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SAÚDE
254 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8241-071-4
CDD 636.089
SUMÁRIO
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2.1 ESTÍMULOS E RESPOSTAS FISIOLÓGICAS .........................................................................32
5 SENCIÊNCIA ANIMAL..............................................................................................................61
5.1 CONSCIÊNCIA E PENSAMENTOS CONSCIENTES ...............................................................61
6 A LEGISLAÇÃO E A SENCIÊNCIA..........................................................................................74
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................248
1 INTRODUÇÃO AO BEM-ESTAR ANIMAL
E o que pode ser novidade para muitos é que isso pode ser mensurado!
A definição de bem-estar leva a muitas implicações:
BEM-ESTAR é uma característica de um animal, mais que isto, uma condição, não
somente algo que se refere a este
BEM-ESTAR poderá variar de uma condição tida como - muito pobre a muito bom, o
que significa que um indivíduo pode estar em uma situação pobre de bem-estar ou em um bom
estado num outro momento;
BEM-ESTAR pode ser medido por meios científicos, independentemente de
considerações morais;
Medidas de falha e medidas do quanto é difícil para um animal superar determinados
problemas, podem ambas gerar dados sobre o quão pobre seja este BEM-ESTAR;
O conhecimento das preferências de um animal frequentemente gera informações
valiosas sobre quais condições acabam por resultar em um bom nível de BEM-ESTAR, mas
mensurações diretas do estado do animal, podem em muitos casos serem usadas em
observações e verificações quanto a este bem-estar ou condições que levem a esta e melhorá-
las;
Os animais podem se utilizar de uma variedade de meios quando tentam lidar com
situações. Há várias consequências quando da falha em se lidar com estas situações, e uma
série de medidas podem indicar se o BEM-ESTAR é pobre, como o crescimento, o qual, quando
normal, não significa que o bem-estar seja bom.
A relação entre o homem e os outros animais deve ser vista como uma relação natural,
podendo estar baseada em exploração e predação e em outros, em simbiose e
complementação.
A ideia central da ciência chamada Bem-estar Animal, (BEA) procura conhecer, avaliar
e garantir as condições para satisfação das necessidades básicas dos animais que passam a
viver, por diferentes motivos, sob o domínio do homem. Existe ainda uma discussão, na verdade
uma confusão quanto a BEA, que é uma ciência; Direito dos Animais, que é um movimento
baseado em conceitos filosóficos em que se busca garantir aos animais o direito de não
sofrerem e Protecionismo Animal, que também representa um movimento, onde atuam
indivíduos e comunidades ligados ou não a entidades que representem estes interesses, muitas
vezes solucionam ou buscam resolver problemas de animais isoladamente, ou de pequenos
grupos destes, que seja. A defesa destas ideias é representada por grupos, associações
entidades, ONGs, sendo que alguns grupos e atuações podem ser mais enfáticos e até mesmo
radicais que outros.
a) Os animais devem sentir-se bem, por exemplo, não serem submetidos ao medo, à
dor ou estados desagradáveis de forma intensa ou prolongada;
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c) Os animais devem levar vidas naturais por meio do desenvolvimento e do uso de
suas adaptações naturais.
Como qualquer outra ciência, o BEA não deve ser conduzido por morais éticas até a
sua aplicação. Já o Direito dos Animais é um movimento que parte do princípio de que sob o
domínio dos homens os animais tendem a passar por sofrimento. Como qualquer outro
movimento, é embasado pela emoção e por conceitos mais subjetivos. Apesar de terem origens
conceituais bem diferentes, pode-se afirmar que BEA e Direitos dos Animais são matérias
complementares. Independente dos meios usados, os resultados mensurados pela ciência do
bem-estar e as ideias defendidas pelo movimento de defesa dos direitos dos animais visam um
objetivo em comum: a garantia da qualidade de vida dos “animais não homens”, que, em
diferentes níveis, se relacionam com o “animal homem”. O Protecionismo Animal representa uma
ação prática, executada por membros comuns da sociedade, mas com objetivos comuns ao BEA
e aos Direitos dos Animais.
As pesquisas realizadas de BEM-ESTAR ANIMAL funcionam como base para
definição de leis, acordos, entre outros, que garantam o cumprimento e o respeito aos direitos
dos animais de terem sua qualidade de vida assegurada. Por outro lado, os argumentos mais
emotivos e filosóficos utilizados pelo movimento de defesa dos direitos dos animais podem
ajudar a ciência a avaliar questões subjetivas com as quais pode se deparar, na conclusão de
um processo, no momento em que o cientista/pesquisador deve avaliar a ética de uma situação
antes de tomar decisões sobre a aplicação do seu estudo, ou mesmo, na geração de novas leis
para amparar todas estas circunstâncias. 10
O profissional médico veterinário de atuação nas áreas da saúde e/ou serviço público,
em muitas situações pode se ver acuado diante da necessidade de resguardo da saúde pública
em detrimento a toda a discussão atual quanto ao recolhimento de animais abandonados e
ermos, encaminhamento aos canis municipais ou CCZs e o destino destes a eutanásia em
muitos dos municípios brasileiros. O controle populacional animal, a esterilização, o registro
animal, a posse responsável, a educação em saúde objetivando-a, bem como a eutanásia são
amplamente discutidas, em especial em regiões onde ainda se faz mister o aclaramento dos
direitos dos animais, as posturas sociais frente a sua responsabilidade junto aos mesmos e as
legislações sejam municipais, estaduais e federais atualmente existentes e passíveis de sua
aplicação imediata.
Mas sem dúvida, o BEM-ESTAR ANIMAL vem ganhando âmbito devido ao seu
impacto na sociedade e comunidade de modo geral, não se trata de um conceito ou de assunto
recente, no entanto, com o avanço da conscientização ecossocial, a manutenção das condições
gerais de vida e saúde dos animais é um tópico bastante em evidência, junto à proteção animal.
Ressalva-se que a legislação vigente no país não é igualmente nova e tem sido
agregada de conceitos e parâmetros que definem mais claramente, não só o que se entende por
condições de vida e saúde adequadas e desejadas para os diferentes grupos de animais –
sejam estes da fauna, de companhia, ou de produção e trabalho. Não somente os parâmetros
ficaram mais claros, mas as penas imputadas, multas e outros, também ganharam corpo.
Por sua vez, os profissionais, da área veterinária, são importantes mediadores neste
processo, para tanto a informação e formação mais fundamentada do médico veterinário quanto
a bem-estar e proteção animal. Além dos aspectos legais relacionados, são essenciais.
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Considera-se ainda o fato de que, uma vez relacionado o problema ao âmbito veterinário, sem
dúvida podem ser evidenciados assuntos éticos.
Bem-estar Animal
Pode ser conceituado ainda como ciência, relacionado a fatores
como estresse, necessidades e sentimentos dos animais.
O conceito oficial de bem-estar animal foi citado pela primeira vez em 1965 pelo
Comitê Brambell, um grupo denominado pelo Ministério da Agricultura da Inglaterra para avaliar
as condições em que animais eram mantidos no sistema de criação intensiva. De acordo com
este comitê, BEA é um termo abrangente que diz respeito tanto ao bem-estar físico e mental do
animal. Portanto, qualquer tentativa de avaliar o bem-estar de um animal deve considerar as
evidências científicas geradas pelos sentimentos decorrentes tanto de aspectos e índices
fisiológicos como comportamentais. A partir da década de 70 este conceito vem sendo ampliado
de forma a englobar os animais de modo geral.
BEA é uma ciência em que se procura analisar a situação sob o ponto de vista do
animal, e não mais sob o ponto de vista somente do homem, uma vez que bem-estar, também é
um termo aplicado aos humanos. Bem-estar deve ser definido de forma que permita pronta
relação com outros conceitos, tais como: necessidades, liberdades, felicidade, adaptação,
controle, capacidade de previsão, sentimentos, sofrimento, dor, ansiedade, medo, tédio, estresse
e saúde. E são três os conceitos principais, que permeiam todos os estudos de bem-estar com
os animais:
a) Sentimentos/comportamentos;
b) Funções biológicas relações fisiológicas;
c) Características de vida natural.
A avaliação do bem-estar deve ser separada de considerações éticas, esta irá gerar as 15
informações necessárias para que decisões éticas possam ser tomadas sobre uma dada
situação.
Outros.
Teste de esquiva;
Teste de preferência;
Medidas de comportamento e funções fisiológicas.
Estes avaliam o comportamento do animal. É uma MENSURAÇÃO/MEDIDA DE
COMPORTAMENTOS como indicadores DIRETOS de bem-estar.
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Os testes de esquiva tendem a mostram os graus mais pobres de bem-estar, por estar
fortemente associado a rejeição. Já os níveis mais ELEVADOS de bem-estar são melhores
demonstrados pelas preferências positivas do animal em relação a um objeto ou situação,
medidos pelos TESTES DE PREFERÊNCIA.
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RESUMINDO:
Importante considerar:
- Há variações de capacidade individuais no enfrentamento de situações;
- As necessidades e sentimentos dos animais;
- Fatores de estresse;
- Outras medidas, como a força da motivação de um animal em relação a uma
situação;
- Os parâmetros fisiológicos e comportamentais podem indicar alterações devido às
tentativas de enfretamento a situação pelo animal, ou em alguns casos podem ser patológicas,
consequentemente dificultando seu enfrentamento da situação, ou impedindo seu sucesso;
- Parâmetros fisiológicos são tidos como mais precários e menos envidenciadores do
real bem-estar do animal que os parâmetros comportamentais, mas também são considerados,
desde que as alterações não sejam pré-patológicas ou patológicas. Exemplos destes
parâmetros: aumento de frequência cardíaca, atividade adrenal, atividade adrenal após desafio
com hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), outros. 22
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- Tecido muscular;
- Tecido nervoso;
- Tecido epitelial;
- Tecido conjuntivo.
Os diferentes tecidos organizados formam um conjunto de órgãos essenciais a função
regular do animal. Tanto ao nível molecular e celular, como tecidual e orgânico, diferentes
fatores podem afetar esta inter-relação e consequentemente a homeostasia, mesmo as mais
essenciais ao funcionamento fisiológico normal:
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- Alostase: alteração em UMA variável fisiológica que desencadeia outra alteração. Ex.:
caranguejo azul – muda o pH sanguíneo aumentando a saturação de O2.
Exemplos de Efetores de feedback:
- Hipófise - tem como uma das principais ações estimularem as glândulas suprarrenais.
- Este arco formado pelo hipotálamo, hipófise e córtex da adrenal é essencial para a
sobrevivência e fundamental nos processos de adaptação, pois quando um animal é submetido
a constantes elevações nos níveis plasmáticos de cortisol, os mecanismos de homeostase são
alterados e o estresse crônico poderá se desenvolver.
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- Os níveis de cortisol podem ser monitorados por meio do plasma, saliva ou urina.
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A resposta imune tem papel fundamental na defesa contra
agentes infecciosos e se constitui no principal impedimento para a
ocorrência de infecções disseminadas, habitualmente associadas
com alto índice de mortalidade. É também conhecido o fato de que,
para a quase totalidade das doenças infecciosas, o número de
indivíduos expostos à infecção é bem superior ao dos que
apresentam doença, indicando que a maioria das pessoas/animais tem condições de destruir
esses micro-organismos e impedir a progressão da infecção. Em contraste, as deficiências
imunológicas, sejam da imunidade inata (disfunções de células fagocíticas e deficiência de
complemento) ou da imunidade adaptativa (deficiência de produção de anticorpos ou deficiência
da função de células T e B), são fortemente associadas com aumento de susceptibilidade a
infecções, estas podem ser originadas por uma baixa na defesa imune, devido às condições de
BEA pobres ou indesejáveis.
Embora a resposta imune seja fundamental para a defesa contra a maioria de agentes
infectantes, têm sido acumuladas nos últimos anos evidências de que em muitas doenças
infecciosas os principais aspectos patológicos não estão relacionados com uma ação direta do
agente agressor, mas sim com uma resposta imune anormal. Atividades do próprio patógeno,
condições de variação do bem-estar, fatores estressores podem determinar um favorecimento no
aumento da incidência de enfermidades por estímulos negativos e consequente
imunossupressão.
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Neutrófilos:
Possuem vida curta tanto no sangue como nos tecidos neutrófilos só são encontrados
nos tecidos inflamados defendem principalmente contra as bactérias extracelulares.
