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CURSO DE FISIOTERAPIA

DISCIPLINA DE FISIOTERAPIA EM GERONTOLOGIA

Fundamentos da Gerontogeriatria

Profª. Sarah S. Mendonça


Fisioterapeuta
Mestre em Saúde Coletiva (UFPE)
AULA 1
Membro associada a Associação Brasileira de Fisioterapia em Gerontologia (ABRAFIGE)
ssmendonca@gmail.com
@sarahmendoncafisioterapia
Apresentação

Sarah de Souza Mendonça

Fisioterapeuta | Professora Universitária | Especialista em Saúde Pública na


Atenção Básica (UNICAP) | Mestre em Saúde Coletiva (PPGSC/UFPE) |
Membro associada à Associação Brasileira de Fisioterapia em Gerontologia
(ABRAFIGE)| Pesquisadora na linha de pesquisa Envelhecimento e Saúde
Pública.

ssmendonca@gmail.com
@sarahmendoncafisioterapia
Nessa aula veremos:

▪ Percepções sobre “ser idoso”


▪ Mitos sobre a velhice
▪ Importância de se estudar o envelhecimento
▪ Conceito de geriatria e gerontologia
▪ Histórico do estudo do envelhecimento
▪ Terminologias importantes para a gerontogeriatria
Qual o significado de ser idoso?
Ser idoso

A percepção do “ser idoso” varia de acordo com o grupo cultural


ao qual o indivíduo pertence.

▪ Sociedades tradicionais: o velho como conselheiro, sábio;


▪ Modernização: com a valorização da produtividade, os idosos
passaram a ser considerados improdutivos;
▪ Século XX: visibilidade ao idoso (agenda pública, cidadania,
mercado consumidor, cuidados).
Ser idoso

▪ Porém, a ideia mais prevalente de idosos e associa a aspectos


negativos como decadência, dependência e decrepitude.
▪ Estereótipos;
▪ Desconsideração pelas conquistas, oportunidades, projetos e
relações que as experiências vividas e os saberes acumulados os
trazem.
Mitos sobre a velhice
Mito da senilidade:

Supõe que a velhice e a enfermidade andam juntas. A maioria da


população idosa é considerada com a saúde debilitada pela
sociedade, associando sempre a velhice a deterioração física e/ou
mental.

A velhice representa parte do ciclo vital, assim como a infância,


adolescência e a adultez. É possível dizer, com cautela, que o
envelhecimento começa logo após o nascimento.
Mitos sobre a velhice
Mito do isolamento social

▪ Acredita-se que o repouso, a exclusão, seja o melhor para a vida do


idoso.
▪ Superproteção por parte dos familiares e cuidadores que pode gerar a
solidão, isolamento, tristeza e depressão.

Esse mito pressupõem que a perda de papéis sociais, tais como a saída do
mercado de trabalho e a morte de amigos e parentes, condicionam ao
idoso uma vida reclusa, como se estes perdessem também a capacidade
de interagir socialmente e produzir.
Mitos sobre a velhice
Mito da inutilidade

▪ Esse mito nasce de uma sociedade capitalista onde as pessoas valem


o que elas produzem e pelo o que elas conseguem possuir em função
disto.
▪ Se o indivíduo não contribui mais com a sociedade por meio de
atividades laborais, esse é visto como improdutivo.

É um mito totalmente baseado na produção material e na ganância.


Mitos sobre a velhice
Mito da pouca criatividade e da pouca capacidade para aprender

▪ É certo que os idosos, em certo momento, não contem com a


atenção, memória e agilidade de antes. Porém são capazes de
aprender muito, o que se necessita é criar outras formas de ensino
que se voltem para as necessidades e habilidades dos idosos.
Mitos sobre a velhice
Mito da assexualidade

▪ Esse mito nasceu de tabus culturais e de atitudes de muitos


profissionais que julga as pessoas idosas como tendo ausência de
desejos sexuais. No caso de manifestarem este desejo, são tidas como
anormais.

