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Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras

Monografia para Obtenção de grau de Licenciatura em Geologia Marinha

CARACTERIZAÇÃO DA QUALIDADE DOS EFLUENTES LÍQUIDOS


RESIDUAIS AO LONGO DAS VALAS DE DRENAGEM NO MUNICÍPIO DE
QUELIMANE

Autor:

Júlio Joaquim Jacinto

Quelimane, 2022

ii
Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras
Monografia para Obtenção de grau de Licenciatura em Geologia Marinha

CARACTERIZAÇÃO DA QUALIDADE DOS EFLUENTES LÍQUIDOS


RESIDUAIS AO LONGO DAS VALAS DE DRENAGEM NO MUNICÍPIO DE
QUELIMANE

Autor:

Júlio Joaquim Jacinto

Supervisor:

Aurio Mendes (Lic.)

Quelimane, 2022

iii
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais Joaquim Jacinto Machava e Maria Salazar João,
e dizer sem eles este trabalho não seria possível, eles sempre ajudaram com o pouco que
tem, tornando os meus dias especiais durante os 4 anos de carteira, meu muito obrigado
por tudo e espero um dia retribuir a ajuda e a confianças que sempre depositaram em
mim, mesmo eu não tendo forças suficientes eles sempre disseram filho tu és capaz e vá
atrás dos seus sonhos.

i
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus todo-poderoso, pela força durante os 4 anos de muita


pressão e tudo nas suas mãos torna o impossível a possível.

Agradeço a Marinha de Guerra de Moçambique pela bolsa, e o apoio durante os 4


anos de formação, muito obrigado por tudo.

Agradeço a minha esposa Nelva João Matsinhe, e aos meus filhos Lydson e Yudimila
pelo apoio e a forca que tiveram de ficar distante de mim passando varias dificuldade
mais nunca me abandonaram meu muito obrigado por tudo.

Agradeço ao meu orientador doutor Aurio Mendes, pelo imenso apoio, críticas,
incentivos e força que deu-me durante a realização deste trabalho.

Agradeço de forma especial ao meu irmão Joel Francisco Horácio e o Joaquim José
Muzolande por todo suporte e por serem a prova de que não é só sangue que nos torna
Irmãos.

Agradeço aos meus irmãos, tios, tias, primos e aos meus amigos de longa data, pelo
apoio moral e por terem tornado uma parte da minha vida especial.

Agradeço aos meus colegas Muzolande, Joel, Célio, Timóteo, Alexandre, Wilberth,
Elton, Suraia, Josefa, Erzidio, Gentil, Aida, Angelina, Neta, Ayrton, Nora, Alberto,
Edmilson, Samuel, Belizário por tornarem a turma de Geologia 2018, a turma mais
divertida e unida da ESCMC.

Agradeço a Marinha de Guerra e Universidade Eduardo Mondlane pelo memorando de


entendimento que as duas instituições têm, que por sua vez ajudou-me bastante no meu
percurso académico.

Agradeço aos meus docentes e todos funcionários da ESCMC.

Agradeço ao vereador de saneamento e ao presidente do Município pela permissão dado


para que pudesse colectar os dados, e agradeço ao Sr. Nazaré pelo apoio laboratorial.

Meu muito obrigado do fundo do coração.

ii
DECLARAÇÃO DE HONRA

Eu, Júlio Joaquim Jacinto, declaro por minha honra que esta monografia com o título
caracterização da qualidade dos efluentes líquidos residuais ao longo das valas de
drenagem no município de quelimane é resultado da minha investigação pessoal e
está a ser submetida para a obtenção do grau de Licenciatura na Universidade Eduardo
Mondlane, ESCMC - Quelimane. Esta nunca foi, antes submetida para obtenção de
nenhum grau académico e muito menos para avaliação em nenhuma outra Universidade.

O Autor:

_________________________________

Júlio Joaquim Jacinto

Quelimane, 2022

iii
RESUMO
Moçambique é um país em vias de desenvolvimento que apresenta tecnologias de
tratamento de água residual na sua maioria descentralizadas caracterizadas por fossas
sépticas, latrinas melhoradas e latrinas a seco (Aissa, 2022). O não conhecimento do
estado qualitativo dos efluentes residuais pode reverter-se em consequências sociais
(ameaça a saúde pública), estéticas, ecológicas (degradação de ecossistemas nas bacias
de descarga) e económicas (custos de remediação). Assim sendo, o presente trabalho teve
como objectivo principal caracterizar as águas residuais drenadas nos diversos
seguimentos de valas da cidade de Quelimane ao longo dos bairros: Lixo, Aldeia,
Aeroporto, Brandão, 3 Fios, Aquima, Chuabo Dembe, Bairro Novo e Pequeno Brazil,
sob os pontos de vista físico-químico e biológico, sob os pontos de vista físico-químico
e biológico, e propor uma forma viável de mitigar impactos negativos sobre o meio
ambiente. Para satisfazer os objectivos definidos realizou-se a amostragem ao longo dos
sistemas de drenagem de esgotos julgados interessantes de se estudar pela sua posição
geográfica. As amostras foram analisadas no laboratório da FIPAG – Quelimane dando
resultados dos parâmetros físicos (Cor, Temperatura, Turvação, pH), químicos (Cl, Mn,
Fe, Dureza, Alcalinidade, OD) e microbiológicos (MO, Coliformes). Os resultados
foram processados com recurso aos pacotes informáticos Excel e Arcmap, para análises
estatísticas, descriminação de contaminantes e visualização espacial da distribuição. As
conclusões obtidas indicam que a principal fonte de poluição dos efluentes residuais na
cidade de Quelimane são de origem humana, causadas principalmente pelas descargas
de fossas sépticas rudimentares ou indevidamente implantadas. Estas descargas
contribuem para elevados conteúdo de cloretos (> 100 mg/L) nos efluentes de valas de
drenagem, que por sua vez torna propenso os processos de corrosão e liberação de iões
multimetálicos como Mn e Fe, aumentando assim a dureza e a turbidez das águas nos
canais de drenagem, sendo o bairro aeroporto o local que apresenta níveis de
concentração na categoria de contaminação, onde o limiar de corte é 1.49 mg/L para Fe,
10.02 mg/L para Mn, 2.95 NTU para turbidez e ~122 mg/L de CaCO3 para dureza. Os
parâmetros biológicos analisados não mostraram nenhum indício de anormalidade nas
concentrações registadas. Contudo, uma proposta viável para minimizar e mitigar
impactos adversos decorrentes da contaminação de corpos de águas é a implementação
sistema de tratamentos de wetlands construídos de fluxo vertical.

Palavra-chave: Efluentes Líquidos Residuais, Qualidade, Contaminação, Wetlands

iv
ABSTRACT
Mozambique is a developing country that has mostly decentralized water treatment
technologies and wastewater routes through pits, improved latrines and dry latrines
(Aissa, 2022). The lack of knowledge of the qualitative state of residual effluents can
have social consequences (threat to public health), aesthetic, ecological (degradation of
ecosystems in the discharge basins) and economic (remediation costs). Therefore, the
main objective of the present work was to characterize the wastewater drained in the
various segments of ditches in the city of Quelimane along the neighborhoods: Lixo,
Aldeia, Aeroporto, Brandão, 3 Fios, Aquima, Chuabo Dembe, Bairro Novo and
Pequeno Brazil, from the physical-chemical and biological points of view, from the
physical-chemical and biological points of view, and to propose a viable way of
mitigate negative impacts on the environment. In order to meet the defined objectives,
sampling was carried out along the sewage drainage systems considered interesting to
study due to their geographical position. The samples were analyzed in the laboratory of
FIPAG – Quelimane giving results of physical parameters (Color, Temperature,
Turbidity, pH), chemical (Cl, Mn, Fe, Hardness, Alkalinity, OD) and microbiological
(MO, Coliforms). The results were processed using Excel and Arcmap software
packages for statistical analysis, discrimination of contaminants and spatial
visualization of the distribution. The conclusions obtained indicate that the main source
of pollution of residual effluents in the city of Quelimane are of human origin, caused
mainly by the discharge of rudimentary or improperly implanted septic tanks. These
discharges contribute to high chloride content (> 100 mg/L) in the effluent from
drainage ditches, which in turn makes corrosion and release of multimetal ions such as
Mn and Fe prone, thus increasing the hardness and turbidity of the water in the drainage
channels, the airport district being the place that presents concentration levels in the
contamination category, where the cut-off threshold is 1.49 mg/L for Fe, 10.02 mg/L for
Mn, 2.95 NTU for turbidity and ~122 mg /L of CaCO3 for hardness. The biological
parameters analyzed did not show any indication of abnormality in the concentrations
recorded. However, a viable proposal to minimize and mitigate adverse impacts arising
from the contamination of bodies of water is the implementation of a vertical flow
constructed wetland treatment system.

