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Enfermagem Gerontológica e
Geriátrica

1º ano - 2º Semestre
2019/2020

Curso:
Licenciatura em Enfermagem

Docente:
Professor Doutor Carlos Magalhães

Vanessa Laranjinha
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Introdução

Gerontologia
Do grego geros, gerontos (velho) designa o estudo do processo de velhice sob todos os aspetos:
 Envelhecimento físico
 Envelhecimento psicológico
 Envelhecimento comportamental
 Contexto social do envelhecimento

A gerontologia tem por objeto o estudo de todas as modificações morfológicas, psicológicas e sociais
consecutivas a ação do tempo no organismo (envelhecimento), independentemente de qualquer
fenómeno patológico. Esta disciplina reúne, assim, numerosos investigadores e especialistas,
provenientes de áreas muito variadas.

Multidisciplinaridade que nutre a gerontologia

Ciências biológicas Ciências psicológicas Ciências sociais


 Bioquímica  Psicologia do desenvolvimento  Sociodemografia
 Medicina  Psicologia social  Ecologia Humana
 Enfermagem  Psicologia cognitiva  Interação Social
 Entre outras  Entre outas  Entre outas

A aproximação teórica da gerontologia é bio-psico-social


Os conhecimentos biológicos da gerontologia referem-se à investigação acerca das alterações que se
verificam com o avançar da idade, nos distintos sistemas biológicos do organismo.
Os conhecimentos psicológicos da gerontologia referem-se ao estudo acerca das alterações e/ou
estabilidade que com o passar do tempo se produzem nas funções psicológicas, como por exemplo: a
atenção, a perceção, a aprendizagem e a memória, a afetividade e a personalidade, entre outros.
Os conhecimentos sociais da gerontologia referem-se à busca de alterações devidas à idade relativas
aos papéis sociais, ao intercâmbio e a estrutura social, assim como, em que forma os emergentes
culturais contribuem nessas alterações (crescimento ou declive), referem-se ainda à problemática que
envolve o envelhecimento das populações.
A gerontologia possui diversos objetos de estudo: o idoso, a velhice e o envelhecimento (biológico,
psicológico e social).
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Geriatria
“Ramo da medicina que se dedica ao idoso, ocupando-se não só da prevenção, do diagnóstico e do
tratamento das suas doenças agudas e crónicas, mas também da sua recuperação funcional e reinserção
na sociedade”.
Cantera, I., & Domingo, P. (1998). Geriatria. Rio de Janeiro: McGraw-Hill

A doença crónica define-se como uma doença de curso prolongado, com evolução gradual dos
sintomas e com aspetos multidimensionais, potencialmente incapacitante, que afeta, de forma
prolongada, as funções psicológica, fisiológica ou anatómica, com limitações acentuadas nas
possibilidades de resposta a tratamento curativo, mas com eventual potencial de correção ou
compensação e que se repercute de forma acentuadamente negativa no contexto social da pessoa por
ela afetada.
A geriatria representa o aspeto terapêutico da gerontologia. Ela estuda os meios para lutar contra os
efeitos do envelhecimento.

Evolução histórica da geriatria


1909 – Ignatz Leo Nascher introduz o termo geriatria. «Geriatrics: The diseases of the old age
and their treatments» - In New York Medical Journal.
1940 – Marjorie Warren incorpora a geriatria ao Middlessex Hospital em Londres. → Foi
responsável pela mudança de atitude face aos utentes ingressados em «salas de crónicos», utilizando
uma correta valorização e uma terapêutica ativa conseguiu recuperações impensáveis e defendeu que
a intervenção sobre primeiras fases da doença, reduziria sem dúvida a sua evolução para situações de
incapacidade.
1946 – O Serviço de Saúde Inglês cria a especialidade de geriatria.
1946 – Primeira unidade de geriatria espanhola.
1978 – Geriatria: Especialidade Média Oficial em Espanha.
2001 – 8 dos 15 países da Comunidade Europeia possuíam a especialidade de Geriatria.
Imensas unidades de Geriatria estavas a ser criadas.

Geriatria em Portugal
Em Portugal, é deveras importante, à semelhança do que já sucede na maioria dos países
desenvolvidos, que a formação geriátrica seja institucionalizada e os profissionais e as instituições
adquiram uma visão objetiva e uma prática adequada à realidade dos Cuidados de Saúde que os idosos
necessitam. A existência de uma especialidade de geriatria seria importante para o desenvolvimento
da assistência médica à pessoa idosa.
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A geriatria é uma especialidade médica homologada em vários estados da União europeia (Reino
Unido, Itália, Irlanda, Holanda, Noruega, Suécia, Espanha, ….) e também no Japão, Canadá e EUA,
entre outros. Na Europa a duração mínima da especialidade é de 4 anos.

Programa de especialização em geriatria: áreas de conhecimento


 Envelhecimento humano: demografia, biologia e fisiologia;
 Doenças mais frequente na pessoa idosa;
 Apresentação atípica das doenças;
 Doenças incapacitantes;
 Síndromes geriátricos;
 Técnicas de valorização geriátrica;
 Utilização de fármacos;
 Trabalho interdisciplinar;
 Princípios de recuperação funcional;
 Princípios de psicogeriatria;
 Princípios de assistência médico-social;
 Organização de serviço.

Enfermagem gerontológica
“Serviço de Saúde que incorpora aos conhecimentos específicos de enfermagem, aqueles
especializados sobre o processo de envelhecimento para estabelecer, no idoso e ao seu redor, as
condições que permitam, entre outras, aumentar as condutas saudáveis, minimizar e compensar as
perdas de saúde e as limitações relacionadas com o idoso”
(Gunter & Miller, 1977, citados por Diogo, 1999, pg. 209)

… Exercício profissional que pode ser desenvolvido numa ampla variedade de serviços (comunidade,
instituições de alta complexidade tecnológica).

“ ... estudo científico do cuidado de enfermagem ao idoso, caracterizado como ciência aplicada com o
propósito de utilizar os conhecimentos do processo de envelhecimento, para o planeamento da
assistência de enfermagem e dos serviços que melhor atendam à promoção da saúde, à longevidade, à
independência e ao nível mais alto possível de funcionamento da pessoa idosa”
(Gunter & Miller, 1977, citados por Duarte, 1999, pg. 223)

Enfermagem geriátrica – Concentra-se no atendimento do idoso.

Enfermagem gerontológica – Envolve o cuidado da pessoa idosa e enfatiza a promoção da


qualidade de vida e da saúde no mais alto nível possível.
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A enfermagem geriátrica transformou-se em enfermagem gerontológica, isto porque a enfermagem


geriátrica apenas visa o atendimento ao idoso já enfermo, e a enfermagem gerontológica promove a
qualidade de vida e de saúde de todo o idoso.

Enfermagem gerontológica/geriátrica
Em 1904, o American Journal of Nursing publicou o 1.º artigo de enfermagem acerca do cuidados dos
idosos.
Durante muitos anos, os cuidados aos idosos constituíram um ramo pouco popular da prática de
enfermagem. A gerontologia foi considerada como um sector ocupado por enfermeiras de segunda
categoria. A frustração sobre a falta de valor atribuído a enfermagem geriátrica levou a um apelo à
American Nurses Association (ANA) para a assistência na promoção da situação desta área da prática.
Depois de anos de estudo, em 1961, a ANA recomendou que fosse formado um grupo de especialistas
para a enfermagem geriátrica. Formou-se então um grupo que se tornou em 1966 a Divisão de
Enfermagem Geriátrica. Três anos depois, este grupo foi responsável pelo desenvolvimento dos
Padrões para a Prática da Enfermagem Geriátrica, publicados pela primeira vez em 1970. A
certificação das enfermeiras por excelência na prática de enfermagem geriátrica surge em 1975.
Durante a década de 1970, as enfermeiras começaram a tornar-se crescentemente conscientes do seu
papel na promoção da experiência do envelhecimento saudável para todas as pessoas e na garantia de
saúde aos idosos. Em consequência, manifestaram interesse em substituir o nome da especialidade, de
enfermagem geriátrica para enfermagem gerontológica, com o objetivo desta refletir um âmbito mais
amplo do que o simples atendimento ao idoso enfermo. Em 1976, a Divisão de Enfermagem Geriátrica
transformou-se em Divisão de Enfermagem Gerontológica. A partir daí a especialidade de
enfermagem gerontológica tem revelado um crescimento notável, resultando numa maior
consciencialização acerca da sua complexidade.

Como se têm vindo a formar os enfermeiros neste âmbito?

Em 1965
 Identificam-se os cuidados de enfermagem com os “doentes velhos”.
 Não são referidos estágios em serviços de idosos.
 A investigação não é referida.

Em 1977
 Identifica-se uma tendência para abordar a pessoa idosa de uma forma global.
 Continuam a não ser referidos estágios ou trabalhos de investigação.

Em 1987
 Abordam-se “aspetos de enfermagem geriátrica”.
 Não são referidos estágios em serviços de idosos.
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 Surgem os primeiros trabalhos de investigação.

Em 1995-1999 - Bacharelato
 É enfatizado o ensino da Gerontologia e da Geriatria.
 É realizado um desenvolvimento integrado teórico-prático e colocada ênfase nos
projetos de natureza interdisciplinar.
 Um módulo prático (ao longo de 3 semanas).

Em 1999 – Licenciatura
 Lecionada em disciplina autónoma ou módulo (entre 25-60 horas).
 Ensino prático em unidade de internamento com idosos (Serviços de Medicina) e
Lares, com duração entre 4 e 8 semanas.
 Tendência para a inclusão do tema em estágios de saúde comunitária.

“A formação dos enfermeiros, nomeadamente em cuidados às pessoas idosas tem permanecido aquém
da mudança social ocorrida (aumento do n.º de idosos) e da mudança ocorrida nas instituições e nas
unidades de saúde".
(Costa, 1994)

“Ajudar as pessoas idosas não é tarefa pacífica. Todos os enfermeiros conheceram a infância, a dor, a
doença… contudo, ainda não conheceram a velhice o que torna difícil compreender a complexidade
do vivido pelos idosos e de considerar a velhice como um período de crescimento e evolução"
(Costa, 1998)

Os enfermeiros não devem esperar pela sua velhice para melhor compreenderem os idosos! Devem
avaliar corretamente todas as suas crenças e atitudes pessoais face ao fenómeno do envelhecimento e
aos idosos!

A pessoa idosa possui uma biologia característica e distinta da do adulto, pelo que não pode ser
considerado no restrito de um padrão de atitudes de diagnóstico e terapêutica, convencionadas sem
referência às variáveis próprias da velhice». Assim torna-se imperativo a aquisição de uma
competência específica no âmbito do idoso, pois a especificidade dos cuidados a prestar à pessoa idosa
assim o vão exigir.

Velhice
 Etiologicamente, velhice deriva de velho, procedendo do latim veclus, vetulusm, definido
como “pessoa de muita idade”.
 Distintos vocábulos se utilizam para denominar as etapas da vida que correspondem a distintas
idades, tais como: infância, juventude, idade adulta, velhice (última etapa da vida)
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Definições de velhice segundo várias dimensões


 A dimensão biológica contempla a velhice com base nas alterações físicas que se verificam
no organismo humano, à medida que os anos passam.  Os tecidos perdem flexibilidade e
capacidade de recuperação, produzem-se alterações da imunidade face às doenças, os órgãos
e sistemas corporais reduzem a velocidade e a capacidade das suas funções, …
 A dimensão cronológica contempla a velhice com base na idade cronológica.  A velhice é
o período de vida que tem início pelos 65 anos e finaliza com a morte. Segundo Neugarten
(1974), os indivíduos dos 55 aos 75 seriam jovens-velhos e a partir dos 75 anos seriam velhos-
velhos. Fontaine (1999) define velhice como o estado que caracteriza um grupo de
determinada idade, o das pessoas com mais de 70 anos. A ONU adota os 60 anos ou mais,
mas para cálculos adota 65 ou mais anos, tal como o Conselho Europeu.
 A dimensão sociológica considera que a velhice é um conceito relativo, no qual contempla o
contexto onde os acontecimentos se definem socialmente. A definição social de velhice
atribui significado aos acontecimentos de vida.  A velhice é a idade da reforma.
 A dimensão psicológica contempla a velhice com base nas alterações cognitivas e afetivas
que se verificam com o avançar da idade.  A velhice é o período de vida que declina a
memória em que se fica mais deprimido.
 A velhice pode também ser classificada em termos funcionais, como: “velhice normal”,
“velhice patológica” ou “velhice saudável, competente, satisfatória ou com êxito”. A velhice
normal refere-se à velhice que cursa sem patologias, enquanto que a patológica refere-se à
velhice que está associada a patologias múltiplas, regra geral crónicas. Entende-se por velhice
saudável, competente, satisfatória ou com êxito, aquela que cursa com uma baixa
probabilidade em surgir doença e incapacidade, associada a um alto funcionamento cognitivo,
a uma capacidade física funcional e a um compromisso ativo com a vida.

Envelhecimento
Por envelhecimento entende-se como um processo que ocorre desde o nascimento até à morte. O
envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, responsável por alterações morfológicas,
bioquímicas e psicológicas, na qual implicam uma perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao
meio ambiente, bem como uma maior vulnerabilidade aos processos patológicos que acabam por
torná-lo dependente e levá-lo à morte.

Idoso/velho
Um idoso é aquele que tem muita idade; indivíduo de idade avançada.

Processo de senescência
O envelhecimento foi durante muito tempo percebido como um fenómeno patológico relacionado com
o desgaste do organismo e fruto das sequelas das doenças patológicas e da idade adulta.
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A senescência é um processo natural e não é sinónimo de senilidade. Senilidade é uma


degenerescência patológica, muitas vezes associada à velhice, mas tem origem em disfunções
orgânicas.
A senescência é um processo multifatorial que arrasta uma deterioração fisiológica do organismo. O
sinal mais evidente de senescência corresponde à diminuição da capacidade de adaptação às alterações
do meio ambiente. Tal acentua-se com a idade e com o surgir de afeções crónicas.

Tipos de envelhecimento

Primário – Refere-se às mudanças intrínsecas ao processo de envelhecimento, isto é, “algo


que sucede naturalmente com a passagem da idade”. As alterações próprias do envelhecimento
primário são universais, irreversíveis, inevitáveis e intrínsecos à nossa constituição como seres
humanos. Exemplo: Cabelos brancos, rugas.

Secundário – Refere-se ao aparecimento, com a idade, de lesões patológicas, muitas vezes


múltiplas, mas que em alguns casos se podem prevenir e se mantém potencialmente reversíveis.

Terciário – Refere-se às mudanças que sucedem de forma precipitada na velhice, o que


sugere a possibilidade de um envelhecimento rápido, ocorrendo num dado momento da velhice e que
precede imediatamente a morte.

No plano terapêutico, e no de diagnóstico nem sempre é fácil distinguir entre os tipos de


envelhecimento e a senescência da doença.
Certos problemas fisiológicos e certas doenças que acompanham o envelhecimento são muitas vezes
confundidos com as manifestações do envelhecimento normal.
As modificações fisiológicas que se produzem no decurso do envelhecimento resultam de interações
complexas entre vários fatores intrínsecos e extrínsecos. Por isso é tão difícil determinar quais as
mudanças intrínsecas, e por isso inevitáveis, e quais as que resultam de fatores externos, portanto
reversíveis. Este problema representa uma zona cinzenta no domínio da pesquisa em gerontologia.

É extremamente importante estar atualizado nas peculiaridades anatómicas e funcionais do


envelhecimento, sabendo discernir com máxima precisão os efeitos naturais deste processo
(senescência) das alterações produzidas pelas inúmeras afeções que podem acometer o idoso. Alguns
autores preferem denominar eugeria às alterações puramente fisiológicas e patogeria àquelas
provocadas pelas doenças, enquanto outros utilizam para esses conjuntos de fenómenos a
denominação de envelhecimento primário e envelhecimento secundário. Por mais que esta
diferenciação possa ser teórica e que na quase totalidade das vezes nos deparemos, na prática, com
uma sobreposição destes fenómenos, devemo-nos esforçar para a sua mais acurada distinção.
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Problemas de interpretação
 Todas as alterações encontradas no idoso serem erroneamente atribuídas ao seu
envelhecimento natural, o que impediria a deteção de processos patológicos passíveis de
tratamento ou mesmo de cura;
 Sinais e sintomas explicados pela senescência serem equivocadamente atribuídos a doenças,
determinando a realização de exames e tratamentos desnecessários. Em suma, o próprio
envelhecimento sendo diagnosticado e tratado como doença.

Características gerais do processo de envelhecimento


 Universal – todos envelhecemos
 Irreversível – não é possível reverter o processo de envelhecimento
 Deletério – leva à perda progressiva de função
 Heterogéneo – os órgãos de um individuo não envelhecem todos ao mesmo tempo
 Individual – o envelhecimento começa em tempos diferentes
 Intrínseco – não é possível alargar a longevidade máxima

O processo de envelhecimento é universal (todos envelhecemos), contudo a forma como


envelhecemos, difere de ser humano para ser humano. Ao contrário da doença o envelhecimento é um
fenómeno natural. As modificações fisiológicas do envelhecimento humano têm efeitos cumulativos,
ocorrem sempre de forma progressiva, e são irreversíveis (processo que não se pode reverter) e
deletérios (pois levam a perda progressiva das funções) para todos os seres humanos.

As alterações causadas pelo envelhecimento dependem de fatores:


 Externos – como os estilos de vida, as atividades que o individuo desenvolve, o ambiente
onde se insere, a organização de cuidados de saúde;
 Internos – como a bagagem genética e o estado de saúde.

Os órgãos não parecem envelhecer todos ao mesmo ritmo (envelhecimento heterogéneo). Em certos
indivíduos, o envelhecimento primário exprimir-se-á por uma degradação precoce do seu sistema
cardiovascular, noutros por um envelhecimento cerebral precoce, ou ainda por um declínio funcional
de outros órgãos.
O envelhecimento dos sistemas fisiológicos internos é também um processo individual. A involução
não começa no mesmo momento, não se desenvolve ao mesmo ritmo e não atinge o mesmo grau de
degenerescência para todos os sistemas orgânicos. Estas mudanças não são exclusivas, mas antes
sinérgicas.
O envelhecimento é um processo intrínseco, pois as modificações não resultam de um componente
ambiental modificável, apesar de este poder influenciar fortemente sobre a velocidade com que estas
surgem, contudo este não representa a causa do seu aparecimento.
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Apesar do aumento da esperança de vida, o “maximum life span” parece manter-se fixo para cada
espécie, o que corrobora esta característica.
Na maior parte dos países, a esperança média de vida das populações tem aumentado progressivamente
ao longo dos últimos séculos, fruto de vários fatores (são exemplos, os avanços tecnológicos, a
melhoria das condições socioeconómicas, a melhoria dos cuidados de saúde, entre muitos outros),
contudo tal como nos refere Hayflick (1987), a duração máxima de vida pouco se alterou desde que
iniciamos a nossa evolução como seres humanos. Se atendermos ao registo conhecido da longevidade
máxima alcançada pelos membros da espécie humana, verificamos que está atingiu apenas os 122
anos, parecendo existir uma barreira fisiológica inultrapassável.

