Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tutor:
Índice
Introdução...................................................................................................................................4
Contextualização.........................................................................................................................5
A Escrita Textual........................................................................................................................5
A escrita da argumentação..........................................................................................................6
Texto argumentativo...................................................................................................................7
Técnicas argumentativas.............................................................................................................9
O ensino da argumentação........................................................................................................12
Considerações Finais.................................................................................................................13
Bibliografia...............................................................................................................................14
4
Introdução
A escrita de textos é essencial para a aprendizagem escolar e a sua avaliação, decisiva para a
vida adulta e para a participação política nas sociedades democráticas. Todavia, a escrita e,
em particular, a escrita da argumentação, é uma tarefa cognitivamente complexa e exigente.
Neste trabalho, partimos do pressuposto de que o discurso acadêmico é argumentativo, uma
vez que os estudantes, na construção dos trabalhos científicos, defendem uma tese central e
que essa tese deve ser justificada para que sejam validadas por um auditório que, neste caso,
trata-se da comunidade acadêmica especializada na área da pesquisa em questão.
Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo geral analizar a importância do texto
argumentativo na vida acadêmica. Para se alcançar com êxito o objetivo geral, foram
estabelecidos os seguintes objetivos específicos:
Para a efetivação deste trabalho, tomamos como base as discussões referentes à Teoria da
Argumentação no Discurso, o Tratado da Argumentação de Chaim Perelman & Lucie
Olbrechts- Tyteca (2005), como também, outros estudos. Desta forma, o trabalho assume um
caráter descritivo, considerando que tem como foco investigar e analisar a pertinência dos
textos argumentativos na academia. Primeiramente, apresentamos algumas considerações
sobre o processo cognitivo da escrita textual. E de seguida, centramo-nos na escrita da
argumentação como uma situação de resolução de problemas e explora duas abordagens ao
seu ensino, a cognitiva que preconiza a instrução explícita de estratégias de escrita e a social
que defende a sua prática em enquadramentos dialógicos.
5
Podemos classificar, de acordo com Bakhtin (2011) que nos apresenta uma distinção entre
gêneros secundários e os gêneros primários. Os gêneros discursivos primários são simples,
fazem parte de uma interação imediata e espontânea, enquanto os gêneros secundários são
complexos, geralmente são gêneros da escrita, como, por exemplo, os romances e o discurso
científico. É dessa classificação dos gêneros que podemos falar sobre os gêneros acadêmicos.
Segundo Motta-Roth e Hendges (2010), escrever na universidade, é redigir textos com
objetivos específicos, pois cada um dos vários gêneros acadêmicos como o artigo, a resenha, o
resumo a monografia e outros, têm funções diferentes.
Assente nas capacidades linguísticas partilhadas pela maioria dos humanos, a escrita ajuda a
registar sentimentos, a explorar o que somos e o que sentimos, com reconhecidos benefícios
psicológicos (MacArthur & Graham, 2006). A escrita materializa um processo de criação de
símbolos através dos quais se estrutura o discurso de uma dada comunidade e cultura
(Graham, 2006b; Kellogg, 1994), incentiva o sentido de herança cultural e possibilita reter e
preservar do declínio e perda as memórias coletivas (Graham & Perin, 2007b); permite formar
opiniões, defender crenças, exprimir intenções e desejos, conferir sentido à vida e ao mundo e
supre, indubitavelmente, uma necessidade básica de comunicação connosco e com os outros
(Graham & Perin, 2007b; Kellogg, 1994). A escrita é fundamental para o sucesso académico,
6
Em regra, aprende-se a elaborar textos nas aulas de língua materna, mas também em outras
disciplinas, proeminentemente, nas de conteúdos sociais e humanísticos, a partir de uma
diversidade de fontes gráficas e audio-visuais (Hayes, 1996).
Para abordarmos o tema presente começamos por definir a argumentação como uma atividade
social e verbal do pensamento expressa em linguagem natural (Lopes, 1997) do dia a dia
(Lopes, 1997; Perkins et al., 1991). Como prática pedagógica em sala de aula, o seu ensino
reveste-se de diversas formas, como, por exemplo, a sua escrita e as discussões
argumentativas em pequenos grupos ou em plenário de turma (Schwarz & Asterhan, 2010).