Keywords: Wastewater Effluents, Quality, Contamination, Wetlands

v
Lista de figuras

Figura 1. Direcção de fluxo das águas residuais da cidade de Quelimane. ...................... 9


Figura 2. Estimativa da proporção de águas residuais descarregada em três bacias de
recepção divididas em zonas: Norte, Sul e Sudeste. Dados não concretos. ................... 10
Figura 3. Esquema da secção transversal de um wetland construído de fluxo vertical
(Dotro, Gabriela, et al., 2017). ........................................................................................ 15
Figura 4. Representação esquemática dos mecanismos de remoção dos poluentes num
wetland construído de fluxo vertical (UN-HABITAT, 2008). ....................................... 15
Figura 5. Localização da área de estudo. Fonte: Autor .................................................. 17
Figura 6. Relevo e altimetria da cidade de Quelimane. .................................................. 18
Figura 7. Fluxograma metodológico. ............................................................................. 19
Figura 8. Ponto de colecta de amostras de água nas redes de drenagem de esgoto da
Cidade de Quelimane...................................................................................................... 20
Figura 9. Colecta de amostras de água na rede de drenagem do Bairro Novo (a) e bacia
de recepção no Bairro Chuabo Dembe (b). .................................................................... 21
Figura 10. Amostras de água dos efluentes residuais. .................................................... 21
Figura 11. Ilustração do critério utilizado para determinar background e anomalias. ... 23
Figura 12. Mapas de classe de teores de Ferro. Notar que as concentrações a partir de
1,50 mg/L são estatisticamente descriminadas como contaminação. ............................. 29
Figura 13. Mapas de classe de Manganês. Notar que estatisticamente a contaminação
representa o ponto com 1,90 mg/L. ................................................................................ 30
Figura 14. Mapas de classe de Dureza. Notar que as concentrações a partir de 122,00
mg/L de CaCO3 são estatisticamente descriminadas como contaminação. ................... 30
Figura 15. Mapas de classe de Turbidez. Notar que as concentrações a partir de 2,96
mg/L são estatisticamente descriminadas como contaminação. ..................................... 31

vi
Lista de tabelas

Tabela 1. Padrões de Qualidade Ambiental e de Emissão de Efluentes estabelecido pelo


Decreto nº 18/2004 da legislação moçambicana. Fonte: Decreto-Lei nº 18/2004, de 2 de
Junho................................................................................................................................. 8
Tabela 2. Padrões de emissão efluentes líquidos de indústrias químicas estabelecido
pelo Decreto nº 18/2004 da legislação moçambicana. Fonte: Decreto-Lei nº 18/2004, de
2 de Junho. ........................................................................................................................ 8
Tabela 3: Parâmetros analisados no laboratório e considerados na caracterização dos
efluentes residuais........................................................................................................... 22
Tabela 4. Resultados de análises físicas e microbiológicas das águas residuais. ........... 25
Tabela 5. Resultados de análises químicas das águas residuais nos esgotos. ................. 26
Tabela 6. Matriz de correlação de Pearson entre os parâmetros físicos e químicos....... 27
Tabela 7. Matriz de correlação de Pearson entre os parâmetros químicos. .................... 27
Tabela 8. Matriz de correlação de Pearson entre os parâmetros biológicos e químicos. 27

vii
Lista de abreviatura

DBO Demanda Bioquímica de Oxigénio


DQO Demanda Química de Oxigénio
ER Efluentes Liquidos
ESCMC Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras
ETAR Estações de tratamento de águas residuais
Fe Ferro
FIPAG Fundo de Investimento e património do Abastecimento de Água
Mn Manganês
NMP Numeros Mais Provável
NTU Turbidez Nefelométrica
OD Oxigénio Dissolvido
PB Parâmetros Biológicos
PF Parâmetros Físicos
pH Potencial Hidrogeniônico
PQ Parâmetros Químicos
VMA Valor Máximo Admíssivel
WC Wetland Construído
WCFV Wetland Construído de Fluxo Vertical
WFVS Wetland de Fluxo Vertical Subsuperficial

viii
Índice
AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... ii

RESUMO ........................................................................................................................ iv

ABSTRACT ..................................................................................................................... v

Lista de figuras ................................................................................................................ vi

Lista de tabelas ............................................................................................................... vii

Lista de abreviatura ....................................................................................................... viii

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1

1.1 Problematização ................................................................................................. 2

1.2 Justificativa ........................................................................................................ 3

1.3 Objectivos .......................................................................................................... 3

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 5

2.1. Efluentes residuais ............................................................................................. 5

2.2. Caracteristicas dos efluentes residuais domésticas ............................................ 5

2.2.1. Características físicas ................................................................................. 5

2.2.2. Características químicas ............................................................................. 6

2.2.3. Características químicas ............................................................................. 7

2.3. Padrões de emissão de efluentes residuais – Breve quadro legal ...................... 7

2.4. Sistema de Saneamento na Cidade de Quelimane ............................................. 9

2.5. Parâmetros de qualidade dos efluentes residuais ............................................. 10

2.5.1. Parâmetros físicos ..................................................................................... 11

2.5.2. Parâmetros Químicos ................................................................................ 11

2.6. Wetlands Construídos ...................................................................................... 13

2.6.1. Wetlands de fluxo vertical subsuperficial (WFVS) .................................. 14

3. METODOLOGIA ................................................................................................... 17

3.1. Área de estudo ................................................................................................. 17

3.2. Clima ................................................................................................................ 17

ix
3.3. Relevo .............................................................................................................. 18

4. METODOLOGIA ................................................................................................... 19

4.1. Trabalho de gabinete ........................................................................................ 19

4.2. Trabalho de campo ........................................................................................... 20

4.3. Análises laboratoriais ....................................................................................... 21

4.3.1. Parâmetros analisados............................................................................... 21

4.4. Processamento ................................................................................................. 22

4.4.1. Análise estatística bivariada ..................................................................... 22

4.4.2. Descriminação de anomalias .................................................................... 22

4.4.3. Análise espacial ....................................................................................... 23

5. RESULTADOS ....................................................................................................... 24

5.1. Variação dos parâmetros físicos e biológicos nos efluentes residuais ............. 24

5.2. Variação dos parâmetros químicos nos efluentes residuais ............................. 25

5.3. Análise estatística bivariada ............................................................................. 26

5.3.1. Correlação entre os parâmetros físicos, químicos e biológicos ................... 26

5.4. Identificação de contaminação nos efluentes residuais ................................... 27

5.5. Classificação espacial da contaminação nos efluentes residuais ..................... 29

6. DISCUSÃO DOS RESULTADOS ......................................................................... 32

6.1. Caracterização dos parâmetros físicos, químicos e microbiológicos............... 32

6.2. Distribuição espacial do Mn, Fe, Dureza e Turbidez....................................... 34

7. CONCLUSÕES ....................................................................................................... 36

7.1. LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES ......................................................... 37

8. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 39

x
1. INTRODUÇÃO
Moçambique é um país em vias de desenvolvimento que apresenta tecnologias de
tratamento de água residual na sua maioria descentralizadas caracterizadas por fossas
sépticas, latrinas melhoradas e latrinas a seco (Aissa, 2022). Apenas uma parte da
população das zonas urbanas acede a rede de esgoto o que significa que o serviço de
saneamento básico do meio não abrange a maior parte da população moçambicana
tornando-a exposta a doenças. Assim sendo, o presente trabalho teve como objectivo
principal caracterizar as águas residuais drenadas nos diversos seguimentos da cidade de
Quelimane, sob os pontos de vista físico-químico e biológico, e propor uma forma
viável de mitigar impactos negativos sobre o meio ambiente.
O sistema de drenagem de um núcleo habitacional é o mais destacado no processo de
expansão urbana, ou seja, o que mais facilmente comprova a sua ineficiência,
imediatamente após as precipitações significativas, trazendo transtornos à população
quando causa inundações e alagamentos. Além desses problemas gerados, também
propicia o aparecimento de doenças como a leptospirose, diarréias, febre tifóide e a
proliferação dos mosquitos anofelinos, que podem disseminar a malária. E, para isso
tudo, estas águas deverão ser drenadas e como medida preventiva adotar-se um sistema
de escoamento eficaz que possa sofrer adaptações, para atender à evolução urbanística,
que aparece no decorrer do tempo (FUNASA, 2007).
À medida que as comunidades e a concentração humana tornam-se maiores, as soluções
individuais para remoção e destino do esgoto doméstico devem dar lugar às soluções de
caráter coletivo denominadas sistema de esgotos. Um sistema de esgotamento sanitário
só pode ser considerado completo se incluir a etapa de tratamento. A finalidade da
estação de tratamento de esgotos (ETE) é a de remover os poluentes dos esgotos, os
quais viriam causar uma deterioração da qualidade dos cursos da água receptores. No
entanto, um aspecto importante a considerar é a qualidade dos efluentes residuais, uma
análise que deve ser feita com intuito de identificar potenciais poluentes dos esgotos
assim como as respectivas causas e fontes, para assim estabelecer medidas de mitigação
e remediação em casos de contaminação (FUNASA, 2007).
As actividades humanas têm provocado, ao longo dos anos, grandes impactos nos
ecossistemas aquáticos, sendo que os despejos de efluentes industriais e domésticos
constituem-se na maior fonte antrópica de compostos químicos e de microrganismos
que são lançados nos corpos de água (BASSOI et al., 1990).

1
Neste contexto, a presente monografia teve como objectivo caracterizar as águas
residuais drenadas nos diversos seguimentos de valas da cidade de Quelimane ao longo
dos bairros: Lixo, Aldeia, Aeroporto, Brandão, 3 Fios, Aquima, Chuabo Dembe, Bairro
Novo e Pequeno Brazil, sob os pontos de vista físico-químico e biológico, sob os pontos
de vista físico-químico e biológico. Para satisfazer os objectivos definidos procedeu-se
a inventariação de bases conceituais relacionadas e metodológicas de tratamento de
dados. Os dados utilizados consistiram em amostras de água colectadas em 9 pontos ao
longo de sistemas de drenagem de esgotos. As amostras foram analisadas pelo
laboratório da FIPAG – Quelimane dando resultados dos parâmetros físicos (Cor,
Temperatura, Turvação, pH), químicos (Cl, Mn, Fe, Dureza, Alcalinidade, OD) e
microbiológicos (MO, Coliformes). O tratamento aplicado foi do tipo pesquisa
descritiva que, objectiva descrever as características de determinada população,
fenómeno ou o estabelecimento de relações entre as variáveis, e a correlação entre as
variáveis, a definição das concetrações anormais e a distribuição espacial dos mesmos
teve uma abordagem quantitativa fundamentada em gráficos, tabelas e mapas para a
ilustração dos resultados.

