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CAPÍTULO 8. CHUVA
8.1. Introdução
Nas regiões tropicais, a chuva, ou precipitação pluvial, é a forma principal pela qual a água retorna da
atmosfera para a superfície terrestre após os processos de evaporação e condensação, completando, assim, o ciclo
hidrológico. A quantidade e a distribuição de chuvas que ocorrem anualmente numa região determinam o tipo de
vegetação natural e também o tipo de exploração agrícola possível.
• Chuvas Frontais
São originárias de nuvens formadas a partir do encontro de massas de ar frio e quente. A massa quente e úmida
(mais leve) tende a se elevar, resfriando-se adiabáticamente, isto é, sem troca de calor com o meio adjacente. Nesse
processo forçado de subida da massa úmida ocorre a condensação. As chuvas frontais caracterizam-se por: intensidade
moderada a fraca, longa duração (dias), e sem horário predominante para sua ocorrência. A Figura 8.1 mostra a
distribuição horária das chuvas de Julho, em Campinas, SP, época em que predominam as chuvas frontais. Nota-se que
não há um horário predominante para ocorrência das chuvas, e que sua intensidade é baixa, não passando de 5 a 6
mm/hora, em média.
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• Chuvas Convectivas
Originam-se de nuvens formadas a partir de correntes convectivas (térmicas) que se resfriam adiabáticamente
ao se elevarem, resultando em nuvens de grande desenvolvimento vertical (cumuliformes). As chuvas convectivas se
caracterizam por forte intensidade, mas curta duração, podendo ocorrer descargas elétricas, trovoadas, ventos fortes, e
granizo, predominando no período da tarde e à noite, quando a força gravitacional supera a força de sustentação térmica.
A Figura 8.2 mostra a distribuição horária das chuvas de verão, predominantemente de origem convectiva, na região de
Campinas, SP, em Janeiro, e observa-se a maior intensidade e freqüência no período da tarde e à noite.
25 7 30 7
Frequência (dias)
Frequência 6
Frequência (dias)
20 25 Frequência 6
Chuva (mm)
Chuva
Chuva (mm)
5 Chuva 5
20
15 4 4
15
10 3 3
2 10 2
5 5
1 1
0 0 0 0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
Horário Horário
Figura 8.1. Variação do total e da freqüência da chuva Figura 8.2. Variação do total e da freqüência da chuva
horária em Campinas, SP, Julho.Pezzopane et al. (1995b) horária em Campinas, SP, Janeiro. Pezzopane et al. (1995b)
As chuvas convectivas, também conhecidas como chuvas de verão, por terem maior intensidade, apresentam
grande potencial de danos, especialmente no aspecto de conservação do solo, visto que muitas vezes sua intensidade
supera a velocidade de infiltração da água no solo. Isso gera escoamento superficial (enxurrada), que ganhando
momento (quantidade de movimento), poderá causar erosão do solo, desde que outros fatores como cobertura do solo,
umidade, e declividade também contribuam para isso. A Figura 8.3 apresenta os principas tipos de distribuição de
chuvas intensas em períodos de 4 horas, na região de Piracicaba, SP, sendo o caso 1 da Figura 8.3a predominante de
outubro a março (Sentelhas et al., 1998).
100 100
a De Out a Mar = b De Out a Mar =
Chuva relativa (%)
80 70 80
85% dos casos 8% dos casos
55
60 60
40 40 27
16
20 9 20 10 8
5
0 0
1 2 3 4 1 2 3 4
Hora Hora
100 100
c De Out a Mar = d De Out a Mar =
Chuva relativa (%)
80 80
3% dos casos 2% dos casos
60
60 60 50
40 40
25
15 19 16
20 20
6 5
0 0
1 2 3 4 1 2 3 4
Hora Hora
Figura 8.3. Principais tipos de distribuição horária das chuvas convectivas. Fonte: Sentelhas et al. (1998)
• Chuvas Orográficas
Chuvas orográficas ocorrem em regiões montanhosas, onde o relevo força a subida da massa de ar úmido. Essa
subida forçada é equivalente ao processo de convecção livre, resultando nos mesmos fenômenos atmosféricos. Devido
aos ventos, o ar sobe pela encosta resfriando-se adiabaticamente, com condensação e formação de nuvens tanto
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cumuliformes como estratiformes. Nessa situação, um lado da montanha, geralmente, é mais chuvoso que o outro
resultando na chamada Sombra de Chuva (Capítulo 15 - Climatologia).