Se julga que a sexualidade e as relações sexuais estejam reservadas para os


jovens, geralmente as práticas sexuais não são vistas como uma dimensão
do ser humano que está sempre presente.
Sugestão de série

kkkk
O que fazer para mudar essas percepções?

▪ Conhecer mais sobre os aspectos sociais, econômicos, étnicos, culturais,


legais e biológicos do envelhecimento na sociedade brasileira e repensar as
atitudes/valores quanto aos idosos;
▪ Desmistificar as causas de criação de mitos e falsos parâmetros acerca da
velhice;
▪ Investir nas crianças, no momento da constituição da personalidade,
propiciando a aproximação das mesmas aos idosos e que pelo exemplo de
cuidado, atenção e respeito de seus pais a essas pessoas, as crianças
poderiam internalizar esses valores/atitudes, apoiadas pelas escolas,
igrejas e grupos sociais;
▪ Reconhecer a potencialidade laborativa dos idosos, sua saúde, energia e
criatividade;
▪ Favorecer a inclusão social do idoso promovendo sentido a sua existência.
Afinal, porque estudar o envelhecimento é importante?

▪ É o grupo etário que mais cresce atualmente:


▪ O número de pessoas idosas dobrou nos últimos 50anos;
▪ 2020: 14% da população brasileira (30,9 milhões de pessoas).
▪ 2050: dois bilhões de pessoas com sessenta anos e mais no mundo.
▪ Aumento da prevalência de doenças crônicas:
▪ A cada 10 idosos, 8 apresentam pelo menos 1 doença crônica
▪ Aumento do número absoluto de idosos fragilizados;
▪ Demandas urgentes para a sociedade como um todo:
▪ Previdência social;
▪ Sistema de saúde;
▪ Famílias;
▪ Engajamento com a vida e participação social.
Histórico do estudo do envelhecimento
Preocupações com a longevidade estiveram sempre presentes na história da
humanidade:

▪ Roma Antiga:
▪ MarcoTúlio Cícero: “De Senectute”;
▪ Galeno: “Gerontomica”
▪ Segunda metade do século XV:
▪ O médico italiano Gabrieli Zerpi produziu o primeiro livro impresso destinado à saúde
dos velhos;
▪ O médico francês André Laurens escreveu o primeiro livro sobre saúde dos idosos na
língua francesa;
▪ 1867: O médico francês Jean-Martin Charcot publicou sua obra “Lições sobre o
envelhecimento”
▪ 1903: Elie Metchnikoff, microbiologista russo, defendeu a ideia da criação de uma
nova especialidade, a GERONTOLOGIA.
Histórico do estudo do envelhecimento
▪ 1909: Ignatz Leo Nascher, médico vienense radicado nos Estados Unidos, propôs
a criação de nova especialidade destinada a tratar das doenças dos idosos e da
própria velhice, a GERIATRIA;
▪ 1930: A médica inglesa Marjorie Warren desenvolveu princípios até hoje tidos
como centrais na prática da geriatria moderna, sendo considerada a “mãe da
geriatria”;
▪ 1942: Foi criada a American Society of Geriatrics;
▪ 1946: Foi criada a Gerontological Society of America;
▪ 1953: Foi lançado o Journal of the American Geriatrics Society
▪ 1954: Clark Tibbits, gerontólogo estadunidense, introduziu o termo Gerontologia
Social;
▪ 1961: Criada a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia;
▪ 1973: Foi criado o Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS, instituição
pioneira no ensino da geriatria
Histórico do estudo do envelhecimento

▪ 1979: Reconhecida pelo Ministério da Educação e Cultura a primeira


residência médica em geriatria do Brasil, da Universidade Católica do Rio
Grande do Sul;
▪ 1983: A geriatria foi credenciada como especialidade da clínica médica;
▪ 2016: O COFFITO reconhece a especialidade profissional de fisioterapia em
gerontologia por meio da Resolução-COFFITO nº476 de 20 de dezembro de
2016.
▪ 2017: É fundada a Associação Brasileira de Fisioterapia em Gerontologia
(ABRAFIGE)
▪ 2019: Os primeiros títulos de fisioterapeutas especialistas em
gerontogeriatria são emitidos pela parceria COFFITO/ABRAFIGE.
Terminologias importantes
Geriatria

