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Marechal-do-Ar

Eduardo Gomes O HOMEM E O MITO

Marechal-do-Ar Eduardo Gomes - O Homem e o Mito 1


Marechal-do-Ar
Eduardo Gomes O HOMEM E O MITO

O Brigadeiro Eduardo Gomes foi uma minação, integridade moral e honestidade,


personalidade tão multifacetada e rica em sua aliados a um coração terno e generoso, lhe
abrangência, que, com extrema facilidade, outorgaram uma personalidade muito espe-
encontramos adjetivos laudatórios para defi- cial, tal qual o raro brilho de um cristal puro
nir a sua intensa vida militar e a trajetória e radiante de luz. Realmente, uma persona-
brilhante percorrida durante várias décadas, lidade ímpar, plasmada no amor e dedicação
no exercício da dignificante arte de comandar ao trabalho e ao estudo, embasada nos exem-
e de transmitir seus profícuos conhecimentos plos de um lar paterno bem formado.
a várias gerações de brasileiros.
A rapidez da evolução da tecnologia e,
Não seria difícil distinguir-se entre as vá- conseqüentemente, do avião, nas primeiras
rias nuances de sua marcante personalidade décadas do século passado, haveria de ser
a de maior significação. Destacava-se, entre- acompanhada por homens idealistas e de-
tanto, o seu devotado amor à Aeronáutica, terministas, no sentido de um bom aprimo-
seu acendrado patriotismo e seus inquebran- ramento do uso de tão extraordinária má-
táveis dotes morais. quina, bem como, na busca da utilização da
Há pessoas que se identificam com a His- mesma para a solução de alguns problemas
tória pelo desempenho extraordinário de sua nacionais.
missão, nas exigências de cada época. Edu- Eduardo Gomes foi um daqueles homens
ardo Gomes foi uma delas. Militar extrema- extraordinários que marcaram os momentos
mente dedicado à carreira, exímio aviador, gloriosos e históricos da Aviação brasileira,
leal companheiro, devotado patriota, comba- tendo deixado como herança a sua devoção
tente de primeira hora e cidadão exemplar.
no cumprimento do dever e a confiança num
À par de suas inúmeras virtudes morais notável engrandecimento do Ministério da
e intelectuais, o inolvidável Brigadeiro tinha Aeronáutica e de uma ativa e fecunda par-
como paradigma de vida a transparência e ticipação da Aviação no desenvolvimento da
a sinceridade. Porte altivo, coragem e deter- nação brasileira.
2 Marechal-do-Ar Eduardo Gomes - O Homem e o Mito
ORIGEM, INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Eduardo Gomes, filho de Luis Gomes alemão, tendo aprendido, também, piano,
Pereira e Jenny de Oliveira Gomes, nasceu equitação e escultura.
em 20 de setembro de 1896, na cidade de
Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro. Eduardo Gomes iniciou seus estudos no
Colégio Werneck, no qual rapidamente tor-
Seu pai foi Oficial da Marinha, com nou-se líder entre seus colegas.
honras de Capitão-Tenente da Armada,
Continuando seus estudos, ingressou no
por Decreto do Governo. Com 18 anos de
Colégio São Vicente de Paulo, no Rio de Ja-
serviço, demitiu-se da Marinha. Devido a
neiro, realizando o Curso de Humanidades,
alguns empreendimentos desastrosos, sua
onde revelou-se, de forma extraordinária, em
fortuna ficou bastante reduzida, passando a
matemática.
depender de seu ardor jornalístico. Sua mãe
despertava a atenção por sua beleza, espírito Por sua dedicação aos estudos, atingiu a
empreendedor e cultura, pois falava fluente- posição de coronel-aluno, Comandante do Ba-
mente, aos 18 anos, o francês, o inglês e o talhão Colegial, com direito ao uso de espada.