Saber argumentar bem, ou seja, saber optar racionalmente entre alternativas opostas,
desenvolver razões, de suporte e contra a posição tomada, e estruturá-las quer de forma
progressiva (das premissas para a conclusão) quer de forma regressiva (da conclusão para as
premissas), de forma a defender uma posição, ou a persuadir o interlocutor, ou a audiência, da
viabilidade de uma alternativa, é um instrumento útil e fundamental para resolver
controvérsias sociais e conflitos diários em todos os domínios da vida (e.g., Breton &
Gauthier, 2001; Reznitskaya et al., 2007; Schwarz & Asterhan, 2010). Esta habilidade
capacita o cidadão a participar atentamente no debate verbal de opiniões que tangem a sua
sociedade e contribui assim para a existência e continuidade da democracia (Breton &
Gauthier, 2001; Graham, Gillespie, & McKeown, 2013; Kuhn, 1991; Reznitskaya &
Anderson, 2002).
Quer na argumentação que ocorre em situações discursivas na comunicação do dia a dia, quer
na terminologia associada ao texto argumentativo no âmbito do ensino das tipologias textuais,
cruzamo-nos com as noções de “argumentar”, “argumento” e “argumentação” (Dolz, Gagnon,
& Canelas-Trevisi, 2009; Schwarz & Asterhan, 2010). Na linguagem das conversações
diárias, as expressões “argumento” e “argumentação” são frequentemente identificadas como
diferenças de opiniões e discussões acerca de um assunto (Schwarz & Asterhan, 2010; Stein
& Miller, 1991). Com efeito, o processo argumentativo, ou uma argumentação, emerge face a
um tópico polémico e discutível e supõe um desacordo ou desentendimento inicial entre dois
parceiros conversacionais (Golder & Pouit, 1999). Ele implica que cada interveniente (que
pode ser apenas um indivíduo em situação de conflito interior) avance uma posição distinta,
porventura oposta, e que, por um lado, a justifique com raciocínios racionais, ou argumentos,
8
e, que por outro lado, refute justificadamente as razões de suporte do ponto de vista
alternativo (Kuhn & Udell, 2007; Walton, 1992). Um argumento pode também representar um
raciocínio ou uma razão que demonstra a lógica, a verdade ou a falsidade de uma afirmação
ou de uma tese, como no esquema de argumento de Toulmin, que apresentamos mais à frente.
A tese, como apresentam Perelman e Tyteca (2005, p.325), “qualquer argumentação, para ser
eficaz, deve apoiar-se em teses admitidas pelo próprio auditório”, assim, compreende-se que
em um processo dialógico, quando construímos o nosso discurso, estamos defendendo nossas
9
ideias, que dialogam com o auditório, estabelecendo uma relação harmoniosa, com o objetivo
de convencer e/ou persuadir acerca da validade de nossas teses.
Desta forma, a tese se caracteriza por ser a ideia principal defendida em um discurso, é o que
o discurso pretende apresentar como sendo algo verdadeiro ou falso, ou seja, é uma síntese
das ideias presentes no texto, a fim de ganhar credibilidade ao que defendemos. Além dessas
premissas, a tese nos permite verificar as possíveis contradições presentes no discurso do
orador, mesmo que este (o orador) esteja acima de qualquer suspeita de manipulação (IDE,
2000).
Para identificarmos uma tese em um texto, por exemplo, é necessário irmos à ideia central, na
proposição que formula o que diz o texto, essa ideia central do texto é a tese propriamente
dita, o que conhecemos como tese central.
As técnicas argumentativas têm por função defender uma tese. De um modo geral, de acordo
com os pressupostos de Perelman e Tyteca (2005), se dividem em quatro grandes técnicas,
sendo as três primeiras classificadas por meio de associações de noções que aproximam
elementos distintos: os argumentos quase-lógicos, os argumentos baseados na estrutura do
real e os argumentos que fundamentam a estrutura do real, e a quarta técnica, que são os
argumentos por dissociação das ideias, os quais propõem a ruptura dos elementos.
Os argumentos quase-lógicos são aqueles que se constituem por princípios lógicos, que
apresentam convicção naquilo que é exposto e são comparados a raciocínios formais,
matemáticos ou lógicos. Para Perelman e Tyteca (2005, p.220) “o que caracteriza a
argumentação lógica é o seu caráter não-formal e o esforço mental de que necessita sua
redução ao formal”, em outras palavras, o orador se apropriará do raciocínio formal em sua
tese, e faz uso de pensamentos lógicos.
De acordo com Reboul (2004), os argumentos quase-lógicos podem ser rejeitados, já que a
própria linguagem não pode ser considerada totalmente unívoca, pois é impossível prever as
possibilidades de interpretação e ambiguidade que a linguagem apresenta, assim, esse
argumento pode se apresentar como não puramente lógico, dependendo do interlocutor.
