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2ª edição

PESQUISA no
MUNDO REAL
David E. Gray
G778p Gray, David E.
Pesquisa no mundo real [recurso eletrônico] / David E. Gray
; tradução: Roberto Cataldo Costa ; revisão técnica: Dirceu da
Silva. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Penso, 2012.

Editado também como livro impresso em 2012.
ISBN 978-85-63899-29-3

1. Metodologia. 2. Métodos de pesquisa. I. Título.

CDU 001.891

Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052


5 Pesquisando, revisando
e usando a bibliografia

O B J E T I V O S D O C A P Í T U LO

Depois de ler este capítulo, você será capaz de:

ü Descrever o propósito e a importância de pesquisar a bibliografia.


ü Planejar o processo de pesquisa bibliográfica.
ü Identificar fontes apropriadas para a bibliografia.
ü Avaliar fontes.
ü Situar a revisão bibliográfica.

A menos que a pesquisa seja de natureza QUE FUNÇÃO CUMPRE


completamente indutiva, é provável que A BIBLIOGRAFIA?
você faça uma revisão bibliográfica ampla
no início de seu projeto. Como observa- Um pesquisador não pode realizar pesquisa
do no Capítulo 3, a revisão bibliográfica significativa sem antes entender a biblio-
demonstra as teorias, os argumentos e as grafia no campo de estudo (Boote e Beile,
polêmicas essenciais no campo e destaca 2005). Uma revisão bibliográfica abrangen-
as formas como a pesquisa na área foi rea­ te possibilita o que Shulman (1999) chama
lizada por outras pessoas. Fundamental- de “geratividade”, ou seja, a capacidade dos
mente, alguns dos propósitos da revisão pesquisadores de aprofundar o estudo dos
bibliográfica são identificar lacunas no que vieram antes. A geratividade ajuda a de-
conhecimento que merecem mais investi- senvolver a integridade e a sofisticação em
gação, questionar ideias atuais ou partir pesquisa. Isso, contudo, é mais fácil de gerar
de uma teoria aceita, mas aplicando a um quando houver uma comunidade de pesqui-
novo campo. Este capítulo examina o pro- sa estabelecida e um cânone de conhecimen-
cesso de planejamento da pesquisa biblio- to compartilhado (e metodologias aceitas). É
gráfica, os métodos para localizar fontes mais difícil de gerar em campos que ainda
de informação, além de acessar e geren- não estejam bem estabelecidos ou onde o co-
ciar o fluxo de informações. Tendo encon- nhecimento for fragmentado ou contestado.
trado a bibliografia relevante, uma etapa Uma das características de qualquer
importante é saber como revisar e avaliar projeto é que ele deve permitir que você de-
seu valor criticamente. Por fim, o capítulo monstre uma consciência crítica do conhe-
também oferece algumas orientações sobre cimento relevante no campo. Uma revisão
onde situar a revisão bibliográfica dentro bibliográfica abrangente é essencial porque
do trabalho acadêmico. cumpre uma série de propósitos, entre eles:
PESQUISA NO MUNDO REAL 85

ü Proporcionar um entendimento atua- fica”, estamos realmente discutindo duas


lizado do tema, sua importância e sua bibliografias. Uma delas, então, descreve o
estrutura. foco do estudo, mas outra bibliografia de
ü Identificar questões e temas importantes vital importância é aquela relacionada aos
que se apresentem para mais pesquisas, métodos de pesquisa. Isso significa que o ca-
particularmente onde houver lacunas no pítulo sobre metodologia, especificamente,
conhecimento atual. tem que tratar dessa bibliografia não ape-
ü Orientar o desenvolvimento de temas e nas discutindo quais desenhos de pesquisa,
perguntas de pesquisa. abordagens e ferramentas foram utilizadas,
ü Auxiliar futuros pesquisadores a entender
mas também as fontes acadêmicas que as
por que a pesquisa foi feita, seu desenho e descrevem e justificam.
sua direção, e ajudar outros a replicarem A revisão bibliográfica não é algo que
o processo de pesquisa. se termine no início do projeto e depois se
ü Apresentar os tipos de metodologias e
ponha de lado. É provável que continue
ferramentas de pesquisa usados em outros quase até a fase de escrita, principalmente
estudos, que possam guiar o desenho do considerando­‑se que sua própria pesquisa
estudo proposto. pode gerar novas questões e ideias que irá
querer investigar por meio da bibliografia.
O último aspecto acima demonstra Como vimos no Capítulo 2, se está adotando
que, quando falamos de “revisão bibliográ- uma abordagem dedutiva em seu estudo, a

Estudo de Caso 5.1


Usando a bibliografia para identificar métodos de pesquisa
O consumo de álcool por pessoas de 65 anos ou mais é uma preocupação cada
vez maior para médicos e outros profissionais da saúde. Mesmo que o consumo mé‑
dio per capita se mantenha estável, com o envelhecimento da população em termos
brutos, o problema irá piorar. A maioria das pesquisas de levantamento se concen‑
trou nos hábitos de consumo de álcool dos jovens, mas poucos trataram do problema
entre a população mais velha.
Sendo assim, um grupo de profissionais dos serviços de saúde realizou uma revi‑
são bibliográfica para encontrar os tipos de métodos que poderiam usar para identi‑
ficar idosos em risco de abusar do álcool. Ao realizar essa revisão, os profissionais da
saúde, antes de qualquer outra coisa, conversaram com um grupo de especialistas do
campo da medicina geriátrica e abuso do álcool e pediram uma lista de estudos que
estes considerassem significativos. A seguir, os profissionais que realizavam a revisão
examinaram esses estudos, bem como as referências que continham, e fizeram uma
busca em dois grandes bancos de dados bibliográficos na internet para ter certeza de
que não omitiram estudos vitais.
Essa revisão bibliográfica revelou que o estudo sobre os problemas dos idosos
com álcool não havia sido pesquisado o suficiente. A revisão mostrou que era neces‑
sário fazer mais pesquisa com vistas a identificar métodos para detecção de riscos
associados ao mau uso do álcool.
Fonte: Adaptado de Fink, 2005.
86 David E. Gray

revisão bibliográfica vai ajudá­‑lo a definir o tura pode levá­‑lo por caminhos imprevistos.
foco da pesquisa, incluindo metas, objeti- Isso é aceitável, desde que resulte em um
vos e, em alguns casos, hipóteses. Por outro tema coerente para sua pesquisa.
lado, se preferir uma abordagem mais indu- Outra possibilidade é seu tema parecer
tiva, pode começar com a coleta e a análise amplo demais (p. ex., marcas em marketing)
de dados, um processo que leva a perguntas e, na leitura, você conseguir focar em uma
a serem tratadas por meio de um envolvi- área específica do tema que seja possível im-
mento com a bibliografia. plementar (p. ex., fazer com que uma nova
imagem de marca seja aceita e promovida
por uma organização).
Planejar a pesquisa da bibliografia
Atividade 5.1 não é como subir em um trem e viajar de
Para seu próprio estudo, faça uma lista de A a B. Você pode ter uma intenção geral
especialistas no campo. Se não tiver certe‑ de chegar a B, mas talvez sua rota envolva
za de quem possam ser, identifique quais vários meios de transporte (fontes) e você
nomes aparecem com mais frequência na pode se encontrar viajando em direção la-
seção de referências de artigos acadêmicos teral ou, às vezes, para trás! Na verdade,
importantes. Mostre a lista a seu orienta‑ pode até decidir, depois de iniciada a jorna-
dor para uma avaliação. da, viajar em direção a C! Planejar, portan-
to, significa dirigir­‑se a um destino (mes-
mo que esse objetivo possa ser alterado) e
saber onde estão os meios de transporte e
A JORNADA DA horários de saída. Para modificar a analo-
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA gia de Hart (2001) sobre passar a rede e
fazer mineração, o processo de pesquisa é
No início, você pode ter apenas uma noção como passear (observar o entorno) e mon-
geral de seu tema de pesquisa (p. ex., gestão tar acampamento (parar para explorar em
de desempenho em uma organização, eficá- mais profundidade), como mostra a Figura
cia do ensino de capacidades mistas, atitudes 5.1. Observe que o processo de passear é
públicas diante da integração de pacientes uma jornada atrativa em torno da biblio-
esquizofrênicos à sociedade, etc.). Evidente- grafia, mas o ato de acampar envolve mais
mente, é neste ponto que inicia, mas sua lei- discriminação, sintetizando e analisando

Viajar Montar acampamento Viajar Montar acampamento Especificar e integrar

História do tema
Ampla Pesquisa Ampla busca Obras e autores fundamentais
busca dirigida a por literatura Debates e argumentos
por livros um foco Foco Pressupostos metodológicos
cinzenta
e artigos Teorias e conceitos
Conclusões
Críticas

