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DE SENTIDOS EM
ARTES VISUAIS
UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Profa. Jociane Stolf
Diagramação e Capa:
Carlinho Odorizzi
700
B624l Bitencourt, Amauri Carboni
Leitura e produção de sentidos em artes visuais / Amauri
Carboni Bitencourt. Indaial : Uniasselvi, 2011. 117 p. : il.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-484-3
1. Artes - comunicação
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
Amauri Carboni Bitencourt
APRESENTAÇÃO���������������������������������������������������������������������������� 7
CAPÍTULO 1
Sistema de Signos ������������������������������������������������������������������������ 9
CAPÍTULO 2
Linguagem Verbal e Não-Verbal����������������������������������������������� 29
CAPÍTULO 3
Introdução à Leitura da Imagem������������������������������������������������ 45
CAPÍTULO 4
Compreender e Refletir a Arte nas
Diferentes Linguagens�������������������������������������������������������������� 65
CAPÍTULO 5
Leitura de Obra de Arte pela Psicanálise������������������������������� 83
CAPÍTULO 6
Arte e Filosofia ������������������������������������������������������������������������ 101
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):
Nesse sentido, quanto mais você se preparar para a sua viagem, mais estará
apto a partilhar emoções e valores e, dessa forma, aprender sobre a cultura de
outro país e usufruí-la. Cenas e detalhes que lhe passariam despercebidos terão
mais a sua atenção se você estiver preparado para a viagem.
De toda sorte, quanto mais você tiver aprendido sobre os métodos de criação
artística, bem como sobre maneiras de olhar e ver uma obra, e também quanto
maior for a sua cultura acerca da história da arte, mais condições terá de analisar
uma obra com êxito. Por isso, é importante a visita aos museus e o contato com
livros e catálogos de arte. Lembre-se: o treino do olhar é muito importante para um
estudante de arte! Claro que ler uma obra com profundidade depende de outros
conhecimentos fundamentais.
Foi nesse contexto que criamos este material de estudos. Ele servirá como
um guia inicial para que você tenha condições de adentrar este universo das artes
visuais com mais profundidade, deixando, por conseguinte, os seus sentidos
produzirem significações diversas no contato com as obras. Como todo aprendizado,
o sucesso ou não destes estudos dependerá muito mais de você do que do material
aqui proposto. Ao longo dos capítulos, apresentamos algumas sugestões de sites e
livros. Esperamos que você os consulte para aprofundar seus conhecimentos.
Didaticamente, este caderno foi dividido em seis partes: Capítulo 1 - Sistema
de signos; Capítulo 2 - Linguagens verbais e não-verbais; Capítulo 3 - Introdução
à leitura da imagem; Capítulo 4 - Compreender e refletir arte nas diferentes
linguagens; Capítulo 5- Leitura de obra de arte pela psicanálise; Capítulo 6 - Arte
e filosofia. Os dois primeiros capítulos tratarão da fundamentação teórica acerca
dos signos; os dois centrais entrarão nas linguagens da arte e da leitura de
algumas obras; e os dois últimos trarão alguns exemplos de produção de sentidos
em espectadores e ramos do conhecimento humano, mais especificamente,
psicanálise e filosofia.
O autor.
C APÍTULO 1
Sistema de Signos
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Capítulo 1 Sistema de Signos
Contextualização
Desde as primeiras inscrições rupestres feitas nas paredes de cavernas, no
período Paleolítico Superior (provavelmente, há mais de 40 mil anos), o homem
tenta representar, de várias formas, o mundo em que vive. Nesse período, foram
criadas cerâmicas, armas e diversos utensílios trabalhados em pedra. Com o
surgimento do primeiro alfabeto sobre o qual temos conhecimento – pictográfico
–, aproximadamente no ano 4.000 a.C., a raça humana começou a se comunicar
e a se expressar por meio de desenhos simplificados chamados pictogramas.
Após esse período, passou por diversas etapas de evolução da escrita: a escrita
cuneiforme (3.250 e 1.950 a.C. por meio dos sumérios), a escrita hieroglífica
(tribos nômades egípcias), o sistema de escritos dos gregos, o alfabeto latino, os
primeiros escritos filosóficos dos pré-socráticos, o desenvolvimento da dramaturgia
e da poesia, as narrações de histórias literárias, o surgimento da imprensa e as
invenções de Gutemberg, as várias manifestações artísticas e, recentemente, todo
o aparato tecnológico virtual de imagens, símbolos, ícones e demais códigos que
permeiam a vida humana contemporânea. Tudo isso nos mostra que o homem vive
se expressando de várias maneiras e, por consequência, criando signos diversos.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Não nos aprofundaremos nas investigações sobre a teoria dos signos desses
filósofos, pois levaríamos demasiado tempo e esforço e por também se tratarem
de teorias difíceis e específicas. O que é importante ressaltar é que a Semiótica,
