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Ano 16 - n.25 – 1º semestre– 2020 – ISSN 1807-5193
dissertation that solves the listed problems. The research had a theoretical apparatus based
on: (1) discipline “Produção textual: gêneros orais e escritos” of the Specialization in
Portuguese Language and Literature at the Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(UTFPR), by professor Ana Paula Silveira Pinho; (2) the author's teaching experience;
and (3) optional discipline in the Letras course at the Universidade Estadual Paulista
(UNESP) in Araraquara, by professor Marina Célia Mendonça, “Práticas de Escrita na
Escola: Contribuições da Linguística”. The results can be observed in the proposed
methodology, since this has been tested and improved in the author's experience as a
volunteer teacher at the Cursinho Social Flaviana, a popular course at the Faculdade de
Economia e Administração de Ribeirão Preto (FEARP) at the Universidade de São Paulo
(USP). In the course, the teacher has already seen improvements of up to 500 points in
the official essay of the Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
KEYWORDS: Applied linguistics. Teaching. Argumentative dissertation.
INTRODUÇÃO
Inicialmente, cabe definir o que é vestibular. Ele figura como o exame pelo qual os
estudantes devem passar para pleitear uma vaga na universidade (sendo o foco, aqui nessa
pesquisa, as públicas). No caso dos estaduais paulistas, ele é composto por uma fase de questões
objetivas e, os aprovados nessa fase, executam a segunda, que possui questões dissertativas e
uma redação a ser feita. A redação é, com exceção da Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), uma dissertação argumentativa. Já o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM),
que iniciou como uma prova de nivelamento da educação do país, mas hoje é a mais vasta forma
de entrar na universidade pública, é composto por uma única fase com 180 questões, divididas
em dois dias de prova, sendo o primeiro dia aquele em que o candidato deve fazer um texto
dissertativo-argumentativo. A transformação do ENEM em uma forma de entrada à
universidade aconteceu devido à criação do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), em 2010,
que extinguiu o vestibular de muitas instituições públicas, dentre elas destacam-se as federais.
Após a definição do que é vestibular, cabe voltar-se aos gêneros discursivos que
abarcam a dissertação argumentativa. Logo, vale destacar a diferenciação entre tipo textual,
gênero textual e gênero discursivo, segundo Mendes (2008, p. 175). Tipos textuais são formas
mais estáveis de expressão escrita, como narração, dissertação, descrição etc., e têm natureza
formal e limitada. Já os gêneros textuais são infinitos, e sua natureza é de caráter contextual e
discursivo. Quanto a sua infinitude, vemos a proximidade entre as concepções de gênero textual
e discursivo, que, nesse estudo, como acontece no de Mendes (2008, p. 171), consideraremos
como sinônimos que apenas distinguem a origem teórica da noção utilizada.
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Ainda assim, traremos a definição mais apurada de gêneros do discurso que norteará
nosso estudo. Para Bakhtin (2003, p. 261-262 apud MENDONÇA; NEVES, 2019, p. 42-43),
os gêneros dos discursos são constituídos por três elementos. São eles:
Nesse momento, cabe explorar a discussão acerca da importância dos gêneros textuais
(e, portanto, discursivos) para o desenvolvimento humano. A esse aspecto, Bronckart, segundo
Cristóvão e Fogaça (2008, p. 266 apud GOULARTE, 2010, P. 10), dedicou-se, em certa fase
de seu trabalho, ao estudo dos “efeitos produzidos pela matriz dos gêneros textuais e dos tipos
de discurso sobre o desenvolvimento humano, (...).” Vemos, nessa dedicação do teórico, o
impacto dos gêneros textuais e dos discursos em nosso desenvolvimento, seja ele cognitivo,
social, pessoal ou simplesmente humano.
Além disso, os gêneros do discurso são, para Bakhtin (apud MENDES, 2008, p.172),
produtos da atividade humana, estabelecendo, assim, uma relação intrínseca entre gêneros e a
atuação dos indivíduos em sociedade. Outrossim, Mendes (2008, p. 173) ressalta também que
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A serem exploradas na proposição de uma metodologia.
