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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras

Curso de Licenciatura em Geologia Marinha

Monografia para obtenção do grau de licenciatura em Geologia Marinha

Avaliação Hidrogeoquímica das Águas Subterrâneas do Distrito


de Mopeia, Zambézia

Autor

Erzídio Domingos Uchavo

Quelimane, Setembro de 2022


UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras

Curso de Licenciatura em Geologia Marinha

Monografia para obtenção do grau de licenciatura em Geologia Marinha

Avaliação Hidrogeoquímica das Águas Subterrâneas do Distrito de


Mopeia, Zambézia

Autor

Erzídio Domingos Uchavo

Supervisor

Aurio Mendes (Lic.)

____________________________

Quelimane, Setembro de 2022

2
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo dom da vida e forças durante o período de Licenciatura em Geologia
Marinha, a ele seja louvado e exaltado para sempre.

Aos meus pais (Domingos Uchavo e Filicidade Aurélio Chilaúle) pelo apoio e por financiarem
meus estudos , irmãos (Duval, Júbia, Zenilda) por acreditarem em mim e pelo apoio incondicional
que sempre dedicaram a mim, Tios(as), Primos(as) (em especial Dr.Aurelio Sambo) por me
apoiarem mesmo distante. Agradeço também ao Rogério Alfoi e sua família pela hospitalidade. Ao
meu orientador, Aurio Mendes, por dedicar tempo, paciência para me orientar. Aos docentes da
Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras em especial o Mestre. Noca Furaca, Mestre
Banito Magestade, Mestre Carlota Alves, Mestre Manuel Simbe, Lic. Stélio Mangue, Prof. Doutor
Hélder Machaieie, Prof. Doutor Fialho Nehama pelos ensinamentos e apoio no meu aprendizado.
Agradeço a Basílio Ernesto, Elton Bata, Zairo Izidro e Salmo Lourenço que de certa forma
contribuíram para a consumação desta Licenciatura tendo os mesmos servido como companheiro da
longa caminhada de estudos. Agradeço ao núcleo de estudantes e chefes de turma representado por
Zarco Alfredo, Pinto de Rosário e ao Joaquim Muzolande por sempre para nos ouvir e
reencaminhar as nossas preocupações da direcção.

Agradeço a todos membros da residência em especial ao Oldim Vilanculo, Evandro Rungo,


Orlando Júnior, Amós Nhaca, Adonai, Anibal Joaquim, Sara Marina, Jéssica Mativane, Isabel
Conja e Inácio Mugaua por terem sido meus pais e irmãos que recebi em Quelimane aos meus
companheiros Stélio Tomé, Neúsio Niquice, Evander Cesar, Stélio de Jesus, Mateus Monforte,
Rosendo dos Anjos, por também terem conquistado o lugar de família durante a caminhada. A
todos meus amigos em especial Cesartina Mondlane, Michele Mavie, Florida Raimundo, Isabel
Guiamba, Mara Abdula, Shelton Tomas Mega, Gizela Nhabanga, Elizabeth Enosse, Maura Pascoal,
Yónica Honey Zulmira Canivete, Loyde Raquel, aos Hidrafast , COPEA, MUVA e turma B5 pela
força e ensinamentos.

Aos meus colegas de Curso em especial Silas Humbilino, Suraia Palé e os colegas do ano de 2018.

MUITO OBRIGADO À TODOS.

I
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho em primeiro lugar a Deus todo poderoso, a minha avó Laura Dzeco, aos meus
pais Domingos Uchavo e Felicidade Aurélio Chilaúle, aos meus irmãos Duval, Júbia, Zenilda,
Júnior, Sadira e ao meu sobrinho Dominick.

II
DECLARAÇÃO DE HONRA

Eu, Erzídio Domingos Uchavo, declaro que esta monografia intitulada Avaliação
Hidrogeoquímica das Águas Subterrâneas do Distrito de Mopeia, Zambézia, nunca foi
apresentada para obtenção de qualquer grau e que ela constitui o resultado do meu labor individual.
Esta monografia é apresentada em cumprimento parcial dos requisitos de obtenção do grau de
Licenciatura em Geologia Marinha pela Universidade Eduardo Mondlane.

Assinatura:

________________________________________

(Erzídio Domingos Uchavo)

III
“Tudo parece impossível

até que seja feito”

Por Nelson Mandela

IV
RESUMO
Actualmente, os recursos hídricos subterrâneos são uma importante fonte de abastecimento de água,
sendo importante levar em conta a sua conservação e preservação, bem como, ter conhecimento da
sua qualidade. Este estudo visa investigar a qualidade das águas subterrâneas, na área urbana e rural
do município de Mopeia, Província da Zambézia. Para esta finalidade, foram consideradas 18
análises físico-químicas dos aquíferos entre eles do tipo granular e fracturado. Os resultados das
análises das amostras de água foram comparados com os padrões estabelecidos para consumo
humano, proposto pela MISAU. A avaliação da qualidade da água subterrânea, bem como suas
características hidrogeoquímicas, constitui uma informação de grande importância para gestão e sua
adequabilidade ao uso, seja consumo humano, industrial, irrigação ou pecuária.
Os teores de CE observados neste estudo reflectem as concentrações de sólidos dissolvidos na água,
sendo que os intervalos de classes de valores altos de condutividade, embora em pequenas manchas,
na região SSE estão situadas onde a cobertura geológica esta representada por depósitos de
escorrência argila arenosa da Formação de Mazamba (TeZ) que representa a transição de fácies
marinhas para fácies continentais. A Formação de Mazamba (TeZ) com espessura desconhecida, é
constituída por arenitos arcósicos, médios e grosseiros, de cor cinzenta esverdeada, com
intercalações métricas de lutitos e conglomerados. A unidade apresenta por vezes níveis
calcificados e/ou dolomitizados e concreções de ferro, manganês e carbonatadas.

Geograficamente as tendências de teor de cálcio indicam um potencial de concentração acima de 34


mg/L a Oeste da região, entre a Localidade de Sede de Mopeia (Bairro Expansão) e Localidade de
Chimuara. Os valores observados se devem à dissolução de feldspato plagioclásicos das argilas da
Formação Mazamba e níveis de carbonatos representados por porções dolomíticas, marga e
calcário. Como o cálcio, é responsável pela dureza e produz gosto salubre às águas. Apresentam
teores geralmente entre 1 e 40 mg/L nas águas subterrâneas (Feitosa et al., 2008). A dureza da água
com mínimo e máximo entre 30,5 e 250 mg/L, apresentam teores mais altos a SSW do rectângulo
estudado. Foram verificados comportamentos diferenciados para a distribuição da dureza ao longo
da área de estudo, mas de forma geral é notável uma tendência de incremento da concentração do
NE para o SW, associados a existência de carbonatos magnesianos da Formação de Mazamba ou
minerais ferromagnesianos da Suíte de Mocuba (Complexo de base/Embasamento cristalino),
tendo-se observado valores mínimos a NE e NW, e máximos nas regiões SE e SW. A distribuição
do teor de STD indica altas concentrações na região SE (Localidade de Posto Campo) e,
ocasionalmente na Sede do distrito de Mopeia.

Palavras-chave: Hidrogeoquímica, Ciclo hidrológico, Aquíferos, Qualidade de água, Mopeia.


V
LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................PÁGINAS
Figura 1:Representação esquemática do ciclo hidrológico: E = evaporação; ET = evapotranspiração;
I=infiltração; R= escoamento superficial (deflúvio) (modificado de Bear & Verruijt, 1987). Fonte:
Feitosa et. al, 2008................................................................................................................................5
Figura 2: Divisão da subsuperfície em zonas hídricas e sua relação com o ciclo hidrológico. ZNS –
zona não saturada, ZS – zona saturada e CC – camada confinante. Fonte: Feitosa, 2008. ..................6
Figura 3: Tipologia de aquíferos. a) Granulado b) Cárstico c) Fracturado(Cruz, 2016). ...................7
Figura 4: Fluxograma das etapas de desenvolvimento da pesquisa. .................................................14
Figura 5: Localização geográfica da área de estudo, Distrito de Mopeia. ........................................19
Figura 6: Mapa geológico da área de estudo (Folha 1735) escala 1:250.000. Fonte: adaptado do
GTK Consorssium, 2006. ...................................................................................................................21
Figura 7: Modelo de elevação digital mostrando a configuração geomorfologia do distrito de
Mopeia. (Fonte: Adaptado de Modelo de Elevação Digital). ............................................................22
Figura 8: Mapa Hidrológico, Distrito de Mopeia (Fonte: adaptado do CENACARTA)..................23
Figura 9: Correlação de Pearson entre dureza total Vs iões de magnésio e de cálcio dissolvidos (a)
e entre CE e iões de magnésio e de cálcio (b). ...................................................................................28
Figura 10 :a) Distribuição espacial da concentração da CE; b) Histograma de frequências de CE. 29
Figura 11: Distribuição espacial da concentração da STD. ..............................................................30
Figura 12: a) Distribuição espacial da concentração de iões de cálcio; b) Histograma de frequência
de Ca2+. ...............................................................................................................................................31
Figura 13: a) Distribuição espacial da concentração de Mg+2; b) Histograma de frequência de Mg+2.
............................................................................................................................................................32
Figura 14: a) Distribuição espacial da concentração de Dureza total da água; b) Histograma de
frequência. ..........................................................................................................................................33
Figura 15: Distribuição espacial da concentração de cloretos(a); Histograma de frequência Cl- ( b).
............................................................................................................................................................34
Figura 16: a) Distribuição espacial da concentração de PH; b) Histograma de frequências de PH. 34