1.1 Problematização
Moçambique é um país em vias de desenvolvimento que apresenta tecnologias de
tratamento de água residual na sua maioria descentralizadas caracterizadas por fossas
sépticas, latrinas melhoradas e latrinas a seco (Aissa, 2022). Apenas uma parte da
população das zonas urbanas acede a rede de esgoto o que significa que o serviço de
saneamento básico do meio não abrange a maior parte da população moçambicana
tornando-a exposta a doenças.
A cidade de Quelimane apresenta um ordenamento territorial desordenado, associado ao
aumento da densidade populacional é inevitável uma demanda e consumo de produtos
diversos e em quantidades cada vez crescentes, potencializando assim a degradação do
meio ambiente. O não conhecimento do estado qualitativo dos efluentes residuais pode
reverter-se em consequências sociais (ameaça a saúde pública), estéticos, ecológicas
(degradação de ecossistemas nas bacias de descarga) e económicas (custos de
remediação). Nesta vertente coloca-se como ponto de partida da pesquisa a seguinte
questão: “Quais são as características físicas, químicas e microbiológicas dos efluentes
líquidos residuais nas valas de drenagem da cidade de Quelimane?”

2
1.2 Justificativa
Os impactos provocados pelos despejos urbanos e pelas indústrias variam de acordo
com os hábitos e finalidade da utilização de um determinado espaço físico, assim como
com o seguimento industrial.

Estudos virados para os impactos da fraca gestão dos efluentes líquidos residuais na
cidade de Quelimane são escassos. Atendendo e considerando que os efluentes têm
como destino final os cursos de águas naturais e em parte pode se infiltrar no subsolo, é
de se esperar que num futuro não distante sinta-se os diversos impactos negativos da
contaminação e degradação do meio ambiente em diversas proporções. Neste contexto,
conhecer as características dos efluentes drenados pode fornecer suporte metodológico
para mitigar e/ou remediar eventuais casos de contaminação.
O presente estudo tem importância ambiental, social e económica, para além de servir
para despertar a necessidade de se velar pela qualidade das águas residuais como um
requisito de protecção ambiental, fornece subsídio contextual de uma metodologia
viável e amplamente aplicada no tratamento dos efluentes residuais, cuja aplicabilidade
pode varia de uma escala residencial a municipal. A pesquisa acrescenta, ainda, bases
metodológicas e recomendações interessantes e indispensáveis para futuras pesquisas
científicas.

1.3 Objectivos

Geral

Caracterizar as águas residuais drenadas nos diversos seguimentos de valas da cidade de


Quelimane ao longo dos bairros: Lixo, Aldeia, Aeroporto, Brandão, 3 Fios, Aquima,
Chuabo Dembe, Bairro Novo e Pequeno Brazil, sob os pontos de vista físico-químico e
biológico, sob os pontos de vista físico-químico e biológico.

Específicos

 Caracterizar os parâmetros físicos (Cor, Temperatura, Turvação, pH), químicos


(Cl, Mn, Fe, Dureza, Alcalinidade, OD) e microbiológicos (MO, Coliformes)
nos efluentes líquidos residuais na cidade de Quelimane;
3
 Aplicar métodos estatísticos de tratamento de dados para descriminar possíveis
casos de contaminação nos efluentes residuais;
 Propor medidas de gestão dos efluentes residuais com vista a mitigar os
impactos negativos sobre o meio ambiente.

4
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Efluentes residuais


A palavra esgoto costumava ser usada para definir tanto a tubulação condutora das
águas servidas de uma comunidade, como também o próprio líquido que flui por essas
canalizações. Hoje, este termo é usado quase que apenas para caracterizar os despejos
provenientes das diversas modalidades do uso das águas, tais como de uso doméstico,
comercial, industrial, de utilidade pública, de áreas agrícolas, de superfície, pluviais, e
outros efluentes sanitários Feistel (2011).

Segundo Feistel (2011) os efluentes costumam ser classificados em dois grupos


principais: os efluentes sanitários ou domésticos e os industriais.

Os efluentes domésticos contêm aproximadamente 99,9% de água. A fracção


restante inclui sólidos orgânicos e inorgânicos, suspensos e dissolvidos, bem
como microorganismos. Este efluente provém principalmente das residências,
edifícios comerciais, instituições ou quaisquer edificações que contenham
instalações de banheiros, lavandeiras, cozinhas, ou qualquer dispositivo de
utilização de água para fins domésticos. Compõem-se essencialmente de água de
banho, urina, fezes, papel, restos de comida, sabão, detergentes e água de
lavagem.
Os efluentes industriais, extremamente diversos, provêm de qualquer utilização
da água para fins industriais, e adquirem características próprias em função do
processo industrial empregado. Assim sendo, cada indústria deverá ser
considerada separadamente, uma vez que seus efluentes diferem até mesmo nos
processos industriais similares

2.2. Caracteristicas dos efluentes residuais domésticas

2.2.1. Características físicas


As principais características das águas residuais domésticas são: matéria sólida,
temperatura, odor, cor, turbidez e variação de vazão (FUNASA, 2007).
 A água residual contém aproximadamente 99,9% de água e 0,1% de matéria
sólida constituída por sólidos inorgânicos e orgânicos, suspensos e dissolvidos,
assim como microorganismos (Chiavelli, et al., 2019; FUNASA, 2007).

5
 A temperatura é, geralmente, pouco superior a temperatura das águas de
abastecimento sendo que a velocidade de decomposição da água residual é
proporcional ao aumento da temperatura (Chiavelli, et al., 2019; FUNASA,
2007).
 Os odores são libertos durante o processo de decomposição causando mau
cheiro (cheiro a mofo) característico de água residual fresca. Entretanto, a água
residual velha tem cheiro insuportável de ovo podre característico, em virtude da
presença do gás sulfídrico (Chiavelli, et al., 2019; FUNASA, 2007).
 A cor e a turbidez são indicadores imediatos da decomposição da água residual.
A cor acinzentada caracteriza a água residual recente e cor preta para água
residual velha (Chiavelli, et al., 2019; FUNASA, 2007).
 A variação de vazão é de acordo com os hábitos da população e é calculada em
função d consumo médio diário (Chiavelli, et al., 2019; FUNASA, 2007).

2.2.2. Características químicas


As características químicas mais importantes da água residual doméstica são a matéria
orgânica que constitui 70% de sólidos de origem orgânica presentes na água. Estes
sólidos, geralmente, são compostos por carbono, hidrogénio e oxigénio, e por vezes por
nitrogénio (Chiavelli, et al., 2019; FUNASA, 2007). As substâncias orgânicas nas águas
residuais são constituídos pelos seguintes compostos (FUNASA, 2007):

 Proteínas (40 a 60%): são produtoras de nitrogénio e contêm carbono,


hidrogénio, oxigénio, algumas vezes fósforos, enxofre e ferro. As proteínas são
o principal constituinte de organismo animal, mas ocorrem também em plantas.
O gás sulfídrico presente nas águas residuais domésticas é proveniente do
enxofre fornecido pelas proteínas;
 Carboidratos (25 a 50%): contêm carbono, hidrogénio e oxigénio. São as
principais substâncias a serem destruídas pelas bactérias, com a produção de
ácidos orgânicos, (por esta razão os esgotos velhos apresentam maior acidez);
 Gordura: é o mesmo que matéria graxa e óleos, provém geralmente da água
residual doméstica graças ao uso de manteiga, óleos vegetais, da carne, etc;
 Sulfatans: são constituídos por moléculas orgânicas com a propriedade de
formar espuma no corpo receptor ou na estação de tratamento de água residual;
 Fenóis: são compostos orgânicos originados em despejos industriais.

6
A matéria inorgânica nas águas residuais domésticas é constituída, principalmente,
pela presença de substâncias minerais dissolvidas e areia (Chiavelli, et al., 2019;
FUNASA, 2007).

2.2.3. Características químicas


As principais características biológicas do esgoto são: microrganismos de águas
residuais e indicadores de poluição.

2.2.3.1. Microrganismos de águas residuais


Os principais organismos encontrados nos esgotos são: as bactérias, os fungos, os
protozoários, os vírus e as algas. Destes grupos as bactérias são as mais importantes,
pois são responsáveis pela decomposição e estabilização da matéria orgânica, tanto na
natureza como nas estações de tratamento.

O oxigénio é essencial a todo ser vivo para sua sobrevivência. Na atmosfera encontra-se
o oxigénio necessário aos organismos terrestres e o oxigénio para organismos aquáticos
se encontram dissolvidos na água. Como qualquer ser vivo, as bactérias também
precisam de oxigénio. As bactérias aeróbicas utilizam-se do oxigénio livre na atmosfera
ou dissolvidos na água, porém as bactérias anaeróbicas para obtê-lo decompõem
substância compostas.

2.3. Padrões de emissão de efluentes residuais – Breve quadro legal

No âmbito do controlo da poluição em Moçambique, foi criado o Regulamento sobre


Padrões de Qualidade Ambiental e de Emissão de Poluentes (Decreto-Lei nº
18/2004, de 2 de Junho, Anexo IV), idêntico ao Regulamento dos Sistemas Públicos
de Distribuição de Água e de Drenagem de Águas Residuais (Decreto-Lei n.º
30/2003 de 1 de Julho de 2003, Anexo 17) que estabelece padrões para vários
parâmetros associados aos usos e de emissões e descarga. Este decreto tem como
principal objetivo, a proteção do meio ambiente das descargas das águas residuais
urbanas e industriais, através de estabelecimento de critérios de recolha, tratamento e
descarga das mesmas. Exigindo-se que, em casos específicos, possa recorrer-se a um
nível de tratamento mais exigente (por exemplo, a de desinfeção). Os padrões gerais de
descarga de Águas Residuais Domésticas no meio recetor apresentam-se na tabela 1
(Decreto-Lei nº 18/2004, de 2 de Junho, Anexo IV).

7
Tabela 1. Padrões de Qualidade Ambiental e de Emissão de Efluentes estabelecido pelo
Decreto nº 18/2004 da legislação moçambicana. Fonte: Decreto-Lei nº 18/2004, de 2 de
Junho.