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os gêneros (discursivos ou textuais) constituem formas de os seres humanos interagir e
comunicar-se com o mundo que os cerca. Nesse sentido, ainda segundo a autora, ao
dominarmos um gênero, não decoramos simplesmente regras linguísticas, mas sim modos
específicos de realizar ações sociais através da linguagem. Desse modo, como afirma Barroso
(2010, p. 14), “as ações verbais se realizam por meio dos gêneros do texto, que são ferramentas
poderosíssimas de mediação das interações humanas, nas diferentes esferas sociais.”
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A primeira e a segunda pergunta podem ser respondidas com o estudo de Rojo (2008,
p. 582), que retoma Hamilton (2002, p. 4), cuja diferenciação entre os tipos de letramento
abarcam os dominantes e os vernaculares. Sendo o primeiro tipo que enfatizamos aqui, a
primeira característica apontada pela autora é o fato de esse letramento ser institucionalizado.
Rojo (2008, p. 582) reitera:
Claro que há uma atualização entre 2008, ano do estudo de Rojo, e 2020, ano vigente.
Já tivemos questão sobre dialeto utilizado por parte do movimento de Lésbicas, Gays,
Bissexuais e Transexuais (LGBT), por exemplo, no ENEM 2018. Mas é inegável que a raiz da
exclusão permanece vigente nas instituições de ensino. Isso reflete-se na revolta dos alunos,
pais e políticos frente à questão referida, que apenas figura uma tentativa de inclusão de uma
minoria ao exame.
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O primeiro capítulo, “Dominar competências”, diz respeito a dominar as competências
do ENEM – as gerais do exame e as específicas da prova de Redação. Sentimos falta de uma
contextualização inicial dos gêneros do discurso, dando enfoque posterior à dissertação
argumentativa. Também sentimos falta de uma explicação ao aluno do porquê da importância
do texto dissertativo-argumentativo, pois no material tal explicação se restringe à tradição da
educação brasileira. Tal explicação cai por terra com a fala de Bakhtin (2016, p. 20): “As
mudanças históricas dos estilos de linguagem estão indissoluvelmente ligadas às mudanças dos
gêneros do discurso.” Se os gêneros do discurso mudam ao longo do tempo, justificar a
permanência de um em específico – o texto dissertativo argumentativo – com tradição não faz
sentido. Ele se mantém porque tem importância na construção social cidadã do indivíduo.
Assim, sabendo a importância desse gênero nas diferentes áreas da vida do candidato, sentimos
falta de colocações que contribuíssem para a construção de sentido do porque ele é importante
e que sua importância não morre no ENEM e nos vestibulares. Mostra-se uma redação nota mil
para reforçar as competências, ignorando outros aspectos riquíssimos a serem discutidos em
um texto que atinge nota máxima: a força da tese, a consistência da argumentação e a
completude da proposta de intervenção.
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(...)
• Se a intenção do enunciador do texto é relatar um acontecimento pontual,
uma situação, os gêneros mais aplicados para cumprir esse propósito são o
relato, a notícia, o diário, a reportagem e a crônica.
• Caso o enunciador organize seu texto em uma progressão cronológica e
deseje narrar uma sequência de fatos, envolvendo uma ou mais
personagens, isso poderá ser feito, entre outras possibilidades, por meio de
um conto, um romance ou uma fábula.
• Se o foco do texto é discutir um tema, argumentar ou defender uma
tese, os gêneros textuais mais adequados para isso são: debate, editorial,
carta argumentativa, artigo de opinião e carta ao leitor.
(...) (LOPES, LUCY, CARVALHO, 2018, p. 16-17)
Há, após tal relação citada, a exposição de uma proposta de redação da Pontifícia
Universidade Católica (PUC) e uma respectiva redação nota máxima. O comentário não analisa
a proposta e apenas interpreta os caminhos do autor da redação, inutilizando-a como
instrumento de ensino das partes do texto dissertativo-argumentativo, por exemplo. Contudo,
em seguida, dizem que toda prova de redação é uma prova de leitura, ponto com o qual
concordamos.