VI
LISTA DE TABELA……………………….…………………………………………..PÁGINAS

Tabela 1: Classificação dos constituintes dissolvidos nas águas subterrâneas de acordo com sua
abundância relativa (adaptado de Custódio e Lamas, 1983). ...............................................................7
Tabela 2: Classificação das águas segundo a dureza em mg/L de CaCO₃ (adaptado de Logan,
1965). Fonte: Feitosa et. al, 2008. ........................................................................................................9
Tabela 3: Classificação das águas segundo a dureza em mg/L de CaCO₃ (adaptado de Custódio &
Lamas,1983). Feitosa et. al, 2008.........................................................................................................9
Tabela 4: Classificação da salinidade da água de acordo com os parâmetros de Custódio & Llamas,
1986. ...................................................................................................................................................10
Tabela 5: Comparação entre os métodos de Interpolação de dados (Krajewski & Gibbs, 1966). ....18
Tabela 6: Limites Geográficos do Distrito de Mopeia. Fonte: INE, 2007. .......................................19
Tabela 7: Resultados da análise estatística exploratória. ..................................................................25
Tabela 8: Correlação de Pearson dos diversos elementares analisados. ...........................................27
Tabela 9: Relação entre os teores observados para os parâmetros físicos – químicos e os Intervalos
geralmente encontrados nas águas subterrâneas propostos pelo MISAU, 2020. ...............................35
Tabela 10: Relação entre os teores observados de iões e os Intervalos geralmente encontrados nas
águas subterrâneas propostos por Feitosa et. al., 2008.......................................................................35
Tabela 11: Base de dados ..................................................................................................................41

VII
TABELA DE ABREVIATURA E SÍMBOLOS
Abreviaturas Significados
µS/cm Micro Siemens por centímetros
Ca2+ Cálcio
CaCO3 Carbonato de Cálcio
CE Condutividade Eléctrica
Cl- Cloreto
DNA Direcção Nacional de Água
DNSP Direcção Nacional de Saúde Publica
DPOPHRHZ Direcção Provincial de Obras Publicas Habilitação e Recursos Hídricos de
Zambézia
E Este
Fe Ferro
FNS Fundacão Nacional da Saude
K Potacio
MC Mínima Curvatura
MEFADVZ Ministério da Economia e Finanças agência de Desenvolvimento do Vale do
Zambeze
mg/L Miligrama por litro
Mg2+ Magnésio
MISAU Mistério da Saúde
MTADR Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural
N Norte
NaCl Cloreto de Sódio
NE Nordeste
NW Noroeste
PH Potencial Hidrogenióca
P₂NMga Gnaises, Migmatítos
P₂NMch Charnokitos
P₂NMgm Gnaises Biotíticos Bandados e Migmatítos
P₂NMgs Sillimanite Gnaisse, Mica Gnaisse e Migmatítos
Qa Aluviões de areia, silte e cascalhos
Qc Coluviões
Qpi Escorrências Argilosas
Qps Escorrência Argilo-arenosa Fluvial
Qt Areia e Cascalhosos de Terraços Fluviais
ROSC Reports on the Observance of Standards and Codes
S Sul
SE Sudeste
SSE Sul Sudeste
SSW Sul Sudoeste
STD Totais de Sólidos Dissolvidos
SW Sudoeste
TeZ Grés Arcósicos, Parcialmente Conglomeráticos
W Oeste

VIII
Índice
Capitulo 1 – Parte Introdutória .............................................................................................................1

1.1. Introdução ..............................................................................................................................1

1.2. Problematização.....................................................................................................................2

1.3. Justificativa ............................................................................................................................3

1.4. Objectivos ..............................................................................................................................4

Capítulo 2 – Revisão de literatura ........................................................................................................5

2.1. Origem e circulação da água – Ciclo hidrológico .................................................................5

2.1.1. Águas Subterrâneas ........................................................................................................6

a) Tipos de aquíferos de acordo com morfogénese ...................................................................7

2.2. Contaminação Química dos Solos e Águas Subterrâneas ...................................................12

2.2.1. Origens e fontes poluidoras ..........................................................................................12

Capitulo 3 – Procedimentos Metodológicos ......................................................................................14

3.1. Etapas de trabalho ................................................................................................................14

i. Levantamento bibliográfico .................................................................................................15

ii. Aquisição de dados de campo .............................................................................................15

iii. Construção da base de dados ...........................................................................................15

iv. Análise estatística exploratória ........................................................................................16

v. Geração de mapas hidroquímicos ........................................................................................16

vi. Análise e interpretação .....................................................................................................16

3.2. Interpolação espacial dos dados – Técnicas de interpolação ...............................................17

3.2.1. Método de Mínima Curvatura ......................................................................................18

3.3. Área de estudo .....................................................................................................................19

3.4. Geologia Regional ...............................................................................................................20

3.5. Geologia Local ....................................................................................................................20

3.6. Geomorfologia .....................................................................................................................21

3.7. Hidrografia...........................................................................................................................22

3.8. Hidrogeologia ......................................................................................................................23

IX
3.9. Clima e precipitação ............................................................................................................24

Capítulo 4 – Resultados e discussão ..................................................................................................25

4.1. Análise estatística uni variada .............................................................................................25

4.2. Análise estatística bivariada ................................................................................................27

4.3. Avaliação espacial dos parâmetros físico – químicos .........................................................28

b) Cálcio ...................................................................................................................................31

d) Dureza Total ........................................................................................................................32

e) Cloretos ................................................................................................................................33

f) pH ........................................................................................................................................34

4.4. Comparação dos resultados com o padrão de qualidade da MISAU ..................................35

Capítulo 5 – Conclusão e Recomendações ........................................................................................36

5.1. Conclusão ............................................................................................................................36

5.2. Limitações e Recomendações ..............................................................................................37

6. Referencias. Bibliográfica...........................................................................................................38

7. Anexos ........................................................................................................................................41

X
Capitulo 1 – Parte Introdutória
1.1. Introdução
Do ponto de vista hidrogeológico, a qualidade da água subterrânea é tão importante quanto o
aspecto quantitativo. A disponibilidade dos recursos hídricos subterrâneos para determinados tipos
de uso depende, fundamentalmente, da qualidade físico-química, biológica e radiológica (Feitosa et.
al., 2008).
O estudo hidrogeoquímico tem por finalidade identificar e quantificar as principais propriedades e
constituintes das águas subterrâneas, procurando estabelecer uma relação com o meio físico. Nesta
vertente é que traz a presente pesquisa intitulada Avaliação Hidrogeoquimica das Águas
Subterrâneas do Distrito de Mopeia, Zambézia. Estudos anteriores levados a cabo na área de
estudo apontaram a salubridade da água como um dos principais constragimentos em termos
qualitativos (Mendes, 2020).

O acesso à água potável e ao saneamento seguro continua a ser um dos maiores desafios em África,
particularmente em Moçambique, onde são aplicados esforços para garantir o acesso a água de
qualidade e em quantidade que supram as necessidades básicas das comunidades urbanas e rurais.

Na região centro de Moçambique, essecialmente na provincia de Zambézia, pouco mais 50% de


principais fontes de água são os rios, lagos e poços, e apresentam baixos níveis de segurança hidrica
para uso doméstico, especialmente o consumo humano (ROSC, 2013).

A qualidade e disponibilidade da água destinada ao consumo humano é factor de grande


importância e tem ocasionado preocupação no âmbito da saúde pública. O consumo de água fora
dos padrões mínimos de qualidade torna-se factor de grande risco para saúde, devido à presença de
organismos patogénicos e/ou elementos e substâncias químicas prejudiciais a saúde. Com isso tem-
se buscado alternativas fiáveis em águas subterrâneas por estas encontrarem-se protegidas e
funcionando como reservatório. Sendo assim, consideradas menos propensas a contaminação,
quando comparadas as águas superficiais.

1
1.2. Problematização
A carta Hidrogeológica de Moçambique evidencia a escassez de recursos hídricos subterrâneos de
qualidade aceitável para o consumo humano no território nacional (DNA, 1987), causada pelas
actividades humanas (descarte inadequado do lixo e contaminantes) e naturais (intrusão salina).
Segundo (MEFADVZ e MTADR, 2015), o distrito de Mopeia apresenta limitações para abertura ou
para exploração do recurso hídrico subterrâneos para o consumo humano, devido em parte, a
litologia local dos aquíferos e proximidades com águas salgadas do Oceâno Índico, assim como,
devido a actividades agro-pecuárias e indústrias.

Estudos anteriores levados a cabo na área de estudo apontaram a salubridade da água como um dos
principais constragimentos em termos qualitativos (Mendes, 2020), facto que preocupa as entidades
gestoras, por estes corpos de água subterrânea constituírem a forma mais viável de exploração de
água potável para abastecimento comunitário. Nesta vertente busca-se responder a seguinte questão:
Como está qualitativamente distribuída a água subterrânea e como é que as características
químicas influem nas propriedades físicas da mesma?

2
1.3. Justificativa

Em geral, a qualidade da água subterrânea é boa quando comparado em termos de vulnerabilidade


com outros tipos de fontes naturais de abastecimento (rio, lago, etc.), mas durante o processo de se
infiltrar no terreno e percolar pelos espaços vazios dos solos e das rochas, tende a se enriquecer no
teor de sais dissolvidos, isto ocorre porque a água tem capacidade de dissolução muito elevada (é
um solvente natural). Alguns destes constituintes iônicos estão presentes em quase todas as águas
subterrâneas e em muitos casos, apresentam concentrações elevadas. Neste contexto, este trabalho
teve como objetivo principal avaliar a qualidade físico-química e os principais constituintes iônicos
das águas subterrâneas do Distrito de Mopeia. Para tal, surge a necessidade de realizar o estudo
intitulado “Avaliação Hidrogeoquimica das Águas Subterrâneas do Distrito de Mopeia,
Zambézia”, com vista a melhorar o conhecimento do estado qualitativo dos aquíferos desta região,
uma vez que os aquíferos se mostram uma alternativa viável e confiável para abastecer e suprir a
necessidade da população com água de boa qualidade para o consumo, podendo também constituir
fonte de preocupação quando apresenta fraca qualidade a ponto de afectar negativamente a saúde da
população (DNSP, 2020).
O presente trabalho irá fornecer suporte científico para o planeamento de construção de novas
fontes de abastecimento de água por parte do Governo, assim como trará bases metodológicas
adicionais a comunidade científica que auxiliarão futuros estudos relacionados.

3
1.4. Objectivos

Geral

▪ Avaliar hidrogeoquimicamente a qualidade de águas subterrâneas do Distrito (Município) de


Mopeia.

Específicos

▪ Caracterizar os parâmetros físico-químicos das águas subterrâneas de Mopeia, e comparar


com o padrão de qualidade de água para consumo humano recomendados pelo Ministério da
Saúde (MISAU);
▪ Avaliar tendência espacial de variação dos parâmetros físicos – químicos e suas relações
com os constituintes químicos dissolvidos e características litológicas associadas aos
reservatórios;
▪ Classificar a salinidade das águas subterrâneas com base no conteúdo de SDT;

4
Capítulo 2 – Revisão de literatura
2.1. Origem e circulação da água – Ciclo hidrológico
Quase toda a água subterrânea existente na Terra tem origem no ciclo hidrológico, isto é, no sistema
pelo qual a natureza faz a água circular do oceano para a atmosfera e daí para os continentes, de
onde retorna, superficial e subterraneamente, ao oceano (figura 1).

