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Derivadas e Primitivas

Derivada
Motivação geométrica

O conceito de derivada é um dos mais fundamentais do Cálculo, estando


associado a noções geométricas, como a de reta tangente a uma curva, e à
descrição de fenómenos físicos.

Informalmente, uma função real de variável real f é derivável num ponto a


do domínio se o gráfico de f numa «vizinhança» de x0 é «suficientemente
suave» para que seja possível traçar uma «reta tangente» (não vertical) ao
gráfico de f nesse ponto.
g
gr
f
gr

gr h

x0 x1 x2

f é derivável em todos os pontos g não é derivável em x 0 h não é derivável em x1 e em x 2

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Derivadas e Primitivas

Derivada
Motivação geométrica

Nesse caso, a reta tangente ao gráfico de f em (x0 , f (x0 )) fica


determinada pelo seu declive, que se representa por f 0 (x0 ), e tem equação
y = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ).

Considerando outro ponto (x , f (x )), o declive da secante ao gr f que


passa em (x0 , f (x0 )) e (x , f (x )) é dado por m = tg θ = f (xx)−f
−x0
(x0 )
.

Tomando
f(x)
valores de x cada vez mais próximos
θ de x0 , (|x − x0 | cada vez menor) estas
f(x0)
secantes aproximam-se sucessivamente
da tangente. Assim, é natural definir
x0 x
f (x ) − f (x0 )
recta tangente a gr f em (x0,f(x0)) f 0 (x0 ) = lim .
x →x0 x − x0
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Derivada
Significado físico

Em termos físicos, o conceito de derivada surge naturalmente associado ao


conceito de velocidade (instantânea), seja no contexto estrito do
movimento, seja no sentido mais lato de um qualquer processo (velocidade
de uma reação química, por exemplo).
Tomemos o exemplo simples de um móvel M em movimento retilíneo, sem
mudanças de direção, cuja posição (em função do tempo t) é dada pela
função s(t). Então s(t)−s(t
t−t0
0)
representa a velocidade média de M entre os
instantes t0 e t, e
s(t) − s(t0 )
s 0 (t) = lim
t→t0 t − t0
representa a velocidade instantânea v (t0 ) de M no instante t0 .
Em Cálculo Infinitesimal II, aquando do estudo das curvas em Rn , será
aprofundado o significado físico da derivada.
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Limite de uma função


Noção intuitiva

Recorremos atrás à noção intuitiva de limite de uma função num ponto, já


familiar: quando existe, o limite de uma função f num ponto x0 ∈ R é o
valor para o qual evoluem os valores de f (x ) quando x se aproxima de x0 ,
ou seja, o valor que esperaríamos para f (x0 ) tendo em conta apenas os
valores que f toma próximo de x0 .
Claro que nem sempre é possível fazer tais previsões, por isso nem sempre
existirá limite...
De forma já mais precisa, diremos que limx →x0 f (x ) = L ∈ R se f (x )
estiver tão próximo de L quanto for requerido, desde que x esteja
suficientemente próximo de x0 .
Para muitos fins, esta descrição não é ainda suficientemente rigorosa.
Matemáticos como Bolzano, Cauchy e Weierstrass, no século XIX,
contribuíram para a seguinte formulação:

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Derivadas e Primitivas

Limite de uma função


Definição

Escrevemos lim f (x ) = L ∈ R se
x →x0

∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ R (0 < |x − x0 | < δ ⇒ |f (x ) − L| < ε).

L+ε (

L
|
(

L-ε

( | (
x 0-δ x0 x0+δ

Assumimos aqui que f está definida em ]x0 − δ, x0 [ ∪ ]x0 , x0 + δ[ para


algum δ > 0 (não é pois requerido que f esteja definida em x0 nem, caso o
esteja, o valor do limite depende de f (x0 )).
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Limite de uma função


Limites laterais

Se considerarmos apenas vizinhanças à esquerda (respetivamente à direita)


de x0 , obtemos o limite lateral à esquerda (respetivamente à direita) de f
em x0 .
Mais precisamente, lim f (x ) = L se f estiver definida em ]x0 − δ, x0 [
x →x0−
para algum δ > 0 e
∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ R (x0 − δ < x < x0 ⇒ |f (x ) − L| < ε).
Analogamente, lim+ f (x ) = L se f estiver definida em ]x0 , x0 + δ[ para
x →x0
algum δ > 0 e
∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ R (x0 < x < x0 + δ ⇒ |f (x ) − L| < ε).

A relação com o limite bilateral é dada por:


lim f (x ) = L ⇐⇒ lim f (x ) = lim+ f (x ) = L.
x →x0 x →x0− x →x0
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Limite de uma função


Unicidade e exemplos

De forma análoga ao caso dos limites de sucessões, o limite de uma função


num ponto, caso exista, é único. O mesmo vale para os limites laterais.

Exemplos:

Seja f (x ) = 3 x . É claro que f está definida numa vizinhança de 0 (tem
domínio R, aliás). Vejamos que limx →0 f (x ) = 0. Seja ε > 0. Temos

|f (x ) − 0| = | 3 x |, logo, tomando δ = ε3 , resulta que

|x − 0| < δ ⇒ |f (x ) − 0| < ε.


Analogamente se mostra que limx →0+ x = 0.

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Derivadas e Primitivas

Limite de uma função


Aritmética de limites

Os limites comutam com as operações aritméticas elementares, quando


estas estão definidas em R:

Se lim f (x ) = K e lim g(x ) = L, então verifica-se que:


x →x0 x →x0
I lim (f (x ) + g(x )) = K + L
x →x0
I lim (f (x ) − g(x )) = K − L
x →x0
I lim f (x )g(x ) = KL
x →x0
f (x ) K
I lim = (se g(x ), L 6= 0)
x →x0 g(x ) L
I lim f (x )g(x ) = K L (se f (x ), K > 0)
x →x0

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Limite de uma função


Aritmética de limites

Por exemplo, vejamos que limx →x0 (f (x ) + g(x )) = K + L. Seja ε > 0.


Como limx →x0 f (x ) = K , existe δ1 > 0 tal que
ε
0 6= |x − x0 | < δ1 ⇒ |f (x ) − K | < .
2
Por outro lado, como limx →x0 g(x ) = L, também existe δ2 > 0 tal que
ε
0 6= |x − x0 | < δ2 ⇒ |g(x ) − L| < .
2
Seja δ = min{δ1 , δ2 }. Então 0 6= |x − x0 | < δ implica simultaneamente
|f (x ) − K | < ε/2 e |g(x ) − L| < ε/2. Logo

|f (x ) + g(x ) − (K + L)| = |(f (x ) − K ) + (g(x ) − L)|


≤ |f (x ) − K | + |g(x ) − L| < ε/2 + ε/2 = ε

e, portanto, limx →x0 (f (x ) + g(x )) = K + L.


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Derivada
Definição

Estamos agora em condições concretizar a definição de derivada.


Seja f uma função definida numa vizinhança de x0 ∈ dom f . Dizemos que
f é derivável (ou diferenciável) em x0 se existir limx →x0 f (xx)−f
−x0
(x0 )
. Nesse
caso, o número real
f (x ) − f (x0 )
f 0 (x0 ) = lim
x →x0 x − x0
diz-se a derivada de f em x0 . Fazendo a mudança de variável h = x − x0 ,
é imediato que x → x0 é equivalente a h → 0. Logo também podemos
escrever
f (x0 + h) − f (x0 )
f 0 (x0 ) = lim .
h→0 h
Se f for derivável em todos os pontos do seu domínio, diz-se derivável (ou
diferenciável). Nesse caso, f 0 : x 7→ f 0 (x ) diz-se a função derivada de f .
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Derivada
Derivadas laterais

Se restringirmos a nossa atenção ao comportamento de f numa vizinhança


lateral de x0 , obtemos as respetivas derivadas laterais:

f (x ) − f (x0 )
f−0 (x0 ) = lim
x →x0− x − x0

diz-se a derivada à esquerda de f em x0 e

f (x ) − f (x0 )
f+0 (x0 ) = lim+
x →x0 x − x0

diz-se a derivada à direita de f em x0 (caso estes limites existam).