Macrófagos:
Esta sequência dá origem a modificações celulares que culminam com a produção dos
ANTICORPOS pelas células B estimuladas e modificadas (que passam a chamar-se 43
PLASMÓCITOS). Os PLASMÓCITOS (células B estimuladas e diferenciadas em resposta ao
Ag) secretam pequenas moléculas específicas CONTRA O AGENTE AGRESSOR =
ANTICORPOS. Esta RESPOSTA, que leva a produção dos Ac é chamada de RESPOSTA
HUMORAL.
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A resposta mediada pelas células T é extremamente efetiva no mecanismo de defesa
contra agentes intracelulares, como vírus, protozoários, fungos e bactérias intracelulares. As
células T podem exercer sua função por meio da citotoxicidade mediada por células CD8+ ou
por meio da secreção de citocinas que vão ativar macrófagos para destruir os agentes
intracelulares.
Se de um lado já eram conhecidas as células e os mediadores envolvidos nas defesas
dos humanos, só recentemente foi documentado o fato de que a população de células TCD4+ (T
helper) é heterogênea, sendo constituída de duas subpopulações: as células Th1 e Th2. Essa 46
observação tem contribuído bastante para o entendimento da imunopatogênese da maioria das
doenças infecciosas.
É fundamental o entendimento de que tanto a resposta Th1 como a resposta Th2 são
importantes na defesa do hospedeiro contra as infecções. A resposta Th1 está relacionada com
a defesa contra protozoários, bactérias intracelulares e vírus, enquanto a resposta Th2 é mais
efetiva contra os helmintos e bactérias extracelulares.
3.2 BREVE REVISÃO DO SISTEMA IMUNE – COMPONENTES
Uma proteína, produzida pelos linfócitos B, que reage com um Sinônimo de anticorpo.
antígeno específico; também denominado imunoglobulina.
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Qualquer molécula capaz de estimular uma resposta imune. Um tipo de citocina que
influencia uma série de
células.
Célula: Leucócito:
A menor unidade viva dos tecidos, composta por um núcleo e um Um glóbulo branco. Os
citoplasma linfócitos e os neutrófilos,
envolta por uma membrana. O núcleo contém DNA e o citoplasma entre outros, não leucócitos.
contém estruturas (organelas) que realizam as funções celulares.
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Quimiotaxia: Linfócito:
Um processo de atração e recrutamento das células no qual uma A principal célula do sistema
célula desloca-se em direção a uma concentração mais elevada de linfático, subcategorizada
determinada substância química. como linfócitos B
(que produzem anticorpos) e
linfócitos T (que ajudam o
corpo a diferenciar entre o
que lhe é próprio do que não
o é).
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Grupo de proteínas que ajuda a atacar antígenos. Grande célula que engloba
(ingere) micróbios depois
deles terem sido marcados
para serem destruídos pelo
sistema imune.
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Citocinas: Complexo de
histocompatibilidade
Proteínas solúveis, secretadas por células do sistema imune, que principal (MHC, major
funcionam como mensageiros para ajudar na regulação de uma histocompatibility complex):
resposta imune.
Grupo de moléculas
importantes por auxiliar o
organismo a diferenciar o
que lhe é próprio do que não
o é.
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Endocitose: Molécula:
Processo por meio do qual a célula fagocita (ingere) certos Um grupo (agregação) de
antígenos. átomos quimicamente
combinados para formar
uma substância química
única.
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Receptor: Proteína:
4.1 A ETOLOGIA
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Mas foi no Século XX que a Etologia nasce como Biologia do Comportamento que,
depois da teoria dos Tropismos de Loeb (1918), começam a perfilar duas grandes correntes; a
de Watson ou Behaviorismo baseada nas teorias de Ivan Pavlov e do Reflexo Condicionado, e a
Concepção Vitalista criada pelo Austríaco e Prêmio Nobel da Medicina de 1973; Konrad Lorenz,
criador do conceito imprinting.
Os padrões ontogênicos são a base de uma linha de estudo do comportamento
animal. Esta corrente baseia-se no estudo de muitos atos instintivos e no desenvolvimento de
padrões ontogênicos ou dos comportamentos inatos.
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Quando o homem domestica o cão sobrepõe à Seleção Natural uma Seleção Artificial
estereotipada, tendo como consequência uma ausência quase total de instintos básicos:
proteção (o homem assegura-lhe essa necessidade), conservação (não precisa procurar
recursos, pois os têm em quantidade) e procriação (não necessita de lutar pela cópula). Sendo
assim, inevitavelmente serão colocadas perguntas sempre polêmicas: serão os nossos cães os
melhores? Os mais adaptados? Que aconteceria se os integrássemos numa matilha de cães
livres? Acaso os campeões seriam os mais aptos? Não há dúvida que a polêmica seria muita e
cheia de argumentos.
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Por quê?
Esta pergunta pode ser respondida por meio de diversos pontos de vista todos eles
lógicos e todos corretos.
Por exemplo, por que ladram os cães? Por alguns aspectos, tais como:
Diferente, é o caso do cão que ataca para defender o seu território e o seu dono ou
família. Nesse caso ele obterá benefícios superiores aos custos e isso é adaptação.
- Padrões migratórios;
- Demanda de alimentos;
- Comportamento reprodutivo;
A consciência é uma das áreas de estudos mais difíceis, tanto em humanos quanto em
animais. É difícil descrever pensamentos conscientes em humanos com exatidão. Durante muito
tempo se pensou que ao contrário do que acontecem com os humanos os outros animais não
teriam pensamentos conscientes e preocupações, questões morais em se descoberto que os
animais têm algum grau de moralidade, e que se preocupam não só com os outros animais, mas
também com o homem que vive acerca deste.
Por exemplo, um experimento com primatas mostra certo comportamento de
ALTRUÍSMO. Primatas submetidos a experiências dolorosas e que compreenderam quais os
mecanismos tinham lhe causado a dor, se recusaram a acionar este mesmo mecanismo para
causar dor a outro primata diante deles, e mantiveram esta recusa mesmo quando se recusaram 62
a acionar esse mecanismo indutor de dor nos outros primatas e receberam um estímulo doloroso
como castigo.
Apesar de ser difícil dizer exatamente o que os animais sentem, poucos atualmente
acreditam que os animais são máquinas insensíveis e sem mente. É importante conhecer a
senciência animal e fazer com que seja reconhecida, bem como considerá-la em todas as áreas
onde estejam envolvidos animais.
O termo vulgarmente usado "animal de consumo" designa um animal criado e usado
com fins alimentares, como bovinos, suínos, aves, peixes e outros. Animais de consumo
recebem esta atenção especial por dois motivos:
1) Porque a senciência (e a inteligência) destes animais é ainda desconhecida e tende
a ser mais desconsiderada do que com animais de estimação, por exemplo;
2) Porque em termos numéricos, estes animais são bastante afetados pela atividade
da INDÚSTRIA PECUÁRIA.
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Por exemplo, o filósofo francês René Descartes (1596-1650) deixou uma duradoura
influência com a sua opinião de que os animais eram "máquinas" sem alma. Já a psicologia
do século XX considerava que apenas o
comportamento deveria ser estudado em vez
de qualquer emoção ou raciocínio que possa
estar na base deste. Contudo, muitos 64
cientistas modernos, que estudam o
comportamento animal, acreditam que é
muito claro que animais sentem e pensam e
o seu comportamento é o resultado de
processos conscientes e inteligentes. A razão
disto ser tão importante prende-se ao fato de
haver neste momento cerca de 22 bilhões de
animais em sistemas criatórios e mantidos exploração pecuária (excluindo-se os peixes).
Assim, Comunidade Europeia já há anos procura instituir procedimentos visando
melhorar as condições de criação destes, e isto têm influenciado substancialmente até mesmo
no comércio exterior com estes países, que já não aceitam mais formas de criação e exploração
cruentas e sem considerações no tocante ao BEA.
Poucos são os animais que passam suas vidas, sozinhos. Muitos passam suas vidas
em grupos sociais, é o caso dos animais de consumo, animais de vida selvagem e outros.
Especialistas concluíram que apesar dos milhares de anos de domesticação, estes mantêm
basicamente as mesmas necessidades psicológicas e emocionais e características de seus
antepassados.
Cientistas estudaram e compararam a vida de animais de consumo em condições
naturais, e intensivas de produção pecuária. Ficou claro que os milhares de anos de uso
doméstico, reprodução e criação intensivas não alteraram os seus padrões de comportamento
básicos, exemplo: suínos e as galinhas mantidas em unidades pecuárias podem retomar ao seu
comportamento selvagem sem dificuldade, desde que tenha esta oportunidade. Isto significa que
são animais com delicadas e complexas necessidades psicológicas e de comportamento, que
estão fortemente reprimidos, de tal modo que facilmente retornam a sua natureza quando
tenham oportunidade.
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Ovinos, bovinos, suínos e aves são animais muito sociais para os quais a comunicação
é essencial, de modo que possam manter relações entre pais e suas crias, para transmitirem
informação acerca dos perigos ou acerca dos alimentos, e para expressarem intenções ou
emoções.
As vacas usam diferentes sons para indicar excitação, interesse e prazer (em comer)
ou frustração, ou para recuperarem contato quando estão isoladas. Os porcos são animais
extremamente vocais e as galinhas são capazes de emitir 30 tipos de sons para comunicarem-
se.
Bovinos e outros animais frequentemente expressam suas emoções.
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Girafa com movimentação repetitiva e anormal da língua. Cão com atividade de circular sobre si
mesmo e morder a cauda.
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A dor sentida pelos humanos é definida como uma sensação, às vezes, como uma
emoção. A sensação de dor fisiologicamente é transmitida pelo sistema nervoso. Já a
experiência emocional ou subjetiva da dor e sua intensidade dependem das circunstâncias e do
contexto.
Os animais sentem dor como os humanos? Tantos os mamíferos quanto às aves têm
sistema nervoso semelhante ao dos humanos. O comportamento de um animal com dor varia de
espécie para espécie e de indivíduo para indivíduo (é válido também para os humanos). Um
exemplo seria o comportamento, às vezes, enganador de se atribuir mais ou menos dor por sua
aparência de mais ou menos apelo emocional junto ao próprio homem, como se um cordeirinho,
por seu aspecto cálido e terno, pudesse sentir MAIS ou MENOS dor do que um cão.
Em realidade na natureza os animais evitam manifestar visualmente ou mesmo
sonoramente o sentimento de dor, uma vez que este pode ser interpretado como um sinal de
fraqueza e atrair predadores que poderão atacar o animal.
No entanto, estudos mostram que os receptores de dor são basicamente iguais para o
cavalo, bovinos, ovelhas e humanos.
Os animais de consumo estão sujeitos a dor de maneiras diferentes. Devido a
procedimentos como mutilações incluídas nas práticas de manejo convencionais (amputações
de caudas, bicos, ou castrações muitas vezes sem anestesia) outras são práticas diárias
próprias da indústria pecuária, que vão desde tratamento brusco e violento dos animais, à
criação genética e aceleração do crescimento por meio de hormônios - terminando no transporte
e abate.
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Processo de debicagem, comum em criações aviárias para evitar que as aves selecionem o
alimento.
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Os animais de consumo vivem sob controle humano e é frequente sofrerem com medo
do que os humanos possam lhes causar, sendo que o medo envolve uma sensação muito
desagradável que pode ser uma causa de sofrimento, um processo de ansiedade em alguns
casos, constante.
Em diversas práticas que fazem parte da indústria pecuária é fácil encontrar animais
com medo ou ansiosos, principalmente quando os animais são carregados das unidades de
engorda para os caminhões de transporte, quando a violência é usada para acelerar esta
operação, quando viajam em caminhões desconfortáveis onde a sobrecarga pode ser usada,
quando são descarregados dos caminhões para os matadouros, quando são alinhados e
conduzidos para o abate, a etapa de atordoamento, e quando por fim chegam à linha de abate.
Em qualquer destes momentos o terror e o pânico, mais do que o medo são os sentimentos mais
fortes e evidentes.
Os animais já são considerados pela União Europeia (UE) como seres sencientes, o
que significa que se reconhece juridicamente que um animal:
1) Tem consciência do que o rodeia e do ambiente em que vive e se encontra;
2) Tem consciência das emoções que sente e que são relativas às sensações que 74
vive;
3) Tem capacidade para aprender com as experiências que vive;
4) Tem consciência das sensações que sentem em seu próprio corpo, tais como dor,
calor, fome ou frio;
5) Tem consciência de suas relações com outros animais, incluindo os humanos;
6) Tem a capacidade de distinguir e escolher entre diferentes objetos, animais e
situações, o que mostra que compreende o que acontece em seu ambiente e distingue
indivíduos.
