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FACULDADE DE MEDICINA
OCUPACIONAL
São Paulo
2023
ARIANE MONTEIRO BARBOSA DOS SANTOS
São Paulo
2023
2
AGRADECIMENTOS
3
EPÍGRAFE
“Os cabelos brancos são coroa de glória, para quem andou nos caminhos da
justiça.”
Provérbios 16.31
4
TERAPIA OCUPACIONAL NA ATENÇÃO AOS IDOSOS COM HISTÓRICO DE
QUEDAS E SEUS CUIDADORES NO CONTEXTO HOSPITALAR
RESUMO
Introdução: As quedas representam uma síndrome geriátrica complexa e comum,
afetando diretamente a mobilidade e funcionalidade da pessoa idosa, além de gerar
agravos na saúde ocasionando a mortalidade. Objetivo: Identificar, refletir e
analisar sobre os fatores associados às quedas de idosos internados em
decorrência desse evento, e daqueles internados por outras razões, mas que
possuam histórico de quedas. Método: Trata-se de uma pesquisa com abordagem
qualitativa do tipo descritiva e exploratória, de caráter retrospectivo baseado em
pesquisa documental realizada a partir da análise de prontuários de Terapia
Ocupacional relativos aos usuários acompanhados no período de 2019 a 2021 nas
Enfermarias de Clínica Médica (ECM) e Enfermarias de Clínica Cirúrgica (ECC) do
Hospital Universitário da USP (HU-USP). Resultados e Discussão: Tendo em vista
a importância da prevenção de quedas e manejo de suas consequências durante a
hospitalização, foram analisadas as ações desenvolvidas pela Terapia Ocupacional
aos pacientes e seus cuidadores, constantes nos prontuários. Trinta e dois (32)
prontuários foram analisados por se enquadrarem aos critérios de inclusão e
agrupadas em oito categorias temáticas correspondentes às ações de Terapia
Ocupacional: Acolhimento do usuário e esclarecimentos quanto ao quadro clínico;
Aspectos relacionados aos vínculos familiares; Manejo das emoções mobilizadas
pela condição de internação; Repercussão da hospitalização na cognição e
estratégias de intervenção; Impacto da hospitalização na funcionalidade e a atuação
terapêutica ocupacional; Educação em saúde durante a hospitalização; Acolhimento
familiar e preparação para a alta; Enfoque no seguimento após a alta hospitalar.
Conclusão: Percebeu-se o potencial da terapia ocupacional na assistência ao idoso
com histórico de quedas e seus cuidadores. Todavia, é necessário o seguimento
dos cuidados em saúde após a alta hospitalar para a prevenção de novos episódios
de quedas, dos quais geram mais agravos ao idoso, com impacto diretamente em
sua rede de apoio, na sociedade e nos serviços de saúde.
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 7
OBJETIVO GERAL 10
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 10
METODOLOGIA 11
RESULTADOS E DISCUSSÃO 12
Acolhimento do usuário e esclarecimentos quanto ao quadro clínico 19
Manejo das emoções mobilizadas pela condição de internação 22
Repercussões da hospitalização na cognição e estratégias de intervenção 23
Impacto da funcionalidade e a atuação terapêutica ocupacional 24
Educação em saúde durante a hospitalização 25
Acolhimento familiar e preparação para a alta 27
Enfoque no seguimento após a alta hospitalar 28
CONCLUSÃO 29
REFERÊNCIAS 31
6
INTRODUÇÃO
7
intrínsecos são as alterações fisiológicas, condições patológicas e/ou efeitos
adversos de medicação. Nesse caso, a queda está intimamente relacionada com a
deterioração da saúde devido a alguma doença crônica pré-existente (TIDEIKSAAR,
2003, tradução nossa). Dentre esses processos de doenças, a disfunção visual está
incluída nos possíveis causadores das quedas, assim como as doenças
cardiovasculares, os distúrbios cognitivos, osteomusculares e psicológicos e os
efeitos danosos dos medicamentos (TIDEIKSAAR, 2003, tradução nossa).
Os fatores extrínsecos são definidos como as condições ambientais, tais
como iluminação inadequada, degraus irregulares e tapetes soltos. Estudos
comprovam que o ambiente mais propício para a ocorrência de incidentes é o
próprio domicílio e seus arredores (TIDEIKSAAR, 2003, tradução nossa). Nesse
sentido, para prevenir as quedas, faz-se necessária a inspeção dos ambientes
domésticos, tais como: quarto, banheiro, sala de estar, cozinha, escadas e quintal.
