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AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DOS TPCs SOBRE O DESEMPENHO DE FUNÇÕES DE PROTEÇÃO

BASEADAS NO DOMÍNIO DO TEMPO

Felipe V. Lopes(*) Kleber Melo e Silva João Paulo G. Ribeiro Rômulo G. Bainy
UNIVERSIDADE DE UNIVERSIDADE DE UNIVERSIDADE DE UNIVERSIDADE DE
BRASÍLIA BRASÍLIA BRASÍLIA BRASÍLIA

RESUMO

Analisa-se neste trabalho a influência dos transformadores de potencial capacitivos (TPCs) sobre as funções de
proteção direcional TD32 e TW32, as quais se baseiam na análise de grandezas incrementais e ondas viajantes no
domínio do tempo, respectivamente. As funções TD32 e TW32 têm sido consideradas promissoras no mercado de
relés numéricos, especialmente por identificarem a direcionalidade de faltas em poucos milissegundos após a
incidência do distúrbio. Por utilizarem medições de tensão, a avaliação da influência de diferentes TPCs sobre os
tempos de atuação das funções TD32 e TW32 é importante para um melhor entendimento da confiabilidade e
velocidade destas funções.

PALAVRAS-CHAVE

Grandezas incrementais, linhas de transmissão, ondas viajantes, proteção direcional, TD32, TW32.

1.0 - INTRODUÇÃO

Com o aumento da demanda por energia elétrica, tem-se verificado a busca por meios de aumentar o montante de
potência transferido nas linhas de transmissão (LTs) já em operação [1]. Neste contexto, sabe-se que as margens
de estabilidade dos sistemas consistem em um fator limitante para o aumento do fluxo de potência em linhas, visto
que, quão maior a potência transferida, menor a margem de estabilidade da rede elétrica [2]. Por isso, em muitos
casos, as LTs operam abaixo de sua capacidade máxima de transmissão, assegurando que os sistemas
permaneçam estáveis durante curtos-circuitos severos.

Dentre as soluções para melhorar os limites de estabilidade de um sistema elétrico, o aumento da velocidade das
funções de proteção tem sido considerado factível [1]. Procedendo desta forma, diminui-se o tempo de eliminação
de curtos-circuitos, reduzindo o período de aceleração das máquinas elétricas e, consequentemente, permitindo a
elevação do ponto de operação do sistema no que se refere à potência elétrica transferida [1],[2]. Da literatura,
sabe-se que a detecção de faltas por meio das proteções tradicionais baseadas na análise de fasores
fundamentais possui atrasos típicos da ordem 1 a 1,5 ciclos fundamentais [1]. Isso se deve ao fato das proteções
tradicionais requererem o processo de janelamento de dados para a correta estimação dos fasores fundamentais
das tensões e correntes do sistema, os quais são utilizados como dados de entrada nos algoritmos dos relés
numéricos de proteção convencionais [3]. Uma das soluções possíveis para redução dos tempos de atuação das
funções de proteção consiste em evitar o processo de estimação de fasores. Por isso, funções de proteção
aplicadas no domínio do tempo têm sido incorporadas em relés numéricos modernos com o objetivo de reduzir os
atrasos nos tempos de detecção de faltas, a exemplo das funções de proteção direcional de potência TD32 e TW32
disponíveis no relé T400L [4],[5].

A função TD32 se baseia na análise das tensões e correntes incrementais para identificação da direcionalidade de
curtos-circuitos [4],[5]. Essa função é capaz de identificar curtos diretos e reversos em poucos milissegundos após
a incidência do distúrbio. Assim, cruzando as informações de ambos os terminais da LT, pode-se identificar curtos-
circuitos internos à LT monitorada em tempos de 1 a 4 ms [4],[5], os quais devem ser somados ao tempo de
trânsito das informações de um terminal para o outro da linha pelo canal de comunicação.

(*) Campus Universitário Darcy Ribeiro, Bloco SG-11, Laboratório LAPSE – CEP 70.910-900 Brasília-DF, Brasil,
Tel: (+55 61) 3107-1039 – Email: felipevlopes@unb.br
2

Ainda mais rápida que a TD32, a função TW32 se baseia na teoria das ondas viajantes (OVs) e detecta a
polaridade dos primeiros transitórios de tensão e corrente em ambos os terminais da LT. Essa proteção é capaz de
identificar curtos-circuitos diretos e reversos em tempos da ordem de 1 ms [4],[5], os quais também devem ser
somados à latência do canal de comunicação utilizado. Assim, reduz-se sobremaneira os tempos de atuação da
proteção, viabilizando o aumento da margem de estabilidade da rede elétrica e, consequentemente, melhorando a
segurança de sistemas com carregamento elevado durante curtos-circuitos severos em LTs [1],[2].