 Registo da mulher que viveu mais tempo: 122 anos (França)


 Registo do homem que viveu mais tempo: 120 anos (Japão)

Longevidade máxima das espécies


 Seres humanos = 122 anos
 Elefante índio = 81 anos
 Cavalo = 50 anos
 Gorila = 49 anos
 Gato doméstico = 28 anos
 Cão = 20 anos

Em que idade se inicia o processo de envelhecimento?


As alterações orgânicas e funcionais conhecidas do estudo das progerias, mostram que as alterações
da senescência podem ocorrer desde o momento da conceção, consequentes de anomalias genéticas,
mas também de agressões ambientais ao embrião em desenvolvimento.

Progeria – significa envelhecimento prematuro, como ocorre na Síndrome de Hutchinson-Gilford


(infância) e na Síndrome de Werner (adulto-jovem).

Síndrome de Hutching-Gilford
Trata-se de uma doença genética da criança, caracterizada por nanismo e por uma aparência geral de
velhice (pele enrugada, cabelos escassos e brancos). Nascem normais e logo (1-2 anos) começam a
apresentar sinais clínicos da doença. A esperança média de vida nas raparigas é de cerca de 14 anos e
nos rapazes é de 16 anos. A probabilidade de uma criança ter esta doença é de 1 em 4 milhões.

Síndrome de Warner
Doença genética caracterizada pela associação de várias perturbações, tais como: esclerodermia
progressiva, osteoporose, perturbações endócrinas, etc. É essencialmente a partir dos 20 anos que
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surgem os sinais característicos da velhice (cabelos brancos, pele rugosa, etc). Morrem antes dos 46
anos. Três pessoas num milhão sofrem desta doença.

Síndrome de Down
Mais comum que as síndromes progeróides anteriormente descritos, no Síndrome de Down
encontramos também características típicas da velhice e patologias mais comuns (Doença vascular,
Alzheimer). Esta Síndrome consiste de um transtorno genético (presença de um cromossoma extra no
par 21 – anomalia denominada de trissomia 21) responsável por um atraso mental (leve a moderado)
e por deformidades físicas.

A partir de que idade se tornam evidentes os sinais de envelhecimento?


Os sinais de envelhecimento podem começar a evidenciar-se já na infância ou na adolescência, mas
não é generalizado. É essencialmente a partir dos vinte anos, que na pele e ao nível da microcirculação
arterial (retiniana) se tornam claramente visíveis. As macroalterações significativas, de carácter
orgânico e funcional, tornam-se percetíveis pelos 40 anos. O processo culmina pelos 50 anos numa
crise bem evidente na mulher e mais discreta no homem.
O processo de envelhecimento inicia-se no momento da conceção e evolui continuamente,
evidenciando fases de duração relativamente constante no tempo de vida do individuo, denominadas
de idades do homem.
Tendo cada sistema o seu tempo de envelhecimento, mesmo sem a interferência dos fatores
ambientais, tal facto tem implicações que se tornam mais evidentes quando o organismo é agredido
pela doença.
Para além de todas as diminuições orgânicas e funcionais, que originam significativas alterações na
forma e na composição corporal com o decorrer dos anos, talvez as condições mais relevantes a ter
em consideração para a sobrevivência do idoso e para a sua qualidade de vida estejam na diminuição
da sua reserva fisiológica e a consequente dificuldade na reposição do seu equilíbrio homeostático
quando alterado.

A senescência não é uma doença, mas pode conduzir a uma quantidade de afeções, porque se
caracteriza pela redução da reserva fisiológica dos órgãos e sistemas. Cedo ou tarde, o equilíbrio
homeostático desregula-se. Os problemas aparecem principalmente em momentos de stress
fisiológico, porque o organismo já não tem as reservas necessárias para resistir às agressões e manter
as funções vitais. À redução fisiológica inerente à idade vêm somar-se as perdas funcionais resultantes
da não utilização e das sequelas de doenças agudas anteriores ou de afeções crónicas.
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Baixa diferencial das funções fisiológicas com a idade

O declínio maior dá-se a nível respiratório


e o menor a nível cognitivo.
Se não houver doença, não há alteração a
nível cognitivo.

Efeito do envelhecimento nos valores laboratoriais

Aumento Inalterados Diminuição


 PSA  VS  Clear Creatinina
 Glicose  Vitamina A  Triiodotironina
 Ferritina  Riboflavina  Testosterona
 Ácido Úrico  Hemograma  Fósforo, Zinco, Cálcio,
 Colesterol  Hemoglobina Selénio e Ferro
 Fibrinogénio  IgG; IgM; IgA  Vitamina B12, Vitamina B6,
 Triglicerídeos  Creatinina Sérica Vitamina C e Vitamina E
 Paratohormonas  Fosfatase Alcalina

Cálculo da idade biológica


Por vezes deparamo-nos com pessoas cuja idade biológica não parece coincidir minimamente com a
idade cronológica, então como calcular a idade biológica real?
Podem ser utilizados numerosos testes para medir a própria idade biológica. De acordo com o princípio
de um teste, depois de ter passado pela prova, pode comparar-se o próprio desempenho com o
desempenho médio do grupo etário a que se pertence. Se ele for melhor, tal significa que, relativamente
ao teste considerado, a idade biológica é inferior à cronológica.

Teste de elasticidade da pele


Consiste em apertar com uma pinça a pele das costas da mão durante cinco segundos, na região entre
o polegar e o indicador, e medir seguidamente o tempo que a prega leva a desaparecer completamente.
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Resultados médios:
 Até 45-50 anos: 5 segundos
 Aos 60 anos: 10 a 15 segundos O tempo aumenta com o aumento da idade

 Aos 70 anos: 35 a 55 segundos

Teste da régua
Uma régua de madeira com 50 centímetros de comprimento é segura pela extremidade superior por
uma outra pessoa, ao nível da graduação 0. Colocar então o polegar e o dedo médio, um de cada lado
da régua, afastados 8 a 10 centímetros, ao nível da graduação 50. Quando a pessoa deixa cair a régua
sem avisar, a pessoa submetida ao teste deve procurar agarrá-la o mais depressa possível. O resultado
é dado pela graduação ao nível da qual se agarra a régua. Repetir o teste três vezes e calcular o resultado
médio em centímetros.

Resultados médios:
 Aos 25 anos: 28 centímetros A velocidade de reação diminui com
 Aos 60 anos: 15 centímetros o aumento da idade.

Teste do equilíbrio estático


Apontado como o melhor dos testes propostos. Consiste em colocar-se de pé, com os pés descalços e
juntos, sobre uma superfície dura. Fechar os olhos e levantar um dos pés a cerca de 15 centímetros do
solo, dobrando o joelho 45 graus. O resultado é igual ao tempo durante o qual se consegue sustentar o
equilíbrio. Efetuar o teste três vezes e calcular a média do tempo para obter o resultado.

Resultados médios:
 Aos 20 anos: 30 segundos
 Aos 40 anos: 15 segundos
O equilíbrio diminui com o aumento da idade.
 Aos 60 anos: 7 segundos
 Aos 70 anos: 4 segundos

Serão estes testes fidedignos para medir a idade biológica?


Não. Há outros fatores que podem interferir com os resultados, o que influencia as conclusões.
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Fenómeno do envelhecimento populacional

“A longevidade ou a situação do envelhecimento pode, de facto, considerar-se um fenómeno”.


Pinto (2001, p. 157)

Supõe-se que nos tempos pré-históricos a velhice fosse extremamente rara. Mesmo no século XVII
talvez apenas 1% da população atingisse os 65 anos, subindo essa proporção para 4% no século XIX.
Entretanto, no mundo Ocidental de hoje, mais de dois terços da população ultrapassarão os 65 anos e
cerca de um terço os 80 anos.

Fatores intervenientes no envelhecimento da população


 Diminuição da taxa de natalidade
 Aumento da duração da velhice (maior longevidade), por avanços tecnológicos e por melhoria
dos fatores ambientais
 Influencia dos movimentos migratórios das populações.

Esperança média de vida


O significativo aumento da esperança de vida no nosso país é uma realidade.
A esperança média de vida à nascença é o número médio de anos que um indivíduo, à nascença, pode
esperar viver, se subme9do, até ao final da sua vida, às taxas de mortalidade observadas no momento
de referência.

2014-2016:
Homens: 77,61 anos
Diferença = 5,72 anos
Mulheres: 83,33 anos

2015-2017:
Homens: 77,74 anos
Diferença = 5,67 anos
Mulheres: 83,41 anos

2008-2010
Diferença = 6,02

A esperança média de vida aos 65 é o número médio de anos que um indivíduo, ao a9ngir os 65 anos,
pode esperar ainda viver, se subme9do, até ao final da sua vida, às taxas de mortalidade observadas
no momento de referência.
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Importância do indicador de esperança média de vida


A reforma é dada conforme a esperança média de vida. Quanto maior for a esperança média de vida,
maior é o desconto para a segurança social. ~

Envelhecimento demográfico
O envelhecimento demográfico é entendido como um aumento relativo da população idosa. Podem
ser utilizados vários indicados no seu estudo.

População jovem  0-14 anos


População idosa  ≥ 65 anos
População ativa  15-64 anos

Índice de envelhecimento
É o melhor marcador de envelhecimento da população. É um índice determinado através da relação
percentual entre a população de 65 anos ou mais e a população dos 0-14 anos.

𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 ≥ 65 𝑎𝑛𝑜𝑠
𝐼𝐸 = × 100 Existem 𝑥 idosos por cada 100 jovens.
𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 0 − 14 𝑎𝑛𝑜𝑠

Tendo como base os censos de 2001, segundo o INE:


 Pela primeira vez, a percentagem dos idosos foi superior à dos jovens
 As mulheres foram as principais responsáveis pelo forte envelhecimento da população
 Havia 122 idosas por cada 100 jovens, enquanto que o dos homens se situa nos 84 indivíduos
 Existiam 103 idosos por cada 100 jovens

1 702 120
𝐼𝐸 = × 100 = 102,56 = 103
1 659 561

 O índice de envelhecimento, passou de 27 idosos por cada 100 idosos em 1960, para 103
idosos por cada 100 jovens em 2001
 Em 2011, eram 128 idosos por cada 100 jovens
 Prevê-se que em 2050 sejam 243 idosos por cada 100 jovens

Índice de dependência total


É a relação entre a população jovem e idosa (população não ativa) e a população em idade ativa.

𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑗𝑜𝑣𝑒𝑚 + 𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑖𝑑𝑜𝑠𝑎


𝐼𝐷𝑇 = × 100
𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎

Existem 𝑥 indivíduos em idade não ativa por cada 100 indivíduos em idade ativa.
15

Índice de dependência de idosos


É a relação entre a população idosa e a população em idade ativa.

𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑖𝑑𝑜𝑠𝑎 Existem 𝑥 idosos por cada 100


𝐼𝐷𝐼 = × 100
𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎 indivíduos em idade ativa.

O índice de dependência de idosos quase duplicou entre 1960 e 2004, passando de 13 para 25 idosos
por cada 100 indivíduos em idade ativa. Prevê-se que o valor mais do que duplique até 2050.
O índice de dependência de idosos em Portugal foi de 29 por cada 100 indivíduos em idade ativa.

Índice de renovação da população em idade ativa


Relação entre a população que potencialmente está a entrar e a que está a sair do mercado de trabalho,
definida habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com idades compreendidas entre
os 20 e os 29 anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 55 e os 64 anos

𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 20 − 29 𝑎𝑛𝑜𝑠
𝐼𝑅𝑃𝐴 = × 100
𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 55 − 64

Existem 𝑥 indivíduos a entrar no mercado de trabalho por cada 100 indivíduos a sair do mercado de trabalho.

Em 2011, eram 95 a entrar no mercado de trabalho por cada 100 indivíduos a sair do mercado de
trabalho.

Índice de renovação da população em idade ativa

Índice de envelhecimento

Índice de dependência de idosos


16

Índice de longevidade
Relação entre a população de 75 ou mais anos e a população de 65 ou mais anos. Trata-se de um
indicador adicional de medida de envelhecimento de uma população.

𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 ≥ 75 𝑎𝑛𝑜𝑠 Existem 𝑥 com 75 anos ou mais por cada


𝐼𝐿 = × 100
𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 ≥ 65 𝑎𝑛𝑜𝑠 100 indivíduos com 65 anos ou mais.

O índice de longevidade em Portugal, era 48 em 2011, face a 41 em 2001 e 39 em 1991.


Em termos regionais, Lisboa apresentou o índice mais baixo (46), sendo o Alentejo a única região cujo
índice ultrapassou 50, o que significa que a maior parte da sua população idosa tinha 75 ou mais anos.

Projeções para Portugal


As projeções apontam para um envelhecimento continuado da população, consequência do previsível
aumento da esperança de vida, bem como da manutenção dos níveis de fecundidade abaixo do limiar
de substituição das gerações.
Em 1960 foram recenseados 708 569 idosos, em 31 de Dezembro de 2004, estimou-se residir em
Portugal 1 790 539 indivíduos do mesmo escalão etário, prevendo-se que em 2050 atinja um valor
próximo de 3 milhões de indivíduos. Assim, num período temporal inferior a 50 anos, entre 1960 e
2004, a população idosa mais do que duplicou em valores absolutos, sendo previsível que quase volte
a duplicar novamente até 2050.
Entre 1960 e 2004, verificou-se um aumento de 8% para 17% da proporção da população idosa face
ao total da população, prevendo-se que em 2050 esta faixa etária da população represente cerca de
32% do total dos efetivos populacionais.
Entre a população idosa, a mais idosa aumentou de forma significativa. Em 1960 foram recenseadas
107 617 pessoas com 80 ou mais anos de idade, valor que em 2004 se estimava ser de 401 008, ou
seja, neste período de tempo, praticamente quadruplicaram as pessoas com 80 ou mais anos de idade,
reflexo duma crescente longevidade, prevendo-se que até 2050 possam alcançar cerca de 950 mil,
refletindo um crescimento mais significativo do que qualquer outro grupo etário.

Consequências do envelhecimento demográfico


A nível da organização socioeconómico irá maior número de pensionistas, menos receitas para os
cofres do Estado (fruto da diminuição da população ativa), mais gastos para satisfazer as necessidades
da população idosa (com equipamentos sociais: lares, centros de dia, etc). A nível da saúde, haverá a
exigência de mais serviços de saúde, maior ocupação de camas hospitalares, maiores gastos com a
medicação e tratamento, entre outros.
O grupo das pessoas idosas constituem os maiores consumidores de cuidados de saúde, quer ao nível
ambulatório, quer em termos hospitalares, constatado pelo maior número de consultas, maior número
de visitas domiciliárias, maior consumo de medicação, maior taxa de ocupação de camas, maior
duração média de internamento.
17

As considerações de ordem demográfica e epidemiológica relativas à população portuguesa levam-


nos facilmente a concluir que a organização, prestação e suporte dos custos dos Cuidados de Saúde
aos Idosos constituirão certamente um problema incontornável e preocupante.

Os pressupostos desse problema são, fundamentalmente:


 Crescente número de idosos
 Polipatologia e cronicidade dos Cuidados de Saúde
 Suporte assistencial

Se o primeiro é inevitável, o segundo, no atual estado do conhecimento científico, poderá ser


parcialmente controlável através de medidas de prevenção. Os dois últimos só dificilmente serão
solucionáveis sem alterações significativas da ordem socioeconómica e política.

Para dar resposta ao crescente número de idosos, é necessário aumentar o número de profissionais que
lhes dê assistência. Tal como haverá maior necessidade de conhecimento e pesquisa na pessoa idosa.

Teorias Biológicas do Envelhecimento

Causas do envelhecimento – abordagem histórica


A medicina faraónica considerava que a origem do envelhecimento estava no coração, de tal forma
que a fraqueza do idoso correspondia a uma dilatação do mesmo.
Hipócrates (460-377 a.C.) foi o pioneiro na formulação das explicações relativas ao processo de
envelhecimento, considerando que o corpo ficava frio e seco devido a uma perda de calor e de
humidade, sendo que a fonte de calor residia no lado esquerdo do coração (quem envelhece arrefece).
Para este médico a velhice não constituía uma doença, contudo ela predisporia o organismo à doença,
dado que este se tornava menos resistente.
Ao nível da Medicina romana, Galeno (131-201) influenciado pelo pensamento de Hipócrates e
apologista do pensamento Aristotélico, introduz explicações acerca do processo de envelhecimento
utilizando essencialmente a doutrina da patologia humoral, destacando a visão da velhice como algo
inevitável e incurável, que seria o resultado de um progressivo processo de desidratação, que levaria
até ao enrugamento da pele, a fragilidade dos membros e insegurança dos movimentos.
Estes foram alguns dos contributos mais relevantes acerca do envelhecimento que sobreviveram da
Antiguidade até ao Renascimento.
Paracelso (1493-1541) comparava a velhice à ferrugem que corrói e decompõe o metal, contra a qual
para a combater se devia efetuar uma alimentação equilibrada e ingerir o elixir da longa vida (a prima
substancia – lignum vitae).
18

André du Laurens (1555-1609), da Universidade de Montpellier considerava que a velhice resultaria


da acumulação de excrementos provenientes da alimentação
No século XVII e XVIII, o desenvolvimento da Química, Anatomia, Fisiologia e Patologia
contribuíram para uma discussão mais realista acerca do envelhecimento, nesse sentido, Johann
VonFischer (1685-1772) publica em 1754 na Alemanha um livro dedicado aos idosos, onde aborda as
características do envelhecimento, procurando separar este da doença, para além disso contrapõe-se
energicamente relativamente ao pessimismo dos médicos na abordagem dos idosos. Com a revolução
industrial (século XVIII/XIX) surgem teorias explicativas baseadas no desgaste.