tal como entendemos e estudamos atualmente, teve seu início com os filósofos
John Locke (1632-1704) que, em 1690, no texto Ensaio acerca do entendimento
humano, postulou a “doutrina dos signos”, cujo nome era Semeiotiké, e Johann
H. Lambert (1728-1777), que escreveu, em 1764, um tratado intitulado Semiotik.
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Capítulo 1 Sistema de Signos
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Com a definição de Santaella (2005), cremos que ficou mais claro o que
se entende por Semiótica. A professora Sandra Regina Ramalho e Oliveira,
da Universidade Estadual de Santa Catarina, em seu livro Imagem também se
lê, afirma que os estudiosos definem o termo conforme sua visão e de acordo
com o seu campo de atuação específico (artes visuais, linguística, design, etc.).
(OLIVEIRA, 2009). Apesar de algumas dessas definições serem complexas,
podemos iniciar com concepções sucintas. A autora nos mostra algumas dessas
concepções:
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Capítulo 1 Sistema de Signos
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
http://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/index
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Capítulo 1 Sistema de Signos
Atividade de Estudos:
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
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Capítulo 1 Sistema de Signos
Fonte: O autor.
Na tentativa de instaurar uma teoria de signos, com conceitos tão gerais que
pudessem servir de base para toda ciência aplicada, Peirce elaborou uma vasta
constelação de conceitos e os classificou em múltiplos de 3 (três).
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
• Signo: é uma coisa que representa ou substitui outra coisa: seu objeto. Sendo
assim, o signo não é objeto, mas toma o lugar do objeto. Assim, representa e
está no lugar desse objeto de certo modo e numa determinada capacidade. É
aquilo que substitui alguma coisa. O desenho de um maçã, por exemplo, não
é a maçã em si, mas algo que representa a maçã. Logo, o desenho a substitui;
de um certo modo, dá-nos a ideia da maçã, mas o desenho não é a maçã.
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Capítulo 1 Sistema de Signos
Atividade de Estudos:
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Fonte: O autor.
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Capítulo 1 Sistema de Signos
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Capítulo 1 Sistema de Signos
Atividade de Estudos:
Essa consciência semiótica, iniciada por esses dois autores, perdurou até
Stalin assumir o governo. O grupo que estudava esse assunto ficou conhecido
como Círculo Línguístico de Moscou. Oliveira (2009, p. 41) afirma que
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
A Concepção de Ferdinand de
Saussure
Outro pesquisador importante para os estudos semióticos é Ferdinand de
Saussure. De nacionalidade suíça e mais dedicado aos estudos da linguagem
verbal, esse pesquisador fez grandes contribuições à teoria dos signos. De uma
maneira geral, você verá que a abordagem de Saussure é bem diferente da
abordagem de Peirce.
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Capítulo 1 Sistema de Signos
Algumas Considerações
Este capítulo, como havíamos mencionado no início, foi deveras teórico. Em
se tratando de um curso de arte e educação, talvez você tenha sentido falta de
mais imagens. Contudo, nos outros capítulos, esse recurso será mais utilizado.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Referências
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.
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C APÍTULO 2
Linguagem Verbal e Não-Verbal
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Capítulo 2 Linguagem Verbal e Não-Verbal
Contextualização
O ser humano, quando em convívio com outras pessoas, precisa se
comunicar. Ele desenvolveu, ao longo da história, uma variedade de formas de
comunicação, fazendo com que o entendimento entre os indivíduos acontecesse
de maneira mais fácil e rápida. A linguagem verbal foi uma delas. De fato, nos
comunicamos por meio da palavra, tanto da falada quanto da escrita. Estamos tão
envolvidos com esta maneira de nos expressarmos que se torna quase impossível
imaginar um mundo onde elas não existam.
Por outro lado, desenvolvemos, também, ao longo dos anos, signos não-
verbais. Em uma placa de trânsito, por exemplo, vemos um tipo de linguagem
que não utiliza palavras (com exceção de algumas). Você lida, caro estudante,
com tantos exemplos de comunicação não-verbal em sua vida, que, na maioria
das vezes, nem se dá conta disso. Passam-nos despercebidos. Você pega o
videogame e joga com seu irmão. Nesse ato, tão simples para algumas pessoas,
há a utilização da linguagem não-verbal (claro que se você falar com seu irmão
ou aparecer alguma palavra na tela do visor, você também estará empregando a
linguagem verbal). O jogo em si, porém, constitui um tipo de linguagem não-verbal.
