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17/06/2021 Recentes decisões do CARF sobre os planos de stock options e incidência de contribuições previdenciárias - Huck Otranto Camargo

Recentes decisões do CARF sobre os planos de


stock options e incidência de contribuições
previdenciárias
Por: Henrique Mellão Cecchi de Oliveira e Otávio Dias Ferraz Paixão

12 Abril 2019

Os planos de opções de ações (“stock options plan”) consistem na concessão do direito


de adquirir ações de determinada companhia a funcionários com o intuito de reter
lideranças e/ou talentos por longo prazo, concedendo estímulo para o incremento do
valor de mercado das ações, assim como dar uma mensagem ao mercado sobre
comprometimento dos colaborados com a valorização das ações.

É comum que os planos possibilitem a aquisição de ações de emissão da própria


companhia ou de outra integrante do mesmo grupo econômico. Além disso, existe a
possibilidade de que o pagamento seja realizado mediante entrega direta de ações
(pagamento baseado em ações) ou seja possibilitada a aquisição de ações com efetivo
desembolso (plano de opções de compra).

Do ponto de vista tributário e previdenciário, a legislação brasileira não é


suficientemente clara a respeito do correto tratamento a ser conferido nos pagamentos
baseados em ações ou para os planos de opções de compra. Por muito tempo, a
legislação foi absolutamente silente a respeito dos efeitos tributários e previdenciários
dessas sistemáticas de remuneração e/ou incentivo de funcionários.

Por essa razão, muitos dos aspectos jurídicos dos planos de opções de ações estão
essencialmente relacionados a julgados administrativos proferidos pela Receita Federal
do Brasil e pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (“CARF”), sendo ainda
pouco representativo o número de casos levados à apreciação do Poder Judiciário.
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Com efeito, para determinação das consequências tributárias e previdenciárias, o CARF


tem analisado as especificidades de cada plano elaborado por cada companhia, de
forma a evidenciar a sua natureza: mercantil ou remuneratória.

Os planos de natureza mercantil são aqueles em que o beneficiário assume risco em


virtude da adesão ao plano, especialmente em virtude da possibilidade de
desvalorização da ação após o exercício da opção, não sendo possível materializar o
lucro potencial anteriormente vislumbrado. Nesses casos, o beneficiário assume um
risco de, eventualmente, não ter ganhos ou mesmo perder parte dos recursos
investidos, face a desvalorização das ações adquiridas.

De outro lado, os planos de natureza remuneratória são aqueles em que as ações ou


opções são ofertadas como retribuição de serviços prestados e em função do
atingimento de metas estabelecida para cada um dos beneficiários. Em virtude da
natureza remuneratória, o valor do benefício concedido em ações aos funcionários está
sujeito à incidência do IRRF (tabela progressiva do IRPF de zero a 27,5%) e da CPP (20% –
além das contribuições devidas ao Sistema S e RAT, totalizando aproximadamente
27%).

Recentemente, a 3ª Câmara da 1ª Turma Ordinária do CARF, ao julgar o Recurso


Voluntário n.º 16327.720628/2015­77, entendeu se tratar de plano de natureza
remuneratória aquele em que não há pagamento de prêmio pelo beneficiário na
aquisição das opções de compra de ações, por se tratar de contraprestação dos
serviços prestados pelo segurado, “independentemente do título que se lhe atribua ou
da forma como se revista no mundo jurídico”.

Nesse precedente, além dos critérios que têm sido aplicados pelo CARF, restou decidido
que ausência de pagamento pelo beneficiário de prêmio (assim entendido como o valor
da opção e não o seu preço de exercício) é elemento que distancia o plano das
características identificadas nas opções negociadas em mercado e, portanto, atribui a
ele natureza remuneratória.

De acordo com o voto vencedor, o “fato gerador é remunerar a prestação do trabalho, o


que foi feito com a entrega das ações após a prestação dos serviços, ainda que
submetidas a um prazo de lock up”. Destaca-se que, mesmo diante da existência de
lock-up (denominação utilizada para definir o período após o exercício em que o
beneficiário não pode alienar as ações adquiridas), ainda assim o plano foi considerado
de natureza remuneratória. Em outros precedentes a existência de lock-up foi utilizado
como critério de caracterização de natureza mercantil.

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Ainda, em julgamento do Recurso Voluntário n.º 19515.720655/2015-11 a 1ª Turma


Ordinária da 3ª Câmara da 2ª Seção reiterou o entendimento do CARF sobre o critério
temporal da tributação como o momento em que ocorre o exercício da opção e da
efetiva aquisição da ação. Nesse momento, de acordo com o entendimento do CARF,
deve ser apurada a base de cálculo das contribuições previdenciárias, calculada sobre a
diferença entre o preço de exercício e o valor de mercado das ações nesse momento.

Para o relator, o fato gerador de contribuições previdenciárias sobre o plano de stock


options ocorre pelo ganho auferido pelo trabalhador, mesmo que na condição de
“salário utilidade”, quando ele exerce o direito de compra das ações que lhe foram
outorgadas.

Em que pese, atualmente, a maioria dos planos de opções de compra serem


caracterizados como remuneratórios pelos critérios do CARF, é possível recorrer ao
Poder Judiciário para o reconhecimento da natureza mercantil dos planos.  

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