Do grego: gérõn-ontos (velho) + yatreia (tratamento)

Especialidade médica responsável pelos aspectos clínicos do


envelhecimento e pelos amplos cuidados de saúde necessários às
pessoas idosas. Lida com os aspectos físicos, mentais, funcionais e
sociais nos cuidados agudos, crônicos, de reabilitação, preventivos e
paliativos dos idosos. Tem como objetivo principal otimizar a
capacidade funcional e melhorar a qualidade de vida e a autonomia
dos idosos.
Terminologias importantes
Geriatra
GERIATRA é o médico que se especializou no cuidado de pessoas idosas, que atende
ao idoso diferenciando as mudanças anatômicas, funcionais e psicológicas próprias
do processo natural de envelhecimento, das alterações decorrentes de doenças nessa
fase da vida.

▪ Abordagem ampla na avaliação/cuidado:


▪ Instrumentos de rastreio, escalas e testes;
▪ Doenças comuns ao processo do envelhecimento, problemas com múltiplas
causas e cuidados paliativos aos pacientes portadores de doenças sem
possibilidade de cura;
▪ Frequentemente, atua em conjunto com equipe multidisciplinar como na
avaliação de tratamentos adequados e daqueles que trazem riscos e/ou
interações indesejadas.
Terminologias importantes
Gerontologia

Do grego: gérõn-ontos (velho) + logos (estudo)

Campo científico e profissional dedicado às questões


multidimensionais do envelhecimento e da velhice, tendo por objetivo
a descrição e a explicação do processo de envelhecimento nos seus
mais variados aspectos (biológicos, psicológicos, sociais, entre
outros), visando à prevenção e a intervenção para garantir a melhor
qualidade de vida possível aos idosos até o momento final da sua vida.
É, por natureza, multi e interdisciplinar, pois o processo de
envelhecimento permeia todos os aspectos da vida.
Terminologias importantes
Gerontólogo
Profissionais com formações diversas, que interagem entre si e com os
geriatras. Os gerontólogos atuam:
▪ Na prevenção: propõe intervenções que se antecipem aos problemas mais comuns que
afetam os idosos e orienta a criação de condições adequadas para um envelhecimento com
qualidade.
▪ Na ambientação: orienta a criação de condições ambientais para uma vida com qualidade na
velhice, focando os mais variados espaços por onde circulam ou vivem pessoas idosas.
▪ Na reabilitação: propõe intervenções quando ocorreram perdas que são resgatáveis e,
quando irreversíveis, orienta a criação de condições individuais e ambientais para uma vida
digna.
▪ Nos cuidados paliativos: propõe intervenções quando ocorrem doenças progressivas e
irreversíveis, abrangendo aspectos físicos, psíquicos, sociais e espirituais, com atenção
estendida aos familiares, visando o maior bem-estar possível e a dignidade do idoso até a sua
morte.
Terminologias importantes

▪ Gerontologia social
Aborda os aspectos não-orgânicos do envelhecimento: antropológicos,
psicológicos, legais, sociais, ambientais, econômicos, éticos e políticos
em saúde.

▪ Gerontologia biomédica
Tem como eixo principal o estudo do envelhecimento do ponto de vista
molecular e celular. Além de pesquisar a prevenção de doenças
associadas ao processo do envelhecer.
Terminologias importantes
▪ Senescência (ou senectude)
Conjunto de modificações orgânicas, morfológicas e funcionais
decorrentes do processo natural de envelhecimento, sem, contudo,
acarretar qualquer prejuízo à autonomia e à independência do
indivíduo.

