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A formação da
Marinha Imperial
Pedro Gomes dos Santos Filho*
C
idade do Porto, 1820. É deflagrada a inamistosa com seu próprio pai, começou a se
Revolução Constitucionalista, evento interessar pela vida de aventuras de seus com-
que pode ser considerado como o iní- panheiros contratados por nações americanas
cio do processo de independência do para servir nas suas Marinhas recém-nascidas.
Brasil por forçar o retorno de D. João VI a Por- Três anos depois, servindo em um esquadrão
tugal no ano seguinte. britânico em comissão na América do Sul, sob
Nessa mesma época, um brilhante e operati- o comando do Comodoro Sir Thomas Hardy, o
vo oficial de Marinha, entediado com a situação oficial materializou o seu desejo, desertando da
ociosa da Royal Navy e vivenciando uma relação Royal Navy para ingressar na Marinha Imperial
tuíram a primeira Esquadra Brasileira. entretanto, não residia somente na precária for-
Mesmo com o esforço despendido pelo Arse- mação para as lides do mar e da guerra. Dizia
nal, ao receber o comando da "Niterói", Taylor respeito à confiança nos oficiais e marinheiros
constatou que ainda havia muito o que fazer portugueses, obrigados pelas circunstâncias a
para colocar o navio em condições de combate. combater seus compatriotas.
Por sorte, seu Imediato era o Capitão-Tenente Para mitigar a falta de confiança nos oficiais
Luís Barroso Pereira, brilhante oficial, que o portugueses, o Ministro da Marinha determi-
ajudou bastante na tarefa de prontificar a fraga- nou a criação de uma comissão, com o propósito
ta o mais breve possível. Também fazia parte da de levantar quais iriam aderir à causa do Brasil
tripulação um menino de dezesseis anos incom- e, voluntariamente, ficariam servindo à Armada
pletos que teria um futuro brilhante: o Voluntá- Nacional e Imperial. A comissão deliberou que
rio da Armada Joaquim Marques Lisboa, futuro cada oficial do Corpo da Armada, desde segun-
Patrono da Marinha do Brasil! do-tenente até capitão de mar e guerra, recebe-
Como é notório que uma esquadra não se faz ria um ofício consultando sobre a sua vontade
apenas com navios, mas com homens prepara- de aderir à causa brasileira. O ofício garantia
dos para o mar e para a luta, formar o pessoal que quem não aceitasse teria transporte para si
era outra tarefa espinhosa. Disso tinha certeza e sua família até Portugal custeado pela Fazen-
John Taylor, pois contava com a experiência de da Pública, além do soldo correspondente a sua
quem, aos dezesseis anos, assistiu à morte do patente até o momento do embarque. Um mês
Almirante Nelson, a bordo da Nau "Victory", foi o prazo estabelecido para resposta.
em Trafalgar, e com vinte anos, tenente embar- Muitos responderam afirmativamente, en-
cado na Corveta "Cyane", foi ferido em combate tretanto a adesão foi mais forte nos postos mais
contra um navio francês. Em vista de suas qua- elevados, ficando a oficialidade desbalanceada,
lidades e da sua experiência, era o oficial ade- com muitos oficiais antigos e poucos tenentes.
quado para comandar a Fragata "Niterói". As respostas dos oficiais adesistas foram da-
Comandar um navio de guerra brasileiro na- das com muito entusiasmo e amor à causa da
quela época não era para qualquer um. Quase independência. Como exemplo, vale destacar a
não havia oficiais brasileiros natos. As guarni- resposta do Capitão-Tenente Antonio Salema
ções, compostas de marinheiros portugueses, Freire Garção: "Que declaro com toda a fran-
brasileiros e estrangeiros contratados, de pesca- queza que é própria em um Oficial de honra,
dores e caboclos recrutados para suprir a falta que estou pronto a defender e seguir a causa do
de pessoal e até de grumetes escravos ofereci- Brasil, arriscando a própria vida, em sua defe-
dos pelos seus senhores, eram, por óbvio, de sa..." (SILVA, 1882).
questionável qualidade. O principal problema, A contratação dos estrangeiros e a lealdade