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EDUARDO GOMES - O MILITAR

Desenvolveu, durante o Curso na escola Manteve, desde cadete, intensa amizade


Militar um elevado espírito de cooperação e com Siqueira Campos, seu colega de turma
camaradagem, colocando-se entre os melhores da Arma de Artilharia, que com ele com-
de sua turma, ajudando, freqüentemente, os partilharia, mais tarde, de eventos heróicos
colegas menos preparados. e históricos.
Foi declarado Aspirante-a-Oficial, em Em 1922, foi servir na Escola de Avia-
17 de dezembro de 1918, na Arma de ção Militar, no legendário Campo dos Afon-
Artilharia. O Aspirante-a-Oficial Edu- sos, no Rio de Janeiro, para fazer o Curso de
ardo Gomes foi designado para servir no Observador Aéreo de Artilharia. Reunia,
IX Regimento de Artilharia, em Curitiba, assim, o feliz casamento de sua Arma de
Paraná, e lá foi promovido a Segundo-Te- formação com a Aviação que tanto o empol-
nente, em janeiro de 1921. gava e fascinava.

EDUARDO GOMES - O EPISÓDIO HISTÓRICO


DOS “18 DO FORTE”

Naquele ano, 1922, com 26 anos de um movimento rebelde contra a política do


idade, volta a encontrar-se com Siqueira governo federal no tocante a má adminis-
Campos no Forte de Copacabana, onde tração e as irregularidades na campanha
aquele servia, e com ele compartilha de eleitoral.
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Chefiados por Siqueira Campos, no dia A revolta do Forte de Copacabana, que
6 de julho de 1922, por sugestão de Eduar- abriu o ciclo revolucionário em que predomi-
do Gomes, quatro oficiais e treze soldados e navam os Tenentes, nasceu do ressentimen-
civis, saem do Forte de Copacabana e, pela to militar contra a candidatura de Artur
Avenida Atlântica, que margeia a praia, se- Bernardes, cuja impopularidade mais se
guem à luta contra cerca de 4.000 homens. acentuou com o episódio das “cartas falsas”
À eles juntou-se um civil, o gaúcho Otávio – quando o jornal Correio da manhã pu-
Corrêa. blicou duas cartas atribuídas a Artur Ber-
Neste episódio, que ficou conhecido como nardes -, que objetivavam incompatibilizar
“Os Dezoito do Forte”, Eduardo Gomes foi os militares com o candidato à sucessão de
gravemente ferido no embate com as forças Epitácio Pessoa.
governistas. Tal fato acabou originando uma séria
Todos levavam um pedaço da Bandeira crise, agravada com a prisão do Marechal
Nacional do Forte de Copacabana, que Si- Hermes da Fonseca, então Presidente do
queira Campos havia repartido entre eles. Clube Militar, “em condições que feriam a
sua dignidade de oficial-general”, como decla-
rou mais tarde o Capitão Euclides Hermes,
então comandante do Forte de Copacabana.
A revolta do Forte extinguiu-se num lance
de desesperada bravura, pois não conseguindo
tornar vitorioso o movimento, os derradeiros
revoltosos iriam terminar suas vidas lutando
contra as forças do governo, no episódio que
ficou conhecido como os “Dezoito do Forte”.
Do combate então travado, embora grave-
mente feridos, escaparam com vida: Eduardo
Gomes e Siqueira Campos.