Por fim, em nenhum momento vimos ensino de como fazer uma tese, como argumentar
de forma consistente e de como concluir, seja proposta de intervenção ou não, a qual, aliás, nem
é detalhada no livro. Faltou aproximar o texto dissertativo-argumentativo do aluno,
comparando-o à discussão com o namorado(a), por exemplo, explicitando os pontos em comum
entre esses discursos – a discussão e a dissertação argumentativa. Faltou metodologia de ensino
de cada parte da dissertação e, por fim, faltou a contextualização prévia de gêneros e da
dissertação antes de já entrar no conteúdo. Faltou lembrar que a dissertação argumentativa ajuda
a formar o cidadão – papel original da escola – e não é apenas um texto para ingressar na
universidade.
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de seus candidatos, principalmente, a leitura e a escrita, devido à “importância da leitura e da
escrita como um exercício de formação para cidadania” (NETO apud MENDONÇA; NEVES,
2019, p. 12). Assim, o exame olha para a original função da escola: a formação do cidadão:
Desse modo, observa-se que a escrita, nesse exame, é considerada em todas suas esferas sociais
e não apenas na acadêmica.
Outro diferencial do vestibular da UNICAMP é que ele exige gêneros do discurso e não
dissertação clássica. Ela pretende testar a capacidade leitora – da coletânea, das instruções
composicionais do gênero – e escrita, em organizar tais informações, a fim de aproximar o
exame vestibular do cotidiano daquele que o realiza. Justamente pela importância social que
tais atividades representam, como afirmou Neto acima. Assim, é possível ir além e pensar num
ensino de língua materna pautada em gêneros do discurso. É o que nos tem a dizer Fossey (2019
apud MENDONÇA; NEVES, 2019, P. 62):
Um dos argumentos mais caros à defesa do ensino de língua materna com base
no trabalho com gêneros é a possibilidade de implementar uma prática
contextualizada, que leva para dentro da escola a língua em uso. Isso se deve
ao fato de que, em especial de uma perspectiva discursiva, a produção e a
compreensão dos textos e dos gêneros aos quais os textos pertencem são
definidas em função da situação social e imediata de produção.
Assim, a UNICAMP constitui um exame vestibular que impulsiona como as escolas devem ser,
constituindo um importantíssimo papel na sociedade. É um exemplo que deve a ser remodelado
e seguido pelos demais exames que existem a dissertação argumentativa, assim como o modo
de ensino de gêneros discursivos – cotidianos ou dissertação – deve sofrer alterações na escola
e nos cursinhos pré-vestibular.
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O problema mora na abstração. O ensino demasiadamente focado em cumprir uma
estrutura hipotética, com a baixa valorização do exemplo e da prática, apenas impondo de um
molde – que, muitas vezes, é preenchido por palavras reais e decorado pelos alunos para aplicar
em qualquer tema – sem sua demonstração na prática e sua explicação de utilidade social
daquele gênero discursivo.
Desse modo, temos um ensino que escolhe a “decoreba” de moldes e frases de efeito ao
invés do ensino pela prática, da demonstração em sala de aula do uso prático daquele gênero,
da construção do pensamento crítico dos alunos. Assim, nesse último tipo de ensino, eles seriam
capazes de, dentro da estrutura exigida pelos vestibulares, promover seus próprios pensamentos
em sua escrita, adequando-se ao molde de forma original e através de sua liberdade de
expressão, defendendo o que realmente acreditam porque lhes foi ensinado o pensar crítico por
si só.
É essa abstração que esse artigo busca resolver com uma proposição de método de aula
de estrutura e debate de temas, de coesão e adequação vocabular. É essa abstração que
buscamos explorar, definir e vencer.
Desse modo, será possível a proposição de uma metodologia de ensino de redação pré-
vestibular que não reduza o ensino e a aprendizagem a moldes e “decorebas”.