Dessa forma, os fatores extrínsecos também compõem a avaliação do contexto de
vida e da rotina das atividades, para compreender de modo mais adequado as
quedas sofridas pelo idoso.
Os fatores precipitantes para quedas incluem doenças agudas ou agudização
de doenças crônicas e alta hospitalar recente.
8
comportamentos de exposição a riscos, como subir escadas para alcançar objetos e
uso de calçados impróprios. Ainda, pessoas idosas são mais propensas à falta de
interação social e, consequentemente, dificuldade para manutenção de redes de
apoio, que lhes proporcione qualidade cognitiva, emocional e bem-estar do idoso
(SÃO PAULO, 2010). Esse cenário aumenta a probabilidade de sofrer algum
episódio de queda.
Isto posto, as quedas tornam-se questão de saúde pública, gerando forte
impacto aos serviços de saúde. Elas correspondem entre 20% a 30% dos
ferimentos leves e são causa subjacente de 10% a 15% das consultas aos serviços
de emergência. Mais de 50% das hospitalizações estão relacionadas a ferimentos
ocorridos com as pessoas idosas, as principais causas estão relacionadas a quedas
como fratura do quadril, lesões traumáticas do cérebro e ferimentos dos membros
superiores (SÃO PAULO, 2010). Vale ressaltar que, além das lesões físicas, a perda
de confiança na capacidade de deambular com segurança conhecida como
“Síndrome Pós-Queda” é fator de risco para maior declínio funcional, depressão,
sentimentos de desamparo e isolamento social. (RUBENSTEIN; JOSEPHSON,
2006). Além disso, componentes das redes de apoio da pessoa idosa
frequentemente necessitam de atenção. O surgimento de limitações físicas,
psíquicas e sociais em razão das quedas, levam o idoso a necessitar de auxílio nas
suas atividades representando um grande desafio para familiares e cuidadores.
Importante salientar que o perfil dos cuidadores informais de idosos é
caracterizado fundamentalmente por pessoas do sexo feminino com idade entre
22-75 anos, sendo que destes 25,8% tem 60 anos ou mais. Outra característica
relevante desse perfil se deve ao grau de parentesco. Os cuidados são
frequentemente mais prestados pelos seus/suas filhos(as), seguidos por cônjuge
(12,4%), netos (5,6%) e irmãos (4,5%). Mais de 50% dos cuidadores relatam não ter
conhecimento sobre a prevenção de novas quedas e mais de 80% não recebem
orientações dos profissionais de saúde quanto à prevenção de quedas, visando à
educação em saúde (AVILA et al, 2015).
Tendo em vista que as quedas (ou o medo delas) altera a funcionalidade do
idoso e interfere diretamente no cotidiano dos mesmos e de seus cuidadores, a
Terapia Ocupacional (T.O), definida como profissão da saúde voltada para o
desempenho humano, apresenta potencial de contribuir de forma a identificar as
habilidades passíveis de ser restauradas ou adaptadas, com vistas à promoção de
9
saúde e à prevenção de agravos. A prática do terapeuta ocupacional visa a
antecipação ou na vigilância das perdas funcionais, baseando-se na prevenção,
adaptação e recuperação para que haja o equilíbrio da vida cotidiana. Esses pilares
são essenciais para que o processo de envelhecimento ocorra de forma a manter ou
aumentar a independência e autonomia (ALMEIDA, 2004).
No cuidado ao idoso o terapeuta ocupacional orienta e realiza adaptações
ambientais, orienta comportamentos individuais, técnicas de manutenção e
organização da rotina, a fim de proporcionar e facilitar seus aspectos físicos,
emocionais, sociais, culturais e ambientais. (PAULA et al, 2014).
OBJETIVO GERAL
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
10
METODOLOGIA
11
no programa EpiData versão 3.0 (EpiData Association, Odense, Denmark), além do
estudo dos registros nos prontuários de Terapia Ocupacional corresponde ao
período da pesquisa.
Os critérios de inclusão no estudo foram prontuários de idosos internados
devido a episódio de quedas ou com histórico de quedas, atendidos pela Terapia
Ocupacional na ECM e ECC no período de janeiro de 2019 a dezembro de 2021.