No capítulo anterior, vimos que a Semiótica é a ciência que tem por finalidade
a investigação de todas as linguagens possíveis. Estudamos as teorias de Peirce
e o universo do sistema de signos.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
• linguagem verbal e
• linguagem não-verbal.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
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Capítulo 2 Linguagem Verbal e Não-Verbal
Claro que não podemos fazer uma distinção tão separatista entre essas
duas linguagens. Isso porque há determinados signos que empregam as duas ao
mesmo tempo. Podemos chamar de linguagens mistas. Citamos, como exemplo,
a placa de trânsito, que emprega imagens e palavras ao mesmo tempo. Outro
exemplo é a pintura do artista pop Basquiat.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
A Linguística de Saussure
Após investigarmos a distinção entre linguagem verbal e não-verbal, a partir
de agora, aprofundaremos o estudo acerca do verbal. Um dos estudiosos que
mais mergulhou no universo deste tipo de linguagem foi Ferdinand de Saussure.
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Capítulo 2 Linguagem Verbal e Não-Verbal
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
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Capítulo 2 Linguagem Verbal e Não-Verbal
[...] não há língua sem fala e não há fala fora da língua [...]. Só
podemos manejar uma fala quando a destacamos na língua; mas,
por outro lado, a língua só é possível a partir da fala: historicamente,
os fatos de fala precedem sempre os fatos de língua (é a fala que faz
a língua evoluir), e, geneticamente, a língua constitui-se no indivíduo
pela aprendizagem da fala que o envolve (não se ensina a gramática
e o vocabulário, isto é, a língua, de um modo geral, aos bebês). A
Língua é, em suma, o produto e o instrumento da Fala, ao mesmo
tempo: trata-se realmente, portanto, de uma verdadeira dialética”.
Vimos que a
língua e a fala
Fonte: Disponível em: <http://martabolshaw.blogspot.com/2008/06/o-
coexistem e
incrvel-mundo-da-linguagem.html>. Acesso em: 1º jul. 2011.
que uma não
sobrevive sem a
Trouxe estas palavras de Barthes sobre a questão língua-fala,
outra. A língua se
pois é de fundamental importância nos estudos de Saussure. Vimos
aprende: ninguém
que a língua e a fala coexistem e que uma não sobrevive sem a outra.
consegue
A língua se aprende: ninguém consegue aprendê-la sem o auxílio do
aprendê-la sem o
outro. Neste processo de comunicação verbal, torna-se mister, então, a
auxílio do outro.
investigação acerca do signo em Saussure.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
O signo linguístico não une uma coisa a uma palavra, mas uma coisa à
imagem acústica. Não é a imagem física do som, mas a impressão psíquica ou
imagem mental do som. Está confuso? Pois bem, vejamos isso melhor.
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Capítulo 2 Linguagem Verbal e Não-Verbal
Atividade de Estudos:
A Linguagem Não-Verbal
Como seres humanos, não nos comunicamos somente por meio de palavras,
mas também por gestos, expressões faciais, expressões artísticas diversas e toda
crescente rede de signos não-verbais que continuamente invade nossas vidas.
A internet, com todo o aparato tecnológico computacional, lança signos a cada
instante. Não apenas isso: as distâncias estão sendo “encurtadas”, e a globalização
faz com que as distinções e singularidades fiquem cada vez menos acentuadas.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Uma das formas mais explícitas que comunicamos com o corpo é quando
movemos os músculos e pormenores do rosto. As expressões faciais constituem o
meio mais fácil de criarmos simpatia ou antipatia ao encontrarmos alguém.
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Capítulo 2 Linguagem Verbal e Não-Verbal
Vemos, então, o quanto a maneira como somos, como agimos e como nos
vestimos diz algo a nosso respeito às outras pessoas.
Atividade de Estudos:
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
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Algumas Considerações
Neste capítulo, tivemos a oportunidade de estudar aspectos importantes
da linguagem verbal e da não-verbal. Por verbal, grosso modo, entendemos as
linguagens que fazem uso de palavras e, por não-verbal, as que não utilizam
palavras.
Vimos que não nos comunicamos somente por meio de palavras, mas
também por meio de gestos, de expressões faciais, da maneira como nos
vestimos e agimos, bem como dos acessórios com os quais nos enfeitamos ou
carregamos no dia a dia.
Referências
BARTHES, Roland. Elementos de semiologia. São Paulo: Cultrix, 2006.
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C APÍTULO 3
Introdução à Leitura da Imagem
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Capítulo 3 Introdução à Leitura da Imagem
Contextualização
Por vezes, em exposições de obras de arte contemporânea, vemos figuras
disformes, distorcidas, que ofuscam e embaralham nosso olhar. Causam-nos
incômodos. Como podemos apreciá-las se, ao olhar para elas, a sensação que
temos é de repulsa e de desagrado? O observador contemporâneo fica, quase
sempre, perdido quando a obra ultrapassa os limites cristalizados pela cultura
clássica. O que devemos fazer nesse caso? Quando não é a representação
de cenas tal como a fotografia o faz, parece que precisamos ler algum texto de
uma pessoa especializada no assunto, ou mesmo do próprio artista, para poder
entender a obra, ao menos em parte.