ENVOLVIMENTO EM OUTROS
MOVIMENTOS POLÍTICO-MILITARES
Julgado e condenado, por sua participação onde trabalhou como professor, com identi-
naquele episódio, antes de ser preso Eduar- dade falsa e, mais tarde, em Campos, como
do Gomes foge e vai viver em Mato Grosso, Engenheiro Civil.
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Posteriormente, em 1º de ju- A partir daí, sua carreira
lho, por ocasião da eclosão da militar desenvolveu-se rapida-
Revolução Paulista, de 5 de ju- mente, sendo promovido a Ca-
lho de 1924, comandada pelo pitão, em 15 de novembro de
General Isidoro Dias Lopes, 1930, a Major, cinco dias de-
foi preso em Santa Catarina. pois, em 20 de novembro; a Te-
nente-coronel, a 16 de junho de
Tendo sido preso, foi cum- 1933; Coronel, em 3 de maio
prir sua pena, inicialmente, na de 1938 e a Brigadeiro-do-Ar,
Fortaleza de Santa Cruz (de a 10 de dezembro de 1941.
onde tentou fugir) e, posterior-
mente, na Ilha Trindade. Com Atendendo ao pedido de
a eleição de Washington Luiz, em novembro diversos companheiros, ao final do ano de
de 1926, os prisioneiros de Trindade foram 1930, realiza o curso de pilotagem, no Cam-
trazidos para o Rio de Janeiro e depois pos- po dos Afonsos, tendo como instrutor de vôo
tos em liberdade condicional. seu amigo, Casemiro Montenegro Filho, já
que ele, até então, exer-
Ao participar do mo- cia a atividade de obser-
vimento revolucionário de vador aéreo. Inicia, desta
1930, que saiu vitorioso, forma, uma nova fase na
foi finalmente anistiado sua vida, indo conhecer
e reintegrado à vida mi- diversos rincões do Bra-
litar, graças ao Decreto- sil através da Aviação.
Lei, de 8 de novembro de
1930, que anistiou todos os civis e militares Juntamente com o Capitão Casimiro Mon-
envolvidos nos movimentos revolucionários tenegro Filho e com o Capitão Antônio Lemos
ocorridos no país. Cunha, irá lutar pela criação do Correio Aéreo.

EDUARDO GOMES - A CRIAÇÃO DO


CORREIO AÉREO MILITAR
Havia sido criado no Campo dos Afon- que possuía alguns aviões com condições de
sos, em maio de 1931, o Grupo Misto de vôos mais longos. As normas estabelecidas
Aviação com militares e meios materiais para o vôo no Campo dos Afonsos limita-
transferidos da Escola de Aviação Militar, vam as operações dos aviões brasileiros a um
também no Campo dos Afonsos. O Grupo cilindro com centro no Campo dos Afonsos
continha uma Esquadrilha de Treinamento e com raio que não deveria exceder os dez
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quilômetros. Os pilotos daque- Os Tenentes Lavanère-Wander-
la esquadrilha de treinamento ley e Casimiro Montenegro Filho, de
posse de uma mala postal da Empre-
desejavam ir mais além, de for- sa de Correios, no dia 12 de junho
ma a atingir todo o território de 1931, realizam o vôo que se tor-
nacional. Aquela limitação naria o primeiro do Correio Aéreo
provinha de uma concepção de Militar, estabelecendo a rota Rio de
emprego tático do avião na Pri- Janeiro–São Paulo.
meira Guerra Mundial, quan-
do devido às limitações técnicas
daquele engenho, sua aplicação
em um raio de dez quilômetros
era recomendável e suficiente.
O Brasil, entretanto, com sua grandeza ter- O destino estava predestinando-o a ser,
ritorial e carente de ligações das suas cidades, no restante de sua carreira militar, o condu-
levava a aumentar a vontade daqueles pilotos tor, consolidador e símbolo de um sonho tão
em dar sua contribuição para melhorar, até difícil de ser realizado.Em agosto de 1931,
modificar, aquela situação. assumiu o cargo e as funções de Comandante
do Grupo Misto de Aviação, pelo qual res-
Os vôos dos aviões franceses vindos da pondeu até março de 1932
França, via África, sobrevoando o Brasil,
indo até Buenos Ai- Em 1932, é
res, davam a certeza designado Coman-
da necessidade de ser dante das Forças da
criado um correio aé- Aviação Militar do
reo brasileiro. Tanto Governo Federal,
insistiram, que o contrário ao levante
Ministro da Guer- da Revolução Cons-
ra criou, no Grupo titucionalista no Es-
Misto de Aviação, o tado de São Paulo..
Serviço Postal Aéreo Militar, que logo pas- Pela primeira vez, Eduardo Gomes se
sou a chamar-se Correio Aéreo Militar. colocava ao lado do Governo Federal. Pen-
Estava ultrapassado o cilindro do Campo sava que o decurso de somente dois anos de
dos Afonsos. O então Major Eduardo Gomes, Governo era insuficiente para a obtenção de
um dos grandes batalhadores do Correio Aéreo resultados consistentes e sólidos; portanto,
Militar, assistira e participara daquela partida no seu entender, era indevido tal movimen-
pioneira, que iria proporcionar um dos impor- to. Devido à eclosão do movimento insurre-
tantes objetivos nacionais: a integração do País. cional, foi compelido a reduzir a sua total
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dedicação ao Correio Aéreo Militar para,
usando a aviação militar, combater os re-
beldes. O Correio Aéreo Militar, devido à
situação do País, teve que interromper suas
operações de julho a outubro daquele ano.
Eduardo Gomes transfere-se com seu grupo
para a cidade de Resende, centralizando ali
o comando de suas forças no Vale do Paraí-
ba assumindo, cumulativamente, o Coman-
do das Unidades Aéreas do Destacamento
de Exército do Leste. Sua extraordinária para os Estados de Mato-Grosso e do Pa-
atuação contribuiu para dominar aquele le- raná.
vante paulista. Em 1933, com a preocupação da penetra-
Terminado o conflito, retomou suas ativi- ção na direção norte, era inaugurada, no dia
dades no Correio Aéreo Militar, comandan- 15 de fevereiro, a Linha do Rio São Fran-
do, novamente, o Grupo Misto de Aviação cisco, ligando o Rio a Fortaleza; sendo esta
até março de 1933, quando este foi extinto, Linha estendida até Teresina, em dezembro
passando a ser o 1° Regimento de Aviação, daquele ano.
sediado no Campo dos Afonsos, permanecen- Em 23 de junho de 1934, foi inaugura-
do, no seu Comando. da a Linha do Rio Grande do Sul, ligando
Dando prosseguimento às suas ativida- a capital Porto Alegre a Santa Maria. No
des aeronáuticas, tratou Eduardo Gomes de final daquele ano e, no ano de 1935, outras
imediatamente ampliar as operações do Cor- Linhas foram inauguradas.
reio Aéreo Militar ao estender, em outubro, O Correio Aéreo Nacional veio reforçar
a Linha Rio-São Paulo até Goiás, com esca- a coesão nacional, como um elemento novo
las em diversas cidades. no sistema de comunicações do país, aproxi-
De tal forma foi o êxito alcançado que, mando o remoto interior dos grandes centros
ainda em 1932, foram ativadas as rotas populosos.

