Você está na página 1de 41

2.

Integrais definidos

Conceito de área
Área de um retângulo

O conceito de área tem um propósito intuitivo claro: a medida do espaço


ocupado por uma região do plano. As mais básicas necessidades de
proporcionalidade levam naturalmente à definição da área de um retângulo:

Se R = [a, b] × [c, d] d
R
c

então a(R) = (b − a)(d − c). a b

Como definir área para uma região do plano que não é um retângulo?
Pode-se definir área para qualquer região?

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 1


2. Integrais definidos

Conceito de área
Aproximação por retângulos

A ideia chave é a aproximação por retângulos. Dada uma região S ⊆ R2


limitada, quando é que a(S) = α ∈ R? Se, para todo ε > 0, existirem:
I uma coleção finita R10 , . . . , Rk0 de retângulos Ri0 = [ai0 , bi0 ] × [ci0 , di0 ]
não-sobrepostos (isto é, não se intersetam no interior) e contidos em
S tal que ki=1 a(Ri0 ) > α − ε,
P

I uma coleção finita R100 , . . . , R`00 de retângulos Rj00 = [aj00 , bj00 ] × [cj00 , dj00 ]
cobrindo S (isto é, S ⊆ ∪`j=1 Rj00 ) tal que `j=1 a(Rj00 ) < α + ε.
P

S S

R‘i
R‘’i

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 2


2. Integrais definidos

Conceito de área
Interior de uma região

O que são exatamente retângulos não-sobrepostos? Dados X ∈ R2 e


ε > 0, seja
B(X , ε) = {Y ∈ R2 : ||Y − X || < ε}
a bola aberta de centro X e raio ε. Dizemos que X é um ponto interior de
S se existir algum ε > 0 tal que B(X , ε) ⊆ S.
Retângulos S e S 0 são não-sobrepostos se S ∩ S 0 não tiver pontos
interiores.

não sobrepostos sobrepostos

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 3


2. Integrais definidos

Conceito de área
Propriedades

É claro que a definição geral de área generaliza a de área de um retângulo,


definida anteriormente. Além disso, verifica as seguintes propriedades:

Sejam S, T ⊆ R2 regiões com área. Então:


I Se S ⊆ T , então a(S) ≤ a(T ).
I Se S e T são regiões não-sobrepostas (i.e. S ∩ T não tem pontos
interiores), então S ∪ T tem área e a(S ∪ T ) = a(S) + a(T ).
I Se S e T são congruentes (isto é, uma pode ser obtida a partir da
outra por um movimento rígido), então a(S) = a(T ).

Tudo isto pode ser generalizado a R3 (volumes) e mesmo a Rn para n


arbitrário, substituindo retângulos por produtos [a1 , b1 ] × · · · × [an , bn ].

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 4


2. Integrais definidos

Conceito de área
Contra-exemplo

Nem todo o subconjunto limitado de R2 tem área!


Seja S = {(x , y ) ∈ R2 | x , y ∈ Q ∩ [0, 1]}, o conjunto dos pontos no
quadrado [0, 1]2 com ambas as coordenadas racionais. Então:
I Os únicos retângulos contidos em S são degenerados (reduzidos a um
ponto), logo obtemos sempre ki=1 a(Ri0 ) = 0 quando os retângulos
P

estão contidos em S.
I Se S ⊆ ∪`j=1 Rj00 , então [0, 1]2 ⊆ ∪`j=1 Rj00 , pois o complementar
[0, 1]2 \ ∪`j=1 Rj00 não pode ter pontos interiores (toda a bola aberta
em R2 interseta Q2 ), logo `j=1 a(Rj00 ) ≥ 1.
P

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 5


2. Integrais definidos

Conceito de área
Exemplo: área de um triângulo de base b e altura a

Consideremos primeiro o caso em que o triângulo é retângulo:


Dividimos a base em n intervalos iguais e consideramos retângulos
i −1 i i −1 i −1 i i
       
Ri0 = b, b × 0, a , Ri00 = b, b × 0, a
n n n n n n
para i = 1, . . . , n.
a
i a
R‘’i
n

i-1 a
n

R‘i

0 i-1 b i b b
n n
Então
n n
b a ab n(n − 1) ab ab
a(Ri0 ) =
X X
× (i − 1) = 2 × = − ,
i=1 i=1
n n n 2 2 2n
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 6
2. Integrais definidos