Esta legislação deve ainda ser muito melhorada tanto na UE como no Brasil, mas isto
não basta. Tanto a legislação atual como a que futuramente venha a ser aprovada e a entrar em
vigor têm que ser aplicadas, por meio das autoridades competentes.
A criação intensiva de animais desenvolveu-se devido ao enorme aumento da procura
de carne, ovos e leite baratos, e em grandes quantidades. O mesmo aconteceu com a pesca
intensiva. Em resultado disto, a criação intensiva é o método segundo o qual, a grande maioria
de animais de consumo é obtida nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos. No entanto,
estes sistemas são extremamente invasivos nos aspectos de ética, moral e bem-estar dos
animais.
Atualmente, várias nações têm revisado estes processos, uma vez que os direitos dos
animais, suas capacidades de sentir e manifestar suas emoções têm sido reconhecidos. Assim,
é cada vez mais frequente que países onde a legislação vigente inclua sistemas de criação
animal que procurem ferir o mínimo as condições de BEA, imponham a centros exportadores
determinados padrões para que o comércio exterior não seja afetado. Estas sociedades acabam
estabelecendo exigências de bem-estar determinadas de acordo com as características e
necessidades naturais destes animais para regular a atividade da indústria pecuária que produz
alimentos de origem animal.
Ainda, a pressão da comunidade científica e de organizações europeias de proteção
dos animais, têm resultado em alguns passos em direção ao reconhecimento e proteção da
senciência animal na União Europeia (EU). Cabe aos cientistas brasileiros e as organizações e
instituições brasileiras, bem como de proteção animal desenvolver cada vez mais aqui este tipo
de trabalho. Algumas leis da União Europeia determinam que:
a) A amputação de leitões seja ilegal na UE;
b) A UE está quase iniciando o processo de estabelecimento de juntas diretivas para
regular o bem-estar dos centros avicultores em geral; 75
c) O Parlamento Europeu votou a favor de um máximo de 8 horas o tempo de
transporte de longa distância de animais vivos para abate;
d) As celas para porcas gestantes estarão proibidas na UE a partir de 2013;
e) O corte de bicos de galinhas poedeiras será proibido a partir de 2011;
f) A todos os porcos deverá ser dado material manipulável suficiente (exemplo - palha)
que lhes permita ter um comportamento mais próximo do natural;
g) As baias de confinamento para vitela serão ilegais na UE a partir de janeiro de 2007;
h) Os animais são reconhecidos como seres sencientes no Tratado Europeu de 1997.
Esta evolução legislativa é ainda muito pequena, se considerarmos a imensidão da
indústria pecuária e a maneira como os sistemas e práticas de manejo mais convencionais
afetam aos animais de consumo.
Existem alternativas aos sistemas de criação intensiva que tomam em muito maior
consideração a senciência dos animais de consumo e que devem ser cada vez mais promovidas
e disciplinadas para que se desenvolvam ainda mais de acordo as necessidades e
características naturais destes animais. Muitas entidades e instituições europeias defendem que
a agricultura europeia e mundial devem favorecer exclusivamente os sistemas de criação
extensiva e biológica de animais, por serem menos cruéis e invasivos para estes.
A conscientização da população tem levado aos consumidores exigirem alimentos
animais produzidos de acordo com elevadas regras de bem-estar animal o que tem pressionado
às empresas pecuárias a tratarem os animais que exploram de maneira menos cruel,
considerando muito mais a senciência dos animais de consumo.
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7 AS CINCO LIBERDADES E OS 3 RS
Segundo estes especialistas, o respeito por estas cinco liberdades traria um estado
ideal de bem-estar para os animais:
1) Liberdade de fome e de sede: os animais deveriam ter sempre acesso a água
fresca e uma alimentação adequada às suas necessidades para serem perfeitamente saudáveis
e estarem fisicamente bem;
2) Liberdade do desconforto: os animais devem ter condições de alojamento e
ambientais adequados às suas necessidades e confortáveis de acordo com a suas
características;
3) Liberdade da dor, dos ferimentos e das doenças: os animais devem ter a sua
saúde protegida, quer por uma constante prevenção de doenças, ferimentos e da dor. Por
intermédio de assistência veterinária adequada imediata, uma vez detectado um problema de
saúde nos animais;
4) Liberdade para expressar o comportamento natural: os animais devem ter
espaço que lhes permita expressar o seu comportamento natural, devem ser mantidos em
espaços adequados que favoreçam suas necessidades comportamentais e devem estar na
companhia de membros de sua espécie de acordo com as suas características e necessidades
sociais;
5) Liberdade do medo e da angústia: os animais devem ser mantidos e tratados de 78
modo a evitar que sofram psicológica e emocionalmente.
animais.
3 - Refinamento – alterando protocolos de experiências para
diminuição de dor e sofrimento.
O bem-estar animal pode ser considerado um fator para que passem a empregar
sistemas de criação defensáveis eticamente e aceitáveis socialmente, pois em muitos mercados
as pessoas manifestam que desejam comer carne com “qualidade ética”, isto é, carne de
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animais que foram criados, tratados e abatidos em sistemas que promovam o seu bem-estar, e
que sejam sustentáveis e ambientalmente corretos.
Ausência de bem-estar animal e sofrimento não devem ser confundidos com crueldade
animal. A crueldade animal é deliberada, sádica, inútil e desnecessária causa de dor, sofrimento
e negligência contra animais.
É conhecido o fato de que pessoas cruéis aos animais são também cruéis a outras
pessoas. Assassinos em série, em geral, têm história passada de abuso contra animais, e existe
uma conexão muito próxima entre abuso contra crianças e contra animais.
Uma pretensa sociedade civilizada tem rejeitado cada vez mais a crueldade no
tratamento dos animais. O BEA caminha com outras questões, como a ecologia e o uso de
agrotóxicos, os transgênicos, deste modo o assunto do bem-estar animal vem de “fora para
dentro”, quer dizer, da sociedade para a atividade agrícola.
E tem se tornado cada vez mais presente nas preocupações morais das pessoas
nesse final de milênio. Muitas pessoas sentem que, uma vez que os animais foram
domesticados e estão completamente sob controle do homem, passamos a assumir um
compromisso implícito com a qualidade de vida desses seres.
Nessas condições, o animal não produzia em toda sua potencialidade e o produtor não
obtinha os lucros desejados. Entretanto, com a industrialização da agricultura, intensificada no
período pós 2ª Guerra Mundial, os métodos de produção mudaram radicalmente, com uma
preocupação quase que exclusiva com o desempenho quantitativo dos animais.
Observa-se que entre 1820 e 1920 a produtividade agrícola dobrou, e de 1945 a 1975
esta quintuplicou; continuou a ser intensificada com rendimentos de produção cada vez maiores,
sendo que em 1940 um produtor norte-americano produzia alimento para alimentar 11 pessoas,
já em 1990 produz para 80.
Melhoramento genético;
Nutrição;
Industrialização de processos.
8.3 SISTEMAS DE CRIAÇÃO
1. EXTENSIVO
2. SEMIEXTENSIVO
3. INTENSIVO
Confinamento bovino.
85
Avicultura de corte
Suinocultura.
O confinamento foi o caminho para reduzir trabalho, perda energética dos animais e
ganhar espaço, colocando os animais sob fácil manejo, no entanto, a intensificação dos sistemas
de criação favoreceu ao incremento de uma gama de problemas sanitários, por exemplo, pois o
aumento no número de animais/m2 facilita a transmissão de várias enfermidades e
concomitantemente, agravaram-se, então, os problemas de comportamento e bem-estar animal.
86
Alguns estudos realizados junto a produtores britânicos apontam para estas mudanças.
Os critérios de BEA com fins de produção estão baseados nas Cinco Liberdades, as quais
os produtores têm conhecimento na rotina diária de atividades junto aos animais.
Exemplo de severidade:
87
88
Severidade:
89
- Restrição da liberdade para construir ninho;
Duração:
Número afetado:
Exceto cães e gatos, todos os outros animais em território nacional necessitam do Guia
de Trânsito Animal (GTA) – como controle de transporte interestadual e intermunicipal - para
transitar pelo país, por exemplo, gado, aves etc. As guias para transporte de animais de
produção e outros, bem como informes gerais do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento estão disponibilizadas no link:
As questões de BEA são aplicadas ainda timidamente no país, mais pela consciência
de transportadores, criadores; apesar de regulamentações e recomendações existentes, isto
quando comparamos ao que já existe na Comunidade Europeia. No Brasil as preocupações
maiores ainda são tão somente quanto aos aspectos zoosanitário, sanidade e vigilância
sanitária. No entanto, vários pesquisadores vêm buscando soluções para minimizar ao máximo
os efeitos de estresse durante o transporte, pois este traz prejuízos aos animais e
consequentemente ao seu produto final.
92
Por outro lado, as condições de transporte de equídeos em viagens de longo curso são
melhoradas, sobretudo com a obrigação de utilização sistemática de baias individuais.
Esta importante legislação de bem-estar animal visa reduzir o estresse e os danos que
os animais podem sentir durante o transporte por terra, aéreo e marítimo. Entre as novas
medidas de proteção para os animais a introduzir estão às normas mais exigentes para veículos
e equipamento, e requisitos mais apertados para os que lidam com animais durante o transporte.
A Regulação prevê também medidas para assegurar uma melhor execução da legislação da UE
neste domínio, inclusive com o uso de sistemas de navegação por satélite.
Existem ONGs, como a WSPA (World Society for the Protection of Animals) que vem
tentando tornar concreta uma ação conjunta com o Ministério da Agricultura e revisar uma série
de pontos acerca daquilo que se tem atualmente e da própria consciência e atividade de
frigoríficos, abatedouros e mesmo de transportadores. O Conselho Federal de Medicina
Veterinária (CFMV) tem agido apoiando e promovendo o tema junto à comunidade médica
veterinária, entidades governamentais e não governamentais, bem como junto aos setores
produtivos e à comunidade.
Na opinião de alguns defensores dos animais, pouco importa colocar música clássica
para os bovinos ouvirem ou colorir as granjas com elementos, ou seja, buscar uma melhoria nas
questões de enriquecimento ambiental (enriquecimento do ambiente criatório), pois o destino
final destes animais é apenas um: a morte. O abate humanitário não é visto com bons olhos por
todos os ativistas.
99
Banho de aspersão dos animais é após o descanso, estes seguem por uma rampa
de acesso ao boxe de, também regulamentado pelo RIISPOA – artigo 146 (1968). O objetivo do
banho do animal antes do abate é limpar a pele para assegurar uma esfola higiênica, reduzir a
poeira, tendo em vista que a pele fica úmida, e, portanto, diminuiria a sujeira na sala de abate. O
manejo tranquilo durante este trajeto na rampa de acesso é importante para que se evitem
quedas.
104
O nível do estresse é avaliado nesta etapa da rampa de acesso aos boxes. Uma das
verificações é o número de vocalizações ou mugidos que são indicativos de dor nos bovinos. O
número de vezes que o bovino vocaliza durante o manejo estressante tem relação com o nível
de cortisol circulante.
Insensibilização pré-abate.
108
Alimentos kosher
São alimentos kosher: a carne, frango, peixe com escamas, laticínios, frutas, legumes
e produtos de confeitaria. Não são considerados kosher a carne suína, misturas de carne e
laticínios, camarão, lagosta e frutos do mar. Adquiridos por judeus, mas também por
muçulmanos, adventistas, vegetarianos, pessoas com alergias a certos alimentos e ingredientes
e outros consumidores que simplesmente consideram subjetivamente o alimento kosher como
sinônimo de qualidade.
110
Martelo pneumático não penetrante:
Arma de fogo:
Pistolas pneumáticas:
111
a) Vocalizações;
b) Reflexos oculares presentes;
c) Movimentos oculares;
d) Contração dos membros dianteiros.
b) Eletronarcose.
a) Choupeamento.
b) Do prego ou estilete.
c) Do martelo de cavilha.
d) Máscara de cavilha.
e) Armas de fogo.
São exceções:
– Atmosfera Modificada;
– Abate religioso.