Escolher possíveis Ler, analisar e Analisar e categorizar Integrar e


itens relevantes discriminar itens conteúdos sintetizar conteúdos

Figura 5.1

Viajar e montar acampamento para adquirir, analisar e sintetizar informações (adaptado de Hart, 2001).
PESQUISA NO MUNDO REAL 87

mais detalhadamente. Perto do fim da jor- Escolhendo os termos para a busca


nada de pesquisa bibliográfica, você estará
familiarizado com a história do tema, as Desde que as perguntas de pesquisa, ou, pelo
principais fontes e autores e as aborda- menos, seu foco, tenham sido claramente
gens metodológicas, teorias e descobertas. formulados, torna­‑se possível escolher os
Acima de tudo, conhecerá os problemas, termos de busca apropriados – geralmente
os debates, os argumentos e as incertezas por que eles estão contidos no próprio tema
dentro do território, e eles devem começar ou na pergunta de pesquisa. Considere­‑se,
a esclarecer suas próprias preocupações, por exemplo, a pergunta de pesquisa “Qual
objetivos e focos de pesquisa. a relação entre ter um mentor e o desen-
volvimento profissional de uma gestora?”.
Temos três conceitos: mentor,* mulheres
O PROCESSO DE gestoras e desenvolvimento profissional.
Esses termos, muitas vezes chamados de
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA identificadores, são as palavras­‑chave que
serão buscadas. Uma busca no banco de
A pesquisa bibliográfica é definida por Fink
dados bibliográfico EBSCO sobre o termo
como “um método sistemático, explícito e
“mentor” resultou em 5.924 referências,
reproduzível para identificar, avaliar e sinte-
claramente uma quantidade inadministrá-
tizar o corpo existente de trabalho completo
vel. Antes de inserir a expressão “desenvol-
e registrado, produzido por pesquisadores,
vimento profissional” (career development),
estudiosos e profissionais” (2005, p. 3). Para
verificou­‑se se ele está no glossário** do
conseguir isso, é necessário concentrar­‑se
site bibliográfico, descobrindo­‑se que sim.
em pesquisa de alta qualidade em vez de se
Uma busca com career development gerou
basear em interpretações de segunda mão.
uma quantidade ainda mais assustadora
Observe que os tipos de fontes que podem
de 6.607 referências. Mas, juntando­‑se os
ser usados são discutidos posteriormente
termos mentors e career development, surgi-
neste capítulo.
ram 327 referências, sugerindo artigos que
provavelmente têm mais relevância para
o estudo proposto. Acrescentando­‑se mais
Escolhendo o foco e as um termo, “mulheres” (women), reduz­‑se a
perguntas da pesquisa busca a meras 55 referências, e mudando
women para “gestoras” (women managers),
Ao identificar seu foco de pesquisa, já terá a apenas 4. Entretanto, estreitar a busca
sido desenvolvido um “ângulo” (como dis- tanto assim pode acarretar o risco de se
cutido na seção anterior), o qual se espe- perderem alguns estudos vitais. Nesse caso,
ra que sirva para definir e estreitar a área seria útil dar uma olhada, digamos, nas re-
temática. Depois disso, poderá decidir ferências a mentors/career development/
concentrar­‑se em um subtema mais do que women, já que esses estudos podem revelar
em outro. Se as perguntas serão formu- temas e questões que sejam relevantes para
ladas no início ou durante a pesquisa vai as gestoras, mas não tenham sido conside-
depender da atitude do pesquisador em radas pelo pesquisador.
relação a métodos indutivos ou dedutivos.
Claramente, a busca na bibliografia é fa-
cilitada se as perguntas de pesquisa esti-
verem formuladas, nem que seja apenas * N. de R.T.: O termo “mentor” refere­‑se a uma
porque proporcionam um foco e termos nova conduta de empresas. Usa­‑se uma pessoa
fundamentais para a realização da pesqui- mais velha e com experiências práticas para
sa. Em muitos casos, contudo, é mais do treinar novos funcionários.
que provável que conjuntos de perguntas ** N. de R.T.: Nas bases de dados o termo “glos-

coerentes fluam da revisão bibliográfica. sário” aparece como “thesaurus”.


88 David E. Gray

Já foram feitas muitas buscas usando capítulos escritos por autores diferentes.
operadores booleanos como AND, OR ou Tenha em mente que os livros­‑texto se
NOT. Sendo assim, no exemplo acima, fez­‑se tornam rapidamente datados, de forma
uma busca por mentors AND career develop‑ que é melhor usá­‑los em conjunto com
ment. Se é verdade que o foco principal deve outras fontes.
ser mentoring, mas não seu primo parente ü Artigos a serem apresentados em confe-
próximo, coaching, a busca poderia incluir o rências. Costumam conter as informações
operador NOT coaching em um dos campos. e os desdobramentos mais atualizados
O uso de operadores booleanos proporcio- em pesquisa. Lembre­‑se do Capítulo 3,
na muito mais controle sobre o processo de no qual se afirmou que o conhecimento
busca. Se o número de referências ainda for prático não está em livros, e sim nesse tipo
grande demais, alguns pesquisadores refinam de documento, em seminários e artigos
a busca usando os mesmos termos de busca acadêmicos não publicados.
em resumos, em vez de artigos completos.
Por outro lado, Hart (2001) aconse-
lha que o melhor início é sondar a seção
Sequenciando a busca de referências rápidas de uma biblioteca,
onde se podem encontrar fontes como
Não há ordem rígida na qual se tenha que guias à bibliografia, dicionários, listas e
situar as fontes. Creswell (2002), contudo, enciclopédias. Depois disso, o foco passa a
sugere que a seguinte ordem é útil: ser utilizar livros e bibliografias mais de-
talhadamente. É claro que há outras pos-
em publicações acadêmicas. * sibilidades! Tente mergulhar nas fontes de
ü Artigos referências e ver o que você considera mais
Mas concentre­‑se em publicações com
revisão por pares. Isso não quer dizer que compensador. Tendo concluído a pesquisa
sempre deva­‑se evitar, digamos, revistas bibliográfica, é importante conferir se ne-
profissionais ou periódicos, mas os artigos nhum artigo essencial foi deixado de lado.
de publicações acadêmicas confiáveis, Uma forma de fazê­‑lo é perguntando a um
com revisão por pares, contudo, têm especialista no tema ou examinando as se-
sua relevância, originalidade e validade ções de referências de um artigo ou fonte
controladas por outros pesquisadores bibliográfica fundamental, de alta qualida-
acadêmicos. Sendo assim, a qualidade e de. Nem sempre é necessário baixar da in-
a confiabilidade desses artigos, embora ternet ou imprimir esse artigo, pois o banco
não seja totalmente garantida, é mais de dados geralmente oferece uma lista de
provável. referências citadas por artigos.
ü Livros. Comece com monografias de pes-

quisa que sejam resumos da literatura
acadêmica sobre determinado tema. A
seguir, examine livros completos sobre
um único tema ou os que contenham
Dica Quente 5.1
Fazer uma pesquisa bibliográfica usando
* N. de R.T.: No Brasil as publicações em pe-
termos fundamentais pode ser frustrante,
principalmente quando ela dá pouco ou
riódicos acadêmicos têm as suas qualidades nenhum resultado relevante. Se isso acon‑
avaliadas pelo Qualis – CAPES. Para saber se tecer, verifique no glossário (thesaurus) do
uma revista tem qualidade, acesse a página da banco de dados se o termo é usado por
CAPES (www.capes.gov.br) e vá ao webQualis ele. A seguir, tente modificar os termos de
no menu “avaliação”. As revistas são classifica- sua busca. Se ainda assim não tiver sorte,
das com conceitos de A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 pode ser necessário inserir seus termos
e C, onde A é a revista de maior qualidade e a em outro banco de dados.
C de menor qualidade.
PESQUISA NO MUNDO REAL 89

Pesquisando fontes Artigos


Já examinamos o processo de pesquisa bi- Essencialmente, há dois tipos de artigos
bliográfica, inclusive a definição do foco ou científicos: os artigos acadêmicos escritos
perguntas de pesquisa e o estabelecimento em publicações com revisão por pares e
dos critérios de busca. Agora, exploraremos os artigos de publicações profissionais (os
uma ampla variedade de fontes potenciais quais geralmente não têm essa revisão).
de pesquisa. Elas não são apresentadas em Como se pode saber a diferença? Não há
qualquer ordem de prioridade específica, regras rígidas, mas as características típicas
embora, como acabamos de ver, Creswell dos artigos que passam por arbitragem de
(2002) sugere o uso de artigos acadêmicos especialistas incluem:
em primeiro lugar, seguidos de livros e de-
pois de artigos para conferências. Talvez o ü A publicação tem uma página com uma
melhor conselho seja ser flexível e, acima de lista de revisores, a maioria dos quais vem
tudo, persistente em suas buscas. O Quadro de universidades internacionais.
5.1 apresenta um breve panorama de algu- ü São apresentadas informações sobre como
mas das fontes. submeter um artigo para ser considerado

Quadro 5.1
Panorama das fontes bibliográficas

Fontes onde se publicam Fontes e organizações que Ferramentas para a pesquisa


pesquisas e informações oferecem publicações de trabalhos publicados e dados

Livros­‑texto Bibliotecas acadêmicas Catálogos e bibliotecas


Artigos Bibliotecas públicas* Índices temáticos
Teses Bibliotecas nacionais** Resumos por temas
Publicações governamentais Bibliotecas especializadas Bibliografias
Publicações legais e Arquivos de museus Enciclopédias
profissionais
Literatura comercial Coleções especiais Listas na internet
Artigos para conferências Partidos políticos Mecanismo de busca na internet
Monografias Organizações comerciais
Estatísticas Instituições
Internet

Fonte: Adaptado de Hart, 2001.