Foram excluídos do estudo prontuários de adultos com histórico de quedas; idosos
que não faziam menção sobre a ocorrência de quedas nos últimos 12 meses;
pacientes que não foram acompanhados pela Terapia Ocupacional durante a
internação e/ou dados de prontuários incompletos.
As informações dos prontuários foram descritas e analisadas quanto a sua
ocorrência, frequência absoluta e relativa. Os dados qualitativos foram analisados
em seu conteúdo a partir das etapas estabelecidas por Minayo (2007) para análise
categorial temática, que se referem a: pré-análise, exploração do material e
tratamento dos resultados e interpretação.
O presente estudo faz parte de uma pesquisa mais ampla aprovada pelo
Comitê Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(FMUSP) com o parecer n° 365/2013 e CAAE 21434113.0.0000.0065.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
12
Tabela 1. Perfil sociodemográfico dos usuários idosos hospitalizados no período de 2019 a 2021 com
histórico de quedas ou internados por quedas na ECM e ECC do HU-USP. São Paulo, 2022.
PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO n = 32 %
Sexo
Feminino 20 62,5
Masculino 12 37,5
Idade
Anos de escolaridade
Analfabeto 3 9,4
5 a 8 anos 8 25
9 a 11 anos 5 15,6
12 ou mais 1 3,1
Estado Civil
Profissão
Ativo 1 3,1
Do lar 8 25
13
mortalidade em idosos que foram vítimas de queda no Brasil entre 2000-2019
(GONÇALVES et al, 2022), informam 135.209 óbitos por quedas, sendo 51,41% em
mulheres. Estudo realizado na Índia constatou que as mulheres são mais
suscetíveis às quedas do que os homens, evidenciando assim o processo de
feminização da velhice e suas consequências (NAGARKAR, 2022, tradução nossa).
Segundo Fernandes et al (2018), a maior incidência de mulheres idosas caidoras se
dá pela diminuição nos níveis de estrógeno que acompanha o período
pós-menopausa, maior perda de massa óssea, que aumenta o risco da osteoporose
e de fraturas. Maior exposição a atividades domésticas e a alterações emocionais,
podem também desencadear quedas e, consequentemente, risco de óbito
(GONÇALVES et al, 2022).
A Tabela 1 sugere, a crescente relação idade e as quedas, mostra idosos
acima dos 80 anos sendo mais vulneráveis a cair. Dados nacionais mostram que a
idade avançada possui relação direta com a probabilidade das quedas e,
consequentemente levando ao óbito, idosos com ≥80 anos (GONÇALVES et al,
2022). Com relação às características sociodemográficas, nesse mesmo estudo,
observou-se que 60,87% tinham escolaridade máxima de sete anos de estudo.
Dados semelhantes foram obtidos na pesquisa atual em que 50% dos idosos tinham
até quatro anos de escolaridade e 75% até 8 anos de estudo. Lima e colaboradores
(2017) constataram que os idosos analfabetos apresentaram maior ocorrência de
quedas, quando comparados aos escolarizados. Em estudo realizado no Rio
Grande do Sul, 6.751 idosos foram avaliados, com média de idade de 70,3 anos, e
aqueles com maior escolaridade, apresentaram-se sem risco de quedas.
Acredita-se que o aumento da escolaridade está relacionado a uma tendência a
melhor renda, consequentemente melhores condições de moradia e acesso à
saúde. (PEREIRA et al, 2013). Outras variáveis apontaram o estado marital e
aposentadoria associados às quedas (LIMA et al, 2017).
14
Tabela 2. Diagnóstico clínico dos idosos com histórico de quedas hospitalizados no período de 2019
a 2021 no HU-USP. São Paulo, 2023.
DIAGNÓSTICOS n = 32
Fratura de fêmur 6
Fratura pertrocantérica 5
Síndromes demenciais 2
Insuficiência cardíaca 2
Hiperosmolaridade e hipernatremia 2
Neoplasia 2
Insuficiência respiratória 1
Cirrose hepática 1
Encefalopatia de Wernicke 1
Septicemia 1
Osteomielite 1
Convulsão 1
Fonte: Elaborada pela autora, 2022.
15
sofreram uma fratura de fêmur apresentam a sobrevida de um ano após a
ocorrência. Entre os que sobrevivem, 25 a 75% não recuperam a funcionalidade
anterior à queda (CABRAL; SOARES, 2019).