No que diz respeitos aos limites admissíveis de emissão de efluentes líquidos residuais,
as indústrias químicas diversas devem velar pelos valores máximos admissíveis
apresentados na tabela 2, baseado no Decreto 18/2004 – Regulamento sobre Padrões de
Qualidade Ambiental e de Emissão de Efluentes.

Tabela 2. Padrões de emissão efluentes líquidos de indústrias químicas estabelecido


pelo Decreto nº 18/2004 da legislação moçambicana. Fonte: Decreto-Lei nº 18/2004, de
2 de Junho.

Parametros VMA
pH 6–9
Turbidez 50 mg/L
Cloretos 100 mg/L
Sulfatos 100 mg/L

8
2.4. Sistema de Saneamento na Cidade de Quelimane
O sistema de saneamento mais aplicado na Cidade de Quelimane é do tipo “latrinas”,
embora no centro da cidade, disponha de rede de colectores das águas residuais e
pluviais. O funcionamento da rede é na sua maioria, de montante para jusante, no
sentido gravítico, não existindo estações de tratamento de águas residuais (ETAR). As
restantes águas residuais são direcionadas para os canais fluviais dos Bons Sinais,
Chipaca e algumas depressões locais através de vários emissários.
A gestão de efluentes residuais ainda é uma prática incipiente na cidade de Quelimane,
falar do tratamento desses efluentes ainda está longe de se pensar. Entretanto,
actualmente existem dois tipos principais de drenagens desses efluentes (esgotos):
metálicos e revestidos de concreto a céu aberto. No que diz respeito a distribuição e
migração dessas águas pode-se apreciar o esboço esquemático do mapa fornecido pela
autarquia local (figura 1). Em termos gerais estima-se que apenas 30% da cidade esteja
abrangida pelos sistemas de drenagens de água.

Figura 1. Direcção de fluxo das águas residuais da cidade de Quelimane.

Fonte: MCA, 2022.

Em termos relativos a zona sul (Rio Bons Sinais - BS) recebe mais descarga de águas
residuais, seguido da zona norte (depressões locais - DL) e por fim sudoeste
(Distributivo dos Bons Sinais - DBS) (Figura 2).

9
Figura 2. Estimativa da proporção de águas residuais descarregada em três bacias de
recepção divididas em zonas: Norte, Sul e Sudeste. Dados não concretos.

2.5. Parâmetros de qualidade dos efluentes residuais


Segundo (Da Silva, 2018), diversas substâncias comprometem a qualidade da água
presente nos efluentes residuais como, por exemplo, a matéria orgânica, o nitrogénio, o
fósforo, os óleos e graxas, os microorganismos, os patogénicos, entre outros. Assim,
para caracterizar a qualidade das águas residuais é necessário avaliar parâmetros físicos,
químicos ou biológicos e o tratamento destas tem como objectivo reduzir ou eliminar a
carga orgânica e os organismos patogénicos antes de serem lançadas em corpos
hídricos.

Em cada grupo de parâmetros fazem parte várias medidas de qualidade e quantidade:

 Parâmetros Físicos: temperatura, condutividade eléctrica, sólidos totais, cor,


turbidez, etc.;
 Parâmetros Químicos: alcalinidade, acidez, dureza, pH, oxigénio dissolvido
(OD), demanda bioquímica de oxigénio (DBO), demanda química de oxigénio
(DQO), nitrato, nitrito, nitrogénio amoniacal, fósforo total, detergentes, óleos e
graxas, fenóis, cloretos, ferro, potássio, sulfeto, magnésio, alumínio, zinco,
bário, cádmio, boro, arsénio, níquel, chumbo, cobre, cromo (III), cromo (IV),
selénio, mercúrio;
 Parâmetros microbiológicos: coliformes fecais, coliformes totais, etc..

10
2.5.1. Parâmetros físicos
A temperatura (Tª) influencia directamente no metabolismo dos microorganismos pois
quanto maior for a temperatura maior será a capacidade metabólica acelerando o
processo de degradação da MO, a assimilação de nutrientes e o consumo do oxigénio
dissolvido na água (Costa, et al., 2003). A Temperatura é um factor que influencia a
grande maioria dos processos físicos, químicos e biológicos na água, assim como,
outros processos como a solubilidade dos gases dissolvidos. Uma elevada temperatura
faz diminuir a solubilidade dos gases, por exemplo, o oxigénio dissolvido, além de
aumenta a taxa de transferência de gases, oque pode gerar mau cheiro, no caso da
liberação de gases com odores desagradáveis.

Organismos aquáticos possuem limites de tolerância térmica superior e inferior,


temperaturas óptimas para crescimento, temperatura preferencial em gradientes
térmicos e limitações de temperatura para migração, desova e incubação do ovo.
Variações de temperatura são partes do regime climático normal e corpos de água
natural apresentam variações sazonais e diurnas, bem como estratificação vertical.

A Cor é originada de forma natural, da decomposição da matéria orgânica,


principalmente dos vegetais – ácidos húmicos e fúlvicos, além de ferro e manganês. A
cor de origem antrópica surge dos resíduos industriais e esgotos domésticos. Apesar de
ser pouco frequente a relação entre cor acentuada e risco sanitário nas águas coradas, a
coloração da água contendo a matéria orgânica dissolvida responsável pela cor pode
gerar produtos potencialmente cancerígenos, entre eles, os trihalometanos.

A turbidez representa o grau de interferência com a passagem da luz através da água,


conferindo uma aparência turva à mesma. A alta turbidez reduz a fotossíntese de
vegetação enraizada submersa e algas. Esse desenvolvimento reduzido de planta pode,
por sua vez, suprimir a produtividade de peixes. Logo, a turbidez pode influenciar nas
comunidades biológicas aquática.

2.5.2. Parâmetros Químicos


Alcalinidade é a medida da capacidade que a água tem de neutralizar ácidos, isto e, a
quantidade de substâncias na água que actuam como tampão (AMERICAN PUBLIC
HEALTH ASSOCIATION, 1998). Os principais constituintes da alcalinidade são os

11
bicarbonatos (HCO3-), carbonatos (CO3-2) e os hidróxidos (OH-). As origens da
alcalinidade são a dissolução de rochas e as reacções do dióxido de carbono (CO2),
resultantes da atmosfera ou da decomposição da matéria orgânica, com a água. Além
desses, os despejos industriais são responsáveis pela alcalinidade nos cursos de água.
Esta variável deve ser avaliada por ser importante no controle do tratamento de água,
estando relacionada com a coagulação, redução de dureza e prevenção da corrosão em
tubulações.

Dureza é a concentração de catiões multimetálicos em solução. Os catiões mais


frequentes associados à dureza são os catiões Ca+2 e Mg+2. As principais fontes de
dureza são a dissolução de minerais contendo cálcio e magnésio, exemplificando as
rochas calcárias e os despejos industriais. A ocorrência de determinadas concentrações
de dureza na água causa um sabor desagradável e pode ter efeitos laxativos. Além disso,
causa incrustações nas tubulações de água quente como aquecedores, em função da
maior precipitação nas temperaturas elevadas.

O potencial de hidrogénio (pH) representa a condição de acidez ou de basicidade da


água que se refere à concentração de iões de hidrogénio. Esta concentração afecta o
desenvolvimento dos microorganismos contidos na água residual (Costa, et al., 2003).
Os organismos aquáticos estão geralmente adaptados às condições de neutralidade e, em
consequência, alterações bruscas do pH de uma água podem acarretar no
desaparecimento dos seres presentes na mesma. Os valores fora das faixas
recomendadas podem alterar o sabor da água e contribuir para corrosão do sistema de
distribuição de água, ocorrendo assim, uma possível extracção do ferro, cobre, chumbo,
zinco, e dificultar a descontaminação das águas.

O oxigénio dissolvido (OD) é essencial para a manutenção de processos de


autodepuração em sistemas aquáticos naturais e estacões de tratamento de esgotos. A
presença de matéria orgânica em decomposição reduz a concentração de oxigénio na
água por causa do metabolismo bacteriano. O oxigénio dissolvido (OD) é
particularmente corrosivo para tubos de ferro e aço, especialmente sob condições
elevadas de CE.

O ferro aparece, normalmente, da dissolução de compostos do solo e dos despejos


industriais. O ferro, em quantidade adequada, é essencial ao sistema bioquímico das

12
águas, podendo, em grandes quantidades, se tornar nocivo, dando cor desagradável às
águas residuais, além de elevar a dureza, tornando-a inadequada ao uso secundário.

Manganês (Mn) em águas residuais ocorre muitas vezes associado ao ferro devido a
similaridade no comportamento químico, em muitos casos resultam ambos da corrosão
de tubulações metálicas, mais pode provir de despejos industriais uma vez que é
utilizado na fabricação de ligas metálicas e bactérias e na indústria química em tintas,
vernizes, fogos de artifícios e fertilizantes, entre outros.

Os cloretos existem normalmente nos dejectos animais. Estes, sob certas circunstâncias,
podem causar poluição orgânica dos mananciais. Nos esgotos, elevados valores para
cloretos pode indicar poluição humana (como resultado de excreções de cloreto pela
urina, por exemplo) ou por despejos industriais, e acelera os processos de corrosão em
tubulações de aço e de alumínio, além de alterar o sabor da água.

2.6. Wetlands Construídos


O termo wetlands (do inglês) ou áreas alagáveis é utilizado para caracterizar vários
ecossistemas naturais que ficam parcial ou totalmente inundados durante o ano (Salatti,
2003). Wetlands construídos (WC) são sistemas de engenharia concebidos para
optimizar os processos encontrados no ambiente natural e são, por isso, considerados
opções amigas do ambiente e sustentáveis para o tratamento de águas residuais. Este
tipo de sistema de tratamento tem baixos requisitos de operação e manutenção, e são
robustos sendo capazes de tratar eficazmente águas residuais brutas, águas residuais
após o tratamento primário, secundário ou terciário, e outros tipos de águas residuais
provenientes de fonte agrícola ou industrial (Dotro, Gabriela, et al., 2017). Os sistemas
de wetlands construídos variam de dimensionamento, configuração e escala tanto para
habitações de pequenas comunidades até aos sistemas municipais (UN-HABITAT,
2008).