Outro índice de expressão da chuva é a sua intensidade (i), definida como a altura pluviométrica por unidade de
tempo:
i = mm / hora (8.2)
podendo “i” ser expresso também em mm/min. Esse índice tem aplicação em dimensionamento de sistemas de
drenagem e conservação do solo, tanto para a agricultura como para a construção civil.
O equipamento básico de medição da chuva é o pluviômetro (Figura 8.4a e b), que é constituído de uma área de
captação (≥ 100 cm2) e de um reservatório onde a água da chuva é armazenada até o momento da leitura. Se o
pluviômetro tiver um sistema de registro contínuo da quantidade e da hora de ocorrência das chuvas, então ele é
denominado pluviógrafo (Figura 8.4c). No pluviógrafo tipo Heilman há um reservatório com uma bóia que armazena a
água coletada durante a chuva. Uma haste com uma caneta é fixada à bóia, e esta ao se elevar com a entrada de água no
reservatório registra sobre um diagrama denominando pluviograma (Figura 8.5). A cada 10mm de chuva, o depósito é
esgotado automaticamente por um sifão, gerando um traço vertical brusco. O total de chuva é contabilizado contando-se
apenas os traços descritos no movimento de subida da pena. As sifonadas apenas preparam o aparelho para continuar
medindo chuva maior que 10mm.
A instalação desse equipamento é a 1,5m de altura, devendo a área de captação (boca do aparelho) estar bem
nivelada. A coleta dos dados, normalmente, é feita todos os dias às 7 horas, no posto agrometeorológico convencional.
Nas estações automáticas o registro é contínuo obtendo-se valores de intensidade e altura total diária das 0 às 24h. Nesse
caso, o pluviômetro é dotado de um sensor eletrônico em forma de báscula (Figura 8.4d), que possibilita resolução de
0,1mm.
Uma preocupação é saber qual será a área representada pela coleta das chuvas por um pluviômetro. Reichardt et
al. (1995) coletou chuvas diárias durante um ano, em 9 pluviômetros distribuidos ao redor do Posto Agrometeorológico,
da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, em Piracicaba, SP, que foi tomado como padrão. O pluviômetro
mais perto do padrão distava cerca de 990 m, o mais distante estava a cerca de 2500 m, e os 10 pluviômetros
amostravam uma área aproximada de 1000 ha. Enfatizando o caráter aleatório e descontínuo das chuvas, os resultados
mostraram que as medidas coletadas num pluviômetro não foram representativas de nenhum outro, na escala diária e até
mesmo quando se acumulou as chuvas durante um trimestre. No entanto, no total anual, todos os pluviômetros
mostraram resultados bem próximos do padrão, com coeficiente de variação de 3%, indicando que qualquer um deles
pode ser tomado como representativo da área amostrada, nessa escala de tempo.
Cilindro
Captador
D
Funil
V
Reservatório
a Torneira
b c d
Figura 8.4. Representação esquemática do pluviômetro (a); pluviômetro Ville de Paris (b);
pluviógrafo convencional (c) e eletrônico (d).
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8mm
31mm
A construção de um pluviômetro é simples, podendo ser feito com um garrafão (ou qualquer reservatório de
água) e um funil coletor. É fundamental que a boca do funil esteja nivelada horizontalmente para que sua área efetiva de
coleta coincida com a área da boca. Conhecendo-se a área de captação do funil e o volume coletado a cada chuva, em
cm3, determina-se a altura pluviométrica (h) pela relação:
É importante que o volume do reservatório seja adequado para conter o total de chuva possível na região.
Quadro 8.1. Seqüência de totais mensais de chuva de Março, em Piracicaba, SP, de 1917 a 1930; ordenamento crescente
(m); e probabilidade acumulada (P) de ocorrência de chuva menor que o valor indicado.
