Você está na página 1de 2

Determinação de Vénus e Trabalhos de Cupido

Est.18

A deusa Vénus, que recebera de Júpiter a missão proteger e guiar os portugueses,


andava a preparar para eles uma recompensa por tantas provações suportadas e
queria proporcionar-lhes, no meio do triste mar, uma grande alegria.

Est. 19

Depois de ter pensado nas privações sofridas por homens que andam há tanto tempo
no mar, e nos trabalhos que Baco lhes fez sofrer na viagem, já há muito que pensava
num prémio, que consiste num prazer gozado no meio do mar,

Est.20

algum repouso enfim que em que os seus navegantes pudessem aliviar e descontrair
os cansados corpos, como prémio dos trabalhos que passaram e que lhes encurtaram
as vidas. E comunica esse seu projeto a Cupido, por cujo poder (amor) os deuses
descem ao vil terreno e os humanos sobem ao Céu sereno.

Est.21

Tendo pensado bem no assunto, decide preparar-lhes no meio do mar uma ilha
divina, coberta de verdes prados esmaltados de flores, porque Vénus possui muitas
ilhas nos mares, além daquelas que estão situadas dentro do mar Mediterrâneo.

Est.22

Ali manda que as mais bonitas Nereidas vão esperar os Portugueses com danças e
bailados. E ela, Vénus, far-lhes-á nascer os íntimos sentimentos para que, com mais
vontade, se esforcem para satisfazer aqueles a que se afeiçoarem.

Est.23

Já tinha usado o mesmo artifício para que Eneias fosse bem recebido em Cartago. Vai
buscar Cupido, que do mesmo modo que a ajudou nessa empresa antiga, vai ajudá-la
agora.

Est.24

Vénus junta ao seu carro os cisnes e as pombas. Em torno da deusa ouve-se o som dos
beijos. Por onde ela passa, o ar e o vento são mais doces, com mais brandos
movimentos.

Est.25

Já voava Vénus sobre a ilha de Chipre, onde seu filho Cupido prepara um exército
para vir até ao mundo emendar erros antigos, porque os homens amam coisas que
não foram feitas para serem amadas, mas apenas para serem usadas.
Est.26

Cupido via Acteon tão apaixonado pela caça que, para seguir um animal feroz e feio,
fugia dos contactos e das belas formas humanas. Para o castigar, mostrou-lhe a
beleza de Diana.

Est.27

Cupido vê que os governantes não se preocupam com o bem público e apenas se


amam a si próprios; vê que os que frequentam os paços reais, em vez de ministrarem
doutrina sã e verdadeira, só vendem adulação.

Est.28

Cupido vê aqueles que têm por dever o amor divino dos pobres e que deviam tratar
com caridade o povo, a amarem-se a si próprios e a prezar o mando e a riqueza,
fingindo justiça e integridade. Apresentam como direito o que não é senão feia
tirania. Fazem leis em favor do rei e vão esquecendo as leis a favor do povo.

Est.29

Cupido vê, enfim, que ninguém ama o que deve, mas somente o que deseja e não
quer adiar por mais tempo o duro e justo castigo desta situação. Reúne os seus
servidores para levar exércitos que combatam aquela gente mal governada, se ela
agora lhe não obedecer.

Você também pode gostar