Portanto, nossos objetivos podem ser enumerados em: (1) caracterizar o texto
dissertativo-argumentativo enquanto gênero discursivo; (2) entender o ensino desse gênero
como tipo textual na escola; (3) entender a abstração que envolve o ensino de redação em
cursinhos pré-vestibular; (4) a proposição da metodologia de ensino supracitada.
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O método utilizado por nós pauta-se no estudo de artigos e livros da linguística aplicada,
o resgate de observações e experiências do ensino abstrato problematizado. Assim, embasamos
nossa problematização e nossas ideias de um ensino nos estudos selecionados com base na
bibliografia da disciplina “Produção textual: gêneros orais e escritos” do curso de
Especialização em Língua Portuguesa e Literatura da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná (UTFPR), ofertada pela professora doutora Ana Paula Silveira Pinho.
Além disso, nosso método também consiste na proposição, com base na prática docente
atual da autora, de uma metodologia que, apesar de expor a estrutura da dissertação
argumentativa esperada pelos exames supracitados, o faz através da prática – as redações-
modelo. E que ensina o gênero através do debate de ideias entre os alunos, além de propor o
estudo de conceitos filosóficos e de outras áreas do conhecimento e aulas interativas de
conectivos e adequação vocabular.
Para dar início a discussão, cabe definir, novamente, os gêneros do discurso segundo a
teoria bakhtiniana.
Para o autor:
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Esses “tipos relativamente estáveis de enunciados”, como o autor define os gêneros do
discurso, bombardeiam nosso cotidiano e são infinitos, abarcando incontáveis possibilidades.
Isso acontece porque, como também afirma Bakhtin (2016, p. 11):
Esse gênero discursivo – e não apenas tipo textual – funciona em diversos campos da
atividade humana. Pode ser observado em vigor em uma discussão de namorados(as); em uma
discussão de bar, lanchonete ou sorveteria, entre colegas; é utilizado para pedir um aumento ao
chefe – já que temos uma proposição, o pedido do aumento, um ou mais argumentos, que
explicitam o porquê o funcionário merece aquele aumento e uma conclusão, que feche a fala
ou escrita do locutor; para responder perguntas dissertativas de provas do ensino básico,
superior e de vestibular que exigem texto como resposta – novamente deverá haver proposição,
argumentação e conclusão; e em muitos outros campos da atividade humana, como descreve o
autor no qual embasamos nossa discussão.
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No contexto pré-vestibular, os professores tendem a ensinar o gênero discursivo
dissertação argumentativa como um mero tipo textual. Nada se fala sobre gêneros do discurso
e há problemas de organização da ordem dos conteúdos e de interdisciplinaridade.
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Logo, não há uma discussão no material analisado sobre gêneros do discurso. Há o
ensino de Redação segregado em relação à definição e ensino do que é dissertação enquanto
tipo textual, limitando esse gênero discursivo a um tipo de texto. Sobre isso, Goularte (2010, p.
12) aponta a importância do Interacionismo Sociodiscursivo para pensar um novo jeito de
ensinar Língua Portuguesa no Brasil. Essa abordagem teórica considera os gêneros do discurso,
pensando em seu efeito no desenvolvimento humano, bem como na língua como organização
social que se organiza em gêneros.
O grande problema apontado por nosso estudo é essa abstração do ensino de redação
em contextos pré-vestibular. A perda de contexto no ensino de produção textual na escola torna
sua aprendizagem superficial e maçante para o aluno. Isso acontece, entre outros motivos, pela
perda de contexto do enunciado, do discurso, do gênero, da palavra que se dá no espaço escolar
tradicional. Sobre isso, Volochínov (2013 apud MENDONÇA, 2018, p. 761-762) afirma:
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entendem a escrita como puramente técnica, e não modo de autoexpressão na sociedade. Como
afirma Volochínov citado acima, “a palavra é um evento social” (2013 apud MENDONÇA,
2018, p. 762).