Este ciclo é governado, no solo e subsolo, pela ação da gravidade, bem como pelo tipo e densidade
da cobertura vegetal e, na atmosfera e superfícies líquidas (rios, lagos, mares e oceanos), pelos
elementos e fatores climáticos, como por exemplo, temperatura do ar, ventos, umidade relativa do
ar (função do déficit de pressão de vapor), insolação (função da radiação solar), que são os
responsáveis pelos processos de circulação da água dos oceanos para a atmosfera, em uma dada
latitude terrestre (Feitosa et. al, 2008).

Figura 1:Representação esquemática do ciclo hidrológico: E = evaporação; ET = evapotranspiração;


I=infiltração; R= escoamento superficial (deflúvio) (modificado de Bear & Verruijt, 1987). Fonte:
Feitosa et. al, 2008.

5
2.1.1. Águas Subterrâneas
Mais do que um recurso, a água subterrânea é uma recurso essencial do ambiente natural e é parte
do ciclo hidrológico.

Embora toda a água situada abaixo da superfície da Terra seja evidentemente subterrânea, na
hidrogeologia a denominação água subterrânea é atribuída apenas à água que circula na zona
saturada, isto é, na zona situada abaixo da superfície freática.

Abaixo da superfície do terreno, a água contida no solo e nas formações geológicas é dividida ao
longo da vertical, basicamente, em duas zonas horizontais, zona saturada e zona não saturada, de
acordo com a proporção relativa do espaço poroso que é ocupado pela água (Figura 2). A zona
insaturada fica mais próxima da superfície e seus poros encontram-se parcialmente preenchidos por
água. A água armazenada na zona saturada, considerada de facto água subterrânea, possui nela
todos os espaços vazios preenchidos com água.

Figura 2: Divisão da subsuperfície em zonas hídricas e sua relação com o ciclo hidrológico. ZNS –
zona não saturada, ZS – zona saturada e CC – camada confinante. Fonte: Feitosa, 2008.

A ocorrência de águas subterrâneas em formações geológicas com porosidade e permeabilidade


suficiente e capazes de armazenar e transmitir água em quantidades significativas recebe a
designação de aquífero. Formações geológicas constituídas de areias e cascalhos são exemplos de
bons aquíferos sedimentares, para rochas cristalinas a existência de fracturas interconectadas podem
conferir a capacidade de aquífero para a formação geológica. A Porcão superior da coluna de água
contida no aquífero designa-se nível freático ou toalha de água.
6
a) Tipos de aquíferos de acordo com morfogénese

A litologia do aquífero, ou seja, a sua constituição geológica bem como parâmetros como
porosidade e permeabilidade para o caso de sedimentos ou rochas sedimentares, ou intensidade e
conexão de fissuras, para o caso de rochas cristalinas, irão determinar a velocidade da água em seu
meio, podendo condicionar inclusive a qualidade e a quantidade desse recurso no reservatório
(Cruz, 2016).

O aquífero pode ser granulados, fracturados e cárstico. O aquífero granulado é formado por rochas
sedimentares consolidadas, sedimentos inconsolidados ou solos arenosos, onde a circulação da água
se faz nos poros formados a partir da deposição de grãos/partículas tais como areia, silte e argila.

O tipo fracturado é formado por rochas ígneas, metamórficas, ambas comumente chamadas de
cristalinas, onde a circulação da água se faz por descontinuidades que podem ser fissuras, falhas,
formadas por movimentos tectónicos, além de juntas de alívio, zonas de contacto entre litologias,
etc. O aquífero cárstico é formado em rochas calcárias e dolomíticas, onde a circulação da água se
faz em descontinuidades resultantes da dissolução dos carbonatos pela água (Custodio; Llamas,
1983).

Figura 3: Tipologia de aquíferos. a) Granulado b) Cárstico c) Fracturado(Cruz, 2016).

Tabela 1: Classificação dos constituintes dissolvidos nas águas subterrâneas de acordo com sua
abundância relativa (adaptado de Custódio e Lamas, 1983).

Const. Maiores Const. Menores Constituintes Traços( < 0,1 mg/L)


(> 5 mg/L) (0,01 - 10 mg/L)
Bicarbonato Boro Alumínio, Arsênio, Antimônio Bário, Berílio, Bismuto,
Cálcio* Carbonato Bromo Cádmio, Césio, Chumbo, Cromo, Cobalto,
Cloreto* Estrôncio Cobre, Escândio, Estanho, Fosfato Gálio, Germânio,
Magnésio* Ferro Índio, Irídio, Iodo, Lantânio, Lítio, Mercúrio,
Sílica Fluoreto Manganês, Molibdênio, Níquel, Nióbio, Ouro, Prata,
Sódio Nitrato Platina, Rádio, Rubídio, Rutênio, Selênio, Tálio,

7
Sulfato Potássio Titânio, Tungstênio, Urânio Vanádio, Zinco, Zircônio

* Constituintes maiores considerados na presente pesquisa.

a) pH
O Ph é a medida da concentração hidrogeniônica da água ou solução, sendo controlado pelas
reações químicas e pelo equilíbrio entre os íons presentes. O pH é essencialmente uma função do
gás carbônico dissolvido e da alcalinidade da água. Varia de 1 a 14, sendo neutro com o valor 7,
ácido com valores inferiores a 7 e alcalino ou básico com valores superiores a 7.
A molécula de água (H₂O) tem uma leve tendência de romper-se em dois íons, do mesmo modo que
alguns sais dissolvidos na água (NaCl, Ca(HCO₃)₂, CaSO₄). Tendo a água a estrutura H.OH, quando
se ioniza divide-se em cátions H+ e ânions OH-, este último chamado de íon hidroxila ou oxidrila.
A maioria das águas subterrâneas tem pH entre 5,5 e 8,5. Em casos excepcionais, pode variar entre
3 e 11 (Feitosa et al, 2008).

b) Dureza
A dureza é definida como o poder de consumo de sabão por determinada água ou a capacidade da
água neutralizar o sabão pelo efeito do cálcio, magnésio ou outros elementos como Fe, Mn, Cu, Ba
etc. Em geral, usa-se o teor de cálcio e magnésio de uma água, expresso em teores de carbonato de
cálcio, para definir a dureza.
As durezas são expressas em mg/L de CaCO₃, mesmo que seja devido ao sulfato de magnésio. Se
uma água tem uma dureza de 210 mg/L de CaCO₃, equivale a dizer que esta água tem uma dureza
equivalente àquela de uma solução que contenha 210 mg/L de CaCO₃, como se toda a dureza fosse
causada apenas pela presença de carbonato de cálcio. As águas duras são incrustantes e produzem
grande consumo de sabão, além de dificultar o cozimento dos alimentos.
Actualmente, os valores de dureza são expressos em miligrama por litro (mg/L) ou
miliequivalente por litro (meq/L) da concentração em CaCO₃. As tabelas 2 e 3 mostram as
classificações da água quanto à dureza, com base em duas referências distintas (Logan, 1965;
Custodio & Lamas, 1983 citado por Feitosa et. All., 2008).

8
Tabela 2: Classificação das águas segundo a dureza em mg/L de CaCO₃ (adaptado de Logan,
1965). Fonte: Feitosa et. al, 2008.

Classificação Teor de CaCO₃ (mg/L)


Mole 0 – 100
Intermediária 100 – 200
Dura > 200

Tabela 3: Classificação das águas segundo a dureza em mg/L de CaCO₃ (adaptado de Custódio &
Lamas,1983). Feitosa et. al, 2008.

Classificação Teor de CaCO₃ (mg/L)


Branda < 50
Pouco Dura 50 – 100
Dura 100 – 200
Muito Dura > 200

c) Sólidos Totais Dissolvidos (STD)


Os sólidos totais dissolvidos na água consistem de sais inorgânicos e materiais dissolvidos que
geralmente compõem 95% ou mais do peso de sólidos totais na água. Em águas naturais, os sais são
compostos químicos compreendidos entre aniões, tais como os carbonatos, cloretos, sulfatos e
nitratos e, catiões tais como o sódio, potássio, cálcio e magnésio. A concentração natural de sais é
fortemente influenciada pela formação geológica em que o corpo de água está suportado. São
esperadas altas concentrações de sais em áreas áridas ou semiáridas, onde as evaporações
normalmente são maiores do que as precipitações.
Os sólidos totais dissolvidos (STD) correspondem ao peso total dos constituintes minerais presentes
na água, por unidade de volume, ou seja, representa a concentração de todo o material dissolvido na
água, seja ou não volátil, e guarda estreita relação com a Condutividade Eléctrica (Custódio; Lamas,
2001; apud Caracas, 2013).
Para a maioria das águas subterrâneas naturais, Hem (1985), estabeleceu uma relação STD (mg.L-1)
= Є x C (μS.cm-1), onde Є assume um valor entre 0,55 e 0,75, que gera uma boa estimativa de STD,
sendo que para águas dominadas pelos iões HCO-3 e Cl- o valor aproxima-se de 0,55. Para águas
salinas o factor é, usualmente, maior que 0,75 e, para águas ácidas, normalmente, é menor que 0,55.

9
Quando não se dispõe de valores de STD, este pode ser calculado empregando um valor médio
(0.65).
Na maioria das águas subterrâneas naturais, a condutividade elétrica da água multiplicada por um
fator, que varia entre 0,55 e 0,75, gera uma boa estimativa dos sólidos totais dissolvidos na água
(Feitotas et al., 2008).
O valor de STD nas águas doces varia de 50 a 1.500 mg/L e nos mares, em torno de 35.000 mg/L,
podendo atingir 300.000 mg/L em salmouras.

Tabela 4: Classificação da salinidade da água de acordo com os parâmetros de Custódio & Llamas,
1986.

