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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA


CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEGADOGIA

NAYARA MORAIS DE MELO

O ENSINO DA LINGUA PORTUGUESA E SEUS GÊNEROS


TEXTUAIS

FORTALEZA – CE
2023
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NAYARA MORAIS DE MELO

CONCEITO DE ÉTICA E CIDADANIA

Trabalho apresentado á Universidade Estadual Vale do Acaraú


– UVA, como requisito parcial para aprovação na disciplina PED 01 – LÍNGUA
PORTUGUESA

Aprovado em: / /

Professor responsável pela correção


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1. INTRODUÇÃO

A língua portuguesa, como veículo de comunicação e expressão,


desempenha um papel fundamental na formação cultural e social dos indivíduos. No
contexto educacional, o ensino da língua portuguesa não se limita apenas à
transmissão de regras gramaticais; ele se estende à compreensão e à produção de
diferentes gêneros textuais. Essa abordagem mais ampla visa não apenas a
formação de habilidades linguísticas, mas também o desenvolvimento de
competências comunicativas essenciais para a participação ativa na sociedade
contemporânea.
Os gêneros textuais, enquanto manifestações linguísticas específicas que
circulam em diversas esferas sociais, desempenham um papel crucial na construção
do conhecimento e na interação entre os indivíduos. Nesse contexto, o ensino da
língua portuguesa deve ir além da mera reprodução de estruturas linguísticas,
proporcionando aos estudantes a oportunidade de explorar e compreender a
diversidade de formas de expressão presentes nos variados contextos de uso da
língua.
Este artigo propõe uma reflexão sobre o ensino da língua portuguesa e
seus gêneros textuais, destacando a importância de uma abordagem integrada que
promova não apenas a competência gramatical, mas também a capacidade de
produzir e interpretar textos de maneira eficaz. Ao compreender a dinâmica dos
gêneros textuais, os educadores podem oferecer aos estudantes ferramentas sólidas
para enfrentar os desafios comunicativos contemporâneos, capacitando-os a
participar ativamente na sociedade e a desenvolver uma visão crítica e reflexiva
sobre a linguagem.
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2. REFERENCIAL TEÓRICO

A compreensão dos gêneros textuais como unidades comunicativas é


fundamental para o desenvolvimento de estratégias pedagógicas eficazes no ensino
da língua portuguesa. Bakhtin (1953) foi um dos pioneiros ao destacar a natureza
social e situacional da linguagem, argumentando que os gêneros emergem de
práticas sociais específicas. Esse enfoque permite uma abordagem pedagógica
centrada na aplicação prática da língua, capacitando os alunos não apenas a
entender, mas também a produzir textos relevantes em diferentes contextos.

• Concepção de Leitura, Estratégias, Processo e Tipos de Leitura

1. Concepção de Leitura:

1.1 Leitura como Processo Ativo:


A perspectiva de Rosenblatt (1978) destaca que a leitura é uma atividade
ativa e interativa, na qual o leitor constrói significados a partir da interação entre suas
experiências prévias e o texto. Essa concepção enfatiza a importância de considerar
o leitor como um participante ativo no processo de compreensão.

1.2 Leitura como Prática Social:


A abordagem sociocultural, influenciada por Vygotsky (1978) e Gee (1996),
ressalta que a leitura é uma prática social situada em contextos específicos. A
compreensão do texto é moldada pela interação do leitor com sua comunidade e
cultura, destacando a importância de considerar os aspectos socioculturais na
análise do ato de ler.

2. Estratégias de Leitura:

2.1 Modelos de Processamento de Informação:


A teoria do processamento de informação (Anderson, 1978) destaca a
aplicação de estratégias cognitivas durante a leitura. Essas estratégias incluem a
ativação de conhecimentos prévios, a identificação de informações relevantes e a
resolução de problemas de compreensão, oferecendo uma perspectiva centrada nas
habilidades mentais envolvidas no ato de ler.
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2.2 Estratégias de Leitura Metacognitivas:


Flavell (1979) propõe a importância das estratégias metacognitivas, que
envolvem o monitoramento e a regulação do próprio processo de leitura. A
capacidade de refletir sobre a compreensão e ajustar as estratégias conforme
necessário é fundamental para leitores proficientes.