Os sistemas de wetlands construídos modernos são sistemas feitos pelo homem e


concebidos para enfatizar as características específicas dos ecossistemas de wetlands
naturais para melhorar a capacidade de tratamento (Kadlec & Wallace, 2009). Os
wetlands construídos podem ser feitos numa variedade de modos hidrológicos. Os tipos
básicos de sistemas construídos de wetlands construídos são:
 Wetlands de fluxo superficial (WFS): têm áreas de águas livres e são
semelhantes em aparência aos pântanos;

13
 Wetlands de fluxo horizontal subsuperficial (WFHS): pântanos que,
tipicamente, empregam um meio filtrante do tipo saibro com vegetação por
cima. A água que é drenada para baixo da superfície do material filtrante, sai de
forma horizontal da unidade de tratamento;
 Wetlands de fluxo vertical subsuperficial (WFVS): distribuem água através
da superfície de um leito de areia ou saibro com vegetação. A água é tratada a
medida que percola através da zona das raízes das plantas e do material filtrante,
saindo de forma vertical da unidade de tratamento.

2.6.1. Wetlands de fluxo vertical subsuperficial (WFVS)


Este sistema wetland construído caracteriza-se por ser espécie de uma bacia pouco
profunda com algum tipo de material mais superficial (substracto) que, geralmente, é
constituído por material particulado de areia ou cascalho e com alguma vegetação
tolerante a condições de saturação. As águas residuais são introduzidas na bacia e
lançadas sobre a superfície onde logo de seguida serão descarregadas para fora da bacia
através de uma estrutura que controla a profundidade das águas residuais no wetland
(UN-HABITAT, 2008).
Assim, por assemelhar-se a um ambiente natural, o WC através da interacção entre os
seus elementos (água, substracto, vegetação e microorganismos) realizam processos
físicos, químicos e biológicos para a remoção de poluentes (Ramos, 2019). A tecnologia
de WC tem potencial para a remoção de uma variedade de poluentes com mais
incidência para a matéria orgânica e nutrientes como nitrogénio e fósforo, além de poder
remover metais pesados e organismos patogénicos (Ramos, 2019). Os mecanismos para
a remoção de poluentes usados são sedimentação, filtração, degradação microbiológica
(aeróbica e anaeróbica), nitrificação e desnitrificação, absorção de nutrientes pelas
plantas (nitrogénio e fósforo), e a remoção de agentes patogénicos (Castanha, 2018).
Segundo UN-HABITAT (2008), as vantagens do uso desse sistemas são:
 Boa capacidade de transferência de oxigénio para o leito filtrante, resultando
numa boa nitrificação;
 Consideravelmente mais pequenos do que o sistema de WCFH;
 Removem eficazmente o carbono orgânico (DBO e DQO) e os agentes
patogénicos.

14
A figura 3 ilustra esquematicamente a estrutura de um wetland construído de fluxo
vertical, este compreende um leito plano de areia/gravilha coberta com areia/gravilha e
vegetação (denominadas macrófitas aquáticas segundo (Castanha, 2018)).

Figura 3. Esquema da secção transversal de um wetland construído de fluxo vertical


(Dotro, Gabriela, et al., 2017).

Figura 4. Representação esquemática dos mecanismos de remoção dos poluentes num


wetland construído de fluxo vertical (UN-HABITAT, 2008).

15
Os mecanismos de remoção dos poluentes em wetlands construídos de fluxo vertical
apresentados na figura 4 ocorrem da seguinte forma (UN-HABITAT, 2008):

 Os sólidos sedimentáveis e os suspensos são removidos por processos de


filtração e sedimentação;
 O crescimento microbiano é responsável pela remoção de compostos orgânicos
solúveis. Estes compostos são degradados biologicamente de forma aeróbica (na
presença de oxigénio dissolvido) ou de forma anaeróbica (na ausência de
oxigénio dissolvido). O oxigénio necessário para a degradação aeróbica é
fornecido directamente da atmosfera por difusão ou fuga de oxigénio das raízes
da vegetação, porém, a transferência de oxigénio das raízes é insignificante;
 A remoção de fósforo em wetlands construídos é feita por adsorção,
complexação e precipitação, armazenamento, captação e fixação pelas plantas;
 A remoção de nitrogénio em wetlands construídos é feita de modo múltiplo e
inclui volatilização, amonificação, nitrificação/desnitrificação e absorção pelas
plantas;
 O processo de remoção de metais em wetlands construídos inclui sedimentação,
filtração, adsorção, complexação, precipitação, troca catiónica, absorção pelas
plantas e processos microbiológicos mediada por reacções, especialmente de
oxidação. A adsorção envolve a ligação de iões metálicos a superfície da planta
ou a matriz, enquanto a presença de bactérias provoca a precipitação de óxidos e
sulfuretos metálicos no interior do wetland;
 Os agentes patogénicos são removidos em wetlands durante a passagem de
águas residuais através do sistema principalmente por sedimentação, filtração e
adsorção por biomassa. Uma vez que estes organismos são presos no sistema, os
seus números diminuem rapidamente, principalmente através dos processos de
extinção natural e predação.
A eficiência do tratamento de um WCFV está directamente relacionada com o material
filtrante utilizado. Se for utilizado material fino, o tempo de retenção das águas
residuais no filtro é maior o que irá permitir maiores eficiências de remoção.

16
3. METODOLOGIA

3.1. Área de estudo


A Cidade de Quelimane localiza-se na província da Zambézia, na região centro de
Moçambique. Esta situada junto ao rio dos Bons Sinais, a cerca de 20km do oceano
Indico. E limitado geograficamente pelo distrito de Nicoadala, a noroeste e Inhassunge a
Sul. A Cidade de Quelimane situa-se na Província da Zambézia (figura 5), entre os
paralelos 17º52'35''S e 36º53'14''E. A região é caracterizada por um clima quente e
húmido de duas estações. A precipitação média anual é aproximadamente 1.428 mm ao
redor de Quelimane e Inhassunge, sendo que o período chuvoso decorre de Novembro a
Abril (HOGUANE, 2007).

Figura 5. Localização da área de estudo. Fonte: Autor

3.2. Clima
O clima do Distrito de Quelimane é predominantemente do tipo “Tropical chuvoso de
savana (Aw)”, com duas estações distintas, a estação chuvosa e a estação seca. A
caracterização do clima baseia-se nos registos históricos da Estação Meteorológica de
Quelimane.

17
A temperatura média anual é de 25,3 °C, registando-se uma amplitude térmica anual
relativamente baixa, inferior a cerca de 6 °C. Janeiro é o mês mais quente com uma
temperatura média mensal de 27,7 °C.
A precipitação média anual é de cerca de 1300 mm havendo, contudo, uma variação
inter-anual significativa. A precipitação média mensal apresenta uma variação sazonal
relevante destacando-se um período húmido, entre Novembro e Maio, e um período
seco, entre Junho e Outubro. Durante o período húmido a precipitação registada é
equivalente a cerca de 80% do valor total anual da precipitação, sendo Janeiro o mês
mais chuvoso, com uma precipitação média mensal de 230 mm. No período seco as
médias mensais de precipitação são inferiores a 35 mm.

3.3. Relevo
Em termos altimétricos a cidade de Quelimane situa-se numa zona de planícies costeiras
com altitudes inferiores a 25 m. Na faixa litoral, correspondendo a cerca de 5% da área
total do distrito, as altitudes não ultrapassam os 5 m (figura 6). A morfologia é
dominada por planícies sedimentares de cobertura arenosa na faixa costeira, sendo que
os sedimentos mais recentes estuarinos-marinhos predominam na faixa costeira e
aluvionares no interior.

Figura 6. Relevo e altimetria da cidade de Quelimane.

18
4. METODOLOGIA
Como parte integrante da metodologia de trabalho, as etapas seguidas aquando da
realização da presente pesquisa são ilustrados de forma resumida no fluxograma da
figura 7, a seguir.

Figura 7. Fluxograma metodológico.

4.1. Trabalho de gabinete


A primeira etapa do trabalho, aqui designada trabalho de gabinete, envolveu uma busca
por trabalhos anteriores. Procedeu-se o levantamento de informações em livros, teses e
artigos, buscando o embasamento teórico relativo à caracterização da área de estudo,
conteúdos temáticos relacionados com impactos causados por efluentes resíduas e
gestão do meio ambiente, concomitantemente procedeu-se o levantamento das
potenciais fontes poluidoras, aquisição imagens de satélite e mapas diversos
imprescindíveis (mapa de drenagens de esgoto) para a prossecução da pesquisa.

19
4.2. Trabalho de campo
A continuidade da pesquisa consistiu primeiramente em fazer reconhecimento das redes
de drenagem e locais de descarga. Posteriormente, com auxílio de uma planta de redes
de drenagem do Município de Quelimane fez-se a selecção de pontos estratégicos para
amostragem (figura 8). Realizou-se a amostragem ao longo dos sistemas de drenagem
de esgotos julgados interessantes de se estudar pela sua posição geográfica, ou seja,
considerando os sistemas e subsistemas de drenagem de efluentes residuais.

Foram seleccionados 9 pontos de amostragem ao longo das secções de diferentes redes


de drenagem. As figuras 9 e 10 mostram as etapas de amostragem e as amostras
remanescentes após as análises laboratoriais, respectivamente. Em cada ponto fez-se a
amostragem de 1 litro de água dividida em dois recipientes de 500 ml.

Figura 8. Ponto de colecta de amostras de água nas redes de drenagem de esgoto da


Cidade de Quelimane.

