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O Funcionalismo em Linguística: sistema linguístico e uso das expressões linguísticas.

Funcionalismo, Estruturalismo e Gerativismo

O Funcionalismo decorre de uma vinculação com à Escola Linguística de Praga, onde o Ciclo
Linguístico de Praga foi o centro de uma nova maneira de pensar a linguagem, visto que rompe com
o paradigma formal. Rompe também, de modo tautócrono, com os estudos estruturalistas, pois
entrega a ideia geral que funda o pensamento pragueano de que a estrutura das línguas é
determinada por suas funções características. Seguindo uma orientação centrada fortemente no
ideário saussuriano de acordo com Rodolfo Ilari: priorizou a análise do sistema; assumiu a língua
enquanto forma; deu preferencia à sincronia. Por esse motivo é preciso ter cautela com as etiquetas
em -ismo, pois elas achatam e apagam as diversidades tanto dentro de uma mesma episteme, quanto
entre as várias epistemes existentes em um mesmo campo.

“O funcionalismo tem seu lugar no conjunto de


movimento estruturalista; é um estruturalismo
específico que se pode chamar de estruturalismo
funcional.” PAVEAU, Marie-Anne e SARFATI,
Georges-Élia.

Na linguística, o Funcionalismo é entendido como um movimento particular dentro do


Estruturalismo, diferentemente de como é conceituado na Antropologia e na Sociologia.
Por ter como objeto de estudo a língua enquanto sistema, entende-se que Funcionalismo atua como
um apêndice do Estruturalismo, porém apresentando a perspectiva de fazer-se um sistema de meios
de expressão apropriados a uma finalidade comunicativa. Regularmente sendo comparado com o
Gerativismo acolhido como uma reação a esse programa de pesquisa, o paradigma funcionalista tem
como base fundamental de sua teoria que o uso da estrutura e reestrutura o sistema linguístico
implicando um forte pressuposto de uma gramática em um descontinuado processo de variação e
mudança. Já a aproximação entre Funcionalismo e Estruturalismo deve ser considerada, porém
devemos compreender que o paradigma funcional que postula o sistema linguístico é estruturado a
partir do uso da língua, causando uma ruptura com o postulado da teoria saussuriana. A teoria
saussuriana do valor, por si só, não responde a exigência das teorias funcionalistas que buscam
analisar e explicar a estruturação das expressões linguísticas como co-determinada pelo contexto
comunicacional, pelas condições reais de produção da linguagem. O engajamento da perspectiva
Funcionalista é, neste sentido, descrever a linguagem não como um fim em si mesma, mas como
um requisito pragmático de interação verbal, organizando assim, um objeto de estudos baseado no
uso real e que, por isso, não admite separações entre sistema e uso, tal como preconizam tanto o
Estruturalismo de base saussuriana, a partir da distinção entre língua e fala, quanto a teoria Gerativa
com a distinção entre competência e desempenho.

Os linguistas ponderam que, para além da diversidade de abordagens funcionalistas, afinal, o


Funcionalismo não é um modelo monolítico, é realizável o reconhecimento de um ponto em comum
entre os outros estudos que se hospedam sob o rótulo de funcionalistas: “todos conhecem a
linguagem como instrumento de comunicação e de interação social, cuja forma adapta às funções
que exerce.” De tal modo, a linguagem é explicada e descrita com base nestas funções, que são, em
ultima análise, comunicativas. Porém, como conceber o estudo da língua definida enquanto um
sistema que cumpre uma função, tem uma finalidade -a de ser instrumento para a comunicação- e
operacionaliza meio próprios para esse fim?

O Funcionalismo exige a formulação de um “modelo de interação verbal”. As regras pragmáticas


são baseadas no modelo de interação verbal; o conceito de usuário de língua natural; a
independência entre a sintaxe e organização semântica e pragmática, visando a finalidade de que
seja possível compreender melhor o fundamento funcionalista e a maneira que ele suporta e é
suportado pela formulação dos conceitos.
Ao modelo de interação verbal são fundamentados no ponto de vista da produção, à intenção do
falante, à informação pragmática, e no ponto de vista da interpretação do ouvinte, a própria
expressão linguística, à sua informação pragmática. Esse modelo, suporta o pressuposto da
comunicação cooperativa e eficaz com base na competência comunicativa dos falantes e ouvintes,
desta forma é presumido que o modelo de Usuário de Língua Natural (ULN) opera não apenas
como uma capacidade linguística, mas também com capacidades de natureza cognitiva e social,
assim como a capacidade epistêmica, a capacidade lógica, a capacidade perceptual, a capacidade
social.
A forma de expressão linguística é igualmente co-determinada por três níveis funcionais -funções
sintáticas (classificam a concepção onde é apresentado “o estado de coisas” na expressão
linguística, funções semântica (classificam os papéis que operam os referentes dentro do “estado de
coisas”) e funções pragmáticas (classificam o estatuto informacional dos constituintes dentro do
contexto comunicacional mais abrangente em que eles ocorrem)-. Tanto a forma, quanto o conteúdo
semântico das expressões linguísticas podem variar a partir da forma em que se atribuem funções
diferentes aos constituintes em cada um desses três níveis de configuração de funções, o que torna
notável para nós a interdependência deles. A partir da perspectiva funcionalista, adotando o conceito
de sujeito, no nível das funções sintáticas, de tópico e foco, no nível das funções pragmáticas, nós
concebemos e aceitamos a teoria provinda que funções comunicativas específicas podem organizar
diferentes padrões de ordenação dos constituintes nas sentenças.