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Derivadas e Primitivas

Derivada
Exemplos

1. Vejamos que (x 2 )0 = 2x para todo x ∈ R. De facto, temos


(x +h)2 −x 2 2 2 −x 2 2hx +h2
limh→0 h = limh→0 x +2hxh+h = limh→0 h
= limh→0 (2x + h).

Como |h| < ε ⇒ |(2x + h) − 2x | < ε para todo ε > 0, é imediato que
limh→0 (2x + h) = 2x e logo (x 2 )0 = 2x para todo x ∈ R.

2. A função f (x ) = |x | não é derivável em x0 = 0: apesar de existirem


ambas as derivadas laterais neste ponto, elas são diferentes:
ec

d
|x | − |0| −x

1
e=
f−0 (0)

li v
= lim = lim = −1 li v

e=
-1
x −0

ec
x →0 − x →0 − x d

|x | − |0| x
f+0 (0) = lim+ = lim+ = 1
x →0 x −0 x →0 x

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Primitiva
Definição

A operação de derivação, que associa a uma função derivável f a sua


derivada f 0 , admite uma operação inversa, dita primitivação. Dada uma
função g, dizemos que f é uma primitiva (também se usa o termo
anti-derivada) de g se f for derivável e f 0 = g.
Por razões que só ficarão claras mais adiante, é comum usar a notação
Z
g(x ) dx = f (x )
R
para exprimir que f é uma primitiva de g. O símbolo diz-se um integral
(indefinido), por isso a primitivação também é designada por integração.
Assim como nem todas as funções são deriváveis, nem todas as funções
admitem primitiva. Uma função que tem uma primitiva diz-se primitivável.

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Derivadas e Primitivas

Primitiva
Não há unicidade!

Como o limite de uma função, a existir, é único, a derivada de uma função


(a existir) também tem que estar unicamente determinada.
O mesmo não se passa com as primitivas, pois uma função primitivável
admite sempre uma infinidade de primitivas:

Se f (x ) é uma primitiva de g(x ) e C ∈ R, então f (x ) + C também é uma


primitiva de g(x ).

De facto, limh→0 (f (x +h)+Ch)−(f (x )+C ) = limh→0 f (x +h)−f


h
(x )
0
= f (x ) = g(x ). Por isso é habitual escrever também
Z
g(x ) dx = f (x ) + C (C ∈ R)

quando se procede ao cálculo de um integral. Veremos mais adiante que


em certas condições uma expressão deste tipo representa todas as
primitivas da função g.
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Derivadas e primitivas
Funções elementares

Apresentamos em seguida as derivadas das funções elementares mais


comuns e das primitivas que daí resultam diretamente. Abaixo, C designa
a função constante x 7→ C , α 6= 0, β 6= −1 e a > 0.
Z
C0 =0 C dx = Cx + K (K ∈ R)
x β+1
Z
(x α )0 = αx α−1 x β dx = +K (K ∈ R)
β+1
1
Z
(log x )0 = x −1 dx = log |x | + K (K ∈ R)
x
0 1
(loga x ) =
x log a Z
(e x )0 = e x e x dx = e x + K (K ∈ R)
Z
a x
(ax )0 = ax log a ax dx = +K (K ∈ R)
log a

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Derivadas e Primitivas

Derivadas e primitivas
Funções elementares

Z
(sen x )0 = cos x sen x dx = − cos x + K (K ∈ R)
Z
(cos x )0 = − sen x cos x dx = sen x + K (K ∈ R)
(tg x )0 = cos12 x
(cotg x )0 = − sen12 x

Refira-se relativamente às potências, as funções do tipo f (x ) = x α com


α ∈ R, que nem sempre são deriváveis em todo o domínio.
Especificamente, para 0 < α < 1, f (x ) = x α não é derivável em 0, como
veremos adiante.

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Funções contínuas
Definição

Para avançarmos no cálculo de limites e derivadas, é essencial definir o


conceito de função contínua e explorar a sua relação com a derivabilidade.
Dizemos que uma função f é contínua num ponto x0 do seu domínio se

lim f (x ) = f (x0 );
x →x0

e que f é contínua se for contínua em todos os pontos do seu domínio.


Intuitivamente, uma função contínua é uma função previsível em que o
valor num ponto pode ser adivinhado a partir dos valores tomados numa
sua vizinhança.
Graficamente, para funções cujo domínio
é um intervalo, isto corresponde à ideia
de um gráfico que pudesse ser traçado «sem
levantar a esferográfica do papel».
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Derivadas e Primitivas

Funções contínuas
Imensos exemplos

Para lidar com funções cujo domínio é um intervalo fechado à esquerda ou


à direita, também podemos definir continuidade à esquerda
(limx →x − f (x ) = f (x0 )) e à direita (limx →x + f (x ) = f (x0 )).
0 0

Todas as funções elementares com que lidamos habitualmente (constantes,


potências, trigonométricas, exponenciais, logarítmicas) são
afortunadamente funções contínuas. Além disso:

I A soma, diferença, produto e quociente de funções contínuas são


funções contínuas.
I A composição de funções contínuas é uma função contínua.

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Derivadas e Primitivas

Funções contínuas
Derivabilidade e continuidade

Se f é derivável em x , então é contínua em x .

Demonstração: Suponhamos que f é derivável em x . Temos


f (x + h) − f (x )
( lim f (x + h)) − f (x ) = lim (f (x + h) − f (x )) = lim h .
h→0 h→0 h→0 h
Como f é derivável em x , resulta da aritmética de limites que
f (x + h) − f (x )
( lim f (x + h)) − f (x ) = ( lim h)( lim ) = 0 · f 0 (x ) = 0,
h→0 h→0 h→0 h
logo limh→0 f (x + h) = f (x ) e f é contínua em x .

Resulta imediatamente que:

Toda a função derivável é contínua.


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Derivadas e Primitivas

Funções contínuas
Derivabilidade e continuidade

O recíproco não é verdadeiro, como podemos ver pelo exemplo da função


módulo f (x ) = |x |, já referido. Outro exemplo de caraterísticas diferentes
é fornecido pela função
(
x sen x1 , se x =
6 0 =- x

y
f (x ) =

=
y
0 se x = 0

x
Geometricamente percebe-se que
os declives f (xx)−f
−0
(0)
oscilam sempre entre
−1 e 1 quando x se aproxima de 0, pelo
que não existe limx →0 f (xx)−f−0
(0)
, i.e., f
não é derivável em 0.
Para mostrarmos que f é contínua em 0, ou seja que limx →0 f (x ) = 0,
vamos usar o seguinte teorema sobre limites, que será muito
frequentemente útil.
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Derivadas e Primitivas

Teorema do enquadramento de limites

Teorema do enquadramento de limites


Se f (x ) ≤ g(x ) ≤ h(x ) numa vizinhança de x0 e
limx →x0 f (x ) = limx →x0 h(x ) = L, então também limx →x0 g(x ) = L.

De facto, dado ε > 0, existem δ1 , δ2 > 0 tais que

0 < |x − x0 | < δ1 ⇒ |f (x ) − L| < ε ⇔ f (x ) ∈ ]L − ε, L + ε[,


0 < |x − x0 | < δ2 ⇒ |h(x ) − L| < ε ⇔ h(x ) ∈ ]L − ε, L + ε[.