Uma vez que as funções TD32 e TW32 requerem a análise de sinais de tensão, faz-se necessária uma análise
mais minuciosa a respeito da influência dos TPCs sobre o desempenho da operação desses algoritmos em
diferentes situações de falta. Portanto, neste trabalho, utiliza-se o Alternative Transients Program (ATP) para
simular cenários de faltas em um sistema elétrico de potência de 230 kV, considerando como entradas das funções
TD32 e TW32 sinais de corrente obtidos de um transformador de corrente ideal e sinais de tensão obtidos de três
modelos distintos de TPC reportados na literatura. Para cada conjunto de medições, consideram-se faltas internas
e externas à linha monitorada, viabilizando a avaliação da influência dos TPCs sobre as funções TD32 e TW32,
bem como a análise da necessidade ou não de aplicação de técnicas para compensação da resposta em
frequência dos TPCs.

2.0 - MODELOS DE TPC DE 230 KV AVALIADOS

2.1 Resposta em Frequência dos TPCs Avaliados

Três modelos de TPC de 230 kV são avaliados neste trabalho, os quais serão chamados de TPC 1, TPC 2 e TPC 3
ao longo das próximas seções. Os projetos detalhados dos TPCs 1 e 2 podem ser encontrados em [6], e o do TPC
3 em [7]. Por possuírem topologias diferentes entre si, cada TPC possui uma resposta em frequência de ganho e
fase distinta, de modo que influenciam as funções de proteção TD32 e TW32 de maneiras diferentes. Por meio do
FREQUENCY SCAN do ATP, as respostas em frequência de módulo e fase dos TPCs 1, 2 e 3 foram calculadas
para a faixa de frequência entre 1 Hz e 100 kHz. Os resultados obtidos são ilustrados na Figura 1, na qual vPRI e
vSEC representam as respostas em frequência relacionadas às tensões primárias e secundárias, respectivamente.

3 16 1,4
vPRI vPRI vPRI
14 1,2
2,5 vSEC vSEC vSEC
12 1
2
Módulo (p.u.)

Módulo (p.u.)

Módulo (p.u)

10
0,8
1,5 8
0,6
6
1
4 0,4
0,5 0,2
2
0 0 1 2 3 4 5
0 0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4 5
10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10
Frequência (Hz) Frequência (Hz) Frequência (Hz)

200 200 200


vPRI vPRI
150 vSEC 150 150 vSEC
100 100 100
Fase (Graus)

Fase (Graus)

Fase (Graus)

50 50 50
0 0 0
-50 -50 -50
-100 -100 -100
vPRI
-150 -150 vSEC -150
-200 0 1 2 3 4 5 -200 0 1 2 3 4 5 -200 0 1 2 3 4 5
10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10
Frequência (Hz) Frequência (Hz) Frequência (Hz)
(a) (b) (c)

FIGURA 1 – Respostas em frequência calculadas via FREQUENCY SCAN do ATP:


(a) TPC 1; (b) TPC 2; (c) TPC 3.
3

Dos resultados obtidos, percebe-se que os TPCs reproduzem corretamente as tensões do sistema na frequência
fundamental (resposta em frequência com ganho unitário e fase nula), mas distorcem os sinais nas demais
frequências. Em relação às distorções de fase, é evidente que todos os TPCs introduzem erros relevantes nas
componentes harmônicas e sub-harmônicas, alcançando valores da ordem de 150º. Pode-se constatar ainda que
os TPCs 1 e 3 promovem a atenuação de componentes de baixa e alta frequência, enquanto que o TPC 2 atenua e
amplifica as componentes de baixa e alta frequência, respectivamente. Tais distorções no módulo e fase das
tensões secundárias impossibilitam uma medição precisa de frequências não-fundamentais, podendo, portanto, ter
influência sobre o desempenho dos algoritmos de proteção aplicados no domínio do tempo.

2.2 Problemas Provenientes dos TPCs

Dentre os problemas associados à resposta transitória dos TPCs, destacam-se a aparição de um modo de
oscilação subamortecido nas tensões secundárias e a atenuação ou amplificação de componentes de alta
frequência presentes nos sinais primários [6]. De fato, para um degrau de variação nas tensões primárias, a
presença de indutores, capacitores e resistores nos circuitos dos TPCs resulta em um modo de oscilação, o qual
impede que a tensão secundária represente de forma fidedigna a tensão primária. De forma similar, embora os
transitórios rápidos sejam tipicamente atenuados pelos TPCs (como para os TPCs 1 e 3), existem modelos que
possuem pontos de ressonância nas altas frequências (como o TPC 2), o que ocasiona a amplificação de
transitórios em faixas de frequência elevadas.