Tipos de águas Sólidos totais dissolvidos (STD) em mg.L-1 (Custódio e Llamas,1986)


Doce 0 – 500
Salubre 500 – 1000
Salgada >1500

d) Íons principais das águas subterrâneas


Nas águas subterrâneas, a grande maioria das substâncias dissolvidas encontra-se no estado iônico
(cátions e ânions). Alguns destes constituintes iônicos, os principais, estão presentes em quase todas
as águas subterrâneas e a sua soma representa a quase totalidade dos íons presentes. Uma breve
descrição das principais características desses íons é feita a seguir, baseada em Custodio & Llamas
(1983).

Cálcio (Ca2+) – os sais de cálcio possuem de moderada a elevada solubilidade, sendo muito comum
precipitar como carbonato de cálcio (CaCO₃). É um dos principais constituintes da água e o
principal responsável pela dureza, apresentando-se, em geral, sob a forma de bicarbonato e
raramente como carbonato. A solubilidade do bicarbonato de cálcio (CaCO₃) aumenta em presença
de sais de Na+ e K+. No caso de águas ricas em sódio percolando através de argilas com alta
concentração de cálcio (montmorilonita), a troca de íon pode ser reversa, ou seja, diminui o teor de
Na+ na água e aumenta o Ca2+.
O cálcio é o elemento mais abundante existente na maioria das águas naturais e rochas, ocorre
principalmente nos minerais de calcita, aragonita e dolomita, em rochas calcárias, sendo o
plagioclásio e a apatita as maiores fontes de cálcio nas rochas ígneas.

10
Nas águas meteóricas, os teores de cálcio variam no intervalo 0,1 a 10 mg/L e nas águas dos
oceanos os valores oscilam em torno de 480 mg/L. Nas águas subterrâneas, os teores de cálcio
variam, em geral, entre 10 e 100 mg/L.

Magnésio (Mg2+) – o magnésio apresenta propriedades similares ao cálcio, porém, é mais solúvel e
mais difícil de precipitar, ocorrendo, em geral, sob a forma de bicarbonato. Quando em solução, tem
a tendência de nela permanecer, daí o enriquecimento dos seus sais nas águas dos oceanos. O
magnésio ocorre, principalmente, em rochas carbonatadas e tem como minerais fontes mais
freqüentes a magnesita, a biotita, a granada, a hornblenda, a clorita, a alanita e a olivina. Juntamente
com o cálcio, é o responsável pela dureza e produz gosto salobro às águas.
As águas meteóricas apresentam teores de magnésio entre 0,4 e 1,6 mg/L enquanto que as águas
subterrâneas apresentam teores mais frequentes no intervalo de 1 a 40 mg/L.

Cloreto (Cl-) – o cloreto, em geral, é muito solúvel, altamente deliqüescente (isto é, possui uma
forte tendência a absorver água e a se liquefazer) e muito estável em solução, logo, dificilmente
precipita. Não oxida e nem se reduz em águas naturais. A alta solubilidade e o lento movimento das
águas no aquífero vão provocando aumentos gradativos e constantes dos teores de cloretos nas
águas subterrâneas na direção do fluxo. Apesar das rochas ígneas serem pobres em cloretos, estes
são provenientes da lixiviação de minerais ferromagnesianos tanto nestas rochas como,
principalmente, em rochas evaporíticas, tal como o salgema.
Os cloretos estão presentes em todas as águas naturais, com valores situados entre 10 e 250 mg/L
nas águas doces. As águas subterrâneas apresentam, geralmente, teores de cloretos inferiores a 100
mg/L.
Já nas águas dos mares, eles são abundantes, com valores entre 18.000 e 21.000 mg/L, podendo
chegar a 220.000 mg/L nas salmouras naturais (saturação). O cloreto é um bom indicador de
poluição por aterros sanitários e lixeiras.

11
2.2. Contaminação Química dos Solos e Águas Subterrâneas

2.2.1. Origens e fontes poluidoras


A água contaminada possui organismos patogénicos ou substâncias tóxicas que são prejudiciais á
saúde humana. Toda água contaminada está poluída, mas nem toda água poluída está contaminada.
Este conceito depende também do tipo de classe que a água é definida e o uso a ela destinado, ou
seja, o conjunto de valores e o tipo de uso condicionado é o que interessa quando da definição de
uma água contaminada. A contaminação da água subterrânea tem origens diversas, mas está
intimamente ligada à existência de actividades industriais, domésticas e agrícolas. A contaminação
pode ser difusa ou pontual. As fontes pontuais encontram-se concentradas em uma pequena
superfície e de fácil identificação. Já as fontes difusas são aquelas que se encontram sobre grandes
superfícies e de difícil identificação devido a sua distribuição irregular. Em um sistema aquífero a
lenta circulação das águas subterrâneas e a capacidade de absorção da zona não saturada favorecem
a uma tardia manifestação de uma contaminação, podendo levar muito tempo para ser identificada.
Devido ao poder de depuração dos aquíferos em relação a alguns contaminantes e o grande volume
de águas que armazenam, as contaminações extensas se manifestam muito lentamente e as
contaminações localizadas aparecem depois de um tempo, quando são deslocadas para captações
em explotação (Sobrinho, 2009)

a) Transporte dos contaminantes


O conhecimento dos mecanismos de transporte e interacção de contaminantes no solo é de grande
importância quando se considera os riscos causados por certas substâncias a qualidades das águas
subterrâneas. Portanto, a compreensão dos mecanismos de transporte e retenção, é útil, uma vez que
fornece as bases para se fazer um diagnóstico preciso e minimizar os efeitos da contaminação. Há
diferentes mecanismos e factores que influenciam o transporte de contaminantes no solo. O
contaminante ao ser transportado pela água às camadas inferiores do solo interage com os materiais
e sofre processos de atenuação. Os mecanismos que actuam sobre os contaminantes em
subsuperfície são a advecção, difusão/dispersão, adsorção/dessorção, volatilização, metabolismo
microbial, reacções químicas, filtração, diluição e complexação, que são influenciados pelas
propriedades dos mesmos, características do solo, condições climáticas e práticas agrícolas.

No que diz respeito aos mecanismos de transporte, a mobilidade subsuperficial dos contaminantes é
determinada por três mecanismos principais:

a) Fluxo por advecção: determinante do movimento vertical do contaminante na zona não


saturada;

12
b) Movimento difusivo/dispersivo: desencadeia a mistura química e mecânica do
contaminante na solução e no meio poroso;
c) Atenuação: mudança de fase do contaminante da fase líquida para a sólida ou retarda o seu
movimento (Sobrinho, 2009).

13
Capitulo 3 – Procedimentos Metodológicos
3.1. Etapas de trabalho
As etapas seguidas aquando da realização da presente pesquisa são ilustradas de forma resumida no
fluxograma da figura 3, a seguir.

Figura 4: Fluxograma das etapas de desenvolvimento da pesquisa.

14
i. Levantamento bibliográfico
A primeira etapa do trabalho envolveu uma busca por trabalhos anteriores. Procedeu-se o
levantamento de informações em livros (Direcção nacional de geologia. (2006). Notícia explicativa
volume 3, DNA. (1987). Noticia Explicativa Da Carta Hidrogeologica De Mocambique Escala
1:1.000.000. e. Custodio, e; Llamas, m. R. Hidrología subterranean. Barcelona: ediciones omega,
1983. 2 v.), teses e artigos, buscando o embasamento teórico relativo à caracterização da área de
estudo assim como a utilização de técnicas de interpolação determinísticas e geoestatísticas
aplicáveis a estudos hidrogeoquímicos, de modo igual procedeu-se a busca e aquisição imagens de
satélite e mapas diversos imprescindíveis para a prossecução da pesquisa. As informações colhidas
na bibliografia e nos dados cartográficos digitais foram associadas confeccionando um Mapa Base.

ii. Aquisição de dados de campo


A fim de responder os objectivos propostos, foi realizado um levantamento dos dados de captação
de água, tais como localização e profundidade dos poços, características geológicas dos aquíferos,
parametros fisico – quimicos (Dureza Total, CE e pH) e alguns constitituintes químico maires (Ca,
Mg, Cl).
Os dados utilizados foram compilados dos relatórios de empreitadas de construção de furos de água
disponibilizados pela Direcção Provincial de Obras Publicas, Habitação e Recursos Hídricos da
Zambézia, resultados de duas campanhas de sondagem na área abrangida pela presente pesquisa.
Do total de 18 furos de água subterrânea, 8 foram construídos na empreitada de sondagem realizada
no ano 2020 pela companhia chinesa Quing An Constrution International, e 10 foram construídos
pela Afrodrill em 2021.

iii. Construção da base de dados


Após a aquisição dos dados de furos de água seguiu-se a pré-avaliação dos dados por meio da
análise dos dossiês, onde constatou-se a ausência de dados químicos de iões de Ca e Mg na
campanha de perfuração realizada pela Quing An Constrution International, ou seja, cerca de 8
pontos não apresentam estas variáveis. Na elaboração da base de dados considerou-se os parâmetros
de interesse para cada ponto de amostragem e o seu respectivo georreferenciamento.

15
iv. Análise estatística exploratória
A construção do histograma da (s) variável (eis) é essencial para a análise dos valores de tendência
central, de dispersão e configuração da distribuição das classes de frequência. Assim, pode-se
verificar a presença de “outliers”, a simetria da distribuição e o número de modas. Tanto o
histograma, como a curva de distribuição acumulada normal podem indicar visualmente se os dados
apresentam, ou não, uma distribuição normal e, também, a eventual presença de valores anómalos
(outliers). Para curvas normais os valores de assimetria (grau de afastamento da média em relação à
moda e a mediana) devem estar em torno de 0 e para curtose (medida que dá o grau de achatamento
da curva) em torno de 3 (LANDIM, 2003).