Logo, se 0 < |x − x0 | < min{δ1 , δ2 }, obtemos g(x ) ∈ ]L − ε, L + ε[.

Este teorema é conhecido nalguns países como o «teorema dos dois


polícias»: se dois polícias segurarem um prisioneiro de cada lado, e se
dirigirem ambos para a mesma cela, o prisioneiro entrará também na cela
inevitavelmente.

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Derivadas e Primitivas

Teorema do enquadramento de limites


Exemplos

Podemos agora provar que limx →0 f (x ) = 0: como, para todo o x 6= 0,


−1 ≤ sen x1 ≤ 1, então
1
−|x | ≤ x sen ≤ |x |
x
e, sendo limx →0 −|x | = limx →0 |x | = 0, resulta o pretendido do teorema do
enquadramento de limites.
Analogamente se vê que é contínua em 0 a função
2
( y=x
x 2 sen x1 , se x =
6 0
g(x ) = .
0 se x = 0
Na verdade, resulta do
exemplo anterior que g é derivável em 0:
x 2 sen x1 1
g 0 (0) = lim = lim x sen = 0. y=-x2
x →0 x x →0 x
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Derivadas e Primitivas

Teorema do enquadramento de limites


Um famoso limite

sen h
Do mesmo teorema se pode deduzir que lim = 1.
h→0 h
De facto, se h > 0 for suficientemente pequeno, podemos concluir do
significado geométrico de seno e tangente, ilustrado na figura, que
C
1 1 1
sen h < h < tg h, 1 A
2 2 2 tg h
correspondendo a
h
área(4OAB) < área do setor circular(OAB) < sen h
área(4OCB). Logo 1 < senh h < cos1 h . O B1

Como limh→0 cos1 h = limh→01 cos h = 1 (pois a


função cos é contínua), resulta do enquadramento de limites que
limh→0 senh h = 1 e logo também limh→0 senh h = 1 pela aritmética de limites.

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Derivadas e Primitivas

Teorema do enquadramento de limites


A derivada da função seno
cos h−1 (cos h−1)(cos h+1) cos2 h−1
Como h = h(cos h+1) = h(cos h+1) = −( senh h )2 · h
cos h+1 ,
conclui-se do limite anterior e da aritmética de limites que
2 
cos h − 1 sen h h
 
lim = lim lim = 12 · 0 = 0.
h→0 h h→0 h h→0 cos h + 1

Logo, usando a fórmula do seno da soma e a aritmética de limites,


obtemos
sen(x + h) − sen x sen x cos h + sen h cos x − sen x
sen0 x = lim = lim
h→0 h h→0 h
cos h − 1 sen h
= lim (sen x + cos x )
h→0 h h
cos h − 1 sen h
= sen x · lim + cos x · lim = cos x .
{z h } | {z h }
h→0 h→0
|
=0 =1

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Derivadas e Primitivas

Derivada da soma e do produto escalar


Passamos agora a estudar a relação da derivação e primitivação com as
operações entre funções, o que permitirá o cálculo de muitas derivadas e
primitivas, sem necessidade de recorrer à definição.
Resulta facilmente da aritmética de limites que:

Se f e g são deriváveis em x , e C ∈ R, então:


I f + g é derivável em x e (f + g)0 (x ) = f 0 (x ) + g 0 (x );
I Cf é derivável em x e (Cf )0 (x ) = Cf 0 (x ).

No caso da soma, por exemplo, obtemos

limh→0 (f +g)(x +h)−(f


h
+g)(x )

= limh→0 f (x +h)−f (x )+g(x


h
+h)−g(x )

= limh→0 f (x +h)−f
h
(x )
+ limh→0 g(x +h)−g(x
h
)
0 0
= f (x ) + g (x ).

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Derivadas e Primitivas

Primitiva da soma e do produto escalar

Decorre imediatamente que:

Se f e g são primitiváveis e C ∈ R, então:


Z Z Z
I f + g é primitivável e (f + g)(x ) dx = f (x ) dx + g(x ) dx ;
Z Z
I Cf é primitivável e (Cf )(x ) dx = C f (x ) dx .

Exemplo:
3
Z Z Z
3x + 1 dx = 3 1 dx = x 2 + x .
x dx +
2
Recorde-se que esta igualdade deve ler-se «unilateralmente»: significa que
f (x ) = 32 x 2 + x é uma primitiva de g(x ) = 3x + 1; ou seja, que
( 32 x 2 + x )0 = 3x + 1.

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Derivadas e Primitivas

Derivada do produto e do quociente

Se f e g são deriváveis em x0 , então


I f · g é derivável em x0 e

(f · g)0 (x0 ) = f 0 (x0 ) g(x0 ) + f (x0 ) g 0 (x0 );

f
I além disso, se g(x0 ) 6= 0, g é derivável em x0 e
 f 0 f 0 (x0 ) g(x0 ) − f (x0 ) g 0 (x0 )
(x0 ) = .
g g 2 (x0 )

(À frente veremos uma técnica de primitivação associada à derivada do produto.)

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Derivadas e Primitivas

Derivada do produto e do quociente


Demonstração: Suponha-se que f e g são deriváveis em x0 . Então, f é
contínua em x0 e tem-se:
(f ·g)(x )−(f ·g)(x0 ) f (x ) g(x )−f (x ) g(x0 )+f (x ) g(x0 )−f (x0 ) g(x0 )
lim = lim
x →x0 x − x0 x →x 0 x − x0
 
f (x ) g(x )−g(x0 ) + g(x0 ) f (x )−f (x0 )
= lim
x →x0 x − x0
g(x )−g(x0 ) f (x )−f (x0 )
= lim f (x )· lim + g(x0 )· lim
x →x0 x →x0 x − x0 x →x0 x − x0
0 0
= f (x0 ) g (x0 ) + g(x0 ) f (x0 )

A derivada do quociente pode ser obtida usando primeiro a definição para


a função g1 e depois derivando o produto f · g1 . Em alternativa, podemos
deduzir esta regra das do produto e derivada da potência de expoente −1,
f (x ) −1 e usando a regra da derivação da função
escrevendo g(x ) = f (x ) · (g(x ))
composta, que veremos a seguir.
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Derivadas e Primitivas

Derivada da função composta


Regra da derivação da função composta (ou Regra da Cadeia)

Sejam f e g funções reais de variável real tais que Im g ⊆ dom f .

Se g é derivável em x0 e f é derivável em g(x0 ) então f ◦ g é derivável em


x0 e
(f ◦ g)0 (x0 ) = f 0 (g(x0 )) · g 0 (x0 ).