* N. de R.T.: Artigos científicos podem ser localizados nos serviços de base de dados ou nos sites
de revistas científicas brasileiras.
** N. de R.T.: No Brasil as dissertações e teses são publicadas nos sites dos programas de pós­

‑graduação.
90 David E. Gray

pela publicação; entre elas estarão os dos, com endereços de páginas e uma breve
tipos de campos acadêmicos nos quais a descrição de cada um. É claro que a escolha
publicação está interessada. entre todos os sites com bancos de dados
apresentados na tabela não é completamen-
Se você tem acesso apenas a um arti- te óbvia. Se estiver pesquisando, digamos, o
go em vez de uma publicação completa, sua impacto das novas tecnologias sobre o com-
qualidade geralmente ficará evidente pelo ri- portamento social dos jovens, faria buscas
gor acadêmico de seus conteúdos, incluindo em bancos de dados de tecnologia da infor-
sua descrição da metodologia e/ou conceitos mação ou de ciências sociais?
e o uso de linguagem formal, bem como o A resposta provavelmente é “ambos”,
número de fontes na seção de referências. pois cada um deles pode conter artigos re-
Artigos de publicações sem esse tipo de re- levantes, mas abordar a questão de perspec-
visão (como publicações e revistas profissio- tivas diferentes. O sucesso em localizar o(s)
nais) vêm com poucas referências, e quando artigo(s) certo(s) depende em grande parte
as têm, seu tom é mais informal. Ambos os do quão bem os termos de busca são espe-
tipos de artigos podem ser acessados por cificados e de sua própria determinação.
meio de bancos de dados bibliográficos e de Outro problema é que a mesma publicação
resumos. pode estar citada em 20 diferentes bancos
de dados, o que se complica ainda mais pelo
fato de que esses bancos de dados podem
Fazendo buscas em bancos
cobrir edições de datas diferentes. Sendo as-
de dados bibliográficos sim, não se pode depender de um único para
uma cobertura abrangente, o que se tem
Um banco de dados bibliográficos é uma fon-
é um “labirinto enredado” (Dochartaigh,­
te eletrônica (geralmente na internet) que
2007, p. 27). Hart (2001) sugere que é me-
oferece um índice de artigos e outros mate-
lhor fazer buscas nos índices multitemáticos
riais, além de resumos, citações e o próprio
e nos resumos em primeiro lugar, passando
artigo integral ou links pelos quais ele pode
depois aos resumos por temas específicos
ser acessado. A maioria das instituições aca-
(se houver).
dêmicas dá aos alunos acesso livre a uma
Alguns bancos de dados bibliográficos
série de bancos de dados desse tipo. Infeliz-
estão agora permitindo que seus conteúdos
mente, nenhum deles é suficiente para dar
sejam pesquisados por meio de algum me-
conta de todos os artigos ou materiais que
canismo de busca conhecido, como Yahoo
existem, de forma que geralmente é neces-
ou Google – principalmente o Google Scho-
sário usar mais de um banco para acessar
lar, com seu foco em artigos acadêmicos.
os artigos necessários. Há cinco principais
O Google Scholar é uma forma muito útil
fontes bibliográficas:
de realizar uma busca rápida sem ter que
aprender os mecanismos complexos dos
ü Bancos de dados bibliográficos na internet bancos de dados bibliográficos, mas não é
(como ERIC, EconLit, PsychINFO).
tão abrangente em sua cobertura quando
ü Bancos de dados bibliográficos privados

eles. Portanto, em certa medida, algumas
(como EMBASE, PubMed).
das distinções entre fazer pesquisas usando
ü Bancos de dados bibliográficos especia- um mecanismo de busca e usando um banco
lizados (como relatórios do governo,
coleções mantidas por organismos am- de dados bibliográficos estão acabando. Ob-
bientais, empresariais e jurídicos). serve que, se estiver acessando artigos por
meio de um banco de dados que sua institui-
ü Buscas manuais baseadas em referências ção assina, baixar o artigo desse site priva-
de artigos.
do será gratuito, mas, se sua instituição não
ü Uso de especialistas e autores.

tem uma assinatura e o banco de dados for
O Quadro 5.2 apresenta alguns exem- privado (comercial), geralmente terá que
plos de bancos de dados públicos e priva- pagar por cada artigo.
PESQUISA NO MUNDO REAL 91

Quadro 5.2
Exemplos de bancos de dados bibliográficos públicos e privados

Nome do banco de Endereço na


dados bibliográficos internet Comentários

Gerais
WorldCat www.worldcat.org O maior banco de dados bibliográficos do
mundo, que lista uma coleção de mais de 10 mil
bibliotecas. É possível localizar a biblioteca mais
próxima que tenha o livro do qual precise.
The British Library http://www.bl.uk/ Tem exemplares de todos os livros publicados na
Inglaterra e na Irlanda.
EBSCO http://www. Banco de dados que inclui uma ampla variedade de
ebscohost.com/ disciplinas, incluindo administração de empresas,
TI, história, mídia, ciências gerais, saúde e
medicina, direito e psicologia.
OVID http://www.ovid. Oferece links para uma ampla gama de bancos de
com/ dados, principalmente na pesquisa médica e de
saúde.
Web of Science http://scientific. Dá acesso a bancos de dados que cobrem cerca
thomson.com/ de 700 importantes publicações em ciências,
products/wos/ tecnologia, ciências sociais, artes e humanidades.
Zetoc http://zetoc.mimas. Oferece acesso à tabela de conteúdos da British
ac.uk/ Library para mais de 20 mil publicações e 16 mil
anais de conferências publicados por ano. O banco
de dados cobre desde 1993 até o presente.
CSA (formalmente, http://www.csa. Dá acesso a mais de 100 bancos de dados em
Cambridge Scientific com/ artes e humanidades, ciências naturais, ciências
Abstracts) sociais e tecnologia.
ScienceDirect http://www. Disponibiliza as publicações da Elsevier e de outras
sciencedirect.com/ editoras em textos completos. Cobre quase todas
as áreas do conhecimento.
Scopus http://www. Base de dados de resumos e de citações da
scopus.com/ literatura científica e de fontes de informação de
home.url nível acadêmico na internet.
Periódicos CAPES http://www. Serviço que reúne cerca de 90 bases de dados
periodicos.capes. nacionais e internacionais. O acesso é feito
gov.br apenas pelas instituições que mantenham
programas de pós­‑graduação (sobretudo
doutorado). Pode­‑se acessar nas bibliotecas de
universidades (sobretudo as públicas). Há
bancos de dados com acesso livre de qualquer
local.
Portal Domínio http://www. Apresenta um conjunto de textos completos de
Público dominiopublico. domínio público ou que foram cedidos pelos autores.
gov.br
(continua)
92 David E. Gray

Quadro 5.2
Exemplos de bancos de dados bibliográficos públicos e privados (continuação)

Nome do banco de Endereço na


dados bibliográficos internet Comentários

Gerais
SciELO Brasil http://www.scielo. Disponibiliza textos completos de periódicos
br brasileiros.
Ciências sociais
Educational http://www.eric. Contém registros de 1,2 milhões de artigos
Resources ed.gov/ indexados desde 1966, incluindo livros, artigos em
Information Center publicações acadêmicas e em conferências.
(ERIC)
Social Science http://ssrn.com/ Foco principal em economia, contabilidade, direito
Research Network mrn/index e administração.
Proquest http://search. Base de dados com artigos internacionais nas
ABI/INFORM proquest.com/ áreas de administração de empresas, economia,
GLOBAL business/index contabilidade, etc. Disponibiliza textos completos
e resumos.
Medicina
PubMed http://www.ncbi. Mecanismo de busca gratuito para acessar o banco
nlm.nih.gov/sites/ de dados PubMed de artigos sobre medicina,
entrez/ saúde e enfermagem. Contém mais de 16 milhões
de citações de MEDLINE e outros bancos de
dados de ciências da vida.
EMBASE (Excerpta http://www. Banco de dados biomédico e farmacológico
Medica Database) elsevier.com/ contendo mais de 11 milhões de registros desde
1974 até o presente, totalmente indexado e
cobrindo mais de 5 mil publicações biomédicas.

