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Universidade Aberta ISCED

Faculdade de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de Português

Mecanismos discursivos em textos do livro do aluno: caso Livro de Língua


Portuguesa 7ª Classe

Maria Carlos Joaquim

Tete, Setembro de 2023

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Universidade Aberta ISCED

Faculdade de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de Português

Mecanismos discursivos em textos do livro do aluno: caso Livro de Língua


Portuguesa da 7ª classe

Artigo Científico a ser submetido na Coordenação


do Curso de Licenciatura em Ensino de Português da
UnISCED.

Maria Carlos Joaquim

Tete, Setembro de 2023

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Índice
I. Contextualização ......................................................................................................... 4

1.1. Introdução ................................................................................................................ 4

1.2. Objectivos do trabalho ............................................................................................ 4

1.2.1. Objectivo Geral ..................................................................................................... 4

1.2.2. Objectivos específicos ......................................................................................... 4

1.3. Metodologia do trabalho.......................................................................................... 5

1.4. Estrutura do trabalho ............................................................................................... 5

II. Desenvolvimento ........................................................................................................ 6

2.1.Noção de texto na concepção da análise de discurso ............................................ 6

2.2. Gênero requerimento .............................................................................................. 9

2.3. Géneros de conversações .................................................................................... 12

2.4. Gênero narrativo ................................................................................................... 14

3. Conclusão ................................................................................................................. 17

4. Bibliografia ................................................................................................................ 18

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I. Contextualização

1.1. Introdução

O presente trabalho insere-se na cadeira de Teoria de Análise do Discurso do Curso


de Licenciatura em Ensino de Português 3º Ano na UniSCED com o tema:
Mecanismos discursivos em textos do livro de aluno: caso de Língua Portuguesa 7ª
classe. Durante o decurso da análise, usou-se AD (análise do discurso) e FD
(formação do discurso).

A análise baseou-se nos autores Orlandi, 1984; 2005 e 2012, segundo o qual o texto
tanto pode ser oral ou escrito e, indo mais além, podemos estender a noção de texto
às linguagens não verbais, vendo em suas relações aspectos instigantes do
funcionamento do dizer” e Pêcheux que ao falar da análise do discurso enfatiza que a
linguagem é considerada como heterogênea, equívoca e não transparente. Há
elementos externos que estão além da materialidade linguística, os quais engendram
sentidos. Vemos a linguagem com relação ao contexto sócio-histórico, lançamos o
nosso olhar para além do que está dito, pois há sentidos que estão dispersos, pois se
deslocam da intradiscursividade, isto é, do campo da formulação.

Durante o trabalho será analisado o livro de Muhate et al (2004), onde analisaremos


os gênero textuais do tipo conversação, requerimento e géneros narrativos. É inegável
que o livro didático é o principal veículo pelo qual os objetos de ensino de todas as
disciplinas chegam à maioria das salas de aula de nossas escolas, especialmente as
públicas. Mesmo diante dos avanços tecnológicos, o livro didático continua sendo o
principal suporte do professor. Produzido para servir como um auxílio no processo de
ensino-aprendizagem, esse material pedagógico, muitas vezes, por falta de outras
opções, acaba sendo o único recurso utilizado pelo professor.

1.2. Objectivos do trabalho

1.2.1. Objectivo Geral

❖ Analisar os mecanismos discursivos em textos do livro do aluno da 7ª classe.

1.2.2. Objectivos específicos

❖ Definir texto e discurso.

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❖ Identificarr os mecanismos discursivos em textos do livro do aluno da 7ª classe.
❖ Descrever os procedimentos para fazer uma análise do discurso.

1.3. Metodologia do trabalho

Para a elaboração do presente trabalho baseou-se no método de pesquisa


bibliográfica, que segundo Gil (2019), a pesquisa bibliográfica é elaborada com base
em materiais já publicados. Com este método, foi possível fazer-se a recolha de
informações existente na bibliográfica, isto é , aquisição de informações teóricas. A
consulta bibliográfica, para o presente trabalho consistiu na identificação de textos que
serviram como pressupostos para a fundamentação do tema em estudo.