Exemplos:
Seja f1 (x ) = sen(x 2 ). Então, f1 = sen ◦ g, onde g(x ) = x 2 . Logo, pela
regra da cadeia,
f10 (x ) = (sen)0 (g(x )) · g 0 (x ) = (sen)0 (x 2 ) · (x 2 )0 = cos(x 2 ) · 2x .
Agora, considerando f2 (x ) = sen2 (x ) temos f2 = g ◦ sen. Portanto,
f20 (x ) = g 0 (sen x ) · sen0 (x ) = 2 sen x · cos x .
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Derivadas e Primitivas

Derivada da função composta


Regra da derivação da função composta (ou Regra da Cadeia)

Demonstração (passos principais):


Suponhamos que g é derivável em x0 e f é derivável em g(x0 ).
Então, g é contínua em x0 , i.e., limx →x0 g(x ) = g(x0 ).
Verifica-se então que também é contínua em x0 a função
(
f (g(x ))−f (g(x0 ))
g(x )−g(x0 ) , se g(x ) 6= g(x0 )
h(x ) = 0
f (g(x0 )), se g(x ) = g(x0 )
f (y ) − f (y0 )
(para y = g(x ) e y0 = g(x0 ), lim h(x ) = lim = f 0 (y0 ) = h(x0 )).
x →x0 y →y0 y − y0
Assim,
f (g(x )) − f (g(x0 )) g(x ) − g(x0 )
lim = lim h(x )
x →x0 x − x0 x →x0 x − x0
g(x ) − g(x0 )
= lim h(x ) · lim
x →x0 x →x0 x − x0
= h(x0 ) · g (x0 ) = f (g(x0 )) · g 0 (x0 ).
0 0

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 30


Derivadas e Primitivas

Derivada da função composta


Regra de primitivação associada

Da regra da derivação da função composta resulta imediatamente a


seguinte regra geral de primitivação:

Se f admite uma primitiva F , então (f ◦ g) · g 0 é primitivável e


Z
f (g(x )) · g 0 (x ) dx = F (g(x )).

Prova:
Pela regra da cadeia, (F (g(x )))0 = F 0 (g(x )) · g 0 (x ) = f (g(x )) · g 0 (x ).

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 31


Derivadas e Primitivas

Derivada da função composta


Exemplos

1. Em geral, para qualquer número real α, pode definir-se

x α = e α log x , para x > 0.

Obtém-se então, da derivada da função exponencial e da regra da cadeia,


α
(x α )0 = e α log x · (α log x )0 = x α · = α · x α−1 .
x
Daqui resulta, se α 6= −1 e para x > 0, a regra de primitivação já referida
α+1
x dx = xα+1 .
R α

2x
dx = log(1 + x 2 ), porque
R
2. 1+x 2
0
log(1 + x 2 ) = log0 (1 + x 2 ) · (1 + x 2 )0 = 1
1+x 2
· 2x .

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 32


Derivadas e Primitivas

Derivada da função composta


Regra de primitivação associada — exemplos
2x
f (g(x )) · g 0 (x ) dx , onde
R R
Ou, de forma equivalente, 1+x 2 dx =
1 2
f (x ) = , g(x ) = x e uma primitiva de f é log(1 + x ). Logo,
R 2x 1+x
1+x 2
dx = log(1 + x 2 ).
R √ R√
3. x 2 1 + x 3 dx = 13 1 + x 3 · (3x 2 ) dx = 31 · 23 (1 + x 3 )3/2 .
cos3 x sen x dx = − cos3 x · (cos x )0 dx = − 41 cos4 x .
R R
4.
5. Para primitivar as funções sen2 e cos2 , podem usar-se a igualdade
cos 2x = cos2 x − sen2 x e a fórmula fundamental da trigonometria para
escrever 1 + cos 2x 1 − cos 2x
cos2 x = e sen2 x = .
2 2
Assim, por exemplo
1 1 1 sen 2x
Z Z Z
sen2 x dx = dx − cos 2x dx = x − .
2 2 2 4

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 33


Derivadas e Primitivas

Derivada da função composta


Regra de primitivação associada — exemplos

Em muitos casos é possível primitivar produtos de potências das funções


sen e cos usando igualdades trigonométricas para escrever a função a
primitivar como soma de funções do tipo do exemplo 3 (que aparecem
diretamente como derivadas de uma potência de sen ou cos) e das funções
sen, cos, sen2 e cos2 .
Por exemplo,
6. cos3 x dx = cos x (1 − sen2 x ) dx = cos x dx − cos x sen2 x dx =
R R R R

sen x − 13 sen3 x ;
1−cos 2x
2
7. R sen4 x dx
R R
= 2 R dx =
1 1 R 1+cos 4x
+ cos2 2x
R  
4 1 dx − 2 cos 2x dx dx = 4 x − sen 2x + 2 dx =
= 14 x − sen 2x + 12 (x + 14 sen 4x ) .


Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 34


Derivadas e Primitivas

Derivada da função inversa


Teorema da derivação da função inversa

Seja f uma função invertível e derivável em x0 = f −1 (y0 ) (para


x0 ∈ dom f , y0 ∈ Im f ). Então, f −1 é derivável em y0 = f (x0 ) sse
f 0 (x0 ) = f 0 (f −1 (y0 )) 6= 0. Além disso, no caso afirmativo,
declive = f´(x )
1 0
(f −1 )0 (f (x0 )) =
f 0 (x0 )
1
declive = ___
y0
ou, de forma equivalente, f´(x0 )

x0
−1 0 1
(f ) (y0 ) = . y=f(x
)
f 0 (f −1 (y0 ))
x0 y0

(y)
x=f -1

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 35


Derivadas e Primitivas

Derivada da função inversa


Teorema da derivação da função inversa

Demonstração: Para todo o x ∈ dom f temos (f −1 ◦ f )(x ) = x , logo,


(f −1 ◦ f )0 (x ) = 1. Se f −1 é derivável em f (x0 ), pela regra da cadeia,
1 = (f −1 ◦ f )0 (x0 ) = (f −1 )0 (f (x0 )) · f 0 (x0 ),
donde resulta que f 0 (x0 ) 6= 0 e (f −1 )0 (f (x0 )) = 1
f 0 (x0 ) .
Reciprocamente, suponhamos f 0 (x0 ) 6= 0. Como f é bijetiva, qualquer
y ∈ dom f −1 é da forma y = f (x ), para um único x ∈ dom f ; e, sendo f
contínua em x0 (porque é derivável nesse ponto), x → x0 exatamente
quando y = f (x ) → y0 = f (x0 ). Podemos então escrever
f −1 (y ) − f −1 (y0 ) f −1 (f (x )) − f −1 (f (x0 ))
lim = lim
y →y0 y − y0 x →x0 f (x ) − f (x0 )
x − x0 1
= lim = 0
x →x0 f (x ) − f (x0 ) f (x0 )
e portanto existe (f −1 )0 (y0 ) = 1
f 0 (x0 ) .
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 36
Derivadas e Primitivas

Derivada da função inversa


Exemplos

1. A função f : R → R é bijetiva, com inversa f −1 : R → R ; e



x 7→ x 3 y →
7 3 y

f é derivável em qualquer x ∈ R, com f 0 (x ) = 3x 2 .


Em x = 0, tem-se f 0 (0) = 0 e portanto f −1 não é derivável em f (0) = 0;
-1 3
f(x)=x3 f(x)=√x

f´(0)=0 -1
f não é derivável em 0
(tangente horizontal) (tangente vertical)


Se x 6= 0, então f 0 (x ) 6= 0 e f −1 é derivável em y = x 3 ( ⇐⇒ x = 3 y ),
sendo  0 1 1 1 1 2
f −1 (y ) = 0 = 2 = √ 2 = y − 3 .
f (x ) 3x 3 3y 3
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 37
Derivadas e Primitivas

Derivada da função inversa


Exemplos
1
Analogamente se determinam as derivadas das funções do tipo x n , com
n ∈ N+ . Para n > 1, estas funções não são deriváveis em x = 0.
2. f (x ) = e x (x ∈ R) e f −1 (x ) = log x (x ∈ R+ ) são mutuamente
inversas e portanto a derivada de uma pode ser obtida da outra.
Por exemplo, assumindo que f 0 (x ) = e x 6= 0, ∀x ∈ R conclui-se que
f −1 (y ) = log y é derivável em qualquer y = e x ∈ R+ e
 0 1 1 1 1
f −1 (y ) = = x = log y = .
f 0 (x ) e e y

