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A narrativa de “A Igreja do Diabo” conta do dia em que o diabo, sempre cúpido de poder e
cansado da desorganização histórica em que vivia, resolve fundar sua própria igreja, com
suas próprias regras. E regras muito atraentes para as pessoas: transgredir todas as leis,
em especial, as leis divinas. O inimigo de Deus visava conquistar a hegemonia entre as
religiões do mundo inteiro, prometendo infinitos lucros aos afiliados. Praticar o bem seria
então condenável e fazer o que todos sempre tiveram que reprimir seria sublime.
Resumindo: a eterna relação de Deus/religião, homem/razão.
Os diálogos que o conto faz são fundamentais para sua composição e para a compreensão
do mesmo. A começar pelo título que por si só já é uma paródia entre o divino (Deus) e o
profano (Diabo), o primeiro uso de carnavalização. É parodiado também o confronto
Escritura X Escritura, pelo fato de o diabo copiar os rituais da Igreja divina, e também a
pedra fundamental, que o Diabo cita quando anuncia a criação da sua Igreja: “Vou lançar a
minha pedra fundamental”.
No capítulo III, Machado cita o prosador renascentista francês François Rabelais e sua obra
“Gargântua e Pantagruel”, uma ilustração para enumerar as qualidades do Diabo: “O
mesmo disse da gula, que produziu as melhores páginas de Rabelais, e muitos bons versos
do Hissope; virtude tão superior, que ninguém se lembra das batalhas de Luculo, mas das
suas ceias; foi a gula que realmente o fez imortal”. A citação cumpre o objetivo do texto:
mostrar a tendência dos homens, que ao terem acesso às regras essenciais da religião
cristã, passam a respeitar estas e a não burlá-las mais. Assim acontece no conto, quando o
Diabo começa a perder a sua força, visto que seus adeptos estavam praticando as ações
cristãs e não mais praticando as ações recomendadas pelo mesmo.