1.4. Estrutura do trabalho


O trabalho encontra-se estruturado em: (i) Introdução, onde faz-se a contextualização
do tema, definição dos objectivos do trabalho e identificação da metodologia do
trabalho. (ii) Analise e Discussão de dados, onde fez-se a apresentação dos
resultados obtidos durante a pesquisa bem como a sua analise e discussão e (iii)
Conclusão onde o autor concluir sobre o trabalho.

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II. Desenvolvimento

2.1.Noção de texto na concepção da análise de discurso

Segundo Gouveia (2008: 113) o texto era, tradicionalmente, encarado como uma
unidade de língua escrita). Em conformidade com o que é atualmente consensual no
âmbito da Linguística, assume-se, nesta pesquisa, o pressuposto de que o texto é
uma manifestação linguística, falada ou escrita, com uma extensão indeterminada,
que é produzida em contextos particulares e com um objetivo (ou mais do que um) a
cumprir, configurando uma unidade sociocomunicativa, semântica e formal (isto é, um
objeto linguístico coeso e coerente) cuja interpretação envolve não apenas
conhecimentos linguísticos como também cognitivos, sociais e interacionais (
BRONCKART, 1999; SILVA, 2012).

A noção de texto sob a perspectiva da AD que, diferentemente de outras concepções,


considera tanto os aspectos internos do texto quanto os externos a ele, as suas
condições de produção, fator extremamente relevante para o sentido dessa
materialidade. Conforme salienta Orlandi (2012), em suas considerações sobre a
noção de texto, a partir da visão da AD, “a noção de texto vem sempre pressuposta e
indefinida. Dado o fato de ser o texto uma unidade complexa, tem sido dificilmente
assimilada pelas diferentes teorias que tratam do discurso” (ORLANDI, 2012, p. 73).
Assim, continuamos a nossa discussão com uma citação ainda de Orlandi (2005, p.
42), na qual destaca que “os sentidos não estão nas palavras elas mesmas; estão
aquém e além delas”.

Para Orlandi (2012, p. 10), “o texto tanto pode ser oral ou escrito e, indo mais além,
podemos estender a noção de texto às linguagens não verbais, vendo em suas
relações aspectos instigantes do funcionamento do dizer”. Desse modo, fica posto que
o texto tanto pode ser escrito quanto oral ou imagético. Ainda, seguindo este
raciocínio, Orlandi (2005, p. 69) ressalta que “ser escrito ou oral não muda a definição
de texto. Como a materialidade conta, certamente um texto escrito e um oral significam
de modo específico particular a suas propriedades materiais. Mas ambos são textos”.

Nesse sentido, vemos que, no âmbito das concepções teóricas elaboradas por
Pêcheux (2014) a linguagem é considerada como heterogênea, equívoca e não
transparente. Há elementos externos que estão além da materialidade linguística, os

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quais engendram sentidos. Vemos a linguagem com relação ao contexto sócio-
histórico, lançamos o nosso olhar para além do que está dito, pois há sentidos que
estão dispersos, pois se deslocam da intradiscursividade, isto é, do campo da
formulação.

Seguindo esse raciocínio, a noção de texto, para a AD, está na exterioridade, em que
esta é constitutiva, marca-se na língua e produz efeitos de sentido. Por isso, é de
interesse para a AD analisar como o texto significa e como ele se constitui. O processo
de significação não se limita a um único sentido, há deslocamentos. Em outras
palavras, a AD desfaz a ilusão de literalidade e de univocidade, que são defendidas
por outras perspectivas teóricas no âmbito da Linguística moderna.

