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HISTÓRIA DA

LOUCURA

Psicóloga: Marcione Ribeiro


Michel Foucault (1926 – 1984).
Filósofo, psicólogo, professor,
• Michel Foucault
historiador, (1926 – 1984).
teórico social.

Doença mental e psicologia (1954).


História da loucura (1961).
Nascimento da clínica (1963).
As palavras e as coisas (1966)
Vigiar e punir (1976).
História da sexualidade (1976).
“Nunca a psicologia poderá dizer a
verdade sobre a loucura, já que é a
• Michelque
loucura Foucault
detém(1926 – 1984).da
a verdade
psicologia” (Foucault).
HISTÓRIA DA LOUCURA
O que é loucura? Qual a diferença entre a
normalidade e a loucura?

Pode-se afirmar que loucura seria o oposto


de normalidade, de sanidade, de razão ou de
adaptação ao meio?

Seria a loucura uma condição biológica,


social, psicológica ou histórica?
HISTÓRIA DA LOUCURA

Romantização:
• Genialidade artística e/ou intelectualidade.
Perigo:
• Descontrolado.
• Ameaçador.
HISTÓRIA DA LOUCURA

• Loucura:
• Alienação mental doença mental
sofrimento psíquico.
• A concepção de loucura se transformou ao
longo da história, sob forte influência de
crenças, costumes, rituais, da religião e do
regime político de cada época (Foucault, em
‘Doença mental e psicologia’, 1954).
Loucura na Antiguidade
Socialmente

• Pessoas com poderes divinos.

• Algo não humano.

• A fala incompreensível significava


contato divino, algo mágico.
Antiguidade - tratamento
Loucura na Antiguidade

1550 a.C
• O papiro Ebers, um dos tratados médicos mais antigos de que se
tem conhecimento, escrito no Antigo Egito, de 20 metros de
comprimento, listava fórmulas mágicas e remédios destinados a
afastar os demônios causadores de doenças. Entre os males
mencionados, estão a depressão e a demência.
Loucura na Grécia Antiga

Os loucos valorizados pela sociedade,


considerados como escolhidos por
deuses.
As crises de agitação eram associadas às
forças sobre naturais.
Em Esparta, era comum lançar crianças
com deficiências físicas e/ou mentais em
precipícios.
Loucura na Idade Média

Possessão demoníaca.

Exorcismos executados por religiosos.

Bruxos, condenados a fogueira (ideia perdurou até metade


do séc. XVIII).

Origem no pecado.

Cuidados por amigos, vizinhos e familiares.

Albergues para todos os tipos de “necessitados”.


Loucura na Idade Média

• O tema da loucura aparece na literatura e nas artes, por


vezes de maneira macabra ou dramática, com referências
ora positivas, ora negativas.

• Livro: ‘Stultifera Navis ou Nau dos insensatos (Sebastian


Brant, 1494).
• Livro: ‘Elogio da loucura’ (Erasmo de Roterdã, 1509).
• Pintura: ‘Nave dos loucos’ (Hieronymus Bosch, 1490).
• Pintura: ‘Margot a louca’ (Pieter Brueghel, 1564).
Loucura no séc. XVI - Renascimento

Prática social: os loucos, os bêbados, os


desviantes, desempregados, homossexuais,
prostitutas, adúlteros e bizarros eram
retirados dos centros urbanos e embarcados
para navegar sem rumo – exilio ritualístico.
Loucura no séc. XVI - Renascimento
Loucura no século XVII
• 1656: Hospitais civis (gerais). Estrutura semi
jurídica, sem intenção de tratamento.
• Trabalhos forçados como castigo pela ociosidade.
• Miséria e loucura eram condenadas sob
concepção moral.
• Iatroquímico: alterações dos sais ou dos humores
no corpo (sangue, bílis negra e amarela e linfa, que
produzem manias, convulsões, letargias ou
tremores.
Loucura no século XVII

