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Estudos dos Impactos Ambientais Provocados

Por Actividades Realizadas na


Albufeira de Cahora Bassa - Tete

Realizadores

Jacinta Laissone
Geógrafa - Técnica do Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental e
Coordenadora do estudo
Maria Angelica Manhenje
Agrónoma - Técnica da Faculdade de Agronomia
José R. Matola
Eng. Civil - Técnico da Direcção Nacional de Águas

Colaboradores

Marcelino M. Foloma
Eng. Florestal - Técnico da Direcção Provincial de Agricultura e Pesca de Tete
Helena Nhaca Magaia
AMA - Agente do Meio Ambiente em Tete

1. Introdução

As comunidades que vivem a volta da albufeira de Cahora Bassa, exploram os recursos


naturais locais existentes desde os anos que habitam na região sem criar grandes
prejuízos, e tendo em conta o futuro. Actualmente, devido a presença de pescadores e
outros, isso não se verifica, as pessoas exploram quer sejam as florestas e tudo o que
nela existe, quer sejam os recursos existentes na água sem respeitar a natureza e o pior
de tudo nem respeitam as comunidades locais.

A região da albufeira parece ser terra sem ninguém, as comunidades locais perderam a
posse das terras das margens da albufeira. As licenças para a exploração do peixe
Limnothrissa miodom vulgarmente conhecido por kapenta, não são somente passada
pelo sector de administração pesqueira na DPAP de Tete, que simultaneamente devia
ser o principal fiscalizador.

São várias as queixas que ouvimos no terreno. Ao nível da província referiram-se da


falta de coordenação que existe entre o sector da administração pesqueira e as estruturas
centrais do Ministério de Agricultura e Pesca na consecção de licenças para a pesca.
Algumas licenças são emitidas no Maputo no Ministério de agricultura e pesca, e a
DPDP só identifica esses casos quando estão a trabalhar no campo.

Eles autorizam um individuo a praticar esta actividade e não mandam a informação ao


nível provincial, e quando estes tomam conhecimento ficam sem saber como agir. Esta
situação cria transtornos para os serviços provinciais de Geografia e cadastro, a entidade
que procede a distribuição do terreno, porque estes fazem o plano de parcelamento de
acordo com os pedidos que entram nesse sector.

Os pescadores saem de Maputo para a albufeira de Cahora Bassa, dando início das suas
actividades sem se apresentarem às estruturas provinciais e tão pouco às distritais." Isto
faz com que haja desmandos na região. Quando queremos exigir o mínimo de
comprimento do regulamento estabelecido, eles simplesmente desprezam-nos"
lamentou um técnico de SPAP em Tete.

As comunidades lamentaram bastante pelo que está acontecendo na albufeira. Os


pescadores não respeitam as áreas que a população desenvolve as suas actividades e tem
tido conflitos nas áreas onde antes serviam de caminhos para o gado ou nos campos de
pastagens. Conforme relatou um dos entrevistados foi uma situação lamentável ver
alguns dos seus caprinos a voltarem sem orelhas, porque tinha sido cortados por um
pescador semi-industrial.

………………………………….

4.2 Pesca

A albufeira de Cahora Bassa apresenta uma variedade de espécies de peixes tabela 1.


Esta diversidade tem atraído vários pescadores semi-industriais Nacionais e estrangeiros
em sociedades ou individuais e pescadores artesanais.

ESPÉCIES DE PEIXES EXISTENTES NO RIO ZAMBEZE

Tabela 2.

