Você está na página 1de 139

i

ii
Antonio Ostrensky, Gabriel Cezar de Carvalho Olivete,
Rafaela Cristina Passos da Silva, Nathieli Cozer

Um pouco de tudo o que você sempre quis saber


sobre o cultivo de peixes orgânicos
(1ª Edição)

Curitiba
Instituto GIA
2020

iii
Antonio Ostrensky: Oceanólogo, doutor em Zoologia, coordenador do
GIA (Grupo Integrado de Aquicultura e Estudos Ambientais), Universidade
Federal do Paraná).

Gabriel Cezar de Carvalho Olivete: Zootecnista.

Rafaela Cristina Passos da Silva: Zootecnista.

Nathieli Cozer: Engenheira de Pesca, doutora em Zootecnia.

iv
PREFÁCIO

Este livro é fruto da curiosidade dos próprios autores sobre as normas para
produção de peixes orgânicos no Brasil. Ao buscarmos informações sobre o
tema, durante uma disciplina ofertada ao curso de graduação em Zootecnia,
na Universidade Federal do Paraná, constatamos que as informações eram
escassas, esparsas, desorganizadas e, não raro, pouco claras e orientativas.

Procuramos então organizar as nossas próprias dúvidas, na forma de perguntas,


e buscamos as respostas para elas. Quando percebemos, tínhamos em mãos
um material que poderia ser compartilhado com outras pessoas que pudessem
ter as mesmas dúvidas.

É preciso deixar bem claro que este não é um "manual de produção de peixes
orgânicos", ou um livro sobre técnicas de cultivo, mas sim um documento que
procura esclarecer ao leitor o que é necessário fazer e respeitar para que um
determinado empreendimento de piscicultura possa vir a ser certificado e
habilitado para comercializar peixes orgânicos.

v
SUMÁRIO

PREFÁCIO .................................................................................................................... v
DEFINIÇÕES ............................................................................................................... xv
PARTE 1 ........................................................................................................................ 2
DECIFRANDO A PRODUÇÃO ORGÂNICA .................................................................. 3
Fatos e curiosidades sobre alimentos orgânicos .................................................... 5
Conceitos gerais ..................................................................................................... 5
O que são "alimentos orgânicos"? ....................................................................... 5
O que um produto precisa para ser comercializado como “orgânico"? ..... 5
De onde vem o termo "orgânico"?...................................................................... 5
Existe um padrão internacional único de produção orgânica? .................... 6
Quais são as finalidades da produção orgânica? ........................................... 6
É possível diferenciar visualmente um produto orgânico de um
convencional? ........................................................................................................ 7
Produtos orgânicos são mesmo melhores que os produtos convencionais? 7
Consumir alimentos orgânicos é melhor para a saúde humana? ................. 8
A produção de alimentos orgânicos é mesmo melhor para o planeta? ..... 9
Posso confiar que todo produto vendido como orgânico é de fato
orgânico? .............................................................................................................. 10
Por que os produtos orgânicos são mais caros que os produtos
convencionais?..................................................................................................... 11
Os consumidores estão realmente dispostos a pagar mais por produtos
orgânicos? ............................................................................................................. 12
Produzir produtos orgânicos é mais fácil que produzir produtos
convencionais?..................................................................................................... 12
Se os sistemas orgânicos foram planejados para serem aplicados em terra,
como é possível aplicá-los à produção de peixes? ....................................... 12
Peixes Orgânicos .................................................................................................. 13
Por que produzir peixe orgânico? ...................................................................... 13
Há muitos produtores cultivando peixes orgânicos no mundo?................... 13
Quais são os peixes orgânicos mais produzidos em todo o mundo? .......... 14
O peixe selvagem, capturado através da pesca, é orgânico? ................... 14
PRINCÍPIOS QUE FUNDAMENTAM A PRODUÇÃO ORGÂNICA................................ 16
Quais sistemas de produção são reconhecidos como orgânicos? ............. 16
Quais são as bases da produção agropecuária orgânica? ......................... 16
Saúde? ................................................................................................................... 16

vi
Ecologia? ............................................................................................................... 17
Justiça? .................................................................................................................. 17
Precaução?........................................................................................................... 18
Quais são os maiores desafios para se produzir produtos orgânicos? ......... 18
De que forma os princípios orgânicos impactam especificamente a
piscicultura? .......................................................................................................... 19
PARTE 2 ...................................................................................................................... 22
O SISTEMA DE CERTIFICAÇÃO ORGÂNICA NO BRASIL ........................................... 23
O processo de certificação .................................................................................... 25
O que é a certificação orgânica? .................................................................... 25
Eu preciso provar que meu peixe é mesmo orgânico? ................................. 25
Todos os selos e certificações são valorizados da mesma maneira pelo
mercado? .............................................................................................................. 25
Quais são as principais responsabilidades de um produtor de peixes
orgânicos? ............................................................................................................. 26
Por que a certificação é tão importante na produção orgânica? ............. 26
O que são normas técnicas?.............................................................................. 26
Quem são os atores que compõe a rede de produção orgânica brasileira?
................................................................................................................................. 26
Quem são os setores (segmentos) sujeitos à regulamentação técnica na
cadeia de orgânicos? ......................................................................................... 27
Quem pode certificar um produto como orgânico? .................................... 27
O processo de certificação pode ser feito em grupo ou precisa ser feito
individualmente? .................................................................................................. 27
Quem pode solicitar a certificação em grupo? ............................................. 27
Os critérios utilizados na certificação individual e em grupo são diferentes
entre si? .................................................................................................................. 27
Quais são as possibilidades para certificação da propriedade?................. 28
Quais são as semelhanças e diferenças entre os diferentes meios de
certificação? ......................................................................................................... 29
Qual é o prazo de validade de um Certificado de Conformidade
Orgânica?.............................................................................................................. 29
Certificação por auditoria ................................................................................... 31
Como funciona a certificação por auditoria? ................................................ 31
O que as certificadoras podem exigir de seus clientes?................................ 31
Como deve ser feita a fiscalização das propriedades orgânicas? ............. 32
Qual deve ser a frequência de inspeções nas unidades de produção? ... 32
Como funciona e quais são os objetivos da realização de auditorias?...... 33

vii
O que acontece se, durante a auditoria é identificada alguma
possibilidade de contaminação na unidade de produção ou indício de
utilização de substâncias não permitidas pela regulamentação? .............. 33
A certificadora pode cobrar pela área ou pela produção total a ser
certificada? ........................................................................................................... 33
As certificadoras podem estabelecer suas próprias normas de certificação
orgânica? .............................................................................................................. 34
As certificadoras podem orientar seus clientes sobre as normas de
certificação? ......................................................................................................... 34
As certificadoras podem fornecer assistência técnica aos seus clientes? . 34
O que pode acontecer para quem burlar o sistema de produção e
garantia de produtos orgânicos? ...................................................................... 34
Como funciona o processo de regularização de uma certificadora? ....... 34
Eu poderia criar minha própria certificadora e meus próprios selos de
certificação? ......................................................................................................... 35
Sistema Participativo de Garantia ....................................................................... 37
Qual é o fundamento do Sistema Participativo de Garantia? ..................... 37
O que significa Controle Social? ........................................................................ 37
O que significa Responsabilidade solidária?.................................................... 37
Como é feita a certificação através de Sistemas Participativos de Garantia
(SPG)? ..................................................................................................................... 37
Qual é a diferença entre a certificação por auditoria e a certificação por
sistema participativo de garantia?.................................................................... 38
O que são e quais são os objetivos das visitas de verificação da
conformidade? ..................................................................................................... 38
Como são realizadas as Visitas de Verificação da Conformidade? ........... 39
O que acontece quando o OPAC identifica problemas no
empreendimento Orgânico? ............................................................................. 39
A OPAC também pode exigir que sejam realizadas análises de laboratório
para comprovar a conformidade dos produtos? .......................................... 39
O empreendedor pode contestar as decisões do OPAC? ........................... 40
Controle Social na Venda direta ......................................................................... 42
O que é venda Direta?........................................................................................ 42
O que é uma organização de Controle Social? ............................................. 42
Quais são as obrigações de uma Organização de Controle Social? ......... 42
A OCS precisa estar registrada? ........................................................................ 42
Quem são os órgãos fiscalizadores? ................................................................. 43
Quais são as funções do órgão fiscalizador?................................................... 43

viii
Como é feita a certificação através de Controle Social na Venda Direta?
................................................................................................................................. 43
O produtor tem direito ao certificado de orgânico nessa modalidade
(controle social na venda direta)? .................................................................... 43
PARTE 3 ...................................................................................................................... 46
BASES PARA A PRODUÇÃO DE PEIXES ORGÂNICOS .............................................. 47
Fundamentos gerais da produção de peixes orgânicos ..................................... 49
Já existem normas para a produção de peixes orgânicos? ......................... 49
Basta eu começar a cultivar peixes de forma orgânica para meus peixes
serem considerados orgânicos? ........................................................................ 49
Quais são as normas gerais em termos de sistemas de cultivo e localização
dos empreendimentos?....................................................................................... 49
Quais são as normas gerais em termos de espécies, reprodutores, técnicas
de produção de alevinos? ................................................................................. 50
Quais são as normas gerais em termos da alimentação e nutrição de
peixes? ................................................................................................................... 50
Quais são as normas gerais em termos de sanidade e bem-estar dos
peixes? ................................................................................................................... 51
Quais são as normas gerais de despesca, transporte e abate de peixes? 52
Quais são as normas gerais de processamento e rotulagem de peixes
orgânicos? ............................................................................................................. 52
PARTE 4 ...................................................................................................................... 54
NORMAS BRASILEIRAS PARA A PRODUÇÃO DE PEIXES ORGÂNICOS .................... 55
Requisitos legais a serem aplicados ao longo da cadeia de produção,
transporte, processamento, rotulagem, armazenamento e comercialização de
peixes orgânicos ...................................................................................................... 57
Leis e instrumentos normativos ............................................................................ 57
Quais são os principais instrumentos legais que disciplinam a produção de
peixes orgânicos no Brasil?.................................................................................. 57
O que a legislação brasileira exige em relação ao ambiente em uma
propriedade certificada para a produção de peixes orgânicos? .............. 57
O que a legislação brasileira exige em relação aos animais em uma
propriedade certificada para a produção de peixes orgânicos? .............. 58
O que a legislação brasileira exige em relação à sociedade ou à equipe
de trabalho em uma propriedade certificada para a produção de peixes
orgânicos? ............................................................................................................. 59
O que a legislação brasileira exige em relação à sanidade dos peixes em
uma propriedade certificada para a produção orgânica?......................... 59
O que a legislação brasileira exige em relação à cadeia de transporte,
armazenamento e comercialização de peixes orgânicos? ......................... 60

ix
O que é proibido em uma piscicultura orgânica?.......................................... 60
Antes de começar uma piscicultura orgânica ..................................................... 63
Que documentos o produtor/empreendedor aquícola precisa elaborar e
aprovar para obter a certificação orgânica?................................................. 63
O que é um Plano de Manejo Orgânico?........................................................ 63
Mesmo os pequenos produtores familiares precisam elaborar um Plano de
Manejo para certificar seus empreendimentos? ............................................ 63
Que tipo de informações deverá conter o Plano de Manejo Orgânico? .. 63
Há algum modelo que possa auxiliar o produtor na elaboração do seu
plano de Manejo? ................................................................................................ 64
O Planejo de Manejo precisa ser aprovado por alguma instituição? ......... 65
Cada vez que eu alterar qualquer procedimento técnico ou operacional
na minha propriedade precisarei fazer e aprovar um novo Plano de
Manejo? ................................................................................................................. 65
O que é uma Análise de Risco? ......................................................................... 66
Que tipos de riscos podem afetar um empreendimento orgânico?........... 66
Como se faz uma análise de risco? ................................................................... 67
Preciso contratar um profissional para fazer a análise de risco da minha
propriedade orgânica? ....................................................................................... 67
A fase de conversão de uma propriedade convencional em orgânica ........... 69
Posso produzir peixes orgânicos em uma propriedade onde antes se
produzia peixes em sistemas convencionais? ................................................. 69
O que significa a "conversão" de uma propriedade?.................................... 69
Todo e qualquer empreendimento precisará passar por um período de
conversão? ............................................................................................................ 69
Qual é o objetivo da "conversão"?.................................................................... 69
Quando começa oficialmente o período de conversão?............................ 70
Qual deve ser a duração do período de conversão? ................................... 70
Posso continuar produzindo enquanto minha propriedade encontra-se em
processo de conversão? ..................................................................................... 70
Cultivando peixes orgânicos .................................................................................. 74
Reprodução .......................................................................................................... 74
Posso usar peixes exóticos em uma piscicultura orgânica? .......................... 74
De onde obter reprodutores para realizar a produção de alevinos
orgânicos? ............................................................................................................. 74
Reprodutores que não estejam sob manejo orgânico podem ser
comercializados como orgânicos? ................................................................... 74
Pode haver mistura entre alevinos orgânicos e não orgânicos nos sistemas
de cultivos?............................................................................................................ 74

x
O que é proibido na reprodução de peixes orgânicos? ............................... 74
Quais cuidados devem ser tomados na fase de reprodução de peixes
orgânicos? ............................................................................................................. 75
Instalações de Cultivo .......................................................................................... 75
Quais são os cuidados gerais que precisam ser respeitados em relação às
instalações de cultivo? ........................................................................................ 75
Quais os cuidados devo ter em relação aos viveiros de cultivo? ................ 75
Quais os cuidados devo ter em relação ás instalações relacionadas aos
resíduos gerados durante os cultivos? .............................................................. 75
Manejo ................................................................................................................... 76
Quais são as exigências legais para a aquisição de peixes orgânicos?..... 76
Existem densidades máximas pré-estabelecidas para povoamento das
estruturas de cultivo? ........................................................................................... 76
É necessário monitorar a qualidade da água durante os cultivos? ............ 76
Preciso registrar o que acontece na propriedade? ....................................... 76
Posso usar fertilizantes para aumentar a produção de alimentos naturais no
viveiro? ................................................................................................................... 77
Quais produtos podem ser utilizados como sanitizantes em uma piscicultura
orgânica? .............................................................................................................. 80
Como esses produtos deverão ser utilizados? ................................................. 81
Quais são as exigências legais para a regularização e uso de insumos
destinos à piscicultura orgânica? ...................................................................... 81
Nutrição e alimentação ....................................................................................... 88
Qual deve ser a origem dos alimentos em uma piscicultura orgânica?..... 88
O que é permitido na alimentação de peixes orgânicos? ........................... 88
O que não é permitido na alimentação de peixes orgânicos? ................... 88
O que é permitido apenas ocasionalmente e sob restrições severas na
alimentação de peixes orgânicos? ................................................................... 88
Há exceções a essas regras? ............................................................................. 88
Como alimentar peixes mantidos em tanques de recirculação de água
semifechados? ...................................................................................................... 89
Sanidade ............................................................................................................... 94
Há restrições quanto ao uso de produtos e substâncias destinadas ao
manejo sanitário e ao controle de doenças em peixes orgânicos? ........... 94
O que fazer no caso de doenças ou ferimentos em que o uso das
substâncias permitidas não esteja surtindo efeito e o animal esteja em
sofrimento ou risco de morte? ............................................................................ 94
Como proceder em relação ao uso de vacinas? .......................................... 95

xi
Quais substâncias podem ser empregadas na prevenção e tratamento de
enfermidades dos organismos orgânicos? ....................................................... 95
Bem-Estar ............................................................................................................... 96
Qual é a importância do bem-estar animal na piscicultura orgânica? ...... 96
Quais são os princípios que precisam ser respeitados para se garantir o
bem-estar dos peixes cultivados? ...................................................................... 96
É possível, de fato, atingir todos esses requerimentos em relação ao bem-
estar dos peixes? .................................................................................................. 96
Em que casos e condições é permitido o uso de anestésicos na piscicultura
orgânica? .............................................................................................................. 97
A lei permite a remoção de predadores e competidores das instalações
de cultivo? ............................................................................................................. 97
Transporte, pré-abate e abate de peixes ORGÂNICOS.................................... 97
O que é preciso ser respeitado em relação ao transporte, pré-abate e o
abate de peixes? ................................................................................................. 97
Processamento ..................................................................................................... 98
O processamento de peixes orgânicos possui suas regras próprias? .......... 98
É obrigatório o uso de boas práticas de manuseio e processamento de
produtos orgânicos? ............................................................................................ 98
Há necessidade de se registrar as atividades realizadas durante o
processamento dos peixes orgânicos?............................................................. 98
É possível processar produtos orgânicos e não orgânicos juntos? ............... 98
O que fazer para evitar a contaminação por produtos não orgânicos
durante o processamento? ................................................................................ 98
Quais produtos poderão ser utilizados na higienização de equipamentos e
das instalações utilizadas para o processamento de produtos orgânicos?98
É possível utilizar ingredientes não orgânicos em produtos orgânicos
processados? ........................................................................................................ 99
É permitida a utilização do mesmo ingrediente de origem orgânica e não
orgânica em um determinado produto processado? ................................... 99
É permitido o uso de organismos geneticamente modificados no
processamento de peixes orgânicos? .............................................................. 99
O uso de água potável e sal é permitido no preparo de alimentos
orgânicos processados?...................................................................................... 99
É possível defumar alimentos orgânicos? ....................................................... 100
No processamento de produto orgânico será permitido o uso dos aditivos
e coadjuvantes?................................................................................................. 100
Quanto de aditivos alimentares e de coadjuvantes de tecnologia podem
ser utilizados no processamento de peixes orgânicos? ............................... 101

xii
Podem ser utilizados métodos de higienização de ingredientes e produtos
durante o processamento de produtos orgânicos? ..................................... 101
Armazenamento e transporte............................................................................ 102
Como deverão ser acondicionados os produtos durante o
armazenamento e o transporte? ..................................................................... 102
Como se deve promover o controle de pragas em estruturas e áreas físicas
de processamento, armazenamento e transporte de produtos orgânicos?
............................................................................................................................... 102
O que é proibido em relação ao tema? ........................................................ 103
Rótulos.................................................................................................................. 103
Quem normatiza os rótulos de produtos alimentícios no Brasil? ................. 103
Quais informações são obrigatórias em qualquer rótulo de alimentos,
sejam eles orgânicos ou não orgânicos? ....................................................... 103
Quais são as informações obrigatórias na rotulagem nutricional? ............ 104
Que informações precisarão conter os rótulos dos produtos orgânicos
comercializados diretamente aos consumidores? ....................................... 104
Que informações precisam constar na rotulagem de produtos
comercializados no mercado interno? ........................................................... 104
Quais são as regras para identificar produtos que contenham ingredientes,
incluindo aditivos, que não sejam orgânicos? .............................................. 105
Mercado e Comercialização ............................................................................ 105
Como se indica que o produto que está sendo comercializado é
orgânico? ............................................................................................................ 105
Os produtos e os pontos de comercialização podem conter ou utilizar
marcas ou outras formas de identificação referentes à organização
responsável pelo controle social da qualidade orgânica? ........................ 106
Produtos orgânicos e não orgânicos poderão ser vendidos juntos? ......... 106
Como identificar produtos orgânicos comercializados a granel? ............. 106
Os produtos orgânicos não certificados, comercializados diretamente
entre agricultores familiares e consumidores finais poderão utilizar o selo do
Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica? .................. 106
Quais são as regras para a venda direta de produtos orgânicos aos
consumidores? .................................................................................................... 106
Que regras deverão ser respeitadas quando da venda entre agricultores
familiares e consumidores finais? ..................................................................... 107
Quais regras devem ser respeitadas por restaurantes, hotéis e lanchonetes
que oferecem produtos orgânicos aos seus clientes? ................................. 107
Quais regras afetam a importação de produtos orgânicos? ..................... 108
PARTE 5 .................................................................................................................... 110
DESAFIOS PARA A PRODUÇÃO DE PEIXES ORGÂNICOS ...................................... 111

xiii
Principais desafios para a viabilização da piscicultura orgânica ..................... 113
Quais são os principais desafios zootécnicos na produção de peixes
orgânicos? ........................................................................................................... 113
Quais são os principais desafios em relação ao manejo de peixes
orgânicos? ........................................................................................................... 113
Quais são os principais desafios em relação à sanidade de peixes
orgânicos? ........................................................................................................... 114
Existem outros desafios que precisam ser enfrentados ou pelo menos
conhecidos pelos piscicultores orgânicos? .................................................... 115
Bibliografia citada .................................................................................................. 117

xiv
DEFINIÇÕES
Abate Humanitário: procedimentos avaliação de uma entidade
técnicos e científicos que visam a candidata ao credenciamento
minimização do sofrimento dos como organismo de avaliação da
organismos aquáticos submetidos conformidade com a
ao abate. regulamentação oficial.

Acreditação: ferramenta Avaliação da conformidade:


estabelecida em escala processo sistematizado, com regras
internacional para gerar confiança pré-estabelecidas, devidamente
na atuação de organizações que acompanhado e avaliado, de
executam atividades de avaliação forma a prover adequado grau de
da conformidade. Acreditação é o confiança de que um produto,
reconhecimento formal, pelo processo ou serviço, ou ainda um
Instituto Nacional de Metrologia, profissional, atende a requisitos
Qualidade e Tecnologia - Inmetro, preestabelecidos por normas ou
de que um Organismo de Avaliação regulamentos, com o menor custo
da Conformidade - OAC possível para a sociedade.
(laboratório, organismo de
Cadastro Nacional de Produtores
certificação ou organismo de
Orgânicos: base de dados com
inspeção) atende a requisitos
informações relativas aos produtores
previamente definidos e demonstra
orgânicos em conformidade com a
ser competente para realizar suas
regulamentação brasileira para a
atividades com confiança. Além
produção orgânica.
disso, os OACs precisam estar
credenciados junto ao Ministério da Certificação: mecanismo de
Agricultura, Pecuária e avaliação da conformidade, que
Abastecimento – MAPA. consiste na atestação – feita por
terceira parte – de que produtos,
Análise de Risco: procedimento processos, sistema de gestão, ou
adotado pelos Organismos de pessoas, atendem a requisitos
Avaliação da Conformidade (OAC) especificados.
ou pelos Organismos de Controle
Social (OCS) com a finalidade de Certificação Orgânica: ato pelo
identificar riscos potenciais em qual um organismo de avaliação da
insumos e práticas de manejo conformidade credenciado dá
adotadas na unidade de produção garantia por escrito de que uma
que possam comprometer a produção ou um processo
qualidade orgânica do produto. claramente identificado foi
metodicamente avaliado e está em
Auditoria de Credenciamento: conformidade com as normas de
processo sistemático, documentado produção orgânica vigentes.
e independente pelo qual uma
equipe oficial de auditores realiza a

xv
Certificado de Conformidade a regulamentação oficial de
Orgânica: documento emitido por produção orgânica e com os
organismo de avaliação da critérios em vigor.
conformidade orgânica,
Cultivo Integrado: qualquer forma
credenciado no Ministério da
de associação entre os cultivos
Agricultura, Pecuária e
aquáticos e a criação de animais ou
Abastecimento (MAPA) para operar
cultivos de plantas terrestres, de
no Sistema Brasileiro de Avaliação
maneira a promover o melhor
da Conformidade Orgânica,
aproveitamento de resíduos e
certificando que produtos ou
produtos secundários da pecuária e
estabelecimentos produtores ou
agricultura no sistema de produção
comerciais atendem o disposto no
aquícola.
regulamento da produção
orgânica, estando autorizados a Declaração de Transação
usar o selo do Sistema Brasileiro de Comercial: documento emitido
Avaliação de Conformidade pelos Organismos de Avaliação da
Orgânica (SisOrg). Conformidade Orgânica ou pelas
unidades de produção, com base
Controle Social: processo de
nos procedimentos definidos pelos
geração de credibilidade
Organismos de Avaliação da
organizado a partir da interação de
Conformidade Orgânica (OACs),
pessoas ou organizações,
com informações qualitativas e
sustentado na participação,
quantitativas sobre produtos
comprometimento, transparência e
comercializados, com o intuito de
confiança dos envolvidos no
permitir o controle e a
processo de geração de
rastreabilidade dos mesmos.
credibilidade.
Escopo: objeto da avaliação da
Conversão: tempo decorrido entre o
conformidade orgânica, tais como
início do manejo orgânico, de
produção primária animal,
extrativismo, culturas vegetais ou
produção primária vegetal,
produção animal e seu
extrativismo, processamento de
reconhecimento como sistema de
produtos de origem animal,
produção orgânica. Esse período é
processamento de produtos de
necessário para que a unidade
origem vegetal, entre outros
produtiva se adapte a odos os
definidos pela regulamentação
requisitos da produção orgânica.
oficial de produção orgânica em
vigor.