Conceito de área
Exemplo: área de um triângulo de base b e altura a

n n
b a ab n(n + 1) ab ab
a(Ri00 ) =
X X
× i= 2 × = + .
i=1 i=1
n n n 2 2 2n

Como limn→+∞ ab 2n = 0, resulta da definição de área que o triângulo tem


ab
área 2 , pois podemos tomar n suficientemente grande para que ab 2n < ε.
O caso de um triângulo não retângulo pode ser reduzido ao anterior
recorrendo a dois triângulos retângulos:

a
T1 T2
b1 b2
ab1 ab2 ab
Então a(T ) = a(T1 ) + a(T2 ) = 2 + 2 = 2 .
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 7
2. Integrais definidos

Integral definido
Integral de uma função limitada e não negativa num intervalo

Esta mesma ideia permite centrar a discussão no caso de regiões do


seguinte tipo:
Se f é uma função limitada e não negativa num intervalo [a, b], o integral
Z b Z b
de f em [a, b], que se denota por f ou f (x ) dx , é a área da região
a a
do plano Rab f
limitada pelo gráfico de f , pelas retas x = a e x = b e pelo
eixo dos xx (caso Rab f tenha área).

f
gr
Z b
f = a(Rab f ),
a Rba f
a b

Rab f = { (x , y ) ∈ R2 | x ∈ [a, b] e 0 ≤ y ≤ f (x ) }.
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 8
2. Integrais definidos

Integral definido
Função integrável

Quando a região Rab f tem área, dizemos que f é integrável no intervalo


[a, b]. É o que acontece quando f é contínua. Neste caso, podemos
também dividir o intervalo [a, b] em n partes iguais a = x0 , x1 , . . . , xn = b
e tomar os retângulos

Ri0 = [xi−1 , xi ] × [0, mi ],

f
gr
Ri00 = [xi−1 , xi ] × [0, Mi ], R‘’i

onde
R‘i
mi = min{f (x ) | x ∈ [xi−1 , xi ]}, a x1 ... xi-1 xi xn-1 b
Mi = max{f (x ) | x ∈ [xi−1 , xi ]}.

(a sua existência é garantida pelo Teorema de Weierstrass, que veremos


mais adiante). Quando n → +∞, as diferenças Mi − mi tendem para 0.
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 9
2. Integrais definidos

Integral definido
Propriedades básicas
Z b
Os integrais da forma f dizem-se definidos, por oposição aos da forma
Z a
f , ditos integrais indefinidos.
As propriedades seguintes são imediatas a partir da definição e das
propriedades da área:
Sejam f , g funções limitadas, não negativas e integráveis em [a, b]. Então:
Z b Z c Z b
I Se a < c < b, então f = f + f.
a a c
Z b Z b
I Se f (x ) ≤ g(x ) para todo x ∈ [a, b], então f ≤ g.
a a
I Se 0 ≤ m ≤ f (x ) ≤ M para todo x ∈ [a, b], então
Z b
m(b − a) ≤ f ≤ M(b − a).
a
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 10
2. Integrais definidos

Integral definido
Valores negativos
Z b
No caso de f ser limitada mas tomar valores negativos, f representa a
a
diferença entre a área da região limitada pelo gráfico de f acima do eixo
do xx e a área da região limitada abaixo deste eixo (caso tais regiões
tenham área); ou seja, a área abaixo do eixo dos xx é contabilizada com
sinal negativo.

gr f
b
R1 R3 f = a(R1)-a(R2)+a(R3)
a
a b
R2

Mais precisamente, definimos


gr f +
+ −
f (x ) = max{f (x ), 0}, f (x ) = max{−f (x ), 0}
Z b Z b Z b -
gr f
e f = f+− f −.
a a a
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 11
2. Integrais definidos

Integral definido
Função integrável – caso geral

Uma função f diz-se integrável em [a, b] se f + e f − forem integráveis em


[a, b]. As propriedades
Z b Z c Z b
I Se a < c < b, então f = f + f.
a a c
Z b Z b
I Se f (x ) ≤ g(x ) para todo x ∈ [a, b], então f ≤ g.
a a
I Se m ≤ f (x ) ≤ M para todo x ∈ [a, b], então
Z b
m(b − a) ≤ f ≤ M(b − a) (propriedade do enquadramento).
a

mantêm-se válidas para quaisquer funções f , g integráveis em [a, b].