Procedimentos proibidos:
– Marretada; 113
– Choupeamento;
No entanto, os Estados também legislam sob tais aspectos. No Estado de São Paulo,
por exemplo, estes procedimentos são regulamentados de acordo com a Lei número 7705/1992,
onde são proibidos os usos da marreta e do método de choupagem, além de outros cuidados
com relação ao emprego da escaldagem para alguns animais, uso de choque, abate de fêmeas,
entre inúmeras questões de importância sobre este tema:
Lei N.º 7.705, de 19 de fevereiro de 1992
Artigo 4º - É vedado o abate de qualquer animal que não tenha permanecido pelo
menos 24 horas em descanso em dependências adequadas do estabelecimento.
§ 1º - O período de repouso poderá ser reduzido quando o tempo de viagem não for
superior a duas horas e os animais forem procedentes de campos, mercados ou feiras, sob 115
controle sanitário e permanente.
Parágrafo único - O animal que cair no corredor de abate será insensibilizado no local
onde tombou, antes de ser arrastado para o boxe
Artigo 6º - Os animais, quando estiverem aguardando o abate, não poderão ser alvos
de maus tratos, provocações ou outras formas de falsa diversão pública, ou ainda, sujeitos a
qualquer condição, que provoque estresse ou sofrimento físico e psíquico.
Artigo 8 º - Não será permitida a presença de menores de idade no local de abate nem
de pessoas estranhas ao serviço, salvo funcionários autorizados, representantes de órgãos
governamentais e membros de associações protetoras de animais, mediante autorização dos
Serviços de Inspeção, desde que estejam devidamente uniformizados.
116
V - Métodos Científicos - são todos aqueles processos que provoquem a perda total da
consciência e da sensibilidade previamente a sangria;
VII - Métodos Elétricos - são os que se utilizam de aparelhos com eletrodos que
provocam uma passagem de corrente elétrica pelo cérebro do animal, tornando-o inconsciente e
insensível (eletronarcose);
Artigo 10º - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e
municipal, o não cumprimento do estabelecido nesta lei sujeitará o infrator às seguintes sanções:
§ 1º - O valor das multas referidas no inciso I deste artigo será cobrado em dobro, se a
infração tiver sido praticada no período noturno, em domingo, feriado ou em dia declarado ponto
facultativo estadual.
§ 2º - Nos casos previstos nos incisos II e III deste artigo, o ato declaratório da perda,
restrição ou suspensão caberá à autoridade administrativa ou financeira que concedeu os
benefícios, incentivos ou financiamentos, mediante a respectiva comunicação, de
responsabilidade da autoridade competente.
Parágrafo único - O prazo referido neste artigo poderá ser prorrogado por até doze
meses, a juízo da autoridade competente e mediante requerimento do interessado, desde que
devidamente comprovada à impossibilidade técnica de adaptação de suas instalações e
equipamentos às exigências contidas no artigo 1º e no capítulo do artigo 2º desta lei.
Diferentes espécies animais são tidas como de companhia ao homem, sendo que às
mais populares, sem dúvida sejam o cão e o gato. Em alguns casos, mesmo animais
normalmente observados como de produção podem ser encontrados servindo como de
119
companhia.
No caso de cães e gatos tem sido talvez, muito mais comum verificar as discussões
sobre bem-estar, mescladas a assuntos como abandono, maus tratos e controle populacional
destes, em especial nos centros urbanos. Os movimentos de proteção animal já vêm ganhando
força há alguns anos no Brasil e paralelamente os grupos e profissionais que buscam
estabelecer e aplicar os princípios do BEA.
Nos últimos anos houve uma mudança significativa na importância dos animais de
companhia em relação ao indivíduo e a família. Um conceito mais emocional e subjetivo vem
sendo atribuído cada vez mais ao animal, até mesmo uma atribuição de caracteres nitidamente
comuns ao gosto e as necessidades do homem, que passa a tratá-lo muitas vezes como a si
mesmo, passando a preocupar-se com não somente a saúde do mesmo, sua higidez física e de
BEA, mas de regalos que em princípio lhe seriam desnecessários – roupas, acessórios, serviços
de hotelaria e lazer, entre outros, o que denota certa confusão sobre o que significa a qualidade
de vida de um animal.
Por um lado, isto favoreceu que alguns estudos passassem a ser encarados como
mais facilidade e até com a devida importância como as questões psicológicas e de
comportamento destes animais, a tal ponto que hoje serviços de atendimento ou assistência de
comportamento para animais de companhia têm sido procurados e seus especialistas
valorizados. Por outro lado, houve certa banalização do animal de companhia, que chega a ser
120
“confundido” por alguns como “acessórios de companhia” e facilmente são abandonados ou
destratados diante de insatisfações do proprietário ou qualquer problemas que o animal venha a
apresentar.
Além dos fatores muitas vezes sociais envolvidos, muitos animais ainda padecem de
ações de crueldade ou de imposição de sofrimento e estresse devido ao pensamento até mesmo
empírico e filosófico antigo de que animal não sente como o homem. Muitos simplesmente
descreem de que animais sofram de enfermidades cardíacas, respiratórias, reprodutivas e
outros, menos ainda de transtornos psicológicos ou de comportamento, possíveis inclusive de
diagnóstico e tratamento em muitos dos casos.
A única exigência atual do Ministério da Agricultura para levar cães e gatos em viagens
aéreas, rodoviárias e ferroviárias é o atestado sanitário emitido por um veterinário, além da
carteira de vacinação completa, com especial atenção a vacina antirrábica.
Para qualquer tipo de viagem - de avião, trem ou ônibus é sempre indicado contato
prévio com as empresas, pois algumas companhias têm regras diferentes.
Segue o que se dispõe atualmente para o município de São Paulo – SP, quanto ao
transporte de cães e gatos.
11.1 ORIENTAÇÃO ÀS EMPRESAS DE TRANSPORTE INTERMUNICIPAL E USUÁRIOS
QUANTO AO TRANSPORTE DE ANIMAIS DOMÉSTICOS
Os animais domésticos de pequeno e médio porte (cão e gato), com peso até oito
quilos, podem ser transportados desde que atendam as seguintes condições:
É vetado o transporte de animais com suas patas atadas, ou qualquer modo que lhes
produza sofrimento ou estresse.
Lembramos que o animal, a critério de seu dono, poderá ser sedado durante a viagem.
Recomenda-se, para tanto, seguir a orientação de um médico veterinário.
125
Não será permitido o transporte de animal que por sua espécie, tamanho, ferocidade,
peçonha ou saúde, comprometa o conforto e a segurança do veículo, de seus ocupantes ou de
terceiros.
Como animais de companhia podem ter uma gama muito variada desde hamsters,
chinchilas, papagaios, canários, porcos, iguanas, cágados, coelhos, cães, gatos, mas, sem
dúvida os gatos e os cães são os preferidos, pela forma como interagem com o ser humano.
No norte da América e Europa existem mais gatos que cães, como animais de
companhia, uma das razões é o gato doméstico continuar a ser uma espécie autossuficiente e
independente, tornando-se mais adaptável para quem tem uma vida mais ocupada.
Por sua vez o cão, inicialmente utilizado como animal de trabalho rapidamente adquiriu
o status como uma das principais escolhas como animal de companhia, sem nunca esquecer às
suas competências, como animal de trabalho. A dupla capacidade de o cão ser um animal de
companhia e ao mesmo tempo utilizar competências em auxílio ao seu dono, tornam-no único.
Muitos dos “trabalhos” efetuados pelos cães são de grande importância humanitária, e
alguns deles podem mesmo ser desenvolvidos por cães sem serem de raça pura, pela maioria
dos cães, exemplos de algumas destas atividades:
Práticas desportivas;
Para uma melhor e mais útil integração do cão na sociedade é necessário saber
comunicar e saber entender o animal. Comunicação pressupõe compreensão:
Nenhum cão compreenderá o homem se não passar por duas fases básicas, ambas
ligadas à sua Primeira (1ª) infância:
I) IMPRINTIG:
O cachorro começa a reconhecer como seres a todos os animais (incluindo o homem)
que interagem com ele neste período. Se o cachorro não fizer o imprinting com outros cães, ele
131
por meio do olfato irá reconstituir essa imagem. Se o cachorro não fizer o imprinting com o
homem, esse processo será irreversível, pois não reconhecerá animais que não pertençam à
outra espécie que não a sua.
II) SOCIALIZAÇÃO:
É a escola de vida de um cão. O cão percebe que existem leis precisas; que existe
hierarquia (superiores e inferiores hierárquicos) - que tem de obedecer aos primeiros e que os
segundos podem ser mandados, muito importante para futuros cães de trabalho.
Uma socialização incorreta não é irreversível como no imprinting, no entanto pode ser
132
difícil de mudar, exigindo paciência, trabalho e muitas vezes o empenho de sentimentos para
com este animal - amor. “Não é fácil fazer o papel de soldado, um cão que se julga general”.
Um cachorro que passou bem pela fase de imprinting e socialização possui as bases
indispensáveis para comunicar com o homem. Cabe ao homem, agora construir as suas regras,
apoiadas na etologia e psicologia canina, e constituir relações mais saudáveis com base nas
considerações do bem-estar animal.
133
14 ENSINO DE CÃES
No entanto, animais mais velhos também são capazes de aprendizados, assim como
animais que já passaram por outras experiências. O cão pode ser adestrado ou educado, assim
como outras espécies animais. O respeito às atitudes inerentes de cada espécie e o
aproveitamento disto como forma e parte da aprendizagem é importante.
Adestramento canino.
Ainda, há que se ter especial conhecimento e controle técnico dos métodos, pois
animais, em especial treinados para defesa podem adquirir comportamentos mais acentuados
onde a falta de controle pode representar perigo, muitas vezes pelo porte e força do animal, ou
do próprio comportamento daqueles que interagem com este. Animais de comportamento tímido
e arredio, não somente aqueles destemidos e sem inibições, são animais, que por força de sua
necessidade de se proteger, quando sem controle ou o devido acompanhamento podem acabar
promovendo ataques e acidentes indesejáveis.
Por certo, pela proximidade nos pareça mais fácil admitir “sentimentos” aos animais de
companhia, mas este tipo de pensamento nem sempre foi assim. Nos últimos tempos, a
sociedade tem admitido mais facilmente a capacidade de sentir dos animais, muito embora ainda
136
encontremos com frequência pessoas que se admiram quando se deparam com afirmações a
respeito da consciência e dos sentimentos dos animais, mesmo os mais próximos e comuns,
como os cães e gatos.
O próprio conceito de inteligência é ainda muito discutido pelas pessoas em geral, que
nem sempre acham natural estes “atributos” em um animal. Infelizmente, ainda é comum
também encontrarmos com indivíduos que consideram, mesmo as atividades mais básicas,
como comer, beber, andar e mesmo ficar doente, como situações de menor importância ou de
menor necessidade, quando comparado ao humano.
Os sentimentos são aspectos da biologia de um indivíduo que devem ter evoluído para
auxiliar o indivíduo a sobreviver, exatamente da mesma maneira que ocorreu a evolução de
aspectos de anatomia, fisiologia e comportamento. Assim, não seria lógico enfocar apenas
sentimentos, excluindo outros mecanismos, quando se define bem-estar. Se a definição de bem-
estar fosse restrita aos sentimentos de um indivíduo, não seria possível se fazer referência ao
bem-estar de uma pessoa ou de um indivíduo de outra espécie que não tenha sentimentos por
estar dormindo, anestesiado, medicado ou sofrendo de uma doença que afete a consciência. Se
somente sentimentos fossem considerados, aspectos como as respostas fisiológicas extremas,
anormalidades comportamentais, imunossupressão, doença, incapacidade de crescer ou se
reproduzir, ou ainda redução da expectativa de vida, não seriam tidas como evidências de
pobreza de bem-estar, a menos que se pudesse demonstrar relação a sentimentos ruins.
O sentimento manifesto por muitos animais, com a saída do proprietário da casa, e sua
alegria ao retorno, pode ir além da simples tristeza/alegria. Considerando a história natural dos
137
canídeos devemos considerar aspectos importantes da história natural destes animais, de seu
comportamento natural, independente de sua relação com humanos. O que pode parecer
“chocante” a alguns proprietários que imaginam apenas a manifestação dos sentimentos
tristeza/alegria. O cãozinho pode apenas estar manifestando sua confusão diante de um membro
de seu grupo (matilha) não estar ou sob seu domínio, ou momentaneamente deixando de lhe
oferecer “proteção/direção”. Os cães têm comportamento de dominância, formam
grupos/matilhas, que devem ser considerados, assim como outros comportamentos, quando
consideramos avaliação de bem-estar e seus sentimentos.