Na Figura 2, apresentam-se exemplos de casos que ilustram os problemas supracitados. Para tanto, foram
considerados dois casos de faltas francas em um sistema elétrico simplificado de 230 kV. O primeiro curto-circuito
é aplicado no ponto de medição (onde se encontra instalado o TPC) e o segundo a uma distância de 20 km da
o o
barra monitorada em uma LT de 200 km, considerando ângulos de incidência θ iguais a 0 e 90 , respectivamente.

1,0 1,0 1,0


0,8
Tensão (p.u.)

Tensão (p.u.)

Tensão (p.u.)
0,6 0,6 0,0 0,6
-0,8

0,2 0,2 0,1199 0,1200 0,1202 0,1203 0,2

-0,2 -0,2 -0,2

-0,6 vPRI -0,6 vPRI -0,6 vPRI


vSEC,TPC 1 vSEC,TPC 2 vSEC,TPC 3
-1,0 -1,0 -1,0
0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18
Tempo (s) Tempo (s) Tempo (s)
(a) (b) (c)
1,0 3 1,1
2 0,8
Tensão (p.u.)

Tensão (p.u.)

Tensão (p.u.)

0,6
0,5
1
0,2 0,2
0
-0,2 -0,1
-1 -0,4
-0,6 vPRI -2 vPRI vPRI
-0,7
vSEC,TPC 1 vSEC,TPC 2 vSEC,TPC 3
-1,0 -3 -1,0
0,110 0,115 0,120 0,125 0,130 0,135 0,110 0,115 0,120 0,125 0,130 0,135 0,110 0,115 0,120 0,125 0,130 0,135
Tempo (s) Tempo (s) Tempo (s)
(d) (e) (f)
o
FIGURA 2 – Respostas no tempo dos TPCs: (a) TPC 1 para falta no ponto de medição (θ = 0 );
o o
(b) TPC 2 para falta no ponto de medição (θ = 0 ); (c) TPC 3 para falta no ponto de medição (θ = 0 ); (d) TPC 1
o o
para falta a 20 km do ponto de medição (θ = 90 ); (e) TPC 2 para falta a 20 km do ponto de medição (θ = 90 );
o
(e) TPC 3 para falta a 20 km do ponto de medição (θ = 90 ).

Dos resultados, percebe-se que, de fato, os TPCs 1, 2 e 3 resultam em diferentes distorções nos sinais
secundários. Conforme mencionado anteriormente, isso se explica pelos diferentes aspectos construtivos dos
o
referidos equipamentos. Para a falta com ângulo de incidência igual a θ = 0 aplicada no ponto de medição, os
TPCs 1, 2 e 3 promovem oscilações relevantes nos primeiros instantes de falta. Adicionalmente, para a falta com
o
ângulo de incidência igual a θ = 90 aplicada a 20 km da barra monitorada (caso de transitórios mais severos),
verifica-se que os TPCs 1 e 3 atenuam bastante as componentes de alta frequência, enquanto que o TPC 2
amplifica essas componentes.
4

3.0 - FUNÇÕES DE PROTEÇÃO AVALIADAS

3.1 Função TD32


A função TD32 foi implementada conforme detalhes descritos em [4]. Essa função se baseia na análise de
grandezas incrementais ∆s de tensão (∆v) e corrente (∆i), as quais são obtidas da diferença entre as amostras
atuais dos sinais medidos e as amostras dois ciclos atrasadas, ou seja: ∆s(t)=s(t)-s(t-2T), em que ‘s’, ‘t’ e ‘T’
representam o sinal avaliado, o tempo e o período fundamental, respectivamente. Para determinar a
direcionalidade da falta, calculam-se torques de operação TOP, e limiares para identificação de curtos-circuitos
diretos e reversos, os quais são representados por TFWD e TREV, respectivamente. TOP é calculado usando:
TOP (t ) = − ∆ v (t ) ⋅ ∆ i z (t ) , (1)
em que ∆iz é a corrente réplica incremental calculada usando:

R LT L d
∆ i z (t ) = ⋅ ∆ i (t ) + LT ⋅ ∆ i (t ) , (2)
| Z LT | | Z LT | dt
em que ZLT, RLT e LLT são a impedância, resistência e indutância da LT, respectivamente.