Credenciamento: procedimento Extrativismo Sustentável Orgânico:


pelo qual o Ministério da Agricultura, conjunto de práticas associadas ao
Pecuária e Abastecimento manejo sustentável dos recursos
reconhece formalmente que um naturais, com vistas ao
OAC está habilitado para realizar a reconhecimento da qualidade
avaliação de conformidade de orgânica de seus produtos.
produtos orgânicos, de acordo com

xvi
Formas jovens: nome genérico Organismo de terceira parte: termo
comumente utilizado para designar usado para indicar que a
os estágios iniciais da vida dos certificadora não está vinculada
organismos aquáticos, no caso de diretamente ao produtor (primeira
peixes, ovos, larvas, pós-larvas, parte) nem ao consumidor
alevinos. (segunda parte) do produto
certificado.
Grupo: é um conjunto de pessoas
organizadas de maneira formal ou Organismo de Avaliação da
informal que realiza ações coletivas Conformidade Orgânica (OAC):
de monitoramento mútuo e instituição credenciada para
avaliação da conformidade das avaliar, verificar e atestar que
unidades de produção dos produtos ou estabelecimentos
fornecedores; um grupo pode incluir produtores ou comerciais atendem
diferentes atores sociais que detêm o disposto no regulamento da
o poder e a responsabilidade produção orgânica. É responsável
compartilhados pelas decisões ainda por lançar e manter
relacionadas à conformidade dos atualizados os dados ligados a todas
produtos com os regulamentos da as unidades de produção que
produção orgânica. estejam sob o seu controle no
Cadastro Nacional de Produtores
Inspeção: visita de representantes
Orgânicos e no Cadastro Nacional
dos organismos de avaliação da
de Atividades Produtivas.
conformidade orgânica, para
verificar se o sistema de produção Organismo Participativo de
está sendo operado de acordo com Avaliação da Conformidade
as normas vigentes de produção (OPAC): é uma organização que
orgânica, podendo ser parte de um assume a responsabilidade formal
processo de auditoria. pelo conjunto de atividades
desenvolvidas num Sistema
Integridade Orgânica: condição de
Participativo de Garantia da
um produto em que estão
Qualidade Orgânica (SPG),
preservadas todas as características
constituindo na sua estrutura
inerentes a um produto orgânico.
organizacional uma Comissão de
Inmetro: Instituto Nacional de Avaliação e um Conselho de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia Recursos, ambos compostos por
é uma autarquia federal, vinculada representantes dos membros de
ao Ministério da Economia, que atua cada SPG.
como Secretaria Executiva do
Organização de Controle Social:
Conselho Nacional de Metrologia,
grupo, associação, cooperativa ou
Normalização e Qualidade Industrial
consórcio a que está vinculado o
(Conmetro), colegiado
agricultor familiar em venda direta,
interministerial, que é o órgão
previamente cadastrado no
normativo do Sistema Nacional de
Ministério da Agricultura, Pecuária e
Metrologia, Normalização e
Abastecimento, com processo
Qualidade Industrial (Sinmetro).

xvii
organizado de geração de Qualidade Orgânica: qualidade
credibilidade a partir da interação que traz, vinculada a ela, os
de pessoas ou organizações, princípios da produção orgânica
sustentado na participação, relacionados a questões sanitárias,
comprometimento, transparência e ambientais e sociais.
confiança, reconhecido pela
Rede de Produção Orgânica:
sociedade.
envolve agentes que atuam nos
Poder Compartilhado: processo diferentes níveis do processo da
horizontal de avaliação da produção, processamento,
conformidade orgânica, no qual a transporte, armazenagem,
tomada de decisão está comercialização e/ou consumo de
compartilhada entre todos os produtos orgânicos.
integrantes de um sistema
Relações de Trabalho em condições
participativo de garantia, que
especiais: onde há especificidades
possuem o mesmo nível de
na participação da criança em
responsabilidade e de poder na
tarefas que a família executa no
determinação da qualidade
campo, que objetivam incluí-la e
orgânica de um produto.
prepará-la para um futuro trabalho
Policultivo: cultivo de duas ou mais e que, dessa forma, são respeitadas
espécies de organismos aquáticos, pela produção orgânica por
compatíveis entre si, em uma constituir um dos alicerces das
mesma instalação ou estrutura de comunidades locais tradicionais.
cultivo visando o aumento da
Selo do Sistema Brasileiro de
produtividade por meio do melhor
Avaliação da Conformidade
aproveitamento dos diversos tipos
Orgânica: marca visualmente
de insumos e alimentos disponíveis.
perceptível que identifica e
Produção paralela: produção distingue produtos controlados no
obtida quando, na mesma unidade Sistema Brasileiro de Avaliação da
de produção ou estabelecimento, Conformidade Orgânica, bem
haja coleta, cultivo, criação ou como garante a conformidade dos
processamento de produtos mesmos com os regulamentos
orgânico e não orgânico. técnicos da produção orgânica.

Produtor orgânico: toda pessoa, SisOrg: Sistema Brasileiro de


física ou jurídica, responsável pela Avaliação de Conformidade
geração de produto orgânico, seja Orgânica. É administrado pelo
ele in natura ou processado, obtido Ministério da Agricultura, Pecuária e
em sistema orgânico de produção Abastecimento – MAPA, do governo
agropecuária ou oriundo de brasileiro. Foi criado para identificar
processo extrativista sustentável e e controlar a produção nacional de
não prejudicial ao ecossistema alimentos orgânicos, quanto a sua
local. origem e processo produtivo. Trata-
se de uma estrutura operativa
constituída de órgãos da

xviii
administração pública federal e adubação, controle de pragas e
pelos Organismos de Avaliação da doenças dos vegetais ou controle
Conformidade – OAC (estes, de endo e ectoparasitos.
formados e autorizados após
Unidade de Produção Controlada:
Certificação por Auditoria e
unidade de produção em que é
Sistemas Participativos de Garantia,
feita a avaliação da conformidade
credenciados pelo Ministério).
orgânica por um Organismo de
Mediante convênios, os estados e o
Avaliação da Conformidade
Distrito Federal podem também
Orgânica credenciado pelo MAPA.
fazer parte do SisOrg.
Unidade de Produção Orgânica:
Sistema de Certificação: conjunto
empreendimento destinado à
de regras e procedimentos
produção, manuseio ou
adotados por uma entidade
processamento de produtos
certificadora, que, por meio de
orgânicos.
auditoria, avalia a conformidade de
um produto, processo ou serviço, Venda Direta: relação comercial
objetivando a sua certificação. direta entre o produtor e o
consumidor final, sem intermediários
Sistema de Controle Interno (SCI):
ou preposto, desde que seja o
Sistema que permite a certificação
produtor ou membro da sua família
por grupos de produtores, desde
inserido no processo de produção e
que sejam formados por pequenos
que faça parte da sua própria
produtores, agricultores familiares,
estrutura organizacional.
projetos de assentamento e outros
grupos formados por ribeirinhos, Visita de Controle Interno: processo
quilombolas, indígenas e extrativistas pelo qual os membros de uma
que possuam uma organização e estrutura organizacional, ou
estrutura suficientes para assegurar técnicos por eles contratados,
o controle dos procedimentos realizam a verificação do
regulamentados. cumprimento dos regulamentos
técnicos e demais procedimentos
Sistemas Participativos de Garantia
estabelecidos pelo sistema de
da Qualidade Orgânica: conjunto
controle interno.
de atividades desenvolvidas em
determinada estrutura organizativa, Visita de Pares: quando pessoas que
visando assegurar a garantia de que integram o mesmo Sistema
um produto, processo ou serviço Participativo de Garantia avaliam,
atende a regulamentos ou normas por meio de visitas, o cumprimento
específicas e que foi submetido a de critérios e práticas de produção.
uma avaliação da conformidade
de forma participativa.

Trator Animal: prática de manejo


integrada à agricultura, em que se
utilizam animais em cercado móvel
com objetivo de capina, roçada,

xix
APRESENTAÇÃO DO LIVRO

Cada vez mais, produtos intitulados como "orgânicos"


estão presentes nas gôndolas de supermercados e nas
mesas de consumidores de todo o país. Mas, afinal, o que
é um "produto orgânico"? Quem pode usar tal
denominação? Como se certifica um "produto" ou uma
"propriedade orgânica"?

O senso comum diz que "produto orgânico é aquele


produzido sem o uso de agrotóxico". Isso é verdade!
Porém, apenas produzir algo sem o uso de agrotóxicos é
suficiente para se produzir algo "orgânico"? E no caso da
piscicultura, o que seria produzir "peixes orgânicos"?

Existe, de fato, muita desinformação, tanto de produtores


como de consumidores sobre tais temas. Por isso, este livro
foi pensado e estruturado para ajudar a esclarecer
dúvidas como essas. Nele, os conceitos e princípios que
regem o arcabouço normativo em relação à produção de
orgânicos, em geral, e de peixes orgânicos, em particular,
são apresentados na forma de perguntas e respostas.

As respostas, por sua vez, não são baseadas apenas nas


percepções ou experiências dos autores, mas sim nos
princípios que norteiam o tema "Produtos Orgânicos", em
dados e informações científicas e, sempre que cabível, no
próprio texto das normas legais brasileiras relativas ao
assunto que está sendo apresentado.

Nossa intenção não é tratar o tema com paixão e nem


defender e ou criticar os sistemas orgânicos de produção
de peixes, mais sim informar o leitor. Passar-lhe as
informações necessárias para que ele decida por si
mesmo se esse tipo de regime de produção é ou não
adequado às suas necessidades, quer seja como produtor
ou como consumidor.

O que esperamos com tal abordagem, essencialmente


técnica, é que um tema tão complexo e, em geral, pouco
compreendido possa tornar-se mais atraente e mais
"palatável" que a simples leitura direta de cada uma das
normas, regulamentos, portarias ou leis que tratam da
produção de peixes orgânicos no Brasil.

Boa leitura!

1
PARTE 1

2
DECIFRANDO A PRODUÇÃO
ORGÂNICA

3
Apresentação da Parte 1

A produção de peixes orgânicos não pode ser avaliada ou


abordada sem que o leitor tenha uma ideia, ainda que
geral, do que significa se produzir "alimentos orgânicos".
Entender, por exemplo, que a agricultura e a pecuária
convencionais levaram à ocupação de mais de 35% de
toda a superfície terrestre não coberta por gelo do planeta.
Isso equivale a uma área 60 vezes maior que o somatório
de todas as áreas urbanas do mundo.

Essa expansão foi determinante para a redução da fome


no mundo. Atualmente, 800 milhões de pessoas sofrem de
fome e desnutrição em todo o mundo. Cerca de 16
milhões morrerão disso. Se a agricultura convencional
fosse substituída pela agricultura orgânica, pesquisadores
estimam que o número de pessoas sofrendo de fome e
desnutrição subiria para 1,3 bilhão, supondo que a mesma
quantidade de terra que está sendo usada agora fosse
utilizada 1 .

Ou seja, sem a agricultura tradicional, os alimentos


custariam mais caros e muito mais pessoas passariam
fome. Por outro lado, os impactos ambientais causados
pela produção de alimentos seriam provavelmente
menores e talvez não estaríamos sofrendo com alterações
climáticas tão rápidas e extremas como as que estamos
passando.

O fato é que, embora a produção de alimentos orgânicos


seja praticada como tal desde a década de 1940, ela
ainda não é capaz de competir (nem em preço e nem em
quantidades produzidas) com os métodos convencionais
e, portanto, não pode ainda ser considerada uma opção
realmente viável para a imensa maioria das pessoas.

Essa realidade só começará a mudar, de fato, com o


interesse da sociedade em corrigir os problemas e falhas
da produção convencional de alimentos. É aí que a
produção, comercialização e o consumo de alimentos
orgânicos pode se tornar uma ótima alternativa
econômica para produtores, investidores e consumidores.

4
FATOS E CURIOSIDADES SOBRE ALIMENTOS
ORGÂNICOS

CONCEITOS GERAIS

O que são "alimentos orgânicos"?

Oficialmente, de acordo com a legislação brasileira, considera-se produto da


agricultura e da pecuária orgânica ou ainda produto orgânico, seja ele in
natura ou processado, aquele obtido de um sistema orgânico de produção
agropecuário ou oriundo de processo extrativista sustentável e não prejudicial
ao ecossistema local.

O que um produto precisa para ser comercializado como “orgânico"?

Para serem comercializados, os produtos orgânicos deverão ser certificados por


organismos credenciados no Ministério da Agricultura, sendo dispensados da
certificação somente aqueles produzidos por agricultores familiares que fazem
parte de organizações de controle social cadastradas no MAPA, que
comercializam exclusivamente em venda direta aos consumidores.

De onde vem o termo "orgânico"?

Algumas pessoas acabam confundindo o termo "orgânico", designado na


química para identificar compostos que possuem carbono em sua composição,
com "produto orgânico". O "orgânico", no presente caso, está relacionado aos
seres vivos, aos organismos, ao processo produtivo que se desenvolve de
maneira natural e organizada.

De acordo com a IFOAM (Federação Internacional dos Movimentos da


Agricultura Orgânica), o termo foi criado originalmente para designar sistemas
de produção agrícola (portanto, agricultura orgânica), que mantém a saúde
dos solos, dos ecossistemas e das pessoas. Esses sistemas de produção devem
estar baseados em processos ecológicos, na manutenção da biodiversidade e
dos ciclos adaptados às condições locais, e no não uso de insumos que possam
apresentar efeitos adversos para as pessoas ou para o ambiente 2.

Historicamente, sistemas e produtos que usam o termo "orgânico" (ou seu


equivalente em outras línguas como, por exemplo, "biológico", "ecológico" etc.)
têm realmente se concentrado na saúde e na manutenção dos solos como

5
base para a produção agrícola ou pecuária. O solo garante as culturas
agrícolas e os animais cultivados (produtos primários), que podem ser
comercializados in natura ou ainda ser processados, antes de chegarem ao
consumidor final.

Portanto, originalmente, os sistemas orgânicos eram essencialmente terrestres e


baseados no solo. Sem solo de boa qualidade e manejado de forma correta
não existe agricultura ou pecuária orgânica.

Existe um padrão internacional único de produção orgânica?

Não. Ainda não há um sistema ou normas únicas, que sejam plenamente


reconhecidos no mundo todo e que possam fornecer a garantia da qualidade
orgânica dos produtos. A IFOAM foi a organização pioneira na criação de uma
estrutura mundial de certificação orgânica. Seus padrões forneceram
parâmetros para a legislação sobre produtos orgânicos de diversos países.
Existem, ainda, certificadores independentes que tendem a atuar com base
local. Mas, um padrão internacional único realmente não existe.

Quais são as finalidades da produção orgânica?

• Ofertar produtos saudáveis, cultivados ou processados sem pesticidas


sintéticos, fertilizantes químicos, irradiação, solventes industriais ou aditivos
alimentares químicos, que não colocam em risco o ambiente e a saúde
do produtor, do trabalhador ou do consumidor;
• Preservar a diversidade biológica dos ecossistemas naturais e a
recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas
modificados onde estejam inseridos os sistemas de produção, com
especial atenção às espécies ameaçadas de extinção;
• Empregar produtos e processos que mantenham ou incrementem a
fertilidade do solo e promovam o desenvolvimento e equilíbrio da
atividade biológica do solo;
• Adotar práticas nas unidades de produção que contemplem o uso
saudável do solo, da água e do ar, de forma a reduzir ao mínimo todas
as formas de contaminação e desperdícios desses elementos;
• Estabelecer relações de trabalho baseadas no tratamento com justiça,
dignidade e equidade, independentemente das formas de contrato de
trabalho;
• Incentivar a integração entre os diferentes participantes da rede de
produção orgânica e a regionalização da produção e do comércio dos
produtos, estimulando os circuitos curtos e a relação direta entre o
produtor e o consumidor final;
• Reciclar resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo possível o
emprego de recursos naturais não renováveis;

6
• Usar boas práticas de manuseio e processamento com o propósito de
manter a integridade orgânica e as qualidades vitais do produto em
todas as etapas que vão da produção até chegar ao consumidor; e
• Utilizar práticas de manejo produtivo que preservem as condições de
bem-estar dos animais.

É possível diferenciar visualmente um produto orgânico de um convencional?

Não. Isso é um mito. É muito difícil (senão impossível) diferenciar um produto


orgânico de um convencional visualmente, por sabor ou até mesmo através de
análises químicas laboratoriais.

Produtos orgânicos são mesmo melhores que os produtos convencionais?

Depende. Essa é uma questão bastante polêmica e delicada. A resposta deve


levar em conta quais parâmetros são utilizados para fazer essa comparação e
o fato de que ainda há poucos estudos científicos que fazem comparações dos
benefícios de longo prazo entre consumidores de produtos orgânicos e
convencionais.

Em tese, um produto orgânico não deve conter concentrações detectáveis de


compostos químicos sintéticos (como hormônios, medicamentos, inseticidas,
herbicidas e fungicidas, por exemplo). Então, sob o ponto de vista da
contaminação química, é bastante plausível que sejam encontradas diferenças
quando da análise de produtos orgânicos e convencionais 3; 4. Ainda assim, é
preciso fazer uma ressalva de que não é porque um produto é produzido de
forma convencional que ele necessariamente apresenta algum tipo de
contaminação química.

No nível celular, os nutrientes presentes em um peixe orgânico, por exemplo, são


metabolizados exatamente da mesma maneira pelo corpo humano. As
proteínas do peixe serão digeridas, decompostas e absorvidas da mesma
maneira e terão o mesmo efeito na sua fome e saciedade. A maioria dos
alimentos orgânicos não contém mais nutrientes do que suas contrapartes
convencionais 3. Já sob o ponto de vista nutricional, as diferenças tendem a ser
ainda menores, senão inexistentes. Inúmeros fatores (como tipo de solo, clima,
tempo de cultivo, espécies cultivadas, qualidade da água, composição da
ração, presencia/ausência de alimentos naturais, entre outros) interferem na
composição química dos alimentos. Então, um mesmo produto convencional
produzido em duas propriedades diferentes pode apresentar composição
nutricional ligeiramente distinta entre si. Exatamente a mesma coisa pode
acontecer se esse alimento for produzido segundo os princípios orgânicos em
propriedades distintas.

Por outro lado, os produtos orgânicos têm um inegável apelo ambiental, social
e de bem-estar humano e animal, e isso tem feito toda a diferença para uma
parcela cada vez maior de consumidores.

7
Consumir alimentos orgânicos é melhor para a saúde humana?

Depende. Ao invés de respondermos, preferimos apresentar alguns exemplos


para que cada um possa criar suas próprias convicções sobre o tema:

• De acordo com a Academia Americana de Pediatria, não há evidências


diretas que provem que uma dieta orgânica leve a uma melhoria da
saúde ou a um menor risco de doenças infantis 3;
• Segundo a mesma instituição, leites orgânicos não são mais saudáveis
que os convencionais e o que realmente importa é que o leite seja
pasteurizado antes de chegar ao consumidor 4;
• Estudos encontraram resíduos de pesticidas em concentrações
detectáveis em apenas 7% das amostras de produtos orgânicos em
comparação com 38% das amostras de produtos convencionais 5;
• Estudos não encontraram diferenças significativas em relação à
ocorrência de reações alérgicas em potencial ou incidentes de
infecções causadas por Campylobacter (uma doença bacteriana
transmitida através dos alimentos) 6;
• É permitido que os agricultores orgânicos tratem doenças fúngicas com
soluções de cobre que, assim como muitos outros pesticidas naturais, são
considerados perigosos para a saúde 7; 8;
• Quase 50% dos pesticidas orgânicos utilizados na Europa foram
reprovados nas avaliações de segurança realizadas pela União Europeia.
• O inseticida e piscicida orgânico rotenona (uma substância orgânica de
origem natural, encontrada nos extratos de raízes e caules de plantas em
muitos países da América do Sul, Sul da Ásia e na Austrália) é altamente
neurotóxico para os seres humanos, não é facilmente biodegradável e a
exposição à rotenona tem sido associada à doença de Parkinson 9.
Ainda assim, produtores orgânicos podem usar a rotenona em seus
processos produtivos 10;
• Há pesquisas que concluíram que o leite orgânico e o leite
convencionalmente processado apresentavam níveis semelhantes de
contaminantes, incluindo hormônios do crescimento 11. Outras mostram
que antibióticos e pesticidas eram indetectáveis em orgânicos, mas
predominavam em amostras de leite produzidas convencionalmente,
com várias amostras excedendo os limites definidos na legislação 12;
• Um estudo mostrou que a composição de macronutrientes era
semelhante em leites orgânicos e convencionais e que os orgânicos
continham 0,1% mais proteína do que os outros 2 tipos de leite
convencionais 13;
• Carnes orgânicas são menos expostas a bactérias resistentes a
antibióticos 14;
• Maçãs cultivadas convencionalmente, aipo, pimentão doce, pêssego,
morangos, nectarinas, uvas, espinafre, alface, pepino, mirtilo, batata,
feijão verde, couve e outros vegetais estão entre as frutas e legumes com
os mais altos níveis de pesticidas 11;

8
• Frango e suínos produzidos de forma convencional têm 33% mais
chances de conter bactérias resistentes a três ou mais antibióticos do que
aves ou suínos orgânicos 14;
• Embora os alimentos orgânicos contenham menos resíduos de pesticidas,
a maioria dos produtos convencionais também apresenta níveis de
resíduos abaixo do limite considerado inseguro 14;
• Um estudo mostrou que 10 pesticidas foram encontrados no espinafre
convencional e 9 no aipo. Já no pimentão foram identificados 39
pesticidas 5;
• Uma maçã cultivada convencionalmente pode ser pulverizada até 16
vezes com mais de 30 produtos químicos diferentes 5;
• John Krebs, ex-presidente da Food Standards Agency, da Grã-Bretanha,
afirmou certa vez -talvez com algum exagero - que "uma única xícara de
café contém agentes cancerígenos naturais iguais a pelo menos um ano
de resíduos cancerígenos sintéticos presentes na dieta" 6;
• Estudos realizados ao mesmo tempo na Holanda, Dinamarca e Áustria,
revelaram que a bactéria Campylobacter estava presente em 100% dos
lotes de frangos orgânicos, mas em apenas 1/3 dos lotes convencionais.
Esses estudos também descobriram que os alimentos convencionais e
orgânicos apresentavam taxas iguais de contaminação por Salmonella
e que 72% das galinhas orgânicas estavam infectadas com parasitos 14;
• Alimentos orgânicos tendem a ter níveis mais altos de patógenos que os
cultivados convencionalmente porque o esterco é usado para fertilizá-
los. Por exemplo, a bactéria E. coli foi encontrada em 10% dos produtos
de fazendas orgânicas, contra apenas 2% das fazendas convencionais 1.

A produção de alimentos orgânicos é mesmo melhor para o planeta?

Depende. Mais uma vez, vamos dar alguns exemplos para que cada um possa
criar suas próprias convicções:

• O manejo agrícola convencional resulta em maior produtividade,


enquanto o manejo orgânica tende a resultar em maior preservação
ambiental 15. Mas, no caso de cultivo de salmão orgânico, pesquisadores
observaram que os impactos ambientais foram maiores que nos cultivos
convencionais, em função da necessidade de uso de alimentos frescos
de origem animal 16;
• Os agricultores orgânicos tendem a não utilizar a monocultura. A rotação
de culturas e o plantio misto são muito melhores para o solo e para o
ambiente 17; 18. Isso também se aplica à aquicultura. Na China, principal
produtor mundial de peixes orgânicos, o policultivo – principalmente de
carpas - prevalece sobre o monocultivo 19;
• A comercialização de alimentos em escala local, que podem ou não ser
cultivados organicamente, ajuda a reduzir os custos ambientais
associados às chamadas "milhas alimentares" (distâncias pelas quais os
alimentos são transportados até chegarem ao consumidor). Quando os
alimentos orgânicos viajam longas distâncias, geram poluição que pode

9
neutralizar quaisquer efeitos ambientais positivos da agricultura orgânica
20;

• Um dos grandes desafios da piscicultura orgânica é produzir rações para


peixes carnívoros sem comprometer os estoques pesqueiros naturais 21.
Atualmente, isso ainda está longe de acontecer;
• Atualmente, produzir um litro de leite orgânico requer 80% mais terra do
que o leite convencional, tem 20% mais potencial de causar
aquecimento global, libera 60% mais nutrientes nas fontes de água e
contribui 70% mais para a chuva ácida 5. O leite orgânico é o setor que
mais cresce no mercado mundial de bebidas 22;
• As vacas criadas organicamente geram de 15 a 100% a mais de metano
que o gado produzido convencionalmente 6; 23; 24. O metano é um gás de
efeito estufa 20 vezes mais poderoso que o CO2;
• Por outro lado, os impactos da produção de leite orgânico sobre a
ecotoxicidade da água, na biodiversidade e na depleção de recursos
foram de apenas 2, 33 e 20% dos impactos causados pelo manejo
convencional, segundo um estudo recente 25;
• Enquanto as batatas orgânicas usam menos energia em termos de
produção de fertilizantes, elas precisam de mais combustível fóssil para
serem cultivadas. Um hectare de terra cultivada convencionalmente
produz duas vezes e meia mais batatas que um orgânico 6;
• O Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do
Reino Unido estimou que a produção orgânica de tomates libera quase
três vezes mais nutrientes e consome 25% mais água por quilo de fruta do
que a produção convencional 6;
• Um estudo mostrou que porcos orgânicos apresentaram maiores índices
de enfermidades em comparação com porcos criados
convencionalmente. As taxas de mortalidade chegaram a ser duas vezes
maior nos porcos orgânicos 26;
• Em regiões do mundo em que os pesticidas não estão disponíveis, mais
de 1/3 dos alimentos é consumido por pragas. Enquanto isso, no mundo
ocidental, onde os pesticidas são rotineiramente usados, as perdas são
reduzidas em mais de 40% 5;
• Estudos mostraram que a incidência de câncer entre agricultores
convencionais, que são rotineiramente expostos a níveis relativamente
altos de pesticidas, é menor do que na população em geral. Nos últimos
50 anos, desde que produtos químicos sintéticos passaram a ser
amplamente utilizados, a expectativa média de vida aumentou em mais
de 7 anos 1.

Posso confiar que todo produto vendido como orgânico é de fato orgânico?

Infelizmente, não. E esse é um dos grandes problemas que afetam a produção


de orgânicos no Brasil e há vários motivos para isso. Por exemplo, as normas
orgânicas proíbem o uso de organismos geneticamente modificados (OGM) em
produtos rotulados como "100% orgânicos". No entanto, a contaminação das

10
culturas pode fazer com que alguns alimentos orgânicos contenham traços de
OGM.

Além disso, como não há fiscalização efetiva por parte do Poder Público, não
raro, o consumidor "aceita" ser enganado pela ideia de que basta um produto
ser oriundo da agricultura familiar para que ele seja considerado orgânico.
Outras vezes, produtos alimentícios são vendidos com o rótulo de "orgânico"
propositalmente para ludibriar o consumidor, fazendo-o pagar mais caro por um
produto convencional. Ou seja, este ainda é um regime de produção que
precisa evoluir para explorar todo o seu potencial. Essa é mais uma razão para
que os sistemas de certificação sejam cada vez mais eficientes.

O produto orgânico é um bem que tem na confiança seu principal valor. Não
apresenta diferenças aparentes relativamente ao produto convencional, seja
forma, cor ou sabor. O que leva um consumidor a preferi-lo é a informação
sobre suas vantagens nutricionais, a ausência de agrotóxicos e a confiança de
que foi produzido conforme os preceitos que preservam estes fatores.

Quando os consumidores optam por pagar mais pelos produtos orgânicos, eles
estão pagando um prêmio pelos efeitos positivos à saúde e pela redução de
impactos ambientais e sociais. Por isso, eles esperam obter, em troca, um
produto de origem orgânica garantida. Assim como os produtores orgânicos,
que arcam com custos de produção mais elevados, os consumidores desejam
estar protegidos contra os falsos produtos orgânicos.

Nos Estados Unidos, quem vende um produto orgânico fraudado pode pagar
até US$ 11.000,00 por cada consumidor enganado. No Brasil, além das punições
serem mais brandas, ainda há pouca fiscalização.

Classificado como um bem de “crença”, os


produtos orgânicos devem ser dotados de
requisitos de qualidade específicos que
devem ser percebidos pelos consumidores.
Não só a aparência e a salubridade
associadas à isenção de produtos químicos
são atributos, mas também a confiança
com que os consumidores podem comprar
produtos dotados destas características
específicas (Lima, 2019).

Por que os produtos orgânicos são mais caros que os produtos convencionais?

Por que é mais caro e menos eficiente produzir respeitando o ambiente, os


animais, os trabalhadores e os consumidores que produzir de olho apenas no
lucro final a ser alcançado nesse processo.