EDUARDO GOMES
A REVOLTA DE COMUNISTA DE 1935
O Partido Comunista do Brasil fez eclo- Eduardo Gomes teve atuação decisiva no
dir, nos dias 23 e 24 de novembro de 1935, combate à Intentona Comunista, deflagrada
levantes nas cidades de Natal e Recife, res- em 1935, quando parte da guarnição da Es-
pectivamente. cola de Aviação Militar sublevou-se, chefiada,
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entre outros, pelos Capitães Agliberto Vieira Comentando a coragem e determinação do
de Azevedo e Sócrates Gonçalves da Silva. Brigadeiro, afirma em seu livro Caminhada
com Eduardo Gomes, o Ten.-Brig. Deoclécio
No Rio de Janeiro, então Capital Federal, Lima de Siqueira: “Cercado por forças su-
era esperado um levante no 3° Regimento de periores, ferido nas dependências de seu pró-
Infantaria na Praia Vermelha, o que efeti- prio comando, teimara em lutar. E com esta
vamente se deu na madrugada do dia 27 de teimosia não permitiu que o movimento se
novembro, envolvendo, também, a Escola de alastrasse, nem que as trágicas conseqüências
Aviação Militar, no Campo dos Afonsos. se avolumassem”.
Eduardo Gomes, Comandante do 1° Re- Ao final, ficou constatada a morte de três
gimento de Aviação (Campo dos Afonsos), oficiais e seis soldados das Unidades legalis-
vinha mantendo contato com o Chefe de Po- tas do Campo dos
lícia do Rio de Janei- Afonsos.
ro, procurando estar
informado dos acon- Eduardo Gomes
tecimentos. Já havia permaneceu no Co-
tomado providências mando do 1° Regi-
quanto ao aumento mento de Aviação
da segurança da sua até a instalação do
Unidade. Não ima- Estado Novo no
ginava, entretanto, Governo Federal, em
um levante naquela Escola. 10 de novembro de 1937.
Agindo de surpresa, os revoltosos domi- No dia seguinte, por ser contrário àquele
naram a maior parte das instalações do 1° golpe de estado, apresentou-se ao Estado-
Regimento de Aviação, conseguindo isolar Maior do Exército formalizando sua demis-
Eduardo Gomes no prédio do comando. Os são do comando, sendo, por isto, exonerado
rebeldes persistiram na luta até o amanhecer.
Eduardo Gomes foi promovido a coronel
Eduardo Gomes havia sido ferido na em maio de 1938. Havia a articulação de
mão por um tiro de fuzil, logo no início dos um movimento armado contra o Governo do
combates; mesmo assim continuou resistindo Estado Novo pelos integralistas. Havia in-
com um punhado de bravos oficiais e praças. formações de que Eduardo Gomes dele par-
Solicitados por Eduardo Gomes, chegaram ticiparia, entretanto, em carta enviada no dia
reforços oriundos do Regimento Andrade 14 de maio ao Diretor de Aeronáutica do
Neves quando os insurretos se puseram em Exército, comunicava que houvera recusado
fuga, facultando o domínio do levante. o convite a ele formulado.