20
Figura 9. Colecta de amostras de água na rede de drenagem do Bairro Novo (a) e bacia
de recepção no Bairro Chuabo Dembe (b).

Figura 10. Amostras de água dos efluentes residuais.

4.3. Análises laboratoriais

4.3.1. Parâmetros analisados


No presente trabalho, para a caracterização dos efluentes líquidos residuais foram
analisados os parâmetros apresentados na tabela 2, nomeadamente: pH, cor, turbidez,
OD, alcalinidade, salinidade, dureza, cloreto e catiões (ferro e manganês). A tabela 3
traz um resumo dos parâmetros, equipamentos e/ou métodos analíticos utilizados para
cada parâmetro considerado.

No que concerne a análise laboratorial importa referir que o autor não participou
durante a realização das mesmas devido a restrições institucionais. Após a colecta, as

21
amostras foram encaminhadas ao laboratório da FIPAG – Quelimane, onde foram
analisadas pela instituição.

Tabela 3: Parâmetros analisados no laboratório e considerados na caracterização dos


efluentes residuais.

Parâmetro Unidade Método/técnica analítica/equipamento


pH Escala pH Potenciométrico
Temperatura ºC Termómetro
Cor Visual
Turbidez UNT Turbidímetro
OD mg/L de O2 Volumetria
Alcalinidade mg/L de CaCO3 Titulação
Dureza mg/L de CaCO3 Titulação com EDTA
Cloreto mg/L de Cl Titulação com nitrato de prata
Ferro mg/L de Fe Colorimetria
Manganês mg/L de Mn Colorimetria
MO mg/L de C Estufa incubadora
Microrganismos NMP/100 mL Estufa incubadora
Coliformes NMP/100 mL Estufa incubadora

4.4. Processamento

4.4.1. Análise estatística bivariada


A análise estatística bivariada consistiu no cálculo do coeficiente de correlação de
Pearson (r), que quantifica a correlação entre pares de variáveis. O coeficiente de
correlação pode variar entre -1,00 e +1,00. Se r = 1 existe correlação positiva, se r = -1 a
correlação é negativa e se r = 0 as variáveis não estão correlacionadas (Davis, 2002).
Para efeitos de comparação são considerados os seguintes critérios: correlações Muito
Elevadas (acima do 0,9), correlações Elevadas (entre 0,8 e 0,9), correlações Moderadas
(entre 0,6 e 0,8) e correlações Baixas (abaixo de 0.6).

4.4.2. Descriminação de anomalias


Anomalia é uma concentração anormal de um elemento químico e/ou mineral na crosta
terrestre. A concentração normal de um elemento na crosta terrestre é chamada de

22
clarque. Saindo da escala que abrange toda a terra e partindo para o detalhe, em que o
enfoque seja uma região em particular (por exemplo: uma área de pesquisa) a
concentração considerada normal é chamada de background. O teor que limita aqueles
considerados como uma concentração normal e uma anomalia é chamado de limiar,
conforme ilustra a figura 11.

Figura 11. Ilustração do critério utilizado para determinar background e anomalias.

A definição de valores absolutos para ANOMALIA, LIMIAR e BACKGROUND


depende de uma série de variáveis, como o quê está sendo amostrado. Existe uma
diversidade de propostas para descriminar estatisticamente os valores de background,
limiares e anomalias para a concentração de um certo parâmetro em estudos. No
presente estudo adoptou-se como background a média aritmética dos valores de média e
mediana. As anomalias foram descriminadas como aqueles teores ou concentrações
acima de background mais 2 desvios padrão (limiar 2).

4.4.3. Análise espacial


A avaliação espacial dos dados baseou-se em mapas de classes construídos com recurso
ao ambiente ArcMap do pacote informático ArcGis 10.5. As classes foram definidas
utilizando como critério os valores de limiar 2 calculados estatisticamente.

23
5. RESULTADOS

5.1. Variação dos parâmetros físicos e biológicos nos efluentes residuais


A tabela 5 apresenta os resultados de análises físicas e microbiológicas das águas
residuais nos esgotos.

Cor – os efluentes líquidos apresentam águas cinzentas em 6 pontos amostrados e águas


de cor preta nos restantes 3 pontos que correspondem ao Bairro Aeroporto, Bairro 3
Fios e Bairro Lixo.

Temperatura – apresenta pouca variação, com mínimo de 23º C no bairro Pequeno


Brazil e máximo de 23.8º C no bairro Lixo.

pH – indicando a acidez ou alcalinidade da água, mostrou uma variação de 7.3 a 7.98


(águas ligeiramente alcalinas), oque confere certa característica corrosiva aos efluentes.

Turbidez – os teores de turbidez observados nas amostras analisadas variam entre 1.2 e
3,4 com seu máximo no Bairro Aeroporto.

Matéria Orgânica (MO) – as maiores concentrações foram registradas no bairro


Aldeia, 3 Fios e Bairro Novo, ao passo que não foi detectado a presença de MO no
bairro Aquima.

Coliformes totais – registos de coliformes foram encontrados nos bairros: Lixo, Aldeia,
Aeroporto, Brandão, Bairro Novo e Pequeno Brazil, com o máximo no bairro Lixo. Em
contrapartida, não foram detectados nos bairros Aquima, Chuabo Dembe e 3 Fios.

24
Tabela 4. Resultados de análises físicas e microbiológicas das águas residuais.

Parâmetros Fisicos Parâmetros Biol.


Codigo Local (Bairro) Temperatura Turbidez MO (mg/L de Coliformes
Cor pH
(ºC) (NTU) Carbono) (NMP/100 mL)
1 Pequeno Brazil Cinzenta 23 1.56 7.7 0.64 5
2 Aquima Cinzenta 23.3 1.7 7.6 0 0
3 Bairo Novo Cinzenta 23.3 1.69 7.6 0.88 5
4 Brandao Cinzenta 23.4 1.52 7.5 0.64 5
5 Chuambo Dembe Cinzenta 23.4 1.2 7.98 0.32 0
6 Aeroporto Preta 23.5 3.4 7.3 0.4 5
7 3Fios Preta 23.5 1.51 7.7 0.96 0
8 Aldeias Cinzenta 23.6 1.91 7.65 1.02 5
9 Lixo Preta 23.8 1.5 7.3 0.36 6
Nota: os métodos usados para determinação dos resultados foram: visual, PH-metro e
Turbidimetro.

5.2. Variação dos parâmetros químicos nos efluentes residuais


A tabela 6 traz os resultados da análise dos parâmetros químicos dos efluentes residuais
das valas da cidade de Quelimane.

Cloretos – os resultados mostram teores elevados de cloretos em todos pontos


analisados, variando de 145.34 à 507 mg/L.

Manganés – variando de 0 à 13.9 mg/L foi detectado em apenas 3 pontos, em ordem


decrescente vem o bairro Aeroporto, Bairro Novo e 3Fios.

Ferro – varia na faixa de 0.9 à 1.98 mg/L e foi detectado em todos pontos, apresenta
seu pico no bairro Aeroporto.

Dureza – apresenta concentrações entre 62 e 140 mg/L de CaCO3, o bairro Aeroporto


apresenta o valor máximo observado contra o mínimo no bairro Lixo.

Alcalinidade – variando de 5 à 14.6 mg/L de CaCO3 foi detectada em grandes


concentrações no bairro Aeroporto e baixas concentrações no bairro Chuabo Dembe.

Oxigénio Dissolvido – as concentrações nas águas residuais variam de 13.9 à 92.7


mg/L de O2, com mínimo no bairro Aeroporto e máximos no bairro Chuabo Dembe.

25
Tabela 5. Resultados de análises químicas das águas residuais nos esgotos.

Parâmetros Químicos
Codigo Local (Bairro) Cloretos Manganês Ferro Dureza (mg/L Alcalinidade (mg/L
OD (mg/L de O2)
(mg/L) (mg/L) (mg/L) de CaCO3) de CaCO3)
1 Pequeno Brazil 230.42 0 0.09 80,00 18 67.1
2 Aquima 145.34 0 0.09 70.12 10 55.2
3 Bairo Novo 407.62 0.4 0.3 70,00 16 57.9
4 Brandao 230.42 0 0.36 64,00 20 17.4
5 Chuambo Dembe 290.69 0 0.11 72,00 5 92.7
6 Aeroporto 425.4 13.9 1.98 140,00 14.6 13.9
7 3Fios 453.76 0.4 0.4 66,00 6 64
8 Aldeias 506.93 0 0.17 66,00 18 63.2
9 Lixo 389.98 0 0.13 62,00 12 25.1
Nota: os métodos analíticos foram: titulação e colorimetria.

5.3. Análise estatística bivariada

5.3.1. Correlação entre os parâmetros físicos, químicos e biológicos


Os resultados da análise estatística bivariada entre os parâmetros físicos, químicos e
biológicos são mostrados nas tabelas 7, 8 e 9. Nos resultados destaca-se as seguintes
observações:

a) Forte correlação entre o pH dos efluentes residuais e a concentração de oxigénio


dissolvido (OD) (tabela 7).

b) Forte correlação entre a turbidez das águas dos esgotos e a concentração de iões
de Mn e Fe, e entre a dureza das águas e os teores de Mn e Fe, que justificam a
correlação elevada entre dureza e a turbidez das águas residuais, indicando que
os iões de Mn e Fe são os que mais contribuem para a dureza, mas em conjunto
com os sólidos controlam a turbidez das águas de esgoto nos canais de drenagem
da cidade de Quelimane (tabela 7 e 8);

c) Forte correlação entre a alcalinidade dos efluentes e coliformes (0,83) (tabela 9).
Por outro lado, a concentração de cloretos nas águas residuais mostra uma
correlação moderada com a presença de matéria orgânica (0,67).