TOP, TFWD e TREV são calculados para seis unidades de medição, conforme reportado em [1]. Para cada unidade,
durante um tempo T2 da ordem de frações de milissegundos após o início do distúrbio, realiza-se um reforço dos
referidos torques com o torque calculado por fase usando as grandezas ∆vFASE e ∆iFASE, viabilizando uma variação
mais rápida de TOP, TFWD e TREV nos primeiros instantes do distúrbio. Além de T2, utilizam-se os ajustes ZF e ZR,
que são relacionados à detecção de curtos-circuitos diretos e reversos, respectivamente. Neste trabalho, adotaram-
se os seguintes ajustes: T2=0,8 ms, ZR=0,5.|ZLT|, ZF=0,5.SIRMIN.|ZLT| [1], assumindo o Source Impedance Ratio
(SIR) mínimo como sendo SIRMIN=0,1. Na TD32, TOP, TFWD e TREV são integrados, resultando nos torques
integrados EOP, EFWD e EREV, os quais são utilizados na lógica de operação da referida função. Na Figura 3,
ilustram-se os esquemas para cálculo dos torques e da lógica de operação da função TD32.

(a) (b)
FIGURA 3 – Diagramas de blocos da função TD32 [4]: (a) Cálculo dos torques; (b) Lógica de operação.

Neste trabalho, adotou-se uma margem de segurança (MS) de 0,1% do valor esperado para TOP no caso de
variação máxima de ∆v e os integradores foram implementados como somadores de amostras no tempo dos
valores instantâneos dos torques avaliados. Na supervisão por sobrecorrente, considerou-se um ipickup igual a 90%
da corrente esperada por fase para uma falta franca no terminal da LT oposto ao ponto de medição [2].

3.2 Função TW32

Assim como a TD32, a função TW32 foi implementada seguindo as diretrizes descritas em [4]. Esta função
depende da identificação das polaridades das primeiras OVs de tensão e corrente que incidem nos terminais da LT
monitorada. Assim como todas as aplicações baseadas na teoria das OVs, a função TW32 requer o uso de altas
taxas de amostragem para fins de representar corretamente as altas frequências dos sinais analisados [8].

Segundo [4] e [5], o relé T400L extrai as OVs dos sinais medidos usando um filtro denominado Differentiator-
Smoother (DS), o qual é ajustado para manter ganho unitário. Na Figura 4, apresenta-se um exemplo da aplicação
do filtro DS em um sinal de corrente com transitórios resultantes de uma falta genérica. Na figura, demonstra-se
que a amplitude dos transitórios provenientes da incidência de OVs no ponto de medição são corretamente
representados no sinal filtrado, o qual é utilizado como sinal de entrada da função TW32. Neste trabalho, os sinais
filtrados das tensões e correntes medidas no terminal monitorado são chamados de vTW e iTW, respectivamente.
5

i (A)
Bm Cm Corrente
medida
Am

OVs
Am Cm medidas
Bm
Tempo
FIGURA 4 – Extração das OVs por meio do filtro DS.

Conforme evidenciado em [4] e [5], o intuito é que as funções de proteção baseadas na teoria das OVs sejam
seguras, de modo que operem rapidamente quando os sinais monitorados possuírem características favoráveis
para a atuação e permaneçam estáveis em situações nas quais essas características resultem em dúvidas quanto
à origem dos transitórios. Por isso, utiliza-se uma lógica de operação que considera condições de segurança
adicionais, as quais são ilustradas na Figura 5.

FIGURA 5 – Lógica de operação da função TW32.

Nota-se que o integrador é ativado apenas quando as OVs de tensão e corrente superam um nível mínimo de
amplitude. Neste trabalho, esse nível foi adotado como 150% do valor máximo de vTW e iTW verificados durante o
regime permanente, os quais não são exatamente nulos devido à presença de ruídos e/ou presença de harmônicas
de menor ordem. A margem de segurança MS, neste caso, foi adotada como 1,5% do valor máximo esperado para
o torque obtido do produto de vTW e iTW. Conforme descrito em [4], o torque integrado EFWD da função TW32 é
avaliado depois de um tempo T1 após a detecção das primeiras OVs. Segundo [4], T1 deve ser da ordem de
dezenas a centenas de microssegundos, sendo neste trabalho utilizado um valor T1=150 µs.