Na AD, não se trabalha com o texto na sua totalidade, mas com recortes. Segundo
Orlandi (1984, p. 14), “O recorte é uma unidade discursiva. Por unidade discursiva
entendemos fragmentos correlacionados de linguagem – e – situação. Assim, um
recorte é um fragmento de situação discursiva”. Os recortes interessam, porque
relacionam diferentes textos e revelam características significantes relacionadas ao
tema investigado, na proporção em que apontam características do processo de
significação. E um fator importante a ser analisado na leitura de textos é o meio pelo
qual ele circula. Sobre esse assunto, vejamos o que ressalta Orlandi (2012):

Acrescentamos ainda a importância da instância da circulação onde os dizeres são


como se mostram. Os trajetos dos dizeres. E isto nos interessa pois, como
procuraremos mostrar, os “meios” não são nunca neutros. Ou seja, os sentidos são
como se constituem, como se formulam e como circulam (em que meios e de que
maneira: escritos em uma faixa, sussurrados como boato, documento, carta, música
etc.) (ORLANDI, 2012, p. 11).

Ainda segundo Orlandi (2012, p. 153), “os meios não são indiferentes aos sentidos,
não são apenas veículos neutros. Podem ser pensados como um ‘instrumento’ no
domínio da informação”. Levando em consideração a nossa unidade de análise, textos
de “Apresentação” e de “Resenha”, os “meios” pelos quais circulam são o livro didático
e o guia digital, respectivamente, e isso significa muito. Outro fator relevante que deve
ser levado em consideração nos textos é a Formação Discursiva que, segundo
Pêcheux (1990, p. 166-167), “é aquilo que, numa formação ideológica dada, isto é, a

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partir de uma posição dada, numa conjuntura dada, determinada pelo estado da luta
de classes, determina o que pode e deve ser dito”.

Para Orlandi, a FD determina uma posição, mas não a preenche de sentido. Em suas
próprias palavras:

As formações são constituídas pelas diferenças, pelas contradições, pelo movimento.


São um princípio de organização para o analista e são parte da constituição dos
discursos e dos sujeitos. Elas não são definidas a priori como evidências ou lugares
estabilizados, mas como regiões de confrontos. Tem-se a necessidade da noção de FD
como sítios de significância (correspondentes a gestos de interpretação), na relação
com a diferença. As formações estão em contínuo movimento, em constante processo
de reconfiguração, delimitando-se por aproximação e afastamento. Mas em cada gesto
de interpretação, elas se estabelecem e determinam as relações de sentidos, ainda
que momentaneamente. É isto que dá identidade aos sentidos e aos sujeitos
(ORLANDI, 1998, p. 13).

Levando em consideração o nosso objeto de análise, temos duas formações


discursivas diferentes: (i) de um lado, os autores com o papel de (con)vencer o
interlocutor a escolher o que está sendo ofertado, assim usam todos os argumentos
de forma positiva, para que, nesse “jogo” com os avaliadores e os autores das outras
coleções, saiam como vencedores. Para isso, eles jogam com suas melhores cartas.

Por outro lado, (ii) os avaliadores, na posição de avaliar o livro e informar aos seus
interlocutores as características pedagógicas da obra, têm a função de assinalar seus
pontos fortes e suas limitações. Para isso, eles revelam os possíveis pontos positivos
e negativos do material em análise, e é aí que encontramos os pontos discrepantes
entre ambos. Essa configuração é constitutiva para a AD, pois, como explica Orlandi
(2012, p. 125), “as palavras não significam por si, mas pelas pessoas que as falam,
ou pela posição que ocupam os que falam. Sendo assim, os sentidos são aqueles que
a gente consegue produzir no confronto do poder das diferentes falas”. Há, também,
outros fatores que são constitutivos dos discursos como, por exemplo, o mecanismo
da Antecipação. Como ressalta Orlandi (2005) segundo o mecanismo da antecipação,
todo sujeito tem a capacidade de experimentar, ou melhor, de colocar-se no lugar em
que o seu interlocutor “ouve” suas palavras. Ele antecipa-se assim a seu interlocutor
quanto ao sentido que suas palavras produzem.