26
Tabela 6. Matriz de correlação de Pearson entre os parâmetros físicos e químicos.

PF/PQ Cloretos Manganês Ferro Dureza Salinidade Alcalinidade OD


Temperatura 0,60 0,13 0,16 -0,06 0,65 -0,21 -0,38
Turvação 0,33 0,95 0,94 0,92 -0,24 0,26 -0,56
pH -0,19 -0,52 -0,53 -0,40 0,05 -0,42 0,94

Tabela 7. Matriz de correlação de Pearson entre os parâmetros químicos.

Cloretos Manganês Ferro Dureza Salinidade Alcalinidade OD


Cloretos 1
Manganês 0,27 1,00
Ferro 0,32 0,98 1,00
Dureza 0,16 0,97 0,94 1,00
Salinidade 0,44 -0,14 -0,14 -0,23 1,00
Alcalinidade 0,00 0,08 0,11 0,10 -0,71 1,00
OD -0,06 -0,52 -0,57 -0,40 0,18 -0,48 1,00
Tabela 8. Matriz de correlação de Pearson entre os parâmetros biológicos e químicos.

PB/PQ Cloretos Manganês Ferro Dureza Salinidade Alcalinidade OD


Matéria 0,67 -0,18 -0,07 -0,22 0,03 0,34 0,15
Orgânica
Coliformes 0,29 0,22 0,22 0,19 -0,33 0,83 -0,59

5.4. Identificação de contaminação nos efluentes residuais


A tabela 10 apresenta os resultados estatísticos, as concentrações de background e os
limiares (background mais desvio padrão). Em termos estatísticos, a concentração
máxima para cloretos, salinidade, alcalinidade e OD indicam que para o background
mais 2 desvios padrão os teores observados não representam contaminação das águas
residuais. Porém, o cenário é totalmente diferente para Manganês, Ferro, Dureza e
Turbidez, estes apresentam teores máximos acima do limiar 2, indicando que para este
limite as concentrações são anómalas (contaminação).

No que diz respeito aos parâmetros biológicos analisados nas amostras de efluentes
residuais não se verificou nenhum indício de anormalidade nas concentrações máximas
de matéria orgânica e coliformes nos efluentes residuais, ambos apresentam teores
abaixo de limiar 2.

27
Tabela 10. Resumo estatístico dos parâmetros analisados, teores de background e limiar de corte 1 e 2.

Turbidez T (ºC) PH Alcalinidade OD (mg/L Dureza Cloretos Ferro Manganês MO Coliformes


(NTU) (mg/L de de O2) (mg/L de (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L de (NMP/100 mL)
CaCO3) CaCO3) Carbono)
Amostras 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9
Min. 1,2 23 7,3 5 13,9 62 145,34 0,09 0 0 0
Max. 3,4 23,8 7,98 20 92,7 140 506,93 1,98 13,9 1,02 6
Intervalo 2,2 0,8 0,68 15 78,8 78 361,59 1,89 13,9 1,02 6
Media 1,8 23,4 7,6 13,3 50,7 76,7 342,3 0,4 1,6 0,6 3,4
Mediana 1,56 23,4 7,6 14,6 57,9 70 389,98 0,17 0 0,64 5
Moda N/A 23,3 7,3 18 N/A 66 230,42 0,09 0 0,64 5
Assimetria2,48 -0,27 0,18 -0,47 -0,18 2,74 -0,33 2,78 2,99 -0,25 -0,79
Background1,67 23,41 7,60 13,94 54,31 73,34 366,13 0,29 0,82 0,61 4,22
Limiar 1 2,31 23,63 7,81 19,34 80,67 97,67 488,33 0,89 5,42 0,95 6,83
Limiar 2 2,95 23,86 8,02 24,73 107,02 121,99 610,53 1,49 10,02 1,29 9,43
Limiar 3 3,58 24,08 8,23 19,34 80,67 97,67 488,33 0,89 5,42 1,63 12,03

Nota: os parâmetros cujos máximos observados excedem os limiares 2 aparecem bordados a vermelho e representam casos de contaminação das
águas residuais. Temperatura (T); Microrganismos (Microrg.); Oxigénio Dissolvido (OD) e Matéria Orgânica (MO).

28
5.5. Classificação espacial da contaminação nos efluentes residuais
A distribuição espacial apresentada em mapas de classes (figura 12 à 15) divide as
concentrações em quatro (4) classes, excepto para manganês, levando em consideração
que as concentrações anormais (contaminação) têm como base de descriminação o valor
do limiar 2. Razão pela qual a espacialização dos dados restringiu-se a representar os
parâmetros Mn, Fe, Dureza e Turbidez, por serem estes os que mostraram
concentrações anormais.

Os teores mais altos registados como anómalos (contaminação) para ferro situam-se
acima de 1.49 mg/L (figura 12), para manganês acima de 10.2 mg/L (figura 13), acima
de 122 mg/L de CaCO3 para dureza (figura 14) e acima de 2.96 mg/L para turbidez
(figura 15).

Figura 12. Mapas de classe de teores de Ferro. Notar que as concentrações a partir de
1,50 mg/L são estatisticamente descriminadas como contaminação.

29
Figura 13. Mapas de classe de Manganês. Notar que estatisticamente a contaminação
representa o ponto com 1,90 mg/L.

Figura 14. Mapas de classe de Dureza. Notar que as concentrações a partir de 122,00
mg/L de CaCO3 são estatisticamente descriminadas como contaminação.

30
Figura 15. Mapas de classe de Turbidez. Notar que as concentrações a partir de 2,96
mg/L são estatisticamente descriminadas como contaminação.

31
6. DISCUSÃO DOS RESULTADOS

6.1. Caracterização dos parâmetros físicos, químicos e microbiológicos


Nos bairros Pequeno Brazil, Aquima, Brandão, Chuabo Dembe e Aldeia, as águas
residuais são descritas como sendo de cor cinzenta oque indica águas jovens, ao passo
que a cor preta dos efluentes dos bairros Aeroporto, 3 Fios e Lixo reflectem que as
águas são velhas e se encontram em alto estágio de decomposição. Em relação aos
metais, a cor das águas esta principalmente controlada pela concentração dos iões de
ferro e manganês, entre outros não analisados. A cor da água resulta principalmente dos
processos de decomposição que ocorrem no meio ambiente, as águas residuais podem
ter cor devido a presença de alguns iões metálicos, como ferro e manganês, plâncton,
macrófitas e despejos industriais (Da Veiga, 2005). Para esse autor, o ferro pode ser
encontrado em águas naturais ou residuárias no estado ferroso (Fe+2) formando
compostos solúveis. Em ambientes oxidantes o Fe2+ passa para Fe+3, dando origem ao
hidróxido férrico, que por ser insolúvel se precipita, tingindo (colorindo) fortemente a
água. Por outro lado, a oxidação do Mn2+ (solúvel) resulta em Mn4+ (pouco solúvel)
deixando precipitados pretos e tingindo a água.

A temperatura, com pouca variação (23 à 23.8º C), apresenta uma correlação negativa
com OD, indicando uma dependência inversamente proporcional entre estes, mostra seu
pico no bairro Lixo. Esta observação concorda com resultados apresentados por
CLESRCERI et al, (1999), segundo o qual um decréscimo no OD da água residual pode
ocorrer quando a temperatura das águas se eleva ou quando ocorre eutrofização do
corpo hídrico. Segundo este autor, em temperatura ambiente, a água em contacto com o
ar fica ligeiramente saturada com oxigénio. O OD pode ser acrescido pelo oxigénio
produzido pelas plantas aquáticas presentes nos efluentes por fotossíntese. O OD com
variação na faixa de 13.9 à 92.7 mg/L de O2 ao longo dos efluentes residuais da cidade
de Quelimane, apresenta seu pico no bairro Chuabo Dembe, em consequência da
contribuição de processos fotossintéticos das plantas que crescem nesta bacia de
recepção.
A concentração de OD varia em parte com o conteúdo de MO, uma vez que os
microrganismos aeróbicos utilizam o OD durante o processo de decomposição da
matéria orgânica (MO). Neste contexto, o ponto amostrado no Aeroporto com pico de
concentração na ordem de 13.9 mg/L de OD indica que ocorre intensa actividade
biológica de decomposição da matéria orgânica, em contrapartida o ponto amostrado no

32
Bairro Chuabo Dembe com máximo de 92.7 mg/L para OD reflecte que nesta bacia de
descarga de águas residuais ocorre pouca actividade biológica de decomposição em
virtude da pouca disponibilidade de matéria orgânica.
Os resultados apontam, também, que existe forte correlação entre OD e pH (tabela 7),
oque pode significar que em muitos desses efluentes há matéria orgânica em
decomposição oque consequentemente reduz a concentração de oxigénio dissolvido nas
águas por causa do metabolismo bacteriano, tornando assim o meio mais alcalino uma
vez que o pH é função do conteúdo de gás carbónico dissolvido. O pH apresenta uma
faixa de variação desde 7 à 7.89, ou seja, os efluentes residuais variam de neutros a
ligeiramente alcalinos, com pico no bairro Chuabo Dembe. De acordo com
CLESRCERI et al, (1999) as águas ligeiramente alcalinas devem esse comportamento à
presença de bicarbonatos de metais alcalinos e alcalinos terrosos. Da Veiga (2005) diz
que a alcalinidade é uma determinação importante no controle do tratamento da água,
estando relacionada com a coagulação, redução de dureza e prevenção da corrosão em
tubulações. Este autor acrescenta, ainda, que existe uma relação entre as faixas de
variação do pH e alcalinidade das águas, tal que a faixa de variação de pH entre 4.4 e
8.3 indica alcalinidade a bicarbonato (HCO3-).