4.0 - ESTUDOS DE CASO

4.1 Sistema Avaliado e Simulações

Para realizar os testes propostos, modelou-se no ATP o sistema elétrico ilustrado na Figura 6. Este sistema
pertence ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e consiste na interligação das subestações Milagres (SE MLG) e
Banabuiú (SE BNB), ambas situadas na região Nordeste do Brasil. A LT a ser monitorada é a 04M2, a qual possui
comprimento de 225,2 km. Conforme ilustrado na Figura 6, consideram-se três pontos de aplicação de faltas: F1
para simulação de curtos-circuitos internos à LT monitorada, bem como F2 e F3 para simulação de curtos-circuitos
externos à LT 04M2, na subestação Icó (SE ICÓ) e na SE BNB, respectivamente. Nesse sistema, assume-se a
existência de um canal de comunicação para intercâmbio de informações entre os elementos direcionais instalados
nas barras local (SE MLG) e remota (SE BNB). Além disso, para tornar as simulações mais realísticas, o sistema
de aquisição de sinais simulado foi implementado de acordo com as diretrizes apresentadas em [4].

Para a análise da influência dos TPCs sobre as funções TW32 e TD32, foram simuladas faltas monofásicas sólidas
do tipo AT nos pontos F1, F2 e F3. Em cada caso, variou-se o ângulo de incidência θ do curto-circuito,
o o
considerando θ = 0 e 90 , bem como o carregamento do sistema, o qual foi ajustado por meio da variação do
o o
ângulo δ da fonte de Thévenin conectada à SE BNB. Para as simulações realizadas, considerou-se δ=-8 , -18 e
o
-28 , simulando situações de carregamento leve, moderado e pesado. Além disso, para as faltas no ponto F1,
consideraram-se distâncias de falta de 10%, 25%, 50%, 75% e 90% do comprimento da LT 04M2, viabilizando a
análise da influência dos TPCs para faltas próximas ou não dos terminais monitorados. Em todos os casos, utilizou-
se um modelo ideal de transformador de corrente (TC).
6

SE MLG LT 04M1 Parâmetros da LT 04M2:


ZL0 = 0,3892 + j1,2268 Ω/km
Reator YL0 = j2,5470 µm ho/km
o
ZL1 = 0,0871 + j0,3685 Ω/km
1,02/0 p.u. Disj. LT 04M2 Disj. 1,02/δ p.u. YL1 = j4,5968 µmho/km

ZMLG Reator ZBNB Parâmetros de ZMLG :


TD32
F1 TD32 Z0 = 0,6538 + j9,2342 Ω
TW32 Canal de Comuncação TW32
Z1 = 1,4260 + j12,485 Ω
LT 04M3

SE ICÓ Parâmetros de ZBNB :


Reator
Z0 = 4,5018 + j34,996 Ω
Carga Trafo
230/69 kV F2 F3 Z1 = 5,3471 + j31,716 Ω

FIGURA 6 – Sistema fictício modelado.


4.2 Resultados e Análises

Para cada simulação de curto-circuito interno, obtiveram-se os tempos de operação das funções TW32 e TD32
quando utilizadas tensões primárias e secundárias dos TPCs 1, 2 e 3. Destaca-se que os tempos de operação
obtidos consistem unicamente no tempo requerido pelas funções TW32 e TD32 para identificar a condição de falta
direta em ambos os terminais da LT, de forma que o atraso do canal de comunicação não está incluído nos
resultados apresentados. Os resultados são ilustrados dessa maneira pelo fato de diferentes tipos de canais de
comunicação resultarem em diferentes atrasos. Ainda assim, cabe informar que, para um canal composto por fibras
ópticas e com comprimento similar ao da LT monitorada (ou seja, 225,2 km), incluindo o tempo de processamento
dos dispositivos de proteção, um atraso adicional da ordem de 2 ms seria coerente para o sistema modelado [9].

Os resultados obtidos são apresentados na forma de gráficos de dispersão, através dos quais é possível visualizar
diferenças nos tempos de operação quando do uso dos TPCs 1, 2 e 3 em relação aos casos nos quais as tensões
primárias são consideradas. Em cada gráfico, foram incluídas regiões que ilustram situações de atrasos adicionais
nos tempos de operação de 0% (operação sem atrasos adicionais), ±25% e ±50%. Na Figura 7, apresentam-se os
o
resultados obtidos para faltas no ponto F1, considerando θ=90 e diferentes carregamentos do sistema.
2 2 2
0%

0%

0%
5%

5%

5%
0%

0%

0%
Tempo de Operação Verificado (ms)

Tempo de Operação Verificado (ms)

Tempo de Operação Verificado (ms)