Na Internet 5.1 proporcionam informações sobre citações,


como autor, título do artigo, nome, ano e
Dê uma olhada no Google Scholar em: local da publicação. Os serviços de resumos,
http://scholar.google.com.br todavia, também dão uma breve síntese da-
Observe que, assim como a maioria quilo de que trata o artigo, o que pode ser
dos mecanismos de busca pela internet, é útil. Como os serviços de indexação não con-
possível fazer uma busca avançada, o que sideram se a publicação oferece artigos em
lhe dá mais controle sobre o que está pro- texto integral ou não, são muito mais abra-
curando. gentes em cobertura do que os serviços de
texto integral. Entretanto, muitos serviços
de resumos também estão oferecendo links
Bancos de dados para textos completos de artigos, de forma
com indexação e resumos que a distinção entre serviços de resumos e
texto completo está acabando. Um banco de
Os artigos podem ser acessados usando uma dados de citações é o ISI Web of Science,
ferramenta de indexação ou de resumo. Elas que fornece informações sobre quem está
PESQUISA NO MUNDO REAL 93

acessar bibliotecas de todo o mundo. Por


Dica Quente 5.2 exemplo, dê uma olhada nos catálogos pú-
blicos da BUBL Link e localize os catálogos
Se tiver dificuldades para encontrar o públicos de seu país em: http://link.bubl.
texto completo de um artigo, faça uma ac.uk/libraryopacs/.
busca no Google (www.google.com) ou Quando estiver dando uma olhada em
use outros mecanismos de busca para uma biblioteca ou livraria, uma boa maneira
encontrar um link para o site do autor. de decidir se vale a pena comprar ou retirar
Pode ser que encontre não apenas o ar‑ um livro é examinar algumas característi-
tigo, mas outros exemplos, mais recen‑ cas, incluindo:
tes, de trabalhos do mesmo autor que
não conhecia.
ü Título e subtítulo – são relevantes?
ü Prefácio – inclui sua área temática ou,
pelo menos, algum elemento dela, e está
citando quem entre os estudiosos acadêmi- no mesmo nível?
cos. É possível, portanto, ver o quanto um ü Lista de conteúdos – oferece material

determinado artigo se tornou importante sobre seu tema?
vendo quantas vezes ele foi citado na seção ü Editora – a organização é respeitada por
de referências de outros artigos. Também publicar textos de boa qualidade no seu
fornece um mecanismo de auditoria por campo?
meio de debates acadêmicos de longo prazo ü Bibliografia – ela existe, e as referências
por meio de referências que os acadêmicos parecem conhecidas, no nível adequado
estão fazendo a trabalhos anteriores. e sobre o tópico em questão?

Livrarias na internet
Na Internet 5.2
São um importante complemento a catálogos
Dê uma olhada nos seguintes sites: de bibliotecas, por oferecer, com frequência,
O site ISI Web of Science, em http:// descrições detalhadas dos livros, incluindo
apps.isiknowledge.com, o qual oferece um seus conteúdos e até algumas amostras de
índice de citações para ciências sociais, artes páginas. A Amazon, por exemplo, apresen-
e humanidades. ta avaliações de outros leitores, bem como
Veja também ComAbstracts, em http:// “Clientes que compraram este livro também
www.cios.org/, o qual trata de resumos de compraram...”, oferecendo, pelo menos em
artigos, livros e materiais da internet sobre potencial, um guia para fontes que você não
comunicação. conhece.

Livros Na Internet 5.3


Bibliotecas Veja www.amazon.com ou www.amazon.
co.uk. Repare que o site amazon.com é mais
Uma das principais fontes para se locali- abrangente.
zarem livros relevantes são os catálogos
públicos na internet (Online Public Access
Catalogue, OPAC) de bibliotecas. Geralmen- Teses e dissertações
te, podem­‑se fazer buscas por tema, autor,
título e palavras­‑chave. Também costumam Os pesquisadores costumam verificar se o
oferecer acesso a outros catálogos na inter- estudo que estão por começar já foi feito
net e portais. Usando a internet, é possível antes, e uma primeira parada é a biblio-
94 David E. Gray

teca de sua própria instituição, para ver o Encyclopaedia of the Social and Behavioural
que foi pesquisado e publicado em teses e Sciences, são particularmente úteis.
dissertações. Depois disso, você pode entrar
na internet e usar o site Index to Theses.*
Se conseguir, por exemplo, localizar uma Artigos apresentados em
tese sobre um tema relacionado ao seu, terá eventos científicos (congressos,
acesso a uma lista ampla de referências no
final da tese. simpósios, encontros, etc.)
Os anais de eventos científicos (documentos
fornecidos em um evento e publicados pos-
Literatura cinzenta (grey literature) teriormente) são uma valiosa fonte sobre
discussões contemporâneas no campo. Uma
É o tipo de material, publicado ou não, que desvantagem de utilizar esse tipo de fon-
não pode ser identificado por métodos bi- te é que, embora artigos apresentados em
bliográficos comuns. Um exemplo crescen- eventos científicos geralmente tenham revi-
te e importante neste caso são os sites, mas são por pares, isso raramente é feito com o
essa bibliografia também inclui teses e dis- mesmo nível de rigor das publicações acadê-
sertações (como acima), reportagens de jor- micas. Esses também representam, muitas
nais e revistas, editoriais, materiais produzi- vezes, trabalhos que estão em andamento e
dos por empresas e publicações, relatórios e não conclusões finais e definitivas. Não obs-
publicações de clubes e sociedades. Muitos tante, os pesquisadores podem encontrar
desses podem ser acessados por meio de bi- neles boas fontes de novas ideias.
bliotecas e sites de associações profissionais
e empresas.­
Na Internet 5.5
Na Internet 5.4 O site Scopus apresenta anais de 500 even-
tos científicos sobre as ciências da vida, da
Veja a Grey Literature Network Service em: saúde, físicas e sociais: http://www.scopus.
http://www.greynet.org/ com/scopus/home.url
O site fornece links para vários outros Você também pode receber avisos por
sites desse tipo de bibliografia, bem como e­‑mail sobre conferências que vão acontecer
arquivos sobre a literatura cinzenta como em sua área temática. Para isso, veja: http://
tema. www.conferencealerts.com/
Isso não apenas vai possibilitar que você
identifique um evento científico do qual de-
Fontes de referência seja participar (ou apresentar um trabalho),
mas alguns desses sites oferecem links para
Quando você é novo em um tema, é melhor os anais de eventos dos anos anteriores.
ter uma ideia real dos principais debates,
autores e fontes. As fontes de referência,
como dicionários e enciclopédias, costumam Publicações, estatísticas
ser um bom lugar para começar. Enciclopé- e arquivos oficiais
dias especializadas, como a International
Eles podem ser de muito valor para o pesqui-
sador, mas isso vai depender, é claro, de até
onde o governo coleta esse tipo de dados, e
* N.de R.T.: Além do Banco de Teses da CAPES o nível de acesso oferecido ao público. Entre
(ver o Quadro 5.2), as universidades brasileiras o tipo de material que está disponível, uma
disponibilizam as dissertações e teses dos seus quantidade cada vez maior está chegando à
programas de pós­‑graduação nos seus sites. internet.
PESQUISA NO MUNDO REAL 95