Vimos nascer, no final do século XIX, uma nova forma de fazer arte. O advento
da fotografia propiciou aos pintores uma mudança significativa na elaboração das
obras. Mas como ler tais obras? Como devemos nos comportar diante de uma arte
que não representa mais o visível? De fato, é preciso uma reeducação do olhar. É
preciso que aprendamos alguns elementos e técnicas básicas das manifestações
artísticas, especialmente das modernas e contemporâneas. NesSas, o nosso
olhar se modifica, se estranha, interage, participa.
É nesta perspectiva que este capítulo começará com a leitura de uma obra de
arte moderna, do pintor francês Henri Matisse. Depois, passamos pelo exemplo
de uma pintura brasileira de Cândido Portinari, também pela escultura Monumento
às Bandeiras, do artista paulista Vitor Brecheret, e, finalmente, culminamos com
uma análise semiótica, realizada, a partir de uma oficina de arte contemporânea,
com alguns alunos pela arte-educadora gaúcha Patriciane Born.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Figura 18 - Interior vermelho, natureza-morta sobre mesa azul, 1947, Henri Matisse
Depois dessa experiência, por mais provocativa e confusa que possa ser, é
que a análise deverá ser iniciada.
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Capítulo 3 Introdução à Leitura da Imagem
O legi-signo (lei) nos diz que a obra de Matisse pertence à classe das
pinturas, mais especificamente das pinturas a óleo. Também pertence à classe
das pinturas modernas do gênero fauvista.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Parece difícil entender isso, não?! De fato, é um pouco, mas não precisamos,
no momento, entender a fundo isso. Com o tempo e com estudos, você pode
entender esse assunto de forma mais direta e eficaz. Em seguida, a autora mostra
os efeitos interpretativos da obra. Nesse caso, apresenta os níveis do interpretante.
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Capítulo 3 Introdução à Leitura da Imagem
interpretante final (em devir): “toda a admiração e gratificação ao olhar que essa
pintura ainda poderá despertar no futuro”.
Enterro na Rede
Enterro na rede é uma das obras da série Os retirantes, pintadas em 1944,
pelo artista brasileiro Cândido Portinari. A professora Sandra Regina Ramalho
e Oliveira, da Universidade Estadual de Santa Catarina, em seu livro Imagem
também se lê, faz uma análise dessa obra, que poderíamos aproximar de um
segmento de teoria semiótica que deriva daquela iniciada por Saussure.
Com o título da análise Enterro sem caixão, a autora começa por indagar
“o que você vê?”; depois, sugere: “observe-se, primeiramente, um eixo vertical;
e duas diagonais que lhe cortam em seguida, os elementos constitutivos.”
(OLIVEIRA, 2009, p. 69). Para mostrar como os elementos constitutivos estão
estruturados na obra, apresenta um esquema visual por meio de um croqui
contento os traços de contorno da obra. Diz a autora: “neste esquema são
destacados um a um os planos de profundidade propostos, diferenciação que é
feita por meio do uso de linhas e cores específicas para contornar e destacar a
estrutura de cada um deles.” (OLIVEIRA, 2009, p. 69).
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
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Capítulo 3 Introdução à Leitura da Imagem
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Atividade de Estudos:
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Capítulo 3 Introdução à Leitura da Imagem
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Atividade de Estudos:
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Capítulo 3 Introdução à Leitura da Imagem
Cremos não ser muito dificil falar de leitura de imagens para pessoas que
viajam, que frequentam museus e leem constantemente livros de arte, tendo, com
isso, um aprendizado mínimo satisfatório para a análise de imagens. Pessoas que
já leram Vidas secas, de Graciliano Ramos, e que conhecem o Nordeste brasileiro,
dispõem de mais recursos culturais para uma boa leitura da obra Enterro na rede,
de Portinari, que vimos no decorrer deste capítulo, do que um leigo no assunto.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Assim, nos dias atuais, o aluno-espectador não olha uma pintura e, por meio
do seu sentimento, faz um juízo de valor dizendo que a obra é ou não bela. Ele
deve, além de ter uma experiência fenomenológica com a obra, aprender a fazer
uma leitura formal, descritiva, interpretativa e contextualizada. É por esse caminho
que seguiremos o restante do capítulo.