+5

+5

+5
+2

+2

+2
1,5 % 1,5 % 1,5
5 5 5%
-2 -2 -2

1 % 1 % 1 %
-50 -50 -50

0,5 0,5 0,5


TPC 1 TPC 1 TPC 1
TPC 2 TPC 2 TPC 2
TPC 3 TPC 3 TPC 3
0 0 0
0,5 1 1,5 2 0 0,5 1 1,5 2 0 0,5 1 1,5 2
Tempo de Operação Esperado (ms) Tempo de Operação Esperado (ms) Tempo de Operação Esperado (ms)
(a) (b) (c)
4 4 4
0%

0%

0%
5%

5%

5%
0%

0%

0%
Tempo de Operação Verificado (ms)

Tempo de Operação Verificado (ms)

Tempo de Operação Verificado (ms)


+5

+5

+5
+2

+2

+2

3,5 3,5 3,5

3 3 3
5% 5% 5 %
-2 -2 -2
2,5 2,5 2,5

2 % 2 % 2 %
-50 -50 -50
1,5 1,5 1,5

1 1 1
TPC 1 TPC 1 TPC 1
0,5 TPC 2 0,5 TPC 2 0,5 TPC 2
TPC 3 TPC 3 TPC 3
0 0 0
0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4
Tempo de Operação Esperado (ms) Tempo de Operação Esperado (ms) Tempo de Operação Esperado (ms)
(d) (e) (f)
o o o
FIGURA 7 – Resultados obtidos para o caso de θ = 90 : (a) TW32 para δ=-8 ; (b) TW32 para δ=-18 ;
o o o o
(c) TW32 para δ=-28 ; (d) TD32 para δ=-8 ; (e) TD32 para δ=-18 ; (f) TD32 para δ=-28 .
7

Das Figuras 7(a), 7(b) e 7(c), percebe-se que, conforme reportado em [1], a função TW32 não é afetada pelos
TPCs e nem pelo carregamento do sistema. Além disso, os tempos de atuação da TW32 foram iguais para as
faltas em 10% e 90%, e em 25% e 75%, resultando em pontos sobrepostos nos gráficos apresentados. De fato,
embora distorçam sobremaneira os transitórios de falta, os TPCs não resultam em erros na polaridade das
primeiras OVs de tensão, as quais são utilizadas pela TW32. Para essa função, considerando os ajustes utilizados,
verificaram-se atuações rápidas, com tempos de operação da ordem de 0,85 ms para faltas próximas aos terminais
monitorados e de 0,54 ms para faltas no meio da LT. Adicionalmente, das Figuras 7(d), 7(e) e 7(f), comprova-se
que, de uma forma geral, a TD32 também é pouco influenciada pelos TPCs. Apenas para o TPC 3, verificaram-se
atrasos mais significativos. Entretanto, para os TPCs 1 e 2, os atrasos adicionais não excederam a ordem de 25%,
resultando em tempos de operação de aproximadamente 2 ms para os ajustes empregados.
o
Segundo [4], para curtos-circuitos com θ=0 , não são lançadas OVs na LT após a incidência do distúrbio, de forma
o
que é esperado que a TW32 não opere. Ainda assim, a TD32 deve ser avaliada para cenários em que θ=0 , visto
que, nesses casos, uma vez que os transitórios de falta são atenuados, o efeito da resposta dinâmica dos TPCs
pode se tornar mais evidente nas tensões secundárias. Na Figura 8, apresentam-se os resultados obtidos para a
o
TD32, considerando faltas no ponto F1 com ângulos de incidência θ=0 e diferentes carregamentos do sistema.
6 6 6
0%

0%

0%
0%

0%

0%
5%

5%

5%
Tempo de Operação Verificado (ms)

Tempo de Operação Verificado (ms)

Tempo de Operação Verificado (ms)


