Você está na página 1de 2

Thérèse Raquin – Émile Zola – Por

Gabriel Diniz

A literatura francesa pode ser considerada uma das melhores do mundo. No


século XIX isso não era diferente, pois nomes como Balzac, Flaubert e Émile Zola tiveram
um papel de destaque no período oitocentista, graças às suas produções literárias de extrema
qualidade.

Zola foi o fundador do movimento naturalista — alguns estudiosos consideram o


naturalismo como um ramo do movimento Realista —, estilo de época que tinha como meta
a explicação do comportamento humano por meio das teorias científicas em voga no século
XIX, tais como: o determinismo, o evolucionismo e positivismo.
A obra que deu início ao supracitado movimento foi Thérèse Raquin. O livro causou
polêmica em 1867. Um dos críticos, Ferragus, disse que “estabeleceu-se há alguns anos
uma escola monstruosa de romancistas, que pretende substituir a eloquência da carnagem
pela eloquência da carne, que apela para as curiosidades mais cirúrgicas, que reúne
pestíferos para nos fazer admirar as veias saltadas, que se inspira diretamente do cólera, seu
mestre, e que faz sair pus da conscIência. (…) Thérèse Raquin é o resíduo de todos esses
horrores publicados precedentemente. Nele, escorrem todo o sangue e todas as infâmias…”
A história centra-se basilarmente num caso de adultério que envolve três personagens,
Camille, Thérèse e Laurent. O primeiro é um jovem, que desde a tenra infância, sofria com
inúmeras doenças. Thérèse, por sua vez, adotada pela mãe do infante doente, a senhora
Raquin, é obrigada a compartilhar com Camille, mesmo sendo perfeitamente saudável, o
claustro do enfermo, uma vez que o garoto não podia se dar ao luxo, devido ao cuidado
excessivo da mãe, de ter uma infância fora dos domínios da residência.

Mesmo depois de tornar-se adulto, o jovem que ainda carrega no corpo uma saúde fraca, e
devido à intervenção da mãe, casa-se com Thérèse, para o desgosto da moça. Sendo assim,
com a economia de quarenta mil francos, mudam-se para Paris, num beco, onde abrem um
armarinho.
Camille torna-se funcionário da ferrovia. Nesse ínterim, a família conhece o ex-delegado de
polícia Michaud e sua esposa, um homem chamado Grivet e Laurent — estes trabalham na
ferrovia também —,  que se juntam aos Raquin todas as quintas-feiras para jogar dominó.

É nesse cenário que uma paixão avassaladora invade o sangue e a carne de Laurent e
Thérèse. Os dois iniciam um caso. Tomados pela paixão, decidem dar cabo em Camille, e
assim o fazem. Numa noite durante um passeio de barco pelo Sena, Laurent joga Camille no
rio, o rapaz que não sabia nadar se afoga. É a partir disso, que os melhores acontecimentos,
bem como a psicologia das personagens é melhor desenvolvidos.

O clima de morte permeia toda narrativa: a doença de Camille, o beco úmido e gélido onde
a família mora — local que se assemelha à uma sepultura —, as personagens que
frequentam o serão — que possuem a vida tão morta como a dum cadáver, o crime de
homicídio, a relação que se desenvolve entre Laurent e Thérèse — o casal se torna frio, não
consegue entregar-se ao desejo, a paixão deles também morre. A morte reflete-se até
mesmo na pintura Laurent, que sempre fora um fracasso. O seu sentimento de medo em
relação a Camille, faz com que ele pinte quadros excelentes. Vale destacar também uma
cena chocante, onde o narrador descreve magistralmente a visita do assassino a um
necrotério de Paris.

O narrador também deixa bem claro a diferença entre a compleição física de Laurent e
Camille, esses aspectos influenciam de forma acentuada o comportamento das personagens.
Laurent é um homem forte, mais esperto, mais apto, num primeiro momento, a viver na
capital francesa, na selva selvaggia, Já Camille, com um corpo frágil, não poderia nunca
impressionar Thérèse. Fica bem nítido que o narrador enxerga as personagens como
animais. Sendo assim, dentro duma ideia naturalista, Laurent o macho mais capaz consegue
roubar a fêmea do amigo.
Para aqueles que já leram Aluísio Azevedo, Júlio Ribeiro e outros naturalistas
brasileiros,Thérèse Raquin, de Émile Zola, é uma obra mais do que obrigatória. A dica de
leitura vale também para aqueles que gostam de um bom clássico da literatura francesa.

Você também pode gostar