No Nome vulgar Nome científico


de
Or
de
m

Pende Tilapia Rendalli


1

Tsimbo Labeos Altivelis


2

Nshenga Distichodus Shenga


3

N’chene/tigre Hidrocynus vitattus


4
Mbzio/porco de água Mormyrus longirostris
5

Sambanenje/Nhanda Mormyrops deliciosus


6

Kolomokua Distichodus Mossambicus


7

Nhamidande Eutropios Depressirostris


8

Nkolokolo Sinodontis zambezensis


9

Nkunga/peixe cobra Anguila Nebulosa labiota


10

Nthinda/peixe eléctrico Malapteruros eléctrico


11

Mulamba Clarias Gariopinus


12

Nhume/vunda Heterobrancus longifilis


13

Kapenta/sardinha/calumbe Limothrissa miodom


14

Mphutha/kaboi Marcusenius Macrolepidotus


15

Mberi Alestes imbiri


16

Fonte: Serviços Provinciais de Administração Pesqueira-Tete, 3 de Nov. 1997

Actualmente realizam actividade piscatória 36 empresas semi-industriais licenciadas e


um número não conhecido de pescadores ilegais. Cerca de 90% destes industriais são
estrangeiros vindos do Zimbabué e Africa do Sul, e mais de 50% desses estrangeiros
praticavam a pesca no lago Karibe, no Zimbabué.

Quem chega a noite e pela primeira vez na albufeira de Cahora Bassa pode pensar que
está diante de uma bela e grande cidade moderna e bem iluminada. E no dia seguinte,
durante o dia poderá não ver nada! É a iluminação de uma centena de barcos de pesca
em intensa actividade de captura do peixe kapenta.

São cerca de 122 embarcações legais que realizam a captura do peixe kapenta. Segundo
o Chefe dos Serviços Provinciais de Administração Pesqueira de Tete, para a
fiscalização eficiente dessas embarcações seriam necessários 122 fiscais na razão de um
para cada embarcação.

Existem mais de 48 pescadores artesanais permanentes com finalidades de subsistência


e comerciais, para além de eventuais, que vão praticar a pesca quando necessitam desse
recurso para o consumo.

DADOS DA PRODUÇÃO DO PERIODO DE 1995 ATÉ SETEMBRO DE 1997

Tabela 3

Ano Pescadores Produção de


artesenais peixe

1994    

1995 36 275 ton.

1996 53 323 ton.

1997 48 325 ton.

Fonte: SPAP - DPAP Tete, 1 de Dezembro de 1997

Gráfico 3, elaborado com na tabela 3.

 
Os pescadores artesenais não constituem grande perigo na gestão desta espécie, tendo
em conta que a população nativa viveu sempre desse recurso. Nesses últimos dias
começam a conflitos entre os artesenais e os semi-industriais. A população sente-se
ameaçada porque está certa de que um esse recurso vai esgotar. Os pescadores locais
não necessitam de licença porque a comunidade é a primeira beneficiária dos seus
recursos locais, segundo afirma o projecto Tchuma Tchato. Mas o importante é que
eduquemos de modo a melhorar a sua capacidade de conservação e gestão.

Os pescadores artesenais capturam a maior parte de espécies apresentadas na Tabela 1,


em função das técnicas empregues e das necessidades do mercado consumidor. Estes
têm uma capacidade económica baixa e empregam canoas e redes malhadas para
capturar o peixe.

O peixe Kapenta (Limnothrissa miodom)

4.2.1. A biologia do peixe kapenta

O peixe kapenta tem um período de gestação de 7 dias e entre 6 a 7 meses de vida e com
uma capacidade de reprodução muito elevada. Findo este período o peixe morre.

O seu habitat é água profunda, doce e calma.

4.2.2. A industria de kapenta

O peixe de Cahora Bassa é um importante recurso natural que com regulamentos pode
ser sustentavelmente utilizado. O pequeno kapenta é o único que pode ser facilmente
conservado e vendido.

Actualmente o grande número de indústrias é de estrangeiros dando lucros aos países


vizinhos. Esta actividade tem uma série de vantagens tais como: fornecimento de
emprego aos nacionais e estrangeiros, infra-estruturas, estradas e uma certa percentagem
do kapenta é comercializado dentro do país.