A terceira técnica é constituída pelos argumentos que fundamentam a estrutura do real que,
para Perelman e Tyteca (2005), esses argumentos são divididos em dois tipos, a saber, os que
fundamentam pelo caso particular (argumento pelo exemplo, argumento de ilustração e o
argumento pelo modelo e antimodelo) e o raciocínio por analogia. Para os autores, os casos
particulares são tratados como exemplos que devem levar a formulação de uma lei ou a
determinação de uma estrutura, sejam como amostras, ilustrações de algo conhecido.
A última técnica argumentativa proposta por Perelman e Tyteca (2005) é a dos argumentos
por dissociação das noções. Enquanto as três técnicas argumentativas anteriores apresentam-
se como associação de noções ou elementos, possivelmente, independentes, os argumentos
11
por dissociação das noções resolvem uma incompatibilidade no discurso para estabelecer uma
visão mais coerente dos fatos reais (SILVA, 2012). Esses argumentos “consistem, pois, em
afirmar que são indevidamente associados elementos que deveriam ficar separados”
(PERELMAN; TYTECA, 2005, p.467), isto significa que, esta técnica tem como foco a
incompatibilidade que há entre esses elementos.
As técnicas que aqui foram apresentadas funcionam como elementos formuladores de teses
presentes nos mais variados discursos. Essas técnicas argumentativas são usadas, de forma
cociente ou inconsciente, pelo o orador, como estratégia discursiva para conseguir
convencer/persuadir o seu interlocutor. Entretanto, já salienta Perelman e Tyteca (2005), essas
técnicas não são infalíveis ou irrefutáveis, uma vez que todo argumento pode ser colocado em
dúvida e ser refutado por outros argumentos.
Schneuwly e Dolz (2009) defendem que disciplinas como Português, nos respetivos sistemas
instrucionais, possuem um carácter escolar misto que emerge dos seus conteúdos particulares
e respetivas didáticas. Com efeito, os seus conteúdos temáticos e objetivos de ensino não
correspondem, em si, a nenhuma disciplina académica estruturando-se em torno de uma tríade
complexa e heterogénea composta pelas componentes das atividades de linguagem (leitura,
escrita e recitação, não constando esta última dos programas curriculares), do trabalho sobre a
língua (gramática, vocabulário, ortografia) e sobre a literatura (Schneuwly & Cordeiro, s.d.;
Schneuwly & Dolz, 2009).
Considerações Finais
Alguns alunos, revelam dificuldades persistentes ao nível da escrita textual, por exemplo nos
processos de estruturação e de coesão, e no cumprimento das instruções quanto ao tema e ao
tipo de texto (GAVE, 2012b). Não nos surpreende, portanto, a redundância das
recomendações tutelares que insistem na realização de tarefas direcionadas para o ensino e
treino de aspetos relativos à coesão textual, uma vez que se trata de aprendizagens que
deverão mobilizar para o aperfeiçoamento quer do processo de escrita quer do da leitura.
Neste enquadramento balizado, numa vertente, pela relevância da habilidade da escrita textual
para as aprendizagens académicas e a sua avaliação, e para a vida pessoal e profissional
(Breton & Gauthier, 2001; Graham, 2006b; Kuhn, 1991, 2015), e noutra pelas dificuldades
dos alunos em gerir adequadamente as exigências cognitivas desta atividade devido a uma
multiplicidade de fatores como o seu desconhecimento de estratégias de composição textual,
sobressaem as particularidades e os elevados requisitos cognitivos inerentes à escrita da
argumentação.
O texto argumentativo pressupõe o conflito entre, pelo menos, duas posições, a defendida e
uma alternativa representante de outra visão sobre o mesmo tópico, polémico, que se
desenvolve numa cadeia argumentativa que pesa os pós e os contras de cada posição. Esta
cadeia argumentativa é configurada por uma constelação de argumentos de suporte e de
contraargumentos.
Bibliografia
Silva, P. N. da. (2012). Tipologias textuais - Como classificar textos e sequências. (Almedina,
Ed.). Coimbra.
Barbeiro, L. F., & Pereira, L. A. (2007). O Ensino da Escrita: A Dimensão Textual (1.ª ed.).
Lisboa: Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, Ministério da
Educação.
Breton, P., & Gauthier, G. (2001). História das Teorias da Argumentação (1.). Lisboa:
Editorial Bizâncio, Lda.
Ferreira, S., Prata, M. J., Inácio, M., Sousa, C. S., Festas, I., & Oliveira, A. L. (2012). Ensino
de Estratégias de Escrita em Aulas de Língua Portuguesa. In I. P. de Leiria (Ed.), Livros de
Actas. I Conferência Internacional: Investigação, Práticas e Contextos em Educação. (p.109–
113.). Leiria.
Festas, I. (2002). Principais tendências no ensino da escrita de textos. Psychologica, 30, 173–
185.