“No paradigma funcional, as expressões


linguísticas são vistas como instrumento dos
quais os participantes de uma interação verbal se
valem para se comunicar em situações
específicas de interação; a língua é, pois, um
instrumento de interação social.”

Da perspectiva funcionalista, os vários padrões de ordenação para os constituintes da sentença são


gramaticalmente equivalentes, embora cumpram funções comunicativa diferentes. A interação das
forças que agem para gerar esses mesmos padrões de ordenação terminam por gerar um padrão
geral de ordenação dos constituintes na sentença, a partir do qual cada língua especifica seus
padrões de ordenação da frase.

P1 (V) S (V) O (V)


P1:Pronome relativo/conjunções subordinativas
V: Possibilidade variável do verbo
S: Sujeito da oração
O Objeto complementar do verbo.

Conforme análises de Berlinck et al. (2001), com evidência no pressuposto funcionalista de que a
estrutura da língua só pode ser plenamente compreendida em associação com os princípios que
regem a interação verbal, contemplemos as sentenças:

(1) Diadorim entregou o facão para Riobaldo


(2) Eu vi o Miguilim ontem.
(3) O Manuelzão e o Augusto Matagra vieram na festa.

“Diadorim”, “Eu” “O Manuelzão e o Augusto Matagra” no nível de uma análise sintática das
funções sintáticas são sujeitos das orações, entretanto aqui consideramos que além da função
sintática de sujeito eles como sujeito também cumprem a função pragmática do tópico. As frases-
perguntas fornecem o contexto interacional que nos permite analisar os termos que ocupam a
posição P1 como tópicos, pois é sobre as entidades a que esses termos se referem que se pede (e se
fornece) alguma informação. Todavia, esses mesmos termos poderiam ser analisados como foco se
fossem inseridos em um outro contexto interacional.
Quem você viu ontem? O Miguilim eu vi ontem. / O que Diadorim entregou para Riobaldo? O
facão Diadorim entregou para Riobaldo.”. Nas frases-respostas “O Miguilim” e “O facão”
realizam a função pragmática de foco, pois eles carregam a informação mais importante ou
protuberante da frase.

Uma problemática diferente surge em frases-respostas onde o sujeito aparece proposto:


“Tinha muita gente na festa? Na festa vieram Manuelzão e Augusto Matraga. / O que aconteceu?
Vieram o Manuelzão e o Augusto Matraga na festa.”. O sujeito proposto ao verbo, acontece pelo
fato do sujeito não ser o tópico e nem constituir isoladamente o foco, o constituinte “Na festa” é que
desempenha função pragmática de tópico, ocupando a posição P1, pois é sobre esse a entidade que
esse termo se refere a que a informação é requerida fornecida. Quanto ao sujeito, aqui, entra na
composição da frase-comentário, que veicula, como um todo, a informação nova e precisa sobre “a
festa”, ele não constitui um foco marcado, não possuindo razões pragmáticas para ocupar P1. “Na
festa” também faz parte da frase-comentário, por decorrer de uma informação graças a frase-
pergunta “O que aconteceu?”

“Manejamos um conjunto de opções, com as


quais ajustamos nossas produções para,
compondo sentido, obtermos sucesso na
interação, conseguirmos, realmente, interagir.”
(NEVES, 2006, p. 130).

Analisando a ordenação dos constituintes na sentença em conchavo com a perspectiva funcionalista,


o universo de análise da linguagem é a língua em uso, visto que são as condições e as exigências
comunicacionais que moldam a sua estrutura, isto é, seguindo este trâmite o sistema linguístico
existe para cumprir funções essencialmente comunicativas, do que decorre, da afirmação de que as
línguas são instrumentos de interação social e devem, por isso, ser descritas e explicadas a partir do
esquema efetivo da interação verbal, submetendo sempre, em alguma medida, ao sistema
linguístico.

WEVERTON CALIXTO MONTEIRO.

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