Com vista a avaliar a relação de dependência entre as variáveis procedeu-se, também, a análise
estatística bivariada através da correlação de Pearson. O coeficiente de correlação Pearson, r, um
índice sem dimensão situado entre -1,0 e 1,0 reflecte a extensão de uma relação linear entre dois
conjuntos de dados.

v. Geração de mapas hidroquímicos

Em estudos hidroquímicos, normalmente os resultados são apresentados sob a forma de mapas de


isoteores (mapa de isoteor de cálcio, STD, cloretos etc.). Esses mapas caracterizam-se pela presença
de isolinhas que correspondem a linhas de mesmo teor do background acrescido de alguns desvios-
padrão, dependendo da amplitude da população analisada. Permitem, no caso de água subterrânea, a
visualização rápida das variações espaciais das características químicas de um aqüífero (meios
contínuos). Outros mapas hidroquímicos consistem em representar sobre um mapa geológico ou
topográfico, gráficos, símbolos ou figuras que representem a composição química da água. Os
mapas hidroquímicos também podem ser construidos utilizando metodos de interpolacao de dados
espaciais, onde se estabelece a relacao de distribuição do parâmetro Z analisado e a sua posição
geográfica XY.

vi. Análise e interpretação

Os resultados obtidos das etapas anteriores foram compilados, interpretados e discutidos com base
em casos de estudos similares e informações extraidas de obras diversas. Para delimitar valores
hidrogeoquimicos normais dos anormais recoreu-se a comparação com os padrões de qualidade
água para o consumo humano estabelecido pela MISAU. Porém, levou-se também em consideração
os intervalos de teores apresentados por Feitosa et. al. 2008.
16
3.2. Interpolação espacial dos dados – Técnicas de interpolação
Existem mais de 40 métodos de interpolação, que podem ser divididos em três categorias:
determinísticos, geoestatísticos e métodos combinados (Armstrong, 1998; John, 2002; Johnston,
2001; Li, 2008 e Soares, 2006).

Os métodos determinísticos, como o método dos polígonos de influência, a triangulação e o inverso


da distância, criam superfícies a partir de pontos medidos com o auxílio de fórmulas matemáticas
simples. As técnicas geoestatísticas geram modelos de previsão de superfície, que incluem a
incerteza na previsão. São métodos que se baseiam na noção de variável regionalizada e de função
aleatória. A tabela 1 apresenta uma comparação entre alguns métodos de interpolação amplamente
aplicados em estudos de geociências.

Para Menezes (2013), a ideia central da interpolação é utilizar informações de conteúdo local para
determinar e preencher, de forma optimizada e com a melhor aproximação possível, pontos da rede
de dados que não foram amostrados. Sendo assim, a técnica depende do método matemático
empregado e da malha de distribuição de dados. A interpolação é usada para estimar o valor de um
atributo em locais não amostrados utilizando pontos de amostragens obtidos em regiões próximas
daquelas que vão ter seus valores estimados.

Para Li e Heap (2008), a escolha do método de interpolação apropriado para os dados não é uma
tarefa simples, pois o desempenho dos interpoladores depende de vários factores como a variável
em estudo, a configuração espacial dos dados e os pressupostos ocultos aos métodos de
interpolação. Em geral, não há uma resposta simples sobre a escolha de um interpolador, pois um
método é "melhor" apenas para situações específicas.

Segundo Landim (2000), a interpolação realizada é considerada ideal quando:

• A superfície interpolada ajusta-se aos dados dentro de um limite arbitrário definido pelo
usuário;
• A superfície interpolada é contínua e suave em todos os locais; • cada valor interpolado
depende apenas do subgrupo local de dados, cujos membros são determinados somente pela
configuração dos dados que são próximos ao ponto interpolado;
• O método de interpolação pode ser aplicado a todas as configurações e padrões de densidade
dos dados.

A interpolação aplicada na presente pesquisa visa a obtenção de mapas de contorno de isovalores,


isoquimismo (igual distribuição de cada componente químico presente na análise de água de todos

17
os pontos de amostragem), mapas de isopacas (igual espessura da formação geológica), mapas de
isóbatas (igual profundidade da formação aquífera) e mapas de fluxo de contaminantes para efeitos
de avaliação da tendência da contaminação das águas subterrâneas.

Para os propósitos da pesquisa foi seleccionado o método de interpolação por Miníma Curvatura
(MC) como adequada, considerando entre outros aspectos a densidade da malha de amostragem. O
tratamento dos dados procedeu-se com recurso ao programa Surfer 11 (Golden Software™ Inc.).

Tabela 5: Comparação entre os métodos de Interpolação de dados (Krajewski & Gibbs, 1966).

Método Fidelidade aos dados originais Suavidade das curvas Precisão geral
Mínima Curvatura 4 2 3
Inverso da Distância 3 4 4
Krigagem 2 3 1
Superfície/ Tendência 5 1 5
Valores de comparação dos métodos de interpolação de dados: 1 = melhor; 5 = pior

3.2.1. Método de Mínima Curvatura


O método de Mínima Curvatura interpola os dados com uma superfície que tem as derivadas
segundas contínuas. A superfície de mínima curvatura tem analogia com a curvatura de uma placa
elástica e se aproxima do contorno adoptado por uma placa fina flexionada que passa através dos
pontos de dados. O método de Mínima Curvatura gera uma superfície suavizada na qual todos os
dados são atravessados. Devido a isso, ele se caracteriza por ser um interpolador não exacto e como
consequência os dados nem sempre são apresentados com seus valores reais. O método gera um
novo grid de pontos aplicando sucessivamente o modelo de regressão por mínimos quadrados sobre
a grade de modo iterativo, de forma que a cada passagem consiga-se atingir um melhor nível de
suavização (Sobrinho, 2009).

18
3.3. Área de estudo
Mopeia é um distrito da província de Zambézia, em Moçambique, cuja sede localiza-se a 17°57’S e
35°43’E, com área total do Distrito de Mopeia é de aproximadamente 7.678 km², tendo como
limites geográficos abaixo apresentados.

Tabela 6: Limites Geográficos do Distrito de Mopeia. Fonte: INE, 2007.

Distrito Limites
Norte Sul Este Oeste
Distritos de Distritos de Chinde e Distritos de Distrito de Caia
Morrumbala e Derre Luabo (Província da Nicoadala e (Província de
(Província da Zambézia) e Inhassunge Sofala)
Mopeia Zambézia) Marromeu (Província da
(Província de Sofala) Zambézia)

Figura 5: Localização geográfica da área de estudo, Distrito de Mopeia.

19
3.4. Geologia Regional
Moçambique encontra-se inserida em três placas litosféricas separadas por um mosaico de cinturões
orogénicos proterozóicos. Estas placas litosféricas, designadas Gondwana Oeste, Gondwana Este e
Gondwana Sul.
A formação do supercontinente Gondwana, na Africa Austral e Oriental durante o ciclo Orogénico
Pan-Africano, envolveu dois principais eventos geodinâmicos (GTK Consorssium, 2006).
▪ O primeiro evento incluiu o fechamento do oceano Moçambique entre 841 e 632 Ma). Neste
modelo, o Gondwana Oeste incluía maior parte da África e América do Sul, e o Gondwana
Leste era composto de crosta juvenil, agora atribuída ao Escudo Arabiano-Nubiano, e
embasamento cristalino antigo de Madagáscar, India, Antártica e Austrália. A colisão e
amalgamação destas duas placas litosféricas criaram um cinturão de dobras com direcção N-
S de ~ 8000 km de extensão, chamado de Orogenia Leste Africana ou, realçando sua
continuidade mais para Sul, Orogenia Leste Africana-Antártica 10 (EAAO) que está
localizado na parte oriental do continente Africano.

▪ O segundo evento assume fechamento do oceano Zambeze-Adamastor e posterior colisão e


amalgamação do Gondwana Oeste-Leste com Gondwana Sul (GTK Consorssium, 2006).
Neste modelo o cinturão de dobramento orientado N-S (Orogenia Leste Africana) é afectada
pela Orogenia Kuunga orientada E-W. Esta orogenia inclui (de oeste a leste) o cinturão
Dâmara-Lufilian-Zambezi (aproximadamente 850 - 450 Ma), o cinturão de Lúrio e, mais
para leste, cinturões de Sri Lanka. Este sistema transcontinental separa o Cratão de Congo e
Cratão de Kalahari na África central. A geologia do Centro de Moçambique, que inclui a
área de estudo, esta inserida nos terrenos de Gondwana Sul.

3.5. Geologia Local


O distrito de Mopeia esta assente sobre formações Proterozóicas do Complexo Metamórfico de
Base com ocorrência de intrusões ácidas e básicas e, formações do Terciário e Quaternárias.

De acordo com a carta geológica de Moçambique na escala 1:250000, o local compreende unidades
sedimentares clásticas incossolidadas de idade Quaternária, composta por aluviões de areia, silte e
cascalhos (Qa), Coluviões (Qc), depósitos arenosos e cascalhosos de terraços fluviais (Qt),
escorrências argilosas (Qpi) e argilo-arenosas de origem fluvial (Qps). Foram relatadas também,
ocorrências de depósitos Terciários representados por grés arcósicos, parcialmente conglomeráticos
(TeZ) e proterozóicos representados por rochas cristalinas como granada – sillimanite gnaisse, mica

20
gnaisse e migmatítos (P₂NMgs), gnaises biotíticos bandados e migmatítos (P₂NMgm), gnaises
olhados com charnokitos migmatítos (P₂NMga) e charnokitos (P₂NMch).

Figura 6: Mapa geológico da área de estudo (Folha 1735) escala 1:250.000. Fonte: adaptado do
GTK Consorssium, 2006.

3.6. Geomorfologia

No distrito de Mopeia as altitudes variam desde o nível médio do mar até aproximadamente 400 m,
grande parte do território de Mopeia (cerca de 93%) são planície (altitudes até aos 200 m) que dá
lugar uma faixa longitudinal no extremo Nordeste do distrito de Planaltos Médios (altitudes entre os
200 m e os 400 m).

21
Figura 7: Modelo de elevação digital mostrando a configuração geomorfologia do distrito de
Mopeia. (Fonte: Adaptado de Modelo de Elevação Digital).

3.7. Hidrografia

O Distrito de Mopeia é caracterizado pela existência de um sistema de lagoas, conhecido por Thewe
I e Thewe II, que constituem a principal origem de água dos actuais regadios; estas lagoas
dependem fortemente do regime de inundação e cheias dos rios Zambéze e Cuacua; Os registos de
dados hidrológicos na bacia do Zambeze, em Moçambique, começaram depois da cheia de 1926 em
que a Companhia de Sena Sugar em Marromeu e os Caminhos-de-ferro registaram o nível máximo
da cheia e instalaram escalas de medição em vários distritos, dentre os quais Mopeia.

22
Figura 8: Mapa Hidrológico, Distrito de Mopeia (Fonte: adaptado do CENACARTA).
3.8. Hidrogeologia

O distrito de Mopeia está assente sobre formações pré-Câmbricas do Complexo Metamórfico de


Base, representada por um conjunto mais ou menos heterogéneo de gnaisses, metassedimentos,
xistos, quartzitos, intrusões ácidas e básicas e formações do Quaternário (DPOPHRHZ, 2020).