Marechal-do-Ar Eduardo Gomes - O Homem e o Mito 9


Em junho de 1938, foi criado o Servi- penetrar a Amazônia (seguindo pela costa e
ço de Rotas e Bases Aéreas, subordinado à pelo interior).
Diretoria de Aeronáutica do Exército. Ao
novo Serviço foram subordinados o CAM, o Em 20 de janeiro de 1941, foi criado
Serviço de Meteorologia, o Serviço de Radio- o Ministério da Aeronáutica, e, com ele, a
comunicações e o Serviço de Manutenção dos fusão da Arma de Aviação do Exército e
Campos de Pouso. do Corpo da Aviação
Naval, dando origem
Eduardo Gomes, à Força Aérea Brasi-
em outubro daquele leira.
ano, assume a Chefia
do Serviço de Rotas e Em outubro de
Bases Aéreas. Volta- 1941, foi criada a Di-
va, assim, a ocupar- retoria de Rotas Aére-
se das atividades do as em substituição ao
CAM. No decurso Serviço de Rotas e Ba-
dos anos passados, graças às ações diretas e ses Aéreas, e, subordinado àquela Diretoria,
indiretas de Eduardo Gomes, o CAM havia foi criado o Correio Aéreo Nacional (CAN)
aumentado de muito suas Linhas. Entre ou- pela fusão do Correio Aéreo Militar (CAM)
tras, podem-se citar as com o Correio Aéreo
que passaram a ligar o Naval. Eduardo Go-
Rio de Janeiro a As- mes foi mantido na
sunção (no Paraguai), Chefia do Serviço de
a interligar cidades in- Rotas e Bases Aéreas
terioranas brasileiras, até sua total desativa-
a realizar o Roteiro ção em novembro da-
do Rio Tocantins e a quele ano.

EDUARDO GOMES
NO COMANDO DAS I e II ZONAS AÉREAS
A 10 de dezembro de 1941 é pro- e Nordeste do Brasil), respectivamente.
movido a Brigadeiro-do-Ar e designado Transfere-se para Recife. Sendo, nesta
Comandante das I e II Zonas Aéreas, época, condecorado com a Ordem do Méri-
sediadas em Belém e em Recife (Norte to Aeronáutico.
10 Marechal-do-Ar Eduardo Gomes - O Homem e o Mito
Desde de 1941, o Governo brasileiro au- brasileiro. Aumentaram, assim, as responsa-
torizara a Panair do Brasil S.A. a construir bilidades do Brigadeiro Eduardo Gomes na
e melhorar os aeroportos de supervisão de todas as obras,
Amapá, Belém, São Luiz, em todos os aeroportos. Fa-
Fortaleza, Natal, recife, Ma- zia-se sempre presente para
ceió e Salvador. Imediatamen- que tudo transcorresse o me-
te foram iniciadas as obras lhor possível. Era o senso de
em ritmo frenético, tendo em responsabilidade que sempre
vista que se vislumbrava a marcou sua vida. Aquelas
importância que essas bases bases aéreas eram, na épo-
tinham no patrulhamento ca, as maiores do mundo;
do Atlântico Sul e no apoio vultosos recursos financeiros,
às tropas que combatiam as de materiais, de máquinas e
Forças do Eixo, no Norte da humanos estavam ali sendo
África. Essas obras tinham que ser sempre aplicados. Visitava todas, chegando sempre
submetidas à prévia aprovação do Governo de surpresa.