A chamada "Revolução Verde", acontecida em meados do século passado e


baseada em tecnologia e uso de agroquímicos, levou a um grande aumento
da escala de produção de alimentos, barateando seu custo. Por outro lado, foi

11
também o ponto de partida para o uso de práticas não sustentáveis de
produção.

Assim, embora possa parecer - e não é - apenas um jogo de palavras, não é


que o produto orgânico seja caro, mas sim que o convencional é barato.

Os consumidores estão realmente dispostos a pagar mais por produtos


orgânicos?

Em termos. É inegável que o mercado para produtos orgânicos tem crescido


ano a ano e, se isso acontece é porque mais gente tem optado por pagar mais
para ter acesso a produtos de melhor qualidade. Mas isso depende muito da
economia do país e da capacidade de compra das pessoas. Ainda é pura
utopia achar que no mundo atual todas as pessoas podem, indistintamente,
dar-se ao luxo de ter acesso a produtos orgânicos.

Produzir produtos orgânicos é mais fácil que produzir produtos convencionais?

Não. Embora possa parecer que a produção orgânica seja mais simples e não
precise envolver pesquisas e desenvolvimento, o que ocorre é justamente o
oposto. Produzir orgânicos é uma atividade produtiva sujeita a todas as leis de
mercado e à concorrência direta com produtos convencionais. Isso exige
pesquisas, novas técnicas e tecnologias e investimentos para se produzir cada
vez melhor e a custos mais competitivos.

O que não se pode é pensar que produzir orgânicos é praticar uma


agropecuária de um ou dois séculos atrás. Quem pensa assim está dando
passos firmes rumo à falência econômica de seu empreendimento.

A produção orgânica só tende a ser viável com rigoroso controle e


contabilidade de custos; com melhorias das práticas produtivas; com o
envolvimento e mobilização de todos os atores da cadeia produtiva
(formuladores de políticas públicas, produtores, intermediários, comerciantes e
até consumidores); com muita pesquisa e inovação; com a abertura e
conquista de novos mercados.

Se os sistemas orgânicos foram planejados para serem aplicados em terra,


como é possível aplicá-los à produção de peixes?

Em primeiro lugar, é preciso compreender que em várias formas de aquicultura,


incluindo a produção de peixes em viveiros (sistema de cultivo que em alguns
lugares é chamado de "tanque escavado"), o manejo do solo é muito
importante para a obtenção de um ambiente saudável e equilibrado para o
cultivo dos peixes. Nesses sistemas, é sim importante o cuidado com o manejo
do solo.

Por outro lado, é inegável que em um sistema de produção aquícola o solo


perde importância em relação à água. Mas a questão é ainda mais ampla.

12
Muitas vezes, os sistemas de produção aquícola acabam aumentando a
pressão sobre os sistemas aquáticos naturais, esgotando as fontes de alimento
das populações selvagens ou poluindo as áreas circundantes com efluentes
contaminados.

A aplicação dos princípios orgânicos à piscicultura permite que um


determinado empreendimento venha a impactar positivamente a produção
aquícola através do estabelecimento de sistemas ecologicamente integrados,
que preservem o ambiente natural, mantenham ou aumentem a
biodiversidade, respeitem o bem-estar animal e produzam produtos saudáveis
e de alta qualidade.

Por exemplo, em tese, peixes produzidos através de métodos orgânicos não


terão acesso a qualquer substância sintética tóxica, que poderia, ainda que em
teoria, apresentar efeitos negativos para a saúde humana e ambiental. Esses
produtos não têm contato com antibióticos ou outros medicamentos que
possam ser prejudiciais à saúde humana ou que levem a aumento de resistência
de patógenos associados ao uso de tais compostos, por exemplo.

PEIXES ORGÂNICOS

Por que produzir peixe orgânico?

Certamente, cada produtor terá suas próprias razões pessoais para isso. Poderá
fazê-lo pela possibilidade de lucros, já que há cada vez mais pessoas
(consumidores) preocupados com a qualidade daquilo que consomem, tanto
em termos de sabor quanto em expectativa por uma menor ou, se possível,
inexistente presença de resíduos tóxicos em seus alimentos. Poderá fazê-lo
porque pretende atender um público cada vez mais preocupado com o
ambiente e/ou com o bem-estar animal. Ou ainda, poderá fazê-lo
simplesmente por acreditar na importância dos princípios da produção
orgânica para si e sua família.

Há muitos produtores cultivando peixes orgânicos no mundo?

Ainda não. Em 2016 havia cerca de 2,7 milhões de empreendimentos


agropecuários orgânicos no mundo. Deste total, cerca de 1% se dedicava à
aquicultura, o que representa cerca de 0,5% da produção aquícola mundial.
Portanto, a piscicultura orgânica ainda é uma novidade e está dando seus
primeiros (e lentos) passos.

Cerca de 80% da produção de peixes orgânicos cultivados são produzidos na


China. A Europa responde por um pouco mais de 19% (com destaque para
Irlanda, Noruega, Romênia, Itália e Dinamarca) e menos de 1% restante é
produzido nos demais países do mundo.

13
Quais são os peixes orgânicos mais produzidos em todo o mundo?

Pela ordem: carpas e trutas (em água doce) e salmão (em águas marinhas).

O peixe selvagem, capturado através da pesca, é orgânico?

Não. Essa é uma questão extremamente polêmica e que, indiretamente, afeta


até mesmo a certificação orgânica de peixes cultivados. O fato é que peixes
oriundos da pesca não são considerados orgânicos.

Como será discutido mais à frente, o rótulo de "orgânico" implica


obrigatoriamente em acreditação e verificação de todos os processos
envolvidos na obtenção dos produtos. Assim, embora existam práticas
extrativistas certificadas como orgânicas, isso efetivamente não acontece com
a pesca, que não consegue atender a todos os princípios da produção
orgânica.

14
15
PRINCÍPIOS QUE FUNDAMENTAM A PRODUÇÃO
ORGÂNICA

Quais sistemas de produção são reconhecidos como orgânicos?

A princípio, qualquer sistema de produção que atenda aos requisitos


regulamentares brasileiros de produção orgânica pode ser reconhecido como
tal. Por exemplo: ecológico, biodinâmico, natural, regenerativo, biológico,
agroecológico, permacultura.

Quais são as bases da produção agropecuária orgânica?

Os sistemas orgânicos estão fundamentados em quatro princípios elementares:


saúde, ecologia, justiça e precaução/atenção. Esses princípios se aplicam à
agropecuária em um sentido amplo, incluindo as técnicas específicas, utilizadas
para garantir a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos
disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais.

O objetivo destes sistemas são a sustentabilidade econômica e ecológica, a


maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia
não renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos
e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do
uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em
qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento,
distribuição e comercialização e ainda, a proteção do meio ambiente.

Em seguida vamos tratar mais desses quatro princípios fundamentais dos


sistemas orgânicos, usando as definições da própria IFOAM.

Saúde?

Os princípios orgânicos vão muito além de técnicas de produção. Eles envolvem


toda uma forma de "enxergar o mundo" e a própria vida humana na Terra.

O que se defende em termos de saúde é que a agropecuária orgânica deve


sustentar e melhorar a saúde do solo, das plantas, dos animais, dos seres
humanos e do planeta de um modo único e indivisível.

Este princípio indica que a saúde dos indivíduos e das comunidades não pode
ser separada da saúde dos ecossistemas. Solos saudáveis produzem culturas
saudáveis, que promovem a saúde de animais e pessoas...

Assim sendo, a saúde não é simplesmente a ausência de doença, mas a


manutenção do bem-estar físico, mental, social e ecológico. Imunidade,
resiliência e regeneração são características-chave em relação à saúde.

16
O papel da produção orgânica, seja na agropecuária, no processamento, na
distribuição ou no consumo, é o de sustentar e melhorar a saúde dos
ecossistemas e dos organismos, desde os microrganismos do solo até os seres
humanos. Em particular, a agropecuária orgânica visa produzir alimentos
nutritivos e de alta qualidade que contribuem para a saúde e o bem-estar
preventivos. Em vista disso, deve-se evitar o uso de fertilizantes, pesticidas,
medicamentos para animais e aditivos alimentares que possam ter efeitos
adversos à saúde.

Ecologia?

A agricultura orgânica está baseada em sistemas e ciclos ecológicos vivos,


trabalha com eles, imita-os e ajuda a sustentá-los.

Este princípio enraíza a agricultura orgânica nos sistemas ecológicos vivos. Ele
afirma que a produção deve ser baseada em processos ecológicos e de
reciclagem. Nutrição e bem-estar são alcançados através da manutenção das
condições ecológicas do ambiente de produção. Por exemplo, no caso de
culturas agrícolas, o foco tem que ser o solo vivo; para a produção de animais,
o ecossistema agrícola; para peixes, o ambiente aquático.

Na agropecuária orgânica, os sistemas de colheita, pastoril e selvagem devem


se adequar aos ciclos e aos equilíbrios ecológicos da natureza. Embora tais
ciclos sejam universais, sua operação é específica do local onde acontecerá o
processo produtivo. Assim, o manejo orgânico deve ser adaptado às condições
ecológicas, culturais e à escala locais.

O uso de insumos deve ser minimizado pela reutilização, reciclagem e


gerenciamento eficiente de materiais e energia, a fim de manter e melhorar a
qualidade ambiental e economizar recursos.

O equilíbrio ecológico deve ser obtido através do design dos sistemas de


produção, do estabelecimento de habitats e da manutenção da diversidade
genética e agrícola.

Quem produz, processa, comercializa ou consome produtos orgânicos deve


proteger e beneficiar o meio ambiente comum, incluindo paisagens, clima,
habitats, biodiversidade, ar e água.

Justiça?

A agricultura orgânica deve basear-se em relacionamentos que garantam a


justiça em relação ao ambiente comum e às oportunidades de vida.

A justiça é caracterizada pela equidade, respeito e administração do mundo


compartilhado, tanto entre as pessoas quanto em suas relações com outros
seres vivos.

Esse princípio enfatiza que os envolvidos na agricultura orgânica devem


conduzir as relações humanas de maneira a garantir justiça em todos os níveis

17
e com todas as partes - agricultores, trabalhadores, processadores,
distribuidores, comerciantes e consumidores. A agricultura orgânica deve
proporcionar a todos os envolvidos uma boa qualidade de vida e contribuir
para a soberania alimentar e para a redução da pobreza. O objetivo é produzir
um suprimento suficiente de alimentos e outros produtos de boa qualidade.

Este princípio insiste em que os animais devam receber as condições e


oportunidades da vida que estejam de acordo com sua fisiologia,
comportamento natural e bem-estar.

Os recursos naturais e ambientais usados para produção e consumo devem ser


gerenciados de maneira social e ecologicamente justa e devem ser mantidos
em confiança para as gerações futuras. A justiça exige sistemas de produção,
distribuição e comércio abertos e equitativos e que respondam pelos custos
ambientais e sociais reais.

Precaução?

A agricultura orgânica deve ser gerenciada de maneira preventiva e


responsável para proteger a saúde e o bem-estar das gerações atuais e futuras
e do meio ambiente.

A agropecuária orgânica precisa ser encarada como um sistema vivo e


dinâmico que responde às demandas e condições internas e externas à
propriedade. Os praticantes da agricultura orgânica podem aumentar a
eficiência e a produtividade, mas devem fazer isso sem colocar em risco a
saúde e o bem-estar, seu, dos seus consumidores e dos organismos produzidos.
Consequentemente, novas tecnologias precisam ser avaliadas e os métodos
existentes revisados. Mas, dado o entendimento incompleto sobre o
funcionamento e a estabilidade dos ecossistemas e sua interação com a
agropecuária, é preciso ter atenção.

Este princípio afirma que a precaução e a responsabilidade são as principais


preocupações nas escolhas de gestão, desenvolvimento e tecnologia na
agropecuária orgânica. A ciência é necessária para garantir que a agricultura
orgânica seja saudável, segura e ecologicamente correta. No entanto, o
conhecimento por si só não é suficiente. A experiência prática, a sabedoria
acumulada e o conhecimento tradicional e indígena oferecem soluções
válidas, testadas pelo tempo. A agricultura orgânica deve evitar riscos
significativos adotando tecnologias apropriadas e rejeitando as imprevisíveis,
como a engenharia genética. As decisões devem refletir os valores e
necessidades de todos os que possam ser afetados, por meio de processos
transparentes e participativos.

Quais são os maiores desafios para se produzir produtos orgânicos?

Nos tempos atuais, certos aspectos da produção constituem grande desafio,


tanto para os produtores como consumidores de produtos orgânicos. Por
exemplo: A dependência de fontes de energia não renováveis na cadeia de

18
produção; o fechamento completo dos ciclos de nutrientes nos próprios
sistemas de produção, reduzindo a dependência de fontes externas; o não uso
de embalagem; a redução de resíduos; a não utilização de métodos de
processamento que reduzem o valor nutritivo do produto final; a garantia de
preços justos para os produtores e os trabalhadores rurais, são alguns exemplos
disso. Mas, seguramente, o maior deles é competir no mercado com produtos
convencionais.

De que forma os princípios orgânicos impactam especificamente a piscicultura?

Os desafios enfrentados na piscicultura orgânica são fundamentalmente os


mesmos enfrentados pela agropecuária. Mas, na piscicultura ainda há alguns
desafios adicionais, como, por exemplo, as dificuldades para uso adequado da
água; o processo muito mais recente de domesticação de peixes em relação
à bovinos, aves e suínos e a alta perecibilidade da carne dos peixes.

Além disso, embora os princípios da produção orgânica possam parecer muito


"filosóficos" e abstratos. Eles acabam tendo implicações bem diretas sobre o que
se pode ou não fazer em um sistema de produção orgânico, como
exemplificado na Tabela 1.
Tabela 1. Princípios da produção orgânica e exemplos de suas implicações e consequências para
a piscicultura.

Princípio Implicações Consequências


Na natureza peixes carnívoros não se
alimentam de plantas. Então, em cultivo não se
A saúde das espécies pode aceitar que os peixes carnívoros recebam
cultivadas depende de uma uma dieta a base de vegetais (milho e soja),
nutrição adequada pois isso poderia comprometer sua saúde. A
produção de espécies carnívoras é, portanto,
Saúde
um grande desafio na piscicultura orgânica.
Peixes produzidos em águas contaminadas por
A saúde do peixe determina
produtos químicos podem ter sua saúde
a qualidade do produto
comprometida e comprometer a saúde dos
vendido para consumo
consumidores. Por isso a água nas pisciculturas
humano.
deve ser livre de contaminantes.
Se uma espécie exótica apresenta risco de se
tornar invasora, caso fuja das instalações de
cultivo, ela, a princípio, não deve ser cultivada,
pois isso poderia colocar em risco a
biodiversidade local.
A alimentação de peixes carnívoros, por
princípio, deveria ser feita usando peixes ou
resíduos de pescados. Mas, como a pesca está
A piscicultura não deve
em declínio, o uso de peixes da pesca para
Ecologia causar impactos ambientais
alimentar peixes cultivados poderia contribuir
significativos
para a aceleração do esgotamento dos
estoques pesqueiros. Já o uso de espécies
forrageiras tende a comprometer
economicamente o empreendimento.
É muito difícil garantir que os resíduos gerados
em cultivos de peixes em tanques-rede ou os
patógenos que se desenvolvem nesse sistema
não afetem o ambiente.

19
Princípio Implicações Consequências
O uso de energia na Alguns sistemas de produção de peixes, como
produção orgânica deve ser os de recirculação e de bioflocos estão
reduzido ao máximo. baseados no uso intensivo de energia.
Os sistemas de cultivo devem
garantir a saúde e Em sistemas de recirculação ou mesmo em
o bem-estar dos animais, tanques-rede de alta densidade é
Justiça
respeitando inclusive os praticamente impossível que os animais
comportamentos naturais da desenvolvam seu comportamento natural.
espécie.
O uso de medicamentos ou
hormônios pode causar Tilápias revertidas hormonalmente não podem
Precaução
prejuízos ao ambiente ou às ser usadas na piscicultura orgânica.
pessoas.

20
21
PARTE 2

22
O SISTEMA DE CERTIFICAÇÃO
ORGÂNICA NO BRASIL

23
Apresentação da Parte 2

Embora os princípios gerais da produção orgânica sejam


os mesmos em todo o mundo, cada país tem, obviamente,
autonomia administrativa para regulamentar a atividade
no âmbito de suas jurisdições legais, sempre tendo como
foco a proteção à saúde de seus cidadãos.

Além das diferenças entre normas internacionais, é


também comum haver diferenças entre as normas de
certificação definidas por diferentes certificadoras, sejam
elas nacionais ou internacionais. Por isso, é possível que
um produtor de peixes orgânicos consiga certificar seu
empreendimento e vender, sem enfrentar maiores
problemas, seus peixes no mercado interno brasileiro, mas
sem atingir os níveis de controle exigidos por outros países,
o que o impediria de exportar seus produtos para tais
países.

Dessa forma, é muito importante que o empreendedor


tenha consciência de que as normas de certificação
orgânicas não são todas iguais e tenha cuidado ao
escolher que caminhos seguir.

Começaremos agora a tratar do processo de certificação


orgânica e das três diferentes opções existentes para
certificar uma propriedade orgânica no Brasil.

24
O PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO

O que é a certificação orgânica?

Certificação Orgânica é o processo pelo qual uma


certificadora, devidamente credenciada pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e pelo Instituto
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro),
assegura, por escrito, que determinado produto, processo ou serviço obedece
às normas e práticas da produção orgânica.

Eu preciso provar que meu peixe é mesmo orgânico?

Sim. Se você quiser comercializar seu peixe como orgânico, precisa provar que
ele foi produzido de acordo com as normas brasileiras de produtos orgânicos
chanceladas pelo Ministério da Agricultura.

É muito importante bater na tecla de que certificação orgânica é baseada na


confiança entre os diferentes atores da cadeia de produção, armazenamento,
transporte, comercialização e consumo. O que garante tal confiança é
justamente a existência de normas técnicas adequadas e todo um processo de
verificação de que os produtores estão efetivamente respeitando tais normas.
É por isso que um processo de certificação envolve dois fatores fundamentais:
a verificação e a acreditação.

Então, é preciso que "alguém" dê a garantia ao consumidor que aquele produto


é, de fato, produzido de acordo com os princípios e normas da produção
orgânica. Caso contrário, qualquer um poderia afirmar que seu produto é
orgânico (mesmo não sendo), o que levaria ao descrédito total em relação a
tais produtos. Ou seja, não basta produzir de acordo com os princípios da
produção orgânica, é preciso provar que os princípios da produção orgânica
estejam, de fato, sendo respeitados.

Todos os selos e certificações são valorizados da mesma maneira pelo


mercado?

Não. As certificadoras costumam fazer um trabalho de acreditação de suas


próprias marcas e selos junto ao público consumidor de produtos orgânicos. Por
isso, certificações emitidas por marcas de renome internacional (como IFOAM,
GlobalG.A.P., USDA Organic, QCS, entre outras) abrem mais portas no mercado
internacional que as emitidas por certificadoras de menor expressão ou de
renome apenas regional. No mercado nacional, entretanto, essa valorização é
menos evidente.

25
Quais são as principais responsabilidades de um produtor de peixes orgânicos?

Entre as principais responsabilidades dos produtores podemos destacar: i) seguir


os regulamentos técnicos; ii) consentir com a realização de auditorias em sua
propriedade, incluindo as realizadas pelo organismo de avaliação da
conformidade orgânica credenciado; iii) fornecer informações precisas e no
prazo determinado, iv) fornecer informações sobre outras atividades
desenvolvidas na propriedade, inclusive aquelas não incluídas no processo de
certificação, mas que podem comprometer a qualidade dos produtos; e v)
informar o organismo de avaliação da conformidade orgânica credenciado
sobre quaisquer alterações no seu sistema de produção e comercialização.

Por que a certificação é tão importante na produção orgânica?

A certificação é a principal ferramenta na gestão dos riscos da agricultura


orgânica, pela habilitação de organizações não governamentais,
estabelecendo padrões e normas internas para a produção, armazenamento,
transporte e comercialização criando selos de garantia de seus produtos.

Integrada à política agrícola, a certificação de orgânicos destaca-se como


instrumento de controle a serviço do bem-estar de agricultores e consumidores
ansiosos, respectivamente por um sistema produtivo economicamente
sustentável e por produtos de qualidade, saudáveis e acessíveis 27.

O que são normas técnicas?

As normas técnicas geralmente se referem à forma como os produtos de origem


orgânica são produzidos. A prática mais comum é a definição de diretrizes
gerais e a descrição de práticas culturais, tecnologias e/ou insumos permitidos,
proibidos ou de uso restrito nesse modo de produção.

A reputação das agências certificadoras constitui um aspecto fundamental,


pois denota persistência de seriedade na produção e de qualidade dos
produtos.

Visando facilitar a relação comercial com outros países, no Brasil, nossa


legislação teve como base as diretrizes do Codex Alimentarius para a produção
orgânica e regulamentos já adotados nos Estados Unidos, União Europeia e
Japão.

Quem são os atores que compõe a rede de produção orgânica brasileira?

Segundo o SisOrg, a rede é composta por: produtores rurais, extrativistas,


agroindústrias processadoras, organizações de transporte e distribuição, órgãos
governamentais de regulamentação e fiscalização, organismos de avaliação
da conformidade e consumidores.

26
Quem são os setores (segmentos) sujeitos à regulamentação técnica na cadeia
de orgânicos?

Também de acordo com o SisOrg: produção primária animal, produção


primária vegetal, extrativismo sustentável orgânico, processamento de produtos
de origem vegetal, processamento de produtos de origem animal,
processamento de insumos agrícolas, processamento de insumos pecuários,
processamento de fitoterápicos, processamento de cosméticos,
processamento de produtos têxteis, comercialização, transporte e
armazenagem, restaurantes, lanchonetes e similares.

Quem pode certificar um produto como orgânico?

A certificação orgânica pode ser feita por agências locais, internacionais ou por
parcerias entre elas. Pode também ser realizada por grupos de pequenos
produtores, desde que existam mecanismos internos de controle, que sigam os
padrões da produção orgânica.

Para que uma agência certificadora de produtos orgânicos venha a funcionar


legalmente, precisa credenciar-se junto ao órgão oficial competente, no Brasil
o Ministério da Agricultura. As certificadoras internacionais podem também
credenciar-se junto à IFOAM e obter o certificado ISO-65 para que o selo emitido
seja reconhecido internacionalmente.

O processo de certificação pode ser feito em grupo ou precisa ser feito


individualmente?

Em alguns casos pode ser feito em grupo, o que reduz custos.

Quem pode solicitar a certificação em grupo?

Pequenos produtores, agricultores familiares, projetos de assentamento,


quilombolas, ribeirinhos, indígenas e extrativistas.

Os critérios utilizados na certificação individual e em grupo são diferentes entre


si?

Não. Os mesmos critérios são avaliados tanto na certificação individual como


em grupo. Contudo, para a certificação em grupo são requeridos mecanismos
especiais de garantia.

Para solicitar a certificação em grupo, o grupo de produtores deve estar


organizado e estruturado em um Sistema de Controle Interno (SCI). Este sistema
deve garantir, a partir de uma avaliação dos riscos envolvidos, que todos os
membros do grupo estejam comprometidos com o cumprimento integral da
regulamentação para a produção orgânica.

27
O SCI também deve garantir que sejam realizadas visitas de controle interno a
todas as unidades que compõem o grupo, verificando o cumprimento dos
requisitos para a produção orgânica. Estas visitas devem ocorrer pelo menos
uma vez ao ano, a depender do tipo de produção, variedade e complexidade
de atividades, práticas e culturas.

O grupo deve estabelecer um acordo formal entre todos os participantes, de


modo que fique claro o compromisso de todos com as exigências do SCI.

Quais são as possibilidades para certificação da propriedade?

A qualidade dos produtos orgânicos produzidos no Brasil pode ser certificada


de três diferentes maneiras: através da Certificação, dos Sistemas Participativos
de Garantia e do Controle Social para a Venda Direta sem Certificação, como
representado esquematicamente na FIGURA 1.
Certificação Sistema Participativo Controle Social na
por Auditoria Garantia
de Venda Direta
Empreendedor Empreendedor Empreendedor
(pessoa física (pessoa física Familiar
ou jurídica) ou jurídica)
Credenciamento
INMETRO Fiscalização

Grupo
Organismo da Avaliação Associação Organização de Controle
Credenciamento
e Auditoria da Conformidade Cooperativa Social (OCS)
Orgânica (OAC)
Fiscalização
Credenciamento como...
Ministério da Agricultura Cadastro
Pecuária e Contratação
da Organismo Participativo Certificação
Abastecimento Certificação Certificadora Certificação
de Avaliação da por Auditoria
por Auditoria por Auditoria
Conformidade (OPAC)
Órgão Fiscalizador
Avaliação da
Documen-
tação Fiscalização
Ministério da Agricultura,
Pecuária e
Abastecimento
Auditoria na
propriedade

Declaração de
Cadastro de
Relatório de Agricultor Familiar
Correções Não inspeção
aprovado em Venda Direta

Certificado de
Aprovado Conformidade
Orgânica
Venda direta

Certificação Certificação
por Auditoria por Auditoria

Consumidores Consumidores

FIGURA 1. Fluxograma representativo dos três caminhos possíveis para a certificação orgânica.

28
Quais são as semelhanças e diferenças entre os diferentes meios de
certificação?

Essa pergunta pode ser melhor respondida através da Tabela 2.

Tabela 2. Comparação entre os diferentes meios de obtenção da certificação orgânica.

CERTIFICAÇÃO SISTEMA CONTROLE


CRITÉRIO POR PARTICIPATIVO SOCIAL NA
AUDITORIA DE GARANTIA VENDA DIRETA
Grupos de
Médios e
produtores, Produtores
Público preferencial grandes
associações, familiares
produtores
cooperativas
Dificuldade burocrática para
Alta Média Baixa
regularização?
Custos para a regularização? Altos Médios Baixos
Fiscalização? Externa Coletiva Coletiva
Certificação Obrigatória Obrigatória Facultativa
Sujeito a controle do Sistema
Brasileiro de Avaliação e Sim Sim Não
Conformidade Orgânica?
Pode vender produtos orgânicos? Sim Sim Sim
Pode usar o selo Brasil Orgânico? Sim Sim Não
Os produtos precisam ser
Sim Sim Sim
rastreados?
Em todo o
Em todo o
Venda território Somente direta
território nacional
nacional

Qual é o prazo de validade de um Certificado de Conformidade Orgânica?

Um ano, contado a partir da data de sua emissão. Ou seja, ele precisa ser
renovado anualmente. Para renovação da validade do Certificado de
Conformidade Orgânica, é necessário um novo processo de avaliação da
conformidade, que deve ser iniciado antes do término do processo em curso.