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Esse mecanismo regula a argumentação, de tal forma que o sujeito dirá de um modo,
ou de outro, segundo o efeito que pensa produzir em seu ouvinte. Este espectro varia
amplamente desde a previsão de um interlocutor que é seu cúmplice até aquele que,
no outro extremo, ele prevê como adversário absoluto. Dessa maneira, esse
mecanismo dirige o processo de argumentação visando seus efeitos sobre o
interlocutor (ORLANDI, 2005, p. 39).

Por fim, há o mecanismo chamado Relação de Forças, e “segundo essa noção,


podemos dizer que o lugar a partir do qual fala o sujeito é constitutivo do que ele diz”
(ORLANDI 2005, p. 39). Ambos os mecanismos, Antecipação e Relação de Força, que
constituem os discursos, fazem parte das formações imaginárias. Portanto, não são
os sujeitos físicos, nem mesmo os seus lugares empíricos, que exercem o discurso,
mas suas imagens, suas posições.

Tais reflexões teóricas apresentadas, anteriormente, sobre a noção de texto foram


mencionadas com o intuito de associá-las à leitura discursiva da nossa materialidade,
textos constitutivos dos gêneros textuais do livro do aluno da 7ª classe. A partir dessa
percepção de texto, a AD nos permite ter um conhecimento menos ingênuo sobre esse
assunto.

2.2. Gênero requerimento

De acordo com Sequeira (2006: 50), o requerimento é uma produção textual em que
o requerente solicita a um órgão ou titular de um cargo a satisfação de uma pretensão
sob amparo de uma legislação (lei, decreto, decisão, estatuto, regulamento específico,
entre outros documentos). O locutor reclama algo que se presume ser de direito,
apresentando, para o efeito, argumentos que fundamentam o pedido formulado,
cabendo ao destinatário a respetiva análise e decisão a (des)favor ou o
(in)deferimento.

Em relação à componente composicional (estruturação), os textos do género


requerimento são produzidos em observância a um plano de texto, através do qual os
indivíduos estruturam ou distribuem as informações; são, portanto, redigidos de
acordo com as convenções instituídas no seio da formação sociodiscursiva. Para
Travaglia (2007: 51-52), o plano do género requerimento envolve a seguinte
composicionalidade textual ou superestrutura:

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a) Especificação da autoridade e/ou do órgão a quem se dirige a solicitação (indicação
do vocativo apropriado ou da forma de tratamento adequada, cargo do destinatário a
quem o texto se dirige e o local onde exerce a função);

b) Qualificação do solicitante (referência aos dados de identificação pessoal,


qualificações académicas ou profissionais);

c) Especificação do que está sendo solicitado, ou seja, exposição do pedido bem como
dos argumentos que o fundamentam;

d) Especificação do que sustenta o direito e/ou qual a lei que lhe dá direito, se esta
não for amplamente conhecida para o caso em questão e as condições pretendidas
de acordo com a lei (isto é, o pedido pode ser sustentado por artigos, decretos, leis
ou regulamentos);

e) Especificação de para quem e para onde deve ir a resposta (opcional e se


necessário);

f) Fecho tradicional (referente ao uso de fórmulas fixas de encerramento, por exemplo:

pede deferimento, espera deferimento, aguarda deferimento);

g) Local e data;

h) Assinatura do solicitante acima da especificação do seu nome, da condição que

ocupa e indicação do número do registo da identidade atribuída caso seja necessário.

A análise do manual de língua portuguesa, utilizados no ensino primário, evidencia


que o género requerimento é abordado na 7ª classe no domínio dos textos
administrativos. Segundo Bronckart (2008), os géneros são a materialização das
práticas sócio-históricas de uso da linguagem impostas pelas formações
sociodiscursivas e que permitem ao ser humano agir numa determinada situação de
forma adequada, segundo as características ou exigências dessa comunidade. Nesse
sentido, o requerimento da página 73 do livro do aluno da 7ª classe foi elaborado com
a finalidade de mostrar a maneira como os alunos e os encarregados de educação
devem proceder para elaborar os textos do género requerimento adequados ao
contexto escolar.