+5

+5

+5
+2

+2

+2
5 5 5

5% 5% 5%
4 -2 4 -2 4 -2

3 % 3 % 3 %
-50 -50 -50

2 2 2

TPC 1 TPC 1 TPC 1


1 1 1
TPC 2 TPC 2 TPC 2
TPC 3 TPC 3 TPC 3
0 0 0
2 4 6 0 2 4 6 0 2 4 6
Tempo de Operação Esperado (ms) Tempo de Operação Esperado (ms) Tempo de Operação Esperado (ms)
(a) (b) (c)
o o o o
FIGURA 8 – Resultados obtidos para a TD32 no caso de θ = 0 : (a) δ=-8 ; (b) δ=-18 ; (c) δ=-28 .
Dos resultados, verifica-se que, embora pouco influenciados pelo carregamento do sistema, os tempos de
o o
operação são maiores para θ = 0 do que para θ = 90 , atingindo a ordem de 5,7 ms. Tal comportamento está em
o
conformidade com o esperado, visto que, para θ = 0 , as variações das tensões e correntes incrementais no início
do distúrbio são menores, fazendo com que os torques utilizados na TD32 variem mais lentamente. Nesses casos
é comum dizer que a energia inicial do curto-circuito é menor, ocasionando tempos de operação maiores. Ainda
o o
assim, percebe-se que para θ = 0 , a influência dos TPCs foi menor do que para θ = 90 . Em apenas um caso, para
o TPC 3, o atraso adicional excedeu a ordem de 25% do tempo de operação sem utilizar TPCs, enquanto que para
os TPCs 1 e 2, os atrasos adicionais não excederam 25% do tempo de operação esperado, comprovando a
robustez da função TD32. Para se ter uma visão geral das simulações realizadas, apresentam-se na Figura 9 os
diagramas de dispersão considerando todos os casos avaliados em conjunto. Obviamente, para a TW32, a qual
o o
não atua para θ = 0 , apenas os casos de curtos-circuitos com ângulo de incidência θ = 90 são analisados.
2 6
0%

0%
5%

5%
0%

0%
Tempo de Operação Verificado (ms)

Tempo de Operação Verificado (ms)


+5

+5
+2

+2

5
1,5
5% 5%
-2 4 -2

1 % 3 %
-50 -50

2
θ = 0o
0,5
Apenas 1
o
θ = 90 o
θ = 90
0 0
0,5 1 1,5 2 0 2 4 6
Tempo de Operação Esperado (ms) Tempo de Operação Esperado (ms)
(a) (b)
o o o
FIGURA 9 – Resultados gerais obtidos: (a) TW32 (para θ=90 ); (b) TW32 (para θ=0 e 90 ).
8

Da Figura 9, pode-se concluir que o uso dos TPCs não resultou em atrasos adicionais para a função TW32 e não
comprometeu o desempenho da função TD32, para a qual a grande maioria dos casos resultou em operações
dentro da região relacionada a atrasos adicionais menores que 25% do tempo de operação esperado. É oportuno
mencionar que para as faltas externas simuladas nos pontos F2 e F3, mesmo com a variação do ângulo de
incidência e do carregamento do sistema, não foram identificadas operações indevidas, evidenciando a segurança
das proteções TW32 e TD32 para os cenários de falta e TPCs avaliados. Dessa forma, conclui-se que o uso de
compensadores da resposta em frequência dos TPCs, a exemplo do apresentado em [10], não se mostra crucial,
muito embora possa reduzir o tempo de atuação da TD32 em casos nos quais a resposta transitória dos TPCs
ocasiona oscilações mais críticas nas tensões secundárias.

5.0 - CONCLUSÕES

Neste trabalho, apresentou-se uma avaliação da influência de três modelos de TPC de 230 kV sobre as funções
de proteção direcional de potência TW32 e TD32 aplicadas no domínio do tempo. As referidas funções de
proteção foram descritas e posteriormente avaliadas por meio de simulações no ATP de curtos-circuitos
monofásicos sólidos, com diferentes ângulos de incidência e localizações, em uma LT pertencente ao SIN. Além
das referidas características de falta, variou-se também o carregamento do sistema teste, a fim de analisar os
efeitos do fluxo de potência sobre o nível de influência dos TPCs nos tempos de operação da TW32 e TD32.

Dos resultados obtidos, conclui-se que as respostas em frequência dos TPCs analisados não influenciam de forma
significativa o desempenho das funções TW32 e TD32. Para a TW32, não foram verificadas diferenças relevantes
nos tempos de operação quando consideradas tensões primárias e secundárias. Adicionalmente, para a TD32,
apenas em poucos casos para o TPC 3, verificaram-se atrasos adicionais acima de 50% do tempo de operação
esperado. No entanto, para os TPCs 1 e 2, os atrasos não excederam a ordem de 25%, resultando em atuações
muito próximas ou iguais às verificadas quando do uso de tensões primárias. Ainda assim, mesmo para os casos
mais críticos e considerando um carregamento elevado do sistema, os tempos de operação da TD32 não
o o
excederam 3,6 ms e 5,7 ms para ângulos de incidência de 90 e 0 , respectivamente, o que é satisfatório do ponto
de vista de redução dos tempos de operação da proteção em relação às funções baseadas em fasores. Portanto,
conclui-se que o uso de compensadores da tensão secundária de TPCs não é crucial para a TW32 e TD32. Ainda
assim, espera-se avaliar em trabalhos futuros as implicações do uso de compensadores desse tipo, a fim de
identificar vantagens e desvantagens dessa solução quando aplicada em conjunto com as funções TW32 e TD32.