29
30
CERTIFICAÇÃO POR AUDITORIA

Como funciona a certificação por auditoria?

Nesse caso, todo o processo está centralizado nas Organizações de Avaliação


da conformidade (as empresas certificadoras).

As OAC, podem ser empresas públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos.
Elas têm como responsabilidade realizar inspeções e auditoria, além de lançar
e manter atualizados os dados ligados a todas as unidades de produção que
estejam sob o seu controle no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos e no
Cadastro Nacional de Atividades Produtivas.

Para garantir a integridade do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade


nas relações comerciais, os Organismos de Avaliação da Conformidade
Orgânica têm que possuir procedimentos definidos para a emissão das
Declarações de Transação Comercial por eles próprios ou pelas unidades de
produção que eles controlam. Essas declarações devem conter as informações
qualitativas e quantitativas sobre os produtos comercializados e garantir o
controle e a rastreabilidade deles.

Como os custos são maiores, essa modalidade é praticada normalmente por


empreendedores mais bem estruturadas, de melhor condição financeira, e que
têm acesso a tecnologias mais avançadas para o controle de todo o processo
produtivo

O interessado contrata uma instituição para fazer a avaliação e certificação da


produção como orgânica. Essa instituição deve garantir a conformidade da
produção orgânica por meio da atualização dos produtores em relação à
legislação vigente, além de orientar o produtor para adequar-se à
regulamentação.

A auditora também tem autonomia para mediar conflitos, atender a denúncias


e aplicar sanções administrativas. As certificadoras devem ainda fazer visitas
periódicas às fazendas. Existem dois tipos de visitas, uma anual e outra semestral.
Visitas também podem ser feitas de surpresa.

O que as certificadoras podem exigir de seus clientes?

As Certificadoras devem garantir que cada unidade de produção e de


comercialização certificada cumpra, durante todas as etapas do processo de
Certificação, as seguintes exigências 28:

• Versões atualizadas dos regulamentos técnicos e procedimentos


aplicáveis;
• Descrição completa dos processos de auditoria, certificação e recursos
em linguagem acessível aos interessados;

31
• Certificados atuais ou outra prova por escrito da situação da
Certificação;
• Cópias dos relatórios de inspeção e auditoria e de qualquer outra
documentação relacionada à Certificação da produção, com exceção
dos documentos confidenciais, fornecidas, no mínimo, anualmente.

Cada unidade de produção certificada tem que apresentar um registro do tipo


de produção que permita a obtenção de informações para realizar as
verificações necessárias sobre produção, armazenamento, processamento,
aquisições e vendas.

Análises laboratoriais também podem ser exigidas para subsidiar os


procedimentos de inspeção, auditoria ou para o atendimento de declarações
adicionais exigidas em algumas Certificações. Nos casos em que sejam
necessárias, deverão ser executadas por laboratórios credenciados por órgãos
de âmbito federal.

Como deve ser feita a fiscalização das propriedades orgânicas?

Em linhas gerais, o processo de fiscalização deve ser feito através de visitas


periódicas de inspeção, realizadas na unidade de produção agrícola, quando
o produto é comercializado ‘in natura’, e também nas unidades de
processamento, quando o produto for processado, e de comercialização, no
caso de entrepostos.

Há dois tipos de inspeções: as programadas (com o conhecimento do produtor)


e as aleatórias (sem o seu conhecimento prévio). O produtor deve apresentar
um plano de produção para a certificadora e manter registros atualizados de
uma série de informações, como a origem dos insumos adquiridos, a sua
aplicação e o volume produzido. Estas informações têm caráter sigiloso e, assim
como as instalações do estabelecimento, devem estar sempre disponíveis para
vistoria e avaliação do inspetor, caso seja solicitado. Após a visita, o inspetor
elabora um relatório no qual são indicadas as práticas culturais e de criação
observadas, o que permite detectar possíveis irregularidades com relação às
normas de produção estabelecidas. Estes relatórios são encaminhados ao
Departamento Técnico ou ao Conselho de Certificação da certificadora, que
delibera sobre a concessão do certificado que habilita o produtor, processador
ou distribuidor a utilizar o selo. A certificação pode ser solicitada para algumas
áreas ou para toda a propriedade.

Qual deve ser a frequência de inspeções nas unidades de produção?

As unidades de produção devem ser inspecionadas no mínimo uma vez ao ano,


sendo que no intervalo entre as vistorias são utilizados outros mecanismos de
controle. Para as atividades de avaliações mais complexas, como cultivos ou
criações de vários ciclos anuais, processamento em estabelecimentos com
produção paralela, a Certificadora tem que estabelecer um trabalho de

32
fiscalização mais frequente. As Certificadoras devem também realizar visitas
sem aviso prévio em pelo menos 5% das unidades certificadas durante o ano.

Como funciona e quais são os objetivos da realização de auditorias?

As auditorias são realizadas por equipes qualificadas têm por objetivo avaliar
em que estágio de adequação se encontra a produção orgânica da(s)
unidade(s) (no caso de uma auditoria inicial) e se o processo produtivo está
respeitando as normas técnicas estabelecidas (no caso de empreendimentos
já em produção orgânica).

O que acontece se, durante a auditoria é identificada alguma possibilidade de


contaminação na unidade de produção ou indício de utilização de substâncias
não permitidas pela regulamentação?

Neste caso, os auditores podem requerer a realização de ensaios laboratoriais


para avaliar contaminações.

Em caso positivo, a unidade ou grupo terá um prazo para providenciar ações


corretivas e preventivas, indicando de que forma irá resolver a(s) não
conformidade(s), e um prazo complementar para apresentar as evidências de
que as adequações foram realizadas.

O produtor ou grupo deve comunicar ao OAC quando as adequações forem


implementadas. O OAC, por sua vez, avaliará a necessidade de uma nova
auditoria.

Passados todos os prazos estabelecidos, o não atendimento às devidas


correções pode levar ao cancelamento do processo. Caso o auditado
necessite de um período maior, o pedido deve ser justificado e acordado com
o OAC antes da expiração do prazo concedido para a implementação.

A certificadora pode cobrar pela área ou pela produção total a ser certificada?

A legislação proíbe o estabelecimento de custo de certificação baseado


unicamente em percentual sobre a produção certificada, vinculada à
quantidade de área ou de produtos a serem certificados.

No caso da certificadora estabelecer seu custo de certificação com base em


um percentual sobre a produção certificada, ela é obrigada a oferecer
também outra modalidade de cobrança.

33
As certificadoras podem estabelecer suas próprias normas de certificação
orgânica?

Sim. A certificadora pode estabelecer suas próprias normas, padrões e


procedimentos de certificação, mas eles devem obedecer a procedimentos e
critérios reconhecidos internacionalmente, além de estar subordinados à
legislação vigente de cada país. No Brasil, as certificadoras precisam também
ser credenciadas junto ao MAPA.

As certificadoras podem orientar seus clientes sobre as normas de certificação?

Sim. Não há nenhuma limitação para isso.

As certificadoras podem fornecer assistência técnica aos seus clientes?

Não, pois isso caracterizaria conflito de interesses. A certificadora irá avaliar se


os requisitos técnicos e operacionais para a certificação da propriedade estão
presentes. Ela pode indicar consultores especializados para assistência técnica
e orientação quanto à produção e comercialização dentro de seus padrões
técnicos para certificação, mas não ofertar diretamente tais serviços nem
manter nenhuma ligação com o empreendimento produtivo avaliado.

O que pode acontecer para quem burlar o sistema de produção e garantia de


produtos orgânicos?

Quando houver indício de adulteração, falsificação, fraude e descumprimento


da legislação, poderão ser tomadas as seguintes medidas: advertência,
autuação, apreensão dos produtos, retirada do cadastro dos agricultores
autorizados a trabalhar com a venda direta e suspensão do credenciamento
como organismo de avaliação. As punições serão mantidas até que se
cumpram as análises, vistorias ou auditorias necessárias. Também poderão ser
aplicadas multas que variam entre R$ 100 e R$ 1 milhão de reais.

Como funciona o processo de regularização de uma certificadora?

Em primeiro lugar, a certificadora precisa ter um CNPJ próprio e passar por um


processo de acreditação junto ao Inmetro. Em seguida, deverá solicitar o
credenciamento como organismo de avaliação da conformidade orgânica
junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, devendo cumprir
as seguintes exigências: apresentar o documento comprobatório da
acreditação pelo Inmetro, vinculado ao escopo solicitado; apresentar o
cadastro das unidades de produção certificadas se já estiver atuando na
certificação da produção orgânica, ou declaração de inexistência de projetos
certificados; apresentar currículo dos inspetores indicados, que deverão estar
regularmente inscritos nos conselhos profissionais pertinentes; e obter parecer da

34
CPOrg-UF junto à Superintendência Federal de Agricultura da unidade da
Federação em que estiver sediada.

A solicitação de credenciamento poderá ser indeferida, mediante parecer


fundamentado da Coordenação de Agroecologia do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento.

Caberá recurso contra o indeferimento da solicitação de credenciamento ao


Departamento de Sistemas de Produção e Sustentabilidade do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, na forma e nos prazos a serem fixados
em portaria ministerial.

A certificadora credenciada poderá requerer a extensão do credenciamento


para outro escopo de certificação, mediante a apresentação de
documentação complementar e de currículo dos inspetores regularmente
inscritos nos conselhos profissionais pertinentes.

Nos casos de escopo de certificação que englobe produtos de competência


de outros órgãos, estes deverão participar do processo de credenciamento, na
forma estabelecida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

O produto ou estabelecimento produtor ou comercializador que tenha


aprovada a sua conformidade receberá Certificado de Conformidade
Orgânica emitido por certificadora credenciada pelo MAPA.

Eu poderia criar minha própria certificadora e meus próprios selos de


certificação?

Sim. Isso é efetivamente possível, embora o processo seja longo e caro, qualquer
pessoa poderia, a princípio, criar uma certificadora, definir as normas de
certificação e também seus próprios selos. O maior desafio, neste caso, seria
fazer com que os potenciais clientes e os consumidores dos produtos a serem
certificados valorizem e acreditem na força dos selos e dos processos de
certificação que estrarão por trás dos mesmos. A certificação depende da
sociedade entender, acreditar e valorizar os processos e selos associados, sem
isso, eles não têm nenhum valor.

35
36
SISTEMA PARTICIPATIVO DE GARANTIA

Qual é o fundamento do Sistema Participativo de Garantia?

Os Sistemas Participativos de Garantia caracterizam-se pelo controle social e


pela responsabilidade solidária, podendo abrigar diferentes métodos de
geração de credibilidade adequados a diferentes realidades sociais, culturais,
políticas, territoriais, institucionais, organizacionais e econômicas.

Nessa forma de certificação, todos os envolvidos na produção atuam como


parceiros, visitando um ao outro, para garantir que todos os processos da
produção, armazenamento, distribuição e venda.

O que significa Controle Social?

O Controle Social é um processo de geração de credibilidade,


necessariamente reconhecido pela sociedade, organizado por um grupo de
pessoas que trabalham com comprometimento e seriedade. Ele é estabelecido
pela participação direta dos seus membros em ações coletivas para avaliar a
conformidade dos fornecedores aos regulamentos técnicos da produção
orgânica. Em outras palavras, o comprometimento deles com as normas
exigidas para esse tipo de produção 28.

O que significa Responsabilidade solidária?

A Responsabilidade Solidária acontece quando todos os participantes do grupo


se responsabilizam pelo cumprimento das exigências técnicas para a produção
orgânica e responsabilizam-se de forma solidária nos casos de não
cumprimento delas.

A participação do produtor no Sistema Participativo de Garantia fundamental.


Sem isso o grupo pode determinar até mesmo a sua exclusão.

Como é feita a certificação através de Sistemas Participativos de Garantia


(SPG)?

Tudo tem início com criação da Organização de Controle Social (OCS). Essa
organização pode ser conformada por um grupo, associação, cooperativa ou
consórcio, com ou 'sem personalidade jurídica, de agricultores familiares. Eles
são separados em dos grupos: 1) Membros do Sistema e 2) Organismo
Participativo de Avaliação da Conformidade (OPAC).

Membros do Sistema são formados por pessoas e instituições que participam da


produção e distribuição dos alimentos.

37
A OPAC é organizada como Pessoa Jurídica e realiza o papel da certificadora
no processo por auditoria. É ela quem verifica e atesta que os produtos
atendem às exigências previstas por lei. Está baseado em um processo de
fiscalizações realizadas entre os próprios produtores de uma determinada
região.

A decisão sobre a conformidade será tomada após visitas de verificação, pela


Comissão de Avaliação do OPAC, pelo fornecedor visitado e pelo grupo que
este integra, em reunião específica, respeitado o quórum mínimo definido no
Regimento Interno do OPAC, devendo: ser registrada na ata da reunião, ser
assinada por todos os membros do grupo presentes e ser registrada em
Documento de Aprovação ou de Renovação da Conformidade Orgânica do
produtor, assinado por todos os membros do grupo.

No momento em que um produtor está vinculado a uma OCS e cumpre com os


requisitos propostos, ele poderá obter a declaração de registro que garante ao
consumidor que os produtos comercializados são mesmo orgânicos. Dessa
forma, o produtor pode vender de forma direta ao consumidor nas feiras de
produtos orgânicos, processadores, mercados, lanchonetes.

Qual é a diferença entre a certificação por auditoria e a certificação por sistema


participativo de garantia?

A principal diferença é que é que na primeira há uma empresa responsável pela


certificação, enquanto na segunda, o processo é uma certificadora e na
segunda uma organização de controle social.

O que são e quais são os objetivos das visitas de verificação da conformidade?

Os Sistemas Participativos de Garantia promovem as Visitas de Verificação da


Conformidade. O objetivo é a troca de experiências entre os participantes do
sistema e a orientação aos fornecedores para que eles possam resolver possíveis
não conformidades e melhorar a qualidade dos sistemas produtivos.

As Visitas de Verificação da Conformidade são realizadas pelas Comissões de


Avaliação e pelas visitas de pares. Elas acontecem, no mínimo, uma vez por ano
no grupo ou no fornecedor individual. Mas no intervalo entre elas é necessária
a utilização de outros mecanismos de controle social, como, por exemplo, a
participação dos fornecedores nas atividades do Sistema Participativo de
Garantia e nas reuniões do Organismo Participativo de Avaliação da
Conformidade. Os responsáveis pelas Visitas de Verificação da Conformidade
precisam ter livre acesso às instalações, registros e documentos das unidades
de produção, além de qualquer área de produção não-orgânica da própria
unidade ou das demais que apresentarem alguma ligação com a atividade
verificada

38
Como são realizadas as Visitas de Verificação da Conformidade?

Elas podem ser feitas por amostragem, sendo que o número de visitas não deve
ser menor que a raiz quadrada do número de fornecedores no grupo.

O OPAC tem que ter um prazo estabelecido para que todas as unidades de
produção de cada grupo sejam visitadas. Também é recomendável que o
OPAC faça visitas-surpresa de verificação.

No caso das visitas de pares encontrarem alguma irregularidade, o grupo


solicita à Comissão de Avaliação uma Visita de Verificação

O que acontece quando o OPAC identifica problemas no empreendimento


Orgânico?

Caso a visita de verificação ateste alguma não conformidade, a decisão sobre


as medidas corretivas e penalidades será tomada, em reunião conjunta, pela
Comissão de Avaliação do OPAC, pelo produtor visitado e pelo grupo que este
integra respeitado o quórum mínimo definido no Regimento Interno do OPAC.

O Produtor terá um prazo, contado a partir da data da reunião que definiu as


sanções administrativas, para recorrer da decisão junto ao OPAC.

A Comissão de Avaliação deverá realizar visitas para acompanhamento do


cumprimento das penalidades e correção das não conformidades e registrar o
constatado em documento próprio.

No caso do não cumprimento das medidas corretivas e sanções, a Comissão


de Avaliação aplicará as penalidades previstas no Manual de Procedimentos
do OPAC e registrará a sua decisão.

Eventuais reclamações acerca de não conformidades advindas dos


fornecedores serão encaminhadas à Comissão de Avaliação para apuração
dos fatos e adoção dos procedimentos previstos no Manual de Procedimentos
do OPAC.

A OPAC também pode exigir que sejam realizadas análises de laboratório para
comprovar a conformidade dos produtos?

Sim. Fica a critério da Comissão de Avaliação da Conformidade decidir se há


necessidade de se fazer análise do material orgânico em laboratórios. E, da
mesma forma que ocorre na certificação por auditoria, as análises devem ser
feitas por laboratórios credenciados por órgãos oficiais de âmbito federal. Mas
se não houver nenhum credenciado, a aprovação do laboratório será feita
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

39
O empreendedor pode contestar as decisões do OPAC?

Sim. Ele pode apelar ao Conselho de Recursos do Organismo Participativo de


Avaliação da Conformidade. É ele quem os mantém registrados e documenta
as ações decorrentes.

É importante ressaltar que os responsáveis pelas avaliações questionadas não


poderão participar das decisões em relação à análise dos recursos e
reclamações.

40
41
CONTROLE SOCIAL NA VENDA DIRETA

O que é venda Direta?

A venda direta é aquela que acontece entre o produtor e o consumidor final,


sem intermediários. A legislação brasileira também aceita que a venda seja
feita por um outro produtor ou membro da família que participe da produção
e que também faça parte do grupo vinculado à Organização de Controle
Social - OCS.

O que é uma organização de Controle Social?

É uma organização formada por um grupo, associação, cooperativa ou


consórcio, com ou sem personalidade jurídica, composta por agricultores
familiares.

Mas, para que a organização seja reconhecida pela sociedade e ganhe


credibilidade, é preciso que entre os participantes exista uma relação de
organização, comprometimento e confiança.

Uma OCS deve ter controle próprio, estar ativa e garantir que os produtores a
ela ligados permitam a visita dos consumidores às suas unidades de produção,
assim como o livre acesso do órgão fiscalizador. Além disso, ela também tem a
obrigação de manter atualizadas as listas dos principais produtos e quantidades
estimadas por unidade de produção familiar.

Quais são as obrigações de uma Organização de Controle Social?

Para que possa realizar convênio com o Ministério da Agricultura, Pecuária e


Abastecimento objetivando atuar no controle da venda direta sem
certificação, a Organização de Controle Social, seja ela da esfera federal,
estadual ou distrital, deverá possuir em seus quadros servidores com poderes
para atuar na fiscalização e capacitados para trabalhar com agricultura
orgânica.

A OCS precisa estar registrada?

Sim. A legislação determina que a Organização de Controle Social se cadastre


junte a algum órgão fiscalizador. Uma vez cadastrada, cada produtor da
organização deve receber uma Declaração de Cadastro para comprovar aos
consumidores a sua condição de produtor orgânico.

Assim, em caso de denúncias ou suspeitas de irregularidades, os produtores e


suas unidades de produção são identificados com mais facilidade. Este
procedimento, chamado de Rastreabilidade, garante que os direitos dos

42
consumidores e bons produtores sejam respeitados e a boa imagem que os
produtos orgânicos conquistaram seja mantida.

Quem são os órgãos fiscalizadores?

São eles: as Superintendências Federais da Agricultura dos estados ou ainda


outros órgãos estaduais, federais e do Distrito Federal conveniados.

Quais são as funções do órgão fiscalizador?

É o órgão fiscalizador quem mantém atualizado o Cadastro Nacional de


Produtos Orgânicos e o Cadastro Nacional de Atividades Produtivas, além de
investigar possíveis denúncias de irregularidades.

Como é feita a certificação através de Controle Social na Venda Direta?

Mecanismo mais simples e disponível apenas para os pequenos produtores.


Nessa modalidade, a produção não chegará às prateleiras dos mercados em
grandes cidades e nem poderá usar o selo Orgânico Brasil, mas os produtores
poderão vender seus produtos como orgânicos para pequenos mercados ou
diretamente para o consumidor final. Essa venda pode ser realizada também
em feiras ou na própria fazenda. Para isso, o produtor também precisa provar
que realiza agropecuária orgânica, credenciando-se numa organização de
controle social (OCS) cadastrada junto ao órgão fiscalizador oficial (MAPA).
Uma OCS pode ser formada a partir de um grupo de pessoas, associação,
cooperativa ou consórcio.

É essa organização quem irá dar credibilidade e efetivo controle social à


produção orgânica, a partir da interação de pessoas ou organizações,
sustentado na participação, no comprometimento, na transparência e
confiança, e no reconhecimento pela sociedade.

Com isso, os agricultores familiares passam a fazer parte do Cadastro Nacional


de Produtores Orgânicos. Eles também devem abrir sua propriedade para que
inspetores e consumidores possam verificar como é feita a produção, atestando
que não são utilizadas substâncias proibidas nesse tipo de processo produtivo.

O produtor tem direito ao certificado de orgânico nessa modalidade (controle


social na venda direta)?

Embora isso seja realmente estranho e não pareça fazer muito sentido, ele não
tem direito ao certificado orgânico, embora seja considerado um produtor
orgânico.

Os produtos são considerados não certificados e por isso devem ser


identificados no rótulo como de responsabilidade do produtor que o está

43
comercializando e à Organização de Controle Social a que ele está ligado.
Além disso, eles não podem utilizar o Selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da
Conformidade Orgânica, mas podem incluir na rotulagem a seguinte
expressão: “Produto orgânico para venda direta por agricultores familiares
organizados não sujeito à certificação de acordo com a Lei n° 10.831, de 23 de
dezembro de 2003”

Apenas os produtores que optarem por um dos dois sistemas de certificação


anteriores têm tal direito.

44
45
PARTE 3

46
BASES PARA A PRODUÇÃO DE
PEIXES ORGÂNICOS

47
Apresentação da Parte 3

A partir daqui, começaremos, enfim, a tratar


especificamente da produção de peixes orgânicos.

A piscicultura orgânica envolve sistemas de gestão


agrícola e de produção de alimentos que precisam
combinar as melhores práticas ambientais, com a
manutenção da biodiversidade, garantindo a otimização
e a conservação dos recursos naturais, a aplicação de
altos padrões de bem-estar animal e o uso de técnicas de
produção que estejam de acordo com as preferência
daqueles consumidores que demandam produtos
produzidos usando substâncias e processos naturais.

Não obstante a existência de variação entre os diversos


padrões empregados na piscicultura orgânica, todos eles
tratam mais ou menos de um conjunto comum de
aspectos, que são aplicados tanto para o Brasil como na
maioria dos países do mundo. São nesses fundamentos
que as normas de certificação de peixes orgânicos são
baseadas.

Serão tratados aqui temas como sistemas de cultivo,


reprodução, alimentação, sanidade, transporte e
processamento.

48
FUNDAMENTOS GERAIS DA PRODUÇÃO DE PEIXES
ORGÂNICOS

Já existem normas para a produção de peixes orgânicos?

Sim. Somente nos países europeus já foram definidos cerca de


80 diferentes padrões privados destinados à aquicultura
orgânica. No Brasil, o MAPA definiu as linhas gerais da produção
de peixes orgânicos e as certificadoras já os incorporam aos seus próprios
padrões e normas.

Basta eu começar a cultivar peixes de forma orgânica para meus peixes serem
considerados orgânicos?

Não. É preciso também um tempo para que a própria propriedade rural possa
ser convertida às práticas orgânicas. Normalmente, esse tempo de conversão
varia entre 3 a 12 meses.

• Se a produção for baseada em estoques não orgânicos (de reprodutores


ou alevinos, por exemplo), terá ainda que ser respeitado um tempo para
adaptação desses estoques às práticas orgânicas. Esse tempo varia de
espécie para espécie, mas raramente envolve menos que 2/3 do tempo
de vida das espécies-alvo a serem cultivadas. A título de exemplo, uma
tilápia pode viver por pelo menos cerca de 6 anos. Então, se um produtor
desejar produzir alevinos orgânicos a partir de tilápias não orgânicas,
deverá fazer o manejo de estoques de reprodutores por cerca de 4 anos
até poder começar a produzir ou comercializar alevinos
verdadeiramente orgânicos;
• Se for usar reprodutores não orgânicos para melhoramento genético do
plantel orgânico deverá respeitar um prazo, que geralmente é de pelo
menos 3 meses, antes de permitir o cruzamento com reprodutores
orgânicos;
• Se quiser vender peixes originalmente não orgânicos como orgânicos, o
produtor terá que manter esses animais na propriedade (já convertida)
por pelo menos 2/3 do tempo de vida da espécie.

Quais são as normas gerais em termos de sistemas de cultivo e localização dos


empreendimentos?

• Os peixes precisam ser cultivados em viveiros, de modo a existir interação


entre o solo e a água. Tanques (de concreto, plástico, rede, ou revestidos
de lona) não são permitidos. Consequentemente, sistemas como
aquaponia, tanques-rede, bioflocos não podem ser usados para a
produção de peixes orgânicos;

49
• Sistemas de recirculação só são permitidos se integrados ao ambiente
natural. Nesse caso, não se permite que a maior parte do ciclo de
produção se dê em ambientes internos (por exemplo, galpões).
• Deve-se evitar a contaminação do sistema de produção aquícola por
fontes externas de poluição;
• É necessário que haja um isolamento adequado em relação a sistemas
de produção não orgânicos e a separação entre produtos orgânicos e
convencionais ao longo de toda a cadeia de produção e distribuição;
• O cultivo de espécies exóticas é permitido, mas deve-se impedir o
escape de peixes e a consequente introdução dessas espécies nos
ambientes adjacentes, de modo a não haver nenhum impacto à
biodiversidade local;
• Deve ser feito o controle da liberação de efluentes e nutrientes para os
ambientes adjacentes, minimizando-se os impactos negativos
provocados por eles;
• Deve-se promover o bem-estar dos peixes cultivados;
• Deve-se proteger os ecossistemas de áreas úmidas vulneráveis (por
exemplo, é proibido o desmatamento de manguezais ou florestas para a
instalação de empreendimentos de piscicultura orgânica);
• O uso de aportes externos de aeração artificial só é permitido desde que
os peixes não dependam dessa fonte na maior parte do tempo.

Quais são as normas gerais em termos de espécies, reprodutores, técnicas de


produção de alevinos?

• Deve-se dar preferência por espécies localmente adaptadas;


• Deve-se dar preferência ao uso de reprodutores, sementes ou juvenis
orgânicos em relação aos não orgânicos;
• Deve-se dar preferência aos estoques de organismos cultivados em todo
o seu ciclo de vida como orgânico. Porém, como em muitas regiões não
existem ainda estoques puramente orgânicos, é possível haver alguma
tolerância para o uso de fontes não orgânicas para atender a um
período de conversão de juvenis;
• É proibido o uso de técnicas de poliploidia, hibridação artificial ou meios
não manuais de obtenção de populações monossexuais. Por isso, por
exemplo, pós-larvas de tilápias não podem ser submetidas à reversão
sexual utilizando hormônios;
• Deve-se evitar submeter os animais a alteração artificial do fotoperíodo.