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Capítulo 3 Introdução à Leitura da Imagem
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
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Capítulo 3 Introdução à Leitura da Imagem
sentidos foi sendo aguçada com o contato com as obras. No resumo do trabalho
Born (2008), encontramos:
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Atividade de Estudos:
Algumas Considerações
Neste capítulo, verificamos alguns exemplos de leitura de imagens. A leitura
e a análise das obras Interior vermelho, natureza-morta sobre mesa azul, do pintor
fauvista Henri Matisse, e Enterro na rede, do artista brasileiro Cândido Portinari,
feitas, respectivamente, por Lúcia Santaella e Sandra Ramalho e Oliveira,
mostraram duas possibilidades de ler imagens: Santaella o fez apoiada na
Semiótica de Peirce e Ramalho e Oliveira, por sua vez, numa Semiótica derivada
de Saussure. Em seguida, vimos um exemplo de análise Semiótica Greimasiana
que Antonio Vicente Pietroforte fez da escultura Monumento às bandeiras, do
artista brasileiro Vitor Brecheret. Esses foram apenas alguns exemplos. Outros,
você poderá encontrar nas referências recomendadas.
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Capítulo 3 Introdução à Leitura da Imagem
Referências
AMSBERG, Dagmar. O ensino da arte hoje: tendências e perspectivas.
Disponível em: <http://maniacolorida.blogspot.com/2010/07/o-ensino-da-arte-
hoje-tendencias-e.html>. Acesso em: 1° jul. 2011.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
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C APÍTULO 4
Compreender e Refletir a Arte
nas Diferentes Linguagens
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Compreender e Refletir a Arte
Capítulo 4 nas Diferentes Linguagens
Contextualização
A arte é uma das manifestações humanas mais antigas de que temos
conhecimento. De fato, muito do que hoje sabemos sobre as civilizações antigas
foi propiciado pela arte que, naquela época, eram expressões simples de pintura,
arquitetura e escultura. Há registros de pinturas em cavernas, como em Lascaux,
na França, que datam de, aproximadamente, 15.000 a.C., e de uma estatueta
feminina, a saber, a Vênus de Willendorf, que data de 25.000 a.C. Assim, vemos
que onde há homens, possivelmente há arte.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Segundo o Arnheim (2003), qualquer pessoa que tenha lido o livro Gênesis,
do Antigo Testamento, consegue entender o significado geral da obra. No entanto,
a história descrita no Gênesis sofreu certa modificação ao ser transportada para a
pintura, de forma a ficar mais compreensiva ao espectador.
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Compreender e Refletir a Arte
Capítulo 4 nas Diferentes Linguagens
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Um livro de indispensável leitura e que todo estudante de artes deve ter é Arte
em detalhes, de Robert Cumming, editado pela Publifolha. O conteúdo integral da
obra também foi publicado pela Editora Ática, cujo título é “Para entender a arte”.
O livro mostra exemplos de vários quadros, desde o Renascimento (Adoração dos
magos, de Giotto) até o Modernismo (Guernica, de Picasso), interpretando-as por
meio dos seus significados, simbolismos, contextos e importâncias das mesmas
no importante cenário artístico dos últimos séculos.
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Compreender e Refletir a Arte
Capítulo 4 nas Diferentes Linguagens
Foi nesse contexto histórico que Géricault elaborou sua pintura. O evento,
Mais do que qualquer outro domínio, essa pintura mostra um protesto retratado pelo
político. Os sobreviventes, ancorados na balsa/jangada, são retratados pintor, foi
heroicamente, ao tentarem acenar para um navio distante na tentativa tomado como
de salvamento. O evento, retratado pelo pintor, foi tomado como uma uma metáfora
metáfora da corrupção que assolava a França após a queda de Napoleão. da corrupção
que assolava
Géricault utiliza vários recursos picturais para criar sua obra de a França após
forma a mostrar a realidade e a crueldade da cena que escandalizou a queda de
o povo francês da época. Pela busca de autenticidade do quadro, o Napoleão.
artista foi a um hospital para estudar doentes, agonizantes e mortos.
Mandou construir uma jangada em tamanho real e a instalou em seu
ateliê, dispondo figuras de cera sobre ela, para compor a obra de Essa cena mostra
forma mais realista. A pintura também apresenta a composição em o desespero
forma de pirâmide, cujo vértice é o homem moreno acenando com um humano, mas
pano, tendo na base as pessoas mortas, e, no centro, os doentes e também a
agonizantes. Assim, essa cena mostra o desespero humano, mas esperança do
também a esperança do resgate. resgate.
Após ler alguns detalhes da composição e contexto, cremos que ficou mais
clara a nossa leitura da obra. Com forte razão, torna-se necessário, sempre que
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
• Interpretação pessoal: cada pessoa tem o direito de levar para uma obra de
arte o que quiser levar por meio da sua visão e da sua experiência e guardar
o que decidir guardar, no nível pessoal. O conhecimento da história, das
habilidades técnicas, deve ampliar essa experiência pessoal.
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Compreender e Refletir a Arte
Capítulo 4 nas Diferentes Linguagens
Atividade de Estudos:
1) A partir do que você leu até aqui, neste capítulo, cite alguns
elementos importantes no que tange à leitura de obras de artes
visuais.
