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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS VERNÁCULAS
LETA29 – LITERATURA BRASILEIRA
CONTEMPORÂNEA
PROF. GABRIEL WIRZ LEITE

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A literatura fora de si
● Campo expansivo
“Nesse campo expansivo também está a ideia de uma
literatura que se figura como parte do mundo e
imiscuída nele, e não como esfera independente e
autônoma. É sobretudo esta questão, embora difícil
de conceitualizar, o sinal mais evidente de um campo
expansivo, porque demonstra uma literatura que
parece propor para si funções extrínsecas ao próprio
campo disciplinar”. (GARRAMUÑO, 2014, p.36)

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“Nove Noites” (Bernardo Carvalho)

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● “O texto desfazia assim a distinção entre literatura e
realidade não só no sentido em que ficcionalizava
um fato efetivamente acontecido - […] - mas
sobretudo porque tornava indistinguíveis o real e o
fictício, desautorizando – ao suspender formas de
identificação de uma e de outra ordem – a
possibilidade de tal distinção.” (GARRAMUÑO, 2014,
p.37)

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● “A expansividade do campo deveria ser pensada
então como resultado de uma ‘fractalidade’ da obra
– para usar o conceito de Jean-Luc Nancy – que
anuncia o acesso aberto a uma presença.”
(GARRAMUÑO, 2014, p.39)

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Campo expansivo na poesia

“Margens”, de Carlito Azevedo

6. Vai ficar mais difícil estacionar carros


aqui na Judenplatz e não é bonito e eu teria
preferido que tivessem decidido usar aquela
solução anti-spray pois também não vou
gostar de ver pintarem suásticas sobre ele,
eu não gosto dele mas já que está aí eu
não quero ver suásticas sobre ele...
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8. Ele me perguntou: 'e se ela começa a gritar
muito alto você usa as mãos para cobrir
sua boca ou deixa que ela grite o quanto
tiver para gritar?' Depois ele me perguntou:
'E o que ela faz da vida?', e eu: Trabalha numa
editora alpina'. E ele: 'Ah, sim?'. E eu: 'Sim, sim.
Ela escreveu e publicou guias de montanha. Ela
editou uma revista alpina.'
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9. Rachel Whiteread
(ao ver seu monumento
finalmente inaugurado):
- Foram cinco anos de inferno.

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11. Con frecuencia, en artículos publicados en Ia prensa o en los
mismos intercambios de Ia calle, los vienenses cuestionaban
tanto Ia "oportunidad" como Ia misma "necesidad" de recordar
el Holocausto. Tras el estudio de los distintos proyectos, el jurado
selecciona Ia propuesta de Ia joven escultora británica Rachel
Whiteread. En el camino quedaban múltiples obstáculos: desde la
insistente oposición de la ultraderecha (ahora sumada a
Ia coaiición gobernante), hasta Ias mismas organizaciones de
sobrevivientes (insatisfechos con el diseño de Whiteread por
su contenido excesivamente "abstracto"). Ellos argumentaban
● que las víctimas del extermínio "no murieron en abstracto" .

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● “Invadido por falas recortadas que não se sabe muito
bem de onde, também nos ‘versos’ do poema
irrompem conversas, textos e vozes anônimas
marcadas pela impessoalidade que aparecem como
fragmentos de histórias que não chegam a
completar-se e que irrompem uma pulsão lírica e
narrativa”. (GARRAMUÑO, 2014, p.41)

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“Memorial do Holocausto”, Rachel
Whiteread

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● “É em meio a esse rastro urbano que configura e
desfaz percursos e paisagens e exercita travas que, se
não necessariamente de ordem dramática, sugerem
uma espécie de disputa no interior do poema entre
exigência da forma e um metódico ceticismo artesanal
que exercita modos diversos de testá-la e levá-la a
algum ponto de ruptura” (SÜSSEKIND apud
GARRAMUÑO, 2014, p.43)
● Tensão e instabilidade como consequências
fundamentais da literatura fora de si
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● “[…] essa ideia de zonas imaginadas e virtuais pode
abrigar um resto de amparo para imaginar
coletividades ou comunidades que são anteriores
e se contrapõem às autorizadas pelo nacionalismo
ou pelo capitalismo, e que podem encontrar nos
estudos comparados o espaço produtivo do qual
emergir, desmontando a restrita continuidade da
tradição nacional e a opressiva relação entre
literatura e território”. (GARRAMUÑO, 2014, pp.44-
45)
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“Texto em que o poeta medita sobre algumas escolhas estéticas
na companhia de Angélica Freitas
em Buenos Aires” (Ricardo Domeneck)

a pizarnikar
(a Cristian De Nápoli)
a leminskaria
hilstado a comparecer & perlonguei
à óbvia meus passos, girando
escolha y elección por calles muy concretas
entre o/el (ay, bacacay!)
cânon o thénon
pois não
não
logrei medrar
quis adular la aduana
claudicante el
a convencer
a fronteira receituário mágico
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que en el barro comenzen &
as metamorfoses quedei
de ojos de -me ali mesmo na
Rivadavia 4930
lynce, patas de
com o café frio
jabón digo ramón digo dragón (três cubos de açúcar
ou tigronas de gude no cálice a prova
(oh! orugas de la col) de que existo)
que me tele- sonhando
com a minha desova
trans-
completa
portas-
sem
a eras o países
imaginários
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● “Entre poetas de um e de outro país que se
entremesclam nos versos convertidos em palavras,
como se deles viesse a voz, a língua com que
escrever poesia (Hilst, Thenon, Perlongher, Leminski,
Pizarnik), essa literatura fora de si supõe, em grande
parte da literatura contemporânea, a imaginação de
novas comunidades”. (GARRAMUÑO, p.48)

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