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Uberlândia - MG
2018/2
WEVERTON CALIXTO MONTEIRO
DISCURSO, HISTÓRIA E MEMÓRIA
UM ENCONTRO ATRAVÉS DOS SÉCULOS SOB A IDEOLOGIA BEAT.
Uberlândia - MG
2018/2
SUMÁRIO
• JUSTIFICATIVA..........................................................................................................3
• OBJETIVO....................................................................................................................3
• INTRODUÇÃO.............................................................................................................3
• GERAÇÃO BEAT.........................................................................................................6
• OBJETO DE ESTUDO.................................................................................................7
• RIDE.............................................................................................................................10
• ANÁLISE.....................................................................................................................10
• CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................15
• REFERÊNCIAS..........................................................................................................15
• JUSTIFICATIVA
O destino conclusivo deste trabalho refere-se a analisar detalhadamente os discursos
atinentes à obra de Lana Del Rey, suas expressões linguísticas, formal e conteudistas pelo prisma
da análise do discurso, explorando e entrelaçando o teor literário e a ideologia presente no
período tecido durante a criação efetiva da geração beat (como os ideais americanos da
contracultura do movimento em evidência nas décadas 50 e 60), transferidos em 2012 para a
formação ideológica da obra da cantora contemporânea.
Por meio deste recolhimento de ideologia a autora, em RIDE, resgata interdiscursos,
insertos em uma rede de memória discursiva. Assim sendo, esse trabalho objetiva-se na análise
de concepções ideológicas, enunciados, do século XX reprisados e renovados no século XIX.
• OBJETIVOS DA DISCIPLINA
Construir uma reflexão teórica e de caráter metodológico, do lugar da Análise do
Discurso, acerca das inter-relações entre História, Discurso e Memória, face às formações e/ou
funcionamentos discursivos e a produção de sentidos que revelam os espaços de enunciação dos
sujeitos.
3. INTRODUÇÃO
Considerando os pressupostos teóricos concebidos sob a escola francesa de análise do
discurso (AD), este trabalho destina-se a analisar os processos de formação, constituição e
sentidos do monólogo exterior do monólogo poético inerente em Ride de Lana Del Rey,
concomitantemente, vislumbrando analogicamente as influências encalcadas no texto oriundas
da gênese do material estruturado na Geração Beat.
Em RIDE, o eu lírico da cantora reside na personagem que a mesma representa,
fundamentando, em seu discurso, tópicos adotados pelos escritores da Geração Beat e, à vista
disso, marca ideologicamente uma memória discursiva.
À vista disso, Del Rey refaz enunciados proferidos em um outro tempo do qual não
pertenceu e esta característica do discurso, Maingueneau (2001 apud BRANDÃO, 2009) irá
asseverar como “dialogismo” e “interação”, indicando que existe, respectivamente, diálogo e
interação entre ambos.
• OBJETO DE ESTUDO
Ride
Eu estava no inverno da minha vida e os homens que eu conheci ao longo da
estrada foram meu único verão. À noite, eu dormia com visões de mim mesma
dançando, rindo e chorando com eles. Três anos sem rumo em uma turnê mundial sem
fim e lembrar-me deles era a única coisa que me sustentava, meus únicos momentos
reais de felicidade.
Eu era uma cantora, uma não muito popular, que sonhava em um dia ser uma
linda poetisa, mas diante de uma série de lamentáveis acontecimentos vi meus sonhos
serem arruinados e se partirem em milhões de estrelas no céu da noite para as quais eu
fazia novos pedidos [sonhos brilhantes e fragmentados].
Mas, realmente, eu não me preocupava, porque eu sabia que era necessário conseguir
tudo o que você sempre quis e depois perder para saber o que é a verdadeira liberdade.
Quando as pessoas que eu costumava conhecer descobriram o que eu estive
fazendo, como eu estava vivendo, elas me perguntaram:
— Por que?
Mas não adianta falar com pessoas que tem um lar, elas não tem ideia do que é procurar
segurança em outras pessoas. Lar é qualquer lugar onde você consegue descansar sua
cabeça.