▪ Senilidade
Conjunto de alterações decorrentes de situações de doenças que
podem acompanhar um indivíduo ao longo do processo de
envelhecimento e desencadear o surgimento de sintomas,
determinando prejuízo à sua autonomia e independência.
Terminologias importantes

▪ Envelhecimento
É um conceito multidimensional que, embora geralmente identificado
com a questão cronológica, envolve aspectos biológicos, psicológicos e
sociológicos. Além disso, as características do envelhecimento variam
de indivíduo para indivíduo (dentro de determinado grupo social),
mesmo que expostos às mesmas variáveis ambientais.

▪ Velhice
Já a velhice é uma etapa da vida, social e individualmente construída,
estado que caracteriza a condição do ser humano idoso.
Terminologias importantes
Idoso
▪ De acordo com a Organização das Nações Unidas (1982), o conceito
de idoso e distingue entre os países desenvolvidos e o sem
desenvolvimento.
▪ Para países desenvolvidos são consideradas idosas aquelas pessoas
com 65 anos e mais; já para os em desenvolvimento são idosas as
pessoas com 60 anos e mais. Esta definição se relaciona com a
expectativa de vida ao nascer e com a qualidade de vida que as
nações oportunizam aos seus cidadãos.

▪ Idoso jovem: 60 a 69 anos;


▪ Idoso idoso: 70 a 79 anos;
▪ Idoso longevo (idoso muito velho): 80 anos e mais.
Terminologias importantes
▪ Idade cronológica
Idade cronológica, ou civil, se refere aos anos sucedidos desde o
nascimento. Tem interesse legal, é irreversível e não sofre influências
ambientais ou variações genéticas.

▪ Idade biológica
Idade biológica, ou fisiológica, representa um agregado de vários
fatores de desenvolvimento discretos (estado de saúde, experiências,
aspectos comportamentais, participação e níveis de independência),
que na sua maioria se relacionam intimamente uns com os outros, e
são consequentes das condições de senescência fisiológica, química e
sensorial do próprio indivíduo.
Terminologias importantes
▪ Autonomia
É a competência individual de tomar decisões e estabelecer ações para a
própria vida, seguindo as próprias regras.

▪ Independência
Designa a habilidade de realizar algo com os próprios meios.

▪ Capacidade funcional
A medida do grau de preservação da capacidade do indivíduo para realizar as
atividades cotidianas, sem a necessidade de terceiros.
CAPACIDADE FUNCIONAL = AUTONOMIA + INDEPENDÊNCIA
Terminologias importantes
▪ Atividade básica de vida diária (ABVD)
São aquelas necessárias ao autocuidado que permitem viver de modo
independente em contexto domiciliar (banhar-se, alimentar-se, vestir-
se, higiene pessoal, uso do sanitário, controle dos esfíncteres,
deambulação, transferências e subir e descer escadas).

▪ Atividades instrumentais de vida diária (AIVD)


Correspondem às tarefas mais complexas relacionadas à vida em
comunidade como o uso do telefone, fazer compras, preparar
refeições, realizar tarefas domésticas, utilização de transporte,
responsabilidade sobre as medicações e capacidade de administrar o
uso do dinheiro.
Terminologias importantes
▪ Multidisciplinaridade (“cada um no seu quadrado)
Pressupõe que vários saberes podem ser reunidos, porém, isso não
implica que eles tenham o mesmo objeto de estudo e tampouco que
partilhem qualquer tipo de relação sobre esse objeto.

▪ Interdisciplinaridade (todos com o mesmo propósito)


Mais de uma disciplina se une em um projeto comum, com
um planejamento que as relacione. Durante o processo, estas áreas
trocam conhecimentos e enriquece ainda mais as possibilidades. Como
resultado, há um novo saber, menos fragmentado e mais dinâmico.
Obrigada!
Keiro no hi
Dia do respeito ao idoso
Trata-se de um feriado dedicado aos idosos, quando os japoneses
oram pela longevidade dos mais velhos e os agradecem pelas
contribuições feitas à sociedade ao longo de suas vidas.

• Comemorado desde 1947;


• Feriado nacional desde 1966;
• 3ª segunda-feira de setembro.

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