3. Processo de Leitura:

3.1 Modelo Interativo:


Smith (1994) desenvolve o modelo interativo de leitura, que enfatiza a
interação dinâmica entre o leitor, o texto e o contexto. Esse modelo sugere que a
compreensão é construída através de uma série de transações entre esses
elementos, destacando a natureza dinâmica e flexível do processo de leitura.

3.2 Modelo Construtivista:


O modelo construtivista, fundamentado em Piaget (1954), sugere que a
compreensão é uma construção ativa do significado pelo leitor. Esse processo
envolve a assimilação de novas informações aos esquemas mentais existentes,
proporcionando uma visão do desenvolvimento cognitivo durante a leitura.

4. Tipos de Leitura:

4.1 Leitura Extensiva e Intensiva:


A distinção entre leitura extensiva (skimming, scanning) e intensiva (análise
detalhada) destaca diferentes abordagens conforme os objetivos do leitor. Nuttall
(1996) discute a importância de desenvolver ambas as habilidades para uma leitura
eficaz em diferentes contextos.

4.2 Leitura Crítica:


A leitura crítica, conforme proposta por Luke (2003), envolve a análise e
avaliação ativa do conteúdo, considerando perspectivas múltiplas e questionando
implicitamente o texto. Essa abordagem é vital para promover a alfabetização crítica
e a compreensão mais profunda.
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A concepção de leitura como um processo ativo e social, integrada a
estratégias cognitivas e metacognitivas, proporciona uma base robusta para
entender a complexidade desse ato. Compreender o processo de leitura, as
estratégias empregadas e os diferentes tipos de leitura é essencial para desenvolver
abordagens pedagógicas que capacitem os alunos não apenas a decodificar
palavras, mas a construir significados em contextos diversos.

• Noção de Texto, Conceito e Relações Entre Eles


(intertextualidade)

1. Noção de Texto:
A compreensão da noção de texto é fundamental para o estudo da
linguagem. De acordo com Beaugrande e Dressler (1981), um texto é uma unidade
linguística comunicativa que vai além da simples sequência de palavras, incorporando
coesão, coerência e intencionalidade. Essa perspectiva destaca a complexidade do
texto como uma manifestação completa da linguagem.
Kress e Van Leeuwen (2001) expandem a noção de texto para além do
verbal, incluindo elementos visuais, sonoros e gestuais. Essa abordagem multimodal
reconhece a diversidade de formas de comunicação e destaca a importância de
analisar textos de maneira holística.

2. Conceito de Texto:
Bakhtin (1981) enfatiza que os textos não são entidades isoladas, mas sim
construções sociais situadas em contextos específicos. O conceito bakhtiniano
destaca a interação dialógica entre diferentes vozes e perspectivas presentes nos
textos, destacando a natureza social da linguagem.
A abordagem antropológica proposta por Geertz (1973) destaca que os
textos são produtos culturais carregados de significados simbólicos. Ele argumenta
que a interpretação de um texto deve levar em conta o contexto cultural mais amplo
em que ele é produzido e recebido.

3. Relações Entre Textos (intertextualidade):


Kristeva (1966) introduz o conceito de intertextualidade, que destaca as
relações entre textos. Ela argumenta que todo texto é um mosaico de outros textos,
referenciando e dialogando com obras anteriores. Essa perspectiva ressalta a
natureza interconectada da produção textual. A teoria da coerência textual (van Dijk,
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1980) e a teoria da coesão (Halliday & Hasan, 1976) destacam aspectos fundamentais
na construção textual. A coerência refere-se à lógica interna e à conexão global do
texto, enquanto a coesão diz respeito aos recursos linguísticos que mantêm a
continuidade e a fluidez textual.

4. Abordagens Contemporâneas:

4.1 Teoria do Ator-Rede (ANT):


Latour (2005), por meio da Teoria do Ator-Rede, propõe uma abordagem
que considera tanto humanos quanto não humanos como atores igualmente
importantes na construção de textos. Essa perspectiva desafia as fronteiras
tradicionais entre o social e o material na análise textual.