A DECLARAÇÃO DE GUERRA
AOS PAÍSES DO EIXO
O Governo brasileiro declarou guerra aos
países do Eixo em agosto de 1942. Muito
antes desta data, Eduardo Gomes já com-
batia de forma particular as Forças daque-
les Países, autorizando transporte aéreo de
homens e de material, o patrulhamento do
litoral, a cobertura aérea de comboios de na-
vios ao longo do litoral brasileiro, Norte e
Nordeste, e ataques de aviões brasileiros a a ser firmado, que continham elementos que
submarinos do EIXO. ofendiam a soberania nacional, uma vez que
Reconhecido pelos norte-americanos como os norte-americanos, para facilitar suas ope-
seu grande aliado, por ter opinião favorá- rações, argumentavam com a necessidade de
vel ao estabelecimento de bases aeronavais administrarem as bases brasileiras com uma
norte-americanas em território brasileiro. comissão mista.
Todavia, discordou dos termos do convênio Eduardo Gomes concordara com a
Marechal-do-Ar Eduardo Gomes - O Homem e o Mito 11
cessão das bases, durante a guerra, mas era Em setembro de 1944, Eduardo Gomes
contrário à administração pretendida. Ao foi promovido a Major-Brigadeiro-do-Ar.
ser perguntado, cordialmente, pelo Almiran-
te Ingram, sobre a administração das bases Os norte-americanos afeiçoaram-se a Edu-
brasileiras por comissão mista, nos termos do ardo Gomes. Reconheciam-lhe a franqueza, a
convênio, respondeu: mútua fidelidade em favor dos ideais comuns
e o agraciaram com uma comenda honrosa:
- NEVER! Medalha Legião do Mérito Americano.
Resposta curta, direta e sem rodeios. De-
vido a sua resistência jamais foi permitida
tal medida.
No início de 1944, o Brigadeiro Eduardo
Gomes presidiu a cerimônia de substituição
do esquadrão norte-americano pelo esquadrão
brasileiro equipado com aviões Ventura PV-1,
com equipagens adestradas em curso especial.