4 HUMORES
HUMOR REGULADOR TEMPERAMENTO CARACTERISTICAS
Bílis Amarela Fígado Colérico Ambicioso e dominador, explosivo.
Bílis Negra Baço Melancólico Nervoso, pessimista, rancoroso, solitário.
Fleuma Cérebro/cabeça Fleumático Sonhador, pacífico, distante das paixões.
Sangue Coração Sanguíneo Expansivo, otimista, irritável e impulsivo.
Loucura no século XVII
Tratamento proposto:

A sangria, remoção de sangue de pacientes,


intencionava restaurar o equilíbrio de humores
no corpo.
Loucura e regime moral – século XVIII
• Loucos permanecem encarcerados:
segurança da sociedade e da família, vista
também como responsável pela doença.

• Surgimento de hospícios: repressão dos


comportamentos.

• Visão moralista da loucura: reeducação das


ideias, dos hábitos e dos costumes, com
regras e normas dos padrões morais.
Loucura – século XVIII
Pessoas consideradas como sendo
risco para os bens e honra de seus
familiares: homossexuais, jovens,
deficientes, idosos ou aqueles que
cometiam adultério, principalmente
se fosse a mulher, estaria à espera
apenas do alívio da morte, pois, uma
vez que entrava nesse tipo de
confinamento, não saiam mais.
Loucura – século XIX
Disciplina - práticas comuns:
acorrentar os internados em salas escuras,
prisões acolchoadas, convulsão provocada
por injeção de metrazol, esterilização,
extração de dentes, hibernação, indução ao
vômito, coma provocado por insulina,
violência física e psicológica, privação
alimentar como castigo, o uso de camisas
de força e até mesmo assassinatos
cometidos pelos funcionários dos hospitais
que matavam os internados.
Loucura – século XIX
Philippe Pinel (1745-1826)
Médico francês instituiu reformas humanitárias para o
tratamento oferecido aos doentes mentais, sendo um dos
precursores da Psiquiatria moderna.

Determinou a remoção das correntes e buscou um equilíbrio


entre a exclusão e a assistência terapêutica.

A loucura adquire descrição psicológica.


Loucura – século XIX
Os loucos eram responsáveis por sua
própria condição mental debilitante,
interiorizando assim a culpa e sendo
forçados a viver de castigos e excluídos.
Como um peso para a família, eles eram
abandonados e destinados ao
esquecimento.
Durante essa fase houve abertura
crescente de hospitais, superlotação, o
que piorou ainda mais a condição dos
internados, trazendo mais mortes,
torturas, falta de higiene e desnutrição.
Equipe de Enfermagem em frente ao Asilo Lunático de Seacliff, Escócia, 1890.
Loucura – século XIX
BERÇO DE UTICA
Era um berço de madeira ou de metal,
utilizado no asilo da cidade de Utica no
estado de Nova York. O objetivo desse berço
era evitar interações entre dois ou mais
pacientes agressivos. Os pacientes eram
forçados a viver nos berços por longos
períodos, causando sérios problemas e
mortes por acidentes vasculares cerebrais e
ataques cardíacos.
Loucura no século XIX
Cirurgias Ginecológicas
Acreditavam que o
clitóris e o útero teriam
grande influência na
mente feminina, por isso
amputavam.
Loucura no século XIX
HIDROTERAPIA
O internado era enrolado numa rede e
mantido dentro de uma banheira encoberta
por uma lona com um buraco apenas para
a cabeça. Na banheira, ele deveria
permanecer por horas e até dias numa água
muito gelada e fervente, colocadas
alternadamente. Acreditava-se que o banho
prolongado induzia à fadiga psicológica e
estimulava a produção de secreções da pele
e dos rins, o que podia reestruturar as
funções do cérebro.
Loucura – século XIX
LOBOTOMIA
procedimento cirúrgico, onde cortavam
as conexões entre os lobos frontais e o
restante do cérebro, com a intenção de
eliminar doenças mentais ou modificar
comportamentos inadequados, porém a
maioria das pessoas morriam ou ficavam
em estado vegetativo. A técnica foi
desenvolvida pelo neurologista
português Dr. António Egas Moniz e o
cirurgião Dr. Almeida Lima,
Dr. António Egas Moniz
(1877 – 1955).
Neurologista, neurocirurgião e
psiquiatra.
Loucura – século XIX
Loucura – século XIX
Rosemary Kennedy
(1918 – 2005)
Loucura – século XIX