Logo, observamos, nas seções anteriores deste artigo, que nas salas de aula brasileiras
de vestibulandos o ensino é pouco interdisciplinar e peca na contextualização e na proximidade
entre a subjetividade do estudante e o conteúdo ensinado. Esse conteúdo, a produção textual, é
muito íntimo a cada sujeito, uma vez que ao produzir um texto escrito, produzimos um
enunciado que diz muito sobre nós. Além disso, a dissociação entre o gênero do discurso e o
contexto de produção gera um impasse discutido por Mendonça (2018, p. 763):
Retomo aqui a discussão realizada por Brait (2000), que critica a forma de
abordagem dos gêneros do discurso retirando-os de sua historicidade e os
transformando em “tipologia textual” preestabelecida nas atividades escolares
de leitura.
O que Mendonça elenca sobre a discussão de Brait está consoante à nossa crítica ao
reducionismo à tipologia textual observado no material didático analisado anteriormente.
O texto, nesse sentido, é abordado na escola hoje como um produto final, uma estrutura
acabada devido ao exame vestibular. Contudo, essa concepção é arcaica, como observamos nas
reflexões de Silva (2008, p. 2):
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global. Dessa forma, verifica-se que o texto deixa de ser uma estrutura
acabada (produto) e passa a ser abordado no seu próprio processo de
planejamento, verbalização e construção. Desse modo, a autora concebe texto
como ‘... resultado parcial de nossa atividade comunicativa, que compreende
processos, operações e estratégias que têm lugar na mente humana, e que são
postos em ação em situações concretas de interação social” (idem, p. 26).
Consoante à afirmação de Silva, acreditamos que se deve tratar o processo de comunicação – e
não o texto – como um todo e o texto como parte dele. A autora relaciona a concepção de texto
à prática de produção textual:
Para Koch (2003, p. 26), quando o texto deixa de ser entendido como produto,
ou seja, passa a ser abordado em seu próprio processo de planejamento,
verbalização e construção, a produção textual passa a ser entendida como uma
atividade verbal, a serviço de fins sociais. Acrescenta que se trata também de
uma atividade intencional e interacional, visto que os “interactantes” estão
envolvidos na atividade de produção textual. Ainda a respeito, Koch afirma
que o processamento textual, quer em termos de produção, quer em termos de
compreensão, depende, essencialmente, de uma interação – “ainda que
latente” – entre produtor e interpretador.
Essa concepção de produção textual – “como uma atividade verbal, a serviço de fins sociais” –
é consoante à nossa proposta de contextualização do ensino de dissertação argumentativa para
o vestibular.
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O próprio autor menciona a consequente abstração e formalismo quando o gênero e a natureza
do enunciado são ignorados. É a essa abstração que nos referimos no presente estudo. Ela
também é comentada por Silva (2008, p. 8):
Além disso, nossa metodologia é norteada pela prática, seja na leitura de redações-
modelo, seja na construção oral de um texto pelo professor pautado no projeto de texto
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construído pelos alunos. Essa prática é valorizada nos trabalhos de Reinaldo (2016, p. 3) e de
Mendonça (2018, p. 762). A primeira afirma:
Nesse sentido, ao longo da disciplina ofertada pela Profa. Dra. Ana Paula Pinheiro da
Silveira no curso de Especialização em Ensino de Língua Portuguesa e Literatura, podemos
observar que a metodologia por nós proposta pode ser relacionada ao método de ensino e
aprendizagem australiano de Martin (1999 apud LOVATO, 2008) nomeado de pedagogia do
gênero. Tal pedagogia propõe o ensino em três etapas: “modelagem, negociação conjunta do
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texto e a construção individual do texto.” (LOVATO, 2008, p. 13). A explicação da autora se
prolonga:
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texto (esquema que funciona como espinha dorsal do texto para que ele seja autônomo e não
precise de preenchimento de lacunas por parte do leitor; ele consiste na anotação da tese a ser
defendida e dos argumentos que defendem a tese, sintetizando o que será defendido no texto
dissertativo-argumentativo); (3) rascunho, seguindo a estrutura a ser passada na próxima aula
dessa etapa; (4) após o aluno atuar como seu primeiro corretor de redação no rascunho, passar
a limpo. Após essa discussão, a professora lê três dissertações argumentativas que tiveram nota
máxima do vestibular em questão e pede que, em casa, os alunos extraiam o projeto de texto de
cada uma delas.