Ano 1917 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
mm 62 152 30 164 17 117 311 139 84 214 189 155 32 23
m 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
17 23 30 32 62 84 117 139 152 155 164 189 214 311
P 0,067 0,133 0,200 0,267 0,333 0,4 0,467 0,533 0,60 0,667 0,733 0,80 0,867 0,933
Portanto, para se saber a probabilidade de ocorrência (P) de um valor maior ou menor que um valor crítico,
deve-se ordenar a seqüência de dados em ordem decrescente ou crescente, respectivamente, e dividir o número de ordem
(m) correspondente à posição do valor crítico pelo número total de dados (n) mais 1, isto é,
m
P= * 100 . (8.4)
n +1
Se na seqüência de dados houver ocorrência de valores nulos (ausência de chuva), eles são descartados,
anotando-se quantas vezes isto ocorreu (No), fazendo-se depois a ordenação dos valores restantes. Nesse caso, a
probabilidade de ocorrência (P) de um valor crítico será dada pela seguinte relação:
No m
P = (1 − )( ) * 100 . (8.5)
n n + 1 - No
sendo n o número total de dados (inclusive os valores nulos). A probabilidade de não chover é dada por No / n.
Esse é o caso do total mensal de chuva durante Julho, em Piracicaba - SP. O Quadro 8.2 mostra que, entre 1951
e 1964, não ocorreu chuva, nesse mês, em 4 anos na região. Portanto, a probabilidade de não chover no mês é igual a
28,6% (= 4/14 * 100).
Ordenando-se os valores em ordem crescente, as quatro colunas iniciais são preenchidas com zeros, e da quinta
coluna em diante aparecem os valores diferentes de zero. Note-se que o total de 8 mm ocorreu duas vezes; logo eles
ocupam duas colunas adjacentes. Aplicando-se a fórmula acima, verifica-se que a probabilidade de chover menos que 8
mm é igual a 45,5%. Logo, a probabilidade de chover mais que 8 mm é igual a 54,5% (= 100 - 45,5).
Quadro 8.2. Seqüência de totais mensais de chuva de Julho, em Piracicaba, SP, de 1951 a 1964; ordenamento crescente
(m); e probabilidade acumulada (P) de ocorrência de chuva menor que o valor indicado.
Ano 1951 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64
mm 8 4 14 8 10 53 90 15 0 0 0 20 0 77
m 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
0 0 0 0 4 8 8 10 14 15 20 53 77 90
P 0,325 0,390 0,455 0,519 0,584 0,649 0,714 0,779 0,844 0,909
t = 1 / (1 – P). (8.6)
t = 1 / P. (8.7)
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Por exemplo, qual seria o tempo médio de recorrência, para Março, com total de chuva maior que 311 mm, em
Piracicaba – SP? Se os 14 anos de dados mostrados acima forem representativos de um período mais longo, o período de
retorno será t = 1 /(1 – 0.933) = 14,9 anos, ou seja, pode chover mais que 311 mm durante Março, em Piracicaba, SP, em
média, uma vez a cada 15 anos.
¾ Precipitação direta (PDIR) ⇒ que atinge a superfície sem sofrer interação com a vegetação;
¾ Precipitação indireta (PIND) ⇒ que é interceptada pelas folhas e escoada para a superfície;
¾ Precipitação escoada pelo caule ou tronco (PCAULE) ⇒ que é interceptada pela vegetação e chega à
superfície escoada pelo caule ou tronco.
A Figura 8.6 mostra esquematicamente cada um desses termos. Assim, matematicamente, tem-se que:
PTOT
PARM PARM
PINT
Figura 8.6. Representação esquemática da interceptação da chuva pela vegetação e
de sua redistribuição até atingir o solo.
A PARM depende de uma série de fatores, que podem ser resumidamente representados por um coeficiente de
armazenamento (C), sendo então:
A eq.(8.14) mostra que o armazenamento da água proveniente das chuvas pela vegetação depende da
quantidade e intensidade da precipitação (PTOT), do espaçamento entre plantas, do índice de área foliar e tamanho das
folhas (PINT), além de outros fatores como: características da folha e da copa (pilosidade, cerosidade, forma, rugosidade),
chuvas antecedentes (água já retida pela vegetação), velocidade do vento, e temperatura (viscosidade da água). Esse
coeficiente representa a fração da chuva que efetivamente fica retida na folhagem.