Consequentemente, x1 dx = log x , para x ∈ R+ . Como, para x < 0,


R

(log(−x ))0 = −x
1
· (−1), pode-se ainda afirmar que
1
Z
dx = log |x |, em R \ {0}.
x

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 38


Derivadas e Primitivas

Derivada da função inversa


Inversas das funções trigonométricas

Nenhuma das funções trigonométricas sen, cos, tg e cotg é invertível, uma


vez que nenhuma é injetiva. No entanto, podem-se considerar restrições
apropriadas destas funções que sejam invertíveis:
y=arcsen x
π/2
A função sen|[− π2 , π2 ] : [− π2 , π2 ] → [−1, 1] é bijetiva. x

=
y
A sua inversa é 1 y=sen x
π π
arcsen : [−1, 1] → [− , ].
2 2
−π/2 -1 1 π/2

Assim, ∀x ∈ [− π2 , π2 ], ∀y ∈ [−1, 1], -1

arcsen y = x ⇔ y = sen x ; −π/2

ou seja, para y ∈ [−1, 1], arcsen y é o único número entre − π2 e π


2 cujo
seno é y .
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 39
Derivadas e Primitivas

Derivada da função inversa


Inversas das funções trigonométricas

x
y=arccos x

=
y
A inversa de cos|[0,π] : [0, π] → [−1, 1] é

π/2 arccos : [−1, 1] → [0, π].


1

-1 1 π/2 π
y=cos x

-1

Assim, ∀x ∈ [0, π], ∀y ∈ [−1, 1](arccos y = x ⇔ y = cos x ).

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 40


Derivadas e Primitivas

Derivada da função inversa


Inversas das funções trigonométricas

A função
π/2
arctg : R → ]−π/2, π/2[ y=arctg x

é inversa
da restrição da função tangente
−π/2
tg|]− π , π [ : ]−π/2, π/2[ → R.
2 2

π A inversa de
cotg|]0,π[ : [0, π] → R é
π/2
|

y=arcotg x arcotg : R → ]0, π[.

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 41


Derivadas e Primitivas

Derivada da função inversa


Inversas das funções trigonométricas

Por exemplo,
I arcsen 12 = π
6 (porque sen π6 = 1
2 e π
6 ∈ [ −π π
2 , 2 ]);

I arcsen 0 = 0 (porque sen 0 = 0 e 0 ∈ [ −π π


2 , 2 ]);

I sen(arcsen 14 ) = 1
(porque sen e arcsen são mutuamente inversas);
4

r  2
I cos(arcsen 14 ) = + 1 − 14 = 415 (pois α = arcsen 41 ∈ [− π2 , π2 ], logo
cos α > 0, e cos2 α + sen2 α = 1);
π π
I arccos x ⇐⇒ x > 0 (uma vez que arccos 0 =
< 2 2 e arccos é uma função
decrescente em [−1, 1]);
I arctg 0 = 0 e arctg x > 0 ⇐⇒ x > 0 (uma vez que arctg 0 = 0 e arctg é
uma função crescente).

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 42


Derivadas e Primitivas

Derivada da função inversa


Inversas das funções trigonométricas

Para determinar a derivada de cada uma das inversas das funções


trigonométricas, usa-se o Teorema da Derivação da função inversa:
A função arcsen é inversa de f = sen|[−π/2,π/2] , que é derivável. Pelo
referido teorema, f −1 = arcsen é derivável em todos os pontos y ∈ [−1, 1]
tais que f 0 (f −1 (y )) 6= 0. Ora,
f 0 (f −1 (y )) = cos(arcsen y ) 6= 0 ⇔ arcsen y 6= ±π/2 ⇔ y 6= ±1.
Assim, arcsen é derivável em ] − 1, 1[ e, para y ∈ ] − 1, 1[,
0 1 1
f −1 (y ) = = .
f 0 (f −1 (y )) cos(arcsen y )
Pode-se escrever esta
√ expressão com
p outro aspeto: se x = arcsen y então
sen x = y e cos x = 1 − sen x = 1 − y 2 . Portanto,
2

1
∀y ∈ ] − 1, 1[ : arcsen0 (y ) = p .
1 − y2
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 43
Derivadas e Primitivas

Derivada da função inversa


Inversas das funções trigonométricas

Quanto à função arctg, verifica-se analogamente que é derivável e


1
∀y ∈ R : arctg0 (y ) = .
1 + y2

Resultam imediatamente as correspondentes primitivas:

1 1
Z Z
√ dx = arcsen x e dx = arctg x .
1 − x2 1 + x2

Exemplo:
x2 1 + x2 − 1 1
Z Z Z Z
2
dx = 2
dx = 1 dx − dx = x − arctg x .
1+x 1+x 1 + x2
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 44
Derivadas e Primitivas

Técnicas de primitivação
Primitivação por substituição

Nos exemplos que vimos até agora, a determinação de primitivas surgiu


naturalmente como «aplicação inversa» das regras de derivação. Iremos
agora estudar algumas técnicas de primitivação específicas que muito vão
auxiliar em casos menos evidentes.
Em particular, no que se refere à regra de primitivação associada à
derivada da função composta, nem sempre a função a primitivar aparece
de maneira óbvia na forma (f ◦ g) · g 0 . Muitas vezes ajudará fazer o que se
chama uma mudança de variável ou substituição.
Mas antes de apresentarmos o método de primitivação por substituição,
vamos introduzir a notação de diferenciais desenvolvida por Leibniz que
simplifica imenso a aplicação desse método e será sempre usada.
(Leibniz terá dito: «é como se a notação fizesse todo o trabalho sozinha»).

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 45


Derivadas e Primitivas

Primitivação por substituição


Notação de diferenciais (de Leibniz)

A notação de diferenciais, Rcomo dx , aparece já na representação usada


para o integral indefinido, f (x ) dx , e indica a variável relativamente à
qual se está a primitivar (ou derivar).
Em geral, se y = f (x ), f 0 pode representar-se por

df dy
ou
dx dx
podendo-se acrescentar
a menção explícita
ao ponto onde é calculada: por
0 df 0 df
exemplo, f (x ) = dx e f (1) = dx .
x 1
dy
Pode também escrever-se, com o mesmo sentido de dx = f 0 (x ),

dy = f 0 (x ) dx .

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 46


Derivadas e Primitivas

Primitivação por substituição


Notação de diferenciais (de Leibniz)

Nesta notação, a regra da cadeia escreve-se com o seguinte aspeto,


bastante simples e formalmente semelhante ao produto de frações (embora
não se trate aqui de frações!!): se y = f (x ) e z = g(y ), então a composta
z = g(f (x )) tem derivada

dz dz dy
= · .
dx x dy y (x ) dx x

A derivada da função inversa também se escreve facilmente: se f é


invertível e y = f (x ), então x = f −1 (y ) e

dx 1
= .
dy y (x ) dy
dx x

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 47


Derivadas e Primitivas

Primitivação por substituição


Notação de diferenciais (de Leibniz) — exemplo


dy
Por exemplo, se y = e x , então dx x = e x , ou ainda, dy = e x dx .
Como a função exponencial é invertível
com inversa log, pode também
escrever-se x = log y e portanto dy = y1 ou dx = y1 dy .
dx
y

dz
Considerando agora z = y 2 , tem-se dy y = 2y , e a função composta
z(y (x )) = (e x )2 tem derivada

dz dz dy
= · . = 2e x · e x = 2e 2x .
dx x dy y (x ) dx x

De forma equivalente, dz = 2y dy e y = e x , logo dy = e x dx e


dz = 2e x · e x dx .