Na Internet 5.6 Wikipédia

Dê uma olhada nos portais multitemáticos Obviamente, nenhuma discussão sobre fon-
que oferecem fontes para estatísticas e links tes de referência estaria completa sem men-
para arquivos de dados. cionar a Wikipédia. Embora venha sendo cri-
As fontes estatísticas do Reino Unido ticada justamente porque os verbetes podem
podem ser encontradas em: ser editados por leitores com suas próprias
http://www.statistics.gov.uk/ inclinações ou agendas, esse enorme recurso
Estatísticas da Comissão Europeia po- da internet geralmente oferece um introdu-
dem ser vistas em: ção bastante útil a um tema. Também indica
http://www.europa.eu.int/comm/eurostat/ fontes importantes, incluindo sites. Explore a
Uma fonte de arquivos de dados pode Wikipédia em: http://www.wikipedia.org/
ser encontrada em:
http://assda.anu.edu.au/ e http://www.psr.
Acesso a listas de leitura
keele.ac.uk/data.htm
Uma fonte de estatísticas brasileiras Principalmente se for novato em um tema e
pode ser encontrada em: simplesmente não sabe por onde começar,
www.ibge.gov.br experimente usar a bibliografia de uma dis-
ciplina que o vincule à sua área temática.
Pode ser uma disciplina em sua instituição.
Recursos na internet Hoje, contudo, milhares de programas de
disciplinas são colocados na internet e cos-
tumam ser um lugar útil para começar a en-
Mecanismos de busca
contrar bibliografias abrangentes.
Dochartaigh (2007) recomenda que os pes-
quisadores façam buscas na bibliografia
acadêmica antes de utilizar mecanismos de Na Internet 5.7
busca, porque estes podem oferecer um con-
junto de fontes muito diversificadas e dis- Dê uma olhada em alguns dos milhões de
persas, que pode ser difícil de avaliar. Olhar programas em: http://chnm.gmu.edu/to-
a bibliografia lhe dará, em primeiro lugar, ols/syllabi/index.php
um entendimento crítico maior de seu con- O site oferece um mecanismo de busca
texto e o que vale a pena usar. Os “quatro para temas específicos, além de uma ampla
grandes” mecanismos de busca são: gama de outras ferramentas, como Survey
Builder, o qual lhe permite criar pesquisas
de levantamento pela internet.
ü www.google.com
ü www.yahoo.com
ü www.Ask.com Páginas de editoras
ü www.MSNSearch.com Algumas editoras estão começando a ofere-
cer recursos em suas páginas na internet. A
Embora o Google atualmente tenha a Sage, por exemplo, tem uma página muito
maior fatia de mercado em termos de uso, útil, dedicada a artigos e outras fontes sobre
não se deve perder de vista que todos os métodos de pesquisa, todos gratuitos. Veja
mecanismos de busca funcionam com crité- http://www.methodology.co.uk/
rios um pouco diferenciados. Isso significa
que todos provavelmente darão resultados
semelhantes em termos gerais, mas também Redes sociais e outras
alguns diferentes. Sendo assim, vale a pena
utilizar mais de um desses mecanismos de Até agora, tratamos da obtenção de in-
busca ao procurar artigos ou dados. formações em bibliotecas e outras fontes.
96 David E. Gray

Nesta parte, examinamos como os pesqui- qualquer tema de pesquisa que lhe interes-
sadores podem ser tornar mais proativos, se. Veja http://groups.google.com/ usando
comunicando­‑se com indivíduos, organiza- os Grupos do Google, você também pode
ções e por meio de redes sociais. criar sua própria página (p. ex., sobre seu
tema de pesquisa) e atrair membros (cole-
gas pesquisadores ou respondentes).
Usando listas de correio Uma das listas mais populares é JISC-
eletrônico e Usenet mail (o serviço Joint Academic Mailing List).
Pode­‑se pesquisar um tema por categoria (p.
Hoje, muitos debates e discussões entre aca- ex., estudos sociais, humanidades, estudos
dêmicos e estudiosos acontecem pela inter- empresariais e computação) a qual vai lhe
net, por meio de grupos informais usando vá- dar uma lista de todas as listas naquela cate-
rias ferramentas de comunicação pela rede. goria. Uma busca por business studies reve-
Um dos benefícios de usar esse tipo de co- lou temas como “Total quality”, “Marketing”
munidade virtual é ter acesso ao pensamen- e “Finance”, cada um deles contendo cerca
to e às ideias atualizados em seu campo de de 20 listas separadas. “Tourism”, por exem-
interesse. Há vários tipos de listas de e­‑mails, plo, continha 22 listas para áreas como “He-
muitas delas administradas por acadêmicos ritage”, “Hospitality industries” e “Maritime
e cobrindo uma gama enorme de temas. A Leisure Research”. Ao entrar para uma lista,
maioria dessas listas não tem moderação, ou você vai começar a receber e­‑mails de outros
seja, o proprietário não revisa todas as pos- membros (dirigidos, é claro, não apenas a
tagens antes de permitir que elas entrem na você, mas a todos os membros). Eles podem
página. Entretanto, há um padrão básico de incluir perguntas, solicitações e recomenda-
etiqueta (netiqueta) a qual os membros de- ções ou ajuda, ou ainda informações úteis
vem aderir: evitar postagens que possam ser sobre oficinas, seminários e conferências
ofensivas ou agressivas a outros membros ou que estejam por acontecer. Veja o JISCmail
à comunidade fora da página. em: http://www.jiscmail.ac.uk/index.htm
O Usenet (abreviatura de user net­work)
é um sistema de internet em que os usuários
postam mensagens a outros usuários do gru- Entrando para
po. Essas mensagens são “threaded”, ou seja, associações profissionais
ligadas por um fio, onde um tema é postado
por um usuário, ao qual os outros podem Você pode entrar para associações profis-
responder. Uma das vantagens do Usenet é sionais relacionadas à sua área, muitas das
que os membros têm que ir ao site para ex- quais têm sua própria publicação e realizam
plorar as discussões, não sendo automatica- conferências e seminários. Algumas inclusi-
mente inundados com e­‑mails. Infelizmente, ve têm suas bibliotecas, as quais podem ser
como apontam Anderson e Kanuka (2003), fontes ricas de material no campo. Geral-
muitos grupos de Usenet têm sofrido com mente você pode ter acesso a uma associa-
ataques de spams, ou seja, mensagens não ção por meio de sua página na internet.
solicitadas de natureza comercial, religiosa
ou política, o que tem levado alguns acadê-
Usando organizações
micos a transferir suas discussões para listas
privadas ou públicas de correio eletrônico. Não se esqueça de que você pode fazer uso
de organizações como importantes fontes
de dados, principalmente se elas forem o
Na Internet 5.8 foco de sua pesquisa, por exemplo, se as
estiver usando como estudos de caso. Mas
Dê uma olhada no Google Grupos, um dos observe que a literatura acadêmica deve
arquivos de Usenet mais abrangentes, onde sustentar os elementos teóricos do projeto.
você pode fazer buscas por discussões sobre Usar a literatura cinzenta (grey literature),
PESQUISA NO MUNDO REAL 97

como do­cumentos institucionais ou empre- mais em seu campo de interesse ou se estão


sariais, é válido para dar informações gerais escrevendo alguma coisa nova no momento.
e detalhes de apoio, mas ela não deve estar Você pode ter a sorte de receber cópias de
no centro do argumento ou análise teórico. artigos, versões de trabalhos em andamento
Outra fonte importante de informação orga- ou, pelo menos, novas referências. Por outro
nizacional é a página de uma organização lado, os autores podem estar ocupados de-
na internet. Infelizmente, é claro, essas pá- mais para lhe responder, então, se não rece-
ginas mudam com muita frequência. Porém ber reposta, não fique decepcionado!
nem tudo está perdido, você pode acom-
panhar as mudanças que ocorreram com o
passar do tempo usando o Internet Archive
­(acesse: http://www.archive.org/web), que Atividade 5.2
tem um problema: os usuários dos domínios Compare as ações de Kate no Estudo de
da internet podem bloquear o acesso públi- Caso 5.2 com o conjunto potencial de fon‑
co a materiais (Dochartaigh, 2007). tes discutido na seção “Pesquisando fon‑
tes”. Há passos importantes que ela pode
ter saltado?
Usando autores
Se você teve uma boa impressão do trabalho
de um determinado autor, por que não en-
trar em contato com ele? Hoje, muitas pesso- O PROCESSO DE
as são bastante fáceis de localizar por meio AVALIAÇÃO DAS FONTES
da página de suas organizações na internet
– principalmente se forem acadêmicos. Você Já exploramos formas de avaliar um con-
pode lhes perguntar se elas publicaram algo junto bastante amplo de artigos, livros e

Estudo de Caso 5.2


Uma ilustração do processo de busca na bibliografIA
Kate trabalha em uma escola especial, para crianças com autismo grave. Dois anos
atrás, ela se matriculou em um mestrado de uma universidade local e agora está es‑
crevendo sua dissertação. Previsivelmente, seu tema será o autismo em crianças e ela
está particularmente interessada em por que o fenômeno parece estar aumentando,
principalmente em meninos, e quais estratégias de ensino são mais adequadas para
ajudá­‑los. Ao fazer sua revisão bibliográfica, ela começa com o banco de dados OPAC
na biblioteca de sua universidade. O uso das palavras “autism in children” (autismo em
crianças) gera 77 resultados. Ela se concentra em livros publicados depois de 2000,
escolhendo Addressing the challenging behaviour of children with high functioning autism,
de Rebecca Moye (2006), e Autism: explaining the enigma, de Uta Frith (2003).
A seguir, faz buscas em Amazon.com, mas descobre que muitas publicações são
do tipo “autoajuda para os pais”, e ela está procurando um foco mais acadêmico e
profissional. Contudo, ela encontra uma publicação do National Research Council
chamada Educating children with autism e está confiante que vale a pena comprar
esse livro, porque o site Amazon dá uma descrição detalhada e há nove avaliações
altamente positivas, incluindo uma que declara que é “leitura essencial!”.
Kate recorre agora a uma fonte de artigos acadêmicos e, mais uma vez, faz uma
busca no OPAC inserindo a palavra “autism” em Periodicals. Ela fica feliz ao desco‑
(continua)
98 David E. Gray