Já a segunda e a terceira etapa se dão em uma segunda aula e num exercício para casa.
Na segunda aula, uma proposta de redação autoral da professora, feita nos moldes das propostas
do vestibular em questão, é entregue aos alunos. A partir da leitura da mesma e da discussão
dos textos com auxílio de repertório sociocultural trazido pela professora e, se assim desejarem,
pelos alunos, um projeto de texto é construído em conjunto com a sala: um aluno fala uma tese
e outros dois apresentam duas ideias de argumentos que sustentem a tese. A professora constrói,
oralmente, um texto com aquele projeto de texto, exemplificando como utilizá-lo aos alunos.
Finalizamos, aqui, a etapa dois. Por fim, a terceira etapa se dá em casa: o aluno constrói um
texto seja daquele projeto construído em sala, seja de um projeto autoral.
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Um momento que se dá após as etapas mencionadas é o feedback da correção da redação
do aluno. A partir dessa devolutiva, o aluno aprende no que precisa melhorar para o próximo
texto e, assim, mais discussões temáticas se sucedem, repetindo a etapa dois e três até que o
cronograma parta pro próximo vestibular que, mesmo que cobre dissertação argumentativa, tem
moldes diferentes, uma vez que o ENEM é o único exame que exige proposta de intervenção
por parte do aluno.
RESULTADOS
CONSIDERAÇÕES
Infere-se, portanto, que a dissertação argumentativa pode ser entendida como um gênero
discursivo e não apenas como tipo textual. Isso porque, sendo gêneros do discurso “tipos
relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 2016, p. 12), e se contextualizarmos e
escrita para o vestibular em contexto de sala de aula como um enunciado, que tem locutor
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(aluno) e interlocutor (corretor/sociedade) e contexto de produção, com certeza seu ensino será
mais abstrato.
Nesse sentido, afirmamos que há abstração no ensino desse gênero no contexto pré-
vestibular, como foi possível observar na análise do material didático Terceirão Alfa 1. As
competências do ENEM são apresentadas antes de uma contextualização; depois fala-se de
gênero e por fim propósito, sem contextualizar o texto dissertativo-argumentativo, que só é
mais bem apresentado em outra seção do material, na “Gramática e Texto”, e mesmo assim
surge como mero tipo textual.
Por fim, propomos uma metodologia que gira em torno de três etapas constituídas por
função e teoria, construção conjunta e construção individual do texto. Cada etapa é ricamente
trabalhada com contextualização do gênero, exposição do que é projeto de texto, construção de
um projeto de texto conjunto com a turma, construção oral da professora de uma dissertação
argumentativa pautada no projeto de texto construído em sala e, então, construção individual
de um texto dissertativo-argumentativo que siga o projeto de texto montado pela turma ou um
autoral do aluno.
Para um próximo estudo, acreditamos ser importante o estudo de ensino de gêneros
discursivos na escola, tendo como norte as proposições da UNICAMP acerca de seu vestibular
em A redação no vestibular UNICAMP: o que e como se avalia (2019). Nesse próximo estudo,
poderemos propor uma metodologia que abarque os gêneros discursivos sem “decoreba” de
fórmulas para cada gênero, em uma metodologia de ensino que seja consoante aos ensinamentos
de Bakhtin (2016).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MENDES, E. Tipos e Gêneros Textuais: modos de Leitura e de Escrita. SIGNUM: Estudos
Linguísticos, Londrina: UEL, n. 11/1, p. 167-180, 2008.
MENDONÇA, M.; NEVES, C. A. B. (Orgs.) A redação no vestibular UNICAMP: o que e como
se avalia. Campinas: Editora da Unicamp, 2019.
MENDONÇA, M. C. Práticas de escrita: diálogos entre ciências da linguagem e
ensino/aprendizagem de língua. Estudos Linguísticos. GEL: São Paulo, vol. 47, n. 3, p. 758-
768, 2018.
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