Teorias do envelhecimento biológico


De ano para ano, aumenta o número de propostas que visam explicar o processo de envelhecimento.
Tal se deve não só à inquietude dos investigadores, mas também porque todos os dias, diretamente ou
indiretamente o mesmo nos diz respeito.
Os biólogos têm contribuído com imensas teorias que tentam explicar o processo de envelhecimento.
Toda a teoria biológica contempla que o organismo individual experimenta três etapas essenciais, são
elas: crescimento e desenvolvimento; maturação; declive e morte. Todas estas etapas se sucedem, a
não ser que existam erros biológicos ou morte provocada por um acidente do organismo.
Seguidamente na figura podemos observar a representação esquemática do envelhecimento biológico.

Os princípios inconciliáveis de causalidade e de incerteza engendraram dois grandes tipos de teorias


propostas para explicar o envelhecimento, as teorias deterministas e estocásticas.

Teorias deterministas
São teorias que defendem que o envelhecimento é uma consequência direta de um programa genético,
sendo o genoma um tipo de relógio molecular, biológico. São exemplos: a teoria do relógio biológico,
a teoria das telomerases, a teoria imunológica e a teoria neuro-endócrina.
Nas teorias deterministas a explicação reside no facto de que as espécies têm, segundo parece, uma
longevidade máxima marcada, como que estivesse já determinada geneticamente.

Teorias estocásticas
Teorias que consideram que o envelhecimento resulta de alterações aleatórias, de lesões sucessivas
não programadas. São exemplos: a teoria dos radicais livres, a teoria do erro catastrófico, a teoria
da autointoxicação, a teoria do desgaste e a teoria do entrecruzamento.
Estocástico significa um processo ou série de eventos para os quais a estimativa de probabilidade de
certos resultados aproxima-se da possibilidade verdadeira à medida que o número de eventos aumenta.

Qualquer uma das teorias estocásticas justifica o envelhecimento e a morte pelo desgaste e exaustão.
A utilização permanente dos processos de metabolismo, das proteínas e, no que diz respeito ao DNA,
19

as continuas lesões que ocorrem nas células dos organismos vivos, impossibilitam que os mecanismos
de reparação consigam corrigir todos os erros, sendo estes erros cumulativos ao longo da vida.

Teoria do relógio biológico


A teoria do relógio biológico ou teoria do envelhecimento programado insere-se na corrente genética
ou teoria determinista propõe que o envelhecimento se deve a um processo genético definido e
orientado previamente (envelhecimento programado).
As experiências dos biólogos celulares, Hayflick e Moorhead, a partir de 1961, constituem um marco
fundamental na gerontologia ao estabelecerem o paradigma e o modelo experimental do
envelhecimento celular, contrariando e afastando em definitivo a ideia, até então dominante, da
imortalidade da célula proposta pelo médico francês Alexis Carrel.
Alexis Carrel informou que tinha conseguido manter, durante décadas, uma cultura de células de
coração de embriões de frango. Em 1974 Hayflick denomina de citogerontología a base da
biogerontología.

A experiência de Hayflick que demonstrou a sobrevivência limitada das células normais em


cultura
A: Uma colheita de tecido (biopsia cutânea, por exemplo) é colocada no interior de um recipiente num
meio apropriado, permitindo que as células (fibroblastos - um tipo de células que servem de suporte)
proliferem.
B: Quando as células tiverem coberto a superfície do recipiente, estádio a partir do qual cessam a sua
multiplicação, são dispersadas com a ajuda de tripsina e semeadas, de novo, pela metade, em dois
outros recipientes.
C: Após proliferação, repete-se a etapa B e enchem-se dois novos recipientes. Estas duplicações de
população celular não podem repetir-se indefinidamente. Após cerca de 50 a 60 DPC (duplicação da
população celular), a cultura para. Este número máximo de DPC decresce regularmente com a idade
do dador.

Hayflick ao descobrir que os fibroblastos se multiplicam, durante meses, até 50 vezes, mas, pouco a
pouco, deixam de o fazer e, no final, morrem, abre caminho para a explicação do envelhecimento
como incapacidade progressiva das células para assegurarem a sua substituição, com a morte
consequente. O envelhecimento do organismo seria assim assimilável ao envelhecimento celular, cujo
termo seria a morte da célula. Seria então esse o destino final dos cem biliões de células somáticas
(não germinais) que integram o nosso organismo. O número de duplicações de cada tipo celular
conhecido como “ limite de Hayflick ” (50/60 divisões), já está programado, sendo distinto para cada
espécie, de acordo com a sua longevidade. Hayflick descobriu que o mecanismo que controla e
memoriza o número de divisões encontra-se impresso no material genético, constituindo um ponto de
partida para a busca dos genes da morte, denominados “gerontogenes ”.
20

Assim, Hayflick iniciou a teoria do relógio biológico indicando que o processo de envelhecimento
estaria geneticamente programado. Não se trataria de um facto de azar, nem de erro. Existiria um gene
do envelhecimento cuja expressão num determinado momento da vida, provocaria a aparição de
alterações moleculares e celulares, e consequentemente desencadearia alterações dos órgãos e
sistemas. As modernas teorias moleculares revitalizam esta teoria.

Questões que se colocam


 O “limite de Hayflick” tratar-se-á de um fenómeno programado para todas as células?
 Como explicar a morte das células pós-mitóticas que nunca se duplicam durante toda a sua
vida?
 Que papel desempenham no envelhecimento e na morte celular os desequilíbrios,
particularmente o cálcico, as agressões dos radicais livres ao ADN, a degenerescência
mitocondrial e consequentes alterações da energética celular e tantos outros?

O esgotamento do potencial de divisão celular (limite de Hayflick) não parece ser a única explicação
forte para o abrandamento das divisões dos fibroblastos no gel tridimensional do colagénio. A perda
dos fibroblastos com a idade poderia derivar de uma morte pós-mitótica, do tipo apoptose – morte
programada das células cuja duração de vida normal varia de acordo com o respetivo tipo celular. A
teoria relativa à morte celular programada, denominada de apoptose, indica que com o envelhecimento
surge uma expressão de genes suicidas que ativam as endonucleases, que iram fragmentar a cromatina
nuclear, provocando a morte celular.

Teoria das telomerases


A teoria as telomerases está inserida na corrente genética ou teoria determinista. A teoria das
telomerases postulada por Aleksei Olovnikov, defende que o gradual encurtamento dos telómeros faz
com que a célula abandone o ciclo celular e os cromossomas fiquem como que " pegajosos " e
fraturem, sendo este encurtamento uma das possíveis justificações do processo de envelhecimento.
A telomerase é a enzima que assegura a integridade dos telómeros, estes constituem estruturas
especiais do DNA situadas nos extremos dos cromossomas das células eucariotas, cuja função visa
proteger a extremidade do cromossoma (evitando que as unidades cromossómicas se unam
acidentalmente), opondo-se assim à perda de informações, ao desaparecimento do ADN.
A existência da telomerase é escassa ou está ausente nas células somáticas do organismo humano e
desta forma sempre que há um ciclo de replicação de DNA os telómeros encurtam, verificando-se
perda de cerca de 35 pares de bases (nucleótidos)/ano, isto dos 4 aos 80 anos de idade.

Os cientistas verificaram que:


 As células progericas apresentam uma reduzida longitude de telómero
 Os telómeros das células fetais são mais largos que os das células adultas
21

Teoria imunológica
A teoria imunológica insere-se nas teorias deterministas. São vários os investigadores que defendem
que as transformações que ocorrem ao nível do sistema imunitário podem ter um papel etiológico no
envelhecimento. Segundo esta teoria, o envelhecimento resultaria da formação de anticorpos que
atacariam as células sãs do organismo.
As células do sistema imunitário responsáveis pela resposta imunitária, devem não só reconhecer o
que é específico de um organismo, isto é, as suas componentes normais (o eu), mas também identificar
as macromoléculas do invasor (o não eu) estranhas a esse organismo. As células agem, então, para as
destruir ou neutralizar preservando assim a homeostase. Num organismo em envelhecimento o sistema
imunitário parece deixar de ser capaz de distinguir o "eu" do "não - eu". Neste caso, o sistema
imunitário ataca certas pequenas partes do corpo como fossem invasores. A perda da imunidade
provoca então uma perda do controlo, por parte dos vírus latentes, ou uma insurreição originada por
fenómenos de auto-imunidade.

A teoria imunológica da senescência tem recebido o apoio de vários investigadores


Macfarlane Burnet (1899-1985), propôs que o timo seria o órgão controlador, cujas modificações
gerariam senescência. O autor admitiu que os clones de células originariamente proibidas por um
sistema imune intacto surgiriam por mutação somática e persistiriam quando as funções imunes se
tornassem defeituosas.
Outros autores propõem que os linfócitos sofreriam mutação somática, o que modificaria as suas
propriedades antigénicas, determinando uma ampla reação antigénio-anticorpo aos diferentes tecidos.
O timo desempenha um papel crítico no desenvolvimento de parte do sistema Imunológico. Ele é
relativamente grande em relação ao tamanho do corpo durante a vida fetal e nos primeiros dois anos
após o nascimento. Aumenta em tamanho até a puberdade e, então, começa a atrofiar.

Teoria neuro-endócrina
A teoria neuro-endócrina insere-se nas teorias deterministas. Berger e Mailloux-Poireier (1995)
referem-nos que segundo vários investigadores o envelhecimento é causado pelo fracasso ou
insuficiência do sistema endócrino no que se refere à coordenação das diferentes funções do corpo.
O sistema endócrino funciona em estreita harmonia com o sistema nervoso, com o objetivo de manter
a homeostase. O controlo endócrino assenta em mensageiros químicos chamados hormonas. Estas
participam na regulação de diferentes fenómenos como o crescimento, a homeostase sanguínea, o
metabolismo dos glúcidos, entre outros.
A maior parte das funções neuro-endócrinas parece diminuir com a idade. Segundo a teoria neuro-
endócrina, a regulação do envelhecimento celular e fisiológico está ligada às mudanças neuro-
endócrinas. A modificação da produção ou da libertação de certas hormonas figura entre estas
mudanças e teria efeitos diretos sobre o envelhecimento através de um ciclo de retroação negativa.
22

Para alguns autores a longevidade seria regulada por um relógio biológico que agiria sobre glândulas
endócrinas, sobretudo na hipófise, a fim de provocar a falha do sistema imunitário e circulatório.

Teoria dos radicais livres


A teoria dos radicais livres está inserida nas teorias estocásticas. Esta teoria postulada por Denham
Harman em 1956, propõe que o envelhecimento e a morte celular resultam dos efeitos nefastos
causados pela formação dos radicais livres produzidos durante o metabolismo celular dos organismos
aeróbios. Durante a respiração celular (ciclo de Krebs) geram-se radicais livres de oxigénio (peróxido,
superóxido e hidroxilo) que produzem alterações na função celular. Os radicais livres reativos
formados nas células podem oxidar biomoléculas e conduzir à morte celular e ao dano tecidular. Os
lípidos são os mais suscetíveis à ação dos radicais livres.
Radicais livres são átomos ou moléculas altamente tóxicas ao organismo, que possuem um
número ímpar de eletrões na sua órbita externa. O oxigénio constitui a sua maior fonte. São
altamente reativos e instáveis, capazes de desencadear grandes alterações químicas num espaço
de tempo muito curto.
Normalmente as próprias células protegem-se por meio da formação de antioxidantes endógenos
(catálases, superóxido dismutase, glutatião peroxidase, entre outros). À medida que envelhecemos
perdemos esta capacidade de defesa e graças a fatores exógenos que seguem o progresso humano, o
poder dos radicais livres aumentou significativamente (são exemplos: o tabagismo, a poluição do ar,
as radiações ionizantes e solares, o maior consumo de gorduras, entre outros). Os radicais livres têm
grande apetência por lípidos, roubando um eletrão dessas estruturas. Os lípidos existem
maioritariamente na membrana, provocando estragos. Assim atendendo que livrar-nos deles é
difícil, o melhor método será a sua prevenção através de uma alimentação rica em antioxidantes.
Todos temos capacidade de produzir antioxidantes endógenos, à medida que envelhecemos, essa
produção diminui.
Mais recentemente Miquel (1991) postulou que um dos principais geradores de radicais livres seria a
cadeia de fosforilação oxidativa, em especial a mitocôndria. A mitocôndria consome cerca de 90% de
oxigénio celular total, constituindo uma fonte contínua de radicais livres de oxigénio, que vão causar
dano à molécula de ADN mitocondrial. A lesão deste último conduziria a uma diminuição do ATP e
consequentemente a uma diminuição da capacidade funcional dos tecidos, constituindo esta uma
característica do envelhecimento.
Esta teoria é uma teoria estocástica porque os radicais livres vêm do ambiente, que é responsável
pela produção cada vez mais elevada de radicais livres.

Base de apoio a esta teoria


Cientistas verificaram que os animais, cujo consumo de oxigénio era elevado em proporção ao seu
tamanho, possuíam uma vida mais curta, e que a administração de antioxidantes demonstrou um
aumento da expectativa de vida.
23

Teoria da auto-intoxicação
A teoria da auto-intoxicação está inseridas nas teorias estocásticas. Para Élie Metchnikoff (1845-
1916), a autointoxicação do organismo humano por produtos do metabolismo e da putrefação
intestinal seria responsável pelo envelhecimento do organismo. Este autor, nos seus trabalhos insistiu
sobre o facto de que os produtos de putrefação ao nível do cólon são absorvidos durante toda a vida
do indivíduo, o que vem a explicar o seu efeito tóxico. Afirmou ainda, que os fatores que evitam a
putrefação intestinal devem retardar a velhice.
Está demonstrado, segundo José Reis, que certos produtos do metabolismo têm propriedades tóxicas
apesar do mecanismo natural de defesa do organismo. Estes produtos do metabolismo determinam
alterações maiores ou menores dos vários órgãos ou tecidos, observados principalmente ao nível do
rim, do fígado e do aparelho circulatório, sob a forma de doenças.
Os pigmentos associados com a idade, como por exemplo a lipofuscina, também chamada de pigmento
senil, produz-se provavelmente como resultado das reações de auto-oxidação, cujos produtos se
depositam no interior da célula.
Durante o processo de envelhecimento também se pode produzir o aumento de outros compostos
inativos. O progressivo aumento de ureia e creatinina no sangue seria um bom exemplo dos produtos
metabólicos que afetam todo o organismo.

Teoria do erro da síntese proteica


A teoria do erro da síntese proteica ou teoria do erro catastrófico está inserida nas teorias estocásticas.
Havendo uma alteração na molécula de ADN, este falseia a informação genética incapacitando as
células de produzir proteínas competentes à sobrevivência das mesmas células. Assim, segundo esta
teoria, o envelhecimento resultaria da morte celular.
Sabe-se que a molécula do ADN é depositária da informação genética e que o gene, transportado pelo
ADN, é um pequeno fragmento que possui a informação necessária ao fabrico das proteínas
indispensáveis à manutenção da vida. Alguns investigadores afirmam que erros ao nível das inúmeras
etapas da síntese proteica levariam à formação de proteínas incompetentes e incapazes de desempenhar
as suas funções. Esses erros ou perturbações, seriam responsáveis pelo envelhecimento.
Segundo esta teoria, os erros na síntese da proteína surgirão também nas células dos organismos
jovens, embora numa baixa frequência, elevando-se para níveis significativos à medida que os anos
passam. Deste modo, a acumulação de proteínas deficientes é considerada uma fonte importante de
deterioração da capacidade fisiológica celular relacionada com a idade.
Verificou-se que à medida que as células se aproximavam da divisão final e letal, o número de
alterações celulares aumentava, tal apontava para o mecanismo de deterioração da síntese proteica. De
facto, Hayflick observou que os fibroblastos da cultura, antes da perda da capacidade de divisão,
perdiam grande parte da sua capacidade de produzir colagénio. Posteriormente, centenas de alterações
morfológicas e funcionais foram observadas, tais como alterações ao nível: dos lípidos, carbohidratos,
aminoácidos, ADN, ARN, e de diversas enzimas.
24

Assim, atendendo ao referido, cada vez mais se conclui que o processo de envelhecimento biológico
não pode ser explicado através de uma única teoria.

Teoria de uso e desgaste


A teoria de uso e desgaste ou desgaste e rutura está inserida nas teorias estocásticas. Esta teoria
postula que o organismo humano se comporta como uma máquina, cujas partes se deterioram com o
uso. Este desgaste provocaria anomalias, advindo daí uma paragem desse mecanismo.
Em 1891, August Weisemann acreditava que o desgaste gradual das células somáticas devido ao seu
trabalho fisiológico, constituía a causa mais marcante do envelhecimento.
Shock (citado por Berger e Mailloux-Poireier, 1995) não partilha desta opinião, pois segundo este, ao
contrário das máquinas os organismos vivos desenvolveram certos mecanismos capazes de
autorreparação. Por exemplo, a mucosa do trato gastrointestinal continuamente é renovada, que,
segundo Shock, diminuem os efeitos do envelhecimento por desgaste.

Teoria do entrecruzamento
A teoria do entrecruzamento ou “cross-linking” faz parte das teorias estocásticas. Esta teoria
postulada por Fritz Verzar (1886-1979), argumentava que o envelhecimento se devia ao aumento das
ligações cruzadas (pontes) nas moléculas proteicas e no ácido nucleico, alterando assim a sua atividade
bioquímica, especialmente no colagénio e no ADN.
O colagénio é uma proteína do tecido conjuntivo que podemos encontrar principalmente nos
ligamentos, tendões, músculos, cartilagens, córnea, válvulas cardíacas e vasos sanguíneos. A sua
molécula é constituída por três cadeias interligadas de aminoácidos. O seu entrelaçamento forma uma
estrutura maior, denominada de tropocolagénio. As moléculas de tropocolagénio, unindo-se entre si,
formam uma rede forte e resistente. À medida que o indivíduo envelhece surgem ligações cruzadas
que tornam a estrutura ainda mais resistente e quase inflexível.
Com o aumento da rede de ligações cruzadas no envelhecimento, os processos de difusão seriam
alterados, a permeabilidade dos vasos sanguíneos modificaria-se, resultando na passagem menos
eficiente de nutrientes e metabólitos entre as células e os vasos sanguíneos. As consequências da
difusão inadequada seriam estados precários de função celular e de viabilidade. Observou-se também
que, com o envelhecimento, ocorrem modificações na ação da enzima colagenáse sobre as ligações
cruzadas, sendo o colagénio mais velho mais resistente à ação enzimática.
As ligações cruzadas ocorreriam também entre as cadeias de ADN, pela ação de diversos agentes,
como a radiação e certas substâncias químicas, que modificariam o código e a informação genética.