brir que há um Journal of Autism and Developmental Disorders na biblioteca, localiza­‑o e


pesquisa as edições de 2000 até a atual, encontrando seis artigos que parecem muito
relevantes a seus interesses. Ao ler os artigos na semana seguinte, ela nota que vários
autores e estudos são citados com frequência e decide que precisa localizá­‑los e lê­‑los.
Para a próxima etapa, ela pesquisa no banco de dados bibliográficos de psicologia
na internet oferecido por sua universidade, usando os termos “autismo” e “crianças”,
com um resultado enorme: 2.804. Kate acrescenta um terceiro termo, “ensino”, que
dá um total administrável, de 174. Ela passa as duas horas seguintes olhando a descri‑
ção de cada artigo e acrescentando os que são necessários à opção “pasta” que existe
no site. No final da busca, ela vê o conteúdo da pasta. Alguns dos arquivos estão em
PDF com o texto completo, e ela os imprime imediatamente. Outros, ela tem de
pedir por intermédio da biblioteca. A seguir, pesquisa na Wikipédia, que oferece um
artigo extenso, no final do qual há 120 referências, muitas oferecendo indicações a
artigos em publicações impressas ou na internet.
Por fim, Kate insere o termo “conferências sobre autismo” e encontra um con‑
junto muito grande de eventos em todo o mundo. Ela nota que muitos dos palestran‑
tes correspondem aos nomes que ela encontrou em suas pesquisas bibliográficas.
Três meses depois, Kate participa de uma conferência sobre autismo e descobre que
consegue falar não apenas com professores do tema, mas com profissionais como ela,
que estão fazendo pesquisa. Isso é muito útil, pois ela nota que muitos dos problemas
e desafios que está enfrentando na pesquisa são vivenciados por todas as pessoas que
ela encontra! Kate consegue ter uma discussão com vários dos principais palestrantes,
alguns dos quais são pesquisadores acadêmicos da área. Por meio dessas conversa‑
ções, ela consegue “experimentar” algumas das ideias preliminares que tem sobre
seu possível foco de pesquisa e recebe opiniões desses experientes pesquisadores.
Kate percebe que sua busca bibliográfica e as interações com colegas pesquisadores lhe
deram oportunidade de definir e dar algum foco a seu próprio projeto de pesquisa.

outras fontes. Mas, como sabemos se vale A segunda etapa de seleção examina
a pena usá­‑los? É neste ponto que o uso a qualidade metodológica das fontes, anali-
de técnicas consistentes de avaliação se sando até onde o estudo foi bem desenhado
torna essencial. Há basicamente dois pas- e implementado para atingir seus objetivos.
sos neste processo: o primeiro é estabelecer Hart (1998) alerta para o fato de que, ao
um conjunto de critérios de seleção, o que avaliar um estudo, o pesquisador necessita
irá estreitar consideravelmente a busca; o conhecer a tradição metodológica da qual
passo seguinte é ler resumos de artigos e ele emana, mesmo que não simpatize com
avaliar seu valor. ela. Por exemplo, não é suficiente criticar
um estudo quase­‑experimental por assumir
uma abordagem quantitativa à coleta de da-
Formulando critérios dos, pois é isso que se espera. Um argumen-
to mais válido seria o de que o desenho de
práticos de seleção pesquisa não era adequado aos seus objeti-
vos, ou de que as afirmações feitas para o
Fink (2005) recomenda que isso seja feito
em duas etapas de seleção. A primeira sele-
ção é prática, definindo, incluindo e, em al-
guns casos, excluindo critérios. O Quadro 5.3 *N. de R.T.: Mentoring é a técnica de se usar
apresenta um resumo desses critérios, para o um mentor para treinar um funcionário em uma
estudo sobre mentoring* discutido na p. 87. nova função, em uma empresa.
PESQUISA NO MUNDO REAL 99

estudo foram insuficientemente sustentadas fonte mais de uma vez, principalmente se


pelos dados ou pela análise. seu valor ou sua utilidade não ficar clara na
primeira vez.
Operacionalizar as questões listadas
Fazendo julgamentos avaliativos acima significa usar conjuntos de ferramen-
tas para analisar e avaliar a bibliografia. Isso
Se for fazer uma revisão bibliográfica como implica desenvolver um conjunto complexo
único pesquisador, você precisará desenvol-
ver os tipos de critérios descritos no Quadro
5.3 e os aplicar a artigos ou fontes que este- Atividade 5.3
jam sendo revisados. Contudo, é necessário
Para saber até onde as avaliações são es‑
ir além da aplicação de critérios de seleção
táveis com o passar do tempo, revise uma
e chegar a fazer julgamentos de valor sobre
pequena amostra de artigos, decidindo
o que constitui uma fonte autêntica e o que quais são de “alta qualidade” para ser in‑
não (ver o Quadro 5.4). cluídos e quais não são. Retorne aos mes‑
Mesmo quando se aplica o tipo de mé- mos artigos mais tarde, digamos, depois de
todos de avaliação sugeridos no Quadro 5.4, duas semanas e faça o mesmo exercício.
vale a pena observar que a avaliação feita Suas avaliações foram as mesmas em ter‑
por uma pessoa pode mudar de um dia para mos gerais? Você incluiu ou excluiu artigos
o outro, como pode demonstrar a Ativida- pelas mesmas razões?
de 5.3. Portanto, vale a pena examinar uma

Quadro 5.3
Exemplos de critérios de seleção para um estudo sobre a atividade
de mentoring com mulheres gestoras em organizações

Critérios Exemplos (opção)

Idioma da publicação Inclui apenas estudos em inglês.


Publicação Inclui publicações sobre recursos humanos e estudos organizacionais
publicados no Reino Unido ou nos Estados Unidos. Exclui publicações
de Psicologia.
Autor Inclui todos os artigos de Kathy Kram.
Contexto Inclui todos os estudos que acontecem dentro de organizações.
Exclui estudos em contextos sociais ou comunidades locais.
Participantes ou sujeitos Inclui mulheres gestoras e homens gestores.
Desenho de pesquisa Inclui estudos que utilizem desenhos experimentais com
grupos­‑controle.
Amostragem Inclui somente estudos que usem amostras aleatórias.
Data da publicação Inclui apenas estudos publicados a partir de 2000.
Conteúdo Inclui somente estudos dirigidos a atividade de mentoring de mulheres;
(temas, variáveis) exclui estudos sobre mentoring de homens. Exclui estudos sobre
coaching.

Fonte: Adaptado de Fink, 2005.


100 David E. Gray

Quadro 5.4
Avaliando a qualidade das fontes

Conceito de qualidade Perguntas a serem feitas sobre a fonte

Autoridade Emana de um indivíduo desconhecido ou de uma instituição, como


uma universidade, governo ou órgão público?
Se a fonte for indivíduos, é possível conectar suas páginas na
internet* e verificar o que mais publicaram e com qual editora?
Publicaram em revistas de alta qualidade, com arbitragem por
especialistas?
Precisão A fonte é de uma publicação com revisão por pares (caso em que
terá sido revisada por especialistas no tema antes de ser aceita para
publicação)?
A fonte faz referência a outras fontes ou textos bastante conhecidos?
Se é um site, quando foi atualizado pela última vez?
Viés e objetividade A linguagem é calma e lógica, ou agressiva e estridente?
Apresenta pontos de vista opostos para oferecer uma ideia de
equilíbrio?
Oferece referências a fontes sem viés?
Como se trata a validade?
Como se lidam com as questões éticas?
Cobertura A fonte vem de um site “boutique”, ou seja, um site altamente
especializado e que carece de amplitude?