O CANDIDATO À PRESIDÊNCIA
DA REPÚBLICA DO BRASIL
Em 1943, o Manifesto dos Mineiros candidato dos adeptos de Vargas, foi o vitorioso,
(por ter sido publicado no Estado de Mi- sendo empossado como Presidente da República.
nas Gerais) repudiou a ditadura instalada Ao término do mandato de Dutra, foram
no País, visando a deposição do marcadas eleições para o dia 3 de
Presidente Getúlio Vargas, por outubro de 1950.
ser um regime incoerente com a
participação das Forças brasilei- Nesse ano, novamente é lan-
ras que combatiam contra países çada a candidatura de Eduar-
de regime de ditadura. do Gomes. Uma vez mais, não
consegue eleger-se, tendo saído
Tendo Getúlio Vargas sido de- vitorioso Getúlio Vargas que,
posto, as eleições foram realizadas agora, retornara à Presidência.
em 2 de dezembro de 1945.
Eduardo Gomes retorna à
A candidatura de Eduardo Aeronáutica no cargo de Dire-
Gomes foi lançada com o mote: “candidato tor de Rotas Aéreas, recusando o convite
do povo, o Brigadeiro da Libertação”. de Vargas para ser seu Ministro da Ae-
Entretanto, o General Eurico Gaspar Dutra, ronáutica.
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O EDUARDO GOMES E SUAS DUAS GESTÕES À
FRENTE DO MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA
Empossado Getúlio Vargas, a partir de
1954, recomeçaram campanhas contra seu
governo, muito acirradas pelo jornalista
Carlos Lacerda. Tendo havido um aten-
tado contra a vida de Lacerda, na qual
foi ferido mortalmente o Major-Aviador
Rubens Florentino Vaz, a crise política
decorrente teve seu clímax com o suicídio
de Vargas na manhã do dia 24 de agosto
de 1954.
O Dr. Café Filho assumiu a Presidência
e Eduardo Gomes aceitou ser seu Ministro
da Aeronáutica.
O Dr. Juscelino Kubitschek foi vitorioso
nas eleições realizadas em 3 de outubro de
1955 e empossado em janeiro de 1956. Em Naquela oportunidade, graças a sua atu-
decorrência, Eduardo Gomes deixou de ser ação, foi criada a Aviação Embarcada na
Ministro da Aeronáutica e em setembro de Força Aérea Brasileira, dando solução ao
1960 passou para a Reserva Remunerada impasse entre a Aeronáutica e a Marinha,
no posto de Marechal-do-Ar. relativo à operação de aeronaves de asa fixa
Depois de alguns anos na Reserva, em no navio-aeródromo Minas Gerais.
1965, assumiu, novamente, o Ministério da Eduardo Gomes deixou o Ministério da
Aeronáutica, convidado pelo, então, Presi- Aeronáutica no dia 15 de março de 1967,
dente Castelo Branco. ao final do Governo Castelo Branco.

Marechal-do-Ar Eduardo Gomes - O Homem e o Mito 13


CONCLUSÃO
No dia 12 de junho de 1981, foi reali- Eduardo Gomes foi um desses patriotas
zada uma missa comemorativa do cinqüente- que se destacaram pela autenticidade e, so-
nário do Correio Aéreo Militar, no Campo bretudo, pela grandeza de alma. Qualidades
dos Afonsos, no mesmo hangar de onde havia que os tornam figuras incomparáveis – faróis
partido o primeiro avião para o histórico vôo balizando, nos meandros da caminhada, a
pioneiro do CAM, em 1931. direção certa na incerteza aparente da exis-
tência humana. Homens
Eduardo Gomes sen- dotados de integridade de
tou-se na primeira fila. caráter e talento, aliados
Foi esta a sua última à longa experiência ad-
aparição em público e em quirida no contato com
atos oficiais. as asperezas da vida,
características que lhes
No dia seguinte, dia enriquecem o espírito,
13 de junho de 1981, que se transborda, em
Eduardo Gomes fale- busca do semelhante,
ceu. pr oporcionando-lhe,
A 6 de novembro de 1984, o País reve- sob variadas formas, ensinamentos, cultura
renciaria, uma vez mais, o querido “Briga- e educação, em prol do desenvolvimento da
deiro” (como gostava de ser chamado), com Humanidade.
a homenagem póstuma do Governo Federal, Um dos maiores nomes da história da
através de ato legal. República de nosso País, tal a sua figura
Lei nº 7.243: majestática, a sua tenacidade e a excelsitude
de suas inquebrantáveis qualidades morais.
O Presidente da República, Representou o triunfo da probidade e da in-
teligência, da honradez e da cultura, que lhe
Faço saber que o Congresso Nacional de-
permitiu que olhasse de frente - com coragem
creta e eu sanciono a seguinte Lei:
e sem corar -, a vida e os homens de seu tem-
... po. Viveu uma vida materialmente modesta,
mas enriquecida pelo saber haurido ao correr
Artigo 2º - É proclamado Patrono de uma vida afanosa, mas feliz, que permitiu
da Força Aérea Brasileira o Marechal-do- a este patriota exemplar ascender às culmi-
Ar Eduardo Gomes. nâncias da vida política nacional.