Teoria da restrição calórica


Esta teoria, com base em estudos experimentais (em organismo unicelulares e multicelulares), postula
que a restrição calórica (RC) pode incrementar significativamente a longevidade em numerosas
espécies. Para além disso, a RC melhora diversas atividades metabólicas (glicemia), imunes (melhora
25

as defesas face ao stress, às infeções e ao cancro) e neuro-endócrinas (restabelece os níveis normais


de diversas hormonas). Estas alterações podem dever-se a variações na expressão de determinados
genes.
Investigadores descobriram que a RC ativa o gene produtor da proteína de sirtuína, esta por um lado
ajuda a regular a atividade genética, por outro ajuda a reparar quebras no DNA.  As proteínas
sirtuínas assinalam os genes que devem permanecer inativados no interior das células, ajudando desta
forma a preservar a cromatina. Quando ocorrem danos no DNA as proteínas abandonam as suas
funções de “guardas” para ajudar o DNA a reparar os erros. Durante este intervalo de tempo, o
invólucro da cromatina pode desenrolar-se e os genes até agora silenciados começam a “despertar”. À
medida que os anos passam e se acumulam danos no DNA a sirtuína vai perdendo a capacidade de
regular eficazmente a atividade genética, surgindo como consequência as características próprias do
envelhecimento.
Um grande nº de habitantes de Okinawa (Japão) praticam a restrição calórica, sendo a comunidade
que mais centenários possui por cada 100 000 habitantes.

Provavelmente a razão da existência de imensas teorias justifica-se porque uma teoria por si só
não consegue explicar o processo de envelhecimento.

“Os idosos nascem ou fazem-se?” Certamente são corretas as duas.


Assim, para muitos cientistas o envelhecimento seria o resultado da interação entre o genoma e os
fatores ambientais. O primeiro ditaria a longevidade do indivíduo. Os fatores ambientais
condicionariam o atingir dessa longevidade.
É possível que as alterações do envelhecimento decorram de modificações do genoma, induzidas por
fatores da própria célula ou a ela estranhos. Sejam quais forem esses fatores a sua ação é nociva,
progressiva e irreversível, determinando a incapacidade crescente de adaptação da célula e do
organismo à envolvente ambiental, incapacidade que alguns investigadores consideram ser a
expressão última do envelhecimento.
Contudo, nova questão ressalta, isto é, será que a variabilidade da longevidade será determinada em
maior percentagem pelos fatores internos (genética) ou pelos fatores externos (como os estilos de vida
e o ambiente)?

Genes, somos o que comemos?


Estudos efetuados com gémeos que nasceram geneticamente iguais revelaram que ao longo do tempo
não formam os mesmos genes que ligaram (ativaram) ou desligaram (desativaram), levando assim a
inferir que a genética é influenciada pelo ambiente (alimentação, atividade, entre outros).
26

Limites das teorias


 Nenhuma teoria por si só consegue explicar o processo de envelhecimento
 O envelhecimento está simultaneamente sobre a ação do genoma e do ambiente, sem que se
possa atribuir um valor específico a cada um dos fatores
 As teorias apresentadas têm uma visão simplita e unidimensional do envelhecimento. No
entanto, o envelhecimento é um processo dinâmico que não pode ser explicado tendo por base
unicamente a categoria biológica.

Teorias Psicossociais do Envelhecimento

O envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades para a saúde, segurança e


participação das pessoas idosas. Visa melhorar a qualidade de vidas das pessoas à medida que
envelhecem.

Teoria da atividade
Se um idoso pretende obter uma maior satisfação na vida, bem como manter a sua autoestima e
conservar a sua saúde, deve manter-se ativa. A velhice bem-sucedida pressupõe a descoberta de novos
papéis ou uma nova organização dos já desempenhados. Consequentemente a sociedade deve valorizar
a idade e facilitar este processo.

Aspetos positivos Crítica


Sentimento de bem-estar: sentir-se útil. Não há associação causal entre a atividade e a
satisfação com a vida.

Proteção contra o aborrecimento, solidão, Demasiado idealista.


doença.
As interações sociais contribuem para melhorar Não é aplicável a todos os grupos
a imagem do mesmo. socioeconómicos, sobretudo aos menos
favorecidos e aos de maior idade.
Ideal para os grupos em idade de jubilação.

As atividades sociais jogam um papel


“amortecedor” para atenuar a perda de papéis
mais importantes.
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Teoria da continuidade
Teoria da continuidade ou teoria do desenvolvimento. Esta teoria contempla que a velhice não se trata
de um período final, separado das outras fases, mas constitui sim uma parte integrante do ciclo de vida,
na qual o idoso dá continuidade aos seus hábitos de vida, nas suas preferências, experiências e
compromissos adquiridos e elaborados durantes a sua vida, pois os mesmos fazem parte integrante da
sua personalidade. O desejo de continuidade, para além de servir como uma meta de adaptação, motiva
as pessoas a efetuarem uma preparação prévia para alterações como por exemplo a reforma.

Aspetos positivos Crítica


Resgata o sentido de identidade do individuo ao Dificuldade para conciliar a ideia de
longo da sua vida. desenvolvimento da personalidade com a
continuidade no sentido da estabilidade.

Preparação da velhice: Estabelece preditores É dada maior importância à continuidade


para os diferentes tipos de envelhecimento, cuja “interna” no sentido da identidade.
utilidade seria tomar consciência deles desde as
primeiras etapas da vida.

Destaca a necessidade de aprender a utilizar as O sentido de “cristalização” da personalidade na


diferentes estratégias de adaptação que ajudem a idade madura, não dá lugar a situações onde se
reagir eficazmente frente aos sofrimentos e produzem reorientações radicais da existência.
provas da vida.

De acordo com esta teoria, o sucesso do envelhecimento depende da capacidade de cada um para
manter-se e continuar os padrões de comportamento anteriores. A personalidade e os padrões de
comportamento básicos permanecem inalterados com o progresso do envelhecimento. Uma pessoa
que foi afastada e socialmente isolada em uma idade jovem, muito provavelmente, fará o mesmo
quando idosa.

Teoria da desvinculação
Teoria da desvinculação ou teoria da desconexão ou teoria da desinserção. Considera que o
envelhecimento bem-sucedido implica uma separação progressiva da vida social.
Verifica-se um ciclo vicioso entre o idoso e a sociedade, isto é, o idoso afasta-se cada vez mais da
sociedade, esta por suas vez tolera menos relações para com ele, que como processo adaptativo e de
manutenção do seu equilíbrio é saudável para o indivíduo e conveniente para a sociedade, na medida
em que, as instituições podem sobreviver nas mãos de indivíduos mais jovens e atualizados em direção
ao progresso.
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Princípios básicos da teoria da desvinculação


1. Envelhecer implica retraimento do idoso para com a sociedade e da sociedade para com o idoso
2. A desvinculação possui um formato psicológico – menos afetos, e um formato social, menos
relações.
3. Desvincular-se é saudável para o indivíduo porque mantém o equilíbrio e para a sociedade que
pode ser guiada por jovens preparados.

Aspetos positivos Crítica


Assegura o funcionamento ótimo da sociedade. Muitos sujeitos continuam sendo ativos e
exercem eficazmente as suas funções sociais.

Representa uma forma ordenada de transição do Subestima a necessidade de contacto e


poder. interações sociais.

Permite aos indivíduos adaptarem-se mais A desvinculação não tem que ser uma opção
adequada mente às suas perdas. definitiva e irreversível.

Protege o individuo contra situações de stress. Propícia um maior egocentrismo.

Teoria da subcultura
Esta teoria coincide em alguns pontos com a teoria da comparação social, que refere que utilizamos a
comparação para validar os nossos juízos, para estabelecer o nosso nível de aspirações e
inclusivamente a nossa autoestima. Se necessitamos de uma autoestima positiva, uma comparação
com pessoas de nível superior implica uma imagem «negativa da nossa parte, razão porque
procuramos estabelecer comparação com pessoas do nosso meio, similares a nós.
Os idosos que compartilharam uma experiência histórica e social comum, e possuem problemas
idênticos, entendem-se melhor entre si. Desta forma, os idosos formam uma subcultura à parte, uma
minoria social, que lhes ajuda a manter a sua identidade e uma autoestima positiva, pois permite-lhes
estabelecer comparações de si com outras pessoas que estão em situação similar.

Alterações Biológicas

O envelhecimento dá-se a todos os níveis: celular, tecidular, orgânico e sistémico.

Modificações celulares e tecidulares


 Retardo na diferenciação e crescimento celular. Perda gradual do número de células.
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 As células especializadas perdem, com os anos, a sua aptidão para desempenhar funções
integradas e são perturbadas na sua interação com as outras células, pela deterioração do meio
extracelular.
 Nas células nervosas, cardíacas e hepáticas acumulam-se pigmentos como a lipofuscina.
 Descida da quantidade de água intracelular.
 Ocorre uma perda dos tecidos de suporte subcutâneos.
 O tecido conjuntivo torna-se flexível, conferindo uma maior rigidez ao que faz parte (órgão,
vaso, entre outros). A pontagem do colagénio prossegue ao longo do envelhecimento e leva à
rigidez crescente das fibras.
 O tecido muscular atrofia-se e torna-se menos elástico, mesmo nas pessoas fisicamente ativas.
 Estima-se que a partir dos 25 anos perdem-se quotidianamente de 50 mil a 100 mil neurónios.
A diminuição do número de neurónios provoca uma redução das fibras e dos feixes nervosos
e uma baixa da capacidade de transmissão ou de receção dos influxos nervosos ao cérebro.
 Aumenta o tecido gordo em relação ao tecido magro.

Acumulação de gordura no corpo


Com o envelhecimento, a gordura corporal é de alguma forma redistribuída de forma distinta para os
dois sexos.
Nos homens a gordura subcutânea diminui na periferia do corpo, mas o depósito de gordura aumenta
na zona central (gordura subcutânea do tronco) e internamente (órgãos gordurosos – tais como o
coração, rins e fígado). Os homens acumulam a gordura principalmente no tronco, tórax, costas e
abdómen – “ forma de maça ”.
Nas mulheres a gordura corporal total aumenta com o envelhecimento. A quantidade crescente de
gordura corporal total nas mulheres deve-se sobretudo a um aumento na gordura corporal interna. Nas
mulheres, os quadris (ancas) e as pernas constituem os principais locais de depósito de gordura – “
forma de pêra ”.

Composição corporal
Composição corporal com base na água, gordura e massa muscular no adulto jovem e no idoso.
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O envelhecimento altera a composição corporal. A água, como componente principal, no organismo


da criança corresponde a 70%, no adulto jovem corresponde a 60% e no idoso a 52% Aquando de
perdas moderadas de líquido, a desidratação apresenta-se evidente. Por outro lado, a reposição deverá
ser lenta e cuidadosa para se evitar sobrecarga carciocirculatória.
A gordura no organismo do jovem adulto corresponde a 21% e no organismo do idoso corresponde a
36%. Em relação à massa celular, o jovem adulto tem uma percentagem de 19% e o idoso uma
percentagem de 12%
Estes dados mostram com o envelhecimento perde-se mais água e ganha-se mais tecido gorduroso.

Qual é o problema de se perder água e se ganhar mais gordura?


Existem fármacos hidrossolúveis e fármacos lipossolúveis, significa que existem fármacos que são
solúveis em água e fármacos que são solúveis em gordura, respetivamente.
Com o aumento da gordura e diminuição da água no corpo vai haver uma alteração na farmacocinética.
A farmacocinética diz respeito ao que o organismo faz ao medicamento, ou seja, ao sistema ADME,
que significa absorção, distribuição (pela corrente sanguínea), metabolização (pelo fígado) e
eliminação. Portanto, vai haver um aumento de fármacos lipossolúveis e diminuição dos fármacos
hidrossolúveis, isto é, vai haver mais distribuição de fármacos lipossolúveis pela corrente sanguínea.
Isto faz aumentar a toxicidade, provocando, por exemplo, quedas.

Envelhecimento ósseo, muscular e articular


As alterações a nível do sistema locomotor são as que surgem mais rapidamente. Não só modificam a
aparência e a estrutura física mas também o funcionamento do organismo. Atingem os músculos, ossos
e articulações, mas também o conjunto de tecidos de suporte. Estas alterações têm um impacto
significativo na vida do idoso, pois poderá resultar em perda da independência.

Envelhecimento ósseo
Existem dois tipos de tecido ósseo:
 Tecido ósseo cortical, que diz respeito ao osso compacto, que tem como funções a proteção e
a mecânica.
 Tecido ósseo trabecular, que diz que ao osso esponjoso, que tem função metabólica
(hematopoiese – processo de formação, desenvolvimento e maturação das células do sangue).

O tecido ósseo é constituído por:


 Osteoclastos – participam nos processos de absorção e remodelação = reabsorção óssea
 Osteoblastos – sintetizam a parte orgânica da matriz óssea = formação de osso
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Com o envelhecimento (essencialmente a partir de cerca dos 45/50 anos) aumenta a desmineralização
da massa óssea, correspondendo a uma diminuição da sua densidade, o que coloca o idoso sob maior
risco de fraturas. A perda de osso trabecular excede a perda de osso cortical.
A desmineralização óssea coloca a pessoa idosa sob maior risco de fraturas. A perda de trabéculas
aumenta muito o risco de fraturas de compressão nas vértebras. O corpo das vértebras, que suporta o
peso, é constituído presencialmente por osso esponjoso ou trabecular. Logo ao haver perda de osso
trabecular, o corpo das vértebras fica mais sensível a fraturas.
Em média, aos 80 anos, o homem perdeu aproximadamente 27% de osso trabecular. As mulheres
perdem cerca de 43% de osso trabecular até aos 90 anos. A principal razão das mulheres perderem
mais percentagem de osso trabecular em relação aos homens é a redução de estrogénio, consequência
da menopausa. O estrogénio, nas mulheres, e a testosterona, nos homens, são hormonas que participam
no processo de formação de osso.
As mulheres, devido à menopausa (diminuição de estrogénios) têm mais frequentemente osteoporose.
A densitometria óssea é o exame mais importante para o diagnóstico da osteoporose, visto que avalia
a densidade óssea.

Importância da reabsorção óssea


Na reabsorção, a estrutura óssea é dissolvida e digerida pelos ácidos e enzimas produzidos pelos
osteoclastos. A reabsorção é importante para garantir reservas adicionais de cálcio quando necessário
para o bom funcionamento do organismo.

Funções do cálcio:
 Participa na constituição dos ossos e dentes = formação estrutural
 Regula o ritmo cardíaco
 Essencial para a coagulação
 Intervém na transmissão do impulso nervoso

Quando não existe cálcio no organismo é necessário ir buscar aos alimentos.


Para que haja boa absorção de cálcio é necessário haver vitamina D, que aumenta a sua absorção
intestinal e diminui a sua eliminação excessiva.

Formas de obter vitamina D


 Na alimentação
 Sol/radiação através da pele – a pele tem 7-dehidrocolesterol, um percursor da vitamina D,
que se converte em vitamina D3

Os idosos com o avançar da idade absorvem cálcio com menos eficiência, tal ocorre por diminuição
plasmática da vitamina D. Em termos de alimentação, a dieta dos idosos é, em geral, pouco variada,
32

contendo menos conteúdo de vitamina D porque fazem muitas vezes uma dieta à base de papas. Por
outro lado, o grau de isolação é menor, devido a alterações do estilo de vida: menor atividade física,
dificuldade na deambulação, logo não passam tanto tempo ao ar livre. Por questões culturais, os idosos
usam roupa em excesso e de cor escura devido à viuvez. Por estas razões, a síntese cutânea da vitamina
D mediada pela radiação ultravioleta diminui nas pessoas idosas.

A redução da vitamina D leva a uma hipocalcemia – diminuição da concentração de cálcio, conduz à


reabsorção de cálcio do osso por parte do aumento da hormona PTH.

Vitamina D Hipocalcemia PTH

Comparação do tecido ósseo entre jovem adulto e idoso

1 – Osteoblastos
2 1*
2 – Osteoclastos
1 2

Estrogénios Os estrogénios e a calcitomina impedem a


reabsorção óssea. Nos idosos estão em
Com o processo de envelhecimento Calcitomina menor quantidade, logo não impedem.

PTH

* Nos idosos, os osteoblastos estão em menor quantidade. No entanto, é possível aumentar a sua
atividade através do exercício físico.

Envelhecimento articular
Com o envelhecimento ocorre a ossificação do tecido interposto, fazendo com que as suturas do crânio
desapareçam, diminuindo a elasticidade do crânio. As articulações completamente ossificadas
denominam-se de sinostoses. Também ocorre a calcificação de ligamentos e a diminuição do volume
e da qualidade do líquido sinovial, contribuindo para a deterioração da cartilagem articular.
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Articulações não sinoviais


 Sinartroses – articulações imóveis (exemplo: crânio)
 Anfiartroses – articulações ligeiramente livres (exemplo: coluna)

Articulações sinoviais
 Diartroses – articulações livres (exemplo: joelho)

A ossificação do tecido entreposto das suturas do crânio diminui a elasticidade do crânio, tendo como
consequência o aumento do risco de trauma cranioencefálico (TCE) aquando de uma simples queda.

Quando a cartilagem articular é comprimida, ela exsuda líquido através de poros existentes na camada
externa, e, quando a compressão cessa, o líquido sinovial retorna para a cartilagem. Essa compressão
intermitente é essencial à nutrição da cartilagem articular, pois esta não possui irrigação sanguínea.

Os profissionais de saúde devem efetuar movimentos ativos e passivos com pessoas idosas que
estão acamadas. À luz do processo de envelhecimento biológico diga porque tal tem de ocorrer
ao nível das articulações do joelho.
No joelho, a cartilagem articular não possui irrigação sanguínea. Os movimentos passivos e ativos são,
por isso, importantes para a nutrição da cartilagem articular porque devido ao movimento o líquido
entra e sai pelos poros. Por outro lado, à medida que envelhecemos a quantidade e qualidade do líquido
sinovial diminui.