Eu sempre fui uma garota incomum. Minha mãe me dizia que eu tinha uma alma
de camaleão, sem senso de moral apontando para o norte, sem personalidade fixa!
Apenas uma indecisão interior tão extensa e tão ondulante quanto o oceano. Porém, se
eu disser que não planejei para que tudo fosse desta forma eu estaria mentindo, porque
eu nasci para ser a outra mulher.
Eu não pertencia a ninguém, mas pertencia a todo mundo; não tinha nada, mas queria
tudo.
Com um fogo tão grande por cada experiência e uma obsessão por liberdade que
me apavorava até não conseguir nem falar sobre isso, o que me levou a um nômade
ponto de loucura que, ao mesmo tempo, me deslumbrava e me deixava tonta.
[início da música]
[final da música]
Toda noite eu costumava rezar para que eu pudesse encontrar o meu povo e,
finalmente, eu encontrei na estrada aberta. Nós não tínhamos nada a perder, nada a
ganhar. Nada mais que desejássemos, exceto, tornar nossas vidas em uma obra de arte.
Viva rápido, morra jovem. Seja selvagem e divirta-se
Eu acredito no continente que América costumava ser.
Eu acredito na pessoa em que eu quero me tornar.
Eu acredito na liberdade da estrada aberta.
E o meu lema é o mesmo de sempre:
Quem é você?
Você está em contato com suas fantasias mais sombrias?
Você criou uma vida para si mesmo onde você está livre para experimentá-la?
Eu criei! Eu sou louca para caralho...
..., mas eu sou livre!
• O CURTA-METRAGEM RIDE
Em Ride, resumidamente, Lana Del Rey tece um monólogo em forma de poema,
anteriormente e posteriormente à canção, traçando um paralelo análogo entre a personagem
narradora, criada e vivida por ela no curta-metragem, com sua pessoalidade, utilizando o artifício
da personagem para aproximar o discurso de suas experiências reais e pessoais. Nesta obra, o eu
lírico claramente carrega com ele também a voz da cantora como um sujeito inconsciente,
marcado ideologicamente.
O vídeo inicia com uma cena onde a personagem se encontra sentada em um balanço de
pneu. Ela é vista com diversos homens, caminhando pelas ruas noturnas e viajando pela estrada
na garupa de uma motocicleta, cercada por um bando de motociclistas vestidos de couro.
• ANALISE
De acordo com a teoria da Análise do Discurso de linha francesa, analisamos o corpus
com o objetivo de identificar a presença da memória no âmbito do discurso Beat, destacando o
interdiscurso, a repetibilidade e ressignificação, além da heterogeneidade.
Os textos literários são dotados de discursos diversos. Em Ride, o eu lírico carrega com ele
também a voz do autor, de um sujeito inconsciente, marcado ideologicamente. Neste âmbito, a
poetisa Lana Del Rey abastece em suas linhas discursivas questões sociais, políticas e amorosas
da revolução beat referenciando os temas e objetivos difundidos na sociedade norte-americana
durante o final da década de 50 e, consequentemente, durante a década 60, deste modo,
denotamos que o poema está dotado de interdiscursos, insertos em uma rede de memória
discursiva.
Analisar um discurso poético com alicerce na narrativa literária certamente não é tão
simples quanto se parece. O poema de Lana Del Rey tem seus versos escritos como grito de uma
geração batida, possui musicalidade antes mesmo do início da música de fato símir ao poema de
Allan Ginsenberg que possuía o beat no triplo sentido de “batida”, derrotada, mas também
beatificada, além da pulsação do jazz. Lana age como age como um poeta desta geração passada
que desejava liberdade e uma poesia colada à vida no grau máximo, agregando outros traços que
formulam esta rede de discursos.