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Nas charges, temos tanto a linguagem verbal (palavras escritas) quanto a não-
verbal (desenhos). No exemplo posto anteriormente, temos dois tipos de falas:
“O efeito de realidade” – nos diz Farias (2005, p. 249) – “ou seja, o que torna a
nossa charge passível de ser aceita como parte do nosso arcabouço sociocultural,
está ancorado nessa ‘mensagem forte’ da charge, que, no nosso caso, é o tema
de que ela trata: uma CPI.”
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Compreender e Refletir a Arte
Capítulo 4 nas Diferentes Linguagens
A Linguagem do Teatro
Grosso modo, teatro é uma forma de arte em que um ator ou conjunto de
atores intrepretam uma história, um monólogo, uma peça teatral, um drama,
uma comédia ou qualquer outro tipo de atividade perante uma plateia. Nessa
modalidade artística, vemos tanto a linguagem verbal (palavra) quanto a não-
verbal (gestos, vestimentas, cenários, etc).
Em geral, o teatro lida com signos da fala e dos gestos. São esses que
geralmente constroem o espetáculo, causando significações diversas no
público. Sobre isso, o escritor e ator Vitor Santos, no texto Teatro como sistema
atemolizante, afirma que:
A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE
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Compreender e Refletir a Arte
Capítulo 4 nas Diferentes Linguagens
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Nesse contexto, qual seria, então, a diferença entre ficção e realidade? “Em
termos discursivos, talvez nenhuma,” – nos diz Pietroforte (2008, p. 59) – “uma
vez que o aparato formal da enunciação com o qual a língua funciona é o mesmo
em todos os seus usos sociais”.
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Compreender e Refletir a Arte
Capítulo 4 nas Diferentes Linguagens
Relampiano
Algumas Considerações
Você deve ter percebido que compreender os diversos tipos de arte não
é uma tarefa fácil. Vimos alguns exemplos no decorrer do capítulo, feitos por
especialistas nos respectivos assuntos, de análises, em diferentes âmbitos, de
artes visuais, teatrais e musicais.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
O estudo e leitura de obras de artes é uma tarefa que requer muitos anos
de estudos e exige, do pesquisador, muito empenho e determinação. No ato de
entrar em contato com obras e artistas diversos, muitos espectadores se sentiram
“tocados” por elas. É sobre isso que trataremos nos dois próximos capítulos.
Referências
ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual. São Paulo, Pioneira/EDUSP, 2000.
FARIAS, Iara Rosa. Charge: humor e crítica. In: LOPES, Ivã Carlos;
HERNANDES, Nilton (Org.). Semiótica: objetos e práticas. São Paulo: Contexto,
2005. p. 25-39.
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Capítulo 5 Leitura de Obra de Arte pela Psicanálise
Contextualização
A humanidade viu surgir uma área de estudos que se tornaria central no que
tange ao conhecimento a respeito do ser humano: psicanálise. Um médico que
começou a aprofundar sua pesquisa sobre a mente humana tornar-se-ia, nas
décadas seguintes, um referencial para diversas outras áreas. Uma delas foi a
arte. Os artistas, no ensejo de procurar um cânone estético que norteasse um
novo tipo de arte, encontraram, no início do século XX, nas teorias freudianas do
inconsciente, um alicerce para pensar e elaborar suas obras.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Psicanálise e Arte
Sigmund Freud sempre foi um investigador da mente humana e procurou
estudá-la profundamente durante a sua vida. Sem dar-se conta, suas pesquisas
ajudaram a formatar uma das manifestações artísticas mais fecundas do início do
século XX. Mas, você sabia, caro estudante, que ele mesmo não gostava desse
tipo de arte? Para ele, a arte que merece ser elevada à categoria de obra de arte
é a clássica. Resulta daí o fato de Freud não se referir, praticamente, à arte feita
por seus contemporâneos, preferindo escrever e analisar alguns artistas cujas
obras foram feitas alguns séculos antes. Leonardo da Vinci foi um deles. Veremos
isso mais à frente.
O psicanalista
Contudo, Freud não aceitou as criações artísticas a partir
não acreditava
da psicanálise. Na verdade, Freud dizia que não compreendia a
haver
arte moderna. Nesse tocante, o psicanalista não acreditava haver
possibilidade de
possibilidade de uma conjunção entre o surrealismo e a psicanálise.
uma conjunção
Chegou a dizer, em frente à obra Metamorfose de Narciso, de Salvador
entre o
Dalí, que, na pintura clássica, procurava pelo inconsciente e, na
surrealismo e a
moderna, o consciente. Isso foi um grande choque para os pintores
psicanálise.
surrealistas.