INDÚSTRIAS DE PESCA EM CHICOA

Tebala 4

N/O FIRMAS/EMPRESASR/PROJECTOS Data N de No de


processo Barcos

1 Kapenta de Moçambique 15/12/96 541 5

2 Zambeze Fisheries 8/6/95 584  

3 Bronc (PVT) Lda 27/4/95 572  


4 M.G.J. Enterpreses Mozambique 15/6/95 585 2

5 Wossimbo Wako Chicoa 3/8/95 625  

6 Cabora Bassa Tiger Fishing Safaris 24/3/95 565  

7 Pescas de Camanga 6/7/95 592  

8 Crijul Lda 18/7/95 597  

9 Sociedade Pesqueira Novas Ideias 15/12/95 508 8

10 Kapenta de Moçambique 3/4/95 558  

11 Kapenta Distribuidora de Moçambique 5/10/95 671  

12 Kapenta de Nova Chicoa 15/9/94 512  

13 Chawara de Moçambique 28/6/95 588 2

14 Cahora Bassa Fisheries 29/8/94 511 5

15 Bonar Sociedade Pesqueira 1/4/95 569 4

16 Sociedade Pesqueira de Zambeze 3/3/94 484 2

17 Pescas confiaça 13/1/95 545 2

18 Douglas Funhiro Nsipa 3/3/95 568 4

19 Água Verde 15/2/95 554  

20 REE Pesqueiro Lda 8/9/95 637  

21 Williamsons Kapenta 14/7/95 635  

22 Pescas Interland 20/7/95 612  

23 Soripen 29/8/95 632  

24 Bondia Kapenta Ventures 28/8/95 633  

25 Rui Natvarlal (Chipalapala) 3/6/95 591  

26 Lonsar 24/8/95 630 2

27 Sopete 20/9/95 670 2

28 Songo Fishing and Canoe Safaris 5/6/96   1

29 Uguezi - Cahora Bassa 30/4/96    


30 António Elck Petrides Baeta Ramos 8/4/96    

31 Kapenta Distributors Moçambique Lda 9/10/95    

32 Pescado do Songo Lda 19/3/96    

Fonte: Serviços Provinciais de Planeamento Físico, Tete, 28 de Outubro de 1997

PRODUÇÃO DE KAPENTA

PERIODO DE 1995 ATÉ SETEMBRO DE 1997

Tabela 5

Ano Pescador semi- No de barcos Produção de


industrial kapenta

1994 4 9  

1995 28 48 3 387 ton.

1996 32 89 5.759 ton.

1997 36 122 5.301 ton.

Fonte: Direcção Provincial de Agricultura e Pesca, SPAP, Tete, 1 de Dezembro de 1997

Fonte: Tabela 5
 

A indústria de kapenta cria estímulo para o desenvolvimento da estrutura provincial e

permite o desenvolvimento da legislatura, regulamentos e criação de mecanismos de


controlo de planos, introdução de estudos na população do peixe e na determinação das
condições óptimas e sustentável captura e produção de kapenta.

Nesta região verificamos que apesar de todo o esforço feito pelo governo no âmbito de
zoneamento, os acampamentos informais estão a ser estabelecidos por alguns
pescadores em lugares sensíveis acompanhado de intensiva destruição da flora e por
corte indiscriminado das árvores e limpeza da área.

A poluição das águas através de combustíveis foi observada.

O evidente afluxo de muitos empresários de pesca a procurar ganhar o dinheiro pode


arruinar muito rapidamente a promissora e preferida área do lago.

Os pescadores do kapenta fundaram uma organização a qual estabelece condutas e


éticas na indústria de kapenta e sensibiliza os membros para assuntos ecológicos.

Um estudo realizado na albufeira de Cahora Bassa, envolvendo Moçambique, Zambia e


Zimbabué, revelou que, embora não mencionada, existe uma grande quantidade de
kapenta naquele lago, sugerindo que podia se explorar sem problemas.

Esta afirmação suscitou dúvidas: Será que realmente o kapenta não poderá esgotar a
médio prazo à semelhança do que aconteceu no lago karibe?