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 48


Derivadas e Primitivas

Primitivação por substituição


Teorema da Mudança de Variável

(Teorema da mudança de variável)


Seja y = g(x ) uma função bijetiva e derivável, com inversaR x = g −1 (y )
derivável. Se f for primitivável, então uma primitiva de f , f (x ) dx , é
dada por Z
f (g −1 (y )) · (g −1 )0 (y ) dy

calculada em y = g(x ).

Demonstração: Seja G(y ) = f (g −1 (y )) · (g −1 )0 (y ) dy . Pretende-se


R
0
mostrar que G(g(x )) = f (x ). Ora,

0 dG dy dy
G(g(x )) = · = f (g −1 (g(x ))) · (g −1 )0 (g(x )) ·
dy g(x ) dx x
dx x

dx dy
= f (x ) · · = f (x ).
dy g(x ) dx x

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 49
Derivadas e Primitivas

Primitivação por substituição


Teorema da Mudança de Variável — aplicação

R
Suponhamos que se pretende calcular f (x ) dx usando a mudança de
variável y = g(x ), ou seja x = g −1 (y ) («substitui-se a variável x pela
variável
R
y »). Escreve-se então dx = (g −1 )0 (y ) dy . Substituindo x e dx
em f (x ) dx , obtém-se
Z Z
f (x ) dx = f (g −1 (y )) · (g −1 )0 (y ) dy
| {z } | {z }
f (x ) dx

como no enunciado do teorema. Prossegue-se então determinando uma


primitiva G(y ) = f (g −1 (y )) · (g −1 )0 (y ) dy , voltando
R
R
por fim a substituir
y por g(x ) para obter a primitiva procurada: f (x ) dx = G(g(x )).
Evidentemente, o sucesso na aplicação deste método depende de se
encontrar uma mudança de variável adequada de forma a que consigamos
primitivar a função resultante f (g −1 (y )) · (g −1 )0 (y ) (em ordem a y ).
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 50
Derivadas e Primitivas

Primitivação por substituição


Exemplos


1. Para primitivar a função f (x ) = 2x + 3 · x , vamosusar a mudança de
√ 2 2 0
variável y = 2x + 3. Então, x = y 2−3 e dx = y 2−3 dy = y dy .
Fazendo a substituição:
y 2 −3
Z √ x = !
2
y2 − 3
Z Z
dx = y dy
f (x ) dx = 2x + 3 · x dx = y· · y dy
2 |{z}
| {z } dx
f (x )
!
1 1 y5
Z
= (y 4 − 3y 2 ) dy = − y3
2 2 5
√ √ !
y = 2x +3 1 ( 2x + 3)5 √ 3
= − ( 2x + 3) .
2 5

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 51


Derivadas e Primitivas

Primitivação por substituição


Exemplos
1 √
Z
2. Para calcular √ dx faça-se a mudança de variável y = x , ou
1+ x
seja, x = y 2 . Então dx = 2y dy e, substituindo,
Z Z
1 1
√ dx = · 2y dy .
1+ x 1+y

Para calcular a primitiva obtida (veremos à frente uma abordagem sistemática


à primitivação de funções racionais), podemos proceder da seguinte forma:
1+y −1
Z Z Z
1 y
· 2y dy = 2 dy = 2 dy
1+y 1+y 1+y
Z Z 
1 
=2 1 dy − dy = 2 y − log(1 + y )
1+y

Finalmente, volta-se a substituir y = x para obter
√ √
Z
1
√ dx = 2 x − 2 log(1 + x ).
1+ x
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 52
Derivadas e Primitivas

Primitivação por substituição


Exemplos

3. Determine-se uma primitiva da função f (x ) = 1 − x 2 usando a
mudança de variável
√ x =psen y , ou seja, y = arcsen x (∈ ] − π/2, π/2[).
Desta forma, 1 − x = 1 − sen2 y = cos y e dx = cos y dy .
2
| {z }
≥0
Fazendo a substituição,
Z p x = sen y Z Z
dx = cos y dy 2 cos 2y + 1 sen 2y y
1 − x 2 dx = cos y dy = dy = +
2 4 2
y =arcsen x 1 1 
= arcsen x + sen(2 arcsen x )
2 2
1 1
= arcsen x + sen(arcsen x ) cos(arcsen x )
2 2
1 1 p
= arcsen x + x · 1 − x 2 .
2 2

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 53


Derivadas e Primitivas

Primitivação por partes


Da regra de derivação do produto resulta imediatamente a seguinte
técnica de primitivação, conhecida por primitivação por partes:

Suponhamos que uma função da forma f 0 · g é primitivável. Então, f · g 0


também é primitivável e
Z Z
0
f ·g =f ·g − f 0 · g.

Prova: Basta notar que se f 0 · g admite uma primitiva


R 0
f · g então,
 Z 0
f ·g − f0·g = (f · g)0 − f 0 · g

= f 0 · g + f · g0 − f 0 · g
= f · g 0.
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 54
Derivadas e Primitivas

Primitivação por partes


Exemplos

1. Vamos usar primitivação por partes para determinar x e x dx . Para tal,


R

precisamos de escrever esta função como um produto f (x )g 0 (x ) de forma


a que conheçamos
R 0
uma primitiva g de g 0 . Teremos posteriormente de
calcular f (x )g(x ) dx e por isso convém escolher f e g de forma a que
f 0 g seja mais fácil de primitivar do que a função inicial fg 0 .
Neste caso, podemos escolher f (x ) = x e g 0 (x ) = e x , sendo g(x ) = e x :
Z Z Z
0
x
x e dx = f (x )g (x ) dx = f (x )g(x ) − f 0 (x )g(x ) dx
Z
= x ex − e x dx = e x (x − 1).

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 55


Derivadas e Primitivas

Primitivação por partes


Exemplos

2
Se, pelo contrário, escolhermos f (x ) = e x e g(x ) = x2 (de forma a que
g 0 (x ) = x ), obtemos, usando primitivação por partes,

x2 x2 x
Z Z
x
x e dx = e x − e dx
2 2
relacionando assim a primitiva procurada, x e x dx , com outra
R
R 2
aparentemente ainda mais difícil de determinar, x2 e x dx , uma vez que
aumentámos o grau do polinómio que aparece como fator de e x . Não
conseguimos então qualquer vantagem na aplicação do método.

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 56


Derivadas e Primitivas

Primitivação por partes


Exemplos

2. Para determinar x 2 e −x dx , primitivando por partes, considere-se


R

f (x ) = x 2 e g 0 (x ) = e −x = −g(x ). Obtém-se então


Z Z
x 2 e −x dx = −x 2 e −x + 2 xe −x dx .

Agora pode-se usar novamente primitivação por partes para determinar


Z Z
xe −x dx = −xe −x + e −x dx = −xe −x − e −x .

Substituindo na equação anterior, vem finalmente


Z
x 2 e −x dx = −x 2 e −x − 2xe −x − 2e −x = −e −x (x 2 + 2x + 2).