138
139
Felídeos são caçadores natos, e o gato doméstico mantém este hábito, caçando
pássaros, roedores, insetos. Na natureza, o êxito de uma caça é compartido com a família e os
demais membros do grupo, no caso do gato doméstico seu êxito deve ser compartilhado com a
família, por isso muitas vezes, os resultados de suas caças são encontrados como tributos ao
seu dono, membro do “grupo”, e é quando os proprietários eventualmente podem se deparar
com lagartixas, baratas e outros sobre suas camas e sofás. A atitude do animal, neste caso é de
pura manifestação de alegria e satisfação por seu êxito, que na maioria das vezes é entendida
como hábitos não interessantes pelo dono do animal, que geralmente os punem com castigos.
Ainda em gatos domésticos a introdução de novos membros no grupo pode não ser
uma tarefa fácil, estes exercem sua dominância territorial fortemente e demarcam territórios
igualmente.
Gatos são territorialistas e precisam ser introduzidos a outros animais lentamente para
que possam se acostumar um com o outro antes de um confronto. Uma introdução lenta ajuda a
evitar o desenvolvimento de problemas relacionados ao medo e à agressividade, estas podem
ser difíceis de reverter. É claro que alguns gatos são mais sociáveis que outros. Por exemplo,
140
um felino de oito anos que nunca esteve próximo de outros animais pode não aprender a dividir
seu território (e suas pessoas) com outros animais na residência. No entanto, um filhote de oito
semanas que acaba de ser separado de sua mãe e irmãos pode ficar contente em encontrar um
cão ou gato como companhia.
O abandono, em si, seja qual for à razão, se avaliado pode levar a índices prováveis de
baixíssimo bem-estar. As questões morais são muitas vezes renegadas por parte dos indivíduos
que racionalizam o problema, renegando-o a um segundo plano, e comparando-o a outras
144
situações graves como o abandono e sofrimento infantil ou mesmo de idosos. Considerando a
senciência dos animais, os Direitos dos Animais, as questões científicas já comprovadas quanto
a bem-estar, a ética e a moral, atualmente a questão do abando se torna inadmissível a uma
sociedade que pretenda um status de no mínimo em desenvolvimento ou que queira se
desenvolver seja em qual aspecto for.
O abandono é uma forma de mau trato, existindo de várias formas – desde se colocar
o animal simplesmente para fora de casa, como também, o abandono longe das imediações do
domicílio, procurando evitar que o animal retorne; há ainda o abandono “premeditado” em que, o
animal é deixado em clínicas e pet shops por seus próprios donos. Os quais não retornam para
recuperá-los, ou até mesmo levados por seus proprietários e abandonados sem causas
aparentes em canis municipais ou Centros de Controles de Zoonoses.
145
- Idade – cães já idosos ou filhotes, ainda muito novos e que dão trabalho ou choram
muito;
- Separação de casais;
- Animais doentes;
- Outros.
De qualquer forma, anterior à vontade ou necessidade manifesta do proprietário, em
não querer mais o animal, ou sua intenção de abandoná-lo, este deve procurar conhecer
primeiramente as suas obrigações legais para com qualquer animal que venha a comprar, adotar
ou ganhar, que passe, enfim a ser de sua responsabilidade. Os animais encontram-se
amparados por legislação federal e estadual, ainda e muito mais importante, o indivíduo precisa
conhecer seus deveres quanto a POSSE RESPONSÁVEL de um animal, devendo antes de
tudo, antes de adquirir um animal, conhecer suas necessidades e características.
146
O abandono ainda traz consequências à sociedade bastante significativa, no tocante à
saúde pública. Animais têm potência de adquirir determinadas enfermidades dos homens e de
transmiti-las, ou senão de manter o ciclo das mesmas, ativos nas regiões onde prevalecem.
Sem dúvida, questões sociais, como a saúde pública e o potencial zoonótico dos
animais, têm caracterizado movimentos e projetos que levem a um controle populacional dos
animais nas comunidades urbanas e mesmo nas rurais.
A saúde pública é o que a sociedade faz coletivamente para assegurar as condições
nas quais as pessoas podem ser saudáveis, o conjunto de práticas e saberes que objetivam um
melhor estado de saúde possível das populações.
O controle populacional de cães e gatos está inserido na área de saúde pública, sendo
as ações relacionadas à promoção da saúde executadas tanto por órgãos governamentais como
por organizações não governamentais. No Brasil as organizações não governamentais têm
desempenhado importante papel na mudança de alguns perfis do controle populacional de cães
147
e gatos, com maior discussão do controle ético dos animais de estimação, procurando a
promoção da saúde, na comunidade como um todo, considerando que esses animais têm
assumido importância cada vez maior na família, inclusive para a manutenção da saúde mental
de nossa sociedade, ajudando a manter o equilíbrio emocional do indivíduo e colaborando de
diferentes modos no bem-estar do próprio homem.
A eutanásia é uma possibilidade concreta, para muitos ainda, uma das únicas,
considerando os gastos para recolhimento, assistência veterinária e posterior manutenção ou
trabalho de recolocação destes animais na sociedades e ainda, procedimentos cirúrgicos para
esterilização (castração) e identificação (registro) desse animal. Analisando parte da cadeia do
controle populacional de cães e gatos são detectados alguns pontos críticos para o bem-estar
humano, animal ou da comunidade, isto é, áreas onde o desenvolvimento das ações podem
gerar mal-estar para os seres humanos - funcionários ou comunidade - e/ou para os animais,
considerando os órgãos de atendimento público a estes casos, em geral os Centros de Controle
de Zoonoses (CCzs) ou Canis Municipais:
d) Destino do animal:
o Resgate pelo proprietário ou responsável;
o Adoção;
o Devolução no local do recolhimento (animais comunitários);
o Adoção;
o Eutanásia;
o Outros.
e) Controle reprodutivo: esterilização cirúrgica (castração); capacitação de
profissionais, promoção da adoção ou recolocação na sociedade.
152
A forma de recolhimento dos animais tem sido negligenciada em vários países com o
problema de animais sem controle. Laçar os animais e jogá-los dentro de veículos inapropriados
é o panorama encontrado na maioria dos centros de controle de zoonoses, principalmente em
países em desenvolvimento. Como consequência, o órgão público e seus funcionários são
desrespeitados pela comunidade e a parceria com a mesma se torna difícil. Ao se tomar cuidado
com a forma de recolhimento por meio da capacitação de oficiais de controle animal, se está
cuidando de quatro áreas simultaneamente: o bem-estar animal, o bem-estar do funcionário e da
comunidade, e fazendo com que os profissionais envolvidos na cadeia do controle, no caso
particular o veterinário, demonstre perante a sociedade a sua capacidade como profissional de
operar de acordo com a ética profissional que reflete e está em harmonia com a ética do
consenso social no tratamento dos animais, mantendo sua autonomia.
O tratamento dentro dos serviços de controle animal não leva em consideração todos
os usuários desse sistema de saúde. Os animais são usuários desses serviços e ações para
esse tipo de usuários devem ser levadas em consideração. Animais doentes, em sofrimento
físico ou mental, sem perspectivas de resgate ou adoção, são encontrados muitas vezes nesses
serviços, aguardando o dia da sua morte, ou eutanásia. Há prazos estabelecidos por lei muitas
vezes municipais, determinando este prazo para recolhimento pelo proprietário ou adoção do
mesmo, em caso contrário o animal pode ser destinado à eutanásia. Os métodos de eutanásia
são regulamentos de acordo com o previsto pelo CFMV. E apenas praticados, legalmente por
médicos veterinários.
Parágrafo 1° - Incorre nas mesmas Penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel
em animais vivos, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos
alternativos.
Parágrafo 2°. - A Pena é aumentada de 1 (um) terço a 1(um) sexto, se ocorrer a morte
do(s) animal(s)."
Os atos de maus-tratos e crueldades mais comuns são: abandono; manter animal
preso por muito tempo sem comida e contato com seus donos/responsáveis; deixar animal em
lugar impróprio e sem higiene; envenenamento; agressão física; mutilação; utilizar animal em
situações ou trabalho que possa lhe causar pânico e sofrimento; não procurar um veterinário se
o animal estiver doente; outros.
Isso serve para os animais domésticos mais comuns como cães, gatos e pássaros,
também cavalos usados em trabalho de tração (carroças muito comuns nas ruas de cidades),
154
além de animais criados e domesticados em sítios, chácaras e fazendas. Animais silvestres
estão inclusos nessa Lei, possuindo também Leis e Portarias próprias criadas pelo IBAMA.
1. Antes de adquirir um animal, considere que seu tempo médio de vida é de 12 anos.
Pergunte à família se todos estão de acordo, se há recursos necessários para mantê-lo e
verifique quem cuidará dele nas férias ou em feriados prolongados.
4. Mantenha o seu animal sempre dentro de casa, jamais solto na rua. Para os cães,
passeios são fundamentais, mas apenas com coleira/guia e conduzido por quem possa contê-lo.
156
Os animais selvagens representam vários pontos que poderiam ser discutidos quanto
ao BEA, como os animais em cativeiro nos zoológicos, algumas espécies utilizadas em circos e
centros de lazer, em ambientes de criação extensiva comercial de animais silvestres, mantidos
em zoológicos privados ou por fiéis depositários (autorizados pelo IBAMA – Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e ainda os animais submetidos e
recuperados do tráfico de animais.
3) A pesquisa científica.
159
- Um aumento da atividade;
160
Enriquecimento Ambiental.
Enriquecimento Ambiental.
- Não podem ser arremessados pelos animais, de modo a ferir visitantes, funcionários
e mesmo outros animais;
- Não devem permanecer por muito tempo, pois perde o caráter de novidade;
- Os animais devem ter oportunidade de escolha, não sendo obrigados a interagir com
os itens.
A fauna silvestre brasileira é protegida pela Lei Federal 5197/67 de onde se destacam:
Art. 4º Nenhuma espécie poderá ser introduzida no País, sem parecer técnico oficial
favorável e licença expedida na forma da Lei.
Art. 16. Fica instituído o registro das pessoas físicas ou jurídicas que negociem com
animais silvestres e seus produtos.
Art. 17. As pessoas físicas ou jurídicas, de que trata o artigo anterior, são obrigadas à
apresentação de declaração de estoques e valores, sempre que exigida pela autoridade
competente.
Parágrafo único. O não cumprimento do disposto neste artigo, além das penalidades
previstas nesta lei obriga o cancelamento do registro.
164
Art. 27. Constituem contravenções penais, puníveis com três meses a um ano de
prisão simples ou multa de uma a dez vezes do salário-mínimo mensal do lugar e da data da
infração, ou ambas as penas cumulativamente, violar os arts. 1º e seu § 2º, 3º, 4º, 8º e suas
alíneas a, b, e c, 10 e suas alíneas a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, l, m, 13 e seu parágrafo único, 14 § 3º,
17, 18 e 19.
Desta forma fica estabelecida a proibição e a ação criminosa de diversos tipos de atos
como a retirada de animais de seu ambiente natural, o que muitas vezes acaba alimentando o
tráfico ilegal de animais silvestres, ou na manutenção irregular, ilegal de várias espécies em
ambientes de zoológicos ou reservas não autorizadas ou até mesmo domiciliares. Em situações
de ilegalidade é muito mais difícil combater maus tratos e consequentemente a previsão de
aspectos de BEA aos animais onde se impõe condições às mais variadas, quase sempre de
inadequações em vários níveis e até mesmo sofrimento.
A questão de BEA pode ser questionada, uma vez que na maioria dos recintos de
circos, por exemplo, os recintos são mínimos e os aspectos quanto a transporte, ambientação,
adestramento, e enriquecimento ambiental são fortemente prejudicados quando comparadas as
necessidades básicas da maioria destes animais em seu ambiente natural. Mais uma vez, os
aspectos de maus tratos referidos e citados publicamente por diversas mídias, até mesmo o
descaso e abandono praticados por alguns destes estabelecimentos, chamam a atenção da
opinião pública e acabam forçando uma maior discussão de ética de uma maneira geral e
mudança no posicionamento político, consequentemente o surgimento de leis que se imponham
contra estas práticas. Como já mencionado em capítulos anteriores, sob condições extras ao seu
comportamento natural, muitas vezes é difícil uma avaliação de determinados critérios utilizados
como indicadores de BEA. No entanto, níveis de estresse e alterações de comportamento são
muitas vezes, facilmente evidenciados.