Isso nos permite dizer que a psicanálise significou muito mais para o
surrealismo do que as obras de arte surrealistas para a psicanálise, ao menos
para Freud. Isso já não aconteceu com Lacan que, primeiro, teve contato com a
pintura surrealista e, depois, com as teorias freudianas. Diz-nos Rivera (2005, p.
24) que o jovem Lacan,
Atividade de Estudos:
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Entre os textos que escreveu, o que Freud considerou mais belo foi aquele
no qual interpretou a imagem Santa Ana, a virgem e a criança, de Leonardo da
Vinci, e apresentou um pintor perseguido por uma recordação da infância. Eis a
recordação:
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Capítulo 5 Leitura de Obra de Arte pela Psicanálise
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Apesar disso, Rivera (2005, p.32), que leu o texto de Freud, tem o
entendimento de que, “na obra de Da Vinci deve haver, supõe o pai da psicanálise,
algo que dê testemunho de sua recordação infantil”. Sobre a recordação infantil,
Freud a associou com o sexo oral e, assim, a cauda do abutre tocando o lábio,
seria, por analogia, o pênis tocando a boca de Leonardo da Vinci. Sendo fantasia
ou descrição real do artista, essa recordação deu subsídios, mesmo que precários,
para o psicanalista analisar uma possível homossexualidade de um dos maiores
artistas de todos os tempos.
Outro detalhe que Freud assinala é o fato de Santa Ana e a Virgem possuírem
quase a mesma idade na imagem. Isso foi associado às duas mães que Leonardo
da Vinci possuiu: a mãe verdadeira e a madrasta.
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Capítulo 5 Leitura de Obra de Arte pela Psicanálise
Que sua Lembrança da infância possa ser uma fantasia em que o abutre
represente uma alusão à sua sexualidade e que a cauda do abutre tocando os
lábios seja a representação do órgão sexual masculino e, por conseguinte, um
possível desejo reprimido de Leonardo da Vinci ou o fato de o abutre representar
sua mãe, como mostram os hieróglifos do antigo Egito (segunda hipótese da
análise freudiana), parece-nos especulação partidária de alguém que se propõe a
analisar a arte apenas sob um único ponto de vista.
Uma das obras mais intrigantes e de maior prestígio, entre todas as outras
pinturas do mundo ocidental, é, sem dúvida, a Monalisa. Presente no museu do
Louvre, já foi roubada por um operário que lá trabalhava e também já serviu de
adorno no quarto de Napoleão. Alguns especuladores dizem que é um autorretrato
de Leonardo da Vinci. Outros ainda consideram que era a tentativa de o pintor
resgatar ou imortalizar o sorriso de sua mãe. Muitos mistérios se acercam em
torno desse retrato.
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Capítulo 5 Leitura de Obra de Arte pela Psicanálise
representação do sorriso materno. Já, para Lacan, esse sorriso era algo estranho,
provocativo e, até, por que não considerar, perturbador. Essa é a produção de
sentidos que a obra causa em Lacan. Mais do que analisar as obras e os artistas,
Lacan queria aprender com elas.
O pintor, para produzir tal efeito, fez uso da técnica da anamorfose (uso invertido
das leis da perspectiva). Assim, ao olharmos de viés para o quadro, veremos uma
caveira aterrorizante. Sobre esse detalhe, assinala Lacan (2008, p. 88):
[...] Holbein nos torna aqui visível algo que não é outra coisa
senão o sujeito como nadificado – nadificado numa forma que
é, falando propriamente, a encarnação imajada do menos-fi [(
- φ)] da castração, a qual centra para nós toda a organização
dos desejos através do quadro das pulsões fundamentais.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
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Capítulo 5 Leitura de Obra de Arte pela Psicanálise
Holbein igualmente nos mostra algo parecido: entre o olhar que olha e que é
visto, algo existe e que não sabemos ao certo o que é. Nesse sentido, a obra de
arte contribuiu para Lacan pensar o mistério da visão.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Atividade de Estudos:
Algumas Considerações
Todo aquele que se propôs, alguma vez, a se expressar por meio da pintura,
da escultura, da escrita de um poema ou de outra atividade artística, sabe que
a obra ultrapassa os limites racionais da intenção do autor. Aquilo que escapa é
o que permite à obra não ter um sentido único e determinado, mas que a deixa
causar inúmeras significações cada vez que é retomada.