Quais são as normas gerais em termos da alimentação e nutrição de peixes?

• Deve-se sempre otimizar o uso de rações, minimizando as perdas para o


ambiente;
• Deve-se restringir as fontes de alimentação, especialmente no caso de
espécies carnívoras, possibilitando que uma parcela significativa da
dieta dos peixes seja proveniente de fontes alimentícias que cada

50
espécies encontraria na natureza. Devem ser utilizadas, prioritariamente
e na seguinte ordem: i) farinhas e óleos de peixe proveniente de aparas
de peixes orgânicos cultivados; ii) farinhas e óleos de peixe derivados de
aparas de peixe, crustáceos ou moluscos capturados para consumo
humano através de pescarias devidamente certificadas como
sustentáveis de acordo com sistemas reconhecidos de certificação; iii)
farinhas e óleos de peixe e ingredientes obtidos de peixes, crustáceos ou
moluscos inteiros, que não foram capturados para consumo humano,
mas cuja pescaria foi certificada como sustentáveis por sistemas
reconhecidos de certificação; ou (iv) matérias-primas orgânicas de
origem vegetal. A determinação do que qualifica uma pescaria como
sustentável pode ser definida por normas e padrões governamentais
nacionais ou internacionais ou ainda através de sistemas privados de
certificação, dependendo do tipo de piscicultura em questão;
• Deve-se restringir o uso de farinha e óleo de peixe na dieta de peixes
cultivados;
• Deve-se restringir o uso de suplementos e aditivos alimentares para peixes
àqueles estritamente estabelecidos pela instituição certificadora;
• Há a possibilidade de usar fontes alternativas de proteínas, como
microalgas ou insetos produzidos sob métodos orgânicos, na
alimentação de peixes.

Quais são as normas gerais em termos de sanidade e bem-estar dos peixes?

• Deve-se dar ênfase à práticas culturais que levem à prevenção de


doenças, por exemplo: um bom design do sistema de cultivo; a escolha
adequada de espécies a serem cultivadas; a oferta de dietas
nutricionalmente adequadas aos animais; a minimização do estresse
através do controle das densidades de estocagem mais apropriadas a
cada espécie; o impedimento à presença de contaminantes; o controle
da qualidade da água;
• Deve-se definir as densidades de estocagem de acordo com a(s)
espécie(s) cultivada(s);
• Deve-se promover a limpeza de rotina dos sistemas de produção e
respeitar períodos de pousio entre os ciclos de produção, conforme
apropriado;
• Deve-se restringir e, se possível, proibir as mutilações de animais;
• O uso de luz ultravioleta e de ozônio podem ser usados apenas em
estações de reprodução e alevinagem. Quando, apesar das medidas
preventivas, surgirem problemas de saúde, os tratamentos veterinários
devem ser utilizados na seguinte ordem de referência: a) substâncias
extraídas de plantas, animais ou minerais em diluições homeopáticas; b)
plantas e seus extratos, desde que não apresentem efeitos anestésicos;
e c) substâncias como oligoelementos, metais, imunoestimulantes
naturais ou probióticos autorizados. O uso de tratamentos alopáticos é
limitado a dois cursos de tratamento por ano, com exceção de vacinas
e programas de erradicação obrigatórios definidos por lei. Nos casos em

51
que a duração de um ciclo de produção for inferior a um ano, deve-se
aplicar o limite de um tratamento alopático;
• Tratamentos veterinários necessários só podem ser aplicados se
respeitarem os limites de frequência para rotulagem do produto como
orgânico;
• É proibido o uso profilático de medicamentos veterinários, assim como
hormônios sintéticos e promotores de crescimento;
• O uso de antibióticos leva à perda automática da certificação dos
animais tratados.

Quais são as normas gerais de despesca, transporte e abate de peixes?

• Muitas normas governamentais de regulamentação não tratam desses


temas, mas a maioria das normas particulares o fazem;
• Minimização de estresse pré-abate, através do controle ambientai e das
práticas de transporte;
• Minimização do sofrimento durante o abate, geralmente através da
aplicação de métodos de insensibilização;
• Manutenção da qualidade do produto pós-abate através do controle
de higiene e temperatura.

Quais são as normas gerais de processamento e rotulagem de peixes


orgânicos?

• Necessidade de segregação adequada de fluxos de produtos não


orgânicos, impedindo que possa haver mistura entre esses produtos;
• Utilização de sistemas de rastreabilidade dos produtos;
• Restrições ao uso de aditivos, auxiliares de processamento e ingredientes
não orgânicos, com base em listas estabelecidas como parte do
processo de certificação;
• Rotulagem do produto de acordo com as normas e regulamentos
pertinentes;
• Os padrões de rotulagem de alimentos orgânicos são baseados na
porcentagem de ingredientes orgânicos em um produto. Os produtos
rotulados como "100% orgânicos" devem conter apenas ingredientes
produzidos organicamente. Os produtos rotulados como "orgânicos"
devem conter pelo menos 95% de ingredientes produzidos
organicamente. Os produtos processados feitos com pelo menos 70% de
ingredientes orgânicos podem usar a frase "fabricados com ingredientes
orgânicos".

52
53
PARTE 4

54
NORMAS BRASILEIRAS PARA A
PRODUÇÃO DE PEIXES
ORGÂNICOS

55
Apresentação da parte 4

Embora os princípios gerais da produção de peixes


orgânicos sejam maios ou menos os mesmos em todo o
mundo, cada país tem, obviamente, autonomia
administrativa para regulamentar a atividade no âmbito
de suas jurisdições legais, sempre tendo como foco a
proteção à saúde de seus cidadãos. Com isso, as normas
de produção acabam não sendo as mesmas.

Além das diferenças internacionais, é também comum


haver diferenças entre as normas de certificação definidas
por diferentes certificadoras que operam em um mesmo
país. Isso ocorre com frequência inclusive no Brasil.

Por isso, é possível que um piscicultor consiga certificar seu


empreendimento e vender peixes orgânicos, sem
enfrentar maiores problemas, no mercado interno
brasileiro, mas não atingir os níveis de controle exigidos por
outros países, o que o impediria de exportar seus peixes
para tais países.

Assim, é muito importante que o empreendedor tenha


consciência de que as normas de certificação orgânicas
não são todas iguais e que conheça os mecanismos e
normas de certificação empregados no país.

Nesta parte do livro serão abordadas as normas legais que


regem a piscicultura orgânica no Brasil.

56
REQUISITOS LEGAIS A SEREM APLICADOS AO LONGO
DA CADEIA DE PRODUÇÃO, TRANSPORTE,
PROCESSAMENTO, ROTULAGEM, ARMAZENAMENTO E
COMERCIALIZAÇÃO DE PEIXES ORGÂNICOS

LEIS E INSTRUMENTOS NORMATIVOS


Quais são os principais instrumentos legais que disciplinam a
produção de peixes orgânicos no Brasil?

• Lei no 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Dispõe sobre a agricultura


orgânica e dá outras providências;
• Decreto no 6.323, de 27 de dezembro de 2007. Regulamenta a Lei no
10.831, de 23 de dezembro de 2003, que dispõe sobre a agricultura
orgânica, e dá outras providências;
• Instrução normativa no 19, de 28 de maio de 2009. Mecanismos de
Controle e Informação da Qualidade Orgânica;
• Decreto no 7.048, de 23 de dezembro de 2009. Dá nova redação ao art.
115 do Decreto no 6.323, de 27 de dezembro de 2007, que regulamenta
a Lei no 10.831, de 23 de dezembro de 2003, que dispõe sobre a
agricultura orgânica.

O que a legislação brasileira exige em relação ao ambiente em


uma propriedade certificada para a produção de peixes
orgânicos?

• A inclusão de práticas sustentáveis em todo o processo, desde a escolha


do produto a ser cultivado até sua colocação no mercado, incluindo o
manejo dos sistemas de produção e dos resíduos gerados;
• A manutenção das áreas de preservação permanente;
• A atenuação da pressão antrópica sobre os ecossistemas naturais e
modificados;
• A proteção, a conservação e o uso racional dos recursos naturais;
• Que a produção seja baseada em recursos renováveis e em sistemas
agrícolas organizados localmente;
• O incremento dos meios necessários ao desenvolvimento e ao equilíbrio
da atividade biológica do solo;
• A promoção de uso saudável do solo, da água e do ar;

57
• A redução ao mínimo de todas as formas de contaminação desses
elementos que possam resultar das práticas agrícolas;
• A regeneração de áreas degradadas;
• A preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e a
recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas
modificados em que se insere o sistema de produção, com especial
atenção às espécies ameaçadas de extinção;
• A promoção e manutenção do equilíbrio do sistema de produção como
estratégia de promover e manter a sanidade dos organismos aquáticos;
• A interação da produção aquícola;
• A manutenção e recuperação de variedades locais, tradicionais,
ameaçadas pela erosão genética;
• A reciclagem de resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o
emprego de recursos não renováveis;
• Destinar os resíduos da produção de acordo com a legislação ambiental
aplicável;
• O produtor deverá comunicar ao OAC ou à OCS qualquer caso com
risco potencial de contaminação ambiental não previsto originalmente
no Plano de Manejo, para definição das medidas mitigadoras;

O que a legislação brasileira exige em relação aos animais


em uma propriedade certificada para a produção de peixes
orgânicos?

• Que seja oferecido aos animais uma alimentação nutritiva,


saudável, de qualidade e em quantidade adequada de acordo com as
exigências nutricionais de cada espécie;
• A oferta de água de qualidade e em quantidade adequada, isenta de
produtos químicos e agentes biológicos que possam comprometer a
saúde e vigor dos organismos aquáticos, a qualidade dos produtos e dos
recursos naturais, de acordo com os parâmetros especificados pela
legislação vigente;
• A adoção de práticas de manejo produtivo que preservem as condições
de bem-estar dos animais;
• O incremento da biodiversidade aquática;
• A promoção prioritária da saúde e do bem-estar dos organismos
aquáticos em todas as fases do processo produtivo;
• A promoção do cultivo integrado ou policultivo, beneficiando
sinergicamente as espécies e promovendo o ciclo de nutrientes no
sistema;
• O melhoramento genético, visando à adaptabilidade e rusticidade das
espécies às condições ambientais locais;
• O estabelecimento e a manutenção da densidade populacional ou
biomassa para que se promova o comportamento natural, previamente

58
aprovada pelo Organismo de Avaliação da Conformidade Orgânica -
OAC ou pela Organização de Controle Social - OCS;
• O uso de boas práticas de manuseio e processamento, com o propósito
de manter a integridade orgânica e as qualidades vitais do produto em
todas as etapas.

O que a legislação brasileira exige em relação à sociedade


ou à equipe de trabalho em uma propriedade certificada
para a produção de peixes orgânicos?

• A melhoria da qualidade de vida dos agentes envolvidos


em toda a rede de produção orgânica;
• Relações de trabalho fundamentadas nos direitos sociais determinados
pela Constituição Federal;
• Relações de trabalho baseadas no tratamento com justiça, dignidade e
equidade, independentemente das formas de contrato de trabalho.
• A capacitação continuada dos agentes envolvidos em toda a rede de
produção orgânica;
• A valorização dos aspectos culturais e a regionalização da produção;
• O incentivo à integração entre os diferentes segmentos da cadeia
produtiva e de consumo de produtos orgânicos e a regionalização da
produção e comércio desses produtos;
• O consumo responsável, o comércio justo e solidário baseados em
procedimentos éticos;
• Devem ser respeitados a tradição, a cultura e os mecanismos de
organização social nas relações de trabalho em condições especiais,
quando em comunidades locais tradicionais;
• Nas unidades de produção orgânica deve ser observado o acesso dos
trabalhadores aos serviços básicos, em ambiente de trabalho com
segurança, salubridade, ordem e limpeza;
• O contratante é o responsável pela segurança, informação e
capacitação dos seus trabalhadores;
• Os organismos responsáveis pela garantia da qualidade orgânica
podem exigir termo de compromisso, assumido pelo empregador com os
trabalhadores, com medidas a serem adotadas para melhoria contínua
da qualidade de vida;

O que a legislação brasileira exige em relação à sanidade dos


peixes em uma propriedade certificada para a produção
orgânica?

• A adoção de técnicas sanitárias e práticas de manejo


preventivas;

59
• A manutenção da higiene em todo o processo produtivo, compatível
com a legislação sanitária vigente e com o emprego de produtos
permitidos para uso na produção orgânica;
• A utilização de instalações higiênicas, funcionais e adequadas a cada
organismo aquático e local de produção;
• A manipulação de produtos agrícolas com base no uso de métodos de
elaboração cuidadosos, com o propósito de manter a integridade
orgânica e as qualidades vitais do produto em todas as etapas;
• A oferta de produtos saudáveis, isentos de contaminantes, oriundos do
emprego intencional de produtos e processos que possam gerá-los e que
ponham em risco o meio ambiente e a saúde do produtor, do
trabalhador ou do consumidor.

O que a legislação brasileira exige em relação à cadeia de


transporte, armazenamento e comercialização de peixes
orgânicos?

• As pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado,


que produzam, transportem, comercializem ou armazenem produtos
orgânicos ficam obrigadas a promover a regularização de suas
atividades junto aos órgãos competentes;
• Em todas as etapas do processo de produção, nas operações de
armazenagem, transporte e comercialização, deve-se manter a
integridade dos produtos e ingredientes orgânicos, aplicando as
seguintes medidas: 1) em todo momento, os produtos orgânicos deverão
ser protegidos para que não se misturem com produtos não obtidos em
sistemas orgânicos e não tenham contato com materiais e substâncias
cujo uso não está autorizado no cultivo e pós-colheita de produtos
orgânicos; e 2) os produtos orgânicos passíveis de contaminação por
contato ou que não possam ser diferenciados visualmente devem ser
identificados e mantidos em local separado dos demais produtos não
obtidos em sistemas orgânicos.

O que é proibido em uma piscicultura orgânica?

Várias práticas e produtos têm seu uso proibido na piscicultura


orgânica. Ao longo do texto iremos apresentar vários deles, mas
aqui apresentaremos apenas aqueles de caráter mais amplo,
que não se encaixam em apenas uma categoria. É proibido(a):

1) A retenção permanente dos animais em gaiolas, galpões, ou qualquer


outro método restritivo aos movimentos naturais dos animais;

2) O uso de regimes intensivos de produção;

60
3) Aquisição, manutenção em depósito ou utilização, em
empreendimentos exclusivamente orgânicos, de matérias-primas,
materiais de multiplicação animal ou vegetal, animais, insumos, alimentos
para animais, medicamentos ou qualquer substância em desacordo
com as exigências legais 1;

4) A utilização, em empreendimentos exclusivamente orgânicos, de


qualquer método ou processo de produção, processamento, manejo,
reprodução, colheita, controle ou prevenção de pragas e enfermidades
em desacordo com as exigências legais 1;

5) O emprego de radiações ionizantes, emissão de micro-ondas e


nanotecnologia em qualquer etapa do processo produtivo;

6) A produção, o beneficiamento, a manipulação, a industrialização, o


processamento, a embalagem, o armazenamento, a comercialização,
a oferta, a distribuição, a propaganda e o transporte de produtos
orgânicos que não atendam às exigências legais;

7) Nos estabelecimentos onde houver área específica, isolada e


devidamente identificada para a exposição, oferta e comercialização
de produtos orgânicos será proibida a mistura, sob qualquer pretexto,
com produtos não oriundos de sistemas orgânicos de produção
agropecuária.

1Observação: Isso não se aplica a casos em que a utilização seja admitida em


caráter emergencial ou excepcionalidade, legalmente estabelecidos.

61
62
ANTES DE COMEÇAR UMA PISCICULTURA ORGÂNICA

Que documentos o produtor/empreendedor aquícola


precisa elaborar e aprovar para obter a certificação
orgânica?

Obrigatoriamente, uma propriedade orgânica deverá possuir um Plano de


Manejo Orgânico da propriedade. Idealmente, deve elaborar ainda uma
Análise de Riscos, que pode ser incorporada ao Plano de Manejo ou ser
estruturada a parte.

O que é um Plano de Manejo Orgânico?

É um documento, que o próprio empreendedor deve elaborar e que vai auxiliá-


lo no planejamento da propriedade, no controle de custos, no
acompanhamento da evolução dos sistemas de produção, na identificação
de melhorias O Plano pode ser também uma ferramenta até para ajudar no
aumento da qualidade dos produtos, na aplicação de boas práticas e na
adequação do empreendimento à legislação brasileira da produção de
orgânicos.

Mesmo os pequenos produtores familiares precisam elaborar um Plano de


Manejo para certificar seus empreendimentos?

Sim. Todas as unidades de produção orgânica devem dispor de Plano de


Manejo Orgânico atualizado. Esse Plano precisa ser elaborado ainda na fase de
conversão ou de instalação do empreendimento e deve ser atualizado
periodicamente.

Que tipo de informações deverá conter o Plano de Manejo Orgânico?

O Plano de Manejo Orgânico deverá contemplar, entre outras informações


relevantes:

• Um mapa ou croqui da propriedade, indicando a ocupação,


localização, o acesso à unidade de produção e os aspectos produtivos
e ambientais;
• O histórico de utilização da área;
• A manutenção ou incremento da biodiversidade;
• O manejo da produção animal, tal como a evolução do plantel a partir
de animais próprios e adquiridos;
• Os manejos da produção aquícola, tais como o bem-estar dos
organismos aquáticos, o manejo de resíduos e sanitário;

63
• A conservação do solo e da água;
• Um plano para a promoção da saúde dos organismos cultivados;
• A nutrição, incluindo plano um anual de alimentação;
• A reprodução e a obtenção de material de multiplicação;
• A evolução do plantel;
• Instalações e práticas de manejo dos organismos aquáticos de
subsistência, ornamentais e outros, de seus produtos, subprodutos ou
dejetos sem fins de comercialização como orgânicos, sendo obrigatório
o controle e autorização pela OCS ou OAC dos insumos usados nesses
animais;
• Os procedimentos para pós-produção, a embalagem, armazenamento,
processamento, transporte e comercialização;
• Procedimentos que contemplem a aplicação das boas práticas de
produção;
• As inter-relações ambientais, econômicas e sociais;
• A ocupação da unidade de produção, considerando os aspectos
ambientais;
• Ações que visem evitar contaminações internas e externas, tais como -
medidas de proteção em relação às fontes de contaminantes para
áreas limítrofes com unidades de produção convencionais;
• O controle da qualidade da água, dentro da unidade de produção, por
meio de análises para verificação da contaminação química e
microbiológica, que deverá ocorrer a critério do OAC ou da OCS em que
se insere o aquicultor familiar em venda direta;
• O manejo dos animais de serviço, subsistência, companhia, ornamentais
e outros, de seus produtos, subprodutos ou dejetos sem fins de
comercialização como orgânicos, e insumos usados na manutenção
desses animais;
• A periodicidade do controle da qualidade da água, para uso na
unidade de produção, por meio de tratamentos e análises para
verificação da contaminação química e microbiológica;
• Medidas para prevenção e mitigação de riscos em relação às fontes de
contaminantes, principalmente de Organismos Geneticamente
Modificados - OGM e derivados, e das áreas de produção não orgânicas
para as orgânicas.

Há algum modelo que possa auxiliar o produtor na elaboração do seu plano de


Manejo?

Sim. O MAPA disponibiliza um Caderno do Plano de Manejo Orgânico que,


apesar de não ter sido idealizado exclusivamente para a piscicultura, pode
ajudar o piscicultor orgânico a estabelecer seu próprio Plano de Manejo
Orgânico.

64
Figura 2. Capa do caderno do Plano de Manejo Orgânico disponibilizado pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

O Planejo de Manejo precisa ser aprovado por alguma instituição?

Sim, pelas OAC, OPAC ou OCS. Para isso, as organizações certificadoras devem
avaliar potenciais riscos de comprometimento do sistema orgânico de
produção, levando em conta os impactos que os insumos e as práticas de
manejo podem trazer à saúde humana e animal, ao sistema e ao ambiente em
que se insere a unidade produtiva.

A aprovação do Plano de Manejo implica na aprovação para uso das


substâncias e procedimentos técnicos nele identificados. Ou seja, é mais uma
garantia ao produtor orgânico.

Cada vez que eu alterar qualquer procedimento técnico ou operacional na


minha propriedade precisarei fazer e aprovar um novo Plano de Manejo?

Alterações e atualizações no Plano de Manejo, bem com o uso de substâncias


já aprovadas pelo MAPA para uso orgânico, mas que não constavam no Plano
de Manejo original, poderão ser informadas em documento anexos

65
complementares. Não é preciso fazer um novo Plano, mas tais alterações
precisam, sim, estar devidamente registradas.

O que é uma Análise de Risco?

A avaliação (ou análise) de riscos na produção orgânica é uma


importante ferramenta usada para estimar e hierarquizar
(colocar em ordem de importância quantitativa) eventuais
impactos que podem afetar o produtor, o empreendimento, o ecossistema e a
saúde humana.

Toda e qualquer tomada de decisões em um empreendimento rural acontece


em um ambiente de incerteza e traz associada a si riscos decorrentes do fato
de que não é possível prever o futuro. Por outro lado, é possível estimar os riscos
em potencial a serem enfrentados, seus possíveis efeitos e planejar as melhores
formas de se enfrentar tais fatores de risco. Realizar uma análise rigorosa de
riscos nada mais é que se planejar para enfrentar as adversidades que podem
afetar o negócio.

Que tipos de riscos podem afetar um empreendimento orgânico?

Riscos é o que não faltam, por exemplo 27:

• Riscos estratégicos: Não diferenciação de orgânicos por falta de


regulamentação do processo de certificação; perda de credibilidade
dos consumidores nos organismos certificadores; não adesão dos
consumidores ao consumo de orgânicos em função dos preços;
• Riscos relacionados aos recursos humanos: morte, doença ou invalidez
do agricultor ou das pessoas que trabalham na propriedade;
• Riscos patrimoniais: associados ao roubo, fogo, enchentes, vendavais,
tempestades, destruição de equipamentos e implementos indispensáveis
à produção;
• Riscos de conhecimento: Não conhecer a atividade; não ter acesso às
informações; parar no tempo, não reaprender; empregar processos
produtivos desatualizados e obsoletos;
• Riscos operacionais: associados não só às condições climáticas, mas
também a falta de mão de obra qualificada, doenças e pragas que
atacam os organismos cultivados, bem como contaminações oriundas
de eventos ou fontes poluentes e também fatores que podem afetar a
qualidade do produto final; substituição dos produtos orgânicos no
processo de embalagem por produtos convencionais; contaminação
dos produtos durante o transporte;
• Riscos de preço: associados a oscilações de preço de venda dos
produtos ou de compra de insumos;
• Riscos institucionais: associados a mudanças na política agrícola do
Governo que influenciem negativamente a produção ou as decisões de
mercado, afetando ainda a rentabilidade do negócio;

66
• Riscos financeiros: associados a variações nas taxas de juros, taxas de
câmbio, falta de liquidez e outras perdas financeiras; falta de capital de
giro para o produtor durante o processo de conversão de culturas;
endividamento elevado inviabilizando a produção; falta de alternativas
de seguros para perdas agrícolas;
• Riscos comerciais: Aumento de preços de insumos por excesso de
demanda; variações de preços dos produtos inviabilizando o
povoamento ou cultivo.

Como se faz uma análise de risco?

Há inúmeras possibilidades e métodos para isso. Por exemplo, ela pode ser feita
utilizando várias ferramentas de forma combinada, como através de
questionários e planilhas de dados, vistorias nas unidades que fornecem o
insumo para a unidade produtiva, levantamentos bibliográficos, análises
laboratoriais, documentos assinados por fornecedores, ficha técnica de
produto, conversas entre produtores e outros instrumentos a serem
estabelecidos pelo OAC, OPAC ou OCS.

Podem ainda ser realizadas através de técnicas como:

• Brainstorming, através da qual uma equipe multidisciplinar discute as


situações que representam risco e que devem ser objeto de análise
qualitativa e quantitativa de ocorrência;
• Da técnica Delphy, na qual se busca o consenso de especialistas sobre
os riscos mais relevantes a serem considerados);
• Na análise de FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças ao
empreendimento);
• Em checklists (baseados em informações históricas e conhecimento
acumulado em experiências similares e outras fontes de dados);
• Em análises de premissas, que exploram a validação do conjunto de
hipóteses, cenários assumidos na elaboração do planejamento;
• Em diagramas de causa e efeito, através os quais se faz uma análise
crítica de processos;
• Diagramas de influência.

Preciso contratar um profissional para fazer a análise de risco da minha


propriedade orgânica?

Depende. Um produtor rural, seja ele orgânico ou convencional, grande ou


pequeno, precisa ser, antes de tudo, um "empreendedor" rural. Então, se ele
não tem condições técnicas de elaborar um documento como o da análise de
risco, ele precisará buscar ajuda externa junto a vizinhos, conhecidos,
associações, órgão de extensão rural ou empresas de assistência técnica. O
que o empreendedor orgânico não deve fazer é deixar de elaborar o Plano de
Manejo Orgânico e a Análise de risco, pois tais documentos são importantes
para a viabilização do seu próprio empreendimento.

67
68
A FASE DE CONVERSÃO DE UMA
PROPRIEDADE CONVENCIONAL EM
ORGÂNICA

Posso produzir peixes orgânicos em uma propriedade onde antes se produzia


peixes em sistemas convencionais?

Sim. Mas, para isso deverá ser obedecido um período de conversão.

O que significa a "conversão" de uma propriedade?

A conversão é o processo pelo qual passa uma propriedade convencional até


que esteja apta a receber a certificação orgânica.

Para que a produção animal seja considerada orgânica, deverá ser respeitado
primeiramente o período de conversão da unidade de produção, instituindo-se,
desde o início, o manejo orgânico dos animais, sem que seus produtos e
subprodutos sejam considerados orgânicos.

Isso é necessário porque quando um piscicultor decide mudar para a


piscicultura orgânica, toda a propriedade e os próprios métodos de utilização
de insumos, sistemas paralelos de produção, uso da água, entre outros,
precisam ser adaptados.

A conversão para a aquicultura orgânica é um processo complexo que envolve


uma abordagem multidimensional, incluindo questões sociais, técnicas,
econômicas e ambientais.

O processo de conversão para a piscicultura orgânica precisa estar


detalhadamente descrito no Plano de Manejo Orgânico do empreendimento.

Todo e qualquer empreendimento precisará passar por um período de


conversão?

Não. Não é necessário período de conversão em caso de estruturas


posicionadas em áreas abertas e em viveiros novos, localizados em áreas não
cultivadas anteriormente.

Qual é o objetivo da "conversão"?