Para manter o equilíbrio, o idoso tem que se inclinar para a frente de forma a manter o centro de
gravidade. A coluna vertebral acentua devido à desidratação dos discos vertebrais, a coluna vertebral
vai encolhendo e a estatura vai diminuindo. A cavidade torácica diminui também de volume e as
costelas deslocam-se para baixo e para a frente, provocando um risco maior de queda. Esta redução
da caixa torácica, associada à atrofia dos músculos respiratórios, diminui a amplitude respiratória, a
largura dos ombros, e é responsável pela posição inclinada para a frente, de muitos idosos. Este enrolar
do corpo altera a aparência, dificulta a mobilidade e acentua ainda mais o encolher do corpo. Forma-
se uma corcunda, à qual se dá o nome cifose.

Envelhecimento muscular
Com o envelhecimento há uma atrofia dos músculos do organismo, em especial do tronco e das
extremidades (levando a uma deterioração do tónus muscular, a uma diminuição da força, da
resistência e da agilidade). Há uma diminuição das reservas de glicogénio e aumento do tecido gordo
no interior dos músculos.
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À diminuição da massa muscular dá-se o nome de sarcopenia. Não é possível evitar a sarcopenia,
apenas é possível desacelerar. Com atividade física é possível recuperar massa muscular.
Aos 80 anos a massa muscular máxima perdeu-se aproximadamente 50%. Este declínio inicia-se já a
partir da terceira década de vida, e parece acelerar-se principalmente a partir da quinta década de vida.
O envelhecimento dos músculos é o resultado da atrofia das fibras musculares e do aumento
significativo de tecido não muscular (tecido adiposo e conjuntivo). A atrofia das fibras musculares
tem sido atribuída à perda de neurónios motores, pois cada neurónio motor espinal enerva um grupo
de fibras musculares, e quando este morre, as fibras musculares ficam paralisadas e sofrem um
processo de atrofia e degeneração.

Envelhecimento tegumentar

O sistema tegumentar é composto pela pele e anexos – glândulas, unhas, cabelos, pelos e recetores
sensoriais. Tem importantes funções, sendo a principal agir como barreira, protegendo o corpo da
invasão de microrganismos e evitando o ressecamento e perda de água para o meio externo.

Epiderme

Camadas da pele
A pele é o maior órgão do corpo e consiste em duas camadas, a epiderme e a derme. A derme é a
verdadeira pele e nela estão embebidos vasos sanguíneos, nervos, folículos pilosos e glândulas
sudoríparas, entre outros. A espessura da derme e da epiderme varia. Por exemplo, camadas espessas
de pele cobrem as plantas dos pés e as palmas das mãos, mas as pálpebras são cobertas com camadas
extraordinariamente finas de pele.
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A epiderme é a camada mais saliente e é composta por 5 subcamadas, da mais interna para a mais
externa: camada basal, camada espinhosa, camada granulosa, camada lúcida e camada córnea. A
camada córnea possui, em 90% da sua composição, queratinócitos, que produzem queratina. A
queratinização é a transformação das células vivas da camada basal em células pavimentosas mortas
da camada córnea. Contém melanócitos, responsáveis pela pigmentação da pele, assim como células
que fazem parte do sistema imunitário, as células de Langerhans, que asseguram um papel importante
na defesa imunológica do organismo.
A derme é a camada mais profunda, chamada de verdadeira pele. Composta essencialmente por
macromoléculas da matriz extracelular ricas em colagénio e que podem representar até 70% das
proteínas dérmicas. A elastina representa 1 a 3% delas, e o resto inclui os proteoglicanos, o ácido
hialurónico e as glicoproteínas de estrutura (a fibronectina, em particular) que enchem os interstícios
entre as fibras e as células. Esta construção macromolecular assenta nos fibroblastos, que formam o
elemento celular principal da derme. O colagénio confere resistência à pele e a elastina confere
elasticidade.
De igual forma que uma casa assenta nos seus alicerces, a pele repousa na hipoderme (camada
subcutânea), que a liga aos ossos e músculos subjacentes e lhe fornece vasos sanguíneos e nervos. Esta
consiste num tecido conjuntivo laxo com fibras de colagénio e de elastina, com quantidades variáveis
de gordura (tecido adiposo). Os seus principais tipos de células são os fibroblastos, as células adiposas
e os macrófagos.
Os anexos da pele abrangem o cabelo, as unhas, as glândulas sudoríparas e as glândulas sebáceas, e
fazem parte de um sistema a que se denomina de sistema tegumentário. O envelhecimento deste
sistema pode ocorrer por diversos fatores, tais como: a raça, o sexo, os genes e as hormonas.

Funções da pele
Assim, a pele é o órgão mais volumoso, assegurando a proteção do organismo face ao meio exterior.
Mas ela desempenha, também, um papel importante como intermediária entre o meio ambiente e o
meio interior do organismo. O seu envelhecimento, influenciado simultaneamente pelos fatores
externos e internos, é muitas vezes considerado como revelador da saúde de todo o organismo. A sua
função biológica é múltipla: isolamento físico e proteção do organismo, regulação térmica e hídrica,
proteção contra as variações físicas da atmosfera e do ambiente (ventos, humidade, radiações). Com
o sistema piloso que lhe está associado, as glândulas sudoríparas e sebáceas, as terminações nervosas
e o sistema de irrigação sanguínea, a pele está certamente entre os mais complexos de todos os órgãos.
A sua função social também é importante, pois a modificação da pele com o tempo traduz, por vezes,
mais a idade biológica do organismo que a sua idade cronológica. Cada um de nós conhece no meio
circundante pessoas que envelhecem «bem» e outras que ganharam recentemente um «ar de velho».
Nos nossos dias, uma vez que a imagem que damos de nós próprios (o famoso look) é determinante
para a carreira e, portanto, para a vida da maior parte dos indivíduos ativos, não espanta que o estudo
do envelhecimento da pele tenha ganho um impulso considerável. A indústria cosmética está entre as
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indústrias mais lucrativas. A arte de embelezar, de rejuvenescer, também muita antiga, já tinha
atingido um elevado grau de sofisticação nas sociedades mesopotâmicas e no Egipto dos faraós.

Envelhecimento da pele
Ao envelhecer, a renovação da epiderme faz-se mais lentamente. Este processo, que se distribui no
jovem adulto por um período de vinte dias, dura mais de trinta dias após os cinquenta anos. Do ponto
de vista macroscópico, a pele envelhecida difere da pele jovem, com atenção especial para rugas,
elasticidade, espessamento e superfície padrão. A primeira manifestação geral do envelhecimento
cutâneo é o adelgaçamento da pele.
Em termos estruturais, com o envelhecimento, na epiderme ocorrem variações no tamanho, na forma
e nas propriedades das células basais, ocorre também uma diminuição do nº de melanócitos
(diminuindo a produção de melanina) e do nº de células de Langerhans (diminuindo a imunidade
celular cutânea) e um aplainamento da união dermo-epidérmica. Os queratinócitos da camada basal
apoiados na lâmina basal dermo-epidérmica, proliferam de forma contínua para substituir a queratina
exfoliada. Este processo prolonga-se durante toda a vida, contudo a proliferação dos queratinócitos
abranda com a idade (por diminuição da atividade mitótica da camada basal ou germinativa).
Com o envelhecimento diminui o número de vasos disponíveis para suprir a pele com nutrientes
necessários. O ácido hialurónico, responsável pelo armazenamento de água, também diminui,
deixando com que a pele perca hidratação e volume.
As proteínas que as distintas células da derme produzem são responsáveis pela resistência,
extensibilidade (capacidade de estirar-se) e elasticidade. O colagénio é uma dessas proteínas, pois as
suas moléculas engancham-se como uma ligadura cruzada, concedendo forma e resistência à pele.
Com o envelhecimento, para além de diminuir o colagénio, constata-se também alterações importantes
na composição das fibras de colagénio, tais como o fenómeno de pontagem.
As fibras elásticas da derme diminuem em número e diâmetro. A perda de elasticidade deve-se às
alterações que surgem nas fibras elásticas (elastina). A pele jovem apresenta uma fronteira dermo-
epidérmica sinuosa, com fibras elásticas que formam uma rede densa vertical, que sobe para as papilas
dérmicas. Com a idade, estas papilas esbatem-se, a fronteira dermo-epidérmica alonga-se, a camada
epidérmica adelgaça, a rede elástica vertical fragmenta-se. A fragmentação da rede elástica vertical
tem implicações no processo de cicatrização.
Com o envelhecimento há perda dos tecidos de suporte subcutâneos, persistência da prega cutânea,
decaimento das faces, queixo e pálpebras, devido ao enfraquecimento dos músculos da face, deste
modo há o alongamento do nariz e orelhas.
As glândulas sudoríparas diminuem em número e tamanho, reduzindo a quantidade de transpiração.
As glândulas sudoríparas são muito importantes para a transpiração, como há diminuição com o
envelhecimento, os idosos não transpiram e não conseguem diminuir a temperatura corporal, e acabam
por ceder a altas temperaturas.
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A capacidade funcional das glândulas sebáceas diminui, implicando uma redução da secreção de sebo.
A pele do idoso torna-se, assim, seca e causa comichão.
O aparecimento das rugas é por certo o sinal exterior mais revelador da velhice. Quando a pele se
relaxa formam-se pregas, rugas e "sacos" (excessos de pele). As rugas, que são pregas permanentes da
pele, começam a desenvolver-se muito cedo. São causadas pela tensão e pelo relaxamento repetitivo
dos músculos (principalmente em áreas de expressão e de maior uso), provocando mudanças
permanentes. Entre os principais fatores que provocam as rugas figuram a perda de elasticidade da
pele, a diminuição do tecido subcutâneo, as radiações solares e a nutrição. Quando causadas pela
atrofia do tecido subcutâneo, as rugas são minúsculas, numerosas, paralelas ou entrecruzadas.
O pescoço é um dos locais onde o processo de envelhecimento é mais evidente. As rugas do pescoço,
que começam a aparecer pelos cinquenta anos, apresentam-se sob diferentes formas (curvilíneas,
paralelas, entrecruzadas, transversais) e são muitas vezes mais aparentes do que as da face. Também
se encontram rugas na base do nariz, por cima e entre as sobrancelhas, em torno dos lábios e da boca,
e ainda nos lobos das orelhas (rugas oblíquas).
Regra geral, a pele foto envelhecida apresenta um enrugamento grosso e sulcado, enquanto que a pele
sujeita ao envelhecimento intrínseco traduz-se em rugas finas.
Os melanócitos (as células que produzem melanina) diminuem em número, reduzindo a quantidade
de melanina na pele e contribuindo para a cor mais clara desta. No entanto, áreas localizadas de
pigmentação extra (hiperpigmentação) resultam na formação de “pontos marrons” denominados
manchas da idade, manchas da velhice ou lentigo senil. O lentigo senil ocorre com mais frequência na
parte dorsal das mãos, no rosto, nos braços e nas pernas.
Com o passar dos anos, diminui o número de vasos sanguíneos disponíveis para suprir a pele de
nutrientes necessários. Os vasos ficam mais frágeis, resultando na ocorrência de púrpura senil (áreas
hemorrágicas sob a pele).

Será possível impedir/tratar as rugas?


Há vários tratamentos que podem ser feitos para minimizar as rugas: botox, peeling químico e lifting.
O botox é uma toxina botulínica estéril e purificada derivada da bactéria Clostridium botulinum. Esta
adere aos terminais nervosos, bloqueando a libertação de acetilcolina (neurotransmissor), paralisando
os músculos.
O peeling químico é um procedimento que visa acelerar o processo de esfoliação cutânea, promovendo
a renovação solar através da utilização de substâncias químicas. Há três tipos: superficial, médio e
profundo.
O lifting é o estiramento da pele facial e cervical, visando reduzir a flacidez das rugas.

Envelhecimento tegumentar
O envelhecimento também se verifica ao nível dos tegumentos (cabelos, pêlos e unhas) e deve-se a
vários fatores, tais como a raça, o sexo, os genes e as hormonas. Ao envelhecer, os pêlos tornam-se
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mais raros e caem aos poucos, exceto na cara. Em certos locais, como o púbis, as axilas e as
extremidades (pés e mãos) a perda de pêlos é quase completa.
A aparição de pêlos na face é frequente, quer nos homens, quer nas mulheres. Nas mulheres, crescem
sobretudo no queixo, e por cima do lábio superior, enquanto que nos homens crescem nas orelhas e
nas narinas. Estes pêlos inestéticos são duros e abundantes, o que muitas vezes obriga as mulheres a
depilar-se ou barbear-se. Além disso, em alguns idosos, os pêlos das sobrancelhas tornam-se muito
espessos e duros. Todas estas modificações resultam das alterações no equilíbrio das hormonas
androgénicas e estrogénicas.
Para além dos pêlos, também os cabelos sofrem modificações muito importantes no decurso do
envelhecimento. A papila do bulbo piloso ao envelhecer juntamente com a derme, recebe uma nutrição
defeituosa e as células germinais proliferam menos (por redução da atividade mitótica), tal traduz-se
com a ação do tempo, num cabelo mais débil (torna-se mais fino e cresce menos), acabando por chegar
o momento em que ele cai definitivamente. Embora a perda de cabelo seja um fenómeno normal, essa
perda vai-se acelerando à medida que se envelhece. A repartição dos cabelos e dos pêlos, regra geral
atinge o nível máximo aos 40 anos, e a partir daí começa a involução do processo.
A calvície ou a rarefação gradual do cabelo deve-se às predisposições genéticas, raciais e hormonais,
atingindo com mais frequência os homens. Pode começar a manifestar-se desde os vinte anos. Padrões
de calvície nos homens desenvolvem-se do centro do couro cabeludo para as partes laterais. As
mulheres também podem ter calvície do mesmo tipo que os homens. Ao envelhecer, os cabelos mudam
de aparência, tornam-se menos espessos, menos fortes e com menos volume, e vão-se acinzentando
progressivamente. Esta descoloração relaciona-se com a diminuição da atividade dos melanócitos, que
produzem a melanina, agente da coloração dos cabelos.
Para além dos pêlos e dos cabelos, também as unhas se modificam. O crescimento torna-se mais lento
(dado que com a diminuição da vascularização diminui a atividade mitótica da matriz), aparecendo
depois na superfície estrias longitudinais e canelados. Estes fatores, aliados a uma diminuição da
circulação periférica, provocam o espessamento das unhas, que se tornam secas e quebradiças. Este
fenómeno, mais acentuado nas unhas dos pés, designa-se por "onicogrifose".

Melanoma maligno
Indicadores de suspeição da presença de um melanoma
 Assimetria – Metade da lesão não é igual à outra metade.
 Bordas irregulares – As extremidades do sinal são irregulares.
 Coloração – A coloração ou pigmentação não é uniforme.
 Diâmetro – Qualquer aumento no tamanho de um sinal superior a 6mm deverá ser
considerado suspeito.
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Nos idosos, a regeneração das escoriações e das feridas cutâneas efetua-se a um ritmo menor do que
na idade juvenil.

Fase inflamatória – Caracteriza-se pelo aparecimento de sinais prodrómicos da inflamação: dor,


calor, rubor, edema e perda da função. Mediadores químicos provocam vasodilatação, aumentam a
permeabilidade dos vasos e favorecem a quimiotaxia dos leucócitos – neutrófilos são os primeiros
glóbulos brancos a chegarem à ferida, sendo fundamentais na fagocitose e lise de materiais resultantes
da destruição local, originando o desbridamento e a desinfeção naturais. Igualmente importante é a
infiltração de macrófagos que desempenham funções de limpeza da ferida, libertação de fatores de
crescimento que vão estimular a migração e proliferação celular, e a formação de vasos sanguíneos.
Fase proliferativa – Os macrófagos têm um papel fundamental durante a formação e desenvolvimento
do tecido de granulação, pois além da função de desbridamento ativam também a proliferação de
fibroblastos e estimulam a neo-angiogénese (neo-vascularização). A neo-angiogénese consiste na
formação e no crescimento de vasos sanguíneos, que vão proporcionar uma maior vascularização que
permite o transporte de oxigénio e nutrientes necessários ao crescimento de epitélio, do tecido de
granulação e da própria vascularização. Os fibroblastos são responsáveis pela síntese e segregação de
colagénio, elastina e proteoglicanos que recuperam os tecidos danificados, reconstruindo o tecido
conjuntivo. Esta produção de colagénios jovens pelos fibroblastos e a intensa migração celular,
principalmente queratinócitos, vão promover a epitelização. Nesta fase ocorre também a contração ou
repuxamento da cicatriz, onde intervêm células com capacidade contrátil.

Fase de remodelação – A organização final da cicatriz inclui fenómenos de degradação enzimática


(de materiais sintetizados nas fases iniciais – colagénio, vasos, etc), reestruturação da matriz
extracelular, remodelação no posicionamento e orientação do tecido cicatricial. A reorganização do
colagénio permite a aquisição de uma maior força tênsil. A pele que sofreu lesão fica com uma
aparência esbranquiçada que não bronzeia com o sol, não tem desenvolvimento piloso e nunca fica
tão forte como a pele integra.

“Com o envelhecimento há uma diminuição da velocidade de cicatrização”. Justifique.


 A resposta inflamatória diminui
 Atraso na epitelização
 Aumento da deiscência – 3x mais em pessoas com mais de 60 anos
 Redução da síntese de colagénio
 Atraso na neo-angiogénese
40

Sistema Nervoso

Cérebro
Tálamo
Encéfalo (Crânio) Cerebelo
Hipotálamo

Mesencéfalo
SNC
Tronco Cerebral Ponte

Bulbo

Sistema Medula Espinhal (Canal Vertebral)


Nervoso

31 pares de Nervos Espinhais (Medula)

SNP

12 pares de Nervos Cranianos (Encéfalo)

O Sistema Nervoso é constituído por biliões de células nervosas ligadas entre si – os neurónios. O
encéfalo constitui o centro de controlo do Sistema nervoso e do corpo. Este encontra-se alojado na
caixa craniana. As suas principais regiões são:
 O cérebro, que constitui a parte maior do encéfalo, cerca de 7/8 do seu peso total. O cérebro
permite às pessoas ter um pensamento consciente e personalidade. Nele encontram-se os
centros nervosos que governam todas as atividades sensitivas e motoras. A camada externa
cinzenta do cérebro é o córtex. Este divide-se em vários lobos:
 Occipital – Processa informações visuais
 Temporal – Processa informações auditivas
 Parietal – Processa todas as informações somato-sensoriais
 Frontal – Envolvido em habilidades motoras

 O tronco cerebral coloca em conexão a medula espinhal com os dois hemisférios cerebrais. É
responsável por funções essenciais como a regulação das funções vitais – ritmo cardíaco,
ritmo respiratório.
 O cerebelo controla o equilíbrio e a coordenação dos movimentos.
41

O comprometimento do desempenho cognitivo não se deve ao envelhecimento, mas sim ao


aparecimento de doenças.
As zonas mais afetadas são o lobo frontal e temporal, afetando as habilidades motoras e a audição. A
zona mais resistente é por norma o tronco cerebral, não comprometendo, portanto, a regulação das
funções vitais.