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 12


2. Integrais definidos

Integral definido
Convenções

É conveniente usar as seguintes convenções, para a, b ∈ R:


Z a
I f = 0.
a
Z b Z a
I Se a > b, então f =− f.
a b

Estas convenções não afetam a propriedade de aditividade dos intervalos


de integração (desde que a função seja integrável em todos os intervalos).

Mas como se calcula de facto um integral quando o gráfico da função não


é uma reta? A discussão seguinte mostra como é possível aproximar o
valor do integral de uma função contínua e prepara o terreno para uma
poderosa ferramenta de cálculo, apropriadamente designada por Teorema
Fundamental do Cálculo.
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 13
2. Integrais definidos

Integral definido
Subdivisões em intervalos

Seja f uma função contínua em [a, b]. Ao explicar porque é que uma
função contínua não-negativa é integrável, subdividimos o intervalo [a, b]
em n partes iguais:

[a, b] = [x0 , x1 ] ∪ [x1 , x2 ] ∪ · · · ∪ [xn−1 , xn ]

com xi = a + ni (b − a). Não é essencial que os intervalos [xi−1 , xi ] tenham


todos os mesmo comprimento: o argumento funciona desde que a malha
δn = max{xi − xi−1 | i = 1, . . . , n} tenda para 0 quando n → +∞.
Se mi = min { f (x ) | x ∈ [xi−1 , xi ] } e Mi = max { f (x ) | x ∈ [xi−1 , xi ] }, as
diferenças Mi − mi tendem para 0 quando n → +∞. Basta pois tomar os
retângulos

Ri0 = [xi−1 , xi ] × [0, mi ], Ri00 = [xi−1 , xi ] × [0, Mi ].

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 14


2. Integrais definidos

Integral definido
Aproximação do valor do integral

Então as somas
n n
Sn0 = a(Ri0 ), Sn00 = a(Ri00 )
X X

i=1 i=1
Z b
convergem ambas para f quando n → +∞. Seleccionando pontos
a
xi∗ ∈ [xi−1 , xi ] em cada intervalo, resulta que mi ≤ f (xi∗ ) ≤ Mi e portanto
a(Ri0 ) ≤ (xi − xi−1 )f (xi∗ ) ≤ a(Ri00 )
para i = 1, . . . , n. Logo, se escrevermos
n
(xi − xi−1 )f (xi∗ ),
X
Sn =
i=1
Z b
obtemos Sn0 ≤ Sn ≤ Sn00 . Como Sn0 e Sn00 convergem ambas para f, o
a
mesmo ocorre com S n (enquadramento de limites).
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 15
2. Integrais definidos

Integral definido
Cálculo da média
Z b
O cálculo de S n permite pois aproximar o valor de f com qualquer
a
precisão desejada, desde que n seja suficientemente grande.
Tudo isto se mantém válido para funções que tomam também valores
negativos.
Isto pode ajudar-nos a dar um significado ao conceito de média de uma
função cujo domínio é um intervalo. É bem sabido que a média de n
valores y1 , . . . , yn é dada pelo quociente y1 +···+y n
n
. Suponhamos agora que
f : [a, b] −→ R é contínua. Uma ideia natural é considerar de novo a
subdivisão
[a, b] = [x0 , x1 ] ∪ [x1 , x2 ] ∪ · · · ∪ [xn−1 , xn ]
em n intervalos iguais e calcular a média finita
f (x1∗ ) + · · · + f (xn∗ )
qn = .
n
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 16
2. Integrais definidos

Integral definido
Cálculo da média

Será que existe lim qn ? De facto,


n→∞

n n
1 X b−a 1 X 1
qn = f (xi∗ ) = (xi − xi−1 )f (xi∗ ) = S n.
b − a i=1 n b − a i=1 b−a

Logo
Z b
1 1
lim qn = lim Sn = f.
n→∞ n→∞ b − a b−a a
Z b
1
Definimos pois a média de f em [a, b] como b−a f.
a

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 17


2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


A função área

Suponhamos que f é uma função integrável no intervalo [a, b] (contínua,


para simplificar). Definimos uma função A : [a, b] −→ R, por vezes
designada função área, por

Z x
A(x ) = f (t) dt.
a
A(x)

a x b
Vejamos que a função A é contínua, isto é, que lim A(x ) = A(x0 ) para
x →x0
cada x0 ∈ ]a, b[, com continuidade lateral em a e b.