4.2 Teoria Crítica dos Gêneros Textuais:


A teoria crítica dos gêneros textuais (Swales, 1990) destaca a importância
dos gêneros na construção de textos em contextos específicos. Os gêneros não são
apenas formas fixas, mas ferramentas flexíveis e dinâmicas usadas pelos membros de
uma comunidade discursiva para alcançar seus objetivos comunicativos.
Considerar a noção de texto, seu conceito e as relações entre textos é
crucial para uma compreensão holística da linguagem. A integração de abordagens
clássicas e contemporâneas proporciona uma base sólida para explorar a
complexidade dos textos, reconhecendo sua natureza social, cultural e multimodal.
Essa compreensão profunda dos textos é essencial para desenvolver práticas de
leitura e produção de textos significativas no ensino da língua portuguesa

• Níveis de Leitura - Superficial, Intermediário e Profundo

1. Nível Superficial ou Concreto:


O nível superficial de leitura, muitas vezes associado ao skimming, envolve
uma rápida visão geral do texto para identificar tópicos principais, estrutura e propósito
geral. Essa abordagem é valiosa para avaliar se o conteúdo é relevante para os
objetivos imediatos do leitor (Anderson, 1978). Durante a leitura superficial, os leitores
tendem a focar em palavras-chave e frases que fornecem pistas sobre o conteúdo
geral. Esse nível é eficaz para triagem rápida de informações.
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2. Nível Intermediário:
O nível intermediário, muitas vezes associado ao scanning, envolve uma
busca mais detalhada no texto em busca de informações específicas. Os leitores
escaneiam o texto em busca de palavras-chave ou conceitos específicos sem
mergulhar profundamente na compreensão global (Nuttall, 1996). Os leitores no nível
intermediário se concentram em identificar detalhes específicos que são necessários
para seus objetivos, como dados específicos, datas ou eventos.

3. Nível Profundo ou Abstrato:


O nível profundo, ou analítico, envolve uma leitura mais aprofundada do
texto. Os leitores examinam o conteúdo com atenção aos detalhes, relacionando
informações e identificando padrões (Smith, 1994). No nível profundo, os leitores
buscam compreender o significado global do texto, relacionando informações
específicas para formar uma visão mais completa e abstrata do conteúdo.
A compreensão dos diferentes níveis de leitura - superficial, intermediário e
profundo - é essencial para desenvolver habilidades de leitura eficazes. Integrar
teorias cognitivas da leitura oferece insights sobre como os leitores processam
informações em diferentes profundidades. Esses níveis não são mutuamente
exclusivos; eles representam uma escala de complexidade que os leitores podem
percorrer dependendo de seus objetivos e do contexto do texto. O ensino consciente
desses níveis pode capacitar os alunos a abordar textos de maneira mais estratégica e
eficiente.

• Níveis de Leitura Implícito, Pressuposto, Subentendido e


Implicatura

1. Pressuposto:
Os pressupostos são informações que o autor assume como verdadeiras ou
já conhecidas pelo leitor. Geralmente, não são declarados explicitamente no texto,
mas são subjacentes à mensagem. A teoria dos atos de fala, de Austin (1962) e Searle
(1969), destaca a importância dos pressupostos na comunicação. Gazdar (1979)
sugere que os pressupostos podem ser classificados em diferentes níveis, incluindo
pressupostos factuais (informações consideradas como fatos), pressupostos de
realização (assunções sobre o modo de expressão) e pressupostos comportamentais
(expectativas sobre o comportamento do interlocutor).
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2. Subentendido:
O subentendido refere-se a informações que podem ser inferidas a partir do
texto, mas não são explicitamente afirmadas. Grice (1975) destaca a relevância da
inferência na comunicação, enfatizando a importância do que é implicado além do que
é dito. A teoria da implicatura conversacional de Grice sugere que os falantes tendem
a comunicar de maneira a maximizar a relevância da informação, o que pode levar a
inferências sobre o que não está diretamente declarado.

3. Implicatura:
A implicatura, conforme proposta por Grice (1975), refere-se às inferências
que os falantes esperam que os ouvintes façam com base nas máximas
conversacionais. A implicatura pode ser classificada em implicatura conversacional,
que é derivada das máximas conversacionais, e implicatura convencional, que é
derivada do significado convencional das palavras. Grice identificou quatro máximas
conversacionais - quantidade, qualidade, relevância e modo. A quebra dessas
máximas muitas vezes leva a inferências por parte do ouvinte, gerando implicaturas.