A transição de um cérebro jovem para um cérebro idoso implica a diminuição do número de neurónios.
No entanto, se houver uma boa psicoestimulação a comunicação entre os neurónios melhora e não se
perde cognição. A psicoestimulação incrementa a neuroplasticidade.
 Neuroplasticidade – é a capacidade de gerar novas dendrites e sinapses pelos neurónios
remanescentes.

Senescência do Sistema Nervoso


Aos 80 anos o número de células cerebrais (neurónios) desce para metade comparativamente ao
número que se possui aos 50 anos. Com o envelhecimento, associado a maior perda de neurónios,
ocorre um incremento de células gliais do tipo astrócitos (astrocitose).
Em virtude dos números maciços de neurónios presentes no cérebro da maioria dos adultos, essa perda
progressiva não resulta numa perda significativa do funcionamento mental. Não existe perda cognitiva
percetível na maioria dos idosos que não têm doenças neurológicas.
De salientar que o grau de perda varia nas distintas partes do cérebro, verificando-se que algumas
partes são mais resistentes a esta perda – como por exemplo, o tronco cerebral.

Verifica-se à medida que passam os anos, a acumulação interneural de lipofuscina e perda de


organelos, bem como o depósito de substância amiloide.
A lipofuscina é um pigmento que serve para detetar o tempo de vida das células. Está presente em
células que não se multiplicam muito e têm uma vida longa – como é o exemplo dos neurónios.
Normalmente, quanto mais lipofuscina existe, mais velha é a célula.
Amiloides são fibrilas proteicas que se podem depositar em vários tecidos, prejudicando a função dos
órgãos.

Com o envelhecimento, ocorre uma diminuição do peso e do volume do cérebro (5 a 10%), ocorrendo
um alargamentos dos sulcos e uma diminuição (atrofia) das circunvoluções cerebrais, uma redução do
aporte sanguíneo e um aumento progressivo da resistência vascular cerebral (por arteriosclerose).
O cérbero masculino diminui de 1450 gramas aos 20 anos para 1300 gramas aos 100 anos. Já o cérebro
feminino diminui de 1300 gramas aos 20 anos para 1200 gramas aos 100 anos.

Os neurónios possuem distintas moléculas (neurotransmissores) que utilizam nas sinapses. Os


neurotransmissores mais frequentes são: acetilcolina, dopamina, adrenalina, serotonina e o ácido
42

gama-aminobutírico (GABA). As alterações na síntese e libertação destes neurotransmissores


originam ao longo do processo de envelhecimento uma disfunção nos circuitos sinápticos nos quais
estão implicados. Ademais, sabe-se que a atividade cerebral baseia-se num equilíbrio entre os níveis
dos distintos neurotransmissores, de tal forma que a redução de um deles desencadeia uma disfunção
neural.

Com o envelhecimento produz-se uma alteração dos recetores específicos para cada um dos
neurotransmissores e também das moléculas encarregadas da sua destruição e reciclagem (quando
exercida as suas funções biológicas). Logo, a correta atividade de síntese, libertação, união ao recetor
e final inativação do neurotransmissor jogam um papel fundamental no processo de atividade
sináptica. Alguns estudos verificaram a diminuição do número de certos neurotransmissores e
recetores em determinadas locais do cérebro envelhecido.

É óbvio que o cérebro sofre com a idade, uma deterioração histoquímica, contudo apesar de menos
peso, menos neurónios, mais lipofuscina, e se não existir uma doença intercorrente, trata-se de um
cérebro funcionalmente sano. Este facto, a priori paradoxal, reside no facto que o cérebro possui uma
faculdade denominada de plasticidade neuronal (neuroplasticidade), que consiste na possibilidade em
gerar novas dendrites e sinapses pelos neurónios remanescentes, mantendo assim a eficiência dos
circuitos neuronais degenerados. Podemos assim esperar observar efeitos muito positivos dos
programas de otimização dos recursos cognitivos em pessoas idosas.

Quanto ao sistema nervoso periférico, a capacidade de condução dos influxos nervosos diminui com
a idade, e mais particularmente por volta dos 45 anos, tal deve-se à invasão das fibras nervosas pelo
tecido conjuntivo. Os nervos e as fibras nervosas sensitivas e motoras que veiculam os influxos são
atingidos e a sua capacidade de receber e transmitir as mensagens diminui. O número de recetores
sensoriais diminui (os mais atingidos são os que estão ligados à dor e ao tato).
Outros neurónios sensoriais com redução da função são os que monitorizam a pressão arterial, a sede,
a presença de objetos na faringe, a quantidade de urina na bexiga e a quantidade de fezes no reto. Por
isso, as pessoas de idade são mais propensas à hipertensão arterial, à desidratação, a problemas de
deglutição (engasgam-se com maior facilidade), incontinência urinária e obstipação ou incontinência
fecal.

A diminuição dos proprioceptores responsáveis pela posição no espaço arrasta problemas de equilíbrio
e de orientação espacial, bem como na resposta às situações de urgência. A marcha torna-se mais
precária e as quedas são mais frequentes. O organismo sofre igualmente alterações a nível da
motricidade fina e global. Os movimentos motores globais tornam-se mais lentos, os músculos
cansam-se mais rapidamente e os movimentos de motricidade fina tornam-se menos precisos.
43

Com o passar dos anos, surge um tremor essencial benigno (denominado de tremor senil quando surge
após os 65 anos) que é comum nos idosos. Este tremor é fino e rápido, afetando essencialmente as
mãos e a cabeça. De referir que frequentemente o tremor da cabeça surge posteriormente ao tremor
das mãos. O tremor da cabeça é um tremor postural por isso desaparece se fixarmos a cabeça do utente
entre as mãos. Em fases mais avançadas pode incluir o mento, os lábios, a língua e a voz. Nos casos
em que o utente tem tremor destas estruturas associado ao tremor das mãos o diagnóstico de tremor
essencial torna-se mais fácil. O tremor essencial benigno, geralmente está ausente durante o repouso,
sendo percetível quando o idoso realiza tarefas voluntárias que requerem precisão.
O tremor essencial não está associado à doença e regra geral não interfere significativamente na
capacidade do idoso de funcionar de forma normal. Se porventura as atividades de vida diária forem
significativamente afetadas, poderá ser necessário recorrer a um tratamento medicamentoso (ex:
propranolol, alprazolam,..).

No Parkinsonismo, por norma, o tremor está presente aquando do repouso do utente; enquanto que no
tremor senil em repouso este tremor está ausente.

Envelhecimento dos Órgãos dos Sentidos

Gosto
 Diminuição do número de papilas gustativas (por atrofia)
 Fragilidade das mucosas
 Atrofia da língua

As perdas de paladar com a idade verificam-se especialmente ao nível do gosto doce, contudo dados
recentes indicam que estas perdas são mínimas. A sensação de sabor amargo é uma queixa comum na
velhice, que não está relacionado com a presença e ausência de papilas gustativas, mas sim com uma
boca seca (devido a uma diminuição ou ausência de secreção salivar - xerostomia) que torna
desagradável o sabor do alimento. Atendendo que os idosos constituem um grande grupo consumidor
de fármacos, de salientar que são muitos os medicamentos que contribuem fortemente para o
agravamento da diminuição da secreção salivar.

Olfato
 Degeneração do nervo olfativo Diminuição da
 Aumento do tamanho do nariz capacidade olfativa
 Proliferação dos pelos nas fossas nasais
44

Audição
De todas as privações sensoriais que afetam o idoso, a incapacidade de comunicar-se com os outros
devido à perda auditiva, pode ser uma das consequências mais frustrantes, produzindo um impacto
profundo e devastador na vida psicossocial do idoso.

Os recetores das células auditivas constituem uma estrutura chamada cóclea, que está cheia de um
líquido que se desloca pelo efeito das vibrações sonoras. Estes deslocamentos excitam as terminações
dos cílios das células constitutivas da parede interna da cóclea, chamada órgão de Corti. É a este nível
que as vibrações sonoras são transformadas em influxos nervosos.

De todas as privações sensoriais que afetam o idoso, a incapacidade de comunicar-se com os outros
devido à perda auditiva, pode ser uma das consequências mais frustrantes, produzindo um impacto
profundo e devastador na vida psicossocial do idoso.

A maior parte dos idosos sofre modificações importantes do ouvido. Estas mudanças subtis começam
muito cedo na vida e fazem-se de forma muito progressiva. Ligam-se à contínua exposição ao barulho,
e a fatores genéticos, tóxicos ou circulatórios. A maioria das perdas auditivas são mais seletivas do
que totais. Nos idosos, com o envelhecimento, ao nível do ouvido, ocorrem as seguintes alterações:
 O pavilhão endurece, torna-se mais espesso, aprofunda-se e alonga-se (aumentando o
pavilhão auricular). Ocorre também uma proliferação de pêlos nos ouvidos dos homens.
 Redução da quantidade e da qualidade de cerúmen pelas glândulas ceruminosas, tornando-se
mais seco e mais sólido, ficando facilmente retido no ouvido (logo, ocorre uma maior
acumulação de cera nos ouvidos);
 Espessamento do tímpano;
 Aumento da rigidez dos ossículos do ouvido médio (otosclerose);
 Degenerescência da fibra nervosa de audição (Cóclea - órgão de Corti)
 Atrofia do nervo auditivo.

Porque razão encontramos mais cera nos ouvidos das pessoas de idade mais avançada do que
nas mais jovens? Porque a cera que vamos produzindo é de pior qualidade – é uma cera desidratada
e, portanto, tem maior probabilidade de fazem impactação (rolhão de cera).

Formas de minimizar os rolhões:


 Lavagem do ouvido
 Produtos como otoceril (3-5 gotas durante 2-5 dias)  amolece o cerúmen e acaba por sair,
se não acontecer será necessário ir ao otorrino para remover
 Água do mar  amolece
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Constata-se também nos idosos o aumento da presença de acufenos, sensações auditivas anormais
como campainhas, estalinhos e outros barulhos semelhantes. Este problema é devido à
degenerescência progressiva do nervo auditivo.
A perda progressiva da audição que se verifica com a idade denomina-se de presbiacusia. Esta afeção
inicia-se pela incapacidade de ouvir determinados sons, sobretudo as altas-frequências (sons agudos),
que aos poucos, vai-se estendendo também aos sons de média e baixa frequência. Torna-se cada vez
mais difícil fazer a distinção entre os sons da voz e os do ambiente. A linguagem torna-se muitas vezes
ininteligível, bem como o tom de voz normal. As consoantes são menos claramente percebidas do que
as vogais porque se situam numa frequência mais elevada. Os sons são dissociados, e as palavras
confundidas. Numa conversa, a pessoa tem dificuldade em diferenciar os "s" e os "ch", e tem cada vez
mais dificuldade em interpretar a informação recebida. Por outro lado, a acumulação de cerúmen pode
intensificar a presbiacusia. A presbiacusia, entretanto, é um diagnóstico de exclusão, devendo ser
excluídas outras causas para o déficit auditivo sensório-neural.

Todos estes problemas determinam perdas de audição que se tornam mais evidentes por volta dos
cinquenta anos e se agravam de forma acentuada a partir dos 70. Avalia-se que uma pessoa em cada
quatro acima dos 60 anos sofre uma perda de audição suficientemente importante para ser considerada
surda e, seja qual for a idade, a taxa de incidência é mais elevada nos homens do que nas mulheres.
Assim, 45% dos homens e 35% das mulheres com mais de 75 anos têm dificuldades em ouvir.

Ensino ao idoso com presbiacusia


 Explicar ao idoso de que reconhecer, perante si e perante os outros, de que efetivamente não
ouve bem é uma atitude correta a seguir. Fazer com que o idoso não tenha vergonha de dizer
às pessoas de que não ouve bem, nem de pedir às pessoas para que repitam o que acabaram
de dizer. Tal atitude permite uma maior aceitação da sua deficiência auditiva e, permite uma
maior autoconfiança na capacidade para a minimização da mesma.
 Ensino quanto à manipulação dos ruídos de ambiente. Por exemplo, diminuir o som do rádio,
da televisão, porque estes podem interferir com a audição, aumentar a intensidade da
campainha do telefone e da porta, poderão constituir atitudes que melhorem as relações
sociais.
 Alertar o idoso de que o cerúmen (rolhão de cera) existente nos seus ouvidos pode reduzir
ainda mais a audição. Alertar quanto à forma de extração do mesmo e salientar ao idoso, de
que poderá ser necessário procurar ajuda especializada para a extração do cerúmen. Alertar
para que o idoso não utilize fósforos, nem algodão, porque se o fizer, pode empurrar a cera
ainda mais para dentro.
 Comunicar ao idoso, de que existem aparelhos auditivos que podem melhorar muito a audição
e que os mesmos não são muito caros. Explicar que o mesmo deverá então procurar informar-
se junto do médico especialista, relativamente à melhor opção a tomar.
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Ensino aos cuidadores, familiares e amigos do idoso com presbiacusia


 Não fale com o idoso a uma distância superior a dois metros.
 Tente colocar-se num local bem iluminado, para que a pessoa possa ver claramente e observar
os movimentos dos seus lábios, a sua expressão facial e os seus gestos.
 Comece a falar, apenas, quando tiver a certeza de que a pessoa o está a ver.
 Quando estiverem presentes mais pessoas, chame pelo nome a pessoa que ouve mal, para que
ela perceba que é com ela que deseja falar.
 As pessoas surdas, sabem ler os movimentos dos lábios. Por isso: não acentue demasiado as
palavras, pois pode distorcer os sons e fazer com que seja mais difícil a concentração na leitura
dos lábios.
 Fale mais alto que o habitual, mas não grite: os gritos não reproduzem as suas palavras de
forma clara e podem, mesmo, distorce-las.
 Não fale depressa.
 Não fale com objetos dentro da boca, não mastigue ao falar, nem tape a boca com a mão.
 Não fale diretamente para o ouvido da pessoa com deficiência auditiva.
 Se a pessoa não compreender o que lhe está a dizer, repita aquilo que disse, utilizando frases
curtas e simples.
 Dirija-se à pessoa com simpatia e respeito. Se ela não tiver conseguido compreender o que
outras pessoas disseram, repita aquilo que foi dito, desta forma ajudará a quebrar o isolamento
em que ela se encontra em relação ao mundo.

Questão
O que é a presbiacusia? Como se pode minimizar a presbiacusia?

Visão
As perdas de visão ocorrem de forma muito progressiva. Começam habitualmente muito cedo e
tornam-se mais evidentes entre os 40 e os 50 anos.

 Esclerótica
1. Túnica externa ou fibrosa
 Córnea

 Coróide
Globo ocular 2. Túnica média ou vascular  Corpo ciliar
 Íris

3. Túnica média ou vascular  Retina


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 As células epiteliais na córnea diminuem em número. Ocorre uma diminuição generalizada


da sensibilidade, ao nível da córnea, diminuindo a capacidade de perceção do dano visual.
 Diminuição do diâmetro das pupilas, modificando a quantidade de luz que chega à retina. As
respostas de contração e dilatação da pupila às mudanças de luz tornam-se menos eficazes.
 Com a idade aumenta a probabilidade de degenerescência das células recetoras da mácula
(onde se encontra a fóvea), resultando numa perda de visão fina dos pormenores.
 Ocorre uma redução da visão periférica e da visão lateral. O campo visual reduz-se e o idoso
perde a visão panorâmica das coisas. Por vezes, o campo periférico torna-se completamente
inexistente.
 Diminuição ou paragem do processo de reabsorção dos líquidos intra-oculares.
 Surgem na periferia da córnea, depósitos esbranquiçados (arco senil), e nota-se igualmente a
descoloração pigmentar da íris.
 A esclerose do cristalino e a perda da sua elasticidade resulta na degenerescência do poder de
acomodação do olho. Esta afeção denomina-se de presbiopia (presbitia) e surge regra geral
entre os 40 e os 50 anos, acentuando-se com a idade.
O olho presbita ocorre por insuficiência de acomodação, a imagem forma-se atrás da retina.

Retina – camada fotorrecetora que converte luz em impulsos nervosos


Mácula – é responsável pela visão focalizada
Miose – contração da pupila
Midríase – dilatação da pupila
Glaucoma – diminuição da reabsorção de líquido; esta diminuição do nervo ótico e pode mesmo levar
à cegueira

Tato
A capacidade de perceção táctil e a capacidade de perceção da dor local, diminuem com o avançar da
idade. Tal contribui para o aumento do risco de ocorrerem lesões graves e permanentes para os idosos,
podendo mesmo levar à sua morte (ex: por queimaduras não percebidas).
48

Envelhecimento do Sistema Cardiovascular

Coração
 Com o envelhecimento, a camada muscular do ventrículo esquerdo tornar-se mais espessa;
 A acumulação de um pigmento marrom-amarelado (a lipofuscina) aumenta no coração do
idoso;
 Contrariamente ao que acontece com a maior parte dos órgãos, o coração aumenta de peso;
 Aumento do calibre da aorta;
 Aparecimento de rigidez valvular.

Com o avançar da idade, a diminuição da elasticidade do miocárdio e o aumento da rigidez do músculo


cardíaco resulta numa diminuição da força contráctil dos ventrículos (logo, diminui o débito cardíaco,
que corresponde ao volume de sangue bombeado pelos ventrículos).

Vasos
 Espessamento do endotélio;
 Calcificação da musculatura lisa;
 Redução do teor de fibras elásticas;
 Perda da integridade das válvulas venosas;
 Esclerose dos vasos médios e pequenos.
 Diminuição da elasticidade dos vasos;
 Tendência para comprometimento da difusão;
 Tendência para o acumulo venoso;
 Aumento das resistências periféricas.