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 18


2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Continuidade de A

Temos
Z x Z x0 Z x Z x
A(x ) = f (t) dt = f (t) dt + f (t) dt = A(x0 ) + f (t) dt.
a a x0 x0

Como f é limitada, existe M > 0 tal que |f (x )| ≤ M para todo x ∈ [a, b].
Logo
Z x
f (t) dt ≤ M|x − x0 |


x0
Z x
e resulta do enquadramento de limites que lim f (t) dt = 0. Portanto
x →x0 x
0

Z x
lim A(x ) = A(x0 ) + lim f (t) dt = A(x0 ).
x →x0 x →x0 x
0

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 19


2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Derivabilidade de A
O exemplo seguinte mostra que A não é necessariamente
( derivável.
−1 se x ≤ 0
Seja f : [−1, 1] −→ R definida por f (x ) = .
1 se x > 0
1 gr f
Resulta facilmente da análise da figura
que -1 x
x 1

−((x − (−1)) × 1) = −x − 1 se x ≤ 0
A(x ) = -1
−1 + (x × 1) = x − 1 se x > 0

A função A não é derivável em 0, que é precisamente


gr A o ponto de descontinuidade de f . Coincidência?

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 20


2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Enunciado e demonstração

O Teorema Fundamental do Cálculo relaciona os dois conceitos de integral


de uma função, definido e indefinido:
Teorema Fundamental do Cálculo
Z x
Sejam f : [a, b] −→ R integrável e A(x ) = f (t) dt. Se f é contínua em
a
x , então A é derivável em x e A0 (x ) = f (x ).

Demonstração: Suponhamos que f é contínua em x . Vamos calcular a


derivada à direita A0+ (x ) = limh→0+ A(x +h)−A(x
h
)
(o cálculo da derivada à
esquerda é análogo). Temos
Z x +h Z x Z x +h
A(x + h) − A(x ) = f (t) dt − f (t) dt = f (t) dt.
a a x

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 21


2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Demonstração

Seja ε > 0. Como f é contínua em x , existe algum δ > 0 tal que

|h| < δ ⇒ |f (x + h) − f (x )| < ε


⇔ f (x ) − ε < f (x + h) < f (x ) + ε.

Mas então, se h < δ, resulta da propriedade do enquadramento que


Z x +h
(f (x ) − ε)h < f (t) dt < (f (x ) + ε)h
x

e logo
A(x + h) − A(x )
f (x ) − ε < < f (x ) + ε.
h
Logo limh→0+ A(x +h)−A(x
h
)
= f (x ), pelo que A é derivável em x e
A0 (x ) = f (x ).
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 22
2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Exemplos

O Teorema Fundamental do Cálculo permite-nos derivar (em ordem a x )


Z g(x )
funções do tipo h(x ) = f (t) dt, decompondo h(x ) = h0 (g(x )) para
Z x a
h0 (x ) = f (t) dt. Logo h0 (x ) = h00 (g(x )) · g 0 (x ) = f (g(x )) · g 0 (x ).
a

Z x2
1. Se h(x ) = cos(t 3 ) dt, então h0 (x ) = cos((x 2 )3 ) · (x 2 )0 = 2x cos(x 6 ).
a

Z e 2x
2. Se h(x ) = sen3 t dt, então
e −x
Z 0 Z e 2x Z e −x Z e 2x
3 3 3
h(x ) = sen t dt + sen t dt = − sen t dt + sen3 t dt.
e −x 0 0 0
Logo h0 (x ) = − sen3 (e −x )(−e −x ) + sen3 (e 2x )(2e 2x ) =
e −x sen3 (e −x ) + 2e 2x sen3 (e 2x ).
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 23
2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Consequências