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Figura1 (Muhate et al, 2004)

Além das orientações relacionadas com as necessidades próprias das circunstâncias


de uso da linguagem no contexto do ensino primário e secundário, os manuais
escolares atualmente disponíveis focam-se, de modo predominante, em questões de
“natureza retóricoestrutural” (SILVA, 2020: 9).

No entanto, estes recursos didáticos não sugerem reflexões que visam compreender
possíveis modificações dos parâmetros textuais como os de natureza estilístico-
fraseológica e semântica, de acordo com os diferentes propósitos de comunicação,
as áreas de atividades socioprofissionais e o padrão de cortesia esperado. É
necessário compreender que, num dado requerimento, as expressões com o mesmo
propósito comunicativo, tais como “o requerente roga a V. Excia. autorizar o gozo de
licença disciplinar” ou “o requerente roga a S. Excia. autorizar o gozo de licença
disciplinar”, podem ser (in)adequadas, tendo em conta o maior ou menor nível de
formalidade/delicadeza exigida na interação verbal.

O exemplar do requerimento apresentado no Manual da 7ª classe não inclui espaços


em branco de separação das informações e atesta uma inadequação na assinatura
do nome da enunciadora “R. J. Muchanga”, pois uma das propriedades do género
requerimento é a evitação das abreviaturas, com a exceção da expressão referencial

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“V. Excia”. A réplica deste modelo em diversos textos do género em questão não
permite a produção de textos com o rigor expetável na comunidade académica.

2.3. Géneros de conversações

A Análise da Conversação (AC) tem suas origens nas décadas de 60 e 70, quando se
preocupava essencialmente com a estrutura das conversações (Marcuschi, 2006,
p.6). Nasce originária dos estudos da Etnometodologia e da Antropologia.

Kerbrat-Orecchioni (2006) salienta que a perspectiva da Análise da Conversação,


actualmente, é voltada para a descrição das interações verbais, e que se constrói
enquanto perspectiva transdisciplinar, uma vez que se constrói a partir dos enfoques
psicológico e psiquiátrico, etno-sociológico, linguístico e filosófico (que também é
apontada por Koch, 2007).

Tal colocação aponta a necessidade de compreender a conversação também de uma


perspectiva ampla e, especialmente, a sua inclusão diante das discussões sobre a
Cibercultural. O estudo da conversação não passa apenas pela compreensão da
linguagem, mas fundamentalmente pelo aspecto paradigmático das estruturas dos
signos que são negociados diante dessas novas formas de interacção, que vão criar
o contexto necessário para o estabelecimento das relações sociais. Mas o que é e
como pode ser compreendida a conversação?

Marcusci (2006) explica que o objeto da Análise da Conversação (AC) são os


processos conversacionais, focados na prática do dia-a-dia do ser humano. Para o
autor, a conversação seria “uma interação verbal centrada, que se desenvolve durante
o tempo em que dois ou mais interlocutores voltam sua atenção visual e cognitiva para
uma tarefa comum”. Por conta disso, foca-se nas conversações ditas naturais, e em
elementos não apenas verbais, mas entonacionais, paralinguísticos e contextuais.

Assim, são elementos característicos da conversação as cinco práticas constitutivas


de sua organização:

(a) “interação entre pelo menos dois falantes;

(b) ocorrência de pelo menos uma troca de falantes;

(c) presença de uma sequência de ações coordenadas;

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(d) execução em uma identidade temporal; (e) envolvimento numa interação
‘centrada’” (Marcusci, 2006, p.15) Observa-se que a proposta do autor, embora ele
saliente que possa ser utilizada para casos como o de conversações telefônicas, é
voltada para os actos interlocutórios da fala, pois é apenas no espaço da copresença
física que é possível a execução da identidade temporal. Vemos assim que, em
princípio, a Análise da Conversação é vocacionada para o estudo da co-produção
discursiva (Marcuschi, 2006), dos actos interlocutórios, do diálogo e da “linguagem em
ação” (Koch, 2007).