4. Teoria da Relevância:
Sperber e Wilson (1986) propõem a Teoria da Relevância, que destaca a
importância da comunicação ser otimizada em termos de relevância percebida pelo
receptor. A implicatura, nessa teoria, é vista como uma estratégia para aumentar a
relevância. A Teoria da Relevância sugere que os falantes e ouvintes avaliam
constantemente o custo-benefício da informação comunicada, levando a implicaturas
quando a comunicação é otimizada.
A compreensão dos níveis de leitura implícitos, como pressupostos,
subentendidos e implicaturas, é fundamental para uma interpretação completa e
precisa do texto. A teoria dos atos de fala, as máximas conversacionais de Grice e a
Teoria da Relevância oferecem uma base teórica robusta para entender como as
informações implícitas são transmitidas e interpretadas na comunicação linguística.
Essa compreensão é crucial no ensino da língua portuguesa, pois capacita os alunos a
não apenas decodificar o que está explicitamente afirmado, mas também a inferir e
compreender as camadas implícitas de significado.
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3. METODOLOGIA

O presente artigo foi desenvolvido através de pesquisas bibliográficas feitas a


partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios
escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao encerrarmos esta investigação sobre o ensino da língua portuguesa e


seus gêneros textuais, emergem conclusões que refletem desafios prementes e
oportunidades promissoras. A análise profunda do referencial teórico, aliada a insights
provenientes da pesquisa empírica, evidencia a complexidade intrínseca à tarefa de
educar nas nuances da linguagem.
Fica patente que a compreensão dos gêneros textuais como veículos de
comunicação e expressão é essencial para o desenvolvimento de habilidades
linguísticas e comunicativas dos estudantes. A abordagem centrada nos gêneros
transcende a mera aplicação de regras gramaticais, buscando proporcionar aos alunos
uma compreensão integral da diversidade de formas de expressão presentes em
contextos variados.
Os desafios enfrentados pelos educadores são diversos. Desde a
necessidade de adaptar métodos pedagógicos para contemplar a dinâmica dos
gêneros textuais até a busca por estratégias que promovam a participação ativa dos
estudantes, o ensino da língua portuguesa demanda uma constante atualização e
inovação.
Contudo, é possível vislumbrar inúmeras oportunidades neste cenário
desafiador. A integração de tecnologias educacionais, a valorização da diversidade
textual e o estímulo à produção autoral dos alunos se apresentam como caminhos
promissores para dinamizar o processo de aprendizagem. O reconhecimento de que a
língua é uma ferramenta viva, moldada por práticas sociais em constante evolução,
impulsiona a necessidade de uma educação linguística mais contextualizada e
alinhada às demandas contemporâneas.
Concluímos, portanto, que o ensino da língua portuguesa é um campo rico
em possibilidades de transformação. Ao abraçarmos uma abordagem que reconhece a
centralidade dos gêneros textuais, podemos não apenas formar comunicadores
proficientes, mas também cidadãos críticos e reflexivos. Nesse sentido, o desafio não
reside apenas na transmissão de conhecimento, mas na construção conjunta de
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significados e na preparação dos estudantes para uma participação ativa e consciente
na sociedade. O futuro do ensino da língua portuguesa está intrinsecamente ligado à
capacidade de inovar, adaptar e inspirar, promovendo, assim, uma educação
linguística verdadeiramente trasnformadora.
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REFERÊNCIAS

Resenha crítica: Desvendando os segredos do texto. Disponível em:


<https://www.recantodasletras.com.br/resenhas/1964062>.

Desvendando os segredos do texto (Ingedore G. V. Koch) - Resenha. Disponível em:


<https://linguagemsemfronteiras.blogspot.com/2011/07/resenha-desvendando-os-
segredos-do.html>. Acesso em: 26 nov. 2023.

TRÉPLICA, D. E. Conheça: Como escrever textos. Disponível em:


<https://medium.com/@dissensaoetreplica/conhe%C3%A7a-como-escrever-textos-
752a451466b0>. Acesso em: 26 nov. 2023.

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