Segundo Costa e colaboradores (2010), os idosos que sofreram acidente
vascular encefálico (AVE) também apresentam maiores riscos de sofrerem quedas.
Os achados do estudo retratam uma amostra composta por idosos com média de
idade de 69,5 anos (±6,9), em sua maioria do sexo feminino, e, destas, 20,5% com
estado mental rebaixado e comprometimento cognitivo correlacionado.
Estudo realizado por Bortoli e colaboradores (2015), mostrou que o equilíbrio
de idosos com quadros demenciais mais graves, apresenta piora correlativa.
Indivíduos portadores de demência de Alzheimer possuem maior risco de quedas
que os de demência de Parkinson, entretanto os idosos diagnosticados com
Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) obtiveram maior ocorrência de quedas
neste estudo, e os autores relacionam os acontecimentos pelo fato desses idosos
serem mais autônomos nas atividades de vida diária e independentes do ponto de
vista funcional.
A hipernatremia é denominada como um déficit de água corporal em relação
ao sal corporal total, estando na maioria das vezes associada à elevação da
osmolaridade do plasma, ocorrendo quando a concentração sérica de sódio
ultrapassa >145 mmol/L (145 mEq/L). Infelizmente as alterações sódicas tornam-se
comuns na população idosa, com maior propensão por apresentarem diminuição da
sede e da capacidade de concentração urinária, redução da água corporal total,
além do uso de medicamentos que podem exacerbar essa predisposição e, estar
associada a altas taxas de morbimortalidade dos idosos. (SHAH et at, 2014,
tradução nossa).
Idosos com diagnósticos oncológicos desenvolvem maior incidência de
quedas por conta da fragilidade que apresentam. Comprovou-se que existem
fatores de risco para quedas que são exclusivos de uma população de pacientes
com câncer, que incluem determinados agentes quimioterápicos e estágio avançado
do câncer. Vale salientar que consequentemente a funcionalidade dos mesmos
torna-se alterada, sendo que 1 em cada 5 idosos desenvolve nova dependência em
suas atividades de vida diária entre o primeiro e o segundo ciclos de quimioterapia.
(WILDES et al, 2015, tradução nossa).
16
Estudos comprovam que as doenças crônicas são determinantes
indissociáveis das quedas. Immonen e colaboradores (2020, tradução nossa),
declaram em seu estudo que indivíduos com diabetes, artrite reumatóide, problemas
de circulação sanguínea no cérebro e nas pernas, insuficiência cardíaca, doença de
Parkinson, osteoporose, comprometimento cognitivo leve, moderado ou grave;
depressão, tontura e/ou incontinência urinária desenvolvem um risco
significativamente maior de ter quedas do que indivíduos sem essas patologias.
As quedas podem desencadear alterações emocionais, produzindo sintomas
de depressão e ansiedade, principalmente em pacientes que tiveram fratura de colo
femoral. Alguns idosos desenvolvem fobia decorrente desse evento, o que foi
denominado de ptofobia sendo a sua incidência de 20% a 85% em idosos não
institucionalizados (AGUIAR et at, 2021). Além disso, em decorrência das quedas,
aqueles que caíram passam a experimentar o medo de sofrer outros episódios de
quedas e essa perda de confiança pode resultar na restrição das atividades que
outrora executava.
Antes do retorno ao domicílio, durante o período de hospitalização os
pacientes idosos com histórico de quedas apresentaram declínio nos aspectos
funcionais, especificamente no que se refere ao desempenho das AVDs dos
usuários. No presente estudo os dados foram coletados com base na utilização do
protocolo Índice de Barthel Modificado, que identifica os déficits no que tange a
funcionalidade. O Índice de Barthel Modificado serve de norteador para determinar
nível de dependência funcional leve, moderada, severa ou total (SHAH et al,1989,
tradução nossa), com base em pontuações de 0 a 100, em intervalos de cinco
pontos, sendo que as mais elevadas indicam maior independência (Minosso et al,
2010). A grande maioria dos idosos encontrou-se no nível de dependência
moderada a severa no que diz respeito ao desempenho das AVDs. Segue abaixo a
Tabela 3 que apresenta os diferentes níveis de funcionalidade dos idosos
hospitalizados.
17
Tabela 3. Nível de funcionalidade pelo Índice de Barthel Modificado de idosos hospitalizados do
HU-USP com histórico de quedas no período de 2019 a 2021. São Paulo, 2023.
