em uma única frase, beneficiando pesqui-


sadores e clínicos pela delimitação do conceito a ser investigado.
Nos últimos 41 anos a definição de dor adotada pela Associação Embora aceita pela maioria, vários clínicos e alguns pacientes
Internacional para o Estudo da Dor (IASP) e divulgada ampla- manifestaram sua insatisfação com a atualização do conceito,
mente pelo mundo conceituava a dor como “uma experiência principalmente por meio das redes sociais. Consideramos im-
sensitiva e emocional desagradável associada a uma lesão tecidual portante destacar que a definição de dor proposta pela IASP não
real ou potencial, ou descrita nos termos de tal lesão”. Quando tem a ambição de estabelecer diagnóstico, conduzir plano de tra-
foi elaborada essa definição, era suficiente para abranger a dor da tamento nem de prever prognóstico aos pacientes com dor. As
maneira como ela era conhecida naquele momento. Entretan- notas que seguem ao enunciado atualizado de dor enfatizam a
to, as últimas décadas foram marcadas por um desenvolvimento variabilidade da manifestação clínica da dor e os diversos com-
tecnológico intenso e, associado a ele, um melhor entendimento ponentes que compõem a dor; e evidenciam o respeito à subjeti-
das condições e dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos na vidade de cada paciente com dor. Reconhecemos e aplaudimos o
nocicepção. Houve também aumento na humanização da medi- esforço da força tarefa e o rigor metodológico descrito no artigo
cina como um todo. O ser humano passou a ser olhado com a que publicou o novo conceito, que atualiza de modo elegante o
empatia e a complexidade que merece e o conceito de dor total, entendimento que a comunidade científica tem atualmente so-
assim como seus aspectos multidisciplinares, ganhou espaço na bre esse fenômeno dinâmico, a dor!
comunidade médica.
Atualmente, é sabido que a dor nem sempre está relacionada a Juliana Barcellos de Souza
uma lesão tecidual evidente em termos histopatológicos, e que o Educa a Dor: Clínica de Tratamento
estado emocional do paciente influencia diretamente a percepção Multidisciplinar, Florianópolis, SC, Brasil
que ele tem sobre a dor. Sendo assim, pacientes com dor crô- https://orcid.org/0000-0003-4657-052X
nica ou outros problemas que afetam a estabilidade psicológica E-mail: juliana@educador.com
podem apresentar quadros mais intensos de dor relatada. Dessa Carlos Marcelo de Barros
forma, cada vez mais, a comunidade médica entendeu que a per- Universidade Federal de Alfenas, Diretor Clínico
cepção dolorosa é extremamente individual e altamente influen- da Santa Casa de Alfenas, Fundador e Diretor
ciada por fatores externos. Técnico da Clínica Plenus, Alfenas, MG, Brasil.
Diante disso, a IASP elaborou novo conceito, capaz de abraçar https://orcid.org/0000-0002-1207-2867
tudo que foi conquistado em termos de avanços tecnológicos e E-mail: carlosmarcelo@clinicaplenus.com
clínicos, para a definição de dor. Dessa forma, atualmente a dor
passou a ser conceituada como “uma experiência sensitiva e REFERÊNCIAS
emocional desagradável associada, ou semelhante àquela as-
sociada, a uma lesão tecidual real ou potencial”. 1. Raja SN, Carr DB, Cohen M, Finnerup NB, Flor H, Gibson S, et al. The revised In-
Essa atualização do conceito de dor, publicada pela força tarefa ternational Association for the Study of Pain definition of pain: concepts, challenges,
and compromises. Pain. 2020;23. doi: 10.1097/j.pain.0000000000001939. Online
da IASP em julho de 20201, e traduzida para o português pela ahead of print.
Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED)2,3, ressalta a 2. https://sbed.org.br/wp-content/uploads/2020/08/Defini%C3%A7%C3%A3o-revi-
sada-de-dor_3.pdf
presença de dor mesmo na ausência de lesão, por meio de um 3. Jornal Dor (Publicação da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor – Ano XVIII –
enunciado objetivo, sucinto e validado para diversos idiomas e 2º Trimestre de 2020 – edição 74, 11-8p.