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Capítulo 5 Leitura de Obra de Arte pela Psicanálise
Referências
BRETON, André. Que é surrealismo? In: CHIPP, H. B. (Org.). Teorias da arte
moderna. Trad. Antonio de Pádua Danesi e Mônica Stahel. São Paulo: Martins
Fontes, 1999. p. 21-36.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
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C APÍTULO 6
Arte e Filosofia
99 Constatar que a arte pode ser uma maneira de ensinar o filósofo a descobrir e
validar conhecimentos
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
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Capítulo 6 Arte e Filosofia
Contextualização
Ao propor uma linha de raciocínio para o material de estudos sobre leitura e
produção de sentidos em artes visuais, veio-nos à mente o entrelaçamento entre
arte e filosofia. Inúmeros filósofos, ao longo dos milênios, falaram da arte em
diversos contextos e situações, às vezes desqualificando-a, noutras, acentuando
a criação e a expressão dela e por ela concebidas. Em sua maior parte, os
pensadores se apropriaram da arte para poderem dissertar acerca do belo.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
em apresentar um filósofo que recorreu à arte e nela viu uma verdadeira filosofia.
Esse pensador nasceu na França e não possui, especificamente, uma teoria da
arte. É nessa perspectiva que o filósofo Maurice Merleau-Ponty, ao falar da arte
em seus textos, não objetivava fazer uma teoria estética, isto é, não queria tentar
falar dela como uma sistematização ou mesmo se utilizar dela para ilustrar suas
abordagens filosóficas, mas, ao contrário, almejava aprender com ela.
Merleau-Ponty e a Pintura
Ao lermos os textos de Merleau-Ponty, verificamos que ele não está
interessado em explicar a arte a partir da filosofia, tampouco ilustrar seus escritos
com teorias artísticas. Então, qual é o estatuto da arte, mais especificamente
da pintura, para Merleau-Ponty? O que ela teria a ensinar-lhe? É sobre isto que
trataremos neste capítulo.
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Capítulo 6 Arte e Filosofia
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Capítulo 6 Arte e Filosofia
lugar ambíguo, reversível. Não foi isso que ele quis enfatizar ao dizer a Gasquet
que “o que estou a tentar explicar-te é mais misterioso; está ligado às profundas
raízes do ser, à intangível fonte de sensação”? (CÉZANNE, 1993, p. 56).
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Em nossa vida cotidiana, vemos objetos que disputam entre si nosso olhar,
pedem-nos que lhes demos atenção. Ao mirar nosso olhar no pêssego, por exemplo,
ele se torna figura para nós e o prato, fundo. Contudo, se fizermos o movimento
inverso, o prato se apresentará como figura e o pêssego, fundo.
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Capítulo 6 Arte e Filosofia
Os motivos de
Fonte: Merleau-Ponty (2004, p. 53). Cézanne estão
impressos em
Outra “deformação coerente” mostrada na obra de Cézanne é seu estado
vista na mesa do Retrato de Gustave Geffroy, que parece cair à frente, primordial e, por
mais uma espécie de parede inclinada do que uma mesa. Os motivos isso, podemos
de Cézanne estão impressos em seu estado primordial e, por isso, notar, nas obras,
podemos notar, nas obras, a retomada da sua significação original, a retomada da
que, no mundo da vida, no próximo instante, se esvai na trivialidade sua significação
das ocorrências adquiridas. Em seu método, Cézanne faz uma rotação original, que,
no conceito de perspectiva: introduz a noção de perspectiva “vivida”. no mundo da
vida, no próximo
No mundo cotidiano, vemos a perspectiva vivida, que nossa instante, se esvai
percepção vê, diferentemente da perspectiva geométrica ou fotográfica. na trivialidade
Na perspectiva vivida, quando vemos os objetos, diferentemente da das ocorrências
fotografia, os próximos nos parecem ser menores e os distantes, por adquiridas.
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Capítulo 6 Arte e Filosofia
Figura 41 - Natureza morta com melão verde [detalhe], 1902-1906, Paul Cézanne
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Esses brancos que observamos em suas telas são assim deixados por que
ele não os terminava? Será por que ele interrompia o processo artístico? Na
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Atividade de Estudos:
Algumas Considerações
Poderíamos, caro estudante, ficar discutindo e olhando como a arte
produz significações na filosofia. Muitos pensadores, ao longo da história
da filosofia, a utilizaram para ilustrar suas teses ou elaborar teorias acerca do
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Capítulo 6 Arte e Filosofia
belo. Contudo, foi em Maurice Merleau-Ponty que ela conseguiu produzir uma
significação promissora e fértil. Dessa forma, vimos que, a partir do contato com
a arte, especialmente com a pintura de Cézanne, ele conseguiu pensar melhor
filosoficamente, ou seja, Merleau-Ponty encontrava na arte um “ambiente fecundo”
para pensar e elaborar suas teorias.
Referências
BECKS-MALORNY, Ulrike. Paul Cézanne. Trad. Fernando Tomaz. Korea.
Paisagem, 2005
CUNHA, Eliel. Os grandes artistas: Cézanne. São Paulo: Nova Cultural, 1986.
ELGAR, Frank. Cézanne. Trad. Maria Luísa Silveira Botelho. São Paulo: Editorial
Verbo, 1987.
MERLEAU-PONTY, Maurice. O olho e o espírito. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
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