Analisando as conversações dos textos do livro do aluno da 7ª classe abaixo:

Figura 2 (Muhate et al, 2004)

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Figura 3 (Muhate et al, 2004)

As duas convenções, obedecem a estrutura de uma conversação (introdução,


desenvolvimento e despedida). Na primeira conversação (figura 2), trata-se de uma
conversa directa em presença, que acontece na rua, entre a Dulce e a Gilda, o diálogo
não é programado, pois notámos o uso de linguagem famíliar, tratando de amigos, há
tratamento por intimidade. Na neste texto é difícil distinguir as falas das personagens,
ou seja, no que fala a Gilda e o que fala a Dulce, o que não acontece na conversão
da figura 3 onde são identificados as personagens quando falam o que facilita a
interpretação da mensagem.

2.4. Gênero narrativo

No nível discursivo, a organização narrativa é temporalizada, espacializada e


autorrealizada, ou seja, as ações e os estados narrativos são localizados e
programados temporalmente e espacialmente, e os actantes narrativos são investidos
pela categoria de pessoa. Além disso, os valores do nível narrativo são disseminados

no discurso, de modo abstrato, sob a forma de percursos temáticos, que, por sua vez,
podem ser investidos e concretizados em figuras.Em relação ao tempo, ao espaço e

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às pessoas do discurso, serão aqui feitas apenas duas rápidas observações, já que a
questão está bem desenvolvida no capítulo dedicado à pragmática.

A primeira observação é a de que o tempo, o espaço e as pessoas instalados no


discurso dependem dos dispositivos de desembriaguem, por meio dos quais o
enunciador do texto, ao temporalizar, espacializar e autorrealizar o discurso produz
também efeitos de sentido de aproximação e distanciamento. Daí a desembriaguem
poder ser enunciativa, quando o efeito é de proximidade da enunciação, graças ao
uso da primeira pessoa eu, do tempo presente do agora e do espaço do aqui, ou
enunciava, quando se produz o efeito de distanciamento da enunciação, com o
emprego da terceira pessoa ele, do tempo do então e do espaço do lá. Vejam-se o
texto que segue:

“ um homem que se chamava Namarasotha. Era pobre e andava sempre vestido de


farrapos. Um dia foi à caça. Ao chegar ao mato, encontrou uma impala morta.
Preparava-se para assar a carne do animal, quando apareceu um passarinho que lhe
disse: Namarasotha, não se deve comer essa carne. Continua até mais adia, que o
que é bom estará lá” (Muhate et al 2004: 93-94).

Primeiro vamos analisar o tempo e o espaço, no excerto acima, a acção aconteceu


em vários momentos e espaços diferentes o que torna distanciados as personagens,
ou seja as a acção não aconteceu no mesmo local e com mesmas personagens.

Durante a acção, vimos a personagem em contacto directo com o objecto (o animal),


quando chega um passarinho que lhe impede de assar a carne, porque o melhor
estaria mais adiante (manipulação), depois a personagem entra em contacto com
outro objecto (mudança da sua condição social) e sofre a manipulação e no final volta
a sua condição inicial (a personagem entra no estado de arrependimento).

Outro aspecto que pode-se analisar é a regência verbal, por exemplo: “Havia um
homem que se chamava Namarasotha”, usando o português padrão seria “Havia um
homem chamado Namarasotha” no texto há uso do objecto indirecto, em vez de usar
objecto directo.