Animais em circo expõem as pessoas a muitos riscos. Não é possível prever como um
animal estressado irá reagir em uma determinada situação. Além disso, muitas vezes
permanecem em instalações inadequadas e frágeis, expondo os funcionários do circo e a
população em geral. Vários acidentes já foram documentados inúmeras vezes pela mídia, como
o caso do menino de seis anos que, no ano de 2000, em Pernambuco, foi devorado por leões
que não comiam há vários dias e estavam em local inseguro.
Animais em circo podem transmitir doenças aos seres humanos, visto que não existe
vacinação eficiente para os animais selvagens.
Há países que já optaram pela proibição do uso de animais em circos (Áustria, Costa
Rica, Dinamarca, Finlândia, Índia, Israel, Cingapura e Suécia), no Brasil, há proibição em vários
municípios, por força de lei municipal (ver quadro – Fonte: WSPA):
U
Cidade
F
M
Campo Grande
S
P
Olinda
E
R Porto Alegre, Caxias do Sul, Montenegro, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Rio 168
S Grande, Santa Maria, São Leopoldo e Taquara.
De acordo com a atual legislação brasileira e com o IBAMA temos espécies que são
consideradas de livre comércio. No entanto, ainda o que se questionam além das praticadas
169
serem legais ou não, são como os aspectos podem ser vislumbrados. Na verdade o que se têm
na prática são apenas a legalidade ou não da situação, bem como a procura da garantia do
direito do animal a não ser maltratado.
A criação e comércio de animais domésticos como cães, gatos, vacas, porcos, patos,
galinhas, codornas, coelhos, periquitos australianos e canários-belga, entre outros, não
necessita de autorização do IBAMA. A Portaria nº 93/98, que regulamenta a entrada e saída de
animais silvestres e exóticos no Brasil, isenta esses animais do controle do IBAMA. Com a
Portaria nº 36/02, o avestruz-africano passou também a ser considerado animal doméstico.
A experimentação animal data dos antigos Gregos e Romanos, porém foi durante os
séculos dezoito e dezenove que progrediu lentamente de uma prática relativamente incomum,
até alcançar um enfoque científico. Apenas recentemente, percebeu-se a importância do modelo
172
animal e seu bem-estar para os resultados de um experimento. Desta forma surgiu a ciência em
animais de laboratório, onde o estudo é o próprio animal que será utilizado na pesquisa e como
este deve ser criado e manipulado.
São inúmeros os modelos animais utilizados nas pesquisas científicas, porém foram
definidas cinco espécies como sendo as espécies convencionais de animais de laboratório.
Estas espécies são conhecidas popularmente pelos seguintes nomes, camundongo, rato,
hamster, cobaia e coelho.
21.1.1 Camundongo
173
21.1.2 Rato
21.1.4 Cobaia
21.1.5 Coelho
180
No entanto, cabe ressaltar que em relação aos animais de laboratório, uma série de
parâmetros pode ser alterada com o enriquecimento ambiental, por exemplo:
A ética profissional tem sido cada vez mais discutida nos procedimentos com usos de
animais e experimentações, o CFMV criou as Comissões de Éticas, sendo o CEBEA – Comissão
de Ética e Bem-Estar Animal. Diante do CFMV tem-se:
182
CAPÍTULO I
Art. 2o O disposto nesta Lei aplica-se aos animais das espécies classificadas como filo
Chordata, subfilo Vertebrata, observada a legislação ambiental.
CAPÍTULO II
I – Plenário;
III – Secretaria-Executiva.
c) Ministério da Educação;
e) Ministério da Saúde;
CAPÍTULO III
I – cumprir e fazer cumprir, no âmbito de suas atribuições, o disposto nesta Lei e nas 187
demais normas aplicáveis à utilização de animais para ensino e pesquisa, especialmente nas
resoluções do CONCEA;
§ 3o Das decisões proferidas pelas CEUAs cabe recurso, sem efeito suspensivo, ao
CONCEA.
§ 4o Os membros das CEUAs responderão pelos prejuízos que, por dolo, causarem às
pesquisas em andamento.
CAPÍTULO IV
Art. 13. Qualquer instituição legalmente estabelecida em território nacional que crie ou
utilize animais para ensino e pesquisa deverá requerer credenciamento no CONCEA, para uso
de animais, desde que, previamente, crie a CEUA.
Art. 15. O CONCEA, levando em conta a relação entre o nível de sofrimento para o
animal e os resultados práticos que se esperam obter, poderá restringir ou proibir experimentos
que importem em elevado grau de agressão.
Art. 16. Todo projeto de pesquisa científica ou atividade de ensino será supervisionado
por profissional de nível superior, graduado ou pós-graduado na área biomédica, vinculado a
entidade de ensino ou pesquisa credenciada pelo CONCEA.
CAPÍTULO V
DAS PENALIDADES
Art. 17. As instituições que executem atividades reguladas por esta Lei estão sujeitas,
190
em caso de transgressão às suas disposições e ao seu regulamento, às penalidades
administrativas de:
I – advertência;
V – interdição definitiva.
Parágrafo único. A interdição por prazo superior a 30 (trinta) dias somente poderá ser
determinada em ato do Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia, ouvido o CONCEA.
Art. 18. Qualquer pessoa que execute de forma indevida atividades reguladas por esta
Lei ou participe de procedimentos não autorizados pelo CONCEA será passível das seguintes
penalidades administrativas:
I – advertência;
Art. 19. As penalidades previstas nos arts. 17 e 18 desta Lei serão aplicadas de acordo
com a gravidade da infração, os danos que dela provierem, as circunstâncias agravantes ou
atenuantes e os antecedentes do infrator.
Art. 20. As sanções previstas nos arts. 17 e 18 desta Lei serão aplicadas pelo
CONCEA, sem prejuízo de correspondente responsabilidade penal.
Art. 21. A fiscalização das atividades reguladas por esta Lei fica a cargo dos órgãos
dos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Saúde, da Educação, da Ciência e
Tecnologia e do Meio Ambiente, nas respectivas áreas de competência.
CAPÍTULO VI
191
DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 22. As instituições que criem ou utilizem animais para ensino ou pesquisa
existentes no País antes da data de vigência desta Lei deverão:
Art. 25. Esta Lei será regulamentada no prazo de 180 (cento e oitenta) dias.
23.1 BIOÉTICA
O termo "Bioética" foi utilizado pela primeira vez pelo bioquímico norte-americano Van
Rensselaer Potter (1911-2001), pesquisador em oncologia da Universidade de Wisconsin. O
termo, lançado em seu artigo "Bioethics, the science of survival" (1970) e difundido no livro
"Bioethics, bridge to the future" (1971), referia-se a um novo conhecimento que procuraria ligar
as ciências biológicas e os valores morais.
Uma aplicação da Bioética e que pode ser útil em seus conceitos para aqueles que
trabalham com animais, especialmente os médicos veterinários, é a teoria do australiano Peter
Singer, bioeticista e professor da Universidade de Princeton. Singer desenvolve o princípio da
igual consideração de interesses em que cada ser afetado por uma ação deve ser levado em
conta e receber o mesmo peso que os interesses semelhantes de qualquer outro ser. A dor e o
sofrimento são em si mesmo, ruins e devem ser evitados ou minimizados, não importa a raça, o
sexo ou a espécie do ser que sofre.
193
Já o Bem-estar Animal é uma ciência voltada para o conhecimento e a satisfação das
necessidades básicas dos animais; o grau em que as necessidades físicas, psicológicas,
comportamentais, sociais e ambientais de um animal são satisfeitas, bem como sua capacidade
de se adaptar a situações. O BEA também pode ser considerado como uma ferramenta,
instrumentalizando aquele que a utiliza com um conjunto de conceitos e parâmetros objetivos
que permitem a avaliação da qualidade de vida dos animais. Considerando que um estado pobre
de bem-estar pode originar, entre outras consequências, redução da expectativa de vida,
redução da habilidade para crescer e produzir, baixa ou ausente aptidão para a reprodução,
imunossupressão, lesões corporais e doenças, alterações comportamentais, alteração do
processo fisiológico normal e do desenvolvimento anatômico, todas indicativas de baixa
qualidade de vida e de sofrimento animal.
Por esta razão, sistemas alternativos de criação como a criação ao ar livre de suínos,
têm sido propostas e já vem sendo utilizada há anos em países da União Europeia. Mas é
importante que se discuta sobre a sustentabilidade deste modelo sob diferentes condições,
mesmo porque, atualmente este tipo de sistema criatório para obtenção de carne com qualidade
ética – “orgânica”, procura atender a mercados que já têm essa conscientização.
No Brasil, o sistema Siscal preconizado pela Embrapa Suínos e Aves e que durante
anos tem sido usado por inúmeros criadores do Sul tem se apresentado como uma opção de
suinocultura em bases sustentáveis, em razão de suas características produtivas (ausência de
piso de concreto, uso de piquetes, liberdade para realizar movimentos e exteriorizar condutas
típicas da espécie, melhores condições ambientais, redução no uso de fármacos, principalmente
antibióticos etc.), e consequentemente vêm contribuindo para a melhoria do bem-estar dos
suínos nas várias fases da produção.
24.1 DOR
196
A dor serve como sinal de alerta para que os indivíduos percebam a ocorrência de
dano tecidual e que estabeleçam mecanismos de defesa ou de fuga. Esta é a dor conhecida
como fisiológica e tem função protetora, porém sua persistência, com dano tecidual, pode
significar algum processo patológico. A dor, clinicamente, pode ter significado variado, mas
sempre leva a suspeita clínica e necessidade de verificação de sua origem.
Marcação a ferro.
198
Debicagem
Mastite bovina
24.3 ESTRESSE
Os objetivos da terapêutica com analgésicos e sedativos diante da dor patológica são 199
os de:
Em processos de trauma:
- Diminuindo a memória;
METABÓLICA:
200
Carboidratos: hiperglicemia, resistência a insulina, intolerância a glicose.
Proteínas: aumento do catabolismo fornecendo aminoácidos para a glicogênese.
Gorduras: aumento da lipólise fornecendo ácidos graxos livres.
ÁGUA E ELETRÓLITOS:
1) Reação de alarme:
- Pode ser subdividida em:
Fase de choque:
Consiste no desencadeamento provocado pelo agente estressor que irá ativar o eixo
HHA. Nesta fase, ocorre também a participação do sistema nervoso autônomo, ativando as
respostas físicas, mentais e psicológicas ao estresse.
Fase de contrachoque:
Consiste na fase de reação marcada pela mobilização das forças defensivas em que o
córtex adrenal e a secreção dos hormônios adrenocorticóides aumentam.
2) Fase de resistência:
3) A fase de esgotamento:
203
Começam a falhar os mecanismos adaptativos e inicia-se um déficit energético, pois as
reservas corporais estão esgotadas. As modificações biológicas que ocorrem nesta fase são
semelhantes à primeira fase, porém o organismo não tem mais capacidade de prover substratos
energéticos para o corpo.
Reprodutivos:
São bem conhecidos os efeitos dos hormônios do estresse sobre a função reprodutiva.
204
O cativeiro por si só é um fator limitante ao animal, sendo que algumas espécies não
conseguem adaptar-se na vida cativa, desenvolvendo a chamada síndrome da má adaptação,
onde os animais iniciam um processo de anorexia que pode levar à morte.
205
Existem evidências de que o excesso de sons em zoológicos pode influenciar
negativamente a função reprodutiva em alguns animais, como demonstrado, em panda gigante
(Ailuropoda melanoleuca). Estudos de comportamento dos pandas gigantes também fizeram
com que as taxas reprodutivas triplicassem em sete anos, por meio do enriquecimento
ambiental, observação dos sinais de estro, e familiarizando os casais por meio de estímulos
visuais e olfativos no período reprodutivo. Programas de enriquecimento em zoológicos com
pandas cativos têm demonstrado ser efetivos para promover o bem-estar animal, aumentando as
taxas reprodutivas destes animais e minimizando o estresse do cativeiro.
24.5.2 Imunológicos
208
24.5.5 Alterações de comportamento
As questões humanas que envolvem o assunto são complexas e estão além do ponto
de vista ético-profissional, principalmente por ser esta profissão a única com o direito de
execução de um paciente, acatando, na maioria dos casos, ordens de pessoas hierarquicamente
superiores.