Envelhecimento do Sistema Cardiovascular

Pulmão Senil – estruturas anatómicas


 Diminuição do peso e volume
 Aumento das glândulas produtoras de muco e aumento da camada de muco (espessamento)
 Aumento do adelgaçamento das paredes alveolares (diminuição do colagénio alveolar)
 Diminuição do número de alvéolos. Uma das consequências do envelhecimento pulmonar
resulta na perda de alguns septos interalveolares. Ocorre uma ampliação do diâmetro dos
condutos alveolares, conduzindo a uma espécie de enfisema benigno, ligado à idade
(Enfisema Senil).
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Pulmão Senil – capacidade funcional


 Diminuição da difusão alveolocapilar
 Diminuição do oxigénio tecidular
 Diminuição da atividade ciliar das membranas brônquicas
 Diminuição do reflexo da tosse
 Capacidade de expansão pulmonar limitada por modificações da estrutura torácica
 Diminuição da capacidade inspiratória por calcificação da cartilagem costal - diminuição da
compliance (ou distensibilidade pulmonar)
 Diminuição da contractilidade dos músculos inspiratórios
 Diminuição da capacidade vital
 Aumento do volume residual.

Trajeto do ar:
Cavidade nasal  faringe  laringe  traqueia  brônquios  bronquíolos  dutos alveolares 
alvéolos

Envelhecimento do Aparelho Digestivo

Aparelho digestivo – estruturas anatómicas


 Perda de peças dentárias
 Diminuição da secreção da saliva
 Com o avançar da idade, ocorre uma atrofia da mucosa gástrica, provavelmente por uma
aceleração da morte celular e por uma maior lentificação na renovação celular
 Diminuição da tonicidade muscular da parede abdominal
 Diminuição do peso do fígado
 Atrofia do intestino grosso

Aparelho digestivo – capacidade funcional


 Dificuldade da mastigação
 Dificuldade da deglutição
 Diminuição na produção de ácido clorídrico e de fator intrínseco
 Atraso no esvaziamento gástrico
 Diminuição da velocidade de esvaziamento vesicular
 Diminuição da capacidade de absorção intestinal
 Hipoperistaltismo ao nível do cólon e reto
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Ocorre uma diminuição da motilidade do intestino grosso, o que faz com que a eliminação dos sólidos
pelo intestino sofra transformações. A massa fecal e a frequência de eliminação tendem a diminuir
com a idade.

A obstipação (também denominada de prisão de ventre, intestino preso) representa uma desagradável
experiência física e emocional, relacionada com a eliminação de fezes duras e pouco frequentes. A
eliminação das fezes é difícil e prolongada. É muito frequente nos idosos, podendo ocorrer devido a
uma diminuição peristáltica intestinal e a uma diminuição da sensibilidade de resposta à necessidade
de defecar, quer devido à diminuição da lubrificação do intestino pelas glândulas da mucosa intestinal,
bem como devido à redução da pressão abdominal (por aumento da flacidez da musculatura
abdominal, por aproximação da grade costal às cristas ilíacas, ocasionado por alterações da coluna)
inerentes ao próprio processo de envelhecimento. Contudo, é de salientar que a obstipação ocorre
muitas vezes, quer devido à inatividade, imobilidade e/ou por inadequada ingestão de fibras, quer
devido à existência de patologias múltiplas, causas estas mais frequentes na população idosa. A
obstipação pode conduzir a complicações graves, tais como a formação de fecalomas, a incontinência
fecal e urinária.

Trajeto dos alimentos


Boca  faringe  esófago  estômago  intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo – local onde se
dá a absorção de vit. B12)  intestino grosso

Envelhecimento do Sistema Endócrino

 Durante a meia-idade, a glândula pituitária (hipófise) alcança o seu tamanho máximo,


pesando cerca de 1gr. À medida que a idade aumenta, a glândula diminui gradualmente de
tamanho. O leito vascular da glândula pituitária diminui, e existe perda de massa celular. Com
a idade, a FSH aumenta nas mulheres após a menopausa. A secreção do FSH não se altera
nos homens.
 Com o envelhecimento diminui o nível sanguíneo da hormona de crescimento ou
somatotrofina (hormona produzida pela hipófise, com ação importante na síntese proteica e
na lipólise; estimula o crescimento dos tecidos).
 Os níveis de T4 (tetraiodotironina) permanecem relativamente inalterados por todo o processo
de envelhecimento. Os níveis de T3 (triiodotironina), entretanto, diminuem até cerca de 40%.
A taxa metabólica basal diminui com a idade. Este declínio metabólico é gradual mas pode
ser significativo. Este declínio, aliado à falta de exercício, contribui para um ganho de peso
gradual no idoso.
51

 A calcitonina que é responsável por impedir a reabsorção óssea, diminui com o


envelhecimento.
 Com o envelhecimento, aumenta a hormona paratiroideia (PTH), responsável pelo aumento
da reabsorção óssea e pela libertação de cálcio e fosfato.
 A deidroepiandrosterona “DHEA” (=desidroepiandrosterona)
 Importante androgénio produzido pelas suprarrenais que desempenha um importante papel
protetor face à carcinogénese e face à arteriosclerose, e melhora a memória, entre outras
características. Esta diminui de forma notável com a idade, quer no homem, quer na mulher.

Sangue – Sistema Imunitário

Regra geral a atividade imunitária é muito intensa no nascimento e atinge um máximo na adolescência,
depois baixa gradualmente até aos 85 anos, depois do que, este mecanismo parece estabilizar. No
entanto, nem todas as funções imunitárias envelhecem ao mesmo ritmo. São imensos os elementos a
entrar em jogo que se pode globalmente falar de "imunodeficiência relativa". Com o tempo, o
organismo tem dificuldade em se adaptar e diminui a sua margem de segurança, tornando-se mais
frágil à invasão de microrganismos e produzindo menos linfócitos capazes de combater os agentes
stressantes internos e externos.

O timo aumenta em tamanho até a puberdade e, então, começa a atrofiar. Nas pessoas mais idosas
encontramos um timo atrofiado, em que as estruturas funcionais foram substituídas por tecido adiposo,
alterando-se a coloração da glândula de um cinza rosado para amarelo. Atendendo a que o timo é a
sede fundamental da nossa competência imunitária, sobretudo de linfócitos T, é evidente que daqui
resulta num prejuízo imunitário, declinando assim a imunidade celular com a idade. Contudo, a perda
da funcionalidade do timo não implica total incapacidade, porque mesmo com um timo residual ainda
se conseguem amadurecer alguns linfócitos, evidentemente não tantos quanto um jovem.

É curioso como o sistema imunitário se comporta de uma forma tão parecida ao sistema cerebral, que
mantêm no idoso as memórias da sua infância, mas já não as memórias da atualidade. É como se
mantivesse a memória imunológica para a "infeção" que ocorreu quando criança, mas não tivesse mais
a capacidade para produzir a resposta e a memória imunológica para a "infeção" de ontem, o que é
muito preocupante pelas consequências de fragilidade e de falta de adaptação que daí decorrem.
Células citotóxicas – as células assassinas (NK – Natural Killer) que representam entre 5 a 15% da
população linfoide, não necessitam de nenhuma sensibilização antigénica prévia para exercer a sua
ação citotóxica (destruir células infetadas e neoplásicas). A atividade das NK diminui com a idade.
52

Alterações psicossociais associadas ao processo de envelhecimento

As alterações psicológicas podem assumir um modelo distinto daquele que caracteriza as alterações
biológicas. A investigação do envelhecimento psicológico normal centra-se fundamentalmente em
duas áreas, são elas: funcionamento cognitivo e personalidade.

Cognição
Uma das opiniões mais generalizadas que existe acerca do envelhecimento cognitivo é a de que a
diminuição das funções cerebrais que se verifica com o passar dos anos, se deve à perda (morte) dos
neurónios, perda esta que é irreversível, pois os neurónios não se dividem nem são substituídos.
A redução da velocidade de processamento dos neurónios, que se verifica com o aumento da idade,
constitui outro dos fatores a ter em consideração, pois esta pode ter muitas consequências sobre a
memória, sobre o rendimento cognitivo. Assim, a velocidade de processamento da informação é um
dos aspetos a ter em consideração aquando da avaliação do funcionamento intelectual do idoso, que
deve contemplar também a avaliação de fatores como a perceção, a atenção e motivação, caso
contrário poderemos obter conclusões confusas e/ou até mesmo contraditórias. Com o
envelhecimento, parece que a perceção e a atenção apresentam défices, que irão afetar a capacidade
de execução do idoso ao nível do tempo requerido para processar um estímulo e ao nível da capacidade
de se manter atento aquando da realização da tarefa. Ao nível do envelhecimento preceptivo, há três
modalidades são essencialmente afetadas: o equilíbrio, a audição e a visão. Os défices sensoriais
auditivos e visuais parecem estar na base do declínio das atividades intelectuais.

Memória e aprendizagem
A memória é uma atividade biológica e psíquica que nos possibilita reter as experiências vividas. O
modelo mais utilizado nos estudos referentes à memória das pessoas contempla três etapas, são elas:
a entrada de dados (memória sensorial), a memória a curto prazo (também denominada de memória
imediata, memória primária), a memória a longo prazo (também denominada de memória secundária,
memória de fixação).

Memória sensorial
A memória sensorial consiste na receção inicial da informação, em que um mecanismo sensitivo
permite conservar uma cópia do estímulo em menos de 1 segundo (alguns autores consideram o
período de memória sensorial de: menos de 2 segundos) - poderíamos chamar esta de “memória a
muito curto prazo”.
Esta memória funciona mais eficazmente nos jovens do que nos idosos, porque estes últimos são mais
lentos a reconhecer os objetos ou elementos a memorizar. Se um determinado dado registado pela
memória sensorial é considerado suficientemente válido, ele é deslocado para a memória a curto prazo.
53

Memória a curto prazo


A memória de curto prazo, trata-se de um armazém de capacidade limitada que retêm por um breve
período de tempo a informação recebida. A memória a curto prazo parece pertencer ao circuito elétrico
do cérebro, no qual se a informação chegar muito depressa, uma parte da mesma não será codificada.
Este tipo de memória declina à medida que vamos avançando na idade. Trata-se de um armazém de
capacidade limitada que retêm por um breve período de tempo a informação recebida. Nesse armazém
mantemos consciente a informação durante algum tempo, enquanto decidimos se a mesma é para
descartar ou para armazenar permanentemente.

Memória a longo prazo


Durante a senescência, mantém-se a memória a longo prazo. Nesse sentido, idoso recorda-se melhor
das experiências passadas, do que das mais recentes. A memória a longo prazo é a reserva permanente
e de grande capacidade, que constitui o depósito do nosso passado.

Há dois tipos de memória de longo prazo, a declarativa e a processual:


 A memória declarativa envolve a retenção de factos como nomes, datas e locais.
 A memória processual (também denominada de memória reflexa, implícita) envolve o
desenvolvimento de perícia (andar de bicicleta, tocar piano, ….).

Aprendizagem
A aprendizagem está associada à memória. São vários os fatores que podem ser responsáveis pelos
problemas de memória e aprendizagem, tais como:
 A motivação
 A interferência dos dados
 Sentimento de impotência e o estado depressivo
 Perda de interesse pelos acontecimentos presentes
 Lentidão generalizada
 Problemas de perceção

Tendo presente as alterações referidas que são inerentes ao processo de envelhecimento, os programas
de otimização dos recursos cognitivos em pessoas idosas são de extrema importância, sendo que a
escolha do tipo de programa terá que contemplar vários critérios.

Inteligência
A tendência mais recente na avaliação da inteligência dos idosos incide em dois tipos de inteligência:
a inteligência fluida e a inteligência cristalizada.
A inteligência fluida a implica o raciocínio rápido, destrezas não tão dependentes da experiência,
enquanto que a inteligência cristalizada tem por base a experiência e a aprendizagem.
54

A inteligência fluida correlaciona-se com o envelhecimento biológico, enquanto que a inteligência


cristalizada se correlaciona com o nível de instrução e com a cultura do sujeito. Ao longo da velhice a
inteligência fluida segue um padrão normativo de declive gradual, enquanto que a inteligência
cristalizada segue um padrão de estabilidade.

Estudos acerca da inteligência fluida e cristalizada Os imensos estudos efetuados acerca da inteligência
confirmam que as competências da inteligência cristalizada se mantêm nas pessoas idosas, enquanto
que a fluida declina, contudo não se pode generalizar para todos (pois há indivíduos em que tal não se
verifica).

Personalidade
A personalidade mantém-se relativamente estável, a não ser que surjam problemas graves. Assim, se
a pessoa foi ativa, continua a sê-lo na velhice, sendo que esta pode ser afetada por vários fatores, tais
como o estado de saúde, os antecedentes socioculturais, a pertença ao grupo, as experiências, as
interações familiares atuais e passadas, entre outros.

Particularidades e importância da boa prática em cuidados


gerontológicos/geriátricos

Para os profissionais de enfermagem, o conhecimento das alterações inerentes ao processo de


envelhecimento natural, bem como o conhecimento das peculiaridades que caracterizam as doenças
nas pessoas idosas, são de extrema relevância para uma intervenção de enfermagem adequada e
positiva.

Aspetos particulares que caracterizam as doenças nas pessoas idosas


A sua menor resistência aos fatores agressores de qualquer natureza, a sua reduzida capacidade de
adaptação, a maior lentidão e a dificuldade de reposição do equilíbrio alterado, a maior morbilidade e
mortalidade por causas fisiológicas, são determinantes de um padrão próprio da doença no idoso.
Padrão que se caracteriza fundamentalmente pela patologia múltipla, complicações frequentes e
graves, apresentação e expressão frustes ou atípicas, estreita relação com componentes sociais,
cronicidade e incurabilidade, elevada mortalidade

Paciente geriátrico
Pessoa idosa que apresenta no mínimo dois dos seguintes critérios:
 Com idade superior a 75 anos
 Com pluripatologia
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 Com doenças que desconhece e presença de síndromes geriátricos (deterioração mental;


desidratação e subnutrição, etc)
 Com doenças que tendem à incapacidade
 Com o consumo de 3 ou mais medicamentos/dia
 Com condicionantes funcionais que limitam a capacidade de autossuficiência
 Com condicionantes mentais que afetam a área cognitiva ou afetiva
 Com condicionantes sociais que dificultam o controlo e seguimento das patologias presente

Doenças mais frequentes em geriatria


 Cardiovasculares: insuficiência cardíaca, enfarte do miocárdio e angina de peito,
hipertensão arterial, distúrbios venosos
 Respiratórias: pneumonia, tuberculosa, bronquite, neoplasia do pulmão
 Digestivas: úlceras duodenais e gástricas, neoplasia do estômago e do cólon, hepatopatias
crónicas
 Urinárias: infeção urinária, hipertrofia e neoplasia de próstata, incontinência urinária
 Hematológicas: anemia, leucemia e linfomas
 Sistema nervoso: demências, doença de Alzheimer, demência vascular, doença de Parkinson,
acidente vascular cerebral
 Psiquiátricas: depressão, transtornos por ansiedade
 Metabólicas e endócrinas: diabetes mellitus, alterações da tiroide, obesidade
 Reumatológicas e traumatológicas: artrose, osteoporose, fraturas
 Órgãos dos sentidos: visão – cataratas, glaucoma

Doenças mais incapacitantes em geriatria


1. Aparelho locomotor: artrose, osteoporose
2. Acidentes vasculares cerebrais
3. Doenças cardíacas
4. Doenças respiratórias
5. Tumores malignos
6. Alterações dos sentidos

Causas de morte – Portugal


No início do século XX a grande causa de morte dos idosos eram as afeções de carácter agudo e de
etiologia infeciosa, predominando entre estas a pneumonia, as complicações gripais e a tuberculose;
só depois vinham as doenças cardíacas e cerebrovasculares e os tumores malignos. Hoje a realidade
é distinta.
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Hoje a realidade é distinta, como poderemos observar pelos quadros seguintes. Tendo por base os
óbitos de população com 65 e mais anos, constata-se que os tumores malignos são já a principal
causa de morte no grupo etário dos 65 aos 74 anos. No grupo etário acima (75 e mais anos) as
doenças do aparelho circulatório constituem a causa com maior importância relativa.
Considera-se morte prematura a que ocorre antes dos 70 anos de idade.

Síndromes geriátricos
Não se aplica a uma doença, mas a uma situação clínica, constituída por determinados sinais e
sintomas, que determina reduzida sobrevida e uma acrescida vulnerabilidade a situações de stress. Há
mais de 400 síndromes bem individualizados em vários trabalhos científicos.
Trata-se de uma alteração do estado de saúde dos idosos, cuja etiologia depende de múltiplos fatores
de risco e ou de doenças crónicas concomitantes.
As síndromes geriátricas resultam de interações não completamente compreendidas entre doenças e
envelhecimento dos múltiplos sistemas, produzindo uma gama de sinais e sintomas que levam a
consequências desastrosas para o idoso. Incapacidade, dependência, institucionalização e morte são
desfechos comuns das síndromes geriátricas – delirium, incontinência, queda e imobilidade são
exemplos

Grandes síndromes geriátricos


 Fragilidade. Instabilidade e quedas. Imobilidade. Incontinência. Deterioração mental.
Iatrogenia. Síndrome confusional aguda. Úlceras por pressão. Desidratação e subnutrição.

Principais síndromes geriátricos


 Latrogénico – diz-se de uma perturbação ou de uma doença que é provocada pelo médico
(na maior parte dos casos secundariamente a tratamentos prescritos).
 Latrogénia – evento ou doença não intencional causada por uma intervenção, justificada ou
não, por parte da equipe multiprofissional de saúde, que resulte em dano à saúde do paciente.
A iatrogenia também pode ser decorrente da omissão direta de uma intervenção bem
estabelecida esperada ou de um procedimento de monitoramento.

Sintomas atípicos
Comparadas com o que acontece com os jovens, as doenças em geriatria podem ser pouco
sintomáticas; por exemplo, muitas infeções podem evoluir sem febre. A dor é outro sintoma que, às
vezes, mostra-se atenuado ou mesmo inexistente, como pode ocorrer aquando de um enfarte do
miocárdio. Os sintomas são menos claros, as doenças aparecem de forma atípica.
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Adaptação à doença
Ocasionalmente, os idosos adaptam o seu modo de vida à doença, o que dificulta a identificação do
problema. Por exemplo, um idoso com insuficiência cardíaca, que sofra de dificuldade respiratória
com o esforço, diminui progressivamente a sua atividade, e o sintoma permanece oculto.

Sintomas sobrepostos
Os idosos podem sofrer de várias doenças ao mesmo tempo, tornando-se difícil detetar novos
sintomas. É de importância capital reconhecer o problema que desajustou o complexo equilíbrio da
saúde.

Diagnóstico

Dificuldade de obter a história clínica


Devida às apresentações atípicas, aos problemas de comunicação por afasia ou por déficit sensorial
(surdez), e porque muitos sintomas considerados normais para a idade têm a sua importância
subestimada.