6.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] SCHWEITZER, E. O.; KASZTENNY, B.; GUZMÁN, A.; SKENDZIC, V.; MYNAM, M., “Speed of line protection -
can we break free of phasor limitations?,” Western Protective Relay Conference, USA, oct. 2014.
[2] ANDERSON, P. Power System Protection. Piscataway, NJ - USA: IEEE Press Series on Power Engineering,
Wiley Interscience, 1999.
nd
[3] PHADKE, A. G.; THORP, J. S. Computer Relaying for Power Systems, 2 ed. New York, USA: John Wiley &
Sons Inc., 2009.
[4] SCHWEITZER, E. O.; KASZTENNY, B.; MYNAM, M. “Performance of Time-Domain Line Protection Elements on
nd
Real-World Faults,” 42 Annual Western Protective Relay Conference, USA, oct. 2015.
[5] SCHWEITZER, E. O.; KASZTENNY, B.; MYNAM, M.; GUZMÁN, A.; SKENDZIC, V. “New Time-Domain Line
th
Protection Principles and Implementation,” 13 International Conference on Developments in Power System
Protection, Edinburgh, United Kingdom, march 2015.
[6] CARVALHO JR. “Interação Transitória entre Transformadores de Potencial Capacitivos e Linhas de
Transmissão: Uma Contribuição para Minimizar Falhas,” Dissertação de Mestrado em Engenharia Elétrica,
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), 2008.
[7] EMTP Reference Models for Transmission Line Relay Testing, IEEE Power System Relaying Committee, 2004.
[Online]. Available: http://www.pes-psrc.org.
[8] LOPES, F. V.; SILVA, K. M.; COSTA, F. B.; NEVES, W. L. A.; FERNANDES Jr., D. “Real-Time Traveling Wave-
Based Fault Location Using Two-Terminal Unsynchronized Data,” IEEE Transactions on Power Delivery, v. 30, n. 3,
p. 1067–1077, 2015.
[9] FERRER, H.; SCHWEITZER, E., Modern Solutions for Protection, Control, and Monitoring of Electric Power
Systems. Schweitzer Engineering Laboratories, Inc., 2010.
[10] BAINY, R. G.; LOPES, F. V.; NEVES, W. L. A. “Benefits of CCVT secondary voltage compensation on traveling
wave-based fault locators,” IEEE/PES General Meeting Conference and Exposition, Washington DC, USA, 2014.
9

7.0 - DADOS BIOGRÁFICOS

Felipe V. Lopes nasceu em Campina Grande-PB, 1985. Recebeu os títulos de B.Sc., M.Sc.
e D.Sc. no domínio da Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG) em 2009, 2011 e 2014, respectivamente. Atualmente é Professor Adjunto no
Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília (UnB). Tem maior
interesse em transitórios eletromagnéticos, proteção de sistemas elétricos, localização de
faltas e simulações em tempo real.

Kleber M. Silva nasceu em João Pessoa-PB, 1980. Recebeu os títulos de B.Sc., M.Sc. e
D.Sc. no domínio da Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG) em 2004, 2005 e 2009, respectivamente. Em 2007, foi professor Visitante da
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). De 2008 a 2009 foi professor efetivo do Instituto
Federal da Paraíba (IFPB). Em 2009, esteve em cooperação técnica com o Instituto Federal
de Brasília (IFB). Atualmente é Professor Adjunto no Departamento de Engenharia Elétrica
da Universidade de Brasília (UnB). Tem atuado nas áreas de proteção de sistemas elétricos
de potência e transitórios eletromagnéticos.

João Paulo G. Ribeiro nasceu em Brasília-DF, 1993, e é aluno de graduação em engenharia


elétrica na Universidade de Brasília (UnB). Atualmente, é aluno de iniciação científica (PIBIC)
e participa de pesquisas na área de proteção de sistemas elétricos. Tem interesse em temas
relacionados à proteção de sistemas elétricos, geração e transmissão de energia elétrica e
qualidade de energia.

Rômulo G. Bainy nasceu em Foz do Iguaçu-PR, 1990. Recebeu o título de B.Sc. e M.Sc. no
domínio de Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE) em 2012 e 2014, respectivamente. Atualmente, é aluno de doutorado em
engenharia elétrica na Universidade de Brasília (UnB). Tem maior interesse nas áreas de
pesquisa relacionadas com proteção de sistemas elétricos e com sistemas de controle
aplicados às gerações eólica e solar.

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