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INSTRUÇÕES AOS AUTORES

O Brazilian Journal of Pain (BrJP), versão impressa: ISSN 2595-0118 e versão ele- FORMAS DE APRESENTAÇÃO DOS TRABALHOS
trônica: ISSN 2595-3192, e a revista médica multidisciplinar da Sociedade Brasileira Título: Deve ser curto, claro e conciso para facilitar sua classificação. Deve ser
para o Estudo da Dor (SBED) trata-se de uma publicação que enfoca o estudo da enviado em português e inglês. Quando necessário, pode ser usado um subtí-
dor nos contextos da clínica e da pesquisa. O BrJP é direcionado a todos os pro- tulo. Autor(es): O(s) nome(s) completo(s) do(s) autor(es) e afiliações (na ordem
fissionais da área da saúde, incluindo biólogos, biomédicos, dentistas, educadores hierárquica de: Universidade, Faculdade, Hospital, Departamento; minicurrícu-
físicos, enfermeiros, farmacêuticos, farmacologistas, fisiologistas, fisioterapeutas, mé- los não são aceitos). Autor de correspondência: Nome, endereço convencional,
dicos, médicos veterinários, nutricionistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais etc., CEP, cidade, estado, país e endereço eletrônico. Os autores devem informar o
e todos os profissionais de qualquer área do conhecimento interessados no estudo ORCID de todos os colaboradores. 1. Resumo estruturado, com no máximo
e tratamento da dor, sócios ou não da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor 250 palavras. Para artigos de Pesquisa e Ensaios Clínicos incluir: JUSTIFICA-
(SBED). Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores. A periodicidade é TIVA E OBJETIVOS, MÉTODOS, RESULTADOS e CONCLUSÃO. Para
trimestral e a partir de maio de 2020 os artigos também passaram a ser publicados os relatos de casos incluir: JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS, RELATO DO
na modalidade de publicação avançada de artigos ou Ahead of Print (AOP). Todos os CASO e CONCLUSÃO. Para artigos de revisão incluir: JUSTIFICATIVA E
trabalhos submetidos são revisados por pares e a revista obedece aos Requerimentos OBJETIVOS, CONTEÚDO e CONCLUSÃO. Incluir até seis descritores. Re-
Uniformes para Manuscritos Submetidos a Revistas Biomédicas (URM – Uniform comenda-se a utilização do DeCS – Descritores em Ciência da Saúde da Bireme,
Requirements of Manuscripts Submitted to Biomedical Journals – The International disponível em http://decs.bvs.br. 2. Abstract: A versão do resumo para o inglês
Committee of Medical Journal Editors - ICMJE). Os artigos recebidos são enviados deve ser encaminhada junto ao artigo. Incluir até seis keywords. 3. Corpo do
para 3-4 revisores, que são solicitados a informar se aceitam ou não fazer a revisão em Texto: Organizar o texto de acordo com o tipo de artigo descrito a seguir. Artigos
até 3 dias. Após a aceitação para revisar o artigo a avaliação deve ser devolvida em até originais com humanos ou animais devem ter aprovação de Comitê ou Comissão
15 dias. Os artigos que necessitarem de adequações são devolvidos aos autores e após de Ética, devendo ser informados o número do processo, a data da aprovação e
a resposta dos autores serão reavaliados pelos revisores que fizeram a avaliação inicial o nome do Comitê ou Comissão de Ética da Instituição que aprovou o projeto
ou por outros revisores a critério do Editor. Artigos sem resposta dos autores no prazo de pesquisa. Para todos os artigos que incluem informação sobre pacientes ou
de seis meses serão rejeitados, mas poderão ser ressubmetidos. Serão realizadas tantas fotografias clínicas, deve ser obtido o consentimento escrito e assinado de cada
revisões quanto necessárias, sendo que a decisão final de aprovação caberá ao Edi- paciente ou familiar, bem como o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
tor. Aos autores são solicitadas as garantias de que nenhum material infrinja direito (TCLE), os quais não precisam ser encaminhados no processo de submissão.
autoral existente ou direito de uma terceira parte. O BrJP segue o Estatuto Político Nomes genéricos dos fármacos devem ser usados. Quando nomes comerciais são
Editorial (Editorial Policy Statements) do Conselho de Editores Científicos (CSE - usados na pesquisa, estes nomes devem ser incluídos entre parêntesis no capítulo
Council of Science Editors). Informações complementares sobre os aspectos éticos e MÉTODOS.