Pandit et al. (1991) encontraram C = 0,213 para floresta tropical na Índia, enquanto que Sinum et al. (1992)
encontraram C = 0,173 em floresta também tropical na Malásia. No caso de florestas temperadas, o valor de C também é
variável, sendo encontrado 0,314 para as condições da Polônia (Wojcik, 1991) e de 0,176 para as condições da Índia
(Himalaia). Para condições brasileiras, na Floresta Amazônica, Lloyd et al. (1988) encontraram C = 0,089, ao passo que
Franken et al. (1992) obtiveram C ao redor de 0,20. Tais variações, como já descrito, dependem de diversos fatores,
inclusive do local estudado, condições gerais da área e do ano em que as medidas foram realizadas. Isso pode ser
visualizado pelos dados apresentados por Sá et al. (1999), que estudando vegetação de capoeira no nordeste do Pará,
obtiveram, em média, C = 0,303, porém, observando ao longo do tempo (6 anos) aumento nesse valor em alguns casos e
redução em outros, em função das alterações florísticas que ocorrem em vegetação dessa natureza. Na área em que
houve aumento de C, de 0,215 para 0,424, observou-se redução de componentes herbáceos e aumento de espécies
lenhosas. No outro caso, em que C diminuiu, de 0,642 para 0,323, houve redução na densidade de algumas espécies,
decorrente do secamento das plantas.
para três espécies de clima semi-árido mexicano, observando-se a relação linear existente entre elas. Verifica-se que,
para a estimativa da PINT (Figura 8.7a), houve menor dispersão (R2 = 0,95), enquanto que para a estimativa de PARM
(Figura 8.7b) a dispersão foi maior (R2 = 0,70), o que se deve à influência dos diversos fatores que condicionam o
coeficiente de armazenamento de água pela vegetação (C). Pode-se dizer que o valor médio de C, para a vegetação em
questão, foi de 0,262, ou seja, em média a vegetação reteve 26,2% da PTOT. É importante notar que essa água não fará
parte do balanço hídrico, retornando à atmosfera por evaporação, mas fazendo parte do ciclo hidrológico da região.
35 12
PARM (mm.dia )
PINT (mm.dia )
-1
8
-1
20
6
15
4
10
5 2
a b
0 0
0 5 10 15 20 25 30 35 0 5 10 15 20 25 30 35
-1 -1
PTOT (mm.dia ) PTOT (mm.dia )
Figura 8.7. Relação entre PINT e PTOT (a) para floresta temperada (Leyton et al., 1967), e (b) entre PARM e PTOT
para condição de vegetação semi-árida do México (Návar & Bryan, 1994).
2. Você resolveu construir um pluviômetro. Para tanto utilizou um funil com 325cm2 de área de captação. Analisando
cartas climatológicas você verifica que a chuva máxima diária para sua região é de 150mm. Qual deve ser o volume
mínimo do reservatório para se coletar esse volume de chuva, sem que haja transbordamento da água?
3. Você está avaliando a eficiência de um novo aspersor para irrigação que tem capacidade de aplicar 15mm / h. Para
isso você necessita verificar sua distribuição de água e será necessária a instalação de coletores (mini pluviômetros).
Qual deve ser o volume desse coletor se sua área de captação é de 227cm2 ? O tempo de avaliação será de 60 min.
4. Com os dados de chuvas mensais em Piracicaba, SP, no período de 1965 a 1994 (30 anos), de Janeiro e Agosto
(Quadro 8.3), calcule:
a) a probabilidade e o tempo de recorrência de chover mais do que 300mm em janeiro.
b) a probabilidade de não chover em Agosto
c) a probabilidade da chuva de Agosto ser maior ou igual a 50mm.
d) o valor médio normal de chuva para Janeiro e Agosto e a probabilidade de chover acima da média nesses meses.
Quadro 8.3. Chuva média mensal, em mm, em Janeiro e Agosto, em Piracicaba, SP, entre 1965 e 1994.
Ano 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79
Jan 326 252 272 322 126 263 180 171 201 91 168 295 322 112 122
Ago 3 27 0 36 31 98 29 51 29 5 0 61 19 4 81
Ano 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94
Jan 147 290 260 207 91 132 143 313 185 371 271 367 99 180 135
Ago 22 4 45 2 112 22 133 6 0 32 41 5 11 52 0