Fonte: Adaptado de Anderson e Kanuka, 2003, e Hart, 1998.

de habilidades, adquiridas com a prática. semelhante? Qual é a confiabilidade do pro-


O Quadro 5.5 dá uma breve descrição dos cesso? Uma forma útil de calcular isso é apli-
tipos de atividades envolvidos. Note que é car a estatística Kappa, que compara o nível
hierárquica, com habilidades de ordem su- de acordo entre duas pessoas em relação ao
perior acima. Se estiver realizando a revisão que pode ser predito apenas pelo acaso. O
como membro de uma equipe de pesquisa, próprio escore Kappa vai de +1 (acordo to-
entra em cena a questão da confiabilidade tal) a 0 (nenhum acordo acima do que seria
de medidas entre avaliadores. Tomemos predito pelo acaso) a −1 (desacordo total) e
um exemplo de dois pesquisadores que te- se calcula da seguinte forma:
nham, ambos, que concordar sobre artigos
que serão incluídos na revisão bibliográfica, 0 – C (Acordo além do acaso)
K=
e quais devem ser excluídos. 1 – C (Acordo possível

Inicialmente, eles terão que concordar além do acaso)
com um conjunto de critérios de seleção
semelhantes aos do Quadro 5.3. A etapa Segundo Fink (2005), uma revisão bi-
seguinte é realizar a revisão propriamente bliográfica deve visar um escore Kappa en-
dita. No entanto, como saber se os pesquisa- tre 0,6 e 1,0. Os escores de 0,0 a 0,2 são
dores estão aplicando os critérios de forma considerados fracos; 0,2 a 0,4 = razoáveis;

*N. de R.T.: Para verificar a qualidade acadêmica de pesquisadores brasileiros, pode-se acessar o
Currículo Lattes deles. Vá ao site do CNPq (www.cnpq.br) e acesse o link para o Currículo Lattes.
PESQUISA NO MUNDO REAL 101

Quadro 5.5
Habilidades para uma relação crítica com a bibliografia

Habilidade Ações Descrição

Análise Selecionar, Dissecar dados em suas partes constituintes, para


diferenciar, romper determinar a relação entre elas.
Síntese Integrar, combinar, Redispor os elementos derivados da análise para
formular, reorganizar identificar relações.
Compreensão Entender, distinguir, Interpretar e distinguir diferentes tipos de dados,
explicar teoria e argumento para descrever a substância de
uma ideia.
Conhecimento Definir, classificar, Descrever os princípios, usos e funções das regras,
descrever, nomear métodos e eventos.
Fonte: Adaptado de Hart, 1998.

0,4 a 0,6 = moderados; 0,6 a 0,8 = substan- Gerenciando A INFORMAÇÃO


ciais; 0,8 a 1,0 = quase perfeitos.
Suponha que dois revisores estejam É muito fácil ser entusiástico e motivado
realizando uma revisão bibliográfica sobre a para pesquisar a bibliografia e descuidado
pergunta de pesquisa: “Qual a relação entre ao armazenar suas conclusões. Sem uma
ter um mentor e o desenvolvimento profis- forma precisa, constante e pesquisável de
sional de uma gestora?” e estejam avaliando armazenar seus dados da pesquisa biblio-
se os estudos examinados expressam conclu- gráfica, seus esforços não terão a compen-
sões positivas ou negativas sobre o impacto sação que merecem. O segredo é manter um
de mentoring. A Tabela 5.1 ilustra o número diário de pesquisa, podendo ser em papel
de artigos que cada revisor (atuando de for- ou em um arquivo de computador – o que
ma independente) considera como positivo lhe fizer sentir mais confortável. O diário de
ou negativo. A seguir, o escore Kappa calcu- pesquisa poderia conter seções sobre:
la até onde esses conjuntos de escores estão
de acordo. ü Parâmetros de busca – informações de
seu principal foco temático e as palavras­
Atividade 5.4 ‑chave que o descrevem.
ü Diários de busca – informações sobre o
Para calcular um escore Kappa para esses que você pesquisou, quando, como e com
dados (Tabela 5.1), insira os números na que resultados.
calculadora do valor Kappa em: http://www.
dmi.columbia.edu/homepages/chuangi/
ü Informações de contato de pessoas, orga-

nizações, newsgroups na internet, grupos
kappa/.* Que escore resulta? O resultado de discussão, etc.
é leve, regular, moderado, substancial ou
quase perfeito? ü Empréstimo de material de bibliotecas,
incluindo o que você solicitou e quando.
Sugestão de resposta é apresentada ao fi‑ ü Fontes em CD­‑ROM e na internet.
nal do capítulo. ü Bibliografia.
Manter uma bibliografia precisa e
* N. de R.T.: Outra opção de calculadora do valor pesquisável é importante por uma série de
Kappa está disponível no site http://faculty. razões. Em primeiro lugar, significa que, no
vassar.edu/lowry/kappa.html final de seu projeto de pesquisa, terá um re-
102 David E. Gray

Tabela 5.1
Avaliações positivas e negativas por parte de dois revisores sobre um conjunto de artigos

Revisor 2
Revisor 1 Negativo Positivo Total
Negativo 11 8 19
Positivo 9 28 37
Total 20 36

gistro bibliográfico que pode ser impresso. Sintetizando os


Em segundo, mantendo um registro pes- resultados de buscas
quisável, poderá localizar todas as suas re-
ferências sobre questões específicas (temas,
autores, datas de publicação, etc.) quando A etapa final do processo de revisão biblio-
estiver escrevendo o relatório de sua pesqui- gráfica é juntar os resultados, dando uma
sa. Isso é muito mais fácil de fazer se você resposta a algumas perguntas originais e que
tiver registros computadorizados. Há vá- podem incluir áreas onde o atual estado do
rios programas bibliográficos no mercado, conhecimento é fraco. Tomando nosso exem-
os quais lhe permitem armazenar registros plo de mentoring de gestoras e seu desenvol-
em um banco de dados, criar bibliografias e vimento profissional, a revisão bibliográfica
mesmo realizar buscas na internet em ban- pode tratar de respostas a pelo menos as se-
cos de dados na internet e em rede. guintes perguntas:

ü Como se define mentoring e como difere


Na Internet 5.9 de outras intervenções, como treinamento
(coaching) ou aconselhamento (coun‑
Você pode baixar versões para teste de progra- selling)?
mas bibliográficos do site Adeptscience em:
ü O quanto a atividade de mentoring é
http://www.adeptscience.co.uk disseminada entre gestores em geral e
Procure Reference Manager e EndNote. gestoras em particular?
Para um tutorial sobre como usar o Re-
ü Qual impacto tem essa atividade em
ference Manager, veja: mulheres que a recebem e nas que não
http://www.ion.ucl.ac.uk/library/rm.htm recebem?
Para um tutorial sobre como usar End-
Note, veja:
A última pergunta implica que sejam
http://www.library.uq.edu.au/endnote/
examinados estudos que tenham realizado
how_use.html
pesquisas empíricas envolvendo um grupo
experimental de mulheres que tiveram men-
tores e um grupo­‑controle, que não teve. A
seguir, esses estudos medirão o avanço pro-
Dica Quente 5.3 fissional de cada grupo e farão comparações
estatísticas. Como muitas vezes acontece, a
Em função do risco de plágio quando se revisão bibliográfica pode revelar resultados
fazem notas, geralmente o mais seguro é equivocados nos estudos empíricos, alguns
construí­‑las em suas próprias palavras, re‑ mostrando uma melhoria estatisticamente
duzindo a chance de copiar as palavras de significante no avanço profissional para as
outras pessoas por engano. mulheres que participaram de atividades
de mentoring, mas outros, talvez, mostran-
PESQUISA NO MUNDO REAL 103

do diferenças pequenas e não significantes. estudo proposto. Se nada de específico


Os pesquisadores podem ter sugerido uma foi escrito sobre o tema, revise os estudos
série de razões potenciais para a atividade que tratam dele de forma geral.
dos mentores não ter sido tão eficaz como ü Apresente um resumo da revisão, desta-
previsto e tenham recomendado mais pes- cando os estudos mais importantes e os
quisas. São essas recomendações que po- temas fundamentais que surgiram.
dem ser levadas adiante como base para
um novo estudo. Como todas as revisões O último ponto é de vital importância.
devem adotar uma postura crítica diante Não basta simplesmente ler sobre um tema.
da bibliografia, esta também é uma opor- É necessário produzir uma síntese de temas
tunidade para destacar a fragilidade de ou assuntos relacionados na forma de um
alguns estudos descritos, principalmente argumento ou um conjunto de preocupações
em termos da validade e da confiabilidade cada vez mais dirigido. A palavra­‑chave aqui
de seus resultados. A revisão bibliográfica, é “refinamento”. Lembre­‑se da Figura 5.1,
portanto, torna­‑se a base para se mostrar passeando pela bibliografia. Fazer uma pau-
como as futuras pesquisas evitarão esses sa para tratar de áreas que se mostraram im-
erros e produzirão conclusões mais consis- portantes refina gradualmente a discussão
tentes. até um conjunto de questões e argumentos.
A seguir, estes proporcionam a base para
formular perguntas de pesquisa e o foco da
Estrutura e conteúdo pesquisa. Uma revisão bibliográfica abran-
gente e rigorosa, portanto, deve cobrir os
da revisão bibliográfica critérios descritos no Quadro 5.6. A criação
de uma revisão bibliográfica com base nessa
Em termos de estrutura, Creswell (2002) lista lhe permitirá estabelecer os limites de
sugere que a revisão bibliográfica deve in- sua pesquisa, as lacunas no conhecimento
cluir cinco componentes: atual, as metodologias aplicadas à pesquisa
sobre o tema e como o estudo proposto con-
ü Uma Introdução, informando ao leitor tribui para o conhecimento.
como a revisão será organizada e estru-
turada.
ü Revisão do Tópico 1, abordando a biblio-