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 57


Derivadas e Primitivas

Primitivação por partes


Exemplos

3. Calcule-se agora uma primitiva de h(x ) = e x sen x , usando primitivação


por partes e aproveitando a «circularidade» nas derivadas das funções
trigonométricas
Z
sen e cos. Em primeiro lugar,Z obtém-se
e x sen
|{z} e x sen
| {z x} dx = |{z} | {z x} − e x cos
|{z} | {z x} dx .
g10 (x ) f1 (x ) g1 (x ) f1 (x ) g1 (x ) f10 (x )

Por sua vez, Z Z


e x |cos
|{z}
x
{z x} dx = e cos x + e x sen x dx .
g20 (x ) f2 (x )

SubstituindoZ acima, resulta a equação Z


x x x
e sen x dx = e sen x − e cos x − e x sen x dx
R x
que se pode resolver em ordem a e sen x dx para concluir que
1
Z
e x sen x dx = e x (sen x − cos x ).
2
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 58
Derivadas e Primitivas

Primitivação por partes


Exemplos

4. Em certos casos, o método de primitivação por partes é eficaz para


calcular primitivas de funções que não aparecem explicitamente como um
produto. Por exemplo, não conhecemos uma primitiva da função log mas
sabemos derivá-la. Pode-se escrever log x = 1 · log x = g 0 (x ) · f (x ), onde
g(x ) = x e f (x ) = log x . Obtém-se então
1
Z Z
log x dx = x log x − x· dx = x log x − x = x (log x − 1).
x

5. O mesmo método resulta para determinar


1
Z Z Z
arctg x dx = 1 · arctg x dx = x arctg x − x· dx
1 + x2
1
= x arctg x − log(1 + x 2 ).
2

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 59


Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


Faremos agora uma abordagem geral e sistemática ao problema de
determinar primitivas de funções racionais.
p(x )
Considere-se então f (x ) = , onde p e q são funções polinomiais.
q(x )
Em primeiro lugar note-se que se grau p ≥ grau q, pode-se dividir o
polinómio p(x ) por q(x ) para obter p(x ) = d(x ) q(x ) + r (x ), para certos
polinómios d(x ) e r (x ) com grau r < grau q. Assim,
r (x )
f (x ) = d(x ) +
q(x )
e, portanto, para primitivar f bastará primitivar o polinómio d(x ), (o que é
r (x )
fácil) e a função racional q(x ).
Por exemplo,
x2 x2
Z Z Z Z
1 1
dx = (x +1)+ dx = x +1 dx + dx = +x +log |x −1|.
x −1 x −1 x −1 2

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 60


Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


p(x )
Funções q(x )
com grau p < grau q e grau q ≥ 1

p(x )
Tendo isto em conta, no que se segue considera-se sempre f (x ) =
q(x )
com grau p < grau q e grau q ≥ 1.
O método para primitivar estas funções consiste em decompô-las como
soma de frações («parciais») dos tipos

A Bx + C
ou
(x − a)n (x 2 + bx + c)n

em que x 2 + bx + c é um polinómio irredutível (i.e., sem raízes reais) e


A, B, C , a, b, c ∈ R e n ∈ N.
Começamos então por ver (ou recordar) como primitivar estas funções,
que podem ser obtidas como combinação linear de funções das seguintes
formas, quase todas com primitivas já conhecidas:
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 61
Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


1
i) Funções do tipo , (a ∈ R, n ∈ N)
(x − a)n

1
Z
I Se n = 1, dx = log |x − a|;
x −a
1 (x − a)−n+1
Z
I e, se n > 1, dx = .
(x − a)n −n + 1

Exemplos:
2 2 1 2 1
Z Z
I dx = 1 dx = log |x + |
3x + 1 3 x+3 3 3
2 1 2
Z Z
ou dx = 2 dx = log |3x + 1|
3x + 1 3x + 1 3
(as duas primitivas diferem de uma constante!);
1 1 1
Z
I 3
dx = − .
(3x + 1) 6 (3x + 1)2
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 62
Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


2x + b
ii) Funções do tipo , (b, c ∈ R, b 2 − 4c < 0, n ∈ N)
(x 2 + bx + c)n

2x + b
Z
I Se n = 1, dx = log |x 2 + bx + c|;
x 2 + bx + c
2x + b (x 2 + bx + c)−n+1
Z
I e, se n > 1, dx = .
(x 2 + bx + c)n −n + 1

Exemplos:
x +1 1
Z
I dx = log |x 2 + 2x + 2|;
x 2 + 2x + 2 2
x +1 1
Z
I 2 2
dx = − 2
.
(x + 2x + 2) 2(x + 2x + 2)

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 63


Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


1
iii) Funções do tipo , (b, c ∈ R, b 2 − 4c < 0)
x 2 + bx + c

Uma vez que o polinómio x 2 + bx + c é irredutível (e só nesse caso!) é


2

possível escrevê-lo na forma C · (Ax + B) + 1 , com A, B, C ∈ R e
A, C 6= 0. Então,

1 1 1 1
Z Z
dx =  dx = arctg(Ax + B).
x 2 + bx + c C 2
(Ax + B) + 1 C ·A

Exemplo: 2
I x 2 − 2x + 5 = (x − 1)2 + 4 = 4 x −1

2 + 1 , logo
1 1 1 1 x −1
Z Z 
dx = 2 dx = arctg .
x 2 − 2x + 5 4 2 2

x −1
+1 2

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 64


Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


1
iv) Funções do tipo , (b, c ∈ R, b 2 − 4c < 0, n ∈ N)
(x 2 + bx + c)n

(Este é o caso mais trabalhoso!)


R 1
Para n > 1, reduz-se o cálculo da primitiva (x 2 +bx +c)n
dx ao cálculo de
R 1
dx usando primitivação por partes ; aplicando este processo
(x 2 +bx +c)n−1
n − 1 vezes, reduz-se ao caso n = 1 visto atrás.

Para isso, começa-se 2


2
 também por escrever x + bx + c na forma
C · (Ax + B) + 1 já indicada atrás. Simplificando, admita-se que este
polinómio é x 2 + 1; a resolução no caso geral terá os devidos ajustes mas
pode ser reduzida a este com a substituição y = Ax + B. Tem-se
x2 + 1 x2
Z Z
1
dx = − dx
(x + 1)n
2 (x 2 + 1)n (x 2 + 1)n
x2
Z Z
1
= dx − dx
(x 2 + 1)n−1 (x 2 + 1)n

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 65


Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


1
iv) Funções do tipo , (b, c ∈ R, b 2 − 4c < 0, n ∈ N)
(x 2 + bx + c)n
x2
Z Z
x 2x
Por sua vez, dx = · 2 dx primitiva-se por partes,
(x + 1)n
2 2 (x + 1)n
|{z} | {z }
f (x ) g 0 (x )
Z
2x
onde g(x ) = dx é uma primitiva do tipo ii). Obtém-se o
(x 2 + 1)n Z
1
resultado em função de 2 + 1)n−1
dx .
(x
x2
Z Z Z
Exemplo: 1 1
dx = dx − dx
(x 2 + 1)2 x2 + 1 (x 2 + 1)2
x Z Z
2x 1 
= arctg x − dx − g(x ) dx
2 (x 2 + 1)2 2
−1
x Z
1 1 
= arctg x − · 2 + 2
dx
2 x +1 2 x +1
1 1 x
= arctg x + · 2
2 2 x +1
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 66
Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


p(x )
De volta ao caso geral das funções f (x ) = q(x )
, com grau p < grau q 6= 0

Estudados estes casos, para resolver o problema geral de primitivar


f (x ) = p(x )
q(x ) , com grau p < grau q 6= 0, basta agora ver como se decompõe
esta função numa combinação linear de funções dos tipos já considerados.

Começa-se por (tentar!) fatorizar q(x ) em polinómios do primeiro grau e


polinómios do segundo grau irredutíveis. Isto é sempre possível pelo
teorema que se enuncia a seguir — Teorema Fundamental da Álgebra —
mas não há algoritmos que garantam que o consigamos sempre fazer na
prática.
(De facto, prova-se que para polinómios de grau ≥ 5, não existe uma «fórmula
resolvente», envolvendo apenas as operações aritméticas básicas e radicais.)