Corolário
Se f é contínua em [a, b], então:
Z x
I A(x ) = f (t) dt é uma primitiva de f .
a
I Se F é uma primitiva de f , então
Z b
f = F (b) − F (a).
a

É imediato que A é uma primitiva de f . Sendo F também primitiva de f ,


no intervalo [a, b] a função A(x ) − F (x ) é constante, digamos
A(x ) − F (x ) = C (sendo a explicação dada mais adiante). Logo
Z b
f = A(b) = A(b) − A(a) = (F (b) + C ) − (F (a) + C ) = F (b) − F (a).
a

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 24


2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Notas

I Nem toda a função


( integrável é primitivável, sendo um exemplo a
−1 se x ≤ 0
função f (x ) =
1 se x > 0
b
I É frequente usar a notação F (x ) = F (b) − F (a).

a

I O valor de F (b) − F (a) não depende da primitiva F de f escolhida,


pois se G é outra primitiva de f em [a, b], então G = F + c, para
alguma constante c ∈ R, e portanto G(b) − G(a) = F (b) − F (a).
I Por vezes define-se a função logaritmo como

log : ]0, +∞[ −→ Z R


x 1
x 7→ dt.
1 t

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 25


2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Notas

I Uma função f diz-se contínua por pedaços em [a, b] se for contínua


em todos os pontos exceto num número finito a ≤ c1 < · · · < ck ≤ b,
existindo todavia os limites laterais (finitos) limn→c + f (x ) e
i
limn→c − f (x ).
i

a c1 c2 b

Nesse caso, f é integrável, temos


Z b Z c1 Z c2 Z ck Z b
f = f + f + ··· + f + f e podemos usar esta
a a c1 ck−1 ck
Z b
decomposição para calcular f.
a
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 26
2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Cálculo de integrais — exemplos

Z π
1. sen x dx = 0, pois sen é uma função ímpar, logo a área definida
−π
pelo seu gráfico entre −π e 0 é igual, em valor absoluto, à limitada entre 0
e π, Zmas é contabilizada com sinal oposto.
0 Z π
(i.e. sen x dx = − sen x dx )
−π 0

Z 1
1
2. x dx = (= área de um triângulo de base 1 e altura 1).
0 2

3. 1
Z 1√ 1 2 3

2 π
x + 2e 2x − dx = x 2 + e 2x − arctg x = + e 2 − − 1.
0 1 + x2 3 0 3 4

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 27


2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Mais propriedades

Z b Z b Z b
I (f + g)(x ) dx = f (x ) dx + g(x ) dx .
a a a
Z b Z b
I cf (x ) dx = c f (x ) dx .
a a
Z b Z b
I Se f (x ) ≤ g(x ) para todo x ∈ [a, b], então f (x ) dx ≤ g(x ) dx .
a a

As duas primeiras são imediatas e a terceira resulta de (g − f )(x ) ≥ 0 para


Z b
todo x ∈ [a, b] implicar (g − f )(x ) dx ≥ 0.
a
Z b
É fácil deduzir que, quando f (x ) ≤ g(x ), (g − f )(x ) dx mede a área
a
compreendida entre os gráficos das funções f e g no intervalo [a, b].
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 28
2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Exemplo

Calcular a área da região do plano delimitada pelas curvas de equação


y = x 2 e y = x 3:

A equação x 2 = x 3 admite soluções


x = 0 e x = 1, que são portanto as abcissas
dos pontos de interseção das duas curvas.
1

Como x 3 ≤ x 2 no intervalo [0, 1],


a região delimitada é
1
R = { (x , y ) ∈ R2 | 0 ≤ x ≤ 1 e x 3 ≤ y ≤ x 2 }
e obtemos
! 1
x3 x4
Z 1 1 1 1
a(R) = x 2 − x 3 dx = − = − = .

