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Crônicas de

Mørkat
A ira de um homem
gentil

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Bonde do Morro
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Crônicas de
Mørkat
A ira de um homem
gentil

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Bonde do Morro

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Dedicamos esse livro a nossa equipe
foda, mãe do João e a todos desse projeto

Matheus Kpoper

Tugo Burgues

Gn doença

João Old

Alek suhi-man

Sumário
1.Flecha de sangue .......................................................................9

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1.Flecha de sangue
Acordei com o som das leves ondas, se curvando sobre a
costa, e logo pus-me de pé. O doce aroma dos Campos se
alastrava pela casa. Passei correndo de meu quarto para o
corredor, com a sola de meus pés descalços fazendo leves
barulhos ocos ao tocarem o chão de madeira. Saí de minha casa,
e corri em direção ao chiqueiro, que era em meu quintal.
Alimentei os porcos, com certa dificuldade para me esgueirar
dentre eles, mas, uma tarefa simples. Novamente corri para
dentro, com meus pés e o chão se tocando em harmonia,
rapidamente, mas desta vez, com meus pés levemente
manchados de lama, e grama verde. Abri o livro, e li a magia
cuja estava aprendendo. Fácil, Sempre tive facilidade com
magias. Em cerca de alguns minutos, já havia dominado sem
muitas dificuldades. Então logo sai à procura de minha mãe —
uma Elfa com longos cabelos brancos que cobriam seu dorso por
completo, suas orelhas eram pequenas e charmosas, levemente
pontudas. Seu rosto era delicado, e fino. Seus vastos olhos eram
verde-esmeralda, com perfeita simetria. Seus lábios eram finos e
se enquadravam perfeitamente em seu rosto. Ela era doce, e
compreensiva. Tratava todas as pessoas com carinho e cortesia,
sua voz era suave, como o sereno de uma noite no verão. Talvez
ela fosse a própria personificação da gentileza.
Quando eu a encontrei, ela lançava feitiços de fertilidades
em nossa terra, com total maestria.
Me acheguei junto a ela e disse:
— Mamãe, eu já alimentei os porcos e estudei as magias
que a senhora me passou.