• Assegurar que as unidades de produção estejam aptas a produzir em


conformidade com os regulamentos técnicos da produção orgânica,
incluindo a capacitação dos produtores e trabalhadores;

69
• Garantir a implantação de um sistema de manejo orgânico por meio da
manutenção ou construção ecológica da vida e da fertilidade dá água;
do estabelecimento do equilíbrio do agroecossistema; e da preservação
da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e modificados.

Quando começa oficialmente o período de conversão?

O início do período de conversão deverá ser estabelecido pela organização


certificadora.

A decisão quanto a data a ser considerada como ponto de partida do período


de conversão terá como base as informações levantadas nas inspeções ou
visitas de controle interno que deverão verificar a compatibilidade da situação
encontrada com os regulamentos técnicos, por meio de elementos
comprobatórios, tais como: declarações de órgãos oficiais relacionados às
atividades agropecuárias; declarações de órgãos ambientais oficiais;
declarações de vizinhos, associações e outras organizações envolvidas com a
rede de produção orgânica; análises laboratoriais; fotos aéreas, imagens de
satélite ou mapas do empreendimento; inspeção in loco na área; documentos
de aquisição dos organismos de cultivo e outros insumos; e o conhecimento dos
produtores e trabalhadores dos princípios, das práticas e da regulamentação
da produção orgânica.

Somente depois de completado o período de conversão da área terá início o


período de conversão dos peixes para a piscicultura orgânica.

Qual deve ser a duração do período de conversão?

A duração do período de conversão também deverá ser estabelecida pela


instituição certificadora.

O período de conversão será variável de acordo com o tipo de exploração e a


utilização anterior da unidade de produção, considerando a situação
ecológica e social atual.

Ainda de acordo com a legislação, o período de conversão para que os


organismos aquáticos, seus produtos e subprodutos possam ser reconhecidos
como orgânicos, será de:

• 12 (doze) meses para sistemas de viveiros de terra construídos em áreas


anteriormente cultivadas em sistemas não orgânicos; e
• pelo menos um ciclo de produção para outros sistemas, em áreas com
produção anterior.

Posso continuar produzindo enquanto minha propriedade encontra-se em


processo de conversão?

Pode, mas uma série de restrições precisam ser adotadas.

70
1) Em primeiro lugar, é preciso que o produtor saiba que só poderá
comercializar seus produtos como orgânicos quando o processo de
certificação (e, por consequência, a conversão estiver concluída);

2) Todas as unidades de produção e estabelecimentos de produção,


orgânica e não orgânica, serão objeto de controle por parte do
organismo de avaliação da conformidade ou da organização de
controle social a que estiver vinculado o agricultor familiar em venda
direta;
3) A conversão parcial ou a produção paralela será permitida desde que
os organismos aquáticos de mesma espécie tenham finalidades
produtivas diferentes apenas se essa produção ocorrer em áreas distintas
e devidamente demarcadas. Ou seja, a unidade de produção deverá
ser dividida em áreas, com demarcações definidas, sendo vedada a
alternância de práticas de manejo orgânico e não orgânico numa
mesma área;

4) A conversão parcial ou produção paralela deve ser autorizada pelo


OPAC, OAC ou OCS e deverá ser concedida em função dos seguintes
critérios:
• distância entre as áreas sob manejo orgânico e não orgânico;
• posição topográfica das áreas, incluindo o percurso da água;
• insumos utilizados nas áreas não orgânicas, forma de aplicação e
controle;
• demarcação específica da área não orgânica; e
• facilidade de acesso para inspeção.

5) A conversão parcial ou produção paralela será permitida, no máximo,


por 5 (cinco) anos (a partir deste período, somente será permitido o uso
de espécies diferentes em áreas distintas e devidamente demarcadas);

6) Os equipamentos de pulverização empregados em áreas e organismos


aquáticos sob o manejo não orgânico não poderão ser usados em áreas
e organismos aquáticos sob o manejo orgânico;

7) Os equipamentos e implementos utilizados na produção aquícola, sob


manejo não orgânico, excetuados os equipamentos de pulverização,
deverão passar por limpeza para uso em manejo orgânico;

8) Os insumos utilizados em cada uma das áreas, sob manejo orgânico e


não orgânico, devem ser armazenados separadamente, perfeitamente
identificados, e os não permitidos para uso na aquicultura orgânica não
poderão ser armazenados na área de produção orgânica;

9) Os resíduos da produção aquícola não orgânica, seja da propriedade


ou de fora da mesma, só poderão ser utilizados de acordo com o
especificado na legislação;

71
10) O produtor deverá comunicar à instituição certificadora, antes da
despesca, colheita ou da obtenção do produto aquícola, orgânicos e
não orgânicos:
• a data prevista da obtenção desses produtos;
• os procedimentos de separação; e
• a produção estimada;

11) O plano de manejo da unidade de produção com conversão parcial ou


produção paralela deverá conter:
• procedimentos que visem à aplicação das boas práticas de
produção;
• procedimentos que visem à eliminação do uso de organismos
geneticamente modificados e derivados em toda a unidade de
produção; e
• a quantidade estimada, a frequência, o período e a época da
produção orgânica e não orgânica;

12) É permitida a produção paralela nas unidades de produção e


estabelecimentos onde haja cultivo, criação ou processamento de
produtos orgânicos;

13) Nas áreas e estabelecimentos em que ocorra a produção paralela, os


produtos orgânicos deverão estar claramente separados dos produtos
não orgânicos e será requerida descrição do processo de produção, do
processamento e do armazenamento;

14) No caso de unidade processadora de produtos orgânicos e não


orgânicos, o processamento dos produtos orgânicos deve ser realizado
de forma totalmente isolada dos produtos não orgânicos no espaço ou
no tempo;

15) Nas unidades de produção ou estabelecimentos envolvidos com a


geração de produtos orgânicos que apresentem produção paralela, a
matéria-prima, insumos, medicamentos e substâncias utilizadas na
produção não orgânica deverão ser mantidos sob rigoroso controle, em
local isolado e apropriado;

16) A produção não orgânica não poderá envolver organismos


geneticamente modificados.

72
73
CULTIVANDO PEIXES ORGÂNICOS

REPRODUÇÃO
Posso usar peixes exóticos em uma piscicultura orgânica?

Pode. Porém, quando houver a possibilidade do cultivo de espécies nativas e


exóticas o aquicultor orgânico dará preferência às primeiras.

De onde obter reprodutores para realizar a produção de alevinos orgânicos?

O plantel de reprodutores deve ser proveniente de empreendimentos


orgânicos. Quando comprovada a indisponibilidade de reprodutores orgânicos
poderão ser adquiridos peixes provenientes de sistema convencional ou de
ambiente natural, contanto que sejam mantidos num sistema de produção
orgânico durante os três meses que precedem a sua utilização para
reprodução.

Reprodutores que não estejam sob manejo orgânico podem ser


comercializados como orgânicos?

Não. Porém, seus alevinos e juvenis podem ser orgânicas se os mesmos forem
cultivados sob esse sistema.

Pode haver mistura entre alevinos orgânicos e não orgânicos nos sistemas de
cultivos?

Sim, isso é possível desde que 90% da biomassa introduzida no sistema de


produção seja orgânica.

O que é proibido na reprodução de peixes orgânicos?

• O uso de hormônios em qualquer etapa do processo produtivo;


• Poliplóides;
• Organismos geneticamente modificados (OGM);
• Organismos sexualmente revertidos;
• Organismos obtidos através de gimnogênese; e
• Populações artificialmente esterilizadas;
• Comercializar como orgânicos peixes provenientes de descarte de
planteis de reprodutores, mesmo que oriundos de unidades orgânicas.

74
Quais cuidados devem ser tomados na fase de reprodução de peixes
orgânicos?

Devem ser utilizados métodos naturais de reprodução, que interfiram


minimamente no comportamento natural da espécie cultivada. Na
impossibilidade do uso de métodos de reprodução natural serão permitidos
métodos não orgânicos cabendo a OAC ou OCS estabelecer prazos para o
desenvolvimento da tecnologia para seu atendimento.

INSTALAÇÕES DE CULTIVO

Quais são os cuidados gerais que precisam ser respeitados em


relação às instalações de cultivo?

• As fazendas de cultivo devem adotar medidas de prevenção para evitar


a contaminação por fontes externas e produtos que estejam em
desacordo com as normas orgânicas;
• A unidade de produção orgânica deverá ter seu perímetro delimitado;
• Na confecção de estruturas para o cultivo dos organismos aquáticos, os
materiais utilizados deverão preferencialmente ser naturais, reciclados,
reutilizados ou livres de resíduos de substâncias não permitidas para uso
em sistemas orgânicos de produção;
• Os sistemas produtivos deverão ser projetados preferencialmente com
tanques de decantação, filtros biológicos ou mecânicos para remover os
resíduos e melhorar a qualidade dos efluentes;
• Todas as instalações deverão garantir boas condições de criação e
impedir a fuga dos organismos aquáticos para o meio ambiente.

Quais os cuidados devo ter em relação aos viveiros de cultivo?

Os cuidados são os mesmos recomendados para uma piscicultura


convencional. Por exemplo, os viveiros devem passar por revisão e manutenção
periódicas. Os taludes devem estar recobertos com vegetação adequada,
preferencialmente nativa, para fins de controle de erosão.

Quais os cuidados devo ter em relação ás instalações relacionadas aos resíduos


gerados durante os cultivos?

As instalações de armazenagem e manipulação de resíduos deverão ser


projetadas, implantadas e operadas de maneira a evitar a contaminação das
águas subterrâneas e superficiais.

75
MANEJO

Quais são as exigências legais para a aquisição de peixes


orgânicos?

1) A aquisição de organismos aquáticos para início, reposição ou


ampliação da produção aquícola deverá ser comunicada
antecipadamente à instituição certificadora;
2) Quando for necessário introduzir organismos aquáticos no sistema de
produção, estes deverão ser provenientes de sistemas orgânicos;
3) No caso de indisponibilidade de organismos aquáticos provenientes de
sistemas orgânicos, poderão ser adquiridos organismos aquáticos de
unidades de produção convencionais, preferencialmente em fase de
conversão para o sistema orgânico, desde que previamente aprovado
pelo OAC ou pela OCS, e respeitado o período de conversão previsto.

Existem densidades máximas pré-estabelecidas para povoamento das


estruturas de cultivo?

Na grande maioria das vezes, não. Nesses casos, os OAC ou OCS deverão
estipular densidades máximas a serem praticadas em função das
características de cada espécie (tamanho, peso, hábitos), observando o bem-
estar e o comportamento natural da espécie e a ainda a disponibilidade de
alimento.

É necessário monitorar a qualidade da água durante os cultivos?

Sim. As normas orgânicas indicam que devem ser monitorados e controlados os


parâmetros físicos, químicos e biológicos da água, tanto na entrada como na
saída.

Preciso registrar o que acontece na propriedade?

Sim. Todo o processo produtivo precisa ser devidamente registrado. A unidade


de produção orgânica deverá possuir registros de procedimentos de todas as
operações envolvidas na produção. Todos os registros deverão ser mantidos por
um período mínimo de 5 (cinco) anos.

76
Posso usar fertilizantes para aumentar a produção de alimentos naturais no
viveiro?

Somente é permitida a utilização de fertilizantes, corretivos e inoculantes que


sejam constituídos por substâncias autorizadas (vide Tabela 3) e de acordo com
a necessidade de uso prevista no Plano de Manejo Orgânico.

Tabela 3. Relação de substâncias e produtos autorizados para uso em fertilização e correção de


solos em sistemas orgânicos de produção aquícola.

Condições adicionais para as


Substâncias e substâncias e produtos obtidos
Condições Gerais
Produtos de sistemas de produção não
orgânicos.
Definição da quantidade a
ser utilizada em função do
Composto orgânico, Desde que os limites máximos de
manejo e da fertilidade do
vermicomposto e contaminantes não ultrapassem
solo tendo como referência
outros resíduos os estabelecidos;
os parâmetros técnicos de
orgânicos de origem Permitido somente com a
recomendações regionais,
vegetal e animal autorização do OAC ou da OCS.
de forma a evitar possíveis
impactos ambientais.
Permitido somente com a
autorização do OAC ou da OCS;
Permitidos desde que
Proibido aplicação nas
compostados e bioestabilizados;
partes aéreas comestíveis
O produto oriundo de sistemas
quando utilizado como
de criação com o uso intensivo
adubação de cobertura;
de alimentos e produtos
Permitidos desde que seu
veterinários proibidos pela
uso e manejo não causem
legislação de orgânicos só será
danos à saúde e ao meio
permitido quando na região não
Excrementos de ambiente;
existir alternativa disponível,
animais Definição da quantidade a
desde que os limites de
ser utilizada em função do
contaminantes não ultrapassem
manejo e da fertilidade do
os estabelecidos no Anexo V. O
solo tendo como referência
produtor deverá adotar
os parâmetros técnicos de
estratégias que visem à
recomendações regionais
eliminação deste tipo de insumo
de forma a evitar possíveis
num prazo máximo de cinco
impactos ambientais.
anos a partir da publicação
desta Instrução Normativa
Interministerial.
Adubos verdes - -
Permitidos desde que a matéria-
prima não contenha produtos
Biofertilizantes Permitidos desde que seu
não permitidos pela
obtidos de uso e manejo não causem
regulamentação da agricultura
componentes de danos à saúde e ao meio
orgânica.
origem vegetal ambiente.
Permitido somente com a
autorização do OAC ou da OCS.
Permitidos desde que seu Permitidos desde que a matéria-
Biofertilizantes
uso e manejo não causem prima não contenha produtos
obtidos de
danos à saúde e ao meio não permitidos pela

77
Condições adicionais para as
Substâncias e substâncias e produtos obtidos
Condições Gerais
Produtos de sistemas de produção não
orgânicos.
componentes de ambiente; regulamentação da agricultura
origem animal Permitidos desde que orgânica;
bioestabilizados; Permitido somente com a
O uso em partes comestíveis autorização do OAC ou da OCS.
das plantas está
condicionado à
autorização
pelo OAC ou pela OCS.
Permitidos desde que
bioestabilizados;
Produtos derivados O uso em partes comestíveis
Restrição para contaminação
da aquicultura e das plantas está
química e biológica.
pesca condicionado à
autorização pelo OAC ou
pela OCS.
Permitidos desde que seu
uso e manejo não causem Permitidos desde que os limites
danos à saúde e ao meio máximos de contaminantes não
ambiente; ultrapassem os estabelecidos na
Permitidos desde que legislação;
Resíduos de bioestabilizados; Permitido somente com a
biodigestores e de O uso em partes comestíveis autorização do OAC ou da OCS;
lagoas de das plantas está O produtor deverá adotar
decantação e condicionado à estratégias que visem à
fermentação autorização pelo OAC ou eliminação deste tipo de insumo
pela OCS; num prazo máximo de cinco
Este item não se aplica a anos a partir da publicação
resíduos de biodigestores e desta Instrução Normativa
lagos que recebam Interministerial.
excrementos humanos.
Desde que não sejam
geneticamente modificados ou
Inoculantes,
originários de organismos
microrganismos e -
geneticamente modificados;
enzimas
Desde que não causem danos à
saúde e ao ambiente.
Desde que os teores de metais
Pós de rocha - pesados não ultrapassem os
níveis máximos regulamentados.
Desde que proveniente de
Argilas -
extração legal.
Fosfatos de Rocha,
Hiperfosfatos e - -
Termofosfatos
Desde que obtidos por
procedimentos físicos, não
enriquecidos por processo
Sulfato de potássio e
químico e não tratados
sulfato duplo de -
quimicamente para o aumento
potássio e magnésio
da solubilidade;
Permitido somente com
autorização do OAC ou da OCS

78
Condições adicionais para as
Substâncias e substâncias e produtos obtidos
Condições Gerais
Produtos de sistemas de produção não
orgânicos.
em que estiveram inseridos os
agricultores familiares em venda
direta.
Micronutrientes - -
Carbonatos, óxidos e
hidróxidos de cálcio
- -
e magnésio
(Calcários e cal)
Desde que proveniente de
Turfa -
extração legal.
Preparados
- -
biodinâmicos
Desde que autorizado pelo OAC
Enxofre elementar -
ou pela OCS.
Proibido o uso de radiação;
Permitido desde que sem
Substrato para Permitidos desde que obtido
enriquecimento com fertilizantes
plantas sem causar dano ambiental.
não permitidos nesta Instrução
Normativa Interministerial.
Definição da quantidade a
ser utilizada em função do Proibido o uso de vinhaça
Produtos,
manejo e da fertilidade do amônica;
subprodutos e
solo tendo como referência Permitidos desde que não
resíduos industriais de
os parâmetros técnicos de tratados com produtos não
origem animal e
recomendações regionais permitidos nesta Instrução
vegetal
de forma a evitar possíveis Normativa Interministerial.
impactos ambientais.
Permitidas desde que
Escórias industriais de
- autorizadas pelo OAC ou pela
reação básica
OCS.

A utilização desses insumos deverá ser autorizada especificamente pelo OAC


ou pela OCS, que devem especificar: as matérias-primas e o processo de
obtenção do produto; a quantidade aplicada; e a necessidade de análise
laboratorial em caso de suspeita de contaminação.

Sempre que cabível, devem ser observados os limites máximos de


contaminantes definidos na Tabela 4.

79
Tabela 4. Relação de valores de referência utilizados como limites máximos de contaminantes
admitidos em compostos orgânicos, resíduos de biodigestor, resíduos de lagoa de decantação e
fermentação, e excrementos oriundos de sistema de criação com o uso intenso de alimentos e
produtos obtidos de sistemas não orgânicos.

LIMITE
ELEMENTO (mg kg-1
de matéria seca)
Arsênio 20
Cádmio 0,7
Cobre 70
Níquel 25
Chumbo 45
Zinco 200
Mercúrio 0,4
Cromo (VI) 0,0
Cromo (total) 70
Coliformes Termotolerantes
(número mais provável por grama de matéria 1.000
seca - NMP/g de MS)
Ovos viáveis de helmintos
(número por quatro gramas de sólidos totais - n° 1
em 4g ST)
Ausência em 10 g de matéria
Salmonella sp.
seca

Quais produtos podem ser utilizados como sanitizantes em uma piscicultura


orgânica?

As instalações, os equipamentos e os utensílios devem ser mantidos limpos e


desinfetados adequadamente, utilizando apenas as substâncias permitidas que
constam na Tabela 5.

Tabela 5. Relação de substâncias permitidas para uso na sanitização de estruturas, instalações e


equipamentos utilizados na aquicultura orgânica.

Substância Uso
Ácido Fosfórico Sem especificação de uso.
Na ausência de animais da aquicultura.
Utilizado como herbicida natural, em grandes
Ácido húmico concentrações; em baixas concentrações
funciona como um coadjuvante no processo
de fertilização.
Ácido Nítrico Sem especificação de uso.
Na ausência de animais da aquicultura. Atua
Ácido peroxiacéticos contra um amplo espectro de bactérias e
microrganismos.
Na ausência/presença de animais da
Ácidos peracéticos e peroctanóicos aquicultura. Elimina fungos, vírus e bactérias
em forma vegetativa e/ou esporulada.
Na ausência de animais da aquicultura.
Álcool etílico
Utilizado para desinfecção de utensílios.
Cal Cal e cal virgem.

80
Substância Uso
Na ausência/presença de animais da
Calcário (carbonato de cálcio)
aquicultura. Utilizado para corrigir o pH.
Na presença de animais da aquicultura.
Utilizado como tratamentos profiláticos e
Cloreto de Sódio
para controle de parasitos, fungos e
bactérias.
Extratos Vegetais Sem especificação de uso.
Na ausência de animais da aquicultura.
Utilizado como desinfetante para o
Hipoclorito de cálcio
tratamento da água e higienização de
estruturas.
Na ausência de animais da aquicultura.
Hipoclorito de sódio Utilizado somente para desinfetar
utensílios/apetrechos de pesca.
Iodo Sem especificação de uso.
Na ausência de animais da aquicultura.
Iodóforos
Antisséptico e desinfetante de materiais.
Microrganismos (Biorremediadores) Sem especificação de uso.
Oxidantes Minerais Sem especificação de uso.
Na ausência de animais da aquicultura.
Agente oxidante e antimicrobiano de amplo
Ozônio
espectro, sendo usado principalmente para
o tratamento da água.
Na presença de animais da aquicultura.
Utilizado no controle de bactérias externas,
Permanganato de potássio
alguns protozoários e crustáceos parasitos e
fungos.
Peróxido de Hidrogênio Sem especificação de uso.
Sabões e Detergentes Neutros e
Sem especificação de uso.
Biodegradáveis
Sais Minerais Solúveis Sem especificação de uso.
Soda Cáustica Sem especificação de uso.
Na ausência/presença de animais da
Sulfato tribásico de cobre aquicultura. Utilizado como fungicida ou
fungistático.

Como esses produtos deverão ser utilizados?

• De acordo com o estabelecido no Plano de Manejo Orgânico;


• Aplicados com equipamentos de proteção individual adequados;
• Para produtos comerciais, atendimento ao disposto nas legislações
específicas.

Quais são as exigências legais para a regularização e uso de insumos destinos


à piscicultura orgânica?

• Os insumos com uso regulamentado para a agricultura orgânica


deverão ser objeto de processo de registro diferenciado, que garanta
a simplificação e agilização de sua regularização;
• Os insumos produzidos em sistemas orgânicos de produção poderão
receber certificação orgânica;

81
• O registro diferenciado de produtos fitossanitários com uso aprovado
para a agricultura orgânica somente será concedido àqueles
formulados com as substâncias e práticas elencadas na Tabela 6 e na
Tabela 7;
• Insumos produzidos em conformidade, porém não oriundos de
sistemas orgânicos de produção poderão receber atestação de
aprovação para uso na produção orgânica pelos OAC, respeitada a
legislação específica vigente.

82
Tabela 6. Relação de substâncias e práticas para manejo, controle de pragas e doenças e tratamentos pós-colheita nos sistemas orgânicos de produção.

Substâncias e Descrição, requisitos de composição e Substâncias e Descrição, requisitos de composição e


práticas condições de uso práticas condições de uso
O uso de preparados viróticos, fúngicos ou Desde que autorizado pelo OAC ou pela
Agentes de
bacteriológicos deverá ser autorizado pelo OCS;
controle biológico Óleos vegetais e
OAC ou pela OCS; Desde que isentos de componentes não
de pragas e derivados
É proibida a utilização de organismos autorizados por esta Instrução Normativa
doenças
geneticamente modificados. Interministerial.
Solução em concentração máxima de 1%. Óleos essenciais Sem restrição.
Sulfato de Alumínio Necessidade de autorização pelo OAC ou Uso proibido em pós-colheita
Solventes (álcool e
pela OCS. Necessidade de autorização pelo OAC ou
amoníaco)
Cal hidratada Sem restrição. pela OCS.
Poderão ser utilizados livremente em partes Necessidade de autorização pelo OAC ou
Ácidos naturais
comestíveis os extratos e preparados de pela OCS.
plantas utilizadas na alimentação humana; Silicatos de cálcio Respeitados os limites máximos de metais
O uso do extrato de fumo, piretro, rotenona e magnésio pesados constantes do Anexo V.
e Azadiractina naturais, para uso em Bicarbonato de
Sem restrição.
qualquer parte da planta, deverá ser sódio
Extratos de plantas autorizado pelo OAC ou pela OCS sendo Necessidade de autorização pelo OAC ou
e outros proibido o uso de nicotina pura; Permanganato de
pela OCS.
preparados Extratos de plantas e outros preparados potássio
Uso proibido em pós-colheita.
fitoterápicos fitoterápicos de plantas não utilizadas na Preparados
alimentação humana poderão ser homeopáticos e Sem restrição.
aplicados nas partes comestíveis desde que biodinâmicos
existam estudos e pesquisas que Dióxido de
comprovem que não causam danos à carbono, gás de
saúde humana, aprovados pelo OAC ou nitrogênio
OCS. Necessidade de autorização pelo OAC ou
(atmosfera
Necessidade de autorização OAC ou pela pela OCS.
Álcool etílico modificada) e
OCS. tratamento
Alimentos de térmico
Desde que isentos de componentes não
origem animal e Bentonita Sem restrição.
autorizados para uso orgânico.
vegetal

83
Substâncias e Descrição, requisitos de composição e Substâncias e Descrição, requisitos de composição e
práticas condições de uso práticas condições de uso
Algas marinhas, Bicarbonato de Necessidade de autorização pela OAC ou
Desde que proveniente de extração legal.
farinhas e extratos potássio pela OCS.
Desde que sem tratamento químico.
de algas Uso proibido em pós-colheita
Uso proibido em pós-colheita Óleo mineral Necessidade de autorização pela OAC ou
Cobre nas formas Uso como fungicida. Necessidade de pela OCS.
de hidróxido, autorização pela OAC ou pela OCS, de Uso proibido em pós-colheita
Fosfato de ferro
oxicloreto, sulfato, forma a minimizar o acúmulo de cobre no Uso como moluscicida.
óxido e octanoato. solo. Quantidade máxima a ser aplicada: 6 Termoterapia Sem restrição.
kg de cobre/ha/ano. Dióxido de Cloro Sem restrição.

84
Tabela 7. Substâncias ativas e práticas permitidas para o manejo, controle de pragas e doenças na piscicultura orgânica.