Quando a autora cita o lema “viva rápido, morra jovem” cunhada por James Dean, que
adiante teve grande peso na geração beat e o complementa com um novo lema “seja selvagem e
se divirta” acarreta na emergência de enunciado que, espontaneamente, rompe com a ideia de
origem, fabricando novas condições;Salientamos que ler um poema pode e deve ir além da
dimensão da estrutura ou do conteúdo do texto. A perspectiva discursiva nos leva a interrogar a
respeito dos sentidos que o poema coloca em funcionamento e isso nos permite contemplar a
determinação histórica dos sentidos, o mesmo e o diferente, a possibilidade de o sentido ser
outro, pois, muito a língua carga resquícios de uma outra época.
histórias de possibilidade. Foucault esclarece: Não à especificação das frases que são
possíveis ou gramaticais, mas à especificação sócio-historicamente-variável de formações
discursivas, aqui detemos sistemas de regras que tornam possível a ocorrência de certos
enunciados que interligam os dois momentos históricos, distintos em determinados tempos,
lugares e localizações institucionais.
Enquanto Lana Del Rey balança-se no pneu, sozinha em meio ao deserto colossal, ela
parece obter sua liberdade desejada, esta cena representa esse limbo abstraído quase como se ela
finalmente tenha se libertado das pressões do mundo e balançasse como se fosse um pêndulo em
favor do escapismo.
“Eu estava no inverno da minha vida e os homens que conheci ao longo da estrada eram
meu único verão. À noite, eu adormecia com visões de mim mesma dançando e rindo e
chorando com elas. Três anos abaixo da linha de estar em uma turnê mundial sem fim,
minhas memórias deles são a única coisa que me sustentou e meus únicos momentos
felizes reais. ”
Ela se encontra verdadeiramente querida com os homens que ela partilha seu bel-prazer
e, desarte, ela age em transgressão com os moldes machistas que são acalcanhados para as
mulheres na sociedade; agindo de forma controversa ela assenhoreia uma posição de não-adesão
aos moralismos e às convenções sociais que lhe são impostas. Com abundantes relações
amorosas ela vive o amor livre, conservando o ideal de liberdade-mor e abandono das normas
sociais, contestando as virtudes do polêmico “lado-B” e renegando o materialismo à semelhança
dos escritores da geração beat. A história escrita por ela perpassa o acontecimento histórico para
o acontecimento discursivo, porém, que não perde o conceito histórico; a escrita de sua história
vivendo a ideologia deste movimento longínquo é uma escrita histórica como processo de
interpretação. Nesta obra, evidentemente, ela se situa como o sujeito do acontecimento
discursivo.
Sua ânsia por esses homens não é tanto uma necessidade prolongada de estar em sua
companhia, mas uma necessidade do que eles forneceram para ela: um sentimento desiludido
para salvá-la de si mesma. Este influxo deles sob ela seria o que Athusser (1970) entenderia
como os aparelhos ideológicos do que viria ser entendido como micropoderes por Focault.
Simbolicamente eles se tornam a forma mais pura do Sonho Americano. A história e a psicologia
afirma direta e indiretamente que os brancos heterossexuais têm direito porque representam a
maioria
Seu refúgio torna-se a estrada aberta e o deslocamento com indivíduos que pensam da
mesma forma que impulsionam a noção de ignorância como felicidade. A estrada aberta torna-se
um símbolo icônico e encapsulante para o Sonho Americano e para o olhar nostálgico de Lana
sobre a beleza da tragédia e a tragédia da beleza, a referencia com um dos mais importantes beat
Jack Kerouac é ampla, o próprio título de seu livro “Pé na Estrada” (On the Road) serve de
refêrencia.
“A pureza da estrada. A linha branca no meio da rodovia desenrolava e abraçava nossa
roda esquerda como se estivesse colada ao nosso groove” KEROUAC (1984)
Lana sintetiza a ideia de uma beleza trágica - uma Marilyn Monroe pós-moderna que,
simultaneamente, é bela e livre, mas também envolvida pelas mesmas construções. Esta
diferenciação se dá por meio de séries enunciativas onde o objeto de discurso “período”
disntigue as duas.
“Eu era uma cantora, não muito popular. Eu já tive sonhos de me tornar um belo poeta.
Mas, após uma infeliz série de eventos, aqueles sonhos se desfizeram e se dividiram
como um milhão de estrelas no céu noturno que eu desejava repetidas vezes - cintilantes
e quebradas. Mas eu realmente não me importo porque sei que é preciso tudo o que
você sempre quis e depois perdê-lo para saber o que é a verdadeira liberdade. ”
Se confronta inteiramente com o trecho do livro Pé Na Estrada, publicado pela primeira vez em
1957, nos Estados Unidos, onde o heterônimo e eu-lírico de Kerouac diz,
para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar,
loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam
e jamais dizem coisas comuns, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos
de artifício, explodindo como constelações em cujo centro fervilhante — pop — pode-se
ver um brilho azul e intenso até que todos “aaaaaaah!”