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— Muito bem, Luke – num tom delicado, sua voz soava
tão suave quão o canto de uma sereia — me mostre como vão
seus estudos.
— Sim senhora! - falei empolgado.
Aquela era a melhor parte dos estudos e treinamentos que
minha mãe me passava, então era sempre empolgante.
Me virei para a plantação e direcionei minha mão aberta
para a terra e disse:
—Vlokse Blomstre!
Surgiram duas pequenas mudas verdes, que cresceram e se
entrelaçaram.
Minha mãe me olhou surpresa e disse:
—Uau, você é muito talentoso Sr. Natureza.
—Posso ir agora, mamãe?
— Só se você me der minha recompensa — disse ela com
sua voz acolhedora, enquanto dobrava levemente os joelhos e
abria os braços.
Eu corri e abracei, enquanto seus braços quentes e finos
entrelaçam em minha costa, me dando a maior sensação de
conforto que eu já sentira na minha vida. Dei um beijo em sua
bochecha. Me virei de costas e corri atrás de meus amigos.
Talvez se eu soubesse o que aconteceria naquele dia, teria
aproveitado mais o abraço acolhedor de minha mãe. O calor de
seus braços. Seu olhar gentil. Sua voz adocicada. Sua bondade e
esmero.
Estava correndo pelos extensos campos de plantações, que
cercavam minha casa. Uma pequena casa feita á Carvalho
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escuro, com uma beleza proporcional ao resto das casas do
vilarejo, os campos eram como meu quintal, e se estendiam até
as pontes que delimitavam a cidade. Eram verdes, e cheiravam á
natureza. Era uma fartura de todos os tipos de plantação.
Corríamos como se a natureza fosse nosso lar, atrás de
pequenos pássaros, que eu e as crianças tentávamos pegar como
uma brincadeira de pega-pega. Num momento de descuido, o
pássaro voou acima de minha cabeça. O bicho raspou em minhas
mãos que se levantaram como uma flecha para pegá-lo. Quando
me virei para acompanhar o pássaro, meu rosto foi coberto pelos
raios solares que maravilhavam a manhã. Logo abaixo dos raios
solares havia o mar, onde acabava nosso vilarejo e se iniciava
uma imensidão de oceanos e desconhecido. Um mar que vivia
calmo. As luzes refletiam nele com sutileza, realçando sua
beleza. Além do belo mar tranquilo e calmo, pude ver pontinhos
rente à água seguindo em direção à nossa vila. No começo eram
só pontinhos, depois começaram a ficar mais visíveis, pode se
dizer que pareciam barcos de brinquedo subindo o horizonte, Na
direção que o sol nascia.
Ninguém soube dizer ao certo o que seria aquilo — alguns
disseram que deveriam ser tropas do reino pegar a colheita
mensal; o que seria estranho, pois ainda não estava na data, e
eles sempre vêm a cavalo. Mas depois de alguns minutos,
conseguíamos ouvir rugidos ferozes e estrondosos vindo dos
barcos. Barcos longos que se estendiam por muitos metros.
Perfeitamente esculpidos, com modelos de dragões tomando suas
pontas. Eram os famosos drakkars. E se haviam drakkars,
haviam vikings.
Quando os aldeões começaram a perceber o que estava
prestes a acontecer, já era tarde demais para conseguirmos fugir.
As pessoas corriam e gritavam, as flechas flamejantes
assolavam nossa paisagem e nossos campos.
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Algumas pessoas desistiram da vida, se pendurando em
cordas ou enfiando facas em si mesmas, pensando que seria
melhor uma morte rápida do que uma como as histórias diziam
— a famosa e cruel águia de sangue.
Os navios chegando à costa; as pessoas se enforcando; os
tambores rufando, e o som oco de machados batendo em escudos
de madeira. Aquilo soava como uma contagem regressiva para
minha morte.
Quando me encontrei, estava chorando esperando por
minha morte, sentado de frente para o mar. A cada segundo
passado, os sons aumentavam. Não só os sons dos vikings, mas
também o som do desespero; o som da dor; o som da morte.
O primeiro navio viking atracou na baía, mas antes disso,
os guerreiros pulavam na água e nadavam para a praia. Eles
foram chegando um por um, com seus machados e escudos em
suas mãos, como se Netéia fosse um grande jarro d’água para
cem mil andarilhos sedentos.
Depois de ver os vikings desembarcando, meu medo me
dominou, então consegui agrupar todas minhas forças,
acompanhado de todo meu medo, e corri até minha casa. As
pessoas que estavam na multidão, foram mortas de jeitos
bárbaros, cruéis e desumanos. Os vikings desciam seus
machados com tamanha brutalidade, fazendo um leve assovio ao
cortar o ar seguido de um barulho um pouco mais agudo, ao
cortar os aldeões.
Quando vi a aglomeração que estava se formando na
estrada, decidi que iria para um atalho. Onde ninguém pensaria
em ir nesse momento: os campos. Corri em direção ao início das
plantações e segui rente à estrada. Eu estava tão preocupado com
minha mãe, que só consegui ver o que estava acontecendo ao

