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GESTÃO MUSEOLÓGICA

PROVA DE CONSULTA

INSTRUÇÃO: Leia com atenção às questões que se seguem e procure respondê-las


com base nas discussões que tivemos durantes as aulas síncronas e na bibliografia do
curso de gestão museológica. Cada questão vale 5 pontos.

1. Escolha um plano museológico de uma instituição museológica brasileira e


analise os principais aspectos dessa ferramenta administrativa. Procure justificar
ainda as razões da sua escolha;
2. Leia o texto “Os Novos Modelos de Gestão Participativa em Museus:
Contributos para o Desvanecimento das Dicotomias” de Querol (2017) e
procure apontar e analisar os principais modelos de gestão identificados pela
autora.

RESPOSTAS:
1. Dado o contexto de surgimento e aprimoramento das práticas museais e, com isso, a
previsão de um futuro vindouro para a área da museologia, em vista do desenvolvimento e
diversificação de suas aplicabilidades técnicas, interações com comunidades e a busca por novas
formas de gestão e financiamento, a determinação na criação do plano museológico tem sido
uma preocupação na área de gestão, pois percebe-se como o modelo de gestão compartilhada,
com interdisciplinaridade e interculturalidade têm sido mais proveitosos e benéficos para o
desenvolvimento de uma ação mais comprometida com as diversas realidades e públicos
sociais, e as possibilidades de ação. 
Essas medidas se tornam importantes porque, sendo o museu uma instituição com agencia
social, ele deve se preocupar em servir às demandas da sociedade. 
Dito isso, voltamo-nos para a análise do plano museológico do o Museu Histórico e Pedagógico
Índia Vanuíre, localizado no município paulista, Tupã, o qual foi palco de conflitos violentos
com indígenas da região, os Kaingang, devido a construção de uma estrada de ferro em seus
territórios, no ano de 1910.  
Com o conflito de extermínio dos Kaingang acontecendo, indígenas de outras etnias foram
reunidos em um local provisório, levando a personalidades como Vanuíre, indígena e contadora
de histórias e tradições do seu povo, a se manifestar nesse momento na busca pelo fim dos
confrontos. Ficou conhecida, portanto, como "A Pacificadora", e por isso o museu a
homenageia, em 1966, através da nomeação da instituição por Museu Histórico e Pedagógico
Índia Vanuíre.  
"O Museu possui um acervo de cerca de 24.000 itens, sendo que a maior parcela é composta
pela coleção etnográfica coletada pelo Sr. Luiz de Souza Leão e sua esposa Nair Ghedini, com
grande destaque para as culturas Krenac e Kaingang. O Museu ainda abriga coleções históricas
da cidade de Tupã, além de taxidermia, fotografias e documentos." (p. 26). 
Além da rica coleção etnográfica, o museu sempre apresentou atividades educativas e culturais
voltadas para o município de Tupã e para a integração com sua comunidade, em atividades
voltadas para a valorização dos povos e culturas indígenas.  
No entanto, apesar do potencial da instituição, havia carências em relação a estrutura física e
administrativa organizacional. Para isso, Marília Xavier Cury desenvolveu um plano
museológico que abarcasse a manutenção física do museu, assim como uma orientação para os
projetos complementares a serem desenvolvidos por ele. Com isso, já é possível perceber um
importante ponto no processo de criação de um plano museológico: o planejamento das
atividades a longo prazo, deixando os subsídios necessários para a realização delas e da
autogestão da instituição, o que deve promover, portanto, a manutenção das ações e agências do
museu. 
Quanto ao seu programa de gestão, o museu possui parceria com outras instituições culturais,
como a Secretaria de Estado da Cultura e a Cultural de Amigos do Museu Casa da Portinari, o
que possibilita um maior apoio, principalmente financeiro e, assim, atividades mais regulares no
museu. Além disso, o programa divide a gestão em núcleos, de acordo com as especificidades
relativas a cada área de atuação do museu, isto é, núcleo de gestão institucional, núcleo de
comunicação, núcleo de museologia, núcleo de pesquisa e núcleo de educação, o que
proporciona uma lógica administrativa mais organizada e mais focada, uma vez que cada núcleo
será gerido por um especialista na área, além de haver a possibilidade (e necessidade) de
integração entre esses núcleos.
Por fim, a escolha desse plano museológico se deu devido ao meu interesse por analisar a
construção de um planejamento para uma instituição já existente, a fim de perceber o
diagnóstico da instituição e da sua realidade e como, a partir disso, se orienta as tomadas de
decisões estratégicas para o uso mais eficaz dos recursos. Isso porque penso que, durante minha
formação como museóloga e dado o contexto local dos museus brasileiros, é interessante que se
saiba como administrar e integrar os recursos e condições de instituições já existentes e em
funcionamento.