Observando as condições do habitat do kapenta, podemos notar que a sua exploração


requer material e técnicas modernas. Antes dos semi-industriais se fixarem em Chicoa
não se explorava o kapenta. O elevado nível de consumo de peixe kapenta na Zambia e
Zimbabué faz com que se o número de embarcações aumente e consequentemente
elevar a quantidade da produção.

A produção por cada empresário não é definida na licença, apenas se fazem referências
aos 25ha que cada pescador deve ocupar para construção do acampamento. A licença
tem a duração de um ano, com possibilidades de se renovar. A produção de kapenta
varia de acordo com as épocas do ano. As produções são elevadas no verão que no
inverno. Em média explora-se entre 1 a 5 toneladas por dia.

4.2.3. A produção do kapenta

Ao anoitecer, os pescadores deslocam-se com as embarcações de pesca até ao alto da


albufeira, onde a água seja profunda e calma. Estas embarcações estão munidas de
quatro lâmpadas e uma rede de cerca de 5m de diâmetro. Há uma profundidade de 20 a
30 metros, mergulha-se a rede e acenderem-se as lâmpadas. O peixe no fundo da água,
sente-se atraído pela iluminação e aproxima-se às luzes enquanto a rede está por baixo
das luzes. De repente apagam-se as luzes e puxa-se a rede junto com o peixe.

Inicia assim a viagem de regresso, e já é madrugada e chega-se ao acampamento por


volta das seis horas. Tira-se o peixe para ser salgado. Depois de se salgar se estende o
peixe. Depois de este secar põe-se em sacos, armazena-se e mais tarde é transportado
em camiões para os locais de venda.

A secagem do kapenta em tempos de sol intensa dura apenas um dia, contrariamente á


épocas chuvosas que leva mais de dois dias. "É por esta razão que temos alpendres de
reserva, pois quando há menos sol temos de espalhar o peixe no máximo", afirmou o
gestor geral das organizações kapenta de Moçambique, o Zimbabweano Fanuel Muchor.

A produção do kapenta tende a aumentar em função do aumento de empresas e


embarcações. Em 1996 a produção foi de 5574 toneladas e esperámos um aumento
substancial neste ano. Até Setembro/97 já se tinha produzido 5.301ton.

4.2.4. Descrição de Algumas Empresas visitadas

Organizações Kapenta

Esta empresa foi fundada em 1994 após a separação com empresa SAFARI'S, com a
qual estava associada desde 1993.

A empresa é propriedade do sr. Allan Watt, zimbabweano de raça branca. A empresa


anteriormente sedeada em Chicoa, está actualmente localizada na baía do rio Chõe
(distrito de Magoé).

A organizações kapenta tem a sua representação na cidade de Tete, chefiada pelo sr,
Frank. A empresa possui 40 trabalhadores efectivos e 100 eventuais.

Em 1994 operava com um barco apenas, tendo adquirido dois em 1995 e outros
totalizando cinco barcos. Este número viera a diminuir em 1997 com o afundamento de
um barco, que segundo o gerente da empresa não ouve vítimas humanas.

A média diária de produção de kapenta em Novembro era de 850 kg de massa seca de


kapenta. Os períodos de captura máxima é de Outubro a Janeiro, sendo de Fevereiro a
Março moderado e de Abril a Setembro de Produção mínima.
A taxa paga para cada barco é de seis milhões de meticais por ano. Para os
trabalhadores os salários variam de 200 a 300 mil meticais e os oferece bónus
alimentícios de 10 a 20 kg de farinha de milho cada pescadores por mês. Também
oferecemos 100 mil meticais por dia a equipa que captura mais peixe e 50 mil meticais a
equipa que ocupar a segunda posição.

As dificuldades relacionadas com o trabalho se verificam no tempo chuvoso porque a


água torna-se turva no lago.
………………………………………………………………

Financiado pelo NEMP - PNUD ---- / ----- Dezembro 1997

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