de má conduta podem ser consultadas pelo site (http://www.dor.org.br) e pelo sis-
tema de submissão online. O processo de avaliação é muito rigoroso e o anonimato 1. ARTIGOS ORIGINAIS
entre autores e revisores é protegido. A revista não cobra dos autores taxas referentes Podem ser incluídos até seis autores. A estruturação do corpo do texto deve conter:
à submissão de artigos. Os manuscritos enviados ao BrJP estão sujeitos a avaliação Introdução - Esta sessão deve descrever sucintamente o escopo e o conhecimento
através de ferramentas para detectar plágio, duplicação ou fraude, e sempre que estas prévio baseado em evidência para o delineamento da pesquisa, tendo como base
situações forem identificadas, o Editor contatará os autores e suas instituições. Se tais referências bibliográficas relacionadas ao tema. Deve incluir ao final o objetivo da
situações forem detectadas, os autores devem preparar-se para uma recusa imediata do pesquisa de forma clara. Métodos - Deve incluir o desenho do estudo, processos
manuscrito. Se o Editor não estiver ciente desta situação previamente a publicação, o de seleção de amostra, aspectos éticos, critérios de exclusão e de inclusão, descri-
artigo será retratado na próxima edição do BrJP. Os autores terão acesso aberto através ção clara das intervenções e dos métodos utilizados, análises dos dados, poder da
do portal https://sbed.org.br/publicacoes-publicacoes-bjp. amostra e testes estatísticos aplicados. Resultados - Devem ser descritos de forma
objetiva, elucidados por figuras e tabelas quando necessário. Incluir análises realiza-
INFORMAÇÕES GERAIS das e seus resultados. Discussão - Esta seção deve discutir os resultados encontrados
SUBMISSÃO DOS ARTIGOS na pesquisa à luz do conhecimento prévio publicado em fontes científicas, devida-
Deverão ser submetidos online através da plataforma https://www.gnpapers.com. mente citadas. Pode ser dividido em subcapítulos. Incluir as limitações do estudo.
br/brjp/default.asp, incluindo o documento de Cessão de Direitos Autorais, dis- Incluir sempre que possível as implicações clínicas do estudo e informações sobre
ponível na pasta de publicações do portal https://sbed.org.br/publicacoes-publi- a importância e a relevância. Evitar o uso de nomes de autores no texto, somente
cacoes-bjp, devidamente assinado pelo(s) autor(es). Deve ser encaminhada Carta a referência sobrescrita. Conclusão - Esta seção deve finalizar com a conclusão do
de Submissão junto dos arquivos do manuscrito, em que conste as informações trabalho. Agradecimentos - Agradecimentos a colaboradores, entre outros, pode-
referentes a originalidade, conflitos de interesses, fontes de financiamento, bem rão ser citados nesta seção, antes das referências. Referências - Devem estar forma-
como confirmação de que o artigo não está em avaliação por outra revista e não foi tadas segundo as normas de Vancouver (http://www.icmje.org). Figuras e tabelas
publicado anteriormente. Também deve constar nesta carta a informação de que devem ser enviadas juntas ao texto principal do artigo ou como anexos, em formato
o artigo, se aceito, será de direito de publicação exclusiva no BrJP, e se respeita os que permita a edição.
aspectos éticos, no caso de estudos envolvendo animais ou humanos. Os artigos
poderão ser enviados em português ou em inglês, sendo que a publicação impres- 2. RELATOS DE CASO
sa será em português e a publicação eletrônica em português e inglês. Os autores Podem ser incluídos até três autores. Relatos de caso que apresentem relevância
têm a responsabilidade de declarar conflitos de interesses no próprio manuscrito, e originalidade são convidados a serem submetidos ao BrJP. Devem respeitar um
bem como agradecer o apoio financeiro quando for o caso. O BrJP considera a limite de 1.800 palavras. A estruturação do corpo do texto deve conter: Introdução
publicação duplicada ou fragmentada da mesma investigação uma infração ética e - Esta sessão deve descrever sucintamente o conhecimento prévio baseado em evi-
tem o cuidado de utilizar mecanismos para encontrar similaridades de textos para dências para o caso clínico, tendo como base referências bibliográficas relacionadas
detectar plágio. ao tema. Relato do Caso – Esta sessão deve descrever objetivamente o caso clínico
com os detalhes relevantes. Discussão – Esta seção deve discutir os dados relevan-
CORREÇÃO FINAL E APROVAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO tes do caso clínico à luz do conhecimento prévio publicado em fontes científicas,
Quando aceitos, os artigos serão encaminhados para o processamento editorial, devidamente citadas. Deve finalizar com a conclusão sobre os aspectos relevantes
que deverá ocorrer em um prazo de até 7 dias, e depois submetidos ao autor corres- do caso e informações sobre a importância e a relevância. Referências - Devem
pondente no formato PDF para a aprovação final, antes do encaminhamento para estar formatadas segundo as normas de Vancouver (http://www.icmje.org). Podem
publicação na modalidade avançada de artigos ou Ahead of Print. O autor terá até ser incluídas figuras e tabelas, que devem ser enviadas juntas ao texto principal do
3 dias para aprovar o PDF final. artigo, ou como anexos, em formato que permita a edição.