0 3 4
0
3 4 12

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 29


2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Integração por substituição e os limites de integração

Recordemos que a integração por substituição é traduzida pela fórmula


Z Z
0
g(f (x )) · f (x ) dx = g(u) du,

para a substituição de variável u = f (x ). Se G é uma primitiva de g,


então (G ◦ f )0 (x ) = G 0 (f (x )) · f 0 (x ) = g(f (x )) · f 0 (x ). Aplicando duas
vezes o segundo Corolário do Teorema Fundamental do Cálculo, obtemos
Z f (b) Z b
g(u) du = G(f (b)) − G(f (a)) = g(f (x )) · f 0 (x ) dx .
f (a) a

Provámos assim que


Z b Z f (b)
g(f (x )) · f 0 (x ) dx = g(u) du.
a f (a)

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 30


2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Exemplo

Z r p
Calcular 4 r 2 − x 2 dx , onde r é uma constante positiva:
0

Temos
s
Z r p Z r Z rr
x2 x
4 r 2 − x 2 dx = 4r 1− dx = 4r 1 − ( )2 dx .
0 0 r2 0 r

Fazendo a substituição u = xr , obtemos du = dx


r , logo dx = r du e
Z rr Z u(r ) p Z 1p
x
4r 1 − ( )2 dx = 4r 1 − u 2 r du = 4r 2 1 − u 2 du.
0 r u(0) 0

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 31


2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Exemplo

Z 1p
Ora 1 − u 2 du é um quarto da área do círculo unitário, área esta que
0
é uma das definições possíveis de π.
1
y=

1-
x2
(0 ≤x≤1)

Logo Z r p Z 1p
2 π
4 r2 − x 2 dx = 4r 1 − u 2 du = 4r 2 = πr 2 ,
0 0 4
fórmula esta que nos dá a área do círculo de raio r .

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 32


2. Integrais definidos

Teorema Fundamental do Cálculo


Exemplo

Se se definir a função logaritmo como

log : ]0, +∞[ −→ Z R


x 1
x 7→ dt,
1 t

como provar que (∀x , y ∈ ]0, +∞[) : log(xy ) = log(x ) + log(y )?


Z xy Z x Z xy
1 1 1
Tem-se log(xy ) = dt = dt + dt. Mas
1 t 1 t x t
Z x
1
I dt = log x ;
1 t
Z xy Z xy 1
1 /x
I dt = dt. Logo, para u = g(t) = t/x ,
x t x t/x
Z xy Z g(xy ) Z y
1 1 1
dt = du = du = log(y ).
x t g(x ) u 1 u
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 33
2. Integrais definidos

Integrais impróprios
Intervalos não limitados

O conceito de integral pode ser generalizado para funções não limitadas ou


definidas em domínios não limitados. São os chamados integrais
impróprios (ou generalizados).
Começamos por considerar o caso de uma função contínua definida num
intervalo da forma [a, +∞[. Supõe-se ainda que f é limitada em qualquer
sub-intervalo limitado do seu domínio. Define-se o integral impróprio
Z +∞ Z M
f = lim f.
a M→+∞ a

a M→+∞
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 34
2. Integrais definidos

Integrais impróprios
Intervalos não limitados

No caso deste limite existir (em R), diz-se que o integral converge.
Intuitivamente, isto significa que a área da região (ilimitada) do plano
compreendida entre o gráfico de f , o eixo dos xx e a reta x = a é finita.
Caso contrário, diz-se que o integral impróprio diverge.
Caso fR só tome valores maiores ou iguais a 0 em [a, +∞[, a função
M 7→ aM f é crescente e só podem ocorrer, portanto, duas situações:
RM
I { a f | M ≥ a } é majorado (e o integral impróprio converge);
RM
I { a f | M ≥ a } não é majorado (e o integral impróprio diverge para
+∞).
Analogamente, desde que f seja limitada em qualquer sub-intervalo
limitado do seu domínio, considera-se
Z b Z b Z +∞ Z 0 Z +∞
f = lim f, f = f + f.
−∞ M→+∞ −M −∞ −∞ 0

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 35


2. Integrais definidos

Integrais impróprios
Exemplos

Z +∞ Z 0 Z +∞
Note-se que f só converge se f e f convergirem ambos.
−∞ −∞ 0

1. É convergente o integral
Z +∞ Z M  
1 1 1 M 1
dx = lim dx = lim − = lim 1 − = 1.
x2 x2 x 1 M