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meu redor quando já estava chegando em minha casa, e o que vi
não era nada agradável.
Logo atrás de mim havia algo meio difícil de descrever,
nem sei se realmente pode-se dizer que vikings são humanos,
mas esse eu posso afirmar, pois eu o vi sangrar.
Ele era um homem gigantesco, umas oito vezes o meu
tamanho. Tinha músculos largos, como eu jamais havia visto.
Longos cabelos negros que se esticavam até seus ombros, uma
cicatriz marcava seu olho esquerdo, e tatuagens cobriam seu
peito e seu dorso. E em cada mão ele carregava um machado
pesado de dupla lâmina, que estava manchado de vermelho
sangue.
Eu corri, como nunca havia corrido antes, e até hoje acho
que ele me deixou ir na frente, apenas para ver minha esperança
se esvaziar de meu rosto, quando me pegasse.
Abri a porta dos fundos. Entrei correndo em minha casa,
gritando por minha mãe, mas quando me virei e olhei diante do
corredor, vi minha mãe tentando se debater, e um enorme
homem sobre ela. Um homem pouco semelhante ao que me
perseguia, mas esse emanava uma energia diferente. Esse
homem era o próprio ódio, ele fedia a maldade.
Ele tinha suas laterais de cabelo raspadas, um cabelo louro.
Seu porte físico era ainda mais robusto de que o anterior, tinha
braços grossos como troncos de árvores. Com seu tórax
totalmente descoberto, e na ponta de sua mão direita, carregava
um machado enorme manchado de vermelho, assim como todo
seu corpo.
Quando cruzamos olhares, percebi que ele já estava
vidrado em mim. Aquele olhar frio como de uma águia, mas
feroz como de um urso, me deixou paralisado. Eu não sabia o
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que fazer, quando o homem disse com sua voz estridente como o
mar na tormenta:
— Cuide dele para mim, Vidar.
Então senti uma mão se entrelaçando sob meu pescoço e
me levantando, enquanto minha mãe implorava para me soltar,
em nome de todos os Deuses e que ela faria qualquer coisa, mas
de nada adiantou. Fui lançado brutalmente, uns dez metros para
fora de casa, caindo no feno dos cavalos.
Quando cai de costas para fora da casa, olhei para cima e vi
o homem que estava atrás de mim, era o mesmo viking que me
perseguia, andando em minha direção dizendo:
— Era isso mesmo que eu queria ver—abrindo um sorriso
irônico — agora implore por misericórdia
— Você não precisa fazer isso — respondi com a voz
trêmula — nós temos bastante comida.
—Você acha que eu quero sua comida, garoto? - ele gritou
enquanto se aproximava—você acha que eu quero sua comida?!
- gritou novamente, guardando seus machados em sua cintura -
O… o que vocês querem então?
— Diversão—ele disse enquanto se inclinava sobre mim.
E então ele laçou suas mãos sobre minha camisa e me
lançou contra a parede de minha casa. Foi um impacto tão forte
que, com certeza, quebrei umas 3 costelas. Quase perdi a
consciência, e minha visão ficou levemente turva.
Quando olhei para ele novamente, ele estava avançando
enquanto dizia:

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— Quem sabe eu possa me divertir um pouco com sua bela
mãezinha quando acabar com você.
Quando ouvi isso, senti um ódio que nunca tinha sentido.
Eu consegui sentir meu coração acelerar. Consegui sentir meu
corpo exalando adrenalina. Consegui ver as coisas com mais
clareza.
Cerrei os punhos e quando fiz isso, vi que em minha mão
havia um arco de madeira com traços levemente vermelhos, e em
minha outra mão, começava a se materializar uma flecha
vermelha como sangue.
— Impossível — disse o viking impressionado — um
merdinha como você despertar uma magia individual — disse ele
enquanto empunhava os machados novamente.
Eu não sabia muito bem o que significava aquilo, mas sabia
que era minha única chance. Me levantei com grande esforço
enquanto o viking corria pesadamente em minha direção.
Coloquei a flecha no arco e tentei o tiro, que raspou sua
perna esquerda e fincou no chão.
Para aquele viking, enorme como um cavalo, aquela flecha
não deveria nem fazer cócegas, mas notei que onde raspou a
flecha, começou a escorrer muito mais sangue do que deveria,
banhando suas pernas de sangue, e ele começou a mancar, como
se estivesse arrastando uma carroça na perna esquerda.
Seu sentimento de superioridade se dissipava enquanto o
desespero assumia seu rosto. Em um ato desesperado ele lança
seu machado esquerdo que atingiu a parede, se fincando na
madeira. Quando ele estava chegando em mim, a flecha se
materializou novamente em minha mão, mas já era tarde, suas