Os aquíferos deste distrito são mistos (fracturados e granulares), localizam-se em correspondência


da presença de fracturas que atingem a rocha mãe a diferente profundidade (15 m - 35 m; 45 m – 80
m) (DPOPHRHZ, 2020). O desenvolvimento do sistema de retículos de circulação da água que
compõe a fractura, bem como a sua interligação, determina a produtividade dos aquíferos que
podem apresentar caudal de 0.8 m³/h á 3.5 m³/h (DPOPHRHZ, 2020).

Os aquíferos primários extensos estão associados a depósitos aluviais do sistema de depósitos


fluviais do Zambeze. Estes aquíferos estão em continuidade hidráulica directa e o potencial de água
subterrânea dos aquíferos aluviais é controlado pela espessura saturada, tamanho dos grãos e o
alcance dos depósitos aluviais; os aquíferos aluviais (aquíferos primários) ocorrem ao longo do
curso do rio Zambeze, com uma espessura geral de 7-20 m, mas podem ser superiores a 35 m em
alguns locais. As transmissibilidades destes aquíferos são elevadas indiciando um movimento
rápido de águas subterrâneas através dos sedimentos; os aquíferos primários cobrem uma área

23
extensa ao longo do rio Zambeze e apresentam um potencial de abastecimento de água entre 50 e
300 l/s.

3.9. Clima e precipitação

A temperatura média anual é de cerca de 25,3ºC, observando-se uma amplitude térmica anual
relativa de 6,3°C. O mês de Dezembro é o mais quente do ano (27,7ºC). Em Julho regista-se a
temperatura mais baixa de todo o ano (21,4 °C).

A precipitação média anual é de cerca de 1018 mm, com maior incidência entre os meses de
Novembro e Março. Janeiro apresenta-se como o mês mais chuvoso, com precipitação mensal de
cerca de 221 mm. O mês mais seco é Setembro, com médias mensais de precipitação de 10 mm.
Baseado na classificação climática de Koppen, 19000, o distrito de Mopeia apresenta características
climáticas do tipo Aw (tropical chuvoso de savana).

24
Capítulo 4 – Resultados e discussão
4.1. Análise estatística uni variada
De forma a caracterizar os aquíferos da área em estudo, começou-se por fazer a análise estatística
univariada. Cada variável estudada foi analisado em separado, tendo sido feita a análise estatística
(tabela 7). Na tabela seguintes (Tabela 7) são apresentados algumas estatísticas referentes as
variáveis analisadas de carateristicas fisicas –quimicos da água, como a média aritmética e a
mediana (parâmetros médios) e o desvio padrão e o coeficiente de variação (parâmetros de
dispersão), entre outros.

Tabela 7: Resultados da análise estatística exploratória.

Análise estatística explóratoria


Ph Dureza CE Cloreto Cálcio Magnésio TSD
T(CaCo₃)
Number of values 18,0 18,0 18,0 18,0 10,0 10,0 18
Sum 129,9 1804,2 8793,0 1601,2 259,1 134,1 5891,3
Minimum 6,7 30,5 140,0 45,4 17,3 8,1 93,8
Maximum 7,6 250,0 1268,0 198,4 34,1 20,0 849,6
Range 0,9 219,5 1128,0 153,0 16,8 11,9 755,8
Mean 7,2 100,2 488,5 89,0 25,9 13,4 327,3
Median 7,2 88,5 400,0 78,6 25,9 12,5 268
Mode 7,0 30.5, 400, 6 45,4 #N/A #N/A 268, 4
Standard deviation 0,2 70,0 299,2 38,1 6,5 4,0 200,5
Skew -0,5 1,2 1,4 1,3 0,0 0,4 1,375
Kurtosis -0,5 0,6 2,0 2,8 -2,0 -1,1 1,968

A partir da análise estatística exploratória constatou-se o seguinte:

No geral todos os parâmetros estão dentro dos limites de qualidade de água com base nos teores
máximos admissíveis pela recomendação da MISAU.

a) Para pH, considerando moda da distribuição, caracteriza-se a maioria das águas com sendo
neutras. A distribuição assimétrica negativa (Assimetria = -0,5) indica que os valores de pH
abaixo da média no conjunto amostral representam a maioria. Considerando a média e a
mediana amostral descreve-se as águas subterrâneas da região como sendo ligeiramente
alcalina (pH = 7,2), o que é comum em águas subterrâneas. A alcalinidade resulta de uma
fraca dissociação das moléculas de H2O para forma iões hidroxilo e ião hidrogénio.
b) Comparando a moda e a média constata-se que condutividade eléctrica apresenta uma
distribuição assimétrica positiva caracterizada pela ocorrência maioritária de valores baixos
abaixo da média. Por outro lado, a variável apresenta uma grande dispersão dos dados

25
marcada por uma relação de 299,2 para desvio padrão em relação a 488,5 de média da
distribuição. Esta observação pode ser apreciada analisando a amplitude amostral de 1128
desde um mínimo de 140 até o máximo de 1268, indicando que na região abrangida existem
grandes diferenças hidroquímica entre os aquíferos em ternos de conteúdos de sais
dissolvidos nas águas subterrâneas, ou seja, existem aquíferos de baixas e de altas
concentrações de sais dissolvidos.
As rochas da região, maioritariamente de composição essencialmente quartzo feldspática,
possuem baixa solubilidade em água, porém, a presença de minerais instáveis com cimento
e fragmentos líticos como é o caso de depósitos de Grés arcósicos do Terciários podem
fornecer componentes iónicos ao meio aquífero elevando, consequentemente, a
condutividade eléctrica.
c) Considerando a classificação da salinidade da água com base nos STD as águas da região
podem ser descritas de forma geral como sendo de doce concentrações de acordo com
Feitosa et, et al.2008, o valor de STD nas águas doces varia de 50 a 1500 mg/L. Pós, os
valores estatísticos indicam valores de média = 327,3; mediana = 268 e moda = 268,4.
Porém, avaliando o mínimo = 93,8 e máximo = 849,6, percebe-se que em alguns locais
ocorrem águas de altas concentrações, mas se percebe que estão dentro de limites
estabelecidos por Organização Mundial saúde para o consumo humano (STD<1000).
d) A concentração de cálcio está igualmente distribuída entre as classes (não existe classe
modal), no entanto a média e mediana são iguais a 29,5, ou seja, a metade dos valores da
variável apresentam mesmo valor do centro da distribuição. O coeficiente de simetria igual a
zero deveria reflectir uma distribuição simétrica, oque não se verifica quando se analisa o
histograma.
e) O teor de Magnésio dissolvido apresenta um mínimo e máximo dentro dos padrões de
ocorrência normalmente encontrados nas águas subterrâneas considerando as observações
propostas por Feitosa et. al, 2008. Para este autor a concentração de magnésio nas águas
subterrânea aparece com valores entre 1 e 40 mg/L. Da avaliação estatística a variação de
magnésio mostra uma assimetria positiva (0,4) revelando que mais de 50% do conteúdo de
magnésio são valores acima da mediana (12,5).
f) A dureza total da água mostra uma estatística tal que moda <mediana <média que se
subentende como uma relação de abundância relativa dos valores mais baixos de dureza em
relação aos mais altos. A assimetria positiva (1,2) reforça a observação apresentada. Os
valores estatísticos da dureza total foram: Máximo = 250,0; Mínimo = 30,5; Média = 100,2;
Mediana = 88,5 e Desvio Padrão = 70,0. Considerando que tanto o cálcio assim como o
magnésio são constituintes químicos maiores (abundância cristal > 1%) pode-se associar a
26
variabilidade da dureza observada nas águas da região com uma consequência da
contribuição dos diferentes litotipos que compõem os aquíferos.

4.2. Análise estatística bivariada


Para a análise estatística bivariada foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson (r), que
quantifica a correlação entre pares de variáveis. Os coeficientes de correlação podem variar entre -
1,00 e +1,00. Se r = 1 se existe correlação positiva, se r = -1 a correlação é negativa e se r = 0 as
variáveis não estão correlacionadas.
Para efeitos de comparação utilizou-se o seguinte critério: correlações Muito Elevadas (acima do
0,9), correlações Elevadas (entre 0,8 e 0,9), correlações Moderadas (entre 0,6 e 0,8) e correlações
Baixas (abaixo de 0.6).

A partir da análise da correlação entre os diversos elementos, pode verificar-se que:


• Existe uma correlação moderada entre o CE e Cloreto (> 0,6), indicador de que a entre os
constituintes maiores dissolvidos o conteúdo de cloro exerce maior influência para a
condutividade da água;
• A dureza total da água está principalmente controlada pelo conteúdo de magnésio dissolvido
proveniente da lixiviação de minerais ferromagnesianos;

Tabela 8: Correlação de Pearson dos diversos elementares analisados.

Corr. Pearson Ph Dureza T(CaCo₃) CE Cloreto Calcio Magnesio


Ph 1,00
Dureza T(CaCo₃) -0,16 1,00
CD 0,35 0,46 1,00
Cloreto 0,11 0,51 0,60 1,00
Cálcio 0,21 0,52 0,59 0,48 1,00
Magnésio 0,06 0,72 0,58 0,40 0,60 1,00

Da análise gráfica para a correlação entre os parâmetros físico – químicos (Dureza total e CE) e os
constituintes químicos maiores de Ca+2 e Mg+2, observou-se que existe maior correlação entre a
dureza e magnésio em relação a dureza e cálcio (Figura.9), reforçando a ideia da associação
preferencial entre a dureza das águas locais e os litotipos da Suite de Mocuba representados na área
de estudo por gnaises biotíticos e migmatítos bandados cinzentos constituído por quartzo +
feldspato + Biotite ± Anfíbola (P2NMgm) que, devido a presença de minerais ferromagnesianos
como biotite e anfíbola na sua composição contribuem por lixiviação para o conteúdo de magnésio

27
dissolvido nas águas subterrâneas. Adicionalmente, a contribuição dos minerais ferromagnesianos
presentes nas argilas dos depósitos de aluvião e coluvião.
A correlação permitiu discriminar que existe maior correlação entre condutividade eléctrica e cálcio
relativamente a existente entre condutividade eléctrica e magnésio, indicando que os níveis
carbonáticos da FM Mazamba contribuem por lixiviação para o conteúdo de cálcio que compõem a
hidroquímica das águas subterrâneas da região.

a) b)
Figura 9: Correlação de Pearson entre dureza total Vs iões de magnésio e de cálcio dissolvidos (a) e entre
CE e iões de magnésio e de cálcio (b).