1 M→+∞ 1 M→+∞ M→+∞

Z +∞
1
2. √ dx diverge, pois
1 x
Z M
1 √ M  √ 
lim √ dx = lim 2 x = lim 2 M − 2 = +∞.
M→+∞ 1 x M→+∞ 1 M→+∞

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 36


2. Integrais definidos

Integrais impróprios
Exemplos

3. Em geral, para r ∈ R,
Z +∞
x r dx converge para r < −1 e diverge para r ≥ −1 :
1

Se r 6= −1, então
+∞ M
x r +1 M
Z Z
x r dx = lim x r dx = lim
M→+∞ r + 1 1

1 M→+∞ 1
(
1
1 r +1 r +1 − r +1 , se r + 1 < 0
= lim (M −1 )=
r + 1 M→+∞ +∞, se r + 1 > 0

No caso de r = −1, tem-se


Z +∞ M
x −1 dx = lim log x 1 = lim (log M − log 1) = +∞.
1 M→+∞ M→+∞

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 37


2. Integrais definidos

Integrais impróprios
Exemplos

4. É convergente oZintegral
Z +∞
1 0 1
Z +∞
1
2
dx = 2
dx + dx pois
−∞ 1 + x −∞ 1 + x 0 1 + x2
Z +∞ Z M M
1 1
dx = lim dx = lim arctg x

0 1 + x2 M→+∞ 0 1 + x 2 M→+∞ 0
π
= lim (arctg M − arctg 0) =
M→+∞ 2
Z 0 Z +∞
1 1 1
e dx = dx porque 1+x 2
é uma função par.
−∞ 1 + x2 0 1 + x2

-M M
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 38
2. Integrais definidos

Integrais impróprios
Funções não limitadas

Consideramos agora o caso de uma função contínua não limitada definida


num intervalo da forma ]a, b[. Tipicamente, isso deve-se à existência de
assíntotas verticais em pelo menos um dos extremos do intervalo, digamos
a. Tenta-se ultrapassar o problema fazendo o extremo inferior do intervalo
tender para a por valores superiores e determinando a existência do limite
correspondente. Se existir, o integral impróprio converge.

Z b Z b
f = lim+ f
a ε→0 a+ε

a a+ε b
Rb R b−ε
(ou, se a assíntota for x = b, a f = limε→0+ a f ).

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 39


2. Integrais definidos

Integrais impróprios
Funções não limitadas — exemplos

Se o problema se puser em ambos os extremos, tomamos c ∈ ]a, b[ e


Z b Z c Z b
escrevemos f = f + f , exigindo a convergência dos dois
a a c
integrais do membro da direita.

1. Seja f (x ) = √1 definida no intervalo ]0, 1[. É claro que f tem uma


x
assíntota vertical x = 0 pois limx →0+ √1 = +∞. Vamos pois investigar se
x
Z 1
1
existe lim √ dx . Obtemos
ε→0+ ε x
Z 1
1
Z 1
1 1 1

√ dx = x − 2 dx = 2x 2 = 2 − 2 ε,
ε x ε ε
Z 1
√ 
1
√ dx = lim 2 − 2 ε = 2
lim
xε→0+ ε
ε→0+

e o integral impróprio converge.


Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 40
2. Integrais definidos

Integrais impróprios
Exemplos

2. Consideremos a função f (x ) = tg2 x definida no intervalo ] − π2 , π2 [. É


claro que f tem assíntotas verticais em x = −π/2 e x = π/2 pois
π
limπ + tg2 x = lim tg2 x = +∞. Para determinar se tg2 x dx
R 2
− π2
x →− 2 x → π2 −
converge, começamos por investigar se existe limε→0+ −0 π +ε tg2 x dx .
R
2
Obtemos
sen2 x 1 − cos2 x 1
Z Z Z Z
tg2 x dx = 2
dx = 2
dx = −1 dx = tg x −x ,
cos x cos x cos2 x
Z 0  0 
lim tg2 x dx = lim tg x − x

ε→0+ − π +ε ε→0+ − π2 +ε
2
π π
= lim (0 − tg(− + ε) + (− + ε)) = +∞,
ε→0+ 2 2
R0 π
tg2 x dx diverge e, portanto, tg2 x dx também diverge.
R 2
logo − π2 − π2
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2012/2013 2. 41

Você também pode gostar