A idealização de loucura como formulação discursiva compartilhada por ambos, funciona como
o interdiscurso, a formulação, ou o fio do discurso, enquanto a no interdiscurso nos espelha a
rede de memórias, isto é, o enunciado discursivo imagético de “loucura” partilhado pelos dois
escritores é a palavra, o léxico, que se repete durante a história transcorrida entre um e outro
texto literário, enquanto o interdiscurso é o sentido também partilhado por ambos que com essa
frase renovadamente apresenta.
• CONSIDERAÇÕES FINAIS
Lana é uma cantora e compositora de grande expressão contemporânea, o discurso das
suas obras está marcado pelas condições de produção da época da geração beat em contraponto
com a atualidade. No decorrer da pesquisa, foi estudado o monólogo presente em Ride, sob a
teoria da Análise do Discurso de linha francesa, em que foi constatada a presença do
interdiscurso nos poemas, ratificando que todo e qualquer discurso é formado a partir de um
outro já dito antes, em outro lugar. Também, notamos a presença da heterogeneidade constitutiva
nos versos de Del Rey, no texto, portanto, apontamos fatos que autenticam o fato de que os
discursos heterogêneos do movimento beat estão presentes em seu poema. Nota-se que o sujeito
é inconsciente e ideológico, a autora repete os discursos, fazendo uso do pré-construído, sem ter
a consciência disso. Ela enquanto narradora e sujeito da obra, acredita que é a dona do seu
próprio discurso, quando na verdade não há controle sobre o dizer (há a ilusão do controle, o
efeito de evidências). Destarte, há é a memória discursiva, marcada pelo social, pela
repetibilidade, como foi verificado nos versos analisados. Foi percebido, também, que os
sentidos podem ser refutados, negados, de acordo com as formações discursivas e a posição-
sujeito. A memória discursiva remete aos sentidos autorizados de acordo com a posição-sujeito
no âmbito de uma formação discursiva. Nesse caso, a memória discursiva regula o que pode e o
que não pode ser dito em uma formação discursiva e, desse modo, os enunciados poéticos de
Lana Del Rey estão dotados de interdiscursos, insertos em uma rede de memória discursiva.
O destino conclusivo deste trabalho foi de explorar o teor libertário presentes nas obras
tecidas durante o período de criação efetiva da geração beat e os traços influentes presentes no
poema da cantora. Devemos, portanto, entender que a análise foi bem-sucedida pois denotamos o
intrínseco discurso nas expressões linguísticas, formal e conteudista eu ambos os movimentos, de
séculos distintos, partilham.
• REFERÊNCIAS
Bueno, André, and Fred Góes. O que é Geração Beat. Brasiliense, 1984.
MALDIDIER, D. A inquietação do discurso: (re)ler Michel Pêcheux hoje. Campinas-
SP: Pontes, 2003
SCHERER, A.E. and TASCHETTO, T.R., 2005. O papel da memória ou a memória do papel
de Pêcheux para os Estudos Lingüístico-Discursivos. Estudos da Língua (gem), (1), pp.119-
123.
Nunes, José Horta, Michel PÊCHEUX, and Pierre ACHARD. "Papel da
memória." Campinas–SP: Pontes (1999).
INDURSKY, Freda. MITTMANN, Solange. FERREIRA, Maria Cristina. Memória e
história na/da Análise do Discurso. 1.ed. São paulo: Mercado de Letras, 2011.
ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 3.ed. São Paulo:
Pontes, 2001.
Del Rey, Lana, and Justin PARKER. "Ride." Born to die: the Paradise edition.
Interscope Records (2012).
MAINGUENEAU, Dominique. Gênese dos discursos. 3.ed. São Paulo: Parábola, 2008.
KEROUAC, Jack. Pé na estrada. 1984.