Usa-se então essa fatorização para escrever p(x )


q(x ) como combinação linear
de funções dos tipos i),ii), iii) e iv). Essa possibilidade é garantida pelo
resultado que se enuncia depois, também sem prova.
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 67
Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


Teorema Fundamental da Álgebra

Todo o polinómio de coeficientes reais q(x ) = an x n + · · · + a0 se


decompõe de maneira única (a menos da ordem dos fatores) como um
produto de polinómios do primeiro grau e do segundo grau irredutíveis,

q(x ) = an (x − α1 )r1 · · · · · (x − αk )rk · (x 2 + b1 x + c1 )l1 · · · · · (x 2 + bm x + cm )lm

em que α1 , . . . , αk são as raízes reais distintas de q(x ) (de multiplicidades


r1 , . . . , rk respetivamente), os polinómios x 2 + bi x + ci , i = 1, . . . , m são
irredutíveis, e r1 + · · · + rk + 2 (l1 + · · · + lm ) = n.

(Nota: Os polinómios x 2 + bi x + ci correspondem às raízes complexas conjugadas de


q(x ): em C, x 2 + bi x + ci = (x − zi )(x − z¯i ), em que os números complexos conjugados
zi e z¯i são raízes de q(x ).)

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 68


Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


A Bx +C
Decomposição em combinação linear dos tipos (x −a)n
e (x 2 +bx +c)n
, A, B, C , a, b, c ∈ R,
2
b − 4c < 0 e n ∈ N.

Se p(x ) e q(x ) são polinómios tais que grau p < grau q 6= 0 e


q(x ) = an (x − α1 )r1 · · · · · (x − αk )rk · (x 2 + b1 x + c1 )l1 · · · · · (x 2 + bm x + cm )lm
está fatorizado nas condições do teorema anterior, então p(x )
q(x ) escreve-se de
maneira única (a menos da ordem das parcelas) na forma
h a a1,2 a1,r1 i h a ak,rk i
1,1 k,1
+ 2
+ ··· + r
+ · · · + + · · · + r
x − α1 (x − α1 ) (x − α1 ) 1 x − αk (x − α1 ) k
h b x +c b x + c i
1,1 1,1 1,l 1,l1
+ 2 + ··· + 2 1 + ···
x + b1 x + c1 (x + b1 x + c1 )l1
h b x +c bm,l x + cm,lm i
m,1 m,1
··· + 2 + ··· + 2 m
x + bm x + cm (x + bm x + cm )lm

para certos ai,ji ∈ R, com i ∈ {1, . . . , k}, ji ∈ {1, . . . , ki } e bi 0 ,ji0 , ci 0 ,ji0 ∈ R, com
i 0 ∈ {1, . . . , m}, ji0 ∈ {1, . . . , li }.

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 69


Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


Resumo
p(x )
Resumindo, para primitivar uma função racional f (x ) = , procede-se
q(x )
sucessivamente da seguinte forma:
1 no caso de grau p ≥ grau q, divide-se o polinómio p(x ) por q(x ) de
forma a obter
Z Z Z
r (x )
f (x ) dx = d(x ) dx + dx com grau r < grau q;
q(x )

2 fatoriza-se (quando o conseguirmos...) o polinómio q(x ) em


polinómios irredutíveis;
r (x )
3 usa-se essa fatorização para escrever q(x ) como combinação linear de
funções racionais dos tipos (i)–(iv );
4 primitiva-se f (x ) como combinação linear de primitivas de d(x ) e das
funções dos tipos (i)–(iv ) obtidas.
Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 70
Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


Exemplos

p(x ) x3 − x + 1
1. Para primitivar = , começa-se por dividir p(x ) por
q(x ) x2 − 1
q(x ) obtendo x 3 − x + 1 = x .(x 2 − 1) + 1; logo,
x3 − x + 1
Z Z Z
1
dx = x dx + dx .
x2 − 1 x2 − 1

Agora, fatorizando x 2 − 1 = (x − 1) (x + 1), sabe-se que


1 A B A(x + 1) + B(x − 1)
= + = , ∀x 6= ±1,
x2 − 1 x −1 x +1 x2 − 1
para certos A, B ∈ R, que são determinados univocamente pela condição
(∀x ∈ R) : 1 = (A + B)x + (A − B). Daqui resulta o sistema linear

A+B =0
A−B =1

cuja solução é A = 1/2 e B = −1/2.


Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 71
Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


Exemplos

(ex. 1 — continuação)
Alternativamente, para determinar A e B, note-se que de
(∀x ∈ R) : 1 = (A + B)x + (A − B) resulta em particular para x = −1,
1 = −2B e para x = 1, 1 = 2A.
1 1/2 1/2
Assim, = − e logo
x2 − 1 x −1 x +1
x3 − x + 1
Z Z Z 1/2
Z 1/2
dx = x dx + dx − dx
x2 − 1 x −1 x +1
x2 1 1
= + log |x − 1| − log |x + 1|.
2 2 2

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 72


Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


Exemplos

2. O polinómio (x − 1)2 (x 2 + 1) está já fatorizado como produto de polionómios


irredutíveis. Tem-se então
1 A B Cx + D
= + + 2 ,
(x − 1)2 (x 2 + 1) x −1 (x − 1)2 x +1
para certos A, B, C , D ∈ R que se determinam por
1 = A(x − 1)(x 2 + 1) + B(x 2 + 1) + (Cx + D)(x − 1)2 , ∀x ∈ R
3 2
⇔1 = (A + C )x +(−A + B − 2C + D)x +(A − 2D + C )x +(−A + B + D), ∀x ∈ R
 
 A+C =0  A = −1/2
−A + B − 2C + D = 0 1
B = /2
 
⇔ ⇔ Portanto,
 A − 2D + C = 0  C = /2
1
 
−A + B + D = 1 D = 0.
Z Z Z Z
1 1 1 1 1 1 x
dx = − dx + dx + dx
(x − 1)2 (x 2 + 1) 2 x −1 2 (x − 1)2 2 x2 + 1
1 1 1 1
= − log |x − 1| − · + log(x 2 + 1).
2 2 x −1 4

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 73


Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


Exemplos

3. Como x 7 + 2x 5 + x 3 = x 3 (x 2 + 1)2 , então

x 5 + 2x 3 + 1 A1 A2 A3 B1 x + C1 B2 x + C2
7 5 3
= + 2 + 3 + 2
+ 2 ,
x + 2x + x x x x x +1 (x + 1)2

para certos números reais A1 , A2 , A3 , B1 , B2 , C1 , C2 que se determinam tal


como nos exemplos anteriores. Obtém-se então
x 5 + 2x 3 + 1
Z
dx =
x 7 + 2x 5 + x 3
−2
Z Z Z Z Z
0 1 2x + 1 1x + 1
= dx + dx + dx + dx + dx
x x2 x3 x2 + 1 (x 2 + 1)2
 
1 1 1 1 x
= −2 log |x | − 2 − log(x 2 + 1) + arctg x − 2 + arctg x +
2x x +1 2 2 x2 + 1
|R {z }
1
dx (já calculada)
(x 2 +1)2

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 74


Derivadas e Primitivas

Primitivação de funções racionais


Exemplos
x3
4. Determine-se uma primitiva de f (x ) = x 2 +x +1
. Usando o algoritmo da
divisão, obtém-se
x3 1
=x −1+ 2 .
x2 + x + 1 x +x +1
Por outro lado, o polinómio x 2 + x + 1 (irredutível!) escreve-se na forma
 2  2
2 1 3 3h x + 1/2 i
x +x +1= x+ + = √ +1 .
2 4 4 3/2

Logo,
x3
Z Z
4/3
2
dx = (x − 1 +  2 ) dx
x +x +1 2x
√+1
3
+1
2
 
x 2 2x + 1
= − x + √ arctg √ .
2 3 3

Cálculo Infinitesimal I (M111) — 2014/2015 1. 75

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