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mãos estavam laçadas em minha garganta me erguendo e me
prensando contra a parede, até eu ficar de sua altura.
— Por que você tem a magia dele? - gritou ele com seus
olhos saltados, exalando medo — porque?!
— Ele quem? - respondi encolhido — do que você está
falando?
— Não se faça de idiota! Você sabe que não é um garoto
comum!
— O que você quer dizer? — falei interessado, mas com
medo.
— Uma pessoa com magia única representa perigo para
qualquer inimigo, então vou acabar com isso agora,
independente de quem você seja — ele disse erguendo seu
machado.
Em uma tentativa desesperada, enfiei minha flecha em seu
braço direito. Apenas a ponta perfurou seu músculo, mas foi o
suficiente para seu machado cair e ele perder total controle sobre
o braço direito, mas isso não o impediu de arrancar da parede o
machado que lá estava fincado e erguê-lo em direção.
Eu estava quase me conformando que não haveria como
escapar novamente, a sorte já havia brilhado para mim, mas
enquanto o machado descia na horizontal para cortar fora do meu
ombro até minha costela, vi uma mão rápida como um raio,
passar com uma adaga pelo pescoço do homem enorme. Seu
pescoço se abriu e começou a sangrar, e sua feição foi
imediatamente de desespero para tristeza, com uma mistura de
medo. Ele me largou e posicionou sua mão sobre seu pescoço,
em uma tentativa vã de parar o sangramento. O homem se
ajoelhou e em se estendeu pelo chão num som agudo.

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Senti novamente a flecha se materializar em minha mão, e
quando olhei para ela, seu vermelho se desbotava lentamente, até
ficar complemente branca e se esvair como areia, escapando-nos
me entre os dedos. O mesmo aconteceu com o arco,
simplesmente se foi, junto de toda minha raiva.
Quando levantei a cabeça novamente, me deparei com um
homem, que não era nem tão novo, nem tão velho; nem tão alto,
nem tão baixo; nem tão magro, nem tão gordo; nem tão feio,
nem tão bonito. Poderia se dizer que não esperaria de nada
especial daquele homem. Suas vestimentas eram de marrons,
com um bom tecido, com botas de couro, e embainhava duas
adagas perante sua cintura. Embora tivesse acabado de matar um
homem, sua expressão era de leveza, com estranho charme
apesar de sua aparência comum. Ele estava parado em minha
frente, olhando fixamente para mim, como se me estudasse. Por
um segundo me perdi em seu olhar profundo. Quando me
reencontrei, estava parado boquiaberto. Me encolhendo perante a
parede.
— como você fez isso, garoto? — disse ele, com uma voz
forte e cintilante.
Mexi a boca, mas as palavras não saíram. Eu estava
amedrontado, afinal acabara de ver um homem agonizar até a
morte, jorrando sangue pela garganta.
Eu estava tentando não me lembrar disso, mas quando
involuntariamente abaixei os olhos e vi o homem atirado no
chão.
Foi como um efeito dominó neural, e me lembrei de tudo que
estava acontecendo e de que havia de resgatar minha mãe.
Então recobrei minhas forças e adentrei rápido pela casa,
olhando a diante do corredor, lá estava ela. Pálida como uma

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nuvem e seus olhos estavam revirados e sem vida, suas vestes
estavam rasgadas, e seu osso do cotovelo esquerdo estava afora
de seu braço.
Senti uma dor cintilante subindo de meu peito para minha
garganta, e antes que pudesse me dar conta, meus olhos estavam
como uma cachoeira, fazendo minhas lágrimas respingarem no
soalho.
A dor na minha garganta se tornou mais intensa, e meus
punhos se cerraram.
Eu gritei, o mais alto que pude, como os vikings estavam
gritando enquanto massacravam o vilarejo. Mas meu grito logo
foi parado, por um golpe na lateral de minha cabeça. Vi tudo
girar antes de minha voz esgueirar-se, e cair desacordado.

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