CADEIRA GIERATÓRIA:

Essa cadeira era modificada com um sistema


de molas e alavanca, que eram acionados
para girar os pacientes até que eles
desmaiassem. Eles tinham a crença que ao
rodar o paciente até o desmaio iria curar a
esquizofrenia e outras doenças mentais,
“embaralhando” o conteúdo do cérebro.
Loucura – século XIX
TERAPIA DE ELETROCHOQUE
Eletroconvulsoterapia (ECT) foi
muito utilizada para tratar a
esquizofrenia, mas era muito usado
como forma de castigo e controle.
Loucura – século XIX
TERAPIA POR CHOQUE INSULÍNICO
Terapia por choque insulínico era utilizado
nos anos 30 para diferentes tipos de
psicoses, como esquizofrenia. A “Técnica de
Sakel” consistia em injeções de doses
crescentes de insulina por um período de 6
semanas até a indução do coma.
Loucura – século XX
Sigmund Freud (1856 - 1939)
Neurologista e Psicanalista.

No século XX, duas escolas da psiquiatria dominavam: a


organicista (com base na anatomia e na fisiologia) e a
psicanalítica (de orientação psicológica).

“Precisamos amar para não adoecer. Quem


ama não adoece”.
Loucura – século XX
1950- introdução dos psicofármacos:
clorpromazina acalmava o paciente psicótico,
reduzindo as cirurgias de lobotomia.
1959- antidepressivo e um ano depois o
1960- benzodiazepínico.
A eficácia desses medicamentos transformou
a psiquiatria, os tratamentos se tornaram
mais baratos e seguros para os pacientes.
Brasil século XIX
Em 13 de julho de 1841,
assinava-se o decreto de
fundação do hospital que
se chamou Hospício Pedro
II, no Rio de Janeiro.
Brasil século XIX

No século 19, o Pedro II


funcionava como asilo.

Atualmente, hospital escola.


Holocausto Brasileiro
1903 a 1996 HOSPITAL COLÔNIA
1903 a 1996
Barbacena-MG.

O maior hospício do
Brasil.
Holocausto Brasileiro

Hospital Colônia
“É NECESSÁRIO SE
INDIGNAR!”
“É NECESSÁRIO SE
INDIGNAR!”
Nise da Silveira (1905 – 1999)

1905- Maceió-AL.
1926- Formação em Medicina.
1937- Psiquiatria.
1952- Museu do inconsciente.
1955- grupo de estudo analítico
junguiano.
1956- Casa das palmeiras (instituição de
acolhimento portas abertas).
Nise da Silveira (1905 – 1999)

“É necessário se espantar, se indignar e se


contagiar, só assim é possível mudar a
realidade”.
Nise da Silveira (1905 – 1999)

“O que melhora o atendimento é o


contato afetivo de uma pessoa com a
outra. O que cura é a alegria, o que
cura é a falta de preconceito”.
“Precisamos resolver nossos
monstros internos, nossas feridas
clandestinas, nossa insanidade
oculta. Não podemos esquecer
que os sonhos, a motivação, o
desejo de ser livre nos ajudam a
superar esses monstros, vencê-
los e utilizá-los como servos da
nossa inteligência. Não tenha
medo da dor, tenha medo não
enfrentá-la, criticá-la e usá-la”
(FOUCAULT).

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