4.3. Avaliação espacial dos parâmetros físico – químicos


a) Condutividade

O mapa de contorno (Fig. 10a) ilustra a variação de valores de CE entre 140 µS/cm e 1256 µS/cm.
Tendo os máximos de CE sido observados em pequenas manchas na região SSE. Por outro lado,
percebe-se um decréscimo da CE na faixa NW e NE. Considerando os intervalos de qualidade
apresentados para este parâmetro pela MISAU, nada indica que as manchas de valores altos
observados representem anomalias, pós estes se encontram abaixo do máximo limite admissível de
qualidade de água para consumo humano (2500 µS/cm).

28
CE
20 105%

15 100%

Frequência
95%
10
90%
5 85%
0 80%
671,7 1203,5 1469,4 937,6 Mais
Classes

b)
a)
Figura 10 :a) Distribuição espacial da concentração da CE; b) Histograma de frequências de CE.

A observância de condutividade está associada a capacidade das soluções aquosas, incluindo água
subterrânea de conduzir ou transmitir corrente eléctrica, devido a presença de catiões e aniões
provenientes de sais diversos que se encontram dissolvido na água, sais estes que se acumulam no
corpo hídrico, em função da movimentação e transporte de matérias das litologias atravessadas
durante a percolação ou infiltração.

Os valores de condutividade observados neste estudo reflectem as concentrações de sólidos


dissolvidos na água, sendo que os intervalos de classes de valores altos de condutividade, embora
em pequenas manchas, na região SSE estão situadas onde a cobertura geológica esta representada
por depósitos de escorrência argila arenosa da Formação de Mazamba (TeZ) que representa a
transição de fácies marinhas para fácies continentais.

Segundo Dias, et. al., 2010, a Formação de Mazamba (TeZ) com espessura desconhecida, é
constituída por arenitos arcósicos, médios e grosseiros, de cor cinzenta esverdeada, com
intercalações métricas de lutitos e conglomerados. A unidade apresenta por vezes níveis
calcificados e/ou dolomitizados e concreções de ferro, manganês e carbonatadas. O mesmo autor
aponta a Fm Mazamba como aquíferos pouco produtivo (caudais variam entre os 0,7-1,6 m3/h.)
devido a espessas intercalações argilosas.
A correlação observada entre CE e iões de cálcio (Figura 11a) resulta da dissolução dos níveis
carbonáticos associados a Formação de Mazamba que, geograficamente, cobre uma porção
significativa da localidade de Posto Campo na área de estudo.
Observando o mapa geológico e comparando com a localização dos poços e os valores de
condutividade eléctrica, nota-se que os maiores valores se encontram na Localidade Posto Campo
na área estudada.

29
Convém mencionar que das enumeras campanhas de prospecção e pesquisa levadas a cabo nesta
região por diversas empresas, com vista a abertura de furos de captação de águas subterrâneas,
foram relatados casos de má qualidade da água em consequência da salubridade (Mendes, 2020).

a) STD
A distribuição do STD (Figura 11a) revela mais as características da água subterrânea da região, a
SE da área de estudo as águas subterrâneas tendem a ter altas de concentrações de acordo com
Feitosa et, et al.2008, o valor de STD nas águas doces varia de 50 a 1500 mg/L. Organização
Mundial da Saúde, e (MSB, 2006), as águas com qualidade admissível para consumo humano não
devem exceder o máximo de 1000mg/L.
As altas concentrações ocasionalmente, ocorrem na região centro Oeste, faixas com STD do
intervalo de águas doce.

Figura 11: Distribuição espacial da concentração da STD.

30
b) Cálcio

Os íons de cálcio possuem de moderada a elevada solubilidade. Normalmente se precipita como


carbonato de cálcio. Responsável pela dureza da água, é um dos principais constituintes da mesma,
confere sabor salgado em concentrações acima de 70 mg/L, apresenta-se, em geral, sob a forma de
bicarbonato e raramente como carbonato. É um dos elementos mais abundantes do planeta, ocorrem
em minerais como calcita, aragonita, dolomita e nas rochas calcárias. Os teores nas águas
subterrâneas variam, em geral, entre 10 e 100 mg/L (Feitosa et al., 2008).
O mapa de contornos (Figura 12a) exibe a distribuição do Ca2+ ao longo do local estudado.
Geograficamente as tendências indicam um potencial de concentração acima de 34 mg/L a Oeste da
região, entre a Localidade de Sede de Mopeia (Bairro Expansão) e Localidade de Chimuara. Nesta
faixa ocorrem, também, depósitos de cobertura da FM de Mazamba, e como já foi referido
anteriormente, a mineralogia das rochas que compõem a Formação de Mazamba são ricas em
quartzo e feldspato, mais eventualmete ocorrem níveis carbonáticos, desta maneira, é esperado a
contribuição de Ca+2 por lixiviação. Indicando que esta tendência está associada ao tipo de fácies
que compõem os níveis estratigráficos, ou seja, há contribuição de fácies carbonáticas.

Figura 12: a) Distribuição espacial da concentração de iões de cálcio; b) Histograma de frequência


de Ca2+.

Os valores de cálcio observados no presente estudo, variam de 17.3 – 34.1mg/L, com frequência
decrescente quase que uniforme com o aumento das classes estatísticas (Figura 13b). Os valores
detectados provavelmente se devem à dissolução de feldspato plagioclásicos das argilas da
Formação Mazamba e níveis de carbonatos representados por porções dolomíticas, marga e
calcário. Ainda, importa referir que a Carta de Jazigos e Ocorrências Minerais de Moçambique
aponta indícios de Calcário para cimento e cerâmica na área de estudo. No entanto, a concentração

31
de cálcio observada no presente estudo se encontra inserida no intervalo de 10 a 100mg/L,
considerado normal para águas subterrâneas por Feitosa et. al, 2018, e dentro do limites aceitáveis.

c) Magnésio
O magnésio apresenta características químicas muito semelhantes ao cálcio, porém, é mais solúvel e
mais difícil de precipitar, por isto ocorreu em menor concentração nas águas analisadas. Geralmente
ocorre na forma de bicarbonato. Tem como principal fonte as rochas carbonatadas (minerais:
magnesita, biotita, granada, hornblenda, clorita, alanita e olivina). Como o cálcio, é responsável
pela dureza e produz gosto salobro às águas. Apresentam teores geralmente entre 1 e 40 mg/L nas
águas subterrâneas (Feitosa et al, 2008).
O mapa de contornos (Figura 13a) mostra a concentração do Mg2+. Os dados brutos apresentam
mínimos e máximos entre 8,10 mg/L e 20 mg/L, respectivamente. A tendência de incremento dos
valores interpolados concordam com a observada para cálcio, ocorrem a Oeste da área estudada,
entre a Localidade Sede de Mopeia (Bairro Expansão) e Localidade de Chimuara. Provavelmente,
também, associado a rochas carbonáticas, mais especificamente do tipo dolomitíca.

Figura 13: a) Distribuição espacial da concentração de Mg+2; b) Histograma de frequência de Mg+2.

d) Dureza Total

Assim como o Cálcio e Magnésio, a Dureza Total da Água (Figura 14a) com mínimo e máximo
entre 30,5 e 250 mg/L, apresentam teores mais altos a SSW do rectângulo estudado. Esta
observação concorda com as relações intrínsecas existentes entre os constituintes químicos dos iões
citados e a dureza da água.

32
Foram verificados comportamentos diferenciados ao longo da área de estudo, mas de forma geral é
notável uma tendência de incremento da concentração do NE para o SW, provavelmente associados
a existência de carbonatos magnesianos da Formação de Mazamba ou minerais ferromagnesianos
da Suíte de Mocuba (Complexo de base/Embasamento cristalino), tendo-se observado valores
mínimos a NE e NW, e máximos nas regiões SE e SW.

Dureza
15 100%
80%

Frequência
10
60%
40%
5
20%
0 0%
133,97237,45289,18185,71 Mais
Classes

Figura 14: a) Distribuição espacial da concentração de Dureza total da água; b) Histograma de


frequência.

e) Cloretos

Os cloretos (Cl-) estão presentes em quase todas as águas e normalmente, associado ao sódio. Suas
principais características são: alta solubilidade, muito estável em solução e dificilmente se precipita.
A alta solubilidade e o lento movimento das águas subterrâneas provocam um aumento gradativo
do teor dos cloretos das áreas de recarga, em direção as áreas de descarga. As águas subterrâneas
apresentam geralmente teores inferiores a 100 mg/L. São bons indicadores de poluição por lixão ou
aterros sanitários (Feitosa et al, 2008).
Os valores de Cl- observados (Figura 15a), variam de 45,43 e 198,43 mg/L, correspondente aos
máximos e mínimos. A distribuição areal revela baixos teores ao longo do Norte da área de
pesquisa desde o Este à Oeste. Por outro lado, os máximos observados estão situados a ESE e
pequena mancha a WSW. Como foi discutido anteriormente, as rochas que compõem
maioritariamente a área de estudo são constituídas principalmente por minerais de quartzo, em
menor concentração feldspato alcalino e pouco feldspato plagiocláse. Como não há minerais
responsáveis pela contribuição de cloreto, o pouco que existe, provavelmente se deve as águas de
recarga do aquífero, isto é, as águas meteóricas. É interessante observar, que estas águas já se
encontram empobrecidas em cloreto, pois a região Centro Oeste (região estudada) se encontra
distante do litoral, onde as águas oceânicas são naturalmente mais ricas neste ião.
33
a)
b)
Figura 15: Distribuição espacial da concentração de cloretos(a); Histograma de frequência Cl- ( b).

A presença de cloretos em toda área pode estar associada ao facto deste ser um do prinipais aniões
inorgânicos presentes em todas águas naturais, com valores situados entre 10 e 250 mg/L para
águas doces e 18.000 à 21.000mg/L para águas marinhas. Proveniente da lixiviação de minerais
ferro-magnesiano de rochas ígneas e de rochas evaporativas (Bande, 2018).

f) pH

As variações do pH podem ser observadas no mapa (Figura 16a) de distribuição. Os valores altos
estão restritos a porcão S e SE onde tendem a apresentar-se acima de 7, 4. A correlação negativa
observada entre pH e Dureza na Tabela 8 indica uma relação de incremento inverso entre estes
parâmetros, ou independência entre as variáveis.