O termo EUTANÁSIA vem do grego eu thanos - “boa morte”. Este conceito foi criado
por Francis Bacon (1561-1626) ato de induzir a morte sem dor ou tensão. Como definição,
eutanásia é aquela morte que alguém dá a uma pessoa que sofre de uma enfermidade incurável,
a seu próprio requerimento, para abreviar a agonia demasiada, longa ou dolorosa. Esta é a
definição de sentimento, de piedade e humanidade, presente naquele que pratica a eutanásia.
Em medicina veterinária eutanásia significa que o animal sofrerá uma morte tranquila,
sem sofrimento físico ou mental, que será provocada voluntariamente por compaixão. O ato da
prática da eutanásia animal é exercido nas mais diversas esferas e necessidades atuais,
compreendendo os matadouros, os laboratórios e/ou biotérios, as clínicas veterinárias, partindo
da experimentação animal, obtenção de alimentos de origem animal, e abate por situações
humanitárias e socioeconômicas.
- ABATE: o atato de matas animais para o consumo
No entanto, nos últimos anos tem ocorrido uma crescente preocupação por parte da
sociedade e dos profissionais envolvidos neste processo, quanto à uniformização de
metodologias, e das questões éticas do papel do profissional na indicação da eutanásia quanto
ao posicionamento moral junto aos proprietários, necessitando a observância de parâmetros
éticos específicos e de bem-estar do animal.
A eutanásia animal tem se revestido cada vez mais de aspectos éticos. Neste caso a
eutanásia é realizada quando não existem meios de manter um animal vivo sem sofrimento;
quando clinicamente não há como mantê-lo vivo ou na falta de condições locais para realizar
tratamento clínico ou cirúrgico. Admite-se na hipótese de o proprietário não possuir recursos
financeiros para realizar o tratamento, ou, se não há interesse em gastar alta soma num animal
de esporte que não dará retorno. O veterinário além de adotar método indolor, deve considerar a
afetividade que existe entre o proprietário e seu animal, antes de recomendar a eutanásia.
Nesta relação podem ser considerados vários fatores: importância do animal para a
pessoa/família; idade; gravidade do caso; casos terminais; bem-estar e qualidade de vida do
animal em relação ao seu sofrimento; tempo de sobrevida do animal; disponibilidade dos
familiares para prestarem assistência ao animal quando necessário; fator econômico;
possibilidade de manutenção do animal sob tratamento no domicílio, outros.
A Declaração Universal dos Direitos dos Animais em seu Art. 3. alínea b.:
“...Se a morte de um animal é necessária ela deve ser instantânea, sem dor ou
angústia.”
“...Praticar ato abusivo, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos..., em pena de três a um ano, e multa.”
Parágrafo 1º. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel
em animal vivo ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos
alternativos.
- Para o animal: deve ser indolor, produzir inconsciência rápida e morte rápida;
- Para o executante: deve ser um método seguro e não provocar choques emocionais;
- Para a administração: a eutanásia deve ser praticada nas melhores condições 215
econômicas;
- Para a saúde pública: não deve gerar transtornos secundários – como destinos de
cadáveres, resíduos hospitalares e outros.
A expressão facial e a postura corporal podem sinalizar vários estados emocionais dos
animais e funcionar como indicadores do comportamento animal. As respostas comportamentais
e fisiológicas a estímulos nocivos incluem os seguintes sinais:
- Vocalização: angústia;
- Tentativa de fuga;
- Agressão defensiva;
- Salivação;
- Emissão de urina;
- Defecação;
- Midríase;
- Taquicardia;
Algumas destas reações podem ocorrer tanto em animais conscientes como 216
- Eutanásia coletiva: para o controle de animais abandonados nas ruas, por exemplo;
Assim, nos dois últimos casos, o rodízio das pessoas envolvidas, quando possível,
pode ajudar a minimizar o problema.
b- Que não provoque alterações teciduais que prejudiquem o ato da necropsia, 218
bem como provoquem contaminação ambiental e de saneamento. Para que ocorra uma melhor
desenvoltura e aceitabilidade do processo, evitar situações de estresse, angústia, optar-se-á por
realizá-lo em um ambiente seguro, silencioso, e totalmente isolado de outros animais,
principalmente, os da mesma espécie em razão dos ferormônios que indicam seu estado de
angústia, medo, o que é logo percebido pelos outros animais. A identificação dos sinais de dor,
medo e angústia, é importantíssima para uma correta eutanásia onde se manifestam
vocalizações de angústia, debate, tentativas de fuga, agressão defensiva ou reativa, imobilidade,
respiração ofegante, salivação, urinar ou defecar, midríase, taquicardia, sudação e contrações
musculares reflexas (calafrios, tremores e espasmos).
O reconhecimento e a confirmação da morte é papel único do Médico Veterinário
(Resolução 714/02); onde o executante seja capaz de reconhecer e confirmar a morte dos
animais submetidos à eutanásia quando os sinais, em conjunto, forem parada cardíaca e
respiratória e ausência de reflexos. Deste modo, o procedimento da eutanásia deverá resultar na
rápida perda de consciência, seguida de parada cardíaca e respiratória e por fim perda da
função cerebral.
219
Os métodos físicos ocasionam na maioria das vezes a morte instantânea, porém tais
procedimentos são esteticamente indesejáveis inviabilizando em termos sua aplicação. Já os
métodos químicos são os mais aceitáveis, seguros e humanitários entre os mesmos.
A avaliação dos melhores métodos de eutanásia, em cada espécie animal, pode ser
feita considerando cinco parâmetros:
1) Rapidez;
2) Nível de experiência do operador;
3) Eficácia;
4) Segurança do operador;
5) Aceitabilidade ética – visualização observador.
A União Europeia, desde 1993, de acordo com o DG XI já avalia os métodos de acordo
com estes parâmetros em valores positivos e negativos, em uma escala de 0-5, onde os
resultados podem ser combinados e o método considerado melhor julgado.
Métodos físicos:
Arma de fogo:
220
Quando bem utilizado produz morte rápida e indolor, porém pode ser considerado
esteticamente inaceitável.
Deslocamento cervical:
Utilizados em animais de laboratório ou de pequeno porte, preferencialmente sedados,
facilitando o deslocamento das vértebras e rompimento do tecido nervoso local.
Decapitação:
Utilizado em pequenos animais de laboratório podendo ser associado com a
eletrocussão.
Eletrocussão:
A fulminação ou eletrocussão é considerada um método quase perfeito para realizar a
eutanásia em razão a sua rapidez.
Ainda:
A concussão, destruição medular, maceração, esmagamento da nuca,
estrangulamento, a descompressão, hipotermia (congelação), hipertermia, exsanguinação e 221
afogamento, todos tidos como métodos físicos inaceitáveis.
Anestésicos:
Halotano, isoflurano e sevoflurano;
Podem ser utilizadas como indutores de eutanásia. Sua desvantagem está no alto
custo dos equipamentos e fármacos, além da possibilidade dos animais tornarem-se ansiosos e
irritados durante a indução anestésica.
Nitrogênio e argônio:
São gases inodoros, inflamáveis, que produzem a morte por hipóxia cerebral
(competição com o oxigênio). Ocorrem dificuldades de se manter um ambiente em
concentrações de oxigênio menores do que 2%.
Barbitúricos
Promovem rápida perda de consciência com mínimo desconforto dos animais. O
222
procedimento deve contar com altas concentrações do produto e rápida velocidade de aplicação.
Tais drogas são controladas por legislação federal. São substâncias que mais se aproximam de
um agente ideal para eutanásia quando administrada em altas doses. Deprimem o centro
respiratório e vasomotor. A morte é rápida e suave, fornecendo ao clínico e ao proprietário o
efeito desejável do ponto de vista psicológico e humanitário tão importante numa prática desta
natureza. Os barbitúricos podem ser usados na eutanásia de grandes animais, porém no cavalo
produzem considerável excitação, além de serem economicamente inviáveis devido à alta
dosagem necessária. Podem promover agonia respiratória.
Hidrato de cloral:
Deve ser empregado somente em grandes animais intravenosamente, não devendo
ser aplicado em cães e gatos. Deprimem mortalmente o centro respiratório e vasomotor.
T-61:
Uma combinação de três drogas não barbitúricas e não narcóticas de ação
curariforme. Usado para eutanásia de animais de pequeno e grande porte, de administração
endovenosa, devendo haver controle quanto à velocidade de administração da droga de forma
ininterrupta. Para que ocorra uma eutanásia a contento, a manipulação adequada e a contenção
devem seguir critérios específicos para cada espécie animal, tamanho, domesticação, presença
de doenças e ferimentos dolorosos e o grau de excitação. Os instrumentos, equipamentos, e
instalações utilizadas para atordoar ou matar os animais, devem ser desenhados, construídos e
mantidos de modo a obter rápida e eficazmente os efeitos desejados. Devem ainda ser
regularmente inspecionados para garantir o seu bom funcionamento quando necessário.
Os métodos a serem escolhidos devem constar da relação de meios permitidos pelo
CFMV. Quando da escolha dos métodos recomendados e aceitos, devem seguir linhas de
trabalhos consultadas obedecendo as suas especificações no caso de associações. Seja qual for
o método ou agente escolhido para a indução da morte do animal, o mesmo só poderá ser
empregado após o total conhecimento de seu mecanismo de ação.
Art. 11. Nas situações em que o objeto da eutanásia for o ovo embrionado, a morte do
embrião deverá ser comprovada antes da manipulação ou eliminação do mesmo.
CAPÍTULO III DOS MÉTODOS RECOMENDADOS
224
§ 1º Métodos recomendados são aqueles que produzem consistentemente uma morte
humanitária, quando usados como métodos únicos de eutanásia.
§ 2º Métodos aceitos sob restrição são aqueles que, por sua natureza técnica ou por
possuírem um maior potencial de erro por parte do executor ou por apresentarem problemas de
segurança, podem não produzir consistentemente uma morte humanitária, ou ainda por se
constituírem em métodos não bem documentados na literatura científica. Tais métodos devem
ser empregados somente diante da total impossibilidade do uso dos métodos recomendados
constantes do anexo I desta Resolução.
Art. 13. Outros métodos de eutanásia não contemplados no ANEXO I poderão ser
permitidos, desde que realizados sob autorização do CRMV ou CFMV.
Métodos aceitáveis:
Aceitos sob
Espécie Recomendados
Restrição
Barbitúricos, anestésicos
Pistola de ar
inaláveis (em algumas espécies), Dióxido
comprimido, pistola,
de Carbono (CO²), Monóxido de Carbono
Anfíbios atordoamento e decapitação,
(CO), metano sulfonato de tricaína (TMS,
decapitação e secção da
MS222), hidrocloreto de benzocaína, dupla
medula espinhal.
secção da medula espinhal.
Animais selvagens Barbitúricos intravenosos (IV) ou CO², CO, Nitrogênio
de vida livre intraperitonais (IP), anestésicos inaláveis, (N²), argônio, pistola de ar
cloreto de potássio com anestesia geral comprimido, pistola,
prévia. armadilhas (testadas
cientificamente)
Barbitúricos, anestésicos
Animais de N², argônio, pistola
inaláveis, CO², CO, cloreto de potássio
zoológicos de ar comprimido e pistola.
com anestesia geral prévia.
N², argônio,
Barbitúricos, anestésicos
Aves deslocamento cervical e 225
inaláveis, CO², CO e pistola.
decapitação.
Barbitúricos, anestésicos N², argônio, pistola
Cães inaláveis, CO², CO, cloreto de potássio de ar comprimido, eletrocussão
com anestesia geral prévia. com sedação prévia.
Hidrato cloral, (IV,
Barbitúricos, cloreto de potássio
após sedação), pistola,
Cavalos com anestesia geral prévia e pistola de ar
eletrocussão com sedação
comprimido.
prévia.
N², argônio,
Barbitúricos, anestésicos
deslocamento cervical (<1 kg),
Coelhos inaláveis, CO², CO, cloreto de potássio
decapitação e pistola de ar
com anestesia geral prévia.
comprimido.
Barbitúricos, anestésicos
Gatos inaláveis, CO², CO, cloreto de potássio N², argônio.
com anestesia geral prévia.
Mamíferos Barbitúricos e hidrocloreto de Pistola (cetáceos
marinhos etorfina. <4m de comprimento)
Barbitúricos, anestésicos Decapitação e
inaláveis, CO², tricaína metano sulfonato secção da medula espinhal,
Peixes
(TMS, MS222), hidrocloreto de atordoamento e decapitação
benzocaína, 2-fenoxietanol. ou secção da medula espinhal.