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3. ARTIGOS DE REVISÃO B, Walker S, Zempsky W. Paediatric Pain. Oxford, 1st ed. New York: Oxford
Podem ser incluídos até seis autores. Meta-análises, revisões sistemáticas e inte- University Press; 2018. 85-94p. Teses e dissertações: não são aceitas.
grativas da literatura sobre assuntos relevantes relacionados ao estudo e terapêu-
tica da dor, com análise crítica da literatura, realizada de forma sistemática são ILUSTRAÇÕES E TABELAS
bem-vindas. Devem serem estruturadas da seguinte forma: Introdução – Esta Todas as ilustrações, incluindo figuras, tabelas e fotografias devem ser obrigato-
sessão deve descrever sucintamente o escopo para o delineamento da revisão. riamente citadas no texto, em lugar preferencial de sua entrada. Devem ser enu-
Conteúdo – Esta sessão deve analisar de modo crítico a literatura, tendo como meradas em algarismos arábicos. Todas deverão conter título e legenda. Devem
objetivo levantar, reunir e avaliar criticamente a metodologia da pesquisa e sin- ser utilizadas fotos e figuras em branco e preto, e restringidas ao máximo de três.
tetizar os resultados de diversos estudos primários, buscando responder a uma Um mesmo resultado não deve ser expresso por mais de uma ilustração. Sinais
pergunta de pesquisa claramente formulada, utilizando métodos sistemáticos e gráficos utilizados nas tabelas, figuras ou siglas devem ter sua correlação mencio-
explícitos para recuperar, selecionar e avaliar os resultados de estudos relevantes. nada no rodapé. Figuras e tabelas devem ser enviadas em formato que permita
Conclusão - Esta seção deve finalizar com a conclusão da revisão. Agradecimen- edição, segundo recomendação a seguir: Formato Digital. A carta de submissão,
tos - Agradecimentos a colaboradores, entre outros, poderão ser citados nesta o manuscrito e a Cessão de Direitos deverão ser encaminhados como anexos.
seção, antes das referências. Referências - Devem estar formatadas segundo as As tabelas deverão ser encaminhadas no formato DOC (Word) e estar presentes
normas de Vancouver (http://www.icmje.org). Podem ser incluídas figuras e ta- no seu local de inserção. As figuras e fotos podem ser enviadas como anexos.
belas, que devem ser enviadas juntas ao texto principal do artigo ou como anexos, Fotos deverão ser digitalizadas com resolução mínima de 300 DPI, em formato
em formato que permita a edição. JPEG. O nome do arquivo deve expressar o tipo e a numeração da ilustração (por
exemplo - Figura 1, Tabela 2). Cópias ou reproduções de outras publicações serão
4. CARTAS permitidas apenas mediante a anexação de autorização expressa da Editora ou do
Podem ser enviadas cartas ou comentários a qualquer artigo publicado na revista, Autor do artigo de origem.