Figura 16: a) Distribuição espacial da concentração de PH; b) Histograma de frequências de PH.

34
4.4. Comparação dos resultados com o padrão de qualidade da MISAU

A tabela (9), apresenta os resultados observados para os parâmetros físico-químicos no presente


estudo confrontados com os limites máximos admissível recomendados pelo Ministério de Saúde
(MISAU, 2020). Pode se verificar através da tabela, que os valores para os parâmetros físico –
químicos analisados (CE, dureza, pH, Cálcio, Cloreto e Magnésio) se encontram dentro dos
intervalos ou limites recomendados pelo MISAU (Tabela 9) para o consumo humano, sugerindo
assim, que as águas subterrânea reúnem condições de qualidade adequada para o consumo humano,
carecendo porém de uma avaliação mais detalhada que inclua parâmetro biológicos, para completar
a avaliação, pós de acordo com o MISAU (2020), para o controle da qualidade da água deve-se
incluir análises microbiológicas, com destaque para os coliformes fecais.

O MISAU não estabelece os limites para concentração de magnésio e de cálcio, todavia, para
complementar recorreu-se aos intervalos propostos por Feitosa et. al., 2008 (Tabela 10). Nesta
consideração os valores, também se mostraram dentro do normal.

Tabela 9: Relação entre os teores observados para os parâmetros físicos – químicos e os Intervalos
geralmente encontrados nas águas subterrâneas propostos pelo MISAU, 2020.

Parâmetros Observados Limite Máximo Admissível pelo MISAU


Condutividade 140 – 1256 µhm /cm 50-2000 µhm /cm
Físicos Dureza 30.5 – 250 mg/L 500mg/L
P H
6.7 – 7.7 6.5 – 8.5
Cálcio 17.3 – 34.1 mg/L -
Químicos Cloreto 45.4 – 198.4mg/L 250mg/L
Magnésio 8.1 – 20 mg/L -

Tabela 10: Relação entre os teores observados de iões e os Intervalos geralmente encontrados nas
águas subterrâneas propostos por Feitosa et. al., 2008.

Parâmetros Intervalo de teor Intervalos geralmente encontrados nas águas


observados subterrâneas
Cálcio 17.3 – 34.1 10 – 100 mg/L
Químicos Cloreto 45.4 – 198.4mg/L <100
Magnésio 8.1 – 20 mg/L 1 – 40 mg/L

35
Capítulo 5 – Conclusão e Recomendações
5.1. Conclusão
A discussão dos resultados levou as seguintes conclusões:
• Não existem restrições imediatas quanto à concentração dos iões cálcio (Ca2+) e magnésio
(Mg2+), uma vez que estes possuem, inclusive, propriedades benéficas para a saúde humana.
Nas águas subterrâneas as principais fontes de Ca+2 são a calcita (carbonato de cálcio) e
dolomita (carbonato de cálcio e magnésio). Para o Mg+2, além da dolomita destacam-se a
biotita, anfíbolas e piroxénas.

• Quanto à qualidade das águas investigadas para fins de consumo humano, não existe, até o
presente, evidências de que a dureza produza transtorno de ordem sanitária, ao contrário,
alguns estudos sinalizam para uma menor incidência de doenças cardíacas em áreas onde as
águas apresentam maior dureza (Von Sperling, 1996). No entanto, segundo a MISAU, o
limite máximo de dureza total em água potável é de 500 mg L-1, indicando portanto, que
neste requisito, as águas subterrâneas locais estão de acordo com as normas citadas.
Observou-se uma forte correlação entre a dureza e o teor de magnésio, reforçando a ideia da
associação preferencial entre a dureza das águas locais e os litotipos da Formação de
Mazamba e rochas gnaissicas, migmatíticas e charnokitícas Proterozóicas na região SW na
área de estudo.

• O magnésio apresenta características químicas muito semelhantes ao cálcio, porém, é mais


solúvel e mais difícil de precipitar, por isto ocorreu em menor concentração nas águas
analisadas. Geralmente ocorre na forma de bicarbonato. Na área de estudo tem como
principal fonte os níveis carbonáticos FM Mazamba que contêm dolomite e minerais
ferromagnesianos da Suíte de Mocuba, com destaque para biotite.

• O mapa de distribuição do teor de STD indica águas subterrâneas doces com altos teores de
STD na região SE (Localidade de Posto Campo) e, ocasionalmente na Sede do distrito de
Mopeia, apesar de apresentar altas concentrações do teor de STD, os valores variam de 93,8
– 849,6 mg/L no presente estudo encontram-se inseridos no limite estabelecido por
Organização Mundial de Saúde e (MSB, 2006) de agua para o consumo humano que
recomenda o valor de 1000mg/L como limite maximo para STD.

36
5.2. Limitações e Recomendações
Os trabalhos de construção de furos geridos pelo governo e realizados por empreiteiros privados são
considerados positivos quando atendem a todos requisitos do caderno de encargo. Com isto, o
empreiteiro não é obrigado a disponibilizar dados de furos negativos, limitando desta forma a
disponibilidade de informações pontuais que são imprescindíveis para um estudo mais detalhado
das características hidrogeológicas e hidroquímicas dos aquíferos. Por outro lado, os dados de
química de água apresentados pelos empreiteiros e armazenados nos cadastros da Direcção
Provincial da Obras Publicas, Recursos Hídricos da Zambézia (actualmente, Serviços Provínciais de
Infra-estruturas da Zambézia) geralmente são incompletos, limitados a iões de Ca, Mg e Cl.

Com base na conclusão e limitações recomenda-se:

▪ Que nos próximos estudos sejam considerados a sazonalidade uma vez que a maior ou
menor dissolução pode variar com a época do ano e influenciar nas características
hidroquímicas das águas subterrâneas;
▪ Que se faça ao detalhe um estudo litoestratígráfico das formações aquíferas;
▪ Que sejam considerados os parâmetros biológicos e os catões e aniões maiores;
▪ Que se faça, também, estudo sobre a datação isotópica de elementos químicos radiogênicos
presentes nos aquíferos de Mopeia.

37
6. Referencias. Bibliográfica
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40
41
Pontos X Y distrito localidade data topo de aquiferoEspessura
base de Aquifero Ph
formacao geologica dureza T(CaCo₃) CE Cl- Ca++ Mg++
1 36,2461 -17,5031 Mopeia Liberdade 27,09,2020 36 45 7,35 esbranquiadas
9 Areias finas acastanhada 30,5saturatura, fraturada acastanhada muito saturada
600Rocha45,43
2 35,4367 -17,8053 Mopeia Nhacatundo 27,09,2020 32 46 7,31 saturada, Rocha
14 Rocha fraturada(gnaisse) 232,5 fraturada 98,43 com pedregulhos de quartzo(Silte) muito saturado
400 acastanhada
3 35,3975 -17,7856 Mopeia Eduardo Mondlane 27,09,2020 27 38 acastanhada saturada,
11 Rocha fraturada 7,21 32,5rocha fraturada 48,43 a partir dos 3lm compactada silte
630 acastanhada
4 35,8683 -18,0714 Mopeia ximpene 277,09,2020 33 41 7,01 saturad, areias62,2
8 Areias esbranquicadas acastanhada saturada
400media 108,2
5 35,7039 -17,9689 Mopeia Filipe Nyuse 27,09,2020 30 39 120 rocha
acastanhada muito saturada,
9 Rocha fraturada 7,45 198,43saturada esverdeada
1080 fraturada
Tabela 11: Base de dados

6 36,2356 -17,7014 Mopeia Kafe Posto Campo 27,09,2020 37 44 7,45


7 Areias grossas acastanhada 33,5 muito600saturada47,43
esbranquicadas
7 36,2389 -17,7283 Mopeia Scuane B 27,09,2020 31 38 medio acastanhado62,5
7 Areias do grossas7,56 560 120,1
muito saturado
8 36,4492 -17,6139 Mopeia Chamgawe B Bairro Wuana 27,09,2020 45 50 7,26
5 Areias grossas acastanhadas saturadas30,5 200 45,43
9 35,7119 -17,9636 Mopeia Sede Mopeia/Expansao 10,12,2021 22 28 Calcario
6 Areia grossa,Gres6,7 231 659 99,8 34,1 20
10 35,8442 -18,0358 Mopeia Sede Mopeia/Ambrosio 10,12,2021 15 22 6,9
7 Areia Media Esbranquicada, 120
Areias finas 396 93,7 17,3 12,4
11 35,7228 -17,9867 Mopeia Mugurrumba/posto campo/Nhambade A 10,12,2021 16 24 8 Areia fina 7 100 334 77,6 19,6 8,9
12 36,1578 -18,1072 Mopeia Mugurrumba/posto campo/Mambade A 10,12,2021 21 24 7,3
3 Areias finas esbraquicadas 89 263 79,6 20,6 8,1
13 36,1561 -18,1117 Mopeia Posto campo/Canamgola 10,12,2021 22 28 6 Areia Media a fina7,5esbranqicada 250 1268 129 33,7 18,4
14 35,7434 -17,7064 Mopeia Chimuara(Sambolondo)/Ep1 Nhamidimo 10,12,2021 38 47 7,2
9 Rocha Fraturada acinzentada 88 140 77,2 22,3 15
15 35,5125 -17,5125 Mopeia Chimuara/Ep Mugubia 10,12,2021 38 47 9 Gneisse com fratura,7 Gneisse Duro humido70 163 65,7 20 12,6
16 36,0057 -18,1384 Mopeia Sede Mopeia/Mangala 10,12,2021 15 23 371
92 Esbraquicada
8 areia Media a fina7,5acastanhada,areia fina 76,7 29,7 17
17 35,9506 -18,1061 Mopeia Sede Mopeia/Nsadje 10,12,202 16 22 6 areia esbranquicada7 110 489 120 29,5 11,3
18 36,0108 -17,5776 Mopeia Lualua/caline viamontinho 10,12,2021 29 38 7,2 Esbranquicada50
9 Rocha Fraturada Quartri 240 70 32,3 10,4
7. Anexos

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