Anestésicos
Primatas não
Barbitúricos inaláveis, CO², CO, N²,
humanos
argônio.
Répteis Barbitúricos, anestésicos Pistola de ar
inaláveis (em algumas espécies), CO² (em comprimido, pistola,
algumas espécies). decapitação e secção da
medula espinhal,
atordoamento e decapitação
Roedores e outros Barbitúricos, anestésicos Metoxiflurano, N²,
pequenos inaláveis, CO², CO, cloreto de potássio argônio, deslocamento cervical
mamíferos com anestesia geral prévia. (ratos <200g), decapitação.
Hidrato cloral (IV, 226
Barbitúricos, cloreto de potássio
após sedação), pistola,
Ruminantes com anestesia geral prévia, pistola de ar
eletrocussão, com sedação
comprimido.
prévia.
Anestésicos
inaláveis, CO, hidrato cloral,
Barbitúricos, CO², cloreto de
(IV após sedação), pistola,
Suínos potássio com anestesia geral prévia,
eletrocussão com sedação
pistola de ar comprimido.
prévia, pancada na cabeça (<
3 semanas de idade).
Barbitúricos, anestésicos
Visões, raposas, e N², argônio,
inaláveis, CO² (visões requerem altas
outros mamíferos eletrocussão, com sedação
concentrações para eutanásia sem
criados para prévia seguida de
agentes suplementares), CO, cloreto de
extração do pelo. deslocamento cervical.
potássio, com anestesia geral prévia.
Embolia Gasosa;
Traumatismo Craniano;
Incineração in vivo;
Hidrato de Cloral (para pequenos animais);
Clorofórmio;
Gás Cianídrico e Cianuretos;
Descompressão;
Afogamento;
Exsanguinação (sem sedação prévia);
Imersão em Formol;
Bloqueadores Neuromusculares (uso isolado de nicotina, sulfato de magnésio,
cloreto de potássio e todos os curarizantes);
Estricnina.
227
Clorofórmio:
Éter:
Sulfato de magnésio:
Estricnina:
Provoca intenso sofrimento do animal. Nas primeiras etapas da convulsão o animal
está consciente e sente dores fortíssimas causadas pelo intenso espasmo muscular. A estricnina
provoca morte agitada, por qualquer que seja a via de administração.
Ácido cianídrico:
Bloqueadores neuromusculares:
229
O Direito legal e suas considerações penais e criminais são importantes, pois vão
garantir tudo àquilo que se propõe como proteção animal em muitas vezes, no entanto o
pensamento do que seja direito dos animais historicamente vem navegando por caminhos
tortuosos e ainda há o pensamento de muitos onde o sentimento dos animais é assunto
“discutível” o que dizer de seus “direitos”. No entanto, esta matéria, é assunto já mundialmente
reconhecido, mesmo que não praticado, o que mostram as lutas constantes e diárias de
inúmeras entidades e discussões científicas, políticas e de cunho filosófico e humanitário.
Bem-estar, proteção e direito dos animais são conceitos distintos muito embora
possam ter pontos em comum e não devem ser confundidos. A aplicação correta de seus
conhecimentos gera em benefício aos animais. O conhecimento e aplicação do bem-estar animal
230
como ciência, da ética podem levar aleias mais completas e benéficas não somente a
comunidade, mas em especial aos animais.
Quando se pretende a proteção aos direitos dos animais e a proteção de animais que
sofrem maus tratos ou até mesmo a prevenção a estes é importante salientar:
• O respeito e aplicação de legislação vigente;
• DEVE SER OBSERVADA TANTO PARA QUEM PREJUDICA UM ANIMAL;
• COMO POR AQUELES QUE TENTAM PROTEGÊ-LOS.
O empenho por medidas que visem ações mais abrangentes é salutar e desejável,
procurando por:
Em meio a todas estas questões, no dia a dia, o BEA como questão científica é difícil
de ser avaliada, ficando o aspecto legal dos Direitos dos Animais e as atividades exercidas por
munícipes de forma variada quanto ao protecionismo aos animais. O médico veterinário, como
profissional bem como as entidades, devem verificar cotidianamente aquilo que está previsto em
resoluções, no caso do CFMV, que possuem uma Comissão de Ética e Bem-estar e que procura
promover a observação dos critérios das Cinco Liberdades e 3 Rs, bem como de legislações
federais, estaduais e municipais.
• É importante o embasamento técnico do Médico Veterinário em especial quanto a
medidas, projetos e políticas existentes em seu município, região ou estado.
• O Médico Veterinário é responsável pelo esclarecimento do público em especial
como um primeiro divulgador das questões de Educação e Posse Responsável, assim como as
demais.
IMPORTANTE:
• As forças públicas igualmente devem ser orientadas sobre as leis ação existentes,
penalidades, formas de sua aplicação.
• Na maioria dos casos nota-se um desconhecimento das forças públicas sobre o
assunto e despreparo. Reconhecemos que as forças públicas brasileiras já contam com
inúmeros problemas. Este seria mais um. Mesmo sobre como um membro de uma força pública
acionada deva atuar mediante um caso que envolva animal – acidentado, agressor, invasor, sob
mau trato e abandonado.
O médico veterinário tem que considerar que é natural que para o público de modo
geral, a busca de informações sobre o que fazer em situações em que surjam dúvidas não
somente clínicas, envolvendo animais, junto a um profissional, que trabalha com animais, por
isso o seu preparo e o conhecimento para ao menos orientações básicas e seguras a pessoa
são fundamentais, para que a comunidade não incorra em erros e acabem muitas vezes
induzidas a práticas de desespero coletivo ou mesmo individuais que podem não resolver a
situação do animal e até mesmo comprometer a situação da pessoa(s) envolvida. Ao menos
saber orientar a que órgão competente encaminhar, o direito mínimo, situação legal mínima ou
encaminhar a outro colega que tenha um esclarecimento melhor sobre o
238
assunto.
As leis sobre os Direitos dos Animais variam de PIS para pais, no entanto, é consenso
que a União Europeia tem avançado nos últimos anos por força de opinião pública e do que
pregam consumidores que forçam criadores e consequentemente profissionais e seus blocos de
representação em discussões sobre a ética profissional na questão da produção animal.
No papiro de Kahoun, documento do antigo Egito, que data de 4000 anos atrás, foram
anotadas observações interessantes sobre cuidados com os animais. Também no Código de
Hamurabi são encontradas normas que preveem obrigações dos humanos em relação à saúde
dos animais. Buda já pregava que uma relação harmoniosa e virtuosa com o mundo traz bem-
estar e leveza ao coração, bem como clareza imperturbável à mente. Um dos registros mais
remotos da preservação da fauna terrestre remonta ao Velho Testamento, com os elementos
descritos na história da Arca de Noé. O grande filósofo Aristóteles foi o autor da primeira obra
que se tem conhecimento sobre o direito dos animais, compreendendo um conjunto de dez
livros, dentre os quais se destacava o Livro dos Animais, que abordava as partes dos animais, a
sua marcha e geração.
240
27 PRIMEIRAS LEGISLAÇÕES
A primeira sociedade protetora dos animais que se tem notícia surgiu na Inglaterra, em
1824, com o nome de Society for de Preservation of Cruelty to Animals. Atualmente, dentre as
organizações não governamentais mais atuantes destacam-se o Fundo Mundial para a
Preservação da Vida Selvagem (ou World Wildlife Found – WWF), o Greenpeace, a União
Vegetariana Internacional e o Movimento pelos Direitos dos Animais. No Brasil, hoje, em quase
todas as cidades há associações que se interessam pelo bem-estar e pela proteção dos animais,
buscando primordialmente minimizar o problema das superpopulações de cães e gatos nos
centros urbanos.
243
Ainda na questão da eutanásia, já discutida em capítulo específico temos no CFMV -
RESOLUÇÃO Nº 714/02. Dispõe sobre procedimentos e métodos de eutanásia em animais, e dá
outras providências. Considerando a diversidade de espécies envolvidas e a multiplicidade de
métodos aplicados; que a eutanásia é um procedimento amplamente utilizado e necessário, e
que sua aplicação pressupõe a observância de parâmetros éticos específicos. Onde: RESOLVE:
Art. 1º Instituir normas reguladoras de procedimentos relativos à eutanásia em animais.
244
A situação de animais de circo é atualmente discutida por entidades, comunidades e a
sociedade como um todo. Apesar disso, não há até o momento uma Lei Federal que determine
ou regulamente a situação de animais em circos, centros de lazer e outros. O Projeto de Lei
7291/06 encontra-se na Câmara dos Deputados e sua votação vem sendo adiada ao longo do
tempo, retardando a possibilidade de implementação de medidas legais que possam auxiliar sem
condições de bem-estar ou até mesmo padecendo de sofrimentos. Há inúmeras denúncias de
abusos e maus tratos, o que acabou determinando o desenvolvimento do projeto. Vários
municípios brasileiros apoiam por meio de leis municipais a iniciativa e não permitem mais a
atividade de circos que se utilizam e empregam o trabalho ou fazem a exploração do trabalho de
animais.
U
Cidade
F
M
Campo Grande
S
P
Curitiba, Ponta Grossa e São José dos Pinhais
R
P
Olinda
E
R Porto Alegre, Caxias do Sul, Montenegro, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Rio
S Grande, Santa Maria, São Leopoldo e Taquara
U
Cidade
F
PL 7291/06 – em tramitação na Câmara dos Deputados, não foi aprovada até o momento.
Aguarda votação.
Art. 1º Esta Lei institui o registro de circos junto ao Poder Público Federal e dispõe
sobre o uso de animais em espetáculos circenses.
Art. 2º Para os fins do disposto nesta Lei, o circo é entendido como o empreendimento
voltado para a apresentação de espetáculos em estruturas circulares desmontáveis, cobertas por
lona e itinerantes.
Art. 3º O circo constitui um dos bens do patrimônio cultural brasileiro, nos termos do
art. 216 da Constituição Federal, e sua atividade fica assegurada em todo o território nacional.
Art. 5º A certidão de registro será expedida pelo órgão federal competente, conforme
disposto no art. 4º desta Lei, e constitui documento hábil para a instalação de circos e
apresentação de espetáculos circenses, atendidas as legislações estaduais e municipais.
Art. 6º Os animais da fauna silvestre brasileira e exótica mantidos pelos circos, ainda
que não utilizados nos espetáculos circenses, deverão ser registrados no órgão ambiental
competente e somente poderão ser mantidos, expostos ao público e transportados sob
condições definidas na regulamentação desta Lei.
Capítulo 01 e Capítulo 02
As leis municipais mais recentes procuram garantir aspectos importantes, para estes
animais trabalhadores, direitos básicos – como tempo de jornada de trabalho – diária e total para
sua vida, direito a repouso, descanso, acesso a água, alimentos, locais limpos, e adequados
entre outros. Para melhor compreensão da dimensão destes fatos segue leitura complementar.
Sobre animais de tração, legislação e BEA, sugerimos a seguinte leitura: 247
BROOM, D.; JOHNSON, K.G. Stress and Animal Welfare. London: Chapman & Hall, 1993. 228
p.
249
COSTA, M. J. R. P. Comportamento e bem-estar de bovinos e suas relações com a
produção de qualidade. NUTRIR – Grupo de Estudos de Nutrição de Ruminantes –
DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. Lei 11.794 de 08 de outubro de 2008. Ano CXLV, n. 196, p. 1-2,
2008
Disponível em: <http://www.butantan.gov.br/materialdidatico/numero11/numero11.pdf>. Acesso
em: 20 jan.2007.
GARCIA, R. C. M. et al. Controle populacional de cães e gatos. Aspectos éticos. Ciênc. vet.
tróp., Recife-PE, v. 11, suplemento 1, p.106-110, abril, 2008.
LUNA, S. P. L. Dor, senciência e bem-estar nos animais. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 11,
suplemento 1, p. 17-21 - abril, 2008.
NOGUEIRA, F. S. et al. Eutanásia animal. Ciên. Agr. Saúde. FEA, Andradina, v. 2, n. 2, p. 90-
95, 2002.
SINGER, P. Animal Liberation. 3. ed., New York: Harper Collins, 2002, 324 p.
SOTO, F.R.M. et al. Motivos do abandono de cães domiciliados para eutanásia no serviço
de controle de zoonoses do município de Ibiúna. São Paulo, Brasil. Vet. e Zootec. v.14, n.1,
jun., p. 100-106, 2007.
253