DESCRIÇÃO, REQUISITOS DE COMPOSIÇÃO DESCRIÇÃO, REQUISITOS DE COMPOSIÇÃO


SUBSTÂNCIA SUBSTÂNCIA
E CONDIÇÕES DE USO E CONDIÇÕES DE USO
Desde que o produto formulado tenha Bicarbonato de sódio -
Ácido acético concentração máxima de 8% de ácido Borracha, septo de Somente autorizado para uso como liberador
acético. borracha de feromônio.
Ácido ascórbico - Cal hidratada -
Ácido cítrico - Calcário (calcítico e Desde que isentos de componentes não
Ácido cítrico dolomítico) autorizados.
-
monoidratado Carbonato de sódio -
Ácido fumárico - Carboximetilcelulose -
Ácido láctico - Carboximetilcelulose
-
Necessidade de autorização pelo OAC ou pela sódica
Ácidos naturais
OCS. Caulim -
Desde que isentos de componentes não Caulinita -
Açúcar
autorizados. Cera de abelha -
O uso de preparados viróticos, fúngicos ou Cera de carnaúba -
Agentes de controle
bacteriológicos deverá ser autorizado pelo Somente autorizado para uso na liberação de
biológico de pragas e Cera de parafina
OAC ou pela OCS; é proibida a utilização de feromônio.
doenças
organismos geneticamente modificados. Ceras naturais -
Desde que isentos de componentes não Citrato de sódio -
Água
autorizados. Cloreto de magnésio -
Necessidade de autorização OAC ou pela Cloreto de potássio -
Álcool etílico
OCS. Cloreto de sódio -
Alfaciclodextrina - Uso proibido em pós-despesca. Uso como
Algas marinhas, Cobre nas formas de fungicida.
Desde que proveniente de extração legal.
farinhas e extratos de hidróxido, oxicloreto, Necessidade de autorização pelo OAC ou pela
Desde que sem tratamento químico.
algas sulfato, óxido e OCS, de forma a minimizar o acúmulo de cobre
Aluminosilicato de octanoato na água ou no solo. Quantidade máxima a ser
-
sódio aplicada: 6 kg de cobre/ha/ano.
Desde que isentos de componentes não Dióxido de carbono,
Amido de milho
autorizados. gás de nitrogênio
Bentonita - Necessidade de autorização pelo OAC ou pela
(atmosfera
OCS.
Benzoato de sódio - modificada) e
Bicarbonato de Necessidade de autorização pelo OAC ou pela tratamento térmico
potássio OCS. Dióxido de cloro -

85
DESCRIÇÃO, REQUISITOS DE COMPOSIÇÃO DESCRIÇÃO, REQUISITOS DE COMPOSIÇÃO
SUBSTÂNCIA SUBSTÂNCIA
E CONDIÇÕES DE USO E CONDIÇÕES DE USO
Dióxido de silício Desde que livre de sílica cristalina. Gipsita -
Necessidade de autorização pelo OAC ou pela Glicerina -
Enxofre
OCS. Glicose -
Desde que isentos de componentes não Goma arábica -
Espiga de milho
autorizados. Goma guar -
Desde que naturalmente originadas de Goma xantana -
microrganismos não OGM e não irradiados; Grão de arroz
Espinosinas
Necessidade de autorização pelo OAC ou pela Grão de milheto
OCS. Inteiros, quebrados ou moídos desde que
Grão de milho
Estearato de magnésio - esterilizados e isentos de componentes não
Grão de soja
Etileno - autorizados.
Grão de sorgo
Poderão ser utilizados livremente em partes Grão de trigo
comestíveis os extratos e preparados de Hidróxido de potássio -
plantas utilizadas na alimentação humana, a Hidróxido de sódio -
menos que existam estudos e pesquisas que Hietelose -
comprovem que os mesmos causam danos à Hiprolose -
saúde ou ao meio ambiente. O uso do extrato
Hipromelose -
de fumo, piretro, rotenona e Azadiractina
Somente autorizado para uso como liberador
Extratos de plantas e naturais, para uso em qualquer parte da Látex de borracha
de feromônio.
outros preparados planta, deverá ser autorizado pelo OAC ou
Lecitina -
fitoterápicos pela OCS sendo proibido o uso de nicotina
Lecitina de soja -
pura. Extratos de plantas e outros preparados
fitoterápicos de plantas não utilizadas na Levedura de cerveja -
alimentação humana poderão ser aplicados Maltodextrina -
nas partes comestíveis desde que existam Desde que isentos de componentes não
Melaço
estudos e pesquisas que comprovem que não autorizados.
causam danos à saúde humana ou ao meio Microcápsulas de
ambiente, aprovados pelo OAC ou OCS. políme ros naturais Somente autorizado para uso como liberador
Farinha de arroz (gelatina ou goma de feromônio.
Farinha de milho Desde que isentos de componentes não arábica)
Farinha de soja autorizados. Monoestearato de
-
Farinha de trigo glicerila
Uso proibido em pós-despesca. Uso como Oleato de potássio -
Fosfato de ferro Óleo de mamona -
moluscicida.
Gelatina - Óleo de mamona
-
hidrogenado

86
DESCRIÇÃO, REQUISITOS DE COMPOSIÇÃO DESCRIÇÃO, REQUISITOS DE COMPOSIÇÃO
SUBSTÂNCIA SUBSTÂNCIA
E CONDIÇÕES DE USO E CONDIÇÕES DE USO
Desde que isentos de componentes não Sílica gel -
Óleo de soja
autorizados. Sílica gel precipitada Desde que livre de sílica cristalina.
Óleo de soja Desde que isentos de componentes não Respeitados os limites máximos de metais
Silicatos de cálcio e
degomado autorizados. pesados constantes no Anexo VI desta
magnésio
Óleo de soja Instrução Normativa.
-
hidrogenado Solventes (álcool e Uso proibido em pós-colheita. Necessidade de
Uso proibido em pós-despesca. Necessidade amoníaco) autorização pelo OAC ou pela OCS.
Óleo mineral
de autorização pelo OAC ou pela OCS. Solução em concentração máxima de 1%.
Óleo mineral branco - Sulfato de Alumínio Necessidade de autorização pelo OAC ou pela
Óleos essenciais - OCS.
Desde que autorizado pelo OAC ou pela OCS; Termoterapia -
Óleos vegetais e
desde que isentos de componentes não Necessidade de autorização pelo OAC ou pela
derivados Terras diatomáceas
autorizados neste documento. OCS.
Óxido de cálcio -
Óxido de ferro (III) -
Óxido de magnésio -
Óxido de zinco -
Permanganato de Necessidade de autorização pelo OAC ou pela
potássio OCS. Uso proibido em pós-despesca
Peróxido de hidrogênio -
Respeitados os limites máximos de metais
Pó de Rocha
pesados constantes na Tabela 4
Polietileno -
Polpa cítrica -
Preparados
homeopáticos e -
biodinâmicos
Produtos da
alimentação humana Desde que isentos de componentes não
de origem animal e autorizados.
vegetal
Sabão e detergente
neutros e -
biodegradáveis
Sílica amorfa coloidal Desde que livre de sílica cristalina.

87
NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO
Qual deve ser a origem dos alimentos em uma piscicultura
orgânica?

Os organismos aquáticos devem receber alimentação orgânica proveniente


da própria unidade de produção ou de outra, onde os insumos que compõe a
ração também tenham sido produzidos em sistema orgânico.

O que é permitido na alimentação de peixes orgânicos?

É permitido o uso de probiótico na dieta, desde que composto por


microrganismos que não sejam patogênicos ou geneticamente modificados;
suplementos minerais e vitamínicos naturais que atendam à legislação
específica; e, fertilizantes orgânicos utilizados para disponibilizar nutrientes
naturais no ambiente de cultivo.

A relação de substâncias permitidas para a alimentação de organismos


aquáticos em sistemas orgânicos de produção está descrita na Tabela 8.

O que não é permitido na alimentação de peixes orgânicos?

• O uso de aditivo sintético nas etapas de recria e engorda;


• Uso de pigmentos sintéticos;
• O uso de carcaças, vísceras ou restos de animais terrestres in natura; e
• O uso de dejetos animais na alimentação direta.

O que é permitido apenas ocasionalmente e sob restrições severas na


alimentação de peixes orgânicos?

• O uso de alimentos provenientes de organismos geneticamente


modificados e seus derivados. Esses produtos, além de
quimiossintéticos artificiais e hormônios só serão permitidos quando
não houver similar de fonte natural disponível no mercado;
• O uso de vitaminas, pró-vitaminas e aminoácidos sintéticos só será
permitido para prevenção de doenças carenciais que afetem a
saúde e o bem-estar animal, vedado seu uso para aumento de
produtividade.

Há exceções a essas regras?

Sim. Em casos de escassez ou em condições especiais, de acordo com o Plano


de Manejo Orgânico acordado entre produtor e o OAC ou OCS, será permitida
a utilização de alimentos não orgânicos, na proporção da ingestão diária, de
até 20% (vinte por cento) com base na matéria seca.

88
Outras substâncias, somente poderão ser utilizadas na alimentação animal se
constantes da relação estabelecida na Tabela 9 e estarem previstas no Plano
de Manejo Orgânico do empreendimento

Como alimentar peixes mantidos em tanques de recirculação de água


semifechados?

Nesse caso, será permitido o uso de ração como único componente da dieta:

• Para fins de reprodução e produção de formas jovens;


• Quando da criação de formas jovens;
• Em condições de quarentena; e
• Como tratamento terapêutico e profilático.

89
Tabela 8. Relação de substâncias permitidas para alimentação de organismos aquáticos em sistemas orgânicos de produção.

SUBSTÂNCIAS CONDIÇÕES DE USO SUBSTÂNCIAS CONDIÇÕES DE USO


Resíduos de origem vegetal Microrganismos -
Utilizado como Ácido fórmico Ácido acético
Para uso apenas para
Melaço aglutinante nos Ácido láctico Ácido
ensilagem.
alimentos compostos. propiônico
Algas marinhas devem Utilizados como agentes
Sílica coloidal Diatomita
Farinha de algas ser lavadas a fim de aglutinantes,
Sepiolita Bentonita
reduzir o teor de iodo. antiaglomerantes e
Argilas cauliníticas Vermiculita
Pós e extratos de plantas - coagulantes (aditivos
Perlita
Extratos protéicos vegetais - tecnológicos).
Lactose em pó somente Sulfato de sódio Carbonato de
Leite, produtos e subprodutos lácteos extraída por meio de sódio Bicarbonato de sódio
tratamento físico. Cloreto de sódio
Permitidas para animais Sal não refinado Carbonato de
de hábito onívoro cálcio Lactato de cálcio Permitidos desde que
Peixe, crustáceos e moluscos, seus Gluconato de cálcio Calcário não contenham resíduos
Os produtos e
produtos e subprodutos calcítico contaminantes oriundos
subprodutos não podem
ser refinados. Fosfatos bicálcicos de osso do processo de
O produto não pode ser precipitados Fosfato bicálcico fabricação.
Sal marinho desfluorado
refinado.
Derivadas de matérias- Fosfato monocálcico desfluorado
primas existentes Magnésio anidro
naturalmente nos Sulfato de magnésio
alimentos. Quando de Cloreto de magnésio Carbonato
origem sintética, o de magnésio Carbonato ferroso
Vitaminas e pró-vitaminas Sulfato ferroso mono-hidratado Permitidos desde que
produtor deverá adotar
estratégias que visem à Óxido férrico não contenham resíduos
eliminação do seu uso Iodato de cálcio anidro contaminantes oriundos
até 19 de dezembro de Iodato de cálcio hexa-hidratado do processo de
2013. Iodeto de potássio fabricação.
Desde que de origem Sulfato de cobalto mono ou hepta-
Enzimas hidratado Carbonato básico de
natural.

90
SUBSTÂNCIAS CONDIÇÕES DE USO SUBSTÂNCIAS CONDIÇÕES DE USO
cobalto mono-hidratado Óxido mono ou tetra-hidratado
cúprico Carbonato de zinco
Carbonato básico de cobre mono- Óxido de zinco
hidratado Sulfato de cobre penta- Sulfato de zinco mono ou hepta-
hidratado Carbonato manganoso hidratado Molibdato de amônio
Óxido manganoso e óxido Molibdato de sódio Selenato de sódio
mangânico Sulfato manganoso Selenito de sódio

91
Tabela 9. Relação complementar de substâncias permitidas para a alimentação animal em sistemas orgânicos de produção desde que previstas no Plano de
Manejo Orgânico do empreendimento

SUBSTÂNCIAS CONDIÇÕES DE USO SUBSTÂNCIAS CONDIÇÕES DE USO


Resíduos de origem vegetal - Carbonato de sódio
Melaço - Bicarbonato de sódio
Algas marinhas têm de ser Cloreto de sódio
Farinha de algas lavadas a fim de reduzir o teor
Sal não refinado
de iodo.
Pós e extratos de plantas - Carbonato de cálcio

Extratos proteicos vegetais - Lactato de cálcio Permitidos desde que não


Permitidas para animais de Gluconato de cálcio contenham resíduos
Peixe, crustáceos e moluscos, seus hábito onívoro. Os produtos e contaminantes oriundos do
Calcário calcítico
produtos e subprodutos subprodutos não podem ser processo de fabricação.
Fosfatos bicálcicos de osso
refinados. precipitados
O produto não pode ser Fosfato bicálcico desfluorado
Sal marinho
refinado.
Atendidos os critérios Fosfato monocálcico desfluorado
Vitaminas, pró-vitaminas e
constantes no art. 59 desta Magnésio anidro
aminoácidos
Instrução Normativa. Sulfato de magnésio
Enzimas Desde que de origem natural.
Cloreto de magnésio
Microrganismos -
Carbonato de magnésio
Sílica coloidal
Carbonato ferroso
Diatomita
Sulfato ferroso mono-hidratado Permitidos desde que não
Sepiolita Utilizados como agentes
Óxido férrico contenham resíduos
aglutinantes, anticoagulantes
Bentonita contaminantes oriundos do
e coagulantes (aditivos Iodato de cálcio anidro
Argilas cauliníticas processo de fabricação.
tecnológicos). Iodato de cálcio hexa-hidratado
Vermiculita
Iodeto de potássio
Perlita Sulfato de cobalto mono ou
Sulfato de sódio heptahidratado

92
SUBSTÂNCIAS CONDIÇÕES DE USO SUBSTÂNCIAS CONDIÇÕES DE USO
Carbonato básico de cobalto Carbonato de zinco -
mono-hidratado
Óxido de zinco -
Óxido cúprico -
Sulfato de zinco mono ou hepta-
Carbonato básico de cobre -
- hidratado
mono-hidratado
Molibdato de amônio -
Sulfato de cobre penta-hidratado -
Molibdato de sódio -
Carbonato manganoso -
Selenato de sódio -
Óxido manganoso e óxido
- Selenito de sódio -
mangânico
Sulfato manganoso mono ou
-
tetra-hidratado

93
SANIDADE

Há restrições quanto ao uso de produtos e substâncias


destinadas ao manejo sanitário e ao controle de doenças em peixes orgânicos?

Sim. Os produtos veterinários ou agrícolas deverão atender ao disposto nas


legislações específicas de produção de produtos orgânicos. Somente poderão
ser utilizadas na prevenção e tratamento de enfermidades ou pragas as
substâncias e práticas constantes na Tabela 10 e na Tabela 6.

Além disso, é obrigatório o registro em livro específico, a ser mantido na unidade


de produção, de toda terapêutica utilizada nos organismos aquáticos,
constando, no mínimo, as seguintes informações:

• Data de aplicação;
• Período de tratamento;
• Identificação do lote; e
• Produto utilizado.

O que fazer no caso de doenças ou ferimentos em que o uso das substâncias


permitidas não esteja surtindo efeito e o animal esteja em sofrimento ou risco de
morte?

Nesses casos, excepcionalmente, poderão ser utilizados produtos quimio-


sintéticos artificiais. No entanto, o período de carência a ser respeitado para
que os lotes tratados possam voltar a ter o reconhecimento como orgânicos
deverá ser:

• Duas vezes o período de carência estipulado na bula do produto; e


• Em qualquer caso, de, no mínimo, 96 (noventa e seis) horas;
• A utilização de produtos químio-sintéticos artificiais deverá ser sempre
informada ao OAC ou OCS, no prazo estabelecido por eles, que
avaliarão a pertinência de sua excepcionalidade e justificativa.

Cada lote poderá ser tratado apenas uma vez por ciclo de produção com
medicamentos não permitidos para uso na produção orgânica.

Se houver necessidade de aumentar a frequência dos tratamentos, o lote


deverá ser retirado do sistema orgânico.

Durante o tratamento e durante o período de carência, o lote deverá ser


identificado e alojado em ambiente isolado, obedecendo à densidade
estabelecida por este regulamento para cada espécie animal, sendo que ele
e seus produtos não poderão ser vendidos como orgânicos.

Todas as disposições e exigências para critérios de coleta de amostras,


tratamentos emergenciais, prevenção, controle e erradicação de doenças,

94
assim como a notificação de surtos de doenças devem seguir as normas dos
programas sanitários instituídos pelo órgão competente.

Para reprodutores, o uso dos produtos não permitidos é de, no máximo, três
tratamentos ao longo de toda a vida do animal, sendo, entretanto, proibida a
venda desses organismos aquáticos como orgânicos ou para consumo
alimentar humano ou animal.

Como proceder em relação ao uso de vacinas?

Ainda não existe legislação específica que regulamente o uso de vacinas na


piscicultura (convencional ou orgânica) mas, quando e se existir, o produtor
orgânico é obrigado a atender as determinações legais quanto à aplicação de
vacinas e a realização de exames determinados pela legislação de sanidade
aquícola.

Ainda assim, o uso de produtos provenientes de organismos geneticamente


modificados só é permitido justamente no caso de vacinas obrigatórias.

Quais substâncias podem ser empregadas na prevenção e tratamento de


enfermidades dos organismos orgânicos?

Fundamentalmente, aquelas indicadas na Tabela 6, na Tabela 7 e na Tabela 10


(a seguir). Embora não sejam destinadas exclusivamente à piscicultura
orgânica, mas à produção orgânica em geral, essas são as substâncias aceitas.

Tabela 10. Relação de substâncias permitidas na prevenção e tratamento de enfermidades dos


organismos orgânicos.

Substância
Enzimas
Vitaminas
Aminoácidos naturais
Própolis
Microrganismos
Preparados homeopáticos
Fitoterápicos
Extratos vegetais
Minerais
Veículos (proibido os sintéticos)
Sabões e detergentes neutros e biodegradáveis

95
BEM-ESTAR

Qual é a importância do bem-estar animal na piscicultura


orgânica?

Os sistemas orgânicos de produção aquícola devem ser planejados de forma


que sejam produtivos e respeitem as necessidades e o bem-estar dos peixes
cultivados.

Quais são os princípios que precisam ser respeitados para se garantir o bem-
estar dos peixes cultivados?

• Dar preferência por organismos de espécies já adaptadas às condições


climáticas e ao tipo do manejo empregado na região onde o
empreendimento está instalado;
• Manter os organismos aquáticos livres de fome e desnutrição, conforme
níveis de exigência de cada espécie (liberdade nutricional);
• Mantê-los livres de feridas e enfermidades (liberdade sanitária);
• Criar condições para que os organismos aquáticos tenham liberdade
para expressar os comportamentos naturais da espécie (liberdade de
comportamento);
• Criar condições para que eles estejam livres de fatores estressantes
(liberdade psicológica);
• Criar condições para que tenham liberdade de movimentos em
instalações que sejam adequadas à sua espécie (liberdade ambiental).

É possível, de fato, atingir todos esses requerimentos em relação ao bem-estar


dos peixes?

Dificilmente, mas o piscicultor orgânico precisa desenvolver suas atividades de


modo a criar condições estruturais e operacionais para que isso ocorra e buscar
o atendimento dos princípios citados acima.

Por exemplo, as instalações devem ser projetadas e todo manejo deve ser
realizado de forma a minimizar o estresse causado aos organismos aquáticos
em cultivo, sendo que qualquer alteração persistente de comportamento
detectada deverá ser objeto de avaliação e possível redefinição pelo OAC e
OCS de procedimentos de manejo e densidades dos organismos sob cultivo.

Estresse, ferimentos e doenças significam menor rendimento, levam a perdas


financeiras. Portanto, é necessário, tanto para os animais quanto para os
empreendedores que as práticas de manejo sejam voltadas para minimizar o
estresse e as injúrias.

A mesma lógica se aplica em relação à qualidade da água. Os organismos


aquáticos sob cultivo deverão ser mantidos em unidades de produção nas
quais os parâmetros físicos, químicos e biológicos da água e solo sejam mantidos

96
em níveis atendam às suas necessidades de conforto, pois isso garantirá a
produção de peixes em plenas condições fisiológicas, saudáveis, bem como a
redução de perdas.

Em que casos e condições é permitido o uso de anestésicos na piscicultura


orgânica?

Sempre que for necessária a redução do sofrimento do organismo aquático em


procedimentos essenciais ao manejo, será permitido o uso de sedativos ou
anestésicos aprovados pela OAC e OCS, inclusive no caso de abate de
organismos que necessitem ser sacrificados.

A lei permite a remoção de predadores e competidores das instalações de


cultivo?

Sim. Medidas de prevenção e remoção de predadores e competidores


poderão ser adotadas nas instalações de cultivo desde que não causem injúrias
aos mesmos.

TRANSPORTE, PRÉ-ABATE E ABATE DE PEIXES


ORGÂNICOS
O que é preciso ser respeitado em relação ao transporte, pré-abate e o abate
de peixes?

Alguns procedimentos deverão ser realizados na fase pré e pós-cultivo,


envolvendo inclusive organismos aquáticos doentes ou que serão descartados:

• O respeito aos princípios de bem-estar dos organismos aquáticos já


comentados;
• A minimização de processos dolorosos;
• A aplicação de procedimentos de abate humanitário;
• O atendimento à legislação específica de transporte, pré-abate e abate
de peixes;
• Nas exposições e aglomerações, nos mercados e outros locais de venda
deverão ser atendidos os princípios de bem-estar de cada organismo
aquático vivo, atendendo legislação específica.

97
PROCESSAMENTO
O processamento de peixes orgânicos possui suas regras
próprias?

Em termos. O processamento de produtos orgânicos tem, sim, regras próprias,


mas também deverá obedecer igualmente à legislação específica para cada
tipo de produto não orgânico correspondente.

É obrigatório o uso de boas práticas de manuseio e processamento de produtos


orgânicos?

Sim. Isso é importante para manter a integridade orgânica dos produtos.

Há necessidade de se registrar as atividades realizadas durante o


processamento dos peixes orgânicos?

Sim. A unidade de produção deverá manter registros atualizados que


descrevam a manutenção da qualidade dos produtos orgânicos durante o
processamento e assegurem a rastreabilidade de ingredientes, matéria-prima,
embalagens e do produto final.

É possível processar produtos orgânicos e não orgânicos juntos?

Não. O processamento dos produtos orgânicos deverá ser realizado de forma


separada dos não orgânicos, em áreas fisicamente separadas ou, quando na
mesma área, em momentos distintos.

No processamento de produtos orgânicos e não orgânicos na mesma área, será


exigida uma descrição do processo de produção, do processamento e do
armazenamento.

O que fazer para evitar a contaminação por produtos não orgânicos durante o
processamento?

Higienizar previamente os equipamentos e instalações utilizados, que deverão


estar livres de resíduos de produtos não orgânicos.

Quais produtos poderão ser utilizados na higienização de equipamentos e das


instalações utilizadas para o processamento de produtos orgânicos?

Todos aqueles indicados na Tabela 11.

98
Tabela 11. Produtos permitidos para higienização de instalações e equipamentos empregados no
processamento de produto orgânico.

PRODUTOS* PRODUTOS*
Água Hidróxido de Sódio (Soda Cáustica)
Vapor Peróxido de hidrogênio
Hipoclorito de sódio em solução Carbonato de sódio
aquosa Extratos vegetais ou essências naturais
Hidróxido de cálcio (Cal hidratada) de plantas
Óxido de cálcio (Cal virgem) Microrganismos (Biorremediadores)
Ácido cítrico Sabões (potassa, soda)
Ácido acético Detergentes Biodegradáveis
Ácido lático Sais Minerais Solúveis
Ácido Peracético Oxidantes Minerais
Álcool etílico Iodóforo e soluções à base de iodo
Permanganato de potássio
* Os produtos de que trata este anexo deverão ser utilizados de acordo com as boas práticas de
manuseio e processamento descritos nos registros da unidade de produção orgânica.

É possível utilizar ingredientes não orgânicos em produtos orgânicos


processados?

Não. Os ingredientes utilizados no processamento de produtos orgânicos


deverão ser provenientes de produção oriunda do Sistema Brasileiro de
Avaliação da Conformidade Orgânica.

Porém, em caso de indisponibilidade de ingredientes agropecuários obtidos em


sistemas orgânicos de produção, poderá ser utilizada matéria-prima de origem
não orgânica em quantidade não superior a 5% (cinco por cento) em peso.

É permitida a utilização do mesmo ingrediente de origem orgânica e não


orgânica em um determinado produto processado?

Não. Essa prática não é permitida.

É permitido o uso de organismos geneticamente modificados no processamento


de peixes orgânicos?

Não. Seu uso ou o uso de produtos em cujo processo de obtenção aqueles


organismos tenham sido utilizados é proibido.

O uso de água potável e sal é permitido no preparo de alimentos orgânicos


processados?

Sim. Tanto o emprego de água potável, quanto de cloreto de sódio (NaCl) e


cloreto de potássio (KCl) serão permitidos sem restrições, porém, as quantidades
utilizadas e não devem ser incluídas no cálculo do percentual de ingredientes
orgânicos do produto.

99
É possível defumar alimentos orgânicos?

Sim. Porém, a defumação deverá ser realizada mediante a utilização de


madeiras obtidas de manejo sustentável ou fonte renovável e que não
produzam substâncias tóxicas durante o processo de combustão.

No processamento de produto orgânico será permitido o uso dos aditivos e


coadjuvantes?

Sim. Os Aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia listados na Tabela


12 e na

Tabela 13 poderão ser utilizados no produto orgânico desde que estejam


autorizados para o respectivo produto não orgânico pela legislação específica
do órgão competente da Saúde ou da Agricultura.

Tabela 12. Sistema Internacional de Numeração de Aditivos Alimentares (INS) e respectivos


aditivos alimentares de tecnologia permitidos no processamento de produtos de origem vegetal
e animal orgânicos.

CONDIÇÕES CONDIÇÕES
INS NOME INS NOME
DE USO DE USO
400 Ácido algínico - Cera de abelha
Ácido ascórbico 901 (branca e -
300 -
(L-) amarela)
330 Ácido cítrico - 331 Citrato trissódico,
-
Ácido láctico (L-, iii citrato de sódio
270 -
D- y DL-) 509 Cloreto de cálcio -
406 Ágar - Cloreto de
511 -
401 Alginato de sódio - magnésio
Somente os Cloreto de
Aromatizantes 508 -
naturais potássio
503 Carbonato de Somente os
-
i amônio Corantes naturais (não
170 Carbonato de sintéticos)
-
i cálcio Dióxido de
290 -
Carbonato de carbono
504 magnésio, Dióxido de silício,
- 551 -
i carbonato básico sílica
de magnésio Somente os
501 Carbonato de Edulcorantes naturais (não
-
i potássio sintéticos)
500 Carbonato de 428 Gelatina -
-
i sódio Goma arábica,
414 -
Carragena (inclui goma acácia
a furcelarana e 412 Goma guar -
407 seus sais de sódio - Goma garrofina,
e potássio), goma caroba,
410 -
musgo irlandês goma alfarroba,
goma jataí

100
CONDIÇÕES CONDIÇÕES
INS NOME INS NOME
DE USO DE USO
415 Goma xantana - 322 Lecitinas -
Hidróxido de Pectina, pectina
526 - 440 -
cálcio amidada
Hidróxido de 516 Sulfato de cálcio -
524 -
sódio

Tabela 13. Coadjuvantes de tecnologia permitidos no processamento de produtos de origem


vegetal e animal orgânicos.