NÍVEL DE FUNCIONALIDADE
TOTAL 32
Fonte: Elaborado pela autora, 2023.
18
Tabela 4. Categorias temáticas elaboradas a partir dos registros de acompanhamento de terapia
ocupacional com idosos hospitalizados no período de 2019 a 2021, com histórico de quedas ou
internados por quedas na ECM e ECC do HU-USP. São Paulo, 2022.
CATEGORIAS TEMÁTICAS
19
de entrada. O mesmo é entendido como “estar com” e “estar perto de”, sendo então
uma ação de inclusão, aceitação, atenção, crédito e recebimento das diferenças,
dores, modos de viver, de sentir e de entender do outro. O acolhimento não está
restrito a um espaço físico, mas também diz respeito a uma postura ética, em que o
profissional toma para si a responsabilidade de “abrigar e agasalhar” outrem em
suas demandas.
A construção de um espaço acolhedor com escuta qualificada tende a não só
permitir, mas facilitar o compartilhamento dos usuários acerca de suas vivências
com os profissionais de saúde, encontrando neles uma importante rede de apoio. Já
que esse oferecimento de espaço tende a fornecer um maior estabelecimento de
vínculo entre profissional de saúde e usuário/paciente, uma das importantes
consequências pode ser a maior probabilidade de aderência tanto ao processo
terapêutico quanto às orientações relacionadas ao plano de tratamento específico.
Segundo a Política Nacional de Humanização (PNH) instituída em 2003, o
acolhimento atua em uma das diretrizes como objetivo a construção de relações de
confiança, compromisso e vínculo entre as equipes/serviços, trabalhador/equipes e
usuário com sua rede socioafetiva (BRASIL,2003). Por meio dos prontuários foi
percebido que a Terapia Ocupacional, tal como atua no contexto hospitalar, é uma
das profissões que mais gera proximidade como paciente e constrói com o mesmo
essa relação de confiança. Por essa razão, esta profissão tende a ser colocada
como valiosa no auxílio com as dúvidas que aparecem, já que facilita a
comunicação entre o paciente com a equipe e em sinergia com a equipe. Essas
questões recebem prioridade por também serem primordiais na oferta de um
cuidado em saúde qualificado, especialmente visando a possível alta.
Os questionamentos quanto ao estado de saúde e prognóstico do paciente
podem ser facilitados por meio desse processo de construção de vínculo com o
profissional de saúde. Alguns procedimentos específicos, tais como solicitações
para visualizar exames de imagem e esclarecimentos sobre testes aplicados
ocorrem com maior frequência nos momentos em que o usuário se sente à vontade
para isso. Dessa maneira, pode ser observada mais uma vez a importância do
estabelecimento de vínculo a partir do acolhimento citado anteriormente.
20
Aspectos relacionados aos vínculos familiares
Na análise documental, identifica-se que os idosos durante o período de
internação relataram angústias pessoais envolvendo seus relacionamentos e/ou a
ausência deles: como sentimento de solidão devido à realidade de residir sozinho,
após falecimento do cônjuge; relacionamento fragilizado com filhos e sentimento de
abandono pelos mesmos; conflitos familiares; idosos em situação de rua que não
possuem rede de apoio alguma; e aqueles que, apresentam rede de apoio, mas por
zelo com a saúde de sua família, optam por não receber visitas, referindo tristeza
por "estar dando trabalho". Grande parte dos idosos atendidos demonstram auto
imagem abalada declarando "sentir-se um peso"; pois outrora não era dependente
de terceiros para o seu cuidado.
Segundo Pinto (2013, p. 28) a família é definida como sendo um “espaço
fundamental para a garantia da sobrevivência de um grupo social, podemos defini-la
como o núcleo formador dos vínculos sociais, biológicos, afetivos e emocionais”.
Soares e Custódio (2011) declaram que quando o núcleo familiar do idoso não o
acompanha durante o tratamento, existe a tendência de que o mesmo apresente
atitudes depressivas, dificultando assim sua reabilitação. Quando inseridos em seus
lares, os idosos constroem a visão de utilidade e que a morte está distante de si.
Porém, uma vez hospitalizados, a proximidade de morte evidencia-se e então,
tornam-se frágeis diante de suas próprias emoções.