Cloretos, variando de 145.34 à 507 mg/L nos efluentes residuais, indicam contaminação
quando comparado com os máximos teores admissíveis de cloretos emitidos pelas
indústrias químicas diversas (até 100 mg/L). Os valores observados são associados às
condições sanitárias precárias nos bairros da cidade. As condições precárias contribuem
para o conteúdo de cloretos drenados nas valas de esgoto na medida em que a
inexistência ou deficiência sanitária em termos de fossas sépticas na maioria das
habitações implicam em despejos para as infra-estruturas de drenagem. Cabe destacar
que uma elevada concentração de cloreto na água (acima de 100 mg/L), pode conduzir a
corrosão de metais e concreto. O cloreto é um dos principais aniões inorgânicos
presentes na água e sua concentração é maior em águas residuais do que em águas
brutas, pós o cloreto de sódio (NaCl) é um sal comumente usado na dieta humana e
passa inalterado através do sistema digestivo (CLESCERI et al, 1999). Em águas
residuais que contem esgotos sanitários, as concentrações ultrapassam 15 mg/L
(COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2001).

A forte correlação verificada entre Mn e Fe (tabela 7) pode estar a reflectir a


similaridade de comportamento químico entre estes assim como a proveniência de uma

33
mesma fonte principal, solos, rochas e corrosão de tubulações em virtude do pH e
cloretos dissolvidos. Esta correlação corrobora com as observações apresentadas por Da
Veiga (2005), quando diz que o ferro na maioria das vezes está associado ao manganês,
e confere a água coloração e turbidez. Os resultados de correlação apontam os iões de
ferro e manganês como sendo os principais responsáveis pela dureza e turbidez das
águas nos efluentes. As águas residuais analisadas são descritas como sendo de dureza
de bicarbonatos ou temporária, causada por cloretos de cálcio ou magnésio. Na dureza
temporária os bicarbonatos de cálcio e magnésio, pela acção do calor ou pela reacção
com substâncias alcalinas provocam a formação de carbonatos, que são insolúveis e
precipitam formando as incrustações (Da Veiga, 2005).

Os valores de turbidez são significativamente mais altos nos bairros Aeroporto e Aldeia,
isto pode ser associado ao contínuo escoamento das águas que resulta em lavagem e
transporte em suspensão de partículas ao longo do seu percurso. Em geral, pode-se
esperar que em águas agitadas como nas épocas chuvosas a turbidez seja maior em
relação ao que se observaria nas épocas secas. Com tudo, as correlações com ferro e
manganês indicam que os iões dissolvidos são os principais responsáveis pela turbidez
no Bairro Novo, Aeroporto e 3Fios, ao passo que o ferro e as partículas inorgânicas são
os responsáveis pela turbidez nos restantes bairros. Os iões de Fe e Mn resultam em
parte dos fenómenos de corrosão de tubulações e valas, assim como também têm sua
proveniência associada a lavagem dos solos nas drenagens não revestidas.
Os coliformes mostram forte correlação com a alcalinidade dos efluentes, esta relação
ainda não esta muito clara, mas parece que de alguma forma os coliformes contribuem
com substâncias tampão para os corpos de águas residuais, proporcionando condições
favoráveis para a produtividade biológica.

6.2. Distribuição espacial do Mn, Fe, Dureza e Turbidez


A análise da distribuição espacial dos elementos multimetálicos Mn e Fe indicam picos
de teores anómalos no mesmo ponto onde a concentração de dureza e a turbidez
também registam esta característica, ou seja, os quatro parâmetros reconhecidos com
teores anormais foram registados no bairro aeroporto (Manhaua A).

A classificação da dureza das águas com base na proposta Custódio & Llamas,1983,
permitem enquadrar as concentrações anómalas registadas na categoria de efluentes

34
residuais de águas de dureza moderada (50 < 𝐷𝑢𝑟𝑒𝑧𝑎 ≤ 150). Assume-se que apesar
da importância dos iões de Ca e Mg para a dureza nas águas, o carácter duro das águas
nos efluentes residuais está associado aos elevados teores de ferro e manganês. O ferro e
manganês entram em circulação nos esgotos em consequência da oxidação e corrosão
dos tubos metálicos de revestimentos das valas de drenagem, processo que vem sendo
condicionado pelos elevados conteúdos de cloretos nos efluentes e que são causados
pelo escoamento de águas de sanitários precários comuns na cidade de Quelimane. A
outra fonte de ferro e manganês que não se deve descartar é a proveniente da lixiviação
dos solos atravessados pelos efluentes. O conteúdo de ferro e manganês liberados
contribuem em conjunto com a matéria inorgânica suspensa para a opacidade das águas
no bairro aeroporto.

35
7. CONCLUSÕES
Com base nos objectivos inicialmente propostos a pesquisa permitiu chegar as seguintes
conclusões:

A cor das águas constitui uma preocupação ambiental principalmente na vertente


estética. Indicando estagnação por longos períodos, elevado estágio de decomposição da
matéria orgânica e oxidação de iões metálicos na água, os efluentes dos bairros
Aeroporto, 3 Fios e Lixo apresentam cor preta (águas velhas). A temperatura dos
efluentes apresenta pouca variação (23 à 23.8º C) e mostra correlação negativa com OD
na água, a relação não é clara mas parece que a elevação da temperatura reduz o OD e
consequentemente a actividade biológica.

O pH apresenta uma faixa de variação desde 7 à 7.89, ou seja, os efluentes residuais


variam de neutros a ligeiramente alcalinos, com pico no bairro Chuabo Dembe. Águas
ligeiramente alcalinas devem esse comportamento à presença de bicarbonatos de metais
alcalinos e alcalinos terrosos.

Cloretos, variando de 145.34 à 507 mg/L em todos efluentes residuais analisados,


indicam contaminação quando comparado com os máximos teores admissíveis de
cloretos emitidos por indústrias químicas diversas (até 100 mg/L). Os valores
observados são associados às condições sanitárias precárias nos bairros da cidade,
associa-se a isso o facto de cloreto de sódio (NaCl) ser um sal comumente usado na
dieta humana e passa inalterado através do sistema digestivo. As condições sanitárias
precárias contribuem para o conteúdo de cloretos drenados nas valas de esgoto na
medida em que a inexistência ou deficiência sanitária em termos de fossas sépticas na
maioria das habitações implicam em despejos para as infra-estruturas de drenagem.

A elevada concentração de cloreto nas águas (acima de 100 mg/L) leva a corrosão de
metais e concreto, liberando para os efluentes iões de ferro e manganês, aumentando
assim a turbidez e a dureza das águas nos canais de drenagem.

As águas residuais analisadas são descritas como tendo dureza de bicarbonatos ou


temporária, causada por cloretos de cálcio ou magnésio. Neste caso, os bicarbonatos de
cálcio e magnésio, por acção do calor ou pela reacção com substâncias alcalinas
provocam a formação de carbonatos, que são insolúveis e precipitam formando as
incrustações.

36
Além dos iões ferro e manganês, os valores de turbidez significativamente altos nos
bairros Aeroporto e Aldeia, são associados ao contínuo escoamento das águas que
resulta em lavagem e transporte em suspensão de partículas ao longo do seu percurso.

No que diz respeito aos parâmetros biológicos analisados nas amostras de efluentes
residuais não se verificou nenhum indício de anormalidade nas concentrações máximas
do conteúdo de matéria orgânica e coliformes.

Em termos estatísticos, o manganês, ferro, dureza e turbidez apresentam teores máximos


acima do background mais dois desvios padrão, indicando que para este limite as
concentrações são anómalas em decorrência de contaminação causada pelo despejo de
origem sanitária em valas de drenagens a céu aberto no bairro aeroporto.

A disposição final dos efluentes residuais urbanos pode constituir uma agressão ao meio
e ao ecossistema natural se for realizada de forma indevida sobre o meio receptor, nesta
vertente parece razoável propor como medida de gestão a opção de Wetlands
construídos nas bacias de recepção mais vulneráveis. por assemelhar-se a um ambiente
natural, o WC através da interacção entre os seus elementos (água, substracto,
vegetação e microorganismos) realizam processos físicos, químicos e biológicos para a
remoção de poluentes. A tecnologia de WC tem potencial para a remoção de uma
variedade de poluentes com mais incidência para a matéria orgânica e nutrientes como
nitrogénio e fósforo, além de poder remover metais pesados e organismos patogénicos

Uma medida complementar para contornar o cenário actual da disposição inadequada de


dejectos sólidos de tipos e origens diversas sobre os canais colectores de águas pluviais
e residuais na cidade de Quelimane e minimizar as potencialidades de contaminação é
adoptar e implementar campanhas de educação ambiental a nível comunitário,
fiscalização rotineira por parte dos órgãos competentes e incentivar a disposição
selectiva dos descartes.

7.1. LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

A realização da pesquisa teve como principal limitação a disponibilidade local


de laboratórios com recursos suficientes para analisar os vários parâmetros
necessários em estudos visando identificar contaminantes indicadores de fontes;

37
Para futuros trabalhos recomenda-se que com intuito fornecer um quadro mais
robusto do senário ambiental com relação aos níveis de emissão de poluentes
urbanos se considerem as análises da Demanda Química de Oxigénio (DQO),
Sólidos suspensos totais (SST), Fósforo Total, Azoto Total, temperatura (25º C),
pH, Microrganismos e Coliformes, e se faça uma análise comparativa entre as
concentrações nos efluentes e nas bacias de recepção.
Que se faça o rastreamento contínuo ao longo do seguimento da vala de
drenagem do bairro aeroporto para identificar outras fontes de manganês e ferro
nos efluentes;
Que se faça um estudo com vista a identificar locais com condições adequadas
para implantação Wetlands.

38
8. BIBLIOGRAFIA
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Fluxo Vertical para o Tratamento de Águas Residuais Domésticas em
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Ananindeua/Pa no contexto económico local: Maio de 2016.
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25) COMPANHIA AMBIENTAL DE SÃO PAULO. Guia de colecta e preservação
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41
ANEXOS

Anexo A1. Resultados das análises de laboratório (dados utilizados na presente pesquisa) analisados pelo FIPAG – Quelimane em 2022.

42

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