Maior dificuldade para alguns exames diagnósticos


Muitos exames não podem ser levados a cabo com eficácia nos utentes geriátricos, por circunstâncias
como a imobilidade, colaboração deficiente ou efeitos secundários.

O acesso a exames diagnósticos


Não deve ser limitado nos idosos, devido à sua idade. Após uma avaliação adequada, deve-se fazer
um balanço do risco-benefício dos possíveis exames, decidindo-se ou não pela sua realização, em cada
caso.

Deteção de patologia oculta


Frequentemente, após estudar-se a patologia que motivou a consulta, aparecem outros problemas que
estavam ocultos.

Tratamento

Prioridades
O tratamento indiscriminado da pluripatologia pode provocar mais prejuízo que benefício. Deve-se
dar prioridade ao tratamento de situações reversíveis, antes que se tornem crónicas.
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Suscetibilidade aos efeitos secundários


Os idosos são mais suscetíveis aos efeitos secundários, às interações e aos erros na dosagem de
medicamentos. Deve-se utilizar o menor número possível de fármacos e os de dosagem mais simples,
e assegurar-se de que o idoso ou sua família compreenderam perfeitamente o esquema para tomá-los.

Condutas protetoras em demasia


São frequentes entre familiares/cuidadores, podendo ser prejudiciais, uma vez que limitam o processo
de reabilitação. Frequentemente deparamo-nos com condutas protetoras em demasia por parte de
alguns profissionais de saúde, principalmente em meio hospital.

O ciclo vicioso nos cuidados institucionais aos idosos

Uma situação aguda pode desencadear um desequilíbrio global e irreparável, que rapidamente devido
à conjugação de distintos fatores (físicos, fisiológicos, familiares, contextuais e sociais), o idoso entra
num ciclo vicioso, entre a hospitalização e o lar, o lar e a hospitalização, quase sempre numa
rotatividade sequencial e sem fim. Por sua vez, este ciclo vicioso acaba por se constatar não só nos
utentes idosos, mas também nos seus cuidadores, pois estes tornam-se dependentes da dependência
dos idosos, impedindo as possibilidades de ação do idoso.

Quando o utente começa a restabelecer-se, basta ajudá-lo e supervisionar a sua atividade, em vez de
realizá-la por ele, embora isso possa exigir mais tempo.
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Repercussão sobre a situação anterior


Pretende-se que a doença afete minimamente a vida do idoso. Para tal, podemos atuar sobre diferentes
aspetos:
 Promover ao máximo a mobilização e autonomia, tanto quanto a situação física permita. O
utente deverá ser motivado a realizar as atividades de autocuidado: vestuário, higiene, ir ao
WC, entre outros.
 Reabilitação das capacidades perdidas em consequência da doença. São de importância vital
a fisioterapia e a terapia ocupacional centrada nas atividades da vida diária.
 Evitar que o utente fique isolado e sem estímulos, para prevenir estados depressivos e
síndrome confusional. É necessário tratar esses utentes de forma afetuosa e com respeito,
facilitando as visitas de familiares e amigos, assim como organizar atividades recreativas e
lúdicas.
 Adaptar o ambiente que envolve o idoso à sua incapacidade, para que ele possa reintegrar-se
ao seu local de origem. Isto implica algumas modificações no lar, como apoios de mãos na
banheira, entre outros.
 A ajuda de instituições, de voluntariado, de teleassistência permite que os idosos
incapacitados permaneçam no seu domicílio.

Limitações no acesso a tratamentos


A idade não deve condicionar o acesso aos diferentes tratamentos, tais como cirurgia ou medicação.
As decisões neste sentido são baseadas na avaliação geriátrica e, evidentemente, na opinião do utente
quando está bem informado.

A formação de cuidadores e familiares


É um aspeto fundamental para garantir a continuidade dos cuidados que o idoso requer.

Prognóstico e complicações

Pior prognóstico
Nos idosos, as doenças podem ter um prognóstico menos favorável do que nos jovens, já que afetam
um organismo mais deteriorado e com pluripatologia. O prognóstico tem estreita relação com o tipo
de doença, a terapêutica e o estado prévio do utente, e não tanto com o facto de se tratar de um utente
idoso.

Evolução mais lenta


A cura completa requer mais tempo e, frequentemente, é necessário um período de reabilitação para
evitar a deterioração funcional.
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As complicações são mais habituais


São frequentes a imobilidade, a incontinência, o quadro confusional agudo, a depressão, as quedas, as
úlceras por pressão, a desnutrição e a prisão de ventre.

A peculiaridade das doenças geriátricas apoia-se na deterioração que acarreta sobre


os aspetos funcional, mental e social do idoso

Funcional
As doenças podem levar a uma incapacidade para as atividades básicas da vida diária (deambulação,
alimentação, higiene, transferências, vestuário e continência), assim como para as chamadas atividades
instrumentais (tarefas domésticas, uso de transporte, manuseio do dinheiro e controle da própria
medicação). A situação de incapacidade varia, dependendo do grau em que as atividades se vejam
afetadas.

Mental
As doenças podem afetar ao nível cognitivo, limitando a memória e a capacidade de raciocínio e
abstração, e ao nível afetivo, predispondo à depressão.

Social
As doenças podem contribuir para a quebra de relações de convivência que mantinha até então, pode
haver necessidade de institucionalização, de ajuda domiciliar.

 No utente geriátrico as três dimensões estão intimamente relacionadas.


 Nestes termos, a avaliação correta da pessoa idosa deve ser multidimensional, implicando a
utilização de instrumentos próprios para o efeito.

Avaliação multidimensional do idoso


Os idosos apresentam problemas e limitações relacionados com o próprio envelhecimento fisiológico,
com as doenças que comummente os atingem e com a sociedade onde estão inseridos. Estes problemas
obrigam à utilização de métodos e estratégias que permitam uma avaliação correta e completa, bem
como uma visão global do complexo bio-psico-social que é o idoso.
A avaliação multidimensional pode ser definida como um processo diagnóstico multidisciplinar, e
frequentemente interdisciplinar, orientada para detetar problemas médicos, psicossociais e funcionais
do idoso, com o objetivo de desenvolver um plano de tratamento e acompanhamento a longo prazo.

A avaliação do idoso deverá ir para além da avaliação clínica, que é prática habitual nas nossas
instituições de Saúde, avaliando também as áreas onde o idoso é habitualmente deficitário como o
estado físico, mental, funcional, social e nutricional, com o objetivo de elaborar um plano geral que
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responda não só aos seus problemas de doença, mas também aos seus problemas psíquicos e sociais
relacionados com as suas incapacidades e necessidades.

Objetivos da avaliação multidimensional


 Aumentar a precisão do diagnóstico
 Diminuir o risco iatrogénico
 Adequar o prognóstico
 Facilitar condutas preventivas
 Orientar os tipos de intervenção
 Selecionar medidas assistenciais
 Facilitar o acompanhamento
 Melhorar a qualidade de vida

A avaliação multidimensional do idoso, mais que um instrumento de diagnóstico de patologias é um


processo de averiguação de situações e de adequação das respostas às reais necessidades do idoso.

Avaliação multidimensional = avaliação geriátrica global = avaliação geriátrica compreensiva


(AGC)
Os problemas do idoso têm quase sempre um carácter multidisciplinar e interdisciplinar, envolvendo
profissionais dos diversos sectores. É importante utilizar metodologias, estratégias e instrumentos que
só um trabalho em equipa pode recolher e descodificar, visando encontrar a solução mais adequada a
cada caso.

Como fazer:
A avaliação multidimensional deverá ser composta por: anamnese; exame físico; avaliação funcional
( AVD: Índice de Katz, Escala de Barthel; AIVD: Escala de Lawton e Brody); exame mental (Estado
cognitivo: Mini Exame Mental; Estado afetivo: Escala de Depressão Geriátrica - Yesavage); avaliação
nutricional; avaliação social e exames laboratoriais.

Recorrendo-se a metodologia própria e instrumentos adequados a avaliação multidimensional faz a


avaliação do estado de saúde do idoso nos planos físico, mental e funcional, enquadrando-o na
realidade familiar e social em que vive. Esta perspetiva é fundamental, porquanto não é o problema
de saúde detetado que frequentemente condiciona a qualidade de vida ou o futuro do idoso, mas sim
a sua autonomia e independência.

1. Metodologia:
o Anamnese
o Exame físico
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o Avaliação nutricional
o Exame mental
o Avaliação funcional
o Exames laboratoriais

2. Instrumentos
o História
o Laboratórios e imagiologia
o Inquéritos e entrevistas
o Testes
o Escalas:
 AVD – atividades de vida diária
 AIVD – atividades instrumentais de vida diária
 MMSE – mini mental state examination
 GDS – geriatric depression scale

Anamnese
Primeira fase de elaboração da história clínica dum doente, que consiste no interrogatório deste sobre
a doença atual e a história (antecedentes pessoais, antecedentes familiares). Segue-se o exame objetivo
do doente. É, portanto, o conjunto das informações colhidas, junto do próprio doente ou de outras
pessoas, sobre os antecedentes, a história e os pormenores de um caso de doença.
A Anamnese, efetuada por meio de um interrogatório ao idoso, aos familiares ou as pessoas com quem
reside, nem sempre é fácil ou credível. As diminuições do idoso, particularmente ao nível sensorial e
cognitivo, dificultam a recolha e a credibilidade da história. Os familiares ou as pessoas que cuidam
do idoso podem ter motivações capazes de influenciar a informação que dão.

Exame físico
O Exame Físico, sobretudo dos mais diminuídos ou dependentes, pode tornar-se uma tarefa difícil,
implica mais tempo e frequentemente exige uma colaboração por parte dos familiares ou de outros
profissionais da equipa. Pressupõe, por outro lado, o conhecimento das alterações decorrentes do
envelhecimento a nível de aparelhos e sistemas, único modo de não desvalorizar ou sobrevalorizar
determinados achados semiológicos.

Avaliação nutricional
A avaliação nutricional na pessoa idosa é de extrema importância. Frequentemente deparamo-nos com
situações de desnutrição. Também os estados de carência específica de certos micronutrientes são
frequentes. Estes representam importantes fatores de morbilidade e mortalidade neste escalão etário.
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A completa avaliação nutricional do idoso é constituída por: história clínica, inquérito alimentar,
avaliação antropométrica e avaliação bioquímica.

O Mini Nutritional Assessment (Mini Avaliação Nutricional) consiste num instrumento


especificamente elaborado para a população idosa, já validado para a população portuguesa, sendo de
fácil aplicação. Este permite uma classificação nutricional rápida da pessoa idosa.

Exame mental
O Exame Mental, frequentemente esquecido na prática habitual, é primordial na avaliação geriátrica.
Não se pretende executar um exame aprofundado, pois este é reservado ao psiquiatra e para os casos
de já comprovada deterioração mental. É antes uma avaliação do estado afetivo e cognitivo do idoso,
recorrendo-se à instrumentos simples que permite, praticada periodicamente, detetar alterações
comportamentais ou deterioração mental em fases incipientes, fazer diagnóstico diferencial de
situações de confusão mental, averiguar riscos iatrogénicos. São diversos os instrumentos que se
podem utilizar com os objetivos referidos. A opção por qualquer deles deve tomar em consideração
não só a sua fiabilidade mas também a sua facilidade de execução no idoso. Os mais adequados são:
o "Mini Mental State Examination" de Folstein (M.M.S.E.) para avaliar a função cognitiva e a
"Geriatric Depression Scale" (G.D.S.) de Yesavage para averiguação do estado afetivo.

Avaliação funcional
A Avaliação Funcional é outra componente que habitualmente é esquecida no exame do idoso. Mais
do que a doença, é frequentemente a restrição ou a perda da funcionalidade que condiciona o futuro
do idoso e a sua qualidade de vida. De igual forma é essa perda que por sua vez motiva situações
patológicas, particularmente do foro mental, que precipitam o idoso num círculo vicioso de
dependência do qual dificilmente sai. A sua perda pode ser responsável por determinar a
institucionalização do idoso.

Numa avaliação multidimensional, a avaliação da funcionalidade é obrigatória. Como instrumentos,


utilizam-se testes que avaliam a capacidade do idoso executar, sozinho ou com ajudas, as Atividades
de Vida Diária (A.V.D.):
 Katz:
o Tomar banho
o Vestir-se
o Ir ao WC
o Caminhar
o Continência – controlo de esfíncteres
o Alimentar-se
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 Barthel inclui mais:


o Arranjar-se
o Transferência
o Na continência divide em: controlo vesical, controlo intestinal
o Escadas
o Atividades instrumentais da vida diária:
 Fazer compras, cozinhar, arrumar a casa, limpeza da roupa, utilizar os
transportes, tomar medicação, lidar com dinheiro

O mais utilizado é a escala de “Atividades Instrumentais de Vida diária de Lawton”.

Existem testes de aplicação fácil que permitem apreciar a situação física do idoso, averiguando a sua
capacidade para executar determinados tipos de exercício: levantar objetos, vestir e despir um casaco,
apanhar uma moeda do chão, rodar 360°, caminhar ou subir escadas, etc.

Nota: A avaliação funcional deve ser feita, sempre que possível no domicílio. Confronta-se assim o
idoso com a realidade dos seus problemas do dia-a-dia, única maneira de avaliar efetivamente esses
problemas e de encontrar a solução mais adequada para os mesmos.

Avaliação do estado social


A Avaliação do estado social, envolve a relação do idoso com o cuidador, familiar e meio em que
reside. Intimamente ligada ao estado físico e mental, a avaliação multidimensional só fica completa se
tivermos esta em consideração.
Estando a saúde e a qualidade de vida do idoso largamente dependente desta relação, facilmente se
entende a importância de diagnosticar e corrigir eventuais desvios.

Exames complementares de diagnóstico/exames laboratoriais


Quanto aos exames s laboratoriais a realizar por rotina no idoso, e salvo patologia justificativa, devem
habitualmente solicitar-se:
 Hemograma completo; creatininemia, glicemia, ionograma sérico, ficha lipídica,
albuminemia, velocidade de sedimentação, uricemia, transaminases, gamagutamil-
transpeptidase, fosfatase alcalina, bilirrubinas, PSA no homem
 Mamografia na mulher
 Sumária de urina
 Radiografia do tórax
 Eletrocardiograma

Em condições normais aceita-se que seja efetuado anualmente.


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A A.G.C., pelo seu carácter multi e interdisciplinar, pressupõe para a sua correta execução a existência
de uma Equipa Geriátrica Multidisciplinar. A constituição da equipa deve incluir um núcleo mínimo
formado pelo Médico, Enfermeira e Assistente Social, agregando outros profissionais de acordo com
as possibilidades da instituição prestadora de cuidados. Considera-se que, para além dos referidos, a
equipa deve integrar um Psicólogo, Fisioterapeutas, Pessoal Administrativo e Pessoal de Ajuda
Doméstica.
Como é evidente, as funções dos profissionais não se exercem todas na mesma vertente, atuando uns
predominantemente a nível diagnóstico, outros a nível terapêutico e ainda outros a nível de suporte e
ajuda ao idoso. Seja como for, o trabalho da equipa tem a sua expressão funcional nas reuniões de
síntese e na definição dos problemas e medidas de intervenção a partir daquelas.

Quando se deve fazer uma avaliação multidimensional


 Quando é avaliado pela primeira vez, com vista a obter-se um retrato tão fiel quanto possível
do seu estado, da sua situação e dos seus problemas, de modo a servir de padrão para
complicações posteriores.
 Periodicamente, a intervalos regulares, aceitando-se que se faça anualmente, particularmente
depois de 75 anos, nos idosos estáveis.
 Sempre que o idoso se encontre em situação de risco: perdas de qualquer tipo (familiares,
materiais, funcionais, entre outros); alterações significativas do seu modo de vida devido a
doença ou outra causa; institucionalização (no hospital, num lar, ..)

Enfermagem
 “É a ciência e a arte de cuidar” - Cuidar numa perspetiva holística: fisicamente, mentalmente,
emocionalmente e socialmente
 Num contexto altamente tecnológico, a simplicidade da arte do cuidar é por vezes
negligenciada.

Enfermagem Gerontológica
 Estudo científico do cuidado de enfermagem ao idoso, caracterizado como ciência aplicada
com o propósito de utilizar os conhecimentos do processo de envelhecimento, para o
planeamento da assistência de enfermagem e dos serviços que melhor atendam à promoção
da saúde, à longevidade, à independência e ao nível mais alto possível de funcionamento da
pessoa idosa.

O desenvolvimento da estrutura teórica de conhecimento no âmbito dos idosos torna-se fulcral


para os profissionais de enfermagem identificarem e avaliarem corretamente as demandas
específicas deste grupo etário, de forma a se poder:
 Maximizar as suas condições de vida
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 Minimizar as perdas e limitações desenvolvidas com o processo de envelhecimento


 Facilitar o diagnóstico e auxiliar no tratamento das enfermidades que possam acomete-los
 Proporcionar conforto nos momento de angústia e fragilidade

É importante que o enfermeiro e a sua equipe estejam aptos a:


 Avaliar a saúde física, psíquica e social do idoso e da sua família, utilizando, para tanto,
instrumentalização sistematizada (entrevista, exame físico, observação) e assim determinar o
seu grau de funcionalidade.
 Proceder à análise das informações colhidas, determinando o tipo de assistência necessária,
elaborando-se um plano assistencial com metas estabelecidas e prioridades assinaladas,
objetivando sempre a maximização das potencialidades deste idoso e do contexto no qual está
inserido.
 Assistir a este idoso e à sua família segundo o planeamento proposto, reavaliando a cada
momento as intervenções estabelecida.
 Manter o idoso e os seus familiares informados acerca dos diagnósticos, tratamentos e
cuidados a serem realizados.
 Orientar o idoso e os seus familiares sobre o processo de envelhecimento e sobre as condutas
de saúde que poderiam auxiliar a melhoria da sua qualidade de vida.

Esta intervenção apenas obterá êxito através de um trabalho multidisciplinar, com base na
complementaridade e não na competitividade.

Enfermagem Gerontológica/Geriátrica
Cuidar da pessoa idosa constitui uma área especializada da enfermagem que implica o
desenvolvimento dos seguintes atributos:
 Capacidade de estabelecer uma relação terapêutica com os idosos
 Apreciação do idoso como pessoa única
 Competência clínica em práticas de enfermagem básica
 Boa habilidade comunicacional
 Conhecimento das alterações físicas e psicossociais decorrentes do processo de
envelhecimento
 Capacidade para trabalhar com e sob supervisão de outros

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