De acordo com Souza e colaboradores (2016), a hospitalização distancia o
usuário do convívio familiar, e a presença de um membro da família não serve
apenas para acompanhar o usuário, mas para fazer-lhe companhia mesmo quando
não solicitada. A presença do familiar remete à vontade de se fazer presente o
máximo que pode e proporciona bem-estar para o indivíduo hospitalizado. Esse
convívio atende a necessidade emocional básica de aceitação e conexão, que é
parte da condição humana e faz com que os indivíduos valorizem a situação de se
sentirem aceitos, importantes e devidamente acolhidos.
Nesse contexto, é preciso estar junto com a família e com o paciente. Ambos
vivenciam em diferentes cenários as dores e limitações da hospitalização. Quando o
cuidado é centrado na família e nas necessidades biopsicossociais do indivíduo,
ocorre a melhora do esgotamento e o sofrimento mental de todos os envolvidos.
Além disso, estar junto à família e ao paciente faz parte das “reações humanas, do
21
reconhecimento do outro, das suas diferenças, das suas dores, das suas alegrias e
dos seus modos de viver, contribuindo para a construção da sua própria
humanidade” (SILVA et al, 2022).
22
o atendem (SOUZA et al, 2016), o que confere a importância do atendimento
humanizado e acolhedor.
Considerando o potencial impacto das relações familiares no estado
emocional da pessoa idosa é fundamental considerar esses aspectos na construção
de um cuidado integral e terapêutico eficaz.
23
A intervenção da Terapia Ocupacional ocorre em diferentes abordagens
como: as cognitivas que servem para lentificar o processo degenerativo gerando
plasticidade cerebral; as funcionais que são centradas nas estratégias de adaptação
ambiental e treino das atividades de vida diária; o manejo de sintomas
comportamentais e psicológicos associados à demência que são definidas como
abordagens não farmacológicas, visando fornecer estratégias para minimizar as
alterações comportamentais decorrentes do declínio cognitivo (LINS; GOMES,
2019). Todas foram aplicadas com os pacientes idosos e seus familiares, além de
auxiliar a equipe multidisciplinar que o acompanha.
24
comer), duplica o risco de queda. Na comunidade, o comprometimento nas AVDs
afeta 20% das pessoas com mais de 70 anos. No ambiente do lar de idosos, a
prevalência de comprometimento funcional é muito maior; 96% dos residentes de
lares de idosos precisam de ajuda para tomar banho e 45% precisam de ajuda para
comer.
25
durante o dia para favorecer a orientação temporal e estimulação sensorial,
estratégias de conservação de energia durante as transferências e em atividades
que exigem maior esforço como o banho, realização de massagem para
relaxamento e/ou drenagem dos membros edemaciados, estimulações cognitivas
por meio de músicas, fotos, conversas, jogos; além de orientações que poderão ser
seguidas após a alta. Foram fornecidas cartilhas de prevenção de quedas no
domicílio, conservação de energia, cuidado com os pés, mobilização ativa, passiva
ou auto-passiva, para favorecer o seguimento aos cuidados durante a permanência
no hospital e em casa.
26
Acolhimento familiar e preparação para a alta
27
necessário, o serviço social foi acionado e pode ajudar com questões sociais, como
a aquisição de auxílios, obtenção de tecnologias assistivas (cadeira de rodas,
muletas, cadeira de banho) e articulação para o seguimento com os serviços do
Sistema Único de Assistência Social (SUAS) dos respectivos territórios.
28
indivíduo para o autocuidado e o preparo da família na complementação desta
assistência (ANDREONI et al, 1994).
CONCLUSÃO
29
outros profissionais. Essas atuações repercutiram na assistência ao idoso, seus
familiares e equipe, sempre com o objetivo de proporcionar qualidade de vida
durante a internação, autonomia e independência para o desempenho das
atividades, além da educação em saúde com o intuito da prevenção de novos
agravos, pois os mesmos causam impacto diretamente em sua rede de apoio, na
sociedade e nos serviços de saúde.
Como limite do estudo pode-se citar o fato de que o mesmo foi desenvolvido
por meio de estudo documental da Terapia Ocupacional do qual não possuía
aprofundamento das ações desenvolvidas. Salienta-se para a importância de
estudos mais sistematizados sobre a atuação do terapeuta ocupacional, em
30
conjunto com os demais profissionais da equipe com a população idosa que possui
histórico de quedas possa ser desenvolvido, para qualificar a atenção a essa
população e seus cuidadores.
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