14 Marechal-do-Ar Eduardo Gomes - O Homem e o Mito


O jovem visionário que não hesitou em Tenente. Soube escolher a hora de ser Cida-
arriscar a vida, no episódio dos “Dezoito dão e de ser Soldado, tendo a coragem de uni-
do Forte”, cedeu lugar a um chefe resoluto los em um só, quando a têmpera da realidade
e sábio, mestre da estratégia e formador de prevaleceu sobre vontades e opiniões que não
opiniões. Fortaleceu a cidadania ao plantar percebiam os desafios e as incongruências de
as sementes do Correio Aéreo Nacional, um mundo em mudança.
abrindo as portas para o esquecido e carente
interior brasileiro, revigorando a união entre Por tudo isso, esse notável Cidadão-Sol-
irmãos separados pela distância e pela pre- dado é o Patrono da Força Aérea Brasileira.
cariedade das comunicações. De sua vontade Não só por seus feitos heróicos, que figuram
férrea e de sua visão de País, brotaram as entre os mais gloriosos das armas brasileiras.
linhas aéreas que subiram as cabeceiras dos Não apenas por sua influência na socieda-
rios e ajudaram a construir um Brasil mais de de sua época, ao contribuir enfaticamente
coeso e mais solidário. para a educação política do povo brasileiro.

Empunhou a espada – com maestria e Refazendo os passos de sua brilhante tra-


tenacidade - quando a Pátria dela mais ne- jetória, reaprendemos que a arte e a ciência
cessitava, seja ao barrar a insensata marcha da guerra são pequenos demais para conter
do totalitarismo raivoso que contaminara os a magnitude da contribuição da Força Aé-
quartéis, seja ao comandar a atuação da nas- rea Brasileira para com o País. Revivendo os
cente Força Aérea no litoral Norte e Nordes- ideais e as convicções de nosso Patrono, ali-
te, em plena II Grande Guerra, organizando mentamos nossa certeza no aprimoramento
a luta contra a ameaça submarina que es- da Instituição.
preitava nossos mares. O Brasil deve ao Brigadeiro o reconheci-
O Cidadão Eduardo Gomes tornou a se mento pela dedicação, competência e patrio-
manifestar por meio de espontânea convoca- tismo que demonstrou, de modo contumaz,
ção da sociedade, que exigiu sua presença na durante toda a sua extraordinária carreira,
arena política por confiar em seu patriotismo sem medir esforços para elevar e honrar a
e senso ético. Colocou-se a serviço da demo- imagem de nosso País no cenário interna-
cracia e da justiça, atuando como verdadeiro cional. Um nome querido e respeitado, uma
catalisador do amadurecimento político da reserva moral, um patrimônio de inteireza e
sociedade brasileira e como imprescindível caráter e um exemplo edificante para brasi-
fiador da normalidade institucional. leiros de todas as épocas.

Comandou a Aeronáutica com o olhar de Estamos certos de que Eduardo Gomes


um resoluto estadista e o coração de um jovem morreu tranqüilo quanto ao julgamento de
seus concidadãos. A Pátria saberá honrá-

Marechal-do-Ar Eduardo Gomes - O Homem e o Mito 15


lo, quando a perspectiva do tempo permitir Esteja onde estiver Brigadeiro Eduardo
uma avaliação mais exata de sua obra e um Gomes – insigne Patrono da Força Aérea
conhecimento perfeito de sua pureza de in- Brasileira -, receba os nossos agradecimentos
tenções. pela prestimosa atenção e carinho dispensa-
dos à Aeronáutica brasileira. Que seus edi-
À época de seu desenlace, sentimos e com- ficantes atributos morais e intensa dedicação
partilhamos com seus entes queridos e legião à vida militar e ao País, ecoem por muito
de amigos a amargura deste momento inexo- tempo em todas as instituições militares e em
rável da existência humana, última parte do todos os rincões deste nosso amado Brasil.
desenrolar de uma vida em que o gênero hu-
mano – a exemplo dos inolvidáveis vôos em-
preendidos pelo insigne Brigadeiro, nas asas
do Correio Aéreo -, realiza uma decolagem, Cel.-Av. R1 Manuel Cambeses Júnior
deslancha um vôo de cruzeiro e, finalmente, Vice-Diretor do Instituto Histórico-Cultural
da Aeronáutica
vê chegado o momento da aterrissagem e o
final de uma gloriosa jornada.

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