2. A autora apresenta as bases teóricas do seu trabalho de gestão muito pautadas na


noção de coletivo, nos potenciais da criação e interação de saberes diversos, o que
demanda, com isso, participações diversas, de pessoas diversas. 
Com isso, pensa-se na atuação de maneira horizontal, distanciando-se de modelos de
gestão obsoletos, por estes serem reflexos de uma sociedade que não inclusiva. Desta
forma, o trabalho de Lorena Sancho se baseia na busca pela aplicação de uma gestão
participativa em alguns museus europeus trazendo, para isso, a perspectiva cultural e
intercultural como fonte inspiradora de ação - sendo que entendo a interculturalidade
como a variedade de saberes e bagagens que cada indivíduo participante tem e de que
maneira agrega ao projeto total. 
 São essas características diversas que tornam o trabalho rico e amplo, pois consegue
abarcar diversas camadas de conhecimento e participação, construindo, com isso, um
modelo de atuação que traga resultados construtivos para um recorte da sociedade, mas
que promova, ainda assim, a disseminação dos resultados dessas ações para a sociedade
como um todo. 
Dentre as formas de atuação, é interessante observar como a autora, e o grupo com o
qual ela trabalha, buscaram por analisar primeiramente o contexto dos museus
escolhidos e quais desafios ele apresenta no quesito de interação com a sociedade e
promoção do desenvolvimento desta, isto porque, percebe-se como o contexto é quem
dá as ferramentas e possibilidades de ação, firmando, portanto, a noção de que não há
um único modelo de gestão, por isso ele deve ser pensado e discutido em conjunto com
o meio em que se encontra a instituição, para entender e abarcar as realidades e as
problemáticas existentes nessas. 
Outro aspecto importante em uma gestão plural e participativa, é a possibilidade de
autonomia das grupos que compõem o projeto, o que proporciona uma divisão do
trabalho mais efetiva e produtiva, uma vez que, cada segmento, pensando por si, mas
contando com a colaboração de um todo, também participativo e determinado, faz as
coisas se desenrolarem e chegarem ao público de maneira mais orgânica.  
Entender os participantes do processo, assim como suas participações, como peças
integrantes e necessárias para o proceder da construção do fazer museal.  
Outra etapa muito importante no processo de gestão é a sistematização das formas de
atuação, uma vez que além de organizar os planos, ajuda a entender quais as
especificidades das ações e as finalidades delas, isto é, o que se busca com sua
aplicação. 
Com a apresentação do modelo de gestão do Museu do Traje, em São Brás de Alportel,
pode-se perceber uma integração do museu com a sociedade, um museu vivo e que
perpassa e intercruza com as vivências e cotidianos da área que abarca, tendo
consciência e comprometimento com os indivíduos e os resultados dessa interação e das
potencialidades dela para a comunidade.  
Para isso, a autora desenvolve quatro pilares para a construção de uma gestão
participativa em camadas, que proporcione, desta forma, um museu integrado e
interligado, formando uma rede de apoio e gestão, isso através das ideias de Museu
Visível, Museu do Dia a Dia, Museu Integrador e Museu do Longo Tempo, sendo o
Museu Visível o conjunto de atividades relacionadas a estrutura do museu, ao museu
palpável, que organiza e possibilita pontes; o Museu do Dia a Dia refere-se às atividades
cotidianas do museu, voltadas para a interação com a sociedade; o Museu Integrador
que se empenha em um trabalho mais íntimo, para aproximar e integrar os membros e
incentivar seus projetos, como uma comunidade colaborativa; e o Museu do Tempo
Longo, que integra as iniciativas voltadas para ações de desenvolvimento da
comunidade, ações que se desenvolvem mais a longo prazo.  
É interessante perceber, então, as diversas possibilidades de agência e atuação do
museu, havendo espaço para diversos tipos de público e visando diferentes objetivos e
abordagens, mantendo, desta forma, o museu como um organismo vivo e atuante. 
Outro modelo de gestão utilizado foi o OPTI, em que, em instituições financeiras
buscam pela conservação e comunicação do seu patrimônio histórico. Para isso, além da
conservação material dos objetos que servem de suporte de memória da instituição, é
preciso passar a se trabalhar a memória dos indivíduos que experienciaram a história,
que, no caso trabalhado pela autora e sua equipe, se trata de uma empresa que funcionou
no contexto da Revolução Industrial, por isso deve haver uma responsabilidade com a
comunidade que viveu e vive as consequências desse fato, assim como as gerações
seguintes, que herdaram as memórias e uma noção de mundo embasada nesse contexto.
O museu, então, nessa circunstância, busca por uma gestão que entenda as pessoas
como agentes no processo, seja como visitante, parceiro, voluntário, funcionário etc.,
em busca de uma gestão mais humanista e compartilhada.  
 Por fim, é nisso que se embasa as estratégias de gestão desenvolvidas pela autora e sua
equipe nos museus europeus, em uma gestão compartilhada e em consonância com as
necessidades e desejos do público que abarca, seja este aquele que visita e interage com
as atividades de comunicação do museu, seja os participantes por trás da estrutura do
museu e de todo fazer museal.

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