NOME
Ácido tartárico
Albumina de ovo
Álcool etílico
Bentonita
Caolin
Cera de carnaúba
Culturas de microrganismos
Ictiocola, cola de peixe
Nitrogênio
Oxigênio
Perlita
Terra diatomácea

Quanto de aditivos alimentares e de coadjuvantes de tecnologia podem ser


utilizados no processamento de peixes orgânicos?

O uso autorizado desses produtos está limitado à quantidade necessária para


atender às Boas Práticas de Fabricação, em quantidade suficiente para obter
o efeito tecnológico desejado (q.s.p ou quantum satis), salvo nos casos em que
houver limite máximo estabelecido.

Podem ser utilizados métodos de higienização de ingredientes e produtos


durante o processamento de produtos orgânicos?

Sim. Os produtos listados na Tabela 14 podem ser utilizados para esse fim.

Tabela 14. Produtos de limpeza e desinfecção permitidos para uso em contato om os alimentos
orgânicos.

LIMITAÇÕES LIMITAÇÕES
PRODUTO PRODUTO
DE USO DE USO
Ácido Acético - Óxido de Cálcio (cal
-
Álcool Etílico (etanol) - virgem)
Álcool Isopropílico Oxicloreto de
- Cloretos de cálcio
(isopropanol) cálcio e
(oxicloreto de cálcio,
Hidróxido de Cálcio cloreto de
- cloreto de cálcio e
(cal hidratada) cálcio são
hidróxido de cálcio).
Hipoclorito de Cálcio - permitidos

101
LIMITAÇÕES LIMITAÇÕES
PRODUTO PRODUTO
DE USO DE USO
desde que Essências Naturais de
-
não haja Plantas
substitutos. Ácido Oxálico -
Permitido Ozônio -
desde que Ácido Peracético -
Dióxido de Cloro
não haja Extratos Vegetais -
substitutos. Sabão Potássico -
Ácido Cítrico - Carbonato de Sódio -
Dicloro -S- Hidróxido de Sódio
- Sem restrição.
Triazinatriona de Sódio (soda cáustica)
Ácido Fórmico - Como
Peróxido de Hipoclorito de Sódio alvejante
Hidrogênio (água - líquido.
oxigenada) Sabão Sódico -
Ácido Lático -

ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE

Como deverão ser acondicionados os produtos durante o


armazenamento e o transporte?

Devidamente identificados, assegurando sua separação dos produtos não


orgânicos.

Como se deve promover o controle de pragas em estruturas e áreas físicas de


processamento, armazenamento e transporte de produtos orgânicos?

Além de se observar a legislação específica, deverão ser adotadas as seguintes


medidas para o controle de pragas, preferencialmente nessa ordem:

1) Eliminação do abrigo de pragas e do acesso das mesmas às instalações,


mediante o uso de equipamentos e instalações adequadas;

2) Uso dos seguintes métodos mecânicos, físicos e biológicos:


• som;
• ultrassom;
• luz;
• repelentes à base de vegetal;
• armadilhas (de feromônios, mecânicas, cromáticas); e
• ratoeiras;

102
3) Uso de substâncias autorizadas pela regulamentação da produção
orgânica.

O que é proibido em relação ao tema?

É proibida a aplicação de produtos químicos sintéticos nas instalações de


processamento, armazenamento e transporte de produtos orgânicos.

RÓTULOS
Quem normatiza os rótulos de produtos alimentícios no Brasil?

É a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Quais informações são obrigatórias em qualquer rótulo de alimentos, sejam eles


orgânicos ou não orgânicos?

• Designação de venda: Este item define o que é o produto de acordo


com estudo técnico da legislação brasileira. Ou seja, se o produto é
peixe, carne, bolacha, ovo etc.;
• Lista de ingredientes: Os ingredientes devem aparecer em ordem
decrescente. Ou seja, primeiro, vêm os que aparecem em maior
quantidade;
• Origem: Deve ser indicado o local onde o produto foi fabricado, com
o nome da empresa e o endereço de fabricação;
• Lote e prazo de validade: Quando o prazo é inferior a três meses,
devem constar o dia, o mês e o ano. Para períodos maiores, apenas o
mês e o ano;
• Conteúdo líquido: Vem expresso em massa (gramas ou quilogramas).
Alguns casos requerem que seja informada a massa do conteúdo
drenado para que o consumidor entenda o que é produto e o que é
embalagem;
• Informação nutricional obrigatória: A tabela nutricional deve constar
em qualquer alimento. É a partir dela que o cliente sabe quais
componentes vai consumir;
• Informação nutricional complementar: Descreve os atributos dos
alimentos, podendo indicar, por exemplo, teor reduzido de açúcares,
gordura ou algum nutriente, produtos diet e light, ou mesmo alimentos
ricos em determinada substância;
• Alergênicos: Informa a presença de componentes que costumam
causar alguma reação alérgica aos consumidores, como glúten,
peixes, crustáceos (frutos do mar), soja, trigo, amendoim, ovo, leite e
oleaginosas (amêndoas, castanhas, nozes);

103
• Lactose: A partir de 2019, os produtos devem ter informações sobre
lactose. Eles devem se encaixar em uma das três categorias:
 “Zero lactose”, “sem lactose” ou “não contém lactose”:
quantidades menores que 100 mg por 100 g de produto (0,1% de
concentração);
 “Baixo teor de lactose” ou “baixo em lactose”: entre 100 mg e 1 g
por 100 g de produto (0,1% a 1% de concentração);
 “Contém lactose”: acima de 1 g por 100 g de produto (1% de
concentração).

Quais são as informações obrigatórias na rotulagem nutricional?

• Valor energético;
• Carboidratos;
• Proteínas;
• Gorduras totais;
• Gorduras saturadas;
• Gorduras trans;
• Fibra alimentar;
• Sódio.

Que informações precisarão conter os rótulos dos produtos orgânicos


comercializados diretamente aos consumidores?

Além de atender aos regulamentos técnicos vigentes específicos, os produtos


inseridos no Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica
deverão obedecer às determinações para rotulagem de produtos orgânicos e
conter o selo deste Sistema.

Somente poderão utilizar o selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da


Conformidade Orgânica os produtos comercializados diretamente aos
consumidores que tenham sido verificados por organismo de avaliação da
conformidade credenciado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento.

Nestes casos no ponto de comercialização ou no rótulo dos produtos, poderá


constar a seguinte expressão: “produto orgânico não sujeito à certificação nos
termos da Lei no 10.831, de 23 de dezembro de 2003”.

Que informações precisam constar na rotulagem de produtos comercializados


no mercado interno?

Além das exigências de rotulagem contidas nas legislações específicas para os


diferentes produtos alimentares, os rótulos dos produtos orgânicos para o
mercado interno deverão conter informações sobre a unidade de produção
constando, no mínimo, o nome ou nome empresarial, endereço e o número do
CNPJ ou CPF.

104
Os produtos orgânicos e os produtos com ingredientes orgânicos, que atendam
o estabelecido no inciso II, do art. 120, da IN19/09 MAPA, serão identificados
pelo selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica. O selo,
deverá estar na parte frontal do produto e logo abaixo dele deverá haver a
identificação do sistema de avaliação da conformidade orgânica utilizado.

O selo do Organismo de Avaliação da Conformidade Orgânica poderá ser


utilizado concomitantemente com o do Sistema Brasileiro de Avaliação da
Conformidade Orgânica.

A informação da qualidade orgânica nos rótulos deverá se dar na parte frontal


do produto e será identificada pelo uso dos termos: "Orgânico", "Produto
Orgânico", "Produto com Ingredientes Orgânicos" ou suas variações de gênero
(masculino ou feminino) e número (singular ou plural) gramaticais. Os termos
previstos poderão ser complementados pelos termos Ecológico, Biodinâmico,
da Agricultura Natural, Regenerativo, Biológico, Agroecológico, Permacultura e
Extrativismo Sustentável Orgânico e outros que atendam os princípios
estabelecidos pela regulamentação da produção orgânica.

Quais são as regras para identificar produtos que contenham ingredientes,


incluindo aditivos, que não sejam orgânicos?

Há três casos previstos na legislação:

1) Produtos contendo 95% ou mais de ingredientes orgânicos, deverão ser


identificados os ingredientes não orgânicos e poderão utilizar o termo
"Orgânico" ou "Produto Orgânico";

2) Em produtos com 70% a 95% de ingredientes orgânicos, os rótulos


deverão identificar esses ingredientes orgânicos e apresentar os dizeres:
"Produto com Ingredientes Orgânicos"; e

3) Os produtos com menos de 70% de ingredientes orgânicos não poderão


ter nenhuma expressão relativa à qualidade orgânica.

Observação: Água e sal adicionados não devem ser incluídos no cálculo do


percentual de ingredientes orgânicos.

MERCADO E COMERCIALIZAÇÃO
Como se indica que o produto que está sendo comercializado
é orgânico?

105
A informação da qualidade orgânica pode se dar por meio da Declaração de
Transação Comercial, da rotulagem dos produtos, por material de publicidade
e propaganda e por dizeres expostos nos locais de comercialização.

Os produtos e os pontos de comercialização podem conter ou utilizar marcas


ou outras formas de identificação referentes à organização responsável pelo
controle social da qualidade orgânica?

Sim. É desejável que isso aconteça.

Produtos orgânicos e não orgânicos poderão ser vendidos juntos?

Não. Os produtos orgânicos deverão ser protegidos continuadamente para que


não se misturem com produtos não orgânicos e não tenham contato com
materiais e substâncias cujo uso não esteja autorizado para a produção
orgânica.

Por isso, os produtos orgânicos passíveis de contaminação por contato ou que


não possam ser diferenciados visualmente devem ser identificados e mantidos
em local separado dos demais produtos não orgânicos.

No comércio varejista, os produtos orgânicos passíveis de contaminação por


contato ou que não possam ser diferenciados visualmente dos similares não
orgânicos devem ser mantidos em espaço delimitado e identificado, ocupado
unicamente por produtos orgânicos.

Como identificar produtos orgânicos comercializados a granel?

Todos os produtos orgânicos comercializados a granel devem trazer a


identificação do seu fornecedor no respectivo espaço de exposição.

Os produtos orgânicos não certificados, comercializados diretamente entre


agricultores familiares e consumidores finais poderão utilizar o selo do Sistema
Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica?

Não. Entretanto, o produtor poderá incluir na rotulagem, quando existir, ou no


ponto de comercialização a expressão: "Produto orgânico para venda direta
por agricultores familiares organizados, não sujeito à certificação, de acordo
com a Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003".

Quais são as regras para a venda direta de produtos orgânicos aos


consumidores?

106
1) No momento da venda direta de produtos orgânicos aos consumidores,
os agricultores familiares deverão manter disponível a Declaração de
Cadastro de Produtor Vinculado à OCS emitida pelo órgão fiscalizador.

2) Não poderão ser comercializados como orgânicos, no mercado interno,


os produtos destinados à exportação em que o atendimento de
exigências do país de destino ou do importador implique a utilização de
produtos ou processos proibidos na regulamentação brasileira.

3) Além de atender aos regulamentos técnicos vigentes específicos para o


produto que está sendo rotulado, os produtos inseridos no Sistema
Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica deverão obedecer
às determinações para rotulagem de produtos orgânicos e conter o selo
deste Sistema.

4) Somente poderão utilizar o selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da


Conformidade Orgânica os produtos comercializados diretamente aos
consumidores que tenham sido verificados por organismo de avaliação
da conformidade credenciado junto ao Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento.

5) É proibido, na publicidade e propaganda de produtos que não sejam


produzidos em sistemas orgânicos de produção, o uso de expressões,
títulos, marcas, gravuras ou qualquer outro modo de informação capaz
de induzir o consumidor a erro quanto à garantia da qualidade orgânica
dos produtos.

Que regras deverão ser respeitadas quando da venda entre agricultores


familiares e consumidores finais?

Os produtos orgânicos não certificados comercializados diretamente entre


agricultores familiares e consumidores finais devem ser identificados de forma
que permitam associar o produto ao agricultor responsável pela sua produção
e este à Organização de Controle Social a que está ligado.

Quais regras devem ser respeitadas por restaurantes, hotéis e lanchonetes que
oferecem produtos orgânicos aos seus clientes?

Os restaurantes, hotéis, lanchonetes e similares que anunciarem em seus


cardápios refeições preparadas com ingredientes orgânicos deverão: 1)
manter, à disposição dos consumidores, lista atualizada dos itens orgânicos
ofertados, dos itens que possuem ingredientes orgânicos e de seus fornecedores
de produtos orgânicos; e 2) apresentar, quando solicitado pelos órgãos
fiscalizadores, informações sobre seus fornecedores de produtos orgânicos, as
quantidades adquiridas e as quantidades comercializadas de produtos
orgânicos.

107
Quais regras afetam a importação de produtos orgânicos?

1) A entrada no país, de produtos orgânicos importados, só será autorizada


se a garantia do produto for realizada pelo OAC credenciado no MAPA
ou se o país de origem já possuir um acordo de equivalência de seu
sistema de avaliação da conformidade com o Sistema Brasileiro de
Avaliação da Conformidade Orgânica.

2) Perderão a condição de orgânicos os produtos importados que forem


submetidos a tratamento quarentenário não compatível com a
regulamentação da produção orgânica brasileira.

108
109
PARTE 5

110
DESAFIOS PARA A PRODUÇÃO DE
PEIXES ORGÂNICOS

111
Apresentação da parte 5

A regulamentação dos produtos orgânicos (Lei 10.831) foi


fruto de um longo processo de discussão envolvendo a
sociedade civil, o setor privado e as instituições públicas.
Por isso, é considerada um grande divisor de águas para o
setor.

Atualmente, há mais de 180 países com produção


orgânica, e pouco menos da metade (89 países), possuem
regulamentação própria. Grande parte destes países que
contam com regulamentação própria já possuem um
Acordo de Equivalência, o que permite que produtos neles
produzidos possam ser comercializados em outros países,
sem que haja barreiras técnicas impeditivas aos pequenos
produtores e, principalmente, sem a necessidade onerosa
de recertificar o produto quando de sua venda no
mercado alvo.

Por um lado, temos um setor de agronegócios muito forte


e desenvolvido. Somos o principal mercado exportador de
grãos, carnes e commodities em geral. Por outro, ainda
engatinhamos na produção de alimentos orgânicos e, de
modo ainda mais específico, de peixes orgânicos.

Produzir peixes orgânicos exige tanto ou até mais


conhecimentos que os exigidos na piscicultura
convencional. O custo de produção de peixes orgânicos,
por exemplo, tende a ser maior que o de peixes não
orgânicos. As dificuldades e os desafios a serem
enfrentados durante o processo produtivo também.

Nessa última parte do livro, iremos abordar, ainda que


resumidamente, alguns dos principais desafios que
precisarão ser encarados por aqueles que pretendem
investir na piscicultura orgânica.

São desafios zootécnicos, de manejo do processo


produtivo e sanitários. Isso que não tratamos aqui dos
desafios financeiros, de securitização de safra, de
infraestrura e logística, entre outros que são comuns a
todos aqueles que ainda ousam a produzir neste
complexo país continental chamado Brasil.

112
PRINCIPAIS DESAFIOS PARA A VIABILIZAÇÃO
DA PISCICULTURA ORGÂNICA

Quais são os principais desafios zootécnicos na produção de


peixes orgânicos?

Aumentar a eficiência reprodutiva; otimizar o processo de nutrição de


reprodutores e estágios pós-larvais de peixes; aumentar as taxas de
crescimento, melhorar a conversão alimentar. Isso tudo passa por 21:

• Compreender melhor os fatores fisiológicos determinantes para o


aumento das taxas de crescimento dos peixes;
• Encontrar fontes alternativas de ingredientes para a produção de rações
orgânicas em larga escala, principalmente, mas não exclusivamente, no
caso de peixes carnívoros;
• Avançar na compreensão da genética funcional associada ao
crescimento, desenvolvimento e nutrição das espécies cultivadas em
sistemas orgânicos;
• Melhorar as formulações de dietas afim de alcançar melhor desempenho
reprodutivo;
• Estabelecer os requerimentos de dietas ideais em aminoácidos e
suplementos dietéticos que possam ser formuladas sem o uso de
aminoácidos sintéticos;
• Desenvolver probióticos;
• Realizar estudos para determinação da biodisponibilidade de nutrientes
em sementes orgânicas;
• Compreender melhor o papel dos microrganismos no processo
nutricional de peixes, uma vez que já se sabe que a microflora intestinal
afeta a digestibilidade, a absorção de nutrientes e também a excreção
dos peixes;
• Identificar mecanismos pelos quais os nutrientes afetam ou são afetados
pelos genes que determinam o crescimento muscular dos peixes;
• Aumentar os conhecimentos sobre nutrição, estratégias e funções
celulares que podem afetar a fisiologia reprodutiva dos animais;
• Desenvolver modelos para estudar a nutrição e o crescimento dos peixes,
além da influência desses fatores sobre a composição e qualidade da
carne.

Quais são os principais desafios em relação ao manejo de peixes orgânicos?

O principal desafio pode ser classificado como "conceitual". Peixes orgânicos


são originalmente cultivados em mais baixas densidades. Quanto menor a
densidade, menor a biomassa total produzida. No caso de orgânicos, há um
outro problema, apesar da menor densidade, os ciclos de produção tendem a

113
ser mais longos, o que pode comprometer a viabilidade econômica do
negócio. A minimização desses problemas passa por:

• Otimizar as estratégias de alimentação e de uso de rações;


• Avaliar o desempenho de novas formulações de dietas orgânicas;
• Um melhor manejo das condições biológicas (manejo do fitoplâncton,
zooplâncton e de macrófitas) nos sistemas de cultivo;
• Desenvolvimento de materiais melhor adaptados ao cultivo orgânico;
• Controlar processos fisiológicos que regulam o comportamento alimentar
e o apetite (fatores hipotalâmicos);
• Melhorar a palatabilidade, qualidade e disponibilidade de nutrientes nas
rações, além de buscar a inativação de fatores antinutricionais;
• Melhorar a compreensão das necessidades fisiológicas e
comportamentais dos animais;
• Utilizar mais e melhor os policultivos;
• Otimizar o desempenho reprodutivo, o crescimento, a retenção de
nutrientes na carcaça e a qualidade final do produto.

Além disso, a produção de peixes orgânicos exige a minimização de impactos


ambientais, pois esse é um dos principais destaques deste regime de produção.
A adequada utilização dos recursos naturais passa por:

• Promoção de enriquecimento ambiental e, ao mesmo tempo, realizar o


controle dos nutrientes liberados através dos efluentes, especialmente
fósforo e nitrogênio;
• Compreensão e respeito aos limites máximos de arraçoamento;
• Controle de escape de peixes cultivados, independentemente de se
tratarem de espécies exóticas ou nativas;
• Avaliação da biomassa máxima sustentável para cada sistema de
cultivo;
• Uso restrito de químicos e controle da qualidade de água;
• Uso de microrganismos para melhorar a qualidade da água;
• Definição criteriosa dos locais a serem utilizados para o cultivo de peixes
orgânicos;
• Controle de predadores usando exclusivamente métodos não letais;
• Uso exclusivo de alevinos e juvenis orgânicos certificados;
• Adoção de melhores práticas de manejo e de códigos de conduta
responsáveis.

Quais são os principais desafios em relação à sanidade de peixes orgânicos?

Os principais desafios estão relacionados à melhoria do sistema imunológico dos


peixes cultivados e a formas de se evitar a propagação de doenças, o que
passa por:

• Uso de linhagens nativas ou adaptadas regionalmente;


• Desenvolvimento de vacinas, probióticos, prebióticos e simbióticos;

114
• Tratamentos à base de plantas incorporados aos alimentos;
• Formulação de dieta orgânicas desenvolvidas para melhorar a sanidade
dos peixes;
• Avançar na compreensão dos efeitos dos nutrientes presentes na dieta
no sistema imunológico dos peixes;
• Pesquisas sobre novas terapias e imunoestimulantes (dosagens, vias de
administração e duração dos tratamentos).

Existem outros desafios que precisam ser enfrentados ou pelo menos


conhecidos pelos piscicultores orgânicos?

Sim. Entre os principais, que não foram tratados anteriormente, destacamos:

• Os custos ainda elevados de certificação;


• A necessidade de investimentos em pesquisas e políticas públicas
(principalmente de extensão rural) para que as técnicas de produção
evoluam e que essa evolução chegue até quem produz;
• Melhorias nas práticas e técnicas produtivas;
• Necessidade de redução dos custos de produção;
• Necessidade de capacitação da mão-de-obra para a produção
orgânica;
• Melhor estruturação do mercado de alimentos orgânicos;
• Necessidade de investimentos em propaganda e marketing;
• Busca por alterativas para a melhoria da qualidade dos produtos
beneficiados e processados (por exemplo, alternativas orgânicas para
tratamento da melanose);
• Desenvolvimento de uma cadeia industrial orgânica de peixes.

115
116
BIBLIOGRAFIA CITADA

1 WILCOX, C. Mythbusting 101: organic farming> conventional agriculture.


Scientific American Blog. July, v. 18, 2011.

2 IFOAM. Organic Basics. 2019. Disponível em: <


https://www.ifoam.bio/en/our-library/organic-basics >. Acesso em:
13/10/2019.

3 FORMAN, J.; SILVERSTEIN, J. Organic foods: health and environmental


advantages and disadvantages. Pediatrics, v. 130, n. 5, p. e1406-e1415,
2012. ISSN 0031-4005.

4 AAP. Is it Important to Feed Kids Organic Food? , 2012. Disponível em: <
https://www.aap.org/en-us/about-the-aap/aap-press-room/news-
features-and-safety-tips/Documents/Organic_Food_2012.pdf >. Acesso
em: 13/10/2019.

5 GILLMAN, J. The Truth About Organic Gardening: Benefits, Drawnbacks,


and the Bottom Line. Timber press, 2008. ISBN 1604690054.

6 LEHNARDT, K. 50 Interesting Organic Food Facts. 2017. Disponível em: <


https://www.factretriever.com/organic-food-facts >. Acesso em:
12/12/2019.

7 DA ROSA COUTO, R. et al. Health risk assessment and soil and plant heavy
metal and bromine contents in field plots after ten years of organic and
mineral fertilization. Ecotoxicology and environmental safety, v. 153, p.
142-150, 2018. ISSN 0147-6513.

8 RÖÖS, E. et al. Risks and opportunities of increasing yields in organic


farming. A review. Agronomy for sustainable development, v. 38, n. 2, p.
14, 2018. ISSN 1774-0746.

9 DE MIRANDA, B. R. et al. Astrocyte-specific DJ-1 overexpression protects


against rotenone-induced neurotoxicity in a rat model of Parkinson's
disease. Neurobiology of disease, v. 115, p. 101-114, 2018. ISSN 0969-9961.

117
10 DE SOUZA, E. L. et al. Resíduos contaminates no solo e suas
consequeências. Revista Gestão & Sustentabilidade Ambiental, v. 7, n. 2,
p. 484-509, 2018. ISSN 2238-8753.

11 BOYLES, S. Organic Food for Kids: Worth the Price? WebMD, 2012
Disponível em: < https://www.webmd.com/parenting/news/20121023/organic-
food-kids#1 >. Acesso em: 1/10/2019.

12 WELSH, J. A. et al. Production-related contaminants (pesticides,


antibiotics and hormones) in organic and conventionally produced milk
samples sold in the USA. Public health nutrition, p. 1-9, 2019. ISSN 1368-
9800.

13 VICINI, J. et al. Survey of retail milk composition as affected by label claims


regarding farm-management practices. Journal of the American Dietetic
Association, v. 108, n. 7, p. 1198-1203, 2008. ISSN 0002-8223.

14 GIVENS, I. et al. Health benefits of organic food: effects of the environment.


Wallingford, UK: CABI Publishing, 2009. ISBN 1845934601.

15 KURNIAWATI, F.; SETYANTO, P.; CAHYANI, V. The dynamics of methane


(CH4) emissions in organic and conventional paddy fields on Alfisols and
Andisols at Karanganyar Regency, Indonesia. IOP Conference Series:
Earth and Environmental Science: IOP Publishing, 2018. 012026 p.

16 PELLETIER, N.; TYEDMERS, P. Feeding farmed salmon: Is organic better?


Aquaculture, v. 272, n. 1-4, p. 399-416, 2007. ISSN 0044-8486.

17 FERREIRA, L. B. Atributos químicos e frações granulométricas da matéria


orgânica do solo sob sistemas de cultivo de cebola. 2018.

18 MENEZES, S. S. Atributos físicos do solo em sistemas orgânicos de produção


na região do agreste baiano. 2018.

19 XIE, B. et al. Organic aquaculture in China: a review from a global


perspective. Aquaculture, v. 414, p. 243-253, 2013. ISSN 0044-8486.

20 HASHEM, S. et al. Motives for buying local, organic food through English
box schemes. British Food Journal, v. 120, n. 7, p. 1600-1614, 2018. ISSN
0007-070X.

118
21 MENTE, E. et al. Nutrition in organic aquaculture: an inquiry and a
discourse. Aquaculture Nutrition, v. 17, n. 4, p. e798-e817, 2011. ISSN 1353-
5773.

22 WANG, X.; BOYS, K.; HOOKER, N. H. Organic innovation: The growing


importance of private label products in the United States. In: (Ed.). Case
Studies in Food Retailing and Distribution: Elsevier, 2019. p.137-158.

23 CEDERBERG, C.; MATTSSON, B. Life cycle assessment of milk production—


a comparison of conventional and organic farming. Journal of Cleaner
production, v. 8, n. 1, p. 49-60, 2000. ISSN 0959-6526.

24 THOMASSEN, M. A. et al. Life cycle assessment of conventional and


organic milk production in the Netherlands. Agricultural systems, v. 96, n.
1-3, p. 95-107, 2008. ISSN 0308-521X.

25 KNUDSEN, M. T. et al. The importance of including soil carbon changes,


ecotoxicity and biodiversity impacts in environmental life cycle
assessments of organic and conventional milk in Western Europe. Journal
of cleaner production, v. 215, p. 433-443, 2019. ISSN 0959-6526.

26 EBKE, M.; SUNDRUM, A. Problems and challenges with the certification of


organic pigs. Organic livestock farming: potential and limitations of
husbandry practice to secure animal health and welfare and food quality,
p. 193, 2004.

27 LIMA, O. O. Gestão de riscos na agricultura orgânica. 2019. Disponível


em: < http://planetaorganico.com.br/site/index.php/gestao-de-riscos-
na-agricultura-organica/ >. Acesso em: 17/10/2019.

28 MAPA. Mecanismos de controle para a garantia da qualidade orgânica.


Bras´lia: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),
2008. Disponível em: < http://aao.org.br/aao/pdfs/processo-de-
certificacao/mecanismos-de-controle.pdf >.

119
120

Você também pode gostar