Concluindo, A análise do texto mostra vários enunciados narrativos organizados em


programas:

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a) um enunciado de estado de conjunção: o sujeito Namarasotha está em conjunção
com o objecto animal;

b) um enunciado de estado de disjunção: o sujeito passarinho, está em disjunção com


o objecto animal;

c) um enunciado de transformação em que o sujeito Namarasotha procura transformar


sua relação de disjunção com o objeto animal em relação de conjunção;

d) um enunciado de transformação em que o sujeito mulher procura transformar a


relação de conjunção do sujeito Namarasotha, o objeto animal em relação de
disjunção.

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3. Conclusão

Feito o trabalho conclui-se que no domínio dos parâmetros textuais existentes no


manual há, por um lado, propriedades comuns desrespeitadas que estão relacionadas
com a componente composicional; por outro lado, existem preceitos particulares
(distintivos) violados associados às componentescomposicional, estilístico-
fraseológica e semântica.

Quanto a estrutura dos textos, alguns exemplares dos três géneros analisados
denotam um menor grau de prototipicidade porque omitem os passos dos movimentos
que os caraterizam/identificam ou distribuem de maneira desordenada os seus

conteúdos. Esta situação pode impactar, negativamente, na interpretação dos


produtos verbais e frustrar a concretização dos propósitos comunicativos que se
pretendem atingir com os textos produzidos.

Em relação ao parâmetro estilístico-fraseológico e à componente semântica, não são


recorrentes os problemas de coesão nos produtos verbais dos três géneros
analisados. Os exemplares selecionados atestam frequentemente problemas de
natureza gramatical, em particular a nível da regência verbal e lexical, assim como da
coesão temporal e referencial. Também revelam pontuação inadequada, colocação
pronominal desajustada à sintaxe da frase, incorreções ortográficas e inconsistências
no modelo de escrita adotado assente na miscelânea do novo e antigo acordos
ortográficos, assim como no uso simultâneo do português brasileiro e do português
europeu.

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4. Bibliografia

Bronckart, Jean- (2003). Atividade de Linguagem, Textos e Discursos. Por um


Interacionismo Sociodiscursivo, (Tradução de Machado e Cunha), São Paulo,
EDU.

Gouveia, Carlos (2008). Escrita e Ensino, para além da Gramática, com a Gramática
in DELTA: Documentação e Estudo em Linguística Teórica e Aplicada.

MUHATE, Simião et al (2004). Regras de Comunicação, Língua Portuguesa, 7ª


Classe, Maputo, Longman

Orlandi, E. P. (2012). Discurso e Texto: formulação e circulação dos sentidos. 4ª


edição. Campinas, SP

Orlandi. (2012). Discurso e Leitura. 9ª edição. São Paulo: Cortez

Orlandi (2005). Análise do discurso: princípios e procedimentos. 6ª edição. Campinas,


SP: Pontes, 2005.

Orlandi (1984). Segmentar ou recortar? Série Estudos Faculdades Integradas de


Uberaba, n. 10, p. 9-26,

Pêcheux, M.; Fuchs, C. IV. (1990). A propósito da análise automática do discurso:


atualização e perspectivas (1975). In: Por uma análise automática do discurso:
uma introdução à obra de Michel Pêcheux / organizadores Françoise Gadet;
Tony Hak; tradução Bethania S. Mariani... [et al.] – 5ª edição. – Campinas, SP:
Editora da Unicamp

Sequeira, Arminda Sá Moreira B. (2006). Correspondência em Português: Comunique


de Forma Eficiente, Porto Editora.

Silva, Paulo Nunes da (2020). Manual de Técnicas de Expressão e Comunicação,


Lisboa, Universidade Aberta.

Travaglia, Luiz Carlos (2018). Tipologia Textual e Ensino de Língua”, in Domínio de


Linguagem, vol.12, Uberlândia, 2018, disponível
https://www.researchgate.net/publication/327811955_Tipologia_textual_e_ensi
no_dé língua.

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