Posicionando a
grafia sobre a variável independente, ou
variáveis (as influências sobre a variável revisão bibliográfica
dependente ou tema a qual a pesqui-
sa está dirigida). Nota: exploraremos Sua revisão bibliográfica deve vir no início
descrições de variáveis dependentes e de sua tese ou dissertação, no meio ou no
independentes mais detalhadamente no fim? Creswell (2002) propõe três locais
Capítulo 6. possíveis: na Introdução, como uma seção
ü Revisão do Tópico 2, com a bibliografia
separada e como seção final de um estudo.
sobre a variável dependente. Se houver O Quadro 5.7 oferece um breve resumo.
muitas variáveis dependentes, dedique Para alguns estudos qualitativos, por exem-
uma subseção a cada uma delas ou trate plo, a bibliografia pode ser discutida na In-
de uma única variável dependente impor- trodução para “enquadrar” o tema que está
tante. sendo estudado. Entretanto, o uso de uma
ü Revisão do Tópico 3, com a bibliografia revisão bibliográfica mais perto do início
relacionada à variável independente à de um estudo é mais típico da abordagem
variável dependente. Creswell (2002) quantitativa. O propósito dessa seção passa
alerta para o fato de que essa seção deve a ser oferecer uma base sobre a qual pos-
ser relativamente curta e dirigida a estu- sam ser geradas perguntas e hipóteses, e
dos de tema extremamente próximo ao que possa influenciar o desenho e a direção
104 David E. Gray

Quadro 5.6
Critérios para fazer uma revisão bibliográfica

Categoria Critério Comentários

1 Cobertura A Justifica os critérios de Justifica o que está “quase dentro” da


inclusão e exclusão da pesquisa, mas, na verdade, está fora. Isso
bibliografia. ajuda a estabelecer o recorte da pesquisa.
2 Síntese B Distingue o que tem sido Identifica as lacunas no conhecimento atual
feito no campo do que e, portanto, o papel e o valor do estudo
precisa ser feito. atual.
C Situa o tema ou o problema Mostra que o tema ou o problema está
na bibliografia acadêmica relacionado a questões mais amplas que já
mais ampla. mereceram pesquisas.
D Situa a pesquisa no contexto Explora criticamente os antecedentes e o
histórico do campo. histórico do tema, e contextualiza temas
atuais.
E Adquire e melhora o Demonstra que é capaz de conectar­‑se
vocabulário sobre o tema. ao discurso pelo qual o tema é estudado e
entendido, e aprofundá­‑lo.
F Articula importantes Distingue o que é central ao argumento/
variáveis e fenômenos problema e o que é periférico ou não
relevantes ao tema. importante. Dá foco.
G Sintetiza e obtém uma Vai além de uma mera sinopse da
nova perspectiva sobre a bibliografia ao proporcionar um foco para
bibliografia. revelar o que é importante. Esclarece
tensões e incoerências na bibliografia.
3 Metodologia H Identifica as principais Avalia criticamente como o tema foi
técnicas metodológicas e de pesquisado até agora para justificar sua
pesquisa que foram usadas própria opção metodológica.
no campo e suas vantagens e
desvantagens.
I Relaciona ideias e teorias no Reconhece as fragilidades metodológicas
campo às metodologias de de pesquisas anteriores e mostra como elas
pesquisa. podem ser melhoradas no estudo proposto.
4 Importância J Racionaliza a importância Mostra como a pesquisa contribui para
prática do problema de soluções práticas.
pesquisa.
K Racionaliza a importância Mostra como a pesquisa contribui para o
acadêmica do problema de conhecimento.
pesquisa.
5 Retórica L Redige com uma estrutura Vai além da mera descrição, até um
clara e coerente que conjunto de argumentos lógicos e refinados.
sustenta a revisão.

Fonte: Adaptado de Boote e Beile, 2005.


PESQUISA NO MUNDO REAL 105

Quadro 5.7
Método de pesquisa e usos da literatura

Método de pesquisa Uso da bibliografia Comentários

Estudos qualitativos: Usados na Introdução para Alguma bibliografia deve estar


todos os tipos “enquadrar” o problema. disponível.
Quantitativo Situado como uma seção Ajuda a gerar perguntas de pesquisa
separada de “revisão e hipóteses; também usado no fim do
bibliográfica” no início do estudo, e contra o qual os resultados
estudo. serão comparados.
Qualitativo: teoria Comparar e diferenciar teorias A bibliografia não orienta nem dirige
fundamentada geradas a partir dos dados o estudo, e sim se torna um auxílio
com teorias que constam da quando surgirem padrões dos dados.
bibliografia.

Fonte: Adaptado de Creswell, 2002.

da pesquisa. Em contraste, em alguns tipos da pesquisa, proporcionando um padrão


de pesquisa qualitativa, como no uso de de referência com os quais os resultados
teoria fundamentada, as perspectivas teó- podem ser comparados. As revisões biblio-
ricas são desenvolvidas de forma indutiva, gráficas dentro de abordagens qualitativas
a partir dos próprios dados. Qualquer revi- são discutidas mais detalhadamente no Ca-
são bibliográfica é criada próximo ao fim pítulo 7.

Resumo
ü Ao se escrever uma tese ou uma dissertação, há duas bibliografias que têm que ser tratadas: o
tema em si e também a bibliografia sobre os métodos de pesquisa.
ü Adote uma abordagem sistemática ao acesso à informação, incluindo o uso de pessoas (p.
ex., supervisores, bibliotecários especializados) e o uso de diários de pesquisa e programas de
informática sobre bibliografia.
ü Ao acessar informações, tenha em mente que os relatórios sobre algumas das pesquisas mais
contemporâneas provavelmente estarão em conferências e seminários em vez de em livros e
mesmo em artigos de pesquisa acadêmicos.
ü Garanta que a revisão bibliográfica contenha uma ênfase em artigos que passaram por arbitra‑
gem de especialistas e livros, em vez de fontes que não passaram.
ü A revisão bibliográfica requer a adoção de um “ângulo” para adquirir mais foco. A revisão
também deve adotar uma postura crítica.
ü Conceba critérios práticos de avaliação os quais incluam o uso de critérios de seleção e termos
de busca.
ü Em estudos quantitativos tradicionais, a revisão bibliográfica geralmente fica depois da Intro‑
dução. Entretanto, em alguns estudos, principalmente qualitativos, a revisão bibliográfica pode
vir depois ou mesmo no final de um relatório ou dissertação.
106 David E. Gray

Resumo de endereços na internet http://scholar.google.com.br


http://www.scopus.com/scopus/home.url
http://www.adeptscience.co.uk http://www.statistics.gov.uk/
http://www.amazon.com http://www.wikipedia.org/
http://apps.isiknowledge.com http://www.yahoo.com
http://www.archive.org/web/
http://www.Ask.com
http://assda.anu.edu.au/ Leituras complementares
http://www.capes.gov.br
http://www.cnpq.br Dochartaigh, N.O. (2007) Internet Research Skills:
http://chnm.gmu.edu/tools/syllabi/index.php How To Do Your Literature Search and Find Research
Information Online. London: Sage. Considerando­
http://www.cios.org/ ‑se o valor e importância crescente da internet
http://www.conferencealerts.com/ como fonte de pesquisa, este livro oferece algumas
http://www.europa.eu.int/comm/eurostat/ estratégias de busca excelentes, bem como orien-
http://www.google.com tação para avaliar fontes.
http://www.greynet.org/ Anderson, T. and Kanuka, H. (2003) e­‑Research:
Methods, Strategies, and Issues. Boston, MA: Allyn &
http://groups.google.com/ Bacon. Contém um capítulo dedicado à realização
http://www.ion.ucl.ac.uk/library/rm.htm de revisão bibliográfica pela internet, bem como
http://www.ibge.gov.br capítulos sobre ética na pesquisa e disseminação
http://www.jiscmail.ac.uk/index.htm de resultados de pesquisa eletrônica.
http://www.library.uq.edu.au/endnote/how_use. Hart, C. (2001) Doing a Literature Search. London:
html Sage. Um guia essencial que inclui muitos con-
selhos práticos e também uma série de recursos
http://link.bubl.ac.uk/libraryopacs/
úteis da internet.
http://www.mamiraua.org.br
Hart, C. (1998) Doing a Literature Review. Lon-
http://www.methodology.co.uk/ don: Sage. Outra fonte essencial que justifica a
http://www.MSNSearch.com importância da revisão bibliográfica e demonstra
http://www.psr.keele.ac.uk/data.htm o processo de revisão.

SUGESTão DE RESPOSTA para a ATIVIDADE 5.4


O escore Kappa é 0,696, fazendo desse um nível substancial de acordo.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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