com no máximo 400 palavras e até cinco referências, formatadas segundo as nor-
mas de Vancouver (http://www.icmje.org). ASPECTOS ÉTICOS
No caso de estudos em humanos, os autores devem indicar se os procedimentos
REFERÊNCIAS do estudo estão de acordo com os padrões éticos definidos pelo Comitê responsá-
O BrJP adota as “Normas de Vancouver” (http://www.icmje.org) como estilo para vel por estudos em humanos, institucional ou nacional, se aplicável, e de acordo
formatação das referências. Estas devem ser apresentadas no texto na ordem se- com a Declaração de Helsinki de 1975, revisada em 2000. Quando se tratar de
quencial numérica, sobrescritas. Não deverão ser citados trabalhos não publicados estudos em animais, os autores devem indicar se as diretrizes institucionais e/ou
e preferencialmente deve ser evitada a citação de resumos apresentados em eventos nacionais para cuidados e uso de animais de laboratório foram seguidas. Em qual-
científicos. Referências mais antigas do que cinco anos deverão ser citadas caso sejam quer pesquisa, clínica ou experimental, em humanos ou animais, essas informa-
fundamentais para o artigo. Artigos já aceitos para publicação poderão ser citados ções devem constar da sessão Métodos. Deve ser citado o número de aprovação e
com a informação de que estão em processo de publicação. Deverão ser citados até o ano do Comitê de Ética em Pesquisa. Registro de Ensaio Clínico: O BrJP res-
seis autores e, se houver mais, incluir após os nomes ‘’et al’’. O título do periódico de- peita as políticas da Organização Mundial de Saúde e da Comissão Internacional
verá ter seu nome abreviado. Informar o ano, volume, fascículo e página inicial e final. de Editores de Revistas Médicas (ICMJE - International Committee of Medical
Números coincidentes não devem ser repetidos, por exemplo: BrJP. 2019;5(3):251-5. Journal Editors) para registro de estudos clínicos, reconhecendo a importância
dessas iniciativas para a disseminação internacional de informações sobre pes-
EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS quisas clínicas com acesso aberto. Assim, a partir de 2012, têm preferência para
Artigos de revistas: 1 autor - Craig KD. The social communication model of pain. publicação os artigos ou estudos registrados previamente em uma Plataforma de
Can Psychol. 2009;50(1):22-32.- 2 autores - Araujo LC, Romero B. Pain: evalua- Registros de Estudos Clínicos que atenda aos requisitos da Organização Mundial
tion of the fifth vital sign. A theoretical reflection. Rev Dor. 2015;16(4):291-6. de Saúde e da Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas. A lista da
- 3 autores - Hampton AJD, Hadjistavropoulos T, Gagnon MM. Contextual Plataforma de Registros de Estudos Clínicos se encontra no site da International
influences in decoding pain expressions: effects of patient age, informational pri- Clinical Trials Registry Platform (ICTRP). Entre elas está o Registro Brasileiro
ming, and observer characteristics. Pain. 2018;159(11):2363-74. - Mais de 6 de Ensaios Clínicos (ReBEC), que é uma plataforma virtual de acesso livre para
autores - Barreto RF, Gomes CZ, Silva RM, Signorelli AA, Oliveira LF, Cavellani registro de estudos experimentais e não experimentais realizados em seres huma-
CL, et al. Pain and epidemiologic evaluation of patients seen by the first aid unit nos, em andamento ou finalizados, por pesquisadores brasileiros e estrangeiros,
of a teaching hospital. Rev Dor. 2012;13(3):213-9. Artigo com errata publicada: que pode ser acessada no site http://www.ensaiosclinicos.gov.br.
Sousa AM, Cutait MM, Ashmawi HA. Avaliação da adição do tramadol sobre o
tempo de regressão do bloqueio motor induzido pela lidocaína. Estudo experi- USO DE ABREVIAÇÕES
mental em ratos avaliação da adição do tramadol sobre o tempo de regressão do O título, o resumo e o abstract não devem conter abreviações. Quando expressões
bloqueio motor induzido pela lidocaína. Estudo experimental em ratos. Rev Dor. no texto são extensas, a partir da INTRODUÇÃO não precisam ser repetidas.
2013;14(2):130-3. Errata em: Rev Dor. 2013;14(3):234. Após a sua primeira menção no texto, precedida da sigla entre parêntesis, re-
comenda-se que sejam suas substituídas pelas iniciais maiúsculas, por exemplo
Artigo de suplemento: Walker LK. Use of extracorporeal membrane oxygenation Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED).
for preoperative stabilization of congenital diaphragmatic hernia. Crit Care Med.
1993;2(2Suppl1):S379-80. Livro: (quando estritamente necessário) Doyle AC, ASSINATURAS
editor. Biological mysteries solved, 2nd ed. London: Science Press; 1991. 477-80p. O BrJP é enviado aos membros da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor
(SBED), mediante o pagamento da anuidade, e gratuitamente para as Bibliote-
Capítulo de livro: Riddell RP, Racine NM, Craig KD, Campbell L. Psychological cas, Associações, Universidades, Faculdades, Sociedades Médicas, SBED Regio-
theories and biopsychosocial models in paediatric pain. In: McGrath P, Stevens nal e Ligas da Dor registradas no site da SBED.
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» Presente no Brasil desde 2013

* Dados referentes a 2018


1) IQVIA Health-2018
Material